Estudos de Acoplamento Spin-Órbita em Dinâmica do Sistema Solar Luiz Augusto Guimarães Boldrin Luiz Augusto Guimarães Boldrin Estudos de Acoplamento Spin-Órbita em Dinâmica do Sistema Solar Tese apresentada à Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, como requisito parcial para a obtenção do t́ıtulo de Doutor em F́ısica. Orientador: Prof. Dr. Othon Cabo Winter Co-orientador: Prof. Dr. Ernesto Viera Neto Guaratinguetá 2015 Dados Curriculares Luiz Augusto Guimarães Boldrin NASCIMENTO 03.08.1984 - GUARULHOS / SP FILIAÇÃO Luiz Cezar Soares Boldrin Neusa Maria Guimarães Boldrin FORMAÇÃO 2004 - 2009 Bacharelado em F́ısica FEG/UNESP - Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguetá 2009 - 2011 Mestrado em F́ısica FEG/UNESP - Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguetá 2011 - 2015 Doutorado em F́ısica FEG/UNESP - Universidade Estadual Paulista, Campus de Guaratinguetá Dedico esse trabalho aos meus pais. Agradecimentos Agradeço a todos que estiveram comigo e fizeram parte desse grande peŕıodo da minha vida. Em especial: Ao meu orientador, Dr. Othon Cabo Winter, por todos esses anos de orientação. Ao meu co-orientador, Dr. Ernesto Vieira Neto, que, além da co-orientação, desenvolveu a ferramenta computacional inicial na qual pude implementar os modelos utilizados neste trabalho. Ao Dr. Daniel J. Scheeres, que me orientou durante meu peŕıodo de estágio no exterior. Ao Dr. Rodney Gomes, que vem colaborando conosco no estudo da origem da obliquidade de Urano. Aos meus colegas de pós-graduação e à todos os professores do Grupo de Dinâmica Orbital e Planetologia. Aos meus irmãos e meus pais, em destaque ao meu irmão Luis Cesar S. Boldrin Junior, que sempre me incentivou em momentos de desânimo. À Fernanda Lopes Sá porque sem ela tudo seria muito mais dif́ıcil. Aos meus amigos de banda que me proporcionaram “a cachaça” do final de semana. Ao Marcelo Wendling por ter me ajudado nas figuras ilustrativas da tese. Ao Dr. Helton Gaspar pela ajuda em todo o trabalho. À Capes, pelo apoio financeiro que tornou posśıvel a realização desse trabalho. Este trabalho contou com o apoio financeiro da Capes. In a dark place we find ourselves, and a little more knowledge lights our way. (Mestre Yoda) BOLDRIN, L. A. G. Estudos de Acoplamento Spin-Órbita em Dinâmica do Sis- tema Solar. 2015. 111 f. Tese (Doutorado em F́ısica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2015. Resumo Realizamos dois diferentes estudos envolvendo o acoplamento spin-órbita. Um deles foi sobre a origem da obliquidade de Urano, que ainda permanece desconhecida. Algumas te- orias de formação foram publicadas nas ultimas décadas, sendo que as duas mais citadas: por meio de uma colisão (Urano sofreu uma grande colisão tangencial); e por meio de um efeito ressonante entre a rotação de Urano e um satélite. Focamos nosso estudo no modelo de ressonância. Baseado num artigo de Boué & Laskar (2010), no qual os autores estudam a ori- gem da obliquidade de Urano por meio de uma ressonância que só ocorre na presença de um satélite de grande porte (Satélite X). Fizemos um estudo numérico do problema em questão. Utilizando órbitas já integradas do Modelo de Nice, estudamos a possibilidade de obter a atual obliquidade de Urano devido a perturbações dos planetas gigantes, Sol e o Satélite X. Nossos resultados mostram que o Satélite X ocasiona crescimento na obliquidade de Urano, podendo assim ser o responsável pela atual configuração do eixo de rotação de Urano, onde esse crescimento da obliquidade ocorre somente para determinadas configurações de semi-eixo maior e massa do Satélite X, sendo máximo quando o ângulo ressonante (Ω− φ) (longitude do equador de Urano menos a longitude do nodo ascendente do Satélite X) é zero e mı́nima quando é 180 graus. Porém, assim como no estudo anterior, só foi posśıvel reproduzir a atual obliquidade de Urano com Satélite X com massas excessivamente grandes, da ordem de 0, 01 da massa de Urano. As simulações mostraram também que o Satélite X causa instabilidade no sistema de satélites internos desestabilizando-os a ponto de extingui-los. Outro estudo realizado foi sobre a origem de sistemas binários de asteroides por meio de ruptura rotaci- onal. O processo de fissão rotacional de asteroides foi estudado teoricamente por Scheeres (2007) e numericamente Jacobson & Scheeres (2011) com modelos simplificados restritos ao movimento planar. No entanto, a configuração f́ısica observada em binários de contato nos leva a concluir que a maioria deles não estão em uma configuração planar e, portanto, não seriam restritos ao movimento planar, uma vez que sofreram fissão rotacional. Isso motivou um estudo mais geral não planar sobre a evolução do fenômeno de criação de binários por fissão. Usando um modelo de dois elipsoides, fizemos simulações levando em conta as in- terações gravitacionais desse sistema após o rompimento, sem qualquer tipo de mecanismo de dissipação de energia. Simulamos 90 diferentes inclinações iniciais do equador θ0 (obli- quidade) do corpo secundário para 14 diferentes razões de massa (q). Após o rompimento, os sistemas binários começam com uma dinâmica caótica instáveis, como é previsto a partir da teoria. Iniciando o sistema numa configuração não plana, muda a configuração dinâmica do sistema, inicializando-o com maior energia, permitindo ocorrer fenômenos não encontra- dos no caso planar, como por exemplo o re-impacto. Isso levou a diferenças em relação ao estudo anterior planar, com colisões e ruptura secundária ocorrendo para todos os razões de massa escolhidas. Colisões ocorrem somente em casos com θ0 > 40o, assemelhando-se com o mecanismo Lidov-Kozai. Foram estudados 1260 casos, dos quais ≈ 16% resultam em ruptura secundária e ≈ 22% resultam em colisões. Em Jacobson & Scheeres (2011), binários estáveis via ruptura secundária são formados unicamente nos casos com q < 0, 20. Os nossos resultados mostram que é posśıvel obter um binário estável via ruptura rotacional para casos de q > 0, 20, porém o sistema tem de começar com uma configuração não planar. Palavras-chave: Urano, obliquidade, satélites, asteroides binários, ruptura rotacional. 10 BOLDRIN, L. A. G. Spin-orbit coupling studies in the Solar System Dynamics. 2015. 111 f. Tese (Doutorado em F́ısica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guara- tinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2015. Abstract We conducted two different studies about the spin-orbit coupling. One of them was about the origin of Uranus obliquity, that still remains unknown. Some theories of formations have been published in the last decades, the two most cited is: by collision (Uranus suffered a great tangential collision) and by a resonance between Uranus rotation and a satellite. We focused our study on the resonance model. Based on article of Boué & Laskar (2010), in which the authors study the origin of Uranus obliquity by a resonance that occurs only in the presence of a large satellite (Satellite X). We did a numerical study of this problem. Using orbits previously integrated by Nice Model, we studied the possibility of obtaining the current Uranus obliquity due to disturbances of the giant planets, the Sun and the Satellite X. Our results show that the Satellite X causes growth in Uranus obliquity and so may be the responsible for the current configuration of the Uranus rotation axis. And this growth of obliquity occurs only for certain configurations of semi-major axis and mass of the Sa- tellite X, and maximum when the resonant angle (Ω − φ) (Uranus’s equator longitude less the longitude of the ascending node of the Satellite X) is zero and minimal when it is 180 degrees. However, as in the previous study, it was only possible to reproduce the current Uranus obliquity with Satellite X with excessively large masses, about 0.01 mass of Uranus. The simulations also showed that Satellite X causes instability in the satellite with inter- nal orbits until extinguishing them. Another study was about the origin of binary asteroid systems through rotational fission. The process of rotational fission of asteroids has been studied theoretically Scheeres (2007) and numerically Jacobson & Scheeres (2011) with sim- plified models restricted to planar motion. However, the observed physical configuration of contact binaries leads one to conclude that most of them are not in a planar configuration and hence would not be restricted to planar motion once they undergo rotational fission. This motivated a more general non-planar study about the evolution of binaries created by fission phenomenon. Using a two-ellipsoid model, we made simulations taking into account gravitational interactions of this system after the disruption without any kind of energy dis- sipation mechanism. We simulated 90 different initial inclinations of the equator (obliquity) θ0 of the secondary body for 14 different mass ratios (q). After the disruption, the binary systems start with a unstable chaotic dynamics, as is predicted from theory. Starting the system in a non-planar configuration change the dynamic configuration of the system, initi- alizing it with greater energy, allowing occur phenomena not found in the planar case, for example re-impact. This led to differences from the previous planar study, with collisions and secondary spin fission occurring for all mass ratios chosen. Collisions occur only in cases with θ0 ≥ 40o, and resemble the Lidov-Kozai mechanism. Out of 1260 studied cases, we found ≈ 16% result in secondary disruption and ≈ 22% result in collisions. In Jacobson & Scheeres (2011) stable binaries only formed in cases with q < 0.20. Our results show that it is possible obtain a stable binary with the same mechanisms for cases of q > 0.20, but the system has to start in a non-planar configuration. Keywords: Uranus, obliquity, satellites, binary asteroid, rotational fission . 12 Lista de Figuras 2.1 Foto Itokawa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.2 Figura ilustrativa do cenário de fissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3 A energia total e o módulo do momento angular total em função de θ0 . . . . 23 2.4 Figura ilustrativa do modelo completo de dois corpos . . . . . . . . . . . . . 25 2.5 Geometria das condições iniciais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.6 Exemplo da dinâmica complexa do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 2.7 Comportamento da velocidade angular em encontros próximos. . . . . . . . . 30 2.8 Comportamento caótico do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 2.9 Estados finais e extremos q = 0, 01. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.10 Estados finais e extremos q = 0, 15. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2.11 Estados finais e extremos q = 0, 25. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.12 Gráficos de < tv > em função de q. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 2.13 Gráficos de < Tmin > e < V∞ > em função de q. . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.14 Gráficos de If , Tmin e tv em função de q para θ0= 0,0001, 30, 60 e 90 graus. . 39 3.1 Figura dos resultados de Boué & Laskar (2010) . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.2 Figura ilustrativa do modelo de N-corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.3 Evolução temporal da inclinação orbital durante o tombo forçado . . . . . . 48 3.4 Gráfico de re × tT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.5 Movimento de rotação de Urano: Integração direta com todos os corpos . . . 