A estrela que não se apaga Um resgate da trajetória de Dalva de Oliveira na música popular brasileira Por Eduardo Henrique Rota Hilário A reportagem está disponível no endereço: https://eduardohrh2.wixsite.com/estrelaquenaoseapaga Seção do site: A mulher Vicentina Rio Claro, 5 de maio de 1917. O casal Mário Antônio de Oliveira e Alice do Espírito Santo de Oliveira está prestes a receber um filho. Seu Mário, como era conhecido o homem, pretende cuidar de um menino. O nome da criança já está até escolhido: será o pequeno Vicente. A alegria logo invade o coração do casal, e a mulher, Dona Alice, dá à luz um bebê de olhos verdes – para a surpresa de Mário, uma menina. O nome, contudo, não mudaria muito. Chegava ao mundo a encantadora Vicentina de Paula Oliveira. Dona Alice e Seu Mário.jpg LEGENDA: Alice do Espírito Santo de Oliveira e Mário Antônio de Oliveira, pais de Vicentina de Paula Oliveira, em 1912 (Foto: Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro/Revista do Arquivo) Mário Carioca, como também era conhecido o pai de Vicentina, trabalhava como carpinteiro e marceneiro na Companhia Paulista de Trens. Já Dona Alice, portuguesa naturalizada brasileira, “fazia doces e pastéis para o bar do Brunini e empalhava cadeiras para ajudar no orçamento doméstico” – registra o escritor João Elísio Fonseca no livro A Estrela Dalva. Naquele interior paulista, Seu Mário e Dona Alice provavelmente não imaginavam que, em cerca de vinte anos, Vicentina se tornaria uma das maiores cantoras brasileiras da Era de Ouro do rádio: a incomparável Dalva de Oliveira. Dalva e irmãs.jpg https://drive.google.com/file/d/1y2aB9lGqhDaru_p3sP-4K-hwePv6Ahst/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1f2QEVXgoKPfqH9Sbw67kJbzUgrap7B9q/view?usp=drive_link https://eduardohrh2.wixsite.com/estrelaquenaoseapaga https://inumeraveis.com.br/joao-elisio-fonseca/ https://inumeraveis.com.br/joao-elisio-fonseca/ LEGENDA: Da esquerda para a direita: Dalva, em pé; Margarida, sentada; Nair, em pé; Lila, na bacia; fotografia tirada depois da morte de Seu Mário (Foto: Acervo pessoal de Valdir Comegno/Revista do Arquivo) Praça Dalva de Oliveira.jpg LEGENDA: Praça Dalva de Oliveira, localizada em Rio Claro, cidade natal da cantora (Foto: Jornal Cidade de Rio Claro) A arte, no entanto, sempre esteve presente na família Oliveira. Apesar dos trabalhos oficiais, Seu Mário aproveitava as noites rio-clarenses para atuar como músico. Não demorou para que Vicentina acompanhasse o pai em jornadas de boemia. Dona Alice chegou a ser mãe de sete filhos, restando, posteriormente, apenas quatro meninas: Vicentina, Severina (Lila), Margarida e Nair. “Todas extremamente musicais”, recorda Pery Ribeiro – ou melhor, Peri de Oliveira Martins, filho de Dalva, nascido em 1937 – no livro Minhas duas estrelas. ÁUDIO - Dalva de Oliveira comenta a infância e as boemias com o pai .mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) “Seu Mário gostava mesmo era de, assim que saía do trabalho, passar em casa, tomar um banho, comer alguma coisinha, pegar seus instrumentos, uma clarineta e um sax, e juntar-se aos Oito Batutas, os boêmios e seresteiros da cidade que animavam festas, festinhas e bailes.” João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva Batutas.jpg LEGENDA: Seu Mário – primeiro homem em pé, à direita – e os outros Batutas (Foto: Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro/Revista do Arquivo) Ainda menina, Vicentina foi artisticamente educada pelo pai. Começou a cantar e fazer gestos, aprendendo a utilizar postura e voz. Pronta para acompanhá-lo em suas serenatas, a filha agora desfrutava das jornadas noturnas dos Oito Batutas. “Eram recebidos com uma verdadeira quitanda: bolos, doces, queijos, doces em calda, pães, café, leite e…pinga, porque as noites no interior paulista são frias e cai https://drive.google.com/file/d/1cfDng3b8V3uiptJXX0m5zCn9VJLLhkn7/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1wycZnb5xKJ4ZH6m-rs8dmc4ytm9VDU1F/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1NluoO53z82ue1tZtIxhR_BvArz60nvtf/view?usp=drive_link um sereno gelado. E Vicentina acompanhava feliz aquele grupo noite adentro”, descreve João Elísio. “Seu Mário via Vicentina crescer, o Vicente do papai, e tocava para ela tangos, valsas, tudo. Quando a menina ficou maiorzinha, ensinou-lhe algumas músicas e a acompanhava na clarineta. Ela subia num banquinho, cantava, fazia gestos e Seu Mário aprovava ou não: aí vinham novas lições de voz e postura. Isso até o dia em que ele achou que sua Vicentina, o Vicente do papai, já podia acompanhá-lo em suas serestas. Vida nova. Vicentina não via a hora do pai chegar para tomar banho, trocar de roupa e ganhar a rua.” João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva Dalva de Oliveira Vicentina sabia – e gostava de – aproveitar a companhia do pai. Mas as reviravoltas da vida chegariam cedo até a menina. Antes de completar nove anos, a artista mirim despedia-se de Seu Mário. Com o falecimento do músico, Dona Alice e as filhas precisavam encontrar maneiras de sobreviver no mundo. A primeira alternativa foi colocar Vicentina em um colégio interno, onde aprendeu a tocar piano. A solução, no entanto, duraria pouco, pois a menina desenvolveria problemas de visão. Saindo do colégio, Vicentina foi trabalhar com Dona Alice em São Paulo. O internato, agora, destinava-se às irmãs, Lila, Margarida e Nair. Responsáveis pelo sustento da família, mãe e filha trabalhavam em casas de família na capital paulista. Vicentina era, sobretudo, babá e arrumadeira – e não demorou para conseguir, junto de Dona Alice, um emprego no Hotel Metrópole, na Avenida São João. Cozinheira e arrumadeira da sala de música do hotel, Vicentina aproveitava os momentos oportunos para desfrutar do piano instalado no local. Certo dia, a menina foi flagrada pelo maestro que ministrava aulas de dança naquele cômodo. Seria essa a conexão necessária para que Vicentina chegasse até Antônio Zovetti, diretor de uma trupe recorrente no interior paulista. Ainda criança, a artista encontraria apoio de Dona Alice para se unir à companhia artística do Sr. Zovetti; juntas, mãe e filha viajavam pelas cidades do Brasil, apresentando o talento da menina-prodígio. Mas a alegria só duraria até Belo Horizonte. Na capital mineira, o diretor da trupe descobriria uma úlcera no estômago. Com a saúde debilitada, Antônio decretava o fim da companhia artística. Vicentina, então, procurou a Rádio Mineira. Com seu talento, além do constante apoio da mãe, logo conseguiu participações na emissora. “O salário facilitou a vida de ambas, que viviam numa casinha emprestada, no bairro das Flores. Mas não era o bastante”, escreve João Elísio Fonseca. Lila, Margarida e Nair permaneciam no colégio interno, em São Paulo. O melhor seria tentar a carreira artística no Rio de Janeiro – repleto de emissoras, teatros e gravadoras. Havia, porém, um problema: Vicentina não parecia nome de artista. “Dona Alice queria para ela um nome forte, marcante, brilhante. Depois de muito matutar e de pensar em Vicentina de Paula e Paula de Oliveira, ocorreu-lhe Dalva; este sim era um nome de estrela. Assim nascia a estrela Dalva de Oliveira, que de Rio Claro saíra para conquistar o mundo.” João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva Por volta dos 17 anos, Dalva finalmente iria para a então capital do Brasil. Como de costume, Dona Alice trabalharia em casas de família; já a filha, sem contatos naquele meio artístico, seria contratada por uma fábrica de chinelos de pompom. O dinheiro novamente era curto, e restava à cantora exercer seu talento durante o expediente de trabalho. Aquela seria mais uma escolha certeira de Dalva. “Os dias passavam e Dalva aproveitava o horário de trabalho para atualizar seu repertório. Cantava o dia inteiro, para alegria dos colegas e desespero do gerente. Certo dia, como nos contos de fada, aconteceu o inesperado. Estava ela a cantar e a pespontar chinelos quando apareceu um senhor muito bem vestido, de terno de linho branco e chapéu panamá, que pediu ao gerente para lhe apresentar aquela mocinha magrinha, de cabelos compridos, que cantava. O gerente mandou chamar Dalva, que imaginou logo o pior: seria dispensada por sua cantoria. O elegante senhor, que era sócio da fábrica de chinelos, também cantava, na Rádio Ipanema, interpretando tangos. Era nada menos que o famoso Milonguita que, além de tudo, era sócio da emissora. Foi só marcar um teste para sua operária que, competente como sempre, foi aprovada.” João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva O locutor Felício Mastrângelo chegou a contestar essa versão, assumindo o lugar de Milonguita na trajetória radiofônica de Dalva. Clique aqui para ler, na íntegra, o depoimento à Revista do Rádio. A partir de então, a carreira de Dalva nas rádios cariocas foi se desenvolvendo cada vez mais. Em 1935, a cantora chegou à Rádio Mayrink Veiga, conquistando condições de vida mais favoráveis. “As finanças melhoravam e Dalva trouxe para o Rio suas irmãs Nair, Lila e Margarida”, lembra João Elísio. Trabalhando na mesma emissora de Aurora e Carmen Miranda, Dalva estava prestes a se tornar uma verdadeira estrela. ÁUDIO - Dalva de Oliveira comenta trajetória de vida.mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) Herivelto Martins e o Trio de Ouro Era 1936 e Dalva trabalhava no Teatro Pátria. De repente, a cantora é abordada por um sujeito de olhos azuis. Nos palcos, o homem se transformava no palhaço Zé Catimba. Depois, assumia o lado musical na Dupla Preto e Branco. Seu nome era Herivelto Martins, e o motivo da aproximação parecia ser artístico. “Dalva começou a assistir aos ensaios da dupla, à tarde, no teatro. Herivelto passou a prestar atenção nos números de Dalva: a voz linda, a extensão vocal o impressionavam”, revela Pery Ribeiro em suas memórias. Os encontros tornavam-se cada vez mais frequentes. Em uma tarde, Dalva ensaiava sua apresentação quando Herivelto, por pura brincadeira, surgiu com contracantos. O resultado foi tão surpreendente, que Dalva e Herivelto passaram a trabalhar juntos. Surgia, ali, o grupo musical Dalva de Oliveira e a Dupla Preto e Branco. Aos poucos, surgiria, também, uma verdadeira paixão entre Dalva e Herivelto. Amor e profissão começaram a caminhar juntos. Faltava, porém, um nome mais adequado para o trio. “Começaram a gravar, a se apresentar em shows, em rádios: “Dupla Preto e Branco e Dalva de Oliveira, um trio de ouro!”, https://drive.google.com/file/d/1laIAKUxhhM0cffLdRabQHDQK4CPbir6d/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=17386 anunciava o comunicador César Ladeira, na então famosa Rádio Mayrink Veiga. Ficava assim batizado: o Trio de Ouro.