UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA BÁRBARA SOUZA DA SILVA ANÁLISE DOCUMENTAL DE TEXTOS NARRATIVOS DE FICÇÃO: A IDENTIFICAÇÃO DO TEMA POR MEIO DA ANÁLISE DO DISCURSO MARÍLIA 2022 BÁRBARA SOUZA DA SILVA ANÁLISE DOCUMENTAL DE TEXTOS NARRATIVOS DE FICÇÃO: A IDENTIFICAÇÃO DO TEMA POR MEIO DA ANÁLISE DO DISCURSO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP- Campus de Marília, para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia. Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação Orientador: Prof. Dr. João Batista Ernesto de Moraes Financiamento: FAPESP MARÍLIA 2022 S586a Silva, Bárbara Souza da Análise documental de texto narrativos de ficção : a identificação do tema por meio da análise do discurso / Bárbara Souza da Silva. -- Marília, 2022 40 p. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Biblioteconomia) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília Orientador: João Batista Ernesto de Moraes 1. Análise Documentária. 2. Análise do Discurso. 3. Recuperação da Informação. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. BÁRBARA SOUZA DA SILVA ANÁLISE DOCUMENTAL DE TEXTOS NARRATIVOS DE FICÇÃO: A IDENTIFICAÇÃO DO TEMA POR MEIO DA ANÁLISE DO DISCURSO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP- Campus de Marília, para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia. BANCA EXAMINADORA Orientador: _______________________________________________ Prof. Dr. João Batista Ernesto de Moraes – UNESP 2º Examinador: ____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Helen de Castro Silva Casarin – UNESP 3º Examinador: _____________________________________________ Dr.ª Larissa de Mello Lima Marília, 07 de Fevereiro de 2022 AGRADECIMENTOS Bom, pode não parecer, mas essa parte eu considerei a mais difícil de escrever do trabalho como um todo. Bom primeiro eu tenho muito que agradecer a mim, pois se não fosse eu, esse trabalho não ia ser escrito alguém tinha que fazer essa parte. De todo o meu coração quero agradecer, a minha mãe Valéria, meu pai José Carlos e a minha voinha Terezinha por terem me dado o suporte para que pudesse sempre seguir em frente nos meus sonhos. As minhas tias Gra e Gi, por serem maravilhosas e que sempre quando era perguntada o que queria de presente não reclamavam e me davam todos os livros da lista, em especial a tia Gra por ter me dado Amanhecer (pois precisava saber se Jacob ia terminar sozinho, com a Bella, ou com o Edward ou se pá formassem um trisal), sendo ele o precursor da minha paixão pela leitura. E não posso esquecer do meu primo Henrique, pelos rolês com as tias, a minha vó Newta por não reclamar do meu paladar infantil e não posso deixar de mencionar o Voinho, que sei que sempre me acompanha lá do plano espiritual. Eu preciso mencionar a minha cachorra Babi, o ser mais lindo e puro desse universo e que me aguenta acordando aleatoriamente pela casa para liberar um pouco de serotonina em mim. Quero muito agradecer ao meu melhor amigo de toda a minha vida e das próximas, Juliano! Por me aguentar a tanto tempo, por sempre me apoiar nas minhas crises, nos risos, nas fofocas e por compartilhar do gosto de BTS e Marvel! Não posso esquecer de agradecer a Débora, Flávio, João Pedro, Matheus e Nayara, muito obrigada por serem os melhores companheiros de turma! Sendo ARMY, não posso deixar de agradecer aos meus meninos (mesmo que eles nunca vejam essa mensagem), pelas músicas pois elas fizeram parte da minha formação, não só acadêmica, mas também pessoal. Tenho que dizer obrigado a Post Malone e ao Kendrick Lamar por terem feito dois dos álbuns mais perfeitos que tive o prazer de escutar e que com toda a certeza fizeram parte da pesquisa após eu ficar várias horas usando como música de fundo para ler Pêcheux e Foucault CEDHUM. Toda a minha gratidão a Oxum minha mãe, João Mineiro meu guia e a Deus por iluminarem meu caminho durante a graduação. Um agradecimento muito especial ao meu orientador Prof. Dr. João Batista, sinceramente não podia ter escolhido um orientador melhor; agradeço a minha banca Prof. Dra. Helen Casarin e a Dra. Larissa Lima. E agradeço à FAPESP pela concessão da bolsa de pesquisa, sob o processo nº 2020/10451-3, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo incentivo e auxílio que foi concedido e que possibilitou a realização e finalização desta pesquisa. “Se prestares atenção no teu discurso, perceberás que ele é guiado pelos teus propósitos menos conscientes” George Eliot RESUMO Considerando que a Análise Documental é utilizada no campo da Ciência da Informação como uma metodologia para o processo de representação do conteúdo do documento, no qual estará em um formato condensado do seu original para fins de recuperação do documento, objetivou- se encontrar um método que descomplique a análise de textos narrativos de ficção visto que, estes não contêm uma estrutura textual concreta, diferentemente do que ocorre em textos científicos. Por conseguinte, recorreu-se a uma discussão acerca do uso da Análise do Discurso de matriz francesa, à qual entende o discurso como um meio que transmite a ideologia do meio social do sujeito e a sua linguagem escolhida como forma de comunicação. Fazendo uma revisão bibliográfica até chegar ao ponto de análise de textos narrativos para que se possa averiguar a aplicabilidade da Análise do Discurso como método. Para isso utilizou-se três fábulas dentre vários textos feitos pelo autor Millôr Fernandes como objeto de estudo - sendo aumentado o nível de dificuldade ao constatar durante a pesquisa que o gênero de fábula não demonstra na sua narrativa contexto externo - e o resultado obtido foi permissivo a concluir que, ao aplicar a análise do discurso de matriz francesa, foi possível constatar que os mesmos acabam sendo identificados como sendo críticas políticas feitas com censura já aplicada, em razão do período em que foram publicadas pelo autor no qual compreende a época da Ditadura Militar brasileira (1964 - 1985). Palavras-chave: Análise Documentária, Análise do Discurso, Recuperação da Informação. ABSTRACT Considering that Document Analysis is used in the field of Information Science as a methodology for the process of representing the content of the document, which will be in a condensed format of its original for document retrieval purposes, it was aimed to find a method that descomplicates the analysis of narrative fiction texts since they do not contain a concrete textual structure, unlike what occurs in scientific texts. Therefore, it was resorted to a discussion about the use of Discourse Analysis of French matrix, which understands the discourse as a means that transmits the ideology of the social environment of the subject and his chosen language as a form of communication. Making a literature review until reaching the point of analysis of narrative texts in order to verify the applicability of Discourse Analysis as a method. To this end, it was used three fables among several texts written by the author Millôr Fernandes as the object of study - the level of difficulty being increased when it was found during the research that the genre of fable does not show in its narrative external context - and the result obtained was permissive to conclude that, by applying the discourse analysis of French matrix, it was possible to see that they end up being identified as political criticism made with censorship already applied, due to the period in which they were published by the author which comprises the time of the Brazilian Military Dictatorship (1964 - 1985). Keywords: Documentary analysis, discourse analysis, information retrieval LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Mudanças Radicais Imutáveis: à maneira dos…chineses.......................................18 Quadro 2 - O Cavalo e o Cavaleiro .......................................................................................... 20 Quadro 3 - O Leão, o burro e o rato S ...................................................................................... 24 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Modelo proposto por Orlandi (2008), adaptado por Lima (2015) .......................... 15 Tabela 2 – Modelo de Maingueneau (2009) ............................................................................. 15 Tabela 3 - Proposta de método de Análise do Discurso para Textos Narrativos de ficção ...... 16 Tabela 4 - Análise “Mudanças radicais imutáveis: à maneira dos…chineses” ........................ 19 Tabela 5 - Análise “O Cavalo e o Cavaleiro” ........................................................................... 21 Tabela 6 - Análise “O Leao, o burro e o rato” .......................................................................... 23 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (ORDEM ALFABÉTICA) AD Análise do Discurso AIE Aparelhos Ideológicos de Estado ANL Aliança Nacional Libertadora ARE Aparelhos Repressores de Estado FD Formação Discursiva FDI Formação Discursiva e Ideológica FI Formação Ideológica IOMRC Introdução, Objetivos, Metodologia, Resultados e Conclusões SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................1 2 METODOLOGIA E OBJETIVOS.................................................................................. 