51 3.6 Movimento de rotação de Urano: Integração direta sem os planetas . . . . . 51 3.7 Movimento de rotação de Urano: Integração direta sem o Satélite X . . . . . 52 3.8 Evolução orbital dos planetas via Modelo de Nice . . . . . . . . . . . . . . . 55 3.9 Evolução orbital do Satélite X. Semi-eixo maior inicial igual à 30RU . . . . . 56 3.10 Evolução orbital do Satélite X. Semi-eixo maior inicial igual à 40RU . . . . . 57 3.11 Evolução orbital do Satélite X. Semi-eixo maior inicial igual à 50RU . . . . . 58 3.12 Evolução orbital do Satélite X. Semi-eixo maior inicial igual à 60RU . . . . . 59 3.13 Evolução temporal de (Ω− φ) e θ de Urano: Caso a1, M4. . . . . . . . . . . 59 3.14 Evolução temporal de (Ω− φ) e θ de Urano: Caso a2, M4. . . . . . . . . . . 60 3.15 Evolução temporal de (Ω− φ) e θ de Urano: Caso a4, M1. . . . . . . . . . . 61 3.16 Evolução orbital do Satélite X. Estudo longitude média. Caso: a4, m1. . . . 63 3.17 Evolução orbital do Satélite X. Estudo longitude média. Caso: a4, m2. . . . 64 3.18 Evolução orbital do Satélite X. Estudo longitude média. Caso: a4, m3. . . . 65 3.19 Evolução orbital do Satélite X. Estudo longitude média. Caso: a4, m4. . . . 66 3.20 Evolução temporal de (Ω− φ) e θ de Urano: Caso a4, M2 e λ = 180o. . . . . 66 3.21 Evolução orbital de Oberon. Casos que os satélites sobrevivem. . . . . . . . 68 13 3.22 Evolução orbital do Satélite X para os casos com e sem Oberon. . . . . . . . 69 3.23 Evolução orbital dos Satélites X e dos 5 satélites naturais . . . . . . . . . . . 70 3.24 Evolução do sistema durante encontros próximos com Júpiter . . . . . . . . 72 A.1 Figura ilustrativa para o desenvolvimento das equações de movimento 1 . . . 81 A.2 Figura ilustrativa para o desenvolvimento das equações de movimento 2 . . . 84 14 Lista de Tabelas 2.1 Tabela com as porcentagem de colisão e ruptura secundária para cada q . . . 37 3.1 Condições iniciais de Urano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2 Condições iniciais: estudo integração direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.3 Condições iniciais dos satélites naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 3.4 Condições iniciais dos Satélites X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 15 Conteúdo Lista de Figuras 14 Lista de Tabelas 15 1 Introdução 18 2 Formação de asteroides duplos por meio de ruptura rotacional 20 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.1.1 Cenário de fissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.2 Modelo Utilizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.2.1 Problema completo de dois corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.2.2 Condições iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2.2.3 Conservação da energia e do momento angular . . . . . . . . . . . . . 28 2.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.3.1 Evolução temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.3.2 Estados finais e extremos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3 Origem da obliquidade de Urano 41 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.1.1 Modelo de Nice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.2 Modelos Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.2.1 Problema de N-Corpos com o corpo central elipsoidal . . . . . . . . . 44 3.2.2 Modelo de tombo forçado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.3.1 Estudo preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.3.2 Variação da obliquidade via ressonância com Satélite X . . . . . . . . 50 Integração simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Via Modelo de Nice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 a- Dependência da massa e semi-eixo maior inicial do Satélite X: 53 b- Sensibilidade da longitude média inicial do Satélite X: . . . 62 c- Satélite X mais Oberon: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 d- Satélites naturais e alguns Satélites X: . . . . . . . . . . . . 70 e-Efeito de encontros próximos com Júpiter: . . . . . . . . . . 71 3.4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 16 Apêndice 79 A Desenvolvimento das Equações de Movimento 80 A.1 Problema completo de dois corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 A.2 Problema de N-Corpos com o corpo central elipsoidal . . . . . . . . . . . . . 84 A.3 Movimento rotacional: Torque devido à n-corpos . . . . . . . . . . . . . . . . 86 B Momento angular e energia total 89 B.1 Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 B.2 Momento angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 17 Caṕıtulo 1 Introdução O movimento rotacional1 do corpo central acoplado com o movimento orbital dos corpos orbitantes durante muito tempo não foi foco de estudos devido sua tamanha complexidade. As primeiras tentativas para descrever sistemas dessa forma foram feitas por Brouwer (1959) e Kozai (1960). Um trabalho de destaque foi realizado por Goldreich (1965) ao estudar o movimento orbital dos satélites de Marte. Nesse estudo, foi levado em conta a evolução orbital dos satélites Phobos e Deimos em torno de Marte com movimento de precessão. Grandes trabalhos envolvendo o estudo sobre o movimento rotacional dos corpos do Sistema Solar foram publicados nas últimas décadas. Entre eles, destacam-se o trabalho realizado por Laskar et al. (1993), que mostra efeito estabilizante que a Lua tem no movimento de nutação (analisado através da variação da obliquidade2) da Terra de modo a proporcionar pequenas variações da temperatura terrestre e, consequentemente, condições para o desenvolvimento de vida humana no planeta e o trabalho de Lissauer et al. (2012) que posteriormente contestou os resultados de Laskar et al. (1993) mostrando que a não necessidade da Lua para a baixa amplitude no movimento de nutação da Terra. Outro trabalho famoso foi desenvolvido por Wisdom et al. (1984), no qual é mostrado o comportamento caótico no movimento de atitude de Hyperion. Porém, esse e outros trabalhos foram sempre modelados de forma aproximada e sem levar em conta a perturbação mútua entre o satélite e o bojo do corpo central. Essa perturbação mútua para sistemas com pequenas razões de massa tem que ser levada em consideração. Explicando o acoplamento spin-órbita de uma forma mais minuciosa, 1definindo movimento rotacional (ou somente movimento de rotação) como sendo o movimento completo de um corpo ŕıgido, composto pela rotação (spin), nutação e precessão. Frequentemente chamado de movi- mento de atitude do corpo. 2a obliquidade é definida como sendo o ângulo entre plano de equador e o plano da órbita do corpo, onde o plano de equador é definido como o plano perpendicular ao eixo de rotação. Porém, neste trabalho trataremos a obliquidade como sendo o ângulo entre o plano do equador do corpo e o plano de referência inercial, onde o equador é o plano xy do sistema dos eixos principais de inércia. Em alguns momentos chamaremos a obliquidade também de inclinação do equador. 18 considerando em principio somente dois corpos (um central e outro satélite), esse problema trata a dinâmica orbital do satélite perturbado pelo corpo central não esférico com movimento rotacional, juntamente com a dinâmica rotacional desse corpo central. Assim, esses dois movimentos funcionam de forma acoplada havendo interação mútua entre eles, conservando a energia e o momento angular total do sistema. No entanto, obter soluções anaĺıticas para esses problemas mais reaĺısticos não é trivial. Entretanto, com o avanço tecnológico, criaram-se ferramentas computacionais que possibilitam estudos numérico desses problemas de maior complexidade. Mais recentemente, um modelo desse problema, somente integrado numericamente, foi desenvolvido por Boué & Laskar (2006) no qual possibilitou os autores a publicação de um estudo sobre a origem da obliquidade de Urano perturbado por um satélite de grande porte (Boué & Laskar 2010). Com o intuito de dar continuidade aos nossos estudos sobre o sistema triplo de asteroide 87 Sylvia (Winter et al. 2009), desenvolvemos uma ferramenta computacional para estudar sistemas de N-corpos orbitando um corpo de forma elipsoidal com movimento de atitude perturbado por esses N-corpos. Esse programa foi utilizado para estudar o movimento orbital de satélites de sistemas triplos de asteroides acoplado com o movimento rotacional do corpo central. Os sistemas triplos estudados foram o 87 Sylvia e o 45 Eugenia (Boldrin 2011). Apresentaremos nesta tese dois trabalhos que são continuidade de nossos estudos envol- vendo acoplamento spin-órbita em problemas de dinâmica do Sistema Solar. Um trabalho é sobre a origem da obliquidade de Urano e outro sobre a formação de asteroides duplos por meio de ruptura rotacional. 19 Caṕıtulo 2 Formação de asteroides duplos por meio de ruptura rotacional 2.1 Introdução O estudo de asteroides múltiplos é uma grande chave para o conhecimento do passado do Sistema Solar, uma vez os mesmos são remanescentes da formação planetária. Desde a descoberta do primeiro sistema binário Dactyl e (243) Ida (Chapman et al. 1995), mui- tos estudos têm sido feitos para entender a dinâmica e origem de tais sistemas múltiplos. Analisando a estrutura de asteroides tipo rubble pile (tipo de asteroide formado por uma coleção de pedras de diferentes tamanhos fracamente ligadas por força gravitacional), foi proposto um modelo de criação por meio de quebra por aumento da taxa de rotação do asteroide, ou seja, o asteroide do tipo rubble pile se quebra em casos que a força centŕıfuga se torna maior que a força de contato entre os corpos. Esse fenômeno de quebra nós cha- mamos de ruptura rotacional. Um modo de ocorrer esse aumento é quando o corpo possui encontros próximos com os planetas. No entanto, encontros próximos com os planetas prova- ram não ser suficiente para a criação da população atual de sistemas binários (Margot et al. 2002, Walsh & Richardson 2008). Outro modo é o aumento da velocidade de rotação devido a reemissão do calor absorvido pela incidência da luz solar, conhecido como o efeito YORP (Yarkovsky-O’Keefe Radzievskii-Paddack). Alguns trabalhos têm sido feitos a fim de estudar o efeito YORP em asteroide tipo rubble pile (Merline et al. 2002, Scheeres 2002, Bottke et al. 2002, Walsh & Richardson 2006). Usando um modelo com um elipsoide e uma esfera, em um caso planar, Scheeres (2007) estudou limites de fissão (limite de rotação para ocorrer fissão) e a estabilidade deste tipo de sistema para diferentes condições iniciais. Depois disso, o mesmo autor estudou estabilidade do binário formado por fissão usando um modelo planar de dois elipsoides (Scheeres 2009). Caso planar é quando os corpos possuem inclinação orbital 20 igual a zero e os bojos, eixos de maior dimensão do elipsoide, coincidem com o plano orbital. Pravec et al. (2010) fez um estudo bastante completo sobre a formação de pares de asteroi- des através da fissão por rotação. Jacobson & Scheeres (2011) estudaram criação de binários por fissão rotacional analisando a formação de vários tipos de sistemas NEA (Near Earth Asteroid : asteroides com órbitas próximas da Terra, com semi-eixos maiores menores que 1, 3UA) incluindo: binários duplamente śıncronos, binários de alta excentricidade, sistemas triplos e binários de contato. Os autores estudaram a dinâmica logo após a quebra. Usando um modelo de dois elipsoides, levando em conta interação gravitacional (incluindo o Sol) e dissipação por marés, eles analisaram a dinâmica de criação de binários estáveis, para o caso planar, para diferentes razões de massa do sistema. Observando esses trabalhos anteriores e percebendo que em todos os casos só foram levados em conta casos planares, nós decidimos fazer um trabalho semelhante ao Jacobson & Scheeres (2011) em configurações mais natural- mente prováveis, ou seja, em casos não-planares levando em conta o movimento de rotação de cada corpo e comparar com os resultados obtidos por Jacobson & Scheeres (2011). Após o rompimento, o sistema binário se inicia com dinâmica (rotacional e orbital) instável (Scheeres 2009). Para estabilizar o sistema, é necessário que a energia diminua. Assim, se a velocidade de rotação de um dos membros do binário aumentar por interações dinâmicas (acoplamento spin órbita) e a velocidade de rotação se tornar maior do que o velocidade de rotação limite (ou menor que o peŕıodo de spin limite, que chamamos de peŕıodo de ruptura Tr), uma segunda fissão (fissão secundária) pode ocorrer. O sistema triplo criado após a segunda fissão também é instável, mas o escape de um dos membros altera a energia do sistema e pode estabilizar o sistema binário. Obviamente, as colisões também podem diminuir a energia. Assim, o objetivo principal deste presente trabalho é estudar a criação de um binário via fissão secundária e re-impacto, analisando a percentagem que ocorre cada caso. O modelo matemático utilizado para a realização desse estudo será apresentado na seção 2.1 e os resultados na seção 3.1. 