UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais José Roberto Severino Martins Júnior EFEITO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS, ELETROQUÍMICAS E CITOTOXICIDADE DE LIGAS DO SISTEMA Ti-15Mo-XNb Bauru (SP) 2014 José Roberto Severino Martins Júnior EFEITO DE TRATAMENTOS TÉRMICOS NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS, ELETROQUÍMICAS E CITOTOXICIDADE DE LIGAS DO SISTEMA Ti-15Mo-XNb Tese apresentada como requisito à obtenção do título de Doutor à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais, área de concentração “Ciência dos Materiais”, sob a orientação do Prof. Dr. Carlos Roberto Grandini. Bauru (SP) 2014 Martins Júnior, José Roberto Severino. Efeito de tratamentos térmicos nas propriedades mecânicas, eletroquímicas e citotoxicidade de ligas do sistema Ti-15Mo-XNb / José Roberto Severino Martins Júnior, 2014 167 f.: il. CDROM. Orientador: Carlos Roberto Grandini Tese (Doutorado)– Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2014 1. Biomateriais. 2. Ligas de Titânio. 3. Oxigênio. 4. Corrosão. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título. J.R.S. Martins Jr 2 J.R.S. Martins Jr 3 Dedico este trabalho aos meus pais, José Roberto e Gelma e aos meus irmãos, Ana Suellen e Bruno. J.R.S. Martins Jr 4 Agradecimentos Agradeço o em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida. A meu orientador, Prof. Dr. Carlos Roberto Grandini, pelo incentivo desde a iniciação cientifica, mestrado e pela orientação no decorrer deste trabalho. Agradeço ao Prof. Dr. Rodrigo Cardoso de Oliveira (FOB/USP) e a doutoranda Adriana Arruda Matos (FOB/USP) pelos ensaios de citotoxicidade. Ao Prof. Dr. Luiz Augusto Rocha (FC/Bauru) e Isolda Costa (IPEN/USP) pelos ensaios de corrosão. E a Profa. Dra. Marília Afonso Rabelo Buzalaf (FOB/USP) pelos testes de microdureza. Aos meus pais José Roberto e Gelma, pelo apoio ao longo dos meus estudos e pelo exemplo a ser seguido. Aos meus irmãos Ana Suellen e Bruno pelo companheirismo e amizade. Aos colegas de Posmat e aos amigos do Laboratório de Anelasticidade e Biomateriais: Renata, Marcos, Luciano, Fábio, Samira, Daniela, Juarez, Fernando, Diego, Mariana, Raul, Pedro e Regiane pelos momentos que passamos dentro e fora do laboratório e pelas discussões. Aos bons professores que tive ao longo da minha formação desde o ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação. Ao técnico Willians Govedise pelo trabalho de qualidade realizado e pela rapidez e eficiência. A todas as pessoas que tiveram alguma contribuição de uma forma direta ou indiretamente na realização deste trabalho. A FAPESP pelo apoio financeiro (processo 2010/07614-6). A UNESP de um modo geral, por tudo o que me proporcionou desde a graduação em Física, o mestrado e o curso de doutorado. J.R.S. Martins Jr 5 “PARA SE TER SUCESSO, É NECESSÁRIO AMAR DE VERDADE O QUE SE FAZ. CASO CONTRÁRIO, LEVANDO EM CONTA APENAS O LADO RACIONAL, VOCÊ SIMPLESMENTE DESISTE. É O QUE ACONTECE COM A MAIORIA DAS PESSOAS.” STEVE JOBS J.R.S. Martins Jr 6 MARTINS JR, J.R.S. Efeito de tratamentos térmicos nas propriedades mecânicas, eletroquímicas e citotoxicidade de ligas do sistema Ti-15Mo-XNb. 2014. 167f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais). UNESP, Bauru, 2014. RESUMO As ligas compostas por titânio, molibdênio e nióbio integram uma nova classe de ligas à base de titânio, sem a presença de alumínio e vanádio (que apresentam citotoxidade) e que possuem baixos valores do módulo de Young (abaixo de 100 GPa). Isto ocorre pelo fato destas ligas possuírem estrutura �, bastante atraentes para o emprego como biomateriais. Neste tipo de ligas, as variáveis de processamento podem ser controladas mais facilmente em relação às ligas � e ���� objetivando a obtenção de propriedades melhoradas como menor módulo de elasticidade, aumento da resistência corrosão e melhor resposta do tecido ósseo. Neste trabalho foi estudado o efeito de tratamentos térmicos nas propriedades mecânicas, eletroquímicas e biocompatibilidade de ligas do sistema Ti-15%pMo-XNb (0, 5, 10, 15 e 20 % em peso). As ligas foram fundidas em forno a arco e caracterizadas por difração de raios X e análise pelo Método de Rietveld, microscopia óptica, microscopia eletrônica de varredura, espectroscopia por energia dispersiva (EDS), microdureza, módulo de elasticidade, resistência à corrosão e citotoxidade. Com a adição de nióbio, diminui-se consideravelmente a microdureza e o mesmo ocorreu com o módulo de elasticidade, com valores em torno 80 GPa, bem abaixo do materiais metálicos utilizados comercialmente para este tipo de aplicação. Com adição de oxigênio existe uma tendência de aumento da microdureza e do módulo de elasticidade. A resistência à corrosão das ligas aumentou consideravelmente com a adição de nióbio, possuindo uma baixa densidade de corrente de corrosão. Os ensaios de citotoxicidade in vitro mostraram aumento na viabilidade celular com base nos ensaios de MTT e Cristal de Violeta. Das ligas produzidas, destaca se a Ti-15Mo-20Nb, pois possui menor microdureza e módulo de elasticidade, além de ter aumentado a viabilidade celular. Palavras-chave: Biomateriais; Ligas de Titânio; Oxigênio; Corrosão; Citotoxicidade; Microdureza; Módulo de Elasticidade. J.R.S. Martins Jr 7 MARTINS JR, J.R.S. Effect of heat treatments on mechanical and electrochemical properties and cytotoxicity of Ti-15Mo-XNb system alloys. 2014. 167p. Thesis (Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais). UNESP, Bauru, 2014. ABSTRACT Alloys composed by titanium, molybdenum and niobium are part of a new class of titanium-based alloys, without the presence of aluminum and vanadium (which exhibit cytotoxicity) and that have low values of Young's Modulus (below 100 GPa). This occurs because these alloys have � structure, very attractive for employment as biomaterials. In this type of alloys, processing variables can be controlled more easily in relation to � and ������ alloys, aiming at obtaining improved properties like lower modulus of elasticity, increased corrosion resistance and better response of bone tissue. In this work, we studied the effect of the addition of oxygen and heat treatments on the mechanical and electrochemical properties, and cytotoxicity, of Ti-15wt% Mo-XNb (X = 0, 5, 10, 15 and 20 wt%) alloys system. The alloys were melted in arc-furnace and characterized by x-ray diffraction techniques and analysis by Rierveld method, optical and scanning electron microscopy, energy dispersive spectroscopy (EDS), microhardness, modulus of elasticity, resistance to corrosion and cytotoxicity. The results showed promising results with the addition of niobium. With the addition of niobium, occurs considerably decreases in the microhardness and the same occurred with the modulus of elasticity, with values around 80 GPa, below the metallic materials used commercially for this type of application. With the addition of oxygen there is a trend of increasing microhardness and modulus of elasticity. The corrosion resistance of alloys has increased considerably with the addition of niobium, possessing a low corrosion current density. Cytotoxicity assays demonstrated in vitro cell viability based on MTT assay and Crystal Violet. Alloys produced, highlight the Ti-15Mo-20Nb, because it has lower hardness and modulus of elasticity, in addition to cell viability. Keywords: Biomaterials; Titanium Alloys; Oxygen; Corrosion; Cytotoxicity Microhardness; Modulus of elasticity. J.R.S. Martins Jr 8 Lista de Figuras Figura 1 - Diagrama ternário do sistema Ti-Mo-Nb com a isoterma de 600º C (ORLINOV,1958)....................................................................................................30 Figura 2 - Diagrama ternário do sistema Ti-Mo-Nb com a isoterma de 1100º C (ORLINOV, 1958)...................................................................................................31 Figura 3 - Digrama de fases do sistema Ti-Mo (LIDE, 1999).......................................32 Figura 4 - Diagrama de fases no equilíbrio do sistema binário Ti-O [ASM, 1996]........................................................................................................................39 Figura 5 - Mostra a estrutura cristalina do titânio α. Os círculos abertos são os sítios octaédricos, os círculos sombreados são os sítios tetraédricos (CONRAD, 1981)........................................................................................................................40 Figura 6 - Resultado de adição de elementos intersticiais oxigênio, nitrogênio e o carbono nos parâmetros de rede do titânio à temperatura ambiente (CONRAD, 1981) .......................................................................................................................41 Figura 7 - Etapas do processo de gaseificação da reação metal-oxigênio....................43 Figura 8 – Esquema do cluster utilizado nos cálculos para a determinação dos parâmetros de ordem de ligação (Bo) e o nível de energia do orbital (Md) (MORINAGA, 2006)...............................................................................................53 Figura 9 - Diagrama de estabilidade de ligas de Ti a partir de oB e dM (MORINAGA, 1992)........................................................................................................................56 Figura 10 - Diagrama de estabilidade de ligas de Ti com algumas ligas da literatura a partir oB e dM (ABDEL-HADY, 2006)................................................................56 Figura 11 - Difração de raios X nos planos cristalinos..................................................60 Figura 12 - Curva de polarização de Tafel (GENTIL, 1994)........................................69 Figura 13 - Metais precursores utilizados na fusão das amostras, (a) titânio comercialmente puro no formato de barras com 4 mm de diâmetro; (b) molibdênio no formato de fios com diâmetro de 0,1 mm e (c) nióbio cortado em pequenos pedaços.....................................................................................................................72 J.R.S. Martins Jr 9 Figura 14 - Forno de fusão à arco utilizado para a preparação dos lingotes, (a) fotografia do forno a arco voltaico e (b) fotografia do porta amostra do forno de fusão.........................................................................................................................73 Figura 15 - Lingote da liga Ti-15Mo após a fusão........................................................74 Figura 16 - Fotografia do equipamento utilizado na laminação....................................75 Figura 17 - Fotografia do lingote da liga Ti-15Mo-20Nb, após (a) laminação e (b) decapagem química..................................................................................................75 Figura 18 - Balança analítica com o kit utilizado nas medidas de densidade ..............77 Figura 19 - Embutidora usada para o embutimento (a) e uma das amostras embutidas após o polimento e utilizada neste trabalho (b).......................................................79 Figura 20 - Fotografia do microscópio óptico (b) e do microscópio eletrônico de varredura, com o EDS (b), utilizados neste trabalho.............................................. 