2 3 ANÁLISE DOCUMENTAL............................................................................................. 3 4 ANÁLISE DO DISCURSO.............................................................................................. .4 4.1 Análise do Discurso Literário........................................................................................... 5 5 IDEOLOGIA E REGIMES DE INFORMAÇÃO.......................................................... 7 6 TEXTOS NARRATIVOS DE FICÇÃO......................................................................... 10 6.1 Fábulas.............................................................................................................................. 11 6.2 Millôr Fernandes.............................................................................................................. 13 7 DISCUSSÃO...................................................................................................................... 15 7.1 Proposta de modelo de análise dos textos de Millôr Fernandes…....................................15 7.2 “Mudanças Radicais Imutáveis: À maneira dos... Chineses”...........................................18 7.3 “O Cavalo e o Cavaleiro”..................................................................................................20 7.4 O Leão, o burro e o rato....................................................................................................22 8 RESULTADOS...................................................................................................................24 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................25 REFERÊNCIAS......................................................................................................................26 1 1 INTRODUÇÃO A Análise Documental consiste em um método viável para análise de textos técnico- científicos visto que, esses textos em particular são ordenados e organizados em cima de uma estrutura única que serve como base para todos os textos técnico-científicos, independentemente da área do conhecimento a qual o texto se refere. Mas segundo Sabbag (2013), esse mesmo sucesso em análise não se pode obter quando se aplica a Análise Documental em textos narrativos de ficção, em razão de apresentar em sua maioria dificuldades em representar com exatidão o conteúdo presente na obra, portanto se dá a necessidade de aprofundamento no assunto para que se poder atingir métodos viáveis e com maior precisão de resultados na representação do conteúdo de textos narrativos de ficção. Em razão da proposta de pesquisa submetida para a agência de fomento, essa pesquisa tem como pretensão uma discussão de debate acerca da utilização da Análise do Discurso como um método para a Análise Documental em cima de Textos Narrativos de Ficção, em razão de que a AD consegue ser aplicada em textos científicos tranquilamente, pois estes contêm uma estrutura textual a ser seguida em sua maioria — Justificativa (introdução), Objetivos, Metodologia, Resultados e Conclusão — o que difere de textos narrativos cuja estrutura acaba por ficar ‘solta’ a imaginação do autor, assim podendo variar de formatos. É importante ressaltar que a pesquisa seguiu tranquilamente sem ser interrompida por situações externas. Portanto, o debate da pesquisa se situa em cima da utilização da Análise do Discurso se tornando um método viável para Análise Documental, considerando que seu modelo é voltado para a extração de conteúdo de textos científicos a Análise Documental então, carece de recursos necessários para uma aplicação que extraia com sucesso conteúdo do texto narrativo de ficção. Segundo Guimarães (2008), entende-se que Ciência da Informação, se situa na base tríade de produção, organização e uso da informação, e que na parte de organizacional se dará uma importância acerca da representação da informação, pode ser incluída sob a Análise Documental — que visa a organização e representação da informação; e também, da Análise do Discurso pensado como metodologia de análise. Nos trabalhos de Guimarães, Moraes e Guarido (2007) e Moraes (2011), mostram que o estudo que interliga a Análise Documental e a Análise do Discurso de matriz francesa se caracteriza como sendo um estudo inovador, visto que essas duas áreas continham pesquisas 2 que já estavam sendo desenvolvidas ou sendo aprofundadas, mas que não se interligam como objeto de estudo, por isso o caráter inovador. 2 METODOLOGIA E OBJETIVOS Assim exposto às conjunturas iniciais da pesquisa, segue abaixo os objetivos a serem alcançados. O principal objetivo norteador da pesquisa é de propor uma experimentação com a Análise do Discurso onde ela se transformaria em uma metodologia que auxilie a decodificar formações discursivas que possam facilitar o processo de análise documental de textos narrativos de ficção. O objetivo principal acaba por compilar os objetivos específicos, que incluem: A. Analisar textos de Millôr Fernandes que foram examinados previamente nos estudos de MORAES; GUIMARÃES; GUARIDO (2007); MORAES, GUIMARÃES, J. A. C. (2008); MORAES (2011) E MORAES (2012). B. Destacar a diferença de entre as estruturas de organização textual e de análise entre Textos Narrativos de Ficção e Textos Científicos; C. Verificar a aplicabilidade da Análise do Discurso como metodologia de análise documental de textos narrativos de ficção; D. Conferir as análises obtidas previamente com as que foram encontradas, com o intuito de se identificar a eficácia da aplicação da Análise do Discurso em textos narrativos de ficção; E. Traçar um paralelo entre as formações discursivas e formações ideológicas com o regime de informação; F. Comparar as análises realizadas através da Análise do Discurso com as representações encontradas em unidades de informação de universidades estaduais paulistas para a observação da representação que seria melhor recuperada, como feito em MORAES (2011); Visando alcançar os objetivos propostos, a metodologia utilizada segundo Marconi; Lakatos (2017) caracteriza-se por ser um método que constitui uma pesquisa bibliográfica — a qual compreende uma base textual, seja de livros, resumos ou artigos científicos. Além da compreensão de que foi proposto uma experimentação, então a pesquisa também contêm caráter experimental. Ao todo são três fases teórico-metodológicas respectivamente serão descritas abaixo: 3 1. Na primeira fase constitui numa revisão de literatura sobre a teoria e história da análise do discurso através das principais obras sobre o assunto, tais como Arqueologia do Saber de Michel Foucault (1971), obras de Michel Pêcheux tais como Discurso: Estrutura ou acontecimento (2002) e Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio (1997), é utilizado autores brasileiros como Eni P. Orlandi no livro Análise de Discurso: princípios e procedimentos (2009). Juntamente como uma revisão acerca da Análise do Discurso Literário de autores como Maingueneau (2006), Gaspar e Andretta (2011) e Stafussa (2011). 2. Numa segunda etapa, foi realizado revisão de literatura sobre os textos narrativos de ficção, bem como também serão levantadas informações sobre o contexto de produção das obras de Millôr Fernandes – autor escolhido dos textos escolhidos para análise, é importante ressaltar que boa parte dos textos selecionados foram escritos durante o período da Ditadura Militar Brasileira (1964 à 1985), para que se possa observar de maneira clara a aplicação de Formação Discursiva e Ideológica - é utilizado teorias propostas por Foucault (1971), Althusser (1974), Pêcheux (1997), pautadas no contexto em que o autor estava inserido e escreveu suas obras, para que então se passe para a última fase onde é analisada as obras. 3. Na terceira e última fase foi analisado os textos pré-selecionados de Millôr Fernandes, sob a ótica da Análise do Discurso que estão presentes nos estudos de MORAES; GUIMARÃES; GUARIDO (2007); MORAES; GUIMARÃES, J.A.C. (2008), MORAES (2011) e MORAES (2012). 