UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA ―JÚLIO DE MESQUITA FILHO‖ FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS SAMIR ANTONIO RODRIGUES ABJAUDE AVALIAÇÃO DO USO PROFILÁTICO DE OMEPRAZOL EM PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL ESTADUAL AMÉRICO BRASILIENSE ARARAQUARA 2015 SAMIR ANTONIO RODRIGUES ABJAUDE AVALIAÇÃO DO USO PROFILÁTICO DE OMEPRAZOL EM PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL ESTADUAL AMÉRICO BRASILIENSE Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖, para a obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Área de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos. Orientadora: Prof. Dr. Patrícia de Carvalho Mastroianni ARARAQUARA 2015 Ficha Catalográfica Elaborada Pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação Faculdade de Ciências Farmacêuticas UNESP – Campus de Araraquara Abjaude, Samir Antonio Rodrigues A149a Avaliação do uso profilático de omeprazol em pacientes internados no hospital estadual Américo Brasiliense / Samir Antonio Rodrigues Abjaude – Araraquara, 2015 149 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas Orientador: Patrícia de Carvalho Mastroianni 1. Omeprazol. 2. Uso Off-Labe. 3. Farmacovigilância. 4. Medição de risco. 5. Toxicidade de drogas. I. Mastroianni, Patrícia de Carvalho, orient. II. Título. CAPES: 40300005 DEDICATÓRIA Dedico este estudo aos meus pais Maria e Antonio Abjaude, por mostrar que todos os obstáculos são passíveis de superação. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Maria Imaculada Rodrigues Abjaude e Antonio José Abjaude, pelo apoio incondicional para que eu possa tomar todas as decisões para alcançar minhas metas, e por me ensinar ser honesto e solidário com o próximo. Agradeço ao meu irmão Samuel por estar presente no convívio familiar, colaborando com eles na minha ausência. Agradeço a toda minha família por entender minhas ausências em momentos especiais. Às alunas de iniciação científica Stefane Paulo e Silva e Stephania Furlanetto Mieli por auxiliarem na execução deste projeto e por todo companheirismo durante este percurso. Agradeço à Stefane pela dedicação e comprometimento com as nossas atividades; e à Stephania pela sabedoria e empenho com nossas pesquisas. À Dr. Fabiana Rossi Varallo, meu grande exemplo de profissional e de pessoa. Agradeço por ter me acolhido em todos os momentos de alegria e desespero, pelo ensinamento, pela paciência e pela grande amizade. À mestranda Fernanda Mariana de Oliveira, minha grande amiga, agradeço pelo apoio diário, estímulo a todos os momentos, ombro amigo e pelo companheirismo nos momentos de descontração. A todos os colaboradores do Núcleo de Atenção Farmacêutica (NAF). Às acadêmicas Michely Fernanda Leopoldo e Carolina Costa de Paula pela iniciativa desta pesquisa. E ao acadêmico Jhohann R. L. Benzi pelo companheirismo e estímulo mútuo na execução dos estudos. Aos meus amigos e companheiros de pós-graduação pelo apoio profissional e companheirismo em momentos de descontração: Mariana M. Lima, Mirela Garcia, Flávia Carnavalli, Ariane B. Trindade, Francine A. Manente, Andressa Fujimura, Martina C. Borges, Derik D. Barbosa, Marina R. Oliveira, Ariane C. B. Zanetti, Sônia A. Figueiredo, Marcela C. Ribeiro e Raissa N. Fagundes. À Nicole Rodrigues da Silva, minha grande amiga e colaboradora de pesquisas desde a graduação, por estar sempre me apoiando em os todos os momentos. Ao professor Dr. Ricardo Rascado Radighieri que me incentivou em vários momentos para que eu seguisse carreira acadêmica. Aos coordenadores e professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, pela oportunidade oferecida para meu crescimento profissional. Em especial, a todos os funcionários da pós-graduação, Cláudia L. Molina, Daniela A. T. L. Oliveira, Flávia S. de Jesus e Joyce C. G. Romero, que sempre me auxiliaram nas atividades burocráticas inerentes da pós-graduação. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de mestrado. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pela aprovação do projeto regular número do processo 2013/12681-2 disponibilizando verba para auxilio do meu estudo. Ao Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP (PADC) por contribuir nas publicações de artigos. À Pró-reitoria de Extensão Universitária (PROEX) pela bolsa de extensão. Enfim, agradeço imensamente às agências de fomento que contribuíram para este estudo. Ao Eduardo V. Massari por toda colaboração na prestação de contas com a FAPESP. E todos os funcionários da biblioteca, em especial a Lívia L. Z. Lopes, que não mediu esforços para auxiliar na busca de artigos. A todos os colaboradores e aos pacientes do Hospital Estadual Américo Brasiliense que contribuíram com este estudo, principalmente ao Dr. Tales R de Nadai que colaborou com desenvolvimento da pesquisa. Também em especial aos farmacêuticos Carolina Silveira, Bruna Corrêa, Fabiana Rossi Varallo e Samuel Roosevelt Campos dos Reis que me acolheram com grande carinho e me ensinaram as atividades da farmácia clínica. Ao Me. Marcus Vinicius Luiz e Prof. Dr. Juliana A. D. B. Campos pelo auxilio inicial no delineamento desta pesquisa. Ao Dr. Romeu Magnani pelo auxílio e explicações nas análises estatísticas deste estudo. À prof. Dr. Amanda M. Baviera, à prof. Dr. Claudia Fegadolli, à prof. Dr. Natália V. de Moraes e o prof. Dr. Leonardo Régis Leira Pereira pelas sugestões e discussões para melhoria da dissertação durante a banca de qualificação e de defesa. À Prof. Dr. Patrícia de Carvalho Mastroianni pela oportunidade de desenvolver o mestrado na área hospitalar, do qual tive grande aprendizado; e por todas as críticas que me fizeram crescer profissionalmente. Em especial, a Deus, por esta oportunidade de realizar o mestrado e por demonstrar que além das dificuldades, há uma forma de vencer. E com grande carinho agradeço ao Padre Felipe P. Lopes que esteve em orações desde a minha chegada em Araraquara. ―Agradeço todas as dificuldades que enfrentei, não fossem por elas, eu não teria saído do lugar. As facilidades nos impede de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito!‖ (Chico Xavier) RESUMO Introdução. O omeprazol é amplamente administrado e, na maioria das vezes, o uso é efetivo e seguro. No entanto, estudos avaliaram que o omeprazol foi o medicamento mais relacionado com a admissão hospitalar devido RAM. Tais RAM talvez possam ser explicadas devido ao uso abusivo ou prescrição irracional de omeprazol. Todavia, não foi avaliado o risco e o benefício do uso profilático do omeprazol, considerando o uso aprovado e o uso não aprovado, e as consequências para a segurança do paciente. Objetivo. Identificar e avaliar o risco de ocorrência de EAM e o benefício através da efetividade do uso profilático de omeprazol em pacientes internados. Método. Conduziu-se um estudo coorte observacional de agosto a outubro de 2013 e dezembro/2013 a maio/2014, no Hospital Estadual Américo Brasiliense. Os pacientes internados foram classificados em três grupos: a) uso de omeprazol profilático aprovado, b) uso de omeprazol profilático não aprovado; c) não uso de omeprazol. Foram excluídos os pacientes que fizeram uso de omeprazol não profilático. Os pacientes foram monitorados diariamente com auxílio do roteiro de investigação adequado previamente. Os dados foram tabulados segundo a presença ou ausência de efetividade e de eventos adversos nos três grupos. Resultados. Foram monitoradas 427 hospitalizações, sendo 136 expostos ao omeprazol profilático não aprovado e 52 expostos ao omeprazol profilático aprovado. Identificaram-se apenas dois casos de suspeita de inefetividade e 14 de eventos adversos. Observou-se diferença significativa na concentração sérica da creatinina e ureia para os pacientes que usavam omeprazol profilático aprovado. Conclusão. Há duas vezes mais pacientes expostos ao omeprazol profilático não aprovado comparado ao uso aprovado. Não houve associação do omeprazol profilático com fator de risco, no entanto, houve diferença significativa no aumento da concentração sérica de creatinina e de ureia nos pacientes expostos ao omeprazol profilático aprovado com relação aos outros grupos. Estes dados sugerem novos estudos prospectivos, para avaliar o uso crônico do omeprazol e a função renal. Palavras-chave: Omeprazol. Uso Off-Label. Farmacovigilância. Medição de Risco. Toxicidade de Drogas. Sistemas de Notificação de Reações Adversas a Medicamentos. ABSTRACT Introduction. Omeprazole is a widely used drug; in most cases, it is effective and safe. However, studies have found omeprazole to be the drug most frequently related to hospital admissions due to adverse drug reactions (ADRs). The ADRs could have occurred as a result of abuse or irrational prescribing of omeprazole. Despite that possibility, the risks and benefits of prophylactic omeprazole considering the approved and off-label uses and the potential consequences for patient safety have not been assessed. Objective. To identify and assess the risk of adverse drug events and the benefit provided by the effective use of prophylactic omeprazole in hospitalized patients. Methods. This observational cohort study was conducted from August to October 2013 and December 2013 to May 2014 at the Américo Brasiliense State Hospital. The inpatients were classified into three groups: a) approved use of prophylactic omeprazole b) off-label use of prophylactic omeprazole, and c) not using omeprazole. Patients who used no prophylactic omeprazole were excluded. The patients were monitored daily with the aid of a pre-established research protocol. Data were tabulated according to drug effectiveness or ineffectiveness and presence of adverse events in the three groups. Results. A total of 427 hospitalized patients were monitored in the study. Of these, 136 patients were exposed to prophylactic omeprazole used off-label and 52 exposed to on-label use of prophylactic omeprazole. Two cases of suspected ineffectiveness and 14 adverse events were recorded. There was a significant difference in serum creatinine and urea for patients using on-label prophylactic omeprazole. Conclusion. There are twice as many patients using off-label prophylactic omeprazole as patients using it for approved indications. There was no association of prophylactic omeprazole with risk factors, but there was a significant difference in the increase in serum creatinine and urea for patients exposed to approved use of prophylactic omeprazole compared to the other groups. These data warrant further prospective studies to evaluate the chronic use of omeprazole and its impact on renal function. Keywords: Omeprazole. Off-label Use. Pharmacovigilance. Risk Assessment. Drug Toxicity. Adverse Drug Reaction Reporting Systems. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Agentes utilizados para supressão da produção do ácido gástrico.. ....... 19 Figura 2 – Fluxograma da seleção e monitoramento dos grupos. ............................ 37 Figura 3 – Fluxograma dos pacientes internados no Hospital Estadual Américo Brasiliense, segundo os critérios de inclusão do estudo piloto (n=96). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 ...................................................................... 49 Figura 4 – Fluxograma dos pacientes internados no Hospital Estadual Américo Brasiliense, segundo os critérios de inclusão dos pacientes do estudo piloto e monitoramento (n=427). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 a maio de 2014 ............................................................................................ 57 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Parâmetros farmacocinéticos do omeprazol ......................................... 21 Quadro 2 – Indicações aprovadas do omeprazol. .................................................... 23 Quadro 3 – Indicações não aprovadas do omeprazol .............................................. 25 Quadro 4 – Associação ou não do uso do omeprazol com eventos adversos ......... 25 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Doses equivalentes dos inibidores de bomba de prótons ....................... 23 Tabela 2 – Parâmetros laboratoriais monitorados e os seus respectivos intervalos de referências................................................................................................................. 40 Tabela 3 – Rastreados laboratoriais para monitorar potenciais eventos adversos ... 44 Tabela 4 – Pacientes expostos ao omeprazol profiláticos ou não, de acordo com a variável de interesse no estudo piloto (n=96). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013 ..................................................................................................................... 51 Tabela 5 – Comparação dos parâmetros entre o grupo controle e o grupo exposto ao omeprazol profilático no estudo piloto (aprovado ou não) (n=96). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013 ...................................................................... 52 Tabela 6 – Avaliação da segurança do uso profilático de omeprazol, considerando apenas reação adversa ao medicamento nos pacientes do estudo piloto (n=96). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013 ........................................................ 53 Tabela 7 – Frequência do risco x benefício do uso profilático de omeprazol do estudo piloto (n=45). Américo Brasiliense. Agosto a Outubro de 2013 ..................... 53 Tabela 8 – Frequências das potenciais interações com omeprazol profilático do estudo piloto (n=40). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 ...................... 54 Tabela 9 – Pacientes não expostos e pacientes expostos ao omeprazol profilático aprovado ou não aprovado, de acordo com a variável de interesse do estudo piloto e monitoramento (n=427). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 e maio de 2014 ............................................................................................ 58 Tabela 10 – Comparação dos parâmetros entre o grupo controle e o que exposto ao omeprazol profilático (aprovado ou não) do estudo piloto e monitoramento (n=427). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 e maio de 2014 62 12 Tabela 11 – Avaliação da segurança do omeprazol considerando apenas reação adversa ao medicamento do estudo piloto e monitoramento (n=427). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 e maio de 2014 ........... 63 Tabela 12 – Descrição do risco x benefício do uso profilático de omeprazol do estudo piloto e monitoramento (n=188). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 e maio de 2014. .............................................................. 63 Tabela 13 – Frequência das potenciais interações com omeprazol profilático do estudo piloto e monitoramento (n=138). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 e maio de 2014 ............................................................... 65 Tabela 14 – Frequência de EAM detectados por meio de rastreadores clínicos por paciente do estudo piloto e monitoramento. Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013 e dezembro de 2013 e maio de 2014 .......................................................... 66 Tabela 15 – Frequência dos eventos adversos a medicamentos notificados no gerenciamento de risco do Hospital Estadual Américo Brasiliense (n=355). Américo Brasiliense. Dezembro de 2013 a Julho 2014 ........................................................... 67 13 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AINE Anti-inflamatórios não esteroides ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária B12 Vitamina B12 (cobalamina) Ca Cálcio DQ Desvio de Qualidade de Medicamento EAM Evento Adverso a Medicamento EM Erro de Medicação Fe Ferro HEAB Hospital Estadual Américo Brasiliense IBP Inibidores da Bomba de Prótons IM Interação Medicamentosa IMC Índice de Massa Corporal INR Índice internacional normalizado IT Inefetividade Terapêutica K Potássio Mg Magnésio Na Sódio NCC MERP National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention OMS Organização Mundial da Saúde PRM Problema Relacionado ao Medicamento QT Queixa técnica de medicamento RAM Reação Adversa a Medicamento TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TGO Transaminase glutâmico oxalacética TGP Transaminase glutâmico pirúvica 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 1.1 CARACTERÍSTICAS FARMACOLÓGICAS ...................................................................... 18 1.2 BENEFÍCIOS DO USO DE OMEPRAZOL ........................................................................ 22 1.3 RISCOS DO USO DE OMEPRAZOL .............................................................................. 24 1.4 RELAÇÃO RISCO/BENEFÍCIO ................................................................................... 27 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 29 2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................... 29 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 29 3 HIPÓTESES ........................................................................................................... 30 4 MÉTODOS ............................................................................................................. 31 4.1 DESENHO DE ESTUDO ............................................................................................. 31 4.2 CONTEXTO ............................................................................................................ 32 4.2.1 LOCAL DO ESTUDO .............................................................................................. 32 4.2.2 PERÍODO DO ESTUDO .......................................................................................... 32 4.2.3 COLETA DE DADOS .............................................................................................. 33 4.2.3.1 PRIMEIRA ETAPA: ELABORAÇÃO DO ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO .......................... 33 4.2.3.2 SEGUNDA ETAPA: ADAPTAÇÃO DO ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO ............................. 34 4.2.3.3 TERCEIRA ETAPA: MONITORAMENTO DIÁRIO DO PACIENTE EXPOSTO OU NÃO EXPOSTO AO OMEPRAZOL ............................................................................................. 34 4.3 PARTICIPANTES ..................................................................................................... 36 4.3.1UNIVERSO DA PESQUISA ....................................................................................... 36 4.4 TAMANHO DO ESTUDO ............................................................................................ 36 4.4.1 AMOSTRA ........................................................................................................... 36 4.5 VARIÁVEIS ............................................................................................................. 38 4.6 FONTES DE DADOS/ MENSURAÇÃO .......................................................................... 38 4.7 VIÉS...................................................................................................................... 44 4.8 ANALISES E MÉTODOS ESTATÍSTICO ......................................................................... 45 4.9 ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................................. 47 4.9.1 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ........................................................................... 47 4.9.2 REGISTRO NO CLINICAL TRIALS ............................................................................ 48 5 RESULTADOS ...................................................................................................... 49 5.1 RESULTADOS PILOTO .............................................................................................. 49 5.2 ADAPTAÇÃO DO ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO ............................................................. 54 5.3 MONITORAMENTO DOS PACIENTES ........................................................................... 56 5.4 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO MONITORAMENTO ................................................... 67 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 68 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 75 15 APOIO E FINANCIAMENTO .................................................................................... 75 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76 APÊNDICES ............................................................................................................. 