UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro MARIA ANGÉLICA DE LIMA TASSO CARACTERIZAÇÃO DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS E AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA SERRA DE MONTE ALTO ENTRE OS MUNICÍPIOS DE PALMAS DE MONTE ALTO E SEBASTIÃO LARANJEIRAS, BA. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Geociências e Meio Ambiente. Orientador: MARIA RITA CAETANO CHANG Rio Claro - SP Ano 2012 Tasso, Maria Angélica de Lima Caracterização dos sedimentos superficiais e avaliação ambiental da Serra de Monte Alto entre os municípios de Palmas de Monte Alto e Sebastião Laranjeiras, BA / Maria Angélica de Lima Tasso. - Rio Claro : [s.n.], 2012 118 f. : il., figs., gráfs., tabs. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas Orientador: Maria Rita Caetano Chang 1. Sedimentação e depósitos. 2. Cerrado. 3. Erosão. 4. Perda de solo. I. Título. 551.303 T214c Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP Comissão Examinadora Prof.ª Dr.ª Maria Rita Caetano Chang (orientadora) IGCE/UNESP/Rio Claro (SP) Prof.ª Dr.ª Gilda Carneiro Ferreira IGCE/UNESP/Rio Claro (SP) Prof. Dr. Reinaldo Lorandi Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia/UFSCar/São Carlos (SP) Prof. Dr. Eduardo Silveira Bernardes Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB/Vitória da Conquista (BA) Dr. Marcos Massoli Coordenadoria da Biodiversidade e Proteção dos Recursos Naturais/Secretaria Estadual do Meio Ambiente/Ribeirão Preto (SP) Maria Angélica de Lima Tasso Aluna Rio Claro, SP 17 de maio de 2012. Resultado: APROVADA ória Dedico este trabalho, Ao meu marido Djalma Tadeu Rezende, pois sem ele nenhum dos meus sonhos teria sido alcançado. Ao meu pai Antonio (em memória) e minha mãe Eunice por acreditarem em mim e promoverem meu futuro. AGRADECIMENTOS Quero expressar meus sinceros agradecimentos: à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia pela minha liberação integral das atividades docentes e apoio ao desenvolvimento desta tese; à Prof.ª Dr.ª Maria Rita Caetano Chang pela orientação, apoio, amizade e incentivo extremamente necessário em alguns momentos; ao Prof. Dr. Chang Hung Kiang pelo apoio em algumas atividades da minha pesquisa; ao Prof. Dr. Joaquim Perfeito da Silva pelo incentivo a pesquisa na região da Serra de Monte Alto; aos funcionários Claudinho, por disponibilizar Laboratório de Sedimentologia do IGCE/UNESP e Vladimir pelas análises realizadas pelo Laboratório de Espectrometria de Difração de Raios X do IGCE/UNESP; à amiga Leiliane Azevedo pelo apoio prestado na impressão deste trabalho; à amiga Andreia Lima Sanches pela obtenção de algumas fotografias e na utilização de alguns softwares; à Djalma, meu marido pela paciência, compreensão e amor, renunciando momentos de lazer em família e me incentivando todos os dias na conclusão deste trabalho. “Trate bem a terra. Ela não foi doada a você pelos seus pais. Ela foi emprestada a você pelos seus filhos.” Provérbio Africano RESUMO A Serra de Monte Alto abrange diversos municípios da região sudoeste do estado da Bahia e abriga nascentes responsáveis pelo abastecimento desses municípios, além de constituir área de lazer para seus habitantes. Nesta área foram criadas duas unidades de conservação, quais sejam o Parque Estadual da Serra dos Montes Altos e o Refúgio de Vida Silvestre da Serra dos Montes Altos. O presente estudo desenvolveu-se em área situada entre os municípios de Palmas de Monte Alto e Sebastião Laranjeiras, com o objetivo de auxiliar nas estratégias de conservação da serra. Para tanto, avaliou-se a ação de fatores naturais e antrópicos, por meio da análise de erodibilidade e datação de sedimentos aflorantes na área, o que permitiu a caracterização de sua evolução ambiental. Os resultados obtidos permitiram concluir que a implantação do cerrado nas porções mais altas da Serra de Monte Alto ocorreu devido ao aumento de períodos chuvosos, associados ao aquecimento pós-glaciação pleistocênica. Tais condições climáticas, diferentes das atuais, possibilitaram a implantação de uma vegetação arbórea, típica do cerrado, proporcionando o armazenamento de água no solo e, consequentemente, a preservação dessa vegetação diferenciada. Apesar da erosão ser um processo natural, a ação antrópica contribui para a aceleração do processo, acarretando perdas consideráveis como o assoreamento dos cursos d’água, alteração dos ecossistemas, queda na fertilidade dos solos e poluição da água. As datações de sedimentos superficiais - Holoceno e Pleistoceno - obtidas pelo método de Luminescência Opticamente Estimulada (LOE) e de suas análises pela Equação Universal das Perdas de Solo (EUPS), ao longo de 25 anos, possibilitou determinar que a erosão da área estudada é menor do que o esperado. Este fenômeno ainda não é intenso na região da serra, graças à dificuldade de se alcançar suas porções mais altas. Os resultados deste trabalho denotam a fragilidade do ecossistema na Serra de Monte Alto. Assim, é necessário que essa unidade seja alvo de planejamento ambiental por prefeituras e órgão estaduais, por meio de estudos ambientais multidisciplinares, para que se possa identificar os pontos sensíveis e formular medidas mitigadoras e preventivas de possíveis impactos ambientais gerados pelo incremento do turismo. ABSTRACT The Serra de Monte Alto extends over several municipalities in the southwestern region of the state of Bahia. It contains springs that provide water to these municipalities and serve as recreation areas for its inhabitants. In this mountain area, two conservation areas were created: the State Park of Serra dos Montes Altos and the Wildlife Refuge of Serra dos Montes Altos. The present study took place in the area between the cities of Palmas de Monte Alto and Sebastião Laranjeiras, aiming to assist the conservation strategies for the mountain area. Both natural and human factors were considered using the analysis of erosion and sediment dating. The results showed that the establishment of the Cerrado (Brazilian tropical savanna) in the higher portions of the Serra de Monte Alto happened due to the increase of rainy seasons, associated with the global warming after the Pleistocene glaciation. Such climatic conditions, which are different from today's, allowed the formation of arboreal vegetation, common in the Cerrado. This caused the accumulation of water in the ground and, therefore, the preservation of the characteristic vegetation. Although erosion is a natural process, human interference contributes to the acceleration of the process, causing considerable damage such as aggradation of rivers, ecosystem changes, decline in soil fertility, and water pollution. The superficial sediment dating (Holocene and Pleistocene) obtained thought the method of Optically Stimulated Luminescence (OSL) and its analysis with the Universal Soil Loss Equation (USLE), over a period of 25 years, showed that the erosion in the studied area is smaller than expected. This phenomenon is not intense yet in the region due to the difficulty in reaching its higher grounds. The results of this work show the fragility of the ecosystem. Thus, it is necessary that the local government and state agencies proceed to the environmental planning of the area, with interdisciplinary environmental studies, so that the problems can be identified. This will allow the creation of preventive and mitigating measures to deal with the increasing tourism. FIGURA PÁGINA 1.1 Vista Panorâmica da Serra de Monte Alto. (Autor: Andreia L. Sanches) 2 1.2 Lajedos graníticos formando reservatórios naturais no entorno da Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 2 1.3 Ação da chuva gerando erosão em solo arenoso e friável (Ponto 12). (Autor: Andreia L. Sanches) 3 1.4 Ação erosiva (A) e (B) nas estradas de acesso a Serra de Monte Alto. (Autor: Andreia L. Sanches (A) e Djalma T. Rezende (B)) 4 1.5 Mapa de situação da Serra de Monte Alto/BA 6 4.6 Localização da área estudada – mapa topográfico e vias de acesso. (Confecção do mapa baseada em dados extraídos da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo – SIG – CPRM (2004) – Folha SD.23 – Brasília, em escala 1:1.000.000). 7 1.7 Planície a oeste da Serra de Monte Alto. (Autor: Andreia L. Sanches) 8 1.8 Carstificação no Alto São Francisco.(Autor: Andreia L. Sanches) 8 2.1 Página inicial do software para calcular a erosividade aplicável na Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS). 11 2.2 Uso do trado manual para coleta de solo. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 12 2.3 Uso de tubo de PVC para coleta de material para datação por LOE. Tubo de PVC introduzido horizontalmente para coleta de material e (B) Tubo de PVC com uma das extremidades lacrada por fita adesiva, antes de ser retirado da área de coleta. 13 2.4 Mapa de localização dos pontos amostrados. (Fonte: SIG-CPRM (2004) - Folha SD.23 - Brasília em escala 1:1.000.000. 14 2.5 Material sendo preparado para pipetagem. 16 2.6 Pipetagem de amostras para secagem e posterior pesagem. 17 2.7 Nomograma de Wischemeier et al. (1971) in Bertoni e Lombardi Neto (2008). 24 3.1 Porção do Mapa Geológico do estado da Bahia (Fonte: CPRM/CBPM, 2003) onde aparece a Serra de Monte Alto e região circunvizinha. 29 3.2 Blocos de quartzito. (Autor: Maria Angélica de Lima Tasso) 31 3.3 Aspecto geomorfológico da Serra de Monte Alto – relevo cuestiforme. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 32 3.4 Região Serra Geral (Fonte: CAR - Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR/(BA) Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável da Região Serra Geral - PDRS). 34 Figura Página 3.5 Tipos de climas, segundo a Classificação de Köppen. 39 3.6 Principais drenagens da área estudada. 40 3.7 Mapa do Estado da Bahia com localização da subdivisão regional da Serra Geral. (Extraído do site http://www.car.ba.gov.br/uploads/publicacoes_31.pdf) 41 4.1 Imagem zoomórfica – Sítio do Riacho Comprido (Autor: Joaquim Perfeito da Silva) 42 4.2 Cômodo da “Casa de Pedra”. (Autor: Joaquim Perfeito da Silva) 43 4.3 Um dos diversos menires (≈ 0,60 m de altura) encontrados nos pontos de maiores altitudes da serra.(Autor: Joaquim Perfeito da Silva) 44 4.4 Vegetação de Cerrado na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 44 4.5 Vegetação de Campos Rupestres na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 45 4.6 Vegetação de Galeria na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 45 4.7 Vegetação de Caatinga Arbórea na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 46 4.8 Árvore de Pequi. (Fonte: http://www.taquarussu.com/plantas.asp?InfoId=68&Title= Pequi%20(Caryocar%20brasiliensis) 47 4.9 Informativo da Prefeitura de Palmas de Monte Alto onde a população da região pôde tomar ciência da importância da Serra de Monte Alto do ponto de vista científico e econômico (Informativo n.º 01/2009).. 48 4.10 Pé de Umbu. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 49 4.11 4.11: (A) Cachoeira do Rio Mandiroba e (B) do Rio Casa Velha. (Autor: Djalma T. Rezende (A) e Maria Angélica de L. Tasso (B)) 50 4.12 Área da Serra de Monte Alto utilizada por visitantes. Observar a presença de restos de embalagens, alimentos e estacas utilizadas para montagem de barracas. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 51 4.13 Mapa de localização da vegetação da Serra Geral (Fonte: CAR - Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR/(BA) Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável da Região Serra Geral - PDRS) 53 4.14 Pegada de cervídeo na área da Fonte das Negas na Serra de Monte Alto. (Autor: Lenira Coelho de Souza) 55 4.15 Pegada de Nassua sp (Quati), na área da Fonte das Negas na Serra de Monte Alto. (Autor: Lenira Coelho de Souza) 56 4.16 Lagarto (Iguana sp) na Fazenda Três Irmãos.