2.1.1 Cenário de fissão Asteroides do tipo Rubble pile são constitúıdos por um aglomerado de pedras com ta- manhos diferentes que se uniram sob a influência da gravidade. Um binário de contato é composto por dois corpos principais encostado um sobre o outro. Um asteroide pode ser tanto uma pilha de escombros, tanto um binário de contato. Um excelente exemplo de asteroide de contato é o asteroide 25143 Itokawa (figura 2.1). A velocidade de rotação de um asteroide pode ser aumentada pelo efeito YORP até atingir o seu limite de fissão de modo que uma quebra ocorra, criando assim um asteroide binário. A 21 Figura 2.1: Foto do asteroide Itokawa extráıda do artigo de Scheeres (2007). Podemos observar que Itokawa é predominantemente composto por dois corpos maiores, classificado como asteroide de contato, com densidade 2, 9g/cm3. ωb ω0c ω0s Figura 2.2: Figura para ilustrar o cenário de fissão. O binário de contato quando adquire velocidade de rotação maior que a velocidade limite de fissão ocorre a quebra e um sistema binário é formado. 22 3.79 3.8 3.81 3.82 3.83 3.84 3.85 3.86 3.87 3.88 3.89 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 6.4 6.405 6.41 6.415 6.42 6.425 6.43 6.435 6.44 6.445 6.45 En er gi a (1 010 J ) M om en to A ng ul ar (1 014 k g. m 2 /s ) θ0 (graus) Energia Momento Figura 2.3: A energia total e o módulo do momento angular total do sistema em função obliquidade inicial θ0 para um . Note que a energia é maior e o momento angular é menor para maiores valores de θ0. As condições iniciais: corpo central com dimensões (a(c) = 1km, b(c) = 0, 7km, c(c) = 0, 65km); densidade (d = 2, 0g/cm3); razão de massa (q = 0, 1); peŕıodo de rotação inicial T = 5, 3586h. figura 2.2 ilustra isso com um modelo de dois elipsoides encostado um no outro com diferentes orientações tais que, após a ruptura os corpos têm obliquidades iniciais diferentes de zero. Estes cenários diferentes iniciam os sistema com diferentes energias e momentos angulares. A energia é maior e o momento (em módulo) é menor para obliquidades maiores (θ), resultando em um comportamento diferente na dinâmica translacional (orbital) e rotacional, vide figura 2.3. 2.2 Modelo Utilizado Para este estudo utilizamos o modelo completo de dois corpos, no qual foi integrado nu- mericamente usando o método Bulirsch-Stoer (Press et al. 2007). O modelo está apresentado abaixo e o desenvolvimento das equações do movimento estão apresentadas no Apêndice. 2.2.1 Problema completo de dois corpos Ao estudar a formação de binários por ruptura rotacional estamos interessados na evolução orbital e rotacional (problema completo) de duas grandes partes de um asteroide logo após sua ruptura. Consideramos apenas as interações gravitacionais entre os corpos e adotamos um modelo do problema completo de dois elipsoides com densidade uniforme. Não levamos 23 em conta efeitos não-gravitacionais como YORP, BYORP e dissipação por maré. A figura 2.4 mostra um esquema do modelo com os sistemas de referência. O problema completo de dois corpos consiste em estudar os movimentos orbital e ro- tacional de forma acoplada, de dois corpos de forma elipsoidal. A equação do movimento de translação desses dois corpos pode ser expressa utilizando o potencial gravitacional ex- pandido até à segunda ordem em termos de harmônicos esféricos C20 (achatamento) e C22 (elipticidade). Assim, com o sistema de coordenadas centrado no centro de massa de um dos corpos (corpo central), a equação tem a forma (Beutler 2005): �̈r = −μ �r r3 + μT T (c) �∇′U (c) 2 + μT T (s) �∇′U (s) 2 (2.1) onde μ = k2 (mc +ms), �r é o vetor posição, �∇ é o gradiente da função, mi são as massas dos corpos, k2 é a constante gravitacional, T(i) é a matriz de rotação entre não girante do corpo (x, y, z) e o sistema dos eixos principais de inércia (SEPI) sistema (x′, y′, z′), ou seja (′) significa que as coordenadas estão com respeito ao SEPI. U (i) 2 é o potencial gravitacional, onde i = c para o corpo central e s para corpo secundário. O sistema não girante centralizado no corpo central também é chamado de pseudo-inercial (SPsI), pois não se encontra no baricentro do sistema, mas não possui rotação, assim ele é inercial se tratando do movimento de rotação, portanto podemos estudar a rotação do corpo neste referencial. O potencial gravitacional U (i) 2 é dado por: U (i) 2 = R2 (i) r3 [ C (i) 20 2 ( 3z′2 r2 − 1 ) + 3C (i) 22 ( x′2 − y′2 r2 )] . (2.2) Considerando a densidade constante e homogênea para os dois corpos, podemos obter os coeficientes gravitacionais C (i) 20 e C (i) 22 usando as dimensões do elipsoide (a(i), b(i), c(i)) C (i) 20 = − 1 5R2 (i) ⎡ ⎣c2(i) − ( a2(i) + b2(i) ) 2 ⎤ ⎦ , C (i) 22 = 1 20R2 (i) ( a2(i) − b2(i) ) , (2.3) onde R(i) é o raio equatorial médio do elipsoide. A matriz do rotação T(i) usada é escrita da forma: T = ⎛ ⎜⎝ η21 − η22 − η23 + η24 2(η1η2 + η3η4) 2(η1η3 − η2η4) 2(η2η1 − η3η4) −η21 + η22 − η23 + η24 2(η2η3 + η1η4) 2(η3η1 + η2η4) 2(η3η2 − η1η4) −η21 − η22 + η23 + η24 ⎞ ⎟⎠ , (2.4) 24 z y c c xc y’c z’c x’c ys y’s z s x’s xs z’s ωc θ c φc ψc ωs θ s φs ψ s r Figura 2.4: Figura ilustrativa do modelo usado para estudar a dinâmica completa (rotacional e orbital) de dois elipsoides. Os elipsoides vermelho e azul representam o corpo central e o corpo secundário, respectivamente. Os sub-́ındices c e s indicam que as grandezas estão em relação ao corpo central e secundário, respectivamente, e, (’) (linha) significa que as coordenadas estão no sistema dos eixos principais de inércia (SEPI). O sistema na cor preta é o sistema inercial (SI). É importante ressaltar que estes sistemas não são exatamente sistemas inerciais, porque eles não estão no baricentro do sistema. Este tipo de sistema é frequentemente chamado na literatura de sistema pseudo-inercial, porque não é inercial se tratando do movimento de translação, mas pode ser considerado inercial no movimento rotacional. Sendo assim, podemos utilizar estes sistemas para estudar o movimento de rotação usando a variação temporal dos ângulos de Euler (φ, θ, ψ). O vetor �ω é o vetor velocidade angular do corpo. 25 onde (η1, η2, η3, η4) são os quatérnios. Para estudar o movimento de rotação, usamos as equações de Euler com torque gravita- cional devido à um outro corpo (Beutler 2005), ⎛ ⎜⎝ ω̇′ x ω̇′ y ω̇′ z ⎞ ⎟⎠+ ⎛ ⎜⎝ γ1ω ′ yω ′ z γ2ω ′ zω ′ x γ3ω ′ xω ′ y ⎞ ⎟⎠ = 3k2md r5d ⎛ ⎜⎝ γ1y ′ dz ′ d γ2z ′ dx ′ d γ3x ′ dy ′ d ⎞ ⎟⎠ , (2.5) onde md é a massa do corpo perturbador, rd é o módulo do vetor posição do corpo pertur- bador, (x′ d, y ′ d, z ′ d) as coordenadas do corpo perturbador, γ1 = (C − B)/a, γ2 = (A − C)/B, γ3 = (B −A)/C; e A, B e C são os momentos principais de inércia do corpo, e ω′ x, ω ′ y, ω ′ z são as componentes da velocidade angular. Como estamos interessados no movimento de atitude do corpo, precisamos da variação temporal dos ângulos de Euler (φ, θ, ψ), que são os ângulos que relacionam o SEPI do corpo em relação ao SPsI, vide figura 2.4. Há uma relação direta entre as componentes da velocidade angular e a variação temporal dos ângulos de Euler, porém essa relação possui singularidades (termos cosec θ = 1 sen θ ), vide equação abaixo: ⎛ ⎜⎝ φ̇ θ̇ ψ̇ ⎞ ⎟⎠ = ⎛ ⎜⎝ − cotg θ senφ cosφ cotg θ 1 cosφ senφ 0 cosec θ senφ − cosφ cosec θ 0 ⎞ ⎟⎠ ⎛ ⎜⎝ ωx ωy ωz ⎞ ⎟⎠ . (2.6) Para evitar essas singularidades, decidimos trabalhar com os quatérnios e, a partir deles, obter ângulos de Euler. A equação da variação temporal dos quatérnios em função das componentes da velocidade angular é escrita no forma (Wertz 1978): η̇1 = 1 2 ( η4ω ′ x − η3ω ′ y + η2ω ′ z ) , (2.7) η̇2 = 1 2 ( η4ω ′ y − η1ω ′ z + η3ω ′ x ) , (2.8) η̇3 = 1 2 ( η4ω ′ z − η2ω ′ x + η1ω ′ y ) , (2.9) η̇4 = −1 2 ( η1ω ′ x + η2ω ′ y + η3ω ′ z ) . (2.10) Note que as equações do movimento de rotação (equações 2.5 - 2.10) são apenas para um corpo, portanto precisamos de dois conjuntos de equações, um para cada corpo. Seguem abaixo as equações que relacionam os ângulos de Euler (φ, θ, ψ), sequência 3-1-3, 26 e os quatérnios (η1, η2, η3, η4) (Wertz 1978). ⎛ ⎜⎝ φ θ ψ ⎞ ⎟⎠ = ⎛ ⎜⎜⎜⎝ arctg ( η1η3+η4η2 η4η1−η2η3 ) 2 arctg (√ η21+η 2 2 η24+η 2 3 ) arctg ( η1η3−η4η2 η4η1+η2η3 ) ⎞ ⎟⎟⎟⎠ , (2.11) ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎝ η1 η2 η3 η4 ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎠ = ⎛ ⎜⎜⎜⎜⎝ cos ( θ 2 ) cos ( φ+ψ 2 ) sen ( θ 2 ) cos ( φ−ψ 2 ) sen ( θ 2 ) sen ( φ−ψ 2 ) cos ( θ 2 ) sen ( φ+ψ 2 ) ⎞ ⎟⎟⎟⎟⎠ , (2.12) 2.2.2 Condições iniciais Observando as equações do movimento, notamos que são necessários muitos parâmetros iniciais para executar as simulações. Os parâmetros são: posição inicial e velocidade do corpo secundário (rx, ry, rz, vx, vy, vz), velocidade de rotação (ω′ x, ω ′ y, ω ′ z), dimensões, massa, orientação inicial (ângulos de Euler) de cada corpo. Fixamos as dimensões do corpo central (a(c) = 1km, b(c) = 0, 7km, c(c) = 0, 65km) e a densidade (d = 2, 0g/cm3), considerados bons valores comparados com trabalhos anteriores (Jacobson & Scheeres 2011, Pravec et al. 2010). Foram utilizadas 14 diferentes valores de razão de massa (q ≡ ms/mc): q1 = 0, 01; q2 = 0, 05; q3 = 0, 1; q4 = 0, 15; q5 = 0, 16; q6 = 0, 17; q7 = 0, 18; q8 = 0, 19; q9 = 0, 20; q10 = 0, 21; q11 = 0, 22; q12 = 0, 23; q13 = 0, 24 e q14 = 0, 25. Para as dimensões do corpo secundário, usamos as relações a(s) = q1/3a(c), b(s) = q1/3b(c) e c(s) = q1/3c(c). A velocidade de rotação que usamos é �ω = (0, 0, ω0), onde ω0 é a taxa de rotação na configuração de equiĺıbrio que obtemos pela relação (Scheeres 2009): ω0 = [ μ r3 [ 1 + 3 2r2 [ 1 m(c) Tr(Ī(c)) + 1 m(s) Tr(Ī(s))− 3 ( A(c) + A(s) )]]]1/3 , (2.13) onde Ī(i) é o tensor de inércia do corpo, e Tr é o traço da matriz. Finalmente, a velocidade de rotação no SEPI é �ω′ i = Ti �ω. A posição inicial do corpo secundário é �r = (r0, 0, 0) onde r0 = (a(c)+a(s)+1×10−5)km (1cm de distância entre as superf́ıcies no caso planar, vide figura 2.5), e a velocidade inicial é de �v = �ω × �r. Para cada razão de massa foram consideradas 90 diferentes valores da inclinação do equador (θ0) para o corpo θ(s) = 0, 1, 2, 3 . . . , 90 graus, vide figura 2.5. 