80 Figura 21 - Fotografia do microdurômetro utilizado nas medidas de dureza (a) e equipamento utilizado nas medidas de módulo de elasticidade dinâmico, e seu respectivo porta amostra (b)....................................................................................81 Figura 22 - Representação do circuito eletroquímico experimental empregado para medir o potencial de corrosão (GENTIL, 1994)..................................................... 82 Figura 23 - Fotografia do sistema de tratamento térmico e dopagem de amostra....................................................................................................................85 Figura 24 - Diagrama do tratamento térmico de homogeneização de fase (a), do tratamento térmico referente à primeira tempera (b) e do tratamento térmico referente à segunda tempera (c).............................................................................. 86 Figura 25 - Gráfico do tratamento térmico para a primeira e segunda dopagem com oxigênio.................................................................................................................. 87 Figura 26 - Monitoração da pressão em função do tempo, para a primeira (a) e segunda (b) dopagem com oxigênio..................................................................................88 Figura 27 - Diagrama com todas as condições de processamento................................90 Figura 28 - Monitoramento por EDS dos elementos de que compõe a liga Ti-15Mo#0, região monitorada (a) e superposição dos elementos com a micrografia (b).............................................................................................................................92 J.R.S. Martins Jr 10 Figura 29 - Monitoramento por EDS dos elementos de que compõe a liga Ti-15Mo- 5Nb#0, região monitorada (a) e superposição dos elementos com a micrografia (b).............................................................................................................................92 Figura 30 - Monitoramento por EDS dos elementos de que compõe a liga Ti-15Mo- 10Nb#0, região monitorada (a) e superposição dos elementos com a micrografia (b).............................................................................................................................93 Figura 31 - Monitoramento por EDS dos elementos de que compõe a liga Ti-15Mo- 15Nb#0, região monitorada (a) e superposição dos elementos com a micrografia (b).............................................................................................................................93 Figura 32 - Monitoramento por EDS dos elementos de que compõe a liga Ti-15Mo- 20Nb#0, região monitorada (a) e superposição dos elementos com a micrografia (b).............................................................................................................................94 Figura 33 - Quantidade de gases na liga Ti-15Mo (a), Ti-15Mo-5Nb (b), Ti-15Mo- 10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo-20Nb (e), em todas as condições de processamento..........................................................................................................97 Figura 34 - Gráfico da densidade em função do teor de nióbio, para as ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, em todas as condições de processamento..........................................................................................................99 Figura 35 - (a) Difratograma de raios X para o titânio e (b) Ficha cristalográfica nº 99778-ICSD para o titânio, retirada do banco de dados ICSD (Inorganic Crystal Structure Database)................................................................................................100 Figura 36 - (a) Difratograma de raios X para o molibdênio e (b) Ficha cristalográfica nº 76415-ICSD para o molibdênio, retirada do banco de dados ICSD (Inorganic Crystal Structure Database)....................................................................................101 Figura 37 – (a) Difratograma de raios X para o nióbio e (b) ficha cristalográfica nº 645065-ICSD para o nióbio, retirada do banco de dados ICSD (Inorganic Crystal StructureDatabase).................................................................................................101 Figura 38 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #0, após fusão.................................................................102 Figura 39 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #0_TT, após fusão e tratamento térmico........................103 J.R.S. Martins Jr 11 Figura 40 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #1, após laminação.........................................................103 Figura 41 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #2, após laminação e tratamento térmico.......................104 Figura 42 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #3, após a primeira têmpera......................................... 104 Figura 43 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #4, após laminação e segunda têmpera..........................105 Figura 44 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #5, após primeira dopagem............................................105 Figura 45 - Comparação dos diftratogramas de raios X para as ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb na condição #4, após segunda dopagem.............................................106 Figura 46 - Difratogramas de raios X analisados pelo Método de Rietveld, para a amostra Ti-15Mo-5Nb#0 (a), Ti-15Mo-5Nb#0_TT (b), Ti-15Mo-5Nb#1 (c), Ti- 15Mo-5Nb#2 (d), Ti-15Mo-5Nb#3 (e), Ti-15Mo-5Nb#4 (f), Ti-15Mo-5Nb#5 (g) e Ti-15Mo-5Nb#6 (h)................................................................................................109 Figura 47 - Parâmetro de rede e posição dos picos (110) em função da concentração de nióbio, para as amostras do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição (a) após a fusão, (b) após tratamento térmico, (c) após a laminação, (d) após laminação e novo tratamento térmico, (e) após a primeira tempera, (f) após segunda tempera, (g) após a primeira dopagem e (h) após a segunda dopagem com oxigênio....................... 118 Figura 48 - Porcentagem da fase β das amostras do sistema Ti-15Mo-XNb em função da concentração de nióbio, na condição (a) após fusão, (b) após tratamento térmico, (c) após a laminação, (d) após laminação e novo tratamento térmico, (e) após a primeira tempera, (f) após segunda tempera, (g) após a primeira dopagem e (h) após a segunda dopagem com oxigênio.................................................................119 Figura 49 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após a fusão.......................................................................................................................122 Figura 50 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após o tratamento térmico..................................................................................................123 Figura 51 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após J.R.S. Martins Jr 12 laminação ..............................................................................................................124 Figura 52 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após laminação e tratamento térmico.............................................................................125 Figura 53 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após primeira têmpera....................................................................................................127 Figura 54 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após segunda têmpera.....................................................................................................128 Figura 55 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após primeira dopagem com oxigênio............................................................................129 Figura 56 - Micrografias das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após segunda dopagem com oxigênio............................................................................130 Figura 57 - Valores de dureza em função da concentração de nióbio, para as ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após laminação e tratamento térmico..............................132 Figura 58 - Módulo de elasticidade dinâmico em função do teor de Nb, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após laminação e tratamento térmico, medido à temperatura ambiente (30K)..................................133 Figura 59 - Potencial de circuito aberto em função do tempo, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após laminação e tratamento térmico................................................................................................................... 135 Figura 60 - Curva de polarização anódica potenciodinâmica para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após laminação e tratamento térmico.........................136 Figura 61 - Analise do potencial de corrosão para as amostras das ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb, após a laminação e tratamento térmico, em função da concentração de nióbio......................................................................................................................138 Figura 62 - Análise da redução do MTT de células NIH3T3 tratadas com meio condicionado com ligas Ti Cp; Ti-15Mo #2; Ti-15Mo-5Nb #2; Ti-15Mo-10 Nb#2; Ti-15Mo-15Nb#2; Ti-15Mo-20Nb#2; além do controle, nos períodos de 24, 48 e 72 horas...................................................................................................................... 