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Ana Duarte, esposa e empresária de Pery Ribeiro, foi creditada no livro por organizar os escritos do marido – criando uma cronologia para os textos ou tornando as informações mais precisas e coesas. VÍDEO - https://youtu.be/sigfTgsrtWo Bernardo Martins é diretor de #100Dalva, documentário ainda inédito, que resgata a figura da Rainha da Voz. Filho de Pery Ribeiro e Ana Duarte, Bernardo é, também, neto de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins – mas não chegou a conhecer a avó. Em pouco tempo, Dalva e Herivelto morariam juntos. O casamento só viria alguns anos depois. Na década de 1930, dividir a casa antes de oficializar a união provocaria um verdadeiro escândalo. Por isso mesmo, Dalva chegou a mentir para a família, em cartas, fingindo estar casada com Herivelto. Na verdade, a estrela seria até mesmo mãe – com o nascimento de Pery Ribeiro, em 1937 – antes de casar-se. “Eu já era nascido, mas meus pais ainda não haviam casado. Só vieram a se casar tempos depois, em 1939”, escreve o cantor. Casados e trabalhando juntos, Dalva e Herivelto viveram por alguns anos em “muquifos” do Rio de Janeiro – um termo utilizado pelo próprio Pery Ribeiro. Chegaram a dividir cômodo com Nilo Chagas, o terceiro integrante do Trio de Ouro, e tiveram um segundo filho, Ubiratan de Oliveira Martins. Somente em 1941, o Trio assinaria um contrato fixo com o famoso Cassino da Urca. Desse momento em diante, seria uma questão de tempo para que os artistas conquistassem o Brasil. Trio de Ouro.jpg LEGENDA: Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas foram a primeira formação do Trio de Ouro, mantida de 1936 a 1949 (Foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã) “Herivelto impunha uma disciplina severa ao Trio, e os ensaios para introdução de uma música nova no repertório eram rigorosos. Ele era de uma dedicação impressionante ao trabalho. Nada era mais importante. Era sua fonte de vida, de dignidade. E ofereceu esta dignidade à minha mãe.” https://drive.google.com/file/d/1OoMaxCrziXmXgnsFqyvYS9oBUYIZ5sYX/view?usp=drive_link https://youtu.be/sigfTgsrtWo https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cassino-da-urca-reabre-as-portas-como-escola-privada-em-2023,be7c60e41e7ec3bd3b80349bc704db71xd6d7mhw.html Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Além de cantar os sucessos do grupo, como Ave Maria No Morro (Herivelto Martins, 1942) e Praça Onze (Herivelto Martins e Grande Otelo, 1943), Dalva teve a oportunidade de gravar várias canções com Francisco Alves, um dos maiores cantores da época. Veio dele, inclusive, o apelido de Rainha da Voz – afinal, se Dalva estava cantando em perfeita harmonia com o Rei da Voz, nada mais justo do que carregar, também, um título de realeza. Com o sucesso do Trio de Ouro e a respectiva ascensão financeira dos artistas, Dalva e Herivelto poderiam desfrutar de uma vida dos sonhos. Mas não foi o que aconteceu. Com o passar dos anos, Herivelto buscaria a companhia de outras mulheres. As brigas do casal, famosas e existentes há algum tempo, tornaram-se mais escandalosas e violentas. Embora fosse submissa, Dalva nem sempre se calava diante do marido. “Não foram poucas as vezes em que, ao voltar do colégio, ficava sabendo que minha mãe estava no pronto-socorro – meu pai batera nela. Ou, então, procurava meu pai e diziam que ele estava no hospital – minha mãe arrebentara a cabeça dele com um cinzeiro de bronze.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Seção do site: Separação O término “O Trio de Ouro não acabou… Dalva e Herivelto não se desquitaram”, anunciava a Revista do Rádio em outubro de 1948. No mesmo ano em que o veículo de comunicação chegaria ao mercado pela primeira vez, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins veriam crescer boatos de separação – à época, limitada ao processo de desquite – e fim do grupo musical. Os desentendimentos já existiam, mas o casal parecia amenizar a situação em uma reportagem de duas páginas. Na verdade, Herivelto mantinha, há cerca de um ano, uma relação extraconjugal quase explícita. Depois de conhecer a aeromoça Lurdes Torelly em uma de suas viagens, o compositor traria à esposa, Dalva, uma preocupação mais concreta em relação ao casamento. “Cada vez mais, ele foi ficando à vontade com essa situação, https://www.immub.org/album/78-rpm-53383 https://www.immub.org/album/78-rpm-44658 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=317 https://e-diariooficial.com/diferencas-divorcio-separacao-desquite/ voltando mais tarde de suas saídas – ou não voltando – e apresentando com naturalidade Lurdes aos amigos”, escreve Pery Ribeiro no livro Minhas duas estrelas. Em pouco tempo, a verdade chegaria até Dalva. Pery recorda que a cantora encontrou uma foto no paletó do marido, exibindo-o junto de uma mulher e uma criança de colo. A Rainha da Voz tinha, então, certeza da nova paixão de Herivelto. Entre o casal, a possibilidade de separação não era ignorada, mas algo manteria o casamento oficializado até 1949: a longa e frutífera carreira do Trio de Ouro. “Nesse clima, imagino que foi surgindo devagarzinho a ideia de manterem o casamento por causa dos compromissos profissionais e dos filhos. E assim, aos poucos, meu pai passou a forçar cada vez mais uma situação que só beneficiava a ele. Em seu egoísmo, procurava conciliar o sentimento que nutria por minha mãe, o trabalho com o Trio de Ouro e a paixão por Lurdes.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Uma excursão à Venezuela marcaria de vez a separação de Dalva e Herivelto. Convidado pela companhia da atriz Dercy Gonçalves, o Trio de Ouro partiu, junto de outros artistas, rumo ao país sul-americano, em 1949. Ao se depararem com a rejeição do público em algumas apresentações – principalmente nas performances irreverentes de Dercy, segundo informações do filho de Dalva –, os artistas da companhia decidiram seguir caminhos diferentes. Uns permaneceram no país para tentar o sucesso; outros retornaram ao Brasil o mais rápido possível. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Venezuela e fim do Trio de Ouro.mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) À edição nº 29 da Revista do Rádio, Dalva já revelava o abandono por parte do ex-marido. “Estávamos na Venezuela, onde vínhamos alcançando grande sucesso, quando Herivelto arranjou outro "amor" e veio para o Rio, deixando-nos lá; então, resolvi continuar sozinha, lá mesmo, na Venezuela, e consegui grande sucesso”, declarou a Rainha da Voz, provavelmente, referindo-se ao sucesso do Trio de Ouro no começo da excursão, além do envolvimento de Herivelto com Lurdes, no Brasil. https://drive.google.com/file/d/1OjMl7nTPI5cHXOYnAkFOsRaOEvEGNPLd/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=1260 A partir de 1950, o término de Dalva e Herivelto renderia os mais diferentes conteúdos aos jornais e revistas da época. Herivelto, por exemplo, assegurava ser o autor do pedido de “desquite”. “Dalva saiu do Trio por incompatibilidade de gênios comigo. O desquite fui eu que pedi e estou somente à espera que ela o assine amigavelmente, coisa que ela ainda não quis fazer”, detalhou o compositor à Revista do Rádio. “– E quanto às atividades artísticas de Dalva de Oliveira? – Nada tenho a opor. Como marido ainda poderia impedi-Ia de atuar. Não desejo porém ser entrave às suas vontades e desejo até que seja feliz.” Herivelto Martins em entrevista à Revista do Rádio, edição nº 38 VÍDEO - https://youtu.be/HeXYeRVqF48 Rodrigo Faour é jornalista, pesquisador musical e especialista em história da música popular brasileira. Dalva demora, mas rebate a versão do ex-marido. Em 1951, a cantora afirma que o “desquite” ainda não foi assinado “apenas porque Herivelto não quer pagar a pensão a que os filhos têm direito e o juiz espera que ele se resolva amigavelmente a conceder”. Na entrevista, a cantora ainda lembra que pagar o colégio de Ubiratan e Pery não seria o suficiente para a criação e conforto dos meninos. “– E o desquite ainda não foi assinado, interrogamos? – Apenas porque Herivelto não quer pagar a pensão a que os filhos têm direito e o juiz espera que ele se resolva amigavelmente a conceder. – Mas ele declarou que paga o colégio. – Sim. Apenas isso. Mas as crianças já me imploraram chorando que as tirasse de lá. – Por quê? – Por causa das declarações que ele vem fazendo pela imprensa. Os meninos são procurados a todo instante. Os colegas e professores estão a par de tudo e meus filhos se sentem envergonhados! Tudo porque o pai deles procura https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3989 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3989 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=1720 https://youtu.be/HeXYeRVqF48 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3324 enlamear-lhes os nomes e vai para as colunas de um jornal detalhar assuntos que mesmo se fossem verdadeiros deveriam ficar entre as quatro paredes de nossos mais íntimos sentimentos de paternidade.” Dalva de Oliveira em entrevista à Revista do Rádio, edição nº 69 Em maio de 1950, o Trio de Ouro já se apresentava em nova formação. Naquele mesmo ano, a Rainha da Voz daria início a uma carreira solo estrondosa. Pery Ribeiro lembra que, após realizar um show com Vicente Paiva, Dalva chorou ao ver tanto dinheiro reunido. “É todo meu, tem certeza?”, teria perguntado a artista, acostumada a ver os cachês serem controlados pelo ex-marido. Se as carreiras de Dalva e Herivelto pareciam se adaptar à nova realidade, o “desquite” do casal ainda permaneceria na memória popular – e na mídia – por alguns anos. O duelo “Não falem dessa mulher perto de mim/Não falem pra não lembrar minha dor/Já fui moço, já gozei a mocidade/Se me lembro dela, me dá saudade/Por ela, vivo aos trancos e barrancos/Respeite ao menos meus cabelos brancos”. Lançada em 1949, pelo grupo musical Quatro Ases e Um Coringa, a música Cabelos Brancos (Herivelto Martins e Marino Pinto) parecia estar de acordo com o que Dalva e Herivelto viviam naquele momento. Apesar de ter sido composta anos antes da separação, como lembra Pery Ribeiro em suas memórias, Cabelos Brancos seria a premonição de um episódio que ficou marcado na vida do casal como duelo – ou polêmica – musical. Para o público, Dalva e Herivelto estavam resolvendo pendências do casamento através de lançamentos musicais. O primeiro grande sucesso de Dalva, agora em carreira solo, seria mais uma fagulha para essa interpretação popular. Em 1950, a Rainha da Voz cantaria os instigantes versos de Tudo Acabado (J. Piedade e Oswaldo Martins): “Tudo acabado entre nós/Já não há mais nada/Tudo acabado entre nós/Hoje de madrugada/Você chorou e eu chorei/Você partiu e eu fiquei/Se você volta outra vez, eu não sei”. “Diz Dalva de Oliveira que foi no Teatro, certa ocasião, que o compositor J. Piedade pediu que cantasse um samba seu, aliás, já interpretado por Linda Batista, há mais de um ano, portanto, muito antes da separação do casal! Cantou, gostou e https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=trio+de+ouro&pagfis=1686 https://immub.org/album/78-rpm-67709 gravou, sem ter a menor ideia de que sua história tivesse qualquer relação com o seu caso. Nada mais. E se a má fé tomou isso como alusão à separação do casal, não lhe cabe, absolutamente, culpa.” René Nunes na Revista do Rádio, edição nº 51 Em pouco tempo, a cantora propagaria novas desilusões amorosas na letra de um novo sucesso estrondoso. “Que será/Da minha vida sem o teu amor/Da minha boca sem os beijos teus/Da minha alma sem o teu calor?”, questionava o bolero de Marino Pinto e Mário Rossi, intitulado Que Será. “Meu pai não soube enfrentar esse sucesso que minha mãe alcançava sem ele e apelou. Foi aí então que estourou a grande guerra musical”, explica Pery. Juntando-se ao jornalista e compositor David Nasser, Herivelto criou a música Caminho Certo, lançada em 1950 pela nova formação do Trio de Ouro. “Eu deixei o meu caminho certo/E a culpada foi ela/Transformava o lar na minha ausência/Em qualquer coisa abaixo da decência”, acusavam os versos da canção. A letra ainda mencionava a traição de amigos: “Sei agora que os amigos que outrora/Sentavam à minha mesa/Serviam sem eu saber/O amor por sobremesa”. “Herivelto Martins afirma categoricamente, por seu lado, que “Caminho Certo” nada tem a ver com o “Tudo Acabado”. E, um samba como outro qualquer, fê-lo porque teve a inspiração necessária para tal, e, em absoluto, não visa ninguém, porque, para ele, as coisas privadas ficam melhor escondidas do que no conhecimento do grande público. Este samba – diz Herivelto – não tem propriamente história. Acontece que é uma música, contando um caso, como tantos que existem na vida; uma narrativa interessante de se explorar, que o fiz como compositor, sem pensar em “a, b ou c”...” René Nunes na Revista do Rádio, edição nº 51 Embora tenha negado qualquer relação entre Caminho Certo e Tudo Acabado, Herivelto Martins provocou alguns dos maiores compositores da época – sendo, muitos deles, parceiros do ex-marido de Dalva. Pery Ribeiro garante que Ataulfo Alves, Marino Pinto, Oswaldo Martins, Paulo Soledade, dentre outros grandes https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=herivelto+martins&pagfis=2401 nomes da música popular brasileira, tomaram as dores da Rainha da Voz. Intencionalmente ou não, as composições oferecidas a Dalva pareciam, cada vez mais, respostas às investidas de Herivelto. ÁUDIO - Dalva de Oliveira comenta o duelo musical .mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) Ainda em 1950, Errei, Sim incomodaria bastante o líder do Trio de Ouro. Mesmo integrando, há alguns anos, o repertório de Elizeth Cardoso, a música de Ataulfo Alves ganharia outras dimensões na gravação de Dalva. “Lembro-te agora que não é só casa e comida/Que prende por toda vida/O coração de uma mulher/As joias que me davas/Não tinham nenhum valor/Se o mais caro me negavas/Que era todo o seu amor”, cantava a intérprete. “Foi tanto o sucesso de “Errei, sim” que meu pai passou a odiar Ataulfo e por pouco não chegaram às vias de fato”, lembra Pery. Abalado por ver os amigos do lado de Dalva, Herivelto chegou a compor, com Benedito Lacerda, uma mensagem a um deles: Marino Pinto. “Falso amigo, me trocaste por dinheiro/Eu, que te considerava meu amigo verdadeiro/Aproveita/Gasta bem o que ganhaste/Eu não quero ter notícia/Que como Judas te portaste”, lamentavam os versos de Falso Amigo, música lançada por João Dias em 1954. “Sei que foi Marino quem lhe causou mais mágoa, pois eles eram realmente muito unidos. E, por isso mesmo, acho que acabou sendo perdoado, anos mais tarde, e ele e meu pai até voltaram a ser parceiros nos anos 60”. Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas No duelo musical, Errei, Sim ainda seria revidada. Recorrendo mais uma vez à parceria de David Nasser, Herivelto compôs Teu Exemplo, divulgada pelo Trio de Ouro em 1950. “Há muita gente/Que a glória arranca/Do próprio drama/E da tragédia da vida/Motivos para viver/E quando erra proclama/E quando peca sorri/Há muita estrela na lama/Mas eu me refiro a ti”, atacavam os versos da canção. Na gravação do Trio, os erros proclamados pareciam dialogar diretamente com a letra da música de Ataulfo. Desta vez, a resposta de Dalva seria mais explícita. “Quiseste ofuscar minha fama/E até jogar-me na lama/Só porque eu vivo a brilhar/Sim, mostraste ser https://drive.google.com/file/d/1ue62qu5oqaDmHkmCckijchlTwC4qXIIM/view?usp=drive_link https://immub.org/album/78-rpm-57681 invejoso/Viraste até mentiroso/Só para caluniar”, firmavam Marino Pinto e Paulo Soledade nos versos de Calúnia, lançada por Dalva em 1951. Nesse caso, os elementos da letra, como o brilho e a lama, pareciam responder precisamente aos ataques de Herivelto e David. Outras composições seriam incluídas no contexto da polêmica musical. Consulta o Teu Travesseiro (Herivelto Martins e Benedito Lacerda, 1950), Não Tem Mais Jeito (Herivelto Martins e Benedito Lacerda, 1950), Palhaço (Nelson Cavaquinho, Oswaldo Martins e Washington Fernandes, 1951), Fim de Comédia (Ataulfo Alves, 1952), A Grande Verdade (Luis Bittencourt e Marlene, 1951), Perdoar (Herivelto Martins e Raul Sampaio, 1952) e Poeira de Chão (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1952) são os títulos mencionados por Pery Ribeiro. Rodrigo Faour, no primeiro volume de História da música popular brasileira, sem preconceitos, ainda menciona Mentira de Amor (Lourival Faissal e Gustavo de Carvalho, 1950). Quer ouvir as músicas que fizeram parte do duelo musical? É só clicar aqui. Inconformado com a ascensão da carreira de Dalva, àquela altura também defendida pelo grande público no duelo musical, Herivelto apelou para uma nova forma de combate. “Com a ajuda do jornalista sensacionalista (e letrista) David Nasser, cunhou matérias mentirosas publicadas no Diário da Noite de modo a se “defender” de Dalva, dando sua versão muito particular ao caos conjugal dos dois”, escreve Rodrigo Faour. Era esse o elemento que faltava para as pessoas assumirem, de vez, as dores da cantora no cenário pós-separação. “Junto com David Nasser, meu pai começa a publicar no início de 1951 uma série de artigos diários (foram 22 capítulos ditados por ele e escritos por David) durante cinco semanas. Ele não poupou palavras nem desrespeito por aquela que foi sua companheira, mãe de seus dois filhos, e lhe deu suporte profissional durante mais de catorze anos”. Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Renovando costumes Separar-se de Herivelto e, depois, enfrentá-lo – com ou sem intenção – em uma polêmica musical faria de Dalva uma figura considerada à frente de seu tempo. Em uma época em que a submissão era regra para as mulheres, falar abertamente de um relacionamento problemático jogaria luz sobre questões aparentemente https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2021/10/21/pesquisador-rodrigo-faour-historia-a-musica-brasileira-de-forma-inclusiva-em-livro-que-expoe-pluralidade-da-trilha-do-pais.ghtml https://www.youtube.com/playlist?list=PLs_MgopCJZEN0FuLdXrTXSPg2AyzzneHR https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=herivelto+martins&pagfis=3681 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=herivelto+martins&pagfis=3681 proibidas. “Dalva, inconscientemente, acabou contribuindo para a evolução dos costumes”, pontua o jornalista Rodrigo Faour. VÍDEO - https://youtu.be/Y4dZf0oPoWA Bernardo Martins destaca a importância das escolhas feitas pela avó. Para ele, quebrar o silêncio foi uma ação essencial à história de Dalva. “Minha avó não ficou calada. A partir do momento em que ela não ficou calada, ela abriu espaço para uma liberdade feminina”, afirma o diretor do documentário #100Dalva. De forma inconsciente, a Rainha da Voz questionava padrões da sociedade da época. VÍDEO - https://youtu.be/jKKWvZpMxt0 Seção do site: Estrela Dalva Renasce uma estrela Quando Dalva de Oliveira deixou o Trio de Ouro, seu lugar logo foi preenchido por Noemi Cavalcanti. Entre os fãs da Rainha da Voz, a decisão de substituir uma cantora como Dalva naturalmente repercutiu de forma negativa. Não demorou para que o descontentamento estampasse páginas da Revista do Rádio. Edna Pereira Gomes foi uma das fãs insatisfeitas. “Declara a missivista que, apesar das qualidades de Noemi, ela e muitas outras amigas continuam fãs incondicionais de Dalva de Oliveira”, publicou o veículo de comunicação. Lenira Firpo, por sua vez, foi mais incisiva, apontando que o novo Trio estava “muito longe de ser o famoso Trio de Ouro de antigamente, quando os sucessos eram sempre garantidos pela voz da intérprete feminina”. Ian Felipe Fontes, administrador do fã-clube Dalva de Oliveira FC, no Instagram, considera que a cantora já era um sucesso na época do Trio. “Ela era a alma do grupo”, defende. Para ele, sair do conjunto e enfrentar “uma briga” com o ex-marido, Herivelto Martins, fez com que Dalva conquistasse ainda mais o carinho do público. “Ela passou por uma barra enorme”, justifica. Havia, no entanto, outra dimensão na saída da cantora. No livro Minhas duas estrelas, Pery Ribeiro lembra que o pai, Herivelto, não acreditava muito na possibilidade de Dalva ser bem-sucedida em carreira solo. Se, por um lado, o compositor já convivia com a nova mulher, Lurdes, por outro, “artisticamente a perda [de Dalva] era irremediável para ele”. https://youtu.be/Y4dZf0oPoWA https://www.instagram.com/p/CwlStXXpCo7/?hl=pt-br https://youtu.be/jKKWvZpMxt0 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=2328 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=2589 “Penso que ele torcia para que se tornasse verdade o que tantas vezes dissera à minha mãe, para amedrontá-la, quando brigavam: “Você não é nada sem mim. Eu inventei você. Não se esqueça disso, Dalva!”.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas De fato, quando Dalva de Oliveira procurou a gravadora Odeon para dar início à nova discografia, a resposta encontrada foi que somente o Trio de Ouro interessava naquele momento. Graças a uma aposta de Vicente Paiva, então diretor artístico da Odeon, Dalva conseguiu gravar o primeiro disco de 78 rotações da carreira solo. O lançamento trazia a faixa Tudo Acabado (J. Piedade e Oswaldo Martins) de um lado, e Olhos Verdes (Vicente Paiva) do outro. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Início de carreira solo e Tudo Acabado.mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) Somente em 1950, Tudo Acabado destacou-se 26 vezes na Sucessos da Semana, parada musical divulgada por Abelardo Barbosa – o Chacrinha – em sua coluna na Revista do Rádio. Da edição nº 40 à edição nº 51, a música ocupou, sozinha, o primeiro lugar dos grandes sucessos da época. As listas baseavam-se em enquetes realizadas junto a “fábricas gravadoras” e casas de discos, além dos pedidos musicais recebidos pelo Cassino da Chacrinha. Bernardo Martins, neto de Dalva e Herivelto, lembra que deixar o Trio de Ouro para começar uma carreira solo foi uma escolha arriscada para a Rainha da Voz. Ao mesmo tempo, o diretor do documentário #100Dalva considera que essa foi uma das melhores decisões artísticas de sua avó. “Para mim, ali começa a grande Dalva de Oliveira”, admite. VÍDEO - https://youtu.be/1TcsMWZJwSs Mas a glória de Dalva em 1950 não se resume à repercussão de Tudo Acabado. Além do lado A do disco apresentar Olhos Verdes, faixa que também ficou para a posteridade, os lançamentos de Que Será (Marino Pinto e Mário Rossi) e Errei, Sim (Ataulfo Alves) também obtiveram destaque ao longo do ano. Que Será atingiu o topo da Sucessos da Semana em sete edições da Revista do Rádio; Errei, Sim, em https://drive.google.com/file/d/1Fpgx-w66lHCwzWUegPZ34In7rOXemKFp/view?usp=drive_link https://www.youtube.com/watch?v=ZG8L7ztc12I https://www.youtube.com/watch?v=fCLLU0-DEMQ https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=1819 https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/relembramos-historia-do-apresentador-chacrinha-tema-de-minisserie-da-globo-20834766 https://youtu.be/1TcsMWZJwSs https://www.youtube.com/watch?v=uoR3nIWd8P4 https://www.youtube.com/watch?v=uoR3nIWd8P4 https://www.youtube.com/watch?v=90U6wK9FZ2o https://youtu.be/6Zbja4vtqV4?si=BxriK55RFDRkV7V4 quatro. Ironicamente, Que Será e Tudo Acabado também entraram para a lista de discos preferidos por Herivelto Martins no mesmo ano. Discos preferidos por Herivelto Martins.jpeg LEGENDA: Que Será e Tudo Acabado são alguns dos Discos Preferidos por Herivelto Martins, lista publicada na edição nº 61 da Revista do Rádio (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) É também de 1950 o 78 rpm com o clássico Ave Maria (Vicente Paiva e Jaime Redondo). Segundo Pery Ribeiro, no livro Minhas duas estrelas, Ave Maria era outra canção “que fazia a plateia vir abaixo com a interpretação de Dalva”. Iniciada a série de sucessos que se manteria estável durante boa parte da década de 1950, Dalva de Oliveira não demorou para ter sua relevância reconhecida. “Dalva é a maior atração de 1950”, escreveu Chacrinha na edição nº 64 da Revista do Rádio. Grandes amigos Com a carreira em ascensão, Dalva encontrava-se constantemente rodeada por uma multidão de admiradores. Pery Ribeiro assegura que o vínculo estabelecido entre Dalva e os fãs era “uma verdadeira relação de amor”. Para a Rainha da Voz, a música poderia ser considerada o sangue dos cantores, e os fãs deveriam ser encarados como “as veias por onde ele circula” – conta, também, o filho da estrela. “Guardava cuidadosamente tudo o que ganhava deles, do objeto mais simples ao mais rico. Com o mesmo carinho. Construiu em Jacarepaguá um quarto só para os presentes dos fãs. Já na fase de declínio na carreira, quando estava deprimida e sumia de casa, sabíamos que estaria lá no quartinho dos fãs. Alisando as faixas, as coroas, os troféus, os pequenos mimos…” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Bernardo Martins reitera que Dalva nutria um carinho especial por quem a acompanhava. Ele acredita que a Rainha da Voz não se importava muito com a opinião de críticos de música; os fãs, por sua vez, exerciam maior influência na trajetória da artista. “Minha avó cantava para os fãs. Se o público estivesse comprando seus discos, frequentando seus shows, batendo palmas para ela, satisfeito com aquilo, estava tudo