27 z c xc z s xs z c xc z s xs θ (a) (b) Figura 2.5: Geometria das condições iniciais. A figura (a) mostra o caso planar, θ0 = 0 (Jacobson & Scheeres 2011) e figura (b) mostra o caso não planar θ0 �= 0. 2.2.3 Conservação da energia e do momento angular Sabendo que a energia total e o momento angular total do sistema têm que ser conservado e, a fim de ter a certeza da validade de nossas simulações, nós fizemos alguns testes calculando a energia e momento angular total do sistema. Os resultados mostraram que as quantidades são conservadas com erro relativo da ordem de ≈ 10−11 para a energia e ≈ 10−12 para o momento angular. 2.3 Resultados 2.3.1 Evolução temporal Para mostrar como é o comportamento dinâmico dos casos que estudamos fizemos algumas figuras mostrando a evolução dinâmica de um exemplo de nossas simulações. A figura 2.6 mostra a evolução temporal do caso com razão de massa igual a 0,1 e obliquidade inicial do corpo secundário igual a 45o. Note que a variação irregular e abrupta dos elementos orbitais e dos ângulos de Euler mostram a complexidade da dinâmica orbital e rotacional do sistema. Esta complexidade ocorre porque a órbita inicial começa numa configuração de equiĺıbrio instável (Scheeres 2007) e o movimento de rotação é também uma configuração instável, pois a direção da velocidade de rotação não coincide com o eixo de maior momento de inércia. Esta configuração inicial ocorre porque a direção inicial da velocidade de rotação é sempre no mesmo sentido da velocidade de rotação antes da ruptura (ver figura 2.2). 28 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 0 2 4 6 8 10 a (k m ) t (dias) 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 0 2 4 6 8 10 e t (dias) 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 0 2 4 6 8 10 I ( gr au s) t (dias) 0 50 100 150 200 250 300 350 0 2 4 6 8 10 φ (g ra us ) t (dias) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 2 4 6 8 10 θ (g ra us ) t (dias) Figura 2.6: Elementos orbitais a, e e I, e os ângulos de Euler θ (ângulo de nutação) e φ (ângulo de precessão) do corpo secundário em função do tempo em um peŕıodo 10 dias. A obliquidade inicial é θ = 45o e a razão em massa é q = 0, 1. Analisando os elementos orbitais e os ângulos de Euler, podemos concluir movimento orbital e rotacional (nutação e precessão) mostram um comportamento complexo. 29 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 50 100 150 200 80 90 100 110 120 130 140 150 160 ω (g ra us /h ) r ( km ) t (h) r ω Figura 2.7: O módulo da velocidade de rotação (ω) e o módulo do vetor posição em função do tempo. Note as mudanças de velocidade de rotação abruptas quando ocorre o encontro próximo (valor mı́nimo de r). Também fizemos um gráfico para mostrar o comportamento da velocidade de rotação do corpo secundário durante encontros próximos com o corpo central (figura 2.7). Note que a velocidade de rotação muda abruptamente quando a distância é mı́nima. A velocidade de rotação pode aumentar ou diminuir dependendo da orientação relativa dos corpos durante o encontro (Scheeres et al. 2000). A evolução dinâmica do sistema é completamente caótica. Assim, uma pequena diferença na condição inicial causa um evolução dinâmica totalmente diferente. A figura 2.8 mostra a elevada sensibilidade do sistema para a inclinação inicial do equador do corpo secundário. Esta figura ainda mostra a evolução do semi-eixo maior de dois casos com uma pequena diferença de 0, 01o nos valores iniciais de θ. Note que os dois comportamentos divergem fortemente depois de apenas alguns dias. 30 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 50 100 150 200 250 a (k m ) tempo (h) θ0=45.00o θ0=45.01o Figura 2.8: Evolução temporal do semi-eixo maior de dois valores iniciais diferentes de obli- quidade (θ0 = 45, 00o (vermelho) e θ0 = 45, 01o (verde)). Observe que a figura ilustra claramente o comportamento caótico do sistema no qual os semi-eixos maior de cada caso divergem fortemente após alguns dias. 31 2.3.2 Estados finais e extremos Nesta seção vamos analisar os estados finais e extremos de nossas simulações. Estados finais são os estados após o corpo secundário sofrer escape ou no momento da colisão e os estados extremos são os valores mı́nimos ou máximos de uma variável durante a simulação. Com estes valores podemos obter informações importantes sobre o sistema, tais como a possibilidade de criação de um sistema triplo. Para mostrar exemplos dos resultados que podemos obter, fizemos algumas figuras dos estados extremos e finais para 3 diferentes razões de massa q = 0, 01 (valor baixo), q = 0, 15 (valor médio) e q = 0, 25 (valor grande), para os 90 valores diferentes de θ0. As figuras 2.9, 2.10 e 2.11 apresentam a energia, a velocidade no infinito (V∞) para os casos de escape, o estado final do peŕıodo de rotação (Tf ), o tempo de vida (tv), estado final da inclinação orbital (If ) e peŕıodo mı́nimo de rotação durante a simulação (Tmin) para q = 0, 01, q = 0, 15 e q = 0, 25, respectivamente. Foi colocado nos gráficos de Tf e Tmin duas retas que indicam o peŕıodo de rotação inicial (T (t = 0)) e o peŕıodo de rotação necessário para ocorrer a segunda ruptura (Tr). Assim, os casos com Tmin < Tr indicam que a ruptura secundária ocorre. Podemos fazer algumas conclusões gerais em algumas variáveis comparando esses três diferentes sistemas. As variáveis tv, Tf , e Tmin são diretamente proporcional à razão de massa do sistema, em outras palavras, elas são maiores para valores maiores de q. Para melhor compreender o comportamento geral de nossos resultados, fizemos gráficos da média de algumas destas variáveis com os seus respectivos desvios-padrão, vide figuras 2.12 e 2.13. Nestas figuras é claro ver que o < TMin >, < tl > e < If > são diretamente proporcionais, e, < V∞ > é inversamente proporcional à razão entre a massa q. Isso significa que os casos com grandes razões de massa tendem a ter uma vida mais longa, maior inclinação final e menos casos de ruptura secundária do que os casos com baixa de razão de massa. É importante citar que esse comportamento geral concorda com o estudo planar de Jacobson & Scheeres (2011). Para entender como a evolução do sistema depende da inclinação inicial do equador θ0, nós escolhemos quatro valores diferentes de θ0: dois valores extremos (0,0001 e 90 graus) e dois médios (valores de 30 e 60 graus). Em seguida fizemos simulações utilizando ummaior número de razões de massa q, mostrado na Figura 2.14. Obviamente, como dito anteriormente, estes sistemas são caóticos, por isso não podemos tirar conclusões fortes relacionando a dinâmica do sistema com suas condições iniciais. No entanto, podemos concluir que If tende a ser maior nos valores médios de θ0 (azul e linhas verdes) que pode ser explicado devido ao troca de momento angular de rotação e momento angular orbital. Nós também podemos concluir comportamentos semelhantes em TMin para todo valor de θ0. Se pensarmos no comportamento médio, casos com θ0 = 60o tende a ter uma vida mais longa do que os outros 32 casos. As colisões e as fissões secundárias são de extrema importância para o nosso trabalho, uma vez que os fenômenos que podem levar o sistema inicialmente instável se tornar um binário estável. Começando com os casos de colisões podemos dizer que os resultados concordam com os estudos anteriores (Scheeres 2009), já que não obtivemos colisões em casos planares (θ0 = 0). Por outro lado, há colisões e ruptura secundária para todas as outras razões de massa escolhidas. As figuras 2.9, 2.10 e 2.11 mostram uma caracteŕıstica interessante: colisões ocorrem somente em casos com θ0 ≥ 50o (na verdade, nós observamos em colisão casos com θ0 = 40o para q = 0, 17). Este fenômeno se assemelha ao mecanismo de Lidov-Kozai (Kozai 1962, Lidov 1962), merecendo um estudo futuro mais cauteloso. Calculamos a frequência de casos que produziram colisões e ruptura secundária e relatamos esses resultados na tabela 2.1. Note na tabela 2.1 que, embora tenha pequenas oscilações em grandes valores de q, podemos concluir que o comportamento geral da percentagem de colisão é diretamente proporcional e ruptura secundária é inversamente proporcional à razão de massa q. Essa pequena oscilação no comportamento geral é claramente observado em q = 0, 18 e q = 0, 21, no qual podem ser entendidas devido ao comportamento caótico do sistema. Casos de colisão, como foi dito antes, não ocorrem em casos planares, mas em casos não-planares pelo menos 4, 4% das simulações terminou em colisão. O caso q = 0, 20, por exemplo, tem 32, 2% ocorrem colisão, ou seja, quase um terço de colisões. Um importante resultado encontrado foi que obtivemos ruptura secundária em casos com q > 0, 20. Jacobson & Scheeres (2011) não encontraram ruptura secundária em casos de q > 0, 20, e sua conclusão foi que esses sistemas só podem se tornar um binário estável através de efeito BYORP ou efeito dissipativo por marés, entretanto nossos resultados mostraram que para o caso não planar isso não é verdade. Em outras palavras, é posśıvel obter binários estáveis para q > 0.20 através de um processo dinâmico (ruptura secundária ou colisão), mas com baixa probabilidade. Isso significa que o sistema com grande razão entre as massas pode se tornar um binário estável somente por processo dinâmico, em alguns casos na configuração inicial não planar. 33 10.1605 10.161 10.1615 10.162 10.1625 10.163 10.1635 10.164 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 E ne rg ia (1 010 J ) θ0 (graus) q=0,01 (a) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 V ∞ (k m /h ) θ0 (graus) (b) 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 T f ( h) θ0 (graus) (c) 0 50 100 150 200 250 300 350 400 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 t v (d ia s) θ0 (graus) (d) 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 I f (g ra us ) θ0 (graus) (e) 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 T m in (h ) θ0 (graus) Escape Colisao T(t=0) Tr (f) Figura 2.9: Os estados finais e extremos do corpo secundário em função da obliquidade inicial (θ0) para o caso com razão de massa q = 0, 01. Apresentamos nesta figura a energia total, a velocidade no infinito (V∞) para os casos de escape, o peŕıodo de rotação final (Tf ), o tempo de vida (tv), inclinação orbital final (If ) e o valor mı́nimo do peŕıodo de rotação durante a simulação (Tmin). Onde em vermelho são os casos que ocorrem escape e em verde são os casos que ocorrem colisão. Há duas linhas onde uma delas indica o valor do peŕıodo de spin inicial (T (t = 0)) e o outro é o peŕıodo limite para que ocorra fissão do segundo corpo (chamado de peŕıodo limite de ruptura Tr), assim, casos em que Tmin possuem valores abaixo da Tr ocorrem ruptura secundária. Neste caso (q = 0, 01) 83% ocorrem ruptura secundária. 