(Autor: Avaldo Soares Filho) 57 Figura Página 4.17 Cágado (Chelidae?) na estrada de acesso à Fazenda Três Irmãos. (Autor: Avaldo Soares Filho) 57 5.1 Classificação de formas de encostas (Fonte: Thoeh, 1965) 63 6.1 Altitudes dos locais de coleta de amostras. 69 6.2 Resultados das análises granulométricas, em porcentagem, para as diversas amostras. (MG = MUITO GROSSA; G = GROSSA; M = MÉDIA; F = FINA; MF = MUITO FINA) 70 6.3 (A) Grânulo de quartzo arredondado. (B) Areias com predominância de grãos subarredondados de quartzo leitoso. 74 6.4 Grânulos de metarenito e metargilito variando de suganguloso a subarredondados e areia fina de quartzo leitoso. 74 6.5 (A) Seixo fino de metarenito. (B) Areias médias a muito grossas e grânulos de quartzo leitoso, subarredondados a subangulosos, recobertos por película de óxido de ferro. 74 6.6 (A) Grãos de quartzo hialino, quartzo leitoso, quartzo com película de óxido de ferro e concreção laterítica. (B) Areias quartzosas finas a médias, subarredondadas, compostas por quartzo com película de óxido de ferro. 75 6.7 (A) Areias finas a grossas, com predominância de grãos de quartzo leitoso. (B) Seixo de metarenito de coloração avermelhada, subarredondada. 75 6.8 (A) Seixo de metargilito. (B) Concreção laterítica com grãos finos de quartzo cimentados por óxido de ferro. 75 6.9 Areias finas a médias, com predominância de quartzo leitoso. 76 6.10 (A) Areias com predomínio de quartzo hialino. (B) – Concreção laterítica composta por grãos de quartzo fumê cimentados por óxido de ferro. 76 6.11 (B) Concreção laterítica composta por pequenos grãos de quartzo leitoso. 76 6.12 (A) Amostra com predomínio de quartzo leitoso e hialino. (B) Fragmento de metarenito revestido por fina película de óxido de ferro. 77 6.13 Metarenito conglomerático. 78 6.14 Amostra de metarenito róseo 78 6.15 Quartzito róseo 79 6.16 Fotomicrografia de fragmento de quartzito (assinalado) em metarenito com matriz de areias finas a médias e cimento ferruginoso (aumento de 10x). 80 6.17 Fotomicrografia de fragmento de quartzito (assinalado) em metarenito com matriz de areias finas a médias e cimento ferruginoso (aumento de 10x). 81 Figura Página 6.18 Fotomicrografia de cristais de quartzo com extinção ondulante apresentando overgrowth (assinalado) em alguns cristais (aumento de 10x). 82 6.19 Fotomicrografia apresentando granulometria fina com predomínio de quartzo e overgrowth (assinalado) em alguns cristais (aumento de 10x). 83 6.20 Fotomicrografia de quartzo com extinção ondulante (aumento de 40x). 83 6.21 Resultados das análises de Difratometria de Raios X, sob diferentes tratamentos (amostra glicolada, normal e queimada) (M – mica; C – caulinita; Q – quartzo e S – sepiolita) 85 6.22 Resultados das análises de Difratometria de Raios X, sob diferentes tratamentos (amostra glicolada, normal e queimada) (M – mica; C – caulinita; Q – quartzo e S – sepiolita) 86 6.23 Resultados das análises de Difratometria de Raios X, sob diferentes tratamentos (amostra glicolada, normal e queimada) (M – mica; C – caulinita; Q – quartzo e S – sepiolita). 87 6.24 Localização do perfil A - A’, determinado pelos pontos de amostragem 1, 9 e 13, e do ponto 14, cujas amostras foram utilizadas para datação por LOE. 89 6.25 Perfil A - A’, mostrando o traçado das rampas médias dadas pelas altitudes dos pontos de amostragem 1, 9 e 13. 90 6.26 Gráfico demonstrativo do Índice Pluviométrico para 25 anos. 93 6.27 Gráfico comparativo da média e desvio padrão para os 25 anos. 93 6.28 Precipitação Pluviométrica versus Perdas de Solo. 99 TABELAS 2.1 - Coleta de material em suspensão. 16 2.2 - Valores de R. 23 2.3 - Valores de K. 24 2.4 - Uso e Manejo do Solo. 26 2.5 - Valores de P para algumas práticas conservacionistas. 26 3.1 - Principais características do município onde se encontra a área estudada. 37 3.2 - Principais características climáticas da cidade de Palmas de Monte Alto. 38 3.3 - Nascentes localizadas na porção NW da Serra de Monte Alto. 40 5.1 - Agentes de erosão e resultados da ação erosiva. 60 5.2 - Escala de erosividade da chuva e valores de vulnerabilidade à perda de solo. 61 5.3 - Características físicas das chuvas nas diversas regiões do Brasil. 61 5.4 - Efeito do comprimento de rampa nas perdas de solo (toneladas/hectare). 62 5.5 - Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por erosão. Médias ponderadas para três tipos de solo do Estado de São Paulo. 64 5.6 - Valor de denudação de algumas bacias fluviais brasileiras. 68 6.1 - Resultados das análises granulométricas por pipetagem (A) e peneiramento (B). 69 6.2 - Descrição macroscópica de sedimentos superficiais. 73 6,3 - Resultados de paleodose, dose anual e idade de amostras da Serra de Monte Alto obtidas pelo método LOE. 88 6.4 - Dados pluviométricos do município de Palmas de Monte Alto. 92 6.5 - Fator erosividade (Ec.l) mensal e média anual no período de 1985 a 2009. 94 6.6 - Erodibilidade dos sedimentos estudados. 95 6.7 - Dados para calcular a declividade média de segmentos de rampa na área estudada. 96 6.8 - Fator topográfico (LS) de segmentos de rampa na área estudada. 96 6.9 - Perdas de solo no período de 1985 a 2009. 98 GLOSSÁRIO AROEIRA: árvore (Schinus molle) de folhas penadas, flores brancas ou amarelo-esverdeadas, em panículas, e drupas globosas, vermelhas, com odor de pimenta; abaraíba, aguaraíba, aguaraibá-guaçu, aguaraúba, araíba, aroeira-do-amazonas, aroeira folha de salso, aroeira-salso, aroeiro, corneíba, pimenta da américa, pimenteira-bastarda, pimenteira da américa, pimenteira do peru. Nativa dos Andes peruanos é explorada ou cultivada pela madeira compacta, pouco elástica, pelas propriedades medicinais da resina da casca e dos folíolos e frutos, os quais tb. fornecem tintura, respectivamente, amarela e rósea. BARBATIMÃO: árvore pequena (Stryphnodendron adstringens), de folhas bipenadas, flores avermelhadas ou esbranquiçadas, e fruto carnoso; barba- de-timão, barbatimão-verdadeiro. Ocorre nos campos e cerrados do Pará até São Paulo e Mato Grosso do Sul; a madeira é útil e resistente à umidade; extrai-se tanino do fruto e esp. da casca, que tb. fornece tinta vermelha e tem vários usos medicinais; as sementes são tóxicas ao gado. CAATINGA ARBÓREA: tipo de vegetação brasileira, característica do Nordeste, formada por espécies arbóreas espinhosas de pequeno porte, associadas a cactáceas e bromélias. CAMPOS RUPESTRES: também conhecidos como campos de altitude, são formações que ocorrem exclusivamente no alto de algumas serras brasileiras, situadas numa altitude média acima de 900 m. CERRADO: tipo de vegetação que ocorre no Planalto Central Brasileiro, em certas áreas da Amazônia e do Nordeste, em terreno geralmente plano, caracterizado por árvores baixas e arbustos espaçados, associados a gramíneas, também denominado campo cerrado. CERVÍDEO: são mamíferos da ordem dos artiodáctilos pertencentes à família Cervidae. Entretanto, várias espécies semelhantes, de outras famílias da mesma ordem, são também chamadas veados. JUAZEIRO: Ziziphus joazeiro é uma árvore nativa do nordeste brasileiro, encontrada principalmente em áreas secas como caatinga e cerrado. É uma árvore de porte médio, geralmente atingindo entre 5 e 10 metros de altura, com copa grande e densa, carregada de folhas. Suas folhas verdes têm consistência membranosa, largas e verdes. Produz um fruto pequeno, amarelado e redondo de cerca de 3 centímetros, comestível e também apreciado por pássaros. É uma árvore muito resistente a períodos de seca. LAJEDO: afloramento de rochas à superfície do solo, de extensão variada; lajeado; lajeiro. MATA DE GALERIA: São matas que acompanham os córregos e rios. Conhecidas também como matas úmidas ou mata ciliar, mantém sua folhagem sempre verde durante todo o ano. MENIR: é um monumento pré-histórico de pedra, cravado verticalmente no solo (ortóstato), às vezes de tamanho bem elevado (megálito denominado menir). ORTÓSTATO: pedra fincada verticalmente que serve de suporte ou de elemento de fechamento nos monumentos megalíticos. PEQUIZEIRO: Caryocar brasiliense; Caryocaraceae é uma árvore nativa do cerrado brasileiro, cujo fruto, é utilizado na cozinha nordestina, em Goiás, Mato Grosso e norte de Minas Gerais. UMBUZEIRO: Spondias tuberosa é uma planta típica do sertão e do agreste e tem sua origem no Brasil, precisamente na região semiárida nordestina. Cresce espontaneamente nas regiões do Cariri paraibano, no planalto sobre a Serra da Borborema, nas Serras do Seridó, norte-rio-grandense, no agreste piauiense, no norte do estado de Minas Gerais e na caatinga baiana, alagoana e pernambucana. IMAGEM ZOOMÓRFICA: imagem que representa ou usa formas animais. SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO 1 1.1 – Natureza do Trabalho 3 1.2 – Objetivos 5 1.3 – Localização e Vias de Acesso 5 2 – MATERIAIS E MÉTODOS 9 2.1 – Levantamento Bibliográfico 9 2.2 – Trabalho de Campo 11 2.3 – Análises Laboratoriais 15 2.3.1 – Análise Granulométrica da Fração Grossa 15 2.3.2 – Análise Granulométrica da Fração Fina 15 2.3.3 – Espectrometria de Difração de Raios X 17 2.3.4 – Datação por Luminescência Oticamente Estimulada 18 2.4 – Quantificação de Perdas de Solo por Erosão Hídrica Superficial do tipo Laminar 20 3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 27 3.1 – Geologia Regional 27 3.2 – Características da Serra de Monte Alto 30 3.2.1 – Geologia 30 3.2.2 – Geomorfologia 32 3.2.3 – Pedologia 35 3.2.4 – Vegetação 36 3.2.5 – Clima 38 3.2.6 – Recursos Hídricos 39 3.2.7 – Aspectos Econômicos 41 4 – OCUPAÇÃO HUMANA NA SERRA DE MONTE ALTO E DIVERSIDADE BIOLÓGICA 42 4.1 – Histórico de Ocupação Humana 42 4.2 – Dados da Flora 44 4.3 – Atividades Turística e Econômica 49 4.4 – Dados Faunísticos 54 5 – EROSÃO 58 5.1 – Fatores Naturais 59 5.1.1 – Clima 59 5.1.2 – Relevo 61 5.1.3 – Cobertura Vegetal 63 5.1.4 – Solo 65 5.2 – Fatores Antrópicos 66 5.3 – Resultado da Ação dos Fatores Naturais e Antrópicos 66 5.4 – Principais Problemas causados pela Erosão 67 5.5 – Controle e Prevenção de Processos Erosivos 68 6 – RESULTADOS 69 6.1 – Granulometria dos Sedimentos Superficiais 69 6.2 – Descrição Macroscópica dos Sedimentos Superficiais 71 6.3 – Descrição Macroscópica de Rochas Fonte 78 6.4 – Descrição Microscópica de Rochas Fonte 80 6.5 – Difratometria de Raios X 84 6.6 – Datação por Luminescência Oticamente Estimulada 88 6.7 – Cálculo das Perdas de Solo 91 6.7.1 – Fator Erosividade 91 6.7.2 – Classes de Erodibilidade 94 6.7.3 – Fator Topográfico 95 6.7.4 – Uso e Manejo do Solo e Práticas Conservacionistas 97 6.7.5 – Total das Perdas de Solo no período de 1985 a 2009 97 6.7.6 – Perdas de Solo versus Taxas Deposicionais 99 7 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 101 8 – RECOMENDAÇÕES 104 REFERÊNCIAS 107 1 1- INTRODUÇÃO A Serra de Monte Alto (Figura 1.1) abrange as cidades de Sebastião Laranjeiras, Candiba, Pindaí, Palmas de Monte Alto e o distrito de Mutans (Guanambi), abrigando um importante sistema de águas superficiais que recarrega rios e aquíferos. Esses, por sua vez, abastecem ecossistemas de brejos temporários, lagos, lagoas artificiais e naturais (Figura 1.2), bem como municípios e povoados do seu entorno. Esta serra tem, pois, grande importância econômica e social para a região, visto que abastece lagoas, aguadas e barragens das fazendas e cidades das bacias do Rio Casa Velha, Rio Verde e Rio Mirador. Mais especificamente, abriga várias nascentes dos riachos que correm para o Rio do Espinho, que abastece o município de Palmas de Monte Alto, o Rio Mirador, que banha o oeste dos municípios de Guanambi e Candiba, e o braço do Rio Verde Pequeno, que abastece Pindaí, Sebastião Laranjeiras, Mandiroba e a Lagoa do Boqueirão. O crescente aumento na procura de atividades de lazer na região estudada tem gerado discussões a respeito das prováveis formas de degradação do meio físico (Figuras 1.3 e 1.4). Por seu turno, o turismo regional é uma atividade econômica das mais importantes, e pode ser viabilizado por meio de planejamento e gestão de atividades que devem ser implantadas pelo poder público, tais como um Plano Diretor visando o desenvolvimento de atividades turísticas e de pesquisa científica da flora, fauna e geológica. As turísticas estariam baseadas no aproveitamento de áreas já utilizadas pela população local, porém acompanhadas de estudos de impacto para definir o número de visitantes que a área comporta e as atividades de pesquisa, limitadas a instituições de ensino superior, principalmente as regionais, maiores interessadas na preservação ambiental da serra, além da implantação de vias de acesso no entorno da serra e no interior da mesma, proporcionando visitação às áreas de cachoeiras, riachos e pontos arqueológicos (“Casa de Pedra” e pinturas rupestres), além de horários e dias de visitação. 