UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Graduação em Geologia AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DO MÉTODO DA ELETRORRESISTIVIDADE NA PROSPECÇÃO DE ARGILAS ALTAMENTE ALUMINOSAS DO OESTE DE MINAS GERAIS Milena Boselli Rosa Orientadora: Profa. Dra. Vania Silvia Rosolen Coorientador: Prof. Dr. César Augusto Moreira Rio Claro (SP) 2018 i UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro MILENA BOSELLI ROSA AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DO MÉTODO DA ELE- TRORRESISTIVIDADE NA PROSPECÇÃO DE ARGILAS ALTA- MENTE ALUMINOSAS DO OESTE DE MINAS GERAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresen- tado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas – Campus de Rio Claro, da Universi- dade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Fi- lho, para obtenção do grau de Geólogo. Rio Claro – SP 2018 Rosa, Milena Boselli Avaliação da aplicabilidade do método da eletrorresistividade na prospecção de argilas altamente aluminosas do oeste de Minas Gerais / Milena Boselli Rosa. - Rio Claro, 2018 55 f. : il., figs., tabs. Trabalho de conclusão de curso (bacharelado - Geologia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas Orientadora: Vania Silvia Rosolen Coorientador: César Augusto Moreira 1. Geofísica. 2. Argila altamente aluminosa. 3. Eletrorresistividade. 4. Latossolo. 5. Gleissolo. I. Título. 551 R788a Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP - Ana Paula Santulo C. de Medeiros / CRB 8/7336 ii MILENA BOSELLI ROSA AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DO MÉTODO DA ELE- TRORRESISTIVIDADE NA PROSPECÇÃO DE ARGILAS ALTA- MENTE ALUMINOSAS DO OESTE DE MINAS GERAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresen- tado ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas – Campus de Rio Claro, da Universi- dade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Fi- lho, para obtenção do grau de Geólogo. Comissão Examinadora Profa. Dra. Vania Silvia Rosolen Ma. Fernanda Teles Gomes Rosa Ma. Carla Vanessa de Sousa Coelho Rio Claro, 2 de julho de 2018. Assinatura da aluna Assinatura da orientadora iii Dedico esse trabalho aos meus pais, Angela e Nivaldo, pelo apoio, carinho e paciência. iv AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) que financiou o projeto geral (2017/14168-1) e permitiu a realização dos campos e análises físico-químicas e à PIBIC/PIBITI pela concessão da bolsa de iniciação científica. Pela orientação, sabedoria, apoio, paciência e pelas conversas, agradeço aos Professores Vania Silvia Rosolen e César Augusto Moreira. Aos técnicos Vladimir, Fábio e Leandro, pelo apoio durante a pesquisa, e docentes, inspiradores de formas diversas. Às pessoas que fizeram parte da Saga Graduação em 12 episódios: Dona Angela, Seu Nivaldo, Ariane e Tiago, pela base, carinho e Paciência (e patrocínio); aos meus avós, tio e tia, que, de perto ou de longe, me inspiram: pelos ensinamentos, sabedoria e carinho; Raquel, pelo apoio, companheirismo, crescimento e pelas risadas; Gustavo, my friend, we are the cham- pions!; Priscile, Samuel, Giovana, Mariana, Jullian e Pina (e agregados), meus irmãos adotivos; amigos do Cotuca, da Física, da Turma da Física e da vida; Juliana, #Lucas, Ana, Nathássia, Warren, pela amizade durante esses eternos mais-que-cinco-anos; Patrícia, Douglas e Diego, aqueles que me apoiaram na jornada árdua pré-eternos-mais-que-cinco-anos; Sandra e Jédison, pela amizade e conversas; Anselmo e Kali, por me ensinarem que o sol continua lá. Agradeço a todas essas pessoas incríveis por me deixarem ser parte de suas vidas. v Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada — Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser... - Álvaro de Campos - “Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) – Das ciências, das artes, da civilização moderna! - Álvaro de Campos - vi RESUMO As argilas altamente aluminosas apresentam importante papel na indústria mineral e são em- pregadas na fabricação de materiais refratários silicoaluminosos e aluminosos. Na área de es- tudo, inserida no Triângulo Mineiro, oeste de Minas Gerais, as informações relacionadas à es- pacialização e aos ambientes de ocorrência dessas argilas são, em sua maioria, empíricas, em- bora elas sejam associadas diretamente às depressões topográficas insuficientemente drenadas desenvolvidas na superfície da chapada. A necessidade constante da diminuição dos custos operacionais na pesquisa mineral e do emprego de procedimentos menos invasivos ao meio ambiente, estimularam o estudo da aplicabilidade de método de Eletrorresistividade como fer- ramenta para a prospecção de argila altamente aluminosa. Para tanto, com base na pesquisa de referenciais teóricos, aquisição de dados de geofísica e ensaios de geoquímica e granulometria, foi apresentada a correlação entre características físico-químicas do solo e as respostas geofísi- cas obtidas. O método de Eletrorresistividade, em um estudo inicial, se mostrou promissor. Foi possível identificar o nível freático e uma zona de recarga e delimitar um aquífero suspenso e um aquífero livre. Além disso, foi possível inferir que os locais mais propícios para a exploração de argila altamente aluminosa seriam os aquíferos suspensos. A amostra coletada nessa área apresentou os maiores conteúdos de partículas finas e alto teor de óxido de alumínio, indícios de maior concentração de gibbsita e, por consequência, de maior interesse comercial. Palavras-Chave: Argila altamente aluminosa. Geofísica. Eletrorresistividade. Latossolo. Gleissolo. vii ABSTRACT High-alumina clays play an important role in the mineral industry. They are used in the man- ufacture of silicoaluminous and alumina refractory materials. In the project area, in the Triâ- ngulo Mineiro, western of Minas Gerais State, the knowledge related to the spatialization and environments of these clays are most empirical, although they are directly associated to the hydromorphic topographic depressions developed on the plateau. The constant need to de- crease operating costs in mineral exploration and the use of less invasive procedures to the environment stimulated the study of the applicability of the Electrical Resistivity method as a tool for the prospecting of high-alumina clay. Based on the research of theoretical references, geophysical data acquisition and geochemistry and granulometry tests, the correlation between soil physicochemical characteristics and the geophysical responses obtained was presented. The Electrical Resistivity method, in an initial study, was promising. It was possible to identify the water table and a recharge zone and to delimit a suspended and a free aquifer. In addition, it was possible to infer that the most suitable sites for the exploitation of high-alumina clay would be suspended aquifers. The sample collected in this area presented the highest content of fine particles and high content of aluminum oxide, indications of higher concentration of gibbsite and, consequently, of greater commercial interest. Keywords: High-alumina clay. Geophysics. Electrical Resistivity Tomography. Ferrasol. Gleysol. viii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Localização da área de estudos, com identificação do eixo da dissecação, na qual foi realizada a aquisição geofísica e a coleta das amostras. ..................................................... 14 Figura 2.2 – Principal acesso à área do estudo. ........................................................................ 15 Figura 2.3 – Visão do perfil de uma das superfícies de chapada do Triângulo Mineiro. ......... 15 Figura 3.1 – Mapa geológico da Bacia Bauru. ......................................................................... 18 Figura 3.2 – Carta cronoestratigráfica da Bacia Bauru. ........................................................... 19 Figura 3.3 – Evolução da Bacia Bauru. .................................................................................... 22 Figura 3.4 – Modelo de sedimentação das unidades cretáceas da Bacia Bauru. ...................... 22 Figura 4.1 – Condutor elétrico com área da seção transversal A e comprimento L. ................ 26 Figura 4.2 – Medição da resistividade por meio de arranjo linear de quatro eletrodos. ........... 27 Figura 6.1 – Estágios de desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso. .................... 33 Figura 6.2 – Resistivímetro ABEM Terrameter LS. (A) Detalhe da interface do aparelho; (B) Detalhe do cabo acoplado. ........................................................................................................ 34 Figura 6.3 – Linha de aquisição de dados geoelétricos e pontos de coleta de amostras na área de estudo. .................................................................................................................................. 35 Figura 6.4 – (A) Coleta das amostras à montante da dissecação. (B) Detalhe da argila aluminosa (material esbranquiçado). ......................................................................................................... 36 Figura 6.5 – Arranjo do modelo de blocos e pontos de resistividade aparente. ....................... 