UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” - CAMPUS BAURU FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES, COMUNICAÇÃO E DESIGN MARIANA ANJOS DE ALMEIDA DUETO - APRENDENDO EM DUPLA: Processo de desenvolvimento de brinquedo inclusivo com foco em crianças com Transtorno do Espectro Autista BAURU 2023 1 MARIANA ANJOS DE ALMEIDA DUETO - APRENDENDO EM DUPLA: Processo de desenvolvimento de brinquedo inclusivo com foco em crianças com Transtorno do Espectro Autista Trabalho de Conclusão do Curso para obtenção do Grau de Bacharel em Design de Produto, no curso de Design de Produto da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design na Universidade Estadual Paulista, Campus Bauru, com linha de pesquisa: planejamento e desenvolvimento de produto. Sob a orientação do professor Fausto Orsi Medola. BAURU 2023 2 MARIANA ANJOS DE ALMEIDA DUETO - APRENDENDO EM DUPLA: Processo de desenvolvimento de brinquedo inclusivo com foco em crianças com Transtorno do Espectro Autista Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado para obtenção do Grau de Bacharelado no curso de Design de Produto da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus Bauru. Bauru, 07 de fevereiro de 2023. BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Profº Dr. Fausto Orsi Medola __________________________________________ Profº Dr. Luis Carlos Paschoarelli __________________________________________ Profª Ms. Ana Cláudia Tavares Rodrigues 3 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu orientador por ter acreditado no projeto desde o início, me ajudado e me instruído para que esse resultado fosse possível. Agradeço aos profissionais e aos fornecedores que contribuíram diretamente com a realização desse projeto. E em especial, agradeço a Deus, a minha família, aos meus amigos e ao meu namorado pelo suporte durante todos os anos dessa jornada. 5 “As crianças especiais, assim como as aves, são diferentes em seus voos. Todas, no entanto, são iguais em seu direito de voar.” Jessica Del Carmen Perez 6 RESUMO O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que acomete principalmente as habilidades comportamentais, sociais e cognitivas e cada criança apresenta suas preferências e peculiaridades e requerem um planejamento pedagógico inclusivo e especializado para se adaptar às suas necessidades de aprendizagem. A problemática analisada ao decorrer da pesquisa, foi o fato de que os jogos e brinquedos presentes no mercado, em sua maioria, estimulam sim a interação, porém, de modo competitivo e isso pode gerar um grande gatilho para as crianças com TEA, podendo levar ao desestímulo, desinteresse ou até mesmo crises agressivas. O objetivo do projeto é a criação de um brinquedo inclusivo, com foco em crianças com TEA, visando ser utilizado como um recurso de aprendizagem em escolas e clínicas de tratamento especializado, de modo que estimule alguns eixos psicomotores como a interação social através do incentivo da fala, além de possibilitar a execução de atividades que trabalhem a coordenação motora fina, de maneira divertida e eficiente para contribuir com o processo de desenvolvimento de cada um dos usuários. Para isso, houve a realização de estudos sobre o transtorno e sobre a questão de inclusão social, além de entrevistas com profissionais da área para validação do projeto, sendo julgado com grande potencial em estimular a interação social positiva. Palavras-chave: TEA; Crianças; Aprendizagem; Brinquedo. 7 ABSTRACT Autistic Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder that mainly affects behavioral, social and cognitive skills and each child has their preferences and peculiarities and requires an inclusive and specialized pedagogical planning to adapt to their learning needs. The problem analyzed during the research was the fact that most games and toys on the market do stimulate interaction, but in a competitive way, and this can be a major trigger for children with ASD, which can lead to discouragement, disinterest, or even aggressive crises. The project's goal is to create an inclusive toy, focused on children with ASD, in order to be used as a learning resource in schools and specialized treatment clinics, so that it stimulates some psychomotor axes such as social interaction through speech stimulation, besides enabling the execution of activities that work fine motor coordination, in a fun and efficient way to contribute to the development process of each user. To this end, studies were carried out on the disorder and on the issue of social inclusion, in addition to interviews with professionals in the area to validate the project, and it was judged to have great potential in stimulating positive social interaction. Keywords: ASD; Kids; Learning; Toy. 8 LISTA DE IMAGENS Imagem 1 - Caixa Registradora...............................................................................37 Imagem 2 - Jogo de Sequência das Cores e Frutas...............................................38 Imagem 3 - Quadro de Contagem...........................................................................38 Imagem 4 - Jogo da Pesca Magnética....................................................................39 Imagem 5 - Xadrez da Memória..............................................................................40 Imagem 6 - Bancada Desmontável de Ferramentas...............................................41 Imagem 7 - Painel semântico..................................................................................42 Imagem 8 - Sketch inicial.........................................................................................47 Imagem 9 - Sketch fases do brinquedo...................................................................47 Imagem 10 - Sketch posicionamento do brinquedo................................................49 Imagem 11 - Sketch base e vista lateral..................................................................49 Imagem 12 - Sketch elementos das paredes...........................................................50 Imagem 13 - Infográfico...........................................................................................51 Imagem 14 - Etapa de modelagem posterior da peça.............................................54 Imagem 15 - Etapa 01 modelagem parede..............................................................54 Imagem 16 - Etapa 02 modelagem parede..............................................................55 Imagem 17 - Modelagem parede finalizada.............................................................56 Imagem 18 - Modelagem base.................................................................................56 Imagem 19 - Modelagem interior da base................................................................57 Imagem 20 - Modelagem tampa da base.................................................................57 Imagem 21 - Modelagem haste maior......................................................................58 Imagem 22 - Modelagem peça números..................................................................58 Imagem 23 - Modelagem haste menor.....................................................................59 Imagem 24 - Modelagem peças geométricas..........................................................59 Imagem 25 - Montagem 01......................................................................................60 Imagem 26 - Montagem 02......................................................................................60 Imagem 27 - Montagem 03......................................................................................61 Imagem 28 - Montagem 04......................................................................................61 Imagem 29 - Render vista frontal.............................................................................62 Imagem 30 - Render vista lateral.............................................................................62 Imagem 31 - Render vista diagonal.........................................................................63 9 Imagem 32 - Vista aproximada das fases...............................................................63 Imagem 33 - Desenho técnico montagem completa...............................................64 Imagem 34 - Logotipo oficial...................................................................................66 Imagem 35 - Logotipo monocromático....................................................................66 Imagem 36 - Logotipo preto e branco.....................................................................67 Imagem 37 - Logotipo branco e preto.....................................................................67 Imagem 38 - Paleta de cores e códigos..................................................................68 Imagem 39 - Folha de adesivos..............................................................................69 Imagem 40 - Adesivos destacados.........................................................................69 Imagem 41 - Manual de instruções página 01........................................................70 Imagem 42 - Manual de instruções página 02........................................................71 Imagem 43 - Processo de usinagem da peça base................................................75 Imagem 44 - Processo de usinagem da peça parede............................................76 Imagem 45 - Usinagem parte frontal da parede.....................................................76 Imagem 46 - Usinagem parte posterior da parede.................................................77 Imagem 47 - Peças em cedrinho............................................................................77 Imagem 48 - Paredes finalizadas vista posterior....................................................78 Imagem 49 - Parede finalizada vista frontal...........................................................78 Imagem 50 - Base..................................................................................................79 Imagem 51 - Composição base..............................................................................79 Imagem 52 - Resultado final da usinagem.............................................................80 Imagem 53 - Botão liga e desliga...........................................................................81 Imagem 54 - Teste botão liga e desliga..................................................................81 Imagem 55 - Ligação fase das perguntas..............................................................82 Imagem 56 - Ligação fase peças geométricas.......................................................82 Imagem 57 - Ligação da fase dos percursos.........................................................83 