UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TÁTIL NO BEM-ESTAR DE BEZERROS NELORE PUROS E CRUZADOS RECÉM- NASCIDOS Mariana Parra Cerezo Médica Veterinária Zootecnista 2022 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TÁTIL NO BEM-ESTAR DE BEZERROS NELORE PUROS E CRUZADOS RECÉM- NASCIDOS Mariana Parra Cerezo Orientador: Prof. Dr. Mateus J. R. Paranhos da Costa 2022 Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - Unesp, Campus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Zootecnia, Especialidade: Etología Aplicada e Bem-Estar Animal DADOS CURRICULARES DO AUTOR Mariana Parra Cerezo nasceu em Manizales, Caldas, Colômbia no dia 11 de março de 1998. Em 2015 ingressou no curso de Bacharelado em Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidad de Caldas – Faculdade de Ciências Agropecuárias, obtendo o título de Médica Veterinária Zootecnista em setembro de 2020. Durante a graduação pertenceu ao grupo de pesquisas em Bem-estar animal da Universidade de Caldas. Ingressou no Grupo de Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (ETCO) da UNESP campus Jaboticabal para realizar o estágio de conclusão de curso em fevereiro de 2020. Em agosto de 2020 ingressou no curso de mestrado no Programa de Pós- graduação em Zootecnia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, dedicando-se a área de Bem-estar e Comportamento de animais domésticos. AGRADECIMENTOS Agradecer faz o teu coração falar... Queria começar por meus pais, minhas fontes de inspiração e de fortaleza diária, eles que desde pequena me incentivaram a cumprir meus sonhos e nunca desistir deles, professores não só da teoria, mas também da vida. Ao meu irmão Daniel por ser meu companheiro e amigo desde criança, quem me faz sorrir e acreditar na bondade das pessoas. A toda minha família, os que estão presentes em vida e os que culminaram seu percorrido dela, meus avos que são anjos em vida e os meus maiores fãs, as pessoas que mais se alegram por nossas conquistas e as celebram como próprias, meus padrinhos que desde antes de nascer me esperavam e têm me acompanhado a cada etapa de forma incondicional. Agradeço ao meu orientador, o professor Mateus Paranhos porque ainda sem me conhecer em 2020 me deu a chance de fazer parte do grupo ETCO, acreditou no meu potencial para continuar fazendo parte dele e apesar dos obstáculos, culminar o mestrado, ele é um dos meus modelos não só como profissional, mas como pessoa, e além de grata me sinto orgulhosa de ser orientada ele. Adicional, agradeço a minha professora Marlyn Romero, que me orientou durante a minha graduação e foi por ela que eu conheci o trabalho do professor e me encorajou para viajar para o Brasil para continuar minha formação acadêmica, ela é outra fonte de inspiração de admiração. Agradecer a todas as pessoas que fizeram parte deste processo, especialmente a Jaira, quem compartilhou desde o momento zero que chequei no Brasil os dias comigo, a irmã com o que Brasil me presenteou, companheira de estágio, de confinamento, de apartamento, de roles, de filmes, de secretos, de risadas e de choro. Certeza de que a pos graduação não teria sido igual sem ela e sem sua família que me acolheu, tenho muito orgulho dela e da incrível profissional em que está se tornando, te amo Jai. A Mayara que esteve presente para me acompanhar e ajudar sempre precisava, uma pessoa amorosa, inteligente e super dedicada, outra amiga que levo para a vida e a toda sua família incrível. “Somo em três”. Queria agradecer de forma especial a Victor Brusin, uma pessoa imprescindível para o desenvolvimento deste trabalho, trabalho que era dele, mas por coisas do destino eu continuei, mas que é resultado de um trabalho conjunto e do qual me sinto muito grata de ter participado. Tenho muita admiração por ele desde que fiz meu estágio pela dedicação com a que faz cada coisa e por cada conquista que ele já alcançou e as que estão por vir. A todos os amigos que fiz no Brasil, Valentina, João, Caio, Maria José, Karen, Ana Maria, Natalia, Sergio e Alejandro e cada uma das pessoas que conheci lá, amigos brasileiros e colombianos que fizeram essa etapa mais leve e feliz. Aos integrantes do grupo ETCO, os que tive o prazer de conhecer de forma presencial e aos virtuais, Lara, Pedro, Renan, Laura, Joseph, André, Luane, Julia, Paula, Suellen S, Suelen C, Ana Flavia, Lucas, são pessoas incríveis com uma vocação muito linda, espero que a vida permita nos reencontrar de novo. Agradecer as minhas amigas da Colômbia, Valeria, Manuela, Juliana, Maria del Mar, Camila, Laura, as incondicionais e com as que compartilhei os melhores momentos da minha vida, aquelas que te apoiam em todas as loucuras e aventuras. Agradecer a Carmen Perez, Frederico Simioni e a toda a equipe de trabalho da agropecuária Orvalho das Flores e da Fazenda fortaleza por abrir as portas para pesquisa e para o bem-estar animal. Tive o prazer de visitar as duas fazendas e sem dúvida posso dizer que são modelos, referentes e os exemplo que eu sempre vou dar para as pessoas ao falar de bem-estar e de aplicação de boas práticas. Agradecer a FCAV e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela oportunidade de fazer pós-graduação em uma das melhores universidades do país e de latino américa. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 Finalmente agradecer a vida por me permitir chegar até aqui, por me dar a chance de conhecer pessoas incríveis e vivenciar momentos inolvidáveis. “El camino no es largo si el destino vale la pena” SUMÁRIO Página RESUMO: ..................................................................................................................... ABSTRACT: ................................................................................................................. CAPÍTULO 1 – Considerações gerais ...................................................................... 1 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1 2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................. 3 2.1 Bovinocultura de corte e tendências no brasil .................................................... 3 2.2 Relação humano-animal nas práticas de manejo em fazenda ........................... 7 2.3. Estimulação tátil ................................................................................................ 9 2.3.1 Estimulação tátil como prática de manejo em animais de fazenda .......... 12 3. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 14 CAPÍTULO 2. Efeitos da estimulação tátil no bem-estar de bezerros Nelore puros e cruzados recém-nascidos ........................................................................ 23 1. Introdução ...................................................................................................... 23 2. Animais, materiais e métodos ...................................................................... 25 2.1 Animais e manejo ............................................................................................. 25 2.2 Manejo das vacas gestantes e dos bezerros recém-nascidos ......................... 26 2.3 Coleta de dados comportamentais, fisiológicos e de desempenho .................. 30 2.4 Análises estatísticas ......................................................................................... 35 3. Resultados ........................................................................................................... 37 3.1 Avaliação das expressões faciais ..................................................................... 37 3.2 Avaliação qualitativa do comportamento (QBA) ............................................... 38 3.3 Avaliação das frequências cardíacas ............................................................... 41 4. Discussão ............................................................................................................ 46 5. Conclusões .......................................................................................................... 52 6. Referências bibliográficas .................................................................................. 53 CAPÍTULO 3 – Considerações Finais .................................................................... 