UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA ESTUDO DA INFLUÊNCIA ALIMENTAR NA ETIOLOGIA DA UROLITÍASE EM CORDEIROS NAIANA DA SILVA BRANCHINI Botucatu – SP 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA ESTUDO DA INFLUÊNCIA ALIMENTAR NA ETIOLOGIA DA UROLITÍASE EM CORDEIROS NAIANA DA SILVA BRANCHINI Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Adj. Roberto Calderon Gonçalves Co-orientador: Dr. Danilo Otávio Laurenti Ferreira Naiana Da Silva Branchini ESTUDO DA INFLUÊNCIA ALIMENTAR NA ETIOLOGIA DA UROLITÍASE EM CORDEIROS COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Adj. Roberto Calderon Gonçalves Presidente e Orientador Departamento de Clinica Animal UNESP - FMVZ – Botucatu Prof. Ass. Dr. Simone Biagio Chiacchio Membro Departamento de Clinica Animal UNESP - FMVZ – Botucatu Prof. Dr. Ivan Roque de Barros Filho Membro Setor de Ciências Agrárias - Departamento de Medicina Veterinária Universidade Federal do Paraná Data da defesa: 25 de julho de 2014. DEDICATÓRIA Para Diná e Oziel, meus grandes mestres. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por todas as coisas, pois Ele está à frente de tudo e nas pessoas. Aos meus pais, Diná da Silva Branchini e Oziel Branchini, que como mestres me inspiraram a realizar o mestrado. Agradeço pela vida, pelas orientações, incentivo, apoio emocional e financeiro. Sem vocês nada disso seria possível. Ao meu orientador, Professor Roberto Calderon Gonçalves, pela oportunidade, confiança e orientações. Ao meu co-orientador, Dr. Danilo Otavio Laurenti Ferreira, pelas orientações e pela ajuda na elaboração e execução deste projeto. À Bianca Paola Santarosa, Mestranda do Departamento de Clínica Veterinária, pelo grande apoio na execução deste projeto, sempre pronta a ajudar e orientar. Ao Médico Veterinário Ivo Antunes Galvão Lucchesi, que muito me apoiou, auxiliando na execução desse projeto. Sendo além de namorado grande amigo e companheiro. Aos meus irmãos, Júlio da Silva Branchini e Tiago Ignácio Branchini, por sempre me apoiarem e servirem de inspiração. Aos meus irmãos de república, Raíssa Karolliny Salgueiro Cruz, Alexandre Matos Carneiro, Gustavo Viana, Samuel Catucci, Tália Tremori, Maurício Wilmsen e Luiz Fernando Novaes, pela amizade, pelo apoio, pelo companherismo, pelas conversas, pelos ensinamentos, por tantos momentos bons. Levo vocês comigo. À todos da minha grande familia (avós, tias, tios, primos, primas e cunhadas), pelo incentivo e bons exemplos de mestres e doutores. Ao André Salvatore graduando da FMVZ – Botucatu, pelo auxílio nas coletas e no processamento das amostras. Ao Funcionário José Jairo Zucari, por estar sempre a disposição no manejo dos animais deste experimento. Ao professor Dr. José Pantoja da FMVZ-Botucatu pela realização das análises estatísticas. Ao funcionário Márcio do Laboratório Clínico, pelo auxílio e orientações na realização das análises laboratoriais. A mestranda Daniela Dabus do Departamento de Clínica Veterinária, por me ajudar no processamento das amostras no Laboratório. À Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus Botucatu, pelo acolhimento e pela estrutura fornecida para realização do meu mestrado. À Fundação de amparo à pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo financiamento do projeto de pesquisa (Processo 2012/22620-8). LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Composição nutricional das duas dietas............... 24 Tabela 2 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) do volume urinário (mL) dos cordeiros dos grupos G1 e G2, obtido durante colheita no momentos.... 29 Tabela 3 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da densidade urinária (mL) dos cordeiros dos grupos G1 e G2…….…………………………….... 30 Tabela 4 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) do pH urinário dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)………………………………………….. 31 Tabela 5 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) do pH urinário dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M)……… 32 Tabela 6 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem de leucócitos na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)……………...……. 33 Tabela 7 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem bacteriana na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)…………………… 34 Tabela 8 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem de cristais na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)…………………. 35 Tabela 9 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem de cristais urinários dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs) nos momentos (M)……………………………………… 36 Tabela 10 - Comparação dos escores de cristais urinários e a chance de apresentar cálculos urinários................ 37 Tabela 11 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de creatinina urinária dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)…………………. 38 Tabela 12 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de magnésio urinário dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)…………………. 39 Tabela 13 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fóforo urinário dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)…………………………. 40 Tabela 14 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagm de cristais urinários dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M)……………………………………… 41 Tabela 15 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de cálcio urinário dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)…………………………. 42 Tabela 16 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de ureia sérica dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)………………………………. 43 Tabela 17 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de ureia sérica dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M)…………………………………..……… 44 Tabela 18 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de creatinina sérica dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)………………… 45 Tabela 19 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de magnésio sérico dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)………………… 46 Tabela 20 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fóforo sérico dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)………………………….. 47 Tabela 21 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fóforo sérico dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M)…………………………………..……… 48 Tabela 22 - Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de cálcio sérico dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M)………………………….. 49 Tabela 23 - Número dos animais que apresentaram urólitos, distribuídos por sua localização e suas alterações macroscópicas ...................................................... 50 LISTA DE FIGURAS Figura 1 A - Animal com cálculo urinário na base do processo uretral.................................................... 27 Figura 1 B - Sondagem uretral após amputação do processo uretral e retirada do cálculo ................................ 27 Figura 2 - Variação do volume urinário entre os grupos e nos momentos .................................................... 28 Figura 3 - Variação da densidade específica urinária entre os grupos e nos momentos ................................. 29 Figura 4 - Variação do pH urinário entre os grupos e nos momentos ........................................................... 30 Figura 5 - Variação do pH urinário entre os animais que apresentaram urolitíase e os que não apresentaram.......................................................... 30 Figura 6 - Variação da contagem de leucócitos entre os grupos e nos momentos ........................................ 31 Figura 7 - Variação da contagem bacteriana entre os grupos e nos momentos .................................................... 32 Figura 8 - Cristais urinários de fosfato triplo visualizados em microscópio no aumento de 400x .......................... 32 Figura 9 - Variação da contagem de cristais urinários entre os grupos e nos momentos ................................... 33 Figura 10 - Variação da contagem de cristais urinários entre animais com urolitíase (Gc) e sem urolitíase (Gc).. 33 Figura 11 - Variação da dosagem de creatinina urinária entre os grupos e nos momentos ................................... 35 Figura 12 - Variação do magnésio urinário entre os grupos e nos momentos ....................................................... 35 Figura 13 - Variação do fósforo urinário entre os grupos e nos momentos .............................................................. 36 Figura 14 - Variação do fósforo urinário entre animais com urolitíase (Gc) e animais sem urolitíase (Gs) ........ 36 Figura 15 - Variação do cálcio urinário entre os grupos e nos momentos .............................................................. 37 Figura 16 - Variação da ureia sérica entre os grupos e nos momentos .............................................................. 37 Figura 17 - Variação da ureia sérica entre animais com urolitíase (Gc) e animais sem urolitíase (Gs) ........ 38 Figura 18 - Variação da creatinina sérica entre os grupos e nos momentos .................................................... 38 Figura 19 - Variação do magnésio sérico entre os grupos e nos momentos .................................................... 39 Figura 20 - Variação do fósforo sérico entre os grupos e nos momentos .............................................................. 39 Figura 21 - Variação do fósforo sérico entre animais com urolitíase (Gc) e animais sem urolitíase (Gs) ........ 40 Figura 22 - Variação do cálcio sérico entre os grupos e nos momentos ........................................................... 41 Figura 23 - Rim de ovino do G2 com deposição de matéria orgânica de coloração marrom, em região de pelve renal …………………………………………… 42 Figura 24 A - Cálculos urinários em bexiga de animal do G2….. 42 Figura 24 B - Cálculos urinários em pelve e medula renal de animal do G2 ………………………………………. 42 Figura 25 - Rim ovino com presença de cálculos, dilatação de pelve e discreta hidronefrose …………………….. 43 Figura 26 A - Mucosa peniana com necrose em animal do G2… 43 Figura 26 B - Uretra peniana com hemorragia e necrose em animal do G2 ………………………………………... 43 Figura 27 A - Bexiga de ovino do G1 com áreas hemorrágicas e ponto de ruptura …………………………………..… 44 Figura 27 B - Mucosa vesical mostrando cistite hemorrágica em ovino do G1 ………………………………………….. 44 SUMÁRIO Página RESUMO.................................................................................................... 1 ABSTRACT................................................................................................. 2 1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 3 2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 5 2.1. Urinálise............................................................................................. 5 2.2. Causas............................................................................................... 5 2.3. Mecanismo de Formação do urólito................................................... 