Imagem 58 - Isolamento arruelas...........................................................................83 Imagem 59 - Ligação da fase dos números...........................................................84 Imagem 60 - Posicionamento da mola...................................................................84 Imagem 61 - Parte elétrica finalizada.....................................................................85 Imagem 62 - Processo de lixamento da madeira...................................................86 Imagem 63 - Pintura peças números.....................................................................87 Imagem 64 - Texturização das peças circulares....................................................87 Imagem 65 - Texturização das peças quadrangulares..........................................88 10 Imagem 66 - Texturização das peças hexagonais.................................................88 Imagem 67 - Texturização das peças triangulares.................................................89 Imagem 68 - Texturização em biscuit finalizada.....................................................89 Imagem 69 - Pintura das peças geométricas.........................................................90 Imagem 70 - Colagem do alumínio.........................................................................90 Imagem 71 - Colagem dos alumínios finalizada.....................................................91 Imagem 72 - Aplicação de verniz nas peças números...........................................91 Imagem 73 - Pintura bolinhas das hastes...............................................................92 Imagem 74 - Colagem dos adesivos nas peças números......................................92 Imagem 75 - Colagem dos adesivos complementares...........................................93 Imagem 76 - Parafusamento paredes.....................................................................93 Imagem 77 - Parafusamento base..........................................................................94 Imagem 78 - Colagem dos adesivos e finalização da fase 4..................................94 Imagem 79 - Colagem trança de barbante..............................................................95 Imagem 80 - Resultado final 01...............................................................................96 Imagem 81 - Resultado final 02...............................................................................97 Imagem 82 - Resultado final 03...............................................................................97 Imagem 83 - Resultado final 04...............................................................................98 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Tipos de Autismo....................................................................................25 Quadro 2 - Graus de Autismo...................................................................................26 Quadro 3 - Eixos Psicomotores................................................................................30 Quadro 4 - Análise de Brinquedos Existentes no Mercado......................................32 Quadro 5 - Análise de Similares…………………………………………………………37 Quadro 6 - Lista de Materiais....................................................................................72 Quadro 7 - Quantidade de peças para usinagem.....................................................75 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABA - Análise Aplicada do Comportamento APA - American Psychiatric Association CDC - Centro de Controle de Doenças CIPTEA - Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista COFFITO - Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional DMS 5 - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5° Edição. TEA - Transtorno do Espectro Autista IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ONU - Organização das Nações Unidas PECS - Sistema de Comunicação Através de Trocas de Figuras RPG - Role Playing Game TEACCH - Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências Relacionadas à Comunicação TID - Transtorno Invasivo do Desenvolvimento TO - Terapia Ocupacional 13 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO......................................................................................................16 1.1 Desafios e o direito à inclusão.......................................................................17 1.2 Importância do diagnóstico e da terapia ocupacional....................................19 2. OBJETIVOS.........................................................................................................21 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...........................................................................21 3.1 Classificação quanto aos tipos e graus do TEA.............................................24 3.2 Os processos de aprendizagem e o ato de brincar para a criança autista....26 3.3 Crianças autistas e o brinquedo - desafios do Design. ..................................31 3.4 Método Montessori.........................................................................................34 4. PLANEJAMENTO E IDEALIZAÇÃO...................................................................36 4.1 Análise de similares........................................................................................36 4.2 Análise de público-alvo...................................................................................41 4.3 Painel semântico............................................................................................42 4.4 Requisitos de projeto......................................................................................43 5. DESENVOLVIMENTO..........................................................................................45 5.1 Conceito..........................................................................................................45 5.2 Sketches .........................................................................................................46 5.3 Infográfico e conversa com profissionais........................................................50 5.4 Modelagem 3D................................................................................................53 5.4.1 Renderizações........................................................................................62 5.5 Desenho técnico..............................................................................................63 6. IDENTIDADE VISUAL..........................................................................................65 6.1 Logotipo...........................................................................................................65 6.2 Adesivos..........................................................................................................68 6.3 Manual de instruções......................................................................................70 7. PROTOTIPAÇÃO..................................................................................................72 7.1 Escolha e análise de materiais........................................................................72 7.2 Usinagem Router CNC....................................................................................74 7.3 Elétrica.............................................................................................................80 7.4 Acabamentos...................................................................................................86 8. RESULTADO FINAL.............................................................................................97 14 8.1 Avaliação profissional......................................................................................98 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................102 APÊNDICE A - CUSTO ESTIMADO DE CONFECÇÃO DO PROTÓTIPO............108 APÊNDICE B - DESENHOS TÉCNICOS COMPLEMENTARES...........................109 15 1. INTRODUÇÃO O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um tema que vem sendo muito abordado nos últimos anos. Muitos estudos vêm sendo concluídos e muitos outros entrando em pauta. O motivo mais concreto para que esse assunto ganhe relevância e popularidade, é o aumento considerável de sua incidência. Dados coletados pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), divulgados no artigo de MAENNER, Matthew J. (2018), afirmam que a prevalência do TEA aumentou de 1 em cada 150 crianças em 2000-2002, para 1 em 68 crianças durante 2010-2012, 1 em 59 crianças em 2014, e nos dados do mês de março de 2020, alcançou a marca de 1 em cada 54 crianças. Isso significa que a incidência do TEA mais do que duplicou em 12 anos e aumentou quase 16% apenas no período de dois anos entre 2012 e 2014, e 9%, em um período de 6 anos até 2020, levando em consideração que esses dados advém de casos identificados, porém os números podem ser muito maiores, visto que existe a possibilidade de que muitas pessoas com TEA ainda não estejam diagnosticadas. Outros centros de pesquisas relevantes, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , anunciou em 2019, que incluiu uma pergunta sobre o TEA no questionário do Censo 2022, uma entrevista detalhada, realizada com moradores de cerca de 11% dos domicílios do Brasil, que visa identificar questões como religião ou culto, deficiências, educação, deslocamento para trabalho ou estudo, núcleo familiar, nupcialidade, identificação étnico-racial, fecundidade, trabalho e rendimento. O avanço da ciência, que conta com cada vez mais profissionais especializados, recursos e serviços, tem possibilitado diagnosticar os casos de forma mais progressiva e precoce. “Tem aumentado por conta da maior percepção diagnóstica. Mais profissionais têm pensado em autismo quando ocorre um atraso de fala, por exemplo”. (DIONIZIO Jonathan, 2022) . Houve, no decorrer dos anos, uma mudança e considerável melhora nos critérios dos diagnósticos, que determinou que não somente casos graves e moderados fossem detectados, mas também, os casos leves, contanto com o auxílio dos critérios de avaliação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5° Edição (DSM 5), publicado em 2013, que possui os resultados de pesquisas feitas por especialistas durante 10 anos de trabalho. 