90 APÊNDICE A – ROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO ................................................................. 90 APÊNDICE B – PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO DO MONITORAMENTO PARA AVALIÇÃO DO RISCO-BENEFÍCIO DO OMEPRAZOL. ............................................................ 95 APÊNDICE C – CAUSAS PRINCIPAIS DE INTERNAÇÃO DOS PACIENTES MONITORADOS DE ACORDO COM AS CATEGORIAS DO CID (N=96). AMÉRICO BRASILIENSE. AGOSTO A OUTUBRO DE 2013. ................................................................................................................... 120 APÊNDICE D – CAUSAS PRINCIPAIS DE INTERNAÇÃO DOS PACIENTES MONITORADOS DE ACORDO COM AS CATEGORIAS DO CID (N=427). AMÉRICO BRASILIENSE. AGOSTO A OUTUBRO DE 2013 E DEZEMBRO DE 2013 A MAIO DE 2014. ......................................... 121 APÊNDICE E – LISTA DE EVENTOS ADVERSOS A MEDICAMENTOS. ................................ 122 APÊNDICE F – LISTA DE INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS. ......................................... 135 APÊNDICE G – USO DE MEDICAMENTOS NÃO REGISTRADOS UTILIZADOS PELOS PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL ESTADUAL AMÉRICO BRASILIENSE. AGOSTO A OUTUBRO DE 2013. ....................................................................................................................... 140 APÊNDICE H – USO DE MEDICAMENTOS NÃO REGISTRADOS UTILIZADOS PELOS PACIENTES INTERNADOS NO HOSPITAL ESTADUAL AMÉRICO BRASILIENSE. AGOSTO A OUTUBRO DE 2013 E DEZEMBRO DE 2013 E MAIO DE 2014. ....................................................................... 141 ANEXOS ................................................................................................................. 143 ANEXO A – ALGORITMO INTROSPECÇÃO GLOBAL (WHO, 2009). ................................. 143 ANEXO B – ÍNDICE DO NATIONAL COORDINATING COUNCIL FOR MEDICATION ERROR REPORTING AND PREVENTION (NCC MERP) PARA CARACTERIZAÇÃO DOS ERROS DE MEDICAÇÃO (NCC MERP, 2001). .............................................................................. 144 ANEXO C – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – PLATAFORMA BRASIL. ................................................................................................ 145 ANEXO D – CARTA DE APROVAÇÃO DO ESTUDO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA. ............................................................................................................. 147 ANEXO E – REGISTRO NO CLINICAL TRIALS. .............................................................. 148 ANEXO F – CARTA DE AUTORIZAÇÃO DA REALIZAÇÃO DO ESTUDO NO HOSPITAL ESTADUAL AMÉRICO BRASILIENSE. .............................................................................................. 149 16 1 INTRODUÇÃO A prescrição do uso não indicado (off-label) de inibidor de bomba de prótons (IBP) varia entre 35,3% (54/153) a 77,6% (294/384) (SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013; RUÍZ-ANTORÁN et al., 2013; VAN VLIET et al., 2008; AMEIJEIRAS et al., 2007) podendo aumentar a incidência de reação adversa ao medicamento (RAM) com a utilização off-label, devido à falta de testes clínicos que comprovem a eficácia e a segurança nestas condições, comprometendo, assim, a segurança do paciente (JONVILLE-BÉRA et al., 2005). A frequência e amplitude do uso de medicamentos que atuam no sistema gástrico têm aumentado na população, observando um aumento excessivo de indicação de IBP tanto no ambiente hospitalar quanto ambulatorial (PHAM et al., 2006). Entre os transtornos mais comuns, citamos o tratamento de úlcera duodenal, úlcera gástrica e até mesmo ultimamente indicada para prevenir as reações adversas devido a administração de vários medicamentos (SÃO PAULO, 20091). Esta última indicação é comum, sendo uma prescrição duvidosa de IBP, pois é indicação não aprovada na bula do medicamento (AMEIJEIRAS et al., 2007; PHAM et al., 2006). Segundo Mastroianni et al. (2009) verificaram que o uso do omeprazol foi o medicamento mais relacionado com a admissão hospitalar devido RAM, sendo os sinais e sintomas relacionados com: broncoespasmo, fraqueza muscular, dores musculares, vômito, distúrbios gastrintestinais, pneumonia. Tais RAM talvez possam ser explicadas devido ao uso abusivo ou prescrição irracional de omeprazol (AMEIJEIRAS et al., 2007; TALLEY, 2009; PALAZÓN, MORENO, 2011). Após uma revisão na literatura, foram encontrados alguns estudos que demonstram os riscos do uso do omeprazol associados com alguns eventos adversos como: alterações proliferativas gástricas (MENEGASSI et al., 2010); aumento do risco de asma concomitante ao refluxo gastroesofágico (HARDING et al, 1996); aumento do risco de infecção por Clostridium difficile (STEVENS et al., 2011; LINSKY et al., 2010; CADLE et al., 2007); aumento das concentrações de 1 SÃO PAULO. Secretária Municipal da Saúde de São Paulo. Coordenação da Atenção Básica. Área Técnica de Assistência Farmacêutica. Centro de Informação sobre Medicamentos. Alerta Terapêutico: Uso Racional de Omeprazol. [elaborado por] NAKANO, L.S.Y.; ALCÂNTARA, J.R. São Paulo, junho de 2009. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/assistenciafarmaceutica/omeprazol.pdf. Acesso em: 31 mar. 2013. 17 creatinina e ureia acarretando nefrite intersticial aguda (HÄRMARK et al., 2007; ADRAC, 2003; MYERS et al., 2001); aumento das concentrações de creatinina e ureia (ADRAC, 2003); risco de doença celíaca (LEBWOHL et al.; 2014); esteatorreia de fibrose cística (PROESMANS; BOECK, 2003); fratura com a redução da absorção de cálcio (SORIANO et al, 2014; FRASER et al., 2013; KHALILI et al., 2007); ginecomastia (CARVAJAL et al., 2007); hipomagnesemia (RODRÍGUEZ et al., 2013); hiponatremia (BUON et al., 2013; BAHAT, 2014); peritonite bacteriana espontânea (BAJAJ et al.; 2009); pneumonia (GARCÍA RODRÍGUEZ, 2009); reações anafiláticas ao omeprazol (RAMIREZ et al., 2012; LOBERA et al., 2009); diminuição da absorção da vitamina B12 (LAM et al., 2013). No entanto, outros artigos não encontraram associação entre o uso do omeprazol e a ocorrência de alguns eventos adversos, podendo ser considerados eventos raros, como: adenoma de colón (SINGH et al., 2007); asma (STORDAL et al., 2005); fratura (ROUX et al., 2012); hipomagnesemia (KOULOURIDIS et al., 2013; FAULHABER et al., 2013). Mesmo assim, os IBP são amplamente administrados e são, na maioria das vezes, efetivos e seguros (FAULHABER et al., 2013; THOMSON et al., 2010; BLUME et al., 2006). Todavia, não foi avaliado o risco e o benefício do uso profilático do omeprazol, considerando o uso aprovado e o uso não aprovado, e as consequências para a segurança do paciente. Assim como em todas as terapias medicamentosas, para que os medicamentos sejam efetivos e seguros, é indicado usar os IBP apenas quando prescrito com indicações aprovadas, e reavaliar o uso crônico quando houver necessidade para garantir a segurança do paciente (THOMSON et al., 2010). No entanto, alguns autores demonstraram os motivos que justificaram as prescrições do uso não aprovado do omeprazol: profilaxia de corticoides; polimedicação; profilaxia de úlcera de estresse; confirmação endoscópica da doença ulcerosa; hemorragia digestiva alta; metaplasia intestinal; dispepsia não úlcera; baixas doses de anti- inflamatórios não esteroides (AINE) ou uso esporádico; gastrite de superfície média; polimedicação sem AINE; e prescrições sem diagnóstico (SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013; AMEIJEIRAS et al., 2007; SÃO PAULO, 20091; PHAM et al., 2006). 