139 Figura 63 - Análise do cristal violeta de células NIH3T3 tratadas com meio condicionado com ligas Ti Cp; Ti-15Mo #2; Ti-15 Mo-5Nb #2; Ti-15 Mo-10Nb #2; Ti-15Mo-15Nb #2; Ti-15Mo-20Nb #2; além do controle, nos períodos de 24, J.R.S. Martins Jr 13 48 e 72 horas..........................................................................................................141 Figura 64 - Microdureza do sistema Ti-15Mo-XNb, para todas as condições de precessamento........................................................................................................143 Figura 65 - Valores de microdureza para as amostras das ligas Ti-15Mo (a), Ti-15Mo- 5Nb (b), Ti-15Mo-10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo-15Nb (e), em todas as condições de processamento estudadas..................................................................144 Figura 66 - Módulo de elasticidade dinâmico para as amostras das ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb em todas as condições de processamento..........................................145 Figura 67 - Valores de módulo de elasticidade dinâmico, para as amostras da liga Ti- 15Mo (a), Ti-15Mo-5Nb (b), Ti-15Mo-10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo- 20Nb (e), em todas as condições de processamento, após laminação e novo tratamento térmico.................................................................................................147 Figura 68 - Valores de microdureza para as amostras das ligas Ti-15Mo (a), Ti-15Mo- 5Nb (b), Ti-15Mo-10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo-20Nb (e), em função do teor de oxigênio................................................................................................150 Figura 69 – Valores de módulo de elasticidade para as amostras da liga Ti-15Mo (a), Ti-15Mo-5Nb (b), Ti-15Mo-10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo-20Nb (e), em função do teor de oxigênio.....................................................................................152 Figura 70 – Valores de microdureza para as amostras da liga Ti-15Mo (a), Ti-15Mo- 5Nb (b), Ti-15Mo-10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo-20Nb (e), em função do teor de oxigênio................................................................................................155 Figura 71 – Valores de módulo de elasticidade para as amostras das ligas Ti-15Mo (a), Ti-15Mo-5Nb (b), Ti-15Mo-10Nb (c), Ti-15Mo-15Nb (d) e Ti-15Mo-20Nb (e), em função do teor de oxigênio.....................................................................................156 J.R.S. Martins Jr 14 Lista de Tabelas Tabela 1 - Algumas propriedades físicas e químicas do titânio (LIDE, 1999)...............................................................................................................27 Tabela 2 - Algumas propriedades físicas e químicas do molibdênio (LIDE, 1999)...............................................................................................................28 Tabela 3 - Algumas propriedades físicas e químicas do nióbio (LIDE, 1999).........29 Tabela 4 - Raios dos vazios intersticiais da estrutura hexagonal compacta α e da estrutura cúbica de corpo centrado β do titânio (CONRAD, 1981)...................... 40 Tabela 5 - Valores de Bo e Md para elementos de liga de Ti (ABDEL-HADY, 2006).........................................................................................................................55 Tabela 6 - Valores de oB e dM calculados para as ligas do sistema Ti-15Mo-XNb utilizadas neste trabalho...........................................................................................57 Tabela 7 - Nomenclatura das amostras utilizadas neste trabalho..................................89 Tabela 8 - Composição química das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb...........................91 Tabela 9 - Composição química do sistema Ti-15Mo-XNb obtida pelo EDS..............94 Tabela 10 - Concentração dos gases presentes nas amostras utilizadas neste trabalho.....................................................................................................................95 Tabela 11 - Densidade das amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb....................98 Tabela 12 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para os difratogramas de raios X, obtidos para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após a fusão..........110 Tabela 13 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após tratamento térmico...................................................110 Tabela 14 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após laminação.................................................................110 Tabela 15 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após laminação e tratamento térmico....................... 110 Tabela 16 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após a primeira tempera..................................................111 Tabela 17 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após a segunda tempera...................................................111 J.R.S. Martins Jr 15 Tabela 18 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após a primeira dopagem.................................................111 Tabela 19 - Parâmetros estatísticos do refinamento, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após a segunda dopagem.................................................111 Tabela 20 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após a fusão......................................................................................................................112 Tabela 21 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após tratamento térmico....................................................................................................................112 Tabela 22 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após laminação.....112 Tabela 23 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após laminação e tratamento térmico..................................................................................................112 Tabela 24 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após a primeira tempera...................................................................................................................113 Tabela 25 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após segunda tempera...................................................................................................................113 Tabela 26 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após a primeira dopagem.................................................................................................................113 Tabela 27 – Valores encontrados para a proporção de fases e parâmetros de rede, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após a segunda dopagem.................................................................................................................114 Tabela 28 - Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após a fusão............................................................................................................114 J.R.S. Martins Jr 16 Tabela 29 - Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após tratamento térmico.........................................................................................114 Tabela 30 – Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após laminação.......................................................................................................114 Tabela 31 - Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas Ti-15Mo-XNb, na condição após laminação e tratamento térmico..............................................................................115 Tabela 32 - Valores encontrados para a posição angular dos planos, em graus, cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após a primeira tempera.........................................................................................115 Tabela 33 - Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após segunda tempera.............................................................................................115 Tabela 34 - Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após primeira dopagem..........................................................................................115 Tabela 35 – Valores encontrados para a posição angular, em graus, dos planos cristalográficos, para as amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, na condição após segunda dopagem...........................................................................................116 Tabela 36 – Potenciais de corrosão e densidade de corrente para as amostras das ligas Ti-15Mo-XNb após laminação e tratamento térmico. ...........................................137 Tabela 37 – Valores da porcentagem de fase �’ e quantidade de oxigênio nas amostras das ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após as têmperas.......................................... 149 Tabela 38 – Valores da proporção da da fase �’ e do teor de oxigênionas ligas do sistema Ti-15Mo-XNb, após as dopagens com oxigênio.......................................153 J.R.S. Martins Jr 17 Sumário 1 – Introdução: .............................................................................................................. 21 2 – Objetivos...... ........................................................................................................... 25 3 – Revisão Bibliográfica ............................................................................................. 26 3.1- Titânio .................................................................................................................... 26 3.2 - Molibdênio: ............................................................................................................ 28 3.3- Nióbio ..................................................................................................................... 29 3.4 – O sistema Ti-15Mo-XNb ....................................................................................... 30 3.5 – Tipos de Ligas de titânio ....................................................................................... 36 3.5.1 – Ligas de titânio com fase α ............................................................................ 37 3.5.2 – Ligas de titânio com fase β ............................................................................ 37 3.5.3 – Fases martensiticas α’ e α’’ .......................................................................... 37 3.5.4 – Fase omega (ω) .............................................................................................. 38 3.6 – Diagrama Ti-O ....................................................................................................... 38 3.7 – Efeito do Oxigênio: ............................................................................................... 41 3.7.1 – Mecanismo de Gaseificação com Oxigênio .................................................. 42 3.8 – Corrosão ................................................................................................................ 45 3.8.1 – Corrosão em Ligas de Titânio ....................................................................... 46 3.9 – Biocompatibilidade ................................................................................................ 49 4 – Fundamentos Teóricos: ......................................................................................... 52 4.1 - Modelos teóricos para o desenvolvimento de ligas de titânio com baixo módulo de elasticidade .............................................................................................................. 52 4.2 – Caracterização Química ......................................................................................... 57 4.2.1 – Composição qúimica ..................................................................................... 58 4.2.2 – Análise de gases............................................................................................. 58 4.2.3 – Densidade ..................................................................................................... 59 4.3 – Caracterização Estrutural ....................................................................................... 