RESSALVA Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo desta tese será disponibilizado somente a partir de 31/01/2021. 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP CENTRO DE AQUICULTURA DA UNESP O papel do Amh na diferenciação sexual e na gametogênese de peixes teleósteos Marcos Antonio de Oliveira Doutorando Jaboticabal, São Paulo 2019 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP CENTRO DE AQUICULTURA DA UNESP O papel do Amh na diferenciação sexual e na gametogênese de peixes teleósteos Marcos Antonio de Oliveira Doutorando Prof. Dr. Rafael Henrique Nóbrega Orientador Jaboticabal, São Paulo 2019 Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Aquicultura do Centro de Aquicultura da UNESP - CAUNESP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor. 3 Oliveira, Marcos Antonio de O48p O papel do Amh na diferenciação sexual e na gametogênese de peixes teleósteos / Marcos Antonio de Oliveira. – – Jaboticabal, 2019 x, 92 p. : il. ; 29 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Centro de Aquicultura, 2019 Orientadora: Rafael Henrique Nóbrega Coorientador: Manfred Schartl Banca examinadora: Arielle C. Arena, Fausto Foresti, Luiz Renato de França, Renata G. M. Whitton Bibliografia 1. Amh. 2. Gônada indiferenciada. 3. Mutação 4. Reversão sexual. 5.Peixe Medaka. I. Título. II. Jaboticabal-Centro de Aquicultura. CDU 639.3 Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Jaboticabal/SP - Karina Gimenes Fernandes - CRB 8/7418 4 SUMÁRIO 5 SUMÁRIO Dedicatória 6 Agradecimentos 7 Apoio Financeiro 10 Resumo 11 Abstract 12 I. Introdução geral 13 1. Sistemas de determinação e diferenciação sexual em vertebrados 13 2. Genes “masters" na determinação e diferenciação sexual em peixes 19 3. Desenvolvimento gonadal nos peixes 20 4. Dmrt1 na determinação e diferenciação sexual 23 5. O Amh e seu papel na determinação e diferenciação sexual 27 6. Amh como regulador do processo de espermatogênese 35 7. Oryzias latipes como modelo experimental 38 8. CRISPR/Cas9 como técnica para edição genômica 39 II. Justificativa 42 III. Objetivos 44 IV. Material e Métodos 45 1. Animais 45 2. amh-KO por CRISPR/Cas9 45 3. Identificação dos animais mutantes (amh-KO) por PCR 47 4. Caracterização da mutação (amh-KO) 49 5. Sexagem molecular e análise de reversão sexual 50 6. Análises do padrão de expressão dos genes envolvidos na cascata de diferenciação sexual 51 7. Análise Estatística 52 V. Resultados 53 1. CRISPR/Cas9: eficiência e detecção das mutações por PCR 55 2. Caracterização da mutação e fenótipo 59 3. Análise do padrão de expressão de genes envolvidos na cascata de diferenciação sexual 60 VI. Discussão 70 VII. Conclusão 76 VIII. Literatura citada 77 6 DEDICATÓRIA Aos meus pais Juarez & Luzia; Meus irmãos Márcio, Márcia & Zélia; Meus sobrinhos Arthur, Davi & Heitor Meus tios e tias; Minhas avós Madalena e Sabina “in memorian” por todo, amor, carinho e dedicação para comigo! “Você não escolhe sua família. Eles são um presente para você, assim como você é para eles. ” Com muito carinho e amor, dedico! À minha amada namorada Natália Bertoni e seus pais, dona Lia e Wagner, que sempre me apoiam, nos momentos de alegria e tristeza... Com todo amor, carinho e sinceridade Ofereço! 7 Agradecimentos Á Universidade Estadual Paulista, ao Centro de Aquicultura da UNESP – CAUNESP- pela oportunidade oferecida e ao Instituto de Biociências de Botucatu; A todos docentes do CAUNESP, pelos ensinamentos; Ao Prof. Dr. Claudio de Oliveira, Prof. Dr. Fausto Foresti e Prof. Dr. Cesar Martins, pelo espaço fornecido e uso de equipamentos; A Profa. Dr. Adriana Fernandes de Barros, por seus ensinamentos e amizade; Aos secretários David, Veralice e Luciana, por toda ajuda; Aos funcionários Zé, Keila e Ricardo (IBB) por toda a ajuda; Aos amigos e companheiros de trabalho: Arno, Matheus, Juliana, Andres, Lucas, Aldo, Maira, Ivana, Daniel, Camila, Zé, Anabel e Bia; Aos meus amigos, Fabrício, Bruno Castilho, Sol e Piá, Mano, Prof. Luiz Renaro de França, Kallede, Danilo Jacu, Camila, Zé Vicente e Larissa, Dona Célia e Dinovan, Vado e Dona Gorete, Daniel gordão e Ana, Cris e Angela, João “amiguinho”, Rogério e Muza e Du Kang; Aos membros avaliadores da banca, prof. Dr. Luiz Renato de França, prof.Dr. Fausto Foresti, Profa. Dra. Arielle Cristina Arena e Profa. Dra. Renata Guimarães Moreira Whitton por dedicar seu tempo na avalição deste trabalho; 8 Á UNIVERSITY OF WÜRZBURG, na Alemanha pelo acolhimento; Ao meu co-orientador Prof. Dr. Manfred Schartl e ao colaborador Mateus Adolfi; Ás técnicas, Monika, Luiza, Briguita, Conny, Petra e Anitta por toda ajuda durante minha permanência na Alemanha E principalmente ao meu orientador e amigo, Prof. Dr. Rafael Henrique Nóbrega, pela orientação e principalmente por sua confiança na realização deste projeto, e na conquista deste sonho, agradeço também pela oportunidade, atenção e amizade. São poucas palavras, mas sinceras, onde quero lhe dizer: “Obrigado por fazer do aprendizado não um trabalho, mas um contentamento. Por fazer com que me sentisse uma pessoa de valor. Por me ajudar a descobrir o que fazer de melhor e, assim, fazê-lo cada vez melhor. Obrigado por afastar o medo das coisas que pude não compreender, levando-me, por fim, a compreendê-las. Obrigado por me convencer de que sou melhor do que suspeitava. ” 9 A todos, o meu muito obrigado! O mestre disse a um dos seus alunos: Queres saber em que consiste o conhecimento? Consiste em ter consciência tanto de conhecer uma coisa quanto de não a conhecer. Este é o conhecimento. (Confúcio) Hakuna Matata What a wonderful phrase Hakuna Matata! Ain't no passing craze It means no worries For the rest of your days It's our problem-free philosophy Hakuna Matata! It means no worries For the rest of your days It's our problem-free philosophy Hakuna Matata! (Walt Disney) 10 APOIO FINANCEIRO O presente trabalho foi realizado com apoio da FAPESP, através do convênio FAPESP/CAPES, PROCESSO nº 2014/25313-4, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O presente trabalho também teve o apoio da FAPESP, através do convênio FAPESP/CAPES, PROCESSO nº 2015/15631-1, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O presente trabalho também teve o apoio da FAPESP, através do auxílio SPRINT/BAYLAT, PROCESSO n° 2014/50602-0, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. 11 RESUMO A decisão se a gônada indiferenciada irá se desenvolver em um testículo ou um ovário é uma etapa crítica na diferenciação sexual dos vertebrados. Este processo consiste em uma complexa cascata gênica que culmina na diferenciação das células somáticas presente na gônada indiferenciada. Neste sentido, o hormônio anti-Mülleriano é um importante efetor nesta decisão. Estudos com o peixe medaka mutante hotei, no qual o receptor do Amh tipo 2 (amhrII) é mutado, mostram elevado índice gonadossomático, e reversão sexual de macho para fêmea. Com base nestas informações, acredita-se que o Amh possa regular o número de células germinativas e diretamente ou indiretamente este fato pode influenciar na decisão da gônada bipotencial em se tornar um testículo ou ovário. Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi de se avaliar a sinalização do Amh durante a diferenciação sexual no medaka. Para tanto, estudos de perda de função gênica foram empregados, no qual o gene amh foi deletado através do sistema CRISPR/Cas9. Também foi avaliada a expressão dos genes que atuam na janela de diferenciação sexual por RT-qPCR. Inicialmente, identificamos dois tipos de mutação nos animais heterozigotos (amh (-/+) da F1. A mutação mais interessante foi a deleção de 759 pares de base entre os exons 6 e 7 que compreende parte dos domínios Amh_N e TGF- β. Na geração F2, os mutantes homozigotos amh (-/-) machos XY apresentaram 100% de reversão sexual para fêmeas fenotípicas. Além disso os animais amh (-/-) apresentaram hipertrofia gonadal. Não foi realizado nenhum tipo de análise histológica, porém, considerando-se os dados da literatura, sugere-se que a ausência do Amh em nossos mutantes também tenha levado à uma proliferação excessiva das células germinativas. Assim, é sugerido em nosso trabalho que o Amh está envolvido na proliferação das células germinativas, sendo um efetor crucial para a formação do testículo. Esse resultado corrobora os dados de expressão temporal do amh e de alguns genes chaves do processo de diferenciação durante diferentes estágios de desenvolvimento de medakas selvagens. A expressão do amh foi maior em machos do que em fêmeas durante todos os estágios de desenvolvimento. Sua expressão diferencial inicia-se no estágio 34 que precede a janela de diferenciação sexual em medaka. Interessantemente, a expressão de outros genes envolvidos na cascata de diferenciação sexual masculina como dmrt1, amhrII e gsdf foi posterior à do amh. Este dado sugere que o Amh atue como efetor upstream da cascata de diferenciação masculina, sendo responsável, direta ou indiretamente, por ativar genes como dmrt1 e gsdf. Estes resultados estão alinhados com os dados encontrados neste trabalho para os medakas mutantes amh (-/-), onde na ausência do Amh, todos os machos XY se diferenciam em fêmeas. Na ausência do Amh, os efetores downstream da cascata não seriam ativados, o que levaria à diferenciação gonadal feminina. De maneira geral, o presente estudo demonstra que o Amh desempenha um papel crucial no processo de diferenciação sexual do medaka. Além disso, o Amh atua como efetor da cascata de diferenciação sexual masculina e também regula a proliferação das células germinativas nesta espécie. Palavras-chave: Amh, gônada indiferenciada, mutação, reversão sexual, peixe medaka. 12 ABSTRACT The decision whether the undifferentiated gonad will develop in a testicle or an ovary is a critical step in the sexual differentiation of vertebrates. This process consists of a complex genetic cascade that culminates in the differentiation of the somatic cells present in the undifferentiated gonad. In this context, the anti- Müllerian hormone is an important effector in this decision. Studies with the medaka hotei fish, in which the Amh type 2 receptor (amhrII) is mutated, show high gonadosomatic index, and sexual reversion from male to female. Based on this information, it is postulated that the Amh regulates the number of germ cells, and directly or indirectly this fact may influence the decision of the bipotential gonad to become a testicle or ovary. Therefore, the objective of the present study was to evaluate the signaling of Amh during sexual differentiation in medaka. For that, studies of loss of gene function were employed, in which the amh gene was deleted through the CRISPR / Cas9 system. We also evaluated the expression of genes that act in the window of sexual differentiation by RT-qPCR. We initially identified two types of mutation in F1 heterozygous (amh -/+) animals. The most interesting mutation was the deletion of 759 base pairs between exons 6 and 7 which comprises part of the Amh_N and TGF-β domains. In the F2 generation, the homozygous amh (-/-) mutants XY males presented 100% of sexual reversion. In addition, the amh (-/-) animals presented gonadal hypertrophy. We did not perform any histological analysis, but considering the literature data, it is suggested that the absence of Amh in our mutants also led to an excessive proliferation of germ cells. Thus, our work shows that Amh is involved in the proliferation of germ cells, being a crucial effector for testicular formation. This result corroborates the temporal expression data of the amh and some key genes of the differentiation process during different stages of development of wild medakas. amh transcripts were highly expressed in males than in females during all stages of development. Its differential expression begins in stage 34 that precedes the window of sexual differentiation in medaka. Interestingly, the expression of other genes involved in the cascade of male sexual differentiation, as dmrt1, amhrII and gsdf was later than amh. This data suggests that Amh acts as an upstream effector of the male differentiation cascade, being responsible, directly or indirectly, for activating genes such as dmrt1 and gsdf. These results are in line with the data found in this work for the amh (-/-) mutant medakas, wherein the absence of Amh, all XY males undergone sex reversal to females. In the absence of Amh, the downstream cascade effectors would not be activated, which would lead to female gonadal differentiation. In general, this work demonstrates that Amh plays a crucial role in the process of sexual differentiation of medaka fish. In addition, Amh acts as an effector of cascade of male sexual differentiation and also regulates the proliferation of germ cells in this species. Key words: Amh, undifferentiated gonada, mutation, sex reversion, medaka fish 13 I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Sistema de determinação e diferenciação sexual em vertebrados No reino animal, a reprodução sexual é a forma de propagação mais antiga e universal utilizada pelos vertebrados. Os mecanismos que controlam a determinação e diferenciação sexual nestes animais são diversos e dependem de uma grande variedade de fatores genéticos bem como em alguns casos de fatores ambientais (VON HOFSTEN e OLSSON, 2005; TRUKHINA et al., 2013). O sexo genético pode ser definido por fatores genéticos hereditários (XX/XY e ZZ/ZW, dentre outros) que são determinados na fecundação. Por outro lado, a diferenciação gonadal depende da ativação de fatores transcricionais que são expressos durante a janela de diferenciação sexual. Tais fatores podem ter sua expressão alterada por condições ambientais como a temperatura e a osmolaridade dentre outros. Estes processos sexuais são classicamente divididos em determinação e diferenciação sexual, respectivamente (VON HOFSTEN e OLSSON, 2005; MATSON e ZARKOWER, 2012; KIKUCHI e HAMAGUCHI, 2013; TRUKHINA et al., 2013; HERPIN et al., 2013; HEULE et al., 2014). A determinação sexual pode ser definida como um fator herdado, geralmente associado a um gene “master”. Este gene inicia e ativa a cascata gênica/bioquímica que culmina na diferenciação das células somáticas presentes na gonada indiferenciada (DEVLIN e NAGAHAMA, 2002; GRAHAM et al., 2003; HERPIN et al., 2013). Apesar de conservados, uma diversidade de genes “masters", cruciais para a determinação sexual são encontrados em diferentes organismos e todos estes genes são duplicados ou parálogos aos seu ancestral (Tabela 1) (GRAHAM et al., 2003; HERPIN e SCHARTL, 2015). 