60 EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TÁTIL NO BEM-ESTAR DE BEZERROS NELORE PUROS E CRUZADOS RECEM-NASCIDOS RESUMO: O objetivo com este estudo foi avaliar o efeito da estimulação tátil no bem-estar de bezerros de corte recém-nascidos da raça Nelore. O estudo foi realizado na Agropecuária Orvalho das Flores, município de Araguaiana, MT, Brasil, com 111 bezerros (50 machos e 61 fêmeas) de dois grupos genéticos, Nelore (NEL, N = 61) e cruzados Abeerden Angus x Nelore (F1ANxN = 50), sendo 34 fêmeas NEL e 27 F1AN, e 27 machos NEL e 23 F1AN. Os bezerros nasceram entre agosto e setembro de 2019 (N = 76) e entre janeiro e fevereiro de 2020 (N = 35). Os animais foram divididos aleatoriamente em dois tratamentos, definidos pela aplicação de estimulação tátil nos bezerros durante o manejo de rotina (CE, N = 53) ou o manejo de rotina sem estimulação (SE, N = 58). As coletas de dados foram realizadas nos bezerros com aproximadamente três dias de idade, durante a realização dos manejos de cura do umbigo e identificação. Foram realizadas avaliações do comportamento, registrando-se as expressões faciais dos bezerros (utilizando 12 categorias previamente definidas) e as avaliações qualitativas do comportamento (QBA), com 16 termos. Foram medidas também as frequências cardíacas (FC) dos bezerros durante a realização dos procedimentos, levando- se em conta três momentos: FC1 = quando o bezerro estava sendo posicionado em decúbito lateral sobre uma almofada, FC2 = durante os procedimentos de identificação e FC3 = após a finalização dos procedimentos de identificação. As diferenças entre essas medidas foram calculadas. Os bezerros foram pesados no dia da realização do manejo e na desmama, realizada aos oito meses de idade, aproximadamente; com esses dados foram calculados os ganhos médios diários (GMD) dos bezerros. Os dados das expressões faciais foram analisados utilizando os testes de qui-quadrado e exato de Fisher, enquanto os dados do QBA foram submetidos a análise de componentes principais (PCA). Para a análise das FC, foram calculadas médias por tratamentos, que foram comparadas pelo teste t de Student. Para avaliar se houve diferenças entre tratamentos nos três momentos em que as FC foram medidas, foi realizada uma análise de variância de uma via. Coeficientes de correlação de Pearson foram estimados para avaliar a associação dos índices do PCA com a FC e o GMD. Foram utilizados modelos lineares para avaliar efeito de sexo, grupo genético e tratamento sobre o GMD e sobre os índices do PCA. As categorias de expressão facial que se associaram com os tratamentos foram movimentos da cabeça (>50% dos animais SE manteve a cabeça parada durante o manejo vs >50% dos animais CE empurrou para os lados pelo menos uma vez), terceira pálpebra (visível em mais do 70% dos animais SE vs 56% no CE) e rugas no focinho (72% de animais com linhas de expressão pelo menos uma vez no SE vs 47% para o grupo CE). A análise do QBA identificou dois componentes, o primeiro (PC1) explicou 56,78% da variação total dos dados e refletiu a emocionalidade positiva e negativa dos bezerros e o segundo (PC2) explicou 21.95% da variação dos dados e refletiu o nível de resposta aumentada ou diminuída (arousal) dos bezerros. As médias da FC dos animais nos três momentos de medição foram mais baixas nos animais CE que os SE (FC1: 173,68 vs 180,46, FC2: 167,45 vs 170,31 e FC3: 162,533 vs 171,98 bpm, respectivamente), além disso houve uma diminuição maior nas FCs nos animais CE. Foi observada correlação significativa negativa (r = -0,341) entre o índice obtido no PC2 e a diferença entre FC3 e FC2. Dentro de cada um dos tratamentos também foi encontrada correlação significativa entre as duas variáveis (rs = -0,351, p = 0.011 para o grupo SE e rs = -0,332, p = 0.011 pra o grupo CE). Foram encontradas correlações significativas entre o GMD e os dois índices do PCA dependendo do ano de nascimento dos bezerros, para 2019 houve correlação negativa com PC1 (indicando que GMD mais altos foi associado com emocionalidade mais positiva) e positiva com PC2 (indicado que GMD mais altos esteve associado com maior nível de resposta). Em 2020 foi encontrada correlação positiva só com o índice PC2, com interpretação similar à de 2019. Houve efeito significativo de tratamento, grupo genético e de sexo aninhado no grupo genético no GMD em 2019, com médias de GMD mais altas para os animais CE (0,957±0,020 e 0,902±0,020 kg/dia para CE e SE, respectivamente) e para os animais cruzados (1,065±0,027 vs 0,794±0,014, para F1AN e NEL, respectivamente). Machos e fêmeas F1AN apresentaram maior GMD que os NEL (fêmeas: 0,991±0,044 e 0,752±0,019 kg/dia e machos: 1,140±0,034 e 0,836±0,021 kg/dia para F1AN e NEL, respectivamente). Em 2020 não houve efeito significativo de nenhuma das variáveis incluídas no modelo no GMD. Tratamento e grupo genético apresentaram efeitos significativos nos índices de PC1 (emocionalidade) e PC2 (nível de resposta), com médias de PC1= -0,470±0,119 e PC2 = 0,619±0,111 para os animais CE e de PC1 = 0,454±0,115 e PC2 = -0,536±0,107 nos animais SE. Os bezerros NEL apresentaram emocionalidade mais positiva (média = -0,198±0,111) e níveis de resposta menores (média = -0,136±0,103) que os F1AN (médias: 0,183±0,122 e 0,219±0,114, respectivamente). Concluímos que a estimulação tátil apresentou efeito positivo no bem-estar dos bezerros recém-nascidos durante os primeiros manejos e no desempenho até o desmame. Palavras-chave: manejo, bovinos de corte, expressão facial, avaliação qualitativa do comportamento EFFECTS OF TACTILE STIMULATION ON THE WELFARE OF NEWBORN PURE AND CROSSED NELORE CALVES ABSTRACT: The aim of this study was to assess the effects of tactile stimulation on the welfare of newborn Nellore beef calves. The study was carried out at Agropecuária Orvalho das Flores, municipality of Araguaiana, MT, Brazil, with 111 calves (50 males and 61 females) from two genetic groups, Nellore (NEL, N = 61) and Abeerden Angus x Nellore (F1AN, N = 50), with 34 females NEL and 27 F1AN=27 and 27 males NEL and 23 F1AN. The calves were born between August and September 2019 (N = 76) and between January and February 2020 (N = 35). The animals were randomly divided into two treatments, defined by the application of tactile stimulation in the calves (CE, N = 53) or handling routine (SE, N = 58). Data collection was performed when calves were around three days of age, during the handling procedures for navel care and calf’s identification. Behavior assessments were performed, recording the calves' facial expressions (using 12 previously defined categories) and rating the qualitative behavior assessments (QBA), with 16 terms. The heart rates (HR) of the calves were also measured during the procedures, considering three moments: FC1 = when the calves were being restrained and positioned in the lateral decubitus on a cushion, FC2 = during identification procedures, and FC3 = after the completion of the identification procedures. The differences between these measures were calculated. The calves were weighed on the day of handling and at weaning, at approximately eight months of age; with these data, the average daily weight gain (ADG) of each calf was calculated. Facial expression data were analyzed using chi-square and Fisher's exact tests, while QBA data were subjected to principal component analysis (PCA). The FC means per treatment were calculated and compared using Student's t test. To assess whether there were differences between treatments at the three times when FC were measured, a one-way analysis of variance was performed. Pearson's correlation coefficients were estimated to assess the association between PCA indices and FC and ADG. Linear models were used to assess the effect of sex, genetic group, and treatment on ADG and PCA indices. The facial expression categories that were associated with the treatments were 'head movements' (>50% of SE animals kept their head still during handling vs >50% of CE animals pushed sideways at least once), 'third eyelid' (visible in more than 70% of SE animals vs 56% in CE) and 'snout wrinkles' (72% of animals with expression lines at least once in SE vs 47% for the CE group). The QBA analysis identified two principal components, the first (PC1) explained 56.78% of the total variation of the data and reflected the positive or negative emotionality of the calves and the second (PC2) explained 21.95% of the data variation and reflected the increased or reduced level of response (arousal) of the calves. The FC means of the three measurement moments were lower in CE than in SE animals (FC1: 173.68 vs 180.46, FC2: 167.45 vs 170.31 and FC3: 162.53 vs 171.98 bpm, respectively), in addition there was a greater decrease in FC in CE animals. A significant negative correlation (r = -0.341) was observed between the index obtained in PC2 and the difference between FC3 and FC2. Within each of the treatments, significant correlations were also found between the two variables (r = -0.351, p = 0.011 for the SE group and r = -0.332, p = 0.011 for the CE group). Significant correlations were found between ADG and the two PCA index depending on the year of calves’ birth, for 2019 there was a negative correlation with PC1 (indicating that higher ADG was associated with more positive emotionality) and positive correlation with PC2 (indicating that higher ADG higher was associated with a higher level of response). In 2020, a positive correlation was found only with the PC2 index, with an interpretation similar to that