16 1.1 Desafios e o direito à inclusão A vida de uma pessoa com TEA pode ter muitos desafios, principalmente no aspecto social, uma vez que o transtorno faz parte de um espectro de condições que limitam habilidades, integrações sociais e comunicações verbais e não verbais, podendo ser uma tarefa muito difícil para uma pessoa com TEA o simples fato de olhar no olho de uma pessoa durante uma conversa. Como o TEA se trata de um espectro, cada pessoa se torna única e cada uma delas tem facilidades e dificuldades em diferentes graus, e em variadas situações. Muitas pessoas com esse transtorno não conseguem falar ou se comunicar com facilidade. Em sua maioria, compreendem a linguagem plenamente, mas têm dificuldade de corresponder expressando seus reais sentimentos em relação ao que estão ouvindo. Os sintomas do TEA são muito amplos. Segundo matéria publicada no site Tua Saúde pela pediatra RIBEIRO, Sani Santos (2022), é comum os autistas não atenderem quando são chamados, não sorrirem e não entenderem piadas, preferem brincar sozinhos e não buscam por atenção das outras pessoas, podem apresentar dificuldades nas habilidades motoras e fazer movimentos estereotipados ou atípicos, como balançar as mãos, balançar-se de frente para trás, correr, pular ou girar sem motivos aparentes, entre outros. Por esses motivos, as crianças com TEA, podem sofrer muito quando entram em contato com outras crianças, principalmente pelo fato de serem incompreendidas e serem vistas como diferentes pelo olhar dos demais, por isso, se torna tão importante o implantamento de ensinamentos de inclusão e respeito, pregados principalmente por professores na escola, e pela família diariamente, que exijam o respeito ao próximo em todos os aspectos da vida, principalmente na infância, e que esses ensinamentos sobre respeito e cidadania possam acompanhar a criança até a vida adulta. A Lei Ordinária Federal 12.764/2012, sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff, instituiu a Política Nacional de Proteção de Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, estabelecendo diversas diretrizes para sua consecução. Fruto do projeto de lei do Senado Federal nº 168/2011, de sua Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, decorrente de sugestão legislativa apresentada pela Associação em Defesa do Autista. Foi batizada de “Lei Berenice Piana”, em justa homenagem a uma mãe que desde que recebeu o 17 diagnóstico de seu filho, luta pelos direitos das pessoas com TEA. Entre tantas as diretrizes que garantem o direito de inclusão das pessoas com TEA, no Art. 2° que estabelece 7 diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, destacam-se: a intersetorialidade no desenvolvimento das ações e das políticas e a implantação de políticas públicas voltadas para a comunidade autista, atenção integral às necessidades de saúde e foco total no diagnóstico precoce, garantir a inclusão da pessoa no mercado de trabalho, incentivo à formação e capacitação profissional e estímulo à pesquisa científica com prioridade para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar a magnitude e as características do problema relativo ao TEA no país. O Art 3° trata dos direitos conferidos às pessoas com TEA: Art. 3º São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV - o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante; b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social (BRASIL, 2012). Sendo assim, a Lei 12.764 /2012, resgata finalmente o sincero comprometimento do Brasil com a promoção dos direitos humanos. Traduzindo-se em valiosíssima ferramenta legal de inclusão da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, sobretudo quando impõe ao Poder Público e seus agentes o desenvolvimento de políticas, ações e serviços visando garantir uma vida merecidamente digna. 18 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033668/lei-12764-12 1.2 Importância do diagnóstico e da terapia ocupacional Os tratamentos para crianças com TEA são essenciais, desde o momento do diagnóstico. Segundo matéria de NOGUEIRA, Viviane (2019), publicada pelo jornal O Globo, que relata informações obtidas em estudos de ROGERS SJ et al. (2014), realizado na Universidade da Califórnia, demonstra que quando os tratamentos para o TEA se iniciam em crianças de 3 anos, os efeitos positivos chegam a ser de 80%. O mesmo estudo de ROGERS SJ et al (2014), compara os resultados de pacientes que iniciam o tratamento ainda antes, ou seja, com menos de 3 anos, nesses casos, o percentual de melhora chega a alcançar 90%. Portanto, quanto mais precocemente a equipe médica conceder o diagnóstico de TEA, a probabilidade de que a criança saia de um grupo de autismo severo para um moderado, e em seguida, para o leve é muito maior . Assim que confirmado o diagnóstico, a equipe multidisciplinar, formada por médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, pedagogos e professores, têm o papel de elaborar atividades que atinjam as mais variadas perspectivas da vida da criança, a fim de trazer a melhora no quadro de TEA e possibilitar a qualidade de vida e independência, principalmente ao se vestir, escovar os dentes, comer ou usar o banheiro. Cada tratamento é elaborado individualmente, de acordo com as necessidades de cada indivíduo. Uma das áreas de foco para o tratamento de crianças com TEA, é a Terapia Ocupacional (TO), uma área do conhecimento voltada à prevenção e ao tratamento de indivíduos com alterações cognitivas, perceptivas, psicomotoras e afetivas incluindo o TEA. De acordo com o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), o terapeuta ocupacional é um profissional de nível superior, que possui formação nas áreas sociais e de saúde, tendo como objetivo avaliar e compreender o paciente e identificar formas de tratamentos personalizados para cada um deles, usando recursos criativos, lúdicos e evolutivos para que o indivíduo atinja um bom nível de atividade, participação na sociedade e qualidade de vida. O ato de brincar, é um dos tipos de tratamentos usados pelos terapeutas ocupacionais, dessa forma, ele pode estimular as partes motoras, sensoriais e neurológicas da criança, contudo, todas essas brincadeiras têm um propósito, nada é feito de forma aleatória, o profissional direciona brinquedos e atividades conforme a idade e a necessidade de cada paciente, com foco em desenvolver habilidades 19 simples de uma forma divertida e atrativa, principalmente em ações que simulem funções do dia a dia, ou em exercícios que estimulem o contato, afeto e interação social. As brincadeiras são muito importantes para o neurodesenvolvimento e trazem muitos ganhos e benefícios para a criança com TEA. Durante o ato de brincar, a criança é estimulada a interagir com os colegas, e fazer isso de um modo lúdico e divertido e pode trazer maior autoconfiança na hora de se relacionar positivamente com os demais, sem que se sinta forçada ou desconfortável. Alguns tipos de brincadeiras podem ajudar a melhorar a consciência corporal, desenvolvendo habilidades motoras e aprimorando a noção de espaço, assim como, brincadeiras que favorecem o desenvolvimento cognitivo, aumentando os níveis de concentração e atenção, consequentemente, também estimulam a percepção e a prática da fala de maneira espontânea e divertida. Por outro lado, é importante o constante monitoramento e supervisão de um responsável durante as atividades, já que as crianças com TEA talvez não entendam quais objetos podem ou não ser levados à boca, não gostam de grandes estímulos sonoros e visuais e costumam apresentar resistência em aceitar mudanças impostas, podendo expressar seus descontentamentos de forma agressiva, por exemplo. É fundamental incentivar a autonomia e respeitar os limites da criança, estabelecendo uma relação de confiança para que ela se divirta e aprenda de uma forma leve e prazerosa. 20 2. OBJETIVOS Tendo em vista as principais características do TEA e levando em conta as limitações e desafios que esse transtorno causa, principalmente na infância, sabe-se que o uso de brinquedos é um dos métodos de tratamento utilizados por profissionais de saúde como meio de desenvolvimento de funções cognitivas e físicas, a fim de melhorar o quadro de TEA. O papel do designer , nesse caso, é projetar produtos verdadeiramente inclusivos, que auxilie os profissionais e familiares a trabalhar aspectos essenciais com a criança, de uma forma lúdica e divertida, tornando mais fácil a adaptação e aceitação por ela, e resultando em maior sucesso no tratamento. O objetivo do projeto é a criação de um brinquedo inclusivo, desenvolvido a partir dos estudos das necessidades das crianças com TEA, com foco no apoio ao tratamento em escolas, clínicas ou quaisquer outros ambientes que possibilitem a interação social, estimulando diálogos e estratégias em conjunto. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido como um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social, por desenvolvimento atípico, ou seja, se comportar de forma diversa aos padrões regulares e comportamentos repetitivos e estereotipados, um dos mais claros sinais de identificação de uma criança com TEA, que podem acontecer de diversas formas, através de repetições incessantes de gestos ou sons inofensivos, manifestações de estereotipia que podem causar algum risco à saúde, como esfregar fortemente os olhos ou morder partes do corpo, causando ferimentos e lesões consideráveis, ou manifestações agudas, que podem ocorrer frequentemente, nesses casos é possível observar sintomas de agitação ou agressividade, afetando tanto as pessoas que estão no seu convívio, como a auto agressividade, necessitando então, de intervenção e maior atenção dos responsáveis, que precisam tentar compreender o motivo do descontentamento e buscar maneiras de acalmar e acolher a criança. É importante destacar que o TEA não é uma doença, e sim um transtorno, ou seja, uma condição de alterações mentais que afeta a forma da pessoa se 21 expressar socialmente, e apesar de não ter cura, ele pode ser melhorado e tratado para que a pessoa consiga ter sua autonomia e melhorar o seu convívio social. A Organização das Nações Unidas (ONU), criou no ano de 2007 o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado no dia 2 de abril, com o intuito de difundir informações sobre o transtorno à população, para reduzir a discriminação contra os indivíduos com TEA. É de extrema importância a existência dessa data pelo fato de que a disseminação de informações nas mídias e a divulgação de campanhas de conscientização, realizadas pelo mundo todo, atinge muitas pessoas que talvez nunca tenham ouvido falar sobre o TEA, mostrando os sintomas, graus do autismo e informando como obter o diagnóstico, causas e tratamentos, ajudando cada vez mais pessoas a identificar possíveis indivíduos com TEA na família ou conhecidos e estimular os responsáveis a procurar por especialistas para a obtenção de um diagnóstico cada vez mais precoce. Além disso, falar sobre o TEA ajuda a construir percepções valiosas sobre como compreender o transtorno e mostrar que indivíduos com TEA podem e devem conquistar seu lugar na sociedade. De acordo com a