37 Figura 6.6 – (A) Estufa. (B) Amostra pulverizada em almofariz. ............................................ 38 Figura 6.7 – Peneira de malha 230 mesh. ................................................................................. 38 Figura 6.8 – Espectrômetro de fluorescência de Raios-X Philips PW-2400. ........................... 38 Figura 6.9 – Equipamento Mastersizer 2000 com unidade de dispersão de amostras Hydro 2000 MU, ambos da Malvern Panalytical. ........................................................................................ 39 Figura 7.1 – Modelo de inversão de resistividade com topografia e espaçamento de 10 metros entre os eletrodos. ..................................................................................................................... 41 Figura 7.2 – Linha de aquisição dos dados geoelétricos e pontos de coleta das amostras de solo na área de estudo....................................................................................................................... 43 Figura 7.3 – Distribuição de partículas da amostra coletada em solo hidromórfico (UBR1b). Em cinza escuro, frequência predominante; em cinza mais claro, frequência secundária.............. 45 Figura 7.4 – Distribuição de partículas da amostra coletada no aquífero suspenso (UBR2). Em cinza escuro, frequência predominante; em cinza mais claro, frequência secundária.............. 46 ix Figura 7.5 – Distribuição de partículas da amostra coletada no aquífero livre (UBR3a). Em cinza escuro, frequência predominante. ................................................................................... 47 Figura 7.6 – Distribuição de partículas da amostra coletada no aquífero livre (UBR3c). Em cinza escuro, frequência predominante; em cinza mais claro, frequência secundária.............. 47 x LISTA DE TABELAS Tabela 6.1 – Escala granulométrica de Atterberg. .................................................................... 39 Tabela 7.1 – Resultados da análise geoquímica. ...................................................................... 43 Tabela 7.2 – Resultados dos ensaios granulométricos. ............................................................ 45 xi SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12 2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS ................................ 14 3 CONTEXTO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO REGIONAL .......................... 18 3.1 Litoestratigrafia da Bacia Bauru ................................................................................... 19 3.1.1 Grupo Bauru .................................................................................................................... 20 3.2 Evolução da Bacia Bauru ................................................................................................ 21 4 PROSPECÇÃO GEOFÍSICA ......................................................................................... 24 4.1 Método de Eletrorresistividade ....................................................................................... 25 4.1.1 Resistividade elétrica ....................................................................................................... 25 4.1.2 Resistividade no meio geológico ..................................................................................... 28 4.1.3 Método de Eletrorresistividade como ferramenta de prospecção de argilas altamente aluminosas....................................................................................................................... 29 5 ARGILAS ALTAMENTE ALUMINOSAS ................................................................... 30 5.1 As argilas altamente aluminosas no Triângulo Mineiro .............................................. 30 5.2 Gênese das argilas altamente aluminosas no Triângulo Mineiro ............................... 31 6 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 33 6.1 Etapa preparatória .......................................................................................................... 33 6.2 Etapa de campo ................................................................................................................ 33 6.2.1 Aquisição de linha geofísica ........................................................................................... 34 6.2.2 Coleta de amostras .......................................................................................................... 35 6.3 Atividades de escritório e laboratório ............................................................................ 36 6.3.1 Tratamento dos dados geofísicos .................................................................................... 36 6.3.2 Ensaios de laboratório .................................................................................................... 37 6.3.3 Atividades de escritório................................................................................................... 40 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 41 7.1 Investigação geofísica ....................................................................................................... 41 7.2 Método de Eletrorresistividade e os ensaios geoquímico e granulométrico ................ 43 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 50 12 1 INTRODUÇÃO As argilas podem ser definidas como produtos do intemperismo químico de uma rocha. Em específico, são classificadas como argilas altamente aluminosas aquelas que apresentam mais de 46% de alumínio após passar por processo térmico de retirada da água de sua estrutura. O alto teor de alumínio pode ser conferido por hidróxidos de alumínio livres, como a gibbsita, a bohemita ou o diásporo e/ou pela presença de caulinita em grandes quantidades, como no caulim primário, que após processamento pode apresentar mais de 46% de alumina (CORRÊA, 2006). As argilas altamente aluminosas têm como principal característica a resistência a altas temperaturas sem sofrer deformação ou fusão e são formadas por processos de lixiviação su- pérgena. Apresentam importante papel na indústria mineral e são empregadas na fabricação de materiais refratários silicoaluminosos e aluminosos. São utilizadas, também, na manufatura de massas cerâmicas empregadas na produção de placas refratárias que atuam como isolantes e revestimentos para fornos, com o intuito de promover aumento de plasticidade e resistência a temperaturas elevadas (LOBATO, 2009). As informações relacionadas à espacialização e aos ambientes de ocorrência das argilas altamente aluminosas na área do estudo são, em sua maioria, empíricas, embora sejam associ- adas diretamente às depressões topográficas hidromórficas, que consistem em áreas planas sa- turadas permanentemente ou em determinado período do ano. Nessas áreas estão inseridos mi- crorrelevos ou morrotes de terra cobertos por vegetação lenhosa e conhecidos como murundus (OLIVEIRA-FILHO; FURLEY, 1990). A região de estudo está situada na chapada sedimentar do Triângulo Mineiro, no muni- cípio de Uberaba, oeste do Estado de Minas Gerais. Nessa localidade, o substrato rochoso cor- responde ao período Neocretácico (Coniaciano-Maastrichtiano) da Bacia Bauru (BARCELOS, 1984). Sobre esse pacote rochoso, que aflora na borda íngreme da chapada e promove sua sus- tentação, se desenvolvem perfis espessos de solo e de alteração. Na superfície atua um sistema latossolo-gleissolo, no qual o primeiro apresenta crosta ferruginosa e aflora nas porções bem drenadas do platô e o último situa-se nas depressões topográficas insuficientemente drenadas desenvolvidas na superfície (ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). As argilas exploradas pela indústria de materiais refratários são localizadas nos horizon- tes brancos dos perfis de gleissolo e são constituídas por alumínio na forma de silicatos hidra- tados (caulinita) e hidróxidos (gibbsita). Entretanto, a origem da heterogeneidade do 13 enriquecimento gibbsítico nos horizontes cauliníticos desferruginizados, cujos teores variam entre 20% e 75% (informação fornecida pelas empresas que possuem concessão de lavra na área), é desconhecida (COELHO, 2017). As investigações geofísicas aplicadas em toposse- quências representativas podem fornecer subsídios para a prospecção mineral das argilas ao indicar alvos com maior enriquecimento em alumina. Nos últimos anos, a indústria mineral mundial tem atravessado um período de crise, com redução de investimentos e aumento nos custos dos projetos de exploração de uma maneira geral (CHADE, 2018; DNPM, 2017). Nesse cenário, é necessário o emprego de ferramentas de baixo custo operacional na pesquisa de alvos exploratórios. Além disso, a indústria mineral, quando tecnicamente bem desenvolvida, é uma das atividades industriais que menos afeta o meio ambiente (DNPM, 2010). Nesse contexto, o presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo avaliar a aplicabilidade do método de Eletrorresistividade na prospecção para as argilas altamente alu- minosas no oeste de Minas Gerais. Para tanto, com base na pesquisa de referenciais teóricos, será desenvolvida uma breve descrição do contexto geológico-geomorfológico regional, bem como a conceituação do método de Eletrorresistividade e das argilas altamente aluminosas. Em seguida, será analisada a aplicabilidade do método de Eletrorresistividade na determinação da profundidade dos solos, do saprólito, de relíquias de crosta ferruginosa e da altura do nível freático, a fim de reconhecer sinais que indiquem mudanças litológicas, pedológicas e de satu- ração que possam estar relacionadas com os enriquecimentos. Por fim, serão confrontados re- sultados de ensaios geoquímico e de granulometria com a seção geofísica com o intuito de avaliar a acurácia do método de Eletrorresistividade. 