RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
279
INDICAÇÃO PARA O USO DA TERRA NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO SALOBRA – SERRA DA
BODOQUENA, MATO GROSSO DO SUL
1
.
INDICATION FOR THE LAND USE OF THE WATERSHED
IN SALOBRA RIVER - BODOQUENA PLATEAU, MATO
GROSSO DO SUL STATE.
João Cândido André da SILVA NETO2
RESUMO
O processo de apropriação da natureza na Bacia Hidrográfica do Rio Salobra
tem ocorrido muitas vezes de maneira intensa e em áreas inadequadas, não
respeitando as características físico-naturais das paisagens. Esse processo
deveria apoiar-se na capacidade de exploração econômica dos recursos
naturais e na resiliência desse ecossistema. Nessa perspectiva, objetivou-se
mapear as áreas adequadas para cada tipo de uso da terra, conforme as
características da paisagem, verificando-se que 64% da área estudada
apresentam problemas de conservação dos solos ou são indicadas para
reflorestamento e, 36% da área são indicadas para uso com pastagem ou para
agricultura com lavouras de ciclos curtos/ sazonais.
Palavras-chave: Uso da terra; Apropriação da Natureza; Sistema de
Informações Geográficas.
ABSTRACT
The process of appropriation of nature in the Watershed of Salobra River has
occurred many times so intense and in inappropriate areas, not respecting the
physical and natural characteristics of this landscape. This process should be
1
Parte do relatório de qualificação de doutoramento do autor, apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Geografia pela Universidade Estadual Paulista- UNESP- Campus de Presidente Prudente.
2
Aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Geografia pela Universidade Estadual Paulista-
UNESP- Campus de Presidente Prudente, Bolsista pelo CNPQ. Presidente Prudente, SP, Brasil.
joaokandido@yahoo.com.br
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
mailto:joaokandido@yahoo.com.br
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
280
based on the capability of economic exploitation of natural resources and the
resilience of this ecosystem. From this perspective, the objective was to map
appropriate areas for each type of land use, according characteristics of the
landscape, verifying that 64% of the study area have problems of soil
conservation or are indicated for reforestation, and 36% of the area are
indicated for use with pasture or farming crops of short cycles/seasonal.
Keywords: Land use; Appropriation of the Nature; Geographic Information
System.
INTRODUÇÃO
O homem tem-se preocupado com a erosão dos solos desde que
passou a desenvolver a agricultura, quando adquiriu um modo de vida fixo
intensificando o uso do solo, consequentemente levando a destruição da
cobertura vegetal acarretando a exposição do solo aos processos erosivos
(BERTONI & LOMBARDI NETO, 1999).
A intensificação dos processos erosivos está frequentemente
associada aos usos inadequados da terra, que normalmente ocorrer sem o
conhecimento prévio da área utilizada. Nesse processo de apropriação da
natureza, qualquer área pode ser explorada, desrespeitando assim, os
limitantes físico-naturais das paisagens.
Justifica-se o presente estudo, por abordar uma área cuja paisagem
caracteriza-se por apresentar uma configuração vulnerável, no qual alguns
tipos de usos da terra podem desencadear processo de degradação dessa
paisagem. Outro ponto ressaltado é o fato de que parte da área da Bacia
Hidrográfica do Rio Salobra está inserida no Parque Nacional da Serra da
Bodoquena, primeira unidade de conservação de proteção integral federal
implantada no Estado de Mato Grosso do Sul, no qual há intenção da criação
de um Geopark Bodoquena e Pantanal, conforme proposta apresentada à
UNESCO, no Dossiê de candidatura à rede global de Geoparks Nacionais
(ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, 2010).
Uma porção significativa da bacia hidrográfica do rio Salobra é
caracterizada como um ambiente vulnerável de acordo com suas
características físico-ambientais, no qual há uma grande carência de
informações que possibilitem um diagnóstico cuidadoso, que permita fazer as
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
281
devidas restrições e indicações de usos adequados para a área (SILVA NETO
e NUNES, 2011).
Desse modo, faz-se necessário se verificar quais as limitações quanto
aos usos da terra que podem alterar o equilíbrio dinâmico das características
naturais da paisagem e comprometer o sistema ambiental.
Assim, é necessário conhecer melhor a dinâmica e limitações dessa
área, para se estabelecer diretrizes que subsidiem a utilização, manejo,
medidas conservacionistas dos recursos naturais e adoção de restrições mais
seguras quanto ao uso do solo.
O presente estudo objetivou indicar os tipos adequados de usos da
terra de acordo com as características naturais, antrópicas como uso atual da
terra e aptidão agrícola dos solos na bacia hidrográfica do Rio Salobra, visando
ainda subsidiar as diretrizes e recomendações para o ordenamento do
território.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O presente estudo abordou a Bacia Hidrográfica do Rio Salobra que
está localizada na região Sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul,
considerada uma importante área fonte dos fluxos de matéria e energia da
bacia do rio Miranda no Pantanal sul-mato-grossense.
A Bacia Hidrográfica do Rio Salobra tem sua localização compreendida
entre as latitudes 20° 59’ 55” e 20° 08’ 54” S e longitudes 57° 00’ 00” e 56°
26’ 30” W. Sua área estende-se pelos municípios de Bonito (algumas
nascentes), Bodoquena (maior parte da extensão de sua rede de drenagem) e
Miranda (baixo curso e foz), com área de aproximadamente 2.350 km² (Figura
1).
