1 unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP REGINALDO ANSELMO TEIXEIRA GRUPO ESCOLAR COMENDADOR PEDRO MORGANTI: EEESSSTTTUUUDDDOOO HHHIIISSSTTTÓÓÓRRRIIICCCOOO SSSOOOBBBRRREEE AAA CCCUUULLLTTTUUURRRAAA EEESSSCCCOOOLLLAAARRR DDDEEE UUUMMMAAA EEESSSCCCOOOLLLAAA PPPRRRIIIMMMÁÁÁRRRIIIAAA DDDOOO MMMEEEIIIOOO RRRUUURRRAAALLL ––– 1942/1988 ARARAQUARA – S.P. 2010 2 REGINALDO ANSELMO TEIXEIRA GGGRRRUUUPPPOOO EEESSSCCCOOOLLLAAARRR CCCOOOMMMEEENNNDDDAAADDDOOORRR PPPEEEDDDRRROOO MMMOOORRRGGGAAANNNTTTIII::: ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A CULTURA ESCOLAR DE UMA ESCOLA PRIMÁRIA DO MEIO RURAL - 1942/1988 Dissertação de Mestrado, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre em Educação Escolar. Linha de pesquisa: Estudos Históricos, Filosóficos, Antropológicos sobre Escola e Cultura. Orientador: Profª Drª Rosa de Fátima Souza Chaloba ARARAQUARA – S.P. 2010 3 Teixeira, Reginaldo Anselmo Grupo escolar Comendador Pedro Morganti: estudo histórico sobre a cultura escolar de uma escola primária do meio rural – 1942/1988 / Reginaldo Anselmo Teixeira – 2010 95 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara Orientadora: Rosa Fátima de Souza Chaloba l. Educação. 2. Estudo histórico. 3. Cultura escolar. 4. Experiência 5. História da escola primária. 6. Ensino rural. I. Título. 4 REGINALDO ANSELMO TEIXEIRA GGGRRRUUUPPPOOO EEESSSCCCOOOLLLAAARRR PPPEEEDDDRRROOO MMMOOORRRGGGAAANNNTTTIII::: EEESSSTTTUUUDDDOOO HHHIIISSSTTTÓÓÓRRRIIICCCOOO SSSOOOBBBRRREEE AAA CCCUUULLLTTTUUURRRAAA EEESSSCCCOOOLLLAAARRR DDDEEE UUUMMMAAA EEESSSCCCOOOLLLAAA PPPRRRIIIMMMÁÁÁRRRIIIAAA DDDOOO MMMEEEIIIOOO RRRUUURRRAAALLL ---111999444222///111999888888 Dissertação de Mestrado, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras – Unesp/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Mestre. Linha de pesquisa: Estudos Históricos, Filosóficos, Antropológicos sobre Escola e Cultura. Orientador: Profª Drª Rosa de Fátima Souza Chaloba Data da defesa: ___/___/____ MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Nome e título Universidade. Membro Titular: Nome e título Universidade. Membro Titular: Nome e título Universidade. Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara 5 Dedico este trabalho aos meus companheiros de enxada e de caneta. 6 AGRADECIMENTOS À orientadora Professora Doutora Rosa Fátima de Souza por ter acreditado que seria possível e ter me guiado no caminho para a realização deste trabalho. À minha filha Mel e aos meus sobrinhos Eduardo e Clara, são eles que completam minha razão de viver. À minha mãe, Cacilda Teixeira, e a Lucimar Rodrigues, minha irmã que acreditaram em mim e me ajudaram sempre que precisei. Ao meu irmão Rubens Teixeira que muita alegria trouxe à nossa família. À equipe da EMEF do Campo Prof. Hermínio Pagôtto que me facilitou o acesso ao arquivo das fontes documentais, me ajudaram sempre que possível para que eu desenvolvesse o meu trabalho de pesquisa, sem eles nada teria sido possível. À minha amiga e também diretora Adriana M. L. Morales Caravieri, que sempre esteve me incentivando e me encaminhando para o caminho da Paz e do Bem. Aos companheiros da Secretaria Municipal de Educação de Araraquara. A todos os companheiros de luta pela Reforma Agrária e pelos direitos dos que são oprimidos. 7 RESUMO Este trabalho reconstrói aspectos da cultura escolar de uma escola primária rural. Para isso, realizamos a análise de fontes documentais referentes a instituição. Os 217 documentos catalogados e analisados pelo pesquisador se apresentaram como importante fonte de indícios para uma caracterização geral da instituição, que foi feita por meio das informações retiradas dos livros de matrícula e ponto pessoal e por uma análise mais detalhada dos livros de atas das reuniões pedagógicas que permitiram que se visualizasse os aspectos da cultura escolar. Há no trabalho um histórico que contextualiza e caracteriza a sociedade rural em que o Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti estava inserido, e uma reflexão historiográfica que reflete sobre a continuidade das experiências dos sujeitos escolares ao longo do tempo, como aspectos constituintes da cultura escolar. Palavras-chave: Estudo Histórico.Cultura Escolar. História da Escola Primária. Ensino Rural. Fontes Documentais. Experiência 8 ABSTRACT This work reconstructs aspects of school culture in a rural primary school. For this, we performed the analysis of documentary sources relating to the institution. The 217 documents cataloged and analyzed by the researcher is presented as an important source of evidence for a general characterization of the institution, which was made through the information taken from books and personal point of registration and a more detailed analysis of the books of minutes of meetings pedagogical that enabled them to visualize aspects of school culture. There is a historical work that contextualizes and characterizes the rural society in which the School Group Commander Pedro Morganti was inserted, and an historical analysis that reflects on the continuity of the educational experiences of individuals over time, as essential elements of school culture. Keywords: Study Histórico.Cultura School. History of the Primary School. Rural education. Documentary Sources. Experience 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa da Usina Tamoio – 1971..................................................................................28 Figura 2 – Comendador Pedro Morganti – 1930.......................................................................70 Figura 3 – Foto da 1ª Turma de Formandos do Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti de 1943...............................................................................................................71 Figura 4 – Foto da atual fachada do antigo Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti em 2010.........................................................................................................................72 10 LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Demonstrativo de matrícula dos alunos 1942/1988.............................................20 Quadro 02 – Endereço dos alunos 1942/1988.............................................................................25 Quadro 03 – Nacionalidade dos pais 1942/1988.........................................................................29 Quadro 04 – Profissão dos pais 1942/1988 ................................................................................30 Quadro 05 – Rela cão Nominal de Diretores 1942/1975...........................................................35 Quadro 06 – Ocorrências de Reuniões Pedagógicas 1950/1971.............................................. 38 11 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................11 INTRODUÇÃO............................................................................................................................15 1 - USINA TAMOIO: A História de um Império nos Campos de Araraquara.....................23 2 -GRUPO ESCOLAR PEDRO MORGANTI: Disseminação da Cultura Escrita e a Formação do Trabalhador Rural................................................................................................30 3 – VESTÍGIOS DA CULTURA ESCOLAR NA MESA DE REUNIÕES PEDAGÓGICAS..........................................................................................................................49 3.1 Normalização do Trabalho Docente.....................................................................................51 3.2 Disciplina dos Alunos...........................................................................................................58 3.3 Campanhas e Comemorações...............................................................................................64 3.4 Práticas de Educação Rural..................................................................................................70 Considerações Finais ...................................................................................................................77 Imagens Fotográficas...................................................................................................................82 Fontes.............................................................................................................................................85 Referências ...................................................................................................................................86 Anexos............................................................................................................................................89 12 Apresentação Foi no ano de 1989 que minha família e eu deixamos a cidade de São Paulo e rumamos para o interior do Estado de São Paulo para vivermos no Assentamento Bela Vista, situado nos arredores da cidade de Araraquara. Na época tinha apenas 13 anos de idade e aparentemente, era um garoto como todos os outros da minha idade. Lembro-me perfeitamente de nós e nossas malas e móveis vindo embora num caminhão, rumo à Araraquara, até nosso animal de estimação veio junto, a cadela Pink. Lembro que quando chegamos na cidade de caminhão, paramos e ficamos esperando que os adultos fossem até o sindicato resolver algumas coisas, para só então, podermos terminar a viagem até nosso novo lar. Deu tudo certo. Nem imaginava que aquele dia mudaria minha vida para sempre. Sobre o caminhão, ao entrar na Fazenda Bela Vista, o que eu via era muita cana de açúcar no longo caminho de terra percorrido até chegarmos num vilarejo, onde havia várias casas idênticas, agrupadas uma ao lado da outra, com ruas paralelas. Não sabia que eram casas com estilo colonial, construídas no início do século XX. Via muita coisa velha e cheia de mato. Uma de minhas primeiras tarefas foi ajudar minha família a limpar nossa casa e o imenso quintal; aprendi assim palavras que não sabia até então: carpir, enxada, foice, e principalmente, trabalho. Vieram muitos outros, todos os dias chegavam caminhões com mais famílias. Logo, as terras estavam ocupadas, as casas limpas. Fizemos novas amizades, aprendi a participar de reuniões comunitárias, pois, na minha nova comunidade, tudo passou a ser decidido em reuniões, intermináveis reuniões. Existem algumas situações que valem a pena serem lembradas. Não fazia muito tempo que havíamos chegado ao assentamento, quando, sem entender muito o que estava acontecendo, fui juntamente com os adultos, fazer piquetes para fechar as entradas de nossa fazenda assentamento no sentido de impedir a entrada de invasores. Passamos noites acampados, em revezamento. Estávamos tentando impedir a entrada de mais famílias no assentamento. Depois descobri que os supostos invasores eram do MST. Naquele momento, as lideranças da comunidade orientadas por uma visão técnica, diziam que precisávamos primeiro demarcar as terras com as famílias que no assentamento já estavam, para só então colocarmos mais pessoas. Mas, como com sonhos não se brinca e ninguém pode impedir o sol de nascer, as famílias entraram, estão conosco até hoje formando a comunidade de trabalhadores do Assentamento Bela Vista do Chibarro. Chibarro é o nome do rio situado numa das extremidades da fazenda. 