UNESP Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá Guaratinguetá 2012 JUSSARA OLIVEIRA TASSINI EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO INDUSTRIAL: ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, para obtenção título de Mestre em Engenharia Mecânica na área de Transmissão e Conversão de Energia. Orientador: Prof. Dr. Pedro Magalhães Sobrinho Co-orientador: Prof. Dr. José Luz Silveira Guaratinguetá 2012 T213e Tassini, Jussara Oliveira Eficiência Energética em Sistemas de Refrigeração Industrial: Estudo de Caso / Jussara Oliveira Tassini. - Guaratinguetá: [s.n.], 2012. 113 f.: il. Bibliografia: f. 109-113 Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, 2012. Orientador: Prof. Dr. Pedro Magalhães Sobrinho Co-orientador: Prof. Dr. José Luz Silveira 1. Refrigeração 2. Energia - Conservação 3. Bebidas – Indústria I. Título CDU 621.56(043) DADOS CURRICULARES JUSSARA OLIVEIRA TASSINI NASCIMENTO 19.11.1983 – GUARULHOS / SP FILIAÇÃO Julio Tassini Luiza Niza Bandeira de Oliveira Tassini 2004/2008 Curso de Graduação Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá – UNESP 2009/2012 Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, nível de Mestrado, na Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá da Universidade Estadual Paulista. de modo especial à minha mãe e ao meu noivo Tico, que me incentivaram durante o mestrado, me dando apoio e acreditando no meu potencial. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, fonte de vida e luz, por estar sempre iluminando meu caminho e por colocar pessoas especiais ao meu redor. Agradeço aos meus pais pelo esforço, pela educação, pelos exemplos de vida, pelo apoio incondicional em todas as etapas da minha vida e ainda por acreditarem em mim, abdicando de algumas coisas em prol de minha formação. A todos os professores que trabalham por paixão ao ensino, sobretudo aos amigos José Luz Silveira e Pedro Magalhães Sobrinho pelas oportunidades, pelos incentivos, pelos conselhos e por acreditarem em meu potencial. À AmBev pela oportunidade de aprendizado e aplicação do conhecimento adquirido, e aos amigos que lá tive a chance de conhecer, especialmente Rafael Pimenta, Jair Mendes, Rafael Maianti e Marcos Sardinha, pela amizade e pela troca de experiências. Às minhas grandes amigas da república Viracopos, em especial à Mari, pela amizade, pelo convívio, pela compreensão, pelos conselhos e pelo companheirismo. Aos amigos que sempre torceram por mim. Em especial ao Tico, meu grande companheiro, pelo exemplo de força, dedicação, empenho e por estar ao meu lado em todos os momentos dando estímulo, apoio, conselhos, carinho e compreensão. "Uma grande atitude faz muito mais que acender as luzes no nosso mundo; parece que ela magicamente nos conecta a todos os tipos de oportunidades casuais, que estavam de alguma forma ausentes antes da mudança." Earl Nightingale "O que for teu desejo, assim será tua vontade. O que for tua vontade, assim serão teus atos. O que forem teus atos, assim será teu destino." Deepak Chopra SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................................. 9 ABSTRACT ....................................................................................................................... 10 LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ 11 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS .......................................................................... 15 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 16 2 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E REFRIGERAÇÃO ......................................... 19 2.1. INTRODUÇÃO À REFRIGERAÇÃO ............................................................................ 20 2.2. CICLO DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO DE VAPOR ...................................... 21 2.2.1 Ciclo Teórico de Refrigeração por Compressão de Vapor ............................... 21 2.2.2 Ciclo Real de Refrigeração por Compressão de Vapor .................................... 23 2.2.3 Balanço de Energia para o Ciclo de Refrigeração por Compressão de Vapor .. 24 2.2.3.1 Capacidade Frigorífica......................................................................................... 24 2.2.3.2 Potência de Compressão....................................................................................... 25 2.2.3.3 Calor Rejeitado no Condensador......................................................................... 27 2.2.3.4 Dispositivo de Expansão ....................................................................................... 28 2.2.4 Coeficiente de Performance (COP)................................................................. 28 2.2.5 Sistema com Separação de Regimes – Multipressão ........................................ 30 3 COMPONENTES DO SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO ................................. 33 3.1. COMPRESSORES ..................................................................................................... 33 3.1.1 Compressores Alternativos ............................................................................ 34 3.1.2 Compressores Parafuso ................................................................................. 35 3.2. CONDENSADORES................................................................................................... 40 3.2.1 Condensadores Evaporativos ......................................................................... 42 3.3. RESERVATÓRIOS / SEPARADORES DE LÍQUIDO ...................................................... 46 3.4. EVAPORADORES / UNIDADES RESFRIADORAS DE LÍQUIDO (URLS) ....................... 47 3.5. VÁLVULAS DE EXPANSÃO ...................................................................................... 49 3.5.1 Válvulas de Expansão Manual ....................................................................... 49 3.5.2 Válvulas de Expansão Automática ................................................................. 50 3.5.3 Válvulas de Expansão Termostática ............................................................... 50 3.5.4 Válvulas de Expansão PM .............................................................................. 51 4 PROCESSO PRODUTIVO DE CERVEJA ........................................................ 54 4.1. MALTAGEM ........................................................................................................... 54 4.2. BRASSAGEM ........................................................................................................... 55 4.3. FERMENTAÇÃO ...................................................................................................... 56 4.4. MATURAÇÃO ......................................................................................................... 57 4.5. FILTRAÇÃO ............................................................................................................ 58 4.6. ENVASAMENTO ...................................................................................................... 59 4.7. PASTEURIZAÇÃO .................................................................................................... 60 4.8. ETAPAS NO PROCESSO PRODUTIVO QUE REQUEREM REFRIGERAÇÃO .................... 61 5 ESTUDO DE CASO - CARACTERIZAÇÃO..................................................... 66 6 ACÕES DE MELHORIA DE EFICIÊNCIA E RESULTADOS ....................... 72 6.1. AÇÕES COM IMPACTO NA PRESSÃO DE CONDENSAÇÃO/DESCARGA ...................... 72 6.1.1 Limpeza e Manutenção dos Condensadores Evaporativos .............................. 73 6.1.2 Automação dos Condensadores Evaporativos em Função da Temperatura de Bulbo Úmido ................................................................................................. 76 6.1.3 Tratamento de Água dos Condensadores Evaporativos .................................. 81 6.1.4 Purga de Incondensáveis ................................................................................ 82 6.2. AÇÕES COM IMPACTO NA PRESSÃO DE EVAPORAÇÃO/SUCÇÃO ............................. 89 6.2.1 Separação de Regimes ................................................................................... 89 6.2.2 Purga de óleo nos evaporadores ................................................................... 100 6.2.3 Operar com as maiores temperaturas de etanol/água gelada possíveis .......... 102 6.3. RESULTADOS NO CONSUMO ELÉTRICO................................................................ 103 7 CONCLUSÕES .................................................................................................. 107 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 109 9 TASSINI, J.O. Eficiência Energética em Sistemas de Refrigeração Industrial: Estudo de Caso. 2012. 113 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia - Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá, 2012. RESUMO Em alguns tipos de indústria, como por exemplo a de laticínios, bebidas e frigoríficos, o sistema de refrigeração é responsável por uma parcela significativa no consumo de energia elétrica. Tendo como objetivo a redução deste consumo, foi realizado um estudo de caso em uma indústria produtora de bebidas, sendo analisados todos os componentes do sistema de refrigeração. O sistema de refrigeração analisado utiliza amônia anidra (NH3) como fluido refrigerante no circuito principal e solução de etanol no circuito secundário, sendo composto por compressores do tipo parafuso, condensadores evaporativos, evaporadores de placas, conjunto de bombas e válvulas expansoras com controle eletrônico. Usualmente, os sistemas de refrigeração atendem diversos processos e etapas de produção, que diferem nos requisitos de temperatura de produto. Além disso, por serem projetados para atender a maior demanda esperada, constituem uma grande oportunidade de otimização nos períodos fora de pico de consumo. Foram descritos e detalhados os componentes do sistema de refrigeração, bem como todas as ações e requisitos necessários para melhoria na eficiência energética da instalação. A implementação destas ações de melhoria de eficiência na planta industrial estudada contou com um investimento total de R$ 302.000,00, e foram responsáveis por um ganho anual de R$ 241.000,00, correspondentes a uma redução no consumo elétrico de 1,7 GWh/ano. O payback simples, portanto, é de 1,25 anos. PALAVRAS-CHAVE: Refrigeração Industrial. Eficiência Energética. Indústria de bebidas. 10 TASSINI, J.O. Energy Efficiency in Industrial Refrigeration Systems: Case Study. 2012. 113 p. Dissertation (Master in Mechanical Engineering) - Engineering College, São Paulo State University - Guaratinguetá, 2012. ABSTRACT In some types of industry where cooling systems are required, for example, dairy products, beverages and frozen foods, the cooling system is responsible for a significant portion of electricity consumption. Aiming to reduce this consumption, a case study was performed in a beverage industry, and all the refrigeration systems components were analyzed. The cooling system operates using anhydrous ammonia (NH3) as the refrigerant in the main circuit and ethanol solution in the secondary circuit, it consists of screw compressors, evaporative condensers, plate and frame coolers, pumps and expansion valves with electronic control. Usually, refrigeration systems have several processes and production stages to meet for different products, depending on the products temperature requirements. Moreover, they are designed to attain the highest demand expected, which gives a great opportunity to optimize the off-peak periods of consumption. We have described and itemized whole refrigeration systems components, as well as all actions and requirements to improve the energy efficiency of the installation. The energy efficiency improvements actions that were implemented in this industrial plant study had a total investment of R$ 302,000.00. These improvementes resulted in an annual saving of R$ 241,000.00, as well a relative a reduction in electricity consumption of 1,7 GWh/year. Therefore, the simple payback is 1.25 years. KEYWORDS: Industrial Refrigeration. Energy Efficiency. Beverage Industry. 