UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO OSMAR ARRUDA GARCIA NO FINAL DO ARCO-ÍRIS: LEPRECHAUNS E POTES DE OURO. A PARADA LGBT DE SÃO PAULO A VISIBILIDADE E CONTRAPARTIDA PARA UMA IGUALDADE DE GÊNERO Rio Claro 2009 LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA OSMAR ARRUDA GARCIA NO FINAL DO ARCO-ÍRIS: LEPRECHAUNS E POTES DE OURO. A PARADA LGBT DE SÃO PAULO: A VISIBILIDADE E A CONTRAPARTIDA PARA UMA IGUALDADE DE GÊNERO. Orientador: PROFª DRª CÉLIA REGINA ROSSI Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de licenciado em Pedagogia. Rio Claro 2009 Garcia, Osmar Arruda No final do arco-í­ris: leprechauns e potes de ouro: a Parada LGBT de São Paulo a visibilidade e a contrapartida para uma igualdade de gênero. / Osmar Arruda Garcia. - Rio Claro : [s.n.], 2009 43 f. : il. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura - Pedagogia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências Orientador: Célia Regina Rossi 1. Educação sexual. 2. Movimento LGBT. 3. Relações de gênero. I. Título. 612.6 G216n Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso a todas as pessoas envolvidas com o movimento LGBT que estão em busca de uma igualdade de direitos para essa minoria sexual, e a todos/as aqueles/as que perderam suas vidas por manifestarem sua sexualidade livremente. AGRADECIMENTOS Durante esses quatro anos inúmeras foram as pessoas que passaram pela minha vida e trocaram comigo informações importantes que me fizeram refletir, problematizar, questionar e aprofundar conhecimentos. Espero que alguns compreendam que se fosse aqui colocar todos os nomes e agradecimentos esse trabalho de conclusão dobraria seu volume de páginas, portanto agradecerei em seguir algumas pessoas que foram especiais nessa jornada e espero que todos os outros se sintam agraciados e abraçados, sem se sentirem excluídos. Quero agradecer primeiramente aos meus pais por terem me apoiado e ajudado durante toda a minha graduação e a compreensão pelos momentos em que não pude ser tão presente devido ao tempo dedicado aos estudos. A Célia por ter aturado minhas ansiedades e “chatisses” durante a orientação. A Alessandra Cain que foi uma das maiores incentivadoras para que eu prestasse o vestibular. A Juliana Sarti e Silze Camargo pela a amizade e apoio durante os anos em que estivemos juntos no trabalho. Um especial agradecimento as amigas especiais que me acompanharam na graduação: Pamela Cassão, Milene Hebling, Juliana D´Urso e Mariana Silva, e também a todos os colegas de sala. Enfim agradeço a todos aqueles/as que direta ou indiretamente contribuíram para que eu conseguisse concluir meu curso de Pedagogia e para que esse trabalho ficasse pronto. RESUMO Desde 1997, todos os anos muitas pessoas se reúnem na famosa Avenida Paulista, cartão postal da grande cidade de São Paulo, para uma manifestação contra o preconceito e pelo direito civil dos homossexuais. Em todo o mundo essas manifestações se tornaram figura importante do movimento ativista homossexual na luta pelo respeito à diversidade, para abertura de discussões sobre os direitos políticos dos gays, tendo em vista que elas dão maior visibilidade às suas atuações na sociedade. Com o passar dos anos a Parada do Orgulho dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros - GLBT de São Paulo tornou-se um fenômeno de público, que desde 2004 ostenta o título de maior parada gay do mundo. Este estudo se utilizará de levantamento de pesquisas e documentos teóricos que tratam da questão, dentro de uma perspectiva qualitativa a respeito da parada, elencando sua importância, seu objetivo, seu interesse e sua militância, na construção de uma educação voltada ao entendimento da diversidade sexual. SUMÁRIO Página 1. INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06 2. METODOLOGIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07 3. HISTÓRICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 3.1. Como nasce a Parada do Orgulho? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 3.2. O movimento gay e seus avanços no país. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 3.3. Os três momentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 4. PARADA GAY E EDUCAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4.1. Educação sexual x orientação sexual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 4.2. Do silêncio à visibilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 5. LEPRECHAUNS E POTES DE OURO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 5.1. Leprechauns: a lenda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 5.2. Potes de ouro e mercado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 5.3. Potes de ouro e educação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 5.4. Leprechauns e atores sociais envolvidos no movimento LGBT. . . . . 27 6. O FINAL DO ARCO-ÍRIS – INQUIETAÇÕES, CONSIDERAÇÕES E DISCUSSÕES FINAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36 7. REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 6 1. INTRODUÇÃO Essa pesquisa nasceu de questionamentos que já acompanhava o pesquisador antes de sua entrada no curso de graduação para obtenção do grau de Licenciado Pleno em Pedagogia, muitas das perguntas feitas durante toda a pesquisa e nessa monografia, inquietavam o pesquisador durante alguns anos, faziam-no pensar em que medida a luta na marcha LGBT1 de São Paulo provocaria mudanças na maneira como ele se mostrava, num sentindo de educar a sociedade para o respeito à diversidade sexual. Dessa forma o estudante e então futuro pesquisador procurou pelo Grupo de Pesquisas e Extensão sobre Sexualidades – GSEXs, sediado no Departamento de Educação – Instituto de Biociências - UNESP – Campus de Rio Claro onde estudava que era e é coordenado pela Professora Doutora Célia Regina Rossi, e desde 2007 a professora passou a orientar o pesquisador para que pudesse realizar ao final do curso seu trabalho de término de curso, e este achou o espaço para problematizar, pesquisar e se aprofundar sobre a temática que a pesquisa reflete a seguir. No primeiro capítulo o pesquisador descreverá o histórico da Parada LGBT de São Paulo, seus três momentos e uma breve inserção sobre o movimento gay, para amparar e subsidiar as discussões posteriores. No segundo capítulo serão tratados temas como a visibilidade LGBT, educação sexual e orientação sexual. Enfim no terceiro capítulo será abordado o conto expresso no título dessa monografia fazendo analogia com o movimento, o mercado em torno do mesmo e a educação do olhar para o respeito e igualdade de gênero. 1 LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros. 7 2. METODOLOGIA Essa pesquisa foi realizada tendo como aporte teórico a abordagem qualitativa. Segundo Lüdke e André (1986), a abordagem qualitativa de pesquisa, na área de educação, caracteriza-se por um contato direto do pesquisador com a realidade e deste modo oferece a possibilidade de documentar o não-documentável. Para tanto esse pesquisador se valeu da observação. A observação é uma das mais importantes fontes de informações em pesquisas qualitativas em educação. Sem acurada observação, não há ciência. Anotações cuidadosas e detalhadas vão constituir os dados brutos das observações, cuja qualidade vai depender, em grande parte, da maior ou menor habilidade do observador e também da sua capacidade de observar, sendo ambas as características desenvolvidas, predominantemente, por intermédio de intensa formação. (VIANNA, 2007, p.12) Temos que pensar que no caso desse estudo visto que se propõe a investigar o fator educativo implícito na Parada LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), temos aqui um fenômeno de comportamentos complexos, dessa forma partimos da observação de fatos durante o evento. De acordo com Batzán (1995), a metodologia qualitativa é tanto processo como produto da investigação. Como processo, estabelece uma relação de aprender com, não apenas estudar um determinado grupo em um trabalho de campo e como produto constitui-se no relatório de todo o processo empreendido pelo pesquisador e de seus achados. Ela favorecerá a interpretação do significado das ações do grupo cultural estudado: LGBT. Além das observações essa pesquisa se valeu de documentos de pesquisa, referencial teórico, reportagens sobre o evento, discussão e 8 problematização com o atual vice-presidente da APOGLBT2, dessa forma há um levantamento de dados importantes a serem levados em consideração na hora da análise dos fatos observados. O pesquisador participou do evento nos anos de 2007, 2008 e 2009, além de recolher no ano de 2009 reportagens sobre o evento para que pudesse fazer uma reflexão mais aprofundada sobre alguns aspectos que envolvam a leitura de mundo dos participantes do evento bem como da leitura que a mídia e a sociedade fazem dos participantes durante a realização da Parada. Levando em consideração o anteriormente exposto, a pesquisa utilizou-se da observação participante que é: [...] uma atividade que simultaneamente combina análise documental, entrevistas com respondentes e informantes, participação direta, observação e introspecção. O principal aspecto do método, acrescentando ao anteriormente já assinalado, é que o pesquisador mergulha no campo, observa segundo a perspectiva de um integrante da ação e também influencia o que observa graças à sua participação. (VIANNA, 2007, p.51) Ainda segundo Vianna (2007), o objetivo final desse tipo de observação se traduz na geração de verdades práticas e teóricas que versam sobre a cultura humana apoiada em realidades da vida cotidiana. A Parada atinge um público bem variado entre militantes, participantes e observadores (pessoas que vão até a avenida para assistir a marcha LGBT). O local utilizado para observação, foi o trecho em que a mesma acontece, compreendendo a famosa Avenida Paulista na capital de São Paulo, bem como a descida da Consolação embocando em seu final na Praça da República, onde em anos anteriores aconteciam shows com montagem de palco, impedidos de acontecer atualmente pelo Termo de Ajuste de Conduta assinado com a Prefeitura do Município de São Paulo. Os períodos de observação compreenderam o tempo de realização do evento nos anos de 2007, 2008 e 2009. Além disso, outros fatores analisados foram recolhidos em conversas informais com participantes da parada próximos ao pesquisador, onde era dada a oportunidade de problematizar, discutir, estranhar e até mesmo influenciar algumas opiniões de militantes e freqüentadores da Parada. O pesquisador ia para Parada com um caderno de campo com questões de antemão para serem olhadas, problematizadas, observadas, instigadas... O que foi de suma importância para a análise e discussão da pesquisa. 