_______________________________________________________________
FLÁVIA RIBEIRO TOBIAS
QUANTIFICAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA E
AGRÍCOLA E PERDA DE COBERTURA NATURAL
NO MUNICÍPIO DE IPEÚNA (SP)
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, Campus de Rio Claro, da
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, para obtenção do grau de
Licenciado em Geografia.
Orientador: Prof. Dr. Thiago Sanna Freire Silva
Rio Claro (SP)
2018
FLÁVIA RIBEIRO TOBIAS
QUANTIFICAÇÃO DA EXPANSÃO URBANA E
AGRÍCOLA E PERDA DE COBERTURA NATURAL
NO MUNICÍPIO DE IPEÚNA (SP)
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, Campus de Rio Claro, da
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, para obtenção do grau de
Licenciado em Geografia.
Comissão Examinadora
Prof(a). Dr(a). Andréia Medinilha Pancher
Prof(a).Dr(a). Darlene Aparecida de Oliveira Ferreira
Prof. Dr. Thiago Sanna Freire Silva (Orientador)
Rio Claro, 07 de Dezembro de 2018.
_________________________ _________________________
Flávia Ribeiro Tobias Prof. Dr. Thiago Sanna Freire Silva
Aluna Orientador
_______________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por todo amor carinho, bondade e por ter me conduzido até aqui.
Por ter iluminado meus caminhos ao longo dessa jornada. A Maria, por ter me ensinado a
serenidade e a perseverança, a Jesus por sua misericórdia e ao Salatiel por todo cuidado.
A toda minha família, em especial meus pais: Maria Teresa Ribeiro e Vitor Nogueira
Tobias, pelo amor e incentivo de nunca parar naquilo que aparenta ser dificuldade; As
minhas irmãs: Bianca Ribeiro Tobias, Fabiana Ribeiro Tobias e a meus sobrinhos Gabriel
Ribeiro Tobias Silva e Benjamim Efraim Ribeiro Cruz, por todo apoio.
Agradeço ao meu noivo Paulo Sérgio Gomes dos Santos por todo por todo amor,
parceria, amizade, cuidado e por sempre me mostrar o lado bom das coisas diante dos
momentos difíceis em que me faltava ânimo de continuar.
Sem palavras para agradecer meu orientador prof. Dr. Thiago Sanna Freire Silva, por
toda paciência, determinação, motivação e principalmente por ter acreditado e auxiliado a
fazer esse trabalho. Agradeço também a doutoranda Beatriz Pierre Daute e ao Me. Maurício
Vancine pela ajuda prestada e motivações. Agradeço ao prof. Dr. Fabrício Gallo, que me
ajudou no início dessa jornada.
Agradeço pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) pelo
apoio ao longo do desenvolvimento do deste trabalho. E grandemente agradeço ao
Ecosystem Dynamics Observatory (Ecodyn).
Agradeço pela moradia estudantil, pela Tête e pelo Algostimho, que durante anos me
foi muito útil nesses anos de graduação. E pelas pessoas maravilhosas que construir vínculos
de amizades ao longo dos anos de graduação: Juliana Lima, Jéssica Santos, Jamile
Crispiniano, Joyce Aparecida, Karen Pazini, Ana Paula Oliveira, Tatiane Monteiro, Josiane
de Fátima Lourenço, Amanda Almeida, Franciele Fagundes, Fábio Ferreira, Rodrigo Rosa e
o Gilberto Donizeti Henrique.
E ao Grupo de Oração Universitário (GOU) e a Comunidade Aliança de Misericórdia,
por todas as experiências que vivemos juntas nesses anos. E por fim, a todos os professores
e conhecidos que passaram pela minha formação ao longo destes anos!
RESUMO
O presente trabalho buscou analisar a viabilidade de se desenvolver o ecoturismo no
Município de Ipeúna-SP, através de imagens de sensoriamento remoto, e analisar o quanto se
expandiu o plantio de cana-de-açúcar no perímetro municipal. Esse trabalho é uma construção
em parceria com o Núcleo de Estudos Agrários (NEA), Centro de Análise e Planejamento
Ambiental (CEAPLA) e do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista
(UNESP) - Campus de Rio Claro, e da Prefeitura do Município de Ipeúna. No trabalho, foram
utilizadas imagens de alta resolução do sensor Dove PlanetScope, da empresa Planet, com
resolução espacial de 3.5 metros, para atualização do mapeamento da área de cobertura de
cana realizado previamente no ano de 2010. Este estudo buscou também fundamentação
teórica e análise sobre a possibilidade de criação e desenvolvimento de atividade de
ecoturismo no município, em substituição à atividade agrícola. Pudemos identificar que este
objetivo entra em conflito com a possível realidade do uso da terra na região, uma vez que a
cidade está inserida numa região de expansão de monocultura, com poucas paisagens naturais
ainda restantes.
PALAVRAS CHAVE: Cana- de- açúcar. Sensoriamento Remoto orbital. Ecoturismo.
ABSTRACT
The present work sought to analyze the feasibility of developing ecotourism in the
Municipality of Ipeúna-SP, through remote sensing images, analyzes how much it has
expanded the planting of sugar cane in the municipal perimeter. This work is a construction in
partnership with the Nucleus of Agrarian Studies (NEA), Center for Analysis and
Environmental Planning (CEAPLA) and the Department of Geography of the State University
of São Paulo (UNESP) - Rio Claro Campus, and the Municipality of Ipeúna. In the work, high
resolution images of Dove PlanetScope sensor from Planet, with a 3.5 meter spatial
resolution, were used to update the mapping of the area of cane coverage previously
performed in 2010. This study also sought theoretical foundation and analysis on the
possibility of creation and development of ecotourism activity in the municipality, replacing
the agricultural activity We could identify that this objective conflicts with the possible reality
of land use in the region, since the city is inserted in a region of monoculture expansion, with
few natural landscapes still remaining.