3 ANÁLISE DOCUMENTAL A Análise Documental de Conteúdo desenvolve os procedimentos para a representação de documentos de forma distinta do original, para fins de recuperação (GARDIN et al., 1981). Esses procedimentos se configuram visando a representação do conteúdo do documento sendo representado de forma que essa representação seja concisa com aquilo que está presente no documento original. A Análise Documental é composta então por duas fases: analítica e sintética. Na primeira, analítica, é realizada uma leitura técnica dos documentos e as suas estruturas textuais — macro, micro e super — propostas por van Dijk & Kintsch em 1983, além de ser feito um compilado das partes mais importantes do texto com o seu conteúdo temático — nos quais é realizado por estratégias como a identificação dos conceitos, visando compor enunciados de 4 assunto. A fase sintética é onde haverá a seleção de conceitos, condensação documental — que se trata sobre a síntese do documento, e representação do conteúdo através de índices feitos para a sua recuperação. As estruturas textuais mencionadas apresentam conjuntos importantes a serem considerados durante a análise do texto sendo a macro — ter um conhecimento prévio do assunto para estabelecer um sentido, micro — onde deverá ter coerência e coesão entre as orações para estabelecer sentido na análise e a super — adaptação e caracterização do texto para a sua organização textual na representação. Segundo Van Dijk (2016, p.23), embora se acredite que as macroestruturas semânticas definem a noção de tópico geral do discurso, elas nem sempre são explicitamente expressas no texto. Na verdade, elas definem os níveis mais altos do modelo de situação mental que representa os sentidos gerais do autor e leitor do discurso. A macroestrutura a qual permite pegar todas as partes mais importantes do texto, principalmente quando já se deve ter um conhecimento prévio acerca do tema como já foi dito anteriormente; já a microestrutura parte do pressuposto de que as sentenças escolhidas das orações tenham coesão e coerência entre si para haver o estabelecimento de sentido nas proposições. Enquanto a superestrutura se concentra na organização textual em que o texto foi formatado, tal como acontece em textos científicos seguindo a linha introdução, objetivos, metodologia, resultados e conclusão — IORMC; portanto, pretende-se avaliar como acontece em textos narrativos de ficção. Por isso que as estruturas textuais propostas por van DIJK (1983,1985), se encaixam em diferentes modelos de análises de artigos e posso dizer também em textos narrativos de ficção com as ideias propostas por Maingueneau e Pêcheux (tradução de Brandão, 2008), pois precisa- se seguir uma sequência correta para ocorrer a análise do texto; a leitura, seguida por separação de partes de extrema relevância no texto e que preferencialmente o analista consiga identificar as ideias do autor e pôr fim a análise completa do texto/obra. 4 ANÁLISE DO DISCURSO Os estudos acerca da Análise do Discurso (AD) são atribuídos primeiro ao estruturalista Z. S. Harris (1952), mas o seu aprofundamento e sua conversão para disciplina ocorreram na década de 1960, seguindo caminhos diferentes como nos EUA e na França. A Análise do Discurso de matriz francesa foi fundada por Pêcheux, na década de 1960, Michel Pêcheux propôs a teoria da Análise do Discurso (AD), visando divergir dos 5 pensamentos dominantes acerca da linguagem que havia na época, com o excesso formalismo e estruturalismo fundado por Saussure e a gramática gerativa proposta por Noam Chomsky. Entende-se em relação à Análise do Discurso (AD) que, ela se sustenta sobre noções desenvolvidas acerca do discurso como objeto de estudo, pois nele consegue-se analisar os impactos que a estrutura social em que o indivíduo está inserido e qual é a sua formação ideológica que acaba por ser transmitida através de seu discurso. Enquanto no Brasil, a Análise do Discurso foi introduzida pela professora Eni de Lourdes Pulcinelli Orlandi. Quando Foucault observa que, o discurso é a concepção de uma dispersão, que seria uma formação de elementos que não estão ligados por princípio nenhum, portanto, cabe a Análise do Discurso à compreensão desta dispersão (BRANDÃO, 2004). Empreender a análise do discurso significa entender e explicar como se constrói o sentido de um texto e como esse texto se articula com a história e a sociedade que o produziu. O discurso é um objeto, ao mesmo tempo, linguístico e histórico, entendê-lo requer a análise desses dois elementos simultaneamente (GREGOLIN, 1995, p. 20). Segundo Eni. P. Orlandi (2007), na análise de discurso procura-se compreender a língua fazendo sentido enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história. Por isso, a análise do discurso engloba a linguagem como a mediação necessária entre o homem e o seu ambiente natural e social que este vive, essa mediação é denominada então como discurso. Para Michel Pêcheux (1997), não se pode haver discurso sem que o sujeito, portanto, não existe sujeito sem ideologia. Por isso, é compreensível dizer que o discurso é uma forma de organização de ideias que estará sustentado por um sujeito que estará imerso por regras, formando um interdiscurso. A estrutura do discurso se sustentará em três bases: texto-estrutura, texto-produto e texto- arquivo, esses pilares ajudam a organização do texto, assim servindo de apoio para que o analista consiga analisar o discurso. 4.1 Análise do Discurso Literário Podemos explicar primeiramente quanto ao ‘discurso’ e quanto ao ‘literário’; dentre as variadas descrições do que se é o discurso, no dicionário é dito que ‘ele é qualquer expressão de uma língua — sendo oral ou escrita’, o qual também transmite o contexto do, qual está inserido, podendo ser histórico, filosófico e entre outros. Quanto que literário/literatura significa [...]determinadas composições verbais em que a linguagem se apresenta elaborada de maneira especial, e nas quais se dá a constituição de universos imaginários ou ficcionais. [...]objeto da teoria da literatura é constituído pela 6 literariedade, isto é, o modo especial de elaboração da linguagem inerente às composições literárias, caracterizado por um desvio em relação às ocorrências mais ordinárias da linguagem (SOUZA, 1995, p.47). Sendo assim, previamente se sabe que nas análises das obras de Millôr Fernandes iremos encontrar um discurso sociopolítico, ou seja, um discurso literário. Quando se encontra no início do processo de análise é importante relembrar que o texto literário no discurso literário tem como papel trazer uma contextualização do ambiente, isto é, a caracterização do que está acontecendo e do que haverá de acontecer por motivos de situar o leitor na obra de modo a, garantir uma melhor imersão a mensagem que discurso pretende passar. Como, por exemplo, se dá na obra do O Mundo de Sofia, a qual foi analisada pela professora doutora Edilene Batista, em que constata que o autor da obra, Jostein Gaarder, demonstra uma preocupação em narrar o ambiente em que está inserido e a sua realidade. Vale ressaltar que foi essencialmente estudado a obra de Dominique Maingueneau, Discurso Literário, para o estudo na parte da Análise do Discurso Literário, visto que este autor é uma grande referência nesse assunto. Maingueneau então levanta algumas ideias acerca de como o discurso é um objeto de estudo para a literatura, o tomando por base que ele é: 1. O discurso supõe uma organização transfrástica: Mas isso não necessariamente quer dizer que ele deva ser de um tamanho superior a uma frase, visto que ele mobiliza outras formas de ordem divergindo da frase. Um provérbio constituído de uma única frase pode ser considerado um discurso, Maingueneau dá como exemplo o “Não fume”, como exemplo de como os discursos irão se submeter às regras vigentes em uma determinada comunidade. 2. O discurso é orientado: Visto que ele será criado em função de atingir um determinado alvo, seja ele uma pessoa ou um grupo de pessoas, ele será criado com o propósito de seu locutor no qual irá se desenvolver no tempo. Porém, pode haver desvios no caminho, pode voltar à direção inicial ou ainda seguir outra direção, entre outras coisas. Dessa forma: Sua linearidade costuma manifestar-se mediante um jogo de antecipações ou de retornos da parte do locutor, que efetua um verdadeiro ‘direcionamento’ de sua fala. Mas esse direcionamento se efetua em condições muito diferentes caso o enunciado venha a ser de um enunciador que o controla do início ao fim, como acontece num livro, ou caso possa ser interrompido ou desviado a qualquer instante por um interlocutor (MAINGUENEAU, 2009, p. 41-42). 3. O discurso é uma forma de ação: A problemática dos atos de linguagem, desenvolvida por filósofos como Austin (1962) e depois Searle (1969), difundiu maciçamente a ideia 7 de que toda a enunciação constitui um ato (prometer, sugerir, afirmar, interrogar...) visando a modificar uma situação. 4. O discurso é interativo: O exemplo mais evidente sobre a sua interatividade, seria pela conversação na qual haverá dois interlocutores que tomam a enunciação em função do outro. A interatividade tem como a conversação como o seu exemplo mais fácil de ser entendida, mas a interatividade do discurso vai além desses meios com a existência de discursos que não permitem ou contenham pouca interatividade, tais como em uma conferência e locução de rádio. 5. O discurso é contextualizado: O discurso não irá intervir em um contexto pois ele estará contextualizado, pois não existe discurso que não esteja dentro de um. Se entende que ele contribui para o melhor entendimento do contexto que ele irá trazer. O discurso é assumido: O discurso não poderá ser descrito como um discurso sem que ele esteja relacionado a algo ou alguém. A questão sobre as formas de subjetividade que o discurso supõe é um dos grandes eixos da análise do discurso. 