A Bacia Hidrográfica do Rio Salobra caracteriza-se como um ambiente
vulnerável no tocante dos aspectos físicos naturais. Assim, faz-se necessário
verificar quais as limitações quanto aos usos da terra, que possam alterar o
equilíbrio das características naturais da paisagem e comprometer o sistema
ambiental.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
282
0 1 000 2 00 0 km
8 0 ° W
0 °
3 0 ° S
4 0 ° W
M A P A D O B R A S IL
N
0 1 57 km
5 7° 5 5 ° 30' 5 4°
2 1°
2 0°
1 9°
1 8°
2 2°
5 0 5 1 0 K M
E S C A L A :
N
(FO N T E : M IN IS TÉ R IO D A S M IN A S E E N E R G IA , P R O JE TO
R A D A M B R A S IL: F O L H A S F.21 C A M P O G R A N D E , 1982 e
E M B R A P A , 19 99).
(O R G A N IZA Ç Ã O : S IL V A N E T O , J .C .A . 20 08).
5 7 ° 0 0 ' 0 0 " W
2 0 ° 5 9 ' 5 5 " S
5 6 ° 2 6 ' 3 0 " W
2 0 ° 0 8 ' 5 4 " S
P A N T A N A L
S U L -M A T O -G R O S S E N S E
B A C IA H ID R O G R Á F IC A D O R IO S A LO B R A -M S
Figura 1- Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Salobra-MS.
Formações Geológicas
Segundo estudo apresentado no projeto RADAMBRASIL (1982) e no
relatório de Geologia e Recursos Minerais do Estado de Mato Grosso do Sul
(2006), a área da Bacia Hidrográfica do Rio Salobra, apresenta-se estruturada
litológicamente sobre o arcabouço geológico da Formação Cerradinho e
Formação Bocaína, com rochas do Pré-cambriano Superior e Formação
Pantanal do período Quaternário. Apresenta também a ocorrência de rochas do
Grupo Cuiabá, Formação Puga e Complexo Rio Apa (Tabela 1).
Tabela 1: Vulnerabilidade Geológica da Bacia Hidrográfica do Rio Salobra.
(Base cartográfica: Mapa geológico do Estado do Mato Grosso do Sul, 2006).
Formações
Índice de
Vulnerabilidade
Grau de
Vulnerabilidade
Área em
km²
Depósitos aluvionares Q1p2 1.00 Vulnerável 141.862
Terraços aluvionares Q1p1 1.00 Vulnerável 336.805
Formação Bocaina Npbo (d) (c) 0.96 Vulnerável 773.266
Formação Puga NPpu 0.90 Vulnerável 137.486
Formação Cerradinho NP3ce (c) (d) 0.80 Moderado Vulnerável 369.391
Grupo Cuiabá NPcum 0.76 Moderado Vulnerável 178.783
Grupo Cuiabá NPcuxt 0.66 Mediano Estável 14.922
Grupo Cuiabá NPcufl 0.70 Mediano Estável 242.645
Complexo Rio Apa PP3ra 0.36 Estável 228.134
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
283
De acordo com as unidades geológicas da bacia hidrográfica do rio
Salobra, conforme o grau de coesão da rocha, observa-se que 57% de sua
área é classificada como Vulnerável, 23% como Moderado Vulnerável, 11%
como Mediano Estável e 9% como Estável.
Vulnerabilidade do relevo
A vulnerabilidade do relevo foi elaborada a partir dos dados
morfométricos de amplitude altimétrica e declividade do terreno, verificando-se
na análise individualizada de cada uma dessas variáveis que grande porção da
área da bacia (61%) corresponde às faixas de declividades que apresentaram
o Grau Estável. Quanto à amplitude altimétrica, verificou-se que 52% da área
da bacia apresentou o Grau Vulnerável.
Desse modo, a associação entre as variáveis declividade e amplitude
altimétrica permitiu analisar o tema relevo, no qual os Graus de Vulnerabilidade
Moderado Estável e Estável representaram 39% da área total da bacia. Essas
categorias caracterizam-se por oferecer condições em que prevalece a
pedogênese. Conforme Tricart (1977), os processos mecânicos nesses meios
atuam pouco e sempre de modo lento (Tabela 2).
O Grau de Vulnerabilidade: Mediano Estável Vulnerável representou
41% da área total estudada. Essa categoria morfodinâmica Intermediária é
caracterizada pelo equilíbrio entre pedogênese e morfogênese. Essa categoria
foi definida por Tricart (1977) como meios intergrades determinado pela
interferência permanente de morfogênese e pedogênese.
Tabela 2 – Vulnerabilidade do relevo (Base cartográfica - Dados SRTM).
Vulnerabilidade Área em Km² Área em % Grau de Vulnerabilidade
0.90-1.00 73.135 3 Vulnerável
0.76-0.90 387.953 17 Moderado Vulnerável
0.60-0.76 947.742 41 Mediano Estável Vulnerável
0.46-0.60 216.510 9 Moderado Estável
0.33-0.46 696.081 30 Estável
O Grau de Vulnerabilidade: Moderado Vulnerável e Vulnerável
representou 20% da área da Bacia do Rio Salobra. Essas áreas são definidas
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
284
como Instáveis por oferecer condições que prevaleça a morfogênese, de
maneira genérica pode caracterizar-se por apresentar condições ecológicas
difíceis e suscetíveis aos processos de degradação das paisagens.
Tipos de Solos
A principal característica pedológica da Bacia Hidrográfica do Rio
Salobra é a presença de solos provenientes das formações geológicas citadas
anteriormente, onde suas litologias variam desde originadas de calcários,
ardósias do pré-cambriano (Grupo Corumbá), até dos sedimentos mais
recentes da Formação Pantanal.