KEYWORDS: Sugar cane. Orbital Remote Sensing. Ecotourism.
Sumário
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4
2 OBJETIVO ..................................................................................................................... 7
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 8
3.1 Geoprocessamento e sensoriamento remoto ............................................................... 8
3.2 Expansão agrícola e urbana e perda de cobertura natural ......................................... 9
3.3 Ecoturismo como alternativa ao desenvolvimento .................................................... 10
4 MÉTODOS ................................................................................................................... 11
4.1 Área estudada: O município de Ipeúna .................................................................... 11
4.2 Aquisição e processmento das imagens com dados de mapeamento ........................... 12
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 14
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 18
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 19
8 ANEXO......................................................................................................................... 24
4
1. INTRODUÇÃO
As mudanças no uso e cobertura da terra causadas por atividades humanas são
consideradas como uma das maiores ameaças com relação à conservação da biodiversidade e
dos ecossistemas (TURNER et al. 1994), sendo uma importante ferramenta para o
planejamento territorial. Por consequência, o monitoramento e a compreensão das causas
dessas mudanças são extremamente importantes para o gerenciamento e planejamento
territorial (LAMBIN et al. 2001). No Brasil, a crescente urbanização e crescimento
populacional, advindos da constante busca pelo crescimento econômico, tem colocado cada
vez mais pressão sobre as áreas naturais nos entornos dos centros urbanos brasileiros,
especialmente na região Sudeste (GROSTEIN, 1998).
Além disso, desde 1975, em um período em que o petróleo e seus derivados estavam
em falta e quando o país tinha uma grande quantidade de automóveis, o setor da Agroenergia
obteve destaque e crescimento com o Plano Nacional do desenvolvimento do álcool, tendo
como matéria-prima a cana-de-açúcar, que por sua vez polui menos que os combustíveis
fósseis (RODRIGUES, 2005). A expansão agrícola, em especial da cultura da cana-de-açúcar,
tem contudo prejudicado a manutenção da cobertura natural e a conservação da
biodiversidade e os serviços ecossistêmicos no estado de São Paulo (CÂMARA e
CALDARELLI 2016, RUDORFF et al, 2010).
A agricultura familiar, segundo Gomes (2005), caracteriza-se pelo desenvolvimento
de cultivos diversificados que possuem diferentes padrões culturais, sociais e econômicos,
permitindo assim que haja um maior equilíbrio nos ecossistemas. Romeiro (1998) afirma que
para uma sustentabilidade no desenvolvimento, este deveria ser desejado pela sociedade, de
acordo com as normas ecológicas e econômicas. A monocultura quebra este equilíbrio
dinâmico e histórico. Essa por sua vez se originou com as colônias de exploração do século
XVI, e ganhou uma enorme força com o surgimento da Revolução Verde ou Agrícola,
movimento que incrementou a agricultura como uma revolução nos cultivos, visando maior
obtenção de lucros a partir da venda para o mercado internacional (THOMAZ, 2013).
O polígono dos agrohidro-negócios, segundo Junior, et al., (2010), configura-se com
cinco estados, sendo o oeste e leste de São Paulo, nordeste do Paraná, leste do Mato Grosso
do Sul, Triângulo Mineiro, e sul e sudeste de Goiás, abrigando uma grande proporção do
agronegócio e uma grande concentração do plantio de cana-de-açúcar no país. Como
5
afirmado por Junior, et al.,(2009), essas áreas possuem também alta disponibilidade hídrica,
uma vez que esse tipo de cultivo precisa exageradamente de água para se desenvolver, e de
extensas áreas planas para o cultivo em larga escala de monocultura.
Figura 1 – Polígono do Agrohidronegócio.
Fonte: Thomaz Junior, p.95, 2010
6
O Ecoturismo traz em si muitos benefícios para lugares com atrativos naturais, e por
sua vez movimenta financeiramente a economia para a população local, despertando e
conscientizando a população sobre a conservação ambiental (MONTEIRO, 2010). O
município estudado apresenta atrativos naturais e desejo de investir nessa atividade, mas a
mesma pode ser inviável caso se observe um histórico de perda de áreas naturais.
7
2. OBJETIVO
O objetivo principal do presente trabalho foi a avaliação da dinâmica espacial da
distribuição da quantidade de cultura de cana-de-açúcar na cidade de Ipeúna – SP. Foram
realizadas atualizações em mapa de 2010, para 2018, do plantio de cana no município, com
utilização de ferramentas de geoprocessamento e sensoriamento remoto. Estes dados foram
usados para verificar a possibilidade de desenvolvimento do ecoturismo na região.
8
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Geoprocessamento e sensoriamento remoto
O sensoriamento remoto se difere do geoprocessamento; para Lillesand e Kiefer
(1994) sensoriamento é uma forma de adquirir informações sobre objetos, fenômenos e áreas
por informações transmitidas de aparelho distante do objeto a ser investigado. É considerando
por Ridd et al. (1998) como uma ferramenta para o estudo das mudanças no uso e cobertura
da terra, permitindo a observação regular, contínua e reproduzível da superfície terrestre
através de imagens de satélites.
Desta forma foram utilizadas neste trabalho imagens do sistema Dove PlanetScope,
operados pela empresa privada Planet (https://www.planet.com/), por serem imagens
adequadas para setores agricultura e meio ambiente pelo alto nível de detalhes. O sistema
consiste de uma constelação de cerca de 130 nano-satélites, que passaram a fornecer imagens
em frequência quase diária, e que são disponibilizadas já ortorretificadas, compreendendo a
região espectral do visível e infravermelho, com resolução espacial de 3,5 metros e 12 bits de
resolução radiométrica para garantir os detalhes (PLANET, 2018).