2 Figura 1.1: Vista Panorâmica da Serra de Monte Alto. (Autor: Andreia L.Sanches) Figura 1.2: Lajedos graníticos formando reservatórios naturais no entorno da Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 3 Figura 1.3: Ação da chuva gerando erosão em solo arenoso e friável (Ponto 12). (Autor: Andreia L. Sanches) 1.1 - NATUREZA DO TRABALHO O presente trabalho busca suprir a escassez de estudos geológicos e ambientais na área da Serra de Monte Alto. A melhor compreensão da constituição litológica das rochas aflorantes, sedimentos superficiais e dos processos erosionais que afetam áreas da serra, bem como a identificação e a caracterização da ação de eventos naturais e antrópicos aí estabelecidos, são elementos importantes para auxiliar nas estratégias de conservação de nascentes, rios e demais acidentes geográficos, com vistas a favorecer a preservação e a sustentabilidade da região. 1 m 4 (A) (B) Figura 1.4: Ação erosiva (A) e (B) nas estradas de acesso à Serra de Monte Alto. (Autor: Andreia L. Sanches (A) e Djalma T. Rezende (B)) Os estudos sedimentológicos sobre os processos erosionais nas encostas da serra, que podem gerar impactos irreversíveis nas planícies em seu entorno, servirão ao planejamento do meio físico da área de estudo, possibilitando uma melhor conservação e aproveitamento de suas riquezas naturais, geológicas e arqueológicas, além da contribuição acadêmica ao conhecimento da área. 5 1.2 - OBJETIVOS Os principais objetivos propostos nesta pesquisa foram: 1. Avaliar as condições de erosão dos sedimentos superficiais da área de estudo; 2. Avaliar a ação de fatores naturais e antrópicos na área de estudo,; 3. Propor ações preventivas para minimizar possíveis danos ambientais à Serra de Monte Alto (BA). 1.3 - LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO A área estudada localiza-se na região centro-sul do Estado da Bahia (Figuras 1.5 e 1.6). O acesso à área pode ser feito pelas através dos seguintes itinerários: A) Salvador (BA)/Palmas de Monte Alto (BA) → Rodovias BR 116 e BR 030 – 732 km; B) Vitória da Conquista (BA)/Palmas de Monte Alto (BA) → BR 030 – 311 km; C) Brasília (DF)/Palmas de Monte Alto (BA) → BR 479 – 714 km; e D) Belo Horizonte (MG)/Palmas de Monte Alto (BA) → BR 135 e BR122 – 824 km. Ao seu redor estende-se vasta planície que, em períodos de chuva, é irrigada por córregos e lagoas abastecidas por nascentes formadas nesta serra (Figura 1.7). A sul e a leste, a Serra de Monte Alto tem por vizinha a Serra do Espinhaço; a oeste, ocorrem afloramentos calcários do carste do Alto do São Francisco em meio a planície da Unidade do Vão do São Francisco (COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL, 2007) (Figura 1.8) e, a norte, a Chapada Diamantina. 6 Figura 1.5 : Mapa de situação da Serra de Monte Alto/BA. BA MG N N 7 Fi gu ra 1 .6 : Lo ca liz aç ão d a ár ea e st ud ad a – m ap a to po gr áf ic o e vi as d e ac es so . (E xt ra íd o da C ar ta G eo ló gi ca d o Br as il ao M ili on és im o – SI G – C PR M (2 00 4) – F ol ha S D .2 3 – Br as íli a, e m e sc al a 1: 1. 00 0. 00 0) . 8 Figura 1.7: Planície a oeste da Serra de Monte Alto. (Autor: Andreia L. Sanches) Figura 1.8: Carstificação no Alto São Francisco. (Autor: Andreia L. Sanches) 9 2 - MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo na Serra de Monte Alto/BA fundamentou-se: � Em levantamento bibliográfico extenso sobre a geologia da área de estudo (petrologia, estratigrafia, tectônica, pedologia); sobre métodos laboratoriais e de tratamentos de dados (erosão - cálculo de perdas de solo, SIG – Sistema de Informações Geográficas); � Em levantamento de dados de campo e coleta de amostras; � Em análises laboratoriais (granulometria por peneiramento e pipetagem, difratometria de raios-X e datação por luminescência opticamente estimulada – LOE) 2.1 - LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO O levantamento bibliográfico estendeu-se à trabalhos acadêmicos disponíveis em artigos, dissertações e teses, principalmente sobre a geologia da área de estudo, buscando identificar as unidades litoestratigráficas presentes na área, cujas litologias predominantes são responsáveis pela constituição dos solos aí existentes, bem como sobre aspectos estruturais presentes nessas rochas. Foram utilizadas cartas topográficas digitalizadas de Palmas de Monte Alto (SD. 23-Z-B-I) e Espinosa (SD. 23-Z-B-V), em escala 1:100 000, fornecidas pela Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia (SEI), e informações temáticas (geologia, tectônica, geocronologia, imagens de satélite e modelo digital de terreno) da Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo – SIG – CPRM (2004) – Folha SD.23 – Brasília, em escala 1:1.000.000, que contribuíram para o planejamento do estudo da área no que diz respeito à amostragem de solo e confecção dos mapas de localização, amostragem e ação erosiva. Informações de precipitações pluviométricas foram obtidas do Sistema de Informações Hidrológicas (Hidroweb), no site da Agência Nacional de Águas (ANA). Para o Sistema de Informação Geográfica (SIG) foi utilizado o software ArcGis. Trata-se de um conjunto de programas de informática, produzido pela ESRI , que foi utilizado para a confecção de mapas da área estudada, contendo drenagens, 10 classes de rochas e amostragem. O ArcGis integra cinco componentes básicos: software, pessoas, dados, procedimentos e hardware. Tem como função capturar, armazenar, pesquisar, visualizar e disponibilizar resultados. A captura dos dados se dá através de mapas impressos, coordenadas, dados digitais e informações do GPS (Global Positioning Systeml). O armazenamento se dá através de vetores e raster que são imagens que contém a descrição de cada pixel, em oposição aos gráficos vetoriais. A pesquisa tem como base identificar feições específicas e feições baseadas nas condições. A análise permite gerar informações quanto a proximidade, gerar camadas e redes. Possibilita visualizar mapas, gráficos e relatórios. Gera como resultado informações do tipo: mapa impresso, imagem (jpg), documento (mxd) e internet (dados). O Gis trabalha com layers (camadas) temáticas de dados espaciais. O Sistema de Informação Geográfica separa a informação em diferentes camadas temáticas e armazena-as independentemente, sendo possível trabalhar com elas de modo rápido e simples. Esse tipo de construção permite que a informação existente possa ser referida por meio da posição e da topologia do objeto, com a finalidade de gerar novas informações. O software Erosividade Brasil, utilizado nesta pesquisa para quantificação do processo erosional na área de estudo, foi criado por Silva et al. (2005), pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Câmpus Sorocaba (Figura 2.1). 11 Figura 2.1: Página inicial do software para calcular a erosividade aplicável na Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS). 2.2 - TRABALHOS DE CAMPO Os trabalhos de campo envolveram o reconhecimento da geologia da área, o levantamento de estradas, trilhas, espaços de lazer e propriedades privadas, bem como a identificação e descrição de rochas e sedimento/solo, com coleta de amostras, fotografias de afloramentos e de aspectos da paisagem da área. Foram também identificadas às diferentes atividades desenvolvidas na região, sejam para subsistência ou lazer. Para a localização dos pontos descritos e amostrados (coordenadas geográficas e altitude) foi utilizado GPS (Global Positioning System).Garmin eTrex, com precisão de 1 – 5 metros (3 – 15 pés) com correções DGPS(1). 12 As coletas de sedimentos superficiais foram feitas de duas maneiras. Na coleta do material de sedimentos/solos para análises granulométricas e difratometria de raios-X foi utilizado trado manual (Figura 2.2). A amostragem foi realizada a profundidade de cerca de 50 cm, retirando-se cerca de 1 kg de material em cada ponto; essas amostras foram identificadas e embaladas para as análises laboratoriais. Para análise de Luminescência Oticamente Estimulada (LOE); as amostras foram coletadas utilizando-se tubos de PVC de cor escura (Figura 2.3), que impede a passagem de luz. Os tubos foram introduzidos horizontalmente no afloramento, a profundidade de aproximadamente 100 cm; os tubos com as amostras assim coletadas foram imediatamente lacrados com fita adesiva, para a perfeita preservação das mesmas. Figura 2.2: Uso do trado manual para coleta de solo. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 13 (A) (B) Figura 2.3: Uso de tubo de PVC para coleta de material para datação por LOE. Tubo de PVC introduzido horizontalmente para coleta de material e (B) Tubo de PVC com uma das extremidades lacrada por fita adesiva, antes de ser retirado da área de coleta. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) Cada ponto amostrado foi devidamente localizado por meio de GPS, tendo sido posteriormente plotado em mapa (Figura 2.4). 14 Fi gu ra 2 .4 : M ap a de lo ca liz aç ão d os p on to s am os tra do s. F on te : S IG – C PR M (2 00 4) – F ol ha S D . 2 3 – Br as íli a, e m e sc al a 1: 1. 00 0. 00 0 15 2.3 - ANÁLISES LABORATORIAIS 2.3.1 - Análise Granulométrica da Fração Grossa As amostras de sedimentos superficiais coletados foram submetidas a tratamento para análise granulométrica por peneiramento no Laboratório de Sedimentologia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), UNESP. Os procedimentos de análise foram os seguintes: � Secagem em estufa à temperatura de 60°C; � Posterior separação em frações de 100 g, em balança de precisão; � Peneiramento utilizando jogo de peneiras organizadas segundo a Escala de Wentworth (1922 in SUGUIO, 1973), com vibração durante 15 minutos; � Pesagem do material armazenado em cada peneira, para registrar os valores de cada intervalo granulométrico. � Os resultados dessas análises foram utilizados para caracterizar (textura) e classificar os tipos de solo, segundo a nomenclatura utilizada no software Erosividade Brasil. 