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ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA COMPETÊNCIA
INFORMACIONAL E A FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO: UM
ESTUDO COM GRADUANDOS DE BIBLIOTECONOMIA DA REGIÃO
SUDESTE
Marta Leandro da Mata1 e Helen de Castro Silva Casarin2
1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
(Unesp) - Brasil
2Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
(Unesp) - Brasil
RESUMO
O presente estudo teve como objetivos parciais verificar a competência informacional de
graduandos de biblioteconomia no que se refere aos aspectos éticos e legais relacionados
ao uso da informação, bem como comparar com os padrões da ACRL (2000). Para tanto,
aplicou-se um questionário eletrônico com 230 estudantes de biblioteconomia de quinze
escolas situadas na região sudeste do país. A partir dos resultados, percebeu-se que,
quanto à normalização de referências, os participantes apresentaram um desempenho
abaixo do esperado, o que comprometer a recuperação de um documento por outras
pessoas. Nas outras questões que abordavam temas referentes aos direitos autorais, à
propriedade intelectual e ao copyright, a maioria dos participantes demonstrou que possui
conhecimentos, condutas e atitudes adequados no que tange a este aspecto.
Palavras-Chave: Competência Informacional; Estudantes de Biblioteconomia; Uso Ético da
Informação; Responsabilidade Social.
ABSTRACT
This study aimed to verify the partial information literacy of librarianship undergraduates with
regard to ethical and legal issues related to the use of information and compare with the
standards of ACRL (2000). To this end, we applied an electronic questionnaire with 230 stu-
dents from fifteen schools of Library science in southeastern Brazil. From the results it was
realized that the standardization of reference, participants showed a performance below ex-
pectations, possibly compromising the recovery of a document by others. In the other ques-
tions that addressed issues regarding copyright and intellectual property, the majority of par-
ticipants have shown that knowledge, behaviors and attitudes appropriate in relation to this
aspect.
Keywords: Information Literacy; Librarianship Undergraduates; Ethical Use of Information;
Social Responsibility.
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1 INTRODUÇÃO
O aprendizado relacionado à competência informacional visa tornar os
estudantes independentes quanto aos processos informacionais, de modo a
influenciar no seu desempenho em sala de aula e no desenvolvimento de trabalhos
e/ou pesquisas, preparando-os para agregar valor aos conhecimentos adquiridos
durante e após a sua formação.
No exercício da profissão, o bibliotecário tem um papel fundamental na
implantação de programas voltados para o desenvolvimento de competências
informacionais nas instituições de ensino de todos os níveis, pois se pressupõe que
ele possua uma formação que lhe propicie o desenvolvimento de habilidades
informacionais, tais como seleção, busca, organização, avaliação, disseminação e
recuperação da informação, bem como o uso ético da informação.
Com a implantação de programas dessa natureza pode-se beneficiar a
comunidade usuária e, conseqüentemente, a sociedade, contribuindo no
desenvolvimento de cidadãos capazes de satisfazer as suas necessidades
informacionais por meio do uso de fontes e dos recursos de informação, além de
aprender a diferenciá-las, avaliar a sua confiabilidade, utilizá-las e comunicá-las
eticamente.
As informações podem influenciar na tomada de decisões dos cidadãos em
todos os aspectos da vida: social, econômica, política, profissional e pessoal. Neste
sentido, a atuação do bibliotecário enquanto agente promotor da competência
informacional torna-se um tema importante a ser discutido.
Dentre os aspectos mencionados, são enfatizadas as questões éticas e legais
no uso da informação. Desse modo, a responsabilidade social do bibliotecário fica
mais evidente, assim como os seus desafios nesse novo cenário informacional.
Assim, Miranda (2004, p.119) destaca que “Educar a si próprios e educar aos outros
para a sociedade da informação é um dos grandes desafios para o profissional da
informação, e um passo importante para a formação da cultura informacional na
sociedade [...]”.
