UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATERIAIS Wangner Barbosa da Costa Preparação e Caracterização Óptica de Filmes Nanocristalinos de GaAs:H Depositados por RF Magnetron Sputtering Bauru 2007 WANGNER BARBOSA DA COSTA PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ÓPTICA DE FILMES NANOCRISTALINOS DE GaAs:H DEPOSITADOS POR RF MAGNETRON SPUTTERING Dissertação de Mestrado apresentada como parte de requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Materiais. Orientador José Humberto Dias da Silva Bauru 2007 DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP – BAURU Costa, Wangner Barbosa. Preparação e caracterização óptica de filmes nanocristalinos de GaAs:H depositados por RF magnetron sputtering / Wangner Barbosa Costa, 2007. 80 f. il. Orientador: José Humberto Dias da Silva. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2007. 1. Filmes finos – Propriedades ópticas. 2. Nanocristalino. 3. GaAs:H. 4. Sputtering. I – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II - Título. Ficha catalográfica elaborada por Maricy Fávaro Braga – CRB-8 1.622 WANGNER BARBOSA DA COSTA PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ÓPTICA DE FILMES NANOCRISTALINOS DE GaAs:H DEPOSITADOS POR RF MAGNETRON SPUTTERING Dissertação de Mestrado apresentada como parte de requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Materiais. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. José Humberto Dias da Silva – Orientador Faculdade de Ciências – Unesp - Bauru Prof. Dr. Américo Tabata Faculdade de Ciências – Unesp - Bauru Prof. Dr. Johnny Vilcarromero Lopez Universidade Federal de Uberlândia Bauru, 19 de Setembro de 2007. Dedico este trabalho ao meu pai Valdemar, à minha mãe Iraci e ao meu esposo Marcelo. AGRADECIMENTOS Agradeço ao professor e orientador José Humberto Dias da Silva pela oportunidade e orientação deste trabalho e pela dedicação em minha formação acadêmica. Agradeço a professora Lígia de Oliveira Ruggiero pela disponibilidade do espectrofotômetro. Agradeço aos colegas de laboratório e grandes amigos André Luis de Jesus Pereira, Douglas Marcel Gonçalves Leite, Luis Fernando da Silva, Adriano Carvalho e Marcel Henrique Arraya Aviles pelas colaborações e pela prazerosa companhia dentro e fora do laboratório. Agradeço à minha irmã Vislaine Barbosa da Costa e aos meus familiares, pelo apoio, incentivo e paciência durante a realização deste trabalho. Agradeço a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo pela bolsa oferecida através do Projeto Bolsa Mestrado. Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. Muito Obrigado! RESUMO Filmes nanocristalinos e amorfos de GaAs tem recentemente chamado a atenção de vários grupos de pesquisa devido as suas possíveis aplicações em novos dispositivos ópticos e eletrônicos. Igualmente atraentes são as novas propriedades físicas relacionadas com a estrutura nanocristalina e os efeitos da desordem na estrutura eletrônicas destes materiais. Entre as aplicações existentes, podemos citar o uso destes filmes como camadas anti-guia em lasers com emissão perpendicular à superfície, as camadas “buffer” em hetero-epitaxias de GaAs sobre Si, e os filtros interferométricos para a região do infravermelho. A preparação e a caracterização de filmes nanocristalinos de GaAs hidrogenados e não hidrogenados usando a técnica de RF magnetron sputtering foram focalizados neste trabalho. Um alvo de GaAs e uma atmosfera controlada contendo quantidades variáveis de argônio (Ar) e hidrogênio (H2) foram usadas na deposição do filme. Foi investigada a influência do fluxo de Ar e H2 na composição, estrutura e propriedades ópticas dos filmes. A influência da temperatura de substrato e potência de deposição também foi analisada. As técnicas de difração de raios-X e análise da energia de dispersão por emissão de raios-X (EDX), foram utilizadas na análise da estrutura e composição do filme, enquanto medidas ópticas de transmitância e refletância permitiram a determinação do coeficiente de absorção óptica e índice de refração dos filmes. A presença de ligações de hidrogênio nos filmes foi confirmada pelas bandas de absorção do Ga-H e As-H usando um espectrofotômetro de transformada de Fourier (FTIR). Os resultados mostram que a microestrutura, a composição e as propriedades ópticas do material são fortemente influenciadas por todos os parâmetros investigados, com destaque para o fluxo de hidrogênio utilizado nas deposições. Os filmes hidrogenados (fluxo de 3,0 sccm de H2 / 20 sccm de Ar) produzidos a baixa potência (30W) e temperaturas de substrato (60°C), apresentaram maiores valores do gap óptico (1.48 eV) e as menores energias de Urbach (117 eV), sendo portanto compatíveis com as melhores propriedades eletrônicas desta série de filmes. As intensidades e larguras dos picos de difração de raios-X destas amostras não apresentaram diferenças significativas em relação aos filmes não hidrogenados preparados em condições equivalentes, enquanto os parâmetros ópticos calculados são fortemente diferentes. Estes resultados indicam que a combinação de hidrogênio é responsável pela passivação de uma quantidade significativa de defeitos na estrutura eletrônica dos filmes. Palavras chave: GaAs:H, sputtering, nanocristalino, propriedades ópticas ABSTRACT The nanocrystalline and amorphous GaAs films are recently attracting the attention of several research groups due to their possible applications in new electronic and optical devices. Also attractive are the new physical properties related to the nanocrystalline structure and the effects of disorder in the electronic structure of these materials. Among the existing applications we can mention the use of these films as antiguide layers in surface emitting lasers, as buffer layers in the GaAs hetero-epitaxy onto Si substrates, and as infrared interferometric filters. The preparation and characterization of hydrogenated and non-hydrogenated nanocrystalline GaAs films using the RF magnetron sputtering technique were focused here. An electronic grade GaAs wafer target and an atmosphere composed of variable amounts of Ar and H2 were used in the film depositions. We have investigated the influence of Ar and H2 fluxes on composition, structure, and optical properties of the films. The influence of substrate temperature and deposition power were also analyzed. X-ray diffraction and energy dispersive electron analysis (EDX) were used in the analysis of the film structure and composition, while optical transmittance and reflectance measurements allowed the determination of the optical absorption coefficient and refractive index of the films. The presence of bonded hydrogen in the films was confirmed by the Ga-H and As-H absorption bands using Fourier transform infrared spectra (FTIR). The results show that the microstructure, the composition, and the optical properties of the material are strongly influenced by all the investigated parameters, in special the hydrogen flux used in the depositions. The hydrogenated films (H2 flux of 3.0 sccm / Ar flux of 20.0 sccm) produced at relatively low power (30W) and substrate temperature (60°C), have presented the widest optical gap (1.48 eV) and the smallest Urbach´s energy (117 meV), being compatible with the best electronic properties of this series of films. The intensities and widths of the X-ray diffraction peaks of these samples did not present important differences with the ones of non-hydrogenated films prepared under equivalent conditions, while the calculated optical parameters are strongly different. These combined results indicate that the hydrogen passivates a significant amount of defects in the electronic structure of the films. Key words: GaAs:H, sputtering, nanocrystalline; optical properties SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO _________________________________________________ 10 2 FUNDAMENTAÇÃO _____________________________________________ 14 2.1 Conceitos Gerais de Semicondutores ______________________________ 14 2.2 Nanomateriais ________________________________________________ 17 2.3 Semicondutor Nanocristalino______________________________________ 18 3 MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS ______________________________ 21 3.1 Sputtering ____________________________________________________ 21 3.2 Difração de Raios-X ____________________________________________ 23 3.3 Espectroscopia de Transmitância e Refletância_______________________ 26 3.4 Cálculo dos Parâmetros Ópticos __________________________________ 27 3.4.1 Índice de Refração e Espessura _________________________________ 27 3.4.2 Borda de Absorção, Gap e Parâmetro de Desordem _________________ 28 3.5 Espectroscopia de Transmitância no Infravermelho____________________ 31 4 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS_______________________________ 34 4.1 Preparação das Amostras _______________________________________ 34 4.2 Caracterização das Amostras_____________________________________ 38 4.2.1 Medidas de EDX _____________________________________________ 38 4.2.2 Medidas de Difração de Raios-X _________________________________ 38 4.2.3 Medidas de Transmitância e Refletância___________________________ 40 5 RESULTADOS _________________________________________________ 45 5.1 Propriedades Estruturais ________________________________________ 45 5.2 Propriedades Ópticas ___________________________________________ 54 5.2.1 Espectros Associados a Transições Eletrônicas _____________________ 54 5.2.2 Espectros Associados a Modos Vibracionais _______________________ 60 6 DISCUSSÃO ___________________________________________________ 65 6.1 Propriedades Estruturais ________________________________________ 65 6.2 Propriedades Ópticas ___________________________________________ 70 7 CONCLUSÕES _________________________________________________ 77 10 Capítulo 1 Introdução Diversos desafios científicos e tecnológicos estão envolvidos no crescimento de filmes semicondutores de diferentes constituições com propriedades ópticas, eletrônicas, e estruturais otimizadas [1.1,1.2,1.3]. O interesse sobre a produção de filmes otimizados de GaAs amorfo é crescente, dado seu emprego em camadas anti-guia, em arranjos de lasers de cavidade vertical com emissão perpendicular à superfície [1.4], e em filtros interferométricos para a faixa do infravermelho [1.5]. Além disso, os filmes amorfos podem ser recristalizados posteriormente por tratamentos térmicos ou por laser annealing, possibilitando o emprego destes em dispositivos baseados nas propriedades dos materiais ordenados. Uma das vantagens de produzirmos os filmes com estrutura amorfa e nanocristalina é a simplicidade dos sistemas utilizados em relação aos complexos sistemas de Epitaxia por Feixe Molecular (MBE), tradicionalmente utilizados para a produção de filmes nanocristalinos. Filmes finos amorfos e microcristalinos de GaAs também são potencialmente úteis para dispositivos ópticos e para filtros de interferência no infravermelho. Filtros de interferência são construídos usando camadas alternadas de filmes com diferentes índices de refração. Um bom candidato para filmes de alto índice de refração é o GaAs devido a sua alta transparência entre 1 e 20 m que é importante para fibras ópticas [1.5]. A presença de hidrogênio durante o processo de deposição tem se mostrado benéfica tanto para as propriedades eletrônicas dos filmes produzidos por sputtering [1.6,1.7] quanto para filmes produzidos por MBE [1.5,1.8]. 