UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO LUCAS DE OLIVEIRA CANAVEZI INFLUÊNCIAS RELIGIOSAS NO ESPORTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA Rio Claro 2020 EDUCAÇÃO FÍSICA LUCAS DE OLIVEIRA CANAVEZI INFLUÊNCIAS RELIGIOSAS NO ESPORTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA Orientador: Afonso Antonio Machado Co-orientador: Kauan Galvão Morão Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Bacharel em Educação Física. Rio Claro 2020 C213i Canavezi, Lucas de Oliveira Influências Religiosas no Esporte : Uma Revisão de Literatura / Lucas de Oliveira Canavezi. -- Rio Claro, 2020 28 p. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Educação Física) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro Orientador: Afonso Antonio Machado Coorientador: Kauan Galvão Morão 1. Esporte. 2. Religião. 3. Psicologia do Esporte. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. INFLUÊNCIAS RELIGIOSAS NO ESPORTE: UMA REVISÃO DE LITERATURA Resumo O esporte, assim como ocorre com a religião, propicia ao ser humano valores que podem ser considerados imprescindíveis ao decorrer de toda a sua vida, inclusive influenciando em questões de sobrevivência. Esses dois fenômenos (esporte e religião) da sociedade possuem fatores em comum, aproximando-se e apresentando certa mistura que, inclusive, pode ser constatada como intensa ao longo dos anos. Mais um ponto em comum entre os dois, é o fanatismo que pode envolver determinadas pessoas com a religião ou esporte. Desde quando o esporte surgiu, houve certa ligação a deuses, cultos e cumprimento de rituais religiosos. Desta forma, o presente estudo busca como objetivo desvelar relações entre os fenômenos da religião e esporte no momento pré-competitivo, durante a prática da modalidade e outros aspectos gerais. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica e documental, utilizando artigos científicos e reportagens contendo depoimentos de atletas, dentre outros materiais para maior aprofundamento sobre o assunto, selecionando conteúdo que pudesse embasar a pesquisa para possíveis discussões e esboço de relações entre os dois fenômenos aqui abordados. Os dois são grandes fenômenos sociais e são muitos influentes na vida do ser humano, fazendo certa influência um sobre o outro ao atleta não identificar um específico e fazer uso de ambos em sua vida. Ambos possuem valores sobre o indivíduo como superação, dedicação, disciplina, entre outros. O estudo indica que devemos aprofundar mais sobre o assunto através de relatos e meios científico-acadêmicos, buscando mais acerca de possíveis relações e interferências existentes entre Esporte e Religião. Palavras-chave: Esporte; Religião; Psicologia do Esporte. RELIGIOUS INFLUENCES IN SPORT: A LITERATURE REVIEW Abstract Sport, as in religion, provides human beings with values that can be considered essential throughout their lives, including influencing issues of survival. These two phenomena (sport and religion) of society have factors in common, approaching and presenting a certain mixture that can even be seen as intense over the years. Another point in common between these two is fanaticism that certain people can show with religion or sport. Since sport emerged, there has been a certain connection to gods, cults and the performance of religious rituals. In this way, the present study seeks to unveil relationships between the phenomena of religion and sport in the pre- competitive moment, during the practice of the sport and other general aspects. For this, a bibliographical and documentary review was carried out, using scientific articles and reports containing testimonies from athletes, among other materials for further depth on the subject, selecting content that can support the research for possible discussions and outline of relationships between the two phenomena here addressed. Both are great social phenomena and are very influential in the life of human beings and influence each other when the athlete does not identify a specific one and makes use of both in his life. Both have values about the individual such as overcoming, dedication, discipline, among others. The study indicates that we must go deeper into the subject through reports and academics, a greater search for relationships and interference between Sport and Religion. Keywords: Sport, Religion, Sport Psychology. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 5 2. OBJETIVO ............................................................................................................ 9 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 10 4. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 11 4.1 O fenômeno da religiosidade perante a sociedade .......................................... 11 4.2 Religião e esporte: as interfaces de dois fenômenos mundiais ....................... 14 4.3 Relatos transcendentais .................................................................................. 19 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 22 Referências .............................................................................................................. 