785 Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 785-792, mar./abr. 2013 Recebido para publicação 26/04/12 Aprovado em 29/10/12 DOI: 10.5433/1679-0359.2013v34n2p785 Palatoplastia com biomembrana natural de látex com polilisina 0,1% em cães com defeito palatino experimentalmente induzido Palatoplasty with latex biomembrane with polilisine 0,1% in canine experimental palatal defect Elisângela Barboza Silva1*; Cintia Lucia Maniscalco2 Resumo A palatoplastia é uma cirurgia de correção para restabelecer o isolamento entre as cavidades oral e nasal impedindo assim que alimentos sejam aspirados. O tamanho da fenda limita seu fechamento, mas existem várias técnicas descritas para isso, a maioria, realizadas com retalhos autólogos da mucosa do palato, ou ainda enxertos e próteses. Trabalhos científicos realizados com a Biomembrana Natural de Látex com Polilisina 0,1% tornaram conhecidas suas propriedades de favorecimento e aceleração do processo cicatricial, de estimulação da neovascularização, de crescimento tecidual organizado em diferentes órgãos e tecidos e de biocompatibilidade. Foi provocado um defeito no palato secundário de sete cães, dos quais, cinco foram recobertos com a biomembrana de látex, os outros (dois) foram escolhidos como controle e tiveram o fechamento por segunda intenção. No período pós-operatório foram realizadas observações clínicas e macroscópicas para avaliação dos resultados. A membrana foi um fator de aceleração do processo de reparação, visto que os animais do grupo controle demoraram mais tempo para ter o defeito totalmente fechado em relação aos outros. Palavras-chave: Cirurgia veterinária, cavidade oral, palato, biomembrana, látex Abstract The palatoplasty is a correction surgery to restore the isolation between the oral and nasal cavity, avoid breath of food. There are many techniques to repair palatal defects, and the most used is mucoperiosteal flap. Grafts and prothesis, can be used too. Scientific works with Natural Latex Biomembrane with 0,1% Polylisine reveals properties like biocompatibility, improve and accelerate the cicatricial process, the stimulation of new vessels and organized tissue growth in different organs. Seven dogs were arranged in two groups and were submitted to experimental hard palate cleft. Five dogs received palatal repair with the natural latex biomembrane with 0,1% polylisine. Two animals did not receive any repair (control group) and the defect healing by second intention. After surgery, the groups were observed macroscopically and clinically to evaluate the results. The healling of cleft palate of group I was faster than control group, and this fact suggests that the biomembrane is an accelerator factor for cicatricial process. Key words: Veterinary surgery, oral cavity, palate, biomaterial, latex 1 Profª Assistente da Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, Ilhéus, BA. E-mail: elisangelavet@yahoo.com.br 2 Profª Adjunta da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”, FCAV/ UNESP, Campus Jaboticabal, Jaboticabal, SP. E-mail: cintia@fcav.unesp.br * Autor para correspondência 786 Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 785-792, mar./abr. 2013 Silva, E. B.; Maniscalco, C. L. Introdução Defeitos palatinos em pequenos animais podem ocorrer em qualquer lugar do palato e resultar em comunicação entre a cavidade oral e a nasal ou o seio maxilar (MARRETA, 1998). O defeito pode ser congênito ou hereditário (NELSON, 1993), origem traumática (GIOSO, 2003) e também podem ocorrer por complicação de uma maxilectomia em casos de neoplasia oral (MARRETA, 1998). O tratamento é cirúrgico. Nos cães com defeitos congênitos, este é possível aos 45 dias ou preferivelmente aos três meses de idade, quando o animal suporta melhor o risco anestésico. É necessário um suporte clínico que consiste em alimentação por sonda para manter um estado nutricional adequado até que o animal