9 2.4. Sinais Clínicos.................................................................................... 10 2.5. Diagnóstico e exames complementares............................................. 11 2.5.1.Uriálise......................................................................................... 11 2.5.2 Minerais no sangue e na urina..................................................... 15 2.5.3. Ureia e creatinina séricas........................................................... 16 2.5.4. Ultrassom.................................................................................... 16 2.5.5. Necrópisia................................................................................... 17 2.6. Tratamento........................................................................................... 17 2.7. Prevenção............................................................................................ 19 3.OBJETIVO................................................................................................. 21 4.MATEIAL E METODOS............................................................................... 22 4.1.Animais e ambiente............................................................................... 22 4.2.Grupos experimentais............................................................................ 22 4.3.Sequência / Protocolo experimental...................................................... 23 4.4. Colheita e processamento das amostras.............................................. 23 4.4.1.Análise bromatológica e mineral da ração.................................... 23 4.4.2.Urinálise......................................................................................... 24 4.4.3. Bioquímica sérica........................................................................... 25 4.4.4.Dosagem de minerais urinário e sanguíneo................................... 25 4.4.5. Necropsia e análise dos cálculos................................................... 25 4.5.Tratamento dos animais com urolitíase................................................. 26 4.6.Análise estatística................................................................................. 26 5.RESULTADOS............................................................................................. 27 6. DISCUSSÃO................................................................................................. 54 7. CONCLUSÕES............................................................................................. 61 8. BIBLIOGRAFIA............................................................................................. 62 9. ARTIGO CIENTÍFICO ................................................................................. 73 BRANCHINI, N. S. Estudo da influência alimentar na etiologia da urolitíase em cordeiros. Botucatu 2014. 82p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. Resumo A ovinocultura é uma atividade em crescimento no plano pecuário brasileiro e é desenvolvida de maneiras diversas (extensiva, semi intensiva, intensiva). Nas criações, tem sido observada a incidência de urolitíase. Devido a este fato, o estudo de aspectos relacionados à gênese, prevenção, diagnóstico e tratamento torna-se necessário e atual. Incorporada ao aparecimento da urolitíase, a alimentação é um dos fatores predisponentes mais importantes na formação dos cálculos, principalmente em animais em confinamento recebendo dietas com maior volume de concentrados e pouca fibra. Este projeto tem como objetivo avaliar a influência da alimentação na constituição da urolitíase em ovinos. De modo específico, foram testadas dois tipos de dietas, as quais diferenciaram-se proporção cálcio/fósforo (Ca/P). O efeito da alimentação sobre os animais foi avaliado através de exames laboratoriais (ureia e creatinina séricas, urinálise, concentração de fósforo, magnésio e cálcio no sangue e na urina) e confirmação do diagnóstico por sinais clínicos. Foram utilizados 30 ovinos machos, com peso entre 18 e 20Kg e 4 meses de idade, divididos aleatoriamente em 2 grupos de acordo com a dieta: Grupo 1 (n = 15) – nível de fósforo de 0,43% e Grupo 2 (n = 15) – nível de fósforo de 0,65%. Os animais receberam as dietas por 90 dias consecutivos e água ad libitum. Momentos (M) de colheita de material: M0 - imediatamente antes do início da dieta e em intervalos de 15 dias nos momentos M1, M2, M3, M4, M5, M6. Foram colhidas amostras de urina e sangue para urinálise, dosagem sérica de ureia e creatinina e concentração de fósforo, Magnésio e Cálcio. Os animais com sinais clínicos urolitíase foram avaliados pelo exame físico, quando confirmado o diagnóstico, submetidos a tratamento clínico (hidropropulsão retrógrada uretral) e, quando necessária, uretrostomia. Palavras-chave: ovinocultura, nutrição, cálculo renal Abstract The sheep industry is a growing activity in the Brazilian livestock and plan is developed in different ways (extensive, semi-intensive, intensive). In creations, the incidence of urolithiasis has been observed. Due to this fact, the study of aspects related to the genesis, prevention, diagnosis and treatment becomes necessary and current. Incorporated to the onset of urolithiasis, power is one of the most important predisposing factors in stone formation, particularly in feedlot animals fed diets with higher volume of concentrates and little fiber. This project aims to evaluate the influence of power in the constitution of urolithiasis in sheep. Specifically, two types of diets, which differed ratio calcium/phosphorus (Ca/P) were tested. The effect of feeding on the animals was assessed by laboratory tests (serum urea and creatinine, urinalysis, concentration of phosphorus, magnesium and calcium in the blood and urine) and confirmation of diagnosis by clinical signs. 30 male sheep were used, weighing between 18 and 20kg and 4 months of age were randomly divided into 2 groups according to diet: Group 1 (n=15) - phosphorus level of 0.43% and Group 2 (n=15) - phosphorus level of 0.65%. The animals were fed the diets for 90 consecutive days and water ad libitum. Moment (M) of crop material M0 - immediately before the beginning of treatment and at 15 days intervals at M1, M2, M3, M4, M5, M6. Blood and urine samples for urinalysis, serum urea and creatinine and phosphorus concentration, Magnesium and Calcium were harvested. Animals with clinical signs urolithiasis were evaluated by physical examination, when confirmed the diagnosis, undergoing medical treatment (retrograde urethral hydropropulsion) and, when necessary, urethrostomy Keywords: sheep breeding, nutrition, renal calculi 3 1. INTRODUÇÃO A ovinocultura é uma prática em ascensão, e está presente em todos os continentes, existindo mais de mil raças criadas. Atualmente, o rebanho brasileiro de ovinos possui cerca de 17,6 milhões de cabeças sendo que no Estado de São Paulo, a população ovina atinge aproximadamente 700 mil cabeças (IBGE, 2011; ASPACO, 2009). Embora os números sejam crescentes, o Brasil ainda não é capaz de abastecer o mercado interno; para isso é necessário ampliar o rebanho nacional e fortalecer a cadeia produtiva. Por conta deste fato, é importante aperfeiçoar o manejo produtivo e, principalmente o manejo nutricional. A nutrição desempenha papel importante dentro das grandes criações de animais, sob o ponto de vista zootécnico. Através da alimentação é possível melhorar o rendimento de carcaça e diminuir a idade ao abate e, estando a dieta equilibrada, pode-se prevenir doenças metabólicas. Assim é fundamental analisar as diversas possibilidades alimentícias e seus efeitos sobre o desempenho da criação, pois a alimentação é a base de qualquer sistema de criação (VASCONCELOS, et al., 2002). O avanço da ovinocultura acarretou diversas mudanças no sistema de produção, como o reforço da suplementação destes animais com volumes excessivos de grãos na ração, objetivando máxima produção e rápido retorno financeiro. Deste modo, ocorre um desequilíbrio entre o ingresso e o metabolismo dos nutrientes no organismo, favorecendo o aparecimento de doenças metabólicas nos rebanhos ovinos (AQUINO et al., 2007). A dieta fornecida varia de acordo com o sistema de criação adotado. Em sistema de confinamento os animais recebem maior quantidade de grãos, estando mais propensos a desenvolver cálculos no trato urinário, por conta do elevado teor de fósforo ingerido (SUSIN, 1996). Na gênese dos cálculos, inicialmente ocorre deposição de material orgânico, formando um núcleo que serve como agregador para os minerais (JONES, 2000). A urolitíase está inserida entre as doenças relacionadas à alimentação que causam impacto econômico negativo sobre a ovinocultura, pois atinge desde animais destinados ao abate a reprodutores. Quando há 4 acometimento de reprodutores, ocorre perda de material genético de elevado valor zootécnico (RIBEIRO, 2007). Dados sobre a real situação da urolitíase no Brasil ainda são escassos. Ortolani (1996) relatou aumento da incidência de urolitiase de 8,6%, em um período de oito anos no hospital veterinário da FMVZ-USP (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo). Existe vários tipos de formulações alimentares administradas aos ovinos; por isto, é necessário explorar as possíveis consequências deste fato, a fim de se evitar danos à saúde do animal e perdas econômicas (SUSIN, 1996). Por este projeto, pretendeu-se avaliar a influência de dietas com dois níveis de fósforo e baixo teor de fibra, na gênese da urolitíase em ovinos. 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Urolitíase Urolitíase é uma doença determinada pela presença de concreções ou cálculos em qualquer parte do sistema urinário. Os cálculos são resultantes de distúrbios que ocorrem no metabolismo, gerados pela associação de alguns fatores, como: categoria animal, características da espécie, condição individual e erros no manejo (ROBBINS et al., 2005; RADOSTITS et al. 2002). 