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Ciclo teórico de refrigeração por compressão de vapor ........................... 22 Figura 2 Diferenças entre o ciclo teórico e o ciclo real de refrigeração ................. 24 Figura 3 Processo de transferência de calor no evaporador ................................... 25 Figura 4 Processo de compressão adiabático reversível no compressor ................. 26 Figura 5 Processo de transferência de calor no condensador ................................. 27 Figura 6 Processo no dispositivo de expansão....................................................... 28 Figura 7 Diagrama p-h do ciclo frigorífico de Carnot ........................................... 29 Figura 8 Influência da temperatura de condensação/pressão de descarga no COP. 30 Figura 9 Influência da temperatura de evaporação/pressão de sucção no COP. ..... 30 Figura 10 Compressor dedicado a um regime de pressão de sucção ........................ 31 Figura 11 Mecanismo compressor alternativo ......................................................... 34 Figura 12 Geometria básica do compressor parafuso .............................................. 35 Figura 13 Separador de óleo e filtro coalescente ..................................................... 36 Figura 14 Conjunto compressor parafuso................................................................ 37 Figura 15 Sobre-compressão diagrama p-V ............................................................ 38 Figura 16 Sub-compressão diagrama p-V ............................................................... 38 Figura 17 Potência demandada no eixo do compressor em função da capacidade ... 39 Figura 18 Tipos de condensadores .......................................................................... 41 Figura 19 Fases da condensação ............................................................................. 42 Figura 20 Condensador evaporativo ....................................................................... 42 Figura 21 Condensador evaporativo com ventiladores axiais .................................. 43 Figura 22 Fator de correção para capacidade de condensador evaporativo de amônia . ............................................................................................................... 45 12 Figura 23 Reservatório de amônia a alta pressão líquida (AAPL) ........................... 47 Figura 24 Exemplos de unidade resfriadora de líquido (URL) ................................ 49 Figura 25 Válvula PM3 Danfoss ............................................................................. 52 Figura 26 Válvula PM3 servo-controlada ............................................................... 52 Figura 26 Controladores EKC 347 e EKC 361 ....................................................... 53 Figura 28 Fluxograma na produção de cerveja ........................................................ 54 Figura 29 Cozinhador de mosto .............................................................................. 56 Figura 30 Tanques fermentadores/maturadores ....................................................... 57 Figura 30 Estação de filtração de cerveja ................................................................ 58 Figura 32 Linha de envasamento de chope em barris .............................................. 59 Figura 33 Linha de envase de cerveja em latas ....................................................... 60 Figura 34 Linha de envasamento de cerveja em garrafas ........................................ 60 Figura 35 Processo produtivo e temperaturas da cerveja ......................................... 61 Figura 35 Trocador de calor para resfriamento de mosto ........................................ 62 Figura 37 Centrífuga de cerveja no processo FERMAT .......................................... 63 Figura 38 Estação para fabricação de água desaerada – Aldox ................................ 64 Figura 39 Sistema de refrigeração do estudo de caso .............................................. 66 Figura 40 Bicos aspersores com entupimento, distribuição de água não-uniforme .. 73 Figura 41 Fluxograma para limpeza de condensador evaporativo ........................... 74 Figura 42 Acoplamentos motor/ventilador com correias faltantes ........................... 75 Figura 43 Média diária da pressão de descarga do sistema de refrigeração ............. 76 Figura 44 Pressão ótima de descarga em função da TBU ........................................ 77 Figura 44 Princípio de operação da estação meteorológica ..................................... 78 Figura 46 Estação Meteorológica ........................................................................... 79 13 Figura 47 Válvulas automáticas para purga de fundo das bacias dos condensadores ... ............................................................................................................... 81 Figura 48 Procedimento para verificação da presença de incondensáveis ............... 84 Figura 49 Procedimento de purga de incondensáveis pela saída de amônia líquida ..... ............................................................................................................... 85 Figura 50 Procedimento de purga de incondensáveis pela entrada de amônia gasosa .. ............................................................................................................... 86 Figura 51 Purga de incondensáveis no reservatório de líquido ................................ 87 Figura 52 Purga de incondensáveis com equipamento automático .......................... 88 Figura 53 Sistema de refrigeração com separação de regimes ................................. 90 Figura 54 Esquemático de URL e válvulas de controle de sucção. .......................... 91 Figura 55 Diagrama representativo da automação................................................... 93 Figura 56 Exemplo de evaporador com presença de óleo ...................................... 101 Figura 57 Purga manual de óleo no evaporador .................................................... 101 Figura 58 Purga semi-automática de óleo utilizando pote de coleta com resistência .... ............................................................................................................. 102 Figura 59 Gráfico do consumo elétrico dos compressores – antes e depois ........... 104 Figura 60 Gráfico do consumo elétrico dos condensadores – antes e depois ......... 104 Figura 61 Gráfico do consumo elétrico dos compressores + condensadores .......... 105 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Fatores de correção para capacidade de rejeição de calor ........................ 46 Tabela 2 Dados dos compressores de amônia do sistema ....................................... 67 Tabela 3 Dados dos condensadores evaporativos do sistema ................................. 67 Tabela 4 Fatores de correção para condensadores evaporativos ............................. 68 Tabela 5 Processos e Consumos do Sistema Etanol ............................................... 69 Tabela 6 Processos Consumidores de ATG ........................................................... 70 Tabela 7 Equipamentos e potências elétricas ......................................................... 71 Tabela 8 Pressão de descarga ................................................................................ 88 Tabela 9 Dados do compressor MYCOM N250 VSD operando no regime de sucção de 2,2 bar ................................................................................................ 98 Tabela 10 Dados do compressor MYCOM N250 VSD operando no regime de sucção de 2,2 bar ................................................................................................ 99 Tabela 11 Pressão de sucção do regime de resfriamento de etanol ......................... 103 15 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS AAPG Amônia a Alta Pressão Gasosa AAPL Amônia a Alta Pressão Líquida ABPG Amônia a Baixa Pressão Gasosa ABPL Amônia a Baixa Pressão Líquida ALDOX Sistema para produção de água desaerada ATF Água Tratata Fria ATG Água Tratada Gelada ATQ Água Tratada Quente CLP Controlador Lógico Programável COP Coeficiente de Performance CVP Piloto Mecânico CVQ Piloto Eletrônico EKC 347 Controlador de Nível no Separador de Líquido EKC 361 Controlador de Temperatura no Evaporador EVM Piloto Solenóide FERMAT Processo Entre as Etapas de Fermentação e Filtração NH3 Amônia PID Proporcional – Integral – Derivativo PM Válvula de Expansão Servo-pilotada PMI Ponto Morto Inferior PMS Ponto Morto Superior PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica PT 1000 Sensor de Temperatura R-717 Amônia SV Válvula de Deslizamento – Slide Valve TBU Temperatura de Bulbo Úmido URL Unidade Resfriadora de Líquido 16 1 INTRODUÇÃO A gestão dos recursos de energia é hoje um dos principais desafios que, em nível mundial, a sociedade moderna enfrenta. O desenvolvimento econômico prevalecente nas últimas décadas caracterizou-se pela utilização muito intensa de energia gerada a partir de recursos de origem fóssil. A natureza finita desses recursos naturais, e o impacto ambiental da sua produção e consumo, alertaram o mundo para a necessidade de mudança dessas premissas de suporte ao modelo de desenvolvimento. Aliada a esta realidade surgiram, ainda, as evidências da globalização que hoje nos demonstram a interdependência de fatores que antes eram olhados como independentes, tais como o acesso e a utilização de energia e o desenvolvimento econômico, o combate à pobreza e as preocupações ambientais e climáticas, entre outros. A energia é um insumo fundamental para assegurar o desenvolvimento econômico e social de um país. Devido a sua importância, foi criado pelos Ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio e gerido por uma secretaria executiva subordinada à Eletrobrás o PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Seu objetivo é promover a racionalização da geração e do consumo de energia elétrica para que se elimine o desperdício e se reduza os custos e os investimentos setoriais (PROCEL, 2011). A racionalização de seu uso apresenta-se como alternativa de baixo custo e de curto prazo de implantação (MONTEIRO e ROCHA, 2005). Em alguns casos, significativas economias podem ser obtidas apenas com mudanças de procedimentos e de hábitos, além de impactar positivamente o meio ambiente. Dentre os aspectos econômicos envolvidos nas atividades de racionalização do uso de energia, deve-se destacar a valorização da imagem e a visão estratégica da empresa. Hoje, o mercado exige produtos de empresas comprometidas com ações de proteção ao meio ambiente. Devido à proporção que os equipamentos componentes do sistema de refrigeração representam no consumo de energia elétrica, a sua eficiência energética é cada vez mais relevante. 