11 A técnica de RF magnetron sputtering é muito versátil para a preparação de filmes semicondutores com alto grau de homogeneidade e excelentes propriedades mecânicas e ópticas [1.5,1.9], e consiste em uma alternativa simples e muito menos dispendiosa que as técnicas de MBE e Deposição de Vapor Químico a partir de Precursores Metalorgânicos (MOCVD). Entretanto, os filmes semicondutores preparados por sputtering não apresentam geralmente propriedades adequadas para aplicação em camadas ativas de dispositivos eletrônicos [1.10]. Existe, portanto um interesse no aprimoramento das propriedades estruturais e eletrônicas dos filmes produzidos por esta técnica. Neste trabalho examinamos as propriedades ópticas e estruturais de filmes de GaAs com e sem hidrogênio preparados pela técnica de sputtering. Diferentes parâmetros de deposição como potência, temperatura de substrato, fluxo de argônio, pressão e concentração de hidrogênio foram analisados, com o intuito de avaliar sua influência sobres as propriedades dos filmes. As principais medidas realizadas foram transmitância e refletância com energias na região do gap que nos permitiram calcular o gap óptico, E04 e energia de Urbach para os filmes depositados com diferentes concentrações de hidrogênio. Outra medida importante foi a Transmitância na Região do Infravermelho (FTIR). Através destas medidas foi possível estimar a concentração de hidrogênio efetivamente incorporada ao filme tanto em ligações com o Ga quanto com o As. Medidas de difração de raios-X complementaram nossas caracterizações, pois nos permitiram estimar a fração cristalizada e o tamanho médio dos cristalitos. No capítulo 2 será feita uma breve descrição das principais propriedades dos semicondutores amorfos, dos nanomateriais e o interesse de se produzir semicondutor nanocristalino. 12 Nos Capítulos 3 e 4 serão apresentados, respectivamente, os métodos e técnicas, e os procedimentos experimentais utilizados na preparação e caracterização dos filmes aqui estudados. Nos Capítulos 5 e 6, respectivamente, serão apresentados e discutidos os principais resultados experimentais obtidos sobre os filmes nanocristalinos de GaAs hidrogenados e não hidrogenados (nc-GaAs(/:H)), sob diferentes condições. E, o Capítulo 6 contém as principais conclusões deste trabalho. 13 Referências – Capítulo 1 1.1 YU, P.; CARDONA, M. Fundamentals of Semiconductors – Physics and Materials Properties, Springer Verlag, Berlim, 1996. 1.2 CAMPION, R.P.; EDMONDS, K.W.; ZHAO, L.X.; WANG, K.Y.; FOXON, C.T.; GALLAGHER, B.L.; STADDON, C.R. Journal of Crystal Growth, vol. 251, p. 311–316, 2003. 1.3 PEARTON, S.J.; ABERNATHY, C.R.; OVERBERG, M. E. Journal of Applied Physics, vol. 93, p. 1-13, 2003. 1.4 YOO, B.S.; CHU, H.Y.; PARK, H.H.; LEE, H.G.; LEE, J. IEEE J. Quantum Electronics, vol.33, p.1794, 1997. 1.5 OUYANG, L.H.; RODE, D.L.; ZULKIFLI, T.; SHRAUNER, B.A., LEWIS, N.; FREEMAN, M.R. Journal of Applied Physics, vol.91, p. 3459-3467, 2002. 1.6 CALAWA, A.R. Applied Phys. Letters, vol. 33, p.1020, 1978. 1.7 SCHUBERT, E.F. Doping III-V Semiconductors, Cambridge University Press, Cambridge, Inglaterra, 1993, p. 606. 1.8 MURRI, R.; SCHIAVULLI, L.; PINTO, N.; LIGONZO, T. Journal of Non- Crystalline Solids, vol. 139, p. 60-66, 1992. 1.9 SMITH, D.L. Thin Film Deposition: Principles and Practice. Boston: McGraw Hill, 1995. cap.9, p. 616. 1.10 STRITE, S.; MORKOÇ, H. Journal Vac. Sci. Technol. B, vol.10, p.1237- 1266, 1992. 14 Capítulo 2 Fundamentação Neste capítulo serão abordados alguns aspectos básicos relacionados à estrutura e propriedades ópticas do material estudado. 2.1 Conceitos Gerais dos Semicondutores Os semicondutores podem ser classificados em dois grandes grupos: o dos cristalinos e o dos amorfos. Os semicondutores cristalinos são caracterizados pela disposição regular dos átomos ao longo da rede, apresentando ordem de curto alcance (SRO – Short Range Order) e de longo alcance (LRO – Long Range Order). A ordem de curto alcance significa que qualquer átomo da rede cristalina possui o mesmo número de ligações, sendo que estas apresentam sempre os mesmos ângulos e comprimentos. A ordem de longo alcance está associada à existência de periodicidade ao longo da estrutura atômica do material, ou seja, uma determinada célula unitária se repete periodicamente no espaço [2.1]. A Figura 2.1 ilustra os diferentes defeitos que podem ocorrer em uma rede cristalina. Nos semicondutores amorfos a ausência de uma estrutura atômica ordenada origina a perda da simetria translacional (ou ordem de longo alcance) apresentando apenas a ordem de curto alcance, ou seja, os átomos apresentam ordem apenas em sua vizinhança imediata. Esta falta de simetria da estrutura atômica ou desordem estrutural se deve as variações no comprimento e no ângulo de ligação que influenciam as propriedades ópticas e eletrônicas do material. 15 Figura 2.1: Ilustração de diferentes defeitos que podem ocorrer em uma rede cristalina: a) rede sem defeitos; b) defeito substitucional; c) defeito por distorção nos ângulos de ligações; d) defeito por vacâncias ou interstícios. A existência das ordens de curto e longo alcance no semicondutor cristalino produz uma separação energética bem definida entre os estados ocupados da banda de valência (BV) e os estados vazios da banda de condução (BC), o que dá origem ao gap do material. A ordem de longo alcance também é responsável pela regra de seleção para conservação do momento cristalino, que permite somente transições eletrônicas entre a BV e a BC que conservem o vetor de onda K dos elétrons. No semicondutor amorfo a presença da ordem de curto alcance assegura a formação de uma região de baixa densidade de estados eletrônicos, que é definida como um gap. A perda da ordem de longo alcance nos materiais semicondutores amorfos produz um alargamento na BV e na BC representado principalmente pelo surgimento dos chamados estados de cauda (Figura 2.2(a)). Além disso, a presença de defeitos como dangling bonds ou ligações químicas distorcidas criam estados de defeitos no interior do gap [2.2,2.3]. 16 Figura 2.2: Densidade de estados (a) e borda de absorção de um semicondutor desordenado (b) [2.3]. A presença dos estados de cauda e defeitos profundos nos semicondutores amorfos faz com que, diferentemente dos materiais cristalinos, os processos ópticos e eletrônicos não sejam tão bem definidos. Tornando desse modo a definição do gap óptico, a partir do espectro das bordas de absorção óptica desses materiais, uma tarefa não trivial [2.2,2.3]. As formas de determinação dos parâmetros ópticos, tais como gap e parâmetro de desordem eletrônico, serão discutidas posteriormente. A borda de absorção óptica de um semicondutor amorfo, de forma genérica, pode ser representada como mostra a Figura 2.2(b). Nesta representação podem-se observar três diferentes regiões de absorção, cada uma, regida por transições de elétrons pertencentes a diferentes regiões da estrutura de bandas deste material. Para os valores de energia maior que a energia do gap obtém-se um alto valor do coeficiente de absorção (a) devido as transições inter-bandas (banda de valência – banda de condução). Nesta região, a absorção óptica de um semicondutor desordenado cresce com a energia do fóton ( ) conforme a Equação 1: 17 gEC *2/1 Equação 1 onde: gE é o gap de Tauc [2.4] e *C é uma constante de proporcionalidade que depende da carga efetiva das massas dos elétrons e dos buracos e do índice de refração do semicondutor. Para valores de energia menores que a energia do gap, a absorção óptica adquire valores que aumentam de modo exponencial com a energia (Equação 2). Nesta região há predominantemente transições eletrônicas entre os estados de cauda e as bandas de valência e condução [2.3, 2.4]. 0 0 exp E Equação 2 onde: 0 é o coeficiente de absorção e 0E é um parâmetro de desordem eletrônico denominado energia de Urbach [2.5]. Em materiais amorfos e policristalinos a energia de Urbach é influenciada pela desordem posicional e pela desordem química. Sendo que a componente térmica é menos significativa. É observada nos materiais desordenados, a quebra da regra de seleção para conservação do momento cristalino, devido à ausência de simetria translacional. Com isso, a absorção nas bordas das bandas é geralmente maior que a observada nos cristais. Observa-se também um aumento significativo na largura da região de Urbach, causadas pelas desordens estruturais e químicas presente [2.3,2.5]. 2.2 Nanomateriais O interesse sobre os nanomateriais tem crescido nesses últimos anos devido a sua grande aplicabilidade numa ampla variedade de tecnologias tais como eletrônica, catalises, cerâmica, armazenamento de dados magnéticos, componentes 18 estruturais, etc [2.6]. Para satisfazer a demanda tecnológica destas áreas, o tamanho dos materiais tem sido reduzido numa escala nanométrica, por exemplo, a miniaturização de dispositivos eletrônicos funcionais exige a colocação ou a montagem de componentes de escala nanométrica dentro de uma estrutura bem definida. Com o tamanho reduzido dentro de uma escala nanométrica, os materiais apresentam propriedades mecânicas e físicas peculiares e interessantes, como por exemplo, maior difusividade, maior calor específico e melhor resistividade elétrica se comparado com o material convencional [2.6]. Os nanomateriais podem ser classificados em materiais nanocristalinos e em nanopartículas. Os nanocristalinos são materiais policristalinos com tamanhos de grãos numa escala nanométrica (menor que 100 nm), enquanto que nanopartículas são partículas dispersas com diâmetros abaixo de 100 nm [2.6]. A produção de nanomateriais é realizada por modernas tecnologias e cada uma apresenta vantagens e desvantagens [2.6]. As propriedades únicas dos materiais nanocristalinos são derivadas do seu grande número de contorno de grãos quando comparado com um material policristalino convencional. Nos sólidos nanocristalinos, uma grande fração de átomos (até 49%) são contornos de grãos. Assim a estrutura da interface representa um importante papel na determinação das propriedades físicas e mecânicas do material nanocristalino [2.6]. 2.3 Semicondutor nanocristalino A preparação de semicondutores nanocristalino por diferentes técnicas tem sido uma área de grande interesse na ultima década. Embora a preparação de nanopartículas de GaAs tenha sido realizado por técnicas como método químico, 19 deposição eletrostático reativo de gás-aeresol, vapor orgânico metálico de fase epitaxial, método eletroquímico [2.7], a produção proposta neste trabalho pelo método de sputtering também apresenta vantagens, tais como simplicidade, versatilidade e baixo custo. Um ponto bastante interessante nos nanosemicondutores é a presença de novas propriedades ópticas, estruturais e elétricas [2.7], as quais, são bem diferentes das propriedades dos equivalentes “bulk” desses materiais . A preparação e a caracterização do GaAs nanocristalino, objeto de estudo desse trabalho, será apresentado nos capítulos posteriores. 20 Referências – Capítulo 2 2.1 MADELUNG, O. Introduction to Solid-State Theory, Study Edition. Berlin: Springer Verlag, 1996. cap. 9, p. 377-430 2.2 CONNEL, G.A.N. Optical Properties of Amorphous Semiconductores, In: BRODSKY. M.H. (Ed.) Topics in Applied Physics, v. 36 – Amorphous Semiconductor, 2. ed. Berlin:Springer Verlag, 1985, p. 73-111 2.3 FRITZSCHE, H. Density of States in Noncrystalline Solids. In: ADLER, D.; SCHWARTZ, B.B.; STEELE, M.C. Physical Properties of Amorphous Materials. New York: Plenum Press, 1985, p. 313-341. 2.4 TAUC, J.; in ABELES, F. (editor) Optical Properties of Solids, Amsterdam: North-Holand Pub., 1972. cap. 5, p. 277-313. 2.5 KURIK, M.V. Physic Status Solid A – Review Articles, vol.8, p. 9-45, 1971. 2.6 TJON, S.C.; CHEN, H. Materials Science and Engineering R. vol 45, p. 1-88, 2004 2.7 NAYAK, J.; SAHU S.N. Applied Surface Science, vol 182, p. 407-412. 2001 21 Capítulo 3 Métodos e Técnicas Utilizados 3.1. Sputtering É um processo em que o material (alvo) é pulverizado por bombardeio iônico. Os íons acelerados em direção ao alvo são gerados por uma descarga luminescente de um gás ou mistura gasosa em baixa pressão. Sob uma tensão elétrica negativa de centenas de volts aplicada ao catodo, elétrons são gerados, provocando a ionização do gás introduzido na câmara de deposição. Os íons positivos, criados durante a ionização, bombardeiam o alvo e o sputtering ocorre [3.1,3.2]. Os íons positivos do plasma são acelerados pelo potencial elétrico ao catodo. As interações entre os íons de baixa energia (até algumas dezenas de eV) e o catodo se localizam nas camadas atômicas superficiais, enquanto as interações com íons de maior energia (centenas de eV e alguns keV) provocam modificações abaixo das camadas superficiais e podem promover a implantação de átomos no alvo e produzir defeitos em cascata [3.1]. Figura 3.1: Esquema de ejeção de átomos pelo bombardeamento iônico de um alvo por um plasma. 