of 2019. There was a significant effect of treatment, genetic group and sex nested in the genetic group in the ADG in 2019, with higher means for CE animals (0.957±0.020 and 0.902±0.020 kg/day for CE and SE, respectively) and crossbred animals (1.065±0.027 vs 0.794±0.014, for F1AN and NEL, respectively). F1AN males and females presenting higher ADG means than NEL (females: 0.991±0.044 and 0.752±0.019 and males: 1.140±0.034 and 0.836±0.021 kg/day for F1AN and NEL, respectively). In 2020 there was no significant effect of any of the variables included in the model on the ADG. Treatment and genetic group had significant effects on PC1 (emotionality) and PC2 (response level) index, being: PC1= -0.470±0.119 and PC2 = 0.619±0.111 for CE animals and PC1 = 0.454±0.115 and PC2 = -0.536±0.107 in the SE animals. NEL calves showed more positive emotionality (mean = -0.198±0.111) and lower response levels (mean = -0.136±0.103) than F1AN calves (mean: 0.183±0.122 and 0.219±0.114, respectively). We concluded that tactile stimulation had a positive effect on the welfare of newborn beef calves during the first handling procedures and on performance until weaning. Keywords: handling, beef cattle, facial expression, qualitative behavior assessment 1 CAPÍTULO 1 – Considerações gerais 1. INTRODUÇÃO Os modelos de produção de bovinos de corte a nível mundial têm passado por fortes mudanças ao longo dos últimos anos, principalmente devido as demandas da população relacionadas às questões de qualidade e inocuidade dos alimentos, sustentabilidade e bem-estar animal (Grandin, 2007; Robinson et al., 2011; Paranhos da Costa & Sant'Anna, 2016). As exigências da população por produtos de origem animal que sejam de qualidade obrigam aos produtores a desenvolver estratégias de criação e manejo de baixo estresse e que não comprometam a eficiência produtiva como é a adoção de boas práticas de bem-estar animal em cada uma das fases da cadeia de produção, desde a cria ao abate do animal (Grandin, 2007; Briske, 2017). A fase de cria dos bezerros é crucial para garantir um animal saudável e com bom desenvolvimento ao médio e longo prazo. No Brasil a cria de bezerros é realizada geralmente em sistemas de criação a pasto, ou seja, condições extensivas, as quais limitam as possibilidades de contato frequente dos animais com humanos, com as interações ocorrendo principalmente durante a realização de manejos específicos que podem ser interpretados como aversivos, como ocorre com a marcação com ferro quente, aplicação de medicamentos e vacinas, castração e mochação (Lay Jr. et al., 1992; Becker & Lobato, 1997; Adcock & Tucker, 2018). Nesse sentido é importante garantir uma boa relação entre os humanos e os bezerros nas primeiras etapas de vida e assim minimizar os efeitos dos contatos negativos, considerando que uma boa qualidade na interação precoce tem impacto positivo na eficiência dos manejos posteriores e na diminuição dos riscos de acidentes de trabalho (Boivin et al., 1994; Hemsworth et al., 2000), por outro lado, quando os animais são expostos a experiências pouco prazerosas pode resultar na expressão de estados emocionais negativos (Proctor & Carder, 2015). Uma das práticas que podem promover o contato positivo e neutralizar o efeito aversivo das rotinas habituais são as práticas considerados gentis, entre elas, a aplicação de estimulação tátil, que já vem sendo estudada em diversas espécies de 2 mamíferos, simulando o comportamento realizado pela mãe com as crias, que é a lambida social ou allogrooming (Kiley-Worthington & de la Plain, 1985; Schanberg & Field, 1987). Esse comportamento tem várias funções, dentre elas limpeza, termorregulação e formação do vínculo social, além de se caracterizar como um estímulo prazeroso. (Sato et al., 1991; Alea et al., 1999; Waiblinger et al., 2002; Mellor & Gregory, 2003, De Freslon et al., 2020). Os resultados de estudos realizados com a aplicação de estimulação tátil em leitões, bezerros leiteiros e potros mostraram melhoria na interação humano-animal, redução do medo e diminuição na mortalidade e morbilidade (Oliveira et al., 2015; Schmidek et al., 2018; Silva-Antunes & Paranhos da Costa, 2021). Outros estudos em crias de camundongos demonstraram taxas de crescimento aumentadas, diminuição da liberação de hormônios corticosteroides associados ao estresse, diminuição da frequência cardíaca e aumento da imunidade com a aplicação de estimulação tátil (Schanberg & Field, 1987; Imanaka et al., 2008; Falcone et al., 2017). No entanto em outras espécies, como no caso dos bovinos de corte, estudos avaliando aplicação de manejos gentis como a estimulação tátil ainda são limitados. Considerando que os primeiros dias de vida do bezerro representam um dos períodos mais sensíveis para o animal é importante garantir a formação de um vínculo social positivo com os manejadores e proporcionar experiencias que sejam interpretadas positivamente (Waiblinger, 2017). Assim o objetivo com esta dissertação foi avaliar o efeito da estimulação tátil no bem-estar de bezerros de corte recém-nascidos nelore puros e cruzados, testando a hipótese que a estimulação tátil, mesmo quando aplicada com pouca frequência e por curto período de tempo promoverá um efeito positivo no bem-estar de bezerros de corte recém-nascidos amenizando os efeitos negativos do manejo de rotina. No caso de confirmação da hipótese, espera-se oferecer recomendações de práticas de manejo para as fazendas comerciais de cria de bovinos de corte que promovam o bem-estar dos bezerros. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Bovinocultura de corte e tendências no brasil Em 2020 o rebanho de bovinos no Brasil alcançou as 218 milhões de cabeças entre bois e vacas de acordo com o último reporte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020), o aporte da pecuária de corte ao PIB total brasileiro em 2019 foi de 8,9%, movimentando cerca de 618,50 bilhões de reais, posicionando-se como um dos maiores produtores e exportadores de carne do mundo, e um dos países com a taxa de crescimento mais alta em produção de carne bovina (ABIEC, 2020). Com o crescimento da cadeia de produção, vem se refinando e tecnificando os diversos processos, seja por pressão do mercado como pelos desafios ambientais, econômicos e políticos do país e as tendências mundiais, de forma a melhorar as formas de produzir para ser mais eficientes sem ignorar as questões ambientais e éticas (Oliveira, 2015). O Centro de Inteligência da Carne Bovina (CICARNE) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) realizaram um estudo identificando as tendencias e estratégias sobre o futuro da cadeia produtiva da carne bovina e entre elas, foram incluídos tópicos como a biotecnologia, sustentabilidade, lotação de animais, bem-estar animal, qualidade da carne, exportações e novas tecnologias, entre outros; e afirmaram que “...O bem-estar animal será mandatório, da cria ao abate...” (Malafaia et al., 2020). A dinâmica de um sistema de produção animal integra uma série de processos ou etapas especificas e nesse sentido a forma como é realizada cada uma vai repercutir positiva ou negativamente nas etapas seguintes, considerando que Brasil tem, de forma geral, três fases ou etapas de criação: a cria, a recria e a engorda ou terminação, tudo o que aconteça, por exemplo, na fase de cria vai afetar a recria e a engorda. A etapa de cria na maioria do território brasileiro é realizada em sistemas extensivos, começa com a reprodução e seleção das vacas ou novilhas e termina com a desmama dos bezerros e posterior comercialização ou reposição do rebanho, como ilustrado na Figura 1 (Mello et al., 2013). A recria começa com os bezerros desmamados, até os machos iniciarem a etapa de engorda e a fêmeas chegarem até a puberdade, a duração dessa etapa é variável, dependendo de fatores como a 4 qualidade da dieta, a genética do animal e os objetivos produtivos do local, podem ser sistemas a pasto, confinamentos ou semi-confinamento. Animais de melhor qualidade adicional a uma boa alimentação vai diminuir o período da recria (Barcellos et al., 2005). A última etapa, tem o objetivo de engordar os animais até atingirem os objetivos de idade ou peso para serem abatidos. (Herring, 2014). Pela dimensão do país e a grande diversidade de ecossistemas as dinâmicas dos ciclos de produção podem variar com relação a região onde se estabeleça o sistema produtivo (Cezar et al., 2005). Figura 1. Processo de cria em bovinos de corte. Fonte: Silva, 2018 2.1.1 Pecuária de cria A etapa de cria envolve diversos fatores começando com as fêmeas para reprodução e terminando com a comercialização dos bezerros machos após a desmama e a reposição de fêmeas ou a venda delas para reprodução, é uma etapa que influencia o desempenho das duas etapas posteriores, de recria e engorda (Menegassi et al., 2013). São vários os objetivos da fase de cria, tais como, a obtenção de altas taxas de prenhez, de natalidade e de desmama, alto peso à desmama, produtividade em quilos de bezerros desmamados por vaca exposta. Para atingir esses objetivos, a implementação de boas práticas de manejo é um fator imprescindível (Lobato, 2001; Haddad & Mendes, 2010). 