14 2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS A área em que a pesquisa foi realizada se insere na folha topográfica Nova Ponte (SE- 23-Y-C-I) (IBGE, 1972), no município de Uberaba, que pertence à Mesorregião do Triângulo Mineiro e à Microrregião de Araxá (IBGE, 2008) (Figura 2.1). Figura 2.1 – Localização da área de estudos, com identificação do eixo da dissecação, na qual foi realizada a aquisição geofísica e a coleta das amostras. Fonte: Imagem produzida pela autora com base em dados disponibilizados pelo IBGE. O acesso aos pontos de coleta das amostras e à localidade da aquisição dos dados geo- físicos é feito a partir de Uberaba (MG). Segue-se pela rodovia BR-262 em direção à Nova Ponte/Montes Claros até o acesso ao Rodoanel Anel Viário/LMG-798 (Rodovia Edílson La- martine Mendes). Após cerca de 30 km na rodovia LMG-798 é possível acessar uma via local, na qual se percorre 18 km até o local das coletas (Figura 2.2). 15 Figura 2.2 – Principal acesso à área do estudo. Fonte: Imagem produzida pela autora com base em dados disponibilizados pelo Google Maps. A região constitui um relevo típico de chapada, com topo plano a suavemente ondulado, a cerca de 1000 metros de altitude e pertence ao domínio dos Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, na subunidade do Planalto Meridional da Bacia do Paraná (AB’SÁBER, 1963; PROJETO RADAMBRASIL, 1983). Figura 2.3 – Visão do perfil de uma das superfícies de chapada do Triângulo Mineiro. Fonte: Batezelli (2003). 16 No Triângulo Mineiro, os remanescentes da Superfície Sul-Americana, denominada por King (1956) e datada do final do Cretáceo (145-65 Ma), constituem as chapadas atuais e apre- sentam declives inferiores a 3% (Figura 2.3). Esses remanescentes são recobertos por espesso manto de alteração muito evoluído geoquimicamente (MARQUES et al., 2004; MOTTA et al., 2002; VALADÃO, 2009). Segundo Motta et al. (2002), as bancadas lateríticas constituíam um obstáculo à livre circulação de água infiltrada na chapada, o que aumentava o tempo de residência de água nos solos mais próximos das extremidades e, por consequência, gerava um gradiente hídrico entre o centro e as bordas do planalto. Esse gradiente foi responsável pela distribuição de solos hoje verificadas nas chapadas mais amplas da região. A cobertura pedológica é constituída pela associação latossolo-gleissolo. O latossolo pode ser encontrado nas posições topograficamente mais elevadas e bem drenadas da vertente e se divide em três horizontes geneticamente ligados: da base para o topo, apresenta um hori- zonte manchado muito argiloso, que transiciona para um horizonte ferruginoso encouraçado sotoposto a um horizonte nodular friável. Da base para o topo, o gleissolo, encontrado nas de- pressões topográficas hidromórficas, apresenta um horizonte manchado plíntico, um horizonte desferruginizado enriquecido em caulinita e gibbsita e um horizonte rico em matéria orgânica de coloração cinza escura a preta. O clima atual é controlado pelas massas de ar Continental (Equatorial e Tropical) e Atlântica (Polar e Tropical), cujos deslocamentos são responsáveis pela alternância entre esta- ções úmidas e secas. A temperatura média anual e a precipitação média são, respectivamente, de 23 ºC e 1464 mm/ano, com os períodos mais chuvosos concentrados entre dezembro e ja- neiro (QUEIROZ, 2012). No que diz respeito à vegetação, a floresta tropical latifoliada é encontrada, no Triângulo Mineiro, exclusivamente nos vales fluviais da bacia hidrográfica do Paraná. Nas demais áreas há predomínio de cerrado, cuja fisionomia se insere entre a floresta e o campo. Nesse ambiente, há dois tipos de vegetação essenciais que se relacionam com a presença marcante de uma esta- ção seca pronunciada: árvores de pequeno porte (entre três e seis metros) e tufos isolados de gramíneas e ervas que, quase sempre, não ultrapassam meio metro de altura. O déficit hídrico inviabiliza a existência de vegetação mais densa. Dessa forma, há um predomínio de uma ve- getação mais aberta que favorece mais o escoamento superficial quando comparado com as regiões florestadas (SUGUIO, 1973; TORRES; MACHADO, 2011; TORRES; MARQUES NETO; MENEZES, 2012). 17 Por fim, no âmbito geológico, a região pertence à Bacia Bauru e apresenta como subs- trato rochoso litologias do Grupo Bauru (Cretáceo Superior), dividido nas formações Araça- tuba, Uberaba, Marília e Adamantina. Essas unidades são sotopostas ao basalto da Formação Serra Geral do Grupo São Bento e, sobre elas, são encontrados sedimentos Cenozoicos incon- solidados. Todo esse pacote rochoso assenta sobre as rochas Pré-Cambrianas do Grupo Araxá e, em alguns locais, há afloramento do Complexo Basal ou Granito-gnáissico (BACCARO, 1991; SUGUIO, 1973). A geologia da área será abordada com maiores detalhes no Capítulo 3 Contexto Geológico-Geomorfológico Regional. 18 3 CONTEXTO GEOLÓGICO-GEOMORFOLÓGICO REGIONAL A área do estudo está localizada na chapada sedimentar do Triângulo Mineiro, no mu- nicípio de Uberaba, oeste de Minas Gerais. Nessa região, o substrato rochoso corresponde ao período Cretáceo Superior (Coniaciano-Maastrichtiano) da Bacia Bauru: o Grupo Bauru. O grupo, na área de estudo, é constituído pelas formações Uberaba, Adamantina e Marília, essa última, dividida nos membros Ponte Alta, Serra da Galga e Echaporã (BATEZELLI, 2003). A Bacia Bauru, de formato alongado na direção nordeste, recobre o centro-oeste do Es- tado de São Paulo, nordeste do Mato Grosso do Sul, sudeste do Mato Grosso, sul de Goiás e oeste de Minas Gerais em uma superfície de cerca de 330 mil km² e espessura máxima preser- vada de cerca de 300 metros (Figura 3.1) (BATEZELLI, 2003). A unidade é constituída por um pacote de rochas sedimentares depositado sobre a Formação Serra Geral (BATEZELLI, 2003) e apresenta limite superior erosivo demarcado pela Superfície Sul-Americana (FERNANDES; COIMBRA, 1996). Figura 3.1 – Mapa geológico da Bacia Bauru. Fonte: Modificado de Batezelli (2016). 19 3.1 Litoestratigrafia da Bacia Bauru A Bacia Bauru, de composição essencialmente arenosa e depositada em ambiente con- tinental, é dividida em dois grupos cronocorrelatos, Caiuá e Bauru, com idades entre Aptiano e Maastrichtiano, e sobrepõe os derrames basálticos da Formação Serra Geral de forma não-con- cordante (Figura 3.2). O Grupo Caiuá é subdividido em três formações (da base para o topo): formações Goio Erê (margens de Draa), Rio Paraná (Draa interior) e Formação Santo Anastá- sio (paleossolos) (BATEZELLI, 2015). Por sua vez, o Grupo Bauru é constituído pelas forma- ções: Araçatuba, de origem lacustre; Adamantina e Uberaba, formadas em planície fluvial com retrabalhamento por ventos em clima semiárido; e Marília, depositada em sistema fluvial com lagos alcalinos associados na porção mediana a distal de leques aluviais sob clima árido (BATEZELLI, 2010; BATEZELLI; LADEIRA, 2016). Figura 3.2 – Carta cronoestratigráfica da Bacia Bauru. Fonte: Batezelli (2015). O Grupo Caiuá recobre os Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo (Figura 3.1) e, portanto, não apresenta relevância para o presente trabalho. A aquisição dos dados 20 geofísicos e a coleta das amostras foram realizadas em uma área cujo substrato rochoso é com- posto, essencialmente, por litologias pertencentes ao Grupo Bauru, que é encontrado em áreas do Estado de São Paulo, norte do Mato Grosso do Sul, Goiás e Triângulo Mineiro (Figura 3.1). 3.1.1 Grupo Bauru Segundo Milani et al. (2007), o Grupo Bauru foi formado em condições climáticas se- miáridas em sistemas de leques aluviais marginais e lençóis de areia com sistema de rios efê- meros e zona endorreica alagadiça. No Triângulo Mineiro, são aflorantes as formações Uberaba, Adamantina e Marília (BATEZELLI, 2003). O presente trabalho foi desenvolvido em uma área onde o substrato é constituído por rochas pertencentes à Formação Marília. 