24 5 1. INTRODUÇÃO A humanidade se encontra envolvida por grandes acontecimentos, sendo alguns mais influentes que outros, mas em uma posição muito bem estabelecida, sem dúvida nenhuma, encontramos o esporte. Portanto, dessa maneira, existem grandes chances de que a prática esportiva acarrete ou seja vinculada a outros traços da cultura da humanidade, por influenciar e ser envolvida por quase toda a população do mundo. Um desses traços presentes na cultura da humanidade é o fenômeno da religiosidade, que pode se encontrar em diversas manifestações humanas, dentre elas, focamos o universo do esporte. Assim como no esporte, em geral, é nítido e fácil de encontrar a presença de manifestações religiosas junto aos atletas. Hoje, assistir qualquer partida, jogo ou prova de algum esporte, sem notar algum ato de religiosidade presente no decorrer do mesmo, seja dentro ou fora de campo, quadra ou pista (atletas, torcida ou comissão técnica), é praticamente impossível (BATISTA, 2015). Sem precisar aprofundar muito, pensando rápido, aqui no Brasil é comum que times, equipes e clubes tenham seus nomes ligados a religião, como temos exemplos de São Paulo, São Bernardo, São Caetano e diversos outros. Isso não significa exatamente que a religião está explícita dentro daquela instituição, mas sim, que para a fundação daquela instituição o fenômeno da religiosidade gerou uma influência sobre as pessoas que participaram daquele momento histórico do clube/equipe/time, que foi a sua criação. Alguns casos são evidentes no cenário futebolístico geralmente, sendo nítida a religiosidade, por exemplo, com a presença de algum objeto diretamente relacionado com a religião do atleta (imagem de Santos, terços, etc.) presentes nos dias de jogos ou provas juntos aos seus pertences, bem próximos ao atleta, utilizado como forma de amuleto, onde deposita toda a sua fé e crença, pedindo por proteção e benção por um bom resultado. Outro exemplo que pode ilustrar essas situações, é o fato de diversas equipes rezarem antes de entrarem em campo, com o time inteiro reunido, membros da comissão técnica abraçados e rezando alto e em bom tom o “Pai Nosso” e “Ave Maria”, buscando proteção e benção para o jogo. 6 Também é comum ocorrer no momento que o atleta está prestes a entrar em campo, um toque na grama com a mão direita, fazendo o sinal da cruz logo em seguida. Esse gesto, também é repetido várias vezes após gols ou títulos, evidenciando a cena de jogadores se ajoelhando e levantando as mãos para o céu, agradecendo pela conquista. Para certas religiões notamos uma influência no vestuário/corpo, como alguns atletas deixam a barba grande em respeito a sua crença, em outros casos notamos mulheres árabes que utilizam turbantes ou, até mesmo, uma segunda blusa e calça segunda pele escondendo a maior parte do seu corpo como proteção da sua integridade em relação à sua religiosidade. Mas percebemos que as características religiosas variam muito de uma pra outra, de um país pra outro, de um canto do mundo pra outro. Enquanto em um caso vimos que a cobertura de todo seu corpo mostra um sinal de integridade, em outros casos e religiões, alguns atletas utilizam seu próprio corpo para demonstrar sua fé, através de tatuagens, expondo uma cruz, um santo, um nome ou um símbolo que caracteriza toda a sua crença naquela religião que segue. Tais crenças e fatos mostram que o esporte e a religião podem muito bem estar do mesmo lado da balança na vida de um atleta, onde ele consegue usufruir de um esporte que traz efeitos benéficos, profissionalmente e pessoalmente, sem se desvincular da sua crença ou religião que, normalmente, é mais importante na vida do atleta, podendo ela ter entrado na sua vida antes ou, até mesmo, depois do esporte, que não é muito raro de acontecer. Por outro lado, Pinheiro (2018) nos mostra que pode acontecer de, em alguns momentos, ambos fatores poderem estar em lados opostos da balança e estarem se divergindo trazendo um momento de crise entre a religião professada e a carreira do atleta. Como alguns exemplos desses fatos temos a proibição pela Fifa da utilização do véu islâmico (hijab) em partidas oficiais de futebol, a aflição ou descontentamento em utilizar uniformes que são patrocinados por empresas que possuem atividades que não correlacionam à sua religião, na guarda de dias sagrados como os sábados (shabbath) para os judeus e domingo para católicos e outras religiões, para aqueles que querem seguir os 10 mandamentos da bíblia. Fatos como os apontados acima mostram como a relação entre Esporte e Religião é forte, mas passa despercebida várias vezes, por muitos indivíduos. Por isso, segundo Haro (2009) e Ferreira (2010), é escasso o número de estudos sobre 7 o tema, usadas as palavras chaves: Esporte; Religião; Influências, pesquisadas em fontes como Google Acadêmico e Scielo. Em suas especificidades, separadamente, é abundante o conteúdo a ser encontrado por tais temas, mas tornam-se raros os que relacionam os dois assuntos. Segundo Haro (2009), o atleta que passa seus dias dedicando-se ao treinamento, chegando à exaustão, que quebra barreiras e luta por recordes está se engrandecendo, tornando-se algo mais do que humano. Ou seja, tanto esporte como religião buscam um degrau mais alto que esse no qual nos encontramos. De acordo com Lovisolo e Lacerda (1999) concepções e conceitos religiosos acercam o meio esportivo desde os primórdios, e