13 Outra situação, foi quando numa manhã acordamos e descobrimos que toda a fiação da rede de eletricidade havia sido roubada. Era uma fiação antiga, de cobre. Ficamos meses no escuro até que depois de muitos contatos e reuniões internas e externas, ficou decidido em Assembléia Geral realizada pela comunidade do assentamento, que se cortasse toda a cana de açúcar que existia na Fazenda Bela Vista e com este dinheiro se iniciasse a construção de um novo sistema de iluminação. Todas as terras pertencentes ao projeto de Reforma Agrária estavam ocupadas com a cana de açúcar que havia sido plantada ainda pelos antigos donos. Foi o que foi feito. O poder público entrou com sua parte, inclusive o Governo Federal com seus subsídios e empréstimos. No entanto, era necessário que toda a comunidade participasse do corte da cana. Então foi decidido que cada família contribuiria com esta atividade do corte de cana, enviando familiares para trabalharem. Foi uma de minhas primeiras experiências com o trabalho agrícola, e com certeza a primeira que me mostrou que num canavial encontramos mais nós do que doçuras. Lembro-me de um trabalho excessivamente árduo, que até então só havia visto em livros e filmes sobre a escravidão. Depois, quando adolescente, precisei realizar este serviço novamente para auxiliar em casa e obter autonomia financeira, pois como todo jovem, precisei comprar calça e tênis da moda, ouvir músicas do momento, e viver todas as sensações e emoções que o adolescente urbano vivenciava. Cortar cana, carpir por dia, colher laranja, ralear e colher algodão plantar e adubar eucalipto foram alguns dos trabalhos que me orgulho de ter realizado. Acredito que contribuíram para a vida moldar quem eu sou hoje. Um outro acontecimento bastante relevante foi quando logo nos primeiros dias de morador da Bela Vista, fui juntamente com outras crianças buscar frutas no terreno da escola. Que maravilha. O prédio parecia um palácio imperial, todo imponente, construído para ser eterno. Eu me encantei pelas janelas altas e largas, o piso todo quadriculado, salas grandes, bem ventiladas, mas estava tudo muito sujo e abandonado. Na fachada havia a indicação em relevo na parede: Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti. Lembro-me também de ver na escola uma sala com muitos papéis e livros esparramados por estantes e pelo chão. Não tinha maturidade para saber que aqueles livros e papéis eram Livros de Matrícula, Livros de Ponto Pessoal, Livro de Atas de Reuniões Pedagógicas, Mapas de Movimento, e tão pouco que eles se chamariam “fontes documentais” e seriam imprescindíveis para que no futuro eu escrevesse minha dissertação de mestrado. Isso vim saber 20 anos depois, quando já professor, ministrava aulas 14 nesta mesma escola, administrada pela Prefeitura do Município de Araraquara, que passou a ser denominada “Professor Hermínio Pagôtto”. Agora que já se passaram 20 anos, a certeza de que fizemos a coisa certa é cada dia maior. Quando o local foi denominado Fazenda Bela Vista, não foi um acaso. É uma das mais belas vistas que um ser humano pode ter, por qualquer ângulo que se olhe e que se veja. Eu tenho o imenso prazer de ver a Bela Vista também a partir de dentro da sala de aula, como professor. O encantamento pela escola quando jovem se transformou em algo maior, e preferi trabalhar nela, trabalhar para fazê-la melhor. Cursei o magistério e depois pedagogia. Neste período participei ativamente do processo de reconstrução da então “Escola Municipal de Ensino Fundamental do Campo Prof Hermínio Pagôtto”, tanto ajudando nos coletivos internos, como representando e reivindicando em outras instâncias. Hoje nossa escola é reconhecida nacionalmente, tendo ganhado vários prêmios. Há 9 anos sou docente desta instituição, faz 6 que sou efetivo, contratado pelo poder público municipal. Ao arrumar armários me deparei anos atrás, com um deles contendo documentos muito antigos. Com paciência e cuidado fui procurar qual deles seria o documento mais antigo, aquele que me indicaria a data de criação do Grupo Escolar Pedro Morganti. Penso que a partir daquele momento, fiquei instigado em entender um pouco mais sobre aquela instituição de ensino. Pensar qual a finalidade com que foi criado este Grupo Escolar, entender qual a função social e cultural que esta instituição desempenhou no meio rural, em diferentes épocas pela qual existiu. Atualmente, é nítida a intenção desta instituição em valorizar o homem do campo em suas especificidades, sem no entanto negar a ele o direito ao acesso aos bens culturais e tecnológicos que a humanidade desenvolveu ao longo dos tempos. Mas será que sempre foi assim? A que interesses já serviu esta instituição escolar em outras épocas? Como em seu bojo se deram as realizações práticas dos ordenamentos jurídicos impostos à ela? Como eram as relações sociais que orbitavam ao seu redor? E suas relações internas, como se configuravam? Ao dissertar sobre o tema, tentando reconstituir o sentido histórico desta instituição, entendo estar contribuindo para uma compreensão maior dos elementos que compuseram a cultura escolar desta escola ao longo dos tempos, assim como perceber quais foram aqueles que a mantiveram em funcionamento por tanto tempo, evidenciando também os aspectos que a levaram ao fechamento e a mudança de denominação, ou seja, é intenção entender as permanências e as 15 rupturas que deram sentido à existência deste Grupo Escolar durante longo tempo naquele espaço rural. 16 Introdução Com este estudo objetivamos investigar a história de uma escola primária rural criada nas terras pertencentes a Usina Tamoio, município de Araraquara, no período de 1942 a 1988. A decisão pelo corte cronológico se justifica pela data de sua criação como Grupo Escolar Rural, sugerida pelos documentos encontrados, até a data em que foi temporariamente desativada. Este estudo pretende dialogar com as fontes documentais encontradas no interior da escola, assim como com a legislação que a ordenava juridicamente, na tentativa de enxergar a relação existente entre os diversos atores que a compunham, e a relação com a comunidade em que estava inserida. A partir do diálogo com as fontes documentais, buscaremos apresentar vestígios desta micro- história que possam nos levar à uma melhor visualização da cultura escolar da referida instituição no sentido de entender como esta escola desempenhou sua função política, social e cultural no decorrer do tempo. Como a escola tem um período longo de existência, pois iniciou suas atividades como Grupo Escolar em meados da década de 1940, construir sua trajetória histórica nos leva necessariamente a buscar compreender o ordenamento jurídico pelo qual ela foi orientada nas mudanças por que passou a educação pública paulista. Gerenciada pelo poder estadual, teve sempre que seguir suas prescrições, neste sentido entender a legislação com seu caráter urbanizador em alguns momentos e ruralista em outros, se faz necessário. Como as diversas reformas educacionais, com seus paradigmas instaurados, suas recomendações e proibições tiveram efeito dentro da referida instituição de ensino? E como elas se configuraram em praticas educativas, práticas moralizadoras, praticas de civismos e resignações? Reconstruir a história verossímil da instituição nos parece tarefa impossível de cumprir, no entanto, apresentar para reflexão algumas questões à luz das fontes documentais pode ser um pequeno exercício de pesquisa em História da Educação. O Grupo Escolar Pedro Morganti foi criado em 1942. Desde então recebeu alunos oriundos das colônias existentes dentro do grande latifúndio pertencente à Usina Tamoio e à família Morganti. Este grupo escolar está situado na Fazenda Bela Vista, uma fazenda de café que foi incorporada na década de 1930 ao império Morganti. Esta fazenda foi integrada ao conglomerado de fazendas que compunham as terras da Usina Tamoio, passando a ser chamada de Secção Bela Vista da Usina Tamoio, ou ainda Secção Bela Vista do Chibarro em alusão ao rio que a delimita. Durante o período de apogeu do cultivo da cana de açúcar, esta escola atendia aos 17 filhos dos empregados da parte industrial e da parte agrícola da usina. Estas relações de trabalho tanto industriais quanto agrícolas, faziam com que houvesse no interior desta instituição de ensino alunos de diferentes níveis sócio-econômicos, pois estudavam juntos os filhos dos diferentes tipos de trabalhadores da usina, colonos, motoristas, administradores, ferroviários, comerciantes, por exemplo. No entanto, temos que entendê-la como uma escola voltada prioritariamente aos filhos dos trabalhadores ligados direta ou indiretamente ao trabalho na agricultura. A periodização estabelecida para a realização desta pesquisa de cunho histórico (1942/1988) é direcionada a perceber aspectos e apresentar indícios que contribuam para a visualização da cultura escolar da referida escola dentro de um espaço que se inicia com a criação do Grupo escolar Pedro Morganti e termina no momento em que as terras da Secção Bela Vista são desapropriadas para fins de Reforma Agrária e ocupadas pelas famílias que comporão o Assentamento Bela Vista do Chibarro. Este estudo que se propõe histórico está fundamentado teoricamente na história cultural inglesa, particularmente na obra de Edward Palmer Thompson (1987). A contribuição de Thompson para a pesquisa em educação parece-nos essencial no sentido de apreender um “modo de fazer história” e também um modo de “entender a história”. Faria Filho (2005), coloca-nos uma questão fundamental na justificativa do porquê de se usar este historiador inglês para a realização de pesquisas no campo da educação. Segundo ele, a dimensão política é fundamental da obra de Thompson e se desdobra numa exigência ética de comprometimento do historiador com o seu tempo, além de uma sensibilidade para com os problemas dos esquecidos pela história. No caso deste trabalho houve uma preocupação em entender o modo como a instituição escolar se apresentava aos filhos dos trabalhadores e tentar perceber, mesmo através dos silêncios, como esses se relacionavam com a educação escolarizada que lhes era oferecida..Vasculhamos a documentação no sentido de reconstruir como este processo de escolarização se processava. Outra contribuição de Thompson é a ajuda fornecida no sentido de possibilitar um rigor metodológico que nos leva constantemente da teoria a empiría e ao debate historiográfico. Thompson nos oferece um aprendizado, como candidatos a historiadores, no sentido de tentar buscar na luta, no conflito, nas negociações o locus fundamental de nosso trabalho de pesquisador na história. Aliás, toda sua produção, não prescinde jamais do conflito e da relação com o outro, seja este representado por uma classe ou por indivíduos tomados isoladamente. 18 Como o pretendido foi fazer uma incursão no tempo e no espaço em busca de informações para esta pesquisa em história, em nosso caso específico, em história da educação, tivemos de interpretar nossas fontes documentais à luz da busca do reconhecimento do humano e das relações estabelecidas no espaço e no tempo. Este historiador nos levou a entender os fatos sociais como fatos históricos, e nesta perspectiva pudemos descartar uma visão da teoria como “verdade” assim como nos aventuramos em tentar abraçar o desafio do conhecimento como percurso, sempre provisório e aproximado, salpicado de silêncios e impurezas. Então, posicionados em direção à não construir verdades históricas absolutas, apresentamo-nos como interessados em dar voz às fontes documentais tentando reconstruir aspectos, fragmentos, indícios, que nos permitam discutir a cultura escolar da referida instituição. Dialogar com fontes documentais é um terreno árduo, pois se faz necessário procurar algo que já esteve vivo, em movimento dinâmico, em papéis que num primeiro momento não trazem relação entre si mesmos, ou na maioria dos casos, entre si e algum sentido histórico. Como professores, sabemos o quanto a burocracia educacional nos consome o tempo. E ao incorporarmos maneiras de nos relacionarmos com esta burocracia, nem sempre estamos sendo fiéis a realidade. É como se tivéssemos uma outra realidade, a dos papéis que precisam ser preenchidos, dos Programas e prazos que precisam ser cumpridos e uma outra realidade, que é a da sala de aula, a que nos preenche, a realidade que faz valer a pena ser professor. Mas, como discorrer sobre as relações sociais observadas pelos registros? Afetos e desafetos, posições políticas ou a falta delas, enfim, a dinâmica complexa da humanidade, a cultura, parece-nos escapar da compreensão, quando tentamos observa-las a partir de fontes documentais. Então pareceu-nos importante pensar que as diferentes experiências dos sujeitos apontados pelos registros, se construíam historicamente como cultura. Com base nos textos de Thompson, pareceu-nos salutar pensar esta pesquisa dentro de uma perspectiva que articulasse a categoria de experiência com a de cultura, pois como afirma este autor: A experiência chega sem bater na porta e anuncia mortes, crises de subsistência, guerras, desemprego, inflação, genocídio. Pessoas Passam fome: os que sobrevivem pensam o mercado de outra forma. Pessoas são presas: na prisão pensam sobre a lei de novas maneiras [...] Dentro do ser social ocorrem mudanças que dão origem a uma experiência transformada: e essa experiência é determinante, no sentido de que exerce pressões sobre a consciência social existente, propõe novas questões e oferece grande parte do material com que lidam os exercícios intelectuais mais elaborados. (THOMPSON 1981, p.200). 