34 2.74 2.76 2.78 2.8 2.82 2.84 2.86 2.88 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 E ne rg ia (1 010 J ) θ0 (graus) q=0,15 (a) 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 V ∞ (k m /h ) θ0 (graus) (b) 0 5 10 15 20 25 30 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 T f ( h) θ0 (graus) (c) 0 100 200 300 400 500 600 700 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 t v (d ia s) θ0 (graus) (d) 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 I f (g ra us ) θ0 (graus) (e) 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 T m in (h ) θ0 (graus) Escape Colisao T(t=0) Tr (f) Figura 2.10: Os estados finais e extremos do corpo secundário em função da obliquidade inicial (θ0) para o caso com razão de massa q = 0, 15. Apresentamos nesta figura a energia total, a velocidade no infinito (V∞) para os casos de escape, o peŕıodo de rotação final (Tf ), o tempo de vida (tv), inclinação orbital final (If ) e o valor mı́nimo do peŕıodo de rotação durante a simulação (Tmin). Onde em vermelho são os casos que ocorrem escape e em verde são os casos que ocorrem colisão. Há duas linhas onde uma delas indica o valor do peŕıodo de spin inicial (T (t = 0)) e o outro é o peŕıodo limite para que ocorra fissão do segundo corpo (chamado de peŕıodo limite de ruptura Tr), assim, casos em que Tmin possuem valores abaixo da Tr ocorrem ruptura secundária. Neste caso (q = 0, 15) 11, 1% ocorrem ruptura secundária. 35 0.64 0.66 0.68 0.7 0.72 0.74 0.76 0.78 0.8 0.82 0.84 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 E ne rg ia (1 010 J ) θ0 (graus) q=0,25 (a) 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0 10 20 30 40 50 60 70 80 V ∞ (k m /h ) θ0 (graus) (b) 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 T f ( h) θ0 (graus) (c) 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 t v (d ia s) θ0 (graus) (d) 0 1 2 3 4 5 6 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 I f (g ra us ) θ0 (graus) (e) 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 6 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 T m in (h ) θ0 (graus) Escape Colisao T(t=0) Tr (f) Figura 2.11: Os estados finais e extremos do corpo secundário em função da obliquidade inicial (θ0) para o caso com razão de massa q = 0, 25. Apresentamos nesta figura a energia total, a velocidade no infinito (V∞) para os casos de escape, o peŕıodo de rotação final (Tf ), o tempo de vida (tv), inclinação orbital final (If ) e o valor mı́nimo do peŕıodo de rotação durante a simulação (Tmin). Onde em vermelho são os casos que ocorrem escape e em verde são os casos que ocorrem colisão. Há duas linhas onde uma delas indica o valor do peŕıodo de spin inicial (T (t = 0)) e o outro é o peŕıodo limite para que ocorra fissão do segundo corpo (chamado de peŕıodo limite de ruptura Tr), assim, casos em que Tmin possuem valores abaixo da Tr ocorrem ruptura secundária. Neste caso (q = 0, 15) 4, 4% ocorrem ruptura secundária. 36 -400 -300 -200 -100 0 100 200 300 400 500 600 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 < t v > (h ) q Colisao Tr -400 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 < t v > (h ) q Escape Figura 2.12: A média do tempo de vida (< tv >) em função da razão de massa q. Os pontos são a média dos 90 valores de obliquidade inicial com seu respectivo desvio-padrão (barra vermelha). À direita são os casos de escape e à esquerda os casos de colisão. q Ruptura secundária Colisão 0,01 83, 0% 4, 4% 0,05 44, 4% 13, 3% 0,10 25, 5% 21, 1% 0,15 11, 1% 21, 1% 0,16 8, 8% 24, 4% 0,17 5, 5% 28, 8% 0,18 11, 1% 22, 2% 0,19 5, 5% 23, 3% 0,20 4, 4% 32, 2% 0,21 14, 4% 4, 4% 0,22 5, 5% 25, 5% 0,23 2, 2% 27, 7% 0,24 4, 4% 28, 8% 0,25 4, 4% 27, 7% Tabela 2.1: Tabela com a porcentagem de colisão e os casos de ruptura secundária para cada razão de massa q. Esta percentagem é de 90 diferentes obliquidades inicial θ0. 37 2 2.5 3 3.5 4 4.5 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 < T M in > ( h) q Tr 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 < v ∞ > (k m /h ) q 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 < I f > (g ra us ) q Figura 2.13: As médias de peŕıodo mı́nimo de rotação (< Tmin >), velocidade no infinito (< V∞ >) e estado final da inclinação orbital (< If >) em função da razão de massa q. Os pontos são a média dos 90 valores de obliquidade iniciais com seu respectivo desvio-padrão (barra vermelha). 38 0 1 2 3 4 5 6 7 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 I f (g ra us ) q 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 T m in (h ) q 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 t v (d ia s) q θ0=0.0001 θ0=30 θ0=60 θ0=90 Figura 2.14: O estado final da inclinação orbital (If , peŕıodo de rotação mı́nimo (Tmin) e vida (tv) em função da razão de massa q para 4 diferentes obliquidades iniciais (θ0= 0,0001, 30, 60 e 90 graus ). 39 2.4 Conclusões Foi estudado a origem de sistemas duplos de asteroides em configurações iniciais antes não estudadas, consideradas mais prováveis de se encontrar. Estudamos várias configurações iniciais de inclinação do equador e razão de massa com o intuito de tentar obter casos em que ocorram ruptura secundária e re-impacto. Fizemos simulações para o total de 1260 condições iniciais diferentes e obtivemos ruptura secundária em 16, 43% dos casos e colisões em 21, 82% dos casos. Assim, uma parte significativa dos resultados é candidata a se tornar um sistema binário estável. O estudo do problema utilizando um conjunto mais realista das condições iniciais nos possibilitou observar casos antes não observados. Jacobson & Scheeres (2011) separam seus resultados em dois regimes: um de elevada razão de massa (q > 0, 2) e um de baixa razão de massa (q < 0, 2); e conclúıram que no regime de elevada razão de massa não ocorre fissão secundária, de modo que o sistema só pode se tornar um binário estável por um caminho evolutivo diferente. No entanto, nossos resultados mostram que é posśıvel ocorrer fissão secundária em alguns poucos casos (≈ 4%) para elevada razão de massa, porém o sistema têm que se iniciar numa configuração não planar. É importante citar que os gráficos dos valores médios possui comportamento similar ao encontrado nos estudos anteriores. A figura 2.13, juntamente com a tabela 2.1, mostram que o número de ruptura secundária, assim como a velocidade de escape (V∞), decrescem, tendendo assim a desaparecer para um determinado valor de razão de massa. Este resultado tem considerável relevância se formos comparar com resultados anteri- ores apresentados por Pravec et al. (2010) e mais recentemente por Scheeres et al. (2015). Pravec et al. (2010) mostraram um valor limite de q ≈ 0, 2 encontrado para asteroides binários, como previsto pela teoria. Estudos mais recentes têm mostrado alguns corpos com razão de massa além desse limite. Assim, levando em conta estes estudos, podemos concluir que a maioria dos binários candidatos a serem fruto de uma ruptura rotacional tendem de ter possúıdo uma configuração mais próxima da planar. Para trabalhos futuros pretendemos analisar a dependência dos parâmetros iniciais do corpo central (dimensões, densidade e direção da velocidade de rotação) sobre os resultados e estudar o posśıvel mecanismo Lidov-Kozai nos casos de colisão. 40 Caṕıtulo 3 Origem da obliquidade de Urano 3.1 Introdução A origem da grande obliquidade de Urano, 97, 8o, permanece indefinida. O primeiro cenário proposto para explicar esta configuração foi uma grande colisão tangencial com ou- tro protoplaneta durante sua formação (Korycansky et al. 1990, Slattery 1992). O modelo de formação por colisão foi muito criticado porque uma colisão causaria a variação muito rápida do eixo de rotação, de modo que impossibilitaria o plano orbital dos satélites de acompanhar o plano do equador, não coincidindo assim com a atual configuração planar dos satélites naturais do sistema. Alguns estudos foram feitos para melhor compreender e justificar o modelo de colisão (Brunini 1995, Parisi & Brunini 1997). Morbidelli et al. (2012) propõem solucionar o problema da existência de satélites prógrados equatoriais no cenário de colisão, por meio de um sistema com Urano composto por um disco de proto-satélites. Morbidelli et al. (2012) afirmam também a necessidade de Urano ter sofrido, no mı́nimo, duas colisões. Kubo-Oka & Nakazawa (1995) estudaram a origem da obliquidade de Urano através de evolução de maré devida as órbitas de satélites, porém seus resultados exigiram satélites muito massivos (da ordem de 1, 2% da massa de Urano). Mais recentemente, Izidoro et al. (2015) propuseram que as peculiares obliquidades de Urano e Netuno são assinaturas de seus processos de formação. Eles propõem que a acresção desses planetas foi dominada por colisões entre grandes embriões planetários numa época onde o disco gasoso protoplanetário ainda estava presente, anteriormente a formação dos satélites naturais. Uma outra proposta para explicar a origem da obliquidade foi que ela cresceu devida a uma ressonância entre as taxa de variação do nodo orbital (longitude do nodo ascendente) de Urano e a taxa de variação da precessão do eixo de rotação (spin) do mesmo, que só ocorre se Urano possuir um satélite de grande porte (nomeado Satélite X), da ordem de 1% da massa de Urano (Boué & Laskar 2010). Boué & Laskar (2010) afirmam também que, além de possuir este grande satélite, 41 Figura 3.1: Figura extráıda do artigo de Boué & Laskar (2010). A figura apresenta três gráficos (a), (b) e (c), que são o ângulo ressonante (φα−φν−π), a obliquidade (ε) e inclinação de Urano em função do tempo, respectivamente. φα é ângulo ( ambos medidos positivamente) entre o eixo de referência e a projeção do eixo de rotação do spin e (φν) é o ângulo entre eixo de referência e a projeção do vetor perpendicular ao plano orbital de Urano. Ambas as projeções são no plano de referência inercial xy. Podemos observar que além da alta inclinação orbital, é necessário que o ângulo ressonante (φα − φν − π) possua valores próximos de (π/2) para que ocorra o aumento da obliquidade, vide sub-divisões II (em preto), III (em azul) e V (vermelho). Urano teve que ter alta inclinação durante este peŕıodo, vide figura 3.1. Boué & Laskar (2010) estudam o crescimento da obliquidade utilizando a evolução orbital de Urano durante o Modelo de Nice. Apesar dos resultados satisfatórios, é pouco aceitável que Urano tenha tido um satélite com essa ordem de grandeza e, se existiu, sua presença perturbaria fortemente os outros satélites a ponto de desestabiliza-los. Realizamos nosso estudo da origem da obliquidade de Urano inspirado no trabalho de Boué & Laskar (2010), de modo a tentar reproduzir a atual obliquidade por meio de per- turbações de seus satélites e dos planetas durante o Modelo de Nice. 42 3.1.1 Modelo de Nice Em 2005, foram publicado três artigos sobre a formação do Sistema Solar, propondo explicar a origem da configuração do Sistema Solar por meio de interação entre os plane- tas gigantes (Júpiter, Saturno, Netuno e Urano) e um disco de planetesimais (Gomes et al. 2005, Tsiganis et al. 2005, Morbidelli et al. 2005). Através deste modelo, para determinadas condições iniciais dos planetas e do disco, os autores conseguiram reproduzir grande parte da atual configuração do Sistema Solar com sucesso. Em homenagem aos pesquisadores que neste momento estavam trabalhando no Observatoire de la Côte d’Azur, localizado na cidade de Nice, na França, o modelo foi batizado de Modelo de Nice e atualmente é o modelo que melhor explica a atual configuração do Sistema Solar. É importante ressaltar que apesar das condições finais reproduzirem bem a atual configuração do Sistema Solar, a evolução dinâmica dos planetas durante o modelo é extremamente complexa, havendo abruptas va- riações de semi-eixo maior, excentricidade e inclinação orbital para os planetas gigantes, em especial para os planetas de gelo (Urano e Netuno). Com o passar dos anos, surgiram modificações do Modelo de Nice. Morbidelli et al. (2007) e Brasser et al. (2009) criaram uma segunda versão na qual, por meio de condições iniciais diferentes, ocorre grande quantidade de encontros próximos entre um dos planetas de gelo e Júpiter. Essa segunda versão também é conhecida como Jumping-Jupiter. Posteriormente, Walsh et al. (2011) publicou um trabalho estudando a origem do Sistema Solar durante o peŕıodo anterior ao Modelo de Nice, no qual o Sistema Solar ainda possúıa um disco de gás. Também conhecido como modelo Grand Tack, os autores conseguem reproduzir as condições iniciais usadas no trabalho de Morbidelli et al. (2007) e conseguem explicar um pouco da atual configuração do Sistema Solar interior (Marte e cinturão principal de asteroides). Mais recentemente foram publicados dois trabalhos propondo a formação do Sistema Solar com 5 ou 6 planetas gigantes (Nesvorný 2011, Nesvorný & Morbidelli 2012). As órbitas dos planetas utilizadas no nosso trabalho são provenientes do Modelo de Nice “tradicional” (Gomes et al. 2005, Tsiganis et al. 2005, Morbidelli et al. 2005). 