Este estudo apresenta parcialmente os resultados obtidos em uma pesquisa
de mestrado (MATA, 2009), que enfocou aspectos da competência informacional
dos graduandos de biblioteconomia da região sudeste. Dessa forma, objetivou-se,
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em partes, verificar a competência informacional dos participantes em relação aos
aspectos éticos e legais que rodeiam o uso da informação e comparar o
desempenho deles com o padrão cinco e seus indicadores da Association of College
and Research Libraries (ACRL) (2000).
2 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA COMPETÊNCIA INFORMACIONAL
O conceito de competência informacional apareceu em torno da Década de
1970, em um momento em que o fluxo informacional começava a se tornar mais
intenso e que as tecnologias de comunicação e informação estavam se expandindo.
Percebia-se, já àquela época, uma necessidade de que as pessoas se preparassem
para viver em um ambiente que se tornava complexo do ponto de vista
informacional.
Acredita-se que o conceito tenha se ampliado à medida que as necessidades
de conhecimento da sociedade se modificaram em função de diferentes facetas
ligadas à atualidade como, por exemplo, a tecnologia da informação, o que sugere a
idéia de um continuum (LANGFORD, 1998 apud CAMPELLO, 2009).
Segundo Johnston e Webber (2007, p.495, tradução nossa) a competência
informacional corresponde “[...] a adoção de um comportamento informativo
adequado para a identificação, através de qualquer meio ou canal, da informação
adequada às necessidades que nos permitam alcançar um uso inteligente e ético da
informação na sociedade”.
Dessa forma, pode-se notar que esta compreende, entre outras habilidades, a
de saber definir as necessidades informacionais, bem como a de acessar, buscar,
interpretar, utilizar e comunicar a informação de forma ética (ABELL et al., 2004). Os
processos informacionais aí envolvidos são interligados, dependentes da avaliação,
da reflexão e do raciocínio crítico para a concreta utilização da informação. O uso
das tecnologias de informação e comunicação está incorporado em seu conceito, e
neste, a fluência na utilização dos mesmos.
Essa competência envolve ainda outros princípios, como o aprender a
aprender, que possibilita o aprendizado ao longo da vida, um dos preceitos do
Século XXI, indicado no relatório Delors (1998) e por muitos educadores
preocupados com a aprendizagem e desenvolvimento dos indivíduos.
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De acordo com Dudziak (2003) os componentes que sustentam o conceito de
competência informacional são: o processo investigativo; o aprendizado ativo; o
aprendizado independente; o pensamento crítico; o aprender a aprender e o
aprendizado ao longo da vida.
Existem formas de desenvolver a competência informacional nos indivíduos,
por meio de programas sobre a temática durante os períodos de formação
educacional. Tais programas estimulam o aprendizado baseado em recursos, na
resolução de problemas, no desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo.
Conforme Lecardelli e Prado (2006, p.40) a “[...] competência informacional é uma
questão que faz parte do processo educacional a que todos têm direito e seu acesso
deve ser divulgado e incentivado”.
No entanto, para que haja a implantação de um programa de competência
informacional, um dos principais agentes de sua disseminação e de seu
funcionamento deve ser o profissional bibliotecário. É necessário mostrar à
instituição as vantagens do programa para o ensino e para o aprendizado dos
alunos. De acordo com O’Neil (2005), a biblioteca é responsável por uma parte da
formação acadêmica dos estudantes, ensinando-os a usarem-na e usar também as
fontes de informação efetivamente.
De acordo com Campello (2009, p.82), “[...] a implementação de programas
de letramento informacional implica práticas planejadas, fundamentadas em
evidências e teorias, constando de atividades sistemáticas ou seqüenciais”. As
atividades sistemáticas de instrução dos programas de competência informacional
podem ser oferecidas através de tutoriais tradicionais com os estudantes (presentes)
e à distância, cursos, disciplinas optativas ou obrigatórias, e podem receber variados
nomes, dentre os quais o de instrução. A escolha destas possibilidades depende de
aspectos institucionais, dos docentes e da biblioteca onde o programa será
implementado.