Outro contraste é quanto ao relevo onde são encontrados alguns tipos
de solos, pois variam desde relevo plano até fortemente dissecado. O tipo de
solo de maior expressão com relação a área ocupada na Bacia do Rio Salobra
é dos Chernossolos Rêndzicos, característicos das áreas com relevo
fortemente acidentado, grande parte destes solos são utilizada para pecuária
(Tabela 3).
Tabela 3: Relação dos tipos de solos e índice de vulnerabilidade à perda de solos na
bacia hidrográfica do Rio Salobra-MS (Base cartográfica - PROJETO RADAMBRASIL,
1982).
Nomenclatura Segundo
Projeto RADAMBRASIL
(1982)
Nomenclatura Segundo
Embrapa (1999) Área em
km²
Área
em%
Grau
Vulnerabilidade
Solonetz Solodizado Planossolos Nátricos 127,29 6
Med. Estável
Vulnerável
Planossolo Solódico Planossolos Hidromórficos 56,20 2
Med. Estável
Vulnerável
Terra Roxa Estrutura/
Latossólica Nitossolos 70,30 3
Med. Estável
Vulnerável
Brunizem avermelhado Chernossolos Argilúvicos 346,72 15
Med. Estável
Vulnerável
Podzólico Vermelho-
Amarelado Luvissolos 140,27 6
Med. Estável
Vulnerável
Glei Pouco Húmico Gleissolos 124,70 5 Vulnerável
Vertissolos Vertissolos 245,46 11 Vulnerável
Rendzina Chernossolos Rêndzicos 1092,84 47 Vulnerável
Litólicos Neossolos Litólicos 49,788 2 Vulnerável
Regossolo Neossolos Regolíticos 69,203 3 Vulnerável
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
285
Intensidade Pluviométrica
Segundo Crepani et al. (2004) é importante se avaliar a intensidade
pluviométrica, pois representa uma relação direta entre as características de
precipitação total (quanto chove) e sua distribuição sazonal (quando chove),
resultando em última análise na quantidade de energia potencial disponível
para transformar-se em energia cinética.
A intensidade pluviométrica no ano de 2009 caracteriza-se por
apresentar pouca variação de classes de 525 à 625 mm/ mês, distribuídas em
apenas quatro classes por toda extensão da bacia.
Quanto aos índices de vulnerabilidade, todas as classes apresentam os
valores máximos na escala de vulnerabilidade 1,0, denominada Vulnerável,
com características favoráveis de um ambiente instável no tocante dos
processos erosivos.
Quadro 1: Relação da intensidade pluviométrica aos valores de
vulnerabilidade à perda de solo (Fonte: Dados Hidroweb).
*I.P. **V.P.S. *I.P. **V.P.S.
375 a 400 0,80 525 a 550 1,00
400 a 425 0,83 550 a 575 1,00
425 a 450 0,86 575 a 600 1,00
450 a 475 0,90 600 a 625 1,00
475 a 500 0,93 > 625 1,00
500 a 525 0,96
* Intensidade Pluviométrica (mm -mês) = T.P.A/N.D.C.
** Vulnerabilidade à Perda de Solo.
No ano de 2009 a precipitação total anual variou de 1375 à 1700 mm,
apresentando chuvas concentradas predominantemente no verão (com 46%) e
primavera (23%) e o período mais seco no inverno (15%) e outono (16% do
total anual) (Figura 2).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
286
Figura 2: Gráfico Precipitação Total Anual em 2009 distribuída por estações do
ano (Fonte: elaborado pelo autor).
Uso da terra e cobertura vegetal
No ano de 2009 verificou-se que 40% da área total da bacia foi
utilizada para o desenvolvimento da pecuária extensiva. Esta atividade consiste
na criação de gado em grandes extensões de terras, sem limitações quanto ao
pisoteio ou a exploração de novas áreas para pastagem (Tabela 4).
Tabela 4- Classes de uso da terra e cobertura vegetal na bacia hidrográfica do
rio Salobra em 2009 (Fonte: elaborado pelo autor).
CLASSES ÁREA KM ÁREA EM %
Mata 1.107.117 48
Áreas Úmidas 10.705 0
Pastagem 931.015 40
Lavoura 221.252 10
Solo Exposto 50.698 2
As áreas de pastagem não respeitam áreas com declividades
acentuadas, consequentemente intensificando os processos erosivos na área,
sofrendo assim uma transição do estágio de erosão laminar para erosões em
sulcos, resultado direto do pisoteio do gado.
As áreas de mata/floresta representam a maior extensão de área,
ocupando 47% da bacia hidrográfica. As áreas denominadas lavoura são
observadas em 10% da área, correspondendo aos setores com cultivos
predominantemente de arroz, milho e feijão.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
287
Aptidão Agrícola
Para Bertoni e Lombardi Neto, (1999) a classificação da capacidade de
uso do solo busca estabelecer diretrizes para um aproveitamento mais eficiente
da terra.
Assim, as terras produtivas são divididas em três categorias principais,
que agrupam oito classes de modo mais detalhado, são elas: A) Terras
próprias para todos os usos, inclusive cultivos intensivos; B) Terras impróprias
para o cultivo intensivo, mais aptas para pastagens e reflorestamento ou
manutenção da vegetação natural; C) Terras impróprias para cultivo,
recomendadas para proteção da flora, fauna ou recreação.
Bertoni e Lombardi Neto, (1999) ressaltam que as classes de
capacidade de uso são caracterizadas, em termos gerais, apenas do ponto de
vista das condições físicas da terra, não se comparando com exatidão uma
região para outra, mas sim em princípios gerais das condições fundamentais
do solo e suas condições locais.