18 Alguns eventos adversos a medicamentos (EAM), na maioria dos casos, parecem ser reversíveis com a remoção do uso do medicamento suspeito, no entanto, podem afetar grande número de usuários de IBP (CARVAJAL et al., 2007). Considerando a ampla prescrição de IBP durante longos períodos de tempo, os profissionais de saúde devem estar atentos aos potenciais RAM para promover a segurança do paciente (VAN VLIET et al., 2008; CARVAJAL et al., 2007). 1.1 Características farmacológicas O omeprazol atua por inibição da enzima localizada especificamente na célula parietal do estômago (H+ K+ ATPase), responsável pela formação de ácido gástrico no final da etapa do mecanismo (HORN, 2000). Essa atividade farmacológica, sendo dose/dependente, inibe o processo terminal da produção do ácido no estômago, possibilitando, desta forma, independente do estímulo, uma inibição ativa da secreção ácida basal e da estimulada (ANVISA, 20092). O omeprazol age nas células parietais, não exercendo atividade nos receptores de acetilcolina e histamina (Figura 1) (HORN, 2000; ANVISA, 20092). 2 ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. PEPRAZOL: omeprazol. Farmacêutica responsável: Cintia Delphino de Andrade – CRF-SP nº: 25.125. MS nº: 1.0033.0097. São Paulo. Libbs Farmacêutica Ltda, 2009. Bula de medicamento. Disponível em:http://www4.anvisa.gov.br/BularioEletronico/default.asp . Acesso em: 19 fev. 2013. 19 Figura 1 – Agentes utilizados para supressão da produção do ácido gástrico. Fonte: HOOGERWERF, W.A.; PASRICHA, P.J. Agentes usados para o controle da acidez gástrica e no tratamento de úlceras pépticas e da doença do refluxo gastresofágico. In: BRUNTON, L. L. et al (Edt.). Goodman & Gilman manual de farmacologia e terapêutica. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Nota: extraído de HOOGERWERF e PASRICHA (2012): “Regulação fisiológica e farmacológica das secreções gástricas: a base para o tratamento da doença ulcerosa péptica. Esta figura esquemática mostra as interações entre uma célula endócrina que secreta histamina [célula semelhante às células enterocromafins (ECL)], uma célula secretora de ácidos (célula parietal) e uma célula que secreta os fatores citoprotetores, muco e bicarbonato (célula epitelial superficial). As vias fisiológicas estão em negrito e podem ser estimuladas (+) ou inibidas (-). Os agonistas fisiológicos estimulam os receptores transmembrana: receptores muscarínicos (M) e nicotínicos (N) para a acetilcolina (Ach); CCK2, receptor de gastrina (e colecistocinina); receptor H2 da histamina (HIST); receptor EP3 da prostaglandina E2. As ações dos fármacos estão indicadas por linhas tracejadas. Um X indica um ponto de antagonismo farmacológico. Uma linha tracejada e uma seta cinza-clara indicam uma ação do fármaco que mimetiza ou potencializa uma via fisiológica. Os fármacos usados atualmente no tratamento da doença ulcerosa péptica. Os AINE são fármacos anti-inflamatórios não esteroides tais como o ácido acetilsalicílico e são ulcerogênicos. 1 e 3 indicam possível absorção pelas fibras pós- ganglionares colinérgicos, 2 mostra entrada neural do nervo vago‖ (HOOGERWERF e PASRICHA, 2012). 20 Uma das indicações do uso do omeprazol é a proteção da mucosa gástrica contra eventos adversos causados por AINE, que podem causar úlcera péptica e sangramentos (BRUNTON, L. L. et al., 2012). A úlcera é causada devido à inibição da produção de prostaglandinas (PG) pela mucosa (PGE2 e PGI2). A síntese de PG, em maior parcela, acontece por intermédio da ciclo-oxigenase 1 (COX-1) expressa constitutivamente, porém a COX-2, que pode ser induzida rapidamente, também participa de modo significativo na síntese de prostaglandinas protetoras da mucosa. Portanto, a inibição da COX-1 e da COX-2 causada pelos AINE colaboram para gerar a úlcera na mucosa. As PG provindas da COX-2 são expressamente fundamentais na regeneração da lesão da mucosa (WALACE, 2008). Um dos maiores problemas do uso contínuo dos AINES está na sua toxicidade gastrointestinal, que pode desencadear eventos adversos desde a dispepsia até graves complicações como: perfuração da úlcera e hemorragia digestiva alta (CUEVAS et al., 2008). Devido a essas RAM, esses medicamentos representam uma importante causa de morbidade/mortalidade e estimou-se que há cerca de 15,3 mortes por 100.000 usuários de AINE (CUEVAS et al., 2008). Para realizar o monitoramento dos pacientes, alguns parâmetros farmacocinéticos (Quadro 1) são relevantes, como a meia vida de eliminação. Este parâmetro permite calcular o período mínimo de washout de sete meias vidas e relacioná-lo com o fim de potenciais EAM ao omeprazol (BRASIL, 2006). 21 Quadro 1 – Parâmetros farmacocinéticos do omeprazol. Parâmetros Descrição Absorção ―A biodisponibilidade oral é cerca de 30% a 40%. Após doses orais de 20 mg a 40 mg, a biodisponibilidade absoluta é de 30%-40% (comparada à administração intravenosa), sendo que essa porcentagem aumenta após administrações repetidas em cerca de 65% do estado de equilíbrio. O baixo grau de biodisponibilidade é principalmente devido ao metabolismo pré-sistêmico. A biodisponibilidade do omeprazol está aumentada em cerca de 100% comparada às doses intravenosas em pacientes com doenças hepáticas crônicas. A biodisponibilidade do omeprazol é maior em pacientes mais velhos comparados aos pacientes mais jovens. E, em pacientes com síndrome Zollinger-Ellinson (68%), não foi significantemente diferente de pacientes sadios mais velhos (79%) ou mais jovens (54%). A disponibilidade média sistêmica do omeprazol oral em pacientes com insuficiência renal crônica (clearance de creatinina de 10-62 mL/min/1,43 m 2 ) foi de 70%. A presença de alimento afeta o nível, mas não a extensão da absorção‖ (ANVISA, 20092). Distribuição ―A taxa de ligação às proteínas plasmáticas é de 95%-96%. O fármaco se liga principalmente à albumina sérica e à glicoproteína alfa-1-ácida. A ligação proteica média (95,2%) do omeprazol em pacientes com insuficiência renal crônica (clearance de creatinina de 10 mL/min/1,73 m 2 a 62 mL/min/1,73 m 2 ) não foi significantemente diferente de voluntários sadios. O volume de distribuição é de 0,34 L/kg a 0,37 