Ressalta-se que a competência informacional faz parte de um processo que
se constrói conjuntamente com os educadores e com as instituições de ensino,
auxiliando-os a alcançar as suas metas em relação à formação dos indivíduos e ao
seu desenvolvimento como profissionais e cidadãos, pois “[...] é algo trabalhado
continuamente, observando, interpretando, compartilhando, questionando,
elaborando críticas, hipóteses e explicações” (CAVALCANTE, 2006, p.57). Ainda
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complementa Dudziak (2008, p.51), mencionando que “[...] a competência
informacional se constrói sobre um trabalho colaborativo que vai muito além dos
limites da biblioteca e mesmo das instituições de ensino”.
No planejamento do programa recomenda-se utilizar alguns materiais de
apoio, tanto para sua estruturação (ACRL, 2003a; 2003b) quanto para o
estabelecimento de conteúdos a serem trabalhados com os estudantes (ACRL,
2000). Este último se refere aos padrões de competência informacional para o
ensino superior, que têm por finalidade auxiliar os profissionais envolvidos no
programa na elaboração do conteúdo a ser administrado, bem como na avaliação de
habilidades ligadas aos processos informacionais. Ele está estruturado em cinco
padrões, vinte e dois indicadores de desempenho e os resultados esperados. A
seguir os padrões são apresentados (ACRL, 2000):
Determinar a natureza e o nível de sua necessidade de informação;
Acessar a informação necessária eficaz e eficientemente.
Avaliar a informação e suas fontes de forma crítica e incorpora a
informação selecionada a seus conhecimentos básicos e a seu sistema de
valores;
Utilizar a informação eficazmente para alcançar um propósito específico;
Compreender muitos problemas e questões econômicas, legais e sociais
que rodeiam o uso da informação e acessar e utilizar a informação de
forma ética e legal.
No que se refere, especificamente, ao Padrão 5 (cinco), ele tem por finalidade
que o estudante compreenda e aplique em múltiplos contextos as políticas
informacionais nacionais e internacionais (como os direitos autorais e o copyright).
Visa, ainda, que ele demonstre entendimento das convenções e implicações
científicas, do mercado de comunicações de massa, das publicações que não têm
como conseqüência a geração de lucros, da interação ética entre informação e
tecnologia; e que reconheça as implicações sociais inerentes aos sistemas e à
produção da informação (FRANÇOIS, 2006).
Observando as mudanças ocorridas nas formas de disseminação e acesso à
informação em diversos ambientes e, principalmente, pelo acesso por meio das
tecnologias de informação e comunicação, as questões éticas devem ser
enfatizadas e debatidas, visto que trazem consigo diversas conseqüências e “uma
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profunda influência nas normas, princípios e valores que norteiam a vida social dos
indivíduos, bem como dos pesquisadores, dos profissionais da informação e dos
usuários de unidades de informação” (STUMPF, 2010, p.1).
A competência informacional vem para preencher as necessidades
ocasionadas pelo excesso de informação da sociedade atual, a qual requer que as
pessoas saibam lidar com o universo informacional e com seus processos de
maneira eficiente, exigência que corrobora com o aprender a aprender e com o
aprendizado ao longo da vida, bem como para o desenvolvimento de uma sociedade
mais justa e igualitária.
A seguir, se apresenta os procedimentos metodológicos adotados nesta
pesquisa para verificar a competência informacional dos graduandos de
biblioteconomia da região sudeste no que refere aos aspectos éticos e legais no uso
da informação.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O universo da pesquisa foi constituído de graduandos de biblioteconomia que
estavam cursando o último ano (7º ou 8º período/ semestre) das escolas de
biblioteconomia da região sudeste. No total, colaboraram com a pesquisa 15
escolas, sendo que 60% (9) eram instituições públicas (estaduais e federais), com
120 participantes, e 40% (6), instituições privadas, com 110 participantes, ou seja,
um total de 230 alunos participantes.
O instrumento de coleta de dados utilizado nesta pesquisa foi um questionário
eletrônico, que possibilitou a sua aplicação a uma população ampla, produzindo
resultados representativos da população que está sendo pesquisada, além da
familiaridade que os participantes possuem com este tipo de instrumento
(RADCLIFF et al., 2007).