supracitada Lei 12.764/2012, o uso pela expressão “Pessoa com Transtorno do Espectro Autista” é muito mais abrangente e apropriada que o termo “autista”, que inclui várias outras síndromes como a síndrome de Asperger e a de Heller, por exemplo. O termo “espectro” designa, de maneira mais geral, variadas e diferentes síndromes que se enquadram no autismo, sendo elas de diferentes níveis de intensidade. Algumas pessoas conseguem ter uma vida funcional, trabalhar, estudar, se relacionar, falar com facilidade, e ainda assim, se enquadram como pessoas com TEA, enquanto que em outros casos mais graves, as pessoas necessitam de tratamentos intensivos e uso de medicação por terem suas habilidades cognitivas, sensoriais e sociais muito afetadas. Além dessa, a Lei 13.861/2019, que garante a inclusão da pergunta sobre o autismo no Censo, foi sancionada com a ajuda do apresentador brasileiro Marcos Mion, que tem um filho com TEA e é muito engajado no assunto, mostrando sua realidade e desafios vividos com seu filho Romeo nas redes sociais, e assim, passando a influenciar muitas pessoas a lutar pelo direito da inclusão e fazer com que a comunidade autista seja ouvida e respeitada. Ademais, a Lei 13.977/2020, batizada de Lei Romeo Mion, sancionada com vetos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro 22 Autista (CIPTEA), que permite a contagem de pessoas autistas no território nacional e resguarda todos os direitos humanos dedicados à elas. A etiologia do TEA ainda permanece desconhecida. Evidências científicas apontam que não há uma única causa. Um estudo de Bai D et al. (2019) publicado pelo JAMA Psychiatry sugere que 97% a 99% dos casos de TEA têm causa genética, sendo 81% hereditários. O estudo, que contou com 2 milhões de indivíduos de cinco países diferentes, indica que de 18% a 20% dos casos têm causa genética somática (não hereditária). E o restante, aproximadamente de 1% a 3%, podem ocorrer devido a causas ambientais, pela exposição de agentes intra uterinos - como drogas, infecções ou traumas durante a gestação. O artigo supracitado de MAENNER, Matthew J. (2018), publicado pelo CDC , que identificou dados quantitativos da incidência de autismo, ainda mostra que a maior ocorrência do TEA são diagnosticadas em meninos, devido às taxas de prevalência mostrarem que em cada 4 crianças com autismo, somente 1 delas seria uma menina. O mesmo artigo mostra que o transtorno não tem diferenças entre grupos étnicos e socioeconômicos, ou seja, não há diferença significativa na quantidade de pessoas negras ou brancas com TEA, nem de classes econômicas mais ou menos favorecidas. Portanto, o que chama a atenção dos pesquisadores, é a grande diferença entre gêneros, com relação à isso, analisam duas hipóteses: realmente o transtorno atinge mais os homens, por algum motivo ainda desconhecido, ou a mais provável, o transtorno atinge as mulheres de modo diferente, que o torna mais difícil de ser identificado e é mais comum que as meninas com TEA sejam subdiagnosticadas, ou seja, não recebem o diagnóstico correto. O estudo de Lucas Puig Jové (2016), estabelece que meninas e mulheres com TEA, costumam ter um maior desejo te ter relações sociais, são mais abertas para conversar e fazer amizades, têm maior habilidades imaginativas e facilidade em imitar comportamentos de pessoas que não têm o transtorno e que estão ao seu redor, e portanto, apresentam comportamentos bem menos estereotipados que os meninos, características do masking , ou camuflagem social, que dificulta a obtenção do diagnóstico correto, e faz com que os profissionais de saúde confundam seus sintomas com outros tipos de transtornos. Infelizmente, fatores sociais vivenciados diariamente por mulheres, podem afetar até mesmo as que precisam de apoio médico, como mostra Vitória Chiari 23 Vasconcelos (2022). No artigo “Meninas e mulheres com Transtorno do Espectro do Autismo: diagnósticos, reconhecimentos e vivências.” (2022) a autora descreve a partir de uma pesquisa realizada com 14 meninas autistas acima de 18 anos, as dificuldades enfrentadas por elas no dia a dia, principalmente em relação ao acesso a serviços de apoio e convivência social. Em geral, as participantes enfatizam que suas necessidades sempre são mal compreendidas e expõem a falta de suporte e dificuldade de credibilidade, em seu texto, a autora apresenta fala de uma das entrevistadas: “Alguns não acreditam e acham que é frescura, outros respeitam e tentam acolher e compreender, as pessoas acham que autista é só aquele de grau severo que não olha nos olhos, não fala e anda na ponta dos pés, mas o TEA é um espectro com três graus distintos de suporte, além disso, uma pessoa autista pode ter a fala preservada, mas muita sensibilidade sensorial e social, já outros podem ser não verbal, mas não apresentar problemas sensoriais, então tento passar informações para que as pessoas entendam.” (VASCONCELOS, 2022, p.20) No entanto, a cada dia aumenta a quantidade de estudiosos interessados em analisar as questões de gênero e descobrir os fatores que influenciam o surgimento de TEA em meninas, assim como acompanhar as meninas autistas desde crianças e traçar um modelo de diagnóstico mais assertivo, para que assim, as meninas e mulheres com TEA, possam ser tratadas corretamente, cada vez mais de forma precoce e que consequentemente, tenham uma melhor qualidade de vida. 3.1 Classificação quanto aos tipos e graus do TEA O TEA existe em vários graus e em diferentes intensidades, com uma ampla variedade de sintomas. O DSM ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ), documento criado pela Associação Americana de Psiquiatria ou APA (American Psychiatric Association), classificava, em suas edições anteriores, os tipos de autismo em: Transtorno Autista; síndrome de Asperger; Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e Transtorno Desintegrativo da Infância. O DSM-5 ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5° Edição ) , de 2013, é a versão 24 mais recente do documento, onde a APA incluiu esses quatro subtipos em um único diagnóstico: o Transtorno do Espectro Autista (TEA). QUADRO 1 - TIPOS DE AUTISMO Tipo Características Síndrome de Asperger Também conhecida como “autismo de alto funcionamento” é a forma mais leve entre os tipos de autismo. Pessoas que portam essa síndrome têm menos problemas com a fala, mas ainda podem ter dificuldades de entender e processar a linguagem, não entendem sarcasmo, ironia ou palavras com segundas interpretações. Podem ter dificuldade em fazer amizades, preferem ficar sozinhas e muitas vezes não conseguem expressar seus sentimentos com facilidade. Algumas podem apresentar dificuldades específicas na aprendizagem, mas no geral, têm um nível de inteligência superior à média. Podem apresentar interesses altamente focados em algo específico e também podem experimentar maior ou menor sensibilidade a sons, toques, gostos, cheiros, luz, cores, temperaturas ou dor . Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID) É uma fase intermediária do autismo, um pouco mais intensa que a síndrome de Asperger. De maneira geral, os pacientes apresentam dificuldade de interação social, maior dificuldade ao falar do que uma pessoa com síndrome de Asperger, quantidade menor de comportamentos repetitivos comparados ao Transtorno Autista e podem ser muito apegados à rotina. Podem ter alterações de humor muito repentinas quando submetidos a situações que os deixam inseguros, causando agitação, crises de ansiedade ou choro. Transtorno Autista Representam casos mais graves que os tipos anteriores. As interações sociais, a cognição e a linguística são afetadas mais intensamente, juntamente com a presença de movimentos estereotipados mais frequentes. É o tipo clássico do autismo que costuma ser diagnosticado até os 3 anos, pois apresentam os sinais mais claros para identificação, como a falta de contato visual, comportamentos repetitivos, desenvolvimento tardio da linguagem e dificuldade de se expressar. Transtorno Desintegrativo da Infância Também chamado como síndrome de Heller ou psicose desintegrativa, é considerado o tipo mais grave entre todos, e também o mais raro. Estima-se que atinja 1,7 pessoas em cada cem mil, mas ainda sim se enquadra no TEA, devido às semelhanças com os demais transtornos 25 https://www.vittude.com/blog/fala-psico/sobre-a-importancia-de-curar-a-dor/ dessa categoria. Nesses casos, os sintomas podem aparecer a partir dos 2 anos, embora o tempo varie, caracterizados por atraso do desenvolvimento de habilidades cognitivas e de comunicação. Diferente das outras, as crianças apresentam um desenvolvimento normal no início, porém entre 2 a 4 anos de idade, elas começam a perder as habilidades intelectuais, linguísticas e sociais, dando-se por uma interrupção na taxa de evolução, que para de acontecer ou até mesmo regride aos estágios anteriores, sem que a pessoa consiga se recuperar e voltar a evoluir novamente. Fonte: American Psychiatric Association, DSM-5 (2013) Além dos tipos, a APA também classifica os graus de autismo, que são caracterizados pelos níveis de gravidade que eles apresentam. QUADRO 2 - GRAUS DE AUTISMO Grau Características Grau 1 Considerado leve. As crianças mostram respostas atípicas às aberturas sociais, não gostam de sair muito da rotina e têm problemas com planejamento e organização. Grau 2 Considerado moderado. São as que apresentam deficiência um pouco mais grave nas relações sociais e problemas na fala e na comunicação social, apresentam comportamentos repetitivos e têm dificuldade para mudar o foco das suas ações. Grau 3 Considerado grave, com níveis de comunicação verbal e não verbal bem mais afetados, muita dificuldade de interação social, até nas ações mais básicas de relacionamento, dificuldade extrema de lidar com a mudança, podendo ser agressivos caso as coisas saiam do comum e comportamentos estereotipados muito mais incisivos e frequentes. Fonte: American Psychiatric Association, DSM-5 (2013) 3.2 Os processos de aprendizagem e o ato de brincar para a criança autista Educar uma criança com TEA exige uma abordagem integrada dos pais e/ou responsáveis, juntamente da equipe de saúde e da equipe de educação. É comum que os cuidadores ou professores sejam os primeiros a identificar uma possível criança com TEA, a medida que eles têm conhecimento sobre o transtorno e convivem com dezenas de crianças diariamente, podendo identificar com mais facilidade as que se desenvolvem mais lentamente e que apresentam 26 comportamentos atípicos, que fazem parte dos sintomas de TEA. Quando o diagnóstico de TEA for concretizado, a família deve ser responsável por encontrar uma escola capacitada, com uma equipe profissional preparada para acompanhar e identificar os melhores métodos que irão aplicar