L/kg, sendo menor em idosos do que em pacientes mais jovens. De acordo com estudo realizado, o volume de distribuição de 0,24 L/kg foi relatado em pacientes mais velhos comparados aos 0,34 L/kg a 0,37 L/kg dos pacientes mais jovens‖ (ANVISA, 20092). Metabolismo ―Após administração de omeprazol radiomarcado (intravenoso e oral), 60% da radioatividade total foi recuperada na urina durante as primeiras seis horas. Durante os quatro dias seguintes, 75% a 78% da dose administrada foi recuperada na urina e 18% a 19% nas fezes. Quantidades insignificantes do fármaco inalterado foram eliminadas via renal ou pelas fezes. Nas doses terapêuticas, o omeprazol não se apresentou como indutor enzimático dos citocromos da subfamília do P450 (CYP) isorforme S-mefenitoína hidroxilase também conhecido como CYP 2C19. Muitos pacientes com deficiência nesse sistema enzimático serão metabolizadores lentos do omeprazol, podendo alcançar concentrações plasmáticas cinco ou mais vezes mais altas do que os pacientes com a enzima normal. Em pacientes idosos, o clearance plasmático do omeprazol está diminuído e a curva da concentração plasmática versus tempo está aumentada em comparação aos indivíduos jovens sadios. Alterações nesses parâmetros farmacocinéticos são próprias da redução do metabolismo secundário pela diminuição do fluxo e do volume sanguíneo hepático. Os metabólitos detectados hidroxiomeprazol, sulfonomeprazol e sulfetomeprazol são inativos‖ (ANVISA, 20092). Eliminação ―A excreção do omeprazol é predominantemente renal (77%). Após administração de uma dose única oral de solução de omeprazol, uma pequena quantidade do fármaco inalterado foi eliminada via renal. A maior parte da dose (77%) é excretada na urina na forma de seis ou mais metabólitos. A quantidade remanescente da dose foi excretada nas fezes. O clearance corpóreo total é de cerca de 500 mL/min a 600 mL/min, diminuindo para 70 mL/min em pacientes com doença hepática crônica e para 250 mL/min em pacientes geriátricos. A meia-vida de eliminação é cerca de meia a uma hora e aumenta para quase três horas em pacientes com doença hepática crônica. A meia-vida plasmática média em pacientes com insuficiência renal crônica (clearance de creatinina de 10 mL/min/1,73 m 2 a 62 mL/min/1,73 m 2 ) é de 0,6 hora, não sendo significantemente diferente de voluntários sadios. Essa meia-vida é significantemente mais longa em pacientes sadios, mas não em indivíduos mais velhos‖(ANVISA, 20092). 22 Fonte: ANVISA, 20092; Micromedex, 20133 1.2 Benefícios do uso de omeprazol Foi aprovada a eficácia do tratamento com omeprazol [―a capacidade de um medicamento de produzir os efeitos benéficos pretendidos em um indivíduo de uma determinada população, em condições ideais de uso‖ (BRASIL, 2009)] pela primeira vez em 1989, sendo o IBP disponível mais tempo no mercado (BLUME et al., 2006). Após o medicamento ter sido registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi realizada a renovação do registro de omeprazol garantindo sua:  Efetividade: ―a capacidade de um medicamento de produzir os efeitos benéficos pretendidos em um indivíduo de uma determinada população, em condições reais de uso‖ (BRASIL, 2009);  Segurança: ―evitar lesões e danos nos pacientes decorrentes do cuidado, que tem como objetivo ajudá-los‖ (BRASIL, 2014);  Qualidade: ―medidas que satisfaçam às normas de atividade, pureza, eficácia e inocuidade de cada lote de medicamentos e demais produtos‖ (BRASIL, 1977). A última aprovação do registro do omeprazol garantiu as indicações aprovadas (Quadro 2). 3 MICROMEDEX Healthcare Series. Base de referência que contém informações sobre medicamentos, etiologia, patologia, epidemiologia, diagnóstico, tratamento, educação do paciente, referências bibliográficas e literatura relacionada. 2013. Disponível em: http://www-thomsonhccom.ez67. periodicos.capes.gov.br/micromedex2/librarian/. Acesso em : 19 fev. 2013. 23 Quadro 2 – Indicações aprovadas do omeprazol. INDICAÇÃO APROVADA USO NÃO PROFIILÁTICO Tratamento das úlceras pépticas benignas Tratamento de erradicação do Helicobacter pylori em esquemas de terapia múltipla USO PROFILÁTICO Condições hipersecretórias gástricas patológicas Esofagite de refluxo Prevenção de recidivas de úlceras gástricas ou duodenais Proteção da mucosa gástrica contra danos causados por anti-inflamatórios não esteroides Síndrome de Zollinger-Ellison Fonte: BRASIL, 2010; FDA, 20144; ANVISA, 20092 Em usuários de AINE, o omeprazol possui eficácia semelhante ao uso do medicamento ranitidina em dose dupla na prevenção de úlceras gástricas e duodenais (BRASIL, 2010; FDA, 20144; ANVISA, 20092). O omeprazol e outros IBP são avaliados como mais eficazes que cimeditina ou ranitidina (antagonista do receptor H2 da histamina) para reduzir os sintomas e diminuir o tempo de cicatrização de úlcera gástrica ou duodenal (CHIBA et al., 1997; DAMMANN, 1997; CHEER et al., 2003 citado por WEDEMEYER e BLUME, 2014). Os IBP possuem eficácias semelhantes em indicações, sempre que utilizarem as doses equivalentes (Tabela 1) (HORN, 2000; FORCADA et al., 2014), embora as diferenças entre os IBP devam ser consideradas na escolha de um de tratamento e uso de medicamentos concomitantes (HORN, 2000). Tabela 1 – Doses equivalentes dos inibidores de bomba de prótons. omeprazol pantoprazol esomeprazol lansoprazol 10 mg 20 mg 10 mg 15 mg 20 mg 40 mg 20 mg 30 mg 40 mg 80 mg 40 mg 60 mg Fonte: FORCADA et al., 2014 4 FDA. U.S. Food and Drug Administration. Prilosec®. Disponível em: http://www.accessdata.fda.gov/scripts/cder/drugsatfda/index.cfm?fuseaction=Search.DrugDetails Acesso em : 31 dez. 2014. 24 1.3 Riscos do uso de omeprazol Atualmente, o uso de omeprazol é muito difundido, principalmente no uso profilático não aprovado (Quadro 3). Por isso, torna-se relevante a avaliação do risco, ou seja, avaliar a ―probabilidade de um incidente ocorrer‖ (BRASIL, 2014) para evitar potenciais danos ao paciente [―comprometimento da estrutura ou função do corpo e/ou qualquer efeito dele oriundo, incluindo-se doenças, lesão, sofrimento, morte, incapacidade ou disfunção, podendo, assim, ser físico, social ou psicológico‖ (BRASIL, 2014)]. Considera-se uso não aprovado de medicamentos as situações que inclui o uso não indicado na bula (off‐label) e o uso de medicamentos não registrado (BRASIL, 2009). O uso não indicado na bula (off-label) compreende todas as formas farmacêuticas de uso de um medicamento aprovado para administração na população destinada, mas a situação de uso é diferente da bula aprovada pela Anvisa, como diferenças na dosagem ou posologias não aprovadas, via de administração diferente da registrada, as faixa etária/peso contrário do teste do medicamento, uso em morbidades não estudadas e outras indicações não testadas e aprovadas para o medicamento (BRASIL, 2009; CONROY, 2002). O uso de medicamentos não registrados incluem aqueles medicamentos cuja formulação foi modificada, por meio de adequações posológicas, preparações extemporâneas de derivação e transformações da especialidade farmacêutica; os medicamentos utilizados anteriormente à concessão do registro ou importados sem registro na Anvisa (BRASIL, 2009; BRASIL, 2007; CONROY, 2002). O uso não aprovado do medicamento é realizado por conta e risco do profissional de saúde e, ocasionalmente, pode ser considerado com um erro de medicação (EM). Em algumas particularidades, observa-se o uso não aprovado no Brasil, mas em órgãos regulamentadores de outros países, já se encontram certas indicações clínicas aprovadas no registro do medicamento. Portanto, o uso não aprovado em um determinado país, não implica necessariamente um erro de medicação. 