assim continuará pelo tempo. Como exemplo, temos um dos treinadores com maior sucesso no meio esportivo, Phill Jackson, que possui 11 títulos da NBA (6 com Chicago Bulls e 5 com o Los Angeles Lakers), considerada uma das competições esportivas mais famosas no mundo. Em seu livro, Jackson e Delehanty (1997) mostram como a experiência religiosa trazida por sua família influenciou na carreira como técnico profissional de basquetebol, onde a presença de compaixão, solidariedade, companheirismo e ausência do egoísmo serviu de base para ações como técnico. Sentimentos que foram listados como fundamentais, pelo maior basquetebolista de todos os tempos, Michael Jordan, na série desenvolvida pela Netflix (2020), para se tornar o maior de todos, tendo que ver a função do grupo à cima de si próprio. Em fases finais de campeonatos ou temporadas, segundo Leme (2009), é muito comum ver a mídia utilizando de aspectos religiosos para fazer uma analogia à fase em que equipes futebolísticas estão vivendo, dizendo que aquela equipe que está vivendo seu melhor momento, está em busca de títulos, passa por momentos de glórias e busca aos “céus” que seria sagrar-se campeã. Por contrapartida, aquela equipe que não tem boa fase, seja dentro ou fora de campo, não consegue atingir seus objetivos, vive no meio da tabela que não agrada a torcida e nem rebaixa o clube, está numa espécie de “purgatório”, e o “inferno” representado por uma equipe que está a beira de um rebaixamento. A fé pode ser um fator importante perante um fracasso ou uma derrota, segundo um psicólogo em entrevista a Arquibancada (2017), ela pode ajudar na compreensão de fatores negativos para o atleta, devido ao mesmo assimilar esses fatores a acontecimentos presentes em sua religião. E assim se tornar um fator motivante para o atleta, como um impulso para o atleta vencer suas dificuldades, 8 que pode ter uma disciplina devido à sua crença e práticas religiosas que, de repente, falte a outro atleta que não possui crença. Desta forma, o estudo busca abranger os dois temas e correlacioná-los, já que são dois importantes fenômenos socioculturais presentes no dia a dia do ser humano. Assim, de forma mais abrangente, notifica-se sobre influências presentes e perseverantes um sobre o outro, já que de maneira geral a Religião possui maior influência. Contudo, o esporte não fica atrás e, também, pode exercer influência sobre a religião, principalmente em países muçulmanos e que possuem conflitos ou guerras com outras nações. Sendo, assim, o esporte torna-se, por muitas vezes, uma forma de apaziguamento dos conflitos entre as nações ou, até mesmo, de fim de guerras. 9 2. OBJETIVO O presente estudo possui como objetivo investigar como esporte e religião se relacionam e a interferência que esses fatores geram nos praticantes religiosos, partindo do pressuposto de que existem relações e interferências entre eles. 10 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente estudo foi realizado por meio de uma revisão bibliográfica e documental (THOMAS; NELSON, 200), pensando que essa forma é considerada eficiente e suficiente para apresentar os resultados desejados desse trabalho. Deste modo, buscou-se com que o trabalho apresentasse grande aprofundamento sobre possíveis interferências religiosas no contexto esportivo. O material buscado consistiu em artigos científicos, reportagens, filmes, revistas, periódicos eletrônicos, livros, vídeos, dentre outros materiais que pudessem corroborar com maior embasamento que o autor pudesse desenvolver para discutir sobre a temática aqui abordada, esclarecendo alguns pontos e traçando possíveis relações existentes que englobem os fenômenos aqui estudados. Foi realizada a busca pelos materiais em meios de pesquisas, sites e plataformas de buscas eletrônicas como o Google Acadêmico, Scielo, LILACS, PubMed e, até mesmo, biblioteca física da Unesp – Rio Claro/SP e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte (LEPESPE). Além disso, a busca pela temática em websites esportivos renomados e que apresentassem certa fidedignidade e reconhecimento no cenário nacional também foi utilizada. Desta forma, durante a redação do trabalho, foi buscado com que as reportagens, relatos de atletas e acontecimentos esportivos fossem complementares à base teórica que foi encontrada. 11 4. REVISÃO DE LITERATURA 4.1 O fenômeno da religiosidade perante a sociedade Como dizem Bernardi e Castilho (2016), a construção de caráter no indivíduo está completamente ligada ao ambiente onde teve sua formação. “A formação do ser humano está ligada à construção do lugar onde ele habita que envolve desde o ambiente natural (paisagem natural) até as influências que ele recebeu na vida pretérita. Essas influências formam seu caráter individual e social. Ele se constrói em um dado território e busca ser ele mesmo nesse espaço, passando a se conectar com outros indivíduos e com elementos que passam a fazer parte de seu cotidiano. Neste processo encontram-se aspectos de sua formação tais como: a cultura, a arte, a religião, o direito, etc.” "(BERNARDI; CASTILHO, 2016, p. 746). E como objeto desse estudo veremos, especificamente, o aspecto religião na formação do indivíduo e perante a sociedade. Já dito por Geertz (1978), o ser humano não é capaz de