O geoprocessamento se dá pela utilização de técnicas matemáticas e computacionais
na obtenção de informações geográficas, e influencia progressivamente as áreas de
Cartografia, Transportes, Comunicações, Análise de Recursos Naturais, Energia e
Planejamento Urbano e Regional. Sistema de Informações Geográfica (SIG) é o nome dado às
ferramentas computacionais no geoprocessamento (CÂMARA et. Al., 2001). O uso desta
ferramenta possibilita a integralização de dados de fontes distintas na criação de arquivos em
bancos de dados georreferenciados, permitindo alcançar resultados e automatizar a produção
de documentos cartográficos de forma precisa. Segundo Uchoa (2004), com o uso dos
software livres que recebem melhoramento comunitário, torna-se mais acessível o uso destas
tecnologias, facilitando utilizar essas ferramentas de geoprocessamento em problemáticas
locais por terem melhor viabilidade.
Expansão agrícola e urbana e perda de cobertura natural
De acordo com Thomaz, et al., (2010), o plantio de culturas como a cana-de-açúcar,
milho, soja, arroz e eucalipto necessitam de concentrações de terra e disponibilidade de água
9
para seu desenvolvimento de forma rápida e lucrativa. O Polígono do Agrohidronegócio é
uma área interestadual que tem à sua disposição água em grande volume, tanto na presença de
lagos e reservatórios quanto subterrânea através dos aquíferos e lençol freático, sendo este
mapeado de acordo com a disposição hídrica. Isso justifica a região onde se concentram no
país as produções em larga escala do agronegócio.
O município de Ipeúna se encontra nessa área de abrangência por estar a leste do
estado de São Paulo, possuindo uma grande disponibilidade de água superficial e subterrânea,
pertencendo essa localidade ao aquífero Itirapina, o aquífero Botucatu, e na forma de
escoamento superficial os rios Passa Cinco, Ribeirão Lapa e o Rio Cabeça (TONETTO et al.
2002). O plantio de monocultura de cana-de-açúcar por sua vez predomina na região, vindo a
impactar social, ambiental e expressivamente o município.
Como afirma Miranda (2013), a produção de matéria-prima para o etanol com a
criação das primeiras usinas em meados de 1980, idealizadas pelo Programa Nacional de
Álcool (Proálcool), acelerou ainda mais a produção no cenário nacional. O Brasil como um
todo se destaca como sendo o maior produtor de cana-de-açúcar e de seus derivados. Segundo
Sampaio (2016), uma das causas principais da devastação em áreas naturais para aumento do
plantio de monoculturas, ocasionando compactação dos solos, redução da calha e por onde se
escoa, a água absorve para os mananciais, resultando na perda de capacidade de infiltração no
subsolo. O plantio de cana causa também redução da diversidade biológica, com a diminuição
de vegetação nas margens dos rios, acontecendo o assoreamento dos rios e a contaminação da
água pela proximidade na dispersão de venenos no cultivo.
3.2 Ecoturismo como alternativa ao desenvolvimento
O turismo, segundo Cruz, et al., (1996) caracteriza-se como formas distintas de
percepções de espaço, sendo caracterizado por tempos em distâncias diferentes. Dessa forma
ele acontece como alternativa para fomentar economicamente e com infraestrutura o
desenvolvimento de uma determinada área ainda não explorada e que apresenta atrativos para
que se torne um ponto de destino a ser visitado.
O ecoturismo ou turismo preservacionista é uma denominação adotada em meados da
década de 1980. Com esse prefixo “eco” passa a indicar que as atividades a partir de então
passam a ser realizadas integradas ao meio ambiente, sendo que esta forma de turismo
colabora com a preservação, proporcionando um lazer agradável (YÁZIGI, 1999). Neste
10
sentido, representa uma maneira de respeito e conservação dos visitantes sem que haja
degradação das florestas, áreas costeiras, unidades de conservação, outros ecossistemas e
comunidades tradicionais.
Para adaptação do ecoturismo em determinados lugares se faz necessário que haja um
planejamento participativo, com o mínimo de impactos acompanhado de conscientização para
assegurar um desenvolvimento sustentável dessas áreas, garantindo um melhor uso e
durabilidade dos recursos naturais. A Organização Mundial do Turismo (OMT), de tempos
em tempos se reúne. Em 2002 realizaram na cidade de Quebec, no Canadá uma conferência
(Anexo). Neste encontro foram decididas exigências a serem cumpridas pelos diferentes
segmentos envolvidos e interessados em desenvolver o ecoturismo, visando aumentar os
benefícios das áreas que recebem os turistas. (OLIVEIRA et.al, 2014).
Essa prática de turismo sustentável está ligada diretamente ao crescimento da
economia verde, que busca soluções alternativas para o consumo na atualidade, possibilitando
uma alternativa ao consumo fundamental, estimulando a geração de empregos e reduzindo os
poluentes (São Paulo, 2010). Por outro lado, ampliando-se as atividades, surge o turismo rural
como alternativa promissora de regresso às origens simples e como meio de fuga da rotina
agitada das grandes metrópoles. Essa prática ajuda no desenvolvimento econômico de áreas
rurais (ALMEIDA, 2003).
11
1. MÉTODOS
3.3 Área estudada: O município de Ipeúna
O município de Ipeúna se encontra na região centro-leste do Estado de São Paulo, na
latitude 22º 26' 09" S e longitude: 47º 43' 08" W, com altitude de 635 m, na Depressão
Periférica Paulista que caracterizada por ser uma unidade geomorfológica representada pela
área rebaixada da 500 a 700 m. Fica a aproximadamente 180 km de distância da capital do
estado, tendo o domínio do bioma de Mata Atlântica, fazendo parte da mesorregião de
Piracicaba e da microrregião de Rio Claro (IBGE, 2018a).
O município de Ipeúna está incluído na bacia hidrográfica do Rio Corumbataí, somado
aos municípios de Rio Claro, Analândia, Itirapina, Corumbataí, Santa Gertrudes, Charqueada,
e com a sua foz na Cidade de Piracicaba. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2018b), o município possui área de 190,010 km², e população de 7.177
pessoas estimada para 2017, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,753 em
2010.