6. O discurso é regido por normas: Como um objeto vindo do fruto de um indivíduo que esteja submetido a normas sociais o discurso estará sujeito, a regras sociais mais gerais, e suas normas específicas. Visto eu fundamentalmente, nenhum ato de enunciação pode ocorrer sem justificar, seu direito de apresentar-se tal como se apresenta. 7. O discurso é assumido em um interdiscurso: Será possível adquirir um sentido ao discurso contanto que ele esteja dentro de outros discursos, o interdiscurso significará justamente esse relacionamento do discurso com outros variados discursos que ele entrará em contato, no qual ele tem que abrir um caminho para o seu entendimento. Para interpretar o menor enunciado, é preciso colocá-lo em relação com todos os tipos de outros enunciados, os quais se comentam, parodiam, citam. Segundo Caprioli (2018), resumidamente a Análise do Discurso enquanto metodologia nos possibilita observar o contexto em que um documento foi concebido, indo além do que está expresso em sua escrita. Da mesma forma, o Discurso Literário não ficará ligado apenas aos procedimentos adotados pelo autor, mas também ao contexto sociocultural ao qual está inserido. 5 IDEOLOGIA E INFORMAÇÃO Então vindo de toda a explicação acerca da relação da Análise Documental e Análise do Discurso com o seu principal objeto de estudo: o discurso, podemos então dizer que o texto é comunicativo certo? Ele tem como propósito servir como meio para se transmitir uma 8 mensagem direcionada dentro de um contexto; o analista do documental e do discurso utilizará então que ele identifica dentro do discurso, aquilo o qual ele busca procurar o sentido e a mensagem daquele texto, de acordo com Moraes (2011), podemos dizer que o analista está em busca do aboutness do texto. Esclarecendo que o Aboutness é aquilo que constitui o cerne do documento, é algo que dará o sentido real dele. Para Moraes (2007), núcleo representativo de la tematicidad intrínseca del documento que ha de ser analizado. De modo a então diferenciar o seu estudo em textos científicos para com textos narrativos de ficção, considerando o suporte que o aboutness dá à análise documental de textos científicos, para alcançar a organização e representação temática presentes nos textos narrativos de ficção. É preciso ressaltar a necessidade comunicativa esteve presente lado a lado com a humanidade conforme ela ia avançando nos séculos desde os traços nas cavernas até pela presença constante digital que se tem hoje em dia; e nessa necessidade sempre foi acompanhada das mudanças que se dava conforme os anos que se passavam e mais importante ainda, conforme as sociedades se metamorfoseiam conforme o período e o que se ocorria nele. Portanto, não é surpresa que dessas mudanças ocorresse o enriquecimento discursivo. Percebe-se como houve a transmutação de discursos, principalmente nos últimos séculos advindos de um fato histórico — a Revolução Francesa, onde a importância dos discursos foi fatalmente (literalmente no sentido da palavra) decisiva para a evolução da sociedade conhecida até então, o qual faz com que ecoasse por vários cantos que antes não seriam alcançados, devido a não terem uma tecnologia tão avançada, diferente do que já se tinha na época — com a utilização da máquina de impressão trabalhando a todo vapor pelos revolucionários. Aqui pode-se encontrar o que Althusser (1974), chamaria de Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE), a imprensa seja ela no começo usada pelo Antigo Regime francês – o rei, clero e a nobreza, terminou sendo usada por uma parte da população que na onda revolucionária conseguiu conquistar papéis decisivos no ambiente político da época, a burguesia, que então viria a se tornar ‘dona’ nos novos e também antigos Aparelhos Ideológicos de Estado. O papel fundamental de imprensa para a Revolução Francesa, foi tamanha que dentre umas das mais várias mentiras feitas para sujar ainda mais a imagem nem um pouco maculada restava da nobreza francesa ainda permanece no imaginário popular: quando disseram para a então Rainha da França, Maria Antonieta, que o povo estava sem pão e passando fome ela teria dito para que comessem bolo – frase essa utilizada no filme que tenta mostrar um pouco mais o lado ‘humano’ da rainha, de Sofia Coppola “Maria Antonieta” de 2006. Inclusive não 9 é só bolo que foi passado como fala dita pela Rainha da França, demasiadas versões declaram diferentes tipos de alimentos vindos da confeitaria ou pâtisserie como “que comam brioche” ou “que comam macarons”. Como é dito por Maior-Barron (2019) It is argued here that the true role of Marie Antoinette was successfully obscured through juxtaposition with the Queen’s perception by the French collective memory [...]. This has as connotative meanings a supposed disregard for the poor (arrogance), cruelty and stupidity. It is now understood that Marie Antoinette never uttered these words, but rather they were introduced and perpetuated by nineteenth-century French Republican school history books [...]. Mas o que esse passado tem a ver com a particularidade que se tem na Análise do Discurso? Muita coisa, a começar pelo fato de haver ali já o pensamento de ‘discurso’ e de como ele é importante sócio historicamente falando, pois, acaba transmitindo 1- o que se passava na época, ou seja, o contexto histórico; 2 — como funcionava a sociedade, quais eram os atores políticos e não políticos ali presentes; e 3 — os sujeitos que transmitiam discursos da época, portanto sujeito discursivo sócio histórico; então se tem o sujeito para a Análise do Discurso de matriz francesa. Retomando então para o texto, no qual para analista o texto não irá se resumir em apenas ideias que já estão pré-concebidas acerca deste, mas ele irá trazer múltiplas possibilidades de interpretação para o analista através das leituras realizadas. Então para a Análise do Discurso, o texto não apenas interessa a sua organização literária, mas sim como o texto irá se organizar em relação à visão de mundo que o sujeito irá transmitir nele. Será nesse ambiente que a Análise do Discurso, proposta por Pêcheux e utilizada como metodologia para a análise do texto narrativo de ficção utilizará como objeto de estudo, pois na Análise do Discurso de Matriz Francesa se foca os estudos em dois conceitos: a ideologia e o discurso. A ideologia vinda de Althusser e o discurso de Foucault, este último já explicado, enquanto a noção de ideologia para Althusser tem como base o seu trabalho acerca dos “Aparelhos Ideológicos de Estado” do qual se retira o conceito de Formação Ideológica (FI) e de Formação Discursiva (FD), sendo esta última uma combinação de conceitos discutidos nos livros de Foucault (1971) e Pêcheux (1995). É preciso o entendimento primeiro sobre o conceito de ideologia de Marx (A ideologia alemã,1846) no qual Althusser se baseia em seus trabalhos, pois para Marx a ideologia será a separação da produção de ideias e conjunto com as condições de classes. O que para Althusser a ideologia servirá como um meio para a classe dominante perpetuar as condições materiais, ideológicas e políticas de exploração das classes submissas — como explica BRANDÃO (2004), Althusser ainda irá trazer dois conceitos sobre como funcionaria essa perpetuação de 10 ideias, usando os conceitos de Aparelhos Repressores do Estado (ARE) e o Aparelho Ideológico do Estado (AIE) no qual respectivamente irão compreender o governo, a administração, o Exército, a polícia, os tribunais, a imprensa entre outros; e compreender instituições tais como: a religião, a escola, a família, o direito, a político, o sindicato, a cultura, a informação. A formação discursiva será aquela que estará inserida dentro do processo de construção do discurso abrangendo o seu contexto sócio-histórico, melhor dizendo: Chamaremos, então, formação discursiva aquilo que, em uma formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada em uma conjuntura dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina "o que pode e o que deve ser dito" (articulado sob a forma de uma alocução, de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa, etc.) (PÊCHEUX, 1997, p. 160). E as palavras não terão sentido ‘sozinhas’, mas sim estando em um cenário que permita a sua interpretação, e é aí que entra a Formação ideológica (FI). Em que segundo Orlandi (2009, p. 43), [...] tudo que dizemos tem, pois, um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. Nada é dito então ‘sozinho’, a fala sempre será acompanhada do contexto em que o seu orador a ditou. 