22 Durante o choque, o íon incidente de baixa energia transfere uma parte de sua energia e seu momento linear ao átomo do alvo. Se a energia transmitida foi suficientemente grande, este átomo entra em colisão com outros átomos do alvo até que a energia de cada átomo seja inferior à energia mínima de deslocamento característica do material do alvo. Esta seqüência de colisões, produzida ao longo da trajetória do íon incidente, é um fenômeno típico do processo de sputtering [3.1]. Nesta seqüência de colisões, certos átomos próximos à superfície do alvo adquirem um momento linear cuja componente normal à superfície é capaz de arrancá-los do material. As partículas ejetadas são constituídas de moléculas e átomos, geralmente, eletricamente neutras, e apenas uma pequena fração do fluxo (menos de 1%) se ioniza ao atravessar o plasma. A energia média das partículas ejetadas varia de alguns eV a dezenas de eV. Ao longo da trajetória alvo – substrato, uma fração da energia média das partículas é dissipada por colisões com as partículas do gás. Estas dissipações dependem da distância entre alvo – substrato e do livre caminho médio das partículas. Nos processos de sputtering, a taxa de deposição de filmes finos é determinada pelo fluxo de partículas energéticas incidentes, o qual é relativamente baixo. Uma forma de se melhorar esta taxa é a utilização de dispositivos chamados magnetrons [3.1,3.2]. Os sputtering magnetrons se constituem dispositivos de catodos frios usados geralmente como diodos. O plasma é gerado entre o catodo (alvo) e o anodo (paredes da câmara de deposição) em pressões na ordem de mTorr através da aplicação de altas tensões, que podem ser aplicados em regime continuo ou alternado. A descarga é mantida pela ionização do gás de sputtering produzida pelos elétrons secundários emitidos do catodo e que são acelerados em direção ao 23 plasma pela diferença de potencial elétrico existente na bainha do catodo. O que diferencia um catodo magnetron de um catodo convencional é a presença de um campo magnético. O campo magnético estacionário de um magnetron é orientado paralelamente à superfície do catodo de tal forma que os elétrons secundários emitidos durante o sputtering descrevem trajetória espirais fechadas ao longo da resultante da deriva E x B , onde E é o vetor campo elétrico proveniente da fonte de energia que produz o plasma e B é o vetor campo magnético estacionário gerado pelos imãs permanentes alojados no interior do catodo. Aprisionados em suas trajetória espirais, os elétrons permanecem por mais tempo no interior do plasma, provocando um número maior de colisões ionizantes e, conseqüente, um aumento na população de íons. Isto gera um acréscimo no fluxo dos íons incidentes no alvo (catodo), aumentando por sua vez o fluxo de átomos ejetados e, portanto, elevando a taxa de deposição. 3.2. Difração de Raios-X A difratometria de raios-X é uma técnica não destrutiva muito utilizada para a investigação dos arranjos estruturais dos átomos nos materiais. Numa definição simples e concisa, cristais são arranjos atômicos ou moleculares cuja estrutura se repete numa forma periódica tridimensional. Para simplificar a representação de um cristal, pode-se considerar que este é formado por um conjunto de planos cristalinos separados por uma distância interplanar dhkl, onde h, k, e l são conhecidos como índices de Miller, que correspondem ao inverso do valor em que o plano corta os eixos convencionais. A distância interplanar dhkl, pode ser determinada por: 24 2 2 2 2 2 1 c l b k a h dhkl Equação 1 onde: dhkl é a distancia interplanar; h, k e l são os índices de Miller e a, b e c os parâmetros de rede da cela unitária. Devido a geometria dos cristais e ao fato dos comprimentos de onda dos raios-X serem da mesma ordem da distância interplanar dhkl, a ocorrência do fenômeno de difração é resultado da interação de um feixe de raios-X com um cristal [3.3,3.4]. Um feixe de raios-X difratado é composto por um grande número de raios espalhados em diferente planos do cristal. Estes raios, depois de “refletidos” pelos planos do cristal, possuem diferentes fases e podem se reforçar ou se anular mutuamente devido ao fenômeno de interferência. Para que haja uma interferência construtiva dos raios espalhados é necessário que seja obedecida a lei de Bragg: = 2dhklsen( ) Equação 2 onde: é o comprimento de onda, dhkl é a distancia interplanar e é o ângulo. Em amostras de filmes finos a modalidade dessa técnica que é mais utilizada é o método de incidência rasante, onde o ângulo de incidência permanece fixo em i e o ângulo de detecção é variado em 2 (Figura 3.2). Esse método é o mais indicado para análise cristalina de filmes finos por limitar a penetração na profundidade perpendicular ao filme, diminuindo ou eliminando o sinal do substrato. 25 Figura 3.2: Ilustração dos tipos de medidas de difração de raios-X: (a) método de Bragg Bretano; (b) método de incidência rasante. Os difratogramas de raios-X de materiais policristalinos consistem em picos de Bragg, provenientes da componente cristalina, e uma banda larga proveniente da componente amorfa. As posições e intensidades dos picos de Bragg identificam a estrutura, a composição e a orientação preferencial de crescimento. A largura dos picos está relacionada com a cristalinidade do material, ou seja, com o tamanho médio dos cristalitos e possíveis distorções na rede. Os parâmetros de rede de uma cela unitária podem ser calculados, a partir dos difratogramas de raios-X utilizando os valores das posições do pico de difração (2 B), dos índices de Miller (h, k e l) e do comprimento de onda ( ) da radiação utilizada nas medidas de difração. Para o caso de uma cela unitária cúbica, seus parâmetros de rede são iguais, ou seja, a = b = c. Logo, o parâmetro de rede da amostra pode ser estimado utilizando a seguinte equação: B a sen2 3 Equação 3 onde: a é o parâmetro de rede de uma cela cúbica, é o comprimento de onda da radiação e B é o ângulo de Bragg referente a posição do pico. 26 O tamanho médio dos cristalitos é estimado utilizando a equação de Scherrer [3.5] (Equação 4), que relaciona a largura a meia altura do pico de difração com o tamanho médio dos grãos cristalinos: BB t cos 9,0 Equação 4 onde: t é o diâmetro médio dos cristalitos, B é a largura à meia altura do pico de difração, é o comprimento de onda da radiação e B é o ângulo de Bragg referente a posição do pico. 3.3. Espectrometria de Transmitância e Refletância no UV-Vis-NIR A caracterização de nossas amostras de GaAs(/:H) foi baseada em seus respectivos espectros de transmissão e reflexão. A transmissão óptica através de um filme fino é dada pela razão entre as intensidades luminosas transmitida (It) e incidente (I0), ou seja: T = It/I0. Equação 5 Para os filmes depositados sobre um substrato transparente na região de interesse (sílica fundida, por exemplo), o espectro de transmissão óptica apresenta franjas devido a fenômenos de interferência. Uma análise detalhada dos máximos e mínimos destas franjas de interferência nos fornece a espessura e o índice de refração do filme considerado [3.2]. 27 3.4. Cálculo de Parâmetros Ópticos Para a determinação da espessura, do índice de refração e do coeficiente de absorção, a partir de medidas de transmitância na faixa do UV-Vis-NIR dos filmes depositados sobre SiO2, foi utilizado métodos existentes [3.6,3.7], os quais estão descritos na Seção 3.5.1. Em seguida, com os valores do índice de refração e do coeficiente de absorção obtidos através desses métodos foi possível determinar o gap óptico e a energia de Urbach, parâmetros importantes para o entendimento das propriedades ópticas do material [3.8-3.11]. 3.4.1. Índice de Refração e Espessura Existem na literatura muitos métodos de cálculos para se determinar o índice de refração (n0), a espessura (h) e o coeficiente de extinção (k) de filmes finos tendo como dados os espectros de transmitância e/ou refletância. Para calcular o índice de refração (n0) e a espessura (h) foi utilizado, neste trabalho, a técnica de Cisneros [3.6,3.7] e rotinas computacionais a partir de medidas de transmitância. Através destas rotinas, o índice de refração é calculado nos mínimos de interferência e, interpolados para os outros valores de energia. O cálculo da espessura é obtido a partir dos valores de n e das distâncias entre os máximos e mínimos de interferência. O coeficiente de extinção é calculado para os pontos máximos de interferência utilizando um valor de n arbitrário (próximo do esperado para o material em questão). Os valores de k obtidos nessa etapa são interpolados para os pontos mínimos de interferência, calculando um novo valor de n. Em seguida, os novos valores de n dos mínimos são interpolados para os pontos de máximos e, agora, novos valores de k são obtidos [3.6,3.7]. 28 Com os valores de índice de refração calculados para cada ponto de máximo e mínimo, é possível determinar a função de dispersão (nWD( )) do índice de refração com a energia do fóton ( ), de acordo com o modelo de Wemple e DiDomenico [3.12]. Também é possível calcular o índice de refração na região de média absorção (T < 3%) utilizando o espectro de refletância [3.6]. Neste caso é necessário conhecer o coeficiente de absorção da região de energia desejada, o que pode ser feito utilizando as medidas de transmitância, ou em alguns casos menos críticos pode-se usar os valores conhecidos do material cristalino. A partir desses dados é possível calcular o índice de refração aplicando a seguinte fórmula: n = 1 1 1 1 1 2 2 2 k R R R R Equação 6 onde: R é a refletância do filme e k é o coeficiente de extinção obtido a partir do valor do coeficiente de absorção do material cristalino. 3.4.2 Borda de Absorção, Gap Óptico e Parâmetro de Desordem A partir do espectro de transmitância, dos valores de índice de refração e da espessura do filme, obteve-se o coeficiente de absorção em função da energia dos fótons incidentes. Os espectros de absorção óptica, de um semicondutor amorfo, apresentam três regiões distintas: Região de altas energias – corresponde a transições ópticas entre as bandas de valência e de condução, ou transições banda-a-banda. É nesta região que conseguimos obter informações sobre o gap óptico do material; 29 Região de energias intermediárias – envolvendo transições ópticas entre estados de cauda e de onde podemos inferir a respeito da desordem topologica do material, e; Região do sub-gap – relacionada a transições entre estados localizados (DB) e as bandas de condução e valência. Relaciona-se, também, a vibrações de átomos leves na estrutura do material e/ou modos ressonantes da estrutura da rede. Nesta região, é possível obter informações sobre a densidade de defeitos no material. A partir do espectro da borda de absorção, pode-se determinar o gap óptico do filme. Em uma das definições mais simples, o valor do gap óptico pode ser obtido diretamente, a partir da energia correspondente ao coeficiente de absorção a = 104 cm-1 denominado E04 (Figura 3.3). Outras definições tais como o gap de Tauc [3.9,3.10] também podem ser utilizados para a determinação do gap óptico de semicondutores desordenados (Figura 3.4). Este último método consiste em fazer uma representação gráfica do tipo ( )1/2 versus ( ), onde a é o coeficiente de absorção e ( ) a energia do fóton. O ponto de cruzamento entre a extrapolação da região linear de ( )1/2 e o eixo de energia indica o valor do gap óptico de Tauc (Eg). 