12
Figura 2. Localização geográfica do município de Ipeúna no Estado de São Paulo, Brasil. Fonte: wikipedia.org,
Raphael Lorenzeto de Abreu, CC BY 2.5, 1
As atividades econômicas do município, segundo KLAFKE et al. (2007), incluem
atividades agrícolas e poucas atividades industriais, tendo como destaque o setor terciário que
gera expressiva quantidade de empregos. O turismo recebe destaque pela beleza e
exuberância da natureza neste local, vindo a surgir o ecoturismo e o turismo rural, onde
pessoas aderem à ida para o campo como parte de suas vivências e realizam atividades típicas
junto a uma bela paisagem nas pousadas e campings, juntamente ao lazer oferecido por esta
atividade em idas no Rio Passa Cinco para pesca e acesso a cachoeiras, trilhas e caminhadas
ecológicas, a Gruta Fazendão (ARIENTE,2005).
Segundo informações fornecidas no site da prefeitura, em 26 de novembro de 2015,
foi declarado, sobre a Lei 1.228, o título de Capital da Agricultura Natural (IPEÚNA, 2015).
O Centro de Pesquisa Mokiti Okada (CPMO) é um órgão da Fundação Mokiti Okada (FMO),
localizado no município, o qual contribuiu amplamente para esse reconhecimento de
destaque. Esse centro tem por filosofia religiosa desenvolver pesquisas e cultivo de uma
agricultura de forma agroecológica, e se tornou referência no país, tomando como estratégia
influência para outros produtores, e atraindo novos consumidores para produções de alimento
natural proporcionando maior qualidade de vida (GONÇALVES, 2016).
Recentemente o município tem buscado também desenvolver sua vocação para o
ecoturismo, que por sua vez necessita de plano de manejo para a região, fornecendo
estruturação que tenha respaldo de forma técnica e científica na organização das atividades
ecológicas. A implantação do ecoturismo necessita de órgãos governamentais, parcerias
público-privadas e instituições de ensino como mecanismo de incentivo (ORTEGA, 1992).
4.2 Aquisição e processamento das imagens com dados de mapeamento
Para o mapeamento da expansão do cultivo da cana-de-açúcar em Ipeúna, foi utilizada
uma imagem fornecida pelo NEA, correspondente ao ano de 2010, a qual serviu de base para
obter os resultados dos vetores de cana-de-açúcar do Município no ano de 2018. Com
objetivo de atualização de informação e averiguar o quanto expandiu a plantação de cana.
Foram adquiridas imagens de alta resolução espacial (3,5m), foram adquiridas a partir
da constelação de sensores Dove PlanetScope, operada pela empresa Planet, no nível de
1 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1087437.
13
processamento 3A, já ortorretificadas e calibradas radiometricamente2, adquiridas em 13 de
abril de 2018. Estas imagens foram utilizadas para a interpretação visual da cobertura atual de
cana-de-açúcar.
Com base na fotointerpretação das imagens, foi possível fazer a atualização da
cobertura de cultura de cana do Município levando em conta o quanto aumentou de áreas de
plantio de cana-de-açúcar. Para que se alcançassem os objetivos gerais de fazer uma
atualização na imagem disponibilizada, foi traçado um percurso com alguns objetivos
específicos.
Para organizar as imagens, visando recobrir toda a área de estudo, foi elaborado um
mosaico, utilizando-se a função “mosaic” do pacote “raster”, na linguagem de programação
R.. Fez-se então a vetorização manual identificando as áreas de ganho e perda de cobertura de
cultivo de cana entre os dados originais de 2010 e a imagem de 2018 utilizando os recursos de
desenho do SIG para a vetorização dos polígonos de cana de açúcar com o software QGIS
3.2, usando de forma manual com auxílio da ferramenta “snap”, e fazendo a posterior
validação da geometria. Para sanar as dúvidas e validar os ganhos e as perdas de área de
cultivo de cana, foram consultadas as imagens de satélites da plataforma Google Maps.
Em seguida, foi efetuada a mesclagem das camadas de ganho e perda cultivo, usando
o comando “mesclar” do software QGIS. Com o uso da ferramenta foi escolhida a opção
geoprocessamento, na sequência foi utilizada a ferramenta “dissolver todos”, resultando assim
na atualização da camada. Houve um problema de não dissolução da geometria que
necessitou do uso do software GRASS GIS 7.4.0., o qual auxiliou na unificação dos vetores
gerados, usando as ferramentas “or” para junção e a ferramenta “xor” para dissolver e separar
os polígonos novamente.
Foi também realizada uma análise visual para averiguar quais foram os novos usos da
terra que substituíram as áreas de cana, utilizando o software QGIS, quais foram os novos
usos da terra que substituíram as áreas de cana perdidas. Para isso foi utilizado o plugin
OpenLayers do software QGIS, que dá acesso às imagens de satélite da base Google Maps,
permitindo verificar as mudanças nas camadas de perdas. A classificação atualizada foi
inserida no software QGIS, na ferramenta compositor de impressão para a criação de três
mapas demonstrando os resultados.
2 (https://www.planet.com/docs/spec-sheets/sat-imagery/#ps-imagery-product)
14
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Elaboração: Flávia Ribeiro Tobias
15
Elaboração: Flávia Ribeiro Tobias
16
A Figura 3 mostra o mapeamento original da cobertura de cultivo de cana do
município de Ipeúna do ano de 2010, fornecida pelo NEA. Na comparação com os dados de
2010 a nova classificação indicou aumento da área de plantio desta monocultura (Figura 4),
sendo que as áreas onde mais houve expansão foram áreas que se apresentavam como grama,
fragmento de floresta secundária, ou reflorestamento na imagem original. Houve também a
perda de algumas áreas de plantio de cana, com conversão principalmente para cobertura de
gramíneas (Figura 4).