3.2 Modelos Utilizados Utilizamos dois diferentes modelos para estudar a origem da obliquidade de Urano, no qual pelo menos um dos corpos possui dinâmica rotacional e translacional acoplada. Os modelos são: 1) um modelo no qual N = n+ 1 corpos interagem gravitacionalmente, onde o referencial é centrado em um dos corpos denominado corpo central. Este corpo central é o único que possui forma não pontual (elipsoide) e movimento rotacional, sofrendo assim torques dos demais corpos que o orbitam. Inclúımos também mais quatro corpos com órbitas 43 já integradas perturbando o sistema. Em nosso estudo espećıfico, o corpo central é Urano e inclúımos também perturbações dos planetas gigantes (Netuno, Júpiter e Saturno) e o Sol, que possuem órbitas integradas previamente utilizando o Modelo de Nice; 2) nomeado de “tombo” forçado, onde tombo significa o eixo de rotação se deslocar angularmente de 0 à 90 graus, este modelo tem como objetivo estudar n corpos que interagem somente com um corpo central. O corpo central possui forma elipsoidal com movimento de rotação controlada. As desenvolvimento das equações do movimento estão apresentadas no Apêndice. Utilizamos o método Bulirsch-Stoer (Press et al. 2007) para integrar as equações do movi- mento do modelo 1) e utilizamos o método de Gauss-Radau (Everhart 1985) para as equações do movimento do modelo 2) no qual não foram integradas as equações do movimento de rotação em nosso estudo preliminar da origem da obliquidade de Urano. Apresentaremos separadamente os dois modelos nos tópicos a seguir. 3.2.1 Problema de N-Corpos com o corpo central elipsoidal Modelo utilizado para estudar a origem da obliquidade de Urano. Este modelo leva em conta atrações gravitacionais de n-corpos pontuais e um corpo de forma elipsoidal (corpo central). É levado em conta também as perturbações dos planetas com órbitas determinadas anteriormente através de simulação do Modelo de Nice. As equações de movimento de um corpo (i) perturbado por n-corpos pontuais (j), mais a perturbação de quatro corpos com órbitas já definidas, onde o referencial está centrado no corpo central de forma elipsoidal, é escrita da forma (Beutler 2005, Marchis et al. 2010): �̈ri = −k2 (m0 +mi) ( �ri r3i − T T �∇′U (i) 2 ) − k2 n∑ j=1,j �=i mj ( �ri − �rj |�ri − �rj|3 + �ri r3j − T T �∇′U (j) 2 ) − k2 4∑ p=1 mp ( �ri − �rp |�ri − �rp|3 + �rp r3p ) (3.1) onde mp é massa e �rp é o vetor posição dos quatro corpos (Sol, Netuno, Saturno e Júpiter) com órbitas determinadas anteriormente. Assim como no modelo anterior, o potencial U2 é dado pela equação 2.2 e T é a matriz de rotação dada pela equação 2.4. A equação de Euler para movimento de rotação do corpo central é similar a equação 2.5, porém os toques são devidos à (n + 4) corpos (n corpos, Sol, Júpiter, Saturno e Netuno). 44 Assim, a equação é escrita da forma: ⎛ ⎜⎝ ω̇′ x ω̇′ y ω̇′ z ⎞ ⎟⎠+ ⎛ ⎜⎝ γ1ω ′ yω ′ z γ2ω ′ zω ′ x γ3ω ′ xω ′ y ⎞ ⎟⎠ = 3k2 n∑ j=1 mj r5j ⎛ ⎜⎝ γ1y ′ jz ′ j γ2z ′ jx ′ j γ3x ′ jy ′ j ⎞ ⎟⎠+ 3k2 4∑ p=1 mp r5p ⎛ ⎜⎝ γ1y ′ pz ′ p γ2z ′ px ′ p γ3x ′ py ′ p ⎞ ⎟⎠ . (3.2) Por fim, obtemos, analogamente ao modelo anterior, os ângulos de Euler por meio do quatérnios dados pelas equações 2.7 - 2.10. A figura 3.2 mostra uma ilustração do modelo (sem levar em conta os corpos com órbitas já integradas). Figura 3.2: Figura ilustrativa do modelo do problema de N-corpos, considerando um corpo central elipsoidal com movimento de atitude. O sistema vermelho é o SEPI do corpo central (x′, y′, z′) e o sistema preto (x, y, z) é o SI. Note que os dois sistemas estão relacionados através dos ângulos de Euler (φ, θ, ψ). 3.2.2 Modelo de tombo forçado Modelo utilizado no estudo preliminar da origem da obliquidade de Urano. Utilizamos este modelo para analisar o acompanhamento do plano orbital dos satélites durante a variação 45 da obliquidade de Urano. A variação da obliquidade foi feita de forma forçada por meio da variação controlada dos ângulos de Euler dada pelas equações: ψ(t) = 2π Ts t, (3.3) φ(t) = 2π Tp t, (3.4) onde o Tp é o peŕıodo de precessão que é dado em função dos eixos principais de inércia A e C, do peŕıodo orbital Torb, do peŕıodo de rotação (spin) Ts e de θ (Goldreich 1965): Tp = 2T 2 orbC 3Ts (C − A) sec θ. (3.5) Para o ângulo θ, foram usados dois tipos de comportamento, nomeados de linear e amor- tecido. Em outras palavras, escolhermos dois tipos de tombos: um linear, que o corpo tomba com velocidade constante e para instantaneamente; e outro amortecido, que o corpo desacelera até atingir sua posição final (θf ). As equações para os dois casos estão abaixo: θ(t) = θ0 + 2π Tt t, θ(t) = θ0 + θ̇t+ θ̈ 2 t2. (3.6) As condições iniciais de θ foram determinadas para um dado tempo de tombo (Tt) e obliquidade inicial (θ0) e final (θf ). Para o cálculo do movimento orbital nós utilizamos um modelo simples de 2 corpos, sendo um corpo pontual orbitando outro de forma de elipsoide com movimento de atitude dado pela variação temporal dos ângulos de Euler conforme as equações 3.3, 3.4 e 3.5. Por simplicidade nós simulamos o sistema com n-part́ıculas, ou seja, a simulação ocorre para todos os corpos ao mesmo tempo, porém cada corpo só interage com o corpo central. A equação do movimento de uma part́ıcula i pode ser escrita da forma: �̈ri = −k2 (m0 +mi) ( �ri r3i − T T �∇′U (i) 2 ) , (3.7) onde o potencial U2 é dado pela equação 2.2. Como as equações de movimento de atitude não são integradas, nós não trabalhamos com quatérnios, assim, a matriz de rotação (sequência 3-1-3: rotação do eixo z(3) de φ; rotação do eixo x(1) de θ e rotação do eixo z(3) de ψ) usada 46 é dada em função dos ângulos de Euler escrita na forma: T = ⎛ ⎜⎝ cosψ cosφ− cos θ senφ senψ cosψ senφ+ cos θ cosφ senψ senψ sen θ − senψ cosφ− cos θ senφ cosψ − senψ senφ+ cos θ cosφ cosψ cosψ sen θ sen θ senφ − sen θ cosφ cos θ ⎞ ⎟⎠ . (3.8) 3.3 Resultados Nosso estudo sobre a origem da obliquidade de Urano está separada em duas partes. A primeira parte, nomeado de estudo preliminar, é sobre os primeiros resultados obtidos envolvendo análises de alguns parâmetros do problema em questão. A segunda parte envolve a ressonância do acoplamento spin-órbita entre Urano e um satélite de grande porte (Satélite X). A tabela 3.1 mostra as condições iniciais de Urano utilizadas em todos os estudos. Massa (MU) Raio equatorial (RU) C22 C20 Peŕıodo de rotação 1, 478× 1019kg 26200km 0 −3343, 0× 10−6 17, 24 h Tabela 3.1: Condições iniciais de Urano (Murray & Dermott 1999), onde C20 e C22 são os coeficientes de achatamento e elipticidade, respectivamente. 3.3.1 Estudo preliminar Partindo do argumento da impossibilidade de Urano, após a colisão, possuir satélites com orbitas equatoriais no modelo de colisão, iniciamos nossos estudos sobre a origem da obliquidade de Urano focando exatamente nesse problema, analisando o quão rápido o eixo de rotação pode tombar mantendo seus satélites em órbitas equatoriais. Para isso, realizamos um estudo fazendo Urano tombar forçadamente com diferentes tempos de tombo observando qual seria o semi-eixo maior limite que o satélite pode ter, ou seja, qual seria a maior distância que o satélite poderia ter de modo que seu plano orbital acompanhe o plano do equador do corpo central, isso para diferentes tempo de tombo. O modelo utilizado neste estudo está apresentado na seção 2.3. Realizamos este estudo por meio de simulações de Urano tombando forçadamente com um disco de part́ıculas, igualmente espaçadas, com semi-eixos maior entre 5, 0 × 105km e 7, 0× 105km, com órbitas equatoriais e circulares. Definimos o raio orbital estável (re) como sendo raio orbital cujo o corpo possui inclinação máxima (ou final) de 5 graus. Utilizamos o número suficiente de part́ıculas para a obtenção do re. Escolhemos 6 diferentes tempos de 47 tombo (tT ) para a realização de nosso estudo: tT = 1 ano, tT = 10 anos, tT = 100 anos, tT = 1 mil anos, tT = 10 mil anos e tT = 50 mil anos. Fizemos o mesmo estudo para os dois tipos de tombo e conclúımos que o valor máximo da inclinação do corpo durante o tombo linear é aproximadamente igual ao valor final da inclinação do corpo para o caso amortecido (ver figura 3.3). Os resultados deste estudo estão apresentados por meio de um gráfico do raio estável em função do tempo de tombo juntamente com a melhor curva ( re(tT )) extráıda dos resultados, vide figura 3.4. Como já era esperado, quanto mais distante o corpo estiver do corpo central, mais lento tem que ser o tombo para que o plano da órbita do mesmo acompanhe o plano do equador do corpo central. É claro observar que re respeita uma lei de potência em relação à tT . A equação 3.9 é a equação da curva média encontrada. O coeficiente de correlação encontrado à 0, 97. Portanto, para que o sistema atual de satélites naturais de Urano fosse exatamente nesta configuração antes do tombo, a equação obtida nos fornece que o tempo de tombo teria que ser no mı́nimo 33067, 6 anos, tendo como base o satélite natural mais externo Oberon, com semi-eixo maior de 583520km (22.84RU). 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 i ( gr au s) tempo (anos) Linear Amortecido Figura 3.3: Inclinação orbital em função do tempo, para um tempo de tombo de um ano. Perceba que o pico da oscilação do caso linear é aproximadamente igual ao valor final do caso amortecido. Tomando como referência para o caso linear o valor máximo e como referência para o caso amortecido o valor final, o resultado dos dois são aproximadamente iguais. O coeficiente de correlação encontrado à 0, 97 re(tT ) = 29962, 9× t0,285322T (3.9) 48 1 10 100 0.0001 0.001 0.01 0.1 1 10 100 r e (1 04 k m ) tT (103 anos) resultados re(tT) Figura 3.4: re × tT em escala dilog. Os pontos vermelhos representam os resultados obtidos das simulações e em verde está a melhor curva obtida dos resultados. 49 3.3.2 Variação da obliquidade via ressonância com Satélite X Subdividimos este estudo em algumas partes. Primeiramente estudamos o sistema por in- tegração simples (simples no sentido de não utilizar o Modelo de Nice) observando a evolução temporal de um sistema composto pelos planetas gigantes, Sol e o Satélite X em condições iniciais ditas ideais para o aumento da obliquidade de Urano (Boué & Laskar 2010). Poste- riormente, já utilizando o Modelo de Nice com todos os planetas e Sol, simulamos os sistema considerando somente o Satélite X, posteriormente o Satélite X e Oberon, e por fim um sistema com todos os satélites naturais de Urano mais alguns outros satélites hipotéticos. Integração simples Como apresentado, estudos anteriores mostraram que se Urano possuiu em algum mo- mento de sua vida grande inclinação orbital e um satélite de grande porte com determinada configuração de semi-eixo maior e massa, seu movimento de rotação pode entrar em uma determinada ressonância com o movimento orbital e vir adquirir altos valores de obliquidade reproduzindo assim a atual configuração do sistema (Boué & Laskar 2010). Partindo deste argumento, iniciamos nosso estudo fazendo simulações utilizando essas condições iniciais ade- quadas de modo a tentar reproduzir a atual configuração rotacional de Urano. As condições iniciais usadas estão apresentadas na tabela 3.2. Massa (kg) a e i(o) Ω(o) ω(o) f(o) Satélite X 86, 8323× 1022 1, 31× 106 km 0 0 0 0 0 Sol 1, 98× 1030 15 UA 0, 5 17 0 180 0 Júpiter* 1, 89× 1027 5, 2 UA 0, 05 0, 05 0 0 0 Netuno* 102, 43× 1024 25 UA 0, 05 1 0 0 0 Saturno* 568, 46× 1024 9, 3 UA 0, 06 1, 5 0 0 0 Tabela 3.2: Condições iniciais utilizadas para simulação.