O questionário foi elaborado com base nos padrões da ACRL (2000) com o
auxílio dos Objetivos (ACRL, 2001), utilizando-se, ainda, outras fontes, como a obra
Fontes de Informação para pesquisadores e profissionais (CAMPELLO; CENDÓN;
KREMER, 2007) e instrumentos de coleta de dados baseados na literatura no que
se refere à competência informacional no ensino superior, com ênfase nos aspectos
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éticos e legais no uso da informação (UBMC, 2003; CARRANGA, 2008). A seguir se
apresenta os resultados obtidos.
4 RESULTADOS FINAIS
Os dados coletados foram tabulados e a análise foi realizada de modo
quantitativo. Foi realizada também uma comparação entre os resultados e os
padrões (ACRL, 2000) visando verificar se os participantes compreendem os
aspectos éticos e legais relacionados ao uso da informação.
Nesse sentido, quatro perguntas foram direcionadas a estes aspectos. Na
primeira abordou-se a questão da normalização, conforme a norma vigente no país,
a NBR 6023:2002, que possui influência direta na recuperação de um documento
por outras pessoas, bem como está relacionada à questão ética, pois ao citar
corretamente um documento atribui-se os créditos devidos ao(s) autor(es). Nas
questões seguintes são enfatizados os assuntos ligados à propriedade intelectual e
ao plágio. Os resultados são apresentados a seguir.
A normalização documentária é uma das atividades exercidas pelos
bibliotecários. No Brasil, as normas produzidas pelas ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas) são consideradas um dos instrumentos de trabalho mais
importantes para este profissional. Para a primeira questão, utilizou-se,
especificamente, a norma de referências (NBR 6023:2002), que estabelece os
elementos a serem constituídos em referências e as convenções para transcrição e
apresentação da informação originada do documento e outras fontes de informação
(ABNT, 2002), de forma a possibilitar a recuperação e a disseminação de
informações, que também tem relação direta no que diz respeito aos direitos
autorais.
Nesse sentido, perguntou-se aos participantes como um evento no todo
deveria ser referenciado, disponibilizando, para tanto, cinco exemplos (alternativas)
de referências, a qual somente uma resposta estava correta, a seguir mostra-se os
resultados obtidos:
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Tabela 1 - NBR 6023:2002 para evento no todo.
Opções Total %
Acertos 121 53
Erros 109 47
Total 230 100
Conforme resultados, a maioria dos participantes acertou a resposta
correspondendo a 53% (121), enquanto um índice considerável de participantes,
47% (109), não acertou. Ao comparar os resultados da presente pesquisa com a
desenvolvida por Carranga (2008) com um grupo de participantes que estudam no
curso de biblioteconomia também, pode-se encontrar resultados parecidos sobre
este assunto. Nesse sentido, observa-se que os mais variados estudantes do
referido curso possuem um conhecimento abaixo do esperado sobre como
referenciar este tipo de fonte de informação de acordo com a norma mencionada.
A NBR 6023 (2002) é um instrumento de trabalho do bibliotecário, utilizada
constantemente, tanto na correção de trabalhos quanto no ensino dessas normas
para os estudantes. Considerando-se que quase a metade dos participantes errou a
resposta, este parece ser um ponto frágil nos conhecimentos específicos dos
estudantes.
Apesar de as normas estarem disponíveis para o bibliotecário utilizar na
maioria dos locais de trabalho, não sendo necessário memorizá-las, ressalta-se que
quando constantemente utilizadas, assimila-se melhor o modo de realizar a
normalização. Isso indica que este tipo de fonte não é muito utilizado pelos
participantes. Os resultados foram comparados com os padrões da ACRL (2000),
conforme Quadro 1.
Normalização versus Padrão 5
Indicador de desempenho 5.3 – 2.5 1.1.a Resultados esperados
5.3 Reconhece o uso das fontes de informa-
ção na comunicação do produto ou dos resul-
tados
5.3.a Fazer a indicação correta e consistente
das fontes consultadas
(Recomendada) 2.5 Extração, registro e ge-
renciamento da informação e suas fontes
2.5.c Diferenciar entre os tipos de fontes cita-
das e compreender os elementos e a sintaxe
correta de uma citação para uma ampla faixa
de recursos
Resultados alcançados
A maioria dos participantes atende aos requisitos mencionados nos padrões, pois consegue
compreender os elementos que compõem uma referência, apresentando-as corretamente, mas
ainda assim uma quantidade considerável (47%) teve dificuldade e não conseguiu identificar a
ordem dos elementos de uma referência de um evento no todo.