30 0,8 1,6 2,4 103 104 105 C oe fic ie nt e de A bs or çã o - (c m -1 ) Energia do Fóton (eV) nc-GaAs SP94, H 2 =0,0 sccm, T s = 150 ºC E 04 = 1,25 eV Figura 3.3: Determinação do gap óptico (E04) de filme de nc-GaAs 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 0 100 200 300 400 500 600 700 ( E )1/ 2 (e V /c m )1/ 2 Energia do Fóton - E (eV) nc-GaAs SP94, H 2 = 0,0 sccm, T s = 150 ºC E gTauc = 1,09 eV Figura 3.4: Determinação do gap de Tauc (Eg) para filme de nc-GaAs. 31 Na região de energia intermediária do espectro de absorção óptica, é possível inferir sobre a desordem do material. Esta região também é conhecida como região de Urbach [3.11]. Para determinar o parâmetro de desordem eletrônica, também conhecida como energia de Urbach (E0), basta fazer uma interpolação na região de energia intermediária do espectro de absorção óptica, obtendo uma reta cujo inverso da inclinação nos fornece a energia de Urbach (E0) (Figura 3.5). A energia de Urbach é associada (inversamente proporcional) ao grau de desordem do material [3.11]. 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 103 104 105 C oe fic ie nt e de ab so rç ão - (c m -1 ) Energia do Fóton - E (eV) nc-GaAs SP94, H 2 = 0,0 sccm, T S = 150 ºC E 0 = 0,23 eV Figura 3.5: Determinação da energia de Urbach do filme de GaAs. 3.5. Espectrometria de Transmitância no Infravermelho O método experimental utilizado para caracterizar as ligações de hidrogênio com a rede nos semicondutores amorfos é a espectroscopia de infravermelho. A interpretação dos espectros em termos de ligações específicas do hidrogênio e seus modos de vibração no a-GaAs:H foi revisado em detalhe por Cardona [3.13]. 32 As configurações dos monohidretos exibem três diferentes modos de vibração: (i) o chamado modo ressonante, no qual a rede de átomos e o átomo de hidrogênio movem-se em fase com amplitudes similares; (ii) o modo estiramento (stretching) do deslocamento de H e da rede fora de fase, ao longo do eixo de ligação; (iii) o modo entortamento (bending) duplamente degenerado, no qual os átomos de H movem-se perpendicularmente à direção da ligação. Modos semelhantes existem para as configurações dos dihidretos, onde dois átomos de H estão ligados ao mesmo átomo da rede. Não só informação sobre as configurações das ligações do hidrogênio é obtida dos espectros de infravermelho. A concentração do hidrogênio ligado pode ser estimada a partir desses espectros do infravermelho. Essa concentração de hidrogênio pode ser determinada pela integral da absorção do modo vibracional. 33 Referências – Capítulo 3 3.1 SMITH, D.L. Thin Film Deposition: Principles and Practice. Boston: McGraw Hill, 1995. cap.9, p. 453-555. 3.2 CHAPMAN, B. Glow Discharge Processes, New York: John Wiley & Sons, 1980. cap. 6, p. 177-285. 3.3 CULLITY, B.D.; STOCK, S.R. Elements of X-Ray Diffaction. 3. ed. New Hersey: Prenticie-Hall Inc., 2001. cap. 2, p. 31-85. 3.4 CULLITY, B.D.; STOCK, S.R. Elements of X-Ray Diffaction. 3. ed. New Hersey: Prenticie-Hall Inc., 2001. cap. 3, p. 89-122. 3.5 CULLITY, B.D.; STOCK, S.R. Elements of X-Ray Diffaction. 3. ed. New Hersey: Prenticie-Hall Inc., 2001. cap. 5, p.167-183. 3.6 CISNEROS, J.I. Ondas eletromagnéticas – Fundamentos e Aplicações. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. cap. 7, p. 199-250. 3.7 CISNEROS, J.I. Applied Optics, vol. 37, n. 22, p. 5262-5270, 1998. 3.8 PANKOVE, J.I. Optical Processes in Semiconductors. New York: Dover Publications Inc., 1981. 3.9 MOTT, N.F; DAVIS, E.A. Eletronic Processes in Non-Crystalline Material. Oxford: Pergamon, 1971. 3.10 TAUC, J.; in ABELES, F. (editor) Optical Properties of Solids, Amsterdam: North-Holand Pub., 1972. cap. 5, p. 277-313. 3.11 KURIK, M.V. Physic Status Solid A – Review Articles, vol.8, p. 9-45, 1971. 3.12 WEMPLE, S.H.; DIDOMENICO, M. Physical Review B, vol.3, p. 1338-1351, 1971. 3.13 WANG, Z.P.; LEY, L.; CARDONA, M. Physical Review B, vol. 26, p. 3249- 3258, 1982. 34 Capítulo 4 Procedimento Experimental 4.1. Preparação das Amostras Os filmes de GaAs e GaAs:H analisados neste trabalho foram depositados através da técnica de RF magnetron sputtering, por André Luis de Jesus Pereira [4.1]. A deposição de algumas amostras contou com a colaboração da autora desta dissertação. O sistema de sputtering do Laboratório de Filmes Semicondutores utiliza um porta-alvo, sistema de bombas, controle eletrônico de pressão e fluxo de gases, gerador de RF, e casador de impedância comerciais Figura 4.1(a). A câmara foi construída em aço inox, com vedação do tipo conflat, o que permite atingir pressões residuais da ordem de 10-8 Torr. Figura 4.1: (a) Foto do sistema de sputtering utilizado nas deposições; (b) Desenho esquemático do interior da câmara de deposições: 1-circuito de água gelada; 2-resistências de aquecimento; 3-substratos; 4-alvo; 5-ímãs permanentes; 6-shield; 7-isolante elétrico; 8-cabo de RF; 9-termopar; 10-admissão de gases; 11-sistema de vácuo. 35 A câmara, que foi especialmente projetada para o sistema, possui diâmetro de 350 mm e abriga porta-alvo de 100 mm de diâmetro. O alvo e o porta-substrato possuem suas superfícies horizontais paralelas e a distância entre si é de 50 mm. O sistema permite controle automático de vazão de gás, pressão total na câmara e potência de rádio freqüência Figura 4.1(b). Neste sistema foi possível preparar amostras com condições variáveis de pressão, de potência, fluxo de argônio e hidrogênio e temperatura de substrato, conforme Tabela 4.1. Tabela 4.1: Parâmetros de deposição dos filmes de GaAs(/:H) preparados por RF magnetron sputtering. Parâmetros Intervalo de Valores Tempo de Deposição 20 min – 180 min Potência de RF 12W – 180W Fluxo de Ar 20sccm – 60sccm Fluxo de H2 0sccm – 20sccm Temperatura de Substrato 60 ºC – 250 ºC Pressão 1,5x10-2 Torr – 9,0x10-2 Torr As amostras foram crescidas sobre substratos de sílica fundida (a-SiO2), silício cristalino (c-Si) com eixo orientado na direção <100> e na direção <111>, arseneto de gálio cristalino (c-GaAs) com eixo orientado na direção <100> e aço inox. Os filmes foram crescidos em diferentes tipos de substratos para que se pudesse caracterizá-los por diferentes técnicas, já que cada uma requer um tipo de substrato específico. Os substratos foram previamente limpos através de banhos em detergente e água deionizada, acetona fervente (3 vezes) e ultra-som em álcool isopropílico (3 vezes). Nenhum tratamento foi realizado para remoção de camadas de óxido dos substratos cristalinos. 36 O controle da temperatura de substrato foi realizado por meio de resistências externas e um controlador digital programável Digimec (DM121). O termopar utilizado para monitorar a temperatura foi colocado diretamente na superfície de deposição de um substrato de sílica fundida (a-SiO2). A temperatura registrada externamente no controlador mostrou-se bem superior a temperatura interna registrada sobre o substrato (Tint = 170 ºC, Text = 350 ºC). O alvo utilizado para o crescimento dos filmes de GaAs e GaAs:H foi uma lâmina comercial de GaAs monocristalino não dopado de 100 mm de diâmetro e 6 mm de espessura, fornecida pela empresa Ramet (Rússia). Antes de iniciar a deposição do filme foi feito um aquecimento da câmara para eliminar moléculas de água e outras impurezas das paredes do sistema. A temperatura atingida durante o aquecimento foi de aproximadamente 90 ºC com um tempo de duração superior a 12 horas. Após este aquecimento a pressão residual no sistema chegou atingir valores da ordem de 10-8 Torr. O sistema eletrônico de RF mediu a tensão de bias (Vbias) e mostrou os valores no painel. Esses valores de tensão no “capacitor” do sputtering variaram com o fluxo de hidrogênio, conforme será discutido posteriormente na Seção 6.1. Os parâmetros de deposição das amostras utilizadas neste trabalho foram apresentados na Tabela 4.2. 37 Tabela 4.2: Parâmetros de Deposição dos filmes de GaAs(/:H) preparados por RF Magnetron Sputtering. Parâmetros de Deposição Amostra Pot. Dens. Pot Flx. Arg./H2 Flx H2 Pres. Total Tempo Temp. Substr. V- Bias (W) (mW/cm2) (sccm) (sccm) (Torr) (min) (ºC) (V) 1 SP37 30 400 20 1,0 1,50E-02 60 60 70,0 2 SP38 30 400 20 0,3 1,50E-02 60 60 71,4 3 SP39 30 400 20 20,0 1,50E-02 60 60 27,0 4 SP40 30 400 20 3,0 1,50E-02 60 60 60,0 5 SP41 30 400 20 5,0 1,50E-02 180 60 49,8 6 SP42 30 400 20 0,3 1,50E-02 180 60 63,8 7 SP43 30 400 20 0,0 1,50E-02 180 60 75,5 8 SP44 30 400 20 7,5 1,50E-02 180 60 41,0 9 SP45 30 400 20 12,5 1,50E-02 180 60 35,7 10 SP46 30 400 20 1,0 1,50E-02 180 60 58,3 11 SP47 30 400 20 10,0 1,50E-02 180 60 25,5 12 SP48 30 400 20 3,0 1,50E-02 180 60 52,0 13 SP49 30 400 20 0,0 1,50E-02 180 60 75,0 14 SP50 30 400 20 3,0 1,50E-02 180 60 69,5 15 SP64 30 400 20 3,0 1,50E-02 180 60 76,0 16 SP65 30 400 30 0,0 1,50E-02 59 60 77,8 17 SP66 30 400 30 0,3 1,50E-02 59 60 87,3 18 SP67 30 400 30 0,5 1,50E-02 57 60 72,0 19 SP68 30 400 30 1,0 1,50E-02 52 60 70,3 20 SP69 30 400 30 3,0 1,50E-02 76 60 66,8 21 SP70 30 400 30 5,0 1,50E-02 58 60 61,0 22 SP71 30 400 30 10 1,50E-02 79 60 55,8 23 SP72 30 400 30 12,5 1,50E-02 78 60 54,3 24 SP73 30 400 60 0,3 1,50E-02 59 60 76,0 25 SP89 180 2400 20 10 1,50E-02 20 247 336,0 26 SP90 90 1200 20 10 1,50E-02 40 250 197,8 27 SP91 30 400 20 10 1,50E-02 120 151 118,0 28 SP92 180 2400 20 0 1,50E-02 20 230 281,8 29 SP93 90 1200 20 0 1,50E-02 40 193 235,8 30 SP94 30 400 20 0 1,50E-02 120 150 114,8 Pot. = Potência de rádio-frequência Pres. Total = Presão total residual Dens. Pot. = Densidade de potência Tempo = Tempo de deposição da amostra Flx. Arg. = Fluxo de argônio Temp.Subst. = Temperatura do Substrato Flx. H2 = Fluxo de hidrogênio V-Bias = Tensão de bias 38 4.2. Caracterização das Amostras 4.2.1. Medidas de EDX As medidas de Análise da Energia de Dispersão por Emissão de Raios-X (EDX - Electron Dispersive Analysis) foram realizadas no microscópio eletrônico de varredura Zeiss DSM 960 do Laboratório de Caracterizações de Materiais e Dispositivos do Instituto de Física da USP de São Carlos. Essas medidas foram feitas nos filmes crescidos sobre substrato de aço inox. A partir dessas medidas foi determinada a relação entre as concentrações de Ga e As nas amostras de GaAs(/:H) em função do fluxo de hidrogênio e argônio. 4.2.2. Medidas de Difração de Raios-X A caracterização da estrutura das amostras foi feita através de medidas de Difração de Raios-X (XRD – X-Ray Difraction). Estas medidas foram realizadas no Difratômetro Rigaku (Ultima 2000+) do Projeto Multi-usuários da Faculdade de Ciências da Unesp de Bauru. As configurações do equipamento para a análise dos filmes de arseneto de gálio (GaAs), foram as seguintes: intervalo do ângulo de detecção: 15º a 75º; com ângulo rasante de 3º; intervalo de pontos de 0,02º e velocidade de varredura de 1,2º/min. O comprimento de onda utilizado foi = 1,54056 Å (CuKa). A partir das larguras e das intensidades dos picos de Difração de Raios-X nas diferentes amostras, obteve-se informações qualitativas da evolução dos tamanhos médios dos cristalitos e da fração cristalizada dos filmes de GaAs(/:H). A largura e a intensidade máxima do pico de difração correspondente aos planos (111) do GaAs foram preferencialmente utilizadas na análise estrutural por 39 ser este o pico mais intenso de difração, o qual pode ser medido com relativa facilidade na grande maioria das amostras, conforme Figura 4.2. 10 20 30 40 50 60 70 80 nc-GaAs sputtering Ar = 20 sccm SP45; H 2 = 12,5 sccm SP42; H 2 = 0,3 sccm In te ns id ad e de D ifr aç ão (u .a .) 2 B (graus) (111) (220) (311) 500 cps Figura 4.2: Difratogramas de filmes de GaAs(/:H) depositados sobre substrato de sílica fundida. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 20 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. Na apresentação dos resultados de difração foi considerada, principalmente, a Largura a Meia-altura dos Picos de Difração (FWHM). Esta largura guarda uma relação inversamente proporcional ao tamanho médio dos cristalitos. Utilizando a FWHM é possível fazer uma estimativa qualitativa do tamanho médio dos cristalitos. Para estimar o tamanho médio dos cristalitos foi medida a posição do pico difratado (2 B) e a (FWHM), previamente normalizado, e em seguida aplicou-se os valores obtidos na equação de Scherrer [Equação 4, Seção 3.2]. É importante notar que, o valor do tamanho médio obtido pela equação de Scherrer é apenas uma estimativa sendo que, essa fórmula não considera o efeito 40 de possíveis distorções na rede cristalina [4.2], pois assume que o alargamento do pico de difração é devido unicamente à dimensão dos cristais. Além disso, com relação à distribuição de tamanhos, deve-se observar que o cálculo do tamanho médio de grão a partir da largura a meia altura do pico de difração pode superestimar o valor real, pois os grãos maiores dão uma forte contribuição à intensidade, enquanto que os grãos menores apenas alargam a base do pico [4.2]. Por outro lado, a presença de distorções em quantidade significativa causa um alargamento adicional da linha de difração. 