2 Associação da Parada do Orgulho GLBT. 9 3. HISTÓRICO3 3.1. Como nasce a Parada do Orgulho? No ano de 1997, com a participação de duas mil pessoas, nasce a Parada do Orgulho LGBT na cidade de São Paulo, deste ano até 1999 a parada enfoca principalmente as temáticas como a visibilidade LGBT4 se consolidando como manifestação política do movimento. Neste período a Parada teve um crescimento de duas mil para trinta e cinco mil pessoas. No ano de 2001, às 11 horas, à famosa Avenida Paulista, no coração da cidade de São Paulo, capital, algumas pessoas já se reuniam em pequenos grupos, os trios elétricos já estavam posicionados na avenida e, de repente uma grande quantidade de gays, lésbicas, transexuais, bissexuais, heterossexuais e simpatizantes, começava a “pipocar” para então somarem as 250 mil pessoas na marcha do Orgulho LGBT. A avenida foi finalmente tomada e se colorindo, formando um enorme arco-íris. 3 Este histórico foi escrito tendo como base os dados oferecidos na página da APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo). 4 A mudança da sigla de GLBT para LGBT se faz necessária em respeito ao comunicado disponível em: http://www.abglt.org.br/port/basecoluna.php?cod=121, acesso em: 09/02/2008, o qual transcrevemos a seguir: Em consonância com as discussões da Diretoria da ABGLT, da decisão da Assembléia (05/06/08), órgão máximo da ABGLT, e das determinações da I Conferência Nacional LGBT, realizada em Brasília de 5 a 8 de junho deste ano, a ABGLT recomenda a mudança e utilização da sigla LGBT, em substituição a GLBT, em todas as comunicações feitas por suas afiliadas, a mídia e o governo. 10 O crescimento no número de participantes da Parada foi sempre muito grande, haja vista que do ano de 2000 a 2002 o número de participantes passa de cem mil para quinhentos mil participantes. As temáticas passam então a enfocar não somente a visibilidade do público LGBT, mas também o respeito à diversidade envolvendo toda a sociedade. É também nessa época que tem origem o Mês do Orgulho, devido ao grande volume de atividades em torno da parada que começam a se multiplicar. A partir de 2003 com a parada já plenamente consolidada como manifestação de um campo social crescente que apóia os direitos LGBT tem início uma nova fase, onde a parada passa a ser usada para refletir sobre as demandas da comunidade e também como forma de pressionar politicamente objetivando o reconhecimento e garantia efetiva dos direitos humanos dos homossexuais. Nesse período que vai de 2003 a 2005 a parada tem um aumento no número de participantes, saltando de um milhão para dois milhões de pessoas, sendo considerado desde 2004 o maior evento do gênero no mundo. Em 2005 com o tema: Parceria civil já. Direitos iguais! A Parada cobra do poder legislativo a aprovação do Projeto de Parceria Civil entre pessoas do mesmo sexo. No ano de 2006, apesar das dificuldades envolvendo a autorização para realização da Parada na data e local indicados pelo movimento, ou seja, a Avenida Paulista, com restrições impostas por um "Termo de Ajuste de Conduta" limitando o horário, impedindo montagem de palco, e que exigia até mesmo que a limpeza das vias públicas fosse feita pela organização, a Parada novamente foi a maior do mundo com um público de três milhões de pessoas. Mesmo sem os shows ou o glamour e com o apoio de sempre por parte de casas noturnas e sites comprometidos com a comunidade e de vários movimentos sociais, sem dúvida se realizou uma das Paradas mais politizadas em São Paulo. Trataremos no subcapítulo: Os três momentos, pelos quais passou a Parada LGBT de São Paulo, enquanto movimento de luta e reivindicação de direitos e políticas públicas voltadas aos LGBTs. 11 3.2. O movimento gay e seus avanços no país Green (2000) relata que com o surpreendente avanço do partido do Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, nas eleições estaduais e federais no fim de 1974, o então Presidente General Ernesto Geisel, se viu forçado a repensar sua estratégia de controle político, e iniciou o processo de abertura lenta e gradual, que acabaria reconduzindo o país a um governo civil. (GREEN, 2000, p.393). Os grupos de defesa ou ativistas da causa homossexual ganham força, no país no fim da década de 70, por conta da abertura que se começa a imprimir no país (FACCHINI, 2006) 5, com maior concentração nos estados do Rio e São Paulo, justamente nesse período de abertura política do governo Geisel. Assim, o movimento passa desde uma fase que se demonstra muito repressora nos anos 70, com prisões e também ações públicas motivadas pelo poder constituído no país, que considerava uma ameaça à moral e aos bons costumes as homossexualidades, para um crescimento no número de clubes e bares direcionados a esse público no eixo Rio de Janeiro - São Paulo. Hoje há, ainda, a invasão de simpatizantes heterossexuais nestes espaços, difundindo e criando outros olhares, para com a homossexualidade. [...] no 1º de maio de 1980, com a cidade cercada pelo 2º Exército e em estado de sítio, cerca de 50 ativistas homossexuais marcharam pelas ruas de São Bernardo do Campo, junto com milhares de outros participantes, unidos em comemoração ao Dia Internacional dos Trabalhadores, durante uma greve geral. Quando o grupo entrou no estádio de futebol da Vila Euclides, foi ovacionado por milhares de participantes. Seis semanas mais tarde, cerca de mil gays, lésbicas, travestis e prostitutas marcharam pelo centro de São Paulo em protesto à violência policial, cantando “Abaixo a repressão – mais amor e mais tesão”. Um movimento político tinha nascido. (GREEN, 2000; p.275). Na mesma década, o movimento se viu desarticulado pelo surgimento do HIV – em português Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) -, trazendo preconceitos e processos de exclusão dos Homossexuais na comunidade heterossexual, como relata Facchini (2006, s/p.): Esse período inicial encerrou-se na primeira metade dos anos 80, coincidindo com a retomada do regime democrático e o surgimento 5 Regina Facchini é antropóloga, doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, vice-presidente da APOGLBT e autora do livro “Sopa de Letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90” (Garamond, 2005). 12 da AIDS, então chamada de “peste gay”. Entre meados e final dos anos 1980, o movimento sofreu uma dramática redução na quantidade de grupos. Em São Paulo, a AIDS desarticulou uma parte da militância gay e deslocou uma outra parte para a construção da resposta coletiva à epidemia, de modo que apenas grupos lésbicos atravessaram os anos 1980. Nos anos 90 a luta contra a AIDS deu maior visibilidade ao tema da homossexualidade. Com isso há também um reflorescimento das militâncias e dos grupos. O que se vê a partir dos anos 90 é uma expansão expressiva de trabalhos, projetos, ONGs e manifestações do gênero e uma maior aceitação do mercado aos gays. As paradas se tornaram, então, figura importante do movimento ativista homossexual, na luta pelo respeito à diversidade, para abertura de discussões sobre os direitos políticos dos gays, tendo em vista que estas dão maior visibilidade a suas atuações na sociedade. No final da década de 90, o movimento retoma sua força. Em 1997 na parada organizada em São Paulo o número de participantes atingiu duas mil pessoas. Ao colocarem massas de pessoas nas ruas, num misto de manifestação por direitos e celebração, as paradas ampliam a visibilidade das identidades coletivas presentes no movimento de modo a diluir, no caráter lúdico e na referência ao respeito à diversidade, a rigidez das categorias cada vez mais específicas formuladas pelo movimento. A palavra-chave nas paradas é visibilidade, mas não visibilidade individual, e sim em massa. (FACCHINI, 2006; p.2). Em 2007, na maior parada gay do mundo, realizada em São Paulo, este número subiu para mais de três milhões de pessoas, segundo dados do site da Associação da Parada do Orgulho GLBT6. Já em 2008 e 2009 esse número se manteve o que consolida a Parada de São Paulo como a maior do mundo. 