UNESP - Universidade Estadual Paulista DCSO - Departamento de Comunicação Social FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Curso de Jornalismo Marina Camara Paschoalli MEMORIAL DE PROJETO EXPERIMENTAL Reportagem fotográfica “Projeto Trans*” Bauru, 2014 Marina Camara Paschoalli PROJETO TRANS* Memorial de Projeto Experimental apresentado em cumprimento parcial às exigências do Curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, do Departamento de Comunicação Social, da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo. Orientadora do Projeto Experimental: Profa. Dra. Eliza Bachega Casadei Bauru, 2014 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação ………………………………………………………...…3 1.2 Objetivos …………………………………………………………..……..3 1.3 Justificativa ……………………………………………………...……….4 2. O PRODUTO JORNALÍSTICO 2.1 Público-alvo ……………………………………………………..……….6 2.2 Projeto gráfico-editorial ………………………………………..……….6 2.2.1 Linguagem não-verbal: fotografia …………………………..…….. 6 2.2.2 Linguagem verbal: perfil jornalístico …………………………….....8 2.2.3 O meio digital ………………………………………………………...10 2.2.4 O projeto gráfico …………………………………………………......11 2.3 Descrição do produto ………………………………………………….11 2.4 Fontes e entrevistados ………………………………………………..12 2.5 Custos do projeto ……………………………………………………...13 2.6 Equipamentos utilizados ……………………………………………...13 2.7 Atividades desenvolvidas ……………………………………………..13 3. COMENTÁRIOS 3.1 Dificuldades encontradas ………………………………………..…...15 3.2 Considerações Finais ……………………………………………..…..16 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………….....17 1 Marina Camara Paschoalli PROJETO TRANS* Memorial de Projeto Experimental apresentado em cumprimento parcial às exigências do Curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, do Departamento de Comunicação Social, da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo. Orientadora do Projeto Experimental: Profa. Dra. Eliza Bachega Casadei Bauru, 2014 2 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação ………………………………………………………...…3 1.2 Objetivos …………………………………………………………..……..3 1.3 Justificativa ……………………………………………………...……….4 2. O PRODUTO JORNALÍSTICO 2.1 Público-alvo ……………………………………………………..……….6 2.2 Projeto gráfico-editorial ………………………………………..……….6 2.2.1 Linguagem não-verbal: fotografia …………………………..…….. 6 2.2.2 Linguagem verbal: perfil jornalístico …………………………….....8 2.2.3 O meio digital ………………………………………………………...10 2.2.4 O projeto gráfico …………………………………………………......11 2.3 Descrição do produto ………………………………………………….11 2.4 Fontes e entrevistados ………………………………………………..12 2.5 Custos do projeto ……………………………………………………...13 2.6 Equipamentos utilizados ……………………………………………...13 2.7 Atividades desenvolvidas ……………………………………………..13 3. COMENTÁRIOS 3.1 Dificuldades encontradas ………………………………………..…...15 3.2 Considerações Finais ……………………………………………..…..16 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………….....17 3 1. INTRODUÇÃO 1.1 Apresentação Projeto Trans* é uma reportagem fotográfica cujo tema principal é a vida de pessoas que fogem dos conceitos tradicionais de gênero. Transgêneros são pessoas que transitam entre gêneros: transexuais, travestis, crossdressers, drags…as definições são várias e, em questões de identidade, não é o que define uma pessoa. A questão primordial é que, na sociedade binária na qual vivemos, em que só há espaço para ser homem ou mulher, as pessoas que não se enquadram no que é considerado “normal” no referente a gênero, são incompreendidas e, muitas vezes, marginalizadas. Dessa forma, neste produto jornalístico, cinco perfis foram documentados por meio de entrevistas e fotografias: pessoas transexuais ou transgêneras de diferentes perfis, idades e profissões, que têm em comum apenas a transgeneridade. O resultado final foi publicado na forma de site, no endereço www.projetotrans.com e consiste em cinco galerias, cada uma delas conta com um breve perfil textual e um ensaio fotográfico. 1.2 Objetivos O objetivo principal deste produto jornalístico foi a publicação em um site de uma reportagem foto-documental sobre transgeneridade, com o intuito de contar as histórias particulares de diferentes pessoas e sensibilizar o público através da fotografia. A publicação do Projeto Trans* tem como principal finalidade abordar a temática da transgeneridade para discutir o tema das variações de gênero 4 existentes e compor uma narrativa, através da fotografia e da definição de perfis, capaz de proporcionar uma visão mais dinâmica, sensível e humana sobre o tema. Através do registro dos perfis determinados, o projeto tem a capacidade de informar sobre diferentes conceitos relacionados à transgeneridade e sensibilizar sobre a questão como forma de combater a intolerância. Os cinco perfis são de pessoas de diferentes idades, profissões e classes sociais, o único que todos têm em comum é o fato de serem pessoas trans*. 