2.2. Causas Diversos fatores nutricionais e de manejo têm sido associados ao surgimento desta afecção; portanto, a etiologia é complexa e multifatorial (AQUINO et al., 2007). Condições geográficas e sazonais, fatores nutricionais, ambientais e hormonais e, doenças infecciosas do trato urogenital têm sido atribuídas à predisposição de urólitos (LINDLEY et al., 1953). Esta enfermidade é mais comum em machos, devido à conformação da uretra, que difere em tamanho e diâmetro, quando comparada à de fêmeas. A uretra dos machos é longa, tem menor calibre e apresenta ainda, flexura sigmoide, curvatura isquiática e processo uretral; estas estruturas anatômicas facilitam a deposição de micro cálculos até a obstrução completa do fluxo urinário (RIET-CORREA et al., 2008). A castração precoce, realizada antes do animal atingir a maturidade sexual, leva à hipoplasia uretral e peniana seguido de menor desenvolvimento da uretra, aumentando as chances de ocorrer a doença. (BELKNAP, 2005; JANKE et al., 2009) A nutrição está diretamente relacionada à ocorrência de urólitos, devido a erros nos cálculos das dietas fornecidas, como por exemplo, desequilíbrio na relação Ca:P, rações peletizadas, alimentação rica em concentrados e pobre em fibras (PACKETT & HAUSCHILD, 1964; RADOSTTIS et al., 2002; RIET- CORREA et al., 2008). A urolitíase é uma enfermidade que acomete frequentemente rebanhos ovinos criados intensivamente, recebendo dietas à base de grãos e alguns 6 tipos de pastagem (RADOSTITS et al. 2002). A base alimentar concentrada e desbalanceada, associada à estabulação e castração precoce são as principais causas relatadas (UNANIAM et al. 1985). Quando a alimentação do rebanho é baseada em concentrado, 40 a 60% dos animais podem ser acometidos por essa enfermidade e, o índice de morte é elevado, quando a urolitiase é obstrutiva, pois há chances de ocorrer ruptura da uretra ou da bexiga (RADOSTITIS et al.,2002). A formação do cálculo é atribuída à ingestão excessiva ou desiquilibrada de minerais, principalmente entre cálcio e fósforo, que pode resultar em maior excreção urinária do fósforo favorecendo a calculogênese (RADOSTITS et al., 2002). Dietas com a proporção de fosforo de 0,6% e cálcio de 0,31 % aumentam a incidência de cálculos renais nos ovinos em até 74%, porém esta incidência diminui para 58% quando a fração de cálcio aumenta para 0,58%, conferindo uma proteção parcial quando os níveis de cálcio são mais elevados (BUSHMAN et al.,1965). Pan et al. (2010) encontraram cálculos em rim e bexiga de ovinos da raça merina, alimentados com farelo de algodão que, em sua composição, possui fósforo elevado e baixa fração de cálcio. Em estudo anterior Wang (1997) também observou cálculos urinários em búfalos que receberam ração a base de farelo de algodão, relatando que nestas circunstâncias, a deficiência de cálcio (Ca) na dieta diminui a secreção do hormônio paratireóideo por conta da baixa concentração plasmática de cálcio, que por sua vez diminui a reabsorção tubular renal de fósforo. Os estudos destacam que a principal causa de urolitíase em ruminantes, recebendo concentrado é o aumento na ingestão de fósforo, gerado pelo desequilíbrio na relação Ca e P da dieta, predispondo à fosfatemia e maior eliminação de fosfatos pela urina. Rações que possuem a relação Ca:P dentro das proporções de 1:1 a 2:1, dificilmente causam urolitíase ( RIETT-CORREA 2001; SAMAL, et al. 2011). A quantidade e proporção de cálcio e fósforo da dieta tem grande influência na urolitíase, entretanto, como fatores calculogênicos, o magnésio e outros minerais não podem ser ignorados, bem como a genética do animal (FREEMAN et al.; 2010). Dietas contendo teor de magnésio acima de 0.6% muitas vezes acarretam a formação de urólitos (RADOSTITS et al., 2002). 7 Packett & Hauschild, (1964) avaliaram a relação de fósforo, cálcio e magnésio na formação de cálculos em ovinos, administrando diferentes quantidades destes macrominerais aos grupos de animais estudados. Ao examinar a urina, observaram maior concentração de fósforo, nos animais que possuíam cálculos. Esses distúrbios metabólicos gerados por dietas concentradas em fósforo e magnésio, com baixo nível de cálcio, beneficiam os mecanismos formadores do cálculo, devido a: retenção renal de magnésio, aumento da excreção urinaria de cálcio acompanhada de sua diminuição sérica e aumento da excreção urinária de fosforo por conta de seus níveis elevados no sangue (CROOKSHANK et al.,1967). Outra condição que pode predispor à gênese dos urólitos é o pastejo em solos ricos em sílica, ocasionando cálculos da mesma composição (GUTIERREZ et al., 2002). Cálculos de sílica, geralmente, aparecem em ovinos que se alimentam de plantas que crescem em solos arenosos ou que ingerem água que contem alto teor de sílica, ao passo que, animais que pastejam plantas que contenham oxalatos desenvolvem urólitos deste componente, devido à facilidade que o oxalato tem em ligar-se ao cálcio (BELKNAP, 2005). Na América do Norte, Austrália e Índia o cálculo de sílica em ruminantes é mais comum, pois as gramíneas que constituem a dieta destes animais possuem mais de 6% de sílica em sua estrutura. No rumem a sílica é transformada em ácido silícico que é absorvido; no rim é reabsorvido aumentando a concentração urinária de sílica em mais de 100 vezes no filtrado glomerular. Nestas concentrações urinárias, ocorre a formação de micelas de sílica, que se associam a substancias proteicas, dando origem aos cálculos (BAILEY, 1981). Existe também formação de urólitos resultante da descamação epitelial excessiva do trato urinário devido à hipovitaminose A ou ao teor elevado de estrógenos na circulação. Essa descamação favorece a formação do núcleo e a deposição de cristais ao seu redor (RADOSTTIS et al., 2002). Forragens com elevado estágio de maturidade, alimentos alterados por excesso de calor ou que passaram por períodos de seca intensa podem ter níveis deficientes de vitamina A, embora o estoque hepático desta vitamina possa ser suficiente 8 para suprir as necessidades dos ovinos por um período de 4-6 meses, quando a dieta é deficiente (SUSIN, 1996). Rações peletizadas podem contribuir no desenvolvimento do cálculo de fosfato, pois animais recebendo esse tipo de alimentação produzem menos saliva que é uma via importante na eliminação do fósforo pelo trato gastrointestinal. Nesta condição, ocorre aumento na excreção de fosfato pela urina. Nos ruminantes a concentração de fósforo na saliva é 16 vezes maior que no sangue. Frequentemente, 60% do fósforo que chega ao rumem é oriundo da saliva e 40% vem da dieta. A produção de saliva nos ruminantes auxilia na eliminação do fósforo, pois as glândulas salivares desempenham papel fundamental em sua homeostase. Dietas pobres em fibras diminuem a produção de saliva podendo elevar a excreção renal de fosfatos (RADOSTITS et al., 2002; BELKNAP, 2005). Dietas com maior conteúdo fibroso estimulam a secreção de saliva. Em consequência, os níveis de fósforo secretados nos pré- estomagos é elevado, o que aumenta a taxa de excreção fecal deste mineral (KANEKO et al., 2008), diminuindo a possibilidade de formação de cálculos urinários. A composição da água, sua disponibilidade e diminuição da sua eliminação renal, em consequência de altas temperaturas ambientais, aumenta a concentração de fósforo na urina, o que favorece a precipitação dos fosfatos (RIET-CORREA, 2001). Isso pode ser constante em propriedades de grande extensão, onde o acesso a água é restrito ou não haja água de boa qualidade (LORETTI et al., 2003). A dureza da água é influenciada pela presença de íons, principalmente vindos de cálcio e magnésio, na forma de carbonato. Estudos apontam a dureza da água consumida como sendo uma possível causa de urolitíase (SAHINDURAN et al., 2007). Sacco & Lopes (2011) avaliaram a composição da água em propriedades de rebanho bovino, relatando que os animais que ingeriram água com dureza total na concentração de 166,0 CaCO3/L, associado ao aumento do consumo de fósforo na dieta apresentaram maior predisposição a desenvolver cálculos. O pH urinário é um dado importante, pois os fosfatos se precipitam em meio alcalino e, deste modo, a urina dos ovinos torna-se um meio favorável 9 para precipitação deste soluto (RIET-CORREA, 2001). A urina dos ruminantes é alcalina, oscilando entre 6,5 e 8,5 (HENDRIX, 2005). Alguns fatores influenciam na variação do pH, como por exemplo, a alimentação: quanto mais rica em fibras, mais alcalino será o pH urinário e quanto mais rica em grãos, mais acida será a urina (ORTOLANI, 2003). Isso porque as forrageiras comumente contêm quantidade excessiva de potássio, que pode ocasionar a alcalinidade (BELKNAP, 2005). Infecções e processos inflamatórios no sistema urinário ocasionam acumulo de restos celulares, que alteram o pH da urina, formando compostos salinos insolúveis, gerando coloides como pus e sangue, que servem como núcleo ou matriz orgânica para a formação de cálculos (LORETTI, et al., 2003). A identificação de um animal com urolitíase sugere que todos os machos do rebanho estão em risco, por conta da importância dos fatores dietéticos e ambientais em sua patogenia (DIVERS & VAN METRE, 2002). 2.3. Mecanismo de formação do urólito A eliminação fisiológica mais eficiente para excreção do excesso de minerais na corrente sanguínea é por meio da filtração renal. Este processo possibilita ao animal expulsar pela via urinária os minerais e conservar o balanço cátion-aniônico normal (ARAUJO, 2009). Os cálculos surgem pelo acúmulo gradual de precipitados ao redor do núcleo, na forma de cristais ou depósitos amorfos. A gênese pode ser concluída com a associação de alguns fatores como, condições que afetam a concentração de um determinado soluto na urina, facilidade com que o soluto se precipita na solução, presença de um núcleo e, a tendência à concreção formada em se precipitar (RADOSTITS et al., 2002; ROSS, 2001). Frequentemente, os cálculos obstrutivos são encontrados no processo uretral e na flexura sigmoide distal; e podem ser achados também em grande quantidade no trígono vesical, bexiga, e pelve renal. (OLIVEIRA, et al., 2013). 10 2.4. Sinais Clínicos O animal pode apresentar-se assintomático, quando não há obstrução, porém, os sinais clínicos variam de acordo com o tipo de obstrução, que pode ser parcial ou total. Quando há obstrução parcial, ocorre gotejamento de urina, corada ou não com sangue (KAHN, 2005). Quando a urolitíase torna-se obstrutiva ocorre dor abdominal aguda, dificuldade para andar e marcha rígida, movimentos bruscos de cauda, vocalização e anorexia (RIET-CORREA, 2001). Manifesta-se também, escoiceamento do abdome, manoteio, decúbito intermitente, inquietação e exposição peniana (WOLF, 2006; NAVARRE, 2007). Comumente o animal faz esforço para urinar e adota postura de micção, com contração espasmódica do pênis. Esses esforços geralmente resultam na saída de pouca urina, que pode ter coloração avermelhada, e predispõem ao prolapso retal (THOMPSON, 2001). O animal pode apresentar ainda a região prepucial seca e com deposito de minerais. Na palpação retal, a uretra pélvica está dilatada e pulsátil. Quando há ruptura de bexiga, sucede aparente melhora com alívio da dor, porém a morte pode ocorrer entre dois e três dias (RIET-CORREA, 2001), provavelmente, por conta da peritonite e uremia instaladas (KAHN, 2005). Pelo exame clínico é possível observar distensão abdominal (SWIFT et al., 1988) e, a palpação retal pode revelar bexiga repleta ou não palpável, especialmente nos casos de ruptura vesical (KAHN, 2005). A sondagem uretral muitas vezes é impossibilitada devido a concreções no canal uretral (STREETER at al., 2002). Os animais acometidos são propensos a apresentar polaciúria, disúria, hematúria, piuria e hipertermia (GUIMARÃES, et al. 2012). Como sequela da obstrução do trato urinário podem ocorrer perfuração e ruptura uretral, constrição uretral, ruptura vesical, hidroureter, hidronefrose, prolapso retal, e, raramente, ruptura do rim (DIVERS & VAN METRE, 2002). 11 2.5. Diagnóstico e exames complementares As doenças renais são diagnosticadas, sobretudo, por meio das suas manifestações sistêmicas, observadas no exame clínico geral, em associação aos achados da urinálise e ultrassonografias (FEITOSA, 2004). Após o exame clínico é indicado a realização de exames auxiliares principalmente hemograma e exame para a determinação de uréia e creatinina séricas e, não menos importante, o exame de urina, que auxilia na detecção de nefropatias (GARCIA-NAVARRO, 2005). 