5 Assim, antes de começar o manejo dos bezerros primeiro deve ser considerado o manejo adequado das matrizes, incluindo as novilhas com potencial para reprodução como também as vacas (Oliveira et al., 2006). Pelas condições geográficas do Brasil as recomendações da estação de monta podem variar dependendo de vários fatores, entre eles a localização geográfica, dada pela variabilidade climática e a disponibilidade de alimento, sendo que alguns autores recomendam que seja realizada na época seca do ano, pela baixa incidência de ectoparasitas e outros agentes infecciosos. Nesse sentido a estação dos partos ocorreria entre agosto e outubro, para assim ter maior disponibilidade de forragem no final da lactação das vacas e na pre-desmamame dos bezerros (Valle et al., 1998; Oliveira et al., 2006). De forma paralela, outros autores sugerem que a estação de monta deve ser realizada na época com maior oferta de alimento para manter ou aumentar o ganho em peso das fêmeas, o que vai influenciar em parâmetros reprodutivos como o aumento na frequência de cio e para garantir uma boa condição corporal para manter a gestação e o pós-parto (Sereno et al., 2000). A adequada condição corporal tem implicações na eficiência reprodutiva e na robustez do futuro bezerro (Eversole et al., 2009; Wetteman, 2021). Em gado de corte pela variabilidade genética as escalas de escore corporal variam entre autores, uma em escala de medição de 1 até 5 e outra de 1 até 9 aumentando a cada unidade ou 0,5 unidade (Nicholson & Butterworth, 1986; Machado et al., 2008), esta última leva em consideração o acúmulo de reservas corporais que a vaca precisa na fase de lactação, autores sugerem que escores corporais de 5 a 6 (escala de 1 até 9) são aceitáveis para estações de monta e para o momento do parto e assim ter uma reserva energética para sua lactação, escores acima de 7 apresentam desafios pela dificuldade no parto e pelos custos de produção, e escores muito baixos afetam negativamente as taxas de prenhez (Kunkle et al., 1998; Mercadante et al., 2006). Também é importante considerar o manejo sanitário das matrizes com o fim de evitar doenças infecciosas que podem causar alterações reprodutivas como abortos, mortes embrionárias até infertilidade das vacas, esse manejo pode ser realizado implementando um esquema de vacinação de acordo com a epidemiologia da região e com as normativas vigentes nacionais, realização de exames ginecológicos e diagnósticos (Paranhos da Costa et al., 2006). 6 2.1.2 Práticas de manejo de bezerros recém-nascidos O manejo adequado dos bezerros nos primeiros dias de nascidos vai garantir a vitalidade e o desenvolvimento do animal, considerando que a maior porcentagem de mortes de bezerros acontece nos primeiros sete dias de vida (Bunter et al., 2013), sendo a mortalidade um indicador de problemas de bem-estar em sistemas de produção de bovinos (von Keyserlingk et al., 2009). Diversos fatores podem aumentar o risco de mortes e morbidade nos bezerros tais como: processo de parto prologado, partos distócicos, ingestão inadequada do colostro, inadequada desinfeção do cordão umbilical, ausência do uso de antiparasitários, baixo vigor do bezerro e interrupções na formação do vínculo materno-filial (Paranhos da Costa et al., 2006; Murray & Leslie, 2013; Murray et al., 2016), além de outros fatores intrínsecos das vacas como idade, estado reprodutivo (primípara ou multípara) e características do úbere e dos tetos. (Bunter et al., 2013). Nesse sentido é imprescindível a supervisão frequente para identificar precocemente qualquer mudança e manifestações de sinais clínicos na vaca e nos recém-nascidos e auxiliar caso seja necessário (Paranhos da Costa et al., 2006). Logo após o parto devem ser considerados vários pontos, um deles é a avaliação dos sinais vitais começando pela respiração, pode ser normal que os bezerros apresentem padrões de respiração ofegante devido a hipóxia no pós-parto, nesse momento o lambido das vacas é imprescindível já que vai estimular a respiração do bezerro, ajudar na termorregulação e no reconhecimento recíproco entre a mãe e o filhote. É nesse momento que começa também a formação do vínculo entre a vaca e o bezerro que não deve ser interrompido. Esse lambido é também chamado allogrooming ou grooming social que é considerado como uma forma de estimulação tátil (Mellor & Gregory, 2003), nas situações onde o animal requer assistência para ajudar a respirar, ele deve ser posicionado em decúbito esternal para reduzir a pressão sobre o diafragma e que os pulmões consigam se encher, retirar os fluidos nasais e estimular o reflexo de respiração simulando o lambido da vaca com uma toalha ou com palha (Simões & Stilwell, 2021). 7 O vigor do bezerro pode ser avaliado através de escalas adaptadas de humanos como a Apgar adaptada por Vannucchi et al. (2015) ou escalas em bezerros proposta por Murray (2014), incluindo avaliações de frequência cardíaca e respiratória, tônus muscular, cor da mucosa, retenção do mecônio e níveis de resposta ou reflexos (se o bezerro tenta sentar-se, ficar em pé, mamar, balançar a cabeça ou piscar os olhos). Um dos sinais de vigor é reflexo de sucção que pode servir como um indicador para avaliar o consumo de colostro, este deve ser ingerido nas primeiras seis horas do nascimento do bezerro (Great Britain, 2007) e é vital para garantir a transferência das imunoglobulinas, como também para fornecer uma fonte de energia nas primeiras 48 horas de vida. A quantidade recomendada de colostro é aproximadamente o 10% do peso corporal do bezerro (Godden, 2008; Simões & Stilwell, 2021), quando não for possível o consumo direto da vaca deve-se administrar o colostro de forma manual. Finalmente a desinfecção do cordão umbilical, de forma a evitar o ingresso de agentes infecciosos através do umbigo, que pode causar onfalite, uma das principais afecções dos bezerros nas primeiras semanas de vida é uma das causas de doenças como poliartrite séptica, pneumonia, meningite e diarreia. Uma correta cura do umbigo é realizada por imersão em solução de iodo a 7% logo após o nascimento (Robinson et al., 2015; Simões & Stilwell, 2021), outros produtos como a solução de clorexidina ou a base de cloro também podem ser consideradas (Wieland et al., 2017). 2.2 Relação humano-animal nas práticas de manejo em fazenda Os manejos relatados anteriormente implicam algum tipo de contato ou interação entre os vaqueiros com os bezerros, interações que podem envolver diferentes sentidos tais como: olfação, visão, audição e tacto (Waiblinger et al., 2006). A qualidade dessa interação esta influenciada por fatores intrínsecos da pessoa como a atitude dela na situação específica, ou seja, como a pessoa percebe que deveria ser o trato com o animal e pelas caraterísticas da personalidade (Groomers, 1987) e fatores do animal; como a constituição genética e as experiências prévias (Boivin et al., 1994; Schmied et al., 2010). 8 Um dos períodos mais sensíveis dos bezerros é durante os primeiros dias de vida, esse período pode determinar ou condicionar em grande parte a forma como o animal vai reagir aos estímulos externos incluindo a interação com as pessoas. Nesse sentido, situações favoráveis nos primeiros dias podem condicionar de forma positiva ao animal e aumentar as possibilidades de ter animais com temperamento mais calmo (Jago et al., 1999) Para ter relações de alta qualidade entre os bezerros e os humanos é necessário garantir níveis positivos de contato mútuo, quando se tem uma boa a interação humano-animal os manejos que são negativos podem ser interpretados como menos aversivos (Visser et al., 2001; Boivin et al., 2003; Waiblinger et al., 2006). Experiencias ou interações positivas e gentis entre os manejadores e os animais podem evitar reações de medo posteriores o que podem facilitar os manejos, reduzir o risco de acidentes de trabalho e de lesões nos animais (Becker & Lobato, 1997). Devido as condições extensivas dos sistemas de cria de bezerros de corte as interações entres os animais com os humanos são limitadas e nas situações em que os animais vão ter contato com humanos implicam na maioria de vezes interações interpretadas como negativas ou aversivas já que são realizados procedimentos de manejo como castração, mochação e marcação a fogo, (Lay Jr. et al., 1992; Becker & Lobato, 1997; Adcock & Tucker, 2018), procedimentos considerados como dolorosos, que podem condicionar de forma negativa os comportamentos posteriores dos animais frente aos humanos (Hansen, 1997; Gleerup et al., 2015). Atualmente vem se desenvolvendo