2.3.2 - Análise Granulométrica da Fração Fina A análise da fração fina das amostras coletadas foi também realizada no Laboratório de Sedimentologia do IGCE, UNESP, utilizando-se o método da pipetagem. Os procedimentos de análise foram os seguintes: � Secagem em estufa, à temperatura não ultrapassando a 60°C, da fração silte + argila, separada no processo de peneiramento; � Pesagem em balança de precisão; � Tratamento para defloculação das amostras, utilizando-se de 125 ml de solução defloculante (45,7g de pirofosfato de sódio em 1000 ml de água destilada); � Agitação das amostras durante 5 minutos, com uso de batedeira; descanso por 24 horas, seguido de nova agitação por 15 minutos; � Transferência dos materiais para provetas de 1000ml; agitação por processo 16 manual (Figura 2.5). � Coletas de 20 ml da suspensão, em profundidades de 20cm e 10cm, em tempos diferentes a partir de 58 segundos a 2 horas e 3 minutos, utilizando-se pipeta (Tabela 2.1 e Figura 2.6). Tabela 2.1: Coleta de material em suspensão. GRANULOMETRIA TEMPO PROFUNDIDADE 0,062-0,031 mm 58” 20 cm 0,031-0,016 mm 3’ 52” 20 cm 0,016-0,008 mm 7’ 44” 10 cm 0,008-0,004 mm 31’ 10 cm < 0,004 mm 2h 3’ 10 cm Cada amostra gerada por essas pipetagens foi secada a 60°C e pesada para identificação das quantias de silte e argila existentes em cada amostra. Figura 2.5: Material sendo preparado para pipetagem. 17 Figura 2.6: Pipetagem de amostras para secagem e posterior pesagem. 2.3.3 - Espectrometria de Difração de Raios X A difração de raios X está associada à dispersão desses raios pelas unidades de um sólido cristalino e à sua interação com os elétrons da matéria. O feixe de raios X incide sobre o mineral e dispersa-se em várias direções pelos elétrons dos átomos. O material proveniente da pipetagem foi utilizado para análise das argilas por meio da Difratometria de Raios X. Para esta análise, as amostras foram preparadas em lâminas delgadas e analisadas no Laboratório de Espectrometria de Difração de Raios X, do IGCE, UNESP. As amostras foram analisadas com anôdo de cobalto, velocidade de varredura 0,05 Ɵ/s de 3° a 70º. As amostras analisadas mostram picos que correspondem aos espaçamentos na rede cristalina dos minerais, em Å (Angstroms), permitindo a identificação do mineral 18 por meio das mudanças de comportamento do mineral sujeito a diferentes tratamentos físico (aquecimento a 500° C) e químico (glicerol). O tratamento químico com glicol baseia-se na capacidade de alguns argilominerais admitirem, em sua estrutura cristalina, ligações com álcoois, e estes, por sua vez, com água. Isso permite distinguir determinados minerais que possuem valores semelhantes, como é o caso da montmorilonita, que possui pico principal de 12 Å ou 14 Å, e da vermiculita, com pico de 14 Å. A montmorilonita passa para aproximadamente 17 Å, quando submetida a tratamento químico com glicois, enquanto a vermiculita mantém o pico de 14 Å (ALBERS et al., 2002), permitindo diferenciá-los. 2.3.4 - Datação por Luminescência Oticamente Estimulada : A datação por luminescência é um método geocronológico que mede a idade dos sedimentos a partir da liberação da energia dos fótons. Em ambientes naturais, a radiação ionizante é absorvida e armazenada na rede cristalina dos sedimentos. Esta dose de radiação armazenada pode ser liberada por estimulação e expelida como luminescência. A idade calculada é o tempo da última exposição à luz solar ou calor intenso. A datação por luminescência é baseada na quantificação da taxa de radiação acumulada durante o período de exposição solar do sedimento desde seu evento zero. Os principais minerais utilizados neste tipo de datação são feldspato, quartzo e potássio. Sedimentos fluviais, solos arqueológicos, colúvios, dunas eólicas fixas, sedimentos de terraços marinhos e de formações geológicas recentes são os principais materiais datados por este método. Segundo Duller (2004) in Sallum et al (2007) as datações absolutas por luminescência de minerais constituem os únicos métodos geocronológicos para determinação das ocorrências de eventos geológicos relacionando as idades de deposição de sedimentos. Estes métodos permitem o estudo de amostras sem registro orgânico. Alcançam idades muito mais antigas (cerca de 106 anos) que o método de radio-carbono. Podem ser estabelecidas cronologias absolutas de depósitos quaternários (continentais e marinhos), testemunhando os eventos geológicos. 19 Segundo Sallum et al (2007) a luminescência é uma propriedade física de materiais cristalinos ou vítreos que foram submetidos, previamente, a radiações ionizantes – raios cósmicos e isótopos radioativos – de emitir luz em resposta a estímulo óptico através da Luminescência Opticamente Estimulada (LOE), Termoluminescência (TL) ou Luminescência Estimulada por Raios Infravermelhos (LERI). Estes métodos são baseados na interação das radiações com a matéria e apoiam-se no fato de que as idades dos materiais, a serem datados, podem ser calculadas pelas medidas das concentrações de defeitos induzidos nos materiais por radiações ionizantes do ambiente de deposição. Estas radiações (partículas alfa – α e beta - β e radiação gama – ƴ) provenientes de raios cósmicos e da desintegração de isótopos radioativos naturais, atuam sobre materiais geológicos e arqueológicos formados por calcita, fluorita e quartzo, além de fragmentos de cerâmica. Os raios cósmicos primários REM originam-se fora do Sistema Solar. Após penetrar na atmosfera interagem com as moléculas do ar atmosférico, provocando ionizações em cadeias. Esta radiação provoca ionização por efeito fotoelétrico caracterizado pela transferência total da energia da radiação gama a um único elétron orbital, que é expulso do átomo absorvedor. Segundo Aitken (1985) quando o mineral é estimulado opticamente os elétrons aprisionados são liberados podendo recombinar com defeitos da rede cristalina, emitindo luminescência. Sendo assim, quando se mede a luz emitida é possível determinar quando um mineral se cristalizou ou quando um sedimento foi exposto à luz solar pela última vez durante período mínimo de alguns minutos (LOE) ou horas (TL e LERI). Está técnica permite obter idades desde poucas dezenas de anos até cerca de 1,5 Ma, dependendo das características da amostra. As análises dos sedimentos da área de estudo foram realizadas pelo Laboratório de Datação da empresa Datação, Comércio e Prestação de Serviços LTDA utilizando a técnica MAR (Regeneração total de Múltiplas Alíquotas), que serve para determinar a idade média a partir de apenas uma curva de calibração. Para tanto, foram utilizadas 20 alíquotas para se obter um único valor de P (paleodose). A técnica aplicada às amostras consiste das etapas abaixo descritas. 20 Os tubos de PVC com as amostras são abertos em ambiente de luz vermelha, na extremidade interna de inserção do tubo no afloramento. Posteriormente, as amostras passam por um tratamento químico com H2O2 (20%), HF (20%) e, finalmente, HCl (10%), sendo que as lavagens intermediárias são efetuadas com água destilada. Após tratamento químico, as amostras são secas e peneiradas, separando-se uma fração granulométrica na faixa de 100 µm a 160 µm (100-60 Tyler); obtém-se, assim, material natural (quartzo/feldspato) isento de materiais orgânicos e/ou metais pesados, e com granulometria homogênea. A partir da amostra de material natural é separada uma porção que é submetida à radiação solar, por um período de aproximadamente 20 dias, para decaimento residual (TL / OSL). Desta porção são separadas várias amostras que são irradiadas por fonte de 60Co (455Ci) em várias doses pré-definidas (Gy), que devem estar próximas à dose acumulada natural para montagem da curva de calibração. As idades das amostras são calculadas segundo a equação 2.1: I = P / DAƴ + DAβ + DAr.c (Equação 2.1) Onde I = idade (anos), P = paleodose (Gƴ) – energia total absorvida pelo cristal pela incidência de radiações ionizantes e DAƴ , DAβ , DAr.c = doses anuais (Gƴ / ano) relativas às radiações ƴ, partículas β e aos raios cósmicos. 2.4 - QUANTIFICAÇÃO DE PERDAS DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA SUPERFICIAL DO TIPO LAMINAR Segundo Bertoni e Lombardi Neto (2008), nos últimos 20 anos os pesquisadores americanos aprimoraram a precisão das equações de perdas de solo. Isso só foi possível mediante a utilização de dados experimentais obtidos a 21 partir de análises detalhadas de áreas experimentais. Os primeiros trabalhos para avaliação das perdas de solo de uma área são datados de 1940, na região do Corn Belt dos Estados Unidos, conhecido como Método do Plantio em Declives. Diversos autores, como Zingg (1950), Smith (1941) e Browning et al. (1947), publicaram suas pesquisas a respeito do assunto e acrescentaram fatores como comprimento de rampa e grau de declividade, práticas conservacionistas e culturais, e erodibilidade, respectivamente. Em 1946, em Ohio, uma comissão nacional (EUA), reuniu-se com a finalidade de adaptar a equação utilizada em Corn Belt a outras áreas cultivadas. Cada fator desta equação foi reestudado em separado, tendo sido acrescentado o fator chuva, o que culminou numa nova equação chamada Musgrave. Em 1954, no Runoff and Soil-Loss Data Center, do Agricultural Research Service, com sede na Universidade de Purdue (Estado de Indiana, EUA), foi desenvolvida uma equação de perdas de solo. Wischmeier e Smith (1978) revisaram e atualizaram esta equação, incorporando-lhe novos dados, pois os modelos anteriores eram aplicáveis apenas as zonas agrícolas. A partir daí, surgiram modelos aplicáveis em bacias hidrográficas. A Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS) pode ser usada em estudos para prever perdas de solo por erosão, selecionar práticas de conservação do solo e determinar os declives máximos de cultivo. Os trabalhos iniciais sobre as perdas de solo no Brasil foram realizados por Bertoni et al (1975), utilizando dados do estado de São Paulo. A concepção dessa equação visou auxiliar nos estudos de conservação do solo, no que tange ao planejamento de áreas rurais cultivadas, e para avaliar a eficácia das práticas conservacionistas. Foi também utilizada para avaliação de perdas em áreas de pastagem e florestas impactadas. Atualmente, a EUPS vem sendo empregada em diversos locais, tais como em áreas de construção urbana, recreação e aterros para construção de estradas (RENARD et al., 1991). A equação (Equação 2.2), atualmente utilizada no Brasil, foi adaptada por Bertoni e Lombardi Neto (2008): 22 A = R · K · L · S · C · P (Equação 2.2) Onde A é a perda de solo por unidade de área (tonelada por hectare – t/ha); R é o fator de erosividade da chuva, que expressa a erosão potencial, ou o poder erosivo da precipitação média anual na região; K é o fator de erodibilidade do solo que representa a capacidade de este sofrer erosão por uma determinada chuva; L é o fator topográfico que expressa o comprimento do declive; S é o fator topográfico que expressa a declividade do terreno; C é o fator que expressa o uso e manejo do solo; e P é o fator que expressa a prática conservacionista do solo. Tanto o fator R como o K são determinados, atualmente, empregando-se modelos matemáticos sofisticados, derivados da EUPS, a partir de dados fornecidos por levantamentos de campo. Neste trabalho foi utilizado o software Erosividade Brasil, criado por Silva et al. (2005). Por meio desse programa são gerados dados de erosividade (R) e erodibilidade (K), a partir de dados obtidos no campo e aplicados na fórmula EUPS. Os valores obtidos da análise granulométrica – areia, silte e argila – são utilizados no cálculo. A classificação textural dos materiais e a erodibilidade foram obtidos segundo o método de Boyoucos (1935) e/ou Mitchell & Bubenzer (1980), que será descrito no capítulo 5 .No entanto, segundo Silva et al. (2005), somente o valor de erodibilidade calculado pela equação de Mitchell e Bubenzer (1980) vale para a interpretação e emprego na EUPS. Os mesmos autores ainda ressaltam que a unidade disponibilizada no cálculo do software está na unidade métrica (t.a.ano/tm.ha.mm), fazendo-se necessária a multiplicação da constante 0,1317 para obtenção do valor no sistema internacional (t.ha.h/MJ.ha.mm). A determinação do fator R é dada pelo produto da energia cinética de uma chuva por sua intensidade máxima em 30 minutos, sendo