permitir que alguns fenômenos ou acontecimentos fiquem sem uma devida explicação, assim utiliza de meios como ciência, espiritualidade, e outros, para trazer ao mundo um significado a tal acontecimento, assim, saciando a sua incapacidade de permitir que algo fique sem explicação. Então, como instrumento de explicação ao sobrenatural, a religião acompanha o desenvolvimento da humanidade desde os seus primórdios, muitas vezes como percussor e fator importantíssimo para o acontecimento da história, como é o caso das Cruzadas, onde povos lutavam por terras em busca da volta à terra santa. Assim, percebemos, que o fator percussor deste acontecimento foi o fenômeno da religiosidade. Com o passar dos anos e o desenvolvimento da ciência, muitos aspectos, antes explicados apenas por caráter religioso, foram tendo outras explicações, agora através de estudos, e muitos fados e explicações foram considerados mitos através da ciência. Hoje, os dois lados da moeda, religião e ciência, são fundamentais na vida do ser humano, como explicação daquilo que não era explicável. Especificando mais sobre o fenômeno da religiosidade, através do mundo ele foi diversificado ou ramificado através das culturas dos povos por onde é professado. 12 Então, ao se discernir pelo mundo este fenômeno foi criando suas peculiaridades através de cada cultura e arrastando multidões, seguidores de todos os lados do mundo. Segundo Coelho (2020) as 10 religiões com mais adeptos ao redor do mundo são: 1. Cristianismo (aprox. 2,4 bilhões de adeptos) 2. Islamismo (aprox. 1,8 bilhões de adeptos) 3. Hinduísmo (aprox. 1,1 bilhão de adeptos) 4. Budismo (aprox. 500 milhões de adeptos) 5. Xintoísmo (aprox. 104 milhões de adeptos) 6. Sikhismo (aprox. 30 milhões de adeptos) 7. Judaísmo (aprox. 15 milhões de adeptos) 8. Taoísmo (aprox. 12 milhões de adeptos) 9. Xamanismo coreano (aprox. 10 milhões de adeptos) 10. Confucionismo (aprox. 6 milhões de adeptos) A palavra “religião” foi trazida do latim, e surgiu de religio, que têm a sua interpretação correta como “respeito pelo sagrado”. A palavra apresenta o prefixo “re”, fortalecendo o intuito de ligare, que tem seu conceito em “atar” (podendo explicar a expressão “teísta” como crente e “ateísta” como não crente, ou mais explícito “atender um chamado”). Ribeiro (2009), traz algumas definições de religiosidade, representada por diferentes estudiosos da área, sendo: a) algo que em alguns aspectos consegue definir a capacidade do indivíduo por inteira, mas já em outros é falha e mostra uma certa limitação; b) a religiosidade é tratada como uma grande capacidade humana, capaz “de gerar formas cognitivas e emocionais de construção de sentidos e que assume manifestações culturais diversas”, podendo ser exemplificada a religião institucionalizada; c) utiliza da cultura e gênero, para dizer que todo indivíduo vive a religiosidade como uma dimensão antropológica. Segundo Engler (2004), é difícil trazer uma definição exata sobre Religião, havendo uma dificuldade de apreensão se tornando tanto quanto imprecisa. São diversos os fatores envolvidos sobre o aspecto religião, “será Deus, deuses, o sagrado, as crenças numa vida após da morte, os rituais, a magia, o sacerdócio”, segundo ele nunca haverá um consenso para definição da palavra “Religião”. 13 Mesmo assim, existem algumas explicações elaboradas para o conceito religião. Um exemplo, é dado por Geertz (1978): Religião é um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essas concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas (GEERTZ, 1978, p. 104). Para Freud (1996), entende-se religião como um sistema de doutrinas que vem a explicar, através de mandamentos sagrados, mistérios do mundo e afirmam aos teístas que terão um lugar ao céu, se seguirem suas profecias de um todo poderoso. Bernardi e Castilho (2016), acreditam que a relação cultura x religião se desenvolve muito unida e que a influência de uma sobre a outra é diretamente proporcional. Na relação cultural, os símbolos, possuem explicações que partem exatamente da sua linguagem simbológica. Em contrapartida, na relação religiosa, o predominante é a fé, que é determinada pela crença em algo sobrenatural e sagrado. Perante as situações que a vida causa, não é possível ser imparcial, sempre será exigido uma posição sustentável, assim, não é possível ter um controle sobre os elementos da fé, diz Sanches (2010). Há a presença também de uma possibilidade diferente de se explicar o fenômeno da religião, que pode ser através da espiritualidade. Utilizadas muitas vezes como sinônimos, principalmente em estudos relacionados a saúde (PANZINI, BANDEIRA, 2007), os dois termos possuem conceituação diferente. Demonstrado por Sandrini (2007), a espiritualidade do indivíduo pode ser manifestada em diferente viés: primeiramente, sempre lembrada, a religião, mas também sendo vinculada a exercícios de reflexão, moralidade, emocional, criação. Visando assim, que o ser humano pode vincular a espiritualidade mais a caráter pessoal ao invés da religião. Quando se pensa na definição de valores da sociedade que formam o homem dentro do seu espaço territorial, temos como elemento fundamental a religiosidade. Então, a compreensão de um espaço territorial, é compreender a cultura da sociedade naquele determinado espaço e, envolvida a isso, apresenta o fenômeno da religiosidade. 