1.3 Justificativa Vivemos em uma sociedade binária no que se refere a gênero. Razão pela qual pessoas trans* (que transitam entre gêneros) são discriminadas. A transgeneridade foi escolhida como tema desta reportagem fotográfica, cujos principais objetivos são sensibilizar e informar sobre a condição, numa tentativa de romper com preconceitos sociais referentes a gênero e sexualidade. É tradição da sociedade, livre de possíveis generalizações que este projeto possa cometer, julgar pessoas que estão nas fronteiras dos gêneros como problemáticas devido à perspectiva binária e heterossexual. Tal perspectiva, imposta historicamente, reforça a invisibilidade e a discriminação de pessoas que estão fora do que é considerado “normal” em termos de gênero. Apesar do tema ser cada vez mais pautado, a invisibilidade ainda existe e é papel da sociedade discutir, retratar e sensibilizar, como parte do caminho em direção à compreensão e aceitação. Segundo dados do projeto Trans Murder Monitoring (que monitora homicídios de pessoas transgêneras em todo o mundo), foram registrados, nos últimos seis anos, em 60 países, 1374 assassinatos de pessoas trans*, sendo no Brasil 39% dessas ocorrências. Em 2013, dos 238 homicídios registrados, 95 ocorreram no Brasil. Considerando que os números registrados representam apenas uma parcela dos crimes, uma vez que nem todas as ocorrências são 5 registradas como tal, pode-se perceber a magnitude dos casos de transfobia no país. A transfobia não é o único problema. Há também a invisibilidade, a marginalização e a falta de informação. Assim, perpetuam-se tabus, estigmas e clichês porque pouco se entende no país sobre a identidade de gênero. A mídia, por sua vez, raramente trata do tema da transgeneridade. Uma simples busca pelo acervo do jornal Folha de S. Paulo revela apenas 11 ocorrências da palavra “transgênero” no último ano. Já no jornal Estado de São Paulo, as ocorrências caem para 10. A busca revela também pouco cuidado para tratar do tema com responsabilidade e sem reforçar certos preconceitos. Por isso, pensando no papel social do Jornalismo e da capacidade de sensibilização da Fotografia, a fotorreportagem proposta tem a finalidade de sensibilizar o público quanto ao tema, demonstrando que, mais que ser “masculino” ou “feminino”, somos, antes que nada, humanos. O trabalho pretende, dessa forma, ajudar a pautar a temática na sociedade e no jornalismo brasileiro. 6 2. O PRODUTO JORNALÍSTICO 2.1 Público-alvo A principal razão para a decisão de que este projeto fosse publicado na internet é alcançar o maior número possível de pessoas. Por estar hospedado em uma plataforma online, não há limites geográficos. Assim, se pode dizer que, a princípio, o público-alvo é irrestrito. A criação e produção do produto foi pensada com a finalidade de prover um acesso fácil, com grande capacidade de alcance de público. A parte textual, assim como o nome escolhido, Projeto Trans*, são redigidos em português, fator que limita a abrangência. As pessoas que não dominam o idioma não têm a oportunidade de usufruir 100% do conteúdo. Entretanto, considerando que o foco principal do trabalho é a fotografia, é possível atingir um público internacional, pois a arte visual consiste em uma linguagem universal. 2.2 Projeto gráfico-editorial A proposta editorial desta reportagem é articular diferentes ideias sobre o tema da transexualidade, perfilando pessoas “comuns” por meio da linguagem não-verbal (fotografia) e com o apoio da linguagem verbal. A proposta é formular uma narrativa livre e sensível, com a finalidade de suscitar questionamentos sobre o tema, que é pouco explorado pela mídia. 