utilizado em países de clima temperado, onde o índice de erosão (Ecl30 - Equação 2.3) é medido rotineiramente. Devido à dificuldade de se obter pluviogramas no Brasil, este cálculo foi adaptado por Lombardi e Moldenhauer (1992) para nosso país. Após 22 anos de registros de precipitação na cidade de Campinas (SP), os autores desenvolveram uma proposta adaptada à realidade brasileira, desprezando precipitações com 23 intensidades inferiores a 25 mm e não utilizando a intensidade média em 30 minutos, mas baseando-se apenas no índice pluviométrico mensal e anual (Equações 2.4 e 2.5). R = EcI30 = ∑ (Ec·I30) sendo Ec = 12,142 + 8,877 logI (Equação 2.3) EcI30 é o índice de erosão (Megajoule/hectare multiplicado por milímetros/hora); Ec a energia cinética da chuva (Megajoule/ha-mm); I a intensidade de chuva num intervalo considerado (ml); e I30 a máxima intensidade da chuva em 30 minutos (milímetros/hora). R = K·Ec = ∑ (Ec·P) utilizando P para I > 25 ml ( Equação 2.4) Ec·I = 6,886 (Pm2/P)0,86 (Equação 2.5) Ec·I é a média mensal do índice de erosão (mm); Pm a precipitação média mensal (mm) e P a precipitação média anual (mm). Carvalho (1994) utilizou a classificação apresentada na tabela 2.2 para o fator R. Tabela 2.2: Valores de R (Carvalho, 1994). Valores de R Erosividade R < 250 Fraca 250 < R < 500 Moderada 500 < R < 750 Moderada a Forte 750 < R < 1000 Forte R > 1000 Muito Forte O fator K (erodibilidade) representa a suscetibilidade do solo à erosão, estando relacionado às suas propriedades físicas e químicas. Para o cálculo desse fator, Wischmeier et al. (1971 in CARVALHO 1994) criou um nomograma (Figura 2.7) para regiões de clima temperado, baseado nas características do solo: 24 granulometria, porcentagem de matéria orgânica, estrutura e permeabilidade. Figura 2.7: Nomograma de Wischmeier et al. (1971) in Bertoni e Lombardi Neto (2008). . O software Erosividade Brasil, criado por Silva et al. (2005), baseia-se nos parâmetros granulométricos areia, silte e argila, assim como matéria orgânica, para identificação do fator erodibilidade no Brasil (Tabela 2.3). Esse software identifica a classe textural e gera resultados pelo método de Boyoucos (1935), com base na relação granulométrica prevista na equação (A). Mitchell e Bubenzer (1980) baseado na classificação textural (proporção de areia, silte e argila) e no teor de matéria orgânica contida no solo interpreta o resultado obtido. Erodibilidade = (% Areia + % Silte) / (% Argila) (A) Tabela 2.3: Valores de K (CARVALHO, 1994 in SILVA et al., 2005) Valores de K Erodibilidade K < 0,15 Fraca 0,15 < K < 0,30 Média K > 0,30 Elevada 25 Os fatores topográficos L (comprimento) e S (declividade) influenciam na velocidade do fluxo e nas perdas pela erosão. Esses fatores são determinados como um único fator determinado pela equação (Equação 2.6). L·S = √ L/100 (1,36 + 0,97 S + 0,1385 S2) (Equação 2.6) Concavidades ou convexidades do terreno não são levadas em conta para os cálculos do fator topográfico. L é medido em metros e S em porcentagem, gerando um valor adimensional. Bertoni (1959 in BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008), por meio das determinações de perdas de solos nos principais tipos de solo do estado de São Paulo, determinou a equação 2.7 que possibilita calcular as perdas médias de solo para os variados graus de declividade e comprimentos de rampa. T = 0,145 D1,18 (Equação 2.7) T corresponde às perdas de solo em quilogramas/unidade de largura/unidade de comprimento; e D é o grau de declividade do terreno, em porcentagem. T = 0,166 C1,63 (Equação 2.8) T corresponde às perdas de solo, em quilogramas/unidade de largura; e C é o comprimento de rampa do terreno, em metros. Para as condições-padrão, as equações (2.7) e (2.8) tornam-se: LS = 0,00984 C0,63 · D1,18 (Equação 2.9) LS é o fator topográfico; C é o comprimento de rampa em metros; e D é o grau de declividade em porcentagem. O fator C é a relação esperada entre as perdas de solo de um terreno cultivado em dadas condições e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente exposto e cultivado. Para áreas onde não ocorram culturas, o fator C 26 deve ser substituído por índices de vegetação nativa (Tabela 2.4). Para a região estudada, predomina vegetação de cerrado, apesar de localizar-se numa região do semi-árido baiano, onde em geral domina a caatinga. Isso ocorre por se tratar de uma área de transição desses dois ecossistemas (cerrado e caatinga). Tabela 2.4: Uso e Manejo do Solo (Agência Nacional de Água – ANA) CULTURA FATOR C Milho 0,25 Mandioca 0,20 Algodão 0,15 Feijão/Soja 0,10 Café 0,1126 Pastagem (60 % a 80% de cobertura) 0,025 Floresta 0,012 Savana (Cerrado) 0,042 Estepe (Caatinga) 0,130 O fator P é a relação entre a intensidade esperada de tais perdas com determinada prática conservacionista (BERTONI e LOMBARDI, 2008). A tabela 2.5 apresenta algumas práticas conservacionistas utilizadas para a proteção do solo contra a erosão. Tabela 2.5: Valores de P para algumas práticas conservacionistas (Bertoni e Lombardi Neto, 2008). PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS VALOR DE P Plantio morro abaixo 1,0 Plantio em contorno 0,5 Alternância de capinas + plantio em contorno 0,4 Cordões de vegetação permanente 0,2 Para este trabalho foram utilizados valores de P referentes à alternância de capinas + plantio em contorno e a cordões de vegetação permanente, com o intuito de comparar duas formas de conservação de áreas que ainda não sofreram com os impactos gerados pela ação antrópica. 27 3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 3.1 - GEOLOGIA REGIONAL A Serra de Monte Alto é resultado de processo tectônico evolutivo de uma estrutura maior, o Espinhaço Setentrional, localizado no Cráton do São Francisco (BA, MG). Esse cráton é truncado por um rifte abortado, de orientação N-S, no qual se depositaram os protólitos do Supergrupos Espinhaço (Meso-Proterozóico) e São Francisco (Neo-Proterozóico). A bacia na qual se acumularam as rochas siliciclásticas do Supergrupo Espinhaço originou-se por volta de 1,7 Ga (Dominguez, 1993). Durante o Meso- Proterozóico, um sistema de forças em regime extensivo conduziu a um adelgaçamento da litosfera continental que se traduziu, nas partes superiores desta, pela ruptura e fraturamento da crosta frágil. Desenvolveu-se então um processo de rifteamento que resultou na instalação de uma ampla bacia, de extensão submeridiana, onde se depositou o Supergrupo Espinhaço (Dussin & Dussin, 1995). Segundo Costa et al (1976), o Supergrupo Espinhaço é composto por rochas metassedimentares de baixo grau metamórfico, que constituem a serra homônima, a leste da área estudada. As rochas das serras de Monte Alto e Central apresentam grau de metamorfismo mais baixo. O embasamento das rochas das serras do Espinhaço, Monte Alto e Central, conforme esses autores é formado por duas principais unidades: o Complexo Santa Isabel e o Complexo Guanambi. O Complexo Santa Isabel (Barbosa & Costa, 1973) tem sua ocorrência ao longo de uma faixa norte-sul, bordejando a Serra do Espinhaço Ocidental. É constituído por gnaisses e migmatitos de fácies granulítica e anfibolítica, em que são comuns inclusões paleossomáticas de rochas anfibolíticas, básicas, ultra-básicas e veios ou bolsões neossomáticos, de composição granítica e sianítica (Figura 3.1). O Complexo Guanambi, segundo Barbosa & Costa (1973), é composto por diatexitos graníticos, granodioríticos, tonalíticos, dioríticos e sieníticos, que se situam a oeste do Complexo Santa Isabel. Moraes (1980) descreve o Supergrupo Espinhaço como uma entidade 28 geotectônica do Proterozóico Médio, de natureza supracrustal e ensiálica. As rochas presentes seriam de dois tipos principais: uma inferior, de natureza xistosa a filítica, e outra superior, de natureza quartzítica. Pode-se dizer que a geologia da região é pouco conhecida, pois a maior parte de sua superfície só foi reconhecida por mapeamento geológico na escala 1:250.000. Somente sua parte leste, onde foram efetuados projetos em escala de maior detalhe, é que pode ser considerada como melhor conhecida geologicamente. As unidades litoestratigráficas (Figura 3.1) presentes na área da Serra de Monte Alto e região circunvizinha e referenciadas no Mapa Geológico do Estado Bahia (CPRM/CBPM, 2003) são descritas a seguir: � Cobertura detrítica (NQdl): coberturas detrítico-lateríticas; areia com níveis de argila e cascalho e crosta laterítica � Formação Jequitaí (NP2jt): metadiamictito, metagrauvaca e metapelito � Indiviso (PMe): quartzito com intercalações de metapelito � Suíte Monzonítico-Sienítica de Guanambi (PP23y3mg): Batólito Guanambi - sienito, quartzossienito, monzonito, quartzomonzonito e subordinadamente monzodiorito, granito e monzogabro, alcalino-potássicos/ultrapotássicos � Complexo Santa Isabel (A34si): ortognaisse migmatítico, granodiorítico a trhondhjenítico, granulítico, com restos de rochas supracrustais e metaultramáficas 29 Fi gu ra 3 .1 : Po rç ão d o M ap a G eo ló gi co d o Es ta do d a Ba hi a (C PR M /C BP M , 20 03 ) em q ue a pa re ce a S er ra d e M on te A lto e r eg iã o ci rc un vi zi nh a. 30 3.2 - CARACTERÍSTICAS DA SERRA DE MONTE ALTO 3.2.1 - Geologia O entorno da Serra de Monte Alto é constituído por rochas muito diversificadas, incluindo granitos Paleoproterozoico, seguidos por eventos de sedimentação plataformal e estabilização crustal da Plataforma Sul-Americana, ao final do Neoproterozoico. Recobrindo todas as unidades ocorrem sedimentos do Terciário e Quaternário. As unidades litoestratigráficas contidas no Mapa Geológico do Estado Bahia ao Milionésimo (CPRM/CBPM, 2003) e que ocorrem na região da Serra do Monte Alto são: � Complexo Santa Isabel (A34si) � Suíte Monzonítico-Sienítica Guanambi (PP23y3mg) � Supergrupo Espinhaço Indiviso (PMe) � Formação Jequitaí (NP2jt) � Coberturas detríticas (NQdl) A Serra de Monte Alto é formada por quartzitos com intercalações de metapelito pertencentes ao Supergrupo Espinhaço Indiviso (Figura 3.2). 31 Figura 3.2: Blocos de quartzito. QUARTZITO 32 3.2.2 - Geomorfologia Segundo BRASIL (1982), a Serra de Monte Alto apresenta relevo cuestiforme (Figura 3.3) e inclinação topográfica maior que 10° para sudoeste, acompanhando o mergulho das camadas. Sua frente é formada por escarpa de falha, com escalonamento acompanhando diferenças litológicas, cortada por inúmeros sulcos alinhados na direção SW-NE, que ocasionaram diferenças altimétricas entre os diversos blocos que a compõem. O topo é plano e corresponde topograficamente ao planalto situado ao pé das cristas da Serra do Espinhaço, na parte contínua desta unidade. Figura 3.3: Aspecto geomorfológico da Serra de Monte Alto – relevo cuestiforme. (Autor: Andreia L. Sanches) Faz parte do grande Planalto do Espinhaço, compondo três serras descontínuas, em Minas e na Bahia, onde é representado pela serra Monte Alto. 33 Destaca-se na paisagem plana das unidades Vão do São Francisco e Pediplano Sertanejo (Figura 3.4), atuando como limite municipal entre Sebastião Laranjeira, Guanambi, Candiba, Pindaí e Palmas de Monte Alto. Tem alinhamento no sentido geral Noroeste-Sudeste, com topo plano e pequena inclinação para o Sudoeste (monoclinal), favorecendo o escoamento superficial neste sentido, que alimenta várias nascentes como as do rio Casa Velha e riachos Mandiroba e Aguapé. 34 Fi gu ra 3 .4 : R eg iã o S er ra G er al (F on te : C A R - C om pa nh ia d e D es en vo lv im en to e A çã o R eg io na l – C AR /(B A) Pr og ra m a de D es en vo lv im en to R eg io na l S us te nt áv el d a R eg iã o Se rra G er al - PD R S) . 