25 Quadro 3 – Indicações não aprovadas do omeprazol. INDICAÇÃO NÃO APROVADA AUTOR E ANO Confirmação endoscópica da doença ulcerosa SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Baixas doses de AINE ou uso esporádico SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Dispepsia não úlcera SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Gastrite de superfície média SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Hemorragia digestiva alta SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Profilaxia de corticoides AMEIJEIRAS et al., 2007; PHAM et al., 2006 Metaplasia intestinal SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Prescrições sem diagnóstico SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Polimedicação AMEIJEIRAS et al., 2007; SÃO PAULO, 200910 Polimedicação sem AINE SÁNCHEZ-CUÉN et al., 2013 Profilaxia de úlcera de estresse PHAM et al., 2006 Embora o omeprazol seja considerado seguro (ARREGUI, 2013; MARTÍ- CABRERA et al., 2013), há alguns estudos que associam ou não os eventos adversos devido o uso de IBP (Quadro 4). Quadro 4 – Associação ou não do uso do omeprazol com eventos adversos. EVENTOS ADVERSOS Frequência de ocorrência de EAM 1 ASSOCIAÇÃO COM OMEPRAZOL (Autor e Ano) NÃO ASSOCIAÇÃO COM OMEPRAZOL (Autor e Ano) Adenoma de colón Relatada pós- comercialização* - SINGH et al., 2007 Alterações proliferativas gástrica Relatada pós- comercialização* MENEGASSI et al., 2010 - Asma - - STORDAL et al., 2005 Aumento das enzimas hepáticas (alanina, aminotransferase, transaminase-glutâmico- oxalacética-sérica, transpeptidase-gamaglutamil, fosfatase alcalina e bilirrubina). Reação incomum (≥ 0,1% e <1%) ANVISA, 20092 - Aumento do risco de asma concomitante ao refluxo gastroesofágico - HARDING et al, 1996 - Aumento do risco de infecção por Clostridium difficile Relatada pós- comercialização* STEVENS et al., 2011; LINSKY et al., 2010; CADLE et al., 2007. - 26 Quadro 4 – Associação ou não do uso do omeprazol com eventos adversos (continuação). EVENTOS ADVERSOS Frequência de ocorrência de EAM 1 ASSOCIAÇÃO COM OMEPRAZOL (Autor e Ano) NÃO ASSOCIAÇÃO COM OMEPRAZOL (Autor e Ano) Diminuição da absorção de ferro - MCCOLL, 2009 KOOP E BACHEM, 1992 Diminuição da absorção da vitamina B 12 Relatada pós- comercialização* LAM et al., 2013; ANVISA, 20092 KOOP E BACHEM, 1992 Esteatorréia de fibrose cística - PROESMANS et al., 2003 - Fratura com a redução da absorção de cálcio Relatada pós- comercialização* SORIANO et al, 2014; FRASER et al., 2013; KHALILI et al., 2007. ROUX et al., 2011 Ginecomastia Reação rara (≥ 0,01% e <0,1%) CARVAJAL et al., 2007 - Hipercalemia Relatada pós- comercialização* ANVISA, 20092 - Hipomagnesemia Relatada pós- comercialização* RODRÍGUEZ et al., 2013; TAMURA et al., 2012 KOULOURIDIS et al., 2014; FAULHABER et al., 2012 Hiponatremia Reação rara (≥ 0,01% e <0,1%) BUON et al., 2013; BAHAT, 2014 - Nefrite intersticial aguda (elevação das concentrações da ureia e / ou da creatinina sérica) Reação rara (≥ 0,01% e <0,1%) HÄRMARK et al., 2007; ADRAC, 2003; MYERS et al., 2001. - Peritonite bacteriana espontânea BAJAJ et al.; 2009 - Pneumonia Relatada pós- comercialização* GARCÍA RODRÍGUEZ, 2009 - Reações anafiláticas ao omeprazol Reação rara (≥ 0,01% e <0,1%) RAMIREZ et al., 2012; LOBERA et al., 2009 - Risco de doença celíaca - LEBWOHL et al.; 2014 - Nota: 1 ANVISA, 20092 * ―As reações adversas foram identificadas durante a comercialização de omeprazol. Estas reações foram relatadas espontaneamente por uma população de tamanho desconhecido, portanto não é possível estimar a real frequência ou estabelecer uma relação de causalidade com o medicamento‖ (ANVISA, 20092). 27 1.4 Relação Risco/Benefício As agências reguladoras de vigilância sanitária realizam decisões difíceis com relação ao risco/benefício para aprovação do registro de medicamentos novos (GUO et al., 2010; GARRISON JR. et al., 2007). Os colaboradores destas agências necessitam avaliar uma documentação complexa para julgar vários testes, incluindo a eficácia e os ensaios de segurança, dados epidemiológicos, potenciais eventos adversos e necessidade do paciente (GARRISON JR., et al., 2007). Assim, para avaliar um novo tratamento medicamentoso, espera-se que haja equilíbrio entre benefícios e malefício (FERNER, 2013), por isso, recomenda-se o uso de múltiplas abordagens para avaliar o risco/benefício em todas as diferentes indicações e com pacientes de tratamento, a fim de vincular o perfil ao risco/benefício (GUO et al., 2010). O termo risco refere-se ao um conjunto de probabilidade associado a potenciais eventos adversos a medicamentos, em que possa ocorrer dano à saúde de um paciente (GUO et al., 2010). A classificação de risco mede a ―probabilidade de um incidente ocorrer‖ que avalia o ―evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou que resultou, em dano desnecessário ao paciente‖ (BRASIL, 2014). Para tal, pode ser classificado gravidade de um EAM (BRASIL, 2009), a causalidade da RAM (WHO, 2009), do risco de interação medicamentosa (IM) (LEXI-INTERACT™, 2013)7 e dano do erro de medicação (NCCMERP, 2001)14. Já o termo benefício é associado a um medicamento quando possui a capacidade de reduzir um evento adverso associado com patologia do paciente, contribuindo para a melhoria do quadro clínico do paciente (GUO et al., 2010). A dimensão dos benefícios é medido principalmente em termos de efetividade terapêutica, ou seja, o tratamento bem sucedido com a condição cujo medicamento é indicado (CURTIN; SCHULZ, 2011). Porém, o ―benefício‖ nem sempre significa a ausência de eventos adversos, assim, a partir de ensaios clínicos, as medições de benefício devem incluir parâmetros de eficácia clinicamente relevantes, como os biomarcadores específicos (GUO et al., 2010). 