2.2.1 Linguagem não-verbal: fotografia 7 A principal linguagem deste trabalho é a fotográfica, que foi escolhida, principalmente, pelo poder de sensibilização e pela capacidade de gerar empatia. Evidentemente, pensando no produto jornalístico, a credibilidade proporcionada pela fotografia e o grande valor documental que ela representa também foram fatores relevantes. A fotografia funciona no jornalismo como uma forma de linguagem não-verbal cuja principal característica é fornecer provas, uma vez que depende da existência de um objeto real diante da câmera. Segundo Roland Barthes, é o que proporciona a certeza de que algo esteve naquele lugar, sendo “não uma reconstituição, um fragmento, mas o real em estado passado: a um só tempo o passado e o real. (...) a fotografia é toda evidência” (Barthes, 1984). O surgimento da fotografia revolucionou o jornalismo à medida que a imagem começou a fazer parte da notícia com a mesma importância do texto, passando a funcionar como prova do acontecimento. Analisando alguns pressupostos do jornalismo que compõem a base de seu discurso ideológico, a matéria jornalística deve assumir posições que sejam, ao mesmo tempo, imparciais, objetivas e autênticas. O fotojornalismo, nesse contexto, tem o papel de testemunha ocular do acontecimento, podendo ser visto como uma reprodução da realidade, de forma objetiva e imparcial. Muito se discute sobre o gigante abismo entre a utópica objetividade jornalística pretendida e a subjetividade da prática e, com a fotografia, não poderia ser diferente, pois elas revelam conceitos e visões de mundo. Em "Realidades e Ficções na Trama Fotográfica", Bóris Kossoy (2000) menciona a utilização da fotografia como formadora de opinião e conceitos. As diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na imagem fotográfica um poderoso instrumento para veiculação das idéias e da conseqüente formação da opinião pública, particularmente, a partir do momento em que os avanços tecnológicos da indústria gráfica possibilitaram a multiplicação massiva de imagens através dos meios de informação e divulgação. 8 É justamente pela capacidade de chocar e sensibilizar que a fotografia foi escolhida como linguagem principal deste trabalho. Os registros não pretendem ser uma cópia objetiva da realidade, até porque isso seria impossível. Assim como outros documentos, as fotografias são ambíguas, e seu caráter informativo é alcançado a partir de uma decifração, levando em conta o contexto histórico, social, político e econômico do fato. Entendo que todas as fotografias foram produzidas a partir de meu repertório pessoal e de filtros individuais, da mesma forma em que o processo de interpretação do receptor afetará também a construção do entendimento. A divergência das impressões faz parte da relevância do projeto. É por meio dessa construção que os objetivos do produto serão alcançados: a sensibilização, a humanização sobre o tema, a desconstrução de conceitos preestabelecidos e a documentação de uma minoria. É essencial ressaltar a relação entre linguagem verbal e não-verbal no jornalismo, uma vez que um só existe em conjunto com o outro. A fotografia de imprensa só pode ser analisada se relacionada com o texto que a acompanha. Segundo Paul Almasy (1990), "nas páginas do jornal, a informação principal não vem nem do texto, nem da fotografia, mas do encontro entre os dois". Por essa razão, o formato de perfil jornalístico foi escolhido para apoiar os ensaios fotográficos deste trabalho. 2.2.2 Linguagem verbal: perfil jornalístico Para acompanhar a linguagem fotográfica, todos os ensaios contam com um breve perfil jornalístico de cada personagem. Perfis são textos geralmente curtos que constituem episódios e circunstâncias da vida de um indivíduo. “Dar enfoque na pessoa – seja uma celebridade, seja um tipo popular, mas sempre o focalizado é protagonista da história: sua própria vida”. Essa é a definição de perfil jornalístico de Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, no livro Técnica de reportagem – notas sobre a narrativa jornalística (1986). 