Para Lepsch (2002) o grau de capacidade de uso irá indicar qual
intensidade máxima de cultivo pode ser aplicada a determinado solo, sem que
sua estrutura seja comprometida, degradada ou ocorra perda seu nutrientes
por efeito da erosão.
Conforme Sánchez (1991) aptidão agrícola indica uma referência de
localização e distribuição espacial das alternativas de uso, sendo que elas
implicam na maior intensidade de uso admitida pela unidade de mapeamento
de terras que está sendo avaliada.
Segundo o Atlas Multirreferêncial do Estado do Mato Grosso do Sul
(1990) na Bacia Hidrográfica do Rio Salobra são verificados as seguintes
classes de aptidão agrícola (Tabela 5):
1ABc - aptidão boa nos níveis ABC, solos com boa reserva de
nutrientes, relevo plano ou suave ondulado, textura argilosa, correspondendo a
23% da área total estudada. Uso indicado para lavoura.
2abc - aptidão regular nos níveis abc, solos com medianas reservas de
nutrientes, relevo plano e suave ondulado, textura argilosa ou média, ocupa 3%
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
288
da área da bacia. Uso indicado para lavoura com práticas conservacionistas
simples.
3(ab)- aptidão restrita nos níveis de manejo A e B, solos com mediana
a boas reservas de nutrientes, relevo plano, textura argilosa, sujeitos a
inundações de curta duração, corresponde a 3% da área da bacia. Uso
indicado para lavoura de ciclos curtos se utilizado maquinário agrícola.
PN7-8- aptidão restrita, solos característicos por sofrer inundação e
elevação do lençol freático, solos hidromórficos e planossolos com textura
média e argilosa, indicado para pastagem natural, corresponde a 14% da área.
4p- aptidão regular, áreas com solos com baixa ou medianas reservas
de nutrientes, rasos ou pouco profundos, relevo variando de plano, suave
ondulado a ondulado, textura média cascalhenta, ocupa 21% da área. Uso
indicado para pastagem plantada.
6- Aptidão desaconselhável, solos rasos, relevo fortemente ondulado,
escarpado, desaconselhável ao uso agropecuário. Uso indicado para
preservação de fauna e flora. Essa é a classe que ocupa a maior área da bacia
do rio Salobra 36%.
Tabela 5: Classes de aptidão agrícola na Bacia Hidrográfica do Rio Salobra-MS
(Base cartográfica: Atlas Multirreferencial do Estado do Mato Grosso do Sul).
NOMENCLATURA APTIDÃO AGRICOLA ÁREA EM KM ÁREA EM %
1Abc aptidão boa nos níveis ABC 533,21 23
2abc aptidão regular nos níveis abc 74,79 3
3(ab)
aptidão restrita nos níveis de
manejo a e b 60,29 3
4p aptidão regular 500,29 21
PN7-8 aptidão restrita 322,65 14
6 aptidão desaconselhável 842,51 36
O CICLO DE APROPRIAÇÃO DA NATUREZA: transformação da natureza
em recurso.
O processo de ocupação das terras da Serra da Bodoquena por
assentamentos rurais e indústrias de exploração mineral para produção de
cimento, ganhou maior força a partir de meados da década de 1980 (ALMEIDA,
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
289
2005). Acontecimentos esses que podem ser atribuídos à uma nova
configuração da dinâmica socioeconômica e ambiental na área abordada.
A implantação de fazendas de criação gado, assentamentos rurais em
algumas porções da bacia do rio Salobra ocorreu sem estudos ambientais
prévios, que resultou na ocupação de áreas impróprias para o desenvolvimento
de atividades agrícolas, observando-se que a pecuária extensiva se configura
como a principal atividade econômica na área (ALMEIDA, 2005).
A pecuária extensiva se caracteriza pela criação de gado solto em
extensas áreas de pastagens, exigindo-se assim, maiores áreas desmatadas.
Essa atividade normalmente não apresenta qualquer tipo de barreira ao pisoteio
do gado, que atinge as margens dos rios e vertentes acentuadas, o que pode ser
considerado um fator potencializador da intensificação dos processos erosivos.
Na perspectiva da relação do processo de ocupação da terra com os
problemas ambientais ocasionados por esse processo, remete-se ao processo
de apropriação da natureza que inicia-se por sua transformação com emprego
da técnica objetivando a produção, que ocorre de acordo com as imposições
socioeconômicas das sociedades.
Entende-se por produção a criação meramente humana, que resulta
em valor de troca e sua expressão monetária, do qual todos dependiam pra
sobreviver, assim a economia é a dependência que a subsistência concreta do
homem tem o valor abstrato (ROBERT, 2000).
Nesse sentido, a natureza sem dúvida passa a ter um significado além
da esfera ambiental, assumindo uma conotação socioeconômica, por ser
influenciado pelas ações sociais, e estas são impulsionadas por fatores
econômicos (figura 3).
O ciclo de apropriação da natureza (figura 3) representa as influências
que os fatores econômicos impõem às sociedades por meio de suas
intencionalidades. Defini-se então como intencionalidade inicial, as
intencionalidades cujos objetivos principais são a produção e o lucro. Assim, a
atuação direta na natureza por meio do processo de apropriação pode
desencadear a superexploração dos recursos e dependerá da intensidade da
atuação antrópica sobre a natureza.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
290
Figura 3- Organograma do ciclo de apropriação da natureza.
À medida em que se aumenta produção, exigem-se maiores áreas para
serem exploradas e, muitas vezes pode ocorrer a degradação de ambientes
vulneráveis e consequentemente o abandono de áreas como problemas
ambientais representativos.