19 Pensamos a cultura como possuidora de complexos sistemas que manejam, transmitem ou distorcem a experiência de vida dos sujeitos, e que ela deve ser pensada numa interação dialética com o que não é cultura, que é a experiência de vida deste mesmo sujeito. Para Thompson (1981, p.362) estes conceitos são conceitos de junção. Experiência e Cultura são articulados constituindo ambas um ponto de junção entre estrutura e processo, entre as determinações objetivas do ser social e a possibilidade do agir e da intervenção humana. As experiências vividas dentro da instituição de ensino quando se tornam permanentes por um período de tempo, se transformam em práticas que passam a compor a cultura escolar. Nosso estudo buscou perceber os constituintes da cultura escolar do nosso grupo escolar num determinado período de tempo. Pareceu-nos importante estabelecer um entrelaçamento entre cultura escolar e experiência, no sentido de entendermos a formação da cultura escolar da instituição pesquisada, centrada na experiência humana daqueles que viveram no espaço e no tempo pesquisado. Para a realização deste trabalho de pesquisa que se propõe histórico, optamos pelo uso do conceito de Cultura Escolar como objeto de análise, ou seja, não entendemos a cultura escolar como um receituário do que se deva aplicar como modelo nesta busca, mas sim, tentamos dialogar com as fontes documentais buscando entender como funcionava uma escola primária rural. Neste sentido, entender como as experiências pedagógicas e administrativas contribuíam para a formação de sua cultura escolar. Definimos que o caminho desta busca, deveria ser trilhado sob a luz de uma acepção de natureza mais descritiva e de abrangência mais alargada. Esta opção está relacionada à execução da metodologia de pesquisa, pautada em fontes documentais um tanto quanto precárias, que pouco informam sobre os aspectos mais dinâmicos do cotidiano escolar. Pareceu-nos salutar tomar como referência uma concepção mais descritiva de cultura escolar de acordo com as idéias de Viñao Frago (1995). A partir do ponto de vista deste autor, cultura escolar pode ser vista como o conjunto de aspectos institucionalizados que caracterizam a escola como organização. Isso inclui práticas e condutas, modos de vida, hábitos e ritos, a história cotidiana do fazer escolar – objetos materiais -, função, uso, distribuição no espaço, materialidade física, simbologia, introdução, transformação, desaparecimento – e modos de pensar, bem como as idéias compartilhadas. Ou ainda de um modo mais geral, a cultura escolar é toda a vida escolar: fatos e idéias, mentes e corpos, objetos e condutas, modos de pensar, dizer e fazer. 20 Pudemos observar, como a cultura escolar da referida instituição se apresentou sob diferentes feições durante o passar dos tempos. Percebemos como sofreu interferências legais, e para isso se fez necessário o estabelecimento de um paralelo entre o desenvolvimento da instituição e o desenvolvimento de legislações, Programas ou Campanhas institucionais. Durante a pesquisa ao iniciar primeiramente por uma organização e análise das fontes, pudemos avançar do que foi percebido pela leitura do documento para uma interpretação da lei, por exemplo. Como se tentássemos partir de baixo para cima, em alusão ao fato das leis serem impostas de cima para baixo. Foi necessário checar a cultura escolar pelos dados recolhidos. Reforçando ainda a justificativa da necessidade de se relacionar cultura escolar e experiência, a partir das discussões de E.P. Thompson e utilizando as informações de Faria Filho (2005) sobre as possíveis modificações ocorridas no interior das culturas escolares, podemos dizer que as culturas escolares não são passíveis de reformas ou interrupções bruscas, justamente porque precisam ser construídas nas experiências e nas práticas escolares. Exemplificando: uma das práticas exigidas por todos os diretores do Grupo Escolar Com. Pedro Morganti que pudemos observar, era a de que os professores acompanhassem seus alunos em fila até o portão da escola. Mesmo com a mudança de diretores, essa exigência era mantida. Entendemos isso como representação de uma prática escolar, porque sinalizava como era a disciplina exigida dos alunos e também qual era o nível da responsabilidade que o professor recebia ao ser “constantemente” lembrado que tinha que manter a ordem. A voz dos professores raras vezes aparece nas atas das Reuniões Pedagógicas que tinham um caráter mais de estipular o que deveria ser cumprido. No entanto, a persistência nos apelos, leva a deduzir que as regras de disciplina não eram completamente cumpridas. Uma resistência dos alunos ou ingerência dos professores, pode sinalizar um conflito de interesses, que não ficam expressos somente a partir da leitura das atas. Com relação a uma interpretação de cultura escolar relacionada ao conceito de ordenamento jurídico, ou seja relacionada com uma legislação que a prescreve, tivemos que buscar nas fontes, principalmente nas atas de reuniões pedagógicas, indícios de como as prescrições legais foram incorporadas e postas em prática. Partimos de um olhar que observava as atas de reuniões pedagógicas como um lócus de reinterpretação e reconfiguração das leis, pois em cada passo da hierarquia onde se encontravam os sujeitos escolares, havia uma intencionalidade. Nesse sentido, entender como o corpo docente se apropriava das prescrições legais e quais os mecanismos utilizados para coloca-las em prática em seu cotidiano, pareceu-nos um excelente 21 caminho em direção a reconstrução de uma possível cultura escolar da instituição em questão. No entanto, ao não percebermos vozes que representavam o corpo docente, nos restou interpretar o silêncio, a ausência delas, como uma característica da cultura escolar do grupo escolar pesquisado. A falta de vozes atrelada a uma realidade onde as reuniões pedagógicas serviam como reuniões de prescrições, do que se deveria e do que não se deveria, nos levou a intuir sobre um certo ranço de autoritarismo para com o corpo docente. Todavia há nas atas disponíveis, por várias vezes, a orientação para que os professores não submetessem seus alunos a castigos físicos e nem a humilhações dentro da sala de aula. A recomendação era que os levassem até a diretoria para as devidas sanções. O fato destas recomendações persistirem no tempo, nos levou a pensar também na relação dos professores com os alunos indisciplinados, como uma relação conflituosa, baseada muitas vezes, na força física. É certo que não podemos tentar generalizações. Obstante, o que tentamos buscar é justamente as relações que estão nas entrelinhas, os conflitos que não figuram objetivamente e deliberadamente nos registros documentais. Para a realização deste estudo utilizamos fontes encontradas no arquivo da Escola Municipal de Ensino Fundamental do Campo “Prof. Hermínio Pagôtto”, pertencentes ao Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti. Foi necessário organizar os documentos que se encontravam guardados num dos armários da escola na sala da dispensa. Ao todo foram encontrados 217 documentos referentes ao período delimitado para o estudo, que nos serviram como fontes valiosas para o estudo histórico das instituições educativas e da cultura escolar, contribuindo para os estudos da história da educação brasileira. A variedade de fontes encontradas: Livros de chamadas, Livros pontos, de Matrículas, de Pessoal, Inventário, Ata das Reuniões Pedagógicas, Livros de Recortes, Mapas de Movimento, Atestados, laudos e Guias, Caixa Escolar, Livro de Correspondências, Memorandos e Circulares, Merenda Escolar, entre outros, foram catalogadas e organizadas usando a seqüência cronológica como critério de classificação dos documentos. Quando nos deparamos com estes materiais, tivemos que organiza-los, agrupa-los e recondiciona-los para posteriores consultas. Foi necessário, etiquetar as prateleiras com datas para uma melhor orientação espaço-temporal e também para facilitar o acesso de outros pesquisadores, que se interessem em aprofundar o conhecimento sobre as instituições educativas do meio rural. Organizar tais documentos ganhou uma áurea maior de compromisso historiográfico do pesquisador, que imerso na realidade pesquisada, tentou contribuir para a 22 reconstituição da identidade e da trajetória de vida da instituição de ensino, agrupando os documentos e disponibilizando-os, apresentando-os como um repertório geral de fontes que indicam a documentação existente naquele estabelecimento. Acreditamos, que estes dados organizados, como resultados iniciais de pesquisa, já contribuem para o campo de estudo que se volta para a investigação sobre o histórico das instituições educativas, e da cultura escolar, conforme enfatiza Souza (2000: p.14): [...]Em geral, esses arquivos são consultados ou constituídos em estudos monográficos sobre a história da instituição de referência (...) permitem reconstituir a identidade e a trajetória de vida de um determinado estabelecimento de ensino. No entanto, esse material pode ser valioso para estudos mais abrangentes, especialmente para a cultura escolar. Um repertório regional de fontes indicando a documentação existente em cada estabelecimento de ensino poderá potencializar a contribuição dos arquivos escolares para a História da Educação. Encontrar e organizar cronologicamente os documentos foram os primeiros passos na relação com as fontes documentais. Avançada esta etapa, nos deparamos com a necessidade de escolher entre tantos documentos, quais seriam os que nos ajudariam em nossa empreitada de pesquisa. Desse modo, optamos por uma análise dos Livros de Matrículas, que nos ofereceram inúmeros dados que contribuíram para a realização de uma caracterização do estabelecimento de ensino pesquisado, dos Livros de Ponto Pessoal, que nos possibilitaram o mapeamento cronológico daqueles que ocuparam a direção da instituição no decorrer do período estudado e dos Livros de Atas de Reuniões Pedagógicas, que permitiram buscar vestígios da cultura escolar. Em primeiro lugar buscamos caracterizar a referida escola primária rural, levantando informações oriundas dos Livros de Matrículas, sobre os alunos e sobre a comunidade onde estava inserida. Construímos um Quadro Geral de Matrículas que permitiu visualizar o histórico de matrículas durante o período estudado, assim como nos quadros em que sintetizamos as informações sobre endereços, nacionalidades, profissões e aprovações/retenções/evasões, é possível perceber a tentativa de reconstrução do histórico da escola. Em seguida, nos debruçamos sobre os Livros de Ponto Pessoal para entender as permanências e rupturas referentes ao exercício da função de diretor da referida instituição. Não nos propusemos realizar o mesmo com relação ao corpo docente da instituição pois, ao tentarmos isso, percebemos que não haveria tempo hábil para esse 23 trabalho de pesquisa, visto a quantidade de material para analisar, dado que era intenso o movimento de troca e substituição dos professores. Logo depois, examinamos as Atas de Reuniões Pedagógicas buscando vestígios da cultura escolar do período estudado. A partir das Atas de Reuniões pedagógicas, pudemos refletir sobre a normatização do trabalho docente, ou seja, sobre a postura exigida do professor em sala de aula e como ele ministrava os conteúdos selecionados, também sobre a disciplina exigida dos alunos e como a instituição se relacionava com a higienação dos corpos e dos espaços. Através das atas pudemos traçar considerações também sobre as Campanhas e Comemorações realizadas pela instituição pesquisada, assim como perceber quais as orientações específicas para as escolas rurais, e fazer uma reflexão sobre as intenções políticas, sociais e culturais do Programa de Extensão Rural, assim como identificar qual foi o papel da Assistência Técnica Rural, no processo de construção do ideário escolar de homem do meio rural. 