atinja idade suficiente para sofrer intervenção cirúrgica (MARRETA, 1998) e para isso recomenda-se sondas de esofagostomia (HAN, 2004). Nas últimas décadas, diferentes técnicas cirúrgicas foram empregadas para a correção dos defeitos congênitos do palato, fazendo uso de flapes mucosos, enxertos e tentativas de próteses (CARREIRÃO; PITANGUY, 1989; HARVEY, 1993; ISHIKAWA; GORIS; NAGAOKA; 1994; HALE; SYLVESTRE, MILLER, 1997; BAUER et al., 1998; POPE; CONSTANTINESCU, 1998; SAGER; NEFEN, 1998; POTÉRIO-FILHO et al., 1999; FRANCISCO, 2001; GRIFFTHS; SULLIVAN, 2001; ROEHSIG et al., 2001; HEDLUND, 2002; CONTESINI et al., 2003; HETTE; RAHAL, 2004). A maior complicação é a deiscência e pode estar associada à movimentação, tensão ou suturas apertadas (DALECK; DALECK; PADILHA- FILHO, 1989). A biomembrana natural de látex com polilisina à 0,1% apresenta excelentes resultados no auxílio à reparação de tecidos, possui baixo custo (FRADE et al., 2001, 2002, 2003; NIELSEN, 2001; OLIVEIRA; HYPPOLITO; COUTINHO-NETO, 2003) e tem propriedades como a indução rápida de tecido cicatricial, favorecimento da adesão celular (MRUÉ, 1996; THOMAZINI et al., 1997; MRUÉ et al., 2001) e a formação de matriz extracelular (MRUÉ, 1996, 2000). Possui também potencial angiogênico e é biocompatível (MRUÉ, 1996, 2000; POTÉRIO-FILHO et al., 1999; FRADE, 2001, 2002, 2003). Sua eficácia já foi comprovada em diversos trabalhos com pacientes com úlceras crônicas de pele (ERENO, 2003), reconstituição de tímpanos em humanos (OLIVEIRA; HYPPOLITO; COUTINHO-NETO, 2003), substituição do pericárdio (SADER et al., 2000) e arterioplastia em cães (FREITAS, 2001) e por fim, alguns autores também relataram que a membrana favoreceu a cicatrização conjuntival e escleral (PINHO et al., 2004; TALIERI, 2004). Este trabalho teve por objetivo observar a interação da membrana no reparo de defeitos induzidos no palato secundário de cães, e a possibilidade do seu uso em palatoplastias, avaliando a propriedade de aceleração do processo cicatricial. Material e Métodos Foram utilizados sete cães adultos, sem raça definida, machos ou fêmeas, considerados clinicamente sadios nos exames físico e hematológico. Todos os animais foram submetidos a procedimento cirúrgico para a criação de defeito no palato secundário e, foram divididos em dois grupos: Grupo I: composto de cinco animais que receberam reparo da biomembrana sobre o defeito. Grupo Controle: composto de dois animais que não receberam nenhum tipo de reparo. Para este estudo, os animais foram submetidos à medicação pré-anestésica com associação de acepromazina a 1%, 0,1mg/kg pela via intravenosa e meperidina 5mg/kg pela via intramuscular; indução 787 Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 785-792, mar./abr. 2013 Palatoplastia com biomembrana natural de látex com polilisina 0,1% em cães com defeito palatino... com propofol endovenoso na dose de 5mg/kg e manutenção com halotano diluído em oxigênio a 100% a 15 CAM em circuito semi fechado pela via inalatória. Foram posicionados em decúbito lateral direito para a colocação da sonda de esofagostomia (HAN, 2004). Após anti-sepia da cavidade oral com solução de digluconato de clorexidina à 0,2 % e, com auxílio de um martelo e um cinzel, retirou- se um fragmento da mucosa e do osso palatino em forma de retângulo com dimensão longitudinal entre o primeiro e terceiro dentes pré-molares superiores, e a largura delimitada pelos dentes incisivos médios bilateralmente tomando-se cuidado para preservar a artéria palatina. O grupo I recebeu então o reparo de membrana que foi suturado nas bordas do defeito (fig. 1B) com fio absorvível sintético Poliglactina 910 2-0 e associação de dois padrões de sutura: pontos simples interrompidos e simples contínuo. O Grupo controle sofreu o mesmo procedimento cirúrgico, mas não recebeu nenhum reparo no defeito que cicatrizou por segunda intenção (figura 1A). Figura 1. Fotografia de um