3.1.1.1 Formação Marília A Formação Marília foi definida por Almeida & Barbosa em 1953 e corresponde à por- ção superior do Grupo Bauru (TAVARES; CANDEIRO; SIMBRAS, 2012). À unidade é atri- buída idade Neomaastrichtiana, estimada a partir da presença de espécies de ostracodes carac- terísticas do andar (DIAS-BRITO et al., 2001). Apresenta espessura máxima em subsuperfície de 100 metros e, em superfície, de 60 metros e sobrepõe as formações Adamantina e Uberaba por meio de contato interdigitado a abrupto; a superfície topográfica recente constitui seu limite superior (BATEZELLI, 2003). A formação é composta por arenito e arenito conglomerático com estratificações cruza- das acanaladas e planares e por conglomerado clasto-suportado polimítico, com seixos arredon- dados de quartzo, quartzito, xisto, fragmentos de chert e basalto e intraclastos pelíticos e car- bonáticos. A presença generalizada de cimento calcífero foi responsável por aumentar a resis- tência à erosão e sustentar as escarpas dos planaltos de Marília, Garça e Echaporã (BATEZELLI, 2003; RIBEIRO; CARVALHO, 2007). Barcelos (1984) subdividiu a Formação Marília em três membros: Ponte Alta e Serra da Galga, que afloram no leste do Triângulo Mineiro, e Echaporã, que aflora na porção oeste. O Membro Serra da Galga corresponde ao topo da sequência estratigráfica na chapada. Dessa forma, os processos de alteração e pedogênese que atuaram sobre o substrato rochoso superficial o afetaram diretamente e, por isso, é a unidade de interesse no presente estudo. A unidade sobrepõe a Formação Uberaba, com a qual tem contatos pouco erosivos, e apresenta 21 correlação estratigráfica com o Membro Echaporã. Ademais, possui contato aparentemente in- terdigitado, complexo e irregular com o Membro Ponte Alta (FERNANDES, 1998, 2004). Se- gundo Batezelli (2003), o membro é constituído por: − Conglomerado polimítico, clasto-sustentado, branco a amarelado na base com gra- dação para conglomerado sustentado por matriz arenosa com clastos subangulosos a subarre- dondados e mal selecionados; − Arenito conglomerático a grosso, amarelado, com estratificações cruzadas acanala- das e tabulares e plano-paralelas, com intraclastos de calcretes, nódulos carbonáticos e feições pedogenéticas; e − Argilito e siltito marrom-avermelhado, em granodecrescência ascendente. No que diz respeito aos fósseis, o membro exibe importantes ocorrências de ossos de répteis de grande porte, como dinossauros, crocodilos e quelônios (FERNANDES; COIMBRA, 2000a). Para Fernandes & Coimbra (2000a), a unidade apresenta como ambiente deposicional leques aluviais medianos a distais, com sistemas fluviais entrelaçados associados e eventuais intercalações de depósitos de pequenas dunas eólicas. Nesse contexto, os clastos imersos em lamito são depositados por fluxos densos esporádicos. As condições climáticas de semiaridez persistentes permitiram a formação de crostas endurecidas (calcretes e palicretes). O processo de formação dessas crostas proporcionou a dis- solução de grãos siliciclásticos do arcabouço, que promoveu o subsequente enriquecimento em sílica dos fluidos percolantes (COELHO, 2017). 3.2 Evolução da Bacia Bauru A Bacia Bauru, de caráter endorreico, foi formada a partir da deposição de sedimentos acumulados em uma sequência única. O espaço para a deposição de tais sedimentos foi criado a partir de um lento movimento de subsidência do substrato como compensação isostática à sobrecarga gerada pelos derrames basálticos ocorridos naquela porção da Plataforma Sul-Ame- ricana durante o Cretáceo Inferior (Figura 3.3 A) (BATEZELLI, 2003). Durante o período de sedimentação da bacia, ocorreram reativações tectônicas, especi- almente nas margens, que promoveram alterações em sua geografia e permitiram o avanço de leques aluviais para seu interior (Figura 3.3 B). Concomitantemente, mudanças climáticas pro- vocaram o aumento da umidade nas zonas periféricas (FERNANDES, 2004). 22 Figura 3.3 – Evolução da Bacia Bauru. Fonte: Modificado de Fernandes (1998). Figura 3.4 – Modelo de sedimentação das unidades cretáceas da Bacia Bauru. Fonte: Modificado de Cortes (2015). Leques aluviais locados na margem nordeste (Membros Serra da Galga e Ponte Alta) atingiam o interior da bacia através de um sistema fluvial anastomosado (formações Uberaba e Adamantina). Dado o baixo gradiente topográfico, esse sistema se transformava em meandrante no interior da bacia, nas porções distais, com canais definidos, rasos, em extensas planícies aluviais com lagos residuais formados em eventos de transbordamentos (Formação Araçatuba). Em direção ao interior, a umidade diminuía e ocorria um aumento progressivo da evaporação e 23 da escassez de água até o desaparecimento do sistema fluvial nas planícies arenosas adjacentes ao deserto Caiuá (Figura 3.4) (FERNANDES; COIMBRA, 2000b). Os processos erosivos pos- teriores foram responsáveis pela remoção de parte do topo da sequência Neocretácica e pelo entalhe do relevo atual (FERNANDES, 1998). Entre o final do Cretáceo e o início do Terciário, forças verticais de sentido oposto, geradas por reação compensatória, passaram a atuar na área e a bacia passou à fase de inversão tectônica e erosão da sequência suprabasáltica (Figura 3.3 C) (FERNANDES, 2004). Durante essa etapa ocorreu a formação da Superfície Sul-Americana (KING, 1956). No Triângulo Mineiro, as chapadas sedimentares são formas residuais dessas superfícies de erosão, que datam do final do período Cretáceo (145-65 Ma). Nessa época, grandes exten- sões do continente sul-americano consistiam em superfícies quase planas com testemunhos de rochas resistentes de ciclos erosivos ocorridos anteriormente (MARQUES et al., 2004). Se- gundo Valadão (2009), no entanto, no final do Cenozoico ocorreram eventos desnudacionais agressivos responsáveis pelo desaparecimento de remanescentes das superfícies de aplaina- mento do Brasil Oriental. As chapadas sedimentares são recobertas por um espesso manto de alteração muito evo- luído geoquimicamente em virtude da atuação de clima mais úmido (MARQUES et al., 2004; MOTTA et al., 2002; VALADÃO, 2009). Na área onde o estudo foi realizado, a cobertura pedológica é constituída por um sistema latossolo-gleissolo. O primeiro, relacionado a condi- ções de melhor drenagem, pode ser encontrado nas posições topograficamente mais elevadas e centrais das chapadas e o último, é encontrado em áreas hidromórficas levemente deprimidas do interior ou próximas às bordas (ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). Uma abordagem mais detalhada desse sistema será realizada no Capítulo 5 – Argilas altamente aluminosas. 24 4 PROSPECÇÃO GEOFÍSICA A geofísica é uma ciência que estuda o interior da Terra por meio da análise da subsu- perfície através da aquisição de dados na superfície com base no contraste entre as propriedades físicas do meio (TELFORD; GELDART; SHERIFF, 1990). Essa ciência é subdividida em duas vertentes principais: a geofísica pura, na qual são estudadas as propriedades físicas e a consti- tuição interna da Terra por meio de fenômenos físicos que afetam o planeta; e a geofísica apli- cada, que investiga propriedades da crosta terrestre em uma escala relativamente pequena (ORELLANA, 1972). Os métodos são divididos em geoelétricos (Eletrorresistividade, Poten- cial Espontâneo – SP e Polarização Induzida – IP), eletromagnético, sísmicos (Refração e Re- flexão), potenciais (Gravimetria e Magnetometria), radiométricos e perfilagem de poços (TELFORD; GELDART; SHERIFF, 1990). Como a aplicação da Geofísica é baseada no contraste de determinadas propriedades físicas do objeto de estudo, a escolha do método é feita a partir de respostas anômalas do mesmo a determinados estímulos que possam diferenciá-lo do meio circundante. Além disso, essa es- colha envolve fatores como o custo, a eficiência e a profundidade de alcance necessária para o objetivo da pesquisa (KEAREY; BROOKS; HILL, 2002). A prospecção geofísica consiste no emprego de métodos e técnicas de investigação e aquisição de dados na exploração mineral. Associada a outras técnicas, como o mapeamento geológico, a prospecção geoquímica e a geoestatística, fornece subsídio às etapas de estratégia e planejamento nas fases de pesquisa e desenvolvimento mineral (MOON; WHATELEY; EVANS, 2006). Segundo Beauvais et al. (1999), os métodos geofísicos podem favorecer o entendimento dos processos de subsuperfície que modelam as paisagens e promovem a diversidade das fácies lateríticas geralmente observadas diretamente em trincheiras. O conhecimento a respeito da es- pessura das camadas e sua disposição espacial são de fundamental importância na interpretação dos processos de alteração de rochas sedimentares e da dinâmica hidrológica do sistema. Esses dados são relevantes para o estudo da paisagem pedológica da chapada e são de grande valia em mapeamentos geológicos e na prospecção mineral de áreas antigas e profundamente altera- das. O presente trabalho emprega o método de Eletrorresistividade na obtenção da profundi- dade dos solos, espessura do saprólito, relíquias de crosta ferruginosa, descontinuidades que facilitem a entrada de água meteórica no sistema e da altura do nível freático, a fim de reconhe- cer sinais que mudanças litológicas, estruturais, pedológicas e de saturação que possam estar 25 relacionadas com os enriquecimentos de argilas altamente aluminosas. As investigações geofí- sicas são aplicadas em topossequências representativas, que podem fornecer subsídios ao es- tudo ao indicar alvos com maior enriquecimento em alumina (MOREIRA et al., 2018). 4.1 Método de Eletrorresistividade O método de Eletrorresistividade é fundamentado na análise do potencial elétrico de campos elétricos artificialmente provocados e pode ser empregado para determinar a existência de descontinuidades horizontais e verticais que apresentam contraste de propriedades elétricas. É comumente empregado nas áreas de hidrogeologia, estratigrafia, prospecção mineral, estudos ambientais e geotécnicos (TELFORD; GELDART; SHERIFF, 1990). 