24 I Usina tamoio: A história de um Império nos campos de Araraquara O Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti está situado nas terras da antiga Usina Tamoio, pertencentes à família Morganti. É impossível discorrer sobre a referida instituição de ensino sem apresentar qual o significado desta usina e de seus proprietários para a cidade de Araraquara, para o Estado de São Paulo, para o Brasil e toda a América do Sul. Para tal empreitada, utilizaremos principalmente os estudos realizados por Caires (1993). A Usina Tamoio nasceu em 1917 com status de usina, embora tenha sido originalmente denominada de “Engenho Fortaleza”. Organizada por Pedro Morganti ela surgiu num cenário de crise e decadência da produção cafeeira e início dos áureos tempos da cana de açúcar. Nela coexistem até a segunda metade da década de 1920 essas duas culturas agrícolas, quando passa a se apresentar como a única usina açucareira de Araraquara, respondendo por 12% da produção total do Estado de São Paulo. Segundo a interpretação de Pacheco (1988), outro historiador preocupado com a relação entre o cultivo do café e a urbanização de Araraquara e São Carlos no período de 1920 a 1940, a Usina Tamoio já se apresentava como um dos mais importantes estabelecimentos do setor em São Paulo. Sobre a expansão de suas terras pela região, podemos mencionar um grande salto ao comprar as propriedades vizinhas, em geral antigas fazendas cafeeiras, afetadas na sua grande maioria pela crise mundial do final da década de 1920. Essa acumulação de terras e riquezas fez com que, em 1946, ao bater o recorde continental de produção de açúcar, esta usina fosse oficialmente considerada a maior indústria sucro-alcooleira do país e da América do Sul.1 É valido mencionar que o fundador Pedro Morganti faleceu no ano de 1941, deixando para a sua família o controle do império do açúcar, formado, naquela época, por 5.278 alqueires que abrigavam de 7.000 a 10.000 trabalhadores habitantes. A Usina Tamoio, que também controlava financeiramente a Refinaria Paulista S/A, tinha em sua população trabalhadora dividida entre agricultura e industrialização, além do regime de colonato que perdurou até o início da década de 1960, colonos de cana, assalariados agrícolas, camaradas, operários de fabricação, manutenção, empregados da administração, dos escritórios, dos transportes, inclusive do transporte ferroviário. Em toda sua extensão a usina era povoada por aproximadamente 1.500 casas. Possuía oficinas mecânicas, um ambulatório médico localizado na Seção Bela Vista, 1 Conforme Álbum de Araraquara de 1948. p.124 25 ambulância, prédio do Circulo Operário Católico, um campo de pouso para aviões de pequeno porte, pelo menos uma capela em cada seção, uma biblioteca, sala de projeção de filmes e peças teatrais, um grande estádio esportivo, armazém, açougue, farmácia, padaria, loja de ferragens, loja de tecidos e armarinhos, torrefação de café, fábrica de sabão, leiteria, sorveteria, instituto de beleza, gabinete dentário, agência postal, serviço telefônico, um serviço de ônibus que ligava a cidade de Araraquara à estação de trem Tamoio, uma Catedral religiosa, além de uma hospedaria similar a um hotel citadino (CAIRES, 1993. p.66). Ao que parece a usina assegurava que todas as condições e necessidades de seus trabalhadores fossem satisfeitas ali mesmo. A partir dos estudos da pesquisadora, pudemos verificar que, desde a década de 1930, a Usina Tamoio já mantinha em seu território um Grupo Escolar de bom porte e seis escolas isoladas. Data de 1939, a primeira turma de formandos do Grupo Escolar D. Giannina Morganti, situado na sede da usina, lugar onde havia uma vila com casarões e as instalações industriais, ou seja, a moenda propriamente dita. É importante ressaltar que a Usina Tamoio era um grande latifúndio, com sua extensão de terras ligando as cidades de Araraquara aos limites da cidade de Ibaté e também aos limites da cidade de Guarapiranga, por isso era subdividida em seções, onde existiam colônias de casas. Neste sentido, a Seção Bela Vista, possuía uma colônia com aproximadamente 150 casas, um posto de saúde, uma escola, uma igreja católica e uma estação de trem. No entanto, foi sob o domínio da segunda geração da família, que Pedro Morganti elevou duas das seis escolas isoladas à condição de Grupo Escolar, sendo uma delas situada na Seção Bela Vista da usina, o objeto de estudo deste trabalho: o Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti. Este amplo aparato educacional existente dentro deste espaço rural, ilustra com êxito o processo de expansão do ensino público paulista. Desde as décadas de 1920 e 1930 os educadores intitulados “ruralistas” buscaram colocar em evidência o problema da falta de escolarização no meio rural. Era necessário construir um Brasil moderno, que além de adentrar rumo a industrialização, também assegurasse o dinamismo da economia agrária. A representação mais segura disso é o personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato, o típico caipira paulista, apático, doente, sem aspirações e esperanças, inepto para o trabalho e indiferente ao progresso e ao desenvolvimento social e econômico. Na defesa da Escola Rural, o grupo ruralista, cujo representante mais conhecido em São Paulo foi Sud Mennucci, defendia uma escola diferenciada, concebida não nos moldes de uma 26 escola citadina alicerçada nos valores e na cultura urbana, mas uma escola que possibilitasse a fixação do homem no campo. Este pensamento estava imbuído da crença nas vantagens da agricultura como alternativa para o desenvolvimento do país. Como muito bem demonstra Souza (2006), a expansão do ensino primário no estado de São Paulo na primeira metade do século XX privilegiou as áreas urbanas do estado, apesar de grande parte da população residir na zona rural. Ainda segundo ela, a difusão da educação no meio rural compreendia um investimento oneroso e com muitos impedimentos econômicos, políticos e sociais. O fato de encontrarmos na década de 1930 nas terras deste conglomerado agro-industrial seis escolas isoladas e um Grupo Escolar, demonstra quanto prestígio e força política exerciam os Morganti junto ao estado para garantir em suas terras estas instituições educacionais. No início da década de 1940 foi construído o segundo grupo escolar dentro das terras da usina, o Grupo Escolar Pedro Morganti. Não podemos nos esquecer que os grupos escolares durante a primeira metade do século XX foram concebidos como indicadores da modernidade da educação paulista, tais instituições foram vistas como símbolo da escola republicana e se tornaram símbolos da escola pública paulista. Quando instalados no estado de São Paulo no final do século XIX, os grupos escolares se opuseram ao modelo da escola monárquica, comumente encontrada durante o século XIX que era a escola de primeiras letras. Os grupos escolares eram o que existia de mais moderno em termos educacionais até a metade do século XX, e é importante apresentar aqui sua relevância no processo de construção da sociedade republicana para entendermos sua importância quando observados dentro de uma área rural. Estes “templos educacionais” consagraram a imagem de um sistema orgânico e racional e se legitimaram inclusive pelo conjunto de dispositivos materiais e simbólicos postos em visibilidade, como por exemplo a construção de prédios próprios para a escola compreendendo uma arquitetura imponente, mobiliário e materiais modernos e importados, sistema de inspeção técnica e realização de festas e comemorações cívicas que davam publicidade à ação escolar no meio social. Em meados dos anos de 1960, a usina completou seu sistema educacional, a partir da aprovação do projeto de lei nº 846/58, de autoria do Deputado Estadual Scalamandré Sobrinho, instituindo o “Ginásio Estadual da Usina Tamoio” que funcionava no Grupo Escolar D. Giannina Morganti localizado nas instalações da sede da Tamoio. 27 Em 1953, ao liderar a produção sucro-alcooleira do Estado de São Paulo, a Usina Tamoio era uma passagem necessária para todos os cidadãos ilustres que visitavam a cidade de Araraquara. Entre estes, o então Governador do Estado de São Paulo Jânio Quadros e o político Juscelino Kubstichek de Oliveira. Para tentar descrever o prestígio que a Usina Tamoio e seus dirigentes passaram a gozar na sociedade araraquarense, basta pensarmos que os altos lucros obtidos pela empresa, principalmente mediante subsídios recebidos por leis de proteção à produção açucareira, eram redistribuídos em atividades de cunho assistencial e cultural na cidade de Araraquara. Caires (1993), demonstra em sua tese, que à medida que aumentava o poder econômico dos Morganti, aumentava também a inserção dessa família nas atividades assistenciais e culturais da cidade. Segundo a autora, eles foram responsáveis diretos pela ampliação do prédio da maternidade Gota de Leite, pela ampliação das instalações do Asilo de Mendicidade, pela construção do prédio para funcionamento do Posto de Puericultura na Vila Xavier (um dos maiores bairros na época), além, dentre outras coisas, de patrocinarem o Núcleo de Belas Artes de Araraquara. Foi assim que em 1954, a Câmara Municipal da cidade, deu à uma via pública na região central o nome do fundador da usina e patriarca da família: “Comendador Pedro Morganti”. No entanto, na década de 1960 esta família entrou num novo período de sua história. As mudanças estruturais ocorridas na economia do país, foram sentidas também pela família Morganti. A implementação de técnicas agrícolas consideradas mais modernas e a extinção do colonolato em 1964, foram fatores que contribuíram significativamente para a existência de uma luta política entre usineiros e colonos. Os colonos, depois de vencidos, foram transformados em assalariados agrícolas e inclusive desapropriados de seus instrumentos de trabalho e de seus animais usados também no trabalho na terra. Em 1961 a usina lançou um plano mais agressivo de eliminação de seu excesso de mão de obra, considerando seu atraso frente ao acelerado processo de mecanização da lavoura já instaurado. Mesmo com todas as medidas tomadas no sentido de se transformar, para acompanhar o desenvolvimento das novas técnicas modernas de produção, em 1966 este modelo já se mostrava bastante obsoleto vindo a ruir completamente em Abril de 1969, com a venda da usina para um grupo detentor de forte capital financeiro, o Grupo Silva Gordo. Para este novo grupo empresarial, era importante não somente diminuir o quadro de funcionários, mas também desmantelar o ideário que existia entre os locais. O Grupo Silva Gordo 28 agiu dando seqüência ao projeto de mecanização da agricultura, não sendo necessário para isso, manter aquela enorme