bem”, explica. https://drive.google.com/file/d/1WkfsIcgFzVtzvCU3AGDnFHEpzazbiolj/view?usp=drive_link https://www.youtube.com/watch?v=7k81dIWtiZE https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3058 A própria cantora, ao deixar a Rádio Nacional e estrear na Rádio Tupi, em 1952, confessou seu amor pelo público. “Mais uma vez, esse gesto do meu querido povo, dos meus fãs. E eu sempre digo: não tenho fãs e, sim, grandes amigos”, exclamava a artista em meio aos gritos eufóricos da plateia. Nesse contexto, Ian Felipe classifica o fã como a base para qualquer ídolo. Das oportunidades de trabalho ao apoio emocional, passando pela geração de lucro, a presença – ou não – de admiradores determinaria os rumos de um artista. VÍDEO - https://youtu.be/p21Uywadut0 Ian Felipe é estudante de História e administra o perfil Dalva de Oliveira FC no Instagram. Na edição nº 91 da Revista do Rádio, é possível perceber como Dalva buscava, de fato, manter certa proximidade com os fãs. Ao entrar em contato com o veículo de comunicação, Maria Mendes compartilhava todo “seu entusiasmo” por receber um retrato autografado e uma “cartinha gentilíssima” escrita pela cantora. Depoimento - Fã Maria Mendes .jpg LEGENDA: Depoimento de Maria Mendes para o Opinião do Fan, espaço de interação entre a Revista do Rádio e seus leitores (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) “Minha avó sempre foi uma pessoa muito acessível, muito coerente com o tamanho do sucesso que tinha e muito respeitosa com as pessoas que a colocaram lá, com os fãs que a mantiveram lá”, ressalta Bernardo. Durante a entrevista, ele resgata um episódio também narrado pelo pai, Pery Ribeiro, no livro Minhas duas estrelas. VÍDEO - https://youtu.be/yMvLMmoPKjY Segundo Pery, Dalva estava a caminho de um circo, onde faria uma apresentação. Quem procurou a estrela foi um rapaz, cuja mãe – de idade avançada e impossibilitada de se locomover – foi visitada pela Rainha da Voz. Vale ressaltar que Dalva estava atrasada para o show e contrariou a secretária, Virgínia Magalhães, ao visitar a mulher. A artista temia que aquela fosse a única chance de realizar o desejo da senhora. Manter uma boa relação com os fãs seria essencial não só para a estabilidade da carreira solo de Dalva, como também para as conquistas que viriam no ano seguinte. Embora já acumulasse sucessos em 1950, a trajetória pós-Trio de Ouro dava apenas os primeiros passos. Destaques ainda maiores ganhariam espaço a partir de 1951. O concurso de Rainha do Rádio https://drive.google.com/file/d/1jt_--fBO-0pKgXqmkMSl-jT-fX_5867x/view?usp=drive_link https://www.youtube.com/watch?v=IFU5vTi9qbA&t=359s https://youtu.be/p21Uywadut0 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=4463 https://youtu.be/yMvLMmoPKjY Surge, no Brasil da década de 1930, um concurso que tomaria proporções descomunais em décadas posteriores. Inaugurado pela revista Sintonia, veículo de comunicação considerado sem grande relevância, o concurso para eleger a Rainha do Rádio só começou a alcançar cantoras de grande projeção com a coroação de Linda Batista, em 1936. Eleita por um júri de especialistas, Linda estendeu seu reinado até 1948, ano em que entregou a coroa à irmã Dircinha Batista. Foi somente em 1949 que a competição passou a ser decidida por votos populares. A alteração nas regras do concurso estava atrelada à campanha da Associação Brasileira de Rádio (ABR) para construir o Hospital do Radialista, tendo em vista que os votos deveriam ser comprados, e o dinheiro arrecadado, destinado à construção. “No início dos anos 50, a Associação Brasileira de Rádio (ABR), no Rio, queria fazer as pessoas acreditarem que se associar a ela fosse algo maravilhoso. A ABR fazia campanha dizendo ao público que ia oferecer hospital, tratamento e apoio total aos artistas. Pessoalmente, até hoje, nunca vi nada que pudesse dar orgulho aos que pertenciam à entidade.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Mesmo com forte concorrência de Emilinha Borba, quem venceu a disputa em 1949 foi a cantora Marlene – patrocinada pela Companhia Antarctica Paulista, que decidiu associar a imagem da artista ao lançamento do guaraná Caçula. Com a ausência do concurso em 1950, Marlene manteve o título por dois anos consecutivos. Em 1951, a Revista do Rádio – veículo que fornecia suporte publicitário à competição – anunciava novas alterações no regulamento do concurso. “Deliberou a comissão que acompanha o certame considerar candidatas todas as artistas do rádio que receberem votação”, informava a edição nº 70 da publicação. Dessa maneira, não seria necessária a inscrição das cantoras na competição, cabendo aos fãs “endereçar seus votos para as artistas que mais corresponderem às suas predileções”. A revista, no entanto, já indicava a liderança de três cantoras na então capital do Brasil – o Rio de Janeiro. Carmélia Alves, com apoio da Rádio Mayrink Veiga, Dalva de Oliveira, com apoio da Rádio Nacional, e Araci Costa, com apoio das rádios Guanabara e Mauá, eram apontadas como fortes concorrentes à costumeira coroa do concurso e ao automóvel Goliath que seriam entregues à nova rainha. https://www.youtube.com/watch?v=t-3FGaurUY0&t=1s https://memoria.bn.br/DOCREADER/DocReader.aspx?bib=030015_05&pesq=%22rainha%20do%20r%C3%A1dio%22&hf=memoria.bn.br&pagfis=62724 https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/cultura/audio/2022-07/cem-anos-do-radio-no-brasil-rainhas-do-radio https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3370 Ilustração - Revista do Rádio - Goliath .jpeg LEGENDA: A Revista do Rádio descreve Goliath como “o primeiro carro alemão chegado ao Brasil depois da guerra” (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Competia aos fãs comprar os votos, vendidos a um cruzeiro cada. Além de comprá-los no endereço da Revista do Rádio, ou em outros meios oficiais, também era permitido que artistas arrecadassem dinheiro em seus shows. Pery Ribeiro, no livro Minhas duas estrelas, revela que Dalva de Oliveira “costumava arrecadar sacos e mais sacos com trocados, níqueis, cheques, entregues no dia seguinte por ela, religiosamente, para a ABR”. A vitória de Dalva 3961 votos garantiram a liderança de Dalva de Oliveira na primeira apuração do concurso de Rainha do Rádio de 1951. Cantando ao mesmo tempo em São Paulo e no Rio de Janeiro, a Rainha da Voz empenhava-se para receber o título que consagraria a jornada de sucesso iniciada no ano anterior. Empenhar-se era o melhor caminho: a vitória não seria conquistada com tranquilidade. Logo na segunda apuração, Marilena Alves, da Rádio Globo, ultrapassou Dalva de Oliveira em cerca de 6736 votos. Enquanto o primeiro lugar totalizava 20.586 votos, Dalva registrava uma quantia de 13.850. “Vencendo os primeiros cômputos dos votos, Dalva nem por isso mostrou toda sua força”, alertava a Revista do Rádio. Faltavam onze dias para a última apuração do concurso. Certo alívio chegaria, porém, com a terceira apuração. Quatro dias separavam a nova contagem da apuração final do concurso. Dalva de Oliveira alcançava novamente o primeiro lugar, com um total de 65.972 votos. Mas algumas tensões ainda pairavam no ar. A Revista do Rádio clamava aos fãs para que a espera pelo resultado não se tornasse um “clima de indiferença e tranquilidade”, pois ainda era necessário angariar “o máximo possível” de votos. Capa - Rainha do Rádio.jpg LEGENDA: Dalva de Oliveira, a Rainha do Rádio de 1951, é capa da edição nº 108 da Revista do Rádio (Foto: Reprodução/Valdo Resende) Marlene e Dalva - Rainha do Rádio.jpeg LEGENDA: Marlene, eleita Rainha do Rádio em 1949, coroa Dalva em 1951 (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) https://drive.google.com/file/d/1115UnR93XbAX5mrrmE349ZmxpClg9p6X/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1IFN9YaeaMGwTxdNcHd-r5dG-dOxJPaB8/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/15UNv5CzarQ6TKIyTGhzlPgjs4hraENKC/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3526 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3526 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3422 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3509 Beijo de Marlene - Rainha do Rádio.jpeg LEGENDA: Enquanto Dalva de Oliveira recebe um beijo de Marlene, as princesas do rádio Carmélia Alves e Marilena Alves celebram a coroação da Rainha (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Beijo de Marilena Alves - Rainha do Rádio.jpeg LEGENDA: Marilena Alves, segunda colocada do concurso, também beijou a Rainha da Voz (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Era dia 27 de janeiro quando o resultado final foi apurado. A disputa travava-se novamente entre Marilena e Dalva. Ambas estavam no prédio da Associação Brasileira de Rádio para acompanhar a apuração. Dalva de Oliveira encontrava-se, contudo, em uma sala situada próxima à mesa de contagem – e não à própria mesa, como a concorrente Marilena. Em breve, a comissão de radialistas nomeada pela ABR – e responsável por acompanhar o desenvolvimento do concurso – anunciaria a grande vencedora de 1951. “Já próximo do final da apuração, quando outra vez seu nome aparecia no primeiríssimo lugar, Dalva de Oliveira abriu caminho entre a multidão, acompanhada de seus dois filhos, para assistir aos derradeiros instantes do certame”, reportou a edição nº 74 da Revista do Rádio. Não tardou para que o diretor da revista, Anselmo Domingos, anunciasse o aguardado resultado. Com 311.107 votos, contra os 232.553 de Marilena Alves, Dalva de Oliveira foi eleita Rainha do Rádio de 1951. A festa entre os fãs estava instaurada, e os abraços vieram, primeiramente, da própria Marilena, para quem “o objetivo do certame fora alcançado – o de mais uma grande parcela para a construção do hospital do radialista”. “Duas horas depois, Dalva podia sair do prédio da ABR; mas, lá na rua, ainda os seus fãs a esperavam. E nova manifestação teve lugar, levando-se a nova rainha até a Rádio Nacional, em meio a uma passeata improvisada e cordialíssima.” Revista do Rádio, edição nº 74 A coroação viria no dia 30 de janeiro, reunindo cerca de 5000 pessoas no Teatro João Caetano. Com auxílio da força policial, Dalva chegou à cerimônia ao lado do Rei Momo, Nelson Nobre. Rodeada de artistas e fãs, a cantora foi constantemente https://drive.google.com/file/d/1inwKI6zayrpeKBPrHVtpY9lg0Eo47huo/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1oZXhtkdi4beLknIYQafBX-ebntQEadBf/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3583 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=nelson+nobre&pagfis=31244 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3651 fotografada no evento, dividindo retratos com princesas do rádio – algumas das artistas que ficaram abaixo de Dalva em pontuação, as quais também eram premiadas – e com a cantora Marlene, que passava a coroa adiante depois de reinar por dois anos sem concorrentes. Linha do tempo - Rainhas do Rádio (Versão 1).png LEGENDA: Após a vitória de Dalva, em 1951, o concurso de Rainha do Rádio ainda durou 16 anos (Foto: Eduardo Rota Hilário) Em relação ao significado da premiação para a trajetória de Dalva de Oliveira, Rodrigo Faour e Bernardo Martins concordam que ser eleita Rainha do Rádio foi uma espécie de golpe em Herivelto Martins. Após a série de sucessos lançados em 1950, ano de estreia da carreira solo da artista, Dalva alcançava patamares cada vez mais altos e populares. VÍDEO - https://youtu.be/GtuKcUJhbYs VÍDEO - https://youtu.be/ryWBXHCH6oI Europa Na Rádio Nacional, Dalva brilhava sem o Trio de Ouro. As portas da gravadora Odeon estavam abertas, e os sucessos da Rainha da Voz acumulavam-se nos primeiros anos da década de 1950. O título de Rainha do Rádio também estava garantido, e Dalva assumia, finalmente, a posição de grande fenômeno brasileiro. Mas o Brasil logo se tornaria pequeno para a cantora. No início de 1952, Dalva de Oliveira só teve tempo de coroar a nova Rainha do Rádio, Mary Gonçalves, em solo nacional. Às 18h30min do dia 21 de fevereiro, Dalva partia rumo a Portugal, no mesmo avião onde se