Conforme a condição que a economia é produtiva, a perda de valor
ocasiona uma degradação que atinge tudo e todos os que estão envolvidos
pelo modo de produção, assim a sociedade e tudo o que se relaciona a ela
(ROBERT, 2000).
Desse modo, o ciclo de apropriação da natureza retorna ao fator
econômico, mas dessa vez com consequências e efeitos do processo de
superexploração da natureza, que exigirá na melhor das hipóteses custos
elevado por anos até que as áreas degradadas sejam recuperadas,
evidentemente determina-se repouso dessas áreas no período de recuperação,
o que pode ocasionar o problema de abandono dessas áreas, no qual a
natureza por si não conseguiria recuperar o que foi degradado pelo homem,
pois sua capacidade de resiliência3 estaria comprometida.
3
Resiliência é definida como a capacidade de um sistema de retornar ás suas condições originais após
ser afetado por distúrbios externos. A resiliência é percebida quando sob o efeito das perturbações
aleatórias, o sistema, reage por aumento da complexidade e continua a funcionar, elevando seus níveis
de entropia buscando se auto-organizar (CAMARGO, 2008).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
291
Todo modo de produção e toda formação econômica e social
estabelecem conexões com a natureza por meio dos objetos e meios “naturais”
de trabalho dos processos produtivos que daí se desenvolve (LEFF, 2002).
Segundo Leff (2002) a natureza aparece como os objetos de trabalho e
os potenciais da natureza que se integram ao processo global de produção
capitalista e, em geral, os processos produtivos de toda formação social, como
um efeito do processo de reprodução/transformação social.
Shiva (2000) considerou que a relação com a natureza é subordinada à
maximização do lucro e da acumulação do capital:
Na economia de mercado o princípio organizador do
relacionamento com a natureza é a maximização do lucro e da
acumulação do capital. A natureza e as necessidades humanas
são gerenciadas através dos mecanismos do mercado. A
ideologia do desenvolvimento é em grande parte baseada na
idéia de trazer todos os produtos da natureza para a economia
de mercado como matéria-prima para produção de
mercadorias. (SHIVA, 2000, p. 315).
O ciclo de apropriação da natureza ao retornar ao fator econômico
desencadeará a denominada intencionalidade secundária, por necessitar de
mudanças de objetivos para que o processo de apropriação da natureza
continue seu ciclo. Assim, a recuperação das áreas degradadas para que o
processo produtivo continue sua eficiência, seria a alternativa mais coerente
para essa área.
Robert (2000) considerou que os efeitos negativos oriundos da
produção são denominados contra-produtiva, não importando o quanto
modernas sejam as técnicas utilizadas na apropriação, se não considerar os
limitantes físicos naturais, os efeitos da produção tenderá a atingir metas
opostas dos objetivos iniciais.
Assim:
Na medida em que são danificados os limites que possibilitam
à natureza renovar-se, e que lhe dão a capacidade de
“ressurgir”, gera-se, então, a verdadeira escassez – as
florestas desaparecem, os rios secam, os solos perdem sua
fertilidade, água, a terra e o ar são poluídos. (SHIVA, 2000,
p.308).
Robert (2000) considerou que a produção econômica demanda como
condição necessária, uma idéia de degradação irreversível, resultado de um
processo historicamente identificável, desse modo, o feedback que torna
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
292
possível a produção da natureza por meio da sua apropriação é também o
ponto de origem dos problemas ambientais contemporâneos, como
inundações, assoreamento, erosão, poluição.
Desse modo, a apropriação da natureza, não se considerando seus
limitantes físico-naturais, pode desencadear processos irreversíveis, no qual a
urgência da produção econômica em tornar qualquer área explorável e,
aumentar os níveis de produção, exige da natureza uma capacidade além do
que se entende por natural para que consiga retornar as suas características
originais.
Conforme essas premissas enfatiza-se a importância do uso adequado
da terra, obedecendo as características físico-naturais da paisagem onde os
recursos ambientais como solo estão inseridos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia utilizada na presente pesquisa está baseada na
Ecodinâmica proposta por Tricart (1977) e na metodologia de Zoneamento
Ecológico Econômico, proposta por Crepani et al. (2008).
A Ecodinâmica propõe uma relação de variáveis da paisagem
objetivando definir unidades morfodinâmicas em Meios Estáveis, Meios
Intergrades e Meios Instáveis.
Desse modo foi organizada uma caracterização dos Planos de
Informações, que contou com consulta em material como projeto
RADAMBRASIL, Mapa geológico do Estado do Mato Grosso do Sul, Atlas
Multi- referencial do Estado de Mato Grosso do Sul, PCBAP (Plano de
Conservação da Bacia do Alto Paraguai) e constatações a campo.
Foram realizados trabalhos de campo para averiguação das formações
geológicas, das morfologias de relevos, dos tipos de solos, dos usos e
ocupações da terra encontrada na área estudada, confirmando as
interpretações das imagens de satélite.
O passo seguinte consistiu em organizar e editar as bases
cartográficas de geologia e solos. Essas informações foram compiladas em
ambiente de SIG, com o software SPRING.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
293
Foram produzidos os mapas de intensidade pluviométrica a partir de
dados das estações pluviométricas, o mapa de vulnerabilidade do relevo, com
base nas informações dos dados SRTM. Para elaboração dos mapas de uso
da terra e cobertura vegetal utilizou-se imagens de satélite Landsat 5 TM, após
elaboração do banco de dados foram gerados os mapas sínteses de
vulnerabilidade à perda de solos de indicação de uso da terra.