3.3. Os três momentos A Parada do Orgulho LGBT, também chamada de marcha do orgulho, tem três momentos que podemos destacar claramente através de seus temas. Um primeiro momento vai de 1997 a 1999 com os seguintes temas: • 1997 - Somos muitos, estamos em todas as profissões • 1998 - Os direitos de gays, lésbicas e travestis são direitos humanos 6 www.paradasp.org.br 13 • 1999 - Orgulho gay no Brasil, rumo ao ano 2000 Este primeiro momento é uma trajetória em busca de uma maior visibilidade dos LGBTs, dessa forma o movimento consegue uma consolidação como manifestação política. A visibilidade pode-se dizer aqui foi alcançada com êxito, visto que de uma participação de 2.000 pessoas na primeira marcha em 1997 o público participante salta para 35.000, neste momento é então criada a APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros). O segundo momento agrega os anos de 2000 à 2002 com os seguintes temas: • 2000 - Celebrando o Orgulho de Viver a Diversidade • 2001 - Abraçando a Diversidade • 2002 - Educando para a Diversidade O tema principal nesse momento é a idéia de diversidade, a partir desse momento com o êxito em conseguir a tão sonhada visibilidade que praticamente já está consolidada, a parada passa a trazer para a discussão a diversidade envolvendo a sociedade com a idéia de respeito às diferenças e aos diferentes como um todo. Finalmente o terceiro momento que vai de 2003 até os anos atuais com os temas: • 2003 - Construindo Políticas Homossexuais • 2004 - Temos Família e Orgulho • 2005 - Parceria civil, já. Direitos iguais! Nem mais nem menos • 2006 - Homofobia é Crime! Direitos Sexuais são Direitos Humanos • 2007 - Por um mundo sem Racismo, Machismo e Homofobia • 2008 - Homofobia Mata! Por um Estado Laico de Fato • 2009 – Sem homofobia mais cidadania pela isonomia de direitos! A partir de 2003 com a parada já plenamente consolidada como exposto anteriormente os temas passam então a abordar uma luta política pelo direito dos homossexuais, chamando seu público para a construção de políticas voltadas aos temas das homossexualidades e exigindo o direito do reconhecimento de uma parceria civil. Esses temas delatam os crimes contra 14 homossexuais, solicitando assim a quebra de preconceitos e exigindo que o estado através de seus representantes, construa políticas públicas para a diversidade sexual, e dessa forma tornar-se o mais próximo de um estado laico de fato. A parada LGBT de São Paulo nasce como um movimento de luta pela visibilidade, diversidade e direitos políticos, mas será que esse engajamento é absorvido por todos os participantes? Será que todos os participantes realmente estão ali em busca de uma militância pelos seus direitos? Há ainda outros fatores intrigantes, pois, que tipo de liberdade é essa que tem dia e local para acontecer? Será mesmo que a sociedade está oferecendo a oportunidade de entender a diversidade ou o evento tornou-se muito lucrativo? O turismo dos gays para São Paulo à época da Parada não representa talvez um nicho de mercado interessante? E os preconceitos estão sendo quebrados realmente? Será que dentro dos redutos ou do próprio evento ele não existe? Será que os próprios homossexuais não reproduzem os preconceitos que envolvem toda uma construção histórica e cultural do masculino e feminino? Daqui em diante neste estudo tentaremos elucidar algumas dessas questões, é possível que talvez se formulem outras tantas e ainda que algumas possam não ser respondidas, mas à medida que o movimento pede reflexão é interessante começarmos a pensar no fator educativo que ele representa, visto que temos que lembrar que grandes educadores como Paulo Freire sempre nos chamaram a atenção para dizer que a educação se dá em todo lugar, em alguns de forma mais sistematizada, como escolas propriamente ditas e em outras no campo mais informal, mas que representa uma ferramenta poderosa atrelada a “leitura de mundo” dos atores sociais envolvidos. Este capítulo foi proposto como uma importante ferramenta para elucidar como se deu o início do movimento LGBT no Brasil, bem como para que possamos entender os aspectos gerais da Parada LGBT de São Paulo para que o pesquisador possa então conduzir a discussão pelo viés da educação sexual. Para isso no capítulo seguinte iremos primeiramente tratar de temas como educação sexual, orientação sexual e visibilidade, discutindo a importância do movimento na construção de uma educação sexual de respeito a diversidade, bem como de em que momento essas discussões realmente chegam a escola, se é que chegam. 15 4. PARADA GAY E EDUCAÇÃO 4.1. Educação sexual x orientação sexual Já dizia Paulo Freire (1989) que a leitura de mundo antecede a leitura da palavra. Sendo assim quando falamos em educação, segundo Freire (1989), falamos de algo muito mais amplo que só o conteúdo e os conhecimentos sistematizados oferecidos pela escola aos educandos, falamos de todo o conhecimento adquirido antes e apesar da escola, chamado às vezes de senso comum, mas que contribui e auxilia muito na formação de qualquer indivíduo. Neste contexto de formação crítica dos alunos, segundo Freire (1989), nós acreditamos que a visibilidade dada aos homossexuais nas Paradas LGBT cumpre um importante papel na educação sexual de todos os que dela participam ou que a assistem. É necessário pontuar que consideramos aqui alunos também os educadores, pois estão em posições de alunos quer em sua formação inicial, quer na formação continuada ou ainda na formação cotidiana de sala de aula. Lembremos também, que os estudos culturais já colocam as questões de gênero e sexualidade como partes integrantes do currículo escolar, mesmo que seja através das sutis pedagogias culturais ou ainda do currículo oculto. Cabe aqui salientar a diferenciação entre educação sexual e orientação sexual para elucidar o uso do termo educação sexual em nossa concepção, para tanto seguimos a observação de Reis e Ribeiro (2005, p. 35-34), e então: Utilizamos o termo educação sexual quando nos referimos à educação recebida pelo indivíduo desde o nascimento, inicialmente na família, posteriormente na comunidade, com seu grupo social e religioso, com a mídia, educação. Essa educação é contínua, indiscriminada e decorrente dos processos culturais que envolvem a aquisição de normas, regras e valores sobre o sexo. Utilizamos o 16 termo orientação sexual para nos referir a um trabalho planejado, organizado, sistematizado, com tempo e objetivo limitados, realizado por um profissional especializado. Do ponto de vista da educação sexual toda essa visibilidade proporcionada pelas paradas pode contribuir para que os indivíduos que tomam contato com a mesma tenham mais respeito com os LGBTs, bem como auxiliar na mudança de olhar para com os atores desta parada. Já do ponto de vista da orientação sexual, o movimento poderia abrir um espaço para cobranças de políticas públicas educacionais efetivas para mudanças no que tange as questões do campo da sexualidade e identidades sexuais e de gênero na escola. Isso hoje tem ocorrido de uma forma que nós consideramos, ainda, muito inibida. Temos que lembrar ainda que o termo orientação sexual também será usado na pesquisa para definir o desejo sexual do indivíduo, ou seja, se ele tem uma orientação do desejo para a homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade, etc. João Silvério Trevisan (2002, s/p.), militante LGBT e escritor em artigo escrito para a Revista G Magazine em 2002, intitulado Homossexualidade como Pedagogia, diz: À medida que vamos tomando consciência de quem somos e dos nossos direitos, sentimos necessidade de “educar” a sociedade. Portanto, assim não há como discordar que a visibilidade cumpre um papel importante, nessa extensa luta que se estende de décadas atrás até hoje. Desta forma importa aos educadores conhecer mais sobre o movimento LGBT, bem como as paradas gays, etc., visto que esse dilema contemporâneo sobre as homossexualidades é muito presente hoje dentro de escolas, e a parada pode contribuir para fomentar estas discussões, uma vez que tem um alcance muito grande via mídia, publicidade e público. Esse fato nos demonstra que é necessário um maior conhecimento do tema para que possamos lidar bem com tais questões dentro da instituição escolar. De que forma esse contato pode acontecer? Pensando na leitura de mundo que Freire nos dizia, a parada é um fenômeno de público e atrai a atenção da imprensa, nem que esta esteja apenas focada na questão comercial da parada, haja vista reportagens veiculadas em grandes redes de TV no ano de 2009 que destacavam a parada como segundo maior evento em arrecadação para o município de São Paulo, só perdendo para a Fórmula 1. 17 Com todo esse panorama é possível perceber que ao menos uma vez por ano a Parada traz à luz as discriminações, preconceitos e exclusões sofridos pelos LGBTs e dessa forma passa a ser de grande importância para trazer também à tona discussões, problematizações, reflexões, etc. sobre as questões de identidades sexuais e identidades de gênero. Scott (2009) diz que gênero é uma categoria útil de análise histórica, e que através do gênero podemos analisar questões ligadas as mulheres, bem como questões ligadas aos homens, pois a história dos homens e das mulheres não se faz separada e sim em conjunto, e ainda, analisar as questões de preconceito, exclusão, submissão, homossexualidade, como tantas outras relativas a identidades sexuais e de gênero. 