Quadro 1 – Comparação dos resultados da normalização com os padrões.
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A seguir, as três questões abordaram aspectos sobre os direitos autorais,
pois, conforme a Lei 9.610 (BRASIL, 1998), quando uma obra é utilizada, deve-se
indicar o nome do autor e a origem dela. Se o autor encontrar partes ou a obra no
todo sem ser referenciada tem direito de processar quem a utilizou sem cumprir as
exigências determinadas pela legislação brasileira.
Dessa forma, na questão que é apresentada a seguir, foi solicitado aos
participantes que dissessem quando citam o material utilizado durante o
desenvolvimento de um trabalho:
Tabela 2 – Citação do material utilizado durante a pesquisa.
Opções Total %
Quando você cita uma frase do artigo, usando aspas 131 34,3
Quando você escreve o que foi dito no artigo com suas próprias palavras 87 22,8
Todas as anteriores 78 20,4
Quando você copia um parágrafo inteiro 75 19,6
Nenhuma das anteriores 7 1,8
Eu não sei 4 1
Total 382 100
De acordo com a Tabela 2, a maioria dos participantes, 34,3% (131),
respondeu que cita uma frase do artigo usando aspas; 22,8% (87) escrevem o que
foi dito no artigo com suas próprias palavras; 20,4% (78) indicaram todas as opções
anteriores; 19,6% (75) quando copiam um parágrafo inteiro. Com essas atitudes eles
demonstram que comunicam o produto informacional com reconhecimento da
propriedade intelectual (LAU, 2006). Dos que responderam errado, 1,8% (7)
indicaram nenhuma das anteriores e os 2% (4) indicaram não sei.
A maioria dos participantes costuma realizar citação direta do documento
quando os utiliza, respeitando os direitos autorais. Na pesquisa de Campello e Abreu
(2005) também foram abordados os procedimentos de citação com os graduandos
de biblioteconomia da UFMG e constatou-se que eles obedeciam às normas,
realizando citações diretas e apresentando a referência completa.
Pode-se notar que em ambas as pesquisas com participantes que realizam o
mesmo curso de graduação há uma preocupação na utilização de forma correta de
citações, indicando a importância no uso de normas de documentação e,
conseqüentemente, do uso ético e legal da informação.
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Na questão seguinte, solicitou-se aos participantes que indicassem quais as
implicações da falta de uma referência ou de dados incompletos em um trabalho.
Tabela 3 – Implicações da falta de referências.
Opções Total %
É a apropriação da idéia de outra pessoa 172 29,97
Prejudica a recuperação do documento citado 172 29,97
Prejudica a consistência da informação 137 23,87
É um desrespeito às Normas de Documentação 78 13,59
Favorece a autenticidade do trabalho 12 2,09
Não sei 3 0,52
Total 574 100
Na Tabela 3, todas as opções estão corretas exceto a quinta alternativa,
favorece a autenticidade do trabalho, colocada como opção com a finalidade de
identificar se os alunos saberiam diferenciar as implicações do plágio e, por fim, no
caso de não saberem a resposta correta, tinham como opção não sei.
Nesta questão era possível assinalar mais de uma resposta. Os participantes
consideram que as implicações em relação à ausência de dados de uma referência
ou à ausência de uma referência implica na apropriação da idéia de outras pessoas,
29,97% (172); prejudica a recuperação do documento citado, 29,97% (172);
prejudica a consistência da informação, 23,87% (137); é desrespeito às normas de
documentação, 13,59% (78); favorece a autenticidade do trabalho, 2,09% (12), e
não sabem 0,52% (3).