Foram abordadas as seguintes variáveis da bacia hidrográfica para
elaboração do mapa de vulnerabilidade das paisagens à perda de solos (Figura
4):
Vulnerabilidade dos Solos (Níveis de erodibilidade dos solos, Fonte:
Projeto RadamBrasil , Embrapa 1999);
Vulnerabilidade da Intensidade Pluviométrica (dados de intensidade
pluviométrica mm/ mês; Fonte: hidroweb, dez estações na região);
Vulnerabilidade do relevo (cruzamento dos P.I. Declividade + amplitude
altimétrica);
Vulnerabilidade Geológica (Grau de coesão das rochas que compõe
cada unidade geológica; Projeto RadamBrasil, Mapa Geológico do Mato
Grosso do Sul (2006);
Vulnerabilidade Cobertura Vegetal e Uso da terra (Fonte: Imagens
Landsat 5 TM).
O mapeamento da vulnerabilidade à perda de solo foi elaborado em
ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG), onde se utilizou o
software SPRING, que permitiu o armazenamento das informações, tratamento
de dados e correlações da variáveis, resultando assim no mapa síntese de
vulnerabilidade da paisagem à perda de solos. O mapa síntese resultou da
correlação dos Planos de Informações, contendo variáveis da paisagem (figura
5).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
294
Figura 4: Organograma para elaboração da vulnerabilidade da paisagem à
perda de solos (Elaborado pelo autor).
Figura 5: Esquema metodológico da correlação de P.I.s para elaboração do
mapa de vulnerabilidade à perda de solos (Elaborado pelo autor).
O mapa síntese de vulnerabilidade da paisagem à perda de solos da
Bacia Hidrográfica do Rio Salobra é uma informação produzida a partir da
análise espacial em Sistema de Informações Geográfica, tendo como apoio o
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
295
Suporte de Decisão AHP (Processo Analítico Hierárquico) que se caracteriza
como uma ferramenta de suporte à decisão, que permite organizar e
estabelecer um modelo racional da correlação de variáveis (CÂMARA, et al.,
1996).
Desse modo, as variáveis geologia, geomorfologia, solos, intensidade
pluviométrica e uso da terra e cobertura vegetal, foram selecionadas no módulo
de Análise Espacial do SPRING, como critério de análise, estabelecendo-se o
mesmo peso para cada variável, conforme a metodologia Crepani et al.(2001).
O resultado do procedimento de implementação da AHP, após se
calcular o peso dos critérios, gerou-se uma base de programação em LEGAL4
(Linguagem Espacial para Geoprocessamento Algébrico), em formato nativo do
SPRING, editado posteriormente em arquivo comum de bloco de notas.
O arquivo com a base de programação completou-se com as
informações específicas, na qual foram atribuídos os valores de 0 a 1, sobre os
dados nos quais se deseja aplicar o procedimento e, em seguida a
programação editada foi copiada no editor de modelos de Álgebra do programa
em LEGAL.
Antes de executar a operação deve-se criar no modelo de dados do
SPRING, uma categoria saída em Modelo Numérico do Terreno (MNT), para
receber a imagem gerada após execução da operação. A imagem MNT gerada
após a execução da operação utiliza o interpolador de média ponderada.
O procedimento final para geração do mapa de vulnerabilidade da
paisagem à perda de solos é o fatiamento da imagem que pode ser definido
como um procedimento que irá transformar uma categoria MNT de entrada, em
uma categoria Temática de saída, estabelecendo assim as classes temáticas
de acordo com a grade gerada em LEGAL (Figura 6).
4
Segundo Câmara et al. (1996) um programa em LEGAL consiste de uma sequência de operações
descritas por sentenças construídas segundo regras gramaticais envolvendo operadores, funções e
dados representados em Planos de Informações de um mesmo projeto existente de um banco de dados
SPRING. O Programa em LEGAL é definido como uma ferramenta que possibilita a realização de
análises espaciais através de álgebra de mapas.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
296
Figura 6- Exemplo de fatiamento de imagem em MNT gerada a partir da AHP,
(B) categoria temática pós-fatiamento (Adaptado de Câmara et al. 1996).
A indicação para uso da terra foi estabelecida a partir da correlação
dos Planos de Informações de Vulnerabilidade à perda de solos, Aptidão
Agrícola e Áreas de Preservação Permanente (Figura 7).
O mapa de Aptidão Agrícola foi organizado utilizando-se a base
cartográfica do Atlas Multireferêncial do Estado de Mato Grosso do Sul (1990)
editado em ambiente de SIG, no Software SPRING o que permitiu a correlação
com os outros P.I.’s.
Figura 7– Correlação dos Planos de Informações para definição do mapa de
indicação de uso da terra (Elaborado pelo autor).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
297
O mapa síntese de Indicação de uso da terra na bacia hidrográfica do
rio Salobra foi produzido seguindo os mesmos procedimentos operacionais
utilizados para elaboração dos mapas de Vulnerabilidade à perda de solos, no
qual também implementou-se a análise espacial em Sistema de Informações
Geográficas, utilizando-se o Suporte de Decisão AHP (Processo Analítico
Hierárquico).
Posteriormente à etapa de implementação da AHP, calculou-se o peso
dos critérios, gerando a base de programação em LEGAL (Linguagem Espacial
para Geoprocessamento Algébrico).
O processamento da programação em LEGAL resultou em uma
modelo em MNT que, após o procedimento de fatiamento para se estabelecer
as classes de do mapa temático, resultou no mapa síntese de indicação de uso
da terra.