14 Tabela 1. Genes “master" de determinação sexual nos vertebrados. Dados modificados a partir de Herpin e Schartl (2015). SD: Sistema de determinação sexual. Gene “master” Organismo SD sexual Gene ancestral Função do gene Ancestral SRY Mamíferos XY Sox3 Fator de transcrição, requerido na formação do eixo hipotálamo-hipófise; expresso no desenvolvimento das gônadas. Dmrt1 Galinha WZ Dmrt1 Fator de transcrição, importante na determinação e diferenciação sexual masculinas dm-y Xenopus laevis WZ Dmrt1 Fator de transcrição, importante na determinação e diferenciação sexual masculinas dmrt1bY Medaka (Oryzias latipes, O. curvinotus) XY Dmrt1 Fator de transcrição, importante na determinação e diferenciação sexual masculinas sdY Truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) XY Irf9 Fator de resposta do interferon. Função gonadal desconhecida gsdfY Medaka luzonensis (O. luzonensis) XY Gsdf Fator TGF-β. Importante papel no desenvolvimento gonadal em peixes sox3Y Medaka Indiano (O. dancena) XY Sox3 Fator de transcrição, requerido na formação do eixo hipotálamo-hipófise; expresso no desenvolvimento das gonadas amhY Perjerrey (Odontesthes hatcheri) XY Amh Fator TGF-β. Hormônio anti-Mülleriano. Fator de crescimento amhrIIY Fugu (Takifugu rubripes) XY AmhrII Fator TGF-β. Receptor tipo II para o Amh. Função no desenvolvimento gonadal dmrt1 Linguado chinês (Cynoglossus semilaevis) WZ Dmrt1 Fator de transcrição, importante na determinação e diferenciação sexual masculinas gsdfY Peixe-carvão-do-pacífico (Anoplopoma fimbria) XY Gsdf Fator TGF-β. Importante papel no desenvolvimento gonadal em peixes 15 Uma vez ativa, esta cascata será responsável pela regulação de diferentes genes, produção e liberação de hormônios esteroides que culminará na diferenciação da gônada indiferenciada. O fato da gônada indiferenciada vir a se tornar um testículo ou um ovário é uma etapa crítica no processo de diferenciação sexual dos vertebrados (MUNGER e CAPEL 2012; HERPIN et al., 2013). Em alguns vertebrados, principalmente os mamíferos, a determinação e diferenciação inicia-se na gônada com a ação de fatores de crescimento e hormônios. Em muitos mamíferos, sabe-se que o processo de determinação sexual envolve o cromossomo Y, o qual contém em seu braço curto o gene responsável pela determinação sexual, conhecido como SRY. Este gene regula positivamente a transcrição de genes masculinos específicos (SOX9 e DMRT1) nas células somáticas da gônada XY (KOOPMAN et al., 1991). A ausência do gene SRY induz à feminilização, ativando genes ovarianos específicos (RSPOL, WNT4 e FOXL2) (KOOPMAN et al., 1991). Em relação a este caso paradigmático, uma vez que o sexo foi determinado, segue-se o caminho de diferenciação, produzindo testículo ou ovário (CAPEL, 1998; TEMEL et al., 2007) (Fig.1). Figura 1. Genes responsáveis pela diferenciação sexual em mamíferos. Em animais vertebrados XX/XY, o gene SRY é responsável pela determinação sexual masculina. Quando na ausência do SRY, ocorre à ativação do gene DAX-1, o qual será responsável pela diferenciação da gônada 16 feminina. A presença do SRY resulta na ativação de uma cascata gênica que leva ao desenvolvimento do testículo. O gene SF-1 apresenta um importante papel na esteroidegênese e o AMH desempenha papel chave na diferenciação sexual. A aromatase atua inibindo a expressão do AMH e DMRT1. Setas em preto indicam estimulação. Linhas em vermelho com barra indicam inibição. Modificado a partir de VON HOFSTEN e OLSSON (2005). Em anfíbios, o sistema de determinação sexual é complexo, pois espécies como a Rana rugosa, apresentam dois sistemas de determinação sexual, XX/XY e ZZ/ZW (NISHIOKA et al, 1993 TRUKHINA et al., 2013). Por outro lado, em Xenopus tropicalis, Rocco e colaboradores (2015) mostraram a existência de três tipos de cromossomos sexuais (Y, W e Z). Neste sistema, três tipos de machos podem ser encontrados, YZ, YW e ZZ, enquanto que as fêmeas podem ser ZW ou WW. No entanto, a diferenciação sexual em anfíbios pode acontecer das seguintes maneiras: desenvolvimento direto da gônada bipotencial em testículo ou ovário; desenvolvimento da gônada bipotencial passando por um hermafroditismo sequencial e animais com intersexo (TRUKHINA et al., 2013). Em relação aos genes “masters”, o gene dmrt1 em Xenopus laevis, surge como um potencial candidato envolvido na determinação e diferenciação sexual. Nestes animais, uma duplicação do gene no cromossomo W atua como determinante sexual feminino (YOSHIMOTO et al., 2008; TRUKHINA et al., 2013). Em aves, o mecanismo de determinação sexual é ligado a cromossomos sexuais e neste caso o sistema predominante é o ZZ/ZW. O sistema sexual é homogamético para machos (ZZ) e heterogâmico nas fêmeas (ZW) (NANDA et al.; 2000). Nestes vertebrados, uma região conservada no cromossomo Z é responsável pela determinação sexual masculina e diferenciação testicular, pela regulação do gene DMRT1, que aparentemente não é o gene “master” nesta espécie (SMITH et al., 2009 AYERS, et al.; 2013). No campo da biologia reprodutiva, a elucidação dos vários aspectos envolvidos nos mecanismos de determinação e diferenciação sexual sempre despertou o interesse dos pesquisadores. Neste campo, um grupo em especial de vertebrados chama bastante a atenção, os peixes teleósteos. 17 Os peixes apresentam uma grande variedade de mecanismos de determinação sexual. Neste sentido, muitas espécies apresentam o sistema de determinação ligado a cromossomos sexuais/heteromórficos (XX/XY e ZZ/ZW) (DEVLIN e NAGAHAMA, 2002; GUERRERO-ESTÉVEZ e MORENO- MENDOZA, 2010). Algumas espécies de arraias, como Potamotrygon aff. Motoro e P. falkneri apresentam um sistema múltiplo de cromossomos sexuais, X1X1X2X2/X1X2Y. Neste estudo ficou evidenciado uma heterogeneidade dos arranjos cromossômicos (CRUZ et al 2011). Por outro lado, em espécies de peixes como Oryzias latipes (MATSUDA et al., 1998), Oncorhynchus mykiss (THORGAARD, 1977; ITURRA et al., 2001) e Oreochromis niloticus (BAROILLER et al., 1996), os machos são heterogâmicos (XY). Já em Oreochromis aureus (MAIR et al. 1991), Xiphophorus maculatus, e Gambusia affinis (VOLFF e SCHARTL 2001), as femêas são heterogâmicas, ZW. Além disso, os peixes apresentam ainda uma grande variedade de mecanismos que podem atuar na diferenciação do sexo. Esta variedade pode ser considerada como estratégias sexuais para reprodução, tais como: animais gonocorísticos (apresentam os sexos separados); animais unissexo (todos são fêmeas ou todos são machos); animais hermafroditas, que podem ser classificados em: hermafrodita sequencial, serial ou simultâneo (SCHARTL, 2004; HEULE et al., 2014; ADOLFI et al., 2018) (Fig.2). 