indicadores para identificar estados emocionais positivos e novas formas de promover o bem-estar animal, incluindo práticas que melhorem a interação entre os animais e os humanos e que provoquem o mínimo de estresse nos animais (Napolitano et al., 2009). Interações de tipo gentil como a escovação, acariciar, estimular certas regiões do corpo, oferecer alimentos de maior preferência ou falar suavemente podem ajudar na manifestação de estados emocionais positivos, diminuir o estresse evidenciado através de diminuição em parâmetros fisiológicos como frequência cardíaca, melhorar a qualidade da interação humano-animal diminuindo as respostas de medo aos humanos e promover o bem-estar dos animais (Bertenshaw al., 2008; Westerath et 9 al., 2014; Lange et al., 2020), existe uma variação individual que precisa ser levada em consideração já que todos os animais não percebem da mesma forma o manejo gentil, devido a que a forma como reagem está condicionada por diversos fatores como a motivação, os estados afetivos, a relação previa estabelecida e efeitos ambientais (Waiblinger, 2017). Estudos realizados em bezerros concluíram que eles podem diferenciar entre pessoas de acordo com o tipo de interação que tiveram (de Passillé et al., 1996). Dois estudos realizados por Lensink et al. (2000a, b) avaliando o efeito do manejo gentil em bezerros (escovação e deixar os bezerros sugar os dedos dos manejadores) demonstrou que os animais que receberam esses manejos ficaram menos agitados e se aproximaram mais facilmente a pessoas familiares e desconhecidas e quando foram testados em novo ambiente, esses animais apresentaram um contato de maior frequência e duração com humanos em comparação com os animais que não receberam manejo gentil. Em um experimento realizado em bovinos cruzados (Aberdeen Angus e Devon) comparando bezerros recebiam manejo gentil com outros que não, indicaram que os que receberam manejo ficaram menos tempo se movimentando e mais tempo mantendo contato visual com os observadores durante um teste de comportamento e os que não receberam contato apresentaram mais tentativas de fuga e uma porcentagem maior de comportamentos de agressão (ameaça ou ataque ao observador); com base nesses resultados os autores concluíram que, apesar das dificuldades enfrentadas para a implementação do manejo gentil na prática, é recomendado fazê-lo, uma vez que sua adoção tem potencial para reduzir o risco de acidentes com os animais e os trabalhadores, além de melhorar o bem-estar dos animais e facilitar os manejos (Becker & Lobato, 1997). 2.3. Estimulação tátil A estimulação tátil, que pode ser caracterizada como uma massagem, é uma técnica manual de manipulação dos tecidos moles superficiais da pele, músculos, tendões, ligamentos, fáscias e estruturas um pouco mais profundas (McBride et al., 2004; Fritz & Fritz, 2020). Sinha (2010) acrescentou na definição de estimulação 10 (massagem) além de ser uma técnica manual, uma técnica mecânica de manipulação e classificou ela em quatro tipos de acordo com: a técnica aplicada (caricia, pressão, percussão ou vibração), profundidade do tecido estimulado (leve ou profundo), parte do corpo estimulada (geral ou local) e meio de aplicação (mecânica ou manual). Historicamente a estimulação tátil foi adoptada em humanos por diversas populações como os chineses, gregos, hindus e romanos como indicação terapêutica em lesões da guerra e desportivas (Scott & Swenson, 2009). Como terapia, a estimulação tátil tem efeitos aumentando o fluxo linfático, promovendo mudanças no sistema simpático e parassimpático (diminuição dos níveis de cortisol), melhorando o sistema imune, também no manejo e na percepção da dor (Field, 1998; Field et al., 2005; Sagar et al., 2007). Assim tem sido recomendada que a estimulação tátil seja realizada desde as regiões mais distais até as mais proximais para promover o fluxo da circulação da periferia até a circulação central (Millis & Levine, 2013). Essa técnica pode imitar o comportamento materno dos mamíferos como a lambida social ou grooming social (Schanberg & Field, 1987, Nakamura e Sakai, 2014), com funções de interação social, sensação mecânica promovendo experiências positivas iniciais com potencial de alterar positivamente a neuroplasticidade, aumentando as ramificações e densidade dendríticas no início do desenvolvimento dos indivíduos (Richards et al., 2012; Mychasiuk et al., 2013). Outros autores associam a estimulação tátil como um tipo de enriquecimento para estruturas neuronais que estão em desenvolvimento e que tem impactos benéficos nos desafios tardios (Muhammad et al., 2011). Grooming social, também chamado allogrooming, é um comportamento caraterístico das espécies sociais, para algumas espécies de mamíferos ele é caracterizado pela lambida a outros indivíduos da mesma espécie. Foram descritas três funções principais para esse comportamento: higiene (limpeza e extração de ectoparasitas), distensão (contenção, prevenção ou desvio de agressão potencial) e uma função afiliativa (estabelecer o manter vínculos) (Sato et al., 1991; Alea et al., 1999; Waiblinger et al., 2002; De Freslon et al., 2020). A lambida social é definida como um contato tátil oral dirigido a uma superfície corporal, exceto a região dos anus, úbere e cascos. O indivíduo que realiza o comportamento, toca de forma repetida com a língua realizando movimentos de 11 cabeça para frente e para trás. Pode ser de forma espontânea, solicitada ou após uma interação agonística (Val-Laillet et al., 2009). Esse comportamento faz parte do repertorio de comportamento materno em bovinos, quando as vacas começam a lamber os bezerros logo após o parto (Kiley-Worthington & de la Plain, 1985). Em bovinos as regiões de maior preferência para serem estimuladas ou lambidas são a cabeça, o pescoço e cernelha, no geral as regiões anteriores do corpo já que são de difícil acesso para serem auto acicaladas, mas existe certa diferença entre bezerros e animais mais velhos, como apresentado na Figura 2 (Sato et al., 1991). Figura 2. Porcentagens de lambidas da vaca em várias partes do corpo do bezerro e do bezerro em várias partes do corpo da vaca, antes ou depois da mamada (Vitale et al., 1986). No momento do nascimento a pele dos animais domésticos é similar a pele dos humanos tanto em estrutura como em função, uma das funções do sistema aferente somático é a percepção de pressão e de outras sensações como as vibrações, a dor, as sensações térmicas e sinestésicas. Quando é estimulado esse sistema se enviam sinais nervosos através das fibras que vão estimular a atividade neuronal (Dyce et al., 2012); essa ativação das fibras irá ativar receptores na medula espinal, no tronco cerebral e no hipotálamo, mediadas por receptores opioides, essa mediação opioide 12 é a responsável da sensação de analgesia e de prazer que também pode resultar em bradicardia (Lund et al., 2002; McBride et al., 2004). A estimulação elétrica cerebral foi descrita como ativadora dos circuitos no cérebro subcortical que pode elucidar emoções básicas negativas como o medo (Fear), raiva (Rage/Anger), pânico ou tristeza (Panic/Sadness) e outras positivas como procura (Seeking), apetite sexual (Lust), cuidado (Care) e brincar (Play), e quando é estimulado um desses circuitos vai ser expressa a emoção básica com seu padrão comportamental e fisiológico (Panksepp, 2005). A prática da estimulação tátil tem sido desenvolvida em vários estudos clínicos com bebês, grande parte em prematuros. Parte dos resultados desses estudos demonstram ganhos de peso maiores em comparação com os bebês que não foram estimulados, ganhos atribuídos a mecanismos fisiológicos como aumento na produção de insulina, fator de crescimento insulínico, aumento na atividade gástrica e estímulo vagal que tem correlação com aumento nas taxas de crescimento (Caulfield, 2000; Diego et al., 2005; Field et al., 2008; Guzzetta et al., 2009; Haley et al., 2012). Estudos em ratos neonatos aplicando estimulação tátil confirmam as hipóteses de que a estimulação tátil tem potencial de promover a regulação do hormônio do crescimento favorecendo o desenvolvimento do animal, além de diminuir os níveis dos hormônios corticosteroides (Schanberg & Field, 1987). Resultados de outros estudos com ratos aplicando estimulação tátil, mostraram que os filhotes estimulados apresentaram maiores níveis de atividade e exploração em testes de campo aberto, menores níveis de ansiedade (Imanaka et al., 2008) e tiverem aumento na contagem de linfócitos t (Falcone et al., 2017). 