RESULTADOS
A indicação para uso da terra definiu-se a partir de condicionantes físico-
naturais, ressaltando as atividades antrópicas e suas correlações com as
variáveis de vulnerabilidade à perda de solos como: uso da terra e cobertura
vegetal, intensidade pluviométrica, geologia, relevo e tipos de solos,
combinadas às classes de Aptidão Agrícola e as Áreas de Preservação
Permanente.
Desse modo, cinco classes de indicação do uso da terra foram
definidas:
CLASSE I: caracterizam-se por apresentar relevo plano, rochas densas,
composta principalmente por rochas que apresentam resistência à erosão,
como as Graníticas e Gnaises, e solos profundos e bem desenvolvidos como
os Nitossolos (Figura 8).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
298
Figura 8: Fotografia exemplificando as Classes I, II, III de uso da terra na Bacia
Hidrográfica do Rio Salobra. (Fonte: autor)
São áreas que apresentam aptidão boa ou regular, caracterizam-se por
apresentar solos com boas reservas de nutrientes, quanto á vulnerabilidade à
perda de solos enquadra-se nas classes Estável/ Moderado Estável, essa
classe de uso da terra pode suportar práticas agrícolas com utilização de
mecanização, e outros implementos agrícolas. Essa classe é indicada para
lavouras de ciclo longo/anuais, mas, não representou 1% da área estudada
(Figura 9).
CLASSE II: são áreas que apresentam aptidão boa ou regular,
caracterizam-se por apresentar solos com boas ou medianas reservas de
nutrientes como os Chernossolos Argilúvicos, quanto à vulnerabilidade à perda
de solos enquadra-se nas classes Estável/Moderado Estável. Essa classe de
uso da terra é indicada para agricultura, com lavouras de ciclos curtos/
sazonais, sobretudo sem artifício de mecanização ou com utilização apenas de
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
299
implementos agrícolas simples (Figura 8), essa classe corresponde a 16% da
área da bacia hidrográfica (Figura 9).
CLASSE III: essa classe corresponde às áreas que apresentam
aptidão regular, são áreas com solos com baixas ou medianas reservas de
nutrientes, rasos ou pouco profundos, que se associam à áreas de
vulnerabilidade medianas, essas áreas são inaptas para lavouras, mas
indicada para uso com pastagem em áreas com relevo plano ou suave
ondulado. Esta classe é verificada em 20% da área (Figura 9).
Figura 9: Indicação de Uso da terra na bacia hidrográfica do Rio Salobra-MS
(Elaborado pelo autor).
CLASSE IV: são áreas que ainda apresentam características de
paisagens preservadas com áreas de floresta, mas está associada às áreas
vulneráveis e moderado vulnerável associadas com aptidão agrícola restrita ou
inapta (Figura 10).
A principal indicação para essas áreas é a preservação, porém, desde
que não ocorra em declividades incompatíveis (>20%) pode ser ocupada por
reflorestamento ou pastagem, porém, no caso do uso por pastagem necessita-
se de medidas conservacionistas criteriosas. Essa classe engloba também as
Áreas de Preservação Permanente estabelecidas pela Legislação Ambiental
vigente. Essa classe é verificada em 55% da área total estudada.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
300
CLASSE V: Essa classe é caracteriza-se por apresentar correlação
do relevo ondulado á fortemente dissecado, rochas pouco densas, solos rasos
como os Chernossolos Rêndzicos.
Essa classe compreende as áreas que apresentam grau de
vulnerabilidade muito alto e associa-se às áreas sem aptidão para usos
agrícolas, caracterizam-se ainda por apresentar uso intenso da terra, como
solo exposto ou com usos agrícolas.
Corresponde às áreas que apresentam problemas de conservação dos
solos, esta classe é indicada para recuperação prioritária e, ocupam 9% da
área total da Bacia Hidrográfica do Rio Salobra (Figura 10).
Figura 10: Fotografia exemplificando as Classes I, II, III de uso da terra na
Bacia Hidrográfica do Rio Salobra. (Fonte: autor).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
301
Figura 11: Mapa de Indicação de Uso da terra na Bacia Hidrográfica do Rio
Salobra-MS (Elaborado pelo autor).
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
302
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das informações correlacionadas foram definidas as áreas de
indicação para uso da terra, conforme a atual conjuntura da paisagem da Bacia
Hidrográfica do Rio Salobra, que é resultado das diversas inter-relações com o
uso da terra, que associado à outras variáveis podem comprometer em
diferentes níveis a dinâmicas de processos na bacia hidrográfica, no qual
ressalta-se os processos erosivos que apresenta uma relação direta com a
cobertura vegetal e, sua retirada para fins de práticas agropecuárias torna mais
intenso esses processos.
Conforme os resultados apresentados, verificou-se que a maior porção
da Bacia Hidrográfica do Rio Salobra, 64% da área, apresentaram indicação
restritiva quanto ao uso da terra, por caracterizar-se como um ambiente
vulnerável e com aptidão restrita ou inapta para usos agrícolas. Esses dados
sugerem outro fator importante, que seria o comprometimento ambiental
causado pelos usos inadequados da terra, como a intensificação dos
processos erosivos e consequentemente a perda de terras produtivas.
O principal problema ao se tratar do uso da terra são as áreas de
incompatibilidade do uso, que correspondem às áreas utilizadas de maneira
inadequada, para fins de pecuária extensiva e atividades agrícolas, em que não
são respeitadas as limitações físico-naturais de ambientes vulneráveis, como
exemplo, áreas com relevo fortemente dissecado ou áreas de solos rasos
suscetíveis à erosão.