2.5.1. Urinálise Pela urina são eliminadas substâncias químicas que estão em excesso e toxinas do organismo. Sua constituição varia de acordo com a hora do dia, estado físico, dieta e saúde do indivíduo (CAMPOS, et al., 2005). O exame da urina é um procedimento laboratorial simples que pode fornecer informações de vários sistemas, tornando-se essencial, especialmente na avaliação do sistema urinário. A coleta do material é na maioria das vezes fácil, e o processamento rápido e de baixo custo (ARAUJO, 2009). No exame de urina observam-se cristais, hematúria, células inflamatórias (RIET-CORREA, 2001), alcalinúria e proteinúria, quando há alteração no sistema urinário, nos casos de urolitíase (STREETER et al., 2002). Para a urinálise é necessário a realização de três etapas, que são: exame físico, exame químico e análise microscópica do sedimento (GARCIA- NAVARRO, 1996). No exame físico avalia-se volume, coloração, aspecto, odor e a densidade específica da urina. O volume urinário depende da volemia do animal, ou seja, de sua hidratação e do fluxo arterial renal. O volume é influenciado também por fatores externos como, ingestão de água e calor excessivo (FINCO, 1997; CARVALHO, 2008) A coloração normal da urina é amarelada devido a presença de urocromos e, a quantidade deste pigmento, determina se será mais clara ou mais escura. Na presença de doenças, a cor pode estar alterada. Quando ocorre concentração de pigmentos biliares a urina torna-se esverdeada. A coloração avermelhada 12 indica hematúria ou hemoglobinúria. Na mioglobinúria a urina pode estar com coloração marrom (MEYER et al., 1995; GARCIA-NAVARRO, 2005). O odor urinário natural é sui generis, entretanto, no aparecimento de infecções o odor pode se tornar pútrido, ou em processos de decomposição será amoniacal (RADOSTITS et al., 2002; CARLSON, 2006). Na urina normal dos ruminantes o aspecto deve ser límpido e translúcido, mas pode estar turva, quando há cristais, células de descamação e cilindros (TAFFAREL et al., 2012). A densidade urinária em pequenos ruminantes é considerada normal quando está entre 1.015 e 1.045. A densidade específica está relacionada com a capacidade dos rins em concentrar a urina (FINCO, 1997; CARLSON, 2006; CARVALHO, 2008). Na doença renal a densidade pode estar diminuída, porém deve se levar em consideração outras causas, como fluidoterapia e uso de diuréticos (GARCIA-NAVARRO, 2005). Os parâmetros avaliados no exame químico da urina são pH, proteína, glicose e corpos cetônicos (FINCON, 1997). O pH varia conforme a dieta que é fornecida ao animal, tendo os herbívoros pH alcalino e os carnívoros, pH ácido (CARLSON, 2006; CARVALHO, 2008). A urina pode estar ácida também na acidose metabólica, acidose respiratória, exercício físico prolongado e com o uso de sais, como o cloreto de amônio. A alcalinização urinária pode ocorrer nos processos de alcalose metabólica ou respiratória, cistite bacteriana ou ainda na administração de bicarbonato de sódio (MEYER et al., 1995; STOCKHAM & SCOTT, 2008). A proteína não deve estar presente na urina quando em estado normal, porém há proteínas de baixo peso molecular que ultrapassam a barreira de filtração glomerular. Essas proteínas geralmente são reabsorvidas nos túbulos proximais do rim, mas uma pequena quantidade que não é reabsorvida pode ser detectada na urinálise (STOCKHAM & SCOTT, 2008). A proteinúria é intensa e considerada patológica nos casos de glomerulonefrite, aumento da permeabilidade na barreira glomerular, má reabsorção no túbulos proximais e inflamação urinária, com presença de piúria e hematúria (FINCO, 1997; STOCKHAM & SCOTT, 2008). A glicose é uma substancia que não está presente na urina de um animal saudável. Ela é filtrada pelos glomérulos, mas é totalmente reabsorvida pelo 13 túbulo proximal renal. Em ovinos a glicosúria pode estar associada à enteroxemia do tipo D (rim pulposo) e à acidose lática rumenal e, nesta última, estará acompanhada de diminuição do volume urinário, aumento da densidade e acidificação da urina (CARLSON, 2006; GARCIA-NAVARRO, 2005). Falso- positivos podem ocorrer após a administração de cefalosporina e penicilina (HENDRIX, 2005). Os corpos cetônicos são produtos do metabolismo de ácidos graxos não esterificados, e podem ser eliminados por via urinária quando em excesso, pois o fígado tem capacidade limitada para metabolizar este tipo de ácido. O pH urinário ácido as vezes gera reações falso-positivas de cetonas (STOCKHAM & SCOTT, 2008). Quando aparece sangue oculto no exame da urina é indicativo de eritrócitos e hemoglobinúria. Pela centrifugação é possível fazer a diferenciação, se houver deposito vermelho no fundo do frasco e o liquido perder a coloração avermelhada é sinal de hematúria. Hematúria é sugestiva de lesão hemorrágica no trato genitourinário e pode ser vista também em casos graves de glomerulonefrite, vasculite e enfarte renal. Porém, quando há hemólise intravascular, o sobrenadante permanece castanho ou avermelhado após a centrifugação, comumente encontrada nos casos de babesiose, acidente ofídico, algumas intoxicações e queimaduras severas (MEYER, et al., 1995; GARCIA-NAVARRO, 2005). Bilirrubina e urobilinogênio são pigmentos produzidos a partir da degradação da hemoglobina. Normalmente não são encontrados na urina de ovinos e estão em pequena proporção na urina de cães, gatos e bovinos. Quando presentes na urina indicam alterações associadas ao sistema hepático (GARCIA-NAVARRO, 2005). No exame do sedimento, investiga-se a presença de células, cilindros, cristais e bactérias (CARLSON, 2006). Os sedimentos são compostos sólidos que se acumulam no fundo do frasco após a centrifugação. Podem ter composição diferente, de acordo com o método de colheita. A urina colhida por cistocentese possui baixo número de células e, quando colhida por micção espontânea ou natural, é comum encontrar células de descamação (renais, prostáticas e pélvicas), hemácias, leucócitos, cilindros, muco, bactérias, 14 cristais, espermatozoides e até ovos de parasitas (GARCIA-NAVARRO, 2005; STOCKHAM & SCOTT, 2008). Após lesões no aparelho genitourinário, incluindo pênis e prepúcio, é comum encontrar hemácias na urina. Uma prática frequente dos ruminantes jovens é a sodomia e esse hábito pode provocar microlesões nas regiões de glande e prepúcio contaminando a urina com a presença de hemácias. (GONSALVES NETO et al., 2009). A leucocitúria está relacionada à inflamação ou infeção do sistema urinário, como nas uretrites, cistites e nefrites. Quando a colheita é por micção natural, também podem ser detectados leucócitos na urina, devido a pequenas inflamações no prepúcio ou lesões na mucosa peniana. Na cistocentese, podem ser encontrados de 1 a 3 lecucócitos por campo e a contagem normal para a espécie e de até 5 células (GARCIA-NAVARRO, 2005; CARLSON, 2006). Quando a colheita de urina é realizada por micção natural, o encontro de bactérias em quantidade reduzida é considerado normal e representa contaminação do ambiente ou do canal urinário. Nas infecções aparecem em número elevado. Quando bactérias e leucócitos estiverem aumentados, a possibilidade de infecção é grande. Desta forma deve-se realizar cultura bacteriana, fazendo-se a coleta de urina por cistocentese (GARCIA-NAVARRO, 2005). No sedimento urinário também pode haver a presença de cilindros, que são estruturas formadas nos túbulos a partir de proteínas que passam pela barreira glomerular. O reconhecimento de alguns tipos de cilindros pode auxiliar na determinação da doença sendo que os hialinos, celulares, granulosos, estão elevados na glomerulonefrite. Na síndrome nefrótica podem aparecer os cilindros céreos, epiteliais e granulosos. Os cilindros hialinos podem ser encontrados em animais sadios, pois pode existir uma proteinúria fisiológica, de pequena intensidade (GARCIA-NAVARRO, 2005; STOCKHAM & SCOTT, 2008). A determinação de cristais na urina pode demonstrar sua constituição mineral e auxiliar na eficiência de tratamentos médicos para desfazer e prevenir a calculose (LULICH e OSBORNE, 2008). A presença de cristais não significa que há formação de urólitos no trato urinário, porém a detecção de 15 alguns tipos de cristais anormais ou grandes agregados pode ser de grande valia no seu diagnóstico, prognóstico e terapêutica (LULICH et al., 2004). De acordo com Freeman et al. (2010) a análise da urina auxilia na identificação dos animais que provavelmente desenvolverão urolitíase, por conta dos cristais encontrados nas amostras. Concluíram que, a pontuação de 0 a 1 de cristais na urina é ideal para o bem-estar do indivíduo, dentro de uma escala de 0 a 5. A presença de cristais em ruminantes, na maioria das vezes, está associada à urina alcalina. Os mais encontrados são os de estruvita, carbonatos e silicatos (CARLSON, 2006). Em quantidade reduzida é normal encontrar células epiteliais no sedimento urinário, pois estão em constante renovação. As células epiteliais podem ser transicionais, descamativas e raramente de origem tubular (GARCIA- NAVARRO, 2005; STOCKHAM & SCOTT, 2008). A urinálise é indicada mesmo nos casos onde a obstrução por cálculos já foi detectada, a fim de investigar possível distúrbio concorrente ou predisponente (FEITOSA, 2004) 2.5.2. Minerais no sangue e na urina A concentração plasmática normal de cálcio é de 2 a 3mmol/L e a de fosfato está entre 1 e 2,5mmol/L e suas concentrações são reguladas pelo hormônio paratiroideano e a vitamina D. O hormônio age nos ossos para a liberação de sais, o que resultará no aumento tanto de fósforo quanto de cálcio, resultando no aumento da excreção de fosfato pelos túbulos renais, o que tende a reduzir a concentração plasmática de fósforo (KERR, 2003) Embora, o aumento de fósforo sérico não seja patognomônico da urolitíase, a ingestão em excesso deste mineral leva a hiperfosfatemia e consequentemente aumento de sua excreção pela via urinária (SACCO & LOPES, 2011). Packett & Hauschild (1964) ao analisarem a urina de cordeiros tratados com dieta calculogênica (45% concentrado), observaram que os animais que desenvolveram cálculos tinham concentrações de fósforo sérico acima de 20 mg/100 ml. A presença da urolitíase em caprinos pode acarretar hipofosfatemia associada à azotemia; hipocloremia e hipercalemia são menos frequentes. (GEORGE et al. 2007). 16 Em bovinos com ruptura de uretra e bexiga causadas por urolitíase, foi observado hiponatremia e hipocloremia. A hiperfosfatemia correu nos casos de uroperitôneo (DONECKER & BELLAMY, 1982). 