2.3.1 Estimulação tátil como prática de manejo em animais de fazenda As interações de tipo tátil são importantes na formação do vínculo social em diversas espécies como os bovinos, como evidenciado pela lambida social, nesse sentido a estimulação tátil realizada pelos humanos aos animais é percebida positivamente (Sato et al., 1991; Laister et al., 2011; Westerath et al., 2014). Os estudos avaliando o efeito da estimulação tátil em animais de fazenda vem mostrando resultados positivos em relação aos estados emocionais e ao 13 fortalecimento das relações com os humanos. Em vacas leiteiras, por exemplo, a prática da estimulação tátil em regiões do corpo que normalmente são lambidas, como a região do pescoço, cernelha e face, promoveu estados de relaxamento e manifestação de emoções positivas durante o manejo, sendo evidente que os animais podem reagir de forma diferente de acordo com a região que é estimulada (Schmied et al., 2008; Lange et al., 2020). Em novilhas que foram escovadas desde o nascimento até os nove meses de idade se apresentaram menos reativas a presença dos humanos e foram manejadas de forma mais fácil (Boissy & Bouissou, 1988). Estudos realizado por Lürzel et al. (2016) e Destrez et al. (2018) foi concluído que as interações positivas como tocar de forma gentil e realizar movimentos delicados e falar suavemente em determinadas rotinas, por exemplo, reduziram o medo dos animais, aumentaram os ganhos de peso e facilitaram manejos posteriores. Outro estudo, realizado em bezerros leiteiros avaliou a adoção de boas práticas de manejo, entre elas que o contato com as mães por 24 horas com oferta adicional de colostro de qualidade (garantindo 2 litros mas primeiras 6 horas de vida), cura do umbigo nas primeiras 6 horas de vida com solução Iodo ao 10%, alojados em baias individuais com suficiente espaço e com acesso a pasto para socializar e brincar, alimentação com substituto lácteo em baldes com bico e foi realizada uma massagem durante 5 minutos no horário da alimentação da manhã, os resultados mostraram redução de 72.1% na mortalidade até a desmama e de 49.8% nos tratamentos com antibiótico; os autores sugeriram que a rotina da estimulação favoreceu na identificação precoce de sinais clínicos e de comportamento indicativos de doença o que facilitou o tratamento oportuno (Silva-Antunes & Paranhos da Costa., 2021). Um estudo em leitões aplicando estimulação tátil no dorso do animal durante dois minutos desde o 5º até 35º dia de idade resultou em animais que permitiram mais contato físico independente da familiaridade da pessoa, menor frequência de vocalizações e concluíram que a estimulação precoce tem potencial de mudar a forma como os leitões reagem a desafios, sugerindo que os que receberam estimulação apresentaram menos medo aos novos ambientes e apresentaram mais proximidade aos humanos (de Oliveira et al., 2015). Em potros a aplicação da estimulação como manejo gentil de forma diária durante as primeiras duas semanas de vida do animal promoveu a interação humano animal, em 66.7% das avaliações realizadas os potros 14 aceitaram a aproximação dos humanos e desses casos, 60,0% se caracterizaram por buscar contato com os avaliadores (Schmidek et al., 2018). Em bezerros cruzados com Limousin que receberam estimulação durante os primeiros dias de nascidos durante dez minutos através do método de TTouch © (Tellington-Jones, 1999), que é aplicado realizando movimentos ligeiros dos dedos e mãos movimentando a pele de forma circular, esses movimentos são realizados a determinada velocidade, direção e intensidade, foram realizados 6 testes de distância de fuga nos primeiros 9 meses e avaliado indicadores em planta de abate. Os animais que foram estimulados apresentaram distancias de fuga menores, apresentaram menos movimentos para trás e mais para frente antes da insensibilização e apresentaram níveis de cortisol menores, e valores de Shear Force menores indicando carne mais macia em comparação com animais que não receberam estimulação (Probst et al., 2012). 3. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIEC - Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (2020). Beef Report: Perfil da Pecuária no Brasil 2020. ABIEC: São Paulo. 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A estimulação tátil, definida como “uma experiência inicial positiva que imita a lambida e o grooming materno” (Mychasiuk et al., 2013), é aqui caracterizada pela realização de uma massagem executada de forma sistemática e com pressão moderada, normalmente realizada nas regiões do corpo que a vaca costuma a estimular ao bezerro, como parte ventral do pescoço, cernelha e cabeça e em menor proporção na região posterior e dorsal do animal (Vitale et al., 1986; Schmied et al., 2008). Esse contato com a pele irá gerar estímulos que atuam sobre os diversos receptores que detectam estímulos mecânicos interpretados como agradáveis e que enviam impulsos nervosos por vias aferentes somáticas até o sistema nervoso central, favorecendo o desenvolvimento dos neurônios e a formação de sinapses (Dyce et al., 2012, Mychasiuk et al., 2013). Atualmente há um crescente interesse na abordagem de aspectos positivos do bem-estar animal, com a ampliação de estudos que que analisam as situações que geram experiências positivas nos animais, gerando maior conforto e promovendo estados emocionais positivos (Linder, 2020) 24 Os mamíferos, em especial as espécies de interesse produtivo se tornam conscientes logo após o nascimento (Mellor & Diesch, 2006), assim sendo, dependendo da intensidade, duração ou da frequência dos estímulos externos, eles podem ser interpretados como nocivos e aversivos ou como positivos e de recompensa já nos primeiros dias de suas vidas. Nesse sentido, a estimulação tátil empregada como um tipo de manejo gentil pode ser percebida pelos animais como um processo similar aos das lambidas aplicadas pelas mães nas primeiras horas de vida (allogrooming ou grooming social), resultando em maior liberação de ocitocina, que é produzida durante eventos prazerosos, resultando em uma experiência positiva para o animal (Westerath et al., 2014; Chen & Sato, 2017). Na rotina de manejo dos bezerros leiteiros a estimulação tátil está sendo considerada uma prática importante e positiva. Um estudo de caso, Silva-Antunes & Paranhos da Costa (2021) avaliaram os efeitos a implementação de boas práticas de manejo em bezerros leiteiros, incluindo entre elas a rotina de escovação dos bezerros durante cinco minutos no horário de alimentação da manhã, cujos resultados mostraram a diminuição no número de tratamentos com antibióticos e de bezerros mortos. Os autores concluíram que esses bons resultados resultaram principalmente da adequada oferta de colostro e da melhoria das condições de alojamento, mas enfatizaram que a estimulação tátil permitiu um maior contato dos tratadores com os bezerros, melhorando a interação entre eles e, com isso, foi possível identificar sinais clínicos e comportamentais de doenças mais precocemente, o que permitiu a aplicação de tratamentos precoces. Na prática de criação de bezerros de corte, no entanto, há poucas oportunidades para a aplicação da estimulação tátil como uma rotina de manejo, uma vez que contato dos humanos com os bezerros é muito limitado, pois os bezerros permanecem com suas mães do nascimento até o desmame e os procedimentos de manejo realizados, que envolvem contato com humanos, são geralmente aversivos, envolvendo a aplicação de vacinas e medicamentos, castração e mochação, por exemplo (Becker & Lobato, 1997; Lewis & Hurnik, 1998; Stafford et al., 2002; Adcock & Tucker, 2018). 25 Entretanto, há oportunidades para se melhorar a interação humano-animal (Krohn et al., 2001), uma delas é estabelecer uma interação menos negativa e de baixo estresse durante o manejo dos bezerros recém-nascidos, que envolve a desinfeção do cordão umbilical, aplicação de vermífugo e, em alguns casos, a identificação dos animais. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da estimulação tátil no bem-estar de bezerros de corte recém-nascidos da raça nelore, testando a hipótese que a estimulação tátil, mesmo quando aplicada com pouca frequência e por curto período de tempo durante a rotina de manejo promoverá um efeito positivo no bem-estar de bezerros de corte recém-nascidos, indicada como uma prática de baixo estresse e com potencial de ter efeito positivo no desempenho dos bezerros ao médio prazo. 2. Animais, materiais e métodos Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Ciências Agrarias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista campus Jaboticabal-SP, Brasil. (CEUA protocolo número 085668/19) 2.1 Animais e manejo O estudo foi realizado na Agropecuária Orvalho das Flores, localizada no município de Araguaiana, no estado do Mato Grosso, Brasil. Foram avaliados 111 bezerros, sendo 50 machos e 61 fêmeas, de dois grupos genéticos, Nelore (NEL, N = 61) e cruzados F1 Abeerden Angus x Nelore (F1AN, N = 50). Das fêmeas, 34 eram NEL e 27 eram F1AN e dos machos, 27 eram NEL e 23 F1AN, todos nascidos entre agosto e setembro de 2019 (N = 76) e janeiro a fevereiro de 2020 (N=35). No período de nascimentos de 2020 somente foram avaliados animais F1AN. Todos os bezerros foram produtos de inseminação artificial, com as vacas submetidas a protocolos de inseminação artificial em tempo fixo. O manejo de bezerros recém-nascidos foi realizado seguindo as boas práticas de bem-estar animal, conforme descrito por Paranhos da Costa et al. (2006). Os bezerros foram mantidos com as vacas até a data da desmama, quando receberam 26 apenas suplemento mineral especial para bezerros (Fosbovinho, Tortuga®, DSM, São Paulo, SP, Brasil). Os bezerros foram divididos em dois tratamentos de forma aleatória, sendo que os bezerros manejados em um dos dias de trabalho recebiam a estimulação tátil durante o manejo (CE, N = 53) e os bezerros manejados no dia seguinte não eram estimulados, grupo controle (SE, N = 58). 