estrutura patriarcal, de relações bastante coloniais, construída pelos Morganti. Uma das iniciativas foi persuadir os funcionários a optarem espontaneamente pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e pelo seu desligamento da empresa. Houve um número significativo de trabalhadores, que mesmo depois de se desligarem da usina, ainda continuaram por lá, prestando serviços temporários. Talvez não conseguissem mais se desvencilhar da relação paternalista e de pertencimento àquele lugar, herdada dos tempos dos Morganti. A década de 1970 foi marcada pelo grande volume de ações trabalhistas. Em 1977 o Grupo Silva Gordo já havia imprimido na Usina Tamoio, as marcas de sua administração, segundo Caires (1993, p.368): Nesse quadro crítico, representado pelo não pagamento de elevados débitos fiscais para com o fisco estadual e federal, com constantes atrasos nos pagamentos dos salários dos trabalhadores e o não recolhimento do FGTS, trabalhar naquela usina passou a ser uma desventura. No final de 1981, os funcionários da Usina Tamoio deflagraram uma greve, que mesmo contando com um número significativo de adesões, inclusive dos trabalhadores da lavoura, acabou fracassando, porque, como sugere a pesquisadora, esbarrou em mecanismos utilizados pela empresa para esvaziar o movimento e na falta de tradição de luta por parte deste grupo de trabalhadores ofuscada, inclusive, pelo peso da relações sociais fortemente enraizadas desde o período Morganti. Após a demissão por justa causa de 22 trabalhadores por serem considerados “os cabeças” da greve, e a decretação de licença coletiva até o início de Janeiro de 1982, os trabalhadores foram desarticulados. O que não significa que a história estava acabada e resolvida. Logo após a greve dos funcionários da Usina Tamoio, toda a cidade de Araraquara foi mobilizada, informada dos acontecimentos, pela Comissão de Apoio aos Trabalhadores da Usina Tamoio, grupo constituído por várias entidades de classe de Araraquara: Sindicatos, Partidos, Representantes de instituições ligadas à Igreja Católica, à Comissão de Justiça e Paz e representantes dos Trabalhadores da usina, entre outros. A Comissão arrecadou fundos e alimentos para os grevistas e demitidos e também promoveu reuniões entre o proprietário e os trabalhadores da usina. Em Outubro de 1982 a Usina Tamoio foi paralisada com 250 a 500 mil toneladas de cana para serem moídas, fato repercutido nacionalmente. Na tentativa de solucionar o caso, 29 representantes de vários órgãos sindicais, governamentais estaduais e federais, chegaram a discutir a perspectiva de desapropriação da usina pelo não cumprimento dos interesses sociais. Aqui observamos uma nítida tentativa de aplicação das diretrizes oriundas do Estatuto da Terra. No entanto o que se notou foi a vitória do discurso elitista, que amparado juridicamente, dizia ser impossível tal processo de desapropriação, pelo fato dos trabalhadores rurais da usina serem enquadrados sindicalmente como industriários, sendo seus problemas trabalhistas de natureza urbana, não cabendo à eles uma justa reivindicação pela terra. Em 1986, na ocasião da visita do Ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrário – Dante de Oliveira - em Araraquara, políticos e lideranças sindicais locais solicitaram ao ministro a inclusão da Usina Tamoio no Plano Nacional de Reforma Agrária. O fato importante era que desde 1982 até aquela data, período em que a usina ficou desativada, suas terras continuaram à serem arrendadas e plantadas por outros usineiros da região. Segundo Caires (1993), a questão da terra apareceu atrelada à luta pelos direitos. O Sindicato dos Trabalhadores Industriários e Agrícolas de Araraquara defendia o pagamento dos direitos trabalhistas e prosseguiu acionando judicialmente o Grupo Silva Gordo, e conseguiu em Janeiro de 1983 que a justiça colocasse em leilão a Fazenda Chibarro, que havia sido oferecida pelo grupo proprietário em caução a dívida referente ao pagamento dos salários atrasados e o FGTS não recolhido dos funcionários. Após uma tentativa fracassada de leilão desta fazenda, foi decidido adjudicar a propriedade em nome do sindicato para o pagamento de tais débitos trabalhistas. A ação do sindicato que desde o início tendia a preferir medidas conciliatórias com os proprietários da usina, a ausência de tradição de luta por parte dos trabalhadores da usina e o desgaste provocado pelo longo período de espera, fizeram com que fosse realizado um acordo conciliatório entre as partes.2 Sobre este acordo conciliatório: [...]Ainda, para tal decisão, colaborou muito a crença de que a terra nada lhes servia sem as condições técnicas para trabalha-la. A ilusão de que a usina pudesse vir a ser reativada, impediu que os trabalhadores mantivessem o desejo de se tornar proprietários das terras, que segundo alguns deles, representam o seu pulmão. É na Fazenda Chibarro que se encontra a represa, fonte de água para a usina e da qual ela não prescinde. Mais uma vez, parece ter prevalecido a crença de que a terra do patrão era inviolável. Parece ter pesado nesta decisão resquícios da fidelidade sentida e devida desde o período Morganti, fortemente enraizada na memória e na vida dos seus antigos trabalhadores. (Caires ,1993 p.377) 2 A Assembléia de liquidação do processo 466/82, foi realizada na sede do S.T.I.A.A. em junho de 1988. 30 Devido a certeza de que após o acordo trabalhista, estava extinta a possibilidade dos trabalhadores assalariados rurais da usina se tornarem proprietários de terras, e que as terras desapropriadas continuariam a ser arrendadas sem nenhum controle por parte dos órgãos governamentais, o Sindicato dos Empregados Rurais, com sede em Araraquara, liderado pelo sindicalista Élio Neves, iniciava uma campanha que objetivava mobilizar trabalhadores desempregados, gerando uma demanda real por terra na região. Foi a partir daí, que em 1989, a Fazenda Bela Vista do Chibarro foi ocupada pelos trabalhadores rurais, sendo a partir de então, destinada ao “Projeto de Reforma Agrária Assentamento Bela Vista do Chibarro”.3 A partir deste momento, aproximadamente 150 famílias oriundas de várias partes do país, orientadas pelo líder sindical Élio Neves, migraram para estas terras e deram início ao processo de demarcação e distribuição das terras. A divisão da Fazenda Bela Vista em lotes agrícolas para cada família foi feita sob a orientação do DAF (Departamento de Assuntos Fundiários), órgão do Governo do estado de São Paulo. A partir de então, os assentados passaram a cultivar aquela terra para a produção de alimentos para subsistência e para comercialização. 3 O trabalho de pesquisa realizado por BARONE, LA. Revolta Conquista e Solidariedade: a economia moral dos trabalhadores rurais em três tempos. Araraquara, 1996. 164 p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista percorre o caminho da luta dos bóia-frias da região de Guariba por direitos e por terra, inclusive discorre sobre a entrada de um grupo de trabalhadores oriundos do movimento de Guariba no projeto de Reforma Agrária do Assentamento Bela Vista. p. 105. 31 II Grupo Escolar Pedro Morganti: disseminação da cultura escrita e a formação do trabalhador rural. O objetivo deste capítulo é apresentar a escola primária estudada a partir de um diálogo com as seguintes fontes documentais: os Livros de Matrículas e os Livro do Ponto Pessoal. Apontaremos, a partir da leitura e sistematização dos dados, algumas considerações sobre o desenvolvimento histórico desta instituição de ensino. É evidente que não daremos conta de recontar minuciosamente o cotidiano do grupo escolar, todavia, abordaremos alguns temas que nos permitiram a leitura destas fontes documentais. Os livros de matrículas foram instrumentos importantes para uma caracterização do corpo discente. A partir deles pudemos apresentar informações referentes à quantidade de alunos que freqüentaram esta escola no decorrer dos anos, construímos um quadro referente ao endereço dos alunos que freqüentaram a instituição, apresentamos as diferentes nacionalidades dos pais dos alunos, assim como quais foram as diferentes profissões encontradas nos registros. Nos Livros Pontos foram encontradas informações que nos permitiram construir uma linha do tempo cronológica e nominal dos diretores deste grupo escolar. 32 Livros de Matrículas: contribuições para uma caracterização do Grupo Escolar Entre 1942 e 1988, podemos observar que a escola ofereceu o ensino primário de 4 anos para meninos e meninas moradores da Fazenda Bela Vista. O quadro de matrículas permite uma visualização do fluxo de alunos durante o período estudado: 1. Demonstrativo de Matriculas dos Alunos do G.E. “Comendador Pedro Morganti” 1942-1988 MATRÍCULAS POR SÉRIE Matriculados MASCULINO FEMININO ANO MASC FEM. TOTAL PRÉ 1° 2° 3° 4° PRÉ 1° 2° 3° 4° 1942 89 85 174 76 05 08 56 10 19 1945 146 136 282 83 26 14 23 82 23 09 22 1950 98 89 187 40 28 12 18 42 28 06 13 1955 127 102 229 65 26 29 07 45 18 26 13 1961 148 131 279 29 34 32 34 19 38 43 16 21 13 1965 119 125 244 08 33 24 26 28 23 28 43 17 14 1970 77 94 171 15 18 20 8 16 17 14 23 13 27 1975 33 37 70 S/R 1980 16 21 37 1985 14 03 17 1986 09 05 14 1987 06 05 11 1988 04 07 11 Fonte: Livros de Matrícula do Grupo Escolar Pedro Morganti de 1942 a 19884 Todos os dados analisados nesse item foram retirados das fontes documentais apontadas abaixo. Os registros marcam que o ensino pré-primário foi instituído nesta instituição de ensino a partir do ano de 1961, existindo seu registro em Livro de Matrícula separado desde esta data até o 4 Livro de Matrícula “Secção Masculina” de 1942 a 1948 do Grupo Escolar da Fazenda Bela Vista, Livro de matrícula “Secção Feminina” de 1942 a 1948 do Grupo Escolar da Fazenda Bela Vista, Registro Escolar: Matrícula, Professores e Aparelhamento escolar – Modelo I – do Grupo Escolar Rural Comendador Pedro Morganti de 1949 a 1957, Livro de Matrícula dos alunos do Grupo Escolar Rural Comendador Pedro Morganti de 1961 a 1964, Livro de Matrícula das alunas do Grupo Escolar Rural Comendador Pedro Morganti de 1961 a 1964, Livro de Matrícula “Masculino” do Grupo Escolar Rural Comendador Pedro Morganti de 1965 a 1967, Livro de Matrícula “Feminino” do Grupo Escolar Rural Comendador Pedro Morganti de 1965 a 1967, Livro de Matrícula do G.E.R. “Comendador Pedro Morganti” de 1968 a 1973-Feminino, Livro de Matrícula do G.E.R. “Comendador Pedro Morganti” de 1968 a 1974-Masculino, Livro de Matrícula da 2ª Escola Mista da Secção Bela Vista em Tamoio – Araraquara – de 1975 a 1984, Livro de Matrícula da 1ª Escola Mista da Secção Bela Vista em Tamoio – Araraquara – de 1975 a 1988. 