2.5.3. Ureia e creatinina séricas A avaliação dos níveis sanguíneos de creatinina e ureia servem para acompanhar a evolução do quadro. A creatinina tem como origem a fosfocreatina muscular, que tem como catabólito a creatinina, indicativo da função renal, pois somente é filtrada e não reabsorvida pelos rins (OLIVEIRA et al., 2005). Os valores sanguíneos de ureia também são utilizados na avaliação renal, pois a ureia plasmática é excretada pelos rins. Nos ruminantes, parte da ureia volta aos pré-estômagos, sendo que o volume deste retorno depende do suprimento da proteína bruta e do teor de ureia no sangue (KOLB, 1987). O aumento das concentrações séricas de ureia e creatinina podem sugerir processo obstrutivo renal (RADOSTITS, et al., 2002). O quadro de azotemia pós-renal ocorre por conta da estase urinária e reabsorção desses compostos. Os níveis de creatinina plasmática demostram a taxa de filtração renal; quando estão elevados sugere deficiência da função renal (KOZLOSKI et. Al., 2005; KIRZTAJN, 2007). A ureia pode estar relacionada à dieta, pois sua concentração sérica e excreção aumentam quando há maior ingestão proteica. Nas dietas onde o nível de proteína bruta é baixo, a maior parte da ureia é reabsorvida e pouca quantidade é eliminada na urina (RENNÓ et al., 2000; BRAUN et. Al., 2010). 2.5.4. Ultrassom O emprego do ultrassom é de suma importância para visualização de todo o trato urinário na procura dos cálculos. Os rins são explorados através da fossa paralombar e, por via retal, a bexiga e a uretra (RADOSTITS, et al., 2002). O diagnóstico ultrassonográfico é obtido de maneira segura, com pouco ou nenhum risco para o animal. Os resultados complementam outros exames e muitas vezes fornecem dados mais precoces que as alterações laboratoriais, 17 mas não deve ser usado no lugar do exame físico e da urinálise na detecção de alterações do sistema urinário (CARTEE et al., 1980; WIDMER et al., 2004). Com o ultrassom é possível avaliar complicações secundárias à obstrução do fluxo urinário, como pielonefrite, hidronefrose, dilatação da pelve renal, uroperitôneo e cistite (RADOSTITS et al., 2002). O seu emprego na detecção de cálculos urinários é muito eficiente devido a capacidade de visualização de cálculos radioluscentes, enquanto a radiografia revela apenas os radiopacos (SCOTT, 2013). A avaliação ultrassonográfica ou radiográfica do trato urinário, permite a confirmação do diagnóstico. Quando a obstrução está instalada há mais de 48 horas é sensato realizar ultrassom renal antes de se considerar o tratamento cirúrgico (DIVERS & VAN METRE, 2002). Na ultrassonografia é possível encontrar bexiga distendida, dilatação uretral por oclusão do canal, cálculos em rim, vesícula urinária, ureter e uretra (ANDERSON, 2002). 2.5.5. Necropsia À necropsia, os achados mais comuns no aparelho urinário, quando se refere à urolitiase obstrutiva são: pielonefrite, nefrite difusa, pielonefrite supurativa e urólitos. Na bexiga geralmente há cistite hemorrágica difusa, urólitos e também pode haver cistite purulenta, focos necróticos e ruptura vesical. Na uretra é mais frequente a presença de urólitos, uretrite hemorrágica difusa, purulenta ou necrosante e ruptura uretral (GUIMARÃES et al., 2012). Em bovinos castrados foi observado cálculos obstrutivos na uretra, na porção distal da flexura sigmoide, ruptura de bexiga com extravasamento para a cavidade abdominal e, consequente peritonite fibrinosa difusa (LORETTI et al., 2003). Já em garrotes não castrados foram encontrados cálculos em rim direito e flexura sigmoide peniana (ASSIS et al., 2009). 2.6. Tratamento O animal com urolitíase obstrutiva deve ser tratado como uma emergência (NAVARRE, 2007). O tratamento inicial visa o restabelecimento do fluxo urinário e correção de eletrólitos por fluidoterapia (THOMPSON, 2001). A 18 administração de relaxantes musculares e analgésicos, além de antibióticos para evitar infecções bacterianas secundárias, faz parte do tratamento conservativo (RIET-CORREA, 2001). A administração de antiespasmódicos e tranquilizantes é indicada para o relaxamento do músculo retrator do pênis e flexura sigmoide, o que, ocasionalmente, facilita a eliminação de cálculos (KAHN, 2005). O processo uretral (apêndice vermiforme) é curto e estreito, e devido a sua anatomia, é um local comum de ocorrer obstrução; sua amputação auxilia a saída dos cálculos e a sondagem uretral, porém, se houver cálculos em estruturas anteriores é necessário associar outras técnicas de recuperação (BELKNAP, 2005). A sondagem uretral pode ser usada na tentativa de desobstruir o canal, levando o cálculo de volta para bexiga, por hidropropulsão retrógrada, mas nem sempre se obtém sucesso com esta manobra (STREETER, et al., 2002). Para alívio temporário, a cistocentese é a prática usual (VAN METRE & FUBINI, 2006). O procedimento de sondagem uretral associado à hidropropulsão retrograda é realizado somente com amputação do processo uretral e exige que o animal seja contido em posição sentada. Após a exposição do pênis a sonda é introduzida no canal uretral, e a lavagem é feita com solução composta de solução fisiológica e lidocaína (NAVARRE, 2007). Há ainda, como tratamento não invasivo, o uso de solução acidificante na tentativa de dissolver o cálculo, cuja composição é de 1,26% de acetato de sódio, 1,09% de ácido acético e 97,75% de água destilada. Porém sua eficácia ainda não é comprovada, necessitando de mais estudos (JANKE et al. 2009). Quando o tratamento conservativo não é efetivo, a intervenção cirúrgica é necessária e inclui uretrostomia perineal, amputação do pênis e cistotomia (KAHN, 2005). A intervenção cirúrgica depende do estágio da doença, da natureza e localização dos cálculos, da função do animal e do custo do procedimento. Quando ocorre obstrução urinária e o tratamento cirúrgico é a única opção, o prognóstico pode ser de reservado a ruim (DÓRIA et al. 2007). É importante ressaltar que quando há indicação cirúrgica, na intenção de manter a vida, esse animal pode ser inutilizado para reprodução. Para a escolha da técnica é essencial avaliar as taxas de sucesso, complicações de 19 cada técnica e custo associado a cada procedimento (VAN METRE et al. 1996; PEARCE et al. 2003; DÓRIA et al., 2007) Para Streeter et al., (2002) a sonda de cistotomia supra-púbica (sonda de Foley) pode ser um tratamento viável e menos dispendioso. Dentre as vantagens, a colocação de sonda de cistotomia é processo de simples realização e exige tempo curto de anestesia. Doria et al. (2007) sugerem a técnica de uretrostomia perineal, por meio da penectomia e transposição peniana, como boa alternativa para a correção, embora um dos animais do experimento veio a óbito, após alguns dias de cirurgia, devido a recidiva da obstrução uretral por urólitos, próximo à região da penectomia. Neste mesmo trabalho os autores obtiveram 100% de sucesso com as técnicas cirúrgicas de cistotomia, seguida de cistostomia. Devido às dificuldades associadas aos tratamentos e as complicações da urolitíase, que pode resultar na inutilização do macho para a reprodução e na perda de valores genéticos e econômicos, a prevenção é fundamental (FERREIRA, 2011). 2.7. Prevenção O ideal é a prevenção da doença, iniciando-se pela dieta, que deve conter um equilíbrio adequado de minerais, principalmente cálcio e fósforo, sendo a proporção de 1,5:1 ou 2:1 a mais recomendada (RADOSTITS, et al., 2002). Aumentar o teor de fibras da dieta promove um tempo maior de ruminação. O atrito das papilas com as fibras estimula o sistema nervoso a aumentar a produção de saliva e secreção de fósforo. Este processo diminui a excreção de fósforo na urina e também seus valores séricos (ORTOLANI, 2008). A glândula salivar tem papel importante na manutenção da homeostase do fósforo em ovinos. O controle da secreção salivar de fósforo é influenciado por variações hormonais (CLARCK et al., 1972). A reposição hídrica de maneira satisfatória é outro fator importante na profilaxia da urolitíase, sendo de suma importância deixar bebedouros sempre repletos de água e com fácil acesso (LARSON, 1996). A suplementação com cloreto de amônio reduz a incidência de urólitos de estruvita. O cloreto de amônio age aumentando a solubilidade dos cristais de 20 fosfato de amônio e magnésio por conta da redução no pH da urina (DIVERS & VAN METRE, 2002). Ferreira (2009) avaliou uso do cloreto de amônio e da vitamina C na acidificação da urina de ovinos e concluiu que o cloreto de amônio por via oral a 10g/ animal/dia é efetivo na prevenção da urolitíase, pois mantém o pH urinário baixo, o que dificulta a precipitação de solutos. Já a vitamina C administrada por via oral, na dose de 4mg/animal/dia, acidificou a urina mas não a manteve ácida durante o período experimental. Unaniam et al., (1985) relataram que a dose de 0,5g/100g de ração de cloreto amônio não surtiu efeito como tratamento profilático desta enfermidade, embora quando utilizado de 1% a 2% na ração ocorre diminuição do pH urinário (RADOSTITS et al., 2002). Se viável, a análise da ração, bem como dos urólitos, deve ser realizada para identificar a etiologia do processo (DIVERS & VAN METRE, 2002). A retirada das causas subjacentes e dos componentes dietéticos ofensores são preconizados em todos os casos na intenção de se evitar recidivas (REBHUN, 2000). 21 3. OBJETIVO Estudo da influência alimentar na formação de cálculos urinários, suas alterações bioquímicas, urinárias e anatômicas. 22 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1. Animais e Ambiente Foram utilizados 30 cordeiros mestiços, com aptidão para produção de carne, com peso entre 18 e 20 kg e 4 meses de idade, oriundos de uma criação comercial. Os animais foram marcados e distribuídos aleatoriamente para a composição dos grupos e foram mantidos confinados durante 90 dias (15 dias de adaptação e 75 dias de coleta de dados) em quatro baias que podiam conter 7 ou 8 animais, de acordo com as recomendações de Kaneto et al. (2011). Todos os animais foram vermifugados com moxidectina injetável a 1% na dosagem de 1 ml/50 kg de peso corporal. 4.2. Grupos Experimentais Todos os animais estavam no mesmo ambiente em condições iguais de temperatura, umidade do ar e luminosidade. Foram constituídos dois grupos experimentais, com 15 animais em cada. O G1 recebeu ração com nível de fósforo de 0,43 % e o G2 recebeu ração com 0,65% de fósforo, dentro das recomendações do NRC (2007). Para análise estatística comparativa foram considerados dois subgrupos que englobaram os animais com cálculo urinário (Gc; n=11) e os que não apresentaram calculose (Gs; n=19). 23 4.3. Sequência / Protocolo experimental Foram colhidas amostras de sangue e urina em sete momentos, com intervalo de quinze dias, definidos como: M0 – imediatamente antes do fornecimento das dietas; M1 – 15 dias após o início do fornecimento das dietas; M2 – 30 dias após o início do fornecimento das dietas; M3 – 45 dias após o início do fornecimento das dietas; M4 – 60 dias após o início do fornecimento das dietas; M5 – 75 dias após o início do fornecimento das dietas; M6 – 90 dias após o início do fornecimento das dietas. Em todos os momentos foram colhidas amostras de urina e sangue total, para urinálise, dosagem de fósforo, magnésio e cálcio urinário e sanguíneo, ureia e creatinina séricas respectivamente. A avaliação ultrassonográfica de toda extensão da uretra peniana, da bexiga e rins foi realizada apenas nos animais que apresentaram sinais sugestivos de urolitíase obstrutiva. 