A partir dos resultados da vetorização realizada em 2010, foi feita uma soma das áreas
antes classificadas como cana, que apresentou extensão de 7058.76 ha (Tabela 1). Em
contrapartida, após a atualização da cobertura de cana, retirando as perdas e somando os
novos ganhos, a área de cobertura de plantio de cana em 2018 que totalizou: 7612.01 ha. Isso
significa um ganho de 650.71 ha de cultivo de cana no Município de Ipeúna- SP, em um
intervalo de oito anos, ou 8.6% da cobertura observada em 2010.
Tabela 1: Mudanças na área de cultivo de cana entre 2010 e 2018 no Município de Ipeúna-SP.
Cultivo de cana Área (hectares)
Área original em 2010 7058,76
Perda de áreas de cana entre 2010 e 2018 97,46
Ganho de áreas de cana entre 2010 e 2018 650,71
Área de cobertura de cana em 2018 7612,00
A partir da análise das áreas de perda de cobertura de plantio de cana foram
identificadas três categorias, sendo que a primeira delas passou a ser reflorestamento,
totalizando uma área de 71.571 ha. Em segundo lugar, houve uma área que tornou-se
predominantemente grama ou gramínea (pasto), que teve área de 25.892 hectares.
Segundo CÂMARA (2016), estudar a importância das produções agrícolas no país, e
no estado de São Paulo se faz necessário para entender aquilo os resultados na espacialidade e
suas consequências. Em Ipeúna, como afirma Klafke et al. (2007), a economia à parte da
agricultura, do primeiro setor, deixou de ser expressiva na cidade por se tratar de monocultura
e de grandes latifúndios que cada vez mais se mecanizaram, estimulando assim a saída da
17
população para procura de emprego na cidade. Assim, tende-se a uma concentração fundiária
e mecanização da produção, típica dessas atividades agrícolas, o que justifica a baixa
ocupação de mão de obra, além disso o baixo valor adicionado se justifica pois a indústria do
álcool não se localiza na cidade, sendo essa produção levada para outros municípios.
(KLAFKE et al, 2007).
A cana de açúcar, por ser exportada de uma localidade para ser processada em outra,
do lado econômico desfavorece o município naquilo que poderia ser gerado e aproveitado
como fonte de geração de emprego, extraindo recursos naturais como água, vitalidade do solo
e os poucos remanescentes de áreas de preservação permanente. De acordo com Câmara
(2016), o plantio desse setor canavieiro trás inúmeras alterações ao território que impacta
diretamente a sociedade e a economia do local. Afirma também, que o estado de São Paulo se
destaca por ser pioneiro no processamento e no cultivo, com isso mantém a preocupação
quanto ao uso e ocupação do solo e os risos que esse cultivo representa.
Almeida (2006) considerando os diferentes tipos de turistas para serem atraídos, se
procura o ideal de investimento, chegando desta forma num benefícios e nos custos para
atrair um público distinto. O mesmo autor afirma que que o turismo rural é procurado tanto
pelo belo das paisagens, pela dinâmica do meio rural. Por outro lado, a perda de cobertura
natural vem contradizendo ao interesse do município em aumentar e fomentar o ecoturismo
levando em conta seus atributos conservacionistas.
18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do geoprocessamento associado ao sensoriamento remoto foram de
extrema importância no processo de elaboração deste trabalho, uma vez que auxiliaram na
geração dos resultados, permitindo uma análise da evolução temporal e o do crescimento do
cultivo da cana a partir das imagens e softwares utilizados. Além disso, permitiu a geração de
produtos cartográficos e identificação do ambiente para planejamento de uso da terra
correspondentes com os resultados encontrados de crescimento de cana na área de estudo.
Diante do crescimento de área de plantio de cana-de-açúcar, é pertinente questionar se
é viável o desenvolvimento do ecoturismo e produção de produtos orgânicos no município.
Por outro lado, o desenvolvimento do turismo rural poderá tornar-se favorável para a
economia local. Os resultados deste mapeamento serão disponibilizados para a prefeitura do
município de Ipeúna, de modo a se tornarem uma ferramenta de uso público para que se
possam tomar decisões acerca do uso do solo nessa localidade estudada.
19
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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24
7. ANEXO
ANEXO A – DECLARAÇÃO DE QUEBEC Declaração de Ecoturismo de Quebec
(Documento revisto e aprovado pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e pela
Organização Mundial do Turismo em 10/06/2002)
2002 Ano Internacional do Ecoturismo
Quebec em Números
● Reuniões Preparatórias: 18 reuniões em 2001-2002, com mais de 3 mil participantes
representantes
● Evento Quebec: cerca de 1000 participantes dos setores público, privado e terceiro setor (songs)
de 132 países.
Declaração de Ecoturismo de Quebéc
Quebéc, 22 de maio de 2002
Documento aprovado em 10 de junho de 2002 pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
(UNEP) e pela Organização Mundial do Turismo (OMT).
O ano de 2002, foi declarado pelas Organização das Nações Unidas -ONU,por meio do Programa de Meio
Ambiente das Nações Unidas - UNEP, com apoio da Organização Mundial do Turismo - OMT (Word
Tourism Assocation - WTO) como 2002 Ano Internacional do Ecoturismo.
Entre 19 e 22 de maio de 2002, reuniram-se em Quebec, Canadá, mais de mil representantes dos setores
público, organizações não- governamentais e privado de 132 países, formando a Cúpula de Especialistas
em Ecoturismo, com apoio da Comissão canadense de Turismo e do Tourisme Quebéc.
Entre 2001 e 2002, foram realizados 18 reuniões preparatórias nos cinco continentes, com a participação de
cerca de 3 mil representante de governos (turismo e meio ambiente), organizações não-governamentais
(turismo e meio ambiente), operadores turísticos, especialistas e consultore, instituições de ensino e
pesquisa e comunidades tradicionais. No Brasil a reunião aconteceu em Cuiabá, MT, em agosto de 2001.