17 A proposta contida neste trabalho tem como objetivo aumentar a eficiência energética de um sistema de refrigeração industrial, através da diminuição de seu consumo de energia elétrica. A metodologia consiste em realizar uma avaliação dos componentes do sistema de refrigeração, de forma a diagnosticar as causas de ineficiência e identificar oportunidades para melhoria do mesmo. Algumas oportunidades consistem na implementação de ações atreladas a investimento, e outras consistem apenas em ações operacionais sem necessidade de investimento. Refrigeração pode ser definida como um processo físico, no qual ocorre a transferência contínua de energia térmica de um corpo, ambiente ou substância, havendo em seguida a transferência do calor retirado para outro corpo, outro ambiente ou outra substância, sendo considerados os processos cujas reduções ou conservações de temperatura sejam inferiores à temperatura do ambiente circundante. Sistemas de refrigeração são utilizados com o objetivo de viabilizar processos, processar e conservar produtos ou efetuar climatização para conforto. O calor é transferido de um corpo mais quente para um mais frio, de três formas diferentes: radiação, condução e convecção. Estes dois últimos modos de transferência de calor, em particular, são predominantes na concepção dos dispositivos de refrigeração. No processo produtivo de cerveja, que é o caso do estudo apresentado, o sistema de refrigeração tem uma importância vital. É ele o responsável pelas etapas de refrigeração que o processo de fabricação exige, bem como pela conservação dos produtos em tanques e adegas. Os sistemas de refrigeração industrial operam em grande parte do tempo fora de suas condições nominais de projeto, e isto se deve ao fato de serem projetados para atender todos os processos de forma simultânea, ou seja, para atender a maior demanda esperada. Além de outras ações de melhoria de eficiência no sistema de refrigeração, utilizar propriedades e parâmetros de modulação para os períodos de demanda fora de pico é uma premissa importante para a redução do consumo de energia. 18 O trabalho é estruturado como segue: No capítulo 2, é apresentada uma revisão bibliográfica sobre eficiência energética em indústria de bebidas, bem como sistemas de refrigeração com ciclo de refrigeração por compressão de vapor. No capítulo 3, são detalhados os componentes do sistema de refrigeração, com conceitos sobre o seu funcionamento e princípios de operação. No capítulo 4, são abordados os processos envolvidos na produção de cerveja, bem como descritas as etapas nas quais são necessários processos de refrigeração. No capítulo 5 é feita a caracterização do objeto do estudo de caso. No capítulo 6, são detalhadas todas as ações para aumento na eficiência energética do caso estudado, com seus respectivos resultados. No capítulo 7, a conclusão do trabalho realizado é apresentada. 19 2 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E REFRIGERAÇÃO Ações para melhoria de eficiência energética em indústria de bebidas podem ser estudadas e aplicadas em diversos setores da planta, seja no sistema de refrigeração, no sistema de ar comprimido, bombeamento, uso de água, sistema de produção de vapor, cogeração, iluminação, motores, entre outros. Práticas para redução no consumo de água para a produção de cerveja, ações para recuperação do calor no processo de fervura, retorno de condensado, aplicação de motores de alto rendimento são apresentadas por SANTOS e RIBEIRO (2005). SOLA e KOVALESKI (2004) estudaram alguns segmentos de indústria, incluindo produção de bebidas, questionando temas como conscientização para eficiência energética, gestão energética e políticas de uso de tecnologias energeticamente eficientes. LEITE (2010) aborda eficiência energética em diversos segmentos industriais, mostrando os tipos de uso de energia e respectivos potenciais de ganho. Afirmam também que existe uma excelente oportunidade para avançar nesta direção, aproveitando a experiência acumulada, os resultados dos estudos e o momento político favorável para construir estratégias de longo prazo que estimulem o mercado industrial de eficiência energética. Na indústria de alimentos e bebidas, os principais processos e equipamentos consumidores de energia térmica para uso final na forma de aquecimento direto são os secadores e fornos. Já o calor de processo é utilizado no cozimento, destilação, evaporação, pasteurização/esterilização, e principalmente limpeza – lavagem a quente de máquinas e instalações, freqüentemente com água em pressão elevada. Os principais processos consumidores de energia elétrica são refrigeração, resfriamento e condicionamento de ar. Para força motriz são extrusão, moagem, trituração ou pulverização e mistura (BAJAY, GORLA e ROCHA, 2010). BARBOSA (2010) afirma que as cervejarias têm gasto anual médio superior a US$ 200.000.000,00 com consumo de energia. Estes custos são responsáveis por 3% a 8% do custo total de produção, o que torna a eficiência energética e a redução do consumo um importante recurso para redução no custo produtivo. As medidas de 20 melhoria em eficiência, tanto para o setor de utilidades quanto para outros setores, será vista como uma boa oportunidade de redução de custos. 2.1. Introdução à Refrigeração O emprego dos meios de refrigeração já era do conhecimento humano mesmo na época das mais antigas civilizações (FERRAZ e GOMES, 2008). Cerca de 25% da produção de alimentos perecíveis no mundo é refrigerada (GEORGE, 1993), existindo ainda uma vasta estrutura para produção, transporte e estocagem desses alimentos. Por outro lado, refrigeração pode ser utilizada em processos de mudança das características ou mesmo estrutura química, denominando-se processamento de alimentos. Entre aqueles que são submetidos a processos que utilizam refrigeração durante sua preparação podem ser citados: café instantâneo, queijos e bebidas como cerveja, vinhos, sucos cítricos (STOECKER e JABARDO, 2002). Entre os principais sistemas de refrigeração estão os sistemas por absorção, os sistemas por efeito termoelétricos e os sistemas por compressão de vapor. Os sistemas por compressão de vapor são predominantes, especialmente nas instalações industriais para processamento e armazenagem de alimentos e em equipamentos de pequeno porte, como refrigeradores e condicionadores de ar compactos. O ciclo de refrigeração tem como finalidade atingir as temperaturas necessárias ao processamento e armazenagem dos produtos. Os requisitos de temperatura e pressão ideais de operação do ciclo de refrigeração são determinados pelo conhecimento das características do produto e do processo, bem como do ciclo e seus componentes. 21 2.2. Ciclo de Refrigeração por Compressão de Vapor No ciclo de refrigeração por compressão de vapor, o trabalho fornecido ao compressor é utilizado para elevar a pressão e a temperatura do fluido refrigerante gasoso que chega ao compressor. O vapor, a alta pressão e temperatura, segue até o condensador onde rejeita calor para o meio, condensando o fluido refrigerante. O líquido condensado segue em direção a um dispositivo de expansão, onde passa do estado líquido a alta pressão (num processo isoentálpico) para uma mistura líquido- vapor, a baixa pressão e temperatura. O fluido refrigerante então retira calor do ambiente ou sistema a ser refrigerado, utilizando esse calor para se vaporizar, seguindo em direção ao compressor, onde completa o ciclo. 2.2.1 Ciclo Teórico de Refrigeração por Compressão de Vapor O ciclo de Carnot é o ciclo de maior rendimento térmico possível e destaca-se por se tratar de um ciclo ideal (reversível) que opera entre dois níveis de temperatura. Representa um meio relativamente simples de se avaliar a influência das temperaturas de operação. Define-se como ciclo teórico de refrigeração por compressão de vapor um ciclo no qual os processos são mais próximos aos do ciclo real. Desta forma, torna-se mais fácil comparar o ciclo real com o ciclo teórico, que terá melhor performance operando nas mesmas condições do ciclo real (STOECKER e JABARDO, 2002). A Figura 1 representa o ciclo teórico de um sistema de refrigeração por compressão de vapor com seus principais componentes, e o seu respectivo ciclo teórico construído sobre um diagrama de Mollier, no plano P-h. Os processos termodinâmicos que constituem o ciclo teórico em seus respetivos equipamentos são: a) Processo 1 2: Ocorre no compressor, sendo um processo adiabático reversível e, portanto, isoentrópico. O refrigerante entra no compressor à 22 pressão do evaporador (P0) e com título igual a 1 (x=1). O refrigerante é então comprimido até atingir a pressão de condensação (Pc) e, ao sair do compressor está superaquecido à temperatura T2 (ELETROBRÁS, 2005). Figura 1 Ciclo teórico de refrigeração por compressão de vapor (Eletrobrás, 2005) b) Processo 2→3: Ocorre no condensador, sendo um processo de rejeição de calor do refrigerante para o meio de resfriamento (ar, água ou outro fluido), à pressão constante. Neste processo, o fluido refrigerante é resfriado da temperatura T2 até a temperatura de condensação TC e, a seguir, condensado até se tornar líquido saturado na temperatura T3 (ELETROBRÁS, 2005). 23 c) Processo 3→4: Ocorre no dispositivo de expansão, sendo uma expansão irreversível a entalpia constante (processo isentálpico), desde a pressão PC e líquido saturado (x=0), até a pressão de vaporização (Po). Observe que o processo é irreversível e, portanto, a entropia do refrigerante na saída do dispositivo de expansão (s4) será maior que a entropia do refrigerante na sua entrada (s3) (ELETROBRÁS, 2005). d) Processo 4→1. Ocorre no evaporador, sendo um processo de transferência de calor a pressão constante (Po), conseqüentemente a temperatura constante (To), desde vapor úmido (estado 4), até atingir o estado de vapor saturado seco (x=1) (ELETROBRÁS, 2005). 2.2.2 Ciclo Real de Refrigeração por Compressão de Vapor As principais diferenças entre o ciclo teórico e o ciclo real são descritas abaixo, e podem ser observadas na Figura 2: a) Queda de pressão nas linhas de descarga, líquido e de sução, assim como no condensador e no evaporador; b) Eventual sub-resfriamento do fluido refrigerante na saída do condensador, já que nem todos os sistemas são projetados com sub-resfriamento; c) Superaquecimento da sucção do compressor, que é um processo importante de modo a evitar a entrada de líquido no compressor. d) Processo de compressão é isentrópico no ciclo teórico e no ciclo real é politrópico. 24 Figura 2 Diferenças entre o ciclo teórico e o ciclo real de refrigeração (Eletrobrás, 2005) 2.2.3 Balanço de Energia para o Ciclo de Refrigeração por Compressão de Vapor Considera-se o sistema operando em regime permanente nas condições de projeto, ou seja, à temperatura de condensação TC e temperatura de evaporação T0. 2.2.3.1 Capacidade Frigorífica A quantidade de calor, por unidade de tempo, que é retirada do meio ou do produto que se quer refrigerar, através do evaporador do sistema de refrigeração, é chamada de capacidade frigorífica ( 0Q ), representada na Figura 3. Pela primeira lei da termodinâmica aplicada a um volume de controle, e considerando que o sistema opera em regime permanente e que as variações de energia cinética e potencial são desprezíveis, tem-se: 25 Figura 3 Processo de transferência de calor no evaporador (Eletrobrás, 2005) )( 410 hhmQ f (1) onde: 0Q : Capacidade Frigorífica [kW] fm : Vazão de fluido refrigerante [kg/s] 1h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 1 [kJ/kg] 4h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 4 [kJ/kg] Normalmente se conhece a capacidade frigorífica do sistema de refrigeração, que deve ser igual à carga térmica para operação em regime permanente. A completa determinação dos estados representativos do ciclo padrão de compressão de vapor pode permitir a avaliação da vazão de refrigerante e a vazão volumétrica deslocada pelo compressor, além de propiciar uma estimativa adequada de pressões e temperaturas. 2.2.3.2 Potência de Compressão A quantidade de energia, por unidade de tempo, que deve ser fornecida ao refrigerante, no compressor, para se obter a elevação de pressão necessária ao ciclo é 26 chamada de potência de compressão. Este processo de compressão é adiabático reversível (isentrópico), como é observado na Figura 4. Considerando-se desprezíveis as variações de energia cinética e potencial, e aplicando-se a primeira lei da termodinâmica, em regime permanente, no volume de controle da Figura 4, tem-se: )( 12 hhmW fC (2) onde: CW : Potência de compressão [kW] fm : Vazão de fluido refrigerante [kg/s] 2h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 2 [kJ/kg] 1h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 1 [kJ/kg] Figura 4 Processo de compressão adiabático reversível no compressor (Eletrobrás, 2005) A potência real de compressão pode também ser razoavelmente estimada se a eficiência do compressor for corretamente assumida. Estes dados estão disponíveis em catálogos dos fabricantes de compressores e são fundamentais para o correto dimensionamento do sistema. 