cão com fenda palatina experimentalmente induzida. Pós-operatório imediato. A: grupo controle sem a membrana. B: grupo I com o reparo de membrana. dentes pré-molares superiores, e a largura delimitada pelos dentes incisivos médios bilateralmente tomando- se cuidado para preservar a artéria palatina. O grupo I recebeu então o reparo de membrana que foi suturado nas bordas do defeito (fig. 1B) com fio absorvível sintético Poliglactina 910 2-0 e associação de dois padrões de sutura: pontos simples interrompidos e simples contínuo. O Grupo controle sofreu o mesmo procedimento cirúrgico, mas não recebeu nenhum reparo no defeito que cicatrizou por segunda intenção (figura 1A). Figura 1. Fotografia de um cão com fenda palatina experimentalmente induzida. Pós-operatório imediato. A: grupo controle sem a membrana. B: grupo I com o reparo de membrana. Fonte: Elaboração dos autores. Terminada a cirurgia e com o animal já acordado foram administrados pela sonda comprimidos de enrofloxacina, na dose de 5mg/Kg de peso corpóreo uma vez ao dia por cinco dias e, de flunixin meglumine, na dose de 1mg/Kg de peso corpóreo, diariamente durante três dias, além de ração triturada e umedecida via sonda quatro vezes por dia. O animal recebeu também cloridrato de tramadol na dose de 2 mg/Kg de peso corpóreo por via subcutânea duas vezes ao dia durante dois dias. Todos os animais do grupo I permaneceram com a sonda de esofagostomia até dois dias após a queda da membrana, os animais controle ficaram sondados até o fechamento completo da lesão por segunda intenção, pois não receberam o reparo de membrana. Nos 20 dias seguintes ao fechamento do defeito, todos receberam ração amolecida devido à fragilidade do tecido cicatricial formado no palato. Resultados A maioria dos animais (três) do grupo I mostrou fechamento completo do defeito no décimo dia de pós-operatório (figura 2A) quando a biomembrana se desprendeu, após a absorção dos fios de sutura. Nos outros dois animais essa queda ocorreu no sétimo e nono dia pós-cirúrgico deixando a mostra uma abertura de 50% e 10% do defeito, respectivamente. Nestes, parte da cicatrização ocorreu por segunda intenção e o tempo de fechamento do defeito foi prolongado para 45 e 11 dias respectivamente. O fechamento do defeito ocorreu por formação de tecido de granulação que foi adquirindo aspecto mais liso e brilhante (figura 2B, 2C). Após esta fase, ocorreu pigmentação uniforme da área (figura 2D), fazendo com que o tecido 1A 1B Fonte: Elaboração dos autores. Terminada a cirurgia e com o animal já acordado foram administrados pela sonda comprimidos de enrofloxacina, na dose de 5mg/Kg de peso corpóreo uma vez ao dia por cinco dias e, de flunixin meglumine, na dose de 1mg/Kg de peso corpóreo, diariamente durante três dias, além de ração triturada e umedecida via sonda quatro vezes por dia. O animal recebeu também cloridrato de tramadol na dose de 2 mg/Kg de peso corpóreo por via subcutânea duas vezes ao dia durante dois dias. Todos os animais do grupo I permaneceram com a sonda de esofagostomia até dois dias após a queda da membrana, os animais controle ficaram sondados até o fechamento completo da lesão por segunda intenção, pois não receberam o reparo de membrana. Nos 20 dias seguintes ao fechamento do defeito, todos receberam ração amolecida devido à fragilidade do tecido cicatricial formado no palato. Resultados A maioria dos animais (três) do grupo I mostrou fechamento completo do defeito no décimo dia de pós-operatório (figura 2A) quando a biomembrana se desprendeu, após a absorção dos fios de sutura. Nos outros dois animais essa queda ocorreu no sétimo 788 Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 785-792, mar./abr. 2013 Silva, E. B.; Maniscalco, C. L. e nono dia pós-cirúrgico deixando a mostra uma abertura de 50% e 10% do defeito, respectivamente. Nestes, parte da cicatrização ocorreu por segunda intenção e o tempo de fechamento