Em Quebec, consequente às discussões dos diversos grupos de interesse presente, elaborou-se a Carta de
Quebec, documento que estabelece recomendações para a implantação do Ecoturismo no contexto do
desenvolvimento sustentável.
Panorama do Ecoturismo
O documento, resultante dos painéis e cenários apresentados e discussões, em seu conteúdo reflete o ponto
de vista e as orientações dos participantes reconhecem que o ecoturismo incorpora os princípios do turismo
sustentável, considerando seus impactos ambiental, econômico e social, assim como:
● contribui para a conservação dos patrimônios naturais e culturais, em seu planejamento,
desenvolvimento e operações, inclui as comunidades tradicionais e contribui para seu bem-estar e
melhoria da qualidade de vida,
● atua de forma adequada para pessoas e pequenos grupos organizados,
25
● interpreta os patrimônios naturais e culturais para seus visitantes;
● reconhecem que o turismo tem significantes e complexas implicações ambientais e sócio-
econômicas, podendo trazer impactos positivos (benefícios) e negativos (custos) para o meio
ambiente e para comunidades;
● consideram o crescente interesse das pessoas em visitar áreas naturais (conservadas);
● reconhecem que o ecoturismo tem papel fundamental na aplicação de boas práticas sustentáveis ao
setor do turismo;
● ressaltam que o ecoturismo deve contribuir para que o turismo seja mais sustentável, trazendo
benefícios econômicos para comunidades anfitriãs, contribuindo para a conservação das riquezas
naturais, para a integridade cultural de comunidades tradicionais e conscientizando visitantes a
respeito da importância dos patrimônios natural e cultural;
● reconhecem a diversidade cultural associada às áreas naturais, especialmente por causa da presença
histórica das comunidades locais responsável pela manutenção dos conhecimentos tradicionais,
usos e práticas sustentáveis trazidas ao longo dos séculos;
● reiteram que os fundos mundiais para a conservação e manutenção de áreas ricas culturalmente e
em biodiversidade não têm sido adequados;
● reconhecem que o turismo sustentável pode ser uma importante alternativa econômica para as
áreas protegidas;
● enfatizam que muitas áreas protegidas são habitadas por populações rurais carentes que, em geral
carecem de sistemas de saúde, educação, comunicação e de outras infra-estruturas necessárias para
o adequado desenvolvimento;
● afirmam que os segmentos turísticos, especialmente o ecoturismo, constituem excelentes
oportunidades econômicas para as populações locais e, se realizadas de forma sustentável, podem
contribuir para a conservação;
● reforçam que, quando mal planejada e implementada, a atividade turística em áreas naturais e
rurais contribui para o aumento da pobreza, degradação das paisagens, descaracterização das
culturas tradicionais, redução da qualidade e da quantidade de água, constituindo uma ameaça para
a vida silvestre e biodiversidade;
● advertem que o ecoturismo deve reconhecer e respeitar os direitos à terra das comunidades locais e
tradicionais, incluindo suas áreas protegidas e sagradas,
● afirmam que, para a obtenção de reais benefícios ambientais, sociais e econômicos e para a
prevenção e minimização de impactos negativos, é necessário que o ecoturismo e demais
atividades turísticas, tenham mecanismos participativos de planejamento permitindo que as
populações locais e tradicionais definam o uso de suas áreas e optem, se necessário, pela não
adoção da atividade;
26
● reconhecem a necessidade de se combater preconceitos raciais, sexuais ou outras circunstâncias
pessoais entre as pessoas com respeito ao seu envolvimento com o turismo como consumidoras,
fornecedoras ou prestadoras de serviços;
● atribuem aos visitantes a responsabilidade de promover a sustentabilidade do destino e do meio
ambiente em geral por meio da sua escolha de seus passeios e atividades e por meio de boas
práticas comportamentais.
Recomendações a Governos, Iniciativa Privada e Comunidades
A. Aos Governos (nacionais, regionais e locais) Os participantes elaboraram um conjunto de
49 recomendações para governos, iniciativa privada e comunidades, para a implementação
do ecoturismo:
1. Formular políticas e estratégias de desenvolvimento nacional, regional e local que sejam
compatíveis com os objetivos do desenvolvimento sustentável, conduzidas por meio de processo
participativo de consulta aos envolvidos ou que possam ser afetados pelas atividades ecoturísticas.
Quando possível, deve-se ampliar os princípios do ecoturismo às atividades de outros segmento
turísticos (como p.ex. turismo de aventura ou rural;
2. Em conjunto com as comunidades locais, setor privado, ongs e outros grupos de interesse, garantir
a proteção ambiental, das culturas locais e especialmente do conhecimento tradicional, dos
recursos genéticos, direito à terra e à água;
3. Garantir o envolvimento e a participação apropriada de cada instituição pública em nível local,
regional e nacional, incluindo o estabelecimento de grupos de trabalho interministeriais, quando
necessário. Além disso, são necessários orçamentos adequados e legislações apropriadas que
permitam a implementação dos objetivos e metas estabelecidos pelas partes interessadas;
4. Incluir, em níveis nacional, local e regional, em seu plano de ação mecanismos regulatórios e de
monitoramento, além de indicadores de sustentabilidade aceitos pelas partes interessadas e estudos
de impacto ambiental para prevenir ou minimizar a ocorrência de impactos negativos nas
comunidades ou no meio ambiente. Os resultados dos monitoramentos devem estar à disposição do
público, já que estas informações permitirão que os turistas escolham operadores que adotam
princípios do ecoturismo;
5. Desenvolver mecanismos de avaliação dos custos ambientais em todos os aspectos do produto de
turismo, incluindo o transporte internacional;
6. Desenvolver a capacidade de implementação de mecanismos de gestão do crescimento, como
zoneamento, e de uso participatório do solo tanto em áreas protegidas como em seus entornos e em
outras zonas de desenvolvimento do ecoturismo;
7. Utilizar manuais de utilidade e eficiência consagradas para servir de base para processos de
certificação, adoção de selos verdes e outras iniciativas voluntárias promovidas em nome da
sustentabilidade do ecoturismo. É necessário encorajar os operadores a se unir a tais iniciativas e
27
promover o seu reconhecimento por parte dos consumidores. Os sistemas de certificação da
atividade, no entanto, devem sempre seguir critérios regionais, promover capacitações e fornecer
apoio financeiro de forma a se tornar acessíveis também aos pequenos e médios operadores. Uma
série de critérios e métodos é necessária para que estes esquemas atinjam seu objetivo;
8. Garantir o acesso ao desenvolvimento dos recursos técnicos, financeiros e humanos para micro,
pequenas e médias operadoras, que são a base do ecoturismo, de forma a lhes garantir o
estabelecimento, crescimento e desenvolvimento de uma maneira sustentável;