27 2.2.3.3 Calor Rejeitado no Condensador A função do condensador é transferir calor do fluido refrigerante para o meio de resfriamento (água ou ar). Esta vazão é determinada através de um balanço de energia no volume de controle da Figura 5. Assim, considerando o regime permanente, tem-se: )( 32 hhmQ fC (3) onde: CW : Calor rejeitado no condensador [kW] fm : Vazão de fluido refrigerante [kg/s] 2h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 2 [kJ/kg] 3h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 3 [kJ/kg] Figura 5 Processo de transferência de calor no condensador (Eletrobrás, 2005) 28 2.2.3.4 Dispositivo de Expansão No dispositivo de expansão, o processo teórico é adiabático, sem geração de trabalho, como mostra a Figura 6. Aplicando-se a primeira lei da termodinâmica, em regime permanente, e considerando desprezíveis as variações de energia cinética e potencial, tem-se: 43 hh (4) onde: 3h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 3 [kJ/kg] 4h : Entalpia do fluido refrigerante no ponto 4 [kJ/kg] Figura 6 Processo no dispositivo de expansão (Eletrobrás, 2005) 2.2.4 Coeficiente de Performance (COP) O parâmetro de eficiência utilizado na análise das instalações frigoríficas é o Coeficiente de Eficiência ou Coeficiente de Performance (COP - Coefficient of Performance), definido por: CW Q COP 0 (5) onde: 0Q : calor removido do ambiente a baixa temperatura (energia útil) LW : trabalho líquido (energia gasta) 29 A Figura 7 mostra esquematicamente o diagrama p-h para o Ciclo de Carnot. Neste caso, o coeficiente de performance pode ser escrito como: 12 1 321322 321 TT T ssTssT ssTCOPCarnot (6) onde os índices referem-se aos estados da Figura 7, T: temperatura (K) s: entropia (kJ/kgK) Figura 7 Diagrama p-h do ciclo frigorífico de Carnot Pode-se dizer ainda que o COP do ciclo está relacionado às diferenças de temperatura entre o ambiente refrigerado e o evaporado e entre o condensador e a atmosfera. Para um ciclo de compressão a vapor básico, temos: 12 41 hh hhCOP (7) onde os índices se referem aos estados apresentados na Figura 1. A obtenção de um COP elevado está relacionada à redução do trabalho necessário para um dado efeito de refrigeração (ASHRAE, 1986). A redução da temperatura de condensação/pressão de descarga ou a elevação da temperatura de 30 evaporação/pressão de sucção implicam num aumento do COP, como podemos observar nos diagramas e gráficos das Figuras 8 e 9, a seguir. Figura 8 Influência da temperatura de condensação/pressão de descarga no COP. (Eletrobrás, 2005) Figura 9 Influência da temperatura de evaporação/pressão de sucção no COP. (Eletrobrás, 2005) 2.2.5 Sistema com Separação de Regimes – Multipressão Sistemas com separação de regimes de sucção são sistemas de refrigeração, por compressão de vapor, que possuem dois ou mais níveis de baixa pressão, entre o dispositivo de expansão e a sucção do compressor. Sistemas que contam com separação de regimes podem ser encontrados, por exemplo, em indústrias de bebidas, laticínios, frigoríficos, etc. 31 Como são diversos os processos na produção de cerveja, com diversos requerimentos de temperatura, é possível operar com coletores independentes de fluido refrigerante, de modo a aumentar ao máximo a eficiência do sistema. Ou seja, ao invés de possuir um único regime de sucção para todos os compressores, e fazer o controle de temperaturas e pressões de evaporação através de válvulas de expansão dos evaporadores, opera-se com dois coletores independentes de amônia, e compressores dedicados a cada um destes dois sistemas, os quais diferem nos parâmetros de pressão de sucção operacionais de acordo com os processos atendidos. Na Figura 10, pode-se observar um compressor dedicado a regime de pressão de sucção. Numa instalação real, por exemplo, um conjunto poderia operar à temperatura de -5,0ºC para atender determinado processo, enquanto outro poderia operar à 0,5ºC para resfriar água. Figura 10 Compressor dedicado a um regime de pressão de sucção Atualmente a proposta de separação de regimes apresenta um custo de projeto bastante elevado, além da necessidade de paradas para a adequação, o que representa também certo prejuízo por deixar de produzir. Portanto, qualquer decisão de se implementar divisão de regimes em indústrias que já operam com sistema unificado deve ser baseada em uma análise econômica. A redução na potência consumida 32 precisa compensar o custo dos equipamentos adicionais para justificar tal investimento (TASSINI, SILVEIRA e MAGALHÃES SOBRINHO, 2011). 33 3 COMPONENTES DO SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO Neste capítulo são descritos e detalhados os componentes de um sistema de refrigeração industrial, bem como os parâmetros que têm influência sobre sua eficiência. 3.1. Compressores O compressor é um equipamento mecânico capaz de transferir a energia recebida do motor elétrico para o fluido refrigerante, e se caracteriza como um dos principais componentes do sistema de refrigeração. Sua função é aumentar a pressão do fluido refrigerante e promover a circulação desse fluido no sistema. Nas instalações industriais, os principais tipos de compressores encontrados são alternativo e parafuso, utilizando R-717 (amônia anidra – NH3) como fluido refrigerante (YORK REFRIGERATION, 2008). A escolha do tipo de compressor depende essencialmente da capacidade da instalação, da temperatura de vaporização e do fluido refrigerante utilizado. Dependendo da concepção de projeto, os compressores podem ser classificados como herméticos, semi-herméticos e abertos, sendo que em instalações industriais são encontrados predominantemente compressores abertos, que permitem manutenções e revisões periódicas com mais facilidade. Neste tipo de compressor, o eixo de acionamento do compressor atravessa a carcaça, permitindo o acionamento por um motor externo. Esse tipo de compressor é adequado para operar com amônia, podendo também utilizar refrigerantes halogenados. 34 3.1.1 Compressores Alternativos Os compressores alternativos são amplamente utilizados em sistemas de refrigeração em sistemas de pequena e média capacidade e podem ser: - de simples efeito (pistão de uma cabeça comprimindo apenas para um lado) ou de duplo efeito (pistão de duas cabeças comprimindo gás nos dois sentidos); - de um ou mais cilindros; - abertos, herméticos ou semi-herméticos; e - horizontais, verticais, em V, em W ou radiais. A Figura 11 apresenta, esquematicamente, o princípio de funcionamento de um compressor alternativo aberto. O fluido refrigerante evaporado é succionado (2) através da válvula de passagem de sucção, onde as impurezas são retidas pelo filtro e entra na câmara de sucção do cárter (3, 4). Quando o pistão (5) inicia o curso de sucção, a pressão dentro das camisas (6) diminui, fazendo com que o gás existente na câmara de sucção entre nos cilindros, após abrir as válvulas de sucção (7). Quando o pistão inicia seu curso para cima, a válvula de sucção se fecha e o gás é comprimido. Quando a pressão do gás nos cilindros ultrapassa a pressão de câmara de descarga, as válvulas de descarga (8) se abrem e o gás é descarregado através do tubo em forma de cotovelo (9) e conduzido para o condensador (MAYEKAWA, 2008). Figura 11 Mecanismo compressor alternativo (Mayekawa, 2008) 35 A eficiência volumétrica efetiva é definida como: 100_ V Q efv (8) onde: Q : vazão que entra no compressor [m3/s]; V : taxa de deslocamento do compressor [m3/s], dada pelo volume coberto pelos êmbolos, do ponto morto superior (PMS) ao ponto morto inferior (PMI), durante o tempo de aspiração, por unidade de tempo. 3.1.2 Compressores Parafuso Os compressores parafuso são hoje muito usados em refrigeração industrial para a compressão de amônia e outros gases, e são geralmente utilizados em instalações de grande carga térmica. Por não possuírem válvulas de admissão e descarga, este tipo de compressor funciona em alta rotação, combinando grandes capacidades com dimensões externas reduzidas. Um compressor parafuso é uma máquina de deslocamento positivo que possui dois rotores acoplados, montados em mancais para fixar suas posições na câmara de trabalho numa tolerância estreita em relação à cavidade cilíndrica. O rotor macho tem um perfil convexo, ao contrário do rotor fêmea, que possui perfil côncavo (PILLIS, 2005). Sua geometria básica pode ser observada na Figura 12. Figura 12 Geometria básica do compressor parafuso (Pillis, 2005) 36 Os espaços entre os rotores e a folga existente entre os mesmos e a carcaça são selados por meio de injeção de óleo entre os rotores. O compressor parafuso selado com óleo aumenta o rendimento volumétrico retirando parte do calor ganho na compressão (MAYEKAWA, 2008). A separação do óleo nebulizado misturado ao gás é realizada através do filtro coalescente, onde as pequenas partículas de óleo são retidas em gotas maiores, sendo direcionadas até o fundo do coletor do filtro. Este óleo é então coletado e retorna ao compressor para reutilização. Um separador de óleo com as respectivas indicações é mostrado na Figura 13. Figura 13 Separador de óleo e filtro coalescente (Mayekawa, 2008) O óleo lubrificante do compressor pode ser resfriado de três formas, sendo: a) Injeção de líquido: utiliza o fluido refrigerante injetado diretamente em um ponto do bloco do compressor, próximo à descarga de gás a alta pressão. b) Resfriamento por água: utiliza trocadores de calor (de placas ou casco e tubos) para a troca de calor com água em circuitos com torres de resfriamento. c) Resfriamento por termosifão: utiliza trocador de calor do tipo casco e tubos para troca de calor com amônia líquida provinda dos condensadores. Funciona como um evaporador inundado por gravidade, com temperatura de evaporação controlada pela pressão do condensador. 37 O ciclo de operação possui três fases: sucção, compressão e descarga. Os componentes do conjunto compressor-motor-separador de óleo podem ser observados na Figura 14, com as indicações de tubulação de sucção e descarga de gás. Figura 14 Conjunto compressor parafuso (Adaptado de Mayekawa, 2008) O gás é comprimido pela rotação dos rotores acoplados, e então percorre o espaço entre os lóbulos enquanto é transferido axialmente desde a sucção até a descarga. Conforme comenta PILLIS (2005), uma característica que é fundamental no projeto de compressores é a razão entre volumes. Quando a razão entre volumes do compressor for muito alta para uma dada condição de operação, a pressão de descarga interna é maior que a pressão de descarga do sistema, o que é chamado de sobre- compressão, conforme pode ser observado na Figura 15. Esta situação acarreta um trabalho maior comparada à situação que ocorre quando a compressão é interrompida quando as pressões interna e do sistema se equalizam, mostrando que o consumo de energia é maior neste caso, já que não é necessário realizar o trabalho de compressão até este nível de pressão, devido à dissipação do trabalho durante a expansão do fluido entre as pressões de descarga interna e do sistema. 