33 ano de 1974. Mesmo os dados sobre a pré-escola estando registrados em livro de matrícula separado, eles foram incorporados no montante de alunos e alunas levantados nos demais livros em cada ano analisado. Assim como também foram incorporadas as informações que se somavam às dos demais livros com relação aos dados de endereços, filiações, profissões, nacionalidades. Nos documentos existentes, não há registro de que a pré-escola tenha continuado existindo nesta instituição de ensino depois de 1974. Observamos, portanto dez anos de registro da existência desta modalidade de ensino pré- primário na vida deste grupo escolar. Estudar quais motivos históricos que culminaram com sua implementação, assim como perceber quais foram as razões de sua extinção, são questões instigantes que sugerem um aprofundamento, uma análise mais elaborada e completa. Iniciamos nossa análise pelos Livros de Matrículas, por serem substancialmente ricos em informações sobre o alunado no decorrer do tempo; e foram abundantes as informações recolhidas, que nos permitiram construir uma caracterização do Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti de 1942 até o final da década de 1980. A partir dos dados recolhidos dos Livros de Matrícula do período de 1942 a 1988, foi possível proceder a caracterização do “Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti”. Não realizamos a aferição anual dos dados, optamos por recolhe-los de cinco em cinco anos. É importante apontar que nos vimos livres em retroceder e acelerar cronologicamente, de acordo com a disposição em que os dados se apresentaram no momento da coleta e de sua sistematização. Iniciamos no ano de 1942, data dos documentos mais antigos encontrados, passamos por 1945, por entender que nestes primeiros anos de vida deste grupo escolar, seria importante diminuir o espaço de tempo de análise dos dados, para aumentar a quantidade de indícios oferecidos a esta pesquisa. Outro espaço de tempo que não foi de cinco anos, foi de 1955 a 1961. Quando voltamos a pesquisa documental para o ano de 1960, nos deparamos com somente um livro de matrícula, o livro feminino, não existindo dados referentes a Secção Masculina. Então observamos que o ano de 1961 continha estas informações completas e era melhor que o usássemos como fonte de dados; logo em seguida, fomos ao ano de 1965, diminuindo o período de nossa análise para quatro anos. Continuamos então,a partir desta data, a realizar a nossa sistematização de dados, seguindo o intervalo de tempo de cinco anos. Somente na década de 1980, é que novamente vamos alterar o espaço de tempo para a análise dos dados; a partir de 1985 até o ano de 1988 os dados passaram a ser coletados anualmente. 34 Sobre a riqueza de informações presentes nos livros de matrículas, já havia nos orientado (Souza, 2000 p.14) que: [...] contém dados relevantes que permitem uma criteriosa caracterização dos alunos em relação a nacionalidade, filiação, idade, condições sócioeconômicas (dados que podem ser aferidos tendo em vista a profissão do pai e ou responsável e o endereço residencial do aluno.(...) “Esses dados são essenciais para uma compreensão mais acurada sobre as demandas pela escola e as características do alunado. Para registrar os dados do ano de 1970, estávamos manuseando dois livros de matrícula, , iam de 1968 a 1974, e neles nos defrontamos com as “séries anexadas”. Quando nos debruçamos sobre o ano de 1975, nos deparamos com dois livros de matrículas: Livro de Matrícula da 1ª escola Mista da Secção Bela Vista em Tamoio de 1975 a 1988 e Livro de Matrícula da 2ª Escola Mista da Secção Bela Vista em Tamoio de 1975 a 1984. No primeiro livro, não há a indicação de séries, o alunado está disposto seguindo somente a ordem de matrícula; já no segundo livro, o da 2ª Escola Mista, há o registro das séries em que aqueles alunos estavam matriculados. Por isso, a decisão tomada foi a de apresentar na tabela os dados deste ano de maneira geral, sem especificar as séries dos alunos. Neste ano é perceptível uma queda no número de alunos matriculados nesta instituição de ensino. O último registro feito, no ano de 1970, dava conta de 171 alunos, agora vamos desconsiderar os 32 alunos do ensino pré-primário, ou seja, havia 139 alunos matriculados no ensino fundamental. No ano de 1975 não temos registro de alunos matriculados no ensino pré- primário, o que nos leva a pensar em sua extinção e os registros dão conta de 70 alunos, distribuídos na 1ª e na 2ª Escola Mista. Ou seja, houve uma diminuição de 139 para 70 alunos; a escola encolheu e em apenas cinco anos, diminuiu seu público pela metade. O que está relacionado ao novo modelo administrativo impresso na Usina Tamoio pelo grupo empresarial que acabara de a adquirir. Após a compra da usina pelo grupo Silva Gordo, foi levado adiante o plano de diminuir consideravelmente o número de funcionários, visto a necessidade da empresa se adequar ao novo modelo de desenvolvimento agrícola, mais pautado na mecanização da cultura da cana de açúcar em detrimento da mão de obra dos trabalhadores agrícolas, modelo orientado no sentido oposto ao do paternalismo colonial da era Morganti. Podemos apontar algumas reflexões que permearam a mente do pesquisador ao analisar as fontes encontradas no interior da instituição, relacionando-as à uma contextualização histórica sobre a Usina Tamoio, partindo de sua ascensão e continuando após sua derrocada. 35 Nos dois primeiros Livros de Matriculas referentes aos primeiro seis anos de existência do Grupo Escolar, a nomenclatura “Grupo Escolar da Fazenda Bela Vista”, nos remete a observar o fato de que Pedro Morganti, desde 1917, ocasião em que fundou o “Engenho Fortaleza”, célula inicial de todo o seu império do açúcar, até idos dos anos 40, adquiriu praticamente todas as fazendas de café existentes em torno da sede da usina, inclusive a Fazenda Bela Vista, que passou a partir de então, a fazer parte do grande império da família Morganti. Segundo Caíres (1993, p. 79), foi a partir da segunda geração Morganti que o tal Grupo Escolar foi rebatizado, e renomeado, homenageando seu fundador, o sr. Pedro Morganti, isso logo nos anos seguintes ao seu falecimento. No diálogo com os Livros de Matrículas, pôde-se observar o intervalo de tempo em que houveram crescimentos e diminuições no número de matrículas por ano, mostrando profunda relação com o desenvolvimento econômico e social da Usina tamoio; nos momentos em que o império do açúcar estava no em ascensão e auge, observamos um crescimento substancial de 38% no número de matrículas nos três primeiros anos analisados, chegando ao ano de 1945 com 282 alunos, mantendo esta média de alunos até o início da década de 60, quando em 1961 possuía 279 matriculados. Já ao observarmos o fato de que em 1970 haviam 171 matrículas registradas, apontamos uma diminuição no número de alunos matriculados por volta de 39%. O que estabelece um diálogo com as mudanças ocorridas no decorrer da década de 1960, tanto no que concerne a economia do país, quanto aos seus efeitos sobre questões sócio-econômicas da Usina Tamoio. Sobre o processo de derrocada que passou a usina nos anos 60, nos escreve assim (CAIRES, 1993. p.95): [...] a década de 60 marcou um novo período na história do setor. A política dirigista do I.A.A., com a limitação de cotas de fabricação e a regulação dos preços do açúcar, favorecendo os usineiros do nordeste em detrimento dos usineiros de São Paulo, provoca uma crise estrutural no setor açucareiro paulista.” (...) A modernização da agricultura brasileira/paulista, as mudanças na legislação trabalhista com a promulgação do ETR (Estatuto do Trabalhador Rural) em 1963, a política repressiva do pós 64 e também certas particularidades deste grupo empresarial, são fatores que, ao nosso ver, devem ser levados em conta para uma tentativa de explicação da débâcle deste forte grupo usineiro. Com o fim do império dos Morganti, a partir da venda da Usina Tamoio para o Grupo Silva Gordo, em 1969, este grupo aperfeiçoa o processo, já iniciado pelos proprietários 36 anteriores, de implantação de um novo modelo administrativo organizacional, além da utilização de algumas máquinas agrícolas e do uso de técnicas de cultivo mais modernas. Ainda refletindo sobre as informações oriundas dos Livros de Matrículas, no que se refere ao fluxo e refluxo de matrículas ao longo dos anos, relacionado ao contexto histórico e social em que viviam estes alunos, praticamente toda a década de 1970, foi marcada por ações trabalhistas, que culminaram em acordos com os empregados, na maioria das vezes somente vantajosos para os empregadores. As fontes indicam num curto período de 5 anos, de 70 a 75, o grupo escolar em questão, perdeu 101 alunos, ou seja, em apenas 5 anos a escola perdeu praticamente 60% do alunado que tinha no início da mesma década. O que se repete no próximo qüinqüênio. Em 1975 esta instituição tinha 70 alunos matriculados e ao chegar em 1980 possuía apenas 37 deles, ou seja no segundo qüinqüênio foi reduzida em 52% dos alunos que atendia. Percebemos então, que a quantidade decrescente de alunos está intimamente ligada, às ações postas em práticas pelo novo modelo organizacional e operacional adotado na Usina tamoio durante todos os anos 70. O enxugamento do corpo de empregados, provocou o acelerado esvaziamento do corpo discente do grupo escolar pesquisado durante esta década. Ainda conforme os dados registrados no Quadro de Matrículas, essa instituição de ensino iniciou o ano de 1980 com 37 alunos, em 1985 possuía 17 alunos, em 1986 haviam 14 alunos e nos dois anos seguintes manteve o número de 11 alunos matriculados. Se de um lado, em seus primórdios a escola apresentou um crescente aumento na quantidade de alunos matriculados, por outro, os anos 80 marcaram o seu esvaziamento e sinalizaram um caminho que levaria a sua desativação. No contexto político e social, os anos 80 se iniciaram com uma polarização muito grande entre o usineiro e os trabalhadores que ainda restavam morando na usina. Uma greve geral iniciada no fim de 1981 e terminada no inicio de 1982, serve para ilustrar o clima que pairava entre todos. Após um duro golpe nos trabalhadores, inclusive com demissões punitivas, conforme demonstra Caires (1993: p. 370) a greve foi encerrada, e o grande capital, como de costume, saiu vitorioso. Após a greve, a usina voltou a funcionar por somente dois meses, de agosto a outubro de 1982, data em que foi paralisada por não apresentar condições financeiras de saldar suas dívidas trabalhistas e nem de continuar desempenhando suas funções produtivas. A Fazenda Bela Vista do Chibarro, onde está localizado nosso grupo escolar em foco, sofreu então processo de adjudicação e em 1987 a decisão saiu favorável aos trabalhadores. Com receio de que fossem 37 aplicadas as diretrizes do Estatuto da Terra, e que a fazenda fosse desapropriada e revertida para os trabalhadores, foi forçado um acordo trabalhista conciliatório entre trabalhadores e o Grupo Silva Gordo. Os registros históricos usados neste trabalho, apontam que o Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti esteve em funcionamento até o ano de 1988. O fato dos livros de matrículas correspondentes aos dois últimos anos, apresentarem a nomenclatura de “Livro de Matrícula da 1ª e 2ª Escolas Mistas” causou certa inquietação de pesquisa, que após algum tempo foi respondida, pois nestes dois últimos anos a escola funcionou como um apêndice da Escola Estadual Carlos Batista Magalhães. As aulas eram ministradas no prédio do Grupo Escolar Pedro Morganti, no entanto, todo o aparelhamento técnico administrativo era feito pela escola citada, situada na cidade de Araraquara. Os 11 estudantes que permaneceram matriculados e freqüentando as aulas na Fazenda Bela Vista até o ano de 1988, eram filhos de ex-empregados da Usina Tamoio, em sua maioria, pessoas ligadas ao trabalho agrícola ou de serviços gerais, que no ano de 1989 foram incorporados ao projeto de Reforma Agrária e continuam morando no Assentamento Bela Vista até os dias de hoje. Ao realizar esta análise das fontes documentais, foi imprescindível levar em consideração os conflitos existentes entre a relação de patrão/empregado, assim como pensar esta relação dentro de outro conflito maior, que é o existente entre modelos de desenvolvimento para a agricultura. Discorrer sobre o processo de transição de um sistema paternalista colonial para outro centrado em tecnologias modernas e aplicáveis ao campo, ofereceu elementos para entender o que nos apresentou o arquivo do Grupo Escolar Pedro Morganti. Numa tentativa de mapear onde moravam os alunos desta escola primária rural construímos um quadro de endereços de 1942 a 1988: 2. Endereços dos Alunos Matriculados no G.E. “Comendador Pedro Morganti”(1942-1988) ANO ENDEREÇOS ALUNOS 1942 Secção Bela Vista 151 Secção Andes 23 TOTAL 174 1945 Secção Bela Vista 193 Secção Andes 60 Secção Capim Fino 14 Secção Embirussú 11 38 Secção Olaria 02 Secção Coloninha 01 Secção Aparecida 01 TOTAL 282 1950 Secção Bela Vista 135 Secção Andes 32 Secção Embirussú 15 Secção Aparecida 02 Secção Sant´ana 02 Secção Conquista 