18 Figura 2. Alguns peixes podem ser: gonocoristícos (apresentam os sexos separados, macho ou fêmea); hermafroditas, que podem ser classificados em hermafrodita serial (primeiro o animal é uma fêmea, ao longo da vida se tornam machos e, outros permanecem fêmeas), sequencial (podendo ser protândrico, em que o animal nasce macho e transforma em fêmea e, protogínico, em que o animal nasce fêmea e se torna macho) e hermafroditismo simultâneo onde ocorrem a auto-fecundação e ou cruzamento normal. Também existem animais unissexo (todos são fêmeas ou todos são machos). Adaptado de HEULE et al., 2014. Esta variedade de mecanismos de diferenciação sexual, podem ser influenciados tanto por fatores extrínsecos tais como a temperatura, exposições a hormônios, pH da água, concentração de oxigênio, densidade de estocagem e poluentes, bem como por fatores intrínsecos à exemplo do status social e crescimento (VALENZUELA et al., 2003; SCHARTL, 2004; BAROILLER et al. 2009; HAYASHI et al., 2010; YAMAGUCHI et al., 2010) (Fig.3). Diferenciação sexual nos peixes 19 Figura 3. Balança dos fatores que podem influenciar na diferenciação sexual em peixes. Uma grande variedade de fatores ambientais e sociais podem regular o fenótipo sexual dos peixes e muitas vezes ocasionar reversão sexual. Alguns fatores como por exemplo a temperatura, pode reverter animais fêmeas para machos em várias espécies. Em outros casos, a densidade e o status social podem fazer com que animais machos se tornem fêmeas e vice-versa. Figura: Desenho pessoal. 2. Genes “masters" na determinação e diferenciação sexual em peixes Nos últimos anos, pesquisadores ao redor do mundo não mediram esforços para encontrar genes responsáveis pela determinação e diferenciação sexual nos peixes. Neste sentido, uma notável diversidade de genes “masters” determinantes do sexo, que governam as hierarquias genéticas tornou-se visível (HERPIN e SCHARTL, 2015). Em truta arco-íris (Oncorhynchus myskiss) o gene sdY foi descoberto como sendo o gene responsável pela determinação sexual nesta espécie (YANO et al. 2012). Em fugu (Takifugu rubripes), foi descrito o receptor tipo 2 do amh (amhrII) como o gene responsável pela determinação sexual. Neste trabalho os autores mostram que o polimorfismo em apenas um nucleotídeo é responsável 20 pela determinação do sexo nesta espécie (KAMIYA et al. 2012). O estudo realizado por Hattori e seus colaboradores em 2012 mostra evidencias funcionais da duplicação do gene amh, o amhy em Odontesthes hatcheri. Os autores sugerem que o amhy é o gene “master" responsável pela determinação sexual masculina nesta espécie. Já em Oryzias luzonensis, Myosho e colaboradores (2012) identificaram o gene gsdfy como sendo o gene “master” de determinação sexual masculina (TABELA 1). Ao considerar conjuntamente os genes “master” de determinação sexual acima, é notória a importância de fatores de crescimento pertencentes a sinalização da superfamília TGF-β (amh, amhrII, amhy e gsdfy) nos mecanismos de determinação e diferenciação sexual em peixes. Ademais estes dados sugerem que os mecanismos de determinação sexual em peixes não são conservados e nem dependentes de fatores de transcrição. Porém, os componentes moleculares da via que determina o sexo são bastante conservados em relação aos mecanismos desencadeadores no topo da cascata (GRAVES, 2013; TRUKHINA et al., 2013; HERPIN e SCHARTL, 2015). Em medaka (Oryzias latipes) o macho apresenta o sexo heterogâmico (XY) (MATSUDA et al., 1998; MATSUDA et al., 2002). Estes peixes apresentam na região de determinação sexual do cromossomo Y, o gene responsável pela determinação sexual masculina, o dmy/dmrt1bY (NANDA et al., 2002; MATSUDA et al., 2002). 3. Desenvolvimento gonadal nos peixes Conforme se observa nos demais vertebrados, noss peixes teleósteos, a gônada indiferenciada é composta por células somáticas e células germinativas, sendo as últimas responsáveis pela formação dos gametas na após a puberdade. No estágio de diferenciação sexual, as células somáticas se diferenciam em células de Sertoli e Leydig nos machos, ou em células da granulosa e da teca nas fêmeas (DEVLIN e NAGAHAMA, 2002). Os componentes germinativos são derivados muito precocemente das células germinativas primordiais (PGC), as quais migram para a gônada primitiva 21 (RAZ, 2003; RAZ e REICHMAN-FRIED, 2006) conforme nota-se na Figura 4. No momento do desenvolvimento da gônada, as células germinativas precursoras irão se diferenciar na linhagem masculina ou feminina. Após esta etapa, estas células continuam a proliferar ou entram em meiose. Este último passo é muitas vezes sexo-específico; por exemplo, células germinativas femininas entram em meiose primeiro que as células da linhagem masculina (KIMBLE e PAGE, 2007). Esta observação é claramente descrita em estudos envolvendo o peixe medaka (SAITO et al., 2007). Saito e colaboradores (2007) mostram que o número de PGCs é independente do sexo durante a embriogênese final. No entanto, as PGCs começam a proliferar primeiramente nos embriões do sexo feminino, entrando em meiose mais precocemente do que nos machos (próximo do estágio de eclosão). Nos embriões do sexo masculino, a proliferação das PGCs ocorre tardiamente, porém se estende por um período maior após a eclosão (15 a 20 dias pós-eclosão) (SAITO et al.,2007). 22 23 Figura 4. Diagrama representando a diferenciação sexual. Primeiramente a gônada bipotencial que apresenta células germinativas primordiais e células somáticas é determinada geneticamente (XX ou XY). Após esta etapa a gônada indiferenciada nos machos XY passam por uma baixa taxa de proliferação das células germinativas enquanto que nas fêmeas XX, ocorre o oposto. Neste momento, a gônada está sujeita a sinais ambientais (temperatura, hormônios etc) e também moleculares, como a expressão de genes relacionados a diferenciação sexual (por exemplo o amh) tanto para macho como para fêmeas que atuam na diferenciação gonadal. Ainda na diferenciação gonadal, os animais machos XY apresentam um atraso na entrada da meiose enquanto a fêmeas XX dão início a meiose e oogênese e assim então, ocorre a diferenciação do sexo fenotípico nos animais com a formação de testículo nos machos e ovário nas fêmeas. Adaptado a partir de Allais-Bonnet e Pailhoux, 2014. Imagem: Desenho pessoal. Estudos in vitro e in vivo mostram que a expressão do gene dmrt1bY inibe a proliferação das PGCs no estágio de diferenciação sexual, mais precisamente durante a fase G2 do ciclo celular (HERPIN et al., 2007). Desta forma, pode-se dizer que o número de PGCs é influenciado pelo genótipo (XX ou XY) da espécie em questão. Se avaliarmos a questão de que os genes “masters" de determinação sexual, gsdfy em O. luzonensis (MYOSHO et al., 2012), amhrII em fugu (KAMIYA et al. 2012) e amhy em O. hatcheri (HATTORI et al. 2012) são genes de ação direta na proliferação e diferenciação das células germinativas nos peixes (GAUTIER, et al., 2011), é possível que a quantidade de células germinativas possa interferir no processo de diferenciação sexual gonadal em peixes (HERPIN et al., 2007; NAKAMURA et al., 2012). 