para cada uma das crianças. Segundo SOUZA et al. (2022) , o processo de aprendizagem da criança autista, no geral, se dá por duas etapas: primeiro necessitando de um trabalho individualizado, focado em utilizar recursos para desenvolver habilidades específicas, ressaltando a mudança de comportamentos e estimulando a interação social e em seguida, trabalhar a socialização com as demais crianças em sala de aula regular, acompanhadas de um professor de apoio especializado, que se comporte de maneira investigadora, afetiva e mediadora, levando segurança ao aluno e ganhando sua confiança para facilitar os próximos passos. Não é um trabalho fácil traçar estratégias para ajudar essas crianças, mas em meio a tantas dificuldades, as escolas vêm formulando programas alternativos e vêm aos poucos, descobrindo coisas novas que podem ajudar a facilitar o desenvolvimento das crianças com TEA. Em relação aos métodos de ensino, existem vários que são importantes e podem auxiliar no processo de inclusão da criança autista, como é o caso do Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Deficiências Relacionadas à Comunicação (TEACCH), que foi criado por Schopler na década de 60, desenvolvido no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina na Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, ganhou reconhecimento mundial e é utilizado até os dias atuais. Trata-se de um método que avalia as habilidades dos indivíduos por meio de testes padronizados. Os resultados da avaliação fornecerão a base para o desenvolvimento de um currículo que será consistente com as necessidades individuais de cada paciente. Para esse método, o componente de ensino estruturado requer que o ambiente e as atividades do indivíduo sejam organizados de maneira a otimizar o aprendizado e evitar a frustração. Três fatores são essenciais neste contexto: a organização do ambiente físico de uma forma que seja consistente com as necessidades do paciente (minimizando possíveis distrações), o arranjo de atividades de maneira previsível, como o uso de programações visuais da rotina diária e a organização dos materiais e tarefas para promover a independência das orientações. Algumas dessas técnicas são atualmente implementadas nas escolas 27 como, por exemplo, a disposição dos móveis dentro das salas de aula, devido ao grande compromisso com a organização pessoal, manter as crianças autistas em ambientes organizados, pode ajudar muito no entendimento das regras do lugar. Outro método importante é o Sistema de Comunicação Através de Trocas de Figuras (PECS, The Picture Exchange Communication System ), que consiste em um sistema único de comunicação alternativa/aumentativa, desenvolvido por Bondy et al. (1985), nos Estados Unidos. Esse método tem por objetivo melhorar as capacidades físicas, cognitivas e de comunicação das pessoas com TEA e fazer com que elas criem independência e funcionalidade na hora de se comunicar. Trata-se de um método cuja principal matéria-prima é a imagem e tem como objetivo ensinar a comunicação funcional. O PECS consiste em seis fases e começa ensinando um indivíduo a dar uma única figura de um item ou ação desejada a um “parceiro de comunicação” que imediatamente honre a troca como um pedido. O sistema prossegue ensinando a discriminação de figuras e como juntá-las em frases. Nas fases mais avançadas, os indivíduos são ensinados a usar iniciadores, responder perguntas e comentar: 1 – Comunicando: o adulto entrega à criança uma única figura com algo que ele pode querer ou precisar no dia a dia, como um brinquedo, alguma comida, etc. A criança deve ser estimulada a entregar o cartão toda vez que ela precisar daquela coisa. 2 – Persistindo e distanciando: Ainda utilizando a mesma figurinha, a criança é estimulada a usar para outras situações e com outras pessoas e locais. A ideia é deixar o significado daquela figura um pouco mais generalizado. 3 – Diferenciando as imagens: a partir desta fase, o adulto deve apresentar duas ou mais imagens à criança, impulsionando-a a fazer escolhas a partir de suas preferências. No sistema PECS, essas figuras são armazenadas numa pasta personalizada que será utilizada na próxima fase. 4 – Estruturando as sentenças: Agora, usando o mecanismo da pasta, as escolhas da criança serão formadas por frases maiores. Por exemplo: a criança utiliza a figura que representa a frase “eu quero” junto da que condiz com o que ela quer. 5 – Gerando atributos e expandindo a linguagem: agora, a criança começa a adicionar às suas frases adjetivos, verbos e preposições. Dessa forma, cria-se uma profundidade e deixa o indivíduo mais familiarizado com a linguagem. 6 – Comentando: na última fase, a criança é estimulada a comentar suas escolhas, respondendo a perguntas como “o que você está sentindo?”, “o que é esta coisa?”, etc. Seguindo a lógica do que aprendeu nas fases anteriores, as respostas devem começar com frases como “isto é…”, “eu vejo…”, “eu sinto…” (BONDY et al, 1985). 28 E ainda há a Análise Aplicada do Comportamento (ABA), criada por Louvaas (1987), nos EUA. Nesse método, as crianças são ensinadas a executar atividades e ficarem autônomas usando técnicas conhecidas como observação, estímulo e reforço. É uma aprendizagem que prima pela repetição, manutenção e o desenvolvimento de habilidades, como aumentar a capacidade de linguagem e comunicação, melhorar o foco e a atenção, melhorar a memória e aprendizagem acadêmica e diminuir comportamentos problemáticos. O método ABA visa ensinar ao autista, habilidades que ele ainda não possui, por meio de etapas cuidadosamente registradas. Cada habilidade é apresentada associando-a a uma indicação ou instrução. Quando necessário, dar-se-á apoio para obtenção das respostas, porém deverá ser retirado, tão logo seja possível, para possibilitar a autonomia. Dentro dos padrões da intervenção comportamental, a repetição é importante na abordagem ABA, bem como o registro exaustivo de todas as tentativas e dos resultados alcançados. A resposta adequada do aprendente tem como consequência a ocorrência de algo agradável para ele e por meio de reforço e repetição, inibe-se o comportamento incorreto, recompensando sempre de forma consistente as atitudes desejadas. (CUNHA, 2014, p. 74). Há crianças que respondem melhor quando são motivadas por recompensas, como alimentos ou brinquedos que lhe causam prazer, juntamente com elogios ou reforços sociais, e o uso desses elementos podem ser um grande diferencial para garantir a interação e participação das crianças nas atividades. Os brinquedos e brincadeiras devem ser adequados de acordo com o perfil da criança com TEA que se quer estimular, sendo prazerosos, agradáveis e desejados por ela, evitando os que podem a gerar medo ou suspeição, tendo em vista que essas crianças são hipersensíveis e não gostam de determinadas cores, texturas e sons. Os brinquedos podem desenvolver 4 eixos neuropsicomotores de crianças com TEA: 29 QUADRO 3 - EIXOS PSICOMOTORES Eixo Psicomotor Definição Coordenação Motora Grossa Permite que a criança corra, salte, sente ou até mesmo dance. Coordenação Motora Fina Aprimoramento de músculos menores, principalmente nos pés e mãos, que permite atividades como desenhar, recortar, pintar ou escrever. Interação Social Possibilita que os sujeitos se relacionem melhor entre si, estimulando conversas, dúvidas ou sentimentos em comum. Integração Sensorial Processo neurológico que organiza as sensações do corpo com o ambiente, o que faz os 7 sentidos (visão, audição, olfato, tato, paladar, equilíbrio e propriocepção). Fonte: BARBIERI, Fernanda (2019, p. 05-27) De acordo com CZELUSNIAK, Adriana (2013) em sua matéria publicada no site Gazeta do Povo, o uso de brinquedos com peças de encaixe, como quebra-cabeças, jogos de cartas ou de identificação de faces como o jogo “cara a cara” , auxilia a criança a aprimorar sua consciência de emoções faciais e aumenta sua sensibilidade, como também ajuda estimular integração social. Brinquedos como esses, estimulam as crianças a cumprir etapas e entender os objetivos do jogo e buscar cumpri-los até o fim, prendendo mais facilmente a atenção. Alguns brinquedos podem ser usados até mesmo para auxiliar na questão de estresse e agressividade, aqueles que causam prazer e relaxamento às crianças, como é o caso dos que envolvem água, espuma, caixas de areia ou balanços, que levam as crianças a extravasar de uma forma leve e divertida. No entanto, o professor e a família, devem evitar uma linguagem causadora de distração. Com relação ao interesse por objetos, podem passar várias horas experimentando a textura de um brinquedo e apresentam grande fascínio por objetos ou elementos atípicos aos interesses de crianças que não tenham TEA. Portanto, os brinquedos são de suma importância para o processo de aprendizagem e ajudam a desenvolver habilidades cognitivas, sociais, motoras e sensoriais essenciais para o tratamento. 30 3.3 Crianças autistas e o brinquedo - desafios do Design Pensar em Design Inclusivo na hora de desenvolver um produto, é um requisito indispensável pelos profissionais da área, de qualquer um dos segmentos do design . É importante pensar que todas as pessoas, em algum momento da vida, podem ter algum tipo de deficiência, seja ela temporária ou permanente, e o design tem um papel fundamental na medida que desenvolvem produtos, dos mais variados nichos, que precisam atender todas as necessidades propostas e ser funcional para todas as pessoas. Nos dias de hoje, os profissionais de design , devem estar cada vez mais submersos em assuntos ligados à inclusão social, pois, quanto mais esse aspecto é falado e colocado em prática, melhor serão as experiências de utilização de produtos entre pessoas com deficiência, resultando no verdadeiro significado de inclusão: o design que atenda as necessidades de todas as pessoas com equivalência. Ao pensar em TEA, sabe-se que um tipo de tratamento significativo para as crianças autistas é o uso de brinquedos que exploram os mais variados sentidos e ajudam no desenvolvimento, otimizando o quadro de autismo e melhorando significativamente a independência e autonomia da criança. Após o entendimento das peculiaridades e limitações das crianças com TEA, o designer de produto, deve aplicar em seus projetos, diversas características que se adequem ao seu utilizador, segundo Saldanha (2014) no seu livro “O jogo nas crianças autistas”, o design deve: ● Ser fácil e realista para permitir à criança aprender; ● Atrativo do princípio ao fim do seu uso, permitindo prender a atenção e o interesse durante todo o jogo; ● Permitir tempos de resposta alargados, para que cada pessoa possa jogar de acordo com o seu ritmo; ● O jogo não deve requerer grandes níveis de concentração ou raciocínio; ● Em caso de jogos de