4.2.3 Medidas de Transmitância e Refletância As amostras foram caracterizadas opticamente usando medidas de transmitância no infravermelho, transmitância feitas com energias na região do visível e do infravermelho próximo e refletância. As medidas de transmitância no infravermelho foram realizadas no equipamento FTIR Nicolet Magna 760 do Laboratório de Catálise e Eletro-Catálise da Unesp-Bauru (Departamento de Química). As medidas dos espectros foram feitas na faixa de 4000 e 400 cm-1 com resolução de 4 cm-1 e 256 scans. O tempo total para a obtenção de cada espectro foi de 15 minutos. As medidas de transmitância feitas com energias na região do visível e do infravermelho próximo foram realizadas nos equipamentos Perkin – Elmer Lambda 9 do IFGW–Unicamp e Cary 500 do Instituito de Química da Unesp-Araraquara. A faixa dos espectros foi entre 3300 e 500 nm com passo de 2 nm. O tempo de duração de cada medida foi de 5 minutos. E, as medidas de refletância foram realizadas no equipamento Cary I do Laboratório de Materiais Dielétricos da Unesp-Bauru (Departamento de Física). As 41 medidas de refletância foram feitas na faixa de 900 e 190 nm com passo de 1nm e tempo de duração de cada medida de 6 minutos. Os espectros de transmitância do UV-Vis (Figura 4.3) foram usados na análise da borda de absorção (conforme descrito na Seção 3.3.) enquanto que os espectros de transmitância do infravermelho foram usados na análise das bandas do infravermelho. 0 500 1000 1500 2000 2500 0 20 40 60 80 100 Substrato de Sílica Fundida SP66; H 2 = 0,3 sccm SP69; H 2 = 3,0 sccm SP70; H 2 = 5,0 sccm T ra ns m itâ nc ia (% ) Comprimento de Onda (nm) nc-GaAs:H Figura 4.3: Curvas de transmitância de amostras de GaAs:H. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 30 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. Os espectros de refletância (Figura 4.4(a) e Figura 4.4(b)) foram utilizados para calcular os índices de refração na região de baixa absorção. 42 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 nc-GaAs:H; H 2 =10,0 sccm SP89, T s = 247 ºC, P = 180 W SP90, T s = 250 ºC, P = 90 W SP91, T s = 151 ºC, P = 30 W R ef le tâ nc ia (% ) Energia (eV) Figura 4.4(a): Espectros de refletância dos filmes de GaAs:H preparados pela técnica de RF magnetron sputtering. Os filmes foram crescidos com fluxo de argônio de 20 sccm, potência de rádio- reqüência de 30 W e pressão total de 1,5x10-2 Torr. 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 28 30 32 34 36 38 40 42 nc-GaAs; H 2 =0,0 sccm SP92, T s = 230 ºC, P = 180 W SP93, T s = 193 ºC, P = 90 W SP94, T s = 150 ºC, P = 30 W R ef le tâ nc ia (% ) Energia (eV) Figura 4.4(b): Espectros de refletância dos filmes de GaAs preparados pela técnica de RF magnetron sputtering. Os filmes foram crescidos com fluxo de argônio de 20 sccm, potência de rádio-reqüência de 30 W e pressão total de 1,5x10-2 Torr. Utilizando os espectros de absorção óptica foi determinado o gap óptico (E04), ou seja, a energia em que a absorção óptica atinge 104 cm-1. A partir dos valores do 43 índice de refração e do coeficiente de absorção, foi calculado o gap de Tauc (Eg) [4.3] e o parâmetro de desordem eletrônica de Urbach (E0) [4.4,4.5], como apresentados na Seção 3.4.2. 44 Referências – Capítulo 4 4.1 PEREIRA, A.L.J.; LOPEZ, J.V.; DIAS DA SILVA, J.H. Revista Brasileira de Aplicações de Vácuo, vol. 22, p. 50-53, 2003. 4.2 CULLITY, B.D.; STOCK, S.R. Elements of X-Ray Diffaction. 3. ed. New Hersey: Prenticie-Hall Inc., 2001. cap. 5, p.167-183. 4.3 TAUC, J.; in ABELES, F. (editor) Optical Properties of Solids, Amsterdam: North-Holand Pub., cap. 5, p. 277-313, 1972. 4.4 KURIK, M.V. Physic Status Solid A – Review Articles, vol.8, p. 9-45, 1971. 4.5 MURRI, R.; SCHIAVULLI, L.; PINTO, N.; LIGONZO, T. Journal of Non Crystalline Solids, vol. 139, p. 60-66, 1992. 45 Capítulo 5 Resultados Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos: de composição por medidas de EDX, estrutural a partir de medidas de difração de raios-X e ópticos a partir de medidas de transmitância e refletância. 5.1. Propriedades Estruturais Para estudar os efeitos do fluxo de hidrogênio na estrutura dos filmes de GaAs foram preparadas duas séries de amostras, uma com o fluxo de argônio de 30 sccm (SP65 a SP73) e outra com o fluxo de argônio de 20 sccm (SP37 a SP50). Em ambas as séries, foram mantidas fixas a potência de rádio-freqüência, a temperatura de substrato e a pressão total da câmara e variando o fluxo de hidrogênio. Com isso foi possível obter amostras com diferentes concentrações de H2. Observa-se na Figura 5.1, que a taxa de deposição decresce com o aumento do fluxo de hidrogênio tanto para as amostras depositadas com um fluxo de argônio de 30 sccm como para os filmes depositados com um fluxo de argônio de 20 sccm. 46 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 Ar = 20 sccm, P = 30 W Ar = 30 sccm, P = 30 W T ax a de D ep os iç ão (A /s ) Fluxo de H 2 (sccm) nc-GaAs(/:H) Figura 5.1: Taxa de deposição em função do fluxo de hidrogênio de filmes de GaAs(/:H) preparados por sputtering. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 30 sccm e 20 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30W. Na Figura 5.2 observa-se, para amostras depositadas com F Ar = 20 sccm, um aumento da proporção de Arsênio no filme em função do fluxo de H2 até este atingir 3,0 sccm. A partir desse valor de 3,0 sccm, a proporção de As tende a estabilizar, ou seja, mesmo aumentando o fluxo de H2 na câmara de deposição os filmes crescidos não apresentam um aumento significativo na proporção de As no material. Nas amostras depositadas com F Ar = 30 sccm, verifica-se uma maior tendência a incorporação de As resultando em amostras com maior desbalanceamento estequiométrico que as amostras depositadas com F Ar = 20 sccm. 47 0 2 4 6 8 10 12 14 0,4 0,5 0,6 0,7 Ar = 20 sccm Ar = 30 sccm P ro po rç ão de A rs ên io Fluxo de H 2 (sccm) nc-GaAs(/:H) Figura 5.2: Proporção de Arsênio incorporado nos filmes de GaAs(/:H) em função do fluxo de H2. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. As figuras a seguir mostram os resultados de difração de raios-X. A Figura 5.3(a) apresenta os difratogramas de quatro amostras representativas depositadas com diferentes fluxos de hidrogênio em substrato de sílica fundida com F Ar = 20 sccm. Nesta figura observam-se as alterações na intensidade do pico de difração nos planos (111) devido à utilização de diferentes fluxos de hidrogênio na deposição dos filmes. Verifica-se, também, um achatamento do pico de difração da amostra depositada com fluxo de hidrogênio de 0,3 sccm (curva ciano), e um aumento da intensidade da amostra depositada com fluxo de hidrogênio de 3,0 sccm (curva magenta), comparadas ao pico de difração da amostra sem hidrogênio (curva preta). A Figura 5.3(b) também mostra os difratogramas de quatro amostras representativas depositadas com diferentes fluxos de hidrogênio em substrato de sílica fundida com F Ar = 30 sccm. Nota-se que essas amostras apresentaram um 48 aumento da intensidade do pico de difração em função do aumento do fluxo de hidrogênio, comparadas com pico de difração da amostra sem hidrogênio (curva preta). Comparando os filmes crescidos sem hidrogênio (linha preta) de ambas as séries, nota-se que o filme da série de 20 sccm apresentou um difratograma com os picos bem definidos, enquanto que o filme da série de 30 sccm, apenas o pico (111) foi visualizado com uma intensidade bastante pequena e com uma largura a meia- altura grande. As alterações na intensidade do pico de difração, apresentadas na Figura 5.3(a) e 5.3(b) podem estar relacionadas a modificações na fração cristalizada do material. 10 20 30 40 50 60 70 80 SP45; H 2 = 12,5 sccm SP48; H 2 = 3,0 sccm SP42; H 2 = 0,3 sccm SP49; H 2 = 0,0 sccm nc-GaAs sputtering Ar = 20 sccm In te ns id ad e de D ifr aç ão (u .a .) 2 B (graus) (111) (220) (311) 500 cps Figura 5.3 (a): Difratograma de filmes de GaAs(/:H) em substrato de sílica fundida na posição dos picos correspondentes aos planos (111), (220) e (311) do GaAs. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 20 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. 49 10 20 30 40 50 60 70 80 SP72; H 2 = 12,5 sccm SP70; H 2 = 5,0 sccm SP68; H 2 = 1,0 sccm SP65; H 2 = 0,0 sccm In te ns id ad e de D ifr aç ão (u .a .) 2 B (graus) (111) (220) (311) nc-GaAs sputtering Ar = 30 sccm 200 cps Figura 5.3 (b): Difratograma de filmes de GaAs(/:H) em substrato de sílica fundida na posição dos picos correspondentes aos planos (111), (220) e (311) do GaAs. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 30 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. As Figuras 5.4(a) e 5.4(b) foram obtidas normalizando os picos de difração, referente ao plano (111) das Figuras 5.3(a) e 5.3(b), respectivamente, com a finalidade de analisar a largura e a posição do pico. A curva laranja corresponde ao difratograma do pó de GaAs cristalino. Analisando a Figura 5.4(a) nota-se que a posição do pico de difração não sofre alterações em função da presença do hidrogênio, enquanto que a FWHM apresenta um pequeno alargamento, isso indica que a presença do H2 pode provocar uma redução no tamanho médio dos cristalitos existentes nos filmes em relação aos filmes não hidrogenados. A Figura 5.4(b) corresponde aos picos de difração normalizados dos filmes depositados com fluxo de argônio de 30 sccm, observa-se que tanto a posição do pico de difração como a FWHM não sofrem alterações significativas em função da presença do H2. 50 24 26 28 30 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 nc-GaAs(/:H) Ar = 20 sccm SP45; H 2 = 12,5 sccm SP48; H 2 = 3,0 sccm SP42; H 2 = 0,3 sccm SP49; H 2 = 0,0 sccm GaAs pó In te ns id ad e N or m al iz ad a 2 B (graus) FWHM Figura 5.4(a): Difratograma de filmes de GaAs(/:H) em substrato de sílica fundida na posição dos picos correspondentes ao plano (111) do GaAs. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 20 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. 24 26 28 30 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 SP72; H 2 = 12,5 sccm SP70; H 2 = 5,0 sccm SP68; H 2 = 1,0 sccm SP65; H 2 = 0,0 sccm GaAs pó In te ns id ad e N or m al iz ad a 2 B (graus) nc-GaAs(/:H) Ar = 30 sccm FWHM Figura 5.4(b): Difratograma de filmes de GaAs(/:H) em substrato de sílica fundida na posição dos picos correspondentes ao plano (111) do GaAs. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 30 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. 