6 TEXTOS NARRATIVOS DE FICÇÃO Quando olhamos para os textos narrativos de ficção, primeiro é necessário entender que a narrativa (como prosa e poesia) sempre esteve presente na história das civilizações do mundo existindo como um método de comunicação de geração para geração, assim subsequente criando meios de disseminação do conhecimento causado por essa troca de informações. Pois, textos narrativos são constituídos por ações vindas daqueles presentes na sua estrutura, como criador, narrador e personagens, mas trazendo para o campo da Ciência da Informação, Begthol (1994) define os textos narrativos ficção como: The world of documents may be divided initially in a conventional way, i.e., those works that are thought to arise primarily from the imaginations of their creators and those that are thought to arise from a rational faculty. "Fiction" may in turn be operationally defined as works arising from the imagination that are written in narrative prose. In this context, "narrative" may be taken broadly to include discourses that progress in some sense from one point to another. O texto é tido como um produto visível e entendível, para a organização das ideias vindo do imaginário do seu autor que poderá ser interpretado pelo seu leitor conforme os conhecimentos linguísticos destes. Mas existe uma diferença entre os textos científicos (onde se usa a linguagem do âmbito que ele se trata) e os textos narrativos de ficção: 11 [...] O texto de ficção é aquele que é escrito pensando-se também na seleção de termos que melhor se adequam e reforçam o contexto sugerido pelo conteúdo semântico, ou seja, a ficção é uma forma de manifestação artística na qual o artista se serve das palavras para criar a sua obra de arte [...]. Pode- se afirmar que o texto científico também é escrito nos mesmos moldes, ou seja, há uma seleção rigorosa dos termos a serem utilizados, e de fato o são. A grande diferença é que, enquanto os textos científicos esforçam-se para ser o mais claro possível, não se pode dizer o mesmo dos textos de ficção, pois a escolha dos termos se dá para causar um efeito que busque, muitas vezes, obliterar o que seria o real sentido do que está escrito, ou mesmo sugerir múltiplos e diferentes significados. (MORAES,2011 p.22). Como dito, os textos técnico-científicos têm como base no esquema que denominado por mim de IOMRC — Introdução, Objetivos, Metodologia, Resultados e Conclusão (ou Considerações finais) — que independente da área do conhecimento, e do modelo escolhido para artigo, livro ou resumo o texto a ser produzido seguirá essa estrutura textual. Resultando então, como dito anteriormente, em uma Análise Documental bem mais conciso que os elementos que compõem o texto científico já estão pré-estabelecidos e explícitos no corpo do documento. 6.1 Fábulas A pesquisa propõe análises em cima de textos feitos por Millôr Fernandes, mais exclusivamente fábulas escritas por ele ao longo da sua vida, mas para essa pesquisa foi escolhido fábulas que foram feitas no período que consiste na Ditadura Militar brasileira (1964 – 1985). Mas antes é preciso contextualizar o porquê da escolha desse gênero textual. De acordo com Dezotti (1991) a fábula consiste em: Um ato de fala que se realiza por meio de uma narrativa. Logo, ela constitui um modo poético de construção discursiva, em que o narrador passa a ser o meio de expressão do dizer. Na fábula, o narra está a serviço dos mais variados atos de fala: demonstrar, censurar, recomendar, aconselhar, exortar, etc. Essa característica formal, muito simples, aliás, pode ser uma explicação para a popularidade e a resistência desse gênero através dos tempos. É que a maleabilidade de sua forma lhe permite incorporar novos repertórios de narrativas e ajustar-se à expressão de visões de mundo de diferentes épocas. (DEZOTTI, 1991, p.11). Fazendo parte de seu corpus a fábula irá trazer personagens, em sua maioria figuras não humanas, que irão dramatizar ações comumente realizadas por seres humanos seja essas ações negativas ou positivas. Sendo frequente a presença de uma moral no final com a finalidade de aprendizado ou consequência para aqueles que a estão lendo. Essa categoria de fábula é comumente atribuído a Esopo, escritor grego (apesar de na época se prevalecer a oralidade), enquanto o contato mais famoso recente que tivemos com fábulas foi através de La Fontaine, atribuindo uma retórica mais voltada para a poesia e então, 12 abandonando o seu estatuto oratório e forense para se transformar numa arte das figuras e ornamentos, onde a forma desempenha um papel determinante, relegando o conteúdo moral para segundo plano [...]”. No entanto, a composição básica de uma fábula – prólogo, corpo central e epílogo de teor moral [...] permanece. (TERENZI, SCHERER, 2018). Para nortear as análises é levado em consideração o modelo proposto de Análise do Discurso francês de Eni. P. Orlandi (2008), que foi adaptado por Lima (2015): “Primeiro tratamento de análise superficial”: Momento em que se tem um contato primário com a superfície linguística do texto. É também neste momento em que é exposto o elemento do arquivo, ou seja, o corpus que será submetido à análise. “Transformação da superfície linguística em objeto discursivo”: Para efetuar esta transformação é necessário realizar uma pergunta norteadora: “O que é dito neste discurso? O que é dito em outro discurso?” A partir de tal estruturação, expõe-se o objeto discursivo a partir dos fenômenos linguísticos discursivos (paráfrase, polissemia, polifonia) que incidem sobre ele. “Do objeto discursivo para o processo discursivo”: Momento em que a pergunta norteadora é: “Por que isso e não outro?”. Na resposta em cada análise será atingido o processo discursivo, que mostra a relação que aquele dizer tem com o seu exterior. Eloquentemente, nas análises utilizaremos a síntese proposta por Lima (2015), juntamente com uma síntese das considerações de Maingueneau (2009), quando este explica a Análise do Discurso Literário, em cima das Fábulas de Millôr. É importante ressaltar que O autor das fábulas Millôr Fernandes é descrito, segundo Moraes (2011): Pode ser caracterizado por sua criação humorística, seu caráter descontraído e despretensioso que revelam um escritor único, para o qual, o humorismo pressupõe um veemente trabalho com a linguagem, recorrendo a uma grande variedade de recursos estilísticos, a fim de promover o riso, não apenas com vias ao cômico, mas com pretensão de fazer o leitor refletir sobre a realidade social que o cerca. (MORAES, 2011, p. 59) Os textos de Millôr contém, por assim dizer, uma satirização da vida cotidiana, utilizando aspectos desta de diferentes grupos sociais em que utiliza em sua maioria a ironia e a metáfora como meios de crítica social. De acordo com Moraes (2011, p.60), Millôr não se submete a ser um fabulista tradicional, e sim autor da antimoral como também da irreverência representando o contexto histórico-social de maneira figurativa através de personagens fabulares parodiando diversos conflitos da época. 6.2 Millôr Fernandes Milton Viola Fernandes mais comumente conhecido como Millôr Fernandes, foi humorista, dramaturgo, desenhista, chargista, jornalista e escritor brasileiro nascido na ‘cidade maravilhosa’, Rio de Janeiro, em 16 de agosto de 1923 sendo filho do emigrante espanhol 13 Francisco Fernandes, o qual veio a falecer dois anos após o nascimento de Millôr, com uma brasileira Maria Viola Fernandes a qual infelizmente veio a falecer quando Millôr tinha onze anos. Em 1964, sob o pretexto do já conhecido fantasma do comunismo, vide que Getúlio Vargas havia ‘combatido’ a chamada Intentona Comunista liderada por Luís Carlos Prestes do partido Aliança Nacional Libertadora (ANL), quando houve revoltas em 1935 (Pandolfi, 2004), e que, portanto, o velho fantasma comunista ameaçava a nação novamente como o perigo estando tão perto como tendo um presidente favorável a causa, como aconteceu com João Goulart (Jango), e que infelizmente sofreu um golpe de estado — é importante ressaltar que essa não foi unicamente a causa de sua queda como presidente e que outros fatores, externos e internos, ocasionaram na situação de 1964, mas para fins de contexto da história de Millôr Fernandes foram retirados e incluídos apenas a motivação anticomunista. Então, em 1 de abril de 1964 aconteceu o Golpe Militar de 1964, com o General Castelo Branco assumindo o cargo de Presidente da República no dia 3 de abril, e com Jango se exilando no Uruguai. O Golpe Militar de 1964 viria a durar longos 21 anos, com o seu término oficial sendo em 15 de março de 1985. Voltando para Millôr, logo após o Golpe Militar, mais precisamente em 21 de maio ele lançou a revista Pif-Paf — uma versão maior e mais ampliada da que ele mantinha no jornal O Cruzeiro, juntamente com ele outros artistas como Ziraldo, também publicaram na revista — ao todo foram oito edições lançadas até que a censura e perseguição da ditadura se tornasse implacável. Figura - Pif-Paf nº1, de 21 de maio de 1964. 