4. Dmrt1 na determinação e diferenciação sexual O gene Dmrt1 (Doublesex and mab-3 related transcription factor 1) é um fator de transcrição, conservado entre os vertebrados que desempenha importante papel durante a determinação e diferenciação sexual (RAYMOND et al., 1998; MATSON e ZARKOWER, 2012) e são caracterizadas por um padrão de ligação de DNA com domínio rico em cisteína, o domínio DM (Doublesex and Mab-3 related) (RAYMOND et al., 1998 GAMBLE e ZARKOWER, 2012).. O 24 Dmrt1 é expresso nas gônadas dos vertebrados, desempenhando importante papel na diferenciação testicular (Fig.5) (RAYMOND et al., 1998; KOOPMAN, 2009; MATSON e ZARKOWER, 2012). Figura 5. Dmrt1 na diferenciação sexual em vertebrados. Em azul é mostrada a função masculinizante e em rosa a feminilizante. (A) Em mamíferos, o DMRT1 é expresso na gônada fetal após a determinação sexual e requerido após o sexo determinado. (B) Em peixe, no caso medaka, primeiramente após o sexo genético determinado, ocorre a expressão do dmY, também chamado dmrt1bY e posteriormente, ocorre a diferenciação sexual masculina com a expressão do dmrt1 autossomal. (C) Nas aves, a expressão do DMRT1 é ligada ao cromossomo Z e sendo assim, os machos possuem duas cópias e as fêmeas uma, sugerindo assim que um efeito de dose de DMRT1 é requerida para a diferenciação testicular. (D) Em anfíbios, o gene dmrt1 é duplicado e truncado e, é encontrado no cromossomo W, que é específico de fêmeas. Assim o dm-w passa a participar do desenvolvimento ovariano. Retirado de MATSON e ZARKOWER, (2012). Em mamíferos, a determinação sexual ocorre com a expressão do gene “master" SRY. Após a expressão do SRY a cascata gênica de diferenciação sexual é ativada em que o DMRT1 é expresso na gônada indiferenciada e é 25 responsável pela diferenciação testicular (Fig.5 A) (RAYMOND et al., 1998; MELLO et al., 2005). Em aves, a expressão do DMRT1 é ligada ao cromossomo Z. Portanto os machos possuem duas cópias e as fêmeas uma, sugerindo assim, que a expressão do DMRT1 é essencial para diferenciação testicular e sua alta expressão pode determinar o sexo (Fig.5 C) (SMITH et al., 2009). Já em anfíbios, no caso Xenopus laevis, uma duplicação do dmrt1 no cromossomo W é responsável pela diferenciação ovariana (Fig.5 D) (YOSHIMOTO et al., 2010). Em alguns peixes o dmrt1 é expresso nas gônadas de várias espécies (Fig.5 B). Em truta arco-íris, o dmrt1 é expresso nas gônadas masculinas e atua na diferenciação sexual masculina (MARCHAND et al. 2000). Em tilápia, o padrão e expressão do dmrt1 sugere que este gene seja responsável pela diferenciação testicular (IJIRI et al. 2008). Já em zebrafish, Guo e colaboradores (2005), mostraram que o dmrt1 não apresenta dimorfismo sexual quanto à sua expressão em gônadas indiferenciadas. Os autores sugerem que este gene desempenha um papel importante durante o desenvolvimento gonadal de machos e fêmeas (GUO et al. 2005). No entanto, Webster e colaboradores (2017) demonstraram em zebrafish que o dmrt1 é necessário para o desenvolvimento testicular. Além disso, estes autores também mostraram que o dmrt1 é requerido para a manutenção e auto-renovação das células germinativas masculinas iniciais de zebrafish (WEBSTER et al., 2017). Corroborando estas evidências, a deleção do gene dmrt1 em zebrafish alterou o desenvolvimento das células germinativas, levando à regressão dos testículos (LIN et al., 2017). Um dos casos mais interessantes em que o gene dmrt1 atua no processo de determinação sexual em peixes ocorre em medaka (O. latipes) (Fig.5 B). O medaka é uma espécie com o sistema de determinação sexual genética XX/XY. Uma região específica do cromossomo Y apresenta o gene dmY (MATSUDA et al. 2002) ou também conhecido como dmrt1bY (NANDA et al. 2002). Este gene é formado a partir da duplicação do dmrt1 autossômico. Desta forma, o dmY/dmrt1bY assume o papel primordial de gene “master" de determinação sexual masculina e é necessário para o desenvolvimento testicular (MATSUDA et al. 2002; NANDA et al. 2002). 26 5. O Amh e seu papel na determinação e diferenciação sexual O Hormônio Anti-Mülleriano (Amh) é uma glicoproteína membro da família TGF-β (transforming growth factor-beta), que tem um papel importante na regressão do ducto de Müller durante a diferenciação sexual masculina em vertebrados tetrápodes (JOSSO et al., 2006). Durante a formação embrionária, a gônada indiferenciada é composta pelos ductos paramesonéfricos (Müller) e ductos mesonéfricos (Wolf). Os ductos de Müller serão responsáveis pela formação do útero, tubas uterinas e pela formação de partes superiores da vagina. Já os ductos de Wolf formam o epidídimo, os canais deferentes e as vesículas seminais (GOODFELLOW e LOVELL-BADGE, 1993; JOSSO et al., 2006). A gônada indiferenciada irá diferenciar-se em um testículo ou ovário através da ativação de uma cascata gênica. Em humanos, esta cascata é bem descrita e primeiramente ocorre pela ativação do SF-1 (Steroidogenic factor 1) e WT1 (Wilms’ tumor 1), que por sua vez irão ativar a expressão do SRY (Sex determining Region Y) (Fig.6). Na presença do SRY, as células de Sertoli iniciam a produção do AMH. O AMH produzido será responsável pela regressão dos ductos de Müller levando assim a diferenciação masculina com o desenvolvimento dos testículos. Na ausência do SRY ocorre a expressão do gene WNT4 (Wingless-type MMTV integration 4) e DAX-1 (Dosage-sensitive sex reversal - Adrenal hypoplasia congenita critical region on the X chromosome 1) que serão responsáveis pela ativação da cascata de diferenciação feminina (GOODFELLOW e LOVELL-BADGE, 1993; HAQQ et al., 1994; LEE et al., 1996; REY, 1998; BIASON-LAUBER e KONRAD, 2008; TANAKA e NISHINAKAMURA, 2014) (Fig.6). 27 FIGURA 6. Diferenciação sexual em mamíferos. Os genes WT1 e SF-1 atuam na crista gonadal e são responsáveis por ativar o gene de determinação sexual SRY. O gene SRY é responsável pela determinação sexual masculina. A presença do SRY determina a diferenciação da gônada bipotencial em testículo. Uma das funções desse gene é a de iniciar a diferenciação das células de Sertoli que passa a produzir o AMH. O AMH atua na regressão do ducto de Müller levando à diferenciação testicular. Na ausência do SRY ocorre a ativação dos genes WNT4 e DAX-1, os quais serão responsáveis pela diferenciação do sexo feminino. Modificado a partir de BIASON- LAUBER e KONRAD, (2008). Em relação à sua estrutura, o Amh apresenta-se como um gene de cópia única nos vertebrados. Porém, em duas espécies de peixes teleósteos, peixe-rei da Patagônia (HATTORI et al., 2012) e tilápia do Nilo (ESHEL et al., 2014), o amh é duplicado, neste caso esta segunda cópia, denominada amhY, atua como determinante sexual (Fig.7). 