2.2 Manejo das vacas gestantes e dos bezerros recém-nascidos A fazenda tem um protocolo de manejo para vacas gestantes e dos bezerros recém-nascidos bem estabelecido. No terço final da gestação as vacas são transferidas para os pastos maternidade, onde são monitoradas duas vezes por dia, no início da manhã e final da tarde, com o objetivo de realizar o acompanhamento dos nascimentos, auxiliando as vacas com dificuldades de parto e realizando a cura do umbigo dos bezerros recém-nascidos, que é complementado entre o terceiro e quinto dia de idade dos bezerros, como descrito a seguir. 2.2.1 Manejos realizados no primeiro dia de vida dos bezerros No período da manhã de cada dia, durante a rotina de monitoramento dos pastos maternidade, os vaqueiros observavam com atenção as díades, vacas e bezerros recém-nascidos, e realizavam o manejo dos bezerros que, quando deitados, se levantavam com a aproximação dos vaqueiros ou estavam em pé, próximos de suas mães, não realizando qualquer interferência nas díades cujos bezerros que ainda estavam molhados ou não ficavam em pé. Nos casos dos bezerros que já estavam em pé e acompanhavam suas mães, o manejo tinha início quando um dos vaqueiros, montado a cavalo, passava o laço no bezerro, segurando-o, enquanto outro, a pé, se aproximava, segurava o bezerro com as mãos, tirava o laço e colocava um colar elástico com um número que era associado ao número de identificação da mãe para, em seguida, realizar a desinfecção do umbigo por imersão em solução comercial (Umbicura®, Pecuarista D’Oeste Saúde Animal Ltda, Araçatuba, SP, Brasil). Durante este manejo o vaqueiro a cavalo se 27 posicionava entre a vaca e o vaqueiro que estava realizando o trabalho, como propósito de minimizar o risco de acidentes. Ao término do manejo o bezerro era liberado e ambos, vaca em bezerro, permaneciam por mais três a cinco dias no pasto maternidade. O manejo dos bezerros com poucas horas de nascido era realizado na tarde do mesmo dia do nascimento ou na manhã do dia seguinte. 2.2.2 Manejos realizados entre o terceiro e quinto dia de vida dos bezerros Após três a cinco dias do nascimento dos bezerros, eles eram conduzidos juntamente com suas mães, para o centro de manejo da maternidade (Figura 1) ou para o curral de manejo (Figura 2), o que estivesse mais próximo do pasto maternidade. Essa condução era feita sempre ao passo e com muito cuidado. Em seguida, já no centro de manejo ou no curral, as vacas eram separadas de suas crias, sendo conduzidas para uma divisória ao lado do local onde permaneciam os bezerros, mantendo contato visual, olfativo e auditivo com eles. O objetivo com esse procedimento era de reduzir o risco de acidentes com os vaqueiros e os bezerros, resultante da expressão do comportamento de proteção materna pelas vacas (Costa et al., 2021). Em seguida um dos vaqueiros se aproximava de um dos bezerros, o pegava e o levava no colo ou orientava seu deslocamento até o local onde eram realizados os manejos (Figura 3 A e B, respectivamente). Nesse local cada um dos bezerros era posicionado em decúbito lateral sobre uma almofada colocada sobre o piso e o mesmo vaqueiro realizava a contenção do bezerro como lustrado na Figura 4, sem sustentar o seu peso sobre o corpo dele. A partir desse momento o vaqueiro que realizava a contenção do bezerro retirava o colar elástico, informava o número de identificação para seu colega e iniciava a estimulação tátil, enquanto outro vaqueiro registrava (em uma caderneta de campo) o número a ser tatuado no bezerro e realizava os preparativos para a realização dos manejos de identificação e de cura do umbigo. A aplicação da tatuagem, realizada com alicate tatuador com quatro posições (Stone Manufacturing and Supply Company, Kansas City, MO, EUA), tinha início com 28 a aplicação da pasta para tatuar (Green Tatto Paste Ketchum®, Ketchum Mfg.Co., Inc., Lake Luzerne, NY, EUA) na região interna da orelha direita (acima da nervura superior), onde era tatuado o número de identificação do bezerro, o procedimento era repetido na orelha esquerda, onde era tatuado o número de identificação de sua mãe. Em seguida a aplicação de cada uma das tatuagens, o vaqueiro passava mais pasta de tatuar nos locais tatuados para assegurar uma boa identificação dos bezerros. Em seguida este mesmo vaqueiro realizava dois furos (Furador Allflex, 6mm, Allflex Livestock Intelligence, Joinville, SC, Brasil) no meio da orelha direita (entre as nervuras) e um na orelha esquerda, para colocação dos brincos de identificação, que era realizada apenas após a completa cicatrização dos furos. Ao final era feita a aplicação de um produto larvicida e repelente (Cidental®, Bimeda Brasil, Monte Mor, SP, Brasil) nos locais dos furos e realizado o segundo tratamento do umbigo. Após o processo de identificação e desinfecção do umbigo, os bezerros foram pesados, para realizar a pesagem um dos vaqueiros carregava o bezerro (Figura 3A) e se posicionava sobre uma balança previamente calibrada, registrando o peso total. Posteriormente era calculado o peso do bezerro fazendo uma subtração do peso do vaqueiro do peso total. Figura 1. Diagrama ilustrativo do centro de manejo da maternidade. 29 Figura 2. Diagrama ilustrativo do curral de manejo. A B Figura 3. Estratégias usadas para levar o bezerro até o local da realização dos manejos, onde A = bezerro sendo carregado e B = deslocamento do bezerro é orientado pelo vaqueiro. 30 Figura 4. Posicionamento do bezerro em decúbito lateral sobre uma almofada colocada sobre o piso e método de contenção do bezerro. Os animais do grupo CE receberam a estimulação tátil, que consistia em que o vaqueiro que estava realizando a contenção do bezerro passava as duas mãos de forma contínua na região lateral do dorso, pescoço, face dos bezerros. A estimulação tátil era realizada antes de iniciar os procedimentos de identificação e depois da aplicação do tratamento do umbigo, com duração aproximada de um minuto em cada momento, totalizando dois minutos de estimulação. Esta era interrompida sempre que era realizado um procedimento de manejo, para assegurar a boa contenção da cabeça do bezerro. 2.3. Coleta de dados comportamentais, fisiológicos e de desempenho Para avaliar os efeitos da estimulação tátil no bem-estar dos bezerros foram avaliados indicadores comportamentais e um indicador fisiológico, registrando-se as expressões faciais dos bezerros durante a realização dos procedimentos de manejo e realizando a avaliação qualitativa do comportamento (QBA) logo após o término do manejo e foi medida a frequência cardíaca em três momentos como descrito a seguir. 2.3.1 Avaliação das expressões faciais 31 As expressões faciais foram registradas em vídeos, utilizando-se uma câmera (Sony®, Full HD Digital, CX405) posicionada estrategicamente em tripé, com foco nas faces dos bezerros. Foram consideradas 12 categorias de expressão facial dos bezerros, como descrito na Tabela 1. A aplicação dos escores de expressão facial foram realizadas por um único pesquisador, previamente treinado. Para avaliar a confiabilidade do observador foi calculado coeficiente Kappa ponderado (κ). O mesmo observador avaliou 20 vídeos em dois dias diferentes com intervalo de uma semana, os vídeos foram escolhidos de forma aleatória e sem conhecimento da identificação do animal. A maioria dos coeficientes Kappa foram sempre superiores a 0,61, sendo interpretados como muito bons quando entre 0.81-1,0 e bons entre 0,61-0,80 (Silva et al., 2020). A categoria ‘Abertura da Narina’ apresentou um coeficiente Kappa baixo (0,31) e não foi considerada nas análises. 