regras estes devem se adaptar a níveis cognitivos mais baixos, através da redução de regras e respetiva complexidade. (SALDANHA, 2014, p. 190-191). No mercado infantil, já estão disponíveis diversos brinquedos educativos e inclusivos que são muito efetivos no tratamento de crianças autistas. Os melhores brinquedos para serem utilizados nesse aspecto, são os que desenvolvem algum tipo de habilidade e permitem a evolução de algum dos eixos psicomotores, já 31 citados anteriormente. Pensando nisso, o quadro 4, é o ponto de partida para um entendimento mais didático sobre os benefícios e habilidades estimuladas de alguns dos brinquedos famosos, que atendem muito bem ao tratamento de crianças autistas: QUADRO 4 - ANÁLISE DE BRINQUEDOS EXISTENTES NO MERCADO Brinquedo Habilidades Estimuladas Eixo Psicomotor Faixa Etária Preço Médio em % Salário Mínimo 2022 (R$1212,00) LEGO® - Estimular a criatividade; - Seguir instruções; - Resolver problemas; - Planejar a construção; - Organizar as peças; - Manipulação de peças pequenas; - Seguir um passo a passo; - Paciência e concentração. Coordenação Motora Fina Crianças maiores de 4 anos de idade, sempre acompanhadas de um responsável Aproximadament e 27% do salário mínimo de 2022 CARA A CARA - Estimula a interação; - Treinar a capacidade de dedução; - Exercita a memória; - Desenvolve a distinção de formas e cores; - Identificação de expressões faciais; - Estimula a comunicação e a fala. Interação Social e Coordenação Motora Fina Crianças a partir de 6 anos de idade Aproximadament e 6% do salário mínimo de 2022 POP IT - Estimula o relaxamento; - Ajuda na inquietação; - Auxilia no bem-estar psicológico; - Melhora o foco e concentração; - Reduz a ansiedade; - Alternativa saudável aos eletrônicos; - Promover a desaceleração mental; - Ajuda a lidar com emoções. Coordenação Motora Fina e Integração Sensorial (visão, audição e tato) Crianças a partir de 2 anos de idade Aproximadament e 4% do salário mínimo de 2022 PEGA VARETAS - Desenvolvimento de raciocínio; - Respeito às regras; - Interação social com uma ou mais pessoas; - Geração de diálogos; - Criação de estratégias; - Estímulo à coordenação motora; Coordenação Motora Fina e Interação Social Crianças a partir de 5 anos de idade, sempre acompanhadas de um responsável Aproximadament e 1,5% do salário mínimo de 2022 32 - Trabalha a calma e paciência; - Estimula a concentração; - Organização e planejamento; - Respeitar etapas para alcançar o objetivo. TWISTER® - Desenvolver equilíbrio; - Desenvolver força; - Desenvolver lateralidade; - Respeitar regras; - Interação com uma ou mais pessoas; - Noção de direita/esquerda; - Conhecimento de cores primárias; - Estímulo à conversas; - Traçar estratégias; - Ajudar na calma e concentração; - Movimentação física; - Trabalhar em grupo. Coordenação Motora Grossa, Interação Social e Integração Sensorial (equilíbrio e tato) Crianças a partir de 6 anos de idade Aproximadament e 11% do salário mínimo de 2022 DOMINÓ - Raciocínio lógico; - Desenvolvimento aritmético; - Exercita a mente; - Respeitar as regras; - Criação de estratégias; - Interação com uma ou mais pessoas; - Estimula a observação, reflexão e tomada de decisão. Interação Social, Integração Sensorial (visão) e Coordenação Motora Fina Crianças a partir de 5 anos de idade Aproximadament e 2% do salário mínimo de 2022 Fonte: Elaborado pela autora. Ao analisar tais exemplos de marcas famosas e brinquedos já muito conceituados no mercado, é possível notar alguns aspectos que podem tornar mais fácil o entendimento do sucesso desses produtos. Todos os itens citados acima, além de trabalhar diversas habilidades importantes para o desenvolvimento das crianças em geral, contam também com opções de preços acessíveis e são brinquedos com vida útil longa, que prendem a atenção das crianças e podem ser utilizados diversas vezes, por vários usuários, como acontece em escolas e creches, e não costumam estragar ou quebrar com facilidade. Além disso, esses brinquedos representam, de fato, a inclusão, à medida que não foram pensados para atender diretamente as crianças autistas, mas mesmo assim, são grandemente utilizados nos tratamentos de desenvolvimento dessas crianças. É importante que um brinquedo inclusivo não seja restrito a usuários que tenham algum tipo de 33 transtorno ou deficiência, mas sim, que esses usuários possam se sentir confortáveis e acolhidos quando utilizam um brinquedo feito para todos, que agrade, seja útil e divertido tanto quanto para crianças que não possuam limitações. Sob outra perspectiva, em todos os exemplos acima que estimulam a interação social, as crianças são incentivadas a jogar uma contra as outras, como adversárias. Por mais que inserir as crianças nesse tipo de situação estimule aspectos positivos, como a fala, raciocínio e criação de estratégias, por outro lado, lidar com a competição e o possível sentimento de perda ou derrota, pode ser um grande desafio às crianças com TEA. Nesses casos, a criança pode se submeter a uma intensa frustração, que pode acarretar em desestímulo na hora de brincar, medo de uma próxima derrota na competição, e em casos mais graves, gerar crises de agressividade, contra si mesmo ou contra o próximo. Por isso, é de extrema importância a presença de um mediador que possa acolher essa criança em casos de decepção ou insatisfação, acalmá-la e ampará-la quando for necessário, que tenha paciência e que entenda que essas crianças têm uma maneira diferente de lidar com os problemas, e que tudo pode ser muito mais intenso ao olhar delas. 3.4 Método Montessori Criado por Maria Montessori (1870-1952), uma psiquiatra italiana, estudiosa de filosofia da educação, psicologia experimental, antropologia pedagógica, e uma das primeiras mulheres a se formarem em medicina na Itália, o Método Montessori tinha o objetivo inicial de transformar as condições precárias que eram tratadas as crianças com deficiência internadas em hospitais psiquiátricos no séc. XIX. Montessori, juntamente com um colega professor da Universidade de Roma, criaram a reconhecida Escola Ortofrênica, que alcançou ótimos resultados na época, com base em métodos didáticos desenvolvidos por Édouard Séguin (1812-1880), médico e educador francês. Em 1907, teve a chance de usar os mesmos princípios em São Lourenço, na Roma, e criou a instituição A Casa das Crianças, que lhe deu a chance de observar o comportamento de crianças atípicas e desenvolver mais assertivamente seus estudos. Nessa instituição, as crianças eram alfabetizadas e aprendiam a ser educadas, concentradas, independentes e disciplinadas. Dessa forma, Maria Montessori viajou o mundo para compartilhar seus conhecimentos e, assim, o Método Montessori se popularizou. 34 O estudo é dividido em Planos de Desenvolvimento, separados por faixa etária, sendo o primeiro de 0 a 6 anos, o segundo de 6 a 12 anos, o terceiro de 12 a 18 anos e o quarto de 18 a 24 anos, e em cada uma das fases, é explicado os objetivos a serem desenvolvidos e a forma de lidar com os indivíduos durante cada uma delas. De modo geral, o Método Montessori conta com características que trazem confiança e independência à criança, como apresentar diferentes estágios de aprendizagem, conforme o ritmo e interesses dos alunos, currículo multidisciplinar, que permite com que a criança tenha contato com variados assuntos, uso de utensílios do cotidiano no processo de aprendizagem, mesas e cadeiras e sanitários com alturas respectivas aos estudantes para estimular uma maior autonomia. Além disso, Montessori apresentava críticas à aplicação de castigos, estimulando no processo educativo uma comunicação respeitosa entre os alunos, baseada no trabalho sensorial, entre outras medidas que visam dar o suporte eficaz ao desenvolvimento infantil. O Método Montessori é uma excelente ferramenta de inspiração na construção de projetos infantis, para crianças com ou sem deficiência. O sucesso do método e as propriedades educativas com alto grau de confiabilidade, são importantes de serem analisadas quando o produto tem a intenção de promover o desenvolvimento integral de crianças, desde aspectos cognitivos, sociais e emocionais. As principais características de identificação de um brinquedo Montessoriano, são: o uso de materiais naturais na sua composição, como madeira, metal ou tecidos, como também muitos imitam objetos do cotidiano e estimulam a criança a praticar situações do dia a dia de uma forma lúdica, outros estimulam a capacidade cognitiva de resolver problemas, contas matemáticas ou criar estratégias. Portanto, é a partir desse método que este projeto pensa na construção do brinquedo Dueto, avaliando uma perspectiva inclusiva e voltada para o público alvo de crianças com TEA. 35 4. PLANEJAMENTO E IDEALIZAÇÃO Após a definição dos principais objetivos do projeto, a fase de planejamento se inicia com o objetivo de colocar em análise pontos importantes para a concretização do produto. Para isso, é essencial o estudo de mercado, analisando brinquedos com propostas semelhantes ao do objetivo do projeto e ponderando possíveis melhorias que poderiam ser feitas em produtos concorrentes, a análise de materiais mais usados em cada um dos similares para entender quais os pontos positivos e negativos deles. Outro aspecto importante é o detalhamento do público-alvo para o entendimento dos desafios do projeto para suprir suas necessidades. 4.1 Análise de similares A análise de similares é uma etapa interessante para a geração de ideias na hora de criar um produto, pois permite a criação de estratégias de melhorias e implementação de possíveis mudanças em produtos que já estão inseridos no mercado. Ao desenvolver esse estudo, é possível identificar possibilidades e riscos que podem ajudar ou prejudicar o resultado final do produto, além da possibilidade de analisar os feedbacks que os concorrentes recebem, principalmente em sites de vendas, organizar informações sobre a média de preços e sobre os materiais, cores e texturas mais usadas. Para isso, a escolha dos brinquedos analisados vai ao encontro daqueles que apresentam alguns pontos em comum com a ideia do projeto, como a possibilidade de ser usado por duas ou mais crianças, o material principal em madeira, brinquedos que possuam características Montessorianas e que não estimulem a competitividade, mas que estimule as crianças a se ajudarem para cumprir missões ou interagirem de forma lúdica. Os critérios de avaliação serão: 1) oferecer possibilidade de interação social; 2) desenvolver outros eixos psicomotores. 