4.1.1 Resistividade elétrica Resistividade elétrica é uma propriedade dos materiais que os caracteriza quanto à opo- sição ao fluxo de corrente elétrica. No Sistema Internacional de Unidades (SI), é quantificada através da unidade de resistência multiplicada pela unidade de comprimento (Ω.m) (KOEFOED; MALLICK, 1979). A presença de metais e/ou fluidos em poros e descontinuidades atuam de forma a dimi- nuir a resistividade de rochas e solos, que, em geral, são bastante resistivos. A resistividade elétrica do solo varia devido a variáveis como permeabilidade; grau de saturação; resistividade do fluido nos poros; porosidade; tamanho, forma e distribuição das partículas sólidas; espessura e composição da camada catiônica dos argilominerais (FUKUE et al., 1999; NASCIMENTO; PIRES; MORAES, 2004). Quando determinado material é submetido a uma diferença de potencial, um fluxo de cargas elétricas livres é estabelecido entre as suas extremidades. Aos elétrons que passam pelo material é oferecida uma certa dificuldade, conhecida como resistência elétrica. Essa variável é proporcional ao comprimento e à constante que caracteriza o material e inversamente propor- cional à área da seção transversal do condutor (Figura 4.1) (LOWRIE, 2007), ou seja: − Quanto maior a área da seção transversal (A), menor a resistência aplicada pelo con- dutor, dado que a passagem de uma corrente elétrica por uma área maior é mais fácil; − Quanto maior o comprimento (L) do condutor, maior a resistência, uma vez que o espaço percorrido pelas cargas é maior e, consequentemente, a perda de energia é maior; 26 − Quanto maior a quantidade de cargas elétricas livres disponível no material, maior a facilidade do estabelecimento de uma corrente elétrica. Essa característica é intrínseca a cada tipo de material e é conhecida como resistividade elétrica. Figura 4.1 – Condutor elétrico com área da seção transversal A e comprimento L. Fonte: Lowrie (2007). Dessa forma, a resistência elétrica de um dado material pode ser quantificada através da equação (4.1), na qual ρ representa a resistividade elétrica do material, L é o comprimento do condutor, A é a área da seção transversal e R, a resistência elétrica (LOWRIE, 2007). 𝑅 = 𝜌𝐿 𝐴 (4.1) A partir da equação (4.1), é possível quantificar a resistividade elétrica através da equa- ção (4.2). 𝜌 = 𝐿 𝑅𝐴 (4.2) No método de Eletrorresistividade, os eletrodos de potencial (M, N) medem a diferença de potencial gerada pelo fluxo de corrente elétrica injetada no solo pelos eletrodos de corrente (A, B). No presente trabalho foi utilizada a técnica da tomografia elétrica, por meio da qual é possível realizar investigações laterais em diversas profundidades através de aquisições reali- zadas na superfície (CASTRO; CAVALCANTI; ROCHA, 2016). Para a aquisição, foi escolhido o arranjo Schlumberger, caracterizado pelo par de ele- trodos de potencial no centro e pelos eletrodos de corrente nas extremidades (Figura 4.2). Esse arranjo tem como vantagem uma boa resolução vertical, o que facilita a identificação de cama- das horizontais. Para a investigação das profundidades maiores, os eletrodos A e B são gradu- almente afastados. Assim, em pesquisas relacionadas com a caracterização de solos, o espaça- mento entre os eletrodos pode ser de poucos centímetros, dada a necessidade de melhor 27 resolução para a investigação de estratos rasos (BEAUVAIS et al., 1999; BERTIN; LOEB, 1976; NASCIMENTO; PIRES; MORAES, 2004; TELFORD; GELDART; SHERIFF, 1990). Figura 4.2 – Medição da resistividade por meio de arranjo linear de quatro eletrodos. Fonte: Modificado de Knödel, Lange e Voigt (2007). Para um terreno homogêneo de resistividade ρ, a corrente elétrica i injetada flui radial- mente e as superfícies equipotenciais são consideradas semiesferas concêntricas de raio r. Para um espaço compreendido entre duas equipotenciais, a diferença de potencial ΔV é calculada pela equação (4.3). 𝛥𝑉 = − 𝜌.𝛥𝑟.𝑖 2.𝜋.𝑟2 (4.3) O valor do potencial V é calculado através da integral da equação (4.3): 𝑉 = 𝜌.𝑖 2.𝜋.𝑟 (4.4) Na prática, os espaçamentos entre os eletrodos A e M e B e N aumentam a cada aumento da profundidade, visto que os eletrodos de injeção de corrente são movidos para adquirir dados em maiores profundidades. Os potenciais elétricos VM e VN dos eletrodos M e N, para um valor uniforme de resistividade ρ no espaço entre os eletrodos A e B, podem ser calculados a partir 28 da equação (4.5), na qual i é a corrente elétrica, AM, MB, AN e NB correspondem ao espaça- mento entre os eletrodos. 𝑉𝑀 = 𝜌.𝑖 2𝜋 ( 1 𝐴𝑀 − 1 𝑀𝐵 ) e 𝑉𝑁 = 𝜌.𝑖 2𝜋 ( 1 𝐴𝑁 − 1 𝑁𝐵 ) (4.5) A diferença de potencial VMN em um ponto qualquer no espaço entre os eletrodos M e N pode ser calculada a partir da equação (4.6). 𝑉𝑀𝑁 = 𝑉𝑀 − 𝑉𝑁 = 𝜌.𝑖 2𝜋 ( 1 𝐴𝑀 − 1 𝑀𝐵 − 1 𝐴𝑁 + 1 𝑁𝐵 ) (4.6) A partir da diferença de potencial VMN, é possível calcular, através da equação (4.7), o valor da resistividade elétrica entre os eletrodos M e N. 𝜌 = 𝑉𝑀𝑁 𝑖 2𝜋 ( 1 𝐴𝑀 − 1 𝑀𝐵 − 1 𝐴𝑁 + 1 𝑁𝐵 ) (4.7) A relação 2π ( 1 𝐴𝑀 − 1 𝑀𝐵 − 1 𝐴𝑁 + 1 𝑁𝐵 ) −1 equivale ao fator geométrico (Kgeom) do arranjo e é utilizado como fator de correção dos valores de resistência na determinação da resistividade do material. É possível obter uma equação geral para a resistividade elétrica a partir da substi- tuição do fator geométrico na equação (4.7). 𝜌𝑎 = 𝐾𝑔𝑒𝑜𝑚 𝑉𝑀𝑁 𝑖 (4.8) A equação geral (4.8) pode ser empregada no cálculo da resistividade elétrica de meios homogêneos e isotrópicos. Como o meio geológico é constituído por materiais heterogêneos e, por consequência, a resistividade elétrica de cada ponto é distinta tanto lateralmente quanto em profundidade, a equação (4.8) obtém como resultado um valor conhecido como resistividade aparente (KELLER; FRISHKNECHT, 1970). Apesar de refletir os diversos valores de resistividade elétrica encontrados no volume investigado, a resistividade aparente constitui um conceito formal e não pode ser tratada como a média ponderada das resistividades em subsuperfície (ORELLANA, 1972). 4.1.2 Resistividade no meio geológico Na prática, a corrente elétrica pode penetrar no solo através da condução eletrônica, da condução eletrolítica ou da condução dielétrica (LOWRIE, 2007). 29 A condução eletrônica é característica de metais, que apresentam elétrons livres, e ocorre nos materiais com estrutura homogênea, alta concentração de elétrons livres e elevada mobilidade. A condução eletrolítica afeta soluções aquosas com íons livres e caracteriza o prin- cipal tipo de condução elétrica em solos e substratos rochosos, nos quais o meio apresenta po- rosidade ou descontinuidades e sedimentos inconsolidados. Por último, a condução dielétrica atua em materiais com resistividade alta ou isolantes. Nesse caso, os elétrons são deslocados devido à influência de um campo elétrico induzido (LOWRIE, 2007). Com exceção dos metais e da grafita, os minerais formadores de rocha são essencial- mente isolantes e, nesse caso, prevalece a condução eletrolítica através dos poros preenchidos por fluidos do material. A resistividade é determinada tanto para rochas quanto para solos por um ou mais dos seguintes fatores: (i) conteúdo e tipo de argila; (ii) variação da umidade com a profundidade; (iii) salinidade do fluido; (iv) temperatura do fluido (MCNEIL, 1980). 4.1.3 Método de Eletrorresistividade como ferramenta de prospecção de argilas altamente alu- minosas A compreensão dos processos de subsuperfície que esculpiram as paisagens e geraram a diversidade de fácies do horizonte laterítico subjacente é de grande importância para o desen- volvimento da aplicação de métodos geofísicos na prospecção de água subterrânea e a explora- ção mineral, por exemplo (BEAUVAIS et al., 2004). O método de Eletrorresistividade pode ser empregado para a obtenção de uma cobertura contínua ao longo dos perfis, bem como de dados quantitativos sobre as propriedades elétricas do regolito. Além disso, pode contribuir para o conhecimento do manto de intemperismo, sua espessura e a disposição das estruturas da camada em duas dimensões, visto que pode identifi- car, por exemplo, a geometria dos domínios saturados e dos níveis freáticos (BEAUVAIS et al., 1999; ROBAIN et al., 1996). Por outro lado, essa técnica apresenta algumas desvantagens nesse tipo de estudo. A interpretação das seções obtidas não é única e, além disso, o método não permite distinguir camadas muito superficiais e materiais com propriedades elétricas semelhantes (BEAUVAIS et al., 2004). 30 5 ARGILAS ALTAMENTE ALUMINOSAS São classificadas como argilas altamente aluminosas aquelas que apresentam mais de 46% de alumínio após passar por calcinação. No Triângulo Mineiro, o alto teor de alumínio é conferido pela presença de gibbsita e caulinita no horizonte branco do gleissolo (CORRÊA, 2006). Esse material é formado por processos de lixiviação supérgena e é empregado como matéria-prima em indústrias que aplicam altas temperaturas em seus processos de produção devido à sua elevada resistência. As argilas altamente aluminosas são utilizadas no fabrico de materiais refratários silicoaluminosos e aluminosos, na manufatura de massas cerâmicas para a produção de placas refratárias, nas indústrias siderúrgica, metalúrgica de metais não-ferrosos, de vidro e química e em fundições de ferro e aço (LOBATO, 2009). Segundo o autor, a escolha do material refratário para cada atividade pode variar em função da temperatura demandada nos processos, da agressividade e afinidade química do meio, das ações físicas ou mesmo de qual mecanismo físico-químico predomina no processo. 