4.2. Do silêncio à visibilidade Historicamente silenciada e reprimida a homossexualidade era estigmatizada sendo vista como desvio, doença (no uso do termo homossexualismo), pecado ou crime. Na realidade podemos dizer que a homossexualidade precisou existir para que a heterossexualidade se firmasse como norma. Foucault (1988) diria que a homossexualidade entrou para o discurso, sendo assim, muito falada, mas pouco desejada, entrariam aí as interdições, proibições e mecanismos de poder do dispositivo de sexualidade para que a mesma, enfim, pudesse ser silenciada. É exatamente aí que estava a benesse, fugir dos olhos e da classificação da heterossexualidade compulsória e excludente, que antes de tudo necessitou da homossexualidade para existir como norma. Não estamos dizendo que a homossexualidade deveria permanecer silenciada, mas sim que é interessante agir nas rachaduras, espaços e entrelinhas, pois, só a visibilidade não é suficiente para que se quebrem preconceitos. A visibilidade auxilia em um processo educativo do olhar e assim também um processo educativo interior dos indivíduos que tomam contato com determinada realidade, mas em alguns momentos como tem sido a visibilidade da Parada LGBT, vista como um evento lucrativo torna- se perigosa, ao mesmo tempo em que, se percebido os mecanismos que a 18 capturam poderia (pro) mover críticas e mudar a situação, mas discutiremos mais sobre essa questão em capítulo posterior. Tendo como marco histórico a revolta, em 1969, a invasão pela polícia do bar Stonewall Inn, em Nova York, o movimento homossexual organizado surge nos EUA e espalha-se pelo mundo colocando em cena um novo personagem urbano, o gay, portador de uma consciência influenciada pela luta feminista por igualdade. Colabora assim para a reviravolta nas relações de gênero e na redistribuição dos papéis sexuais, tirando a sexualidade do privado e lançando-a no espaço público, fenômeno que Anthony Giddens (1993) denominou “sexualidade plástica”. No Brasil, inspiradas nas manifestações realizadas nas principais cidades americanas e européias, surgem as Paradas do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), que reúnem milhares, ganhando visibilidade na mídia. (RAMIRES NETO, 2004, p.2) Até o final dos anos 60, a homossexualidade era vivida no âmbito privado, em redutos (bares, saunas, boates, etc.) destinados ao público LGBT, destinada a viver as margens da sociedade heterossexual compulsória e a partir da revolta de Stonewall, isso começa a mudar. Qualquer semelhança aqui com as mulheres que historicamente tiveram destinados a elas apenas o espaço privado não é mera coincidência, faz parte da mesma estratégia de poder subjugando tudo aquilo que foge da “norma”, ou seja, a figura central do homem, branco, heterossexual de classe média e cristão. Vamos nos ater aqui mais especificamente à Parada LGBT de São Paulo, para podermos conhecer no Brasil, o “boom” da visibilidade da diversidade sexual, no ponto de vista do pesquisador. A visibilidade da Parada Gay de São Paulo aumentou exponencialmente já nos anos 2000. Mas será que a visibilidade por si é suficiente para trazer bons frutos ao movimento e sua luta por direitos dos homossexuais? Essa visibilidade abre as portas, estabelecendo assim, mesmo que por alguns dias, pequenos espaços para discussão, problematização, reivindicação de direitos, etc., é só lembrarmos o trecho anteriormente citados de Trevisan (2002). A sexualidade “desviante”, termo usado na época, que antes poderia ser vivida apenas no âmbito da vida privada ou redutos gays brasileiros, ganha as ruas e de certa forma sem que haja, repressão, violência ou discriminação explícita. É bom que fique claro que quando dizemos de maneira explícita quer dizer com as reais intenções bem claras, mas velada e ideologicamente a 19 repressão é bem maior, digamos que saímos da violência física propriamente dita para a violência simbólica e ou psíquica. Por que utilizar o termo reduto? Consideramos que no Brasil não há guetos, visto que Segundo Wacquant (2004), o termo “gueto” foi inicialmente utilizado para se referir as concentrações residenciais de judeus europeus e mais tarde apropriados e usados também para definir locais de convívio de minorias sexuais. Por isso optou-se aqui pelo uso do termo reduto, que tem o significado de lugar fechado e protegido, já que para Miskolci (2007), no Brasil não se desenvolveram amplos espaços ou bairros de moradia e convívio social para grupos não heterossexuais ou negativamente chamados de guetos. Desde a revolta em Stonewall e até mesmo após o surgimento do movimento gay e lésbico e das manifestações do gênero, a homossexualidade tem passado por um processo de revelar, de um descobrir-se para os outros, de um reivindicar visibilidade, de escancarar e no caso especificamente da Parada Gay como forma de reivindicação de um ator político coletivo. De outra forma é sabido que a igreja, a medicina, a justiça e a pedagogia haviam escancarado a homossexualidade para que pelo poder-saber pudesse reprimi- la e tentar estabelecer uma forma “normal” de sexualidade, a heterossexualidade, como dominante e única forma válida de se amar (FOUCAULT, 1988). Este processo de escancaramento que as paradas gays estabelecem hoje inverte aquilo que Foucault (1988) dizia sobre a sexualidade que teria se transferido para dentro do quarto dos pais, passando do espaço público para o privado, levando-a novamente do espaço privado para o público. Mas Foucault ainda dizia que esse saber sobre o prazer serve as estratégias de poder e do dispositivo de sexualidade. Para Chiochetta e Avena (2006, p.14) : O que se observa é que para muitos homossexuais, a Parada Gay de São Paulo é um momento de inversão, onde este gay pode traduzir para a rua o que reproduz em casa, recluso, considerando aqui o que faz sem preconceitos e repúdios, onde é aceito e sente orgulho. Mais do que isso, o evento propicia a oportunidade para intensificar suas experiências como indivíduos e acabam por transgredir os papéis de gênero e fronteiras sexuais socialmente aceitas. Essa tentativa de retrocesso para talvez quebrar com as artimanhas, daqueles que estão no poder, que se utilizam do dispositivo de sexualidade como forma de controlar a humanidade, surtiu efeito? 20 Sim. A visibilidade, como dito antes, rendeu bons frutos. Mas toda essa visibilidade, talvez, tornou os homossexuais vulneráveis às estratégias de poder sem que os militantes e intelectuais que lutam contra o preconceito para com a diversidade sexual possam perceber. Em suma a visibilidade cumpre sim o papel de educar a sociedade para alguns fatores, como de que há múltiplas identidades sexuais que reivindicam respeito, já que ao contrário do que pensam aqueles que se julgam maioria e dominantes, os homossexuais (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) são muitos e a minoria não é tão minoria assim. A partir de agora tendo como fio condutor o conto dos leprechauns exposto no título dessa pesquisa refletiremos, problematizaremos, discutiremos e estranharemos alguns fatores que marcam o evento, sejam eles benéficos ou maléficos, tensos, mobilizadores, do ponto de vista das observações realizadas, dos discursos que reverberam e da experiência do próprio pesquisador. 21 5. LEPRECHAUNS E POTES DE OURO 5.1. Leprechauns: a lenda Primeiramente sintetizaremos aqui a lenda dos leprechauns, que são duendes, originários da Irlanda, criaturinhas um tanto imprevisíveis, que hora estão alegres, cantando e assobiando, hora ficam arredios e irritados sem causa aparente. É necessário esclarecer que para que um leprechaun se torne cooperativo e o leve até um de seus potes de ouro escondidos no final do arco- íris é necessário que você o veja, antes que ele o veja. Ainda assim, eles são muito astutos, traquinas, capazes de desaparecer num piscar de olhos, pois para um leprechaun o ouro é um prêmio raro. Adoram música e dança e após o seu trabalho diário gostam de se divertir à noite, mas não vivem em comunidades, pois são briguentos e preferem, então, o isolamento e o sossego de suas pequenas casas construídas nas raízes das grandes árvores irlandesas. A partir de agora usaremos a lenda dos leprechauns, para dar maior clareza e traçar uma analogia entre os LGBTs e sua construção, enquanto grupo que pretende ser respeitado e entendido na sua diversidade sexual. 5.2. Potes de ouro e mercado O primeiro ponto importante nessa analogia é tratar da questão mais forte na lenda que é a de que a pessoa que captura o leprechaun poderá tornar-se rica graças ao pote de ouro que o duende esconde no final do arco- íris, pote esse que o duende dá em troca de sua liberdade. 