14 Fonte: Instituto Moreira Salles, 2014. Também foi autor de várias peças que faziam críticas e resistências ao regime militar, uma das mais famosas foi a peça Liberdade, Liberdade, em parceria com Flávio Rangel (diretor e cenógrafo brasileiro), mas em 1966 foi a peça que se tornou mais uma vítima da censura. No ano anterior da publicação de Pif-Paf, em 1963, Millôr Fernandes lançou publica pela primeira vez o livro Fábulas Fabulosas; mas dez anos depois, no auge do governo Médici, em 1973, o livro tem reedição. Na época havia sido criada a Lei de Imprensa que proibia expressamente toda e qualquer publicação de conteúdo que incitasse, de algum modo, a desordem social ou criticasse as autoridades instituídas. (Farencena, 2011). De acordo com Coleone (2008), Millôr Fernandes encontra na fábula, gênero fantástico e alegórico, uma alternativa eficaz, inteligente e bem-humorada de manifestar-se contra a Ditadura, inicialmente, e sobre as mazelas da sociedade na totalidade. Assim então, Millôr não utiliza o modelo clássico de fábulas vindas de Esopo ou La Fontaine, ele as compreende como meios de transmitir suas mensagens e críticas de maneira que consigam ‘escapar’ de alguma censura, pois, se olharmos com atenção ao modelo de fábula de Esopo, por exemplo, veremos sempre a ‘moral’ da história, isso quer dizer que a fábula por si só já compreende uma mensagem subjetiva ao leitor, mas estando ali escancarada para qualquer um ler. 15 Feito a contextualização das teorias estudadas e que serão aplicadas, juntamente com o histórico do autor estudado, passaremos então às análises dos textos. 7 DISCUSSÃO 7.1 Proposta de modelo de análise dos textos de Millôr Fernandes Abaixo estão os modelos utilizados pela autora com a finalidade de se criar um esquema de encaixe para um meio de análise das fábulas de Millôr Fernandes. Foi utilizado dois modelos norteadores para a proposta de análise da autora. Tabela 1 – Modelo proposto por Orlandi (2008) que foi sintetizado por Lima (2015) Primeiro tratamento superficial É o primeiro contato que o analista tem com a obra. Devido a isso, deve atentar ao corpo daquele documento. Transformação da superfície linguística em objeto discursivo “O que é dito nesse discurso?”, pegar elementos dentro do discurso com a finalidade de deixá-lo pronto como um objeto discursivo a ser analisado. Do objeto discursivo para o processo discursivo “Por que isso é dito nesse discurso e não no outro?”, parte do processo discursivo de entender o relacionamento do discurso com o seu contexto. Fonte: organizado pela autora. Foi resumido, de forma a entender o que Maingueneau diz sobre Análise do Discurso Literário no quadro a seguir: Tabela 2 - Modelo de Maingueneau (2009) O discurso supõe uma organização transfrástica: Mas isso não necessariamente quer dizer que ele deva ser de um tamanho superior a uma frase, visto que ele mobiliza outras formas de ordem divergindo da frase. Um provérbio constituído de uma única frase pode ser considerado um discurso. O discurso é orientado: O discurso tem um alvo direcionado. O discurso é uma forma de ação: A problemática dos atos de linguagem, desenvolvida por filósofos como Searle (1969), difundiu maciçamente a ideia de que toda a enunciação constitui um ato (prometer, sugerir, afirmar, interrogar...) visando a modificar uma situação. O discurso é interativo: Seja por meio de conversação ou oratória, 16 o discurso irá interagir com o ambiente. O discurso é contextualizado: Já inserido dentro de um contexto, sendo sócio histórico. O discurso é assumido: O discurso não poderá ser descrito como um discurso sem que ele esteja relacionado a algo ou alguém. Sempre haverá alguém por detrás dele. O discurso é regido por normas: Como um objeto vindo do fruto de um indivíduo que esteja submetido a normas sociais o discurso estará sujeito, a regras sociais mais gerais, e suas normas específicas. O discurso é considerado no âmbito do interdiscurso: Interdiscurso significará justamente esse relacionamento do discurso com outros variados discursos que ele entrará em Fonte: Maingueneau (2009) e sintetizado pela autora. Os argumentos de Maingueneau (2009), para se analisar um discurso literário, serão compilados no modelo proposto pela autora, e, portanto, não irão carregar as mesmas denominações. Conforme previamente esclarecido a proposta de Análise do Discurso como método para a Análise Documental dos textos de Millôr Fernandes, a autora pondera que: como textos narrativos de ficção não contém estrutura organizacional única seguida por todos os textos, a proposta do método de análise considera o tamanho dos textos que será analisado; em razão de não atrapalhar ou escolher conceitos errados que acabam sendo inúteis para o resultado da análise; essa parte se deve em consideração a familiaridade do analista para com os textos e Análise do Discurso de matriz francesa. Visto que os textos aqui analisados no presente trabalho não ultrapassam mais do que 20 linhas, então esse foi um fator que foi levado em consideração pela autora Tabela 3 – Proposta de método de Análise do Discurso para textos narrativos de ficção Qual o modelo de organização textual foi realizado no discurso? É uma mensagem? É um recado de jornal? Ou está dentro de um livro? Especificar qual é a maneira que está organizado o texto narrativo de ficção. * O que é dito nesse discurso? O que é dito no discurso-autor? Se codifica a mensagem por detrás do discurso? Ela coincide com a Formação Discursiva e Ideológica (FDI) do autor? * Ocorre identificação do contexto interno e externo do discurso? Identifica-se o contexto histórico da obra e dentro dela? * 17 Quem e/ou o que, assume o discurso? Tanto o sujeito autor quanto o sujeito presente no discurso estão explicitamente se dirigindo a algo/alguém? * Concluindo então: que é dito nesse discurso? E o que é dito no discurso- autor? Pergunta feita para condensar o que concisamente foi discernido com resultado da análise. Fonte: cunho da autora. É pertinente expressar os significados que cada pergunta na proposta de análise pretende que seja respondida. O entendimento para todas as questões terem sido feitas foi pensando no ato da análise documental que é realizada por bibliotecários, ao ponto de vista da autora não havia sentido em planejar e criar um método que fosse complicado e apinhado de perguntas que acabassem sendo impertinentes para o sentido da análise. Chegou-se no fim a cinco questões norteadoras como método. “Qual o modelo de organização textual foi realizado no discurso?”, exige que se identifique o gênero textual do documento analisado, pois as diferenças que existem entre os gêneros auxilia na objetividade da análise. “O que é dito nesse discurso? O que é dito no discurso-autor?”, quando escrevo ‘discurso-autor’ é para que fique evidente a qual discurso deve se procurar nesta pergunta, lembrando que para a Análise do Discurso de matriz francesa é estudado resumidamente dois discursos: aquele que está sendo lido ou dito e aquele a quem o fez. “Ocorre identificação do contexto interno e externo do discurso?”, a referida pergunta se deve ao fato de qual é/era a conjuntura política-social que o sujeito do discurso e o sujeito que o criou se insere. “Quem é/ou o que, assume o discurso?”, caracterizada como sendo muito subjetiva essa pergunta, ou seja, fica totalmente ao encargo do analista ou bibliotecário a réplica a essa pergunta; pois sua resposta não interfere ao ponto de ser obrigatória a sua resposta, ela é mais voltada ao estudo e compreensão do documento e de quem o fez. “Concluindo então: que é dito nesse discurso? E o que é dito no discurso- autor?”, questão feita inteiramente para fins de condensação de todas as perguntas anteriores. É preciso ressaltar que, as perguntas marcadas com asteriscos, servem para nortear as respostas e não necessariamente precisam ser respondidas, apenas as perguntas da primeira coluna são relevantes a proposta de análise.. Esclarecido então os pontos que levaram a criação do método, partiremos para as análises. 7.2 “Mudanças Radicais Imutáveis: à maneira dos… chineses” 18 Quadro 1 – Mudanças Radicais Imutáveis: à maneira dos... chineses Mudanças radicais imutáveis: À maneira dos...Chineses Olin-Pin, abastado negociante de óleos e arroz, vivia numa imponente mansão em Kin-Tipê. A sua posição social e a sua mansão só não eram perfeitas porque, à direita e à esquerda da propriedade, havia, há algum tempo, dois ferreiros que ferreiravam ininterruptamente, tinindo e retinindo malhos, bigornas e ferraduras. Olin-Pin, muitas vezes sem dormir, dado o tim-pin-tin, pan-tan-pan a noite inteira, resolveu chamar os dois ferreiros, e ofereceu a eles 1000 iens de compensação, para que ambos se mudassem com suas ferrarias. Os dois ferreiros acharam tentadora a proposta (um ien, na época, valia mil euros) e prometeram pensar no assunto com todo empenho. E pensaram. E com tanto empenho que, apenas dois dias depois, prevenidamente acompanhados de oito advogados, compareceram juntos diante de Olin-Pin. E assinaram contrato, cada um prometendo se mudar para outro lugar dentro de 24 horas. Olin-Pin pagou imediatamente os 1000 iens (que a essa altura já eram 10.000) prometidos a cada um e foi dormir feliz, envolvido em lençóis de seda e adorável silêncio. Mas no dia seguinte acordou sobressaltado, os ouvidos estourando com o mesmo barulho de sempre. E, quando ia reclamar violenta e legalmente contra a quebra de contrato, verificou que não tinha o que reclamar. Os dois ferreiros tinham cumprido fielmente o que haviam prometido. Ambos tinham se mudado. O ferreiro da direita tinha se mudado pra esquerda e o da esquerda tinha se mudado pra direita. MORAL: Cuidado quando a esquerda e a direita estão de acordo. 