01 TOTAL 187 1955 Secção Bela Vista 174 Secção Andes 41 Secção Embirussú 06 Secção Atibaia 06 Secção Aparecida 02 TOTAL 229 1961 Secção Bela Vista 217 Secção Andes 60 Secção Aparecida 02 TOTAL 279 1965 Secção Bela Vista 162 Secção Andes 69 Secção Embirussú 08 Secção Morro Azul 03 Secção Atibaia 02 TOTAL 244 1970 Secção Bela Vista 130 Secção Andes 40 Secção Santa Inês 01 TOTAL 171 1975 Secção Bela Vista 68 Secção Andes 02 TOTAL 70 1980 Secção Bela Vista 37 1985 Secção Bela Vista 17 1986 Secção Bela Vista 14 1987 Secção Bela Vista 11 1988 Secção Bela Vista 11 Fonte: Livros de Matrícula do Grupo Escolar Pedro Morganti de 1942 a 1988 Este quadro nos revela a nomenclatura das demais seções de moradores existentes dentro das terras da Usina tamoio: Secção Bela Vista, Secção Andes, Secção Capim Fino, Secção Embirussú, Secção Olaria, Secção Coloninha, Secção Aparecida, Secção Santana, Secção 39 Conquista, Secção Atibaia, Secção Morro Azul. As Secções: Lucânia, Sta. Inês e São Carlos permaneceram englobadas na Secção Bela Vista, e as demais Secções que não aparecem nesta listagem: Secção Serra Dágua, Secção Marilu, Secção Salto, Secção Sta. Beatriz, Secção Marisa, Secção Mantuana, Secção banhadinho, Secção Jacaré e Secção Sta. Elza, deviam não enviar alunos para esta instituição de ensino devido a grande distância entre as terras, conforme nos informa o mapa da Usina tamoio. Percebemos que desde a sua fundação a escola recebeu alunos oriundos de outras seções. Destas seções a que enviava a maior quantidade de alunos para esta escola primária era a Seção Andes, situada nas imediações da Seção Bela Vista, local onde pelo número reduzido de moradores, não havia uma instituição escolar primária, inclusive pudemos ver que a escola continuou recebendo os alunos oriundos desta Secção até metade da década de 1970. Também, verificamos que de 1945 a 1955, período de apogeu econômico dos Morganti, esta instituição de ensino chegou a receber alunos oriundos de 10 colonias de moradores diferentes. O que nos indica que esta escola contribuiu para a educação dos filhos dos trabalhadores não só da Fazenda Bela Vista, mas de várias secções existentes dentro dos domínios da família Morganti. O que nos impressionou foi a imensidão de terras que pertenciam ao Grupo Morganti, uma análise sumária do mapa e da quantidade de seções, pôde demonstrar o tamanho deste conglomerado que compunha a Usina Tamoio e nos permitiu sentir a força econômica que este grupo impunha ao seu redor. Outras informações que contribuíram para uma caracterização sociológica da comunidade em que pertencia o grupo escolar pesquisado, foram as fornecidas pelo quadro informativo da naturalidade dos pais dos alunos: 3. Nacionalidade dos Pais dos Alunos do G.E. “Comendador Pedro Morganti”(1942 – 1988) ANO BRASILEIRA ITALIANA ESPANHOLA JAPONESA ALEMÃ PORTUGUESA POLONESA DESC. 1942 137 29 08 - - 1945 234 24 19 03 02 - 1950 157 11 05 11 01 01 01 1955 224 - - 02 - 01 02 1961 266 - - - - - - 13 1965 241 - 03 - - - - 1970 171 - - - - - - 1975 36 - - - - - - 1980 37 1985 17 - - - - - - 1986 14 1987 11 - - - - - - 1988 11 Fonte: Livros de Matrícula do Grupo Escolar Pedro Morganti de 1942 a 1988 40 Este quadro demonstra, pelas informações recolhidas nos livros de matrículas, que esta escola primária atendeu majoritariamente a filhos de cidadãos brasileiros. Embora tenha ocorrido a presença de pais imigrantes durante os anos de 1940 a 1950 que representaram durante esta década, um quarto da população escolar. A imigração italiana foi a que predominou, seguida da espanhola e japonesa. Com relação à imigração italiana e a imigração japonesa, é importante apontar que em nossa região existiam muitas fazendas de café no início do século, inclusive a própria Fazenda Bela Vista havia sido uma fazenda produtora de café. O que explicaria o contexto de predomínio de imigração destes povos, pois é fato o êxodo destas populações para o trabalho agrícola no Brasil, tendo em vista a necessidade de uma substituição emergencial para o trabalho escravo. 4. Profissão dos Pais dos Alunos do G.E “Comendador Pedro Morganti” (1942 – 1988) ANO PROFISSÕES TOTAL 1942 Colono 139 Oleiro 5 Pedreiro 12 Fiscal 7 Carpinteiro 2 Farmacêutico 3 Ferroviário 1 Chouffer 1 Lixeiro 1 Carroceiro 1 Barbeiro 1 Guarda – Livros 1 Administrador 1 Total 174 1945 Lavrador 226 Pedreiro 13 Ferroviário 6 Oleiro 5 Carroceiro 4 Chouffer 5 Lixeiro 4 Carpinteiro 3 Doméstica 3 Fiscal da Água 2 Retireiro 2 Guarda – Livros 2 Comerciante 2 Jardineiro 2 Guarda Noturno 1 Maquinista 1 Carreiro 1 Total 282 41 1950 Camarada 86 Lavrador 25 Pedreiro 14 Colono 13 Hortelão 7 Toneleiro 6 Chouffer 6 Carroceiro 4 Ferroviário 3 Tratorista 3 Fiscal 3 Feitor 3 Carreiro 3 Motorista 2 Guarda 2 Fazendeiro 1 Maquinista 1 Barbeiro 1 Enfermeiro 1 Administrador 1 Encanador 1 Sitiante 1 Total 187 1955 Lavrador 171 Ferroviário 13 Motorista 8 Pedreiro 7 Carroceiro 6 Tratorista 5 Fiscal 5 Sapateiro 3 Hortelão 2 Administrador 2 Feitor 1 Escriturário 1 Servente 1 Cocheiro 1 Enfermeiro 1 Doméstica 1 Gerente de Armagem 1 Total 229 1961 Lavrador 225 Motorista 19 Operário 14 Chefe de setor 4 Guarda 3 Ferroviário 3 Escriturário 2 Servente 2 Topógrafo 2 Professor 1 Tratorista 1 Gerente de Armagem 1 Tornador 1 42 Doméstica 1 Total 279 1965 Lavrador 177 Motorista 26 Operário 20 Servente 5 Guarda 3 Tratorista 3 Gerente de Setor 3 Ferroviário 2 Professor 2 Doméstica 1 Escriturário 1 Comerciante 1 Total 244 1970 Lavrador 142 Operário 10 Motorista 6 Mecânico 3 Tratorista 4 Doméstica 2 Servente 2 Func. Público 1 Ferroviário 1 Guarda 1 Administrador 1 Escriturário 1 Pedreiro 1 Soldador 1 Total 171 1975 Lavrador 56 Operário 4 Enfermeiro 2 Motorista 2 Guarda 2 Tratorista 1 Comerciante 1 Sitiante 1 Mecânico 1 Total 70 1980 Lavrador 21 Tratorista 7 Motorista 4 Doméstica 2 Operário 1 Mecânico 1 Guarda 1 Total 37 1985 Lavrador 7 Aposentado 6 Motorista 2 Tratorista 2 Total 17 1986 Lavrador 6 43 Desempregado 4 Aposentado 2 Motorista 1 Tratorista 1 Total 14 1987 Lavrador 9 Motorista 1 Tratorista 1 Total 11 1988 Lavrador 9 Motorista 1 Tratorista 1 Total 11 Fonte: Livros de Matrícula do Grupo Escolar Pedro Morganti de 1942 a 1988 Sobre a profissão dos pais, pudemos verificar que no Grupo Escolar Pedro Morganti, os filhos dos lavradores sempre foram a maioria dos alunos matriculados Em todo o período demarcado, a quantidade de matrículas dos filhos cujos pais se declararam lavradores foi superior a dos que se declararam desempenhando outras profissões. Observamos que a nomenclatura referente ao trabalhador da terra foi se alterando no decorrer da amostragem. Em 1942 o número de pais de alunos cuja profissão era registrada como colonos era de 139 pessoas, já 3 anos depois, os registros apontaram 226 lavradores, então registrados no livro de matrícula com esta denominação. Houve a mudança de nomenclatura, assim como o aumento significativo no número de trabalhadores ligados diretamente ao trabalho manual agrícola. Em 1950 aparecem além de 25 lavradores, mais 86 pessoas registradas nos livros de matrículas com a terminologia de “camaradas”, totalizando 111 pessoas apontadas como ligadas ao trabalho agrícola. Cinco anos depois, os dados apontam o início de um novo crescimento na matrícula de filhos de agricultores: Em 1955: 171 matrículas; em 1961: 225 matrículas. Percebemos que o período que compreendeu o apogeu da produção açucareira da Usina Tamoio, também foi o período em que mais o apelo pela escolarização esteve presente entre os filhos dos trabalhadores rurais. Estes dados podem contribuir para uma maior compreensão da cultura local. O colono como aparece nos primeiros registros, era um trabalhador que possuía muito mais raízes com a terra e com o local, o fato de ter sido substituído pelo lavrador e depois pelo camarada, já nos ofereceu um possível sinal de que estava em curso uma mudança na estrutura de trabalho dentro daquele espaço da usina. O colono possuía muito mais ligação com a terra, morava nela e criava raízes, entregava seu filho para ser batizado pelo usineiro, enfim sua relação de trabalho era perpassada por valores e obrigações morais para com seu empregador, que além de lhe oferecer trabalho 44 também lhe oferecia casa e segurança. Sua substituição aponta para um processo de modernização imposto ao campo. Um afrouxamento das relações de trabalho, visto que o camarada era um trabalhador rural com um caráter mais itinerante, um prestador de serviços. O crescimento no número de matrículas dos filhos de trabalhadores agrícolas, justifica o sentido da existência e a função social deste grupo escolar. No ano de 1970 apareceu nos registros a matrícula de 142 crianças filhas de lavradores, e em seguida este número caiu para apenas 56 em 1975. Estes cinco anos marcaram o início do processo de modernização imposto pelos novos proprietários da Usina Tamoio, processo de mecanizar a agricultura, substituindo o homem pela máquina, e num sentido mais abstrato, um processo de mudança da própria sociedade brasileira, que tentava sair do atraso, que era reflexo do nosso antigo sistema colonial, e adentrar no mundo moderno, no novo modelo de alta competitividade econômica e um novo delineamento social. Era necessário desconstruir todo o emaranhado de relações sociais de cunho paternalista e colonial e introduzir as novas idéias, que eram atreladas ao novo modelo de desenvolvimento que se queria para a sociedade brasileira. Houve diminuição no número total de matrículas a partir do fim da década de 60 e início da década de 70, o que comprova que os cortes de empregados se deram de uma maneira geral, no entanto, como representavam a maioria das matrículas, o corte no número de lavradores foi o que mais se fez sentir, afinal, seus filhos representavam quase a totalidade dos alunos desta escola primária rural. De um total de 21 lavradores com filhos nesta instituição em 1980, somente 9 permaneceram na fazenda, depois da tramitação da greve e dos acordos firmados, sendo incorporados em 1989 ao Projeto de Reforma Agrária do Governo Federal. Os anos referentes a década de 1980 foram de grandes conflitos entre empregadores e empregados da Usina Tamoio, década de terminou com parte das terras da usina, as referentes a Fazenda Bela Vista, sendo desapropriadas pelo Governo federal, após inúmeras batalhas judiciais, ações trabalhistas, pedido de falência. O que explica o esvaziamento sofrido pela instituição de ensino, iniciado na década de 70 e levado a cabo nos anos 80. Pudemos inferir através dos registros, que durante este processo gradual de esvaziamento, esta instituição de ensino foi denominada por Grupo Escolar Pedro Morganti até o ano de 1974. No ano seguinte passou a ser apontada nos registros escolares como Escola Mista da Seção Bela Vista em Tamoio. Em 1975, fazia apenas 5 anos que a Usina Tamoio havia sido vendida ao Grupo Silva Gordo, no entanto, dado o reduzido número de alunos e a diminuição de sua 45 importância social dentro do novo contexto econômico, o Grupo Escolar Pedro Morganti, assumiu uma nova configuração, com turmas unificadas, sendo uma escola mista. Passou então a ser identificada não pelo nome daquele que a fundou, mais sim pelo nome do espaço geográfico onde estava localizada. Pensando que a experiência dos sujeitos envolvidos na história deste grupo escolar contribuiu para a formação de sua cultura escolar, foi necessário também que fizéssemos uma apresentação dos diretores que atuaram nesta instituição de ensino. Esta caracterização serve para colocar em relevo os importantes atores que conduziram este palco educacional. Apresenta-los pareceu-nos uma importante contribuição aos registros históricos. Para tanto foi necessário que nos debruçássemos sobre os Livros do Ponto Pessoal que, por se apresentarem dando conta de praticamente todo o período de estudo desta pesquisa, puderam nos oferecer dados que permitiram uma identificação mais completa. 