28 FIGURA 7. Ilustração mostrando a estrutura do gene amh e amhY em peixe-rei da Patagônia. Os exons são representados pelas caixas laranjas. Segmentos abertos representam os introns. Na caixa em cinza é possível observar a localização da inserção de 557 pares de base na sequência do amhY. A linha azul representa o domínio TGF-β. Retirado de HATTORI et al., (2012). O gene Amh apresenta 5 exons em mamíferos e aves. Em humanos e camundongos, a proteína formada contém 554 e 560 resíduos de aminoácidos, respectivamente. Já em galinhas, o AMH possui 644 resíduos de aminoácidos. Em peixes teleósteos, o gene amh consiste de 7 exons que codificam uma proteína de 500 resíduos de aminoácidos. Diferentemente dos demais peixes, o gene amh de truta arco-íris possui somente 6 exons que codificam uma proteína de 571 resíduos de aminoácidos (RODRIGUEZ-MARI et al., 2005; HALM et al., 2007; KLUVER et al., 2007; JAMIN et al., 2008; HATTORI et al., 2012). O AMH é secretado como um precursor homodimérico com tamanho de 140-kDa, o qual consiste em dois monômeros de 70-kDa cada. O AMH é composto por uma região C-terminal madura com 25-kDa. Esta região se torna bioativa após sofrer uma clivagem proteolítica e se ligar ao receptor do AMH tipo 2 (AMHRII), induzindo assim sinais intracelulares através de proteínas Smads (PEPINSKY et al., 1988; di CLEMENTE et al., 2010). A região N-teminal é chamada de pró-região. Esta parte é importante para a síntese e transporte do AMH extracelular. O precursor do AMH é clivado entres estes dois domínios (pró- região e C-terminal). Em seguida, uma segunda clivagem ocorre na pró-região dando origem a três regiões diferentes: região pró-semi-madura, semi-madura e 29 madura (Fig.8) (JOSSO e di CLEMENTE, 2003; di CLEMENTE et al., 2010, MAMSEN et al., 2015). A região C-terminal se torna biologicamente ativa quando se associa de maneira não-covalente com a pró-região. Uma nova clivagem resulta na dissociação da pró-região com a região C-terminal madura. Desta forma o AMH maduro é liberado na matriz extracelular. A porção N-terminal é importante para a manutenção da atividade biológica da porção C-terminal do AMH (Fig.8) (WILSON et al., 1993; JOSSO e di CLEMENTE, 2003; di CLEMENTE et al., 2010). As sequencias da proteína deduzida do AMH mostram características bem conservadas entre as espécies de vertebrados, tais como o domínio TGF- β na região C-terminal e o domínio Amh_N na região N-terminal. No entanto, vale ressaltar as diferenças no sitio de clivagem entre os vertebrados. Em mamíferos e aves, a região onde ocorre o reconhecimento pelas proteases para a clivagem é simples (R-X-X-R), enquanto que em peixes teleósteos a região é dupla (R-X-X-R-X-X-R). Esta clivagem é necessária para o processamento do AMH. 30 FIGURA 8. Diagrama mostrando o processamento do AMH. O AMH é produzido como um precursor covalente não ativo homodimérico, que precisa ser clivado para se tornar ativo. O precursor do AMH é clivado entres os dois domínios por ação de proteases dando origem a uma pró-região (região pró-madura) não covalente. Neste momento, ocorre a formação de três regiões diferentes: região pró-semi-madura, semi-madura e madura. A dissociação das duas regiões (pró-região e região madura C-terminal), libera a região madura C-terminal que é a forma ativa do hormônio. Retirado de MAMSEN et al., (2015). Na matriz extracelular o AMH maduro se liga à um complexo de receptores de membrana serina/tirosina quinase do tipo I e tipo II. Os receptores tipo II possuem domínio extracelular para associação específica com os ligantes (MASSAGUÉ et al., 2000; TEN DIJKE et al., 2002; FAN et al., 2012; SPILLER et al., 2017). A partir da formação do complexo ligante/receptor II e I ocorre uma cascata de fosforilações, iniciada com o receptor tipo II fosforilando o receptor tipo I que também por fosforilação, ativa proteínas mediadoras citoplasmáticas chamadas Smads (Fig.9) (MIYAZAMA et al., 2002). As Smads são divididas em 3 grupos de acordo com sua função. As R- Smads estão associadas aos receptores tipo I e realizam a mediação de sinal da membrana em direção ao núcleo; são elas Smads 1, 2, 3, 5 e 8. A Co-Smad (Smad 4) se associa às R-Smads no citoplasma e as translocam para o núcleo celular. Por fim, as I-Smads (Smads 6 e 7) que são antagonistas das R-Smads 31 e que apresentam atividade inibitória sob estímulos específicos (Fig.9) (MIYAZAMA et al., 2002; SPILLER et al., 2017). As R-Smads são ativadas pelo complexo ligante/receptor tipo I e II de acordo com uma distribuição que nos permite agrupar a via TGF-β em duas grandes subfamílias (Vogt el al., 2011, Spiller et al., 2017). O AMH tem como mediadores as R-Smads (1,5 e 8). A Smad 4 transporta as R-Smads fosforiladas (1, 2, 3 ,5 e 8) do citoplasma para o núcleo celular. Esse conjunto de proteínas Smads é levado ao DNA e atuam na regulação da expressão gênica, em associação à Co-ativadores, Co-repressores e demais reguladores transcricionais (Fig.9) (MASSAGUÉ et al., 2000; TEN DIJKE et al., 2002; MIYAZAMA et al., 2002; FAN et al., 2012; SPILLER et al., 2017). 32 33 FIGURA 9. Via de sinalização do AMH. A clivagem do AMH por proteases resulta numa alteração conformacional no domínio C-terminal, que permite a ligação não covalente do AMH ao receptor tipo II do AMH (AMRHII). O AMH se liga ao AMRHII e recruta o receptor tipo I levando à formação de um complexo e à fosforilação do receptor tipo I. Após a ativação, o receptor tipo I fosforila as SMADs 1/5/8 (R-Smads), permitindo que essas proteínas se associem com a Smad4 e migrem para o núcleo. No núcleo, o complexo SMAD se associa com co-fatores, e o complexo formado se liga a regiões regulatórias específicas em genes-alvo, ativando assim a transcrição. Retirado de di Clemente e colaboradores (2010). Em mamíferos, a expressão do Amh é muito importante para a diferenciação testicular, onde seus níveis elevados são produzidos pelas células de Sertoli no início da diferenciação testicular e diminuem com a puberdade (REY, 1998). Em fêmeas adultas de mamíferos, o Amh inibe a formação dos folículos ovarianos primordiais (NILSSON et al., 2011). O fato do Amh estar ligado à diferenciação sexual foi observado em estudos realizados em peixes teleósteos, mais especificamente num mutante do peixe medaka, chamado hotei (MORINAGA et al., 2007). O fenótipo hotei é causado pela mutação no gene que codifica o receptor do Amh tipo II (AmhrII) (MORINAGA et al., 2007). Nestes mutantes, a ausência do AmhrII levou a uma hipertrofia gonadal e 50% dos machos XY reverteram para fêmeas (Fig.10) (MORINAGA et al., 2007). Estes resultados sugerem que o AmhrII desempenha relevante papel na diferenciação sexual desta espécie. Além disso, também é sugerido que a sinalização do Amh regula a atividade proliferativa das células germinativas (Fig.10). 