22 Não é diferente com a Parada LGBT de São Paulo, considerando que há um grande tesouro no final da mesma, ou seja, no final do arco-íris, que é o caráter educacional, talvez imperceptível, ou de certa forma renegado sem que se perceba, que a mesma possui. Na verdade há um mercado envolvido durante a semana que antecede a Parada que rende aos cofres e empresas muito dinheiro. O mercado em torno do público gay em São Paulo, nos dias que antecedem e no dia da Parada é sempre muito lucrativo, além do preço que a organização do movimento paga para que seja possível, que a mesma ocorra na Avenida Paulista. Sendo assim percebe-se nessa pesquisa que os leprechauns, neste caso os LGBTs foram capturados. Desse modo é preciso dar à sociedade ainda conservadora e dominante um tesouro e precisamos lembrar que talvez seja isso um reflexo de atitudes históricas que desde meados dos anos 80 foram iniciadas para que o movimento fosse capturado o que Green (2000, p.284) elucida muito bem: O fim da ditadura em 85 criou a falsa idéia de que a democracia tinha sido restaurada, e os direitos dos homossexuais e outros setores da sociedade iam expandir-se sem dificuldades. A imprensa, o rádio e a televisão disseminavam uma imagem mais positiva da homossexualidade, e ofereciam um veículo para que as poucas figuras públicas do movimento articulassem seu ponto de vista. O crescente consumo gay, que incluía boates, saunas e bares, também sustentou uma ilusão de que a sociedade se tornava cada vez mais livre e que a organização política de gays e lésbicas não era mais necessária. No entanto eles esquecem que, como reza a lenda, os duendes podem escapar das garras de seus algozes, enganá-los fazendo com que eles (mercado, sociedade conservadora, homofóbicos, etc.), se distraiam para assim poder escapar, tanto do uso que o mercado faz deles, quanto da exclusão, preconceito e violência que os outros lhes impõe. Alguma mudança de estratégia seria necessária? Sim, talvez a exigência de que como portadores de um grande potencial de consumo as empresas que lucram tanto com o comércio em torno da parada os apoiassem nessa extensa luta que vem de décadas atrás para a ampliação das políticas públicas e educacionais que auxiliem na diminuição do preconceito, bem como a criação e aprovação de novas leis que punam crimes por discriminação sexual. Na verdade, o que a sociedade cede aos gays neste dia para sentir orgulho, é apenas a partida dos gays para com eles, um espetáculo como se 23 fosse um grande festival, colorido, transformando a Avenida Paulista num grande “sambódromo”. Chiochetta e Avena (2006) relatam em sua pesquisa que durante o momento da parada o que se vê é uma grande festa popular, que há vários trios elétricos de badaladas discotecas paulistanas voltadas ao público LGBT, e ainda moradores da própria cidade, gays ou não, e uma grande quantidade de turistas, dessa forma fizeram levantamento dos empreendedores turísticos atuantes durante a parada Gay nos anos de 2000 a 2005 através de observação participante. As pesquisadoras salientam principalmente que o seguimento hoteleiro tem um grande interesse em vender seu produto percebendo que comumente os homossexuais podem gastar mais devido ao fato de não constituírem família, além é claro de verificarem que há grande especulação nos preços das diárias e das refeições em restaurante badalados na mesma época. Também podemos salientar o caráter de uma grande festa ou “carnaval gay” quando durante a participação do pesquisador no evento os discursos que mais reverberavam quando perguntava as pessoas que se diziam simpatizantes com o movimento o porquê de estarem assistindo a passeata ou o porquê de trazerem seus filhos para assisti-la, não raro ouvia que era uma “festa muito bonita, colorida” ou que “trouxe meu filho para se divertir, porque eles são muito alegres” (falas recolhidas durante a observação participante). O mercado arrecada o dinheiro que os turistas injetam nos estabelecimentos comerciais da grande São Paulo, bares e clubes especializados para este público ficam superlotados, hotéis têm suas reservas esgotadas dias antes desse grande evento, grandes lojas de moda dirigida a esse público acabam lucrando muito com a maior concentração do seu público na cidade, no dia e nos dias que antecedem à Parada. Em suma, o que a sociedade está aceitando é apenas o dinheiro dos gays, visto que segundo Louro (2001): Admite-se (embora com algumas resistências) que um operário venha a se transformar num patrão ou que uma camponesa se torne empresária. Representados de formas novas, ele ou ela provavelmente também passam a perceber como os outros sujeitos, com outros interesses e estilos de vida. Aceita-se a transitoriedade ou a contingência de identidades de classe. A situação fica mais complicada, no entanto, se um processo semelhante ocorre com relação às identidades de gênero sexuais. (LOURO, 2001; p.12). 24 É mais grave perceber que o modelo da Parada, que se confunde muito com um carnaval gay, não consegue romper com um modelo que desde muitos anos antes, já existia. É fato que “o carnaval era um momento durante o ano, quando gays podiam expressar-se livremente” (GREEN, 2000, p.280). 5.3. Potes de ouro e educação Primeiramente o pesquisador desde que iniciou a pesquisa e o contato com a literatura que versa sobre gênero percebeu que uma grande falha está no setor educacional, desde que a criança ingressa no mesmo. É fato que toda essa carga de preconceitos quando se trata de identidades sexuais ou identidades de gênero já começa desde antes do nascimento do bebê pela escolha da cor do enxoval: rosa para menina e azul para menino, mas a escola pode ou não contribuir para que isso se perpetue tanto para os que terão sua orientação sexual voltada para a heterossexualidade, como para os que terão a orientação sexual voltada para as sexualidades chamadas de desviantes ou disparatadas como diria Foucault (1988). Prado e Machado (2008, p.19) salientam que: As posições das sexualidades foram sempre sócio-historicamente construídas, o que significa considerarmos que a invenção da sexualidade é uma invenção social, contextual e política, já que enseja conquistar, desenhar, disciplinar uma forma predominantemente mais dominante de ser sexuado no mundo. Altmann & Martins (2007, p.141) alertam que: [...], as normas regulatórias do sexo, por meio das instituições e seus especialistas, trabalham de maneira a estabelecer a materialidade do sexo nos corpos, concretizando a diferença sexual a serviço da padronização heterossexual. Essa padronização impõe que todos, independentemente de suas diferenças, de suas variações anatômicas e fisiológicas, e de seus desejos e afetos, enquadrem-se na norma masculina e feminina. Ou seja, a escola enquanto uma instituição tendo como especialistas todos os educadores que dela fazem parte deve de alguma forma lutar contra essa biologização dos corpos e propor discussões que gerem novas formas de pensar sobre identidades sexuais e identidades de gênero. Essa pesquisa quer salientar como lembra Ferrari (2004, p. 109) que: Os movimentos gays como espaços educativos nos fazem ter mais atenção para as realidades plurais que compõem a quantidade indeterminada de práticas sociais, culturais e políticas. Trabalhando 25 com novas formas de conhecimento, o movimento gay pode ser entendido como movimento emancipatório, já que parte de um passado que nos prende a formas discriminatórias e excludentes. A pesquisa quer lembrar através disso que a escola deve trazer à tona essas discussões, problematizações e desassossegos para dentro de seus muros e não se considerar como um forte em que a ação da sociedade em seu entorno não reflete dentro da instituição, lembrar que a escola é um microcosmo representante dessa sociedade. Educadores/as precisam refletir com seus alunos/as sobre esse passado discriminatório e excludente e produzir discursos de igualdade de gêneros. Em pesquisa recente publicada em 2009, Venturi demonstra que, em média 90% da população no Brasil admitem ter algum tipo de preconceito contra LGBTs, mas quando questionados sobre o próprio preconceito apenas 26% em média admite tê-lo. Venturi salienta que esse fenômeno de atribuir ao outro um preconceito que não reconhece como próprio é comum e esperado, já que esse tipo atitudes preconceituosas na sociedade atual é vista como politicamente incorreta e passível de condenação. Além desses fatores, gráficos da pesquisa realizada demonstram, por exemplo, que tanto a população em geral quanto a população LGBT desconhecem a existência do programa do governo federal “Brasil sem homofobia” sendo os percentuais de 83% da população em geral e 51% da população LGBT. O programa “Brasil sem homofobia” inclui ações como capacitação em direitos humanos e cidadania assim como a elaboração do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que tem pretende dentro de suas ações, estabelecer: o reconhecimento dos direitos civis de casais homossexuais, equiparando-os aos direitos já garantidos aos heterossexuais; o fim da perseguição e criminalização de militares homossexuais; a produção de material didático sobre os temas que envolvem a questão para orientar professores; a articulação de uma rede nacional de combate à homofobia, lesbofobia e transfobia; o estímulo ao turismo LGBT e o encaminhamento de mulheres transexuais e travestis condenadas para presídios femininos. Esse programa foi lançado pelo Governo Federal em 2004 partindo de discussões com a sociedade civil tendo como intuito a promoção da cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, a partir da 26 equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas.7 Sobre o que está exposto nos parágrafos acima César (2009) diz ser importante reconhecer o descompasso entre as políticas sociais e públicas dos últimos anos quando se fala de diversidade sexual e a escola e ainda sobre isso diz (p. 9-10): Enquanto o governo federal junto aos movimentos sociais prepara a 1ª. Conferencia Nacional GLBT, reafirmando o programa “Brasil sem Homofobia”, grande parte das escolas brasileiras permanecem dentro da ordem disciplinar e normativa produzindo fazendo parte da grande máquina normativa de exclusão de gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros. Com relação às pesquisas e bibliografias consultadas ainda percebe-se que é muito tímida a forma como a escola lida, discute e problematiza essas questões com seus alunos, na maior parte das vezes o silenciamento é a forma utilizada quando um aluno apresenta orientação sexual diferente da heterossexualidade, isto da norma vigente. Por todas as razões que foram apresentadas no trabalho, e mais o que a literatura aborda, e outras inúmeras pesquisas tem-se aprofundado, educadores/as deveriam participar, ler, estudar e discutir com toda a comunidade escolar, sobre o movimento LGBT e Parada LGBT de São Paulo, tendo em vista diminuição de preconceitos, discriminações exclusões e também da violência contra essa população. César (2009, p.11) observa que primeiramente um trabalho com a diversidade sexual nas escolas pressupõe: um conhecimento das disposições de professoras e professores, que por sua vez deverão adentrar em uma nova lógica do (des)conhecer, e não poderá jamais ser a pergunta formulada ao especialista – é normal menino beijar menino. Perguntar pela normalidade é pertencer ao mundo definido e mapeado pelos processos disciplinadores e normalizadores. Segundo, para adentrar em outra lógica, professores e professoras, [...], necessitam produzir uma capacidade para a liberdade. Nesta perspectiva, a sexualidade, educação sexual e a diversidade sexual se referem a práticas de liberdade, na medida em que os limites do nosso pensamento são elididos. 