5.1 As argilas altamente aluminosas no Triângulo Mineiro Segundo Corrêa (2006), na região próxima ao município de Uberaba, as argilas alta- mente aluminosas apresentam teores entre 40% e 90% para os óxidos de alumínio em base calcinada. Esses teores permitem classificar os materiais como argilas bauxíticas, que transici- onam entre as argilas refratárias típicas e as bauxitas. As argilas bauxíticas se distinguem pela presença de hidróxidos de alumínio, em especial a gibbsita, associada a argilominerais cauliní- ticos. O autor cita a presença de material argiloso cinza claro recoberto por aproximadamente 40 cm de solo negro húmico em uma área lavrada pela Companhia Paulista de Mineração Ltda. e a composição química de uma argila explorada pela Indústria Brasileira de Artigos Refratários S/A (IBAR) determinada como: SiO2 = 27,8%; Al2O3 = 44,9%; TiO2 = 3,3%; Fe2O3 = 1%; e LOI = 23,4%. A qualidade dos materiais refratários é determinada através do teor de alumina contido em seus minerais. Na região do Triângulo Mineiro, no município de Uberaba, a gibbsita, pre- ferencialmente concentrada nos horizontes superiores dos perfis de alteração, propicia a produ- ção de material altamente aluminoso (CORRÊA, 2006). 31 5.2 Gênese das argilas altamente aluminosas no Triângulo Mineiro Segundo Coelho (2017), no Triângulo Mineiro, as argilas aluminosas se formaram a partir do nível ferruginoso do Membro Serra da Galga da Formação Marília. A superfície topográfica plana da região, que corresponde à Superfície Sul-Americana do Terciário Inferior; a alternância das características climáticas ocorrida no Cenozoico; e a alta erodibilidade do arenito favoreceram a rápida alteração biogeoquímica e a formação de um espesso manto laterítico na área (COELHO, 2017). Além disso, a superfície tabular favoreceu a percolação vertical da água de chuva durante longos períodos de tempo, condição que propicia a formação de cobertura encouraçada ferruginosa pouco permeável (TARDY, 1993). O Membro Serra da Galga, de composição arenítica, e o Membro Ponte Alta, carboná- tico, apresentam fácies sedimentares semelhantes, porém, o último, estratigraficamente inferior, passou por um processo de cimentação provocado pelo aumento do nível freático. Enquanto isso, o membro superior permaneceu exposto às condições climáticas atmosféricas (FERNANDES; RIBEIRO, 2015). Segundo Coelho (2017), o perfil de alteração e pedogênese do arenito apresenta com- posição relativamente homogênea, de forma a associar quartzo residual, caulinita, gibbsita, go- ethita, hematita e, com menor importância, alguns minerais traço primários, como cianita, zir- cão, turmalina e rutilo. A autora ressalta, no entanto, que a caulinita é mais abundante na rocha alterada e nos horizontes mais profundos do solo, enquanto a gibbsita prevalece nos horizontes superficiais e subsuperficiais do solo. Na superfície da chapada atua um sistema latossolo-gleissolo, no qual o primeiro apre- senta crosta ferruginosa e aflora nas porções bem drenadas do platô e o último pode ser encon- trado nas depressões topográficas insuficientemente drenadas desenvolvidas na área (ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). O enriquecimento em alumínio pode ser encontrado no horizonte branco do gleissolo composto por gibbsita e caulinita, no qual o nível freático é raso a aflorante. A condição de hidromorfia, possivelmente facilitada pela cimentação carbonática do membro inferior (Ponte Alta), propicia os processos de solubilização e lixiviação do ferro e, parcialmente, da sílica, que acarretam no enriquecimento relativo de alumínio (COELHO, 2017; FERNANDES; RIBEIRO, 2015). Os processos de solubilização e lixiviação atuantes nos óxidos de ferro são favorecidos pela presença de água em abundância, condição que possibilita a redução do ferro e, dessa 32 forma, sua mobilização entre os horizontes por iluviação e difusão-convecção (EZE; UDEIGWE; MEADOWS, 2014). Em suma, a desferruginização é propiciada pelo ambiente redutor e, nos horizontes su- periores, a presença de matéria orgânica concentrada provoca a acidificação do meio. Essa di- minuição do pH, que chega a valores entre 4,3 e 4,6, pode atingir as condições de dissolução da caulinita, mas não as da gibbsita, que necessita de um meio ainda mais ácido para dissolver (TARDY, 1993). Dessa forma, é possível concluir que as concentrações de caulinita são he- rança da fase laterítica, enquanto o aumento da proporção de gibbsita/caulinita foi propiciado pela dessilicificação do solo provocada por forte evento intempérico (COELHO, 2017). 33 6 MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho de conclusão de curso foi pautado em uma metodologia baseada em três estágios (Figura 6.1). Figura 6.1 – Estágios de desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso. Fonte: Imagem desenvolvida pela autora. 6.1 Etapa preparatória Durante a fase inicial do trabalho, foi realizado um levantamento bibliográfico do acervo já existente sobre a geologia regional, a estratigrafia, os contextos geotectônico, estrutural e geomorfológico da área do estudo, bem como sobre a aplicabilidade do método de Eletrorre- sistividade em prospecção mineral e os processos pedogenéticos envolvidos no enriquecimento de alumínio das argilas. Em paralelo a esse levantamento, uma base topográfica foi desenvolvida em escala 1:20.000 no software ArcMap 10.5 a partir da folha topográfica Nova Ponte (SE-23-Y-C-I) de escala 1:100.000, publicada pelo IBGE (1972). Foi aplicada a Projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), o Sistema de Coordenadas Geográficas GCS Córrego Alegre 1961, Datum D Córrego Alegre 1961, com curvas de nível a cada 50 metros, estradas principais e secundá- rias, áreas urbanas e drenagens. Os elementos cartográficos foram atualizados com o auxílio de imagens do software Google Earth Pro 7.1.8.3036. 6.2 Etapa de campo Foram realizadas duas campanhas de campo. Na primeira, ocorrida em outubro de 2017, foi realizada a aquisição dos dados geofísicos e, na segunda, realizada em fevereiro de 2018, foram coletadas as amostras de solo para análises geoquímicas e físicas. O GPS utilizado nas duas campanhas foi configurado com sistema de coordenadas UTM, datum Córrego Alegre e zona 23S. Etapa preparatória Etapa de campo Atividades de escritório e laboratório 34 6.2.1 Aquisição de linha geofísica Nessa etapa, um resistivímetro Terrameter LS (ABEM – Suécia) de propriedade do La- boratório de Geofísica do Departamento de Geologia Aplicada (DGA) da Universidade Esta- dual Paulista (UNESP) e financiado pela FAPESP foi empregado (Figura 6.2). O equipamento consiste em um módulo integrado de transmissão e recepção de sinais e possibilita a realização de ensaios de Eletrorresistividade por meio de aquisição automática e contínua a partir da pro- gramação inicial. Apresenta resolução de 1 mV, potência de 250 W e até 2,5 A de corrente e foi calibrado para medidas de resistividade, cargabilidade e potencial elétrico natural por meio de ciclos periódicos de corrente elétrica alternada e de baixa frequência que permite a filtragem de ruídos do sinal adquirido (ABEM INSTRUMENT AB, 2016). Figura 6.2 – Resistivímetro ABEM Terrameter LS. (A) Detalhe da interface do aparelho; (B) Detalhe do cabo acoplado. Fonte: Reis (2015). A aquisição dos dados foi realizada sobre a drenagem destacada pela linha amarela na Figura 6.3 através do método de Eletrorresistividade e arranjo Schlumberger. O resistivímetro foi configurado com corrente de 500 mA e tempo de transmissão de corrente de 1 segundo; e foi organizado um arranjo de 84 eletrodos metálicos com espaçamento de 10 metros entre eles, ao longo de uma linha de 880 m. 35 Figura 6.3 – Linha de aquisição de dados geoelétricos e pontos de coleta de amostras na área de estudo. Fonte: Imagem obtida através do software ArcMap e modificada pela autora. 6.2.2 Coleta de amostras Foram coletadas seis amostras para análises química e física em três segmentos do eixo de dissecação (Figura 6.3): duas no ponto 1, à montante, em solo hidromórfico, a 40 e 100 cm de profundidade (UBR1a e UBR1b, respectivamente) (Figura 6.4 A); uma no ponto 2, no aquí- fero suspenso, quando se inicia o entalhamento do rio (UBR2); duas no aquífero livre na mar- gem direita no ponto 3 (UBR3a e UBR3b); e uma no aquífero livre 25 metros à jusante do ponto 3, no barranco da margem esquerda da dissecação (UBR3c) (Figura 6.4 B). As amostras coletadas correspondem à camada de argila branca, material reconhecido e explorado como argila caulinítica associada com gibbsita. Sobre o solo hidromórfico há uma camada superficial enriquecida com matéria orgânica. Nesse segmento (ponto 1), as duas amos- tras são argilosas a siltosas; a amostra mais rasa (UBR1a) apresenta coloração cinza-amarelada e a amostra mais profunda (UBR1b), cor cinza claro. No aquífero suspenso, a argila branca aflora e sustenta o fluxo concentrado da drenagem superficial. Nesse segmento (ponto 2), o material possui granulação areia fina a média (UBR2). No aquífero livre (ponto 3), as amostras coletadas na margem direita da drenagem, apresentam textura argiloarenosa e coloração cinza a cinza-amarelada (UBR3a e UBR3b). A argila branca foi coletada no barranco da margem 36 esquerda da drenagem e tem maior participação de material de granulação silte a areia fina à sua matriz (UBR3c). Figura 6.4 – (A) Coleta das amostras à montante da dissecação. (B) Detalhe da argila aluminosa (material esbran- quiçado). Fonte: (A) Tirada pela autora. (B) Modificada de Amendola (2015). 