2.3.2 Avaliação qualitativa do comportamento A avaliação qualitativa do comportamento foi realizada conforme descrito por Wemelsfelder et al. (2000), com o objetivo de identificar os estados emocionais dos animais, no presente caso considerando as expressões faciais dos bezerros. Os termos (18) incluídos na avaliação foram adaptados de Welfare Quality® (2009) e Ceballos et al. (2016), como segue: ‘Relaxado’, ‘Medroso’, ‘Agitado’, ‘Calmo’, ‘Contente’, ‘Indiferente’, ‘Frustrado’, ‘Entediado’, ‘Tenso’, ‘Inquisitivo’, ‘Irritado’, ‘Inquieto’, ‘Apático’, ‘Feliz’, ‘Aflito’, ‘Animado’, ‘Satisfeito’ e ‘Comodo’ e cada um foi avaliado pela medição da distância em mm utilizando uma escala analógica visual de 125 mm onde o valor mínimo indica ausência da manifestação do estado emocional especifico e o valor máximo é a expressão máxima desse estado. Essas avaliações foram feitas com base nas imagens dos vídeos, sendo considerados 30 segundos de observação a partir do término do tratamento do umbigo dos bezerros. Da mesma forma que a avaliação das expressões faciais, estes registros foram feitos por apenas por um observador, previamente treinado e com alto nível confiabilidade baseado no coeficiente de correlação intraclasse (ICC), que foi definido como bom quando o coeficiente estava entre 0,61-0,80 e muito bom 0,81-1,00 (Silva et al., 2020). Para a maioria dos termos (‘Relaxado’, ‘Agitado’, ‘Calmo’, ‘Contente’, ‘Inquisitivo’, ‘Irritado’, 32 ‘Inquieto’, ‘Feliz’, ‘Animado’, ‘Tenso’ e ‘Satisfeito’) o ICC foi muito bom (0,81-1,0), enquanto os termos ‘Medroso’, ‘Frustrado’, ‘Apático’, ‘Aflito’ e ‘Comodo’ apresentaram ICC bom (0,61-0,80), como os termos ‘Indiferente’, ‘Entediado’ e ‘Ativo’ apresentaram coeficientes abaixo de 0,61 e foram retirados das análises. 2.3.3 Avaliação da frequência cardíaca A frequência cardíaca (bpm) foi medida utilizando um sensor de frequência cardíaca no invasivo (Polar H9, Polar Electro Brasil, Comércio, Distribuição, Importação e Exportação Ltda, Embu das Arte, SP, Brasil) posicionado em uma cinta peitoral, que foi fixada ao redor do tronco dos bezerros quando os bezerros eram apartados das vacas, os animais não foram depilados para fazer a medição. O sensor era ativado por meio de um aplicativo (Polar Beat, Polar Electro Brasil Comércio, Distribuição, Importação e Exportação Ltda., Embu das Artes, SP, Brasil) instalado no telefone celular, onde eram registradas as medidas de frequência cardíaca a cada 0,3 s. O sensor era ativado em três momentos para estimar três medias de frequências cardíacas: FC1 = quando o bezerro estava posicionado em decúbito lateral sobre a almofada; FC2 = durante os procedimentos de identificação (tatuagem e realização dos furos nas orelhas) e FC3 = após a finalização dos procedimentos de identificação. 2.3.4 Avaliação do desempenho Foram calculados os ganhos médios diários de peso do nascimento à desmama (GMD) de cada um dos bezerros tendo como base nos pesos obtidos entre o terceiro ao quinto dia de vida (quando foram realizados os manejos descritos no item 2.2.2) e no dia da desmama, quando estavam com aproximadamente 240 dias de idade. Não foi possível obter o peso no dia da desmama de 4 bezerros porque foram a óbito, por ataque de onças. 33 Tabela 1. Descrições das 12 categorias de expressão facial consideradas no estudo (adaptadas de Gleerup et al., 2015). Categorias de expressão facial Escores Descrição Movimentos da cabeça 0 Parada durante todo o tempo 1 Empurrando para os lados uma vez 2 Empurrando para os lados mais de uma vez Tentativa de escapar 0 Não tenta escapar 1 Tenta escapar uma vez 2 Tenta escapar mais de uma vez Esclera 0 Esclera não visível 1 Esclera visível pelo menos uma vez Tensão sobre os olhos 0 Não há linhas de expressão no entorno dos olhos 1 Há linhas de expressão no entorno dos olhos uma vez 2 Há linhas de expressão no entorno dos olhos mais de uma vez Abertura dos olhos 0 Olho aberto sem contração das pálpebras (inclusive quando pisca) 1 Olhos fechados, com contração das pálpebras (inclusive quando pisca) uma vez 2 Olhos fechados, com contração das pálpebras (inclusiva quando pisca) em mais de uma vez Terceira pálpebra 0 Terceira pálpebra não visível 1 Terceira pálpebra visível uma vez 2 Terceira pálpebra visível mais de uma vez Tensão dos músculos mastigatórios 0 Não há linhas de expressão nos músculos mastigatórios 1 Há linhas de expressão nos músculos mastigatórios uma vez 2 Há linhas de expressão nos músculos mastigatórios mais de uma vez Rugas no focinho 0 Não há linhas de expressão no entorno do focinho 1 Há linhas de expressão no entorno do focinho uma vez 2 Há linhas de expressão no entorno do focinho mais de uma vez Abertura da boca 0 Boca fechada 1 Boca aberta uma vez 2 Boca aberta mais de uma vez 3 Boca aberta com a língua para fora uma vez 4 Boca aberta com a língua para fora mais de uma vez Respiração 0 Respiração rítmica não audível durante todo o vídeo 1 Respiração rítmica, facilmente audível uma vez 2 Respiração rítmica, facilmente audível mais de uma vez 3 Respiração arrítmica, facilmente audível uma vez 4 Respiração arrítmica, facilmente audível mais de uma vez 5 Respiração permanece arrítmica durante todo o vídeo Vocalização 0 Não vocalizou 1 Vocalizou pelo menos uma vez Deglutição 0 Não deglutiu 1 Deglutiu pelo menos uma vez 34 Tabela 2. Caracterização visual das categorias de expressão facial consideradas no estudo, excluindo as que avaliam som ou movimento (respiração, vocalização, deglutição) dos animais do grupo genético nelore puro e F1 Angus Nelore Categoria de expressão facial Nelore puro F1 Angus Nelore Esclera visível Linhas de expressão no estorno dos olhos Olhos fechados com contração das pálpebras Rugas no focinho Boca aberta Boca aberta com a língua para fora Olho aberto sem contração das pálpebras Terceira pálpebra visível 35 2.4 Análises estatísticas Para analisar se as frequências de ocorrência das categorias de expressão facial eram associadas aos tratamentos (CE e SE) foram realizados testes de qui- quadrado e testes exato de Fisher em tabela de contingência. As categorias ‘esclera aparente’ e ‘vocalização’ não foram incluídas nas análises pela baixa variabilidade, sendo que mais de 90% dos animais não vocalizaram e apresentaram a esclera visível. Outras cinco categorias (‘abertura da boca’, ‘abertura do olho’, ‘respiração’, ‘tensão sobre o olho’ e ‘terceira pálpebra’) apresentaram frequências muito baixas em alguns dos escores (menos de 5 animais), por conta disso os escores foram reorganizados como apresentado na Tabela 3. Os dados da QBA foram primeiramente submetidos a uma análise de componentes principais (PCA), uma técnica multivariada que tem como objetivo de reduzir um grupo de variáveis a menos informações que as agrupem aplicando critérios de homogeneidade entres os dados, ou seja, variáveis que estejam muito correlacionadas entre si (Hair et al., 1999). O critério escolhido para definir o número total de componentes a analisar foi o da porcentagem da variância total explicada, sendo que os dois primeiros componentes explicaram 78,73% da variância total dos dados, não foi incluído o terceiro componente apesar de ter autovalor acima de 1,0, já que as cargas de todos os termos no terceiro componente foram baixas (<0,4) (Osborne & Costello, 2004). Os valores das cargas dentro dos componentes que estivessem acima de 0,6 foram considerados como os que mais contribuíam para definir o componente. Com base nos resultados desta análise foram calculados os índices obtidos por cada indivíduo no PC1 e PC2. 36 Tabela 3. Descrições dos escores das cinco categorias de expressão facial após a reorganização, onde: a = Menos de 5 animais com escore 3 e 5, não houve animais com escore 4, b = Menos de 5 animais no escore 2, c = Não houve animais com escore 3 e 5, d = Menos de 5 animais no escore 1 e e = Menos de 5 animais no escore 2. Categoria de expressão facial Escores Descrição Abertura da boca a 0 Boca fechada 1 Boca aberta pelo menos uma vez Abertura do olho b 0 Olho aberto sem contração das pálpebras (inclusive quando pisca) 1 Olhos fechados, com contração das pálpebras (inclusive quando pisca) pelo menos uma vez Respiração c 0 Respiração rítmica não audível durante todo o vídeo 1 Respiração facilmente audível rítmica ou arrítmica pelo menos uma vez Tensão sobre os olhos d 0 Não há linhas de expressão no entorno dos olhos 1 Há linhas de expressão no entorno dos olhos pelo menos uma vez Terceira pálpebra e 0 Terceira pálpebra não visível 1 Terceira pálpebra visível pelo menos uma vez Foram calculadas medidas de tendência, dispersão e posição (média, desvio padrão, valores máximos e mínimos) para as médias das frequências cardíacas em cada um dos momentos de avalição (FC1, FC2 e FC3) e foram calculadas as diferenças entre a terceira e a duas primeiras médias de frequências cardíacas (FC3- FC1 e FC3-FC2, respectivamente), essas análises foram discriminadas pelos tratamentos (CE e SE). Após a realização de provas de normalidade e homoscedasticidade, o teste t-Student foi utilizado para realizar a comparação das médias entre grupos CE e SE. Foi realizada uma ANOVA para calcular as diferenças entre as frequências cardíacas em função dos três momentos de medição para os tratamentos (CE e SE). Para avaliar a relação entre os índices de PC1 e PC2 obtidos no PCA com as frequências cardíacas e as diferenças entre os tratamentos (CE e SE) foram est