7 Retirado da página do Programa Brasil sem Homofobia, disponível em: http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/brasilsem/ 27 5.4. Leprechauns e atores sociais envolvidos no movimento LGBT Nascemos e crescemos numa sociedade onde somos construídos como seres humanos dentro de um contexto histórico, social e cultural, sendo assim, os (pré) conceitos e as formas de nossa sexualidade são construções que nos acompanham desde a nossa infância. Passamos pela infância, pela adolescência até chegar à fase adulta e os preconceitos acabam por se arraigar. O adolescente quando descobre o seu desejo sexual, descobre também a idéia de pertencimento, e para que o pertencimento tome forma, começa a freqüentar o grupo sexual de seus iguais, para composição e estruturação de sua identidade. Uma identidade é um processo ao mesmo tempo individual e coletivo de significações, com implicações psicológicas e sociais. Uma identidade não é outra coisa senão a própria ação na qual se engaja, articulando-se por meio de um conjunto de significados possíveis. [...]. São construções de apreensão possível apenas no movimento em que se constituem, definindo processualmente as posições de sujeito em cada contexto particular, sem, contudo, se deslocar do discurso hegemônico. (PRADO & MACHADO, 2008; p.18) No caso de um adolescente que caminha para o descobrimento de seu desejo sexual por uma pessoa do mesmo sexo, pode haver um primeiro momento de grande dificuldade, pois carrega os preconceitos consigo, sendo assim leva consigo todas as construções de sujeito que sua cultura ajudou a marcar em seu corpo, todo o discurso em torno da sexualidade, que tem uma figura central masculina e branca – falamos aqui especialmente da cultura machista brasileira - repetindo modelos e padrões impostos pela heterossexualidade que longe de ser natural tornou-se compulsória (MISKOLCI, 2007). As posições das sexualidades foram sempre sócio-historicamente construídas, o que significa considerarmos que a invenção da sexualidade é uma invenção social, contextual e política, já que enseja conquistar, desenhar, disciplinar uma forma predominantemente mais dominante de ser sexuado no mundo. (PRADO & MACHADO, 2008; p.19) Esses padrões de heterossexualidade acabam por se reproduzir dentro dos redutos freqüentados pelos homossexuais que, já fazendo parte de uma parcela destacada do mercado que já é totalmente segmentado, seja para camadas mais pobres ou mais ricas, para negros ou para brancos, etc., 28 acabam por tornar segmentados os preconceitos, o movimento, os clubes, as saunas, os bares, as boates, etc. Ao longo dos tempos, os sujeitos vêm sendo indiciados, classificados, ordenados, hierarquizados e definidos pela aparência de seus corpos; a partir dos padrões e referências, das normas, valores e ideais da cultura (LOURO, 2004; p.75). Sendo assim, os freqüentadores da Parada LGBT se dividem em pequenos grupos que travam entre si “pequenas batalhas”, implicando em instituição de desigualdades, de ordenamentos, de hierarquias, e está, sem dúvida, estreitamente imbricado com as redes de poder que circulam numa sociedade. (LOURO, 2001, p.9). Os grupos estão lá, e são ou não nítidos, visto que, para os olhos de outra cultura – a cultura heterossexual – o caráter de unicidade dos elementos do grande grupo LGBT como sujeitos não heterossexuais, é suficiente para que estes sejam rotulados como desviantes da norma, no entanto quando passamos a analisar as relações entre os atores integrantes desse grande grupo, que na sociedade em geral são chamados de minoria, outros tantos subgrupos passam a ser delineados. Apesar disso para os próprios integrantes essas divisões podem passar despercebidas ou talvez se deixe passar despercebida, devido ao fato de não quererem trazer a luz das discussões esse fato deixando aos olhos daqueles que se encontram do lado de fora - podemos aqui ainda usar o termo “às margens” dessa sociedade minoritária - que se afirme o caráter de unicidade da mesma. Vale salientar que o que chamamos de movimento homossexual é, hoje, um sujeito político bastante complexo, formado por múltiplas categorias identitárias, nem sempre movidas pelos mesmos discursos. (FRANÇA, 2007; p.103). Em se tratando das observações percebe-se nos redutos e na parada gay a formação de vários subgrupos, trazendo a percepção de que com a padronização heterossexual, o gay que se comporta com características mais masculinas, supõe-se, seja o centro desta sociedade minoritária sexual, que estamos tratando nas análises. Este pode facilmente fundir-se com a figura do homem branco, heterossexual de classe média, e cristão (LOURO, 2001). Ora, é estranho? Mas em se tratando de seu modo de vestir, portar, seu modo de se colocar perante a sociedade, hoje os gays que nos ambientes freqüentados 29 pelos não-heterossexuais são chamados de “bichas boys ou bofes”8, podem facilmente ter sua imagem associada à figura padrão da heterossexualidade, branca e masculina. O que podemos perceber pelo explicitado nos parágrafos anteriores, é que o reduto pode estar reproduzindo situações já vivenciadas pela figura dos homossexuais sob a perspectiva da sociedade heterossexista. O grupo que se encontra às margens de uma sociedade predominantemente heterossexual, também marginaliza seus sujeitos e elege uma figura central a qual para o pesquisador é denominada como sendo a das “bichas boys”, os não afeminados, os “gays masculinos”. O rótulo utilizado para nomear essa sociedade minoritária define na sigla LGBT alguns grupos: Lésbicas - indivíduos do sexo feminino que mantém relações sexuais com indivíduos sexuais femininos; Gays - indivíduos do sexo masculino que mantém relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo; Bissexuais - indivíduos tanto do sexo masculino como do feminino que mantém relações sexuais com indivíduos dos dois sexos; Transgêneros - travestis, transexuais, indivíduos que se submeteram a cirurgia de transgenitalização, ou como popularmente dizem mudança de sexo. Ainda fora dessas siglas temos que destacar que alguns atores sociais tornam difícil a classificação, pois fogem dessas características como as Drag Queens e Drag Kings9 e os Crossdressers10, talvez aqui, os únicos elementos 8 bichas boys ou bofes – Usaremos estes termos, o que popularmente os homossexuais dizem: Aqueles que apesar do desejo sexual pelo mesmo sexo, conservam características físicas e comportamentais mais adequadas às normas masculinas, construídas histórico, social e culturalmente. 9 Drag queen, drag king ou Genderqueer são pessoas que se mascaram como sendo do sexo oposto, fantasiando-se com o intuito geralmente profissional de fazer shows e apresentações, na maioria das vezes em boates e bares GLBTT, de cujo movimento fazem parte. Muitos fazem também o trabalho profissional levando correio elegante. Chama-se drag queen o homem que se veste com roupas de mulher, e drag king a mulher que se veste como homem. São conhecidos pelos seus exageros no vestir, nos modos, na maquiagem e pelo estilo cômico de se apresentar. Embora na maioria das vezes os drag queens e kings sejam homossexuais (gays ou lésbicas), essa orientação sexual nem sempre é a norma. Podem ser também bissexuais, assexuais e até mesmo heterossexuais. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Drag_queen. Acesso: 11/10/2008. 