encontrava Linda Batista, para cumprir uma série de shows contratados na Europa. O roteiro inicial previa uma excursão por quatro cidades. “Em Lisboa, onde estrearei a 23 de fevereiro, ganharei 7 mil cruzeiros diários. Em Madrid tenho um contrato de 5 mil cruzeiros por dia, com todas as despesas pagas, e em Paris irei ganhando um milhão e quinhentos mil francos, por uma temporada de um mês. Só em Barcelona é que ainda não sei quanto vou ganhar”, revelou Dalva de Oliveira à Revista do Rádio. Os planos, no entanto, eram menores do que os desdobramentos que estavam por vir. “De repente, Dalva resolveu-se. Arrumou as malas, assinou os contratos, beijou Pery e Ubiratan e embarcou para Lisboa no https://drive.google.com/file/d/1NkdTR1TXz_5c0Tg6t42xbtTiHcdxVL0h/view?usp=sharing https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=3651 https://youtu.be/GtuKcUJhbYs https://youtu.be/ryWBXHCH6oI https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=6534 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=6520 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=6532 dia seguinte à entrega da coroa a Mary Gonçalves, sua sucessora no trono de Rainha do Rádio. Quando lhe perguntaram sobre a data da volta, Dalva de Oliveira respondeu com um "dentro de dois meses”. Jamais lhe passara pela cabeça a ideia de permanecer quase um ano na Europa. Mas, isto aconteceria. E aconteceu.” Revista do Rádio, edição nº 153 Ao conquistar Lisboa, Dalva viu-se obrigada a estender o contrato por 8 dias – passando um total de 23 dias no Teatro Politeama. Cantando sucessos como Errei, Sim e Que Será, a artista brasileira ganhava, diariamente, flores e outros presentes do público lusitano. Não demorou para que a Rainha do Rádio de 1951 também conquistasse a amizade da Rainha do Rádio Português, Júlia Barroso. O tempo passou, e Dalva precisou deslocar-se até Madrid. Entre os espanhóis, a predileção estava em um dos lançamentos daquele ano: a música Estrela do Mar (Marino Pinto e Paulo Soledade). Mas a estadia da cantora na Espanha não seguiu os mesmos passos da permanência em Portugal – embora tenha se estendido por Barcelona e outras regiões. Apesar da aceitação do público local, Dalva ainda tinha compromissos em Paris. Da França à Itália, a Rainha da Voz acabou retornando a Lisboa. “Reclamavam, ali, sua presença, para de novo aplaudi-la calorosamente”, reportou a edição nº 153 da Revista do Rádio. A verdade é que Dalva também assinara um contrato para participar do filme Rosa de Alfama, ao lado do cantor Alberto Ribeiro. De acordo com a Internet Movie Database (IMDb), Dalva não entrou para o elenco definitivo do longa-metragem gravado em Portugal. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Europa e Roberto Inglez.mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) A viagem prosseguia. Dalva partiu para Londres, com o intuito de gravar discos com a orquestra do maestro Roberto Inglez – artista escocês de grande prestígio na época. “Esse maestro e músico chamava a atenção pelo jeito diferente de tocar – procurava mais as notas graves e fazia solos com a mão esquerda”, escreve Pery Ribeiro no livro Minhas duas estrelas. https://drive.google.com/file/d/1pQupr-S00OhyXJWVmIPeFZ9tHDjshELv/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=6894 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=6895 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=6895 https://www.youtube.com/watch?v=gv8GVfpeoPM https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7261 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7261 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7709 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7523 https://www.imdb.com/title/tt0046252/ https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7710 Trabalhando também no hotel Savoy, Dalva conquistava os aplausos do público inglês. Em uma dessas ocasiões, enquanto performava números como Lamento Negro – da época do Trio de Ouro – e Rio de Janeiro, a Rainha da Voz foi prestigiada pela futura rainha do Reino Unido, Elizabeth II. Algumas fontes indicam, contudo, que esse episódio só aconteceria em 1953. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Londres, hotel Savoy e Rainha Elizabeth II.mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) Dalva atuaria ainda na British Broadcasting Corporation – a BBC de Londres – antes de retornar ao Brasil. A viagem, agora, seria feita de navio, e a embarcação alcançaria o cais da Praça Mauá em um sábado, por volta das 7h da manhã. Além de ser recebida pelos filhos, Ubiratan e Pery, Dalva foi abordada por diversos locutores. Na Rádio Nacional, o retorno da estrela foi celebrado com uma festa promovida pelo programa de Manoel Barcelos no Teatro João Caetano. Dalva na BBC.jpeg LEGENDA: “Atuou na BBC, em quatro transmissões para o Brasil. Uma para a Inglaterra, sendo este o famoso programa “In Town Tonight” (“Na Cidade, esta Noite”)”, registra a edição nº 164 da Revista do Rádio (Foto: Dalva de Oliveira FC) Dalva e mãe - Europa.jpeg LEGENDA: Depois de passar aproximadamente seis meses na Europa, Dalva de Oliveira reencontra a mãe, Dona Alice (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Dalva e filhos - Europa.jpeg LEGENDA: Dalva trouxe presentes para os filhos, Ubiratan e Pery (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Vestido rasgado.jpg LEGENDA: “Ao voltar da Inglaterra, apoteoticamente, foram tantos os abraços e assédio dos fãs, que o vestido de Dalva rasgou. Eis aí, Manoel Barcelos (esquerda) e Ataulpho Alves (direita) mostram o "estrago" feito pelos fãs, em 1952”, publicou o perfil Dalva de Oliveira FC no Instagram, em 2021 (Foto: Dalva de Oliveira FC) Dalva no programa de Manoel Barcelos - Europa.jpeg https://drive.google.com/file/d/1WdPVyrdFospCnteErli4jz0-TL8fkvMj/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1R1Uo1aGHl4UeSMp7zCsy_c6Q18dFcez1/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1dWAJmCEKq0DLhXkZlRt6KjyHUu0DE8do/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1-0Y2DxRuKiLWYgoJuENH9uM7epX-oPbL/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1IKOOGcanMcTCLfvP6Qw3Qv-9Re_gB_wH/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1JJ3s0wYR4bVd4t-HIcAEracd5M6KCYHz/view?usp=drive_link https://www.youtube.com/watch?v=GWRN55yyV04 https://www.youtube.com/watch?v=GWRN55yyV04 https://www.youtube.com/watch?v=KliUUMShTGI https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/a-estrela-dalva-de-oliveira-brilhou-como-uma-das-maiores-vozes-do-pais-21264490 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7711 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7934 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7991 LEGENDA: Ao participar da festa promovida pelo programa de Manoel Barcelos no Teatro João Caetano, a Rainha da Voz recebeu uma estrela toda ornamentada (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) O fenômeno Kalu e outros destaques de 1952 De todas as gravações feitas com Roberto Inglez em Londres, havia um disco de sucesso incomparável. Com apenas uma semana de lançamento, o baião Kalu (Humberto Teixeira) atingiu a marca de 63 mil exemplares vendidos no Rio de Janeiro, batendo recordes comerciais da época. “Sucesso maior, em tão pouco tempo, ainda não se teve conta, em todo o Brasil”, destacava a Revista do Rádio. João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva, conta que Kalu foi “lançada na Inglaterra com transmissão telefônica para o programa de César Ladeira” – recurso até então inédito em lançamentos de discos. Seria apenas uma questão de tempo para que a popularidade da música atingisse patamares ainda maiores. Kalu - Página inteira.jpg LEGENDA: Um anúncio de Kalu e Fim de Comédia ocupou uma página inteira na edição nº 155 da Revista do Rádio (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Foi em fevereiro de 1953 que a Revista do Rádio anunciou o grande triunfo do baião de Teixeira. “Kalu vendeu 400.000 discos!”, exclamava uma manchete do veículo de comunicação. Em dois meses, Dalva acumularia uma “pequena fortuna” somente com aquele lançamento. A quantia arrecadada passaria dos 200.000 cruzeiros. Dalva de Oliveira, Roberto Inglez e Humberto Teixeira.jpeg LEGENDA: Dalva de Oliveira, Roberto Inglez e Humberto Teixeira são os principais nomes por trás do baião Kalu (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Embora afirme que Kalu tenha vendido 300.000 cópias, Pery Ribeiro também registra, em seu livro, o sucesso comercial do 78 rpm. Segundo o filho de Dalva, a Odeon precisou rodar máquinas em turnos de 24 horas para conseguir abastecer o mercado com cópias do disco. “Se levarmos em conta que, nessa época, a população do Brasil era infinitamente menor, vamos poder dizer que minha mãe vendeu, proporcionalmente, mais discos que a Xuxa, que em 1989 atingiu a marca de 3 milhões de cópias”, escreve o cantor. Mesmo diante de outros sucessos nacionais da época, como Ninguém Me Ama, de Nora Ney, e Índia, de Cascatinha e Inhana, Kalu permanecia entre os “campeões da popularidade” da Revista do Rádio. Com tamanha repercussão, é compreensível https://drive.google.com/file/d/1Hxx1Sycqa33HZXjza6EkE_URYnm9f3gZ/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/122bV5uIsOUQsWte6KMZ252iGpbD8pDcM/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=7677 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=9166 https://www.youtube.com/watch?v=Hm4XEBwfpqQ https://discografiabrasileira.com.br/disco/109941/todamerica-ta-5179 que o lado B do disco, contendo o samba-canção Fim de Comédia (Ataulfo Alves), também tenha se consolidado na música brasileira. Ninguém Me Ama, Kalu e índia.jpeg LEGENDA: Esses eram Os Campeões da Popularidade na edição nº 165 da Revista do Rádio (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) São igualmente da safra de 1952 os 78 rpm com o clássico Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro) e com a bem-sucedida marcha Estrela do Mar. Carinhoso é outra gravação marcada pela orquestra de Roberto Inglez, trazendo no lado B o samba-canção Brasil Saudoso, de Tito Climent – segundo marido de Dalva, que já a acompanhara na turnê pela Europa. Estrela do Mar, por sua vez, foi a música responsável por colocar a Rainha da Voz no filme Tudo Azul, que também reunia nomes como Marlene, Linda Batista e Carmélia Alves. VÍDEO - Dalva de Oliveira canta Estrela do Mar no Filme Tudo Azul (1952).mp4 LEGENDA: Dalva de Oliveira canta Estrela do Mar no filme Tudo Azul, de 1952, dirigido por Moacyr Fenelon (Vídeo: YouTube/Gustavo Lopes) Como nem tudo são flores, os lançamentos de Dalva também eram criticados. Jair Amorim não poupou comentários sobre o “segundo disco britânico” da cantora. Ele então assinava a página Discos na Revista, da Revista do Rádio. “Mais uma vez, o rapaz do controle lá em Londres não soube distribuir, convenientemente, o volume de som. E o resultado é que a grande intérprete que é a Dalva foi a única prejudicada: sua voz está em nível desigual, a orquestra continua borocochô no fundo; enfim, uma pequena tragédia musical transplantada para a cera”, escreveu o autor da nota, provavelmente, referindo-se ao 78 rpm com Brasil Saudoso. Ao abordar o samba-canção de Tito, João Elísio também chegou a tecer uma pequena crítica sobre a música. Para ele, tratava-se de um “samba meio fraco gravado em Londres apenas em função de sua volta” – isto é, do retorno de Dalva ao Brasil. De qualquer maneira, apontamentos negativos sobre o trabalho de Dalva seriam uma questão ínfima perto do que a artista estava prestes a enfrentar. Isso porque, em setembro de 1952, Dalva de Oliveira despedia-se de um grande companheiro musical – aquele que, na época do Trio de Ouro, já valorizava a potência da cantora enquanto figura solo. A perda de Francisco Alves ficou explicitamente registrada na discografia da Rainha da Voz. Meu Rouxinol - Lado B.png https://drive.google.com/file/d/13pYLsrKKuADxEuYByfzKJi2M391zFJeN/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1vLwtGySJn0bvt223Q5rl4S13ugdZRB3U/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/103_d1RHf_cG46wAD0xEeMdp9T8xmeV4Q/view?usp=drive_link