9. Definir políticas apropriadas, planos de manejo e programas interpretativos para visitantes.
Estabelecer mecanismos de identificação de fundos adequados para a gestão de áreas protegidas
com acelerado crescimento de visitantes e proteção de ecossistemas vulneráveis. Estes planos
devem incluir normas claras, estratégias de manejo direto e indireto e regras para uso de recursos
de forma a garantir o monitoramento dos impactos sociais e ambientais para todos os
empreendimentos de ecoturismo na área;
10. Incluir as micro, pequenas e médias operadoras de ecoturismo, assim como aquelas de base
comunitária, na estratégia promocional e programas desenvolvidos pelas empresas nacionais de
turismo, tanto no mercado nacional como internacional;
11. Desenvolver redes regionais para a promoção e marketing de produtos de ecoturismo em nível
nacional e internacional;
12. Criar incentivos para que os operadores de turismo tornem suas atividades mais ambiental, social e
culturalmente responsáveis;
13. Garantir que alguns princípios ambientais e sanitários básicos sejam definidos e adotados para
todos os empreendimentos de ecoturismo, mesmo para aqueles conduzidos em parques nacionais e
áreas rurais. Isto deve incluir aspectos como a escolha de locais, planejamento, tratamento de lixo,
proteção de córregos e riachos, entre outras coisas. Deve-se garantir ainda que as estratégias de
desenvolvimento do ecoturismo sejam conduzidas sob uma forma que preveja investimentos em
infra-estrutura sustentável e em capacitação das comunidades para que elas monitorem esses
aspectos;
14. Investir ou dar apoio a instituições que investem em programas de pesquisa em ecoturismo e
turismo sustentável. Instituir estudos e pesquisas que levantem dados sobre fauna e flora, com
atenção especial para espécies ameaçadas, como parte de um programa de levantamento de
impactos para as atividades de ecoturismo;
15. Apoiar o desenvolvimento de princípios internacionais, manuais e códigos de ética para o turismo
sustentável fortalecendo as políticas nacionais e internacionais que utilizam o conceito de
desenvolvimento sustentável na atividade;
16. Considerar como uma opção o remanejamento de áreas públicas de produção intensiva para a
atividade do turismo combinada à conservação, quando esta mudança puder trazer benefícios
sociais, econômicos e ambientais para as comunidades em questão;
28
17. Promover e desenvolver programas educacionais para crianças e adolescentes para aumentar a
consciência a respeito da importância da conservação da natureza e do uso sustentável, das culturas
locais e tradicionais e da sua relação com o ecoturismo;
18. Promover a colaboração entre operadores de turismo, demais prestadores de serviços e ONGs para
permitir a educação de turistas e influenciar seu comportamento nos destinos, especialmente em
países em desenvolvimento;
19. Incorporar os princípios de transporte sustentável no planejamento e implementação do turismo e
promover locomoções de baixo impacto sempre que possível.
B. Ao Setor Privado
1. Planejar, desenvolver e conduzir seus empreendimentos minimizando impactos e contribuindo
para a conservação de ecossistemas sensíveis, do meio ambiente em geral e levando benefícios às
comunidades tradicionais e locais;
2. Ter em mente que, para ser sustentável, um empreendimento de ecoturismo precisa ser rentável às
partes envolvidas, incluindo proprietários, investidores, gerentes e empregados, assim como às
comunidades e às organizações de conservação presentes na área onde a atividade é desenvolvida;
3. Garantir que a utilização de materiais, planejamento e operações incorporem os princípios da
sustentabilidade, como conservação da água, energia e materiais;
4. Adotar formas confiáveis de regulação voluntária, como selos verdes, de forma a demonstrar aos
seus potenciais clientes o seu real compromisso com os princípios da sustentabilidade;
5. Cooperar com organizações governamentais e não-governamentais que trabalham com
conservação de áreas protegidas e de biodiversidade assegurando que suas práticas de ecoturismo
sejam realizadas de acordo com planos de gestão e outras regulamentos regionais. Desta forma,
fica evidente que se preocupam em minimizar quaisquer impactos negativos garantindo a
qualidade das experiências de turismo e contribuindo financeiramente para a conservação dos
recursos naturais;
6. Aumentar o uso de materiais, produtos, logística e recursos humanos locais em suas operações de
forma a manter a autenticidade da atividade de ecoturismo e ampliar os benefícios financeiros ao
destino. Para que isso seja possível, é necessário também que se invista no treinamento e na
capacitação da mão-de-obra local;
7. Trabalhar ativamente com lideranças tradicionais para garantir que suas comunidades e culturas
sejam tratadas com respeito e que seu quadro de funcionários e clientes seja bem informado a
respeito das áreas tradicionais, de seus costumes e história;
8. Garantir que a cadeia de produtos e serviços que compõem a operação de ecoturismo seja
sustentável e compatível com o nível de sustentabilidade exigido ou esperado pelo consumidor;
9. Trabalhar ativamente com lideranças tradicionais e com comunidades locais para garantir que elas
sejam tratadas com respeito e que os turistas tenham informações a respeito delas;
29
10. Promover entre seus clientes, os turistas, uma forma consciente de comportamento dando-lhes a
oportunidade de participar de experiências de educação ambiental e de conviver com pessoas de
outras culturas. Assim como contribuições voluntárias às comunidades locais e às atividades de
conservação realizadas na região devem ser encorajadas;
11. Gerar um nível de consciência entre funcionários por meio de aulas de educação ambiental e dar
suporte ao trabalho que eles e suas famílias realizam em nome da conservação, de
desenvolvimento econômico da comunidade e na redução da pobreza;
12. Diversificar suas ofertas desenvolvendo um portfolio de atividades turísticas e estendendo suas
visitas a locais diversos de forma a disseminar o potencial de ecoturismo destas regiões e evitar
que um determinado local seja super-explorado e sua sustentabilidade colocada em perigo. Para
tanto, as operadoras devem respeitar e contribuir para o estabelecimento de limites de visitas de
cada local;
13. Criar e desenvolver mecanismos de arrecadação de recursos para a manutenção de associações e
cooperativas que podem fornecer treinamento e divulgação e desenvolver produtos e pesquisas;
14. Formular e implementar políticas para sustentabilidade com uma visão para aplicá-las em cada
parte da operação do turismo.