do defeito foi prolongado para 45 e 11 dias respectivamente. O fechamento do defeito ocorreu por formação de tecido de granulação que foi adquirindo aspecto mais liso e brilhante (figura 2B, 2C). Após esta fase, ocorreu pigmentação uniforme da área (figura 2D), fazendo com que o tecido neoformado apresentasse novamente a coloração da mucosa palatina original, tornando a cicatriz quase que imperceptível. A membrana manteve-se íntegra durante todo o período em que permaneceu recobrindo o defeito dos animais do grupo I e não apresentou qualquer tipo de deformação aparente, nem provocou reação alérgica ou rejeição. Nos dois animais controle, a cicatrização completa por segunda intenção ocorreu aos 36 e 45 dias de pós-operatório. O tecido de granulação formado mostrou pigmentação difusa e a cicatriz apresentou-se aparentemente côncava e rugosa (figura 3). Figura 2. Fotografia de um cão com fenda palatina experimentalmente induzida. Evolução cicatricial Grupo I: A: 10, B: 15, C: 30, D: 60 dias de pós-operatório. neoformado apresentasse novamente a coloração da mucosa palatina original, tornando a cicatriz quase que imperceptível. A membrana manteve-se íntegra durante todo o período em que permaneceu recobrindo o defeito dos animais do grupo I e não apresentou qualquer tipo de deformação aparente, reação alérgica ou rejeição. Figura 2. Fotografia de um cão com fenda palatina experimentalmente induzida. Evolução cicatricial Grupo I: A: 10, B: 15, C: 30, D: 60 dias de pós-operatório. Fonte: Elaboração dos autores. Os dois animais controle, a cicatrização completa por segunda intenção ocorreu aos 36 e 45 dias de pós-operatório. O tecido de granulação formado mostrou pigmentação difusa e a cicatriz apresentou-se aparentemente côncava e rugosa (figura 3). 2A 2C 2 D 2B Fonte: Elaboração dos autores. 789 Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 785-792, mar./abr. 2013 Palatoplastia com biomembrana natural de látex com polilisina 0,1% em cães com defeito palatino... Figura 3. Fotografia de um cão com fenda palatina experimentalmente induzida. Evolução cicatricial do grupo controle: A: 10, B: 15, C: 30, D: 60 dias de pós-operatório. Figura 3. Fotografia de um cão com fenda palatina experimentalmente induzida. Evolução cicatricial Grupo I: A: 10, B: 15, C: 30, D: 60 dias de pós-operatório. Fonte: Elaboração dos autores. Discussão Na Medicina Veterinária os gastos com os procedimentos limitam o acesso aos tratamentos. Neste ponto, a membrana satisfaz as necessidades por ter baixo custo (FRADE et al., 2001) e ser de fácil manuseio (MRUÉ, 2000). Para alimentar os animais no pós-operatório e evitar qualquer agressão ou contaminação local, usou-se sonda esofágica, que é de fácil colocação e manuseio e não causa incômodo como as de faringostomias (HAN, 2004). A técnica que usamos apresenta uma grande vantagem em relação aos flapes, pois não necessita de deslocamento tecidual, interferindo pouco na vascularização, que é imprescindível no processo cicatricial e responsável pelo sucesso desse tipo de cirurgia (BAUER et al., 1998; HALE; SYLVETRE; MILLER, 1997). Outra vantagem, sobre as próteses fixadas na dentição é a ausência de acúmulo de alimento que predispõe à doença periodontal. Dentre outras causas, a queda precoce da membrana em dois animais pode ser atribuída à movimentação da língua (NELSON, 1993) ou à rápida absorção do fio utilizado (variação individual). A adoção de dois padrões de sutura, o simples separado seguido do contínuo, garantiu a permanência do reparo sobre a ferida pelos 10 dias necessários (DALECK; DALECK; PADILHA-FILHO, 1989), já que houve queda precoce da membrana em dois animais que receberam somente um padrão de sutura, o simples separado, para fixar o reparo de látex. O rápido fechamento do defeito induzido no palato é mais um resultado positivo da biomembrana entre os vários já publicados. (MRUÉ, 1996; 2000; POTÉRIO-FILHO et al., 