https://www.youtube.com/watch?v=Vbo4TytXDwo https://www.youtube.com/watch?v=eIOwnGbBSGI https://www.youtube.com/watch?v=e4oSyEFK0YI https://www.youtube.com/watch?v=7kwJC_AYxHc&t=3193s https://m.imdb.com/title/tt0193581/mediaviewer/rm1305739776/ https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8016 LEGENDA: Trazendo a marcha-rancho Meu Rouxinol no lado A, este 78 rpm calou-se no lado B, em explícita homenagem a Francisco Alves (Foto: Discogs) “O silêncio desta face não gravada é o nosso preito de veneração àquele que foi o “Rei da Voz”. A Odeon, continuando a campanha filantrópica a que Francisco Alves dedicou os últimos dias de vida, doará às duas instituições de caridade que mereceram a sua proteção os direitos artísticos e autorais que seriam devidos ao saudoso cantor se nela houvesse uma sua gravação”, lamentava o lado B do 78 rpm. O disco, também de 1952, foi preenchido somente no lado A, com uma nítida homenagem ao Rei da Voz: Meu Rouxinol (Pereira Matos e Mário Rossi). Adeus, Nacional! Com quase três anos de sucesso crescente, Dalva de Oliveira pretendia reajustar seu salário na Rádio Nacional – onde cantava desde os tempos do Trio de Ouro. Mas o diálogo entre a cantora e a direção do local não conseguia chegar a um consenso. Surge, então, uma proposta da Rádio Tupi: Dalva receberia cerca de 20.000 cruzeiros por mês, “independente de sua participação no teatro e nos discos”. Para alcançar o acordo, Dalva acompanhou as negociações junto de seu novo marido, Tito Climent. Além de cantar na Tupi, a estrela teria que participar de programas de televisão. Às 21h30min do dia 3 de novembro, a Rainha da Voz finalmente estrearia na emissora. Com direito a gritos descontrolados dos fãs, uma homenagem póstuma a Francisco Alves e, antes da estreia, um presente de colegas da Nacional, Dalva oficializaria, ali, um novo capítulo de sua carreira. VÍDEO - Estréia de Dalva de Oliveira na Rádio Tupi | Programa Completo (195… “Em sua apresentação, Dalva foi acompanhada pelo conjunto vocal As Três Marias. Antes, porém, recebeu a visita de Marlene, que foi levar à grande amiga o cumprimento dos colegas da Nacional, através de uma corbelha de flores.” João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva O segundo marido A mesma revista que anunciava a troca da Rádio Nacional pela Tupi ficou responsável por revelar que Dalva de Oliveira estava casada novamente. A verdade é que Dalva tivera um casamento religioso com Tito Climent durante a passagem https://youtu.be/IFU5vTi9qbA?si=Mbg25qmdMll3CS9F https://www.youtube.com/watch?v=6FX3b0DUe6s https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8249 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8249 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8343 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8343 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8264 pela Europa, mas “todos os julgavam ainda noivos”. A novidade, publicada pela Revista do Rádio no dia 28 de outubro, renderia quatro páginas sobre o assunto. Em seu livro, Pery Ribeiro lembra que Dalva conheceu o segundo marido, argentino, “quando ele veio ao Brasil se apresentar ao lado de Gôgo Andrews, com quem formava a dupla de comediantes Tito e Gôgo”. Mas Tito não se resumia à arte do riso; era também músico, dançarino, coreógrafo e diretor de programas de TV. À Revista do Rádio, em 1951, Dalva já revelava detalhes do novo relacionamento. Além de contar como conhecera o marido, a artista parecia estar confiante no novo amor. Assim que conseguisse “o desquite” de Herivelto Martins, realizaria um novo casamento civil – agora, fora do Brasil. A princípio, a união seria oficializada no Uruguai. “Tudo começou no ano passado. Eu cumpria um contrato no Teatro Recreio e ainda não era "Rainha". Certa noite, fui assistir ao "show" do "Night And Day" quando, emocionada, tive a oportunidade de conhecer a notável dupla de artistas Tito Climent e Gogô Andrew, dois argentinos do barulho, dois elementos infernalíssimos. Claro que, "de saída", meu coração pulsou mais forte por Tito.” Revista do Rádio, edição nº 113 Dalva e Tito casaram-se em Montmartre, Paris, no início de agosto de 1952. Somente no final de outubro foi revelado que a artista não trabalhou por lá: “fui à Cidade Luz simplesmente como turista”. Segundo a cantora, casar-se na França foi mero fruto do acaso. “Aconteceu apenas que Tito e eu resolvemos nos casar enquanto estávamos na França. Assim como foi lá poderia ter sido em qualquer outro lugar”, explicou à Revista do Rádio. Casamento religioso.jpg LEGENDA: Realizada a união religiosa, Dalva de Oliveira e Tito Climent já planejavam o casamento civil (Foto: Antônio Rocha/Hemeroteca Digital Brasileira) Mais uma vez, a Rainha da Voz encontrava, além de um marido, um importante companheiro artístico. “Tito foi um baita produtor para ela”, recorda Ian Felipe, do Dalva de Oliveira FC. Nos seis meses de turnê europeia, foi Tito quem cuidou dos contratos da cantora. Pery Ribeiro afirma que o humorista abriu mão de uma carreira consagrada na Argentina para gerenciar a trajetória de Dalva no Brasil. https://drive.google.com/file/d/1sCwQxIYTQCZog3E2A6dTzdOFNF4OuKM4/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=5599 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=5600 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=5600 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8266 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=8267 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=9340 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=9340 “Tito pretendia cuidar da imagem de Dalva. Queria que as revistas tivessem fotos dela, nos palcos ou em casa, sempre bem produzida. Queria dar dignidade a cada gesto de minha mãe.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas O casamento, entretanto, não seria perfeito. Se Herivelto colocou Dalva sob intensa disciplina para criar uma imagem de estrela nos palcos, Tito queria trazer posturas quase performáticas para a vida pessoal da artista. É o que argumenta Pery Ribeiro em um capítulo de suas memórias. “Na maioria das vezes, exigia que ela fosse uma lady, se comportasse como rainha e atuasse – esta é a palavra – o tempo inteiro. Até mesmo em casa, com a família e com os filhos. Ele queria trazer para nossa casa o clima de vida formal em que fora criado: horários rígidos, mesa muito bem-posta, roupas mais formais, mesmo em casa. Nada de penhoares ou pijamas circulando fora dos quartos.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Com sua espontaneidade, Dalva não conseguia atender aos desejos de Tito. “Minha mãe era uma pessoa vibrante, alegre, descontraída, moleca até. Adorava uma brincadeira”, escreve Pery. Manter tantas formalidades “fugia completamente de sua maneira de ser e de sua formação simplória de vida”. Dalva na árvore .jpeg LEGENDA: Dalva de Oliveira e seu jeito descontraído, em foto publicada na edição nº 226 da Revista do Rádio (Foto: E. Mello/Hemeroteca Digital Brasileira) Mesmo assim, Dalva e Tito resolveram adotar uma menina. Dalva Lucía entrou para a família com um nome que homenageava, ao mesmo tempo, a própria mãe, Dalva, e Lucía, genitora de Tito. Apelidada de Gigi, a criança conviveu com a cantora até 1965 – ano em que foi morar com o pai e a avó paterna na Argentina. Na perspectiva de Pery, a adoção de Gigi não traria “a paz” que o casal esperava. Conflitos entre Dalva e Tito existiriam por alguns anos. https://drive.google.com/file/d/1O9m4ENPNr_Ah8ahv_8MAGNkpkdSi08rx/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=15577 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=13867 Não haverá o segundo desquite.jpeg LEGENDA: “Não haverá o 2º desquite de Dalva de Oliveira!”, anunciava a manchete da Revista do Rádio (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Quase dois anos antes de adotarem Gigi, Dalva de Oliveira e Tito Climent enfrentavam outros desafios ligados ao casamento. A Revista do Rádio precisou desmentir um boato veiculado na imprensa da época de que Tito abandonara a esposa. A verdade é que o humorista estava visitando a mãe em Buenos Aires, e Dalva sofria novamente na mão de veículos que lucravam com seu nome. De qualquer modo, Dalva e Tito permaneceram juntos. Era 25 de novembro de 1953 quando os artistas oficializaram o casamento civil no Chile – e não no Uruguai, como costumavam anunciar. Na verdade, Tito estava na Argentina, gravando alguns filmes, e não poderia acompanhar a esposa, que fazia uma temporada artística no país vizinho. A união, nesse caso, foi promovida por procuração. Dalva de Oliveira casou-se no Chile.jpeg LEGENDA: A Revista do Rádio chegou a publicar a certidão de casamento de Dalva e Tito, entregue ao veículo pela própria cantora (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) A partir de 1953, Dalva encontraria-se dividida entre Brasil e países como Peru, Chile e Argentina. Na terra de seu marido, chegou a comprar, inclusive, uma casa, pois passaria mais tempo lá do que no próprio país. Para o Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro, Dalva lembra que viveu na Argentina por cerca de dez anos – de 1953 e 1963, aproximadamente. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Tito Climent e Argentina.mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) Tangos e Tom Na década de 1950, a discografia de Dalva de Oliveira recebia grande apoio da gravadora Odeon. A intenção da empresa era fazer com que a cantora vendesse cada vez mais discos. Depois de levar a Rainha da Voz até Roberto Inglez, em Londres, um novo investimento internacional parecia interessante. “Assim, criou, junto com a Odeon Argentina, a grande parceria que iria estourar novamente o mercado. Os tangos”, recorda Pery Ribeiro em Minhas duas estrelas. https://drive.google.com/file/d/12mebJZ9D5T5gF9Den2khWh9f6M0Mk3E_/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/13t1zeBWa3EdKGp-Nqz4P238Dj0ZZePk2/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1iBG6Br7EnM385NeTnEWbHKawGFsPTnjf/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=9337 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=9341 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=11493 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=11494 Dalva logo seria apresentada ao famoso maestro Francisco Canaro – uruguaio de nascença, mas atuante principalmente na Argentina. João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva, resgata a fama de exigente que o respeitado músico estrangeiro carregava. O autor lembra que Canaro “costumava gravar apenas com seus crooners; excepcionalmente gravava com outros cantores mas nunca com cantoras”. Essa postura mudaria completamente na presença de Dalva. Dalva e Canaro.jpeg LEGENDA: Dalva de Oliveira e Francisco Canaro nos estúdios argentinos da gravadora Odeon (Foto: Dalva de Oliveira FC) Em 1955, chegaria ao mercado o 78 rpm com o tango Fumando Espero (Félix Garzo e Juan Viladomat, em versão de Eugênio Paes) – provavelmente, já na conhecida gravação com a orquestra de Canaro. Bem repercutido, o disco não alcançaria, contudo, o estrondoso sucesso de Lencinho Querido (Juan de Dios Filiberto e Gabino Coria Peñaloza, em versão de Maugéri Neto), lançado no ano seguinte pela Odeon. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Lencinho Querido (MIS).mp3 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) Lencinho Querido permaneceria nas páginas da Revista do Rádio até o final de 1957. No mesmo ano, Dalva e o maestro uruguaio lançariam um long-play – isto é, um LP – reunindo oito gravações da dupla. Os Tangos Mais Famosos na Voz de Dalva de Oliveira seria o terceiro LP na carreira de Dalva, sucedendo as coletâneas A Voz Sentimental do Brasil (1953) e Dalva de Oliveira Com Roberto Inglez e Sua Orquestra (1955). Foi também em 1957 que Canaro, com “palavras não encomendadas”, elogiou a companheira em entrevista à Revista do Rádio. “Tive a honra de gravar com Dalva de Oliveira, uma grande cantora, que nada fica a dever às melhores intérpretes. Incomparável a sua voz e magnífica a sua maneira de sentir e dizer com muita personalidade as belas melodias”, confessou o músico. Para Ian Felipe, Francisco Canaro e Roberto Inglez fazem parte de um período admirável na carreira de Dalva. O fã destaca que, na década de 1950, a Rainha da Voz valorizava a qualidade de seu trabalho. VÍDEO - https://youtu.be/iNLvHOrvHvc https://drive.google.com/file/d/1AtikuZrnj5wP1oZ8JPUD23GMD2NUWIgd/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1mGEiEJaa3YKRzMuW6QslDSE1AHkRuIzh/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=17169 https://www.youtube.com/watch?v=i4lkQJj7aFs https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=17369 https://www.youtube.com/watch?v=H6jXKnFRW3Q https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=20386 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=20386 https://youtu.be/iNLvHOrvHvc Fato curioso é que, nesse mesmo período, Dalva de Oliveira trabalharia com um ainda iniciante Antonio Carlos Jobim. Em 1955, Tom Jobim assinava os arranjos e a direção de orquestra do 78 rpm com Eterna Saudade (Genival Melo e Luis Dantas) e Não Pode Ser (Marino Pinto e Mário Rossi). No ano seguinte, além de gravar Teu Castigo (Tom Jobim e Newton Mendonça) – que vinha acompanhada da clássica Neste Mesmo Lugar (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti) –, Dalva recebia os “belos arranjos” e a direção de orquestra de Tom no 78 rpm contendo Prece (Alberto Ribeiro) e Saia do Caminho (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy). Cinco divas e uma apresentação No final de 1957, o Brasil acompanharia um encontro emocionante. O locutor Carlos Frias completava 25 anos de carreira no rádio, e uma festa de Bodas de Prata era promovida no Ginásio Gilberto Cardoso – o Maracanãzinho. Durante o evento, transmitido no rádio e na televisão pela Tupi, “milhares de espectadores” assistiriam, entusiasmados, a uma apresentação ao menos histórica. Naquele momento, Angela Maria, Emilinha Borba, Dircinha Batista, Marlene e Dalva de Oliveira cantariam juntas pela primeira vez. Cada estrela chegou ao Maracanãzinho à sua maneira. Dalva surgiu dentro de um pequeno veículo nacional, enquanto Angela Maria sentava-se no para-brisa de um jipe. Se Dircinha era escoltada pela Polícia Militar em outro automóvel, Emilinha Borba acomodava-se na “barquinha” de uma moto. Já Marlene, vestindo uma capa de veludo preto, adentrava o ginásio em cima de um cavalo. Manchete - Cinco divas.jpeg LEGENDA: Na edição nº 434 da Revista do Rádio, quatro páginas foram destinadas à cobertura da festa de Carlos Frias – mas a manchete destacava mesmo a apresentação das “cinco grandes” (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) “Como fecho de ouro do espetáculo, num quadro que a todos comoveu, Emilinha, Angela, Dalva, Marlene e Dircinha entoaram juntas o "Deus Salve a América", encerrando uma festa que marcou época no rádio brasileiro”, noticiou a Revista do Rádio. Doris Monteiro, Julie Joy e Lana Bittencourt também marcaram presença na celebração. Cinco divas.jpeg LEGENDA: Angela Maria, Emilinha Borba, Dircinha Batista, Marlene e Dalva de Oliveira dão as mãos na grande celebração (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) https://drive.google.com/file/d/12vNBq4GoQzFZnlPDUJLMNWJb3_nSjm_d/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1vqHlYEN2nukIepvOlq8UF3tcbynUkNOV/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=16900 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=16900 https://www.youtube.com/watch?v=P3A9Zzh7keI https://www.youtube.com/watch?v=P3A9Zzh7keI https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=18199 https://discografiabrasileira.com.br/disco/111962/odeon-13988 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=carlos+frias&pagfis=23495 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva%20de%20oliveira&pagfis=23509 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva%20de%20oliveira&pagfis=23508 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva%20de%20oliveira&pagfis=23511 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva%20de%20oliveira&pagfis=23511 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=carlos+frias&pagfis=23483 Dalva - Cinco divas.jpeg Angela Maria - Cinco divas.jpeg Dircinha - Cinco divas .jpeg Emilinha - Cinco divas.jpeg Marlene - Cinco divas .jpeg LEGENDA: As rainhas do rádio chegaram ao Maracanãzinho de formas distintas (Fotos: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Julie e Doris - Cinco divas .jpeg LEGENDA: Julie Joy e Doris Monteiro foram fotografadas com Carlos Frias (Foto: Revista do Rádio/Hemeroteca Digital Brasileira) Declínio e últimos êxitos Nos anos 1960, a música popular brasileira experimentava uma verdadeira efervescência cultural. Bossa Nova, grandes festivais de música, rock nacional – popularmente conhecido como Jovem Guarda –, novos bregas e, no final da década, o Tropicalismo. Em um primeiro momento, tudo indicava o declínio dos grandes cantores do rádio. Uma Era de Ouro inteira parecia estar ultrapassada. VÍDEO - https://youtu.be/XjDR0_Hdu_k “A Bossa Nova se tornou um símbolo de decadência dos artistas que vieram antes disso. O estilo musical no qual meu pai [Pery Ribeiro] se aprofundou era, na verdade, o estilo musical que estava matando a música da minha avó.” Bernardo Martins, diretor do documentário #100Dalva Perdendo forças para a televisão, o rádio também se transformava, ao ponto de abrir mão dos programas de auditório. Nesse período, a Rainha da Voz também enfrentava dilemas pessoais. “Dalva e Tito estavam com o casamento abalado desde o início dos anos sessenta”, lembra João Elísio Fonseca, no livro A Estrela Dalva. Retornando à Argentina para dirigir uma emissora de TV, Tito “entregou os pontos” daquela união – argumenta Pery Ribeiro em Minhas duas estrelas. ÁUDIO - Dalva de Oliveira - Televisão.mp3 https://drive.google.com/file/d/1DRxhV3U2xwxYLAdh4Kr0yxC1uQGlbaI0/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1gdjSOP4iBH3f7p6UmfhCIkx2xa6vmkTA/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1REOhHB8-EGkEARPYkzfFiZDAi3fppm3X/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1MGYM_Tzw9riZNxl7mF-27xZ9DcLvtyJB/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/11XuKM3wB1IW9wyi9i3zvIG7JdhWXUZEl/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/1CuFWOOul1a-VQsFWG1Em2uGdlTqY1nIQ/view?usp=drive_link https://drive.google.com/file/d/14b1JEw54Kr_6XcRRxORz69AGoTMahvsD/view?usp=drive_link https://youtu.be/XjDR0_Hdu_k https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=45229 LEGENDA: Dalva de Oliveira entrevistada pelo jornalista Antônio Chrysóstomo para o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em abril de 1970 (Crédito: YouTube/Sambista Nato - Tudo de Samba) O humorista partiu acompanhado da filha Gigi – que escolheu ficar com o pai diante da ruptura do casamento. Aquilo seria um grande tormento para a cantora. “Não gosto de recordar como minha mãe ficou transtornada – tentou de todas as formas dissuadi-lo. Propôs até uma reconciliação, mesmo sabendo que a situação entre os dois havia se tornado impossível”, escreve Pery. Não bastando a crise do segundo casamento, Dalva ainda sofreria um grave acidente de trânsito em agosto de 1965 – mesmo ano em que Gigi partiu para a Argentina. Depois de meses internada, a Rainha da Voz carregaria na face uma cicatriz indisfarçável. Não seria fácil lidar com as mudanças musicais da época, enfrentar a instabilidade na vida amorosa e ver portas se fechando na TV por conta de uma cicatriz aparente. O sucesso da cantora já não era o mesmo. Ainda assim, alguns feitos conseguiram se destacar no início dos anos 1960. Em 1961, por exemplo, ao comemorar Bodas de Prata na gravadora Odeon, a artista regravaria clássicos da carreira em um LP intitulado Dalva de Oliveira – também divulgado na época como Jubileu de Prata. Mais tarde, o disco apareceria na lista de Melhores Long-Playings Nacionais de 1961, do jornal O Globo. Melhores Long-Playings de 1961 - O Globo.jpeg LEGENDA: O jornal O Globo divulgou, no dia 22 de dezembro de 1961, a lista de melhores LPs nacionais daquele ano (Foto: Acervo O Globo) No ano seguinte, a Revista do Rádio reuniria Pery Ribeiro, Elza Soares, Dalva de Oliveira e Orlando Dias para falar de outras conquistas. “No auge da popularidade, eles ganham a média de 100 mil cruzeiros por dia, quando contratados para atuarem em shows pelo interior”, informava o veículo de comunicação. A Rainha da Voz permaneceria nas páginas da imprensa, embora em menor frequência. Mas o melhor ainda estava por vir: três músicas de Dalva trariam à cantora o sucesso fervoroso de antigamente. A primeira, Rancho da Praça Onze (João Roberto Kelly e Chico Anysio), foi lançada em 1964 e incluída no LP homônimo de 1965 – ao lado de faixas como Hino Ao Amor (Edith Piaf e Marguerite Monnot, em versão de Odair Marsano), Sonho de Pobre (Tito Climent) e A Bahia Te Espera (Herivelto Martins e Chianca de Garcia). VÍDEO - https://youtu.be/dt1sTeoWE_U https://drive.google.com/file/d/1w305gX3YLAjZy2RK9Z6gwDgGIGgXwCwA/view?usp=drive_link https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=45230 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva%20de%20oliveira&pagfis=47723 https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&Pesq=dalva%20de%20oliveira&pagfis=47723 https://personaunesp.com.br/dalva-de-oliveira-60-anos/ https://duyt0k3aayxim.cloudfront.net/PDFs_XMLs_paginas/o_globo/1961/12/22/02-segunda_secao/ge221261011SGN1-1234_g.jpg https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=dalva+de+oliveira&pagfis=39220 https://www.youtube.com/watch?v=EASLyQKQ10Y https://www.immub.org/album/cps-35634 https://youtu.be/dt1sTeoWE_U Rancho da Praça Onze foi tema do programa Musikelly, na TV Rio, colocando o nome de Dalva em evidência novamente. “Mais uma vez sua voz tomou conta da cidade e do Brasil”, recorda João Elísio Fonseca. Felizmente, o retorno aos holofotes seria estável; já em 1966, a Rainha da Voz lançaria o segundo grande êxito desse período: a marcha-rancho Máscara Negra (Zé Keti e Pereira Matos), inserida no LP A Cantora do Brasil, de 1967. VÍDEO - Dalva de Oliveira | La Romântica (LP Completo) • 1966 LEGENDA: Em 1966, Dalva ainda lançou, exclusivamente na Argentina, o álbum La Romantica, que reunia regravações em Espanhol de parte de seu repertório Dalva - Televisão - Tropicália.JPG LEGENDA: Em setembro de 1968, Dalva era anunciada como uma das atrações do programa Direito de Nascer e Morrer do Tropicalismo (Foto: Jornal do Brasil/Hemeroteca Digital Brasileira) Àquela altura, investir no carnaval parecia ser o melhor caminho para o sucesso de Dalva. De forma muito precisa, a artista surgiria, em 1970, com um dos maiores êxitos de toda a sua carreira: “Bandeira branca, amor/Não posso mais/Pela saudade que me invade/Eu peço paz”. Até hoje, Bandeira Branca (Max Nunes e Laércio Alves) é uma das músicas mais reproduzidas da Rainha da Voz – levando em consideração seu desempenho nas plataformas de streaming. Em questão de popularidade, era aquele o último ato artístico explosivo da Estrela Dalva. VÍDEO - https://youtu.be/9o9uonNOgYA Seção do site: A despedida O álcool “Bebam, bebam comigo/Hoje eu convido quem queira beber”. Os versos que abrem La Copa Del Olvido (E. Delfino e Vaccarezza, em versão de Tito Climent) servem, também, para resgatar uma questão muito delicada na vida de Dalva de Oliveira. Ao atingir o estrelato, a cantora encontrava-se rodeada de aplausos, gritos, assédios e luzes excessivas; os momentos de privacidade, por outro lado, mostravam-se cada vez mais distantes. “Eu a via chegar em casa exausta, completamente enfraquecida pela perda de tanta energia”, recorda Pery Ribeiro. Naquele momento, o conhaque parecia ser a forma perfeita de encontrar algum alívio. “Minha mãe contava que, ainda menina, aprendeu