34 Figura 10. Fenótipo apresentado pelo mutante medaka hotei. Os fenótipos sexuais primários dos peixes hotei feminino são indicados pela letra F, enquanto o sexo genético por XX, ou M para o fenótipo dos machos e XY para o sexo genético. (A) fêmea selvagem (XX). (B) macho selvagem (XY). Os machos apresentam as bordas das nadadeiras ásperas e maiores. (C) Fêmea hotei XY. (D) Macho hotei XY. (E) Fêmea hotei XX, mostrando uma expansão abdominal. (F) Macho hotei XY também com uma expansão abdominal pronunciada. (G) Ovário de fêmea selvagem. (H) Testículo de macho selvagem. (I) Cavidade abdominal de fêmeas hotei XX totalmente ocupado por ovário hipertrófico. (J) Testículo hipertrófico em machos hotei XY. (K) Comparação entre as gônadas isoladas de animais selvagens e hotei após 6 meses. (L) Mudanças no índice gonadossomático de animais selvagens e hotei aos 2, 3, 5 e 8 meses após eclosão. (M) Genótipos/Fenótipos dos hotei homozigotos 6 meses após eclosão. Retirado de MORINAGA et al., (2007). 35 Nos peixes teleósteos, a expressão do amh é maior em machos do que em fêmeas, como por exemplo, em linguado (YOSHINAGA et al.2004), tilápia do Nilo (IJIRI et al. 2008) e zebrafish (RODRÍGUEZ-MARÍ et al. 2005). Já em hermafroditas, como no pargo preto (Acanthopagrus schlegeli), por exemplo, níveis elevados de amh estão associados com o início da diferenciação testicular (WU et al., 2010; WU e CHANG, 2013), e seu padrão de expressão é mantido durante o período de reversão sexual de fêmea para macho. Por outro lado, na reversão de macho para fêmea, seus níveis diminuem drasticamente (WU et al., 2010; WU et al., 2012; WU e CHANG, 2013). Em Odontesthes hatcheri, Hattori e colaboradores (2012) mostraram que machos apresentam uma cópia duplicada do gene amh, o amhy, que está ligado ao cromossomo Y e é requerido para a determinação sexual desta espécie. Neste sentido, o Amh e seu receptor devem desempenhar um papel importante na diferenciação sexual masculina, assim como no desenvolvimento testicular dos vertebrados de uma maneira geral. 6. Amh como regulador do processo de espermatogênese Em peixes adultos, a expressão diferencial do amh é observada entre os sexos. O amh é mais expresso em testículos do que em ovários (SKAAR et al.,2011; OLIVEIRA, 2014). No entanto, pouco se sabe sobre o papel do Amh na espermatogênese e função testicular de peixes machos adultos. Durante a puberdade de zebrafish, o Amh inibe a produção e secreção de andrógenos pelas células de Leydig (Fig.11) (SKAAR et al., 2011). Os andrógenos são importantes para estimular a proliferação espermatogonial e a entrada da meiose pelas células germinativas. Nas células de Sertoli de zebrafish, o Amh neutraliza os efeitos dos fatores de crescimento estimulatórios da espermatogênese, como o Igf3 (insulin-like growth factor 3) (MORAIS et al., 2017). Por outro lado, o Amh aumenta a produção de fatores de crescimento inibitórios produzidos pelas células de Sertoli, como a inibina-a (inha), inibidor do fator de transcrição da ligação ao DNA (id3) e prostaglandina E2 (PGE2). Juntos, estes mecanismos levam a inibição da proliferação e diferenciação celular e 36 também atuam na manutenção das espermatogonias em seu estado indiferenciado (SKAAR et al.,2011; ADOLFI et al., 2018). Figura 11. Papel do Amh na espermatogênese de zebrafish. As células de Sertoli produzem Amh que através de uma via autócrina estimula a produção de fatores de crescimento pelas células de Sertoli. Estes fatores de crescimento atuam no nicho espermatogonial, bloqueando a diferenciação e a proliferação das espermatogônias indiferenciadas (Aund). O Amh também inibe a função das células de Leydig na produção e liberação de andrógenos. O hormônio folículo estimulante (Fsh) diminui a expressão do amh criando uma condição permissiva para a diferenciação e proliferação espermatogonial. O Fsh estimula a produção de andrógenos (11- Ketotestosterona) pelas células de Leydig, que induz a produção de fatores de crescimento pró- diferenciação pelas células de Sertoli. O quadro a direita ilustra os genes que têm sua expressão diminuída na presença do Amh. As diferentes gerações espermatogôniais também estão mostradas na figura: espermatogônia indiferenciada (Aund), espermatogônia diferenciada (Adiff), e espermatogônia do tipo B (B). Retirado de SKAAR et al., (2011). Em algumas espécies, como Lateolabrax japonicas, o gene amh possui elevados níveis de expressão em testículos imaturos (CHI et al., 2014). No entanto, estes níveis são diminuídos quando as espermatogônias entram em proliferação e diferenciação (CHI et al., 2014). Em Oncorhynchus mykiss, a expressão do amh é inibida pela presença de testosterona e 11- Ketotestosterona (principal andrógeno nos peixes) (ROLLAND et al., 2013). A testosterona e 11-Ketotestosterona são produzidas pelas células de Leydig, e 37 induzem a proliferação e diferenciação espermatogonial através da produção de fatores de crescimento pelas células de Sertoli (ROLLAND et al., 2013). No entanto, pouco se conhece acerca da via de sinalização do Amh na espermatogênese e função testicular em machos adultos de peixes teleósteos. Em Salmo salar, os níveis de expressão do amh são dependentes dos estágios do ciclo reprodutivo dos machos (MAUGAR e SCHMITZ, 2008). Em estágios em que os testículos possuem epitélio germinativo composto primeiramente por espermatogônias (estágio imaturo), os níveis de expressão de amh apresentam-se elevados e diminuem gradativamente a medida que os testículos entram em maturação (MAUGAR e SCHMITZ, 2008). Além disso, estudos recentes demonstram que níveis elevados de expressão de amh coincidem com baixas taxas de proliferação (espermatogonial e de células de Sertoli) avaliadas pela detecção do antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA) em Cyprinus carpio. (MIURA et al., 2002; OLIVEIRA, 2014). Assim, é sugerido que em carpa comum, os níveis baixos de expressão de amh sejam um fator permissivo para a proliferação espermatogonial (OLIVEIRA, 2014). Mais recentemente, a fim de se investigar o papel do Amh nos mecanismos de regulação das células germinativas masculinas, Lin e colaboradores (2017) realizaram a deleção do amh pela tecnologia CRISPR/Cas9 em zebrafish. Os autores mostraram que a perda da função do Amh levou a uma desregulação na proliferação das células germinativas e consequente hipertrofia gonadal em zebrafish (LIN et al., 2017). Além disso, os autores relataram aumento na proporção de fêmeas nos animais homozigotos (71%) enquanto que nos animais heterozigotos, esta porcentagem foi de apenas 46% (LIN et al., 2017). Com base em estudos na enguia japonesa (MIURA et al., 2002), acredita- se que o efeito inibitório do Amh sobre a espermatogênese de zebrafish/carpa possa estar associado à diminuição de andrógenos e também por fatores inibitórios produzidos pelas células de Sertoli (SKAAR e NÓBREGA et al.,2011). Informações a respeito dos mecanismos de ação do Amh na espermatogênese, bem como na determinação e diferenciação sexual ainda não foram completamente elucidados. Neste sentido, estudos sobre o papel do Amh poderão gerar conhecimentos para mediar a puberdade precoce e/ou tardia 38 exibida por espécies de interesse comercial em cativeiro, bem como a masculinização de outras, como por exemplo, a utilização de linhagens 100% masculinizadas. 