C. Às Organizações Não-governamentais, Associações de Base Comunitária e Instituições de de
Ensino e Pesquisa
1. Fornecer apoio técnico, financeiro, educacional, capacitação e demais suportes aos destinos de
ecoturismo, às suas organizações comunitárias, pequenos negócios e autoridades locais de forma a
garantir a aplicação de políticas apropriadas, o desenvolvimento de planos de gestão e os
mecanismos de monitoramento compatíveis com a sustentabilidade;
2. Monitorar e conduzir estudos do impacto das atividades de ecoturismo nos ecossistemas, na
biodiversidade e nas culturas tradicionais locais;
3. Cooperar com as organizações públicas e privadas garantindo que os dados e informações gerados
com os estudos sejam utilizados na tomada de decisões durante o processo de desenvolvimento e
gestão do ecoturismo;
4. Cooperar com as instituições de pesquisa de forma a se encontrar as soluções mais práticas e
adequadas para as questões relacionadas ao desenvolvimento do ecoturismo.
D. Às Instituições Internacionais de Financiamento e Agências de Assistência ao desenvolvimento
1. Planejar e acompanhar a implementação de políticas nacionais e locais de desenvolvimento do
ecoturismo e a avaliação de sua relação com a conservação, desenvolvimento socioeconômico,
direitos humanos, redução da pobreza e outras questões ligadas ao desenvolvimento sustentável,
além de intensificar a transferência destes conhecimentos para outros países.
2. Promover capacitações em organizações locais, regionais e nacionais para a formulação e
aplicação de políticas e planos de ecoturismo baseados em padrões internacionais consagrados;
30
3. Desenvolver padrões mundiais e mecanismos para sistemas de certificação do ecoturismo que
considerem empreendimentos de pequeno e médio portes e a eles facilite o seu acesso;
4. Incorporar o diálogo entre as diversas partes interessadas nas políticas, manuais e projetos em
níveis global, regional e nacional para a troca de experiências entre os países e setores envolvidos
no ecoturismo;
5. Fortalecer seus esforços em identificar os fatores que determinam o sucesso e fracasso das
atividades de ecoturismo ao redor do mundo de forma a transferir estas experiências e melhores
práticas para outras nações por meio de publicações, missões de campo, seminários e projetos de
assistência técnica. O Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP) e a Organização
Mundial do Turismo (WTO) devem continuar este diálogo promovendo, por exemplo, avaliações
periódicas do ecoturismo em encontros internacionais e regionais;
6. Adaptar, sempre que necessário, suas formas de financiamento e empréstimo às micro, pequenas e
médias operadoras de ecoturismo, que são a base da atividade, de forma a garantir sua
sustentabilidade econômica a longo prazo;
7. Desenvolver a capacidade dos recursos humanos internos para lidar com o turismo sustentável e
com o ecoturismo como uma atividade de desenvolvimento em si só e garantir que o conhecimento
interno, a pesquisa e a documentação permitam que o ecoturismo seja visto como uma ferramenta
de desenvolvimento sustentável;
8. Desenvolver mecanismos financeiros para o treinamento e capacitação das comunidades
tradicionais e locais, permitindo que elas participem do desenvolvimento do ecoturismo.
E.Às Comunidades Locais e Tradicionais
Além das referências a comunidades locais e tradicionais feitas nos parágrafos anteriores desta Declaração,
os participantes fizeram estas recomendações a estes grupos:
1. Como parte de uma visão de desenvolvimento para a comunidade, definir e implementar
estratégias para um aumento de benefícios para a localidade, incluindo o acesso à informação, o
desenvolvimento humano, físico, financeiro e social, que venham com o crescimento da prática do
ecoturismo;
2. Fortalecer, estimular e encorajar a habilidade da comunidade em manter e utilizar conhecimentos
tradicionais que sejam relevantes para a atividade do ecoturismo, como o artesanato, a agricultura,
o folclore, a culinária e demais atividades que utilizam os recursos locais de forma sustentável.
F.À Conferência de Desenvolvimento Sustentável Rio+10 (Johanesburg 2004)
1. Reconhecer a necessidade de se aplicar os princípios de desenvolvimento sustentável ao turismo e
o importante papel do ecoturismo na geração de benefícios econômicos, sociais e ambientais;
2. Integrar o turismo, incluindo o ecoturismo, nos resultados do evento.