36 QUADRO 5 - ANÁLISE DE SIMILARES Brinquedo Análise Imagem 1 - Caixa Registradora Fonte: Shopee Esse brinquedo traz a ideia de simular uma caixa registradora, usada geralmente em supermercados. O produto conta com a representação de itens muito usados no dia a dia de um adulto, como as moedas, cédulas, calculadora, cartão de crédito e as notas fiscais. Permite com que uma ou mais crianças brinquem juntas de uma forma lúdica, estimulando principalmente a criatividade, o contato com a matemática e o permite vivenciar, de forma divertida, situações cotidianas como contar dinheiro, entregar troco e fazer contas, por exemplo, como um RPG, sigla usada para a expressão “ role playing game ”, o que significa “jogo de interpretação de papéis” . A recomendação de faixa etária é para crianças acima de 3 anos. O produto pode ser encontrado no mercado com diferentes aparências e com os mais variados preços. Em buscas por sites de venda, estima-se que a média de valor é de, aproximadamente, R$305,00, que representa 25% do salário mínimo de 2022, tendo opções mais baratas e outras bem mais caras, dependendo da qualidade, tamanho e do vendedor. Em vários dos sites analisados, não constava nenhuma avaliação do produto, essa informação foi encontrada somente em um similar vendido na Shopee, com quatro vendas e uma avaliação de 5 estrelas. Mesmo sem muita referência da opinião dos compradores, pode-se dizer que o brinquedo é um ótimo exemplar, com vários pontos positivos, principalmente em questão de interação social e estímulo à imaginação. Imagem 2 - Jogo de Sequência das Cores e Frutas Esse é um jogo de raciocínio lógico, com o objetivo de unir as imagens semelhantes por meio de estratégias. O brinquedo é dupla face, portanto, muitas opções apresentam um conjunto de imagens na parte de trás, e o uso de cores. É uma ótima opção para aprimorar a coordenação motora fina e contribuir para o 37 Fonte: Amazon reconhecimento de objetos, frutas, animais ou cores, dependendo do que estão representados nas peças. É uma opção recomendada para crianças acima de 3 anos e geralmente, jogada por uma criança só, porém, nada impede que uma segunda criança possa contribuir na hora de concluir a missão, de forma que estimule a interação social, raciocínio lógico e a coordenação motora fina e a cooperação. O valor gira em torno de R$145,00 em média, o que representa quase 12% do salário mínimo de 2022. O produto analisado para os feedbacks , foi um exemplar anunciado por um vendedor no site da Amazon com 4,2 estrelas, constando cinco avaliações, mas não informa a quantidade total de vendas. Nos comentários, três pessoas declararam que o produto é bom, bonito e que as peças são grandes. Apenas uma avaliação desse produto é de 1 estrela, e não contém comentários desse cliente no site, o que facilitaria o entendimento do descontentamento deste usuário. Entretanto, o produto consegue desenvolver os aspectos que sugere, como o estímulo ao raciocínio lógico, coordenação motora, reconhecimento de imagens e criação de estratégias, principalmente quando jogado por uma criança sozinha, como com duas ou mais se ajudando no processo de resolução dos desafios propostos. Imagem 3 - Quadro de Contagem Fonte: Magazine Luiza Essa é uma ótima opção para ser aplicada, principalmente em creches, escolas ou clínicas infantis, recomendada para crianças acima de 3 anos, sempre acompanhadas de adultos, por conter pequenos apetrechos, que podem facilmente ser engolidos pelos mais novos. Consiste em um tabuleiro que conta com formas diferentes de identificação dos números, como o ábaco, uma forma de contagem por empilhamento de argolinhas, a representação por bolinhas pintadas em pedaços de madeira e os numerais escritos em fonte clara, para fácil associação da criança, e com cores primárias para atrair a atenção dos usuários e despertar o interesse da brincadeira educativa. Além da contagem e identificação das cores, o brinquedo 38 também estimula a coordenação motora fina, principalmente no ato de empilhar pequenas pecinhas na hora de organizar o ábaco. Todas as partes do brinquedos são fabricadas com madeira, e os detalhes coloridos, feitos com tinta. Os preços no mercado variam pouco, girando em torno de R$120,00, ou seja, aproximadamente 9% do salário mínimo de 2022. Em busca por feedbacks de compradores nos sites, nenhuma avaliação foi disponibilizada. Porém, o brinquedo é uma opção positiva por sua simplicidade e clareza, que pode ser brincado por uma ou mais crianças ao mesmo tempo, se ajudando e dialogando entre si, para cumprir o objetivo, que é estimular a aprendizagem da contagem de 1 a 10, por crianças no início que estão no início da atividade escolar. Imagem 4 - Jogo da Pesca Magnética Fonte: Shopee O jogo da pesca magnética é uma opção muito interessante para a aprendizagem de operações matemáticas, estimular a coordenação motora fina, utilização de ferramentas como a varinha de pesca, que exige uma certa habilidade e o reconhecimento das cores, além disso, contém palitinhos de madeiras coloridos que podem ser usados para auxiliar a contagem. Esse brinquedo trás a possibilidade de ser jogado por duas ou mais crianças, estimulando a comunicação entre elas. O jogo consiste na pesca de números e símbolos operacionais por ambas crianças, na ordem preferida por elas, e quando a operação for concluída, uma criança deve resolver a conta matemática e pescar os peixes que formam o número do resultado final, essas crianças podem escolher jogar como competidoras, mas também dá a possibilidade delas jogarem se ajudando e se comunicando para resolverem os desafios juntas. Dentre os sites analisados, os preços são bastante variáveis, girando em torno de R$106,00 e chegando até opções de até R$372,00, dependendo do layout, vendedor e fabricante. Em análise no site Shopee, é oferecido um modelo no valor de R$129,90, 39 aproximadamente 10,7% do salário mínimo de 2022, que recebe 5 estrelas de 3 avaliações de 9 vendas e comentários positivos, dizendo que os filhos amaram e elogiando a embalagem e o prazo de entrega, por exemplo. Essa é uma opção que promove, além da realização de cálculos matemáticos, a interação social entre os jogadores, sendo uma ótima opção, principalmente, para crianças com TEA e com outros transtornos que afetam as habilidades sociais. Imagem 5 - Xadrez da Memória Fonte: Americanas Esse é um jogo para estimular, principalmente, a memória, a paciência e o raciocínio lógico da criança, indicado para crianças acima de 3 anos. Acompanha 24 pinos com uma das extremidades coloridas e um dado com todas as cores, a cada rodada, joga-se o dado para se sortear uma cor. A criança deve retirar um pino e verificar se possui a mesma cor sorteada. Caso consiga retirar a mesma cor, fica com o pino, caso contrário, devolve para o tabuleiro. Vence quem terminar o jogo com mais pinos. Há a possibilidade de ser jogado por duas ou mais crianças, estimulando, também, a interação social. Em média, um brinquedo similar a esse custa em torno de R$140,00 o que representa, aproximadamente, 11,5% do salário mínimo de 2022. Não foi encontrado nenhuma avaliação em sites de vendas, porém, esse jogo trás uma proposta muito interessante para estimular aspectos importantes como a memória e o raciocínio, além da identificação das cores. Por outro lado, promove a competição, tendo poucas possibilidades das crianças o transformarem em um jogo de cooperação, por isso, pode ser que não seja uma das melhores opções para crianças com TEA, pela grande dificuldade dessas crianças de lidar com a derrota e frustrações, podendo causar o desestímulo ou gerar crises de agressividade. Imagem 6 - Bancada Desmontável de Ferramentas Por fim, essa é uma opção muito parecida com a da caixa registradora, também recomendada para crianças acima de 3 anos. É um brinquedo que simula uma 40 Fonte: Rihappy situação real da vida adulta, nesse caso, uma caixa de ferramentas. O principal objetivo é estimular a criatividade das crianças, que podem brincar de uma forma lúdica, promovendo, principalmente, a interação social com duas ou mais crianças brincando ao mesmo tempo, como, até mesmo, a possibilidade de brincarem sozinhas, ou com os familiares. Esse também é um jogo de interpretação de papéis, onde as crianças podem simular um ambiente de trabalho, como uma oficina mecânica ou uma oficina de marcenaria, por exemplo, onde as crianças podem interpretar profissões como essas, ou interpretar clientes que vão até esses tipos de estabelecimentos e brincarem juntas, de uma forma lúdica, se comunicando e usando juntas, as ferramentas representadas nesse produto. Esse brinquedo pode ser encontrado no mercado de diversos tamanhos, quantidades de peças distintas, umas com mais opções, outras mais simples, portanto, os preços são muito variados, com opções de R$40,00 (aproximadamente 3% do salário mínimo de 2022) e outras de até R$270,00 (que representa, aproximadamente, 22% do salário mínimo de 2022). Também não foi encontrado feedbacks dos compradores nos sites de vendas, mas essa é uma opção que dificilmente não funcionaria com crianças com TEA. A possibilidade de manusear as ferramentas, juntamente com o estímulo das habilidades sociais, esse brinquedo é muito positivo quando aplicado com a supervisão de adultos, assim como todos os outros, e dificilmente acarretaria em algum tipo de crise ou frustração graves. Fonte: Elaborado pela autora. 4.2 Análise de público-alvo O público-alvo do projeto são crianças com Transtorno do Espectro Autista. Pessoas com TEA, no geral, são muito diferentes uma das outras, e cada uma apresenta suas particularidades e necessidade, portanto, é uma tarefa difícil definir uma faixa etária ideal para a aplicação do brinquedo no tratamento, pois uma 41 criança de 5 anos com TEA, pode conseguir desenvolver as habilidades propostas facilmente, enquanto uma outra criança com TEA de 10 anos de idade, pode apresentar maiores dificuldades ao realizar as mesmas atividades. Portanto, a faixa etária escolhida para o projeto são para crianças maiores de 4 anos de idade, com a ressalva de que cada uma reage de uma determinada forma e talvez apresentem maiores ou menores dificuldades em entender e cumprir os objetivos do brinquedo. 