51 A Figura 5.5 relaciona a FWHM do pico de difração dos planos (111) ao fluxo de H2 utilizado na câmara de deposição. A curva azul é referente às amostras depositadas com um fluxo de argônio de 30 sccm, enquanto que a curva preta é referente às amostras depositadas com um fluxo de argônio de 20 sccm, sendo ambas correspondentes a filmes de GaAs(/:H) preparados sobre substrato de sílica fundida. Notamos que o comportamento da variação da largura à meia-altura das amostras depositadas com fluxo de Ar = 30 sccm (curva azul) e das amostras depositadas com fluxo de Ar = 20 sccm (curva preta) em função do fluxo de H2, foi semelhante. Observa-se um aumento significativo da FWHM do pico de difração quando o fluxo de hidrogênio é de 0,3 sccm. 0 2 4 6 8 10 12 14 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 nc-GaAs(/:H) Ar = 20 sccm; Substrato de Silux Ar = 30 sccm; Substrato de Silux F W H M (g ra us ) Fluxo de Hidrogênio (sccm) Figura 5.5: Variação da largura a meia-altura do pico de difração referente ao plano (111) dos filmes de GaAs(/:H) em função do fluxo de H2. A curva preta refere-se aos filmes crescidos com F Ar = 20 sccm e a curva azul refere-se aos filmes crescidos com F Ar = 30 sccm. Os dados foram obtidos a partir de filmes crescidos sobre substrato de sílica fundida e com potência de rádio-frequência de 30 W. 52 Através da Figura 5.6, pode-se observar o comportamento da intensidade máxima do pico de difração referente ao plano (111) dos filmes crescidos com F Ar = 30 sccm e F Ar = 20 sccm, respectivamente, em função do fluxo de hidrogênio. A intensidade máxima de difração é menor nas amostras depositadas com um fluxo de hidrogênio de 0,3 sccm, independente do fluxo de argônio. Nas amostras da série de fluxo de Ar de 20 sccm (pontos pretos) a intensidade máxima apresentou um aumento com o aumento do fluxo de hidrogênio entre 0,3 sccm e 3,0 sccm, a partir desse valor a intensidade volta a diminuir com o aumento do fluxo de hidrogênio. Nas amostras da série de fluxo de Ar de 30 sccm (pontos azuis) observa-se um comportamento semelhante ao das amostras da série de Ar de 20 sccm. 0 2 4 6 8 10 12 14 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 nc-GaAs(:/H) Ar = 20 sccm; Substrato de Silux Ar = 30 sccm; Substrato de Silux In te ns id ad e M áx im a de D ifr aç ão (c ps ) Fluxo de Hidrogênio (sccm) Figura 5.6: Variação da intensidade máxima do pico de difração referente ao plano (111) dos filmes de GaAs(/:H) em função do fluxo de H2. Os dados foram obtidos a partir de filmes crescidos sobre substrato de sílica fundida, com fluxo de argônio de 30 sccm (pontos azuis) e de 20 sccm (pontos pretos), temperatura de substrato de 60 ºC e potência de rádio-frequência de 30 W. 53 O tamanho dos cristalitos calculados a partir da Equação 4 da Seção 3.2. estão demonstrados na Tabela 5.1. Tabela 5.1: Características Estruturais dos filmes de nc-GaAs(/:H) preparados por RF Sputtering. Os parâmetros de deposição detalhados das amostras foram colocados na Tabela 3.2 Características dos filmes de GaAs(/:H) Amostra Flx H2 (sccm) <[Ga]>% <[As]>% 2 m (graus) FWMH (graus) Tamanho Estimado Cristalito (nm) 1 SP40 3,0 - - 27,34 1,63 5,0 2 SP41 5,0 - - 27,31 1,65 5,0 3 SP42 0,3 51,1 49,0 27,13 2,12 3,9 4 SP45 12,5 47,1 52,7 27,34 1,61 5,1 5 SP46 1,0 49,2 50,7 27,12 0,88 9,3 6 SP47 10,0 46,9 52,9 27,31 1,60 5,1 7 SP48 3,0 49,3 50,7 27,29 1,58 5,2 8 SP49 0,0 - - 27,34 0,86 9,5 9 SP50 3,0 - - 27,31 1,38 5,9 10 SP64 3,0 50,1 49,9 27,34 1,49 5,5 11 SP65 0,0 45,2 54,8 27,31 2,19 3,7 12 SP66 0,3 27,10 2,81 2,9 13 SP67 0,5 33,5 66,5 27,22 1,82 4,5 14 SP68 1,0 36,1 63,3 27,26 2,14 3,8 15 SP69 3,0 38,3 61,5 27,41 1,34 6,1 16 SP70 5,0 34,9 65,1 27,29 1,50 5,5 17 SP72 12,5 36,3 63,7 27,28 1,49 5,5 Flx H2 = Fluxo de Hidrogênio <[Ga]> = Proporção de gálio no filme <[As]> = Proporção de arsênio no filme Máxima Intens. = Intensidade máxima do pico de difração 2 m = Posição do pico de máxima intensidade FWMH = Largura a meia-altura do pico de difração 54 5.2. Propriedades Ópticas 5.2.1. Espectros Associados a Transições Eletrônicas Os valores de índice de refração extrapolados para energia zero (n0) da série de filmes de GaAs foram calculados segundo a relação de dispersão de Wemple e DiDomenico [5.1], a partir das medidas de transmitância. A precisão nos valores de n0 é dependente do número e do grau de definição das franjas de interferência do espectro de transmitância (Figura 4.3): quanto mais fino e mais absorvente o filme for, maior a imprecisão nos valores tanto de índice de refração quanto da espessura do filme calculado. Nos casos de alta absorção a determinação do índice de refração foi realizada usando medidas de transmitância e refletância, e os valores de espessura determinados com o auxilio de um perfilômetro, conforme explicado na Seção 3.4.1 (Equação 6). Os valores de n( ) calculados desta maneira são apresentados na Figura 5.7. 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,2 3,4 3,6 3,8 4,0 SP89, H 2 =10,0 sccm, T s = 250 ºC, P = 180 W SP90, H 2 =10,0 sccm, T s = 250 ºC, P = 90 W SP91, H 2 =10,0 sccm, T s = 150 ºC, P = 30 W SP92, H 2 =0,0 sccm, T s = 230 ºC, P = 180 W SP93, H 2 =0,0 sccm, T s = 190 ºC, P = 90 W SP94, H 2 =0,0 sccm, T s = 150 ºC, P = 30 W In di ce de R ef ra çã o Energia (eV) nc-GaAs(/:H) Figura 5.7: Índice de refração na região de baixa absorção dos filmes de GaAs(/:H) preparados pela técnica de RF magnetron sputtering. Os filmes foram crescidos com fluxo de argônio de 20 sccm e pressão total de 1,5x10-2 Torr. 55 O coeficiente de absorção (a) de cada amostra de GaAs e GaAs:H na região da borda de absorção fundamental foi calculado a partir dos respectivos espectros de transmitância de acordo com a descrição da Seção 3.4. A Figura 5.8 e a Figura 5.9 mostram as bordas de absorção de nossos filmes de GaAs(/:H) preparados por sputtering sobre substratos de a-SiO2 com diferentes fluxos de hidrogênio e com fluxo de argônio de 20 sccm e 30 sccm, respectivamente. Observa-se que a absorção óptica dos filmes crescidos com F Ar = 20 sccm não apresentou uma relação monotônica com o aumento do fluxo de hidrogênio, enquanto que nos filmes crescidos com F Ar = 30 sccm a absorção óptica diminuiu monotonicamente com o aumento do fluxo de hidrogênio na câmara de deposição. No entanto em ambas as séries de filmes é possível observar uma significativa diminuição da absorção óptica mesmo com a adição de um pequeno fluxo de hidrogênio (0,3 sccm). 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 103 104 105 SP49, H 2 = 0,0 sccm; Ar 20 sccm SP42, H 2 = 0,3 sccm; Ar 20 sccm SP48, H 2 = 3,0 sccm; Ar 20 sccm SP44, H 2 = 7,5 sccm; Ar 20 sccm SP47, H 2 = 10,0 sccm; Ar 20 sccm SP44, H 2 = 12,5 sccm; Ar 20 sccm c-GaAs C oe fic ie nt e de A bs or çã o - (c m -1 ) Energia do Fóton (eV) nc-GaAs(/:H) Ar = 20 sccm Figura 5.8: Bordas de absorção de filmes de GaAs e GaAs:H depositados sobre a-SiO2, com diferentes fluxos de hidrogênio. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 20 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. 56 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 103 104 105 SP65 H 2 = 0,0 sccm, Ar= 30sccm SP66 H 2 = 0,3 sccm, Ar= 30sccm SP68 H 2 = 1,0 sccm, Ar= 30sccm SP69 H 2 = 3,0 sccm, Ar= 30sccm SP71 H 2 = 10,0 sccm, Ar= 30sccm SP72 H 2 = 12,5 sccm, Ar= 30sccm SP73 H 2 = 0,3 sccm, Ar= 60sccm c-GaAs C oe fic ie nt e de A bs or çã o - (c m -1 ) Energia do Fóton (eV) nc-GaAs(/:H) Ar = 30 sccm Figura 5.9: Bordas de absorção de filmes de GaAs e GaAs:H depositados sobre a-SiO2, com diferentes fluxos de hidrogênio. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 30 sccm, a temperatura do substrato de 60 ºC e a potência de rádio-freqüência de 30 W. Na Figura 5.10, têm-se a borda de absorção de filmes de GaAs e GaAs:H preparados em diferentes temperaturas de substrato. Tanto para os filmes hidrogenados como para os filmes não hidrogenados a absorção óptica diminuiu com o aumento da temperatura de substrato. 57 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 102 103 104 105 SP94; H 2 = 0,0 sccm; Ts ~150 ºC SP49; H 2 = 0,0 sccm; Ts ~ 60 ºC SP91; H 2 = 10,0 sccm; Ts ~ 150 ºC SP47; H 2 = 10,0 sccm; Ts ~ 60 ºC c-GaAs C oe fic ie nt e de A bs or çã o - (c m -1 ) Energia do Fóton (eV) nc-GaAs(/:H) Ar = 20 sccm; P = 30 W Figura 5.10: Bordas de absorção de filmes de GaAs e GaAs:H depositados sobre a-SiO2, com diferentes temperatura de substratos. A pressão da câmara de deposição utilizada para a preparação das amostras foi de 1,5x10-2 Torr, o fluxo de argônio de 20 sccm e a potência de rádio-freqüência de 30 W. Na Figura 5.11 têm-se as bordas de absorção das amostras de GaAs e GaAs:H preparadas com temperaturas de substrato mais altas e com diferentes potências de deposição. Observa-se que tanto para os filmes hidrogenados como para os não hidrogenados a absorção óptica a baixa energia é menor nos filmes depositados com potência de rádio-freqüência de 30 W. 58 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 102 103 104 105 SP89, H 2 = 10 sccm, P= 180W, T~250ºC SP90, H 2 = 10 sccm, P= 90W, T~250ºC SP91, H 2 = 10 sccm, P= 30W, T~150ºC SP92, H 2 = 0,0 sccm, P= 180W, T~230ºC SP93, H 2 = 0,0 sccm, P=90W, T~190ºC SP94, H 2 = 0,0 sccm, P=30W, T~150ºC c-GaAsC oe fic ie nt e de A bs or çã o - (c m -1 ) Energia do Fóton (eV) nc-GaAs(/:H) Ar = 20 sccm Figura 5.11: Bordas de absorção de filmes de GaAs e GaAs:H depositados sobre a-SiO2, com diferentes potências de deposição e temperaturas de substrato. A pressão de deposição utilizada foi de 1,5x10-2 Torr e o fluxo de argônio de 20 sccm. Utilizando os valores calculados do coeficiente de absorção (Figuras 5.9, 5.10 e 5.11, foram calculados o gap óptico (E04) e a energia de Urbach (E0) [5.2], conforme descrito na Seção 3.4.2. Esses parâmetros foram plotados em função do fluxo de H2 (Figura 5.12 e Figura 5.13). Na Figura 5.12, observa-se que nas amostras hidrogenadas (pontos cheios) os valores do gap óptico (E04) são maiores que os das amostras não hidrogenadas (pontos vazados), sendo ambas depositadas com a mesma temperatura de substrato de 60ºC. Nota-se que o mesmo ocorre com as amostras depositadas com uma temperatura de substrato maior, ou seja, as amostras hidrogenadas apresentaram um gap óptico maior que as amostras não hidrogenadas. Nas amostras depositadas com diferentes fluxos de H2, a energia do gap aumenta em função do aumento do fluxo de hidrogênio. Essa característica é notada tanto para os filmes depositados com F Ar = 20 sccm como para os filmes depositados com F Ar = 30 sccm. 59 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 Ts = 60 ºC; P = 30W H 2 = variavel; Ar = 20 sccm H 2 = variavel; Ar = 30 sccm H 2 = 0,0; Ar = 20 sccm H 2 = 0,0; Ar = 30 sccm E ne rg ia do G ap (E 04 ) - (e V ) Fluxo de Hidrogênio (sccm) nc-GaAs(/:H) Figura 5.12: Energia do gap (E04) em função do fluxo de hidrogênio. Os filmes foram crescidos com Ts = 60 ºC, a potência de RF foi de 30 W e pressão total de 1,50x10-2 Torr. Fluxos de argônio de 20 sccm e 30 sccm foram utilizados nas diferentes amostras, conforme indicado nos símbolos. 0 2 4 6 8 10 12 14 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 Ts = 60 ºC; P = 30 W H 2 = variavel; Ar = 20 sccm H 2 = variavel; Ar = 30 sccm H 2 = 0,0; Ar = 20 sccm H 2 = 0,0; Ar = 30 sccm E ne rg ia de U rb ac h - E 0 (e V ) Fluxo de Hidrogênio (sccm) nc-GaAs(/:H) Figura 5.13: Energia de Urbach (E0) em função do fluxo de hidrogênio. Os filmes foram crescidos com Ts = 60 ºC, a potência de RF foi de 30 W e pressão total de 1,50x10-2 Torr. Fluxos de argônio de 20 sccm e 30 sccm foram utilizados nas diferentes amostras, conforme indicado nos símbolos. 60 Observa-se na Figura 5.13 que a energia de Urbach (E0), tende a diminuir com o aumento do fluxo de hidrogênio. Nas amostras crescidas sob um fluxo de Ar de 20 sccm esta tendência se apresenta até o fluxo de H2 = 7,5 sccm, e ocorre em um patamar menor de energia que as amostras depositadas com fluxo de Ar de 30 sccm. 5.2.2. Espectros Associados a Modos Vibracionais O coeficiente de absorção das bandas vibracionais dos filmes depositados com diferentes concentrações de H2 tanto para os preparados com F Ar = 30 sccm, como para os preparados com F Ar = 20 sccm foram calculados com base nos espectros de FTIR. Pode se observar nos espectros de transmitância, Figura 5.14, as bandas correspondentes aos modos vibracionais das ligações entre Ga e H. Por volta de 1440 cm-1, observamos o modo vibracional do Ga-H-Ga, em aproximadamente 1730 cm-1 o modo vibracional do Ga-H e por volta 1850 cm-1 o modo vibracional das ligações Ga-H2. Esses valores são semelhantes aos encontrados por Cardona et al, sendo de 1460 cm-1, 1760 cm-1 e 1870 cm-1, para as bandas Ga-H-Ga, Ga-H e Ga-H2, respectivamente [5.3]. Os filmes também apresentaram uma banda em torno 1600 cm-1 relacionada por Gee et al, ao modo vibracional do Ga-H-Ga [5.4]. A banda vibracional observada em 1440 cm-1 (Figura 5.15) é mais intensa nos filmes com baixo fluxo de H2. As bandas relacionadas com os modos vibracionais das ligações Ga-H e Ga-H2 não apresentaram relação clara com os fluxos de H2. Observamos na Figura 5.16 as bandas correspondentes aos modos vibracionais das ligações entre As e H. O modo vibracional da ligação As-H (2040 cm-1) [5.3] é mais visível nos filmes crescidos com baixo fluxo de hidrogênio. 