38 Figura 15 Sobre-compressão diagrama p-V (Pillis, 2005) Se a razão entre volumes é muito baixa para as condições de operação do sistema, ocorre a sub-compressão, conforme representado na Figura 16. Este caso mostra a ocorrência de realização de trabalho extra para elevar a pressão de descarga interna até o nível da pressão interna do sistema, devido à abertura para descarga ocorrer antes da pressão do gás atingir a pressão de descarga, o que provoca a elevação da pressão de descarga. Figura 16 Sub-compressão diagrama p-V (Pillis, 2005) Quando ocorre sobre-compressão ou sub-compressão, o funcionamento do compressor não é prejudicado e não há alteração no volume deslocado, porém a potência requerida é maior do que ocorreria na situação desejável – quando as aberturas de descarga estão localizadas corretamente de acordo com a razão entre volumes necessária – acarretando maior custo energético. 39 A capacidade de um compressor parafuso pode ser controlada de modo a variar a quantidade de gás que entra na câmara, de acordo com a demanda e variação de carga térmica. Pode ser utilizada a válvula interna deslizante (conhecida na prática como slide valve – SV), bem como controle por velocidade variável, utilizando inversor de freqüência. No entanto, vale ressaltar aqui que para cargas inferiores a 50%, verifica-se uma eficiência relativamente baixa dos compressores parafuso com controle de capacidade operados pela slide valve (SALVADOR, 1999). Além disso, apesar de se manter a mesma razão entre volumes tanto à carga parcial como à carga total, a potência consumida não se reduz significativamente, conforme pode ser observado na Figura 17. Figura 17 Potência demandada no eixo do compressor em função da capacidade (Salvador, 1999) A variação de velocidade tem se apresentado como a melhor alternativa, do ponto de vista energético, para controle de capacidade nos compressores parafuso e pode ser efetuada utilizando-se os acionamentos por inversores de freqüência, que permite que a potência do compressor decresça com a rotação dos rotores e com a razão de compressão. Uma típica variação da freqüência causará uma perda em torno 40 de 3% quando operando à carga total, além de uma perda adicional de 2,5% na eficiência do motor. Isto dá uma perda de aproximadamente 5,5% à carga total (PILLIS, 2005). Como a maioria das instalações industriais é composta por um grupo de compressores, o ideal é que alguns dos compressores do sistema sejam dotados de inversor de freqüência para que possam variar sua velocidade de acordo com a variação da demanda (carga térmica). Os demais compressores operariam na base do sistema, ou seja, atendendo uma carga térmica mínima fixa. O perfil de carga térmica, bem como as condições de operação esperadas numa determinada aplicação, devem ser levados em conta para verificar a viabilidade de controle por velocidade variável em compressores, já que há limites de velocidade abaixo dos quais pode haver falhas de lubrificação nos mancais. Neste caso, o fabricante deve ser consultado. 3.2. Condensadores Condensadores são os elementos do sistema de refrigeração que têm a função de transformar o gás quente a alta pressão, oriundo do compressor, em líquido, rejeitando o calor contido no fluido refrigerante para algum meio. Os quatro tipos de condensadores aplicados na refrigeração industrial estão apresentados na Figura 18. Podem ser resfriados a ar (a), resfriados a água – casco- tubo (b) ou a placas (c) – e evaporativos (d). Na refrigeração industrial predomina o tipo evaporativo, bem como os conjuntos de condensadores a placas com torres de resfriamento (MARTINELLI JUNIOR, 2003). Os condensadores evaporativos possuem característica construtiva semelhante a uma torre de resfriamento. O calor rejeitado pelo refrigerante é transferido sucessivamente à água e ao ar ambiente. Nos condensadores a placas, o fluido refrigerante é condensado e escoa no sentido descendente, enquanto a água circula no 41 sentido ascendente. A água aquecida pela condensação do refrigerante é circulada por bombas através de uma torre de resfriamento, de onde retorna ao condensador. Figura 18 Tipos de condensadores (a) Resfriado a ar; (b) resfriado a água tipo carcaça-tubos; (c) de placas; (d) evaporativo (Stoecker e Jabardo, 2002) O processo de condensação é dividido em três fases e é apresentado na Figura 19. a) Dessuperaquecimento: O fluido refrigerante em estado gasoso, quando é descarregado do compressor, está a alta temperatura. Este processo consiste em reduzir esta temperatura, retirando o calor sensível do fluido refrigerante (ainda no estado gasoso), até que seja atingida a temperatura de condensação. b) Condensação: Ao atingir a temperatura de condensação, começa o processo de mudança de estado, ou seja, é retirado calor latente do fluido refrigerante, mantendo a temperatura constante durante este processo. c) Sub-resfriamento: Após a condensação, agora no estado líquido (saturado), é retirado mais calor sensível do fluido. Este processo nem sempre ocorre. 42 Figura 19 Fases da condensação (adaptada de Martinelli Junior, 2003) 3.2.1 Condensadores Evaporativos Por permitirem operação a temperaturas de condensação relativamente baixas, os condensadores do tipo evaporativos são os mais utilizados em instalações de refrigeração industrial. Seu detalhamento pode ser observado na Figura 20, a seguir: Figura 20 Condensador evaporativo (Semco, 2007a) 43 Na parte superior estão instalados os bicos aspersores, que distribuem e pulverizam a água sobre as serpentinas de condensação. A água escoa em contra- corrente com o ar forçado pelo ventilador. O ar forçado, sobre a serpentina, causa a evaporação de uma pequena quantidade de água e, portanto, esta evaporação retira calor da serpentina resfriando-a com conseqüente condensação do gás. As serpentinas são projetadas para uma baixa perda de carga, com tubos em espiral, a fim de possibilitar o rápido escoamento do fluido. O sistema de distribuição de água consiste de distribuidores e ramais de pulverização, com bicos aspersores plásticos, de grande diâmetro para evitar entupimento por sujeira, permitindo um completo molhamento da serpentina. Os eliminadores de gotas separam as gotas de água do fluxo de ar através de deflexões direcionais. O detalhe do condensador evaporativo mostrado na Figura 20 trata-se de um modelo com ventilador centrífugo. Existem também modelos com ventiladores axiais instalados na parte superior que operam como exaustores, exemplo da Figura 21. O princípio de operação é o mesmo descrito anteriormente, sendo que a única diferença é o posicionamento e o tipo dos ventiladores. Enquanto os ventiladores centrífugos são acoplados através de correias, os ventiladores de fluxo axial são acoplados diretamente aos motores elétricos. Figura 21 Condensador evaporativo com ventiladores axiais (Semco, 2007b) 44 Os ventiladores centrífugos descarregam o ar na direção normal à direção de entrada, enquanto os ventiladores axiais mantêm a direção do ar no eixo antes e após sua passagem pelo rotor. O dimensionamento e seleção dos condensadores evaporativos levam em consideração diversos fatores, como o tipo do refrigerante, a temperatura de bulbo úmido (deve ser utilizada a média das maiores temperaturas de bulbo úmido do local da instalação), entre outros. Mais detalhes podem ser encontrados em ASHRAE (1986), bem como nos catálogos dos fabricantes, que dispõem de exemplos, tabelas e gráficos para facilitar a seleção. Os efeitos das temperaturas de bulbo úmido e de condensação influenciam diretamente a capacidade dos condensadores evaporativos, bem como a temperatura de sucção, existindo fatores de correção para a capacidade de rejeição de calor. F QQ REF CORR (9) onde: CORRQ : Capacidade de Condensação corrigida [kW] REFQ : Capacidade de Condensação na condição de referência [kW] F: Fator de Correção Estes fatores de correção dependem do fabricante e do modelo do condensador, onde os dados são apresentados em termos das capacidades dos diversos modelos, a uma condição de referência definida em função das temperaturas de condensação e de bulbo úmido do ar ambiente local (STOECKER e JABARDO, 2002). Num condensador evaporativo, a principal contribuição para o resfriamento da água utilizada no processo de condensação do fluido refrigerante é dada pela evaporação de parte desta água que recircula no condensador evaporativo, assim como ocorre nas torres de resfriamento. Quando a temperatura da água é superior à temperatura de bulbo úmido do ar, ocorre o aumento da entalpia do ar, sendo que a água transfere o calor necessário para esta elevação. A temperatura de água na saída dos condensadores evaporativos (recirculação) tende à temperatura de bulbo úmido do ar. 45 Existe uma significativa influência da temperatura de bulbo úmido sobre a capacidade de condensação. Observa-se que o fator de correção aumenta com a temperatura de condensação e se reduz com a temperatura de bulbo úmido, como pode ser observado na Figura 22. A condição de referência corresponde a uma temperatura de condensação de 40ºC e TBU ambiente de 27ºC (STOECKER e JABARDO, 2002). Figura 22 Fator de correção para capacidade de condensador evaporativo de amônia (STOECKER e JABARDO, 2002) Os fabricantes de condensadores evaporativos apresentam em seus catálogos técnicos os fatores de correção para capacidade de rejeição de calor de acordo com o fluido refrigerante a ser utilizado, além das temperaturas de condensação e temperatura de bulbo úmido de projeto. Estas tabelas ou gráficos são utilizados no dimensionamento e seleção dos condensadores. Outro aspecto importante é o fator de correção de capacidade para dessuperaquecimento do fluido refrigerante em função da temperatura de sucção, usual em instalações de sistema de refrigeração por amônia. Estes valores podem ser observados na Tabela 1. 46 Tabela 1 Fatores de correção para capacidade de rejeição de calor (SEMCO, 2007a) Utilizando-se a Primeira Lei da Termodinâmica e considerando que neste processo o meio de resfriamento não altera sua fase, pode-se escrever: easapaC TTcmQ (10) onde: CQ : Calor recebido pelo meio de resfriamento am : vazão mássica do meio de resfriamento cp : calor específico, a pressão constante, do meio de resfriamento Tsa: temperatura do meio de resfriamento na saída do condensador Tea: temperatura do meio de resfriamento na entrada do condensador 3.3. Reservatórios / Separadores de Líquido Para armazenar a carga total de refrigerante, seja durante as paradas de manutenção ou durante as variações de carga térmica durante o processo produtivo, todo sistema de refrigeração deve ter um reservatório, permitindo que os evaporadores sejam continuamente abastecidos. Em sistemas industriais, está localizado usualmente abaixo dos condensadores, de forma a receber por gravidade, o refrigerante líquido. A carga total de refrigerante não deve ultrapassar 90% do volume do reservatório, para uma temperatura de armazenamento de até 40ºC. Para temperaturas de armazenamento maiores que 40ºC, a carga de refrigerante não deve ser superior a 80% do volume do reservatório (ELETROBRÁS, 2005). 47 Na prática são chamados reservatório de líquido, garrafa ou tanque de acumulação os reservatórios que armazenam o refrigerante a alta pressão proveniente dos condensadores. Um exemplo pode ser observado na Figura 23. Figura 23 Reservatório de amônia a alta pressão líquida (AAPL) Os reservatórios de líquido de baixa pressão têm a função de separar líquido e vapor e evitar que o refrigerante em estado líquido seja aspirado pelos compressores. São na prática chamados de separadores de líquido. A outra função do separador é a de absorver as variações de volume de refrigerante conseqüentes das mudanças de carga e na pressão de sucção, ocasionadas pela variação de capacidade dos compressores e variação da carga térmica dos equipamentos de processo. 