(*Sol é o corpo central) Utilizando estas condições iniciais, fizemos este estudo em três etapas: 1a) Simulamos o sistema com todos os corpos (sistema completo); 2a) simulamos somente o Satélite X e o Sol e 3a) simulamos o sistema com todos os corpos com exceção do Satélite X. Nossos resultados mostraram que utilizando as condições iniciais apropriadas é posśıvel obter a configuração atual da obliquidade somente levando em consideração perturbações dos gigantes gasosos e o Satélite X. A figuras 3.5 mostra o movimento rotacional de Urano considerando todos os corpos na simulação, onde pode-se observar a inclinação do equador obtendo o valor próximo de 90 graus. Outro resultado importante foi a não obtenção da alta obliquidade sem considerar os planetas nas simulações. A figura 3.6 mostra a evolução temporal da posição do eixo de rotação de Urano, para o caso sem os planetas, onde a 50 inclinação do equador de Urano possui comportamento oscilatório com valor máximo de 40 graus. Simulamos também com todos os planetas sem o Satélite X e, como já era esperado, os resultados mostram que não há grande aumento da inclinação do equador de Urano sem o mesmo possuir um satélite de grande porte ao seu redor (ver figura 3.7). 0 50 100 150 200 250 300 350 0 2 4 6 8 10 φ (g ra us ) tempo (104 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 2 4 6 8 10 θ (g ra us ) tempo (104 anos) Figura 3.5: Evolução temporal dos ângulos de Euler θ (inclinação do equador) e φ (do nódo do equador) de Urano para o caso completo (Urano, Satélite X, Sol, Júpiter, Saturno e Netuno). 0 50 100 150 200 250 300 350 0 2 4 6 8 10 φ (g ra us ) tempo (104 anos) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 2 4 6 8 10 θ (g ra us ) tempo (104 anos) Figura 3.6: Evolução temporal dos ângulos de Euler θ (inclinação do equador) e φ (do nódo do equador) de Urano para o caso considerando somente Urano, Satélite X e Sol. Apesar das conclusões satisfatórias deste tópico, algumas perguntas ainda devem ser respondidas. Uma delas é como Urano pode obteve alta inclinação orbital durante sua vida. Outra seria a não existência do Satélite X nos dias de hoje. Tentaremos resolver essas e outras perguntas no próximo tópico, no qual adotaremos os planetas com órbitas provenientes do Modelo de Nice. 51 0 50 100 150 200 250 300 350 0 5 10 15 20 φ (g ra us ) tempo (104 anos) 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 0 5 10 15 20 θ (g ra us ) tempo (104 anos) Figura 3.7: Evolução temporal dos ângulos de Euler θ (inclinação do equador) e φ (do nódo do equador) de Urano para o caso sem o Satélite X. 52 Via Modelo de Nice O objetivo deste tópico é tentar reproduzir a atual obliquidade de Urano via Modelo de Nice. Fizemos este estudo focando na dependência das condições iniciais para que ocorra o fenômeno. A primeiras condições iniciais para análise foram o semi-eixo maior e a massa do Satélite X, pois estas foram ditas importantes no trabalho de Boué & Laskar (2010). Poste- riormente analisamos a dependência dos resultados em função da posição orbital (longitude média) do Satélite X. Por fim, estudamos a influência e a dinâmica de mais satélites no problema. A evolução orbital dos planetas adotada provenientes de uma simulação do Modelo de Nice está apresentado na figura 3.8. Utilizamos simulações do modelo de Nice integradas previamente com passos de sáıda com intervalos de 100 anos. Entre cada ponto de sáıda foi interpolado funções lineares para as simulações. Em outras palavras, por exemplo, entre t0 = 0 anos e t100 = 100 anos interpolamos um polinômio de primeiro grau para cada elemento orbital, com exceção da anomalia média que foi obtida pela equação M = n(t− τm), o onde n é o movimento médio e τ é a média dos tempos de passagem pelo periélio de t0 e t100, ou seja, τm = (τ(t100)− τ(t0))/2. a- Dependência da massa e semi-eixo maior inicial do Satélite X: Foram estudados 16 casos: 4 diferentes valores de massa e 4 diferentes valores semi-eixo maior do Satélite X, onde todos os casos o corpo possui órbita inicial plana (i = 0), circular (e = 0) e longitude do média λ = 0. As quatro massas utilizadas foram: m1 = 1/100MU ;m2 = 1/150MU ;m3 = 1/200MU ;m4 = 1/1000MU ; e os quatro semi-eixos foram: a1 = 30RU ; a2 = 40RU ; a3 = 50RU ; a4 = 60RU ; onde MU e RU são a massa e o raio equatorial de Urano (ver tabela 3.2), respectivamente. Apresentamos os resultados através da evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X e a inclinação do equador de Urano que estão apresentados nas figuras 3.9, 3.10, 3.11 e 3.12. Observando os resultados, pode-se concluir que a massa e o semi-eixo maior inicial do Satélite X têm grande importância na dinâmica do sistema. Uma conclusão geral que tiramos é que a amplitude de oscilação da obliquidade de Urano é diretamente propor- cional à massa do satélite (os resultados em vermelho nas figuras 3.9, 3.10, 3.11, 3.12). O semi-eixo maior inicial, mesmo tendo variações abruptas durante sua evolução, também in- fluencia diretamente na variação da obliquidade de Urano. Pode-se também observar que a inclinação orbital do satélite tem ligação direta com a obliquidade do corpo central, fato este esperado pela troca de momento angular orbital e rotacional entre os dois corpos. Nes- sas primeiras simulações, somente o caso com maior massa (m1) conseguimos obter a atual configuração do eixo de rotação de Urano. A simulação é interrompida quando o módulo do 53 vetor posição do Satélite X em relação à Urano ultrapassa um Raio de Hill. Não se observa o semi-eixo maior do Satélite X crescendo antes do término da simulação porque o fenômeno de escape possivelmente ocorre entre as sáıdas de dados (o passo de sáıda usado foi de 20 anos). Dos casos com escape, o único que podemos afirmar a causa é o caso com massa m1, pois o mesmo ocorre no momento que Urano “troca de órbita”com Netuno (t ≈ 14 × 105 anos), vide figura 3.8. Por fim, conclui-se que o aumento da obliquidade só ocorre quando a longitude do nodo do satélite (Ω) entra em sincronismo com a longitude do equador de Urano (φ), como observado anteriormente no trabalho de Yokoyama et al. (2013). É claro observar essa importância quando comparamos as figuras 3.13, 3.14 e 3.15, de modo que a situação de crescimento da obliquidade só ocorre quando o ângulo ressonante (Ω − φ) está próximo de zero. Fizemos esta mesma análise utilizando o ângulo ressonante citado Boué & Laskar (2010) porém não foi observado relação entre a libração deste ângulo com o aumento da obliquidade de Urano. Apesar de parecerem semelhantes, os ângulos ressonantes utilizado por Boué & Laskar (2010) (φα−φν−π) e por Yokoyama et al. (2013) (Ω−φ) são diferentes. φα é ângulo entre o eixo de referência e a projeção do eixo de rotação do spin, ou seja, é um ângulo similar ao ângulo de Euler φ (ângulo de precessão do eixo de rotação), e (φν) é o ângulo entre eixo de referência e a projeção do vetor perpendicular ao plano orbital de Urano que é similar à longitude do nodo ascendente de Urano. A diferença principal entre esses dois ângulos ressonantes é que o usado por Boué & Laskar (2010) está relacionado com o plano orbital de Urano (φν ∝ ΩU) enquanto o usado por Yokoyama et al. (2013) está relacionado com o plano orbital do Satélite X (Ω). 54 0 10 20 30 40 50 60 70 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 a (U A) tempo (105 anos) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 e tempo (105 anos) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 i ( gr au s) tempo (105 anos) Jup Sat Net Ura Figura 3.8: Evolução temporal dos elementos orbitais (semi-eixo maior a, excentricidade e e inclinação i) dos planetas Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, provenientes de uma simulação do Modelo de Nice. 55 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) a1 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 5 10 15 20 25 30 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 5 10 15 20 25 30 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) M1 M2 M3 M4 Figura 3.9: Evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X (semi-eixo maior a, excentricidade e e inclinação i) e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a1 = 30RU para 4 diferentes massas do Satélite X. 56 30 35 40 45 50 55 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) a2 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) M1 M2 M3 M4 Figura 3.10: Evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X (semi-eixo maior a, excentricidade e e inclinação i) e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a2 = 40RU para 4 diferentes massas do Satélite X. 57 35 40 45 50 55 60 65 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) a3 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) M1 M2 M3 M4 Figura 3.11: Evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X (semi-eixo maior a, excentricidade e e inclinação i) e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a3 = 50RU para 4 diferentes massas do Satélite X. 58 0 20 40 60 80 100 120 140 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) M1 M2 M3 M4 Figura 3.12: Evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X (semi-eixo maior a, excentricidade e e inclinação i) e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a4 = 60RU para 4 diferentes massas do Satélite X. 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 -150 -100 -50 0 50 100 150 θ (g ra us ) Ω -φ (g ra us ) tempo (105 anos) M4 e a1 Ω-φ θ Figura 3.13: Evolução temporal do ângulo ressonante Ω − φ (em vermelho) e da inclinação do equador de Urano θ (em verde) para o caso semi-eixo maior a1 e massa M4. 59 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 2 4 6 8 10 12 14 16 -150 -100 -50 0 50 100 150 θ (g ra us ) Ω -φ (g ra us ) tempo (105 anos) M4 e a2 Ω-φ θ Figura 3.14: Evolução temporal do ângulo ressonante Ω − φ (em vermelho) e da inclinação do equador de Urano θ (em verde) para o caso semi-eixo maior a2 e massa M4. 60 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 2 4 6 8 10 12 14 -150 -100 -50 0 50 100 150 θ (g ra us ) Ω -φ (g ra us ) tempo (105 anos) M1 e a4 Ω-φ θ Figura 3.15: Evolução temporal do ângulo ressonante Ω − φ (em vermelho) e da inclinação do equador de Urano θ (em verde) para o caso semi-eixo maior a4 e massa M1. Observando que o sistema é senśıvel as condições iniciais, resolvemos explorar outra condição inicial que até então mantivemos iguais em todas as simulações, a longitude média do Satélite X. Os resultados estão apresentados no próximo tópico. 