4.3 Painel Semântico O processo de produção de um painel semântico é uma ferramenta importante para auxiliar na definição estética do projeto e tem como objetivo servir como referência estético-simbólica. Esse processo é significativo no sentido de criar referências visuais como paleta de cores, texturas, referências e inspirações, contribuindo, principalmente, no processo criativo da aparência do produto final. Imagem 7 - Painel semântico Fonte: Elaborado pela autora. O painel acima foi desenvolvido a partir de um conjunto de referências com foco, principalmente, em brinquedos Montessorianos, fabricados em madeira e que tinham como intuito desempenhar algum papel importante no desenvolvimento cognitivo de uma criança, com habilidades que estimulam o raciocínio lógico, a 42 identificação e resolução de problemas, a coordenação motora fina e o reconhecimento de cores, figuras, formas e texturas, por exemplo. Este painel conta com algumas atividades muito interessantes que foram usadas de inspiração no produto, como é o caso do uso dos algarismos e de circuitos presentes em algumas das imagens, sendo consideradas algumas adaptações e ajustes para que se adeque à proposta do projeto e que funcione quando trabalhadas em dupla. Ao lado, a representação de duas crianças brincando juntas e um pai brincando com seu filho, para reforçar o incentivo à interação social. O visual do produto também seguirá a mesma linha das referências: uso de madeira em sua maior parte, juntamente com detalhes coloridos para trazer uma aparência mais agradável ao olhar das crianças. Outros elementos também serão incorporados na confecção, para estimular maiores experiências com diferentes texturas inseridas nos acabamentos de algumas das peças. Dessa maneira, o painel semântico é uma etapa muito interessante para a organização de ideias e serve como um ponto de partida para o desenvolvimento dos sketches iniciais e da definição de elementos essenciais desejados para compor partes do projeto. Além disso, estimula a criatividade ao realizar uma análise das referências e esboçar possíveis melhorias, ajustes ou acréscimos que possam resultar em um brinquedo funcional, viável, esteticamente agradável e que seja desejado por seus usuários. 4.4 Requisitos de Projeto Diferentemente dos brinquedos citados no Quadro 4 - Análise de Brinquedos Existentes no Mercado, em que sua maioria estimula a competição entre dois ou mais jogadores, o desafio desse projeto é criar um brinquedo em que duas crianças joguem juntas, não como competidoras, mas sim como parceiras para vencerem um único objetivo. Dessa forma, as chances do brinquedo acarretar crises de agressividade ou desestímulo após uma possível derrota, diminuiriam. A ideia é que o brinquedo estimule o trabalho em dupla, impulsionando a conversação entre elas e fazendo com que juntas, consigam criar estratégias para se comunicar, sem que uma veja o que a outra está fazendo, para que dessa forma, a comunicação seja indispensável para o cumprimento das missões do jogo. Para isso, o projeto deve contar com obstáculos que estimulam a coordenação motora 43 fina, além de noções de direita e esquerda e conhecimento dos algarismos. Os obstáculos precisam ser cumpridos pelas duas crianças ao mesmo tempo para que possam avançar de fase, estimulando assim, a tolerância e colaboração com o próximo. Diante disso, compreende-se que o brinquedo pode ser eficaz, principalmente, para crianças com autismo nível 2, o considerado autismo moderado, que é o grau em que os indivíduos apresentam deficiência relevante nas relações sociais e contam com maiores problemas na fala e na comunicação social. O método Montessori será utilizado no projeto, pois o brinquedo é de fácil manuseio e contribui para a experiência lúdica e sensorial da criança. Além disso, assim como os brinquedos Montessori, que são construídos geralmente com materiais naturais, como madeira, tecido, metal, entre outros, o projeto também propõe tais materiais, que são agradáveis ao toque, usando cores leves para evitar possíveis desconfortos. É importante ressaltar que o brinquedo é inclusivo, ou seja, todas as crianças precisam se sentir atraídas pela ideia e o brinquedo deve oferecer o desenvolvimento das mesmas habilidades para todas elas. A proposta é que o brinquedo seja ministrado, principalmente, em ambientes escolares, onde crianças diversas terão acesso, até mesmo com outros tipos de transtornos ou deficiências ou as que não tenham nenhum deles. A ideia é que todos possam brincar juntos, sem segregação ou exclusão. A comunicação visual do produto, também será levada em conta no projeto, sendo trabalhada de forma leve e lúdica, servindo como primeira impressão para as crianças, e contendo informações pontuais importantes para os pais, professores ou diretores de escolas ou de clínicas especializadas. Por fim, o projeto será desenvolvido em sua maior parte com materiais sustentáveis, para reforçar o comprometimento com o meio ambiente. Além disso, o brinquedo contará com um manual de instruções ilustrativo, de fácil entendimento para as crianças e seus responsáveis, explicando o passo a passo do jogo, como completar cada uma das fases, mecanismos de ligar, desligar e reiniciar, bem como dicas sobre manutenção. 44 5. DESENVOLVIMENTO No planejamento e idealização do projeto foram analisadas características estéticas, financeiras e ideológicas dos concorrentes presentes no mercado, definido o público alvo e os requisitos do projeto. No próximo momento, se dá início ao processo de desenvolvimento do produto, no qual a ideia começa a ser consolidada e busca-se meios de torná-la um projeto concreto. 5.1 Conceito O fato do brinquedo ser jogado em dupla, é um requisito essencial ao arquitetar o projeto, favorecendo um aspecto de muita dificuldade nas crianças autistas, a interação social. Como discutido nos capítulos anteriores, uma das características muito comum em crianças com essa condição é a agressividade, que ocorre em diferentes graus, dependendo do indivíduo, motivadas por diversas situações cotidianas, como por exemplo, a derrota em uma competição, seja ela um jogo ou uma brincadeira. Para reverter essa situação, a ideia é que as crianças possam brincar como parceiros, de modo que um precise do outro para vencer e que possam criar estratégias em conjunto para concluir as etapas do brinquedo. Nesse sentido, a intenção é de que não existe apenas um ganhador e nem um só perdedor, mas sim, que os jogadores conquistem a vitória em dupla, e, assim, aflorar sentimentos como o companheirismo, amizade e paciência ao respeitar o tempo e as limitações do parceiro. O brinquedo será composto por uma espécie de parede com desafios e essa parede ficará limitando as crianças a verem uma a outra, e assim estimular a comunicação, principalmente, através da fala. Todos os desafios presentes de um dos lados da parede, estará replicado do outro lado, e as crianças devem ser posicionadas uma de frente para a outra para brincar, e assim, serem estimuladas a conversarem e concordarem sobre os processos que farão para concluir as fases. O produto contará com quatro atividades posicionadas em sequência, uma abaixo da outra e todas elas foram pensadas para trabalhar alguns dos eixos psicomotores, sendo eles: a interação social, a integração sensorial (principalmente estimulando a visão e o tato) e a coordenação motora fina. O objetivo dessas atividades é que as crianças cumpram a mesma etapa ao mesmo tempo, e como 45 elas terão uma barreira entre si, luzes de LED se acenderão nas laterais de cada fase quando elas forem sendo concluídas, indicando que as crianças conseguiram atingir o objetivo e que podem avançar para a próxima etapa. Isso ocorrerá quatro vezes, e no fim, oito lâmpadas de LED estarão acesas, indicando o fim do jogo. Para reiniciar, basta apertar o botão de desligar, que apagará as luzes, devendo reposicionar as peças na posição original e voltar a ligar o botão, para que as luzes sejam novamente acesas conforme a continuidade da brincadeira aconteça. Mesmo que a meta do brinquedo seja estimular a cooperação, tolerância e companheirismo, é fundamental a presença de um responsável durante a brincadeira, tanto para auxiliar em possíveis conflitos que podem ocorrer em qualquer tipo de interação, quanto para amparar as crianças em situação de dúvidas sobre o funcionamento do brinquedo ou até mesmo com dificuldades para concluir as etapas. Além disso, a presença de um responsável pode ampliar o potencial pedagógico do brinquedo, no sentido de traçar objetivos específicos de aprendizagem e desenvolvimento que podem ser explorados a partir das fases mencionadas. É essencial que o responsável que esteja intermediando a brincadeira, tenha compreensão sobre as possíveis diferenças na desenvoltura de cada criança, e sempre estimule a paciência e a colaboração entre elas. 5.2 Sketches Durante o processo de amadurecimento da ideia, alguns esboços foram desenvolvidos para auxiliar no processo criativo. O foco foi organizar os elementos pretendidos de forma que fossem posicionados de maneira prática e funcional, pensando não só na estética, mas também, na forma que seriam agregados os mecanismos de funcionamento de resolução das fases. Também nesse momento, foi pensado onde seria posicionada a fiação da parte elétrica para não deixá-la exposta e como aconteceria o processo de acender as luzes. Os sketches foram produzidos de forma simplificada, sendo usados como um guia na hora da modelagem 3D, que a partir dela, o projeto pôde ser enxergado de forma mais detalhada, e assim, houve melhor entendimento de possíveis problemas, ajustes e oportunidades de melhorias. 46 Imagem 8 - Sketch Inicial Fonte: Elaborado pela autora. Esse foi o primeiro sketch desenvolvido no processo de criação. Nele, foram definidos o formato do brinquedo, o posicionamento de cada uma das fases e das luzes, e a base. O decorrer do projeto ocorreu baseado nesse desenho, no entanto, alguns ajustes foram feitos até chegar no resultado final. Imagem 9 - Sketch fases do brinquedo Fonte: Elaborado pela autora. Esse esboço tem como objetivo especificar os mecanismos de cada etapa. Desde o primeiro sketch , até o resultado final, essa foi a parte que mais sofreu alterações, devido aos pequenos erros de planejamento no momento de produção 47 dos esboços, como é o caso da fase dos circuitos em ziguezague, que inicialmente foi pensado para que as crianças pudessem interagir com o circuito da sua dupla, mas na hora da modelagem, isso não seria possível de acontecer, pois se os circuitos se encontrassem e fossem totalmente vazados, os losangos localizados no interior deles ficariam flutuando, sem nenhum suporte para segurar. Diante disso, essa fase foi inviável de ser seguida como no sketch e precisou de ajustes nas próximas etapas do projeto. A primeira fase consiste na organização das peças para posicionar os números corretamente do 1 ao 9. Os jogadores precisam entrar em consenso ao decidirem quais peças cada um irá manipular para que um não atrapalhe a ação do outro. Assim que números forem posicionados corretamente, as luzes laterais dessa fase se acenderão e isso indica que essa etapa foi concluída. A segunda fase conta com percursos em ziguezague para estimular a coordenação motora fina. Os jogadores devem definir entre si, qual das hastes cada um prefere manusear e, consequentemente, para qual direção devem seguir: direita ou esquerda. A meta é que as crianças levem suas hastes até o lado oposto. Quando as duas consegu