14 Definida por Chauí (1995) como uma demonstração de algo divino, ou sagrado, que é o aparecimento de um agente sobrenatural utilizando uma influência poderosa através de um objeto, ou símbolo, como uma força divina, a religiosidade está vinculada na história do ser humano. Como presente na história do ser humano, a outro fenômeno muito forte que também arrasta multidões, um fenômeno que pode ser encontrado de diversas formas no meio da sociedade, tais como lazer e trabalho, é o esporte. Tal fenômeno que poderia ter ligação nenhuma a religiosidade, mas de tão grandiosidade que os dois tomaram de proporção durante a história, ficou impossível não haver influências de um sobre o outro, devido às multidões que os dois atraem, singularmente, a relação entre eles se aproximou e foi tendo suas devidas influências. Assim, quais tipos de interferências há entre religião e esporte? Quais as experiências religiosas que os atletas passam? Como essas experiências podem influenciar a carreira esportiva? Quais as diferenças de um atleta que carrega a religião com si, de um atleta que não carrega? Isso pode afetar de maneira positiva ou negativa? Como a religiosidade afeta o modo como o atleta lida com o esporte de maneira geral? Como o atleta encara os possíveis conflitos entre os dois? Todas essas questões serão tratadas no próximo tópico. 4.2 Religião e esporte: as interfaces de dois fenômenos mundiais Que as duas vertentes são fenômenos mundiais e carregam multidões junto a si, é de conhecimento mútuo. Com a evolução dos dois através da história, foram apresentando ligações e influências e, hoje, através da mídia é muito mais difundido perante os olhos do público, se tornando um fator determinante para este estudo. Um início, uma data, de quando surgiu cada fenômeno não é possível ser expressado com muita exatidão. Segundo Ferreira (2010), há lendas sobre os jogos olímpicos pararem guerras, devido a sua vinculação aos deuses gregos e ao sagrado. Monteiro (2007, p. 388), afirma que “na Grécia Antiga legitimava-se as competições através dos valores sagrados. No seu renascimento, formulado por Coubertin, os jogos olímpicos foram considerados como uma nova religião”. Haro (2009) discorre um pouco sobre a época: 15 Os desportos eram mais do que simples relação com a religião, eles eram a própria religião; o físico, o espírito, as emoções, a fraternidade e a comunhão eram vincadamente um tratado cultural do maior empreendimento humano (HARO, 2009 apud MONTEIRO, 2007, p. 36). Mesmo sem trazer uma data específica, conseguimos nos concentrar em um povo que trouxe o processo de institucionalização do esporte, os gregos. Devido a desenvolverem “calendários, regras, espaços para treinamento e prática de competições (gymnasio), atletas (athlethés), treinadores (paidotribés), organizadores (gymnastai), e equipamentos”, dissertado por Pinheiro (2018). Pensando no indivíduo e de que forma os dois fenômenos sociais trabalham sobre ele, temos o esporte trabalhando o corpo e a mente, através de treinamentos para o desenvolvimento do indivíduo naquela modalidade. E a religião focada em alma e espírito para um bem-estar individual e social, assim, ambos se completam e desenvolvem entre si. Comparações simples entre os dois é feita por Coakley (2009), se referindo que ambos possuem necessidade de acontecer em seu lugar específico: estádios, arenas, igrejas e templos sagrados. Que até mesmo podem ser difundidos por fora desses lugares, mas a atração principal, o foco, a supremacia de ambos fenômenos necessitam de seu lugar para ser executado. Os dois possuem um sistema hierárquico, com uma estruturação organizacional por trás de seus acontecimentos – dirigentes, técnicos, comissões, padres, pastores, rabinos. Um e outro idolatram algo ou alguém – santos, deuses, ídolos. Ambos possuem rituais de início ou fim – casamentos, batismos, missas, desfiles, apresentações, troca de faixas. Mitos, heróis e lendas sempre são atualizados com o passar do tempo pelos dois. Como grandes fatores sociais, são utilizados politicamente para desviar ou atrair atenção de importantes questões sociais, políticas e econômicas. E, um dos motivos desse estudo, ambos trazem sentimentos a flor da pele e dão um direcionamento à vida daqueles que são pertencentes ao seu meio. Hervieu-Léger (2008), traz uma referência sobre as torcidas organizadas, que facilmente poderiam ser trocado o nome de “torcedores” por “crentes”, chamando de “um dispositivo ideológico, prático e simbólico” devido a sua constituição, por ter a funcionalidade de se manter e desenvolver perante a sociedade e o meio inserido, e possui um controle por sentimento coletivo e individual através de seus torcedores, ou muitas vezes chamado de fiéis. Complementando essa ideia, Elias e Dunning 16 (1992), mostra que para determinados grupos da sociedade, o esporte se tornou sim, uma atividade quase considerada de cunho religioso. Assim, eles sugerem que o esporte pode se tornar, a cada dia mais, a religião secular de nossa época. Uma palavra muito conhecida em ambos os fenômenos que pode fazer uma ligação entre os dois é a “superação”. Descrito por Monteiro (2007), os monges elevam sua vida e as suas atividades religiosas