61 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 48 50 52 54 56 58 60 nc-GaAs(:/H) SP66; Ar =30 sccm; 0,3 sccm SP50; Ar =20 sccm; 3,0 sccm c-GaAs T % Número de Onda (cm-1) GaHGa[1] GaHGa[2] GaH[1] 2 AsH[1] AsH[1] 2 Figura 5.14: Espectro de transmitância na região de energia do modo de vibração das ligações entre Ga e H. As bandas aparecem sobrepostas a ruídos correspondentes a vibrações do vapor de água no ambiente. Modos estiramento: Ga-H-Ga ~1460 cm-1, Ga-H2 ~1870 cm-1[5.3] e Ga-H-Ga ~ 1600 cm-1[5.4], referente aos filmes de GaAs:H preparados em substrato de silício cristalino, temperatura de substrato de 60 ºC, potência de rádio-frequência de 30 W e pressão total de 1,5x10-2 Torr. 1340 1360 1380 1400 1420 1440 1460 1480 1500 1520 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 Ga-H-Ga Número de Onda (cm-1) C oe fic ie nt e de A bs or çã o (c m -1 ) nc-GaAs:H; Ar = 30,0 sccm SP67; H 2 = 0,5 sccm SP68; H 2 = 1,0 sccm SP69; H 2 = 3,0 sccm SP70; H 2 = 5,0 sccm SP72; H 2 = 12,5 sccm Figura 5.15: Coeficiente de absorção na região de energia do modo de vibração das ligações entre Ga e H. As bandas aparecem sobrepostas a ruídos correspondentes a vibrações do vapor de água no ambiente. Modos estiramento: Ga-H-Ga ~1460 cm-1[5.3] referente aos filmes de GaAs:H preparados sobre substrato de silício cristalino, temperatura de substrato de 60 ºC, potência de rádio- frequência de 30 W e pressão total de 1,5x10-2 Torr. 62 2000 2050 2100 2150 2200 2250 0 20 40 60 80 C oe fic ie nt e de A bs or çã o (c m -1 ) Número de onda (cm-1) nc-GaAs(/:H), Ar = 30sccm SP66, H2 =0,3sccm SP67, H2 =0,5sccm SP69, H2 =3,0sccm SP70, H2 =5,0sccm SP71, H2 =10,0sccm SP72, H2 =12,5sccm As-H As-H 2 Figura 5.16: Coeficiente de absorção na região de energia do modo de vibração das ligações entre As e H. As-H (em 2040 cm-1) e As-H2 (em 2130 cm-1) [5.3], referente aos filmes de GaAs:H preparados sobre substrato de silício cristalino, com um fluxo de argônio de 30 sccm, temperatura de substrato de 60 ºC, potência de rádio-frequência de 30 W e pressão total de 1,5x10-2 Torr. . A Figura 5.17 mostra os valores da absorção integrada das bandas das ligações do Ga-Hn (pontos pretos) e das bandas das ligações As-Hn (pontos azuis), dos filmes de GaAs:H depositados com F Ar = 30 sccm e com F Ar = 20 sccm. Observamos que os valores da absorção integrada das bandas Ga-Hn apresentaram comportamento similar, ou seja, diminuem com o aumento do fluxo de hidrogênio em até 3,0 sccm voltando a aumentar a partir desse fluxo de hidrogênio. Os valores de absorção integrada das bandas As-Hn dos filmes crescidos com F Ar = 20 sccm aumenta com o aumento do fluxo de hidrogênio em até 3,0 sccm tornando a diminuir a partir desse fluxo de hidrogênio. 63 0 2 4 6 8 10 12 14 0 1x104 2x104 3x104 4x104 Ga-H n ; Ar = 20 sccm Ga-H n ; Ar = 30 sccm Fluxo de Hidrogênio (sccm) A bs or çã o In te gr ad a G a- H n (c m -2 ) 0 1x103 2x103 3x103 4x103 5x103 As-H n ; Ar = 20 sccm A bs or çã o In te gr ad a A s- H n (c m -2 ) Figura 5.17: Soma das absorções integradas das bandas de Ga-Hn (curvas pretas) e As-Hn (curvas azuis) dos filmes de GaAs:H preparados sobre substrato de silício, com temperatura de substrato de 60 ºC, potência de rádio-frequência de 30 W e pressão total de 1,50x10-2 Torr. No capítulo seguinte serão discutidos os resultados aqui apresentados. 64 Referências – Capítulo 5 5.1 WEMPLE, S.H.; DIDOMENICO, M. Physical Review B, vol. 3, p. 1338-1351, 1971. 5.2 KURIK, M.V. Physic Status Solid A – Review Articles, vol.8, p. 9-45, 1971. 5.3 WANG, Z.P.; LEY, L.; CARDONA, M. Physical Review B, vol. 26, p. 3249- 3258, 1982. 5.4 GEE, P.E.; HICKS, R.F. J. Vac. Sci. Technol. A, vol. 10, p. 892-896, 1992. 65 Capítulo 6 Discussão 6.1. Propriedades Estruturais Nesta seção serão analisadas as modificações na dinâmica de crescimento e na estrutura dos filmes de GaAs(/:H) preparados por RF magnetron sputtering devido a presença de diferentes fluxos de hidrogênio e argônio, na câmara de deposição. Taxa de crescimento e composição dos filmes Na Figura 5.1, observa-se que a taxa de crescimento dos filmes de GaAs(/:H) apresenta uma tendência de queda com o aumento do fluxo do hidrogênio. Um fato que pode estar contribuindo com a diminuição da taxa de deposição é que o hidrogênio adicionado ao plasma pode provocar a redução na concentração de argônio ionizado (Ar+). Isto pode acarretar uma taxa inferior de sputtering devido à pequena massa do H+ em relação ao Ar+ e a conseqüente redução da transferência de momento dos íons durante as colisões. Pela pequena massa, os átomos ionizados de hidrogênio acelerados em direção ao alvo, ao se chocarem com os átomos do mesmo, não transferem momento linear suficiente para provocar sputtering [6.1]. Sabe-se que, os íons de argônio (Ar+) interagem com a superfície do alvo para produzir sputtering através da troca de momento, se a energia destes íons não for suficiente, não haverá sputtering [6.2]. Como a pressão total é mantida constante no sistema, a introdução de H2 acarreta necessariamente a diminuição da concentração de átomos de Ar. Além disso, o grau de ionização do Ar também deve diminuir, pois os potenciais de ionização para o hidrogênio atômico e para o H2 são, 66 respectivamente de 13,6 e 15,42 eV, similares ao do argônio que é de 15,76 eV [6.3], havendo portanto uma competição entre a ionização do hidrogênio e do argônio no plasma. Além disso, a presença de H+ na superfície do filme durante o crescimento pode favorecer a dessorção de moléculas de Ga-Hn e As-Hn, as quais possuem uma menor probabilidade de serem quimissorvidas pela superfície do filme em formação. Um resultado parecido de redução da taxa de deposição em filmes de silício hidrogenado preparados por sputtering foi observado por Achiq et al. os quais atribuíram essa redução à formação de radicais de hidretos de silício no plasma [6.4]. Comparando amostras preparadas com diferentes fluxos de argônio observa- se que a proporção de As incorporado é maior nos filmes preparados com um fluxo de argônio de 30 sccm do que nos filmes preparados com um fluxo de argônio de 20 sccm (Figura 5.2). As duas séries de amostras com fluxos de argônio de 20 sccm e 30 sccm, respectivamente, foram preparadas com os outros parâmetros de deposição fixos e com valores iguais, e com o mesmo conjunto de fluxos de hidrogênio, o que favorece o aumento da pressão parcial de argônio em detrimento da pressão parcial de hidrogênio quando o fluxo de argônio é maior (F Ar = 30 sccm). O aumento do fluxo de argônio pode levar a um aumento no número de átomos de Ar por volume no plasma e conseqüentemente um enriquecimento do plasma por íons de Ar+ e elétrons. Isto ocorre apesar de que a pressão nominal total no sistema tenha sido mantida constante, como resultado da geometria do sistema (ponto de medição da pressão diferente do ponto de injeção do gás), ocasionando uma menor pressão parcial de hidrogênio. Observa-se na Figura 6.1, que a tensão de bias (Vbias) sofre uma queda monotônica com o aumento do fluxo de hidrogênio. A queda em 67 Vbias é mais acentuada em filmes depositados com F Ar = 20 sccm que em filmes depositados com fluxos de F Ar = 30 sccm, por isso na série de filmes com F Ar = 30 sccm a tensão de bias é maior que na série com F Ar = 20 sccm (Figura 5.1). No processo de sputtering um aumento da tensão de bias causa um aumento da energia com que os íons de argônio e outras partículas (H+) golpeiam o alvo [6.5]. Observa-se na Figura 5.2 que os filmes da série de F Ar = 30 sccm são mais ricos em arsênio, isso pode ser um indicativo de que, devido ao aumento energético das partículas que estão golpeando o alvo, pode estar ocorrendo um aumento de átomos de As ejetados do alvo (já que este possui um sputtering yield maior que do Ga [6.6]). Desse modo, pode estar ocorrendo um maior desbalanceamento estequiométrico no material, com a manutenção de valores mais altos da tensão de bias dos filmes preparados com maior fluxo de argônio. -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 20 30 40 50 60 70 80 Ar = 20 sccm Ar = 30 sccm T en sã o de B ia s (V ) Fluxo de hidrogênio (sccm) nc-GaAs(/:H) Figura 6.1: Variação da tensão de bias em função do fluxo de hidrogênio dos filmes de GaAs(/:H) crescidos com fluxo de argônio de 30 sccm e 20 sccm. A potência de deposição foi de 30 W, a temperatura de substrato de 60 ºC e a pressão total foi mantida em 1,5x10-2 Torr. 68 Estrutura do Material Nas Figuras 5.3(a) e 5.3(b) nota-se que, tanto a largura quanto a intensidade dos picos de difração são afetados pela introdução de hidrogênio na câmara de deposição. Percebe-se, também que um fluxo de 0,3 sccm de H2 (Figura 5.3(a) - curva ciano) reduz a intensidade de difração da amostra em relação à amostra sem hidrogênio (curva preta). Analisando os difratogramas normalizados da Figura 5.4(a) que se refere aos filmes depositados com um fluxo de argônio de 20 sccm, percebe-se que a presença do hidrogênio na câmara de deposição aumenta a largura do pico de difração em comparação à largura do pico da amostra sem H2. Este alargamento do pico indica uma redução da dimensão média dos grãos existentes no filme preparado com hidrogênio e fluxo de argônio de 20 sccm. Entretanto, analisando os difratogramas normalizados da Figura 5.4(b), que são referentes aos filmes depositados com um fluxo de argônio de 30 sccm, nota-se que a presença do hidrogênio na câmara de deposição não apresenta mudanças significativas na largura do pico. Observa-se que o pico das amostras com hidrogênio praticamente sobrepõe o pico da amostra sem hidrogênio, ficando ambas, com a mesma FWHM do pico de difração. O comportamento da FWHM dos picos de difração, com a variação do fluxo de hidrogênio entre as amostras fica mais evidente ao observar a Figura 5.5, onde é possível notar uma tendência de aumento da FWHM dos picos de difração quando o fluxo de H2 utilizado é aumentado de 0,0 para 0,3 sccm. Em seguida, há uma diminuição da FWHM com o aumento do fluxo de hidrogênio até 1,0 sccm, permanecendo o tamanho dos grãos praticamente constante para um fluxo maior que 1,0 sccm. Com isso, pode-se dizer que a presença de íons de hidrogênio no 69 plasma altera significativamente a estrutura (largura a meia-altura e o grau de cristalização) dos filmes de GaAs:H. Observa-se também através da Figura 5.5 uma similaridade na forma da variação da largura do pico de difração de nossas amostras preparadas com um fluxo de argônio de 30 sccm com as amostras preparadas com um fluxo de argônio de 20 sccm, isto é um indicativo de que o tamanho médio dos cristalitos e as propriedades estruturais dos filmes produzidos por RF-magnetron sputtering foram satisfatoriamente reproduzidas, independentes do fluxo de argônio utilizado, indicando também que o forte alargamento do pico observado para o fluxo de 0,3 sccm é real, fornecendo um maior grau de confiabilidade aos resultados observados. Incorporação de hidrogênio e modos vibracionais Na Figura 5.5, observa-se um aumento da FWMH e nas Figuras 5.6 uma diminuição da intensidade do pico de difração das amostras crescidas com baixos fluxos de hidrogênio (F H2 < 1,0 sccm), independente do fluxo de Ar. Na Figura 5.15 observa-se que as amostras com baixos fluxos de hidrogênio apresentam concentrações significativas de hidrogênio ligado ao Ga (referente ao modo vibracional do Ga-H-Ga). A redução da intensidade máxima de difração (Figura 5.6) nas amostras crescidas com baixos fluxos de hidrogênio pode estar relacionada à interação dos íons de hidrogênio (H+) com os átomos contidos na superfície do filme de GaAs em crescimento, modificando a dinâmica de crescimento dos cristalitos. Além de estar propiciando a incorporação de uma maior concentração de hidrogênio no filme, a interação dos íons de hidrogênio com a superfície do filme pode estar possibilitando a formação de GaH3 e AsH3, o qual, devido a sua volatilidade, é 70 facilmente removido da superfície. Desta maneira, os íons de hidrogênio livres (H+) realizam efeito parecido ao de um ácido, propiciando a remoção de átomos da superfície do filme em crescimento. Este mecanismo, talvez também possa explicar a redução da taxa de deposição de nossos filmes pelo aumento do fluxo de H2. Mesmo que a adição de pequenos fluxos de hidrogênio (0,3 sccm) esteja causando uma diminuição da fração cristalizada no material, a quantidade de hidrogênio incorporado pode estar diminuindo as tensões na rede provocando uma diminuição na densidade de estados no interior do gap (Figura 5.13), como indicado pela diminuição correspondente da energia de Urbach. Nos filmes crescidos com maior fluxo de hidrogênio, também independentes do fluxo de Ar, observa-se uma maior concentração das bandas relacionadas ao modo vibracional do Ga-H2 e do As-H2. Isso pode ser conseqüência da maior concentração das interações dos íons de H+ com a superfície do filme em crescimento, já que a concentração de hidrogênio é maior no plasma. A presença de 2 átomos de hidrogênio ligados à átomos de Ga ou As (Ga-H2 ou As-H2) pode estar ocasionando uma maior descontinuidade na rede e um aumento nos estados de defeito no gap do material, contribuindo para a não formação de um material com estrutura mais cristalina. Nas amostras depositadas com um fluxo de argônio de 30 sccm, o baixo fluxo de hidrogênio favorece os modos vibracionais As-H enquanto que fluxos altos favorecem o As-H2. 