59 J.R.S. Martins Jr 18 4.3.1 –Difração de raios X .......................................................................................... 60 4.3.2 – Método de Rietveld ....................................................................................... 61 4.3.2.1 – Descrição do método ................................................................................ 61 4.3.2.2 – Indicadores estatísticos ............................................................................. 64 4.4 – Caracterização Microestrutural.............................................................................. 65 4.4.1 – Microscópia óptica ........................................................................................ 65 4.4.2 – Microscópia eletrônica de varredura ............................................................. 66 4.4.2.1 – Espectroscopia de energia dispersiva ...................................................... 66 4.5 – Caracterização Mecânica ....................................................................................... 67 4.5.1 – Dureza ............................................................................................................ 67 4.5.2 – Módulo de elasticidade .................................................................................. 68 4.6 – Caracterização Eletroquímica ................................................................................ 69 4.7 – Caracterização Biológica ....................................................................................... 70 4.8 – Difusão .................................................................................................................. 71 5 - Parte Experimental ................................................................................................. 72 5.1- Obtenção das ligas ................................................................................................. 72 5.2 - Laminação .............................................................................................................. 74 5.3 - Caracterização das Amostras ............................................................................... 75 5.3.1 – Caracterização química..................................................................................... 76 5.3.1.1 – Composição química .................................................................................. 76 5.3.1.2 – Análise de gases.......................................................................................... 76 5.3.1.3 – Densidade .................................................................................................. 77 5.3.1.4 – Espectroscopia de energia dispersiva ....................................................... 77 5.3.2 – Caracterização Estrutural ................................................................................... 78 5.3.3 – Caracterização Microestrutural......................................................................... 78 5.3.3.1 – Microscópia óptica ..................................................................................... 78 5.3.3.2– Microscópia eletrônica de varredura .......................................................... 79 5.3.4 – Caracterização Mecânica .................................................................................. 80 5.3.4.1. – Microdureza .............................................................................................. 80 5.3.4.2 – Módulo de elasticidade ............................................................................... 81 5.3.5– Caracterização Eletroquimica ............................................................................ 81 J.R.S. Martins Jr 19 5.3.6– Caracterização Biológica ................................................................................... 83 5.3.6.1. – Cultura de células ...................................................................................... 83 5.4 - Tratamentos térmicos ........................................................................................... 84 5.4.1. Tratamento térmico de homogeinização.......................................................... 85 5.4.2 – Têmpera ......................................................................................................... 86 5.4.3 – Dopagem com oxigênio ................................................................................. 87 6 – Resultados e Discussão ........................................................................................... 89 6.1 – Caracterização Química ......................................................................................... 90 6.1.1 – Composição química ..................................................................................... 90 6.1.2 – Espectroscopia de energia dispersiva ........................................................... 91 6.1.3 – Análisde de gases........................................................................................... 94 6.1.4 – Densidade ..................................................................................................... 96 6.2 – Caracterização Estrutural .................................................................................... 100 6.2.1 – Difração de raios X ....................................................................................... 100 6.2.2 – Análise pelo Método de Rietveld ................................................................. 107 6.3 – Caracterização Microestrutural.......................................................................... 120 6.3.1 – Microscopia óptica e eletronica de varreura (MEV) ................................... 120 6.4 – Caracterização Mecânica ..................................................................................... 131 6.4.1– Microdureza ................................................................................................ 131 6.4.2– Módulo de elasticidade ............................................................................... 133 6.5 – Caracterização Eletroquímica ............................................................................ 134 6.6 – Caracterização Biológica ................................................................................... 139 6.6.1 – Redução do MTT ..................................................................................... 139 6.6.2 – Cristal de violeta ...................................................................................... 140 6.7 – Influência do processamento em algumas propriedades mecanicas selecionadas para as ligas do sistema Ti-15Mo-XNb ................................................................. 142 6.7.1 – Microdureza ............................................................................................... 142 6.7.2 – Módulo de elasticidade .............................................................................. 145 6.8 – Influência das têmperas em algumas propriedades mecanicas selecionadas para as ligas do sistema Ti-15Mo-XNb ............................................................................. 146 6.8.1 – Microdureza ............................................................................................... 148 J.R.S. Martins Jr 20 6.8.2 – Módulo de elasticidade .............................................................................. 151 6.9 – Influência do oxigênio em algumas propriedades mecanicas selecionadas para as ligas do sistema Ti-15Mo-XNb ............................................................................. 153 6.9.1 – Microdureza ............................................................................................... 154 6.9.2 – Módulo de elasticidade .............................................................................. 154 7 - Conclusões ..............................................................................................................158 8 – Trabalhos Futuros ................................................................................................ 160 9 - Referências ..............................................................................................................161 J.R.S. Martins Jr 21 1 – INTRODUÇÃO Os seres humanos, à medida que vão envelhecendo, certas funções do seu corpo vão sendo deterioradas ou mesmo perdidas. A perda de algumas funções também pode ocorrer por meio de traumas dos mais diversos tipos, originários de acidentes automobilísticos, armas de fogo, acidentes de trabalho, ou mesmo em práticas esportivas. Assim, muitas vezes se torna necessário o uso de partes artificiais ou próteses. Desta forma, os biomateriais usados nesses reparos ou restaurações representam um ajuste nas características e propriedades do corpo humano (RATNER, 2004; OREFICE, 2005). O desenvolvimento da área de biomateriais se deu levando em consideração a combinação adequada entre propriedades físicas e químicas próximas ao tecido substituído bem como sua biocompatibilidade. Materiais metálicos que apresentam essa ótima combinação são o titânio e suas ligas. Desta forma, estes materiais têm sido vastamente utilizados na fabricação de próteses e dispositivos especiais nas áreas médica e odontológica desde 1970, devido às suas propriedades como baixos valores de Módulo de Elasticidade (Módulo de Young), alta resistência à corrosão e características de biocompatibilidade (KHAN, 1999; PARK, 2007). Entretanto, os valores do Módulo de Young destes materiais ainda são cerca de 2-4 vezes superiores aos do osso humano. A metalurgia do titânio mostra que este elemento é o único metal leve que apresenta dimorfismo, isto é, passa por uma transformação alotrópica em torno de 885 ºC, passando de uma estrutura cristalina hexagonal compacta (fase �) para uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (fase �). Quando são adicionados elementos para formar ligas, esta temperatura de transição aumenta ou diminui (BOYER, 1985). Com relação à sua microestrutura, as ligas de titânio podem ser classificadas em cinco categorias: �, quase-� (quando coexistem as duas fases com predominância da �), �-�, quase-� (quando coexistem as duas fases com predominância da �) ou �. Cada uma destas fases denota o tipo geral de microestrutura presente após o tratamento térmico e o processamento da liga. Os elementos substitucionais possuem um papel importante no controle da microestrutura e propriedades de ligas de titânio (LÜTJERING, 2003; LEYENS, 2005). J.R.S. Martins Jr 22 Os elementos que estabilizam a fase � são aqueles que incrementam a temperatura na qual a fase � é estável. Os elementos mais importantes que se comportam desta maneira são o alumínio, o oxigênio, o carbono e o nitrogênio. Já os elementos que estabilizam a fase � são aqueles que permitem que esta fase seja estável em temperaturas menores que a transição �. Destacam-se como � estabilizadores o vanádio, o molibdênio e o tântalo (STEINEMANN, 1980). A partir dos diagramas de equilíbrio que mostram o titânio ligado com diferentes elementos substitucionais, a realização de uma classificação das ligas de titânio é imediata, seguindo a fase da liga à temperatura ambiente. A liga Ti-6Al-4V é uma das ligas de titânio mais