Na pesquisa de Carranga (2008), assim como nesta pesquisa, a maioria dos
participantes também apontou que prejudica a recuperação do documento e que
consiste na apropriação da idéia de outra pessoa.
Assim, observa-se que os participantes entendem o que a ausência de uma
referência pode implicar em plágio, demonstrando compreensão e respeito ao uso
ético da informação, conforme as diretrizes apontadas por Lau (2006). Nesta
questão abordam-se, também, os aspectos relacionados à recuperação do
documento pelos usuários, os quais têm a ver com uma das funções do bibliotecário.
Os bibliotecários também devem trabalhar com estes aspectos com seus
usuários, considerando-se que são profissionais que têm o papel de instruir os
usuários no uso da informação (competência informacional).
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Na questão seguinte, discorreu-se sobre o uso de informações no
desenvolvimento de uma pesquisa, solicitando-se aos participantes que dissessem o
que faziam em relação aos documentos e aos autores utilizados na elaboração da
mesma. As opções e os resultados obtidos são os apresentados:
Tabela 4 – Forma de apresentação das informações utilizadas numa pesquisa.
Opções Total %
Apresenta uma combinação de reflexões e opiniões suas e dos autores utilizados 185 38,22
Apresenta as opiniões do autor(s) em citações diretas (com aspas) 135 27,89
Apresenta as opiniões do autor(s) em citações indiretas (sem aspas) 95 19,63
Apresenta o que você acredita que o autor(s) disse 49 10,12
Apresenta somente suas próprias opiniões 8 1,65
Apresenta o que você pensa que seu professor quer ouvir, mesmo que não coincida
com a opinião dos autores 7 1,45
Nenhuma das anteriores 5 1,03
Total 484 100
Os participantes podiam assinalar mais de uma opção, sendo que as três
primeiras opções estavam corretas, que foram as mais indicadas: apresentam uma
combinação de reflexões suas e dos autores, 38,22% (185), seria a opção ideal;
apresentam as opiniões de autores em citações diretas, 27,89% (135); apresentam
as opiniões dos autores em citações indiretas, 19,63% (95), estas duas indicações
comprovam o uso de normas de documentação pelos participantes.
As quatro posteriores estavam erradas, que são: apresentam o que acreditam
que os autores disseram, 10,12% (49); apresentam somente suas próprias opiniões,
1,65% (8), neste caso, o participante não apresenta nem comprovação e nem
consistência nas informações exigidas para este tipo de trabalho, apresentando,
então, opiniões ou achados; e apresentam o que pensam que os professores
gostariam de ouvir, 1,45% (7), o que pode estar representar insegurança,
dependência em relação ao professor e provavelmente interesse apenas na nota,
abstendo-se de ter um aprendizado reflexivo, baseado nas informações coletadas; e,
por fim, a opção nenhuma das anteriores, 1,03% (5).
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Aspectos éticos e legais que envolvem o uso da informação versus padrão 5
Indicador de desempenho 5 Resultados esperados
5.1 Compreensão dos aspectos dos muitos
temas éticos, legais e socioeconômicos em
torno da informação e das tecnologias de in-
formação
5.1.d Demonstrar compreensão da propriedade
intelectual, copyright e utilização justa do mate-
rial com direito autoral
5.2 Seguir leis, regulamentos, políticas institu-
cionais e etiquetas relacionadas ao acesso e
uso dos recursos informacionais
5.2.f Demonstrar que compreende o que consti-
tui o plágio e não apresentar trabalho atribuível
a outros como seu próprio
5. 3 Reconhece o uso das fontes de informação
na comunicação do produto ou dos resultados
5.3.a Utilizar estilo e forma de redação apropri-
ada, com a indicação correta e consistente das
fontes consultadas
Resultados alcançados
A maioria dos participantes atendeu aos requisitos mencionados nos padrões, pois normalmente
costuma apresentar trabalhos com suas reflexões e com base em outras fontes de informação,
mencionando-as nas referências; entende os aspectos éticos e legais que envolvem os direitos
autorais, o copyright e a propriedade intelectual.
Quadro 2 - Comparação dos resultados dos aspectos éticos e legais que envolvem o
uso da informação versus padrão 5.