6.3 Atividades de escritório e laboratório Durante o desenvolvimento da pesquisa, foi realizada uma série de procedimentos em campo, em escritório e em laboratório. O processo de pesquisa consistiu na criação de uma base topográfica durante a etapa inicial do trabalho, seguido da etapa de campo, na qual, foi realizada a aquisição de uma linha geofísica e a coleta de amostras. Em gabinete, foi efetuado o trata- mento dos dados geofísicos e, em laboratório, foram executados os ensaios de geoquímica de óxidos maiores por espectrometria de raios-x e granulometria por difração laser. 6.3.1 Tratamento dos dados geofísicos Através do software RES2DINV, que determina um modelo bidimensional de subsu- perfície a partir de dados de resistividade obtidos em ensaios de Eletrorresistividade, foi reali- zado o processamento dos dados adquiridos em campo (GRIFFTHS; BARKER, 1993). O modelo utilizado pelo programa de inversão consiste em blocos retangulares com arranjo semelhante à distribuição dos pontos na pseudosseção (Figura 6.5). A distribuição e o tamanho dos blocos são calculados pelo software com base na distribuição dos pontos medidos 37 e a profundidade da linha inferior de blocos é configurada para ser aproximadamente equiva- lente à profundidade da aquisição com o maior espaçamento de eletrodos (LOKE; BARKER, 1996). Figura 6.5 – Arranjo do modelo de blocos e pontos de resistividade aparente. Fonte: Geotomo Software (2003). Uma rotina de modelagem foi utilizada, na sequência, para calcular os valores de resis- tividade aparente e uma técnica de mínimos quadrados não linear foi empregada para realizar a inversão (DEGROOT-HEDLIN; CONSTABLE, 1990). O produto obtido foi um modelo de inversão em termos de distância e profundidade, com escala gráfica logarítmica para os valores de resistividade e intervalos de interpolação de valores em cores (GRIFFTHS; BARKER, 1993). 6.3.2 Ensaios de laboratório Inicialmente, as amostras coletadas foram secas em estufa no Laboratório de Cerâmica do Departamento de Petrologia e Metalogenia (DPM) da UNESP (Figura 6.6 A). Na sequência, foram destorroadas e pulverizadas em almofariz (Figura 6.6 B). Alíquotas foram separadas para os ensaios de espectrometria de fluorescência de raios-x e granulometria por difração laser. 38 Figura 6.6 – (A) Estufa. (B) Amostra pulverizada em almofariz. Fonte: Fotos tiradas pela autora. 6.3.2.1 Análise química de óxidos maiores por espectrometria de fluorescência de raios-x Uma alíquota de cada amostra foi peneirada em malha de 230 mesh (0,062 mm de aber- tura) e enviada para o Laboratório de Geoquímica do DPM da UNESP para determinação do teor dos óxidos totais de silício, titânio, ferro, manganês, magnésio, cálcio, sódio, potássio e fósforo por espectrometria de fluorescência de raios-x (Figuras 6.6 e 6.7). Figura 6.7 – Peneira de malha 230 mesh. Figura 6.8 – Espectrômetro de fluorescência de Raios-X Philips PW-2400. Fonte: Foto tirada pela autora. Fonte: Google Images. 39 6.3.2.2 Granulometria por difração laser No ensaio de granulometria por difração laser foram utilizadas as quatro amostras que se mostraram mais promissoras no ensaio geoquímico: uma da montante em solo hidromórfico (UBR1b), uma do aquífero suspenso (UBR2) e duas do aquífero livre (UBR3a e UBR3c). Figura 6.9 – Equipamento Mastersizer 2000 com unidade de dispersão de amostras Hydro 2000 MU, ambos da Malvern Panalytical. Fonte: Malvern Panalytical (2018). O ensaio foi realizado no equipamento Mastersizer 2000 da Malvern Panalytical de pro- priedade do Laboratório de Difração de Raios-X do DPM da UNESP (Figura 6.9). Uma alíquota de cada amostra pulverizada foi colocada em um béquer com 800 ml de água de osmose e três gotas de hexametafosfato de sódio (10%) e inserida na unidade de dis- persão de amostras. Na sequência, foi aplicado ultrassom com deslocamento ultrassônico de 12,5 conforme escala do equipamento durante 15 segundos e com velocidade de 2400 rpm. As tabelas e os gráficos de distribuição granulométrica foram obtidos pelo software Mastersizer 2000, que acompanha o equipamento. Na literatura há diversas classificações para a granulometria dos grãos. Nesse trabalho, será empregada a escala granulométrica de Atterberg (Tabela 6.1). Tabela 6.1 – Escala granulométrica de Atterberg. Classe granulo- métrica Tamanho dos grãos (μm) Argila Menor que 2 Silte 2 a 20 Areia fina 20 a 200 Areia grossa 200 a 2000 Fonte: Kitamura (2004). 40 6.3.3 Atividades de escritório A última fase consistiu na realização da documentação, análise e compilação dos dados, com o intuito de avaliar a aplicabilidade do método de Eletrorresistividade na prospecção de argilas altamente aluminosas. Como produto dessa etapa, foi obtido o presente relatório final. Para a confecção e edição das imagens, foi utilizado o software Corel Draw X8 e, para a confecção dos mapas, o software ArcMap 10.5. O relatório e as referências bibliográficas foram formatados de acordo com as normas ABNT 14724:2011 para trabalhos acadêmicos e ABNT/NBR 6023:2002, respectivamente. 41 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesse capítulo são apresentados os resultados obtidos nas etapas de escritório e labora- tório e suas interpretações. 7.1 Investigação geofísica Através da análise do modelo de inversão de resistividade foi possível identificar algu- mas feições principais (Figura 7.1): o nível freático, os aquíferos suspenso e livre, uma zona de recarga e a presença de rochas insaturadas e saturadas. Figura 7.1 – Modelo de inversão de resistividade com topografia e espaçamento de 10 metros entre os eletrodos. Fonte: Modelo produzido pela autora. O modelo de inversão apresenta uma escala de valores em cores quentes para valores de resistividade altos (entre 620 Ω.m e 27.000 Ω.m), amarelo a marrom para valores moderados (entre 290 Ω.m e 620 Ω.m) e cores frias para valores de resistividade baixos (entre 0,15 Ω.m e 42 290 Ω.m). Os dados revelam uma variação de valores entre 1,5 Ω.m e 6030 Ω.m, com predo- mínio de valores de resistividade elétrica baixos. Em uma profundidade rasa do terreno, na camada superficial de cerca de 20 metros, é possível observar uma variação nos valores de resistividade elétrica. Ao longo da linha de aquisição, entre 105 e 170 metros e entre 475 e 800 metros, os valores de resistividade são baixos (14-137 Ω.m). A água, quando em uma solução rica em eletrólitos, é um bom condutor elétrico, ou seja, apresenta baixa resistividade (MILSOM; ERIKSEN, 2011). Dessa forma, é possível inferir que nessas duas áreas afloram os aquíferos suspenso e livre, respectivamente. Ainda na camada superficial do terreno, há uma área entre 170 e 475 metros que apre- senta altos valores de resistividade (1325-6030 Ω.m) entrecortada por uma zona de resistividade moderada entre 260 e 270 metros (291 Ω.m). Esse segmento de alta resistividade é caracteri- zado como couraça ferruginosa constituída essencialmente de goethita, óxido predominante das couraças da área de estudo e de baixa condutividade, com uma descontinuidade sobreposta à zona de menor resistividade do perfil (1,5-6,5 Ω.m). Nesse ponto de descontinuidade, pode ser definida a zona de recarga do aquífero (HORTON, 2003; MILSOM; ERIKSEN, 2011). Em profundidade, o perfil exibe duas configurações: uma de resistividade baixa, pró- xima aos valores dos aquíferos, e uma com os mais elevados valores de resistividade (1325- 6030 Ω.m). Dessa forma, é possível inferir que essas duas áreas representam, respectivamente, o substrato rochoso saturado e a rocha seca (MILSOM; ERIKSEN, 2011). Como observado na Figura 7.1, a linha geofísica atravessa um aquífero suspenso e um aquífero livre, que podem ser correlacionados diretamente com as amostras coletadas nos pon- tos 2 (UBR2) e 3 (UBR3a, UBR3b e UBR3c), respectivamente (Figura 7.2). Essa relação pode ser observada através da localização dos pontos de coleta e respectivas elevações (930-945 me- tros) e da localização da linha de aquisição e das elevações dos aquíferos suspenso, entre 930 e 960 metros, e livre, que aflora em elevações maiores que 940 metros. 43 Figura 7.2 – Linha de aquisição dos dados geoelétricos e pontos de coleta das amostras de solo na área de estudo. Fonte: Imagem obtida através do software ArcMap e modificada pela autora. 