35 3.2.3 - Pedologia Os solos mais frequentemente encontrados na área são cambissolos eutróficos, neossolos eutróficos (anteriormente designados litólitos), espodossolos eutróficos (anteriormente designados podzólicos) e latossolos vermelho-amarelos distróficos, eutróficos e álicos. Suas características podem ser assim resumidas (EMBRAPA, 1999): � Cambissolos - solos rasos e bem drenados e que ainda guardam em seus horizontes vestígios do material de origem; possuem sequência de horizontes A, B e C; � Neossolos - solos pouco desenvolvidos, rasos a muito rasos, possuindo apenas horizonte A diretamente sobre a rocha ou sobre materiais desta rocha; � Espodossolos - solo mineral, não-hidromórfico, com horizonte A ou E (horizonte de perda de argila, ferro ou matéria orgânica, de coloração clara), seguido de horizonte B, com nítida diferença entre os horizontes; � Latossolos - são formados por processo de latolização, que consiste basicamente na remoção da sílica e das bases do perfil (Ca2+, Mg2+, K+ etc.), após transformação dos minerais primários constituintes; A fitoecologia associada a esses solos ocorre na forma de Savana, Estepe, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual. 36 3.2.4 - Vegetação A vegetação é de caatinga até meia altitude, daí em diante, a Serra é coberta por vegetação típica de cerrado, com pequizeiros, cactáceas, palmáceas e outros vegetais frutíferos, consumidos pela fauna diversificada (répteis mamíferos e aves). A vegetação encontrada nas maiores altitudes da Serra de Monte Alto é do tipo Floresta Tropical Decídua, típica de regiões caracterizadas por duas estações climáticas bem demarcadas – a chuvosa e a seca. O cerrado ocorre em planícies quentes fora da zona equatorial onde a chuva é sazonal e a estação seca é mais prolongada e mais extensa do que em regiões de florestas tropicais úmidas. O intenso aquecimento ocorrido há 15000 anos AP gerou recuos de geleiras e proporcionou o aumento de água na forma líquida e de vapor na atmosfera, produzindo maiores quantidades de chuvas. Regiões da Bahia, onde hoje ocorre o domínio de vegetação de caatinga, no passado apresentavam maior umidade e temperaturas mais baixas, que permitiram a expansão de florestas do tipo Tropical Decíduo entre 10990 e 10540 anos AP. Para os mesmos autores, há aproximadamente 4000 anos AP houve expansão dos elementos da caatinga e do cerrado nessas áreas da Bahia (De Oliveira et al., in SUGUIO, 2001) Este tipo de vegetação ocorre, segundo Brown e Lomolino (2006), quase sempre em planícies quentes, fora da zona equatorial (entre 10º e 30º de latitude), onde a chuva é sazonal e a estação seca é mais prolongada e mais extensa do que em regiões de florestas tropicais úmidas. Superfícies topograficamente elevadas, de relevos serranos com dimensões variadas, e que são submetidas às influências de mesoclimas de altitude, são denominadas por Ab’Sáber (1970, 1974) enclaves úmidos e sub-úmidos. Encontram-se dispersos pelos sertões semi-áridos e são de grande importância, pois proporcionam melhores condições ambientais e climáticas e de recursos, pedológicos e hidrológicos. As atividades agrícolas tendem a se concentrar nos topos e em encostas úmidas, devido à disponibilidade de recursos hídricos provenientes destes enclaves e, dessa forma, provocando o desmatamento da vegetação original (Tabela 3.1). 37 Tabela 3.1: Principais características do município onde se encontra a área estudada. CIDADE TIPOLOGIA CLIMÁTICA (SEI – 1997) VEGETAÇÃO (1981 - 1983, BRASIL) LITOLOGIAS (CEI - IBMB - 1993- 1994) RELEVO (SEI,1980) INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS (IBGE, 2002 – DERBA, 2004) Palmas de Monte Alto Semi-árido Sub-úmido a Seco Contato Caatinga- Floresta Estacional Floresta Estacional Decidual Ardósia, Arenitos, Argilito, Calcários, Depósito Eluvionares e Coluvionares, Dolomitos, Folhelhos. Granitos, Quartzitos, Rochas Básicas- Ultrabásicas, Sienitos e Siltitos Depressão do São Francisco Pediplano Sertanejo Serras Centrais do Planalto Espinhaço Altitude 802m Latitude: 14º06’32’’ Longitude: 43º09’43’’ Área: 2789,42 km2 Fonte: http://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124&Itemid=105 3.2.5 – Clima O clima da região é semi-árido a sub-úmido a seco (Tabelas 3.1 e 3.2). No entanto, devido à altitude da serra, a área de estudo apresenta um mesoclima (unidade climática intermediária), o que, segundo Souza e Oliveira (2009), acaba 38 provocando aumento da nebulosidade e reduzindo, dessa forma, a insolação e a temperatura. Além disso, gera um aumento das chuvas. Tabela 3.2: Principais características climáticas da cidade de Palmas de Monte Alto. CIDADE PALMAS DE MONTE ALTO Clima Semi-árido/sub-úmido a seco Temperatura Média Anual 22º C Índice Pluviométrico 700 mm a 900 mm Altitude 802 m Fonte: http://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124&Itemid=105. Segundo BRASIL (1982), a área estudada encontra-se dentro da faixa Aw baseada na Classificação de Köppen (Figura 3.5), correspondente a clima quente, com estação seca bem acentuada durante o inverno; apresenta pelo menos um mês com precipitação inferior a 60 mm; a temperatura do mês mais frio é superior a 18° C e a amplitude térmica das médias mensais se mantém abaixo de 5° C. Figura 3.5: Tipos de climas, segundo a Classificação de Köppen. Área de Estudo 39 3.2.6 - Recursos Hídricos Segundo Soares Filho e Silva (2006), a Serra de Monte Alto abriga um grande número de nascentes, como pode ser verificada na tabela 3.3. A figura 3.6 mostra as duas principais drenagens da área estudada, O Rio Casa Velha ou Curralinho e o Rio Mandiroba. Ainda, de acordo com os autores citados anteriormente, a ocupação e desmatamento são fatores críticos para a perda desses recursos hídricos, pois encontram-se em área dominada pelo clima semi-árido, com chuvas torrenciais e concentradas, produzindo erosão e destruição do solo e expondo as rochas, e dessa forma diminuindo a recarga hídrica de nascentes ou até mesmo secando nascentes antes perenes. Além dos recursos superficiais, vale destacar também os recursos subterrâneos, de extrema importância para a região, e que abastece boa parte do município de Palmas de Monte Alto. Figura 3.6: Principais drenagens da área estudada. Rio Casa Velha ou Curralinho Rio Mandiroba 40 Tabela 3.3: Nascentes localizadas na porção NW da Serra de Monte Alto. Carta de Palmas de Monte Alto SD.23-Z-B-I Rio Riacho N.º de Nascentes Rio Espinhaço – afluente do Curralinho (Casa Velha) Rio Espinhaço 6 Rio Casa Velha (bacia oeste da Serra) Rio Sambaíba 9 Rio Casa Velha Pé de Serra 15 Sem nome 4 Riacho Taquara 6 Rio Mandiroba (bacia oeste da Serra) Riacho Bela Vista 2 Nascente Mandiroba 17 Total de Nascentes 59 Fonte: Carta Topográfica do IBGE - Escala 1:100.000 (1974). 3.2.7 - Aspectos Econômicos A Região da Serra Geral (Figura 3.7 - em destaque a região econômica da Serra Geral, onde localiza-se a Serra de Monte Alto) é a menos urbanizada da Bahia. A agricultura baseia-se na produção de algodão e na exploração de AL sequen, urânio e ametista. A cidade de Guanambi possui melhor desenvolvimento econômico da região, apesar de estar fisiograficamente situada no polígono da seca. A cidade de Palmas de Monte Alto tem sua economia baseada na agricultura de algodão, cana de açúcar e feijão. Apesar da baixa produtividade dessa atividade agrícola, se comparada aos grandes latifúndios existentes no país, representa a base da alimentação da população sertaneja. A cidade de Sebastião Laranjeiras, assim como Palmas de Monte Alto, tem sua economia voltada para a agricultura de subsistência, feijão, arroz, mandioca, cana-de-açúcar, sorgo e milho. A futura exploração de minério de ferro pela empresa Bahia Mineração, na cidade de Brumado (BA), promoverá, com a implantação da sede e da exploração 41 da mina, uma rede de abastecimento d’água para uso industrial no beneficiamento desse minério. Estas atividades deverão promover melhoria na economia da região, gerando empregos para parte da população de Brumado e de municípios circunvizinhos, que segundo a empresa mineradora, melhorará a qualidade de vida de algumas cidades da Região da Serra Geral, tais como Palmas de Monte Alto, Guanambi e Sebastião Laranjeiras. Figura 3.7: Mapa do Estado da Bahia com localização da subdivisão regional da Serra Geral. (Extraído do site http://www.car.ba.gov.br/uploads/publicacoes_31.pdf) 4 - OCUPAÇÃO HUMANA NA SERRA DE MONTE ALTO E DIVERSIDADE BIOLÓGICA 4.1– HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO HUMANA DA ÁREA O local onde hoje situa-se o município de Palmas de Monte Alto fez parte da sesmaria da Casa da Ponte onde, em 1742, iniciou-se a povoação denominada Praia das Palmas de Monte Alto. Porém, a história dessa região remonta a tempos pré-históricos. Essa informação advém da existência de pinturas rupestres na região de Palmas de Monte Alto e em diversos locais do restante da Serra de Monte 42 Alto. As pinturas rupestres (Figura 4.1) existentes na Serra de Monte Alto, segundo Silva (2007 ), “São representações mentais construídas e públicas. Admite-se que o conteúdo explícito nos painéis rupestres da Serra de Monte Alto traz em si espectros da vida social e cultural dos povos que os produziram, visões de experiências e conhecimentos acumulados, e que não somente expressa a vontade de transmissão desses conhecimentos, mas também para ser interpretado e assimilado. São representações das representações dos saberes e devem obedecer a uma estrutura qualquer que torne inteligíveis as informações referentes a objetos e/ou situações.” Figura 4.1: Imagem zoomórfica - Sítio do Riacho Comprido. (Autor: Joaquim Perfeito da Silva) Segundo Silva et al., (2007), uma antiga construção encontrada na parte alta da Serra de Monte Alto, erguida com grandes blocos de pedra (Figura 4.2), alguns pesando cerca de 500 kg, foi confeccionada nos moldes de quatro cômodos geminados sem comunicação interior. Em princípio, parece que cada cômodo possuía apenas uma porta frontal para acesso ao seu interior. Poucas informações se têm sobre esta construção, no entanto, Silva (op.cit.) formulou alguns argumentos para próximas pesquisas, tais como: � Edificações com rochas trabalhadas não foi uma prática comum dos grupos pré-históricos no Brasil; 43 � Esses tipos de construções poderiam ter influência de grupos andinos, pois o observatório astronômico da Serra de Monte Alto é típico deste tipo de civilização; portanto, a “Casa de Pedra” e os “Currais de Pedra” podem estar associados ao alinhamento de menires, monumento pré-histórico de pedra, cravado verticalmente no solo (ortóstato), às vezes de tamanho bem elevado (Figura 4.3). Figura 4.2: Cômodo da “Casa de Pedra”. (Autor: Joaquim Perfeito da Silva) 1,60 m 44 Figura 4.3: Um dos diversos menires (≈ 0,60 m de altura) encontrados nos pontos de maiores altitudes da serra.(Autor: Joaquim Perfeito da Silva) 4.2 – DADOS DA FLORA A vegetação é variada, formada por cerrado (Figura 4.4), campos rupestres (Figura 4.5), matas de galeria (Figura 4.6) e caatinga arbórea (Figura 4.7). Figura 4.4: Vegetação de Cerrado na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 45 Figura 4.5: Vegetação de Campos Rupestres na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) Figura 4.6: Vegetação de Galeria na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 46 Figura 4.7: Vegetação de Caatinga Arbórea na Serra de Monte Alto. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) Apesar da diversidade florística existente na área, a presença de alguns proprietários de terras trabalham com agricultura de subsistência (extração do pequi e do umbu, plantio de melancias, mandioca e feijão), gerando baixo dano ambiental, pois o uso de agrotóxicos não é uma prática comum nestas culturas. Contudo, durante um curto período de tempo, uma prática utilizada por alguns moradores da região foi a extração de madeira da árvore do pequi (Figura 4.8 ), para o fabrico de carvão, considerado de excelente qualidade pelos exploradores da planta. A continuação da atividade carvoeira poderia levar à extinção do pequi na Serra de Monte Alto, fonte de subsistência de grande parte dos moradores da serra. Além de eliminar a prática extrativista da fruta, provocaria a escassez de alimento para a fauna da região. Khouri (2004) afirma que substâncias extraídas da madeira do pequizeiro possuem propriedades medicinais no tratamento do câncer. 47 Figura 4.8: Árvore de Pequi. (Fonte: http://www.taquarussu.com/plantas.asp?InfoId=68&Title=Pequi%20(Caryocar%20brasiliensis) Afortunadamente, este tipo de procedimento foi proibido em 2007, graças à ação coibidora da Prefeitura de Palmas de Monte Alto, IBAMA e moradores conscientes da importância do fruto. Sabendo da importância deste fruto, que possui utilidade não só na culinária da região, mas também na indústria cosmética, ambas de cunho extrativista e consciente da necessidade de preservação do meio ambiente, o poder público municipal (Figura 4.9) eliminou essa prática na região e conforme prometido em seu Informativo n.º 1/2009 viabilizou a pesquisa da fauna, flora e mineração, além de implantar a produção de milhares de mudas para a recomposição das matas ciliares. A Prefeitura de Palmas de Monte Alto através deste informativo proporcionou à população da cidade e região, informações sobre a importância da preservação ambiental e da necessidade de tornar a Serra de Monte Alto numa Reserva Ambiental protegida por lei. Outra prática comum na região é a extração de ervas medicinais (barbatimão, aroeira, umbu e juazeiro) (Figura 4.10) para a venda nas feiras livres das cidades 48 próximas à serra, o que de certa forma contribui para a preservação da mata original, por ser uma prática extrativista que conta com o zelo dos extratores para que não desapareçam esses recursos da medicina popular. Figura 4.9: Informativo da Prefeitura de Palmas de Monte Alto onde a população da região pôde tomar ciência da importância da Serra de Monte Alto do ponto de vista científico e econômico (Informativo n.º 01/2009). 49 Figura 4.10: Pé de Umbu. 4.3 – ATIVIDADES TURÍSTICA E ECONÔMICA Outro fator que deve ser avaliado com muita cautela diz respeito à explotação e ao uso da água que escoa do topo da serra. Essas águas apresentam excelente aspecto (incolor e inodora) e constituem a principal fonte de abastecimento das comunidades ao pé da serra, em particular do município de Palmas de Monte Alto. No entanto, parte desta água tem sido desviada para utilização em propriedades produtoras de gado. Essa prática pode gerar um menor fluxo nas drenagens e desabastecimento de água nas comunidades situadas no sopé da serra. Outro problema está relacionado à prática de criação de gado “solto”, o que pode gerar contaminação dessas drenagens, pois o pernoite desses animais geralmente se dá em suas margens. 50 A área estudada é de grande valor para moradores da cidade de Palmas de Monte Alto e adjacências, pois serve ao lazer dessa população. Nos finais de semana e feriados, grande número de pessoas têm por hábito se deslocar a pé, a cavalo e em jipes, para a Serra de Monte Alto, a fim de usufruir das cachoeiras (Figura 4.11) e drenagens que existem por lá, além da prática de trekking, que vem se popularizando. (A) (B) Figura 4.11: (A) Cachoeira do Rio Mandiroba e (B) do Rio Casa Velha. (Autor: Maria Angélica de L. Tasso) 51 Cada vez mais, as áreas utilizadas neste tipo de atividade estão se ampliando, devido à afluência de maior número de pessoas e, dessa forma, gerando desmatamento e erosão das margens das drenagens. Além disso, tem aumentado a poluição gerada pelos dejetos abandonados, como sacolas plásticas, garrafas de vidro, papel e pets, bem como restos de alimentos propagando mau cheiro e contaminando o solo. Outro fator impactante está ligado diretamente à preparação dos alimentos in loco, que utiliza a queima da madeira da vegetação nativa, com possibilidade de queimadas acidentais causadas pelos grupos que frequentam a área nos fins de semana e feriados (Figura 4.12). Figura 4.12: Área da Serra de Monte Alto utilizada por visitantes. Observar a presença de restos de embalagens, alimentos e estacas utilizadas para montagem de barracas. Restos de Alimentos e Embalagens 52 Como a região é desprovida de outras fontes de lazer, a tendência é de aumento das áreas propensas a impactos na serra. Isso porque a região da Serra Geral passa por uma fase de crescimento gerado pela implantação de uma mineradora para extração de minério de ferro na cidade de Caetité, a cerca de 90 km da área estudada. Esse fato certamente causará incremento populacional e consequente aumento no fluxo de visitas à Serra de Monte Alto. Dessa forma, é necessário e urgente que sejam adotadas políticas de implantação de áreas planejadas para o lazer nas áreas atualmente utilizadas e a avaliação de novas áreas a serem utilizadas. Segundo Soares Filho e Souza (2007 in SILVA AL AL., 2007 - relatório interno produzido para as prefeituras do entorno da serra), os problemas ambientais da região ocorrem há muito tempo. Spix e Martius (1817-1820 in SILVA AL AL., 2007) registravam a ocorrência da ação do homem. O relatório sobre o Rio São Francisco, intitulado “O Médio São Francisco - Relatório Final do Levantamento Geo-econômico 1956-1957” (MCT, 2006), mais especificamente no que concerne a Palmas de Monte Alto e suas matas ciliares, comenta que: “Nas proximidades das Cidades de Caetité e Palma de Monte Alto a caatinga de baixios de porte mais alto é o tipo de vegetação dominante, mas com poucas áreas representativas, pois as matas foram conquistadas progressivamente pela agricultura e pecuária”. (p. 30) “As matas ciliares e das ilhas estão de todo desaparecidas por efeito do consumo doméstico e do fornecimento de lenha aos navios” (p. 30) Outro documento oficial, o Plano Diretor para o Vale do São Francisco 1998- 2000 (PLANVASF, 1989), também chama a atenção para os conflitos relativos aos usos dos recursos da região e para a necessidade do cumprimento das leis ambientais. O “Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Bacia do Rio São Francisco” (Ministério do Meio Ambiente, 2005) também detectou que: “A região apresenta uma predisposição natural ao fenômeno de desertificação, constituindo-se assim numa região de alta vulnerabilidade e forte instabilidade ambiental.” De lá para cá, o cenário, no que se refere à conservação, apresentou um aumento de áreas para pastagem e demanda por madeira. O impacto gerado pelo 53 homem no entorno da serra é de alto grau, porém, mais baixo no alto da serra. No entanto, a atividade de extração de lenha tem aumentado. Este processo pode resultar na perda de diversas espécies da flora e fauna, porém, como o alto da Serra ainda permanece pouco impactado, provavelmente deverá ser um dos últimos refúgios (Figura para a manutenção da vida na região (Soares Filho e Souza, 2007 in SILVA AL AL., 2007). Figura 4.13: Mapa de localização da vegetação da Serra Geral (Fonte: CAR - Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR/(BA) Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável da Região Serra Geral - PDRS) 54 4.4 – DADOS FAUNÍSTICOS A fauna apresenta dados incipientes e precisam de estudos detalhados; no entanto, informações preliminares foram obtidas por esses autores, através de depoimentos de vários moradores do entorno da Serra de Monte Alto, que revelaram a existência de grande diversidade de animais que ainda ocorrem na região (onças pardas, caititus, veados campeiros, quatis, dentre outros). Tratam-se, deste modo, de dados genéricos, cuja precisão requer análises mais detalhadas posteriores. Moradores das adjacências da serra registraram ocorrências de ataques as criações por felídeos como a onça pintada (Panthera onca) e a suçuarana (Puma concolor), gatos do mato e jaguatiricas (Leopardus spp), cujas pegadas foram observadas, além de outros carnívoros como a raposa (Cerdocyon thous ?). A caça desses animais representa troféus para os moradores da região. Segundo Coelho de Souza (2007, in SILVA et al., 2007), além dessas espécies, outras foram apontadas com variados índices de ocorrência, tais como: veado (Mazama gouazoupira ? - Cervidae), veado mateiro (pegadas foram registradas - Figura 4.14); tatu galinha (Euphractus sp), tatu verdadeiro, tatu bola (Tolypeutes sp) da família Dasypodidae; entre os porcos (Tayassuidae), Caititu (Tayassu tajacu); entre os coelhos (Leporidae), tapeti (Sylvilagus brasiliensise); cutia (Dasyproctidae); mocós (Kerodon rupestris (Wied.), cujas fezes foram encontradas in loco. Em todos os depoimentos, os animais foram identificados como recurso alimentar. 55 Figura 4.14: Pegada de cervídeo na área da Fonte das Negas na Serra de Monte Alto. (Autor: Lenira Coelho de Souza) Ainda segundo Coelho de Souza (2007 in SILVA et al., 2007), são encontrados também no local Erethizontidae, representados pelo ouriço ou luís caxeiro (Coendou prehensilis,); o “meia noite”, cuja descrição incerta pressupõe a ocorrência das espécies jupará (Potus flavus) ou quati (Nassua sp) (Figura 4.15) ou irara (Eira barbara); tamanduá-mirim ou mixila (Tamandua tetradactyla), Saruê ou Gambá (Didelphis sp ?); entre os macacos, encontram-se os Cebídeos como os guaribas Allouata sp e o macaco prego Cebus sp, e micos (Callitrichidae). Segundo esse autor, é também relatada a presença de grande variedade de pássaros como jacu (Penelope ochrogaster), zebelê (Crypturellus noctivagus), siriema (Cariama cristata), perdizes, papagaios, periquitos, pomba verdadeira, sabiá (Turdus sp?). Durante pesquisa de campo, Coelho de Souza (2007 in SILVA et al., 2007), observou a presença de répteis, como caninana (muito provavelmente Spilotes pullatus); cascavel (Crotalus); jararaca (Bothrops jararaca); jararacuçu (Bothrops ?); jibóia (Boa constrictor), coral (podendo ser dos gêneros Micrurus, Erythrolamprus, Oxyrhopus ou Anilius; e cobra cipó (Chironius bicarinatus?). 56 Figura 4.15: Pegada de Nassua sp (Quati), na área da Fonte das Negas na Serra de Monte Alto. (Autor: Lenira Coelho de Souza) Quanto aos lagartos, foram registrados o teiú (Tupinambis sp) e a Iguana (Iguana sp) (Figura 4.16), além do Cágado (Chelidae ?) (Figura 4.17). Por outro lado, segundo comentários de moradores da serra, alguns animais não são mais encontrados, tais como tamanduá-bandeira e antas (Tapirus terrestris). 57 Figura 4.16: Lagarto (Iguana sp) na Fazenda Três Irmãos.(Autor: Avaldo Soares Filho) Figura 4.17: Cágado (Chelidae?) na estrada de acesso à Fazenda Três Irmãos. (Autor: Avaldo Soares Filho) 58 5 - EROSÃO A erosão das partículas do solo é em geral causada pela água e pelo vento. De acordo com Toy e Hadley (1987 apud Cunha, 1997), a erosão dos solos é um processo natural no desenvolvimento da paisagem. No entanto, a erosão acelerada dos solos, isto é, aquela que ocorre em intensidade superior à erosão em condições normais, sem associação com processos tectônicos, é geralmente consequência de atividades humanas (VILELA FILHO, 2002). Segundo Cunha (1997 apud VITTE e MELLO, 2007), a erosão dos solos é considerada normal quando ocorre equilíbrio entre os processos de formação do solo e seu desgaste natural. Quando o processo erosivo é mais intenso, sendo mais veloz que a formação do solo, ocorre erosão acelerada, denominada erosão antrópica quando provocada pela ação humana. Tal situação ocorre quando determinadas condições de solo, litologia e relevo propiciam o desencadeamento da substituição da vegetação natural por outro tipo de cobertura vegetal, o qual não proporciona proteção eficiente contra a erosão, dificultando o estabelecimento de processos pedogenéticos que contribuiriam para a formação de uma nova camada de solo. Assim, a erosão natural ou geológica se desenvolve em condições de equilíbrio com a formação do solo, de forma lenta e contínua, constituindo um processo de denudação e evolução da superfície terrestre. Já a erosão acelerada é um processo rápido e destrutivo que gera desequilíbrio nas fases de erosão natural e sedimentação, não permitindo o desenvolvimento de vegetação devido à alta velocidade de remoção do material. Ocorre mundialmente, gerando graves impactos ambientais, seja ela oriunda de causas naturais ou de ações antrópicas. Muitos pesquisadores, tais como Silva e Kobiyama (2004), Miranda (2005) e Zuquette et al. (2007),têm buscado caracterizar, em detalhe, áreas que apresentam impactos ambientais decorrentes da ação antrópica, com vistas a deter a erosão acelerada de solos. Os fatores determinantes dos processos erosivos podem ser de ordem natural (clima, relevo, solo, vegetação, tectônica) e antrópica (desmatamento, cultivo de terras). 