Pelos resultados gerais obtidos, nota-se que a maioria dos participantes
possui conhecimentos, atitudes e condutas que demonstram respeitar os aspectos
éticos e legais que envolvem o uso da informação, de modo a atender os preceitos
mencionados nos padrões da ACRL (2000), mas ainda assim existem alguns
aspectos a serem enfatizados durante o curso de graduação.
Os participantes como futuros bibliotecários precisam estar atentos às leis de
direitos autorais nacionais e internacionais para ensinar aos seus usuários quais são
as suas obrigações ao utilizar as informações contidas nas obras. Somente tendo
estes conhecimentos e atitudes éticas, o bibliotecário possui condições de ensinar
outras pessoas a respeitarem os aspectos que envolvem o uso legal da informação.
Em algumas instituições de biblioteconomia e ciência da informação da
Europa existem disciplinas relacionadas, especificamente, aos aspectos éticos da
informação, que discutem questões sobre a propriedade intelectual, copyright, sobre
as leis de direito autoral, sobre as políticas informacionais da União Européia, dentre
outros assuntos (VRANESH et al., 2005).
Conclui-se que os aspectos relacionados com o uso ético e legal da
informação devem ser trabalhados de modo mais intenso durante a formação dos
bibliotecários. Por mais que a maioria dos participantes do último ano de
biblioteconomia da região sudeste demonstrou respeitar e compreender tais
aspectos, é importante enfatizá-los.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A competência informacional é constituída por processos, que estão ligados à
capacidade de definir as necessidades informacionais, selecionar, acessar, avaliar,
utilizar e comunicá-la de maneira ética e responsável. Todos esses processos
envolvem a capacidade de avaliação e de pensamento crítico.
Adquirir a competência informacional para a utilização da informação de
maneira efetiva torna-se cada vez mais uma necessidade para viver na sociedade
da informação, pois esta representa uma significativa mudança na ordem social,
econômica e política, causada pelo uso intensivo da informação e das tecnologias.
A competência informacional também ressalta os aspectos relacionados com
a responsabilidade social, que o bibliotecário tem condições de desenvolver como
profissional, colaborando para o desenvolvimento de aprendizes autônomos em
relação ao universo informacional e seus processos e como cidadão, aptos para
tomarem decisões baseadas em critérios avaliativos informacionais, agregando valor
ao aprendizado obtido na formação profissional/ educacional e na vida diária, de
modo a contribuir para o progresso da sociedade.
Nesse sentido, como se ressaltou anteriormente, as bibliotecas e os
bibliotecários possuem funções e papéis primordiais para a implementação da
competência informacional nas instituições de ensino. São os profissionais que
devem levar adiante os seus preceitos para mostrar aos professores e instituições
os benefícios da formação educacional dos indivíduos com base na competência
informacional.
No que se refere, especificamente, aos aspectos éticos e legais que envolvem
o uso da informação, pode-se perceber que quanto à normalização, os participantes
apresentaram algumas dificuldades, o que pode comprometer a recuperação de um
documento por outras pessoas, assim como tem relação com a questão ética, pois
ao citar corretamente um documento atribui-se os créditos devidos ao(s) autor(es).
Com relação aos direitos autorais, à propriedade intelectual e ao copyright, a maioria
dos participantes demonstrou que possui conhecimentos, condutas e atitudes,
indicando a compreensão desses aspectos. No Brasil, há uma necessidade de
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pesquisas aprofundadas sobre os aspectos éticos e legais que envolvem o uso da
informação nos cursos de biblioteconomia e na literatura da área.
Na maioria das pesquisas com graduandos de biblioteconomia (CAMPELLO;
ABREU, 2005; POSSOBON, 2005; MELO, 2008; CARRANGA, 2008), foram
encontrados alguns pontos frágeis e fortes no que se refere à competência
informacional. Com o diagnóstico realizado, fica evidente a necessidade de os
cursos formadores se aterem a estes aspectos e enfatizarem o pleno
desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionados com o
universo informacional e os seus processos.
REFERÊNCIAS
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