6.2. Propriedades Ópticas A análise das propriedades ópticas é importante para se entender algumas modificações que a incorporação de hidrogênio, a temperatura do substrato e a 71 potência de deposição acarretam na estrutura eletrônica dos filmes de GaAs e GaAs:H preparados por sputtering. Bordas de Absorção Utilizando as bordas de absorção dos filmes foi possível analisar a diminuição de estados de defeito no interior do gap de acordo com os diferentes fluxos de hidrogênio. Na Figura 5.8 e Figura 5.9 observa-se que a presença de hidrogênio na câmara de deposição provoca uma diminuição da absorção óptica dos filmes de GaAs:H preparados por sputtering. Pode-se observar que a adição de um pequeno fluxo de hidrogênio (0,3 sccm) foi suficiente para diminuir significativamente a absorção óptica. Como conseqüência destas mudanças, observa-se na Figura 5.12, uma melhora nas propriedades ópticas dos filmes hidrogenados em relação aos não hidrogenados pela queda significativa da energia de Urbach com o aumento do fluxo de hidrogênio. A diminuição da energia de Urbach (Figura 5.13) e o considerável aumento do gap (Figura 5.12) observadas, provavelmente estão associadas a uma diminuição da desordem no material [6.7,6.8] e, conseqüentemente, a diminuição da densidade de defeitos no interior do gap. Essa mudança pode ser resultado da passivação das ligações pendentes (dangling bonds), ou a diminuição na densidade de ligações homopolares (Ga-Ga ou As-As – wrong bonds) pela ação do hidrogênio [6.1]. Analisando o gap óptico (Figura 5.12) e a energia de Urbach (Figura 5.13), verifica-se que o filme preparado com fluxo de hidrogênio de 3,0 sccm e com um fluxo de argônio de 20 sccm é o que melhor se estrutura eletronicamente. Isto pode estar relacionado ao fato dessa amostra apresentar um maior balanceamento 72 estequiométrico (Figura 5.2), e neste caso o hidrogênio incorporado no material pode estar aliviando as possíveis tensões da rede. Relacionando o gap óptico (Figura 5.12) com a proporção de arsênio incorporado no material (Figura 5.2), pode-se observar que o gap óptico dos filmes apresenta tendência de aumento com o conteúdo de arsênio. Além disso, os filmes preparados com F Ar = 30 sccm apresentaram um comportamento similar de aumento em função do aumento do fluxo de hidrogênio quando comparados com os filmes preparados com F Ar = 20 sccm. Uma outra semelhança entre essas duas séries de filmes é pelo fato de os valores dos respectivos gaps ópticos serem bastante similares entre si. Isso sugere que, mesmo sendo os filmes preparados com F Ar = 30 sccm, um material mais rico em arsênio, a presença desse arsênio em excesso não muda significativamente o valor do gap do material. Isto pode ser devido ao fato de que as ligações As-As apresentam um caráter covalente, ao contrário das ligações entre os gálios que apresentam um caráter metálico. Assim os filmes ricos em Ga tendem a apresentar gap menores, enquanto os filmes ricos em As apresentam gap maiores [6.9]. No entanto, quando relaciona-se a energia de Urbach (Figura 5.13) com a proporção de arsênio incorporado no material (Figura 5.2), observa-se que os filmes preparados com F Ar = 30 sccm possuem, geralmente, energias de Urbach maiores do que filmes preparados com F Ar = 20 sccm (com exceção do filme preparado com fluxo de hidrogênio de 12,5 sccm), apesar de também apresentar um comportamento de diminuição em função do fluxo de hidrogênio. Esse aumento da energia de Urbach sugere um material com mais defeitos no interior do gap, que pode, por exemplo, estar associado ao surgimento de defeitos do tipo EL2, que é a associação de antisítios de arsênio com arsênio intersticial, comuns em GaAs 73 cristalino rico em As [6.9]. A presença do As em excesso no defeito do tipo EL2 e outros defeitos contribui para o aumento das flutuações locais de potencial no material, aumentando a desordem eletrônica e conseqüentemente a energia de Urbach. Na Figura 5.10, observa-se a influência da temperatura do substrato na absorção óptica dos filmes. Tanto para os filmes hidrogenados como para os não hidrogenados a absorção óptica diminuiu com o aumento da temperatura de substrato. Esse fator pode ser atribuído a uma maior mobilidade das espécies adsorvidas na superfície do substrato durante a deposição do filme, produzindo assim um material com menos defeitos. Pawlewicz e colaboradores [6.10] sugerem que nos filmes de a-Si, a alta temperatura de substrato pode resultar em um recozimento dos defeitos induzidos pelo bombardeio das espécies durante o crescimento do filme. Outro parâmetro que também influência na absorção óptica é a potência de RF, pois afeta diretamente a energia dos íons de argônio (Ar+) que golpeiam o alvo e das partículas arrancadas do alvo (como os átomos que sofrem sputtering, os átomos de argônio refletidos e os elétrons secundários) que bombardeiam o substrato. Na Figura 5.11 pode-se observar que tanto nos filmes hidrogenados como nos não hidrogenados a absorção óptica sofre influência com o aumento da potência de RF. Isso pode ser um indicativo de que a densidade de defeitos pode estar sendo significativamente aumentada com o aumento da energia de bombardeamento das espécies nos substratos. O aumento da largura a meia-altura do pico de difração indica menor tamanho dos cristalitos quando o fluxo de hidrogênio varia entre 0,0 e 0,3 sccm. Apesar disto, a energia de Urbach diminui e o gap aumenta, isto indica uma redução da desordem 74 média no material, apesar da possível redução no tamanho dos cristalitos. A análise é complicada pelo fato de que a proporção entre Ga e As também ser modificada pela presença do hidrogênio. Para fluxos de hidrogênio mais altos (F H2 > 1,0 sccm), onde a proporção entre Ga e As praticamente não varia, existe uma estabilização dos valores de E04 e E0, acompanhando a estabilização da FWMH. Isto indica que pode haver uma saturação dos efeitos produzidos pelo hidrogênio, tais como o alívio de tensões na rede, embora a quantidade de hidrogênio ligada ao Ga e As ainda tendem a aumentar. Gap Óptico e Parâmetro de Desordem Eletrônico Na Figura 6.2 foi graficado o gap óptico de Tauc (Eg) em função da respectiva energia de Urbach (E0) para filmes de GaAs(/:H) preparados com diferentes fluxo de hidrogênio, temperatura de substrato e potência de deposição. Observa-se que há uma correlação clara entre os dados indicando uma relação praticamente linear entre esses dois parâmetros. Nota-se que há uma diminuição do gap óptico (Eg) e um respectivo aumento da energia de Urbach (E0) com a diminuição do fluxo de hidrogênio, indicando de um aumento da desordem na rede em nosso material. Esta relação entre gap óptico e energia de Urbach foi observada em alguns outros materiais semicondutores como o a-Si:H, a-Ge:H e o a-GaAs, [6.7,6.8,6.11,6.12]. A relação corresponde a uma diminuição do gap óptico com o aumento da desordem no material. De acordo com o modelo de O´Leary o crescimento da desordem eletrônica é provocado pelo aumento das flutuações locais de potencial. Esse aumento da flutuação local de potencial pode ser responsável pelo alargamento das bandas de valência e de condução (o que diminui Eg) e pelo aumento na densidade de estados eletrônicos na proximidade destas bandas (o que aumenta E0). 75 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 P = 30W; Ts = 60 ºC H 2 = variável; Ar= 20sccm H 2 = variável; Ar= 30sccm H 2 = 10,0 sccm; Ar= 20sccm H 2 = 0,0 sccm; Ar= 20sccm H 2 = 10,0 sccm; Ar= 30sccm H 2 = 0,0 sccm; Ar= 20sccm P= 60; Ts = 60 ºC H 2 = 10,0 sccm; Ar= 30sccm H 2 = 0,0 sccm; Ar= 30sccm Ts ~ 200 ºC H 2 = 10,0 sccm; Ar= 20sccm; P= 30W H 2 = 0,0 sccm; Ar= 20sccm; P = 30W H 2 = 10,0 sccm; Ar= 20sccm; P = 90W H 2 = 0,0 sccm; Ar= 20sccm; P = 90W H 2 = 10,0 sccm; Ar= 20sccm; P = 180W H 2 = 0,0 sccm; Ar= 20sccm; P = 180W nc-GaAs(/:H) E ne rg ia do G ap (e V ) Energia de Urbach (eV) Figura 6.2: Relação entre o gap óptico de Tauc(Eg) e o parâmetro de desordem de Urbach (E0) dos filmes de GaAs(/:H) preparados por sputtering. Segundo Cody et al no a-Si:H o gap óptico é determinado, muito mais, pelo grau de desordem na rede, do que propriamente pela quantidade de H. O efeito do H no gap óptico ocorre indiretamente devido a sua habilidade de relaxar as tensões da rede [6.11]. A similaridade da correlação existente no a-Si:H sugere que em nossos filmes nanocristalinos de GaAs:H um mecanismo semelhante ao do a-Si:H pode estar ocorrendo. No capítulo seguinte apresentamos as conclusões do trabalho. 76 Referências – Capítulo 6 6.1 OUYANG, L.H.; RODE, D.L.; ZULKIFLI, T.; SHRAUNER, B.A., LEWIS, N.; FREEMAN, M.R. Journal of Applied Physics, vol.91, p. 3459-3467, 2002. 6.2 SEGUIN L.; EL HADADI, B.; CARCHANO, H. Jour. Non-Cryst. Solids, vol. 238, p. 253-258, 1998. 6.3 ALIMOUSSA, L.; CARCHANO, H.; THOMAS, J. P. Jour. Phys. (France), vol. C4-42, p. 683, 1981. 6.4 ACHIQ, A.; RIZK, R.; GOURBILLEAU, F.; VOIVENEL, P. Thin Solid Films, vol. 348, p. 74-78, 1999. 6.5 EL HADADI, B.; CARCHANO, H.; SEGUIN, J.L.; TIJANI, H. Vacuum, vol. 80, p. 272-283, 2005. 6.6 BHATTACHARYYA, S.R.; GHOSE, D.; BASU, D. Nuclear Instr. and Methods in Physics Research, vol. B47, p. 253-256, 1990 6.7 DIAS DA SILVA, J.H; CAMPOMANES, R.R.; LEITE D.M.G.; ORAPUNT, F.; O´LEARY, S.K. Journal of Applied Physics, vol.96, p. 7052-7059, 2005. 6.8 O´LEARY, S.K. Applied Physics Letters, vol. 72, p. 1332-1334, 1998. 6.9 YU, P.; CARDONA, M. Fundamentals of Semiconductors – Physics and Materials Properties, Springer Verlag, Berlim, 1996. 6.10 PAWLEWICZ, W.T. Journal of Applied Physics, vol 49, p. 5595-5601, 1978 6.11 CODY, G.D.; TIEDJE, T.; ABELES, B.; BROOKS, B.; GOLDSTEIN, Y. Physical Review Letters, vol.47, p. 1480-1483, 1981. 6.12 O´LEARY, S.K.; ZUKOTYNSKI, S.; PERZ, J.M. Pysical Review B, vol. 52, p. 7795-7797, 1995. 77 Capítulo 7 Conclusões Diferentes aspectos sobre as propriedade físicas dos filmes de GaAs:H preparados por RF magnetron sputtering foram abordados neste trabalho. Os principais resultados de nossa análise são: i. A tensão de bias sofre uma queda monotônica com o aumento do fluxo de hidrogênio. A queda em Vbias é mais acentuada em filmes depositados com fluxo de argônio de 20 sccm que em filmes depositados com fluxo de argônio de 30 sccm. ii. O fluxo de argônio na câmara de deposição influencia na estequiometria do filme de GaAs(/:H). Os filmes depositados com fluxos de argônio de 30 sscm são mais ricos em arsênio e apresentaram energias de Urbach maiores que os filmes depositados com um fluxo de argônio de 20 sccm. iii. Os resultados obtidos mostram que a presença do hidrogênio na câmara de deposiç