3.4. Evaporadores / Unidades Resfriadoras de Líquido (URLs) O evaporador constitui a interface entre o processo de produção e o circuito de refrigeração. É onde ocorre a troca de calor entre o fluido refrigerante e o produto a ser refrigerado, ocorrendo com isto a evaporação do fluido refrigerante. Existem 48 aplicações onde o evaporador troca calor diretamente com o produto, ou casos em que é utilizado para trocar calor com um fluido intermediário, que posteriormente pode ser usado no processo produtivo para a troca de calor com o produto final. Em indústrias alimentícias de bebidas é usual operar o circuito de refrigeração utilizando um fluido intermediário, normalmente solução de etanol ou glicol, que podem chegar a temperaturas abaixo de 0ºC sem riscos de congelamento. Esta opção ganhou espaço ao invés da operação com expansão direta com amônia, já que um vazamento de amônia pode significar a contaminação do produto, além de outros riscos com segurança e operação. Entretanto, existem indústrias que ainda operam utilizando sistemas completos com refrigeração por expansão direta, e outras que ainda a utilizam em parte do circuito de refrigeração. Os evaporadores podem ser de diversos tipos, assim como os condensadores. Nas instalações industriais, normalmente são de placas ou do tipo casco-tubo nas instalações mais antigas. Os evaporadores de placas são os mais encontrados, já que possuem maior área de superfície e ocupam relativamente pouco espaço, além de apresentarem preços competitivos. Utilizando a Primeira Lei da Termodinâmica e considerando que não ocorre condensação do vapor de água do ar, podemos escrever: saeapa TTcmQ0 (11) onde: 0Q : Capacidade frigorífica do evaporador am : vazão mássica do fluido a ser resfriado cp : calor específico, a pressão constante, do fluido a ser resfriado Tea: temperatura de entrada do fluido a ser resfriado no evaporador Tsa: temperatura de saída do fluido a ser resfriado no evaporador Os evaporadores de placas, acoplados a um separador de líquido dedicado, bem como seu dispositivo de expansão com os devidos controles de pressão e temperatura, 49 são na prática chamados de Unidades Resfriadoras de Líquido (URLs), e são mostradas na Figura 24. Figura 24 Exemplos de unidade resfriadora de líquido (URL) 3.5. Válvulas de Expansão As válvulas de expansão reduzem a pressão e regulam a vazão do fluido refrigerante. Quando está instalada na linha de líquido a alta pressão, ela reduz bruscamente a pressão e conseqüentemente a temperatura. Amônia a alta pressão líquida (AAPL) é transformada em amônia a baixa pressão líquida (ABPL) com formação de ‘flash’ (gás de amônia). Quando está instalada na linha de líquido de baixa pressão, ela regula a vazão da amônia, controlando a temperatura de evaporação. 3.5.1 Válvulas de Expansão Manual Caracterizam-se por terem controle estritamente manual, onde a vazão através da válvula depende da diferença de pressão no orifício e da abertura, que é realizada manualmente. 50 A principal desvantagem deste tipo de válvula é a de não responder às mudanças de carga do sistema, tendo a necessidade de serem ajustadas manualmente cada vez que a carga se modificar. Portanto é adequada apenas para instalações nas quais a carga térmica é relativamente constante. 3.5.2 Válvulas de Expansão Automática A válvula de expansão automática funciona para manter uma pressão constante no evaporador, alagando a sua superfície dependendo das mudanças de carga. É constituída por uma agulha e assento, fole ou diafragma de pressão, e uma mola, de tensão variável por meio de um parafuso regulador (CIA CERVEJARIA BRAHMA, 1993). A válvula operará automaticamente para regular a vazão de refrigerante líquido dentro do evaporador de modo que a pressão é mantida, independente da sua carga. As características de operação da válvula de expansão automática são tais que a mesma se fecha suavemente quando o ciclo do compressor é desligado e permanece fechada até que o ciclo do compressor seja ligado outra vez (YORK REFRIGERATION, 2008). 3.5.3 Válvulas de Expansão Termostática São as mais utilizadas e o seu controle é feito pelo superaquecimento do gás de aspiração que deixa o evaporador, e regula a vazão do refrigerante líquido em função da taxa de evaporação. Consiste basicamente em bulbo, capilar e corpo. São controladas simultaneamente pela pressão de sucção e pela temperatura do fluido à saída do evaporador, de modo a garantir leve superaquecimento do fluido que é aspirado pelo compressor. As válvulas de expansão termostáticas são usadas em instalações de refrigeração com um ou mais evaporadores secos, com qualquer tipo de fluido refrigerante (DANFOSS, 2001). 51 3.5.4 Válvulas de Expansão Servo-Pilotadas As válvulas de expansão do tipo PM são as principais válvulas operadas por piloto para regular pressão e temperatura de evaporação em sistemas de refrigeração industrial, sendo as mais encontradas na indústria alimentícia. Trata-se de um regulador de pressão e temperatura acionado por pilotos, formando assim um conjunto servo-controlado. Podem ser usadas em todos os sistemas de refrigeração, seja por expansão direta, sistema bombeado, sistema de adsorção ou em sistema de evaporador inundado. Como são válvulas servo-operadas, a sua função é determinada pelo tipo de piloto utilizado, e controlam a vazão de refrigerante de forma proporcional ou de forma liga- desliga, de acordo com o sinal enviado pelo piloto. Nas indústrias de bebidas, usualmente utiliza-se do modelo PM-3, que possui 3 conexões para pilotos, como podemos observar nas Figuras 25 e 26. Elas são montadas utilizando um piloto solenóide denominado EVM, um piloto mecânico chamado CVP e um piloto eletrônico chamado CVQ, que opera em conjunto com o controlador de temperatura modelo EKC 361 e um sensor de temperatura do tipo PT 1000. É uma das maneiras mais precisas para se controlar a temperatura de evaporação. Por se tratar de um regulador proporcional e integral, é possível obter uma variação mínima da temperatura desejada, e também age como proteção anti-congelamento, pois a válvula modula de acordo com a temperatura de saída do líquido resfriado (DANFOSS, 2001). 52 Figura 25 Válvula PM3 Danfoss (Danfoss, 2001) O piloto mecânico CVP opera nos casos de sobre-pressão, quando a amônia evapora e chega a determinada pressão (regulada mecanicamente no piloto), o mesmo se abre e permite que a amônia a baixa pressão gasosa (ABPG) escoe para a aspiração dos compressores. Figura 26 Válvula PM3 servo-controlada (Danfoss, 2001) 53 A injeção de amônia opera em conjunto com o controlador de nível modelo EKC 347, para modular a vazão de injeção de líquido através de pulsos de tensão. A quantidade de líquido injetada é regulada através da configuração do controlador (intervalos de acionamento e tempo de duração dos pulsos). Na Figura 26, observa-se um painel de comando de uma URL que opera com estes controles. No primeiro display verifica-se o controlador EKC 347, que representa o nível do separador de líquido (38,4%), e o segundo display composto pelo controlador EKC 361 representa a temperatura de saída do líquido refrigerado, no caso solução de etanol 25%, com temperatura de -5,3ºC. Figura 27 Controladores EKC 347 e EKC 361 [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 54 4 PROCESSO PRODUTIVO DE CERVEJA Neste capítulo, é descrito de forma sucinta o processo de fabricação de cerveja. A cerveja é uma bebida fermentada, elaborada através do extrato de malte de cevada, água, lúpulo e fermento cervejeiro. Na sua composição química é formada basicamente de uma pequena quantidade de álcool etílico, gás carbônico e açúcares não fermentáveis. O processo de elaboração consiste basicamente da malteação da cevada (fase de obtenção do malte de cevada), moagem do malte de cevada, mosturação, clarificação da mostura, fervura do mosto, resfriamento do mosto, fermentação do mosto, maturação da cerveja verde, filtração da cerveja maturada e envase da cerveja pronta (MATOS, 2007). O processo produtivo é detalhado a seguir e exemplificado através do fluxograma da Figura 28. Figura 28 Fluxograma na produção de cerveja 4.1. Maltagem Em geral, o malte é obtido em instalações dedicadas, conhecidas como maltarias. Após a colheita no campo, a cevada segue para estas instalações para os 55 procedimentos de limpeza, seleção de grãos, embebição, germinação e secagem dos grãos. Os procedimentos são necessários para que o amido do cereal possa ser transformado em açúcar fermentável, o que é essencial para a fabricação da cerveja. A primeira etapa na maltaria é a limpeza para separação de palha, pedras, etc. Em seguida, é feita a seleção dos grãos com o objetivo de homogeneizar o malte. Na embebição, os grãos são armazenados em silos, recebem água e oxigênio e, depois de algumas horas, atingem maiores teores de umidade e ficam prontos para a germinação. Na germinação, que dura alguns dias, os grãos são dispostos em estufas com controle de umidade e temperatura, para que brotem as radículas (SANTOS e RIBEIRO, 2005). No final do processo, a cevada germinada passa por secagem ou torrefação nos fornos de secagem, onde é interrompido o processo de germinação pela ação do calor. Nesse processo, chamado de caramelização ou cura, dependendo da intensidade, o malte pode assumir colorações e aromas que diferenciam as cervejas. 4.2. Brassagem Após o recebimento do malte proveniente das maltarias, todo processo produtivo a partir daqui ocorre nas cervejarias. O malte é triturado através de moinhos de rolo ou martelo, com o objetivo de expor a parte interna dos grãos para concluir a ação enzimática, disponibilizando as proteínas e o amido presentes no interior dos grãos. O malte é direcionado para um tanque com água quente, onde existe controle rigoroso da duração do processo e temperaturas de cozimento, dando início à produção do mosto. O mosto é um líquido turvo e adocicado, que consiste em uma solução aquosa de açúcares que darão seguimento ao processo de fermentação. O mosto primário é separado e filtrado, com o objetivo de eliminar o bagaço de malte. Após a filtração, segue para um segundo cozimento no cozinhador de mosto, conforme é exibido na Figura 29. Nesta etapa são adicionados à mistura os tipos de lúpulo de acordo com a cerveja a ser produzida (lúpulo amargor e lúpulo aromático), caramelo, entre outros, e uma fervura intensa nesta etapa confere a cor e sabor, além 56 de esterilizar o mosto e conferir os aromas florais, herbais e o sabor amargo característico. Figura 29 Cozinhador de mosto [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] Em função dos parâmetros da cerveja a ser produzida, utiliza-se outra fonte de açúcar além do malte, conhecido como adjunto ou gritz. Os tipos de adjunto mais comuns são: gritz de milho, arroz, trigo ou a high maltose, que possui custo mais elevado, porém, tem como benefício a produção de mosto com maior concentração. 4.3. Fermentação Os tanques fermentadores recebem o mosto já resfriado, juntamente com a levedura (fermento). Nessa fase, o fermento transforma o açúcar do mosto, como a maltose e a glicose, em álcool e gás carbônico. A fermentação é divida na etapa aeróbia, onde as leveduras se reproduzem e na etapa anaeróbia, onde as leveduras realizam a fermentação. O controle da temperatura varia de acordo com os tipos de cerveja, e um bom processo de fermentação exige um 57 rigoroso controle e manutenção de temperaturas. Cervejas do tipo “Lager” são fermentadas em temperaturas mais baixas, enquanto as do tipo “Ale” fermentam em temperaturas um pouco mais elevadas (AMBEV, 2011). No término da fermentação, parte da levedura utilizada é decantada, e a cerveja passa por um processo de refrigeração até -1,5ºC, onde é centrifugada para a remoção da quantidade remanescente de leveduras e sedimentos. Por fim, obtém-se um excesso de leveduras que se multiplicaram durante o processo, sendo parte dele reutilizado no próximo fabrico ou próxima batelada. A Figura 30 mostra os tanques fermentadores e maturadores. Figura 30 Tanques fermentadores/maturadores [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 4.4. Maturação Após a fermentação, existe uma grande quantidade de substâncias indesejáveis presentes na cerveja. Estas substâncias indesejadas são eliminadas no processo de maturação e estabilização, onde a cerveja é mantida em descanso nos tanques fermentadores em temperatura aproximada de -0,5ºC, e o açúcar residual é consumido 58 pelas células de fermento remanescentes, em um fenômeno conhecido por fermentação secundária. O processo dura alguns dias, permitindo a ocorrência das reações químicas para a estabilização. No final da etapa, a cerveja está praticamente concluída, com aroma, sabor e corpo definidos. 