7. Oryzias latipes como modelo experimental O peixe medaka (Oryzias latipes) (Fig.12) é comumente utilizado como modelo experimental em vários mecanismos biológicos, como desenvolvimento embrionário, determinação sexual e diferenciação gonadal (KIRCHMAIER et al., 2015). Isto se deve, principalmente pelo fato desta espécie apresentar características vantajosas tais como, rápido período de desenvolvimento, genoma disponível e de pequeno tamanho, e por apresentar sistema de determinação sexual XX/XY, onde o macho mostra-se heterogamético (MATSUDA et al., 2002). Em relação ao fenótipo, diferenças entre características secundárias atribuídas ao sexo são claramente distintas entre machos e fêmeas. As diferenças são particularmente em relação a forma do corpo; a cor, forma e tamanho das nadadeiras dorsal e anal. Os machos apresentam as nadadeiras dorsal e anal maiores e mais largas com cor opaca. As fêmeas apresentam nadadeiras menores e uma coloração amarelada (MATSUDA et al 2007). 39 Figura 12. Oryzias latipes – Medaka. Fêmea (XX) (parte superior) com ovos aderidos na região ventral, na saída do canal urogenital. O macho (XY) (parte inferior) apresenta as bordas das nadadeiras maiores. Imagem: Arquivo pessoal. O medaka foi o primeiro vertebrado no que foi evidenciado a ocorrência de crossing-over entre os cromossomos X e Y (AIDA et al., 1921), sendo um dos primeiros organismos utilizados em estudos de indução a reversão sexual (YAMAMOTO et al., 1955). Em relação à determinação sexual, foi nesta espécie de peixe que o primeiro gene “master” da determinação sexual, o dmy ou dmrt1bY, foi descrito e caracterizado (MATSUDA et al., 2002; NANDA et al., 2002; SCHARTL, 2004). 8. CRISPR/Cas9 como técnica para edição genômica O sistema CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) foi descoberto em 1987 por Ishino e colaboradores da Universidade de Osaka (Japão). Estes pesquisadores identificaram um locus peculiar no genoma de Escherichia coli, constituído por uma configuração incomum: sequências repetidas e sequências espaçadoras intercaladas ("spacer") de função desconhecida. Apenas em 2005 foi sugerido que o sistema CRISPR-Cas9 seria um sistema imune adaptativo de procariotos, 40 no qual os espaçadores serviriam como “memória de invasões anteriores” por bacteriófagos (MOJICA et al., 2005). Assim, RNAs derivados desses espaçadores serviram como moléculas complementares aos patógenos invasores, permitindo combatê-los de maneira sequência-específica. Somente em 2012/13 foi descoberto que essa técnica poderia ser utilizada no meio científico. Duas publicações merecem destaque nesse quesito, a primeira, que introduziu o conceito e evidenciou seu potencial (JINEK et al., 2012) e uma segunda, onde foi mostrado o amplo sucesso, fácil acessibilidade e versatilidade da técnica (CONG et al., 2013). A técnica baseia-se na síntese de uma molécula de RNA complementar à uma sequência genômica alvo na qual pretende-se deletar (3 à 4 pares de base). Para tal, o RNA se associa à uma endonuclease que guia o mesmo até o alvo complementar a ele. Quando há complementariedade do RNA para com o alvo e a endonuclease reconhece a sequência PAM (Fig.13), ocorre a clivagem dos nucleotídeos. Essa enzima com atividade nucleásica é a Cas-9, pertencentes à família das enzimas Cas (Fig.13). Com a mutação, a sistema de reparo de DNA da célula é ativado e inserções ou deleções de pares de bases acabam por abolir a expressão do gene alvo. Figura 13. CRISPR-Cas9 e seus componentes básicos que em conjunto, inibem a expressão de um gene de interesse. No DNA genômico encontra-se o gene alvo, onde a Cas9 endonuclease irá produzir uma mutação indel (inserção-deleção). O crRNA (CRISPR-derived RNA) juntamente com o tracrRNA (trans-activating RNA) são responsáveis por guiar e ativar o sistema, 41 respectivamente. Atualmente, ambos RNAs são sintetizados numa única molécula, chamada de gRNA ou sgRNA (single guide RNA). A sequência 5´-NGG-3´ é necessária estar presente adjacentemente ao alvo, para que a atividade endonucleásica da Cas-9 funcione adequadamente. Tal sequência é conhecida como PAM, ou Protospacer adjacent motif. REC – lobo de reconhecimento e NUC – lobo nucleásico da Cas9. RuvC e HNH são dois domínios da Cas9, cada qual responsável por “cortar” uma fita da molécula de DNA. Imagem retirada de http://www.ozbiosciences.com/content/58-transfection-reagents-for-genome-editing. Em relação as demais técnicas de edição genômica, como ZFN (Zinc Fingers Nucleases) e TALENs, (Transcription Activator–like Effector Nucleases), o CRISPR-Cas9 apresenta algumas vantagens tais como: rápida e fácil metodologia, onde em apenas dois dias é possível sintetizar o gRNA, baixo custo e principalmente alta taxa de sucesso devido a sua alta sensibilidade para o reconhecimento de sequências específicas presentes no DNA (CENCIC e HISASHI, 2014). http://www.ozbiosciences.com/content/58-transfection-reagents-for-genome-editing 76 VII. Conclusão Este estudo demonstrou que o sistema CRISPR/Cas9 foi eficiente para deletar genes relacionados com a diferenciação sexual de medaka. Assim, conseguimos gerar animais mutantes homozigotos para o gene amh (-/-). Obtivemos uma deleção de 759 pares de base entre os exons 6 e 7 do gene amh, o que corresponde à parte do domínio Amh_N e TGF-β, ambas cruciais para o funcionamento do hormônio. As principais conclusões obtidas a partir dos resultados gerados com a utilização deste interessante modelo foram: 1) Todos os animais amh (-/-) XY sofreram reversão sexual. Neste sentido, o Amh pode ser considerado um fator crucial para a diferenciação sexual masculina em medaka. Na ausência do Amh, os machos XY revertem para fêmea. 2) Todos os mutantes (machos e fêmeas) apresentaram hipertrofia gonadal. Este fato indica que o Amh regula a proliferação das células germinativas. A ausência do Amh promove por tanto intensa proliferação excessiva das células germinativas. 3) A expressão do amh é maior em machos do que em fêmeas durante todos os estágios de desenvolvimento avaliados nos medakas selvagens e sua expressão diferencial precede a janela de diferenciação e a expressão de efetores downstream da cascata de diferenciação, como dmrt1 e gsdf, dentre outros. Este fato corrobora os dados encontrados para os mutantes amh (-/-), sugerindo que o Amh é um efetor upstream da cascata de diferenciação sexual e é responsável por regular direta ou indiretamente a expressão dos efetores downstream (dmrt1 e gsdf). 4) Finalmente, demonstramos a importância da sinalização TGF-β na diferenciação sexual de vertebrados, assim como também sua influência nos processos de regulação do crescimento/proliferação e diferenciação das células germinativas. 77 VIII. LITERATURA CITADA ADOLFI, M. C.; NAKAJIMA, R. T.; NÓBREGA, R. H.; SCHARTL, M. Intersex, Hermaphroditism, and Gonadal Plasticity in Vertebrates: Evolution of the Mullerian Duct and Amh/Amhr2 Signaling. Annual Review of Animal Biosciences, vol. 7, p.7-24, 2019. oi.org/10.1146/annurev-animal-020518-114955. AIDA, T. On the inheritance of color in a fresh-water fish, Aplocheilus latipes Temmick and Schlegel, with special reference to sex-linked inheritance. Genetics vol. 6, p.554-573, 1921. AYERS, K. 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