61 b- Sensibilidade da longitude média inicial do Satélite X: Foram estudados no total 24 casos: O Satélite X com 4 diferentes massas (m1 = 1/100MU ;m2 = 1/150MU ;m3 = 1/200MU ;m4 = 1/1000MU) e semi-eixo maior igual à a4 = 60RU . Para esses quatro casos foram feitas simulações para 6 diferentes valores iniciais da longitude média do Satélite X (λ = 0, 60, 120, 180, 240, 300 graus). Os resultados estão apresentados nas figuras 3.16, 3.17, 3.18 e 3.19, por meio da evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X e da inclinação do equador θ de Urano. Os resultados mostram que a longitude média inicial possui grande influência nos resultados. A figura 3.16 mostra os resultados dem1 e a4, condição inicial que conseguimos reproduzir o valor atual de θ no tópico anterior. Note que dos 6 λ’s usados, somente 2, λ = 0o (em preto) e λ = 60o (em vermelho), foram obtido valores altos da obliquidade, assim, mesmo nas condições ditas ideais, há casos, a maioria deles, em que não foi posśıvel reproduzir a atual obliquidade de Urano. E desses dois casos, só com λ = 0o o Satélite X deixa de orbitar Urano após o crescimento da obliquidade, resultado ideal. Outro caso que conseguimos obter esse resultado foi com massa m2. Note na figura 3.17 que o caso λ = 180o (curva em azul escuro) que a obliquidade atinge o valor próximo de 90 graus e o Satélite X é ejetado em t ∼ 11 × 105anos. Os casos com massa de menor valor (m3 e m4) não mostraram eficiência no aumento da obliquidade (figuras 3.18 e 3.19). Plotamos também o gráfico do ângulo ressonante (Ω− φ) e θ em função do tempo para o outro resultado ideal encontrado (a4, m2 e λ = 180o), apresentado na figura 3.20. 62 40 60 80 100 120 140 160 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) M1 a4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) λ=0 λ=60 λ=120 λ=180 λ=240 λ=300 Figura 3.16: Figuras da evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a4 e m1 para 6 diferentes valores inicial da longitude média do Satélite X. 63 0 500 1000 1500 2000 2500 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) M2 a4 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) λ=0 λ=60 λ=120 λ=180 λ=240 λ=300 Figura 3.17: Figuras da evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a4 e m2 para 6 diferentes valores inicial do longitude média do Satélite X. 64 0 20 40 60 80 100 120 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos) 0 20 40 60 80 100 120 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) λ=0 λ=60 λ=120 λ=180 λ=240 λ=300 Figura 3.18: Figuras da evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a4 e m3 para 6 diferentes valores inicial do longitude média do Satélite X. 65 0 20 40 60 80 100 120 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e tempo (105 anos ) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i ( gr au s) tempo (105 anos) 0 2 4 6 8 10 12 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) λ=0 λ=60 λ=120 λ=180 λ=240 λ=300 Figura 3.19: Figuras da mostram a evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X e da inclinação do equador de Urano (θ) de simulações com semi-eixo maior a4 e m4 para 6 diferentes valores inicial do longitude média do Satélite X. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 2 4 6 8 10 12 14 16 -150 -100 -50 0 50 100 150 θ (g ra us ) Ω -φ (g ra us ) tempo (105 anos) M2 a4 l180 Ω-φ θ Figura 3.20: Figura da evolução temporal do ângulo ressonante (Ω− φ) (em vermelho) e da inclinação do equador de Urano (θ) (em verde) do caso com semi-eixo maior a4, massa M2 e longitude média inicial (λ) 180 graus. 66 c- Satélite X mais Oberon: Um dos argumentos contrários ao modelo de origem da obliquidade via Satélite X é o fato do mesmo perturbar fortemente os satélites internos a ponto de desestabilizá-los. A fim de estudar este problema, resolvemos incluir Oberon na simulações. As condições iniciais de Oberon são semelhantes as atuais e estão apresentadas na tabela 3.3. Massa a e Miranda 7, 90747× 10−7 MU 4, 95413 RU 0, 000657723 Ariel 1, 62349× 10−5 MU 72, 9758 RU 0, 000997302 Umbriel 1, 4063× 10−5 MU 10, 1525 RU 0, 000769895 Titania 4, 2321× 10−5 MU 16, 6333 RU 0, 000310916 Oberon 3, 61655× 10−5 MU 22, 2745 RU 0, 000993576 Tabela 3.3: Condições iniciais dos satélites naturais de Urano utilizadas. Todos iniciam com orbitas planares (i = 0). Note que Ariel não utilizamos o semi-eixo maior correspondente ao atual, porém acreditamos que está diferença não influencia as conclusões obtidas do nosso estudo. Iniciamos nossas simulações utilizando a condição mais favorável pra crescimento da obli- quidade, M1 e a4, porém, em nenhum dos casos obtivemos sucesso, pois rapidamente Oberon foi ejetado do sistema devido à perturbação do Satélite X. Posteriormente, utilizando o mesmo semi-eixo maior inicial, simulamos para os outros valores de massa (M2, M3 e M4), entretanto em nenhum dos casos obtivemos sobrevivência de Oberon. Após a falta de sucesso destas primeiras simulações, resolvemos repetir a mesma estratégia anterior e ver como os resulta- dos com Oberon se comportam para diferentes valores de longitude de pericentro inicial do Satélite X. Utilizamos o menor valor de massa a fim de minimizar sua perturbação. Plotamos todos os resultados deste último estudo nas figuras 3.21 e 3.22. Note que Oberon só sobrevi- veu em dois casos, λ = 120o e λ = 240o, no entanto as configurações de Oberon diferem muito da configuração atual e a obliquidade de Urano não cresce o suficiente. Portanto, podemos concluir que não é posśıvel reproduzir a atual obliquidade de Urano e manter Oberon em órbita do mesmo. No entanto, ao observar a figura 3.22, notamos que a presença de Oberon proporciona um efeito de “boost” (amplificação) na amplitude da oscilação da obliquidade de Urano. Este resultado nos faz concluir que de certa forma a combinação de dois ou mais satélites podem amplificar a perturbação no eixo de rotação de Urano, de modo talvez seja posśıvel obter a atual obliquidade de Urano com alguns satélites de menor massa. Partindo desses resultados, resolvemos fazer um estudo considerando mais satélite em torno de Urano que está apresentado no próximo tópico. 67 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a O b (R U ) tempo (105 anos) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i O b (g ra us ) tempo(105 anos) 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 2 4 6 8 10 12 14 16 e O b tempo (105 anos) λ=0 λ=60 λ=120 λ=180 λ=240 λ=300 Figura 3.21: Os gráficos acima mostram a evolução temporal dos elementos orbitais de Oberon de simulações com semi-eixo maior e massa do Satélite X iguais a a4 e M4, respecti- vamente. Dos 6 diferentes valores iniciais do longitude média inicial do Satélite X simulados, somente dois casos os satélites sobrevivem: λ = 120o e λ = 240o. 68 40 50 60 70 80 90 100 110 120 0 2 4 6 8 10 12 14 16 a (R U ) tempo (105 anos) 0 10 20 30 40 50 60 70 0 2 4 6 8 10 12 14 16 i O b (g ra us ) tempo (105 anos) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 0 2 4 6 8 10 12 14 16 θ (g ra us ) tempo (105 anos) λ=120 Ob. λ=240 Ob. λ=120 λ=240 Figura 3.22: Os gráficos acima mostram a evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X de simulações com semi-eixo maior e massa do Satélite X iguais a a4 e M4, respec- tivamente. Em vermelho e preto são os resultados com Oberon e em azul e verde os casos sem Oberon. 69 0 50 100 150 200 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 a (R U ) tempo (105 anos) Miranda Ariel Umbriel Titania Oberon SatX1 SatX2 SatX3 SatX4 Figura 3.23: Gráfico dos semi-eixos maiores de todos os satélites em função do tempo. Note que somente os Satélite X1 (em amarelo) e Satélite X2 (em preto) sobrevivem durante 100 mil anos de integração. d- Satélites naturais e alguns Satélites X: Como já dito anteriormente, o efeito de boost observado no estudo com Oberon nos instigou a realizar simulações com mais satélites na esperança de conseguir obter a atual obliquidade de Urano sem a necessidade de um corpo extremamente massivo. Decidimos por simular um sistema com os 5 satélites naturais (Miranda, Ariel, Umbriel, Titania e Oberon) e mais quatro Satélites X (X1, X2, X3 e X4). As condições iniciais usadas nesta simulação estão apresentadas nas tabelas 3.3 e 3.4. Infelizmente, os resultados foram insatisfatórios, pois todos os satélites naturais foram ejetados dos sistema em menos de 100 mil anos de tempo de integração. A figura 3.23 mostra o semi-eixos maiores de todos os satélites em função do tempo, e, podemos notar que somente dois dos corpos sobrevivem, Satélite X1 (em amarelo) e Satélite X2 (em preto). Massa a e X1 5, 96693× 10−5 MU 28, 5492 RU 0, 000725429 X2 1, 19339× 10−4 MU 57, 0984 RU 0, 000742293 X3 2, 38677× 10−4 MU 114, 197 RU 0, 000336387 X4 3, 58016× 10−4 MU 171, 0 RU 0, 000236387 Tabela 3.4: Condições iniciais dos Satélites X utilizadas. Todos iniciam com orbitas planas (i = 0). 70 e-Efeito de encontros próximos com Júpiter: Apresentamos neste tópico um estudo sucinto da influência dos encontros próximos de Urano com Júpiter na dinâmica do Satélite X durante o Modelo de Nice. Essa influência está mostrada por meio da evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X, juntamente com a inclinação do equador e a distância radial entre Júpiter e Urano. O Raio de Hill de Urano (RH) utilizado na figura 3.24 foi calculado por meio da equação (3.10) (Murray & Dermott 1999). RH = a (1− e) ( mU 3mSol ) 1 3 (3.10) onde a, e e mU são respectivamente o semi-eixo maior, a excentricidade e a massa de Urano, e, mSol a massa do Sol. A influência de Júpiter no movimento orbital do Satélite X está mostrada claramente na figura 3.24, na qual podemos observar variações no semi-eixo maior e excentricidade do Satélite X quando Júpiter tem encontro próximo com Urano (rJupiter < 0, 1UA). A inclinação orbital do satélite e a inclinação do equador de Urano não sofrem influência direta de Júpiter, porém, como já visto anteriormente, o semi-eixo maior do Satélite X é um fator determinante para o aumento de θ, portanto, Júpiter ao afetar o semi-eixo maior do Satélite X, afeta também, de forma indireta, a variação da obliquidade de Urano. 71 0.0087 0.00875 0.0088 0.00885 0.0089 0.00895 0.009 0.00905 0.0091 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 a (U A) tempo (anos) 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 e tempo (anos) 0 2 4 6 8 10 12 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 i ( gr au s) tempo (anos) 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 θ (g ra us ) tempo (anos) 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 r ( U A) tempo (anos) rJup rSat. X RHillUranus Figura 3.24: Os gráficos acima mostram a evolução temporal dos elementos orbitais do Satélite X, e o módulo do vetor posição de Júpiter em ralação Urano (curva em do vermelho), o módulo do vetor posição entre Satélite X e Urano (em verde), e o Raio de Hill de Urano (em azul). 72 3.4 Conclusões Em um estudo preliminar, considerando que Urano sofreu a variação de sua obliquidade de forma única, em uma espécie de tombo, conclúımos que o plano orbital de seus satélites naturais só conseguiriam acompanhar o plano do equador se esse tombo durar um peŕıodo maior que 33067, 6 anos. Baseado no trabalho de Boué & Laskar (2010), utilizando metodologia diferente, estu- damos a origem da obliquidade de Urano via perturbação de um satélite de grande porte. Estudamos o sistema primeiramente utilizando integração direta, levando em conta as in- terações gravitacionais entre os planetas gigantes, o Sol e o Satélite X, onde todos causam torques no eixo de rotação de Urano. Utilizando condições iniciais ideais (Urano com alta incl