9 Segundo Sérgio Vilas Boas, em Perfis – e como escrevê-los (2003): Diferentemente das biografias em livro, em que os autores têm de enfrentar os pormenores da história dos biografados, os perfis podem focalizar apenas alguns momentos da vida da pessoa. É uma narrativa curta tanto na extensão (no tamanho do texto) quanto no tempo de validade de algumas informações e interpretações do repórter. Os perfis encontrados em Projeto Trans* se focam nos aspectos da história de vida de cada personagem, no que se refere à relação com o gênero, à sexualidade, vínculos familiares e afetivos, profissão, preconceitos, entre outros. Cada perfil aborda uma questão social. O relato de João aborda a legislação brasileira no tema da mudança de nome; o perfil de Rafaela contém o tema do machismo; o de Renata trata da empregabilidade; o de Alex levanta a questão da constante transição entre gêneros; e o de Amanda, as relações sociais e a internet. A narrativa em primeira pessoa foi usada com a prerrogativa de que o perfil jornalístico é autoral. Vilas Boas (2003) revela que usa o foco narrativo em primeira pessoa em alguns de seus perfis, mas não obrigatoriamente, e que considera utópica a forma como o não-uso da primeira pessoa visa pretender que o narrador não exista. O narrador, neste caso, é protagonista, usando o conceito de Oswaldo Coimbra (1993), e tem a tarefa de ouvir, perceber, transcrever e editar o acontecimento. O pressuposto de que o jornalismo é meramente informativo, neste caso, é eliminado, e não há negação da subjetividade. Vilas Boas (2003) comenta sobre a importância das narrativas nas quais os leitores se identificam com os destinos das outras pessoas e sobre a necessidade de empatia na descrição de perfis: A narrativa de um perfil não pode prescindir de todos os conceitos e técnicas de reportagem conhecidos, além de recursos literários e outros. Mas ela também está atada ao sentimento de quem participa. A frieza e o e o distanciamento são altamente nocivos. Envolver-se significa sentir. 10 Transmitir uma compreensão sobre os personagens é o principal objetivo do perfil e isso, segundo Vilas Boas (2003), é delicado, já que “não basta embaralhar fatos biográficos ou aspear frases do personagem”. As entrevistas, fontes primordiais das narrativas, foram essenciais para o sucesso do projeto. O trabalho almeja gerar a empatia do público, além de sensibilizar e provocar o leitor/observador quanto ao tema proposto. Acredita-se que o objetivo foi alcançado graças à fusão entre os retratos fotográficos de cada personagem e de seus perfis jornalísticos. Provocar reflexões é também o que faz mais atraente um perfil, segundo o autor. [Os perfis] são mais atraentes quando provocam reflexões sobre aspectos subjetivos e objetivos comuns à existência de todos nós. A meu ver, é o que se pode realmente conservar na memória. O restante empalidece com o tempo, ou adquire aquele tom desbotado típico das fotografias muito antigas. 2.2.3 O meio digital O Projeto Trans*, desde sua idealização pretendeu ser uma reportagem fotográfica sobre pessoas transgêneras. Em princípio, a intenção era publicá-la em forma de livro. A ideia foi descartada por duas principais razões: a impossibilidade de custeio e dificuldade em dar seguimento ao projeto após sua publicação. O formato digital foi a melhor opção, principalmente pela interatividade proporcionada e pelo fato de que o projeto, após sua publicação, terá a possibilidade de ser atualizado e complementado. A internet é, atualmente, uma ferramenta essencial na divulgação de conhecimento. Seu surgimento é considerado a grande revolução do século XXI e tem um papel central na sociedade atual, funcionando como um espaço inteiramente constituído de informação que reconfigura conceitos como relações sociais (RECUERO, 2000). 11 É no ciberespaço, hoje, onde grande parte da população se relaciona e se informa e, por essa razão, a partir do momento em que o Projeto Trans* está publicado na web, ele imediatamente se torna acessível a qualquer pessoa que tenha acesso à ferramenta, sem limitantes geográficas. Além disso, estruturado como um blog, o projeto tem a capacidade de ser orgânico: mais perfis poderão ser adicionados à reportagem com o tempo, textos poderão ser atualizados e o público terá a oportunidade de entrar em contato direto com o autor e fornecer feedbacks. 2.2.4 Projeto gráfico A diagramação do blog foi pensada especialmente para a reportagem. O layout branco e simples possibilita que as fotografias se destaquem nas páginas. A tipografia do texto, assim como a opção de distribuir a leitura em diferentes páginas, têm a intenção de facilitar e dinamizar a experiência na plataforma. A diagramação horizontal das fotografias foi feita propositalmente. Antigamente, designers web fugiam da rolagem horizontal, mas atualmente ela tem se tornado cada vez mais comum, principalmente devido ao surgimento de dispositivos móveis “touch”, que naturalmente pedem que o movimento seja horizontal. Além disso, a rolagem horizontal faz do Projeto Trans* atrativo e dinâmico, principalmente pelo fato de que observar foto por foto nessa dimensão causa a sensação de estar folheando páginas de um livro. 