utilizada para aplicações biomédicas. Quanto maior for o conteúdo de oxigênio, nitrogênio, ou vanádio, maior será sua resistência e o inverso, quanto menor for o conteúdo destes elementos, maior será a tenacidade à fratura, a ductilidade e a resistência à corrosão. Entretanto, já entre as décadas de 60 e 80 foi descoberto que o vanádio causa efeitos citotóxicos (LAING, 1967) e reações adversas em alguns tecidos (MCLACHLAN, 1983), enquanto o alumínio tem sido associado com desordens neurológicas (PERL, 1980). Assim, muitas pesquisas têm procurado alternativas à liga Ti-6Al-4V, na tentativa de se obter ligas com resistência mecânica similar (ou mais elevada), menor módulo de elasticidade e maior biocompatibilidade. As ligas mais promissoras são as que apresentam nióbio, zircônio e tântalo como elementos de liga, adicionados ao titânio. Recentemente, entre as ligas contendo elementos estabilizadores da fase β (nióbio, tântalo, zircônio e molibdênio), destacam-se as ligas Ti-29Nb-13Ta, Ti-29Nb- 13Ta-4Mo, Ti-13Nb-13Zr, Ti-35Nb-7Zr-5Ta e Ti-15Mo (GEETHA, 2009). Estudos anteriores mostram que nióbio, zircônio, molibdênio e tântalo são os elementos de liga mais satisfatórios que podem ser adicionados para diminuir o módulo de elasticidade de ligas de titânio com estrutura cúbica de corpo centrado (fase �), sem comprometer a resistência mecânica (HO, 1999; SUKEDAI, 2002; ZHANG, 2005; GUO e ENOMOTO, 2006). Após a descoberta de Bania e colaboradores (1993), de que era necessário no mínimo 10% em peso de molibdênio para se reter a fase � na microestrutura de ligas de titânio depois de um resfriamento para a temperatura J.R.S. Martins Jr 23 ambiente, diversas pesquisas foram realizadas em ligas de Ti-10Mo contendo várias concentrações de elementos substitucionais adicionados à liga. Desta forma as ligas que são compostas por titânio, molibdênio e nióbio integram uma nova classe de ligas à base de titânio, sem a presença de alumínio e vanádio (que apresentam citotoxicidade) e que possuem baixos valores do módulo de Young (abaixo de 100 GPa). Isto ocorre pelo fato destas ligas possuírem estrutura �, bastante atraentes para o emprego como biomateriais (GEETHA, 2009; HO, 1999). Neste tipo de liga, as variáveis de processamento podem ser controladas mais facilmente em relação às ligas � e �-�, objetivando a obtenção de propriedades melhoradas como menor módulo de elasticidade, aumento da resistência corrosão e melhor resposta do tecido ósseo (NIINOMI, 2008). Além disso, o Brasil possui cerca de 90% das reservas mundiais de nióbio, sendo responsável por 95% da produção mundial (DNPM, 2013). Desta forma, do ponto de vista econômico e estratégico, é muito importante que se invista em pesquisa tanto na questão do processamento quanto do desenvolvimento de metais que contenham nióbio, já que o Brasil lidera a produção mundial deste metal. Muitos trabalhos de pesquisa estão sendo desenvolvidos para caracterizar o comportamento mecânico e bioquímico, em função dos processos de obtenção e tratamentos termomecânicos, que exercem grande influência nas propriedades das ligas de titânio com estrutura � (GEETHA, 2009) e a presença de elementos intersticiais (oxigênio, carbono, nitrogênio e hidrogênio) altera de maneira significativa as propriedades mecânicas da liga, principalmente suas propriedades elásticas, causando seu endurecimento ou fragilização (NOWICK, 1972; PUSKAR, 2001). Neste trabalho, estudou-se a adição de oxigênio e tratamentos térmicos, considerando seu efeito nas propriedades mecânicas, eletroquímicas e citotoxicidade de ligas do sistema Ti-15%pMo-XNb (0, 5, 10, 15 e 20% em peso). Estas ligas tem poucos estudos quanto ao seu uso como biomateriais, e nenhum quanto à analise do efeito oxigênio presente em solução sólida, caracterizando assim a originalidade do trabalho. O texto apresenta a maneira como as ligas foram preparadas e os resultados das caracterizações realizadas utilizando composição química, difração de raios X (com análise dos difratogramas pelo Método de Rietveld), microscopia óptica, microscopia J.R.S. Martins Jr 24 eletrônica de varredura, espectroscopia por energia dispersiva (EDS) e medidas de densidade em todas as oito condições estudadas neste trabalho. Também será apresentado o estudo do efeito do elemento substitucional nióbio na microdureza, módulo de elasticidade, resistência a corrosão e na citotoxicidade das ligas preparadas, além da influência do oxigênio na estrutura, microestrutura e propriedades mecânicas selecionadas, como módulo de elasticidade e microdureza. J.R.S. Martins Jr 25 2 - OBJETIVOS O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de tratamentos térmicos, do elemento substitucional nióbio e do elemento intersticial oxigênio em solução sólida, na estrutura, microestrutura, em propriedades mecânicas selecionadas (módulo de elasticidade e microdureza), propriedades eletroquímicas e citotoxicidade de ligas do sistema Ti-15Mo-XNb (X = 0, 5, 10, 15 e 20% em peso de nióbio). J.R.S. Martins Jr 26 3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste Capítulo serão apresentadas as principais propriedades dos elementos que constituem o sistema Ti-15Mo-XNb, com um breve histórico de cada elemento, a fonte e métodos de obtenção e suas principais aplicações. Também serão apresentadas tabelas que mostram as principais propriedades físicas e químicas destes elementos. Quanto ao sistema Ti-Mo-Nb, será apresentado o seu diagrama de fases e uma revisão dos trabalhos encontrados na literatura envolvendo ligas desse sistema quanto à estrutura, microestrutura, comportamento mecânico e suas aplicações. 3.1 Titânio O elemento titânio foi descoberto em 1791, sendo o nono elemento mais abundante na Terra, com uma concentração média de 0,8 % em peso e, entre os metais de transição, é o quarto. Porém, sua existência em concentrações economicamente não é muito frequente, exceto como rutilo (TiO2) ou ilmenita (FeO.TiO2) (LÜTJERING, 2003; LEYENS, 2005). No ano de 1937, Kroll desenvolveu um processo para a obtenção de titânio, consistindo na redução no TiCl4 com magnésio numa atmosfera de argônio, para evitar oxidação. Este foi o primeiro processo que permitiu a obtenção de quantidades apreciáveis de titânio puro sendo o processo utilizado até hoje (LÜTJERING, 2003; LEYENS, 2005). Em meados da década de cinquenta do século passado, o governo americano financiou estudos relativos ao titânio e suas ligas, uma vez que, devido às suas excelentes propriedades, caracterizadas por uma densidade reduzida, uma ótima relação resistência mecânica/densidade, excelente resistência a corrosão e um bom comportamento a temperaturas elevadas, as ligas de titânio constituíam um material muito útil para a indústria aeroespacial e militar, além da biomédica (LIDE,1999). O titânio sendo um elemento de transição, cuja estrutura eletrônica apresenta uma camada d incompleta. Tal estrutura eletrônica permite que o titânio forme soluções sólidas com muitos elementos substitucionais, com um fator de tamanho atômico de até 20% (LIDE,1999). J.R.S. Martins Jr 27 O titânio apresenta uma excelente resistência à corrosão, já que suporta o ataque dos ácidos inorgânicos, da maioria dos orgânicos e do cloro. Ele reage muito rapidamente com oxigênio, nitrogênio, carbono e hidrogênio. Esta reatividade depende fortemente da temperatura, sendo que à altas temperaturas, a reatividade do titânio aumenta exponencialmente. Em temperaturas acima de 700 ºC, estes elementos podem difundir-se intersticialmente através da rede cristalina (LIDE,1999). Os estudos realizados até o momento mostram que a biocompatibilidade do titânio é excelente (PARK, 2007) Esta propriedade, junto à elevada razão resistência mecânica/densidade, seu baixo módulo de elasticidade e sua resistência à corrosão, caracterizam o titânio como um metal excelente para ser utilizado na confecção de próteses articulares, implantes dentários e outras aplicações em medicina (LIDE,1999). A Tabela 1 apresenta algumas propriedades físicas e químicas do titânio. Tabela 1 - Algumas propriedades físicas e químicas do titânio (LIDE, 1999). Propriedades do titânio Número atômico 22 Massa atômica (g/mol) 47,88 Raio atômico (nm) 0,1448 Valência +2, +3 e +4 Eletronegatividade 1,54 Ponto de fusão (ºC) 1.668 Ponto de ebulição (ºC) 3.287 Estrutura Cristalina T < 882 ºC α (HC) T > 882 ºC β (CCC) Parâmetros de rede cristalina (nm) α a = 0,295; c = 0,468 β a = 0,332 (900 ºC) Temperatura de transição de fase (º) (882 ± 2) Módulo de elasticidade (GPa) 110 Densidade (g.cm-3) fase α (20 ºC) 4,51 fase β (885 ºC) 4,35 J.R.S. Martins Jr 28 3.2 Molibdênio: Os compostos de molibdênio foram confundidos com os de outros elementos como o carbono e chumbo até o século XVIII. Em 1778, Scheele reagiu o mineral molibdenita (MoS2) com ácido nítrico, obtendo um composto com propriedades ácidas que chamou de "acidum molibdenae" (a palavra molibdênio provém do grego "molybdos" que quer dizer como o chumbo, pois era confundido com este elemento). Em 1782, Hjelm isolou o metal puro mediante a redução do mineral molibdenita anterior com carbono (LIDE, 1999). O molibdênio é um metal de transição. Na forma pura, é de coloração branca prateada. Este metal possui um dos mais altos pontos de fusão entre todos os elementos. Em pequenas quantidades, é aplicado em diversas ligas para endurecimento e torná-las resistentes à corrosão. Este metal também tem aplicações na produção de energia nuclear, em mísseis, partes de aeronaves e na indústria petroquímica. Em razão do alto ponto de fusão, é muito útil como lubrificante em ambientes que exigem altas temperaturas. Exerce também um importante papel biológico, sendo um nutriente para animais e plantas (LIDE, 1999). A Tabela 2 apresenta algumas propriedades físicas e químicas do molibdênio. Tabela 2 - Algumas propriedades físicas e químicas do molibdênio (LIDE, 1999). Propriedades do molibdênio Número atômico 42 Massa atômica (g/mol) 95,94 Raio atômico (nm) 0,139 Valência + 6 Eletronegatividade 2,16 Ponto de fusão (ºC) 2.623 Ponto de ebulição (ºC) 4.639 Estrutura Cristalina CCC Paramêtros de rede cristalina (nm) a = b = c = 0,31653 Densidade (g.cm-3) 10,23 J.R.S. Martins Jr 29 3.3 Nióbio O elemento nióbio foi descoberto no inicio do século XIX por Hatchett. O metal foi isolado pela primeira vez em 1864 por Blomstrand, que reduziu o cloreto por aquecimento, numa atmosfera de hidrogênio. O nome nióbio foi adotado pela União Internacional de Química Pura e Aplicada em 1950 (LIDE, 1999). Grandes quantidades de nióbio foram encontradas associadas com carbonatos (carbono-silicato de rochas), como um constituinte do pirocloro. Extensas reservas do minério são encontradas no Canadá, Brasil, Nigéria, Zaire e na Rússia. Dentre estes países destaca se o Brasil pois, possui cerca de 90% das reservas mundiais de nióbio, sendo responsável por 95% da produção mundial (DNPM, 2013). O metal pode ser isolado do tântalo e preparado de diversas maneiras. É um metal brilhante, branco, macio e dúctil, e assume um tom azulado quando exposto ao ar em temperatura ambiente por um longo tempo. O metal começa a oxidar em ar a 200 ºC e, quando processados em temperaturas