19 Fonte: FERNANDES, Millôr. Mudanças radicais imutáveis: à maneira dos... chineses. À maneira dos... Chineses. 2004. A história é composta majoritariamente por três personagens, Olin-Pin um negociante de mercadorias e dois ferreiros que vivem nos dois lados de sua residência, no qual para fins de melhor entendimento da análise se chamarão Esquerda e Direita; esse é ponto de partida da história pois logo a situação será explicada acerca do contexto em que esses três personagens irão interagir. Além de que o uso da expressão Mudanças radicais imutáveis segundo Moraes (20012), pode ser classificada como um oximoro – o qual acaba por ser uma figura em que se tem umas palavras em oposição a outra: mudanças, indica algo que muda mas a palavra imutável vem de contraponto. Tendo em vista a reunião de dois termos que são paradoxais, e que se excluem mutuamente. Tabela 4 – Análise “Mudanças radicais imutáveis: à maneira dos...chineses” Qual o modelo de organização textual foi realizado no discurso? O texto está organizado seguindo os conformes do gênero textual que se identifica como fábula. O que é dito nesse discurso? O que é dito no discurso-autor? Se codifica a mensagem por detrás do discurso? O discurso presente no texto se encaixa dentro de uma sátira política feita do Millôr Fernandes, a respeito de que na época da sua escrita, isso é o período da Ditadura Militar Brasileira (1964- 1985), as críticas ao regime e inclusive a sociedade precisava ser mascarada para que pudesse ir ao público e não fosse censurada pelos órgãos do governo. Mas não sendo apenas uma crítica ao poder de estado que estava no controle dos aparelhos ideológicos de estado na época, que consista em pessoas com ideologias voltadas à direita e a extrema-direita; Millôr acaba fazendo uma crítica à esquerda também, pois mesmo que ambas apresentem ideologias divergentes, segundo o pensamento encontrado no discurso, o autor diz que ambas querem o mesmo: estar no poder, e caso essas dois lados estejam de acordo fica o alerta pois o povo representado no personagem 'Olin-Pin' acaba sofrendo no final. 20 Ocorre identificação do contexto interno e externo do discurso? Identifica-se o contexto histórico da obra e dentro dela? Não é possível identificar dentro da obra, algum contexto ou época. Quem e/ou o que, assume o discurso? Tanto o sujeito autor quanto o sujeito presente no discurso estão explicitamente se dirigindo a algo/alguém? O discurso é assumido no texto pelos personagens ‘Ferreiro da direita’ e ‘Ferreiro da Esquerda. Concluindo então: o que é dito nesse discurso? E o que é dito no discurso- autor? Sátira política feita de forma velada aos poderes de Estado: direita e esquerda; com a finalidade de evitar censura. Fonte: cunho da autora. Sabendo que a fábula funciona como uma sátira política, olhamos para a moral que Millôr quer nos transmitir é simples: as palavras esquerda e direita servem como rótulos para grupos de pessoas que estarão sobre uma mesma ideologia, e não importa qual seja serão segundo um ditado popular ‘farinha do mesmo saco’, pois se pegarmos a alegoria de que o negociante está no papel representativo de uma população, e os ferreiros representando governantes fica claro o objetivo que proposto pela moral da fábula. Pois, mesmo que hoje exista uma grande polarização entre essas duas ideologias, as suas intenções quando voltada para o seu ‘povo’, se tornam incertas, pois ocorre uma perversão a seus ideais, voltando os mesmos para o benefício próprio — como exemplificado no texto. Como é explicado por Moraes e Guimarães (2007) que de esta forma, a través de los recorridos temático y figurativo, se llega al tema del texto: el oportunismo político, confirmado por la estructura fundamental del texto, o un elemento más abstracto, la política. 7.3 “O Cavalo e o Cavaleiro” Quadro 2 – O Cavalo e o Cavaleiro 21 Pois ainda que pareça incrível, quando o homem chegou às portas do céu, São Pedro disse: “- Não pode entrar!” “- Como não posso entrar? Tenho folha corrida de bons antecedentes e tenho bons antecedentes mesmo.” “- Sei - respondeu Saint Pierre - mas no céu ninguém entra sem cavalo.” E o homem, não podendo argumentar com Saint Peter, voltou. No caminho encontrou um velho amigo e perguntou a ele aonde ia. Disse o amigo que ao céu. Ele lhe explicou então que, sem cavalo, “neca”. O amigo então sugeriu: “Olha aqui, San Pietro já está velho. Você fica de quatro, eu monto em você. Ele não percebe nada porque já está velho e míope e nós entramos no céu.” E assim fizeram. Na porta, o Santo olhou o nosso herói: “Opa, você de novo? Ah, conseguiu cavalo, hem? Muito bem, amarre o cavalo aí fora e pode entrar.” Moral: No céu não entram sujeitos com ideias. Fonte: Fernandes, Millôr, Fábulas fabulosas. A história é composta por três personagens nos quais compreendem: 2 homens que estão tentando entrar no céu e São Pedro, quanto a questão do cavalo, cabe ao próprio homem fazer o papel de animal. Tabela 5 – Análise “O Cavalo e o Cavaleiro” Qual o modelo de organização textual foi realizado no discurso? O texto está organizado seguindo os conformes do gênero textual que se identifica como fábula. O que é dito nesse discurso? O que é dito no discurso-autor? Nesse texto, funcionam as correlações dos termos ‘cavalo’ e ‘cavaleiro’ que são no sentido figurativo ‘racional’ e ‘irracional’, visto que o cavaleiro que é quem guia o cavalo é ser de inteligência nesse duo. 22 Ocorre identificação do contexto interno e externo do discurso? Não se identifica nenhum contexto que indique que o texto está se referindo a qualquer contexto externo; mesmo que tenha sido escrito no período da Ditadura Militar. Quem e/ou o que, assume o discurso? Acerca da racionalidade, o autor brinca com as palavras inclusive quando coloca ao longo da história a troca de nomes do santo em outras línguas. Concluindo então: o que é dito nesse discurso? E o que é dito no discurso- autor? Segundo Moraes, Guimarães e Guarido (2007), De esta forma, a través de los recorridos temático y figurativo, se llega al tema del texto: sagacidad, confirmada por la estructura fundamental del texto, o elemento más abstracto, racional. Fonte: cunho da autora. Assim como explicado na tabela, na análise do texto é possível notar que las figuras “caballo” y “sujeto con ideas”, al hacer el recorrido figurativo, adquieren el significado de “irracional” y “racional”. Esta lectura es permitida al hacer el recorrido temático, finalizando con los temas “sagacidad” y “estupidez”, y se hace una conexión con los temas del título, Caballo y Caballero. (MORAES, GUIMARÃES, GUARIDO, 2007). 7.4 “O Leão, o burro e o rato” Quadro 3 – O Leão, o burro e o rato Um leão, um burro e um rato voltaram, afinal, da caçada que haviam empreendido juntos e colocaram numa clareira tudo que tinham caçado: dois veados, algumas perdizes, três tatus, uma paca e muita caça menor. O leão sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou: — Bem, agora que terminamos um magnífico dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforço conjunto. Compadre burro, por favor, você, que é o mais sábio de nós três, com licença do compadre rato, você, compadre burro, vai fazer a partilha desta caça em três partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, até o rio, beber um pouco de água, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. Os dois se afastaram, foram até o rio, beberam água e ficaram um tempo. Voltaram e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caça em três partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leão: — Pronto, compadre leão, aí está: que acha da partilha? O leão não disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o no chão, morto. Sorrindo, o leão voltou-se para o rato e disse: — Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impressão de que concorda em que não podíamos suportar a presença de tamanha inaptidão e burrice. Desculpe eu ter perdido a paciência, mas não havia outra coisa a fazer. Há muito que eu não suportava mais o compadre burro. Me faça 23 um favor agora — dívida você o bolo da caça, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou até o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberação sensata. Mal o leão se afastou, o rato não teve a menor dúvida. Dividiu o monte de caça em dois: de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro, apenas um ratinho cinza morto por acaso. O leão ainda não tinha chegado ao rio, quando o rato o chamou: — Compadre leão, está pronta a partilha! O leão, vendo a caça dividida de maneira tão justa, não pôde deixar de cumprimentar o rato: — Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como você chegou tão depressa a uma partilha tão certa? E o rato respondeu: — Muito simples. Estabeleci uma relação matemática entre seu tamanho e o meu — é claro que você precisa comer muito mais. Tracei uma comparação entre a sua força e a minha — é claro que você precisa de muito maior volume de alimentação do que eu. Comparei, ponderadamente, a sua posição na floresta com a minha — e, evidentemente, a partilha só podia ser esta. Além do que, sou um intelectual, sou