4.4. Colheita e processamento das amostras 4.4.1. Análise Bromatológica e mineral da ração A análise bromatológica (Tabela 1) foi realizada pelo Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal (DMNA) – FMVZ – UNESP – Campus Botucatu, determinando-se a Matéria Seca (MS), Proteína Bruta (PB), Extrato Etéreo (EE), Matéria Mineral (MM), Fibra em Detergente Neutro (FDN) e Fibra em detergente ácido (FDA). A análise mineral foi realizada no ICASA (Instituto Campineiro de Análise de Solo e Adubo) sendo determinada a porcentagem de fósforo, cálcio, magnésio, enxofre, sódio, e potássio (Tabela 1). 24 As dietas foram formuladas, segundo o NRC (2007), de forma a atender as exigências de cordeiros em crescimento. TABELA 1 - composição nutricional e ingredientes das dietas experimentais. Variáveis Ração 1 Ração 2 MS (%) 86,82 87,59 PB (%) 19,22 18,39 EE (%) 2,33 2,91 Minerais (%) 4,97 5,02 FDN (%) 17,40 17,62 FDA (%) 6,43 6,50 Energia Bruta (%) 3813 3876 Fósforo (%) 0,43 0,65 Cálcio (%) 0,8 0,97 Magnésio (%) 0,19 0,22 Potássio (%) 0,78 0,83 Sódio (%) 0,4 0,3 Enxofre (%) 0,14 0,14 Relação Ca:P 1,9:1 1,5:1 Feno de coast cross (%) 10 10 Farelo de soja (%) 26 21,40 Farelo de trigo (%) 8 15 Milho triturado (%) 54 51,3 Calcáreo calcítico (%) 2 2,3 4.4.2. Urinálise A Colheita da urina foi realizada no período da manhã, por micção espontânea e, quando não, os ovinos foram contidos em estação para micção forçada, tampando-se as narinas dos animais (GARCIA-NAVARRO, 1996). Amostras de no mínimo 10ml de urina foram acondicionadas em frasco coletor universal e, em seguida, enviadas ao laboratório Vida Vet de Botucatu, SP, para a urinálise, sendo avaliados: sedimento urinário, celularidade, aspectos 25 físicos, densitométricos e pH. Parte da amostra urinária foi congelada a - 20°C para posterior análise da concentração de minerais (cálcio, fósforo e magnésio) e creatinina. 4.4.3. Bioquímica sérica Para o exame bioquímico, de ureia e creatinina foram colhidas amostras de sangue da veia jugular em tubos Vacutainer®, sem anticoagulante. O sangue foi centrifugado para obtenção de soro e congelado a – 20 °C. As amostras foram descongeladas à temperatura ambiente para realização das dosagens séricas de uréia e creatinina, feitas por kits comercias. Os métodos utilizados foram: método enzimático, colorimétrico, para a determinação da concentração de ureia; método cinético, colorimétrico, para creatinina, com leitura em espectrofotômetro (Aparelho Celm SB 190 ®). As análises bioquímicas de ureia e creatinina séricas foram realizadas no Laboratório de Patologia Clínica do Departamento de Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP, campus Botucatu em momento oportuno. 4.4.4. Dosagem de minerais urinário e sanguíneo A dosagem dos macrominerais (fósforo, magnésio e cálcio) sanguíneos e urinários foi realizada por kits comerciais, com leitura em espectrofotômetro (Aparelho Celm SB 190 ®). As amostras foram processadas no Laboratório de Patologia Clínica do Departamento de Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – UNESP, campus Botucatu. 4.4.5. Necropsia dos animais e análise mineral dos cálculos Ao término do período experimental de confinamento, os animais dos dois grupos foram necropsiados. Além do exame macroscópico de rins, ureteres, bexiga e uretra, foram coletados os cálculos urinários para posterior análise mineral. 26 4.5. Tratamento de animais com urolitíase Os animais que apresentaram sinais de obstrução do fluxo urinário foram avaliados clinicamente e o diagnóstico foi confirmado pelos sinais clínicos de obstrução uretral e consequente anúria. Foi realizada, primeiramente, a técnica da hidropropulsão retrógrada uretral e, não se restabelecendo o fluxo urinário com este procedimento, foi instituído o tratamento cirúrgico de uretrostomia ou cistotomia com introdução de sonda de drenagem urinária. Todos os animais desobstruídos foram mantidos até o final do experimento para se verificar a reincidência dos sinais clínicos. 4.6. Análise estatística Definição de variáveis: para as variáveis que foram reportadas pelo laboratório como intervalos (ex.: 1-10) a média do intervalo (valor maior – valor menor / 2) foi calculada para realizar as análises. Para as variáveis que foram reportadas pelo laboratório com palavras (ausente, rara, moderada) ou por cruzes, foram estabelecidos escores para cada palavra ou quantidade de cruzes, sendo calculada a média desses escores para posterior análise estatística. Inicialmente a distribuição das variáveis estudadas foi analisada para escolha dos métodos estatísticos e, foram produzidas estatísticas descritivas. Com exceção da densidade, todos as variáveis urinárias apresentaram desvios do padrão Gaussiano de distribuição. Dessa forma, para cada variável da urinálise, o teste de Wilcoxon foi utilizado para avaliar a diferença entre os grupos, dentro de cada momento. A correlação entre as variáveis foi estimada pelo coeficiente de correlação de Spearman. As análises foram realizadas com o software SAS (SAS Institute, 2011), adotando nível de significância de 5% (p<0,05). 27 5. RESULTADOS Os primeiros resultados obtidos do experimento, quanto ao aparecimento da doença foram: No 28° dia de tratamento, um animal do G2 apresentou ao exame físico, quadro de prostração, anúria, dor abdominal e consequente taquipnéia, glande peniana e processo uretral com coloração arroxeada. O tratamento inicial foi amputação do processo uretral e sondagem da uretra (NAVARRE, 2007), porém, mesmo efetuando-se a hidropropulsão retrógrada, não houve sucesso, continuando o animal com obstrução uretral. Posteriormente foi realizado tratamento cirúrgico, com colocação da sonda na bexiga para drenagem urinária e uretrostomia perineal (STREETER et al., 2002; DORIA et al., 2007); durante a cirurgia foi observada ruptura da bexiga, sendo instituída cistorrafia. O animal foi eutanasiado após quatro dias do início dos sinais clínicos devido a uma nova obstrução, tanto da sonda quanto do canal uretral. Aos 42 dias outro animal, agora do G1, apresentou quadro de ruptura de bexiga, vindo a óbito em aproximadamente 16 horas. No 54º dia mais um animal do G1 teve sintomatologia clínica de urolitíase obstrutiva, apresentando disúria, mucosa peniana com coloração arroxeada e cálculo na base do processo uretral (Figura1-A). O processo uretral foi amputado e a sondagem da uretra (Figura 1- B) e a hidropropulsão retrógrada foram realizadas com sucesso; o fluxo urinário foi reestabelecido e o animal permaneceu urinando normalmente até o final do experimento. FIGURA 1. A. cálculo na base do processo uretral. B. sondagem uretral após amputação do processo uretral. 28 Embora estivessem recebendo tratamentos diferentes, animais dos dois grupos apresentaram urolitíase. Sendo assim, no total de 30 animais, Três apresentaram urolitíase obstrutiva, representando incidência de 10%. Onze animais apresentaram cálculos urinários, representando incidência de 36,67%. Entre os grupos, no G1 (n=15), dois animais manifestaram urolitíase obstrutiva e, no G2 (n=15), um animal. A presença de cálculos urinários, confirmados por necropsia, ocorreu em cinco animais do G1 e quatro animais do G2; estes dados evidenciam que as respostas foram semelhantes entre os grupos Estão descritos nas tabelas valores de média (m), desvio padrão e mediana (md) de cada variável analisada. As amostras de urina foram colhidas por micção espontânea ou forçada. Não foi objetivo deste trabalho calcular o volume urinário diário total dos animais. Para a realização das urinálises são necessários no mínimo 10mL de urina. O volume urinário das amostras variou entre os grupos e ao longo do tempo, expressando maiores volumes ao final do experimento (Figura 2); isto se deve ao comportamento dos animais, que ao final do experimento já estavam mais adaptados ao manejo e também à prática da coleta. FIGURA 2. Variação do volume urinário dos grupos experimentais ao longo do tempo. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 0 1 2 3 4 5 6 Vo lu m e / m l Momentos G1 G2 29 TABELA 2. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) do volume urinário (mL) dos cordeiros dos grupos G1 e G2, obtido durante colheita nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 10,6 ± 11,7 6,3 15,8 ± 17 8,4 M1 11,5 ± 10,3 8,0 19,0 ± 17,9 10,0 M2 13,7 ± 10,3 11,0 17,2 ± 14,5 11,0 M3 16,8 ± 13 11,8 18,1 ± 16,9 8,0 M4 11,9 ± 12,6 8,0 23,0 ± 17,3 17,0 M5 21,5 ± 11,5 20,0 33,6 ± 18,3 37,5 M6 22,4 ± 16,3 20,0 44,8 ± 17 42,5 Para a aferição da densidade específica da urina foi utilizada fita reagente. Os valores de densidade urinária variaram estando em alguns momentos abaixo dos parâmetros considerados normais para a espécie, que pode variar entre 1.015 a 1.045 (BELKNAP, 2005). Houve diferença significativa da densidade urinária entre os grupos apenas nos momentos 4 e 5, onde os animais do grupo G1 mostraram valores maiores (Figura 3). *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 3. Variação da densidade específica urinária entre os grupos nos momentos. 1004 1006 1008 1010 1012 1014 1016 1018 1020 1022 0 1 2 3 4 5 6 D en si da de Momentos G1 G2 * * 30 TABELA 3. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da densidade específica urinária dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 1011,8 ± 8,2 1010,0 1016,9 ± 7,7 1017,5 M1 1013,0 ± 7,7 1010,0 1017,7 ± 7,5 1020,0 M2 1017,0 ± 5,6 1020,0 1018,3 ± 8,8 1015,0 M3 1017,9 ± 5,8 1015,0 1020,0 ± 6,8 1020,0 M4 1021,8 ± 9,1 1020,0 1013,2 ± 8,0 1012,5 M5 1020,4 ± 5,2 1020,0 1014,3 ± 8,1 1015,0 M6 1014,6 ± 9,7 1015,0 1013,9 ± 9,4 1010,0 Para a mensuração do pH foram realizados dois testes, fita reagente e peagâmetro. A análise estatística pelo teste de Pearson revelou que não houve diferença estatística entre os exames realizados, demonstrando que a fita reagente pode ser usada com segurança, pois também apresenta acurácia nos resultados. Portanto os resultados aqui expostos são baseados no teste de fita reagente. O pH urinário permaneceu alcalino durante todo o experimento, à exceção do M5, em que o valor da amostra foi de 6,5. A análise estatística pelo teste de Wilcoxon, revelou que houve diferença estatística entre os grupos apenas no momento 1, onde o G1 apresentou maiores valores (Figura 4). *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 4. Variação do pH urinário entre grupos nos momentos. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 pH Momentos G1 G2 * 31 TABELA 4. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) do pH urinário dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s Md M0 8,3 ± 1,0 9,0 7,9 ± 1,1 8,0 M1 8,1 ± 1,0 8,0 7,4 ± 0,9 7,5 M2 7,6 ± 0,9 8,0 7,2 ± 1,2 7,0 M3 7,4 ± 0,9 7,0 7,0 ± 0,9 7,0 M4 7,5 ± 1,3 8,0 7,8 ± 1,1 8,0 M5 6,8 ± 1,2 6,5 7,4 ± 1,0 8,0 M6 7,6 ± 1,2 7,0 7,4 ± 1,0 8,0 Para o pH urinário foi avaliado também a diferença entre os animais que apresentaram cálculo e os que não apresentaram, formando assim, dois subgrupos (cálculo e sem cálculo). Embora tenha ocorrido diferença estatística apenas no momento 2 (30 dias), os animais que apresentaram cálculo possuíam os valores maiores (Figura 5). *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 5. Variação do pH entre os animais que apresentaram cálculo e os animais que não apresentaram nos momentos. 0 2 4 6 8 10 0 1 2 3 4 5 6 pH Momentos Gc Gs * 32 TABELA 5. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) do pH urinário dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M). M Gc (n=15) Gs (n=15) m ± s md m ± s md M0 8,27 ± 0,93 9,00 7,95 ± 1,10 8,00 M1 7,82 ± 0,87 8,00 7,71 ± 1,03 8,00 M2 7,91 ± 0,7 8,00 7,13 ± 1,13 7,00 M3 7,60 ± 0,97 7,50 7,03 ± 0,85 7,00 M4 7,94 ± 0,81 8,00 7,50 ± 1,34 8,00 M5 7,28 ± 1,15 8,00 7,03 ± 1,13 7,00 M6 7,50 ± 0,94 8,00 7,50 ± 1,15 8,00 Os resultados das medianas do número de leucócitos urinários estão expressos na Figura 6. Houve diferença estatística entre os grupos apenas no M0, quando os animais haviam sido recém adquiridos, estando o G2 com maior valor. O G1 mostrou valores dentro dos parâmetros normais, até cinco por campo (GARCIA-NAVARRO, 1996) na maioria dos momentos exceto no M5, onde houve inversão com o G2, que apresentou contagens acima de cinco a maior parte do tempo. *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 6. Variação da contagem de leucócitos entre os grupos nos momentos. 0 2 4 6 8 10 12 0 1 2 3 4 5 6 Le uc óc ito s Momentos G1 G2 33 TABELA 6. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem de leucócitos na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 7,4 ± 8,7 3,3 12,4 ± 10,3 9,0 M1 6,4 ± 5,2 3,5 9,0 ± 5,4 9,0 M2 4,9 ± 3,0 4,0 14,3 ± 12,7 8,0 M3 26,9 ± 41,4 3,3 46,6 ± 52,5 6,0 M4 14,4 ± 28,1 5,0 23,6 ± 35,5 7,0 M5 11,7 ± 10,0 11,0 9,5 ± 9,4 5,0 M6 12,5 ± 24,2 2,5 24,3 ± 38,5 7,5 A contagem bacteriana urinária entre os grupos e nos momentos apresentou-se dentro dos parâmetros normais para a espécie, até cinco por campo (CARLSON, 1993). Como a urina foi colhida por micção espontânea a presença de bactérias é considerada normal, podendo representar contaminação do ambiente ou do meato urinário. O G2 apresentou valores maiores quando comparado ao G1 (Figura 7). Houve diferença estatística significativa nos momentos 2 e 4. *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 7. Variação da contagem bacteriana entre os grupos nos momentos. 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 0 1 2 3 4 5 6 B ac té ria s Momentos G1 G2 * 34 TABELA 7. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem bacteriana na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 0,6 ± 0,8 0,0 1,1 ± 1,1 1,0 M1 0,7 ± 1,0 0,0 1,1 ± 0,9 1,0 M2 0,3 ± 0,6 0,0 1,3 ± 1,2 1,0 M3 0,9 ± 1,1 0,5 1,3 ± 0,9 1,0 M4 0,5 ± 0,7 0,0 1,9 ± 1,4 2,0 M5 1,1 ± 1,5 0,0 1,1 ± 1,4 1,0 M6 0,6 ± 1,0 0,0 0,4 ± 0,8 0,0 A presença de cristais de fosfato triplo (Figura 8) foi constante desde a primeira coleta de urina até o final do experimento. Não houve diferença significativa entre os grupos, verificada pelo teste de Wilcoxon, embora fosse possível observar que o G1 apresentou valores mais elevados quando comparado ao G2. (Figura 9). FIGURA 8. Cristais de fosfato triplo observados no microscópio, no aumento de 400x. 35 FIGURA 9. Variação da presença de cristais entre os grupos ao longo do tempo. TABELA 8. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem de cristais (representada por cruzes) na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 2,8 ± 1,6 3,5 2,4 ± 1,7 2,5 M1 3,2 ± 1,5 4,0 2,4 ± 1,8 3,0 M2 2,9 ± 1,3 3,0 1,9 ± 1,8 2,0 M3 2,2 ± 1,7 3,0 1,3 ± 1,7 0,0 M4 1,2 ± 1,5 0,0 1,6 ± 1,4 1,5 M5 1,1 ± 1,4 1,0 1,1 ± 1,6 0,0 M6 1,2 ± 1,7 0,0 0,6 ± 1,2 0,0 Para os cristais foi avaliado também a diferença entre os animais que apresentaram cálculo e os que não apresentaram (Figura 10). Formando dois subgrupos (cálculo e sem cálculo). Nesta análise é possível observar que os animais que produziram cálculos urinários tiveram mais cristais na urina, manifestando diferenças estatísticas significativas nos momentos 2, 3, 4 e 6. 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0 1 2 3 4 5 6 C ris ta is Momentos G1 G2 36 *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 10. Variação da presença de cristais urinário entre os animais que apresentaram cálculo e os animais que não apresentaram. TABELA 9. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da contagem de cristais (representada por cruzes) na urina dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M). M Gc (n=15) Gs (n=15) m ± s Md m ± s md M0 3,27 ± 1,42 4,00 2,25 ± 1,65 2,50 M1 3,45 ± 1,29 4,00 2,42 ± 1,84 3,00 M2 3,36 ± 0,67 3,00 1,79 ± 1,72 2,00 M3 3,30 ± 1,25 4,00 0,89 ± 1,32 0,00 M4 2,11 ± 1,17 3,00 1,06 ± 1,47 0,00 M5 1,89 ± 1,83 1,00 0,72 ± 1,13 0,00 M6 1,89 ± 1,76 2,00 0,39 ± 0,98 0,00 0 2 4 6 0 1 2 3 4 5 6 C ris ta is Momentos Gc Gs 37 O número de cristais na urina foi associado à ocorrência de urolitíase (P < 0,001). As chances de um animal ser diagnosticado com urolitíase foram 9,2 (IC 95%: 3,9 – 21,7) vezes maiores nos animais que tiveram escore 4, quando comparados aos animais que tiveram escore 0 (Tabela 2). TABELA 10. Comparação entre escores de cristais e suas chances em apresentar cálculos urinários (OR). Escore cristais Escore cristais de referencia Razão das chances (OR) IC 95% 4 0 9,2 3,9 21,7 4 1 3,8 1,3 11,1 4 2 2,0 0,6 7,0 4 3 1,7 0,7 4,0 Embora estivessem recebendo tratamentos diferentes, os dois grupos experimentais apresentaram respostas semelhantes quanto à produção de cálculos urinários e os resultados da urinálise. As variáveis cor, aspecto, proteína, glicose, urobilinogênio, bilirrubina, sangue oculto, hemácias, células do trato urinário, cilindros e muco não apresentaram resultados com diferenças estatisticamente significativas entre os momentos e os grupos. 38 Outras análises realizadas na urina foram creatinina e minerais. As medianas referentes à creatinina estão expostas na Figura 11. Este gráfico demonstra grande variação nos resultados com menor valor de 36,75 mg/dl (M4 do G2) e valor maior que 167 mg/dl (M2 do G1). Houve diferença estatística entre os grupos apenas no M 4. *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 11. Variação de creatinina urinária entre os grupos e nos momentos. TABELA 11. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de creatinina (mg/dl) na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 84,55 ± 14,79 83,13 79,84 ± 36,51 73,00 M1 75,72 ± 29,29 65,00 74,44 ± 31,92 84,75 M2 89,38 ± 32,26 82,13 82,31 ± 33,88 89,25 M3 154,66 ± 46,41 167,00 163,89 ± 80,72 147,50 M4 82,73 ± 62,73 73,00 44,71 ± 31,28 36,75 M5 85,23 ± 32,30 72,75 71,09 ± 41,24 62,13 M6 100,23 ± 47,51 111,50 78,63 ± 36,84 70,88 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 1 2 3 4 5 6 C re at in in a m g/ dl Momentos g1 g2 G1 G2 39 A dosagem de magnésio urinário está representada na Figura 12. Ocorreu diferença estatística significativa entre os grupos nos momenetos 2, 3 e 4. *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 12. Variação do magnésio urinário entre os grupos e nos momentos. TABELA 12. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de magnésio (mg/dl) na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 46,14 ± 19,51 39,05 38,11 ± 14,41 36,35 M1 32,15 ± 21,80 20,70 48,43 ± 19,86 54,80 M2 41,76 ± 14,24 43,10 38,66 ± 15,28 38,55 M3 33,18 ± 13,31 31,15 47,01 ± 16,04 49,85 M4 57,30 ± 21,35 62,50 50,26 ± 18,04 48,00 M5 57,52 ± 20,19 65,20 41,71 ± 17,23 40,05 M6 52,37 ± 28,15 62,70 49,49 ± 23,14 53,25 0 10 20 30 40 50 60 70 0 1 2 3 4 5 6 M g m g/ dl Momentos g1 g2 * G1 G2 40 O fósforo apresentou grande variação entre os momentos, não havendo diferença significtiva entre os grupos, exceto no momento 1 (Figura 13). *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 13. Variação do fósforo urinário entre os grupos e nos momentos. TABELA 13. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fósforo (mg/dl) na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 45,63 ± 56,91 35,05 34,28 ± 38,02 17,85 M1 47,67 ± 53,45 28,60 104,05 ± 83,57 75,00 M2 61,50 ± 38,34 50,20 82,97 ± 86,82 62,00 M3 77,96 ± 72,65 67,00 119,40 ± 129,88 85,25 M4 59,28 ± 71,76 23,80 100,81 ± 121,26 50,05 M5 125,33 ± 110,46 82,90 100,04 ± 117,70 64,85 M6 63,02 ± 67,42 40,20 70,91 ± 108,72 18,52 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 1 2 3 4 5 6 P m g/ dl Momentos g1 g2 G1 G2 41 Abaixo na Figura 14 estão expostos os resultados do fósforo urinário dos animais que apresentaram cálculos (Gc) e que não apresentaram (Gs). Embora não tenha ocorrido diferença estatística significativa é possível perceber que o Gc apresentou valores mais elevados na maioria dos momentos quando comparado ao Gs. FIGURA 14. Variação de fósforo urinário entre animais com calculo e sem cálculo. TABELA 14. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fósforo na urina dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M). M Gc (n=15) Gs (n=15) m ± s Md m ± s md M0 38,12 ± 32,62 35,40 40,42 ± 54,81 20,20 M1 65,35 ± 69,22 39,90 81,94 ± 78,81 56,80 M2 67,87 ± 44,36 63,90 74,76 ± 78,01 50,20 M3 113,60 ± 110,32 77,90 90,39 ± 104,86 49,60 M4 99,51 ± 127,09 21,00 71,47 ± 87,67 41,10 M5 159,53 ± 147,41 86,50 88,56 ± 86,34 58,10 M6 80,60 ± 68,02 67,30 60,36 ± 99,75 7,00 0 15 30 45 60 75 90 105 0 1 2 3 4 5 6 P m g/ dl Momentos gc gs Gc Gs 42 O cálcio urinário diferiu pouco entre os grupos apresentando diferença estatística significativa nos primeiros momentos, 0 e 1, onde o G2 mostrou valores maiores (Figura 15). *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 15. Variação do cálcio urinário entre os grupos e nos momentos. TABELA 15. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de cálcio (mg/dl) na urina dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 1,43 ± 1,44 0,94 4,40 ± 3,42 2,63 M1 1,09 ± 0,83 0,69 3,15 ± 2,19 2,43 M2 1,42 ± 1,12 1,08 1,96 ± 2,05 1,37 M3 2,44 ± 1,60 1,72 4,32 ± 4,32 2,44 M4 2,86 ± 1,78 2,44 2,42 ± 1,74 2,23 M5 2,75 ± 1,06 2,56 2,36 ± 1,0 2,31 M6 3,77 ± 1,62 3,39 4,03 ± 4,24 2,86 O sangue coletado foi centrifugado para obtenção do soro e posterior análise bioquímica e mineral. Sendo dosado ureia, creatinina, magnésio, fósforo e cálcio. Os valores séricos de ureia estão representados na Figura 16. Ambos os grupos apresentaram valores acima dos considerados normais para a espécie, que varia de 14 a 37 mg/dl (SMITH, 2006). Houve diferença estatística significativa entre os grupos apenas nos momentos 5 e 6. 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 5 6 C a m g/ dl Momentos g1 g2 * G1 G2 43 *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 16. Variação da ureia sérica entre os grupos e nos momentos. TABELA 16. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de ureia (mg/dl) sérica dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 47,56 ± 12,49 42,70 51,28 ± 20,81 45,30 M1 46,56 ± 11,52 48,90 55,33 ± 35,54 47,10 M2 63,40 ± 23,93 62,10 69,37 ± 14,63 70,00 M3 86,66 ± 44,04 74,40 75,06 ± 17,17 74,00 M4 68,42 ± 24,90 69,60 73,52 ± 15,96 75,20 M5 82,75 ± 22,47 82,20 61,99 ± 10,91 64,65 M6 96,61 ± 32,63 90,40 64,10 ± 14,97 65,75 As dosagens de ureia sérica diferiram pouco entre os animais que produziram urólitos e os que não produziram. Houve diferença estatistica siguinificativa nos momentos 3, 4, e 5, onde o Gc apresentou resultados mais elevados que o Gs (Figura 17). 0 15 30 45 60 75 90 0 1 2 3 4 5 6 U re ia m g/ dl Momentos g1 g2 * G1 G2 44 *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon FIGURA 17. Variação de ureia sérica entre animais com cálculo e sem cálculo. TABELA 17. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de ureia sérica dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M). M Gc (n=15) Gs (n=15) m ± s md m ± s md M0 47,52 ± 11,34 44,30 50,72 ± 21,04 44,20 M1 58,15 ± 33,39 49,90 46,78 ± 21,18 45,30 M2 73,24 ± 20,43 77,80 62,42 ± 18,70 62,10 M3 91,51 ± 23,66 79,60 75,56 ± 37,46 64,00 M4 82,89 ± 23,49 83,10 65,16 ± 16,49 61,60 M5 85,71 ± 24,33 89,90 65,13 ± 13,80 65,30 M6 89,76 ± 29,18 76,30 74,75 ± 29,36 73,25 A creatinina sérica sofreu aumento gradativo ao longo dos momentos. Ambos os grupos apresentaram valores acima da referência para a espécie apenas no momento 6, com 1,53 mg/dl para o G1 e 1,71 mg/dl para o G2. O parâmetro normal para a espécie varia entre 0,8 a 1,3 mg/dl (SMITH, 2006). Houve diferença estatística significativa entre os grupos apenas no M 4 (Figura 18). 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 1 2 3 4 5 6 U re ia m g/ dl Momentos Gc Gs * 45 *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 18. Variação da creatinina sérica entre os grupos e nos momentos. TABELA 18. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de creatinina (mg/dl) sérica dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 0,75 ± 0,13 0,73 0,69 ± 0,18 0,69 M1 0,78 ± 0,29 0,68 0,89 ± 0,32 0,84 M2 0,79 ± 0,17 0,81 0,82 ± 0,16 0,79 M3 0,91 ± 0,23 0,91 0,95 ± 0,24 0,94 M4 1,28 ± 0,37 1,25 1,54 ± 0,31 1,53 M5 1,51 ± 0,46 1,37 1,34 ± 0,30 1,32 M6 1,63 ± 0,59 1,53 1,72 ± 0,31 1,71 Para o magnésio (Mg) sérico os resultados foram semelhantes entre os grupos, mostrando valores acima dos parâmetros normais na maioria dos momentos, exceto no momento 1, onde atingiu 2,50 mg/dl e no momento 4, com 2,69 mg/dl, ambos resultados do G1. Os valores normais de magnésio sérico para a espécie variam de 2,2 – 2,8 mg/dl (SMITH, 2006). Diferença estatística ocorreu apenas no momento 4 (Figura 19). 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 0 1 2 3 4 5 6 C re at in in a m g/ dl Momentos g1 g2 G1 G2 46 *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 19. Variação de magnésio sérico entre os grupos e nos momentos. TABELA 19. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de magnésio (mg/dl) sérico dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 3,75 ± 1,10 3,52 3,66 ± 0,85 3,94 M1 2,66 ± 0,90 2,50 2,98 ± 0,81 2,96 M2 4,33 ± 1,17 4,42 4,80 ± 0,95 4,79 M3 4,73 ± 0,90 4,98 4,91 ± 1,01 4,80 M4 2,84 ± 0,93 2,69 3,97 ± 2,33 3,57 M5 3,99 ± 1,09 3,67 3,78 ± 1,10 3,94 M6 3,44 ± 1,24 3,03 3,63 ± 0,90 3,73 Os resultados de fósforo sérico estão na Figura 20. Não houve diferença estatística significativa entre os grupos; os valores de ambos os grupos apresentaram-se acima dos parâmetros normais para a espécie. Os valores de referência de fósforo sérico estão entre 5 e 7,3 mg/dl (SMITH, 2006). 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 M g m g/ dl Momentos g1 g2 * G1 G2 47 FIGURA 20. Variação do fósforo sérico entre os grupos e nos momentos. TABELA 20. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fósforo (mg/dl) sérico dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s Md m ± s md M0 9,06 ± 2,85 7,62 9,37 ± 3,87 7,83 M1 15,30 ± 10,31 11,65 9,43 ± 4,01 8,62 M2 10,97 ± 2,71 11,14 11,25 ± 2,24 10,90 M3 9,63 ± 2,76 9,54 10,50 ± 2,2 10,09 M4 10,50 ± 4,67 9,22 11,10 ± 4,39 10,43 M5 12,08 ± 4,92 11,12 11,21 ± 4,01 10,49 M6 12,05 ± 3,55 12,29 11,36 ± 2,79 11,54 0 2 4 6 8 10 12 14 0 1 2 3 4 5 6 P m g/ dl Momentos g1 g2 G1 G2 48 A diferença estatística nos resultados do fósforo sérico entre os animais que produziram cálculos urinários e os que não produziram ocorreu apenas no momento 1, porém, é visível que o Gc mostrou resultados mais elevados que o Gs (Figura 21). *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 21. Variação do fósforo sérico entre animais com cálculos e animais sem cálculos urinários. TABELA 21. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de fósforo sérico dos cordeiros com cálculos urinários (Gc) e sem cálculos urinários (Gs), nos momentos (M). M Gc (n=15) Gs (n=15) m ± s Md m ± s md M0 8,44 ± 3,57 7,78 9,68 ± 3,28 7,82 M1 17,10 ± 10,73 14,74 9,63 ± 4,89 8,62 M2 11,91 ± 2,66 11,57 10,66 ± 2,27 10,37 M3 10,93 ± 3,0 11,31 9,59 ± 2,15 9,34 M4 11,08 ± 3,95 10,06 10,68 ± 4,79 9,84 M5 12,35 ± 3,71 11,91 11,27 ± 4,77 10,49 M6 12,02 ± 2,59 12,67 11,53 ± 3,44 11,33 0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 1 2 3 4 5 6 P m g/ dl Momentos Gc Gs 49 O cálcio sérico permaneceu abaixo dos valores de referência para a espécie nos dois grupos, que varia de 11,5 a 12,8 mg/dl (KANEKO, 2008). A diferença estatística ocorreu nos momentos 1 e 2 (Figura 22). Não houve diferença entre os animais que produziram cálculos urinários e os que não produziram. *Diferença estatística (p<0,05) entre os grupos, pelo teste de Wilcoxon. FIGURA 22. Variação de cálcio sérico entre os grupos e nos momentos. TABELA 22. Médias (m), desvio-padão (s) e medianas (md) da dosagem de cálcio (mg/dl) sérico dos cordeiros dos grupos G1 e G2, nos momentos (M). M G1 (n=15) G2 (n=15) m ± s md m ± s md M0 6,22 ± 1,95 5,89 7,26 ± 2,96 7,41 M1 6,44 ± 2,79 5,57 7,82 ± 1,74 7,76 M2 5,91 ± 1,84 5,42 7,93 ± 0,88 8,06 M3 5,20 ± 1,94 4,82 6,16 ± 3,09 6,08 M4 8,60 ± 3,37 7,78 8,76 ± 3,17 9,37 M5 7,91 ± 3,12 7,07 8,89 ± 3,02 8,09 M6 5,70 ± 2,19 4,91 4,99 ± 1,34 5,14 Ao final do período experimental foi realizada necropsia, colhendo-se rim, uretra e bexiga de 28 animais, sendo 14 animais do G1 e 14 animais do G2. Dois animais (um de cada grupo) foram necropsiados durante o período experimental, devido a óbito, por urolitíase obstrutiva e consequente ruptura de bexiga. 0 3 6 9 12 0 1 2 3 4 5 6 C a m g/ dl Momentos g1 g2 G1 G2 50 Durante a necropsia foram detectados urólitos em cinco animais do G1 e em quatro animais do G2. Os urólitos estavam localizados principalmente em medula e pelve renal e, em apenas dois animais foram encontrados cálculos urinários na bexiga, não se encontrando cálculos nos rins destes animais. Os locais onde os urólitos foram encontrados estão expostos na Tabela 3. TABELA 23. Número dos animais que apresentaram urólitos distribuído pela localização e suas alterações macroscópicas, nos dois grupos experimentais. Animal Localização dos cálculos urinários Alteração macroscópica 02 Processo uretral e medula renal Dilatação de pelve renal e discreta hidronefrose 07 Medula renal 09 Bexiga urinária Dilatação de pele renal 10 Medula renal 13 Medula renal 15 Uretra Ruptura de bexiga e cistite hemorrágica 17 Sonda uretral, sonda de folley e uretra 18 Medula e pelve renal Dilatação de pelve renal 19 Medula e pelve renal Dilatação de pelve renal e discreta hidronefrose 22 Bexiga 23 Medula renal 51 Em um rim, no animal de número 17, que apresentou urolitiase obstrutiva, do G2, foi achado deposição de materia orgânica que serve como núcleo para formação do cálculo (Figura 23). FIGURA 23. Rim de ovino do G2 com deposição de matéria orgánica (seta) de coloração marrom, em região de pelve renal. Os cálculos nos rins formavam aglomerados e podiam ter de 0,5 a 10mm de diámetro (Figura 24); na sua maioria possuíam coloração branco-acinzentada ou amarelada, com bordas irregulares. Não foi observado aumento do tamanho renal, permanecendo dentro dos parâmetros normais, de até 7,5 cm (GETTY, et al, 2008). FIGURA 24. A. Cálculos urinários em bexiga (animal G2). B Cálculos urinários em pelve e medula renal (animal G2). 52 Dilatação de pelve renal e hidronefrose discreta foram observadas em alguns animais que apresentaram cálculos urinários (Figura 25). FIGURA 25. Rim ovino com presença de cálculos, dilatação de pelve e discreta hidronefrose. Em dois animais que apresentaram urolitíase obstrutiva, o local de obstrução foi na uretra proximal e o terceiro, no apêndice vermiforme. Nos dois primeiros, o local da obstrução apresentava hemorragia e necrose devido a microtraumatismos e oclusão pelos cálculos; a mucosa peniana, nestes animais, também estava necrosada (Figura 26). FIGURA 26. A. Mucosa peniana com necrose. B. Uretra peniana com hemorragia e necrose; ambas lesões de animal do G2. 53 No caso em que houve ruptura da bexiga urinária, a parede apresentava- se fina e friável e na mucosa observou-se hemorragia difusa; coágulos de sangue foram encontrados no local da ruptura (Figura 27). FIGURA 27. A. Bexiga de ovino do G1 com áreas hemorrágicas e ponto de ruptura. B. Mucosa vesical mostrando cistite hemorrágica. 54 6. DISCUSSÃO Neste trabalho os primeiros sinais de urolitiase obstrutiva ocorreram após 28 dias do início do experimento, quando um animal apresentou prostração e quadro de anúria. Esse dado sugere que a alimentação baseada em concentrado, mesmo na forma de ração total com 10% de feno de coast cross triturado, representando 17% de FDN, pode provocar a manifestação clínica precoce da doença. Unaniam et al. (1985), obtiveram sintomatologia de obstrução uretral mais tardia, aos 92 dias, porém, além do alimento concentrado, foi fornecido volumoso a vontade, o que também não evitou o aparecimento da doença. Outro ponto relevante a ser discutido é que dos três casos de urolitíase obstrutiva apresentados neste experimento, apenas um se manteve vivo até o final. Isto se deve a associação de alguns fatores, como diagnóstico precoce, local da obstrução, sucesso do tratamento e quantidade de urólitos obstruindo o fluxo uretral (DÓRIA et al. 2007). Ainda, reforça a ideia de Ferreira (2011) que após instalada a doença, o retorno à sanidade é difícil e dispendioso, sendo a prevenção o melhor tratamento. A amputação do processo uretral, associada à sondagem uretral e hidropropulsão retrograda foi realizada em dois animais com obstrução uretral, e, em apenas um caso houve reestabelecimento do fluxo urinário, pois o urólito estava alojado na base do processo uretral. A remoção do processo uretral pode aliviar o bloqueio imediatamente, já que este é um local comum de obstrução em caprinos e ovinos (EWOLDT et al., 2008). O sucesso na restauração imediata do fluxo uretral tem sido relatada em 50% (FORTIER et al., 2004) a 66% (HAVEN et al., 1993) dos animais, após amputação do processo uretral. Conforme Fortier et al. (2004) a recidiva da obstrução após este procedimento pode ocorrer dentro de algumas horas ou dias em 80-90% dos casos. No animal onde se restabeleceu o fluxo urinário não foi observada recidiva da obstrução até o final do experimento, 36 dias após, porém à necropsia foram achados urólitos na medula renal. As dietas dos grupos G1 e G2 apresentaram valores da relação cálcio/fósforo de 1,9:1 e 1,5:1 respectivamente. Embora a proporção utilizada de cálcio e fósforo no presente estudo esteja dentro dos valores seguros, 55 propostos por Riet-Correa (2001) e Samal et al. (2011), de 1,5:1 e 1:1, ela não foi efetiva na prevenção da urolitíase neste experimento. A densidade específica urinária em alguns momentos apresentou valores abaixo dos padrões de normalidade dentro dos grupos experimentais. Sendo assim, pode ter sofrido influência da dieta à base de concentrado, pois dietas compostas por grãos, podem promover uma leve acidose ruminal, diminuindo a densidade urinária (ARAUJO et al., 2009). Outra causa para a diminuição da densidade urinári