moderadas, o mesmo deve ser colocado em uma atmosfera protetora (LIDE, 1999). Tabela 3 - Algumas propriedades físicas e químicas do nióbio (LIDE, 1999). Propriedades do nióbio Número atômico 41 Massa atômica (g/mol) 92,90638(2) Raio atômico (nm) 0,146 Valência + 2,+3,+4 Eletronegatividade 2,16 Ponto de fusão (ºC) 2.477(10) Ponto de ebulição (ºC) 4.744 Estrutura Cristalina CCC Paramêtros de rede cristalina (nm) a = b = c = 3,3007 Densidade (g.cm-3) 8,57 J.R.S. Martins Jr 30 3.4 O Sistema Ti-Mo-Nb O sistema Ti-Mo-Nb, é um sistema relativamente novo, principalmente quanto ao seu estudo de propriedades visando sua aplicação como biomateriais, existindo poucos trabalhos na literatura. Os poucos trabalhos encontrados na literatura mostram que as ligas deste sistema possuem alto valor de microdureza, baixo módulo de elasticidade (quando comparado ao aços), alta resistência à compressão e alto limite escoamento quando comparados com o titânio e outros materiais tradicionais (GABRIEL, 2008; XU, 2013). Além disso, este sistema possui o efeito de memória de forma, como as ligas binárias do sistema Ti-Nb (NIINOMI, 2008). Este sistema já possui um diagrama de fases de equilíbrio, proposto por Korlinov e Polyakov (1958) e que são mostrados na Figura 1, com isoterma a 600 °C e na Figura 2, com isoterma a 1000 °C. Neste diagrama, podemos observar que as composições Ti-15Mo, Ti-15Mo-5Nb, Ti-15Mo- 10Nb, Ti-15Mo-15Nb e Ti-15Mo-20Nb, que são as ligas a serem estudadas neste trabalho e que estão presentes no campo β. Figura 1 - Diagrama ternário do sistema Ti-Mo-Nb com a isoterma de 600 ºC (KORLINOV, 1958). A liga Ti-15Mo faz parte do sistema Ti-Mo-Nb (com 0% em peso de nióbio) e foi exaustivamente estudada, sendo inclusive normatizada pela ASTM (ASTM F2066- 08, 2008). A Figura 3 mostra o diagrama de fases para o sistema Ti-Mo. Pode ser J.R.S. Martins Jr 31 observado na figura, que estão presentes as fases (βTi, Mo), cuja concentração pode variar de 0 para até 100% em peso de molibdênio, acima da temperatura de transição do titânio puro (882ºC) e (α Ti), em que a solubilidade é no máximo de 0,8% em peso de molibdênio. No sistema Ti-15Mo-XNb, há a satisfação plena das regras de Hume-Rothery (SHACKELFORD, 2008) de acordo com os valores apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3: a) a diferença nos raios atômicos do titânio, molibdênio e nióbio é menor que 15%; b) eles possuem a mesma estrutura cristalina; c) a eletronegatividade é próxima; d) eles possuem a mesma valência química. Figura 2 - Diagrama ternário do sistema Ti-Mo-Nb com a isoterma de 1100º C (KORLINOV, 1958). Como os pontos de fusão do titânio, molibdênio e nióbio são muito diferentes (1.668, 2.623 e 2.477 ºC, respectivamente), é bastante difícil se obter grande homogeneidade de molibdênio e nióbio, podendo ocorrer a formação de segregados, termo que se refere à possível formação de regiões com distribuição não homogênea dos elementos de liga. J.R.S. Martins Jr 32 Figura 3 - Digrama de fases do sistema Ti-Mo (LIDE, 1999). Martins Jr e colaboradores (2011), prepararam a liga Ti-15Mo pela técnica de fusão à arco-voltaico, que posteriormente passou por forjamento rotativo, sendo medidos o módulo de elasticidade, microdureza e biocompatibilidade, e verificou-se que ela possui menor módulo de elasticidade e maior dureza que o titânio comercialmente puro. Também foram realizados ensaios de biocompatibilidade, sendo que os ensaios de citotoxicidade indireta e viabilidade celular mostraram que a liga teve respostas satisfatórias. Em outro artigo, Martins Jr e coloboradores (2012A) estudaram a difusão de oxigênio e nitrogênio, presentes em solução sólida intersticial na liga Ti-15Mo, por meio de medidas de espectroscopia mecânica, utilizando um pêndulo de torção, obtendo o coeficiente de difusão e energia de ativação para a difusão destes elementos intersticiais liga, em várias condições de processamento. Num outro estudo, Martins Jr e Grandini (2012B) analisaram a estrutura e microestrutura da liga Ti-15Mo em seis condições de processamento, utilizando o Método de Rietveld, sendo observadas variações nas intensidades dos picos da difração de raios X, que foram atribuídas ao J.R.S. Martins Jr 33 aumento da concentração de fase α’. Eles também analisaram a variação do tamanho de cristalito e microdeformação da rede cristalina e concluíram que os tratamentos térmicos de homogeneização diminuíram os valores de microdeformação e aumentaram o tamanho de cristalito. A influência do teor de oxigênio na microestrutura, nas propriedades mecânicas e na biocompatilidade da liga Ti-15Mo utilizada para aplicações biomédicas, foi estudada por Martins Jr e colaboradores (2014A), que observaram que a liga possui maior microdureza em relação ao Ti comercialmente puro e que os resultados são sensíveis à concentração de oxigênio e à microestrutura da liga, sendo assim interdependentes. Os resultados de módulo de elasticidade mostraram que a microestrutura e a concentração de intersticiais influenciam seu valor, sendo possível verificar isto ao longo das varias condições que as amostras foram submetidas. O módulo de elasticidade encontrado para esta liga variou de 86 a 100 GPa. Estes valores são próximos aos valores encontrados na literatura para ligas de titânio do tipo β. Os testes de biocompatibilidade realizados in vitro, mostraram-se mais próximos do controle negativo, mostrando que o material não é citotóxico. Com as imagens de microscopia eletrônica de varredura foi possível mostrar a morfologia celular, observando a fixação e desenvolvimento celular, ou seja, as várias condições de processamento não alteraram a biocompatibilidade do material. Xu e colaboradores (2008) analisaram a microestrutura e propriedades mecânicas das ligas Ti-10Mo-XNb (X = 3, 5 e 7 % em peso), sendo verificado que na composição com 3% em peso de nióbio, a fase � está dispersa na matriz � da liga e que para as composições entre 5 e 7 % em peso de nióbio, foi observada apenas a fase �. Essas ligas possuem um alto valor de microdureza estando em torno de 394-441 HV e além disso, possuem alta resistência à compressão 1.717-1.918 MPa e alto limite de escoamento 1.404-1.854 MPa. Também possuem um baixo módulo de elasticidade e à medida que se aumenta a concentração de nióbio, diminui-se o módulo de elasticidade, e aumenta a resistência à compressão. Gabriel e colaboradores (2008), estudaram a série de ligas Ti-10Mo-XNb (X = 3, 6, 9, 20 e 30 % em peso), quanto à caracterização microestrutural, estabilização da fase � e propriedades mecânicas como microdureza e módulo de elasticidade. Assim como Xu e colaboradores (2008), foi verificado que com teores acima de 3 % em peso J.R.S. Martins Jr 34 de nióbio, observa-se uma matriz apenas com fase �. Quanto aos resultados de microdureza, os mesmos estão em concordância com Xu e colaboradores (2008), pois à medida que se aumenta a concentração de nióbio observa-se uma diminuição no valor da microdureza. Quanto ao módulo de elasticidade foi verificado que a partir do teor de 6 % em peso de nióbio, existe uma diminuição do módulo de elasticidade, ficando próximo de 100 GPa para a composição de 30 % em peso de nióbio. Para as demais ligas, os valores sempre foram abaixo, se comparado com o titânio comercialmente puro e a liga Ti-6Al-4V. Em outro artigo, Gabriel e colaboradores (2010) estudaram o efeito do nióbio sobre a microdureza e módulo de elasticidade das ligas do sistema Ti-10Mo- XNb (X = 3, 6 e 9 % em peso de nióbio) tratadas termicamente. A microestrutura foi caracterizada por microscopia óptica, difração de raios X e microscopia eletrônica de transmissão. Também foram realizadas medidas de microdureza e módulo de elasticidade. Foi observado que a adição de nióbio diminui a proporção de fases � e �’, e que dentre as ligas analisadas, a que apresentou melhor combinação de modulo de elasticidade e dureza, foi a liga Ti-10Mo-6Nb, inclusive se comparada ao titânio comercialmente puro e Ti-6Al-4V. Gabriel e coloboradores (2013), num artigo posterior, estudaram a liga Ti-12Mo-3Nb onde foi realizado um tratamento a 1.223 K por uma hora, sendo analisada a estrutura e a microestrutura desta liga usando as técnicas de difração de raios X e microscopia eletrônica de varredura, onde observou-se somente a fase �. O módulo de elasticidade foi obtido utilizando a técnica de nanoindentação, onde obteve-se um módulo de cerca de 25% menor que a liga Ti-6Al- 4V. A curva tensão-deformação obtida a partir do ensaio de tração mostrou que a liga Ti-12Mo-3Nb, possui uma boa combinação de propriedades mecânicas e sendo mais dúctil que outras ligas como Ti-15Mo e Ti-6Al-4V. O comportamento eletroquímico foi obtido utilizando a técnica de polarização potenciodinâmica e a solução eletrolítica utilizada foi a Ringer, onde se obteve um potencial de corrosão de 45 mV (Ag/AgCl), mostrando que tem ótima resistência à corrosão se comparada à liga Ti-6Al-4V, que possui -140 mV (Ag/AgCl). Al-Zain e colaboradores (2010) estudaram as propriedades de memória de forma do sistema Ti-Nb-Mo. Neste trabalho, foi estudada uma série de ligas Ti-(12-28)Nb-(0- 4)Mo, sendo que o molibdênio foi adicionado nas ligas Ti-Nb para aumentar a J.R.S. Martins Jr 35 superelasticidade, onde foram analisadas a microestrutura, a temperaturas de transformação e propriedades mecânicas. Na liga Ti-23Nb-1Mo verificou-se apenas a matriz �. Quando o teor de molibdênio foi aumentado para 2 % em peso, a fase � era retida completamente para teores acima de 16 % em peso de nióbio. A liga Ti-15Nb- 4Mo exibe superelasticidade estável, com uma tensão crítica para a deformação de cizalhamento de 582 MPa e uma tensão de recuperação total de 3,5%. Em outro artigo, Al-Zain e coloboradores (2012) estudaram o efeito do tratamento térmico de envelhecimento sobre a superelasticidade em ligas baseadas em Ti-Mo-Nb. Foram estudas as ligas Ti-(15-19)Nb-3Mo, Ti-(16-18)Nb-3Nb-1Sn e Ti-(13-16)Nb-3Mo-2Sn. As propriedades mecânicas e microestrutura antes e depois do tratamento de envelhecimento foram analisadas, além das propriedades mecânicas, que foram analisas por ensaios de tensão cíclicos, e a microestrutura, analisada utilizando técnicas de microscopia óptica e de transmissão, além de difração de raios X. Os resultados mostram que tratamentos térmicos com temperatura de 973 K após laminação a frio resultam num empobrecimento das propriedades de efeito de memória em relação aos tratamentos de envelhecimento. As transformações de tensão aumentam consideravelmente devido a formação da fase � durante o resfriamento para a temperatura ambiente e a adição de estanho diminui parcialmente a formação desta fase. Quando tratadas a 1.173K, causa a diminuição de defeitos de rede e vacâncias, enquanto o envelhecimento a 773 K induz a precipitação da fase �. Zhang e coloboradores (2013) estudaram o sistema Ti-Mo-Nb utilizando cálculos de primeiros princípios, usando ferramentas computacionais para obter os módulos de cisalhamento e elástico, além da razão de Poisson dessas ligas. Eles também compararam seus resultados com dados experimentais das ligas Ti-11,17Mo-10,82Nb, Ti-9,18Mo-26,68Nb, Ti-10,62Mo-20,55Nb