em busca de uma superação humana voltada para a realização de Deus. Sendo o mesmo conceito de motivação para realização dos atletas em suas modalidades esportivas, podendo se superar para a busca de resultados como marcas e títulos. Então Ferreira (2010, p. 34) os relacionam da seguinte forma: Percebemos a aproximação clara entre atleta (Esporte) e monge (Religião) por meio do valor descrito: Superação. O religioso quanto mais sacrifício viver, mais perto estará de sua entidade divina e o esportista quanto mais se esforçar, treinar e superar-se mais “super- humano” se sente. Ambos encontram um grau de satisfação indescritível através de suas lutas em prol da superação (FERREIRA, 2010, p. 34). Haro (2009) consegue complementar essa relação, dizendo que as atividades que sustentam, tanto esporte quanto vida espiritual, são as mesmas. Exemplificadas por “disciplina, dedicação, entusiasmo e perseverança”, que são características presentes tanto na vida de um atleta quanto na de um fiel. O Papa João Paulo ll (2000, p. 2) traz em uma de suas homilias uma importância gigantescamente perceptível que o esporte vem adquirindo na vida e formação de jovens, trazendo a confirmação de valores relevantes como “a lealdade, a perseverança, a amizade, a partilha e a solidariedade”. Motivos estes, descritos pelo papa, fundamentais para o desenvolvimento do esporte como um fenômeno típico da modernidade, como um “sinal dos tempos capaz de interpretar as novas exigências e as renovadas expectativas da humanidade” (JOÃO PAULO, 2000, p. 2). Se difundindo assim, por todos os cantos do mundo, ultrapassando limites como diversidades de culturas e nações. Em seu estudo Petrognani (2019), discorre bastante sobre o “fechamento”, que é uma prática bastante realizada no esporte coletivo, tanto antes ou após de provas e partidas, caracterizada por o grupo se reunir em círculo, abraçados (como forma de energização entre eles), passarem uma motivação maior para todos atletas 17 e pedir pela proteção divina para que ninguém se machuque e uma benção para que possam fazer uma boa prova/partida e consigam o resultado positivo – isso antes da partida/prova. E após, o “fechamento” também é realizado agora com outro objetivo, novamente em círculo e todos abraçados, agradecem pela partida/prova, por resultado positivo ou negativo e por todos saírem sem lesões (caso aconteça). Petrognani (2016) completa que o “fechamento” é presente em todas as fases do esporte coletivo, desde as categorias de base, do amador ao profissional. Presente em diferentes importâncias do meio esportivo, seja uma simples partida amistosa, à final de um campeonato mundial. Ele naturaliza o “fechamento” até para as crianças na categoria de base, como um processo para a partida ou jogo, ou seja, se torna natural quanto vestir o uniforme, todos sabem que é preciso fazer. Ele relata também, que os técnicos e educadores olham o “fechamento” como um fator muito benéfico, por melhorar a concentração, aliviar a tensão/estresse e reforçar o espírito de grupo. Alastradas pelo mundo há diversos tipos de religião, como mostrado anteriormente neste estudo, o cristianismo é o mais presente entre a população. No Brasil, não é diferente, o cristianismo está muito a frente nos dados populacionais. Com esse fato, não podemos negar que, o número de atletas, treinadores e outros vinculados ao meio esportivo que são seguidores do cristianismo, cristãos, também podemos considerar um número maior. Isso é percebido principalmente no futebol, nossa paixão nacional, com jogadores demonstrando gestos cristãos, orações pedindo proteção e bom resultado antes de jogos, blusas com escritas cristãs, imagens e objetos cristãos nos vestiários, entre outras manifestações. Um exemplo claro disso é trazido por Aguiar (2011), onde conta que a instituição Atletas de Cristo possui mais de seis mil atletas brasileiros, atuantes em diversas nações (Japão, EUA, Espanha, Argentina, França, Itália, Turquia, Portugal, etc.) incluindo, claramente, o Brasil, onde foi fundado. Segundo Petrognani (2016) o objetivo dos atletas de cristo pode ser resumido por: Hoje o esporte é de fundamental importância no mundo e consequentemente no Brasil, são milhares de praticantes em nosso país (...) atletas surgindo a todo momento. Somos o país do futebol, do vôlei, da ginástica, da natação entre tantos outros, prova de que o esporte tem alcançado outros adeptos com habilidades distintas além do querido futebol, este por sua vez temos que ressaltar: é o esporte 18 com mais ênfase no Brasil e que abre grandes portas no mundo inteiro. Entendemos tudo isto de maneira benéfica e por que não dizer oportuna para a pregação do evangelho da salvação, temos intensificado nossos esforços, nossas ações, e nossos melhores dias para tornar o esporte um grande canal por onde passa a Palavra de Deus e alcança os corações dos mais apaixonados e praticantes esportivos do Brasil e do mundo. (...) Seja um Atleta de Cristo (PETROGNANI, 2016, p. 69). Ferreira (2010) diz que antigamente era visto como uma forma de dominação, mas com o passar do tempo, as percepções pela igreja católica foram mudando, e a atividade física, junto com o esporte, se tornaram uma maneira de cuidar do templo do Espírito Santo, referindo-se ao corpo humano. Uma