10 Crosdressers pessoas que vestem roupas usualmente próprias do sexo oposto porque tal lhes dá prazer (sexual, erótico ou meramente emocional), sem que tal atitude interfira necessariamente em sua orientação sexual. Ou seja, uma pessoa crossdresser não necessariamente pautará sua orientação ou seu papel sexual em função desse seu fetiche por roupas do sexo oposto. Sendo assim, ele (a) pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual. Não utilizam hormônios nem cirurgias plásticas para se assemelharem ao sexo 30 que hoje na sociedade LGBT mantenham uma característica de estranhos, ao mesmo tempo exercendo certo fascínio, atores que preservam uma característica “Queer”, que não querem ser classificados, que querem viver nas fronteiras, estranhando uma identidade sexual fixa. [...] Queer é um jeito de pensar e de ser que não aspira o centro nem o quer como referência; um jeito de pensar e de ser que desafia as normas regulatórias da sociedade, que assume o desconforto da ambigüidade, do “entre lugares”, do indecidível. Queer é um corpo estranho, que incomoda, perturba, provoca e fascina. (LOURO, 2004, p.7-8) Não bastasse essa sociedade, que se imagina reunida e protegida por um caráter de unicidade sob a égide da sigla LGBT, estar dividida nos tais grupos, quando a observação começa a se fazer mais aprofundada, mais crítica, mais minuciosa, outros tantos subgrupos são possíveis de ser encontrados dentro destes. Vamos exemplificar: o grupo dos gays nos faz perceber uma intenção de separação entre ativos, passivos e versáteis, veja que essa divisão não explica apenas o papel desempenhado durante a relação sexual, esse fator pode ou não tratar-se apenas de uma preferência durante o ato sexual em si, devemos também analisar os conceitos implícitos em tal discurso. Compreende-se que os gays ativos, aqueles que penetram o parceiro durante o ato sexual tendem a assumir por conseqüência a posição do masculino, isso quando “representam” para a sociedade uma figura masculina, o homem construído histórico, cultural e socialmente. Já os gays passivos, aqueles que são penetrados pelo parceiro durante o ato sexual, assumem a posição de submissos, do feminino, ao menos na maioria das vezes, o segundo sexo que a história e a cultura talharam com dada eficiência nos corpos11. Entender essas artimanhas faz com que isso se torne preocupante, pois da mesma forma como durante anos, as mulheres carregaram o estigma da passividade e submissão, o gay passivo, é marcado por alguns desses estigmas advindos da mulher, sendo vítima do preconceito e das “piadinhas” oposto, o que os distingue de travestis e transgêneros, pois no dia-a-dia portam-se segundo seu sexo biológico. Em suma, ser crossdresser muitas vezes implica na satisfação eroto- fetichista em se vestir com roupas do sexo oposto. Em raros casos os crossdressers podem até fazer uso de hormônios para ter uma aparência mais feminina (ou masculina) variando de caso em caso. Os crossdressers autodenominam-se "CDs". Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Crossdresser. Acesso: 11/10/2008. 11 Há que se explicar aqui que alguns gays considerados afeminados durante o ato sexual são ou preferem ser ativos. 31 de indivíduos do próprio reduto, tratado como inferior, como submisso ou a “mulher” da relação, o que também podemos resgatar da história, onde algumas vezes essa figura era a figura do escravo e do aprendiz, que obviamente tinha o estigma da submissão ao senhor ou mestre respectivamente. Até o início do século XIX, conforme Laqueur persistira o modelo sexual que hierarquizava os sujeitos ao longo de um único eixo, cujo telos era o masculino; portanto, entedia-se que os corpos de mulheres e de homens diferiam em “graus” de perfeição. (LOURO, 2004, p.77) Para Guacira Louro (2004, p.89) a cultura nomeia o masculino e o feminino, quando diz que, Definir alguém como homem ou mulher, como sujeito de gênero e de sexualidade significa, pois, necessariamente, nomeá-lo segundo as marcas distintivas de uma cultura – com todas as conseqüências que esse gesto acarreta: a atribuição de direitos ou deveres, privilégios ou desvantagens. [...] Todos esses movimentos, seja para se aproximar, seja para se afastar das convenções, seja para reinventá-las, seja para subvertê-las, supõem investimentos, requerem esforços e implicam custos. Todos esses movimentos são tramados e funcionam através de redes de poder. Ainda, entre os gays, há um distanciamento entre as bichinhas12, as bicha-boys ou bofes e as barbies13. Apesar de algumas vezes esses três subgrupos diluírem-se uns nos outros, durante a convivência na parada e nos ambientes para esse público é possível perceber que essa parece ser a exceção. O que acontece com maior freqüência é observar que esses grupos em casas noturnas ou em eventos que se nomeiam LGBT se mantenham bem distintos. Mesmo estando em ambiente caracterizado pela freqüência daqueles que desejam sexualmente parceiros do mesmo sexo, protegidos pela sua categoria de unicidade que a sigla aspira ter, protegidos pelo anonimato oferecido se dividem em grupos e subgrupos específicos. O “normal”, o “diferente” e o “excêntrico” têm seu lugar marcado numa minoria sexual, que cria novos gêneros e categorias sexuais ou os (re) produzem, o que só (re) afirma as teorias que nos apontam a superação do aspecto binário quando falamos em sexualidade humana (LOURO, 2007). 12 Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, diz-se de ou indivíduo efeminado. 13 Homossexuais que passam horas em academias esculpindo os músculos e com o corpo totalmente depilado; nas observações percebemos claramente que tanto podem ter características das “bichas” como das “bicha-boys”. 32 As tramas da sexualidade parecem de alguma forma tentar escapar a rotulação e fixação de identidades, mas da mesma forma a heterossexualidade compulsória tenta de todas as maneiras, na maioria das vezes de forma cruel, manter o poder e se reafirmar natural. É necessário salientar ainda, que as lésbicas se fecham realmente em seu grupo, ao menos na maioria das vezes, esse talvez seja um dos grandes “rachas” da sigla LGBT, hoje é preciso esclarecer que devido a um forte apelo do movimento feminista dentro do movimento gay, as lésbicas passam a ocupar um local de destaque na sigla que passou então a ser LGBT ao invés de GLBT. Já os bissexuais sofrem um tremendo preconceito por parte dos gays e lésbicas, dado que a maioria destes acredita ser falta de caráter ou coragem para se decidir por um dos “lados da cerca”, ou seja, ficam “em cima do muro”, chamam também de falta de vergonha, etc. Há que se saber também que o grupo dos bissexuais não tem um movimento organizado, sua orientação sexual é ainda camuflada, pelo que a sociedade lhe atribui. As primeiras iniciativas de formação dos grupos de discussão em torno da bissexualidade surgiram a partir de 2004. (FRANÇA, 2005). Quando citamos o grupo dos transgêneros, definir quais são os integrantes se torna assunto controverso e que causa conflitos entre os subgrupos deste. Isadora Lins França (2005) explicita que essa categoria dos transgêneros foi traduzida do inglês “transgender”, mas que a polêmica da diferenciação entre travestis14 e transexuais15 causa um tremendo desconforto 14 Travesti ou eonista era originalmente alguém que se vestia com roupas do sexo oposto para se apresentar em shows e espetáculos, mas essa prática passou a designar hoje em dia principalmente os transgêneros, que após adquirirem formas femininas através de hormônios femininos ou perigosas injeções de silicone industrial, muitas vezes são empurrados à prostituição por falta de oportunidades no mercado de trabalho formal, devido ao preconceito. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Travestis. Acesso: 11/10/2008. 15 Transexualidade é a condição considerada pela OMS como um tipo de transtorno de identidade de gênero, mas pode ser considerada apenas um extremo do espectro de transtorno de identidade de gênero, refere-se à condição do indivíduo que possui uma identidade de gênero diferente a designada no nascimento, tendo o desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto. Usualmente os homens e a mulheres transexuais apresentam uma sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo anatômico, desejam fazer uma transição de seu sexo de nascimento para o sexo oposto (sexo-alvo) com alguma ajuda médica (terapia de redesignação de gênero) para seu corpo. A explicação estereotipada é de "uma mulher presa em um corpo masculino" ou vice-versa, ainda que muitos membros da 33 nos atores que se encontram sobre a égide dessa categoria, visto que ora se afirma essa diferença pela cirurgia de transgenitalização, ora se afirma sobre o desempenho de papel sexual “ativo” ou “passivo”. Não podemos deixar de lembrar que, o aspecto psíquico de sofrimento causado pela identificação de um órgão sexual, que pertence ao sexo oposto no caso dos transexuais é muito maior, fato que para os travestis não causa grande desconforto, por que, psicologicamente conseguem lidar bem com a idéia de possuir um órgão sexual masculino, e também pelo fato de fazerem uso deste, como sujeitos ativos em algumas de suas relações sexuais. E há outros tantos grupos, os quais com certeza necessitariam uma pesquisa mais produnda, mas os subgrupos mais claramente vistos seriam os listados acima. Imagina-se, normalmente que todos esses grupos e subgrupos convivem harmoniosamente, e de certa forma devem estar ou se sentir, protegidos devido a sua categoria de unicidade da sociedade em geral preconceituosa, discriminatória, heterossexual, burguesa e cristã. Mas será que estão protegidos deles mesmos? França (2005) diz ficar evidente que as teorias que lidam com as identidades coletivas como internamente homogêneas foram fragilizadas com o surgimento de novos atores que se reivindicam como constituintes do sujeito político do movimento homossexual. Neste jogo de poder interno onde as reproduções das relações de poder que estão estruturadas do “lado de fora”, ou seja, que se encontram na sociedade como um todo; nesse jogo de poder, os homossexuais acabam por se auto-segregar, para se proteger, separando-se cada vez mais nos grupos e subgrupos, haja vista casas noturnas especializadas para cada tipo de público, mesmo que veladamente especializadas, bares, saunas e sites de relacionamento na internet. É possível perceber certa manipulação dos atores do movimento16, há também um mercado todo segmentado, o que contribui ainda mais com essa comunidade transexual, assim como pessoas de fora da comunidade, rejeitem esta formulação. Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transsexual. Acesso: 11/10/2008. 16 Para uma melhor compreensão ler FRANÇA 2005. 