e Ti-10,11Mo-29,38Nb, sendo que os valores obtidos para o módulo de elasticidade pelo método computacional e o experimental são próximos. Xu e coloboradores (2013) estudaram o conjunto de ligas do sistema Ti-15Mo- XNb, nas composições de 5, 10, 15 e 20 % em peso de nióbio. As amostras foram fundidas em um forno a arco-voltaico em atmosfera inerte. Após isto, foram caracterizadas utilizando-se microscopia óptica e eletrônica de varredura, difração de J.R.S. Martins Jr 36 raios X, ensaios de microdureza e de resistência a compressão e ensaios de fricção. Os resultados da microscopia óptica e eletrônica de varredura mostram que as ligas possuem microestrutura �, que são corroborados com a difração de raios X, onde não é possível observar picos de difração de outras fases cristalinas. Com o aumento do teor de nióbio a dureza vai diminuindo chegando num valor de 208 HV para a liga T-15Mo- 20Nb. A resistência à compressão dessas ligas vai aumentando com o aumento do teor de nióbio, sendo que a liga Ti-15Mo-5Nb possui o valor de 453 MPa e aumenta para 710 MPa na liga Ti-15Mo-20Nb. Na liga Ti-15Mo-10Nb existe um aumento da microdureza, mesmo comportamento que ocorreu para a resistência à compressão, com o valor de 756 MPa. Martins Jr e Grandini (2014B) estudaram um conjunto de ligas do sistema Ti- 15Mo-XNb, com as ligas sendo preparadas por fusão à arco, conformadas mecanicamente por laminação a quente, homogeneizadas e submetidas a dois tratamentos de têmpera. As medidas de difração de raios X mostraram uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado e que a estrutura cristalina das ligas não foi alterada por tratamento mecânico ou diferentes tratamentos térmicos. As micrografias obtidas por microscopia óptica mostram as características de morfologia da fase���(com estrutura cristalina CCC), grãos crescidos com os tratamentos térmicos e grãos alongados e irregulares após laminação a quente. Nenhum dos tratamentos efetuados alterou a microestrutura em relação à microestrutura observada após fusão, corroborando os resultados obtidos por difração de raios X. 3.5 Tipos de Ligas de Titânio Em ligas de titânio, podem ser observadas as fases estáveis � e �, além de fases metaestáveis �’, �’’ e �. J.R.S. Martins Jr 37 3.5.1 Ligas de Titânio com fase α Essa fase tem estrutura cristalina hexagonal compacta (HC). São classificados como α o titânio em seus vários graus de pureza e ligas α sob recozimento bem abaixo da temperatura β-transus contendo somente pequenas quantidades de fase β (2-5 % em fração volumétrica) resultantes da adição de elementos β estabilizadores (LÜTJERING, 2003). 3.5.2 Ligas de Titânio com fase β Essa fase tem estrutura cúbica de corpo centrado (CCC). Essas ligas correspondem à classe de ligas de titânio mais versáteis em relação ao processamento, microestrutura e propriedades mecânicas. São utilizadas na indústria aeroespacial, materiais esportivos, indústria automotiva e aplicações ortodônticas e ortopédicas (LÜTJERING, 2003). Estas ligas incluem a β, β-metaestável e a α+β rica em fase β (LEYENS, 2003). 3.5.3 Fases Martensíticas α’ e α”: As transformações martensíticas resultam na formação de fases metaestáveis. Quando as ligas de Ti são resfriadas rapidamente a partir de altas temperaturas surge o movimento cooperativo de átomos resultando no cisalhamento de planos atômicos (BANUMATHY, 2009). Nas ligas de titânio, dependendo do teor de elementos β estabilizadores, os dois tipos de martensita já mencionados podem ser formados, a martensita α’ e a martensita α´´ (LÜTJERING, 2003). As fases martensíticas em ligas de titânio caracterizam-se pela formação de estruturas de agulhas muito finas, o que é resultado do processo de nucleação livre de difusão atômica. Ligas contendo elementos β-estabilizadores como molibdênio e nióbio, podem formar dois tipos de estrutura martensítica. Para baixos teores de elemento de liga, martensita tipo α’ será formada (LÜTJERING, 2003). J.R.S. Martins Jr 38 Essa fase martensítica tem estrutura hexagonal, com parâmetros de rede semelhantes aos da fase α do titânio. Por outro lado, à medida que o teor é elevado, a martensita hexagonal será substituída por martensita de estrutura ortorrômbica, denominada de α’’ e podendo ser vista como uma transição da estrutura hexagonal compacta da martensita α’ para a estrutura cúbica de corpo centrado da fase β (LÜTJERING, 2003). 3.5.4 Fase ω A fase ω é uma fase metaestável e exibe estrutura cristalina hexagonal ou trigonal, dependendo do teor de elementos de liga (LÜTJERING, 2003) A formação da fase ω é observada em ligas de titânio que exibem a fase β estabilizada. Essa fase pode ser formada durante o resfriamento rápido a partir de altas temperaturas no campo β ou por tratamentos térmicos de envelhecimento. Por esta fase ser o resultado de resfriamento brusco, por exemplo, têmpera, ela é definida como fase ω atérmica. Por outro por um período de tempo suficiente, a fase ω pode precipitar-se de forma isotérmica. Foi observado por Gordon e coloboradores (1974), por microscópia eletrônica de transmissão, que o tamanho da fase ω aumenta com tempo de envelhecimento. Ao ser resfriada, a fase β perde sua estabilidade, o que leva à vibração de seus átomos, posicionados inicialmente de acordo com o arranjo cúbico de corpo centrado. Essa vibração produz a transformação parcial da fase CCC em outra com simetria hexagonal, o que ocorre principalmente sem difusão de espécies (BANERJEE, 2007). Em geral, a fase ω provoca a fragilização das ligas de titânio (WILLIANS, 1971). 3.6 Diagrama Ti-O Como já foi relatado, a presença de elementos intersticiais (oxigênio, carbono, nitrogênio e hidrogênio) altera de maneira significativa as propriedades mecânicas metais e suas ligas (NOVICK, 1972; PUSKAR, 2001). O titânio e suas ligas também sofrem forte influência destes elementos intersticiais, dos quais se destaca se o oxigênio, J.R.S. Martins Jr 39 alterando de forma significativa o comportamento mecânico das mesmas (JAFEE, 1958; CONRAD, 1981). A Figura 4 apresenta o diagrama de equilíbrio de fase do sistema binário Ti-O. Figura 4 - Diagrama de equilíbrio de fases do sistema binário Ti-O [ASM, 1996]. Dois pontos importantes no diagrama de equilíbrio Ti-O é que a passagem de � para � é alterada para um intervalo de transformação que se estende para cima da temperatura 862 ºC e o ponto de fusão é aumentado apreciavelmente. O aumento do limite das presenças das fases α e α + β não é grande a teores baixos de oxigénio, mas a linha de β-transus é aumentada significativamente. Além disso, pelo diagrama Ti-O, a solubilidade do oxigênio na fase α é de aproximadamente 14,5% em peso (ASM, 1996; CONRAD, 1981). Entretanto, quando seu teor eleva-se demasiadamente, existe a possibilidade de formação de fases ordenadas. J.R.S. Martins Jr 40 Jafee (1958) e Conrad (1981) verificaram o aumento do tamanho da célula unitária do titânio com estrutura α. Estes dados significam que o titânio e suas ligas formam soluções sólidas intersticiais com oxigênio, nitrogênio e carbono. Eles observaram o parâmetro de rede a da estrutura hexagonal permanece invariante com a adição de nitrogênio, oxigênio e carbono. Isto explica o fato que a razão a razão c/a e menor que a estrutura hexagonal compacta perfeita. Na estrutura hexagonal compacta, a fase α do titânio e suas ligas, o sítio octaedral é maior que o sítio tetraedral, logo para se formar soluções sólidas intersticiais os átomos (oxigênio, nitrogênio e carbono) ocupam essas posições. No caso da estrutura cúbica de corpo centrado (fase β) do titânio e suas ligas, o sítio octaedral é maior que o tetraedral. Isto pode ser visto na Figura 5 e na Tabela 4. Esta é a razão do parâmetro c aumentar com a adição do elemento oxigênio e a não variar. Figura 5 – Estrutura cristalina do titânio α. Os círculos abertos são os sítios octaedrais e os círculos sombreados são os sítios tetraedrais (CONRAD, 1981). Tabela 4 - Raios dos vazios intersticiais da estrutura hexagonal compacta α e da estrutura cúbica de corpo centrado β do titânio (CONRAD, 1981). Estrutura Raio do vazio octaedral (nm) Raio do vazio tetraedral (nm) Ti-α 0,061 0,033 Ti-β - 0,044 J.R.S. Martins Jr 41 O efeito dos elementos intersticiais oxigênio, nitrogênio e carbono na estrutura cristalina da fase α do titânio é mostrado na Figura 6. Figura 6 - Resultado de adição de elementos intersticiais oxigênio, nitrogênio e o carbono nos parâmetros de rede do titânio à temperatura ambiente (CONRAD, 1981). 3.7 Efeito do Oxigênio A presença de elementos intersticiais (oxigênio, carbono, nitrogênio e hidrogênio) altera de maneira significativa as propriedades mecânicas da liga, principalmente suas propriedades elásticas, causando endurecimento ou fragilização da liga. As medidas de espectroscopia mecânica constituem uma ferramenta poderosa para o estudo da interação destes elementos substitucionais e intersticiais com a matriz metálica (NOVICK, 1972). J.R.S. Martins Jr 42 3.7.1 Mecanismo de Gaseificação com Oxigênio O mecanismo de gaseificação com oxigênio, para a maioria dos metais, é o mesmo sob certas condições de equilíbrio, podendo ser descrito com base na equação (RODRIGUES, 1994): )()( 2 1 2 metalOgO � (1) De um modo geral, existem quatro etapas envolvidas nos processos de gaseificação dos gases diatômicos: a) Transporte de moléculas diatômicas na fase gasosa para a superfície do metal, onde acontece uma adsorção física; b) Dissociação das moléculas do gás na superfície do metal ocorrendo a chamada adsorção química; c) Os átomos do gás penetram da superfície do metal, superando a barreira de potencial da superfície; d) Difusão dos átomos na rede cristalina. A Figura 7 mostra um esquema das etapas citadas acima. Paton e Willians (1973), estudaram como elementos intersticiais (oxigênio, por exemplo) podem influenciar na retenção total da fase β, sendo que os valores da quantidade de beta estabilizadores é muito divergente na literatura. Neste estudo, eles prepararam ligas de Ti-V contendo 17, 18, 19 e 20 % em peso de vanádio, com quantidades diferentes de oxigênio. As amostras foram dopadas com várias quantidades de oxigênio até 0,175 % em peso, e depois, aquecidas a 900 °C durante 20 minuntos, sendo que se homogeneizou ainda por mais 24 horas a 900 °C, e depois a solubilização realizado a 900 °C durante 30 minutos, antes de têmpera em água. Foi verificado que uma quantidade de 1.750 ppm de oxigênio e menos de 17% em peso de vanádio era necessário para estabilizar a fase β, e que para uma quantidade de 0,025% em peso de oxigênio era necessário mais que 19% em peso de vanádio. Além disso, verificou se que J.R.S. Martins Jr 43 a quantidade oxigênio influencia na formação de fase ω, ou seja, para maiores quantidades de oxigênio existe a tendência de dificultar a formação da fase ω. Figura 7 – Etapas do processo de gaseificação da reação metal-oxigênio (RODRIGUES, 1994). Lee e coloboradores (1990) estudaram as propriedades da liga Ti-6Al-4V com os tratamento térmico de solubilização entre 600 e 1200 °C, seguido de têmpera, e tratamentos de envelhecimento entre 200 e 550 °C. Também foi analisado o efeito da concentração de