2.3 Descrição do produto O Projeto Trans* é uma reportagem foto-documental publicada no seguinte endereço: www.projetotrans.com 12 O site consiste em uma página inicial que contem o logo do Projeto, o botão “Sobre” e cinco fotografias com os nomes de cada personagem. Ao clicar em qualquer uma das fotografias, uma segunda página é aberta, contendo o perfil jornalístico (dividido em algumas partes) e seu respectivo ensaio fotográfico. Pensando em seu formato de blog, há cinco diferentes “postagens” que podem ser abertas desde a página inicial. Além disso, ao clicar no ícone “Sobre”, o usuário encontrará uma breve descrição do Projeto Trans*. 2.4 Fontes e entrevistados Durante a etapa de concepção do produto, se iniciou também o primeiro contato com as fontes. Inicialmente, a investigação se baseou na bibliografia sobre sexualidade, gênero e transgenereidade. O segundo passo, ainda a critério de investigação prévia, foram as entrevistas. Tive a oportunidade de entrevistar o médico urologista Carlos Cury, um dos pioneiros na cirurgia de transgenitalização no Brasil. Larissa Pelucio, antropóloga e professora da Unesp de Bauru também foi entrevistada com a finalidade de investigação. Além disso, tive conversas e entrevistas informais com pessoas trans*, que me ajudaram tanto a entender melhor o tema, quanto a buscar os perfilados finais. Deu-se início então à etapa de definição dos perfis. Por meio da internet, principalmente, conheci e entrei em contato com os personagens. Depois de algumas conversas casuais, as entrevistas foram marcadas, bem como as sessões de fotos. Ao todo, cinco pessoas foram entrevistadas, fotografadas e tiveram seus perfis publicados no Projeto Trans*: João Nery, Amanda Ferreira, Rafaela Rodrigues, Renata Tavares e Alex Darc. 13 2.5 Custos do projeto Livros R$50,00 Custos de viagem R$600,00 Aquisição de equipamento fotográfico (1 lente 50mm) R$500,00 Programação web R$250,00 Domínio e hospedagem web R$130,00 Total R$1530,00 2.6 Equipamentos utilizados Todos os equipamentos utilizados para a produção do trabalho são pessoais e estão listados abaixo: 1 Gravador 1 Computador 1 Câmera Fotográfica Profissional Nikon D60 + 1 lente 50mm e 1 lente 18-135mm 1 Tripé 2.7 Atividades desenvolvidas O projeto se iniciou com um processo de investigação sobre o tema por meio da leitura de bibliografia especializada, matérias jornalísticas e entrevistas. Para entendimento do assunto, formulação e fundamentação do produto proposto, foi necessária a leitura, reflexão e compreensão de obras, artigos científicos e sites relacionados tanto com a temática do gênero e da transgeneridade, quanto de obras sobre Jornalismo, Fotografia e Perfis. A etapa seguinte, da formulação do projeto, foi feita por meio de entrevistas. Com a intenção de aprofundar o conhecimento do tema, foram 14 incluídos os relatos de profissionais (no caso, o médico urologista Carlos Cury e a antropóloga Larissa Pelucio, como citado anteriormente) e pessoas trans*. Após o levantamento de informações, deu-se início ao processo de busca e primeiros contatos com os possíveis personagens cujos perfis seriam documentados. Após a aceitação por parte do perfilado, foi possível pautar as fotografias, definir o tipo de retrato que seria feito, destacar os aspectos da vida de cada um e elaborar os questionamentos individuais. O próximo passo foi o encontro com cada perfilado, que foi feitos em duas partes. No primeiro dia de encontro com cada um, longas entrevistas sobre suas vidas e opiniões foram travadas. No dia seguinte, realizou-se a sessão de fotos, em locais decididos por cada personagem. Durante a sessão de fotos, uma nova entrevista, mais informal, foi travada, com a finalidade de que eles se soltassem, promovendo assim, fotos espontâneas e expressivas. Em seguida, começou o processo de produção textual. Com as anotações e gravações de cada entrevista, os textos foram produzidos e as melhores fotos de cada sessão definidas. Todas as fotos passaram por uma etapa de tratamento, feitas com a ajuda do designer Omar Valencia. Após a revisão final dos textos e fotos, realizada pela orientadora, os perfis foram publicados no endereço www.projetotrans.com, que concomitamente ao processo de produção, foi programado pela programadora web Maria Rita Casagrande. 