Esse cenário é visualizado de modo cada vez mais frequente, visto
que, historicamente na Região da Serra da Bodoquena, vem sendo imposto um
processo de apropriação da natureza, no qual a partir da implantação de
fazendas de criação gado, assentamentos rurais em algumas porções da bacia
resultaram na ocupação de áreas impróprias para o desenvolvimento de
atividades agropecuárias.
Nesse processo de apropriação, a natureza é concebida apenas como
uma mercadoria, logo, passível de uma superexploração, de forma
inconsequente e sem planejamento adequado.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
303
Por fim, ressalta-se a necessidade de estudos aprofundados na área
que visem propor diretrizes para o ordenamento do território, visto que há uma
carência de estudos, dados e bases cartográficas em escala adequada, que
possibilite encaminhamentos na perspectiva da atuação de políticas de uso e
ocupação da área.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Márcia Ajala. Política de desenvolvimento e estruturação do
espaço regional da área da Bodoquena em Mato Grosso do Sul. Tese de
Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia-
Universidade Estadual Paulista - UNESP - Faculdade de Ciências e
Tecnologia, Campus de Presidente Prudente, 2005.
BERTONI, José & LOMBARDI NETO, Francisco, Conservação do solo, São
Paulo: Ícone, 4ª Ed. 1999.
CAMARA G., SOUZA R.C.M., FREITAS U.M., GARRIDO J; "SPRING:
Integrating remote sensing and GIS by object-oriented data modelling";
Computers & Graphics, 20: (3) 395-403, May-Jun 1996.
CAMARGO, Luís Henrique Ramos de, A ruptura do meio ambiente:
conhecendo as mudanças ambientais do planeta através de uma nova
concepção da ciência: a geografia da complexidade, Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2ª Ed. 2008.
CREPANI, Edison. et al., Sensoriamento remoto e geoprocessamento
Aplicados ao Zoneamento Ecológico-Econômico e ao Ordenamento
Territorial. São José dos Campos, INPE-8454-RPQ/722. 2001.
CREPANI, Edison. et al.; Intensidade Pluviométrica: uma maneira de tratar
dados pluviométricos para análise da vulnerabilidade de paisagens à
perda de solo; São José dos Campos, INPE -11237-RPQ/760. 2004.
CREPANI, Edison et al., Zoneamento Ecológico-econômico; In:
FLORENZANO, Teresa G; Geomorfologia: Conceitos e tecnologias atuais.
São Paulo, Oficina de Textos, 2008. Cap.10, p. 285-314.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Centro Nacional
de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação dos solos.
Brasília, 1999.
ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL, GEOPARK BODOQUENA-
PANTANAL: Dossiê de candidatura à Rede Global de Geoparks Nacionais
sob auspício da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências
e Cultura/UNESCO. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – Serviço
Geológico do Brasil, 2010.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
RA´E GA 25 (2012), p. 279-304 www.geografia.ufpr.br/raega/
Curitiba, Departamento de Geografia – UFPR ISSN: 2177-2738
304
HIDROWEB- Sistema de Informações Hidrológicas, Série histórica de dados
de pluviométricos (on-line); site ; acessado em 12
de janeiro de 2011.
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE): Catálogo de
Imagens LANDSAT; , acessado em 03 de feveiro de
2011.
LEFF, Enrique; Epistemologia Ambiental; São Paulo: Editora Cortez, 3° Ed.,
2002.
LEPSCH, Igor F. Formação e Conservação dos solos. São Paulo: Oficina de
Textos, 2002.
MARTINS, J. de O. (Coordenador Geral). Atlas Multirreferêncial do Estado
de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS. SEPLAN/IBGE, 1990.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, SECRETARIA DE GEOLOGIA,
MINERAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO MINERAL. CPRM, Geologia e Recursos
Minerais do Estado de Mato Grosso do Sul, Serviço Geológico do Brasil,
Campo Grande – MS, 2006.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA: SECRETARIA – GERAL, PROJETO
RADAM BRASIL, Levantamento de Recursos Naturais, Vol.28, Folha SF. 21
CAMPO GRANDE, Rio de Janeiro. 1982.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA
AMAZÔNIA LEGAL, Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai-
PCBAP. Volumes: I e II, Tomos I e II, Programa Nacional de Meio Ambiente,
1997.
SÁNCHES, Roberto O; Zoneamento Agroecológico: Bases para o
ordenamento ecológico-Paisagístico do meio rural e florestal. Cuiabá –
MT, Fundação de Pesquisas Cândido Rondon, 1991.
ROBERT, Jean, Produção; In: In: WOLFGANG, Sachs (editor), Dicionário do
desenvolvimento, Tradutores: Vera Lúcia M. Joscelyne, Susana de Gyalokay
e Jaime A. Clasen. Petrópolis - RJ, Vozes, 2000.
SHIVA, Vandana, Recursos Naturais; In: WOLFGANG, Sachs (editor),
Dicionário do desenvolvimento, Tradutores: Vera Lúcia M. Joscelyne,
Susana de Gyalokay e Jaime A. Clasen. Petrópolis - RJ, Vozes, 2000.
SILVA NETO, J. C. A. & NUNES, J. O. R. Vulnerabilidade da paisagem à perda
de solos na Bacia Hidrográfica do Rio Salobra-MS. In: Anais do IX Encontro
Nacional da Associação de Pós-graduação em Geografia ENANPEGE,
Goiânia – GO, 2011.
TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.
Recebido em 25/10/2011. Aceito em 14/05/2012.
http://www.geografia.ufpr.br/raega/
http://hidroweb.ana.gov.br/
../../../../../../../Downloads/%3chttp:/www.dgi.inpe.br/%3e,