5. Relação Nominal dos Diretores(as) do Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti de 1942 a 1975 NOME FUNÇÃO/CARGO PERÍODO PERMANÊNCIA Amêndola Silva Diretora Interina 04/1942 a 05/1942 02 meses Paulo Ferrari Massaro Diretor Efetivo 06/1942 a 04/1943 10 meses Iracema Gonçalves Gazi Diretora Efetiva 05/1943 a 06/1944 13 meses Heledina de Oliveira Diretora Interina 07/1944 01 mês Eros Benfatti Diretora Estagiária 08/1944 a 12/1946 28 meses Zoe Tavares Diretora Substituta 01/1947 a 08/1947 08 meses João Loureiro Miranda Diretor Efetivo 09/1947 a 10/1947 02 meses Zoe Tavares Diretora Substituta 11/1947 a 02/1948 04 meses Maria Cruz Diretora Substituta 03/1948 a 06/1948 04 meses Geraldo Schettini Sobrinho Diretor Interino 07/1948 a 09/1948 03 meses José Armando Furlani Diretor Efetivo 10/1948 a 12/1949 14 meses Missiota Reis Pitta Diretora Substituta 03/1950 a 07/1950 05 meses Geraldo Schettini Sobrinho Diretor Interino 08/1950 a 10/1950 03 meses Dalmo Homem de Melo Diretor Efetivo 11/1950 a 08/1954 45 meses Lúcio Ferraz de Arruda Diretor Interino 09/1954 a 09/1956 24 meses Amadeu Cosentino Diretor Efetivo 10/1956 a 03/1960 41 meses João Levy Junior Diretor Interino 04/1960 a 07/1961 15 meses Jayme de Arruda Dias Diretor Interino 08/1961 a 09/1961 02 meses Dimas de Maio Freitas Diretor Efetivo 10/1961 a 04/1965 42 meses Adair Garcia Freitas Diretora Substituta 05/1965 a 02/1966 10 meses Dinah Aparecida Bechara Diretora Substituta 03/1966 a 12/1966 09 meses Marisa Teresa Garrido Diretora Substituta 03/1967 a 07/1967 04 meses Antonio Ruy Cardoso Diretor Efetivo 08/1967 a 05/1969 21 meses Neusa Ap. Ferreira Silva Diretora Interina 06/1969 a 02/1970 08 meses Lúcia Rached Diretora Substituta 03/1970 a 02/1974 47 meses Aracy Dias Mendes Diretora Substituta 03/1974 a 02/1975 11 meses Fonte: Livros Ponto do Arquivo da EMEF Prof. Hermínio Pagôtto, antigo Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti. 46 Durante a década de 1940 os registros do Livro Ponto informam que 13 profissionais do magistério exerceram a direção desta instituição de ensino. Vimos que houve uma grande rotatividade de permanência no cargo sendo que vários destes profissionais ocuparam a função em caráter efetivo permanecendo pouco tempo nele. O que nos parece interessante apresentar é que a diretora Eros Benfatti que ocupava o cargo de diretora estagiária foi a que mais tempo permaneceu naquela década exercendo a função de diretora durante um período de 28 meses. Os demais exerceram a função por um período inferior ou um pouco maior do que um ano. A década de 1950 apresentou uma considerável estabilidade no que concerne ao tempo de permanência de pessoas no cargo da direção da escola. Logo no início desta década, o sr. Dalmo Homem de Melo permaneceu como diretor por um período de 45 meses, o que corresponde a um período de aproximadamente quatro anos sem deixar o cargo. Em seguida, vimos que o sr. Lúcio Ferraz de Arruda assumiu tal vaga e nela ficou por um período de dois anos, sendo sucedido pelo sr. Amadeu Cosentino que encerrou a década de 1950 ficando 41 meses no cargo. Percebemos então, que a década de 1950 apresentou uma maior estabilidade na ocupação da direção do grupo escolar com relação a década anterior tendo somente três diretores diferentes neste período. Os anos correspondentes a década de 1960 voltam a ter um fracionamento na ocupação do cargo de diretor de escola neste grupo escolar. Enxergamos que somente o sr. Dimas de Maio Freitas se manteve por um período relativamente extenso ocupando a direção da escola 42 meses, ou seja, por três anos e meio, sendo seguido pelo sr. Antonio Ruy Cardoso que no cargo permaneceu por pouco menos de dois anos. Os demais ocupantes desta função durante esta década não permaneceram nela por mais de um ano consecutivo. Embora tenhamos somente os registros referentes a metade da dos anos da década de 1970, conferimos que neste período de tempo a sra. Lúcia Rached ocupou o cargo de diretora do grupo escolar por praticamente quatro anos, o que vem demonstrar uma certa estabilidade no preenchimento da vaga neste período. O que tentamos demonstrar com esses dados foi o fato de que as permanências e as rupturas podem contribuir para uma efetiva visualização do que aqui denominamos de caracterização deste grupo escolar. Intuímos que as mudanças no corpo diretivo da escola afetaram ao longo da história diretamente sua dinâmica de funcionamento, visto que o afinamento das relações interpessoais entre diretor e professores, por exemplo, levavam um tempo para serem construídas e fortalecidas. Assim, quando havia a substituição da parte diretiva 47 provavelmente todos tinham que se readaptar aos novos hábitos da nova pessoa que passava a ocupar tal função, o que pode significar que tais mudanças na equipe escolar prejudicaram o seu funcionamento ao longo dos anos. Como foram poucos aqueles que permaneceram na direção da instituição por um longo período de tempo, foram muitos os que por ali passaram permanecendo um período curto na função, não podendo desta forma contribuir de forma sistematizada para a efetivação de algum projeto educativo, seja os de cunho ruralista, ou mesmo os de cunho estritamente pedagógico. O diálogo com os Livros de matrículas e com os Livros do Ponto foi importante para a realização da tarefa de construir a caracterização do grupo escolar estudado, no entanto, esses documentos não deram conta de apresentar indícios sobre a dinâmica pedagógica da instituição. Para tal, nos debruçaremos a seguir sobre as Atas das Reuniões Pedagógicas, no intuito de mergulhar de uma maneira mais profunda no cotidiano pedagógico desta instituição de ensino primário. 48 III Vestígios da Cultura Escolar na mesa de reuniões pedagógicas Os livros de atas das reuniões pedagógicas foram documentos importantes que nos forneceram indícios significativos da cultura escolar do Grupo Escolar Comendador Pedro Morganti. Foram analisados os quatro volumes encontrados no acervo da instituição, que deram conta de um período de 1950 à 1971. No último volume desta coleção, no entanto, há o registro de uma reunião pedagógica realizada no ano de 1975. Fica aparente que este período não corresponde ao período completo de estudo proposto pela pesquisa, todavia, os registros dessas atas permitiram apreender aspectos significativos da cultura escolar desta instituição de ensino primário. As Atas das Reuniões Pedagógicas de 1950 a 1971 indicam um total de 159 reuniões pedagógicas ocorridas nesse período, conforme demonstra o quadro abaixo: 6. Ocorrências de Reuniões Pedagógicas do G.E. “Comendador Pedro Morganti 1950/ 1975 ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 1950 X X X X X X 1951 X X X X X X X X 1952 X X X X X X X 1953 X X X 1954 X X X X X X 1955 X X X X X X X X 1956 X X X X X X 1957 X X X X X X X X 1958 X X X X X X X 1959 X X X X X X X 1960 X X X X X X X X 1961 X X X X X X X X 1962 X X X X X X X X X 1963 X X X X X X X 1964 X X X X X X X X 1965 X X X X X X X X 1966 X X X X X X X 1967 X X X X X X X X 1968 X X X X X X 1969 X X X 1970 X X X X X 1971 X X X X X X X X 1975 X Fonte: Livros de Atas das Reuniões Pedagógicas do G.E. “Comendador Pedro Morganti” (1950 – 1975) 49 Não podemos afirmar entretanto, que os 4 volumes encontrados de Livros de Atas de Reuniões Pedagógicas correspondem ao histórico completo das reuniões pedagógicas desta instituição de ensino primário, visto que há uma lacuna nas informações das fontes documentais encontradas. No entanto, o período que corresponde às reuniões pedagógicas registradas nas atas encontradas, possibilitaram uma reflexão em torno de duas décadas em que aconteceram importantes mudanças no cenário rural brasileiro. Pareceu-nos importante apresentar algumas informações sobre alguns aspectos gerais das atas de reuniões pedagógicas. Elas estão registradas em quatro livros próprios, identificados para este fim em suas capas. Todas as reuniões foram escrituradas seguindo uma ordem em que primeiramente eram tratadas questões administrativas e em seguida tratadas questões técnicas, ou de orientações pedagógicas propriamente ditas. A primeira parte das reuniões, de cunho administrativo, era composta pela leitura e pela aprovação da ata da reunião anterior, seguida da leitura de informes dos mais variados possíveis. circulares, comunicados, portarias de dispensa, de remoção, afastamento, licenças, abonos, atestados e etc. Havia nessa primeira parte o registro das recomendações, que eram bastante objetivas para o funcionamento da unidade escolar. A segunda parte das reuniões pedagógicas era de caráter mais técnico e visavam oferecer apoio pedagógico ao corpo docente.Eram aulas ministradas pelo diretor, pelo inspetor de ensino ou pelos professores previamente escolhidos sobre os mais variados temas, todavia, todos os temas estavam ligados aos conteúdos a serem ministrados ou aos métodos de ensino a serem apreendidos e executados. Estes momentos pré- planejados, consistiam em leituras de textos ou trabalhos científicos, cujos objetivos eram contribuir para uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem. As recomendações tinham um caráter disciplinador e prescritivo do que deveria ser cumprido pelo corpo docente e discente. Discorriam sobre a necessidade de disciplinar o comportamento escolar do alunado, assim como disciplinar e normatizar a rotina docente. Selecionamos para análise neste texto alguns aspectos da cultura escolar, apreendidos pelos indícios provenientes da leitura das atas de reuniões pedagógicas: normatização do trabalho docente, disciplina dos alunos, campanhas e comemorações, e práticas de educação rural. 50 3.1 Normatização do Trabalho Docente A partir da leitura das atas de reuniões pedagógicas, pudemos perceber como as recomendações direcionadas ao corpo docente da instituição, se apresentavam como imbuídas de um caráter disciplinador e prescritivo da postura que era exigida de um professor, e também como possuíam um interesse explícito em padronizar e normatizar a rotina docente. Essas instruções direcionadas pesavam em guiar as posturas que deveriam ter em sala de aula, assim como em exigir a normatização burocrática da prática, através do correto preenchimento dos registros: diários, semanários, livros de exames, resumos mensais, boletins escolares, entre outros. Os indícios fornecidos pelas fontes documentais referentes às práticas educativas, às posturas exigidas, às normas estipuladas não dão conta de informar sobre sua completa efetivação na realidade, no entanto, servem como indicativos das práticas que eram esperadas dentro daquele ambiente escolar. Pelas reiterações presentes nos registros, pudemos perceber as continuidades e descontinuidades presentes na mesa de reuniões. Os elogios e as cobranças direcionadas ao corpo docente durante os anos apontaram como as práticas exigidas foram satisfatoriamente cumpridas ou não. As experiências cotidianas dos profissionais dessa instituição, ao se tornarem práticas duradouras, que permaneceram ao longo de um tempo, passaram à ser constituintes da cultura escolar. A leitura das atas mostrou que os anos da década de 1950 e 1960 foram marcados por uma necessidade de padronizar e qualificar a prática professoral, de direcionar a ação docente para um melhor aproveitamento do processo de ensino e aprendizagem. Estão presentes nos registros desse período, diversas indicações de como se ministrar uma aula, de como se portar dentro do espaço escolar, de como se relacionar com o corpo discente. Sobre isso, apresentaremos o que está apontado na primeira reunião pedagógica da qual temos registro: A diretora falou-nos primeiramente sobre assuntos referentes ao ensino, transmitindo-nos ordens para o bom andamento do estabelecimento. Pediu-nos o máximo de asseio, ordens e uniformidade nos livros de chamada e diários. Avisou que