oxigénio com uma variação de entre 0,17 e 0,30 % em peso. Os autores concluíram que com o aumento na concentração de oxigênio, o módulo de elasticidade aumenta linearmente e que o efeito na capacidade de amortecimento é insignificante até a concentração estudada (0,30 % em peso), sendo que este efeito é aproximadamente independente dos tratamentos térmicos realizados. Qazi e coloboradores (2004) estudaram o efeito do oxigênio e de tratamentos de envelhecimentos na liga Ti-35Nb-5Ta-7Zr, sendo observado que o parâmetro de rede da fase β (CCC) aumenta linearmente com o teor de oxigênio. Além disso, o limite de J.R.S. Martins Jr 44 adição de oxigênio também provoca o aumento da tensão limite de escoamento em ligas na condição solubilizada. Em outro artigo, Qazi e coloboradores (2005), estudaram a liga Ti-35Nb-7Zr-5Ta com várias quantidades de oxigênio, variando de 0,06 até 0,68 % em peso, onde foram realizados tratamentos de envelhecimento com temperaturas e o mesmo tempo de 8 horas. Os autores concluíram que dependendo da quantidade de oxigênio e a temperatura de envelhecimento, pode se formar fase α ou ω. Por exemplo, aumentando-se o teor de oxigênio limita-se a presença da fase ω, sendo que nenhuma evidência foi observada para a sua formação, em quantidades de oxigênio acima de 0,46 % em peso. Henning e coloboradores (2005) estudaram como elementos intersticiais (oxigênio, nitrogênio e carbono) podem influenciar na transformação α → ω. Neste estudo, eles simularam utilizando cálculos computacionais por dinâmica molecular, as ligas de titânio A-70 e a liga Ti-6Al-4V. A liga é composta por 99 % em peso de titânio, com concentrações de oxigênio, nitrogênio e carbono, menores que 0,40, 0,050 e 0,10 % em peso, respectivamente. Eles concluíram que por intermédio da determinação da energia e localização de impurezas no titânio e suas ligas, foi possível mostrar como os elementos intersticiais impedem a transformação martensítica α → ω. Nessa abordagem, fez-se uso da observação de base que, para qualquer transformação martensítica, as impurezas são presas em seu sítio preferencial. O efeito de impurezas sobre energias relativas e barreiras de energia é fundamental para a compreensão das transformações de fase estruturais. Rack e coloboradores (2006) estudaram os efeitos de composição química, tamanho do grão e da morfologia das microestruturas α e β nas propriedades mecânicas de ligas α+β. Depois, analisaram o efeito do envelhecimento sobre as propriedades mecânicas de ligas metaestáveis para aplicações biomédicas. Nesta parte, estudaram a liga Ti-35Nb-5Ta-7Zr, após diferentes tratamentos de envelhecimento com três diferentes concentrações de oxigênio, assim como observaram Qazi e coloboradores (2005), a concentração de oxigênio na liga Ti-35Nb-5Ta-7Zr influencia fortemente seu comportamento de envelhecimento e suas propriedades mecânicas. Um tratamento térmico no campo de fase β, seguido de têmpera, resulta na retenção completa da fase β em ligas contendo acima 0,68 % em peso de oxigênio. O oxigênio restringe o J.R.S. Martins Jr 45 movimento dos defeitos lineares em ligas de titânio do tipo β metaestáveis, necessário para a formação da fase ω, dificultando assim sua formação. Sendo um forte α estabilizador, ele promove a formação da fase α. Eles observaram ainda, que após os tratamentos de envelhecimento, dependendo da quantidade de oxigênio, podem ser retidas as fases ω e α para uma concentração de 0,46 % em peso de oxigênio, e na presença de apenas na fase α, ou seja, sem a presença da fase ω, para maior concentração de oxigênio (0,68 % em peso). Vicente e colaboradores (2014A) estudaram ligas de Ti-Zr com pequenas quantidades de oxigênio, onde eles analisaram a influência de oxigênio intersticial na estrutura, microestrutura e algumas propriedades mecânicas selecionadas e biocompatibilidade das ligas, para utilização como biomaterial. Os resultados demonstraram que, no intervalo de 0,02% em peso a 0,04% em peso de oxigênio não tem nenhuma influência sobre a estrutura, a microestrutura ou biocompatibilidade das ligas estudadas, mas faz com que ocorra o endurecimento das ligas, aumentando os valores de microdureza e fazendo com que a haja variação nos valores de módulo de elasticidade. 3.8 Corrosão Entende-se por corrosão, a deterioração de um material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do seu ambiente operacional. Sendo a corrosão uma reação de oxidação-redução, ou seja, reações que consistem em ceder ou receber elétrons. Então, o fenômeno corrosivo representa uma situação em que duas ou mais reações eletroquímicas diferentes ocorrem simultaneamente e de forma espontânea, sendo que pelo menos uma de natureza anódica e outra catódica. A reação anódica de dissolução do metal fornece elétrons à reação catódica de redução, gerando uma carga elétrica transferida por unidade de tempo. Desta forma a corrosão é um modo de destruição do metal, começando em sua superfície. O implante de materiais metálicos no corpo humano, sendo este um meio aquoso, pode levar ao fenômeno químico da corrosão em meio úmido, que se trata de um processo eletroquímico (GENTIL, 1994), pois a superfície do metal está exposta a J.R.S. Martins Jr 46 uma condução de eletrólitos e espécies originadas de fluido corpóreo, tornando-se um possível lugar para a reação de oxido-redução. Existindo uma oxidação que produz elétrons e uma redução que consome os elétrons produzidos, a corrosão pode liberar produtos e íons produzidos pela corrosão eletroquímica no meio em que está implantado o material metálico. Isto pode comprometer a vida útil do material, além de possíveis efeitos citotóxicos e alteração do metabolismo celular (KRUGER, 1979). 3.8.1 Corrosão em Ligas de Titânio Dentre os diversos metais, o titânio possui um potencial de eletrodo de -1,63 V o qual é próximo do alumínio. Desta forma pode se dizer que o titânio não é intrinsecamente nobre. A sua excelente resistência à corrosão vem da formação de um filme passivo que se forma instantaneamente, passivando a superfície, protegendo o metal titânio e as suas ligas da corrosão. Esse filme passivo é composto basicamente de TiO2 (LÜTJERING, 2003), sendo resistente à corrosão na maioria de ambiente oxidantes como exemplo, soluções salinas, incluindo cloretos, hipocloritos, sulfatos e sulfitos, ou soluções de ácidos nítrico ou crômico. Por outro lado, em ambientes em condições de redução, o filme passivo é quebrado, por exemplo, ambientes que tenham acido sulfúrico, hidroclórico e acido fosfórico, o comportamento de corrosão não será bom, pois o filme passivo será quebrado. O titânio passivado é muito resistente à corrosão e à água marinha em temperatura ambiente, com um potencial de corrosão de materiais tradicionais para esta aplicação como o aço inoxidável austenítico passivado (LÜTJERING, 2003). O bom comportamento à corrosão é também observado para o titânio e suas ligas α+β e β. Do ponto de vista econômico, o titânio cp grau 2 é preferido em ambientes que não exijam resistência mecânica. Se forem adicionado outros metais em pequenas porcentagens como 0,2% de paládio, 0,3% de molibdênio e 0,8% de níquel a resistência a corrosão é aumentada significativamente. A resistência à corrosão de ligas de alta resistência mecânica com microestrutura α+β e β, em ambientes com ácidos redutores, com adição de 3% em peso de molibdênio e 8% em peso de zircônio, a resistência à corrosão melhora muito (LÜTJERING, 2003). J.R.S. Martins Jr 47 O titânio está sujeito à corrosão por fendas em soluções salinas contendo oxigênio, devido ao fato de que o oxigênio é consumido mais rapidamente do que ele pode difundir dentro da fenda do material. Como resultado disto, o potencial do metal na fenda se torna mais eletronegativo que o material exposto no bulk em contato com a solução. A fenda age como um ânodo e o metal em contato com a solução age como um cátodo, existindo desta forma uma corrente galvânica, que vai corroer o material a partir das fendas. Em ligas de titânio a corrosão por fendas são encontradas sob as cabeças dos parafusos de fixação em aço inoxidável 316L, sendo que corrosão por fendas devido a esforços mecânicos também podem ocorrer em componentes da prótese total de quadril e tem sido associadas com elevações na quantidade de íons Co e Cr na urina de pacientes (JONES,1996). Corrosão por pite são corrosões localizadas e estão relacionadas com a corrosão por fendas. São observadas em diversos metais como alumínio, aços inoxidáveis e titânio e suas ligas. Ela se inicia em uma imperfeição do filme passivo, por exemplo, os íons cloreto (Cl-) podem concentrar-se nestes sítios até deslocar o oxigênio do filme passivo e entrar em contato com o metal, ou seja, haverá a formação de uma pequena fenda, que pode ir perfurando o metal ou transformar-se em corrosão por fendas. Por exemplo, corrosão por pite pode ocorrer em locais como a interface parafuso/placa. Isto ocorre frequentemente observado no aço inoxidável 316L e outros materiais, na presença de cloretos. A resistência à corrosão por pite no titânio e suas ligas é geralmente muito alta por causa do filme passivo, sendo medida por técnicas tradicionais eletroquímicas como a polarização potenciodinâmica (DONACHIE,1982). Corrosão por pite nos implantes é mais comum na cavidade oral, devido à maior disponibilidade de oxigénio e alimentos ácidos neste local. Em ligas de CoCr, a corrosão por pite leva à liberação de substâncias cancerígenas no corpo (GEETHA, 2009). Embora o titânio e suas ligas sejam altamente resistentes à corrosão por pite em diferentes condições nos ensaios in vivo, elas sofrem corrosão em soluções com alta concentração deflúor, o que é comum em procedimentos de limpeza dental (PROBSTER,1992). A maioria dos implantes médicos são submetidos à cargas de baixa frequência, que podem levar à corrosão por fadiga, mesmo num implante de ombro submetido a J.R.S. Martins Jr 48 uma carga cíclica a cerca de 1 Hz. A resistência à fadiga por corrosão no titânio é praticamente independente do valor do pH, enquanto a resistência à fadiga por corrosão do aço inoxidável piora drasticamente abaixo de pH 4 (GEETHA, 2010). Esta independência do pH para as ligas de titânio é muito importante, pois numa situação de inflamação, o pH na região cai para menos de 3, sendo a inflamação umas das primeiras reações do corpo humano contra um corpo estranho que pode ser um implante. Kobayashi e colaboradores (1998) estudaram a liga Ti-6Al-7Nb na condição fundida e analisaram propriedades mecânicas e resistência a corrosão. Foi observado que as propriedades mecânicas foram adequadas para o uso dentário. Quanto à resistência a corrosão, foram realizados ensaios de polarização anódica em solução de 0,9% de NaCl, e verificou-se que esta liga possui melhores resultados que a liga Ti-6l- 4V. Isto ocorreu devido a formação de óxidos de nióbio que protegem o material do processo corrosivo. Oliveira e colaboradores (2006) estudaram um conjunto de ligas do sistema Ti- Mo da concentração de 4% até 20% em peso, caracterizando-as por intermédio de EDS, difração de raios X e microscopia eletrônica de varredura. Foram realizados