1999; FRADE et al., 2001, 3A 3B 3C 3D Fonte: Elaboração dos autores. Discussão Na Medicina Veterinária os gastos com os procedimentos limitam o acesso aos tratamentos. Neste ponto, a membrana satisfaz as necessidades por ter baixo custo (FRADE et al., 2001) e ser de fácil manuseio (MRUÉ, 2000). Para alimentar os animais no pós-operatório e evitar qualquer agressão ou contaminação local, usou-se sonda esofágica, que é de fácil colocação e manuseio e não causa incômodo como as de faringostomias (HAN, 2004). A técnica que usamos apresenta uma grande vantagem em relação aos flapes, pois não necessita de deslocamento tecidual, interferindo pouco na vascularização, que é imprescindível no processo cicatricial e responsável pelo sucesso desse tipo de cirurgia (BAUER et al., 1998; HALE; SYLVETRE; MILLER, 1997). Outra vantagem, sobre as próteses fixadas na dentição é a ausência de acúmulo de alimento que predispõe à doença periodontal. Dentre outras causas, a queda precoce da membrana em dois animais pode ser atribuída à movimentação da língua (NELSON, 1993) ou à rápida absorção do fio utilizado (variação individual). A adoção de dois padrões de sutura, o simples separado seguido do contínuo, garantiu a permanência do reparo sobre a ferida pelos 10 dias necessários (DALECK; DALECK; PADILHA- FILHO, 1989), já que houve queda precoce da membrana em dois animais que receberam somente um padrão de sutura, o simples separado, para fixar o reparo de látex. O rápido fechamento do defeito induzido no palato é mais um resultado positivo da biomembrana entre os vários já publicados. (MRUÉ, 1996; 2000; POTÉRIO-FILHO et al., 1999; FRADE et al., 2001, 2002, 2003; FREITAS, 2001; OLIVEIRA; HYPPOLITO; COUTINHO-NETO, 2003; PINHO et al., 2004; TALIERI, 2004). Em relação às técnicas que usam materiais biológicos para reparar defeitos do palato (ISHIKAWA; GORIS; NAGAOKA, 1994; HALE; SYLVESTRE; MILLER, 1997; BAUER 790 Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 2, p. 785-792, mar./abr. 2013 Silva, E. B.; Maniscalco, C. L. et al., 1998; FRANCISCO, 2001; GRIFFTHS; SULLIVAN, 2001), a biomembrana leva vantagem porque dispensa a prévia coleta e o preparo de fragmentos de outros tecidos (mucosa, osso, cartilagem, músculo ou meninge), uma vez que é comercializada pronta para uso. A membrana promoveu o fechamento do defeito com tecido de granulação em 10 dias na maioria dos animais assim como já relatado em outros trabalhos (MRUÉ, 1996). Os trabalhos que descrevem técnicas de reconstrução do palato (ISHIKAWA; GORIS; NAGAOKA, 1994; HALE; SYLVESTRE; MILLER, 1997; BAUER et al., 1998; FRANCISCO, 2001; GRIFFTHS; SULLIVAN, 2001) apenas comparam as técnicas com seus resultados não fazendo referência ao tempo decorrido para a reparação completa do defeito. Por este motivo, não há como discutir tempo de cicatrização, exceto se compararmos os animais do grupo I que tiveram a fenda ocluída com 10 e os controles, em média, com 40 dias. Vale ressaltar que a membrana foi utilizada em defeitos induzidos que mimetizam fendas adquiridas e que possuem todo um suporte tecidual principalmente em relação à cavidade nasal que favorece a formação de um novo tecido e conseqüentemente o fechamento do defeito, fato este comprovado pelos controles que cicatrizaram por segunda intenção. Este trabalho não permite afirmar se o resultado obtido com a membrana em fendas congênitas seria semelhante. A biocompatibilidade (MRUÉ, 1996, 2000; SADER et al., 2000; FRADE et al., 2001; MRUÉ et al., 2001; OLIVEIRA; HYPPOLITO; COUTINHO- NETO, 2003; PINHO et al., 2004) também vista neste estudo se deve à estrutura química do látex ser composta basicamente de carbono e hidrogênio, largamente distribuídos no organismo dos mamíferos. Conclusão A biomembrana acelera a cicatrização de defeito induzido no palato e pode ser utilizada como opção de tratamento para defeitos adquiridos. 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