todo espírito! — Inacreditável, inacreditável! Que compreensão! Que argúcia! — exclamou o leão, realmente admirado. — Olha, juro que nunca tinha notado, em você, essa cultura. Como você escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? — Na verdade, leão, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fúnebre, se não se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. MORAL: Só um burro tenta ficar com a parte do leão. Fonte: Fernandes, Millôr. Fábulas Fabulosas. No total, a fábula compreende três personagens principais: o leão, o burro e o rato. Podemos retirar como palavras-chave para a análise: camarada, partilha, três partes iguais, ‘acabei de aprender tudo agora mesmo’. Tabela 6 – Análise “O Leão, o burro e o rato” Qual o modelo de organização textual foi realizado no discurso? O texto está organizado seguindo os conformes do gênero textual que se identifica como fábula. O que é dito nesse discurso? O que é dito no discurso-autor? Se codifica a mensagem por detrás do discurso? É uma crítica ao sistema dito ‘igualitário’ pelas pessoas de esquerda, Millôr era conhecido crítico não apenas dos partidos de direita mas também dos de esquerda, pois para ele é constituíam ‘farinha do mesmo saco’. Visto o contexto do autor, e das suas próprias opiniões, Millôr acaba por não se restringir a sátiras apenas ao regime militar. 24 Ocorre identificação do contexto interno e externo do discurso? Não é possível se identificar contexto histórico dentro do texto, enquanto o contexto externo é possível deduzir pelo conhecimento prévio do autor, que se trata de uma crítica à ideologia e movimento político: comunismo – levando em consideração que o período da ditadura militar se encaixa dentro do contexto da chamada Guerra Fria, que foi um conflito político e ideológico entre os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que durou de 1947 a 1991. Quem e/ou o que, assume o discurso? É possível deduzir a opinião do sujeito- autor dentro da narrativa. Concluindo então: o que é dito nesse discurso? E o que é dito no discurso-autor? Uma crítica política feita em formato de fábula com a intenção de poder passar despercebida. Fonte: cunho da autora. O principal fator denunciante na obra é a palavra ‘camarada’, frase bastante característica dita por pessoas inseridas dentro de sociedade onde o pensamento dominante, é compreendido que tal pessoa é alguém de igual direito e posição política a outra – todos seriam iguais nesse tipo de regime. Porém, é conhecido que não foi isso que ocorreu com um dos maiores expoentes dessa ideologia, na União Soviética, não acabou ocorrendo a ‘igualdade’ para todos os seus cidadãos um fato conhecido por relatados, por exemplo, na fala de Duarte e Figueiredo (2017), onde a União Soviética passou por um período de estagnação que ocorreu no governo Brejnev (1964 – 1982), que passava por uma crise financeira. A representação da partilha de comida que dentro de um regime onde se dizia que todos eram iguais, deveria se igualitária também, mas nem mesmo os personagens escapam de questões acerca de força; pois evidentemente o Leão era o personagem mais forte, mas será que ele queria comer mais porque estava com muita fome realmente achou a partilha que o Burro fez, desigual? Ou fez de caso pensado, e como Rato não foi burro, soube ler bem a situação e conseguiu fazer uma partilha dita ‘igual’, mas fica evidente na frase “[...] de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro, apenas um ratinho cinza morto por acaso”, é chegada a conclusão que nada ali foi fruto de uma decisão justa para todos os envolvidos. 8 RESULTADOS É notável que o texto se trata de uma crítica política, segundo a análise feita por Moraes (2011) […] pode-se verificar que os adjetivos esquerda e direita, utilizados nas expressões ferreiro da esquerda e ferreiro da direita, são usados correntemente como indicadores de 25 posições políticas. Principalmente quando olhamos ao fato de que foi escrito durante o período que compreendia a linha dura da Ditadura Militar brasileira - onde não se restringia apenas a textos como fábulas, mas sim a músicas, jornais e telenovelas, como por exemplo foi o caso da novela ‘Roque Santeiro’ de Dias Gomes e Aguinaldo Silva de que só pode ser exibida após o fim da Ditadura Militar, no ano de 1985. Assim também conforme foi a conclusão chegada por Moraes; Guimarães (2008, p. 43) esteja correta quando indica que o texto se trata de questões políticas, pois não só o texto, mas também o contexto e o que o autor quis transmitir com a sua crítica. O que ocorre também com a terceira fábula quando é feita a análise desta, todavia dessa vez é concluído que está ligada a críticas à esquerda. Na análise da segunda fábula é notável que o método não coincide com aquele utilizado por Moraes, Guimarães e Guarido (2007), que utilizam o Percurso Gerativo de Sentido — isso é, um meio que compreende três níveis estruturais do texto: fundamental, narrativo e discursivo. Onde na estrutura fundamental irá ser estudada o conteúdo com a finalidade de se encontrar o aboutness do texto, enquanto na estrutura narrativa irá ser analisado a manipulação, competência, performance e sanção; por fim o arranjo discursivo é a figurativização e a tematização onde segundo Moraes (2011, p. 67) Há de se verificar qual é a predominância que existe no texto, elementos concretos (figuras) ou elementos abstratos (temas), com o intuito de se verificar de que forma ocorre a interação entre estes elementos, ou seja, de que maneira se verifica o percurso temático ou o percurso figurativo, sempre tendo em mente que concreto e abstrato não se opõem mutuamente, mas sim constituem um continuum em que se vai, de maneira gradual, do mais abstrato ao mais concreto. Portanto, é possível concluir que em casos de fábulas onde não se contêm um aprofundamento textual dentro do contexto que o sujeito-autor escreveu aquele texto, visto que a utilização da Análise do Discurso de matriz francesa onde se tem como o foco a formação discursiva e ideológica do sujeito-autor dentro e fora do seu texto não consegue relacionar palavras exatas para a sua representação, muito diferente do que ocorre em textos que o sujeito- autor se permitiu demonstrar dentro do texto mais sobre o seu contexto sócio histórico, assim tornando a história mais rica em detalhes e dando ao analista do discurso que usa ou usaria o método proposto mais palavras-chave a serem encontradas, ocasionando em uma melhor representação da informação daquele documento. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 26 Considera-se para o estudo relevante transmitir ideias acerca do histórico da Análise do Discurso, pois ele será o método testado como meio de se conseguir uma Análise Documental de Textos Narrativos de Ficção, assim como também debater acerca de seus principais autores, pois são as ideias deles que tomaremos de base para procedimentos de análise. Mas também é importante discorrer acerca do texto e do sujeito, ambos interligados — querendo ou não, quando referimos acerca do discurso do sujeito nem sempre esse discurso estará claro e bem esclarecido para o leitor, independentemente o autor de um discurso irá disseminar ideias, portanto, a ideologia, vigente do período sócio histórico que ele está inserido, e é aí onde se encontra a linguagem textual. Por isso no final da pesquisa é importante validar e verificar os objetos propostos no começo do projeto, visto que as razões para a necessidade de inseri-los foi descrita é importante ressaltar que, mesmo que se consiga chegar em demasiados textos de diferentes gêneros textuais analisados é vital para a Análise do Discurso como método, que seja sempre testada para que a sua aplicabilidade não se limite a textos narrativos de ficção pequenos e de análise razoavelmente fácil; quanto mais possível aplicar a Análise do Discurso de matriz francesa melhor para a sua validação como método de Análise Documental. Acredito que ainda é válido ressaltar nesse último parágrafo que, ao ponto de vista da autora os resultados obtidos foram satisfatórios, tanto no âmbito acadêmico quanto no pessoal; o período de estudo foi mais do que o suficiente para aprimorar o entendimento obtido acerca da Análise Documental e da Análise do Discurso. Tanto o período de primeiro contato com as áreas quanto no fim, ocorria novos desdobramentos e esse trabalho foi apenas uma “casquinha” do que se pode alcançar quando se estuda Análise do Discurso - principalmente as suas variadas matrizes acadêmicas; é um campo do conhecimento relativamente recente mas que contém demasiadas contribuições e que com toda a certeza acarretará em muitas outras, pois o discurso é fluido assim como aqueles que o fazem. REFERÊNCIAS ALVES, R. C. V. Análise de textos literários infanto-juvenis: perspectivas metodológicas com vistas à identificação do tema. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2008. ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de estado. Presença, Lisboa, 1974. ANTONIO, D. M. 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