4.5. Filtração Após a maturação, o processo de filtração tem como objetivo remover as impurezas e partículas restantes de leveduras, além de garantir a clarificação e eliminar eventual turbidez. É conhecida como a etapa de acabamento da cerveja. Utilizam-se diversos tipos de meios filtrantes, além do uso de terra infusória. O processo não altera a composição ou sabor da bebida, mas é fundamental para garantir sua apresentação, deixando-a límpida, transparente e brilhante. Uma estação de filtração é mostrada na Figura 30. Figura 31 Estação de filtração de cerveja [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 59 Ainda nesta fase de filtração, é realizada uma etapa de carbonatação, pois o teor de CO2 existente não é suficiente para atender os requisitos do produto. Além da injeção de gás carbônico, também é realizada uma etapa conhecida como blendagem no caso da produção de cerveja concentrada. Consiste em adicionar água desaerada à cerveja filtrada, obtendo assim a cerveja pronta para o envase. 4.6. Envasamento Esta é uma fase importante para garantir a qualidade e a estabilidade da cerveja, pois é necessário cuidado especial com possíveis fontes de contaminação, perda de CO2 e incorporação de oxigênio (extremamente prejudicial ao produto). Podem ser usadas garrafas e latas (envase realizado pelas enchedoras) e barris (embarrilamento). Na Figura 32, observa-se uma linha de envasamento de chope. Na Figura 33, é exibida uma linha de envasamento de latas. Na Figura 34, pode ser vista uma parte de uma linha de envase em garrafas. Figura 32 Linha de envasamento de chope em barris [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 60 Figura 33 Linha de envase de cerveja em latas [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] Figura 34 Linha de envasamento de cerveja em garrafas [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 4.7. Pasteurização Com o intuito de garantir maior durabilidade ao produto devido à eliminação de microorganismos, é realizado o procedimento de pasteurização. Nesse tratamento térmico a cerveja é aquecida até 60º C e resfriada naturalmente até chegar à 61 temperatura ambiente. O produto pasteurizado possui validade de seis meses após o envase. O processo, usado em cervejas em lata e garrafa, não altera a composição ou sabor. Nos barris, a cerveja normalmente não é pasteurizada e apresenta menor prazo de validade, variando de 10 a 15 dias, necessitando assim de consumo mais rápido (AMBEV, 2011). 4.8. Etapas no processo produtivo que requerem refrigeração Os processos produtivos que necessitam de refrigeração são exemplificados pelo fluxograma da Figura 35, e detalhados a seguir: Figura 35 Processo produtivo e temperaturas da cerveja a) Resfriamento de Mosto É utilizada água gelada, a temperatura média de 2,5ºC para resfriar o mosto proveniente da sala de brassagem, de aproximadamente 95ºC. A temperatura de saída do mosto frio deve ser aproximadamente 9ºC, e a água quente gerada neste resfriamento é reutilizada para o próximo fabrico, lembrando que a cerveja é produzida por bateladas. Na Figura 35 pode ser visto um trocador de calor a placas utilizado no processo de resfriamento de mosto. Concluindo, para que este processo de resfriamento de mosto seja realizado, é necessário que a água, a temperatura ambiente, seja refrigerada até atingir a temperatura aproximada de 2,0ºC, gerando assim a água gelada. 62 Figura 36 Trocador de calor para resfriamento de mosto [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] b) Refrigeração do Tanque Fermentador Para manter a temperatura durante o processo de fermentação, os tanques fermentadores precisam ser refrigerados constantemente e este processo é controlado à risca, para que não haja problemas relacionados à qualidade do produto. Como o processo de fermentação é exotérmico, durante todo este ciclo o tanque precisa ser mantido às temperaturas determinadas, sendo que a fermentação é dividida em fases. c) Refrigeração entre a Fermentação e a Maturação (FERMAT) A fermentação finaliza em temperatura aproximada de 14ºC, e após seu término, a cerveja é transferida do tanque fermentador para o tanque maturador, sendo que a maturação é mantida a temperaturas negativas, em torno de -0,5ºC. Portanto, é necessária uma redução brusca da temperatura da cerveja durante esta transferência, que é denominada trasfega. Refrigera-se a cerveja em trocadores de calor a placas. Além disso, a cerveja é centrifugada para a remoção das partículas em suspensão. Uma centrífuga é mostrada na 63 Figura 37. O processo é chamado de FERMAT, por ocorrer entre as fases de fermentação e de maturação. Figura 37 Centrífuga de cerveja no processo FERMAT [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] d) Refrigeração do Tanque Maturador Nem sempre ocorre, pois nesta fase a cerveja já não libera mais calor, porém normalmente todos os tanques possuem dispositivos para mantê-los refrigerados (camisas com serpentinas), pois os tanques podem operar como fermentadores ou como maturadores. A carga térmica é relativamente baixa, pois os tanques são isolados e a temperatura deve ser apenas mantida. e) Refrigeração na Filtração A cerveja proveniente da maturação, aproximadamente a 0ºC, passa novamente por outro trocador de calor a placas até que atinja temperatura média de -2,0ºC, para que seja realizado o processo de filtração. 64 f) Blendagem com água desaerada Esta etapa não foi citada no processo produtivo por ser um processo relativamente novo e não ser padrão para todas as cervejarias. Porém, no presente caso, a cerveja é produzida com maior grau de concentração (grau plato), a qual na prática é chamada de cerveja concentrada. Após a filtração, a cerveja é diluída em água livre de oxigênio – extremamente prejudicial à cerveja, pois provoca a sua oxidação. Esta água é produzida num processo chamado ALDOX, que possui esta denominação por tratar-se de um projeto da Alfa Laval (AL) e tratar da desoxigenação da água (DOX). Na Figura 38 é mostrada uma instalação de desoxigenação de água. Como interessa apenas o consumo de carga térmica de refrigeração, não cabe aqui descrever todo o processo de desoxigenação da água, porém esta etapa na produção deve ser considerada entre as demais, pois a água após a desoxigenação (processo em que se utiliza vapor e CO2) deve apresentar temperatura aproximada de 2ºC, que é a temperatura na qual é utilizada para a diluição da cerveja concentrada. Figura 38 Estação para fabricação de água desaerada – Aldox [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 65 Além destes processos, existem outros pequenos consumos, como resfriamento de fermento e de adega de lúpulo, por exemplo. Porém eles representam quantidade muito pequena se comparados aos processos consumidores descritos acima. No presente caso, com exceção ao processo de resfriamento de mosto e da refrigeração dos tanques fermentadores e maturadores, nos demais processos acima descritos é utilizada a solução de etanol a temperaturas que variam entre -3ºC e -6ºC. Para os tanques fermentadores e maturadores, a amônia a baixa pressão líquida é bombeada para as camisas dos mesmos, portanto, não é utilizado o fluido secundário. 66 5 ESTUDO DE CASO - CARACTERIZAÇÃO O sistema de refrigeração utilizado para o estudo de caso é composto pelos equipamentos listados a seguir e ilustrados pelo fluxograma apresentado na Figura 39. Figura 39 Sistema de refrigeração do estudo de caso a) Compressores: Total de 8 compressores de amônia modelo parafuso com sistema de resfriamento de óleo por termosifão, detalhados na Tabela 2, sendo que os compressores 1, 2, 3, 5 e 6 são acionados através de soft starter e os compressores 4, 7 e 8 são acionados através de inversores de freqüência. 67 Tabela 2 Dados dos compressores de amônia do sistema b) Condensadores Evaporativos: Total de 7 condensadores evaporativos com ventiladores centrífugos, conforme Tabela 3, sendo que o fator de correção do fabricante SEMCO para os modelos VLC para temperatura de condensação igual a 35ºC e temperatura de bulbo úmido igual a 26ºC é igual a 1,51. Estes fatores de correção para a capacidade de rejeição de calor podem ser observados na Tabela 4. Tabela 3 Dados dos condensadores evaporativos do sistema 68 Tabela 4 Fatores de correção para condensadores evaporativos (SEMCO, 2007a) No caso apresentado, vale ressaltar que o compressor 6 atua como compressor reserva do sistema. c) Evaporadores / URLs Total de 6 Evaporadores/URLs, marca APV modelo LR 9GN5S, sendo: URLs 1, 2, 3 e 4 utilizadas para refrigerar a solução de etanol a 25% (fluido intermediário) que posteriormente segue até o tanque de etanol gelado para ser bombeado aos consumidores do processo Q = 1.324 kW (cada), considerando vazão de solução de etanol igual a 116 m3/h e refrigeração de 5,4ºC até -4,5ºC Portanto: ETURLQ = 5.296 kW URLs 5 e 6 utilizadas pra refrigerar água tratada fria (ATF). Q = 1.434 kW (cada), considerando vazão de água tratada fria igual a 456,7 m3/h e resfriamento de 29ºC até 2,0ºC Portanto: ATFURLQ = 2.868 kW d) Evaporadores/Serpentinas de refrigeração nas camisas dos tanques fermentadores e maturadores, considerando a pior condição de ocupação dos tanques. MFQ & = 2.353 kW 69 Somando-se todas as cargas de resfriamento: geraçãoTotalQ = 10.517 kW Agora que foram descritas todas as cargas térmicas de geração, são listados os processos consumidores. O sistema de etanol ( ETURLQ = 5.297 kW) atende diversos processos e consumos. A Tabela 5 detalha todos os consumos deste circuito. Tabela 5 Processos e Consumos do Sistema Etanol Para a água tratada gelada (ATG), o único consumo é o de resfriamento de mosto. Na Tabela 6 e mostrado o detalhamento dos trocadores de calor responsáveis pelo resfriamento de mosto. 70 Tabela 6 Processos Consumidores de ATG É importante afirmar, novamente, que os processos durante a fabricação não ocorrem simultaneamente, existindo constantemente a oscilação de carga térmica. Quanto aos dados de consumo de energia elétrica, na Tabela 7 são mostrados todos os equipamentos componentes do sistema de refrigeração, com suas devidas potências. A tarifa de energia elétrica média de consumo no caso estudado é de R$ 0,141/kWh e a fábrica funciona 24h por dia durante praticamente o ano todo. Todo o sistema de utilidades possui sistema de coleta e gerenciamento na medição de energia, o que facilitou a coleta dos valores medidos antes e depois das ações para melhoria de eficiência e otimização do sistema de refrigeração. O sistema de refrigeração, nas indústrias produtoras de cerveja, é responsável pelo consumo elétrico de 30 a 40% do total de energia elétrica consumida pela planta. Esta informação foi obtida nas visitas à algumas indústrias do setor, realizadas durante esta pesquisa. Para o caso estudado, os equipamentos do sistema de refrigeração representam uma média de 34% do consumo anual de toda a fábrica. No próximo capítulo são descritas e detalhadas todas as ações de aumento de eficiência para o sistema de refrigeração considerado, com os respectivos resultados alcançados. 