fala do Papa Paulo VI, trazida por Borges (2006), completa a importância da atividade física e esporte para a religião, que por meio de atividades físicas e eventos esportivos, tornando-se uma ajuda para manter o espírito equilibrado, também entre os povos, comunidades, nações e raças por ter estabelecido algumas relações fraternas. Assim, o autor finaliza que neste caso, os dois fenômenos se completam, apenas para o bem-estar e desenvolvimento do indivíduo. Monteiro (2007) complementa dizendo que: Podemos dizer, então, que uma grande parte dos atletas, de qualquer idade, raça ou sexo, treinam e competem por razões que transcendem a própria competição, o treino e a própria condição humana. Dentre as razões que encontramos para tamanha dedicação temos: incentivo de nos recriarmos, a lembrança de que podemos ser mais que seres comuns e a coragem para enfrentar os limites e explorar o extraordinário (MONTEIRO, 2007, p. 174). Com toda apresentação dissertada até agora, coloca-se em evidência que ambos, Religião e Esporte, apresentam circunstâncias em que interferem diretamente em ações humanas. Como foi apresentado por Borges (2006), muitos indivíduos em forma de chegarem aos seus objetivos, agregam ao seu estilo de vida e valores pessoais, ambos Fenômenos Sociais, Esporte e Religião. Outra maneira de realizar a aproximação dos dois fenômenos, é através de experiências transcendentais. Assim, se torna importante a apresentação de alguns relatos por atletas que levam a fé junto com esporte. 19 4.3 Relatos transcendentais Após a leitura de Ferreira (2010) e Monteiro (2007), foi percebida a importância de se apresentar alguns relatos de atletas de diversas modalidades demonstrando a importância e formas de interferência da religião perante o esporte. Assim, Ferreira (2010, p. 36) relata sobre o esporte, sugerindo que “Assim o desporto apesar de ser produto de atividades culturais e educativas é também um agente de exploração de limites visando o sagrado.”. Então, foi coletado em revistas, jornais e blogs online, algumas entrevistas, discursos e falas de atletas de diversas modalidades (basquete, futebol, MMA, fórmula 1), sendo alguns deles referências mundiais no esporte, que atraem milhões de seguidores em suas redes sociais. Stephen Curry, jogador de basquete profissional pelo Golden State Warriors, defende o significado de ser um atleta de Cristo: “Ser um atleta de Cristo não significa orar para o seu time vencer. Deus não dá vantagem para aqueles que rezam sobre aqueles que não: trabalho duro faz isso! Ser um atleta de Cristo significa competir por Cristo de uma maneira em que você sempre dá o seu tudo para Ele e se ganhar ou perder, você Lhe agradece a capacidade e oportunidade de jogar. Isso significa dar toda a glória a Deus, não importa o resultado, porque você confia no plano Dele para a sua vida” (BOLA AO ALTO, 2016, p. 1). E em outra situação, o mesmo atleta ainda diz que: "Eu tento fazer de cada jogo uma oportunidade para testemunhar. Tento fazer um pequeno sinal cada vez em que faço uma cesta como uma forma de pregar a mensagem nas maneiras simples em que eu posso. Cada jogo é uma oportunidade de estar em um grande palco e de testemunhar Cristo. Cada vez que eu apareço, as pessoas devem saber quem eu represento, e em quem eu acredito" (LYCURGO, 2017, p. 1). Ricardo Izecson dos Santos Leite, mais conhecido como Kaká, ex-jogador de futebol profissional e pentacampeão mundial com a seleção brasileira, fala de seu testemunho de fé dentro de campo: “Nunca falei que Deus fez gol para mim. Sempre levantei a mão e agradeci o momento que estava vivendo. É um agradecimento. Mas começam discussões, pequenas coisas que cada um vai pegando, 20 para criar esse tipo de polêmica. Eu não podia ser na frente das câmeras o Kaká jogador de futebol e, longe dela, o Ricardo cristão. Os valores eram os mesmos” (LOPES, 2018, p.1). Leonardo Renan Simões Lacerda, mais conhecido como Léo, jogador de futebol profissional pelo cruzeiro diz sobre a relevância da fé na sua carreira, citando que: "É 90% necessário. É muito importante para um atleta, porque principalmente quando você é novo e chega ao profissional, muitas pessoas chegam a você, rodeiam. Se você não tiver uma estrutura e uma base na religião e em família, você acaba passando uma certa dificuldade porque estas pessoas acabam influenciando você. Hoje, o atleta de futebol, com certeza, a grande maioria é conhecedora da bíblia, do evangelho e não se baseiam. Eles acabam tendo um pouco de dificuldade" (VENTURA, 2016, p. 1). Kobe Bryant, ex-jogador profissional de basquetebol, pentacampeão da NBA relatou sobre um momento muito difícil em sua carreira em que foi acusado de abuso sexual: “A única coisa que realmente me ajudou durante esse processo – sou católico, cresci católico, meus filhos são católicos – foi conversar com um padre. Foi realmente meio engraçado: ele olha para mim e diz: ‘Você fez isso?’ E eu digo: ‘Claro que não’. Então ele pergunta: ‘Você tem um bom advogado?’ E eu sou como, ‘Uh, sim, ele é fenomenal.’ Então ele apenas disse: ‘Deixe para lá. Ir em frente. Deus não vai lhe dar nada que você não possa lidar, e está nas mãos dele agora. Isso é algo que você não pode controlar. Então deixa pra lá. E esse foi o ponto de virada.” (PIERI, 2020, p 1). Vitor Belfort, lutadora brasileiro de MMA, também conhecido como “o fenômeno” após ser considerado o mais jovem campeão do UFC, relata sobre momentos antes de entrar no octógono: “No meu caminho do vestiário até o octógono vou orando e falando em línguas. A música com a qual entro tem de fundo uma oração. Entro focado. E agradeço tudo a Deus. Sou um homem abençoado em poder ter esse relacionamento com o Altíssimo. Para mim, Deus é tudo. Acredito que sem Ele não somos nada na vida.” (COMUNHÃO, 2018, p. 1). 21 Lewis Hamilton, piloto de Fórmula 1, seis vezes campeão mundial, cita o modo que enxerga seu talento e a sua fé que segue, indicando o trecho a seguir em que é colocado que: “Minha fé é muito importante para mim... Creio realmente que meu talento é um dom de Deus e estou convencido de ser abençoado. Mas também trabalho muito para chegar onde estou... Há que se manter a esperança, crer que há um plano. Creio que Deus tem um plano para mim, mas não sei qua l.” (PAULA, 2016, p. 1). Por meio dos relatos percebemos claramente alguns entrelaçamentos entre esporte e religião, por meio de valores e experiências práticas relatadas por esses atletas de algumas modalidades esportivas, mesmo sendo poucos exemplos, em meio a inúmeros presentes no meio esportivo. Que a Religião e o Esporte são dois grandes fenômenos sociais na vida do ser humano não é novidade para ninguém, mas a forma como ambos podem estar relacionados entre si, e vem se relacionando durante toda a história, pode ser algo novo para alguns. Este estudo teve como objetivo a apresentação dessas influências tanto diretamente como indiretamente presente na vida do ser humano. Como ambos fenômenos podem ter características semelhantes, mesmo tendo objetivos totalmente diferentes, podendo ser muito importante na vida de indivíduos sem necessidade de uma preferência, e sendo muito exemplificadas e espalhadas por muitos indivíduos. 22 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O indivíduo ao percorrer sua vida individualmente consegue desenvolver uma diversidade de valores, os utilizando como norte para guiar a sua vida. Há muitos valores que um ser humano pode levar em consideração, sendo assim, cada indivíduo utiliza daqueles que mais possui afinidade. Dois fenômenos existenciais na vida do ser humano são Esporte e Religião que apresentam valores imprescindíveis ao seu desenvolvimento. Ambos possuem ligações e interferências de tal intensidade que se misturam perante a história. Desde o surgimento, o esporte é ligado aos deuses. No cenário atual, os dois fenômenos possuem potencial suficiente para se manterem e desenvolverem individualmente, no sentido de não dependerem um do outro. O Esporte não se restringe apenas a religiosidade, e a Religião não se resume apenas ao esporte. Ambos possuem suas “vidas” sozinhas, mas percebemos que ambas podem se influenciar perante os valores que o indivíduo carrega consigo. Muitos esportistas espalhados pelo mundo fazem um vínculo da sua vida espiritual/religiosa com o seu meio esportivo, como é o caso dos “Atletas de Cristo” apresentados aqui neste estudo. Tais atletas não escondem a sua fé e fazem questão de demonstrar em entrevistas e discursos como a espiritualidade ajudou no esporte. Uma relação fácil entre os dois é facilmente percebida por meio da superação, uma palavra que pode definir ambos ambientes. Vemos um atleta entregar seu máximo para busca de resultados, superando-se, se engrandecendo por um objetivo, o que não é diferente no meio religioso, onde o indivíduo sempre visa o progresso e a aproximação do divino. Outras palavras com valores significativos podem ser presenciadas em ambos fenômenos, esportivo e religioso, tais como: dedicação, disciplina, comprometimento, idolatria, perseverança, determinação e alguns outros diversos valores que são comuns em ambos ambientes para aqueles que buscam desenvolvimento no contexto esportivo ou religioso. É notado então que Esporte e Religião se fazem presentes na vida do ser humano, mesmo que de maneira indireta. O indivíduo que observa, presencia, experimenta e vive valores como Esporte e Religião, pode sofrer influência desses 23 fatores, que também acabam apresentando certa relação de interferência um no outro. Por fim, é sugerido o desenvolvimento de mais estudos, pesquisas, revisões acerca do Esporte e da Religião, buscando expor como podem interferir na vida dos atletas, bem como entender as influências que esses fatores possuem entre si, isto é, como o esporte pode interferir no contexto religioso e como a religião pode afetar o meio esportivo. 24 Referências AGUIAR, R. O. Deus é mais: a supremacia da fé evangélica na ótica dos Atletas de Cristo. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 3, n. 9, p. 229-252, 2011. BATISTA, B. M. O enredo assistencial de renomados atletas evangélicos no estado de São Paulo. In: XIV Simpósio Nacional da ABHR, 14, 2015, Juiz de Fora, Minas Gerais. Anais..., 2015. p. 1793-1800. BERNARDI, C. J.; CASTILHO, M. A. A Religiosidade como elemento do desenvolvimento humano. INTERAÇÕES, Campo Grande, MS, v. 17, n. 4, p. 745- 756, out./dez. 2016. BOLA AO ALTO. Publicação de Stephen Curry no Instagram. Bola ao alto, publicação. 2016. 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