a tomar cachaça com ele [Seu Mário, pai da cantora]. Para o resto de https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=CR_v5jXc_WI https://drive.google.com/file/d/1npIJoa8LkBNFtPIseR7BhklyG0bSg2Do/view?usp=drive_link https://www.immub.org/album/cps-35636 https://www.youtube.com/watch?v=yWYzhfC6r_Y https://www.youtube.com/watch?v=iML7YqDzCrk https://youtu.be/9o9uonNOgYA https://www.youtube.com/watch?v=oTXOlRTsCPQ sua vida, ela não iria esquecer esses ensinamentos. Lamentavelmente.” Pery Ribeiro e Ana Duarte, no livro Minhas duas estrelas Dalva dava os primeiros passos rumo ao alcoolismo, um dilema que a acompanharia pelo resto da vida. Para piorar a situação, naquela época, os alcoólatras enfrentavam estigmas que dificultavam qualquer tratamento. “O alcoolismo não era tratado da mesma maneira científica que é hoje. Hoje, a gente sabe que é uma doença e que a pessoa se perde naquilo”, avalia Bernardo Martins, neto da estrela. Quando falava, na entrevista, da simplicidade da avó, Bernardo se lembrou de um episódio envolvendo Dalva e o consumo de álcool. Apesar de estar associada aos vícios da cantora, a história de Dalva no canteiro de obras também destaca o lado simples e acessível da Rainha da Voz. VÍDEO - https://youtu.be/ZML17idIPYs “Por mais feliz e satisfeita que ela se demonstrasse, era uma mulher ferida. Uma mulher que teve seus problemas amorosos o suficiente para deixar [outros] problemas muito fortes. Minha avó se afogou”, confessa o diretor do documentário #100Dalva. Rodrigo Faour também menciona as desilusões da cantora ao abordar a questão do alcoolismo. “Ela não segurou a onda. A voz dela era forte, as letras que ela cantava eram fortes, mas, internamente, ela nunca superou a separação. Ela realmente gostava do Herivelto, mesmo com todos os problemas dele”, afirma o jornalista. Para Ian Felipe Fontes, do Dalva de Oliveira FC, a separação com Herivelto pode não ser o único elemento por trás das bebidas. O fim do casamento com Tito também traria mágoas para a artista. VÍDEO - https://youtu.be/nG0Bu8T3Z5M Em 1962, Dalva seria submetida a uma operação “para extirpar um tumor na área feminina”, revela Pery. Amedrontada pelo médico, a cantora passaria cerca de dois anos – 1962 e 1963 – longe das bebidas, temendo perder a vida para o álcool. Tito Climent chegou a colocá-la em tratamento médico, na tentativa de amenizar os danos provocados pelo vício, mas o período de sobriedade não duraria muito. “Nossa mãe voltou a se descontrolar, a afagar as carências num copo, em vez de buscar dentro do ser humano que era o seu próprio alimento”, admite o filho. https://youtu.be/ZML17idIPYs https://youtu.be/nG0Bu8T3Z5M A estrela Dalva… no céu desponta! A saúde de Dalva de Oliveira mostrava-se cada vez mais frágil. Sozinha na casa de Jacarepaguá – o que raramente acontecia no movimentado refúgio da cantora –, Dalva sentiu-se mal em uma manhã de junho de 1972. “Telefonou para algumas estações de rádio, que, no ar, solicitaram a presença do Dr. Arnaldo de Moraes Filho, seu último médico”, narra João Elísio Fonseca. Conduzida à Casa de Saúde Arnaldo de Moraes, em Copacabana, Dalva vivenciava o início do fim. Internada por aproximadamente 40 dias, a cantora chegou a receber alta “sem que estivesse definitivamente curada”, registrou uma reportagem do jornal O Globo. O diagnóstico identificava problemas no esôfago, e a Rainha da Voz permaneceria em casa por apenas dez dias. No dia 20 de julho, uma forte hemorragia interna a levaria de volta à casa de saúde. Contra sua vontade, precisou ficar no quarto 304 – já rejeitado anteriormente, mas o único disponível para a segunda internação. Algo parecia incomodar a artista naquele quarto lilás. “Três dias antes de morrer, Dalva pressentiu o fim e, pela primeira vez, em sua longa agonia de quase três meses, falou na morte”, informava uma edição especial da revista Cartaz. Era agosto de 1972 quando a cantora manifestou seus últimos desejos à amiga Dora Lopes; queria ser vestida e maquiada, para que o povo a visse assim pela última vez. “Todos vão parar para me ver passando”, previu a artista, em frase também resgatada pelo veículo de comunicação. Havia uma comoção nacional ao redor da estrela debilitada. João Elísio lembra que “mais de dez pessoas passaram a ir ao banco de sangue do hospital diariamente. Eram, em sua maioria, pessoas humildes, vindas dos subúrbios onde ela ainda reinava”. A equipe médica também trabalhava arduamente para que a artista se recuperasse. Mas o caso era grave, e as hemorragias no esôfago logo tomariam proporções incontornáveis. Às 17h15min do dia 30 de agosto, um novo brilho iluminava o céu: Dalva partia aos 55 anos de idade. “Ontem pela manhã, Dalva de Oliveira ainda conversava. Os dois comas seguidos por que passara nos últimos dias já estavam esquecidos e ela recebeu alegre a visita do ator César Duran, grande amigo seu, com quem discutiu planos para grandes festas quando saísse e a realização de “uma baita feijoada, na beira da piscina lá de casa”. Logo depois, porém, as hemorragias retornavam, mais frequentes a cada minuto e incontroláveis por transfusão sanguínea. Pery Ribeiro https://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=144428&pesq=jacarepagua&pagfis=8264 https://duyt0k3aayxim.cloudfront.net/PDFs_XMLs_paginas/o_globo/1972/08/31/01-primeira_secao/ge310872005PRM1-1234_g.jpg e Ubiratan Martins, seus filhos, foram chamados às pressas, o tempo suficiente para assistirem a seu passamento.” O Globo, 31 de agosto de 1972 Além da mãe, Dona Alice, das irmãs, Margarida, Nair e Lila, e dos filhos, Ubiratan e Pery, o mundo artístico também teve acesso ao hospital onde Dalva falecera. Na Casa de Saúde Arnaldo de Moraes, foi Dora Lopes quem recebeu Dalva Lucía, vinda há poucos dias da Argentina. Segundo o jornal O Globo, nomes como Leny Andrade, Carminha Mascarenhas e Aldacir Louro estiveram presentes no local. O último adeus O corpo de Dalva, já aguardado por uma fila de admiradores, chegaria ao saguão do Teatro João Caetano pouco depois das 20h. Foram necessárias duas horas de espera para que Mônica Vanda, a primeira fã da fila, conseguisse se despedir da cantora. “Seu rosto continuava com uma expressão calma e o vestido cor-de-rosa sumia entre as flores”, descreveu a revista Cartaz. Segundo o veículo de comunicação, nem mesmo o frio da madrugada e a chuva de quinta-feira, 31, afastaram a multidão da artista. Foram 17 horas de vigília até que o corpo fosse retirado do teatro, às 14h40min. Colocado sobre uma viatura da Polícia Militar, o caixão era acompanhado pelos fãs. “Trinta mil pessoas acotoveladas na Praça Tiradentes começaram a chorar, algumas a acenar seus lenços, ninguém escondia emoções”, assinalou a revista. Mais de 20 mil pessoas levaram último adeus a Dalva de Oliveira.jpeg LEGENDA: Milhares de admiradores ocuparam as ruas do Rio de Janeiro para dar o último adeus a Dalva de Oliveira (Foto: Acervo O Globo) De fato, uma manchete do jornal O Globo anunciava que “Mais de 20 mil pessoas levaram último adeus a Dalva de Oliveira”. A reportagem detalhava, inclusive, o trajeto percorrido pelo caixão. A Cartaz, por sua vez, dava ênfase a outros dados numéricos do cortejo fúnebre. “Meio milhão de pessoas espalharam-se pelas calçadas dos bairros e subúrbios por onde o corpo passava”, noticiou a revista. “Do Teatro João Caetano o carro que conduzia o corpo de Dalva de Oliveira seguiu pela Praça Tiradentes, Rua da Carioca, Rua da Assembleia, Rua Primeiro de Março, Candelária, Av. Presidente Vargas, Viaduto dos Marinheiros, https://drive.google.com/file/d/14t7de5GgrWq7soJrWGullqhYNDguZGuo/view?usp=drive_link https://duyt0k3aayxim.cloudfront.net/PDFs_XMLs_paginas/o_globo/1972/09/01/01-primeira_secao/ge010972005PRM1-1234_g.jpg Praça da Bandeira, Avenida Radial Oeste, Maracanã, Rua 24 de Maio, Rua Dias da Cruz, Rua Amaro Cavalcanti, Avenida Clarimundo de Melo, Largo de Cascadura, Largo de Madureira, Largo de Campinho, Rua Cândido Benício, Largo do Tanque, Estrada do Catonho e Rua Oliveira Martins, até chegar ao cemitério-parque Jardim da Saudade.” O Globo, 1º de setembro de 1972 Na verdade, Dalva desejava que seu enterro saísse do salão da casa em Jacarepaguá, segundo revelação de Dora Lopes à revista Cartaz. “Mas o Governador cedeu o saguão do Teatro João Caetano, lugar que testemunhou tantas vezes a estrela Dalva a brilhar”, explica João Elísio Fonseca. De qualquer modo, o corpo da artista chegaria ao cemitério Jardim da Saudade às 17h50min. Cinco ônibus foram fretados para conduzir os fãs da cantora até o local. Dalva seria enterrada na sepultura 407-A. “O policiamento no cemitério foi pouco eficiente: os cem guardas da Polícia Militar, deslocados para o local, não foram suficientes para deter a multidão, que arrebentou os cordões de isolamento, quando o corpo da cantora chegou, após percorrer as principais ruas da cidade e da zona suburbana.” O Globo, 1º de setembro de 1972 Perder a Rainha da Voz seria doloroso até mesmo para Herivelto Martins, separado da estrela há mais de 20 anos. “Dalva era amiga e mãe dos meus meninos. Lamento mais que qualquer pessoa a sua morte”, confessou o artista ao jornal O Globo. Na mesma ocasião, Herivelto classificou Dalva como a maior cantora do Brasil. “Jamais teremos uma intérprete como ela”, garantiu o compositor. VÍDEO - https://youtu.be/PYmqS7C5wSc A voz imortal Nem mesmo a morte foi capaz de apagar o brilho da Estrela Dalva. “O sucesso dela e a voz dela eram tão diferentes, que acabaram influenciando as cantoras todas que vieram depois, de alguma maneira”, assegura Rodrigo Faour. O jornalista lembra https://duyt0k3aayxim.cloudfront.net/PDFs_XMLs_paginas/o_globo/1972/09/01/01-primeira_secao/ge010972005PRM1-1234_g.jpg https://duyt0k3aayxim.cloudfront.net/PDFs_XMLs_paginas/o_globo/1972/09/01/01-primeira_secao/ge010972005PRM1-1234_g.jpg https://youtu.be/PYmqS7C5wSc que nomes como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa e Alcione ouviam os cantores do rádio na época em que o veículo de comunicação dominava o consumo midiático no Brasil – e Dalva destacava-se nesse meio. VÍDEO - Maria Bethânia - Dalva de Oliveira - Vídeo 1.mp4 LEGENDA: Maria Bethânia recorda, no programa Ensaio de 15 de agosto de 1999, a infância marcada pelos cantores do rádio, além do fascínio despertado por Dalva de Oliveira (Vídeo: YouTube/Programa Ensaio) “Como ela teve muitos sucessos, tanto de meio de ano quanto de carnaval, ela marcou definitivamente essa geração que veio depois”, explica Rodrigo. Do samba à Bossa Nova, passando pela Jovem Guarda, a influência de Dalva na música brasileira é frequentemente recordada pelos próprios artistas. “Mesmo uma Wanderléa, mesmo as cantoras da música chamada jovem, ninguém ficou incólume a essa geração”, pontua o jornalista. VÍDEO - https://youtu.be/RUua5TIJWQw Em entrevistas e shows, a cantora Maria Bethânia manifesta grande admiração pela Rainha da Voz. “Dalva, para mim, foi a melhor coisa de voz que aconteceu no Brasil”, revelou a intérprete ao jornalista Zuza Homem de Mello, em entrevista promovida para divulgar o álbum Oásis de Bethânia, de 2012. Mais recentemente, Alaíde Costa expôs, no programa Persona em Foco, da TV Cultura, uma verdadeira predileção por Dalva de Oliveira. VÍDEO - Alaíde Costa - Dalva de Oliveira - Vídeo 1 .mp4 LEGENDA: No Persona em Foco de 26 de março de 2023, Alaíde Costa chamou Dalva de Oliveira de “minha favorita” (Vídeo: YouTube/Persona) VÍDEO - Maria Bethânia - Estrela do Mar / Pastorinhas (DVD "Brasileirinho") Uma Elza Soares iniciante também deixava explícita a referência encontrada em Dalva de Oliveira. Além de protagonizar a fotografia em que abraça, completamente emocionada, a Rainha da Voz, Elza chegou a imitar Dalva no final da música Boato (João Roberto Kelly), lançada em 1960, no álbum A Bossa Negra. “Dalva tinha uma técnica enorme e atingia aquelas notas enormes. Talvez, as pessoas olhassem e falassem: quero chegar a esse nível", deduz o fã Ian Felipe. Para Bernardo Martins, as marcas deixadas por Dalva na música brasileira p