71 Tabela 7 Equipamentos e potências elétricas Equipamento Nº Potência Elétrica Nominal (CV) Potência Elétrica Nominal (kW) Compressor parafuso SABROE ECO VMY-347M 1 600 441,6 Compressor parafuso SABROE ECO VMY-347M 2 600 441,6 Compressor parafuso SABROE ECO VMY-347M 3 600 441,6 Compressor parafuso MYCOM N-250 VSD - TS 4 500 368 Compressor parafuso MYCOM N-250 VSD - TS 5 500 368 Compressor parafuso SABROE SAB 202 LM 6 450 331,2 Compressor parafuso MYCOM N-250 VSD - TS 7 500 368 Compressor parafuso MYCOM N-250 VSD - TS 8 500 368 TOTAL COMPRESSORES 4250 3128 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-800 1 75 55,2 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-800 2 75 55,2 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-800 3 75 55,2 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-454 4 47,5 34,96 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-454 5 47,5 34,96 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-908 6 95 69,92 Condensador Evaporativo, SEMCO BAC, VLC-908 7 95 69,92 TOTAL CONDENSADORES 510 375,36 Bomba de recirculação de etanol - circuito primário 1 60 44,16 Bomba de recirculação de etanol - circuito primário 2 60 44,16 Bomba de etanol para processo - circuito secundário 1 40 29,44 Bomba de etanol para processo - circuito secundário 2 40 29,44 Bomba de etanol para processo - circuito secundário 3 40 29,44 Bomba de etanol para processo - circuito secundário 4 40 29,44 TOTAL BOMBEAMENTO CIRCUITO ETANOL 280 206,08 Bomba de ATF - circuito primário 1 10 7,36 Bomba de ATF - circuito primário 2 10 7,36 Bomba de ATG - envio para processo - circuito secundário 1 30 22,08 Bomba de ATG - envio para processo - circuito secundário 2 30 22,08 TOTAL BOMBEAMENTO CIRCUITO ÁGUA 80 58,88 TOTAL GERAL 5120 3768,32 72 6 ACÕES DE MELHORIA DE EFICIÊNCIA E RESULTADOS Segundo SHEHATA (2009) as ações para melhoria na eficiência e otimização de um sistema de refrigeração industrial devem avaliar a o sistema de refrigeração, desde a sua geração, na sala de máquinas, envolvendo o sistema de compressão e condensação, a distribuição que compreende o sistema de bombeamento e, por fim, o consumo nos trocadores de calor de processo. As ações são classificadas em: - ações com impacto na pressão de condensação/descarga - ações com impacto na pressão de evaporação/sucção 6.1. Ações com Impacto na Pressão de Condensação/Descarga A pressão de descarga dos compressores é determinada por três fatores: Capacidade de refrigeração dos compressores em funcionamento no sistema, que define a vazão de amônia; A capacidade de condensação dos condensadores em funcionamento, que define a vazão de amônia que se condensa e passa pelos condensadores; A temperatura de bulbo úmido, que determina a temperatura mínima de condensação (e pressão de descarga) que é possível atingir, ainda que infinitos condensadores sejam colocados em funcionamento. As ações aqui descritas têm por objetivo reduzir a pressão de condensação ou de descarga até um limite estabelecido, chamado aqui de pressão ótima de descarga. Esta redução impacta diretamente no consumo de energia elétrica, pois reduz o trabalho de compressão, que é o maior responsável pelo consumo de energia elétrica, como observado na Tabela 7. 73 6.1.1 Limpeza e Manutenção dos Condensadores Evaporativos Para garantir que o sistema de condensação tenha condições de atingir as pressões de descargas recomendadas, ações simples de limpeza e manutenção fazem com que as propriedades fluido-dinâmicas dos condensadores evaporativos sejam mantidas, de modo a maximizar o seu rendimento. As capacidades nominais de cada condensador da instalação, listados na Tabela 3, consideram equipamentos limpos e livres de incrustações, com o sistema de bombeamento e espalhamento de água funcionando de acordo ao esperado, e com a devida eficiência de ventilação. Esta situação não foi a encontrada nesta instalação. Constantemente verificava-se pressões de descarga muito elevadas, principalmente em dias muito quentes e/ou quando a carga térmica exigia maior potência de compressão, pelo fato de haver vários processos ocorrendo simultaneamente. A operação deve garantir a limpeza das bacias dos condensadores e do filtro que está posicionado a montante da bomba de recirculação de água, para que a eficiência da bomba seja mantida. Outro aspecto importante é a limpeza/desobstrução dos bicos aspersores. Caso o espalhamento e a pulverização de água não sejam uniformes, como exibido na Figura 40, a capacidade condensação é comprometida, acarretando um problema adicional que pode ser a incrustação nas serpentinas. Figura 40 Bicos aspersores com entupimento, distribuição de água não-uniforme [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] 74 Durante o processo de limpeza, outros itens importantes devem ser levados em consideração, como o bloqueio de energia para a segurança e proteção do operador, limpeza das serpentinas e eliminadores de gotas, etc. Foi elaborado um fluxograma com os passos que devem ser seguidos durante a limpeza, garantindo assim a efetividade dela. Este fluxograma pode ser verificado na Figura 41. Figura 41 Fluxograma para limpeza de condensador evaporativo 75 Quanto à eficiência do sistema de ventilação, outros cuidados com manutenção e conservação garantem o rendimento fluido-dinâmico dos condensadores. No caso dos modelos com ventiladores centrífugos, é importante avaliar periodicamente os acoplamentos, verificando as correias quanto à folga ou ruptura. Na Figura 42, observam-se acoplamentos nos quais existem correias faltantes ou com folga elevada. As correias acabam deslizando e o consumo de energia elétrica não está sendo convertido na energia de ventilação necessária, além de apresentar distorção harmônica de corrente. Figura 42 Acoplamentos motor/ventilador com correias faltantes [Foto obtida pelo autor durante o estudo realizado] As ações de rotina explicadas neste tópico envolvem questões operativas e de manutenção, consideradas, portanto, como ações sem investimento e de fácil implementação. Na Figura 42, é exibido gráfico com os resultados obtidos através da tomada destas ações. Foi considerado período com médias de temperatura de bulbo úmido similares, bem como carga térmica de produção elevada que ocorre durante estes meses. Observa-se uma mudança no patamar das médias diárias de pressões de descarga operativas. Esta queda deve-se ao fato de que o sistema de condensação estava sendo insuficiente para reduzir a pressão de descarga. Haviam muitos ventiladores em manutenção, problemas de limpeza, entre outros. 76 Figura 43 Média diária da pressão de descarga do sistema de refrigeração 6.1.2 Automação dos Condensadores Evaporativos em Função da Temperatura de Bulbo Úmido É sabido que a capacidade de condensação se reduz com o aumento de temperatura de bulbo úmido (STOECKER e JABARDO, 2002), e que a temperatura da água de condensação, e conseqüente pressão de descarga, pode ser otimizada através da condição de temperatura de bulbo úmido local (OSTENDORP, 2010) trazendo ganhos em eficiência. O conceito de pressão ótima de descarga foi implementado nesta unidade industrial, tendo por objetivo a redução na pressão de descarga até o ponto em que o ganho em energia elétrica na compressão seja maior que a energia elétrica de condensação utilizada para reduzir esta pressão. Este ponto é determinado pela temperatura de bulbo úmido, pois conforme mencionado anteriormente, ainda que a instalação possua infinitos condensadores em operação, a temperatura da água de condensação tende a atingir a temperatura de bulbo úmido. 77 Como nenhuma instalação frigorífica conta com infinitos condensadores, o ideal é que seja considerado um intervalo no qual as pressões de condensação estejam razoáveis para uma dada temperatura de bulbo úmido. O gráfico da Figura 44 representa estes valores, que foram mostrados por SHEHATA (2009) baseados em ensaios e análises experimentais, e foi adotada como parâmetro para a automação dos condensadores evaporativos da instalação estudada. Figura 44 Pressão ótima de descarga em função da TBU A equação da pressão ótima de descarga em função da temperatura de bulbo úmido obtida por regressão: 092,10293,00146,0 2 TBUTBUPD (15) onde: PD: pressão ótima de descarga [bar] TBU: temperatura de bulbo úmido [ºC] 78 Devem ser considerados também os limites mínimos e máximos. Portanto, para TBU ≤ 10,6ºC, adota-se Pdescarga = 8,62 bar e para TBU ≥ 29,4ºC, Pdescarga = 14,10 bar. Vale ressaltar que esta metodologia é aplicável para instalações de refrigeração com amônia que utiliza condensadores evaporativos, independentemente do tipo de compressor. Foi adquirida uma estação meteorológica (psicrômetro) para coletar os sinais de temperatura de bulbo úmido instantâneas, que possui sensores baseados no princípio capacitivo, de alta precisão. Seu princípio de operação está exibido na Figura 44. Um sistema de eletrodos com uma camada constituída de polímeros ultra-sensível e outra camada em ouro, absorve o vapor da atmosfera. Figura 45 Princípio de operação da estação meteorológica (TESTO, 2006) Assim, a camada higroscópica do polímero absorve essas moléculas de água do vapor que alteram sua constante dielétrica. Este sistema de eletrodo com camadas diferentes atua como um capacitor, que mede a umidade relativa do ambiente através de sua capacitância. A mudança de capacitância com a mudança da umidade é convertida em um sinal elétrico pelo circuito eletrônico do sensor de umidade (TESTO, 2006). O equipamento, que pode ser visto na Figura 46, disponibiliza uma saída analógica de 4 – 20 mA, que foi levada até o CLP do sistema de refrigeração. Desta forma, a equação foi programada no controlador para determinar a pressão de condensação na qual o sistema deve operar. 79 Figura 46 Estação Meteorológica (TESTO, 2006) Na linha de equalização da descarga dos compressores já existe um transmissor de pressão, e o programa tem por objetivo fazer a comparação desta medição com o resultado determinado pela equação. Quando a pressão medida no transmissor estiver acima da pressão determinada pela equação, significa que é preciso mais capacidade de condensação e quando a pressão medida pelo transmissor estiver abaixo da pressão determinada pela equação programada, significa que a capacidade de condensação pode ser reduzida. Foi utilizado um limite de ± 0,2 bar para esta comparação entre pressão medida e pressão ideal, para evitar que condensadores sejam ativados e/ou desativados com freqüência e prejudicando assim a vida útil dos mesmos. É importante informar aqui que, dos 7 condensadores evaporativos, 5 possuem inversor de freqüência no acionamento de seus ventiladores, o que facilitou bastante esta implementação, pois a capacidade de modulação é excelente. O ideal é que pelo menos um terço da capacidade de condensação seja provido de inversores de freqüência na ventilação (SHEHATA, 2009), pois permite que o sistema module velocidade/freqüência sem que seja necessário o liga/desliga constante de motores. Outra recomendação importante é que as bombas de recirculação sempre sejam mantidas em operação, mesmo que os ventiladores estejam desligados (seja por manutenção ou por ter atingido a pressão ideal de condensação). Esta boa prática mantém a condensação mínima fazendo com que não escoe amônia em estado gasoso para o coletor de saída. Garante também que não haja incrustações nas serpentinas, ocasionadas pela incorporação de sedimentos na superfície das mesmas devido a alta 80 temperatura. Em caso de necessidade de parada para manutenção que envolva a necessidade de deixar as bombas de recirculação inoperantes, o ideal é que se feche a válvula de entrada de AAPG (amônia a alta pressão gasosa) neste condensador. Segue a seguir a lógica utilizada neste estudo. Seqüência de partida: Os ventiladores dos condensadores nº 1, 2, 3, 6 e 7 (que possuem conversores de freqüência nos seus ventiladores) deverão ser os primeiros a ser acionados (em ordem de rodízio que pode ser alterado no sistema supervisório). Se os condensadores atingirem 85% de carga e não atenderem a faixa da pressão ótima de descarga por 1 minuto, o CLP envia um sinal para ativar o próximo condensador