15 3. COMENTÁRIOS 3.1 Dificuldades encontradas Fotografar pessoas que não se encaixam nos conceitos clássicos de gênero, homens que se vestem de mulher ou ao contrário, mulheres que nasceram no corpo de homem ou homens que nasceram no corpo de mulher, pessoas que preferem não definir-se como um nem como outro, enfim, há inúmeras opções. Mas, onde encontrar essas pessoas? A primeira grande dificuldade foi essa e a internet foi uma grande aliada. Procurei algumas pessoas trans* “famosas” ou conhecidas, publiquei a ideia do projeto nas redes sociais e divulguei entre amigos. Com isso, alguns entraram em contato, eu entrei em contato com outros e as primeiras conversas foram travadas. Entretanto, é mais fácil travar uma conversa pelo chat do Facebook do que posar para a lente de uma fotógrafa desconhecida cujo trabalho seria publicado em um site, naquele momento, inexistente. Essa foi a segunda grande dificuldade. O projeto, de certa forma, expõe as pessoas de uma forma que muitas ainda não estão preparadas, afinal, são retratos, fotografias de seu mundo particular, de sua rotina, de aspectos de sua vida e um texto revelando quem você é, o que você faz e qual é a sua opinião sobre a vida. O medo do desconhecido também foi um problema: que projeto é esse? Onde ele será publicado? De que forma? São dificuldades que surgiram em um primeiro momento do projeto e que, felizmente, com a sua publicação, serão mais fáceis de serem superadas. E que João, Rafaela, Renata, Alex e Amanda me ajudaram a superar. 16 3.2 Considerações finais O Projeto Trans* foi, após anos de concepção, finalmente publicado. Para sua publicação foi necessário: pesquisa sobre o tema e também sobre o jornalismo; opiniões de diversas pessoas que tiveram contato com a ideia durante seu processo de criação e produção; elaboração de um “know-how” sobre os processos de organização e produção dos perfis previstos pelo projeto e a programação de um site no qual o projeto possa viver, entre outros. Todos esses fatores dá ao Projeto Trans*, daqui em diante, a possibilidade de um crescimento ilimitado. O fato de estar hospedado na web faz com que, diferentemente de um livro, um formato pensado inicialmente, ele nunca acabe. O próximo passo é a retroalimentação: divulgá-lo tanto para os perfilados, como para o público no geral para recolher as opiniões e sensações causadas. Depois disso, com ajuda das redes sociais, pretendo difundir o Projeto Trans* com a finalidade de, além de chegar a mais pessoas, que mais pessoas queiram participar como modelos e entrevistadas. No começo do projeto, quando ele ainda era uma ideia que eu tinha que explicar para todos, consegui cinco perfis. No futuro e com a ajuda do produto, que hoje já concreto, poderei usá-lo de veículo para seguir conhecendo, entrevistando e fotografando pessoas que transitem entre gêneros e contando suas histórias, em qualquer lugar do mundo. 17 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMASY, Paul. Le Photojournalisme. Paris: CFPJ, 1990. BENTO, Berenice. O que é transexualidade? São Paulo: Brasiliense, 2008. COIMBRA, Oswaldo. O texto da reportagem impressa: um curso sobre sua estrutura. São Paulo: Ática, 1993. BARTHES, Roland. A mensagem fotográfica, in Teoria da comunicação de massa, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1978. FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em Acesso em 22 jul. 2014. FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988. JAYME, Gonzaga Juliana. Travestis, transformistas, drag-queens, transexuais: identidade, corpo e gênero. Belo Horizonte: PUC, 2001 JESUS, Jaqueline Gomes de. Orientações sobre a população transgênero: conceitos e termos. Brasília: Autor, 2012. KOSSOY, Boris. Realidade e Ficções na Trama Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. KOSSOY, Boris. Fotografia e história. São Paulo, Ática, 2000. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet, Difusão de Informação e Jornalismo: Elementos para discussão, 2009. Disponível em Acesso em 20 out. 2014. SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística. 5ª ed. São Paulo: Summus Editorial, 1986. 18 TRANS MURDER MONITORING. Disponível em Acesso em 22 jul. 2014. VILAS BOAS, Sérgio. Perfis e como escrevê-los. São Paulo: Summus, 2003