34 segregação dos grupos e subgrupos. Mas não é só a manipulação do mercado, há também uma repetição dos modelos existentes na sociedade em geral, refletindo a padronização a serviço da heteronormatização, onde a figura central é o homem branco de classe média e cristão. Uma das grandes chaves desta segmentação entre os integrantes do movimento pode estar na educação que tiveram também na escola. O fato de a escola silenciar o assunto quando se trata de identidades de gênero e identidades sexuais faz com que os preconceitos reverberem de outras maneiras, visto que a construção social dentro dos redutos espelha aquilo que está dado do lado de fora, ou seja, o gênero masculino e feminino marcados como são nos corpos falam novamente nos corpos com orientação sexual diferente da heterossexual. As bichas-boys não enxergam com “bons olhos” as “bichinhas”. O modo como discriminam os que têm características femininas intriga muitas vezes pelo fato de achar que esses denigrem a imagem dos demais; os demais, capturados pela cultura discriminatória que propõe um bom comportamento social, agem dentro do padrão heterossexual para passarem de certa forma, “ilesos”, pelo preconceito de fora. Esses que se acham “gays normais”, atitude que remete à padronização sexual heterossexual, não percebem exatamente esse óbvio, não percebem talvez que possam estar a serviço de uma padronização de uma cultura dominantemente heterossexual, cristã, que segue “religiosamente” os padrões de normalidade que a medicina aliada a igreja desde muito antes conseguiram inculcar; se percebem esse fato, talvez, deixam-se dominar por uma ideologia vigente, onde as redes de poder fazem- no pensar que sua aceitação será maior por comportar-se de tal forma, adquirindo o respeito dos demais seres humanos que se auto-intitulam “normais”. Aqui podemos comparar os homossexuais aos leprechauns pelo fato de que após seu trabalho adoram festas, como muitos homossexuais que adoram freqüentar danceterias e boates, as famosas “baladas gays”, mas apesar disso como os leprechauns eles não vivem em comunidades preferindo certo isolamento. Depois de todo o explicitado durante esse capítulo o pesquisador acredita ter esclarecido um pouco como a educação sexual e a orientação 35 sexual (termo aqui utilizado para a educação sexual sistematizada) contribuem para a perpetuação e reverberação de preconceitos, exclusões e discriminações de gênero. A pesquisa quis nesse subcapítulo salientar a importância de discussões, problematizações e reflexões no âmbito escolar para iniciarmos uma quebra de preconceitos e a proliferação de discursos de igualdade de gênero e respeito com a diversidade sexual. Resta agora ao pesquisador partir para algumas discussões, inquietações e considerações finais, visto que por tratar-se de uma pesquisa para monografia de conclusão de curso não haveria tempo e nem possibilidade no momento de aprofundar várias questões e conceitos que apareceram durante o transcorrer da monografia. 36 6. O FINAL DO ARCO-ÍRIS – INQUIETAÇÕES, CONSIDERAÇÕES E DISCUSSÕES FINAIS. A escola, ainda hoje, age de maneira a silenciar discussões, desassossegos, problematizações e reflexões quando o assunto se trata de sexualidades, diversidade sexual, identidades sexuais e identidades de gênero. Dessa forma uma pesquisa como essa visou disparar esclarecimentos de aspectos preciosos do movimento gay e da Parada LGBT de São Paulo, trazendo para a discussão, os olhares e as observações realizadas pelo pesquisador pelo viés da educação sexual, com referenciais teóricos que sustentaram a pesquisa no que tange a educação, que começa desde antes do nascimento da criança quando sua identidade de gênero já começa a ser impressa em seu corpo pela escolha do enxoval de cor diferenciada para meninos e meninas. Sendo assim, ainda, a pesquisa tem um caráter transgressor de produzir conhecimento sobre aquilo que é silenciado, e para tal Ferrari (2004, p. 114) aponta: Uma vez que nossa herança colocou a homossexualidade no campo do proibido, falar dela, defendê-la, produzir conhecimento ao seu redor, lutar por sua visibilidade, possui um aspecto de transgressão. Segundo Foucault (1988), quem defende esse discurso se posiciona, de certo modo, fora do alcance do poder, visto que desestrutura a lei e antecipa a liberdade futura. O movimento gay lida com essa liberdade futura o tempo todo, na sua luta por uma construção de uma sociedade mais justa. Os membros do movimento gay parecem ter consciência dessa preparação para a liberdade futura, que está baseada num processo educacional capaz de construir identidades mais valorizadas da homossexualidade, tanto para seus membros quanto para o grande público, mesmo porque isso só poderá ser construído pelo diálogo, pelo confronto e pela negociação com a sociedade mais abrangente. 37 Esta pesquisa defende que a escola deve ser o espaço para discussão e produção de conhecimentos, capazes de produzir discursos de igualdade de gêneros mais sólidos. É claro que não é a escola a redentora de todas as mazelas do mundo e nem poderá sanar sozinha todos os problemas causados por uma cultura de identidade de gênero que visa uma “normalidade”, que tem uma figura central masculina, branca e heterossexual, mas ela pode ser o disparador das inquietações que afligem os alunos que estes, encontram na escola o silenciamento às suas dúvidas, angústias, desassossegos, afetos, encontros e desencontros da sua descoberta da sexualidade. A pesquisa realizada em 2005 pelos órgãos: Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT-SP), Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)/UCAM, Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM)/UERJ, Departamento de Antropologia/USP e Núcleo de Estudos de Gênero Pagu/Unicamp, apontam que apenas 57,6% das pessoas que comparecem a Parada, o fazem para que homossexuais tenham mais direito, os outros quase 50% se dividem entre diversão, paquera, trabalho, lazer e curiosidade. Destacamos então que do ponto de vista educacional temos que considerar que 26,7% que comparecem por diversão ou curiosidade estão de alguma forma educando o olhar para com essa diversidade sexual. O que preocupa nesse caso é a postura de muitos dos homossexuais que estão na avenida durante a manifestação, já que dependendo do olhar de quem vê e do comportamento de quem é visto as representações que ficaram guardadas na memória desses 26,7% de freqüentadores pode ser distorcida. Pensando aqui nessas inquietações, que o pesquisador propôs no título uma das reivindicações do movimento, que é o de união estável civil entre pessoas do mesmo sexo, entretanto, muitas pessoas podem olhar para esses homossexuais como promíscuos, pois durante a realização da pesquisa não raro reverberavam discursos nas falas das pessoas com quem o pesquisador teve contato e que são homossexuais na sua maioria que “a parada é uma putaria” ou que “eu vim aqui pra beijar muito”. Temos que lembrar ainda que, como destacou Venturi (2009), que é esperado do público que está na manifestação, respostas que sejam consideradas politicamente corretas perante a sociedade, portanto nem tudo o 38 que é respondido na pesquisa durante a realização da manifestação pode ser inteiramente o que se pensa e deseja. Ainda sobre a pesquisa realizada em 2005 quando se faz o gráfico comparativo por sexualidade agregada, percebemos que na verdade entre os homossexuais, lésbicas e bissexuais a reivindicação de direitos fala mais alto, já entre os heterossexuais a maioria comparece a manifestação por curiosidade e diversão chegando a 50% em média, e a pesquisa destaca isso como forma lúdica de comparecimento, o que podemos considerar como uma mudança educacional de olhar para essa diversidade sexual. A pesquisa demonstrou ainda, que dentre os manifestantes 72,1% diz já ter sofrido algum tipo de discriminação, e 65,7% diz já ter sofrido algum tipo de agressão por causa de sua sexualidade, dentre as modalidades de discriminação sofrida 32,6% dizem ter sofrido com a marginalização e a exclusão na escola. Vejam o porquê desde o início desta pesquisa viemos apontando para a escola como um espaço importante no desvelamento contra a discriminação, preconceito, homofobia, lesbofobia e marginalização dos LGBTs. Ainda nesse ponto temos que lembrar que como toda a educação sexual dos LGBTs seja ela sistematizada e dada na escola ou nos múltiplos lugares onde ela possa acontecer, reforça esses preconceitos e discriminações de todo o tipo, eles reverberam esses preconceitos de outras formas dentro dos redutos e ambientes de convivência dos mesmos. Enfim essa pesquisa não teve e nem poderia ter um caráter terminal, ela apenas trouxe algumas provocações, e com elas a abertura para novas pesquisas, discussões e problematizações, esperamos que depois desta, venham muitas outras, para que possamos então construir uma igualdade de gêneros sólida. Para tal cabe a educação, ser subsidiada com políticas públicas que visem uma educação voltada a todos, e quando frisamos todos, dizemos também LGBTs. 39 7. REFERÊNCIAS ALTMANN, Helena; MARTINS, Carlos José. Políticas da Sexualidade no Cotidiano Escolar. In: CAMARGO, Ana Maria Faccioli; MARIGUELA, Márcio. Cotidiano Escolar: emergência e invenção. Piracicaba: Jacintha Editores, 2007. p. 131-150. ASSOCIAÇÃO DA PARADA DO ORGULHO GLBT DE SÃO PAULO (São Paulo). Histórico das paradas em São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 26 jun. 2009. BATZÁN, A.. Etnografía. Métodos cualitativos en investigación socio- cultural. Barcelona: Editorial Boixareu Universitaria, 1995. CARRARA, Sérgio et al. 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