59 5.1. FATORES NATURAIS A erosão é função das características do solo, da quantidade de chuva, do tipo de vegetação, da forma da encosta, de ventos e demais agentes de erosão e transporte sedimentar (Tabela 5.1). Estes fatores combinados convergem para tipos específicos de erosão do solo. Além desses fatores, de primordial importância no registro geológico é a participação da tectônica como agente intensificador de processos erosivos. No entanto, como se trata de estudo sobre erosão atual em área inativa, este fator não será aqui considerado. 5.1.1. Clima A chuva exerce ação erosiva sobre o solo pelo impacto das gotas que caem com velocidade e energia variáveis, sendo que sua intensidade, sua duração e sua frequência são as propriedades mais importantes para o processo erosivo (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008). Rodrigues (1982) sugere a análise de três fatores que caracterizam o quadro climático em regiões tropicais e subtropicais: volume de precipitação, intensidade e duração da precipitação e frequência de precipitação. O volume de precipitação é geralmente determinado pelo estabelecimento dos índices pluviométricos para diferentes meses do ano. A intensidade e a duração da precipitação são complementares, já que a intensidade pode variar muito durante uma precipitação. Assim, para chuvas de mesma intensidade, quanto mais longa for à precipitação, maior será a ação erosiva. No caso da frequência de precipitação, o processo erosivo é agravado por chuvas intensas e espaçadas por pequenos intervalos de tempo. Segundo Ceprani et al. (2001), as principais características físicas da chuva envolvidas nos processos erosivos são: a quantidade ou pluviosidade total, a intensidade ou intensidade pluviométrica e a distribuição sazonal. Os valores de intensidade pluviométrica podem ser considerados representantes de valores da energia potencial disponível para transformar-se em energia cinética, responsável pela erosividade da chuva. 60 Tabela 5.1: Agentes de erosão e resultados da ação erosiva. CLASSIFICAÇÃO DO AGENTE EROSIVO CONDICIONANTES DO PROCESSO EROSIVO PROCESSOS E VETORES EFEITOS CHUVA Erosão por impacto das gotas ÁGUA ESCOAMENTO Superficial →em sulcos, ravinas, voçorocas e condutos fluviais. Sub superficial →em condutos subterrâneos. ATIVO OCEANO ONDAS, MARÉS, CORRENTES LITORÂNEAS Erosão Costeira TEMPERATURA VARIAÇÃO DA TEMPERATURA As mudanças de temperatura, tanto pela insolação quanto pelo congelamento, provocam dilatações e contrações que enfraquecem as rochas e solo. VENTO Erosão Eólica MICROORGANISMOS FUNGOS E BACTÉRIAS Ácidos metabólicos reagem com minerais das rochas. HOMEM AÇÃO ANTRÓPICA Atuação crescente com o aumento da população e a ocupação territorial. TOPOGRAFIA DECLIVIDADE DA RAMPA COMPRIMENTO DA RAMPA O aumento de ambos condiciona a rugosidade da superfície. PASSIVO GRAVIDADE MOVIMENTO DE MASSA AVALANCHES ESCORREGAMENTOS SOLIFLUXÃO RASTEJO A declividade do terreno favorece a atuação SOLO TIPOS VARIADOS Depende da textura e da estrutura gerada a partir do intemperismo das rochas, que podem interferir na permeabilidade. COBERTURA VEGETAL VEGETAÇÃO ORIGINAL REFLORESTAMENTO Protege o solo do impacto das gotas de chuva, aumentando a evapotranspiração e infiltração. FORMAÇÕES SUPERFICIAIS Materiais passíveis de erosão, aflorantes na superfície. Fonte: Gomes (2001). 61 Sendo assim, pode-se dizer que quanto maior a intensidade pluviométrica maior é a erosividade da chuva. Por esse motivo, foi criada uma escala de erosividade da chuva, que representa a influência do clima nos processos morfodinâmicos (Tabela 5.2). Tabela 5.2: Escala de erosividade da chuva e valores de vulnerabilidade à perda de solo. Intensidade Pluviométrica (mm/mês) Vulnerabilidade Intensidade Pluviométrica (mm/mês) Vulnerabilidade Intensidade Pluviométrica (mm/mês) Vulnerabilidade < 50 1,0 200 – 225 1,7 375 – 400 2,4 50 – 75 1,1 225 – 250 1,8 400 – 425 2,5 75 – 100 1,2 250 – 275 1,9 425 – 450 2,6 100 – 125 1,3 275 – 300 2,0 450 – 475 2,7 125 – 150 1,4 300 – 325 2,1 475 – 500 2,8 150 – 175 1,5 325 – 350 2,2 500 – 525 2,9 175 – 200 1,6 350 – 375 2,3 > 525 3,0 Fonte: Crepani et al., (2001). Ceprani et al. (2001) realizaram uma análise de valores da pluviosidade média anual, duração do período chuvoso e intervalos possíveis de intensidade pluviométrica para as regiões brasileiras (Tabela 5.3). Tabela 5.3: Características físicas das chuvas nas diversas regiões do Brasil. REGIÃO PLUVIOSIDADE MÉDIA ANUAL (mm) DURAÇÃO DO PERÍODO CHUVOSO (meses) INTENSIDADE PLUVIOMÉTRICA (mm/mês) Mínima Máxima NORTE 1400 a 3400 7 a 12 116,6 485,7 NORDESTE 300 a 2000 1 a 3 100,0 2000,0 SUDESTE 900 a 3600 6 a 12 75,0 600,0 SUL 1200 a 2000 9 a 12 100,0 222,2 CENTRO-OESTE 1000 a 3000 7 a 11 90,9 428,5 Fonte: Ceprani et al., (2001). 62 5.1.2. Relevo Fatores como declividade do terreno, formas de relevo, regularidade e extensão do declive influenciam na intensidade da erosão já que, quanto maior a extensão das encostas e o aumento da declividade, maior será o escoamento superficial da água, produzindo intenso processo erosivo, com o carreamento de partículas sólidas das áreas mais elevadas para as áreas mais baixas (PROTEGER, 1994). A influência do relevo está diretamente relacionada ao comprimento (Tabela 5.4) e à declividade das vertentes que interferem diretamente na velocidade das enxurradas (SALOMÃO, 2007). As mais íngremes facilitam a erosão dos solos, na medida em que aumentam o escoamento superficial. Roose (1977) mostra que as perdas por erosão crescem de modo exponencial em função do aumento da inclinação das vertentes. Tabela 5.4: Efeito do comprimento de rampa nas perdas de solo (tonelada/hectare). Comprimento da Rampa 1.º Segmento 25 m 2.º Segmento 25 m 3.º Segmento 25 m 4.º Segmento 25 m Média m Perdas em t/ha Perdas em t/ha Perdas em t/ha Perdas em t/ha Perdas em t/ha 25 13,9 - - - 13,9 50 13,9 25,9 - - 19,9 75 13,9 25,9 38,8 - 26,2 100 13,9 25,9 38,8 51,4 32,5 Fonte: Bertoni et al. (1972 apud BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008). Rodrigues (1982) utilizou a classificação das formas de encostas de Thoeh (1965), mostrada na figura 5.1, associando-as aos diversos tipos de erosão. Para o autor, o desenvolvimento de voçorocas ocorre principalmente em encostas convexas coletoras e, secundariamente, em encostas convexas dispersoras, enquanto as encostas côncavas são menos propensas à erosão. 63 Figura 5.1: Classificação de formas de encostas (Fonte: Thoeh, 1965). 5.1.3. Cobertura Vegetal Os diferentes tipos de vegetação têm influências diversas no comportamento dos solos frente à atuação dos processos erosivos (PROTEGER, 1994). O tipo de cobertura vegetal pode oferecer maior ou menor proteção ao solo, interferindo assim na intensidade do processo erosivo. Estudos apontam que as perdas variam de acordo com o tipo de uso do solo (Tabela 5.5). A cobertura vegetal é a defesa natural de um terreno contra a erosão. Segundo Morgan (1995), a vegetação atua como uma camada protetora entre o solo e a atmosfera, uma vez que componentes superficiais como folhas e troncos absorvem parte da energia do impacto das gotas de chuva e dissipam a energia do escoamento superficial e do vento, reduzindo suas velocidades. 64 Tabela 5.5: Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por erosão. Médias ponderadas para três tipos de solo do Estado de São Paulo. (BERTONI et al., 1972 apud BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008). Tipo de Uso Perdas de Solo (t/ha) Perdas de Água (%) Mata 0,004 0,7 Pastagem 0,4 0,7 Cafezal 0,09 1,1 Algodoal 26,6 7,2 Entre os principais efeitos da cobertura vegetal, Bertoni e Lombardi (2008) destacam: 1 - proteção direta contra o impacto das gotas de chuva; 2 - dispersão da água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; 3 - decomposição das raízes das plantas que, formando os canalículos no solo, aumentam a infiltração; 4 - melhoramento da estrutura do solo pela adição da matéria orgânica, aumentando assim sua capacidade de retenção de água; 5 - diminuição da velocidade de escoamento das enxurradas pelo atrito na superfície. A remoção da cobertura vegetal provoca uma série de mudanças, como relatado por (Rodrigues, 1982): � Interrupção brusca do efeito estabilizador da floresta, expondo o terreno a novas condições; � Alteração das funções exercidas pela vegetação, como interceptação, retenção, evapotranspiração etc.; � Desaparecimento do horizonte húmico, aumentando assim a infiltração; � Diminuição da resistência mecânica do solo pelo enfraquecimento do sistema radicular. 65 5.1.4. Solo As propriedades físicas e químicas do solo determinam sua maior ou menor resistência à ação das águas, quando exposto a condições semelhantes de topografia, de chuva e de cobertura vegetal (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008). A erosão é a forma mais prejudicial de degradação do solo. Além de reduzir sua capacidade produtiva para as culturas, a erosão pode causar sérios danos ambientais, como assoreamento e poluição das fontes de água. Para Salomão (2007), as principais propriedades físicas e químicas do solo que influenciam nos processos erosivos são: textura, estrutura, permeabilidade e densidade do solo. O tamanho das partículas – textura – influi na capacidade de infiltração da água de chuva, interferindo no potencial de escoamento superficial e na quantidade de solo arrastado pela erosão. Solos de textura arenosa são normalmente mais porosos, permitindo rápida infiltração; em geral, possuem baixa proporção de partículas argilosas, que atuam como agentes de coesão entre as partículas maiores, apresentando maior facilidade para a remoção das partículas. A estrutura do solo influi na capacidade de infiltração e absorção da água da chuva e na capacidade de arraste das partículas do solo. Segundo Bertoni e Lombardi Neto (2008), são dois os aspectos que afetam a estrutura do solo e que devem ser considerados no estudo da erosão: � as propriedades físico-químicas dos argilominerais; � o conteúdo biológico, caracterizado pela abundância de matéria orgânica em estado de ativa decomposição e incorporado ao solo, que permite maior agregação e coesão entre as partículas. A permeabilidade determina maior ou menor capacidade de infiltração das águas de chuva, estando diretamente relacionada à porosidade efetiva do solo. A densidade do solo – relação entre a massa total e o volume do solo – é inversamente proporcional à porosidade e à permeabilidade; o aumento da densidade de um solo, com o efeito de sua compactação, resulta na diminuição dos interstícios, tornando o solo menos suscetível à erosão.