7.2 Método de Eletrorresistividade e os ensaios geoquímico e granulométrico Os resultados da análise geoquímica realizada nas amostras coletadas ao longo da dis- secação puderam ser correlacionados com o modelo de inversão de resistividade, o que propor- cionou uma melhor caracterização dos materiais (Tabela 7.1). Tabela 7.1 – Resultados da análise geoquímica. Solo hidromórfico Aquífero suspenso Aquífero livre Óxidos (%) UBR1a UBR1b UBR2 UBR3a UBR3b UBR3c SiO2 29,27 30,97 36,14 65,35 67,90 42,41 Al2O3 37,88 43,58 41,25 17,60 16,01 34,68 Fe2O3 9,61 2,25 2,34 4,68 5,00 1,68 TiO2 2,68 2,99 2,73 1,93 2,13 3,80 MnO 0,01 0,01 0,01 0,02 0,02 0,01 MgO 0,06 0,06 0,07 0,52 0,61 0,14 CaO 0,03 0,02 0,05 0,10 0,12 0,03 Na2O 0,01 0,01 0,01 0,05 0,07 0,01 K2O 0,03 0,03 0,02 1,63 1,74 0,22 P2O5 0,08 0,06 0,07 0,06 0,07 0,07 LOI 20,41 20,04 17,42 8,07 6,44 16,98 Total 100,08 100,02 100,11 100,02 100,11 100,03 PONTO ALTITUDE (m) 1 Solo hidromórfico 945 2 Aquífero suspenso 942 3 Aquífero livre 930 44 As variações mais expressivas foram verificadas nos teores dos óxidos SiO2, Al2O3 e Fe2O3, uma vez que os cátions básicos (Mn2+, Mg2+, Ca2+, Na+ e K+) estão ausentes em ambi- entes de alteração laterítica. As amostras coletadas no solo hidromórfico (UBR1a e UBR1b) e quando se inicia a dissecação (UBR2) foram aquelas que apresentaram os maiores teores de Al2O3. Esses resulta- dos sugerem a associação dos maiores teores de gibbsita com as zonas de aquífero suspenso da montante. A amostra UBR1a, de cor cinza-amarelada possui mais ferro, expresso na forma do óxido Fe2O3 (teor de 9,61%) e, relativamente, o teor de alumínio é menor (37,88%). Os maiores teores de Al2O3 são constatados nas amostras com os menores teores de Fe2O3, isso porque a concentração relativa de alumínio ocorre como resultado do processo de desferruginização da matriz (COELHO, 2017). Essas amostras exibem coloração amarelada, o que pode indicar a presença de limonita (FeO(OH).nH2O), um hidróxido de ferro que se forma em meio oxidante e saturado em água. Em direção à jusante, à medida em que a dissecação aumenta, há diminuição do teor de alumínio e aumento do teor de sílica. Esse comportamento pode estar relacionado com o desen- volvimento de dois processos evolutivos: (1) perda da estabilidade da matriz argilosa devido à desferruginização e consequente perda das partículas para a drenagem; ou (2) maior influência da rocha sedimentar nos segmentos do aquífero livre. Os resultados químicos e a posição dos pontos de amostragem no perfil longitudinal da drenagem indicam que a amostra UBR3c reflete perda de argila, enquanto as amostras UBR3a e UBR3b sugerem maior participação do arenito, que na área é classificado como arcóseo. Esta hipótese está relacionada com o teor de K2O superior nas amostras UBR3a e UBR3c (1,63 e 1,74 %, respectivamente). O teor de K2O na amostra UBR3c (0,22 %) é baixo, similar ao determinado nas amostras da montante. Os processos hidrodinâmicos são controlados pela topografia do terreno, pelas proprie- dades físicas dos materiais (e.g., porosidade, conteúdo de argila e ferro) e pelo conteúdo de quartzo residual (BEAUVAIS et al., 1999). O aquífero livre aflora em relevo suave e exibe valores de resistividade baixos, que indicam saturação de água. Nesse ambiente, a relação Al2O3/SiO2 é baixa (0.82), ou seja, a presença de quartzo residual diminui a concentração rela- tiva de alumínio. O aquífero suspenso sobrepõe um material de alta resistividade, possivelmente substrato rochoso insaturado, que se comporta como uma camada impermeável e, junto à ma- téria orgânica presente, promove um ambiente favorável à formação e preservação das argilas brancas com maiores teores de alumínio. No ensaio de granulometria por difração laser foram utilizadas as quatro amostras que se mostraram mais promissoras no ensaio geoquímico: uma da montante em solo hidromórfico 45 (UBR1b), uma do aquífero suspenso (UBR2) e duas do aquífero livre (UBR3a e UBR3c) (Ta- bela 7.2). A análise dos resultados e a comparação com as análises geofísica e geoquímica propiciou um melhor entendimento do sistema. Tabela 7.2 – Resultados dos ensaios granulométricos. Tamanho Volume (%) Solo hidromórfico Aquífero suspenso Aquífero livre UBR1b UBR2 UBR3a UBR3c Argila 2,06 3,37 0,81 1,76 Silte 18,57 29,04 22,51 15,92 Areia fina 49,05 54,78 64,90 49,93 Areia grossa 30,32 12,81 11,78 32,39 A distribuição de partículas da amostra coletada em solo hidromórfico (UBR1b) é uni- modal, porém com uma tendência à bimodalidade (Figura 7.3). São predominantes as partículas com tamanhos entre 31 μm e 250 μm, areia fina a grossa com 53,26% do total. Há um aumento sutil na proporção de partículas de dimensões entre 250 μm e 500 μm (areia grossa) com fre- quência de 13,16%. Figura 7.3 – Distribuição de partículas da amostra coletada em solo hidromórfico (UBR1b). Em cinza escuro, frequência predominante; em cinza mais claro, frequência secundária. Fonte: Desenvolvido pela autora. A amostra UBR2, do aquífero suspenso, quando comparada à amostra UBR1b, exibe predominância de partículas mais finas, entre 16 μm a 125 μm (54,78%) (Figura 7.4). Também 46 é possível verificar leve tendência à bimodalidade, com uma segunda população despontando entre partículas de 500 μm a 750 μm (7,10%). Figura 7.4 – Distribuição de partículas da amostra coletada no aquífero suspenso (UBR2). Em cinza escuro, fre- quência predominante; em cinza mais claro, frequência secundária. Fonte: Desenvolvido pela autora. A amostra UBR3a, coletada no aquífero livre na margem direita, mostra distribuição unimodal, com predominância de partículas de areia fina com 16 μm a 125 μm em mais da metade do total de partículas (64,90%) (Figura 7.5). Por fim, a distribuição de partículas da amostra UBR3c, coletada no aquífero livre à margem esquerda, é bimodal (Figura 7.6). A primeira e mais expressiva população, com partí- culas entre 31 μm e 250 μm, soma 52,09% do total. A segunda população, de granulação mais grosseira, entre 250 μm e 1000 μm, compreende 20,26% do total. 47 Figura 7.5 – Distribuição de partículas da amostra coletada no aquífero livre (UBR3a). Em cinza escuro, frequência predominante. Fonte: Desenvolvido pela autora. Figura 7.6 – Distribuição de partículas da amostra coletada no aquífero livre (UBR3c). Em cinza escuro, frequência predominante; em cinza mais claro, frequência secundária. Fonte: Desenvolvido pela autora. 48 A média do volume de partículas tamanho argila foi de 2%, enquanto o percentual médio de silte apresentou um volume de 21,51% do total. A maior quantidade de silte pode ser resul- tada pela formação de microagregados de alta densidade que ocorre em argilas ricas em alumí- nio. Assim, a ação do defloculante empregado perde a eficácia e uma granulometria maior pre- valece nos resultados. Da mesma forma, Curtolo (CURTOLO, 2016) encontrou, em análise de perfis de solo da região do Triângulo Mineiro, os mesmos padrões de distribuição granulomé- trica. A comparação das quatro amostras indica predominância das partículas entre 0,02 e 0,2 mm (média de 54,66%), com destaque para a amostra UBR3a, que exibe a maior concentração entre elas (64,90%). Essas concentrações podem indicar a atuação de um processo de desferru- ginização com consequente desestabilização do cimento e perda da argila. A amostra UBR2 é a mais rica em partículas finas entre as quatro, com volume de 32,41%. Além disso, coletada no aquífero suspenso, essa amostra apresenta alto teor de óxido de alumínio (41,25%), o que indica uma maior concentração de gibbsita no local. Esses resul- tados apontam, em um estudo inicial, que o melhor local para a exploração das argilas altamente aluminosas é o aquífero suspenso. 49 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS A comparação de características físico-químicas de amostras de horizontes representa- tivos da área de estudos com o modelo de inversão de resistividade mostrou indicativos de que a aplicação do método de Eletrorresistividade pode apresentar eficiência na busca por minera- lizações de argilas altamente aluminosas. O método de Eletrorresistividade, em um estudo inicial, se mostrou promissor. Foi pos- sível identificar o nível freático e uma zona de recarga e delimitar um aquífero suspenso e um aquífero livre. A caracterização das amostras quanto à composição química e granulometria e posterior correlação com o modelo de inversão de resistividade permitiu inferir que os locais mais propícios para a exploração de argila altamente aluminosa seriam os aquíferos suspensos. A amostra coletada nessa área apresentou os maiores conteúdos de partículas finas (32,41%) e alto teor de óxido de alumínio (41,25%), indícios de maior concentração de gibbsita e, por consequência, de maior interesse comercial. Há necessidade de aprimoramento da metodologia, com a diminuição do espaçamento entre os eletrodos na aquisição dos dados de geofísica de modo a aumentar a resolução e obter maior detalhamento das porções mais rasas do perfil; e a realização de ensaios físicos e quími- cos em um número maior de amostras com o intuito de melhor caracterizar o substrato relativo ao perfil de geofísica obtido. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’SÁBER, A. N. Contribuição à geomorfologia da área dos cerrados. Simpósio Sobre o Cerrado. Anais...São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1963 ABEM INSTRUMENT AB. Instruction Manual Terrameter LS. Sundbyberg: [s.n.]. AMENDOLA, D. P. Geoquímica de perfis lateríticos na Chapada Sedimentar do Triângulo Mineiro. 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