28 A avaliação do benefício/risco condiz com o momento da utilização de um medicamento e refere-se à relação do benefício com o risco de um dano à saúde (GUO et al., 2010) . Esta relação benefício/risco do medicamento pode ser melhorada pela implementação de medidas eficazes de Farmacovigilância, a fim de reduzir os riscos aos pacientes, que permitam uma avaliação de informações provenientes de condições reais de uso pelos pacientes (BUON et al., 2013). As evidências de ensaios clínicos randomizados e dados de farmacoepidemiologia e de farmacovigilância contribuem para avaliação inicial e contínua dos riscos/benefícios de um medicamento ou até mesmo de uma nova indicação (CURTIN; SCHULZ, 2011). Esta relação risco/benefício evidencia-se, principalmente, em uma análise qualitativa de dados quantitativos (CURTIN; SCHULZ, 2011). A partir desta avaliação qualitativa e quantitativa, pode-se identificar os pacientes suscetíveis a determinado risco do medicamento e consequente diminuição da frequência de eventos adversos (FERNER, 2013). Tais ensaios clínicos referidos podem evidenciar os benefícios e riscos em condições ideais de uso (eficácia), porém em condições reais (efetividade), com o monitoramento diário dos pacientes, essa relação pode se alterar totalmente, especialmente o risco de danos reversíveis e/ou irreversíveis. O conhecimento relativo ao perfil de segurança de um medicamento pode ser alterado durante o tempo, devido à expansão do seu uso com relação às características dos pacientes e pelo número desses expostos (GUO et al., 2010). Assim, este estudo visou avaliar a segurança e efetividade do uso profilático do omeprazol em pacientes internados, a fim de recomendar protocolos de uso seguro do omeprazol e colaborar com o serviço de gestão de risco do hospital. O estudo, que vem ao encontro ao Programa Nacional de Segurança do Paciente, Portaria nº 529/2013, visa propor e validar protocolos para o uso seguro de produtos em saúde e incentivar estudos e pesquisas relacionadas à segurança do paciente, sistematizando as informações, difundido conhecimento de segurança do paciente e incluindo a temática na discussão da área da saúde (BRASIL, 2013a). 29 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Conhecer as indicações de uso do omeprazol, estimar a ocorrência de EAM, identificar e avaliar o risco de ocorrência de EAM e o benefício através da efetividade do uso profilático de omeprazol, em pacientes internados. 2.2 Objetivos específicos a) Descrever as indicações do uso profilático aprovado do omeprazol, bem como do uso profilático não aprovado; b) Estimar e comparar a ocorrência de EAM no uso de omeprazol profilático aprovado e não aprovado; c) Calcular a razão de chances (O.R.) do uso de omeprazol profilático aprovado e não aprovado em causar diferença na frequência de RAM ou inefetividade terapêutica (IT); d) Proposta de rastreador para identificar eventos adversos ao omeprazol aos pacientes expostos; e) Avaliar o desempenho do método de monitoramento. 30 3 HIPÓTESES a) H0 (hipótese nula): há uma relação de igualdade entre o risco de ocorrência de EAM e o benefício de uso do omeprazol profilático; b) H1 (hipótese alternativa): há uma diferenciação na relação entre o risco de ocorrência de EAM e o benefício de uso do omeprazol profilático. 31 4 MÉTODOS 4.1 Desenho de estudo Conduziu-se um estudo farmacoepidemiológico do tipo coorte observacional, fundamentado na diretriz Strengthening the Reporting of Observational studies in Epidemiology (STROBE), que possui recomendações para aprimorar a qualidade da descrição de estudos observacionais (VON et al., 2008). No estudo observacional não há controle da exposição, nem da separação das pessoas em grupos pelo investigador, rastreando apenas os efeitos de uma situação ocorrida e classificadas ou analisadas os grupos de modo comparativos (BLOCH, COUTINHO, 2009). Estudos de coorte são estudos observacionais em que a condição dos participantes diante à exposição de interesse determina sua seleção para inclusão no estudo e sua classificação em grupos. Estes indivíduos foram monitorados desde o momento da admissão até a alta hospitalar do paciente para avaliar a incidência de evento adverso ou de outro desfecho de interesse (BLOCH, COUTINHO, 2009). Neste estudo, avaliaram os indivíduos que foram expostos ao uso do omeprazol profilático (aprovado ou não) e os que não foram expostos ao uso de omeprazol, ou seja, um evento independentemente da interferência do observador. Os participantes da pesquisa foram classificados em três grupos, dois expostos (omeprazol de uso profilático aprovado e omeprazol de uso não aprovado) e um não exposto ao uso do omeprazol para comparar o risco e a efetividade desta exposição para identificar um possível fator de prognóstico ou risco. Os estudos observacionais são mais específicos para identificar os eventos graves e incomuns de intervenções médicas e, na maioria das vezes, fornecem uma recomendação mais específica nos resultados da atividade clínica diária, porque analisam os resultados possivelmente em um contexto-dependente (PAPANIKOLAOU et al., 2006). 32 4.2 Contexto 4.2.1 Local do estudo O estudo foi realizado no Hospital Estadual Américo Brasiliense (HEAB) que está inserido na rede estadual de saúde localizado na cidade de Américo Brasiliense - São Paulo. O HEAB atende pacientes de 24 municípios, possui 94 leitos, os quais estão divididos nas seguintes enfermarias: Sala de Estabilização Clínica, Unidade de Terapia Intensiva, Bloco Cirúrgico, Clínica Semi-intensiva, Clínica Médica, Cuidados Paliativos e Moléstias Infecciosas (CNES, 2014). O hospital possui sistema informatizado da prescrição, bem como prontuário eletrônico, nos quais os profissionais da saúde realizam as evoluções clínicas (assistente social, enfermagem, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, nutricionista, psicólogo e terapeuta ocupacional). 4.2.2 Período do Estudo O estudo foi conduzido em duas etapas:  Na primeira etapa, conduziu-se um piloto de agosto a outubro de 2013. Todos os pacientes internados neste período foram acompanhados até a alta hospitalar, correspondendo até novembro 2013.  Na segunda etapa, realizou-se o acompanhamento dos pacientes hospitalizados, durante seis meses, que compreendeu dezembro de 2013 a maio de 2014. Porém, o monitoramento foi continuado até o período de alta do último paciente incluído no estudo, correspondendo até o mês de julho 2014. Além disso, deve-se considerar que no piloto não houve mudança na coleta de dados, apenas alterações estruturais no formulário de coleta de dados. Desta forma, foram incluídos os pacientes monitorados na primeira etapa. 33 4.2.3 Coleta de dados 4.2.3.1 Primeira etapa: Elaboração do Roteiro de Investigação Foi proposto um instrumento (roteiro de investigação) para coleta de dados (Apêndice A), com o intuito de orientar o monitoramento do paciente e propiciar a coleta das variáveis de interesse nos prontuários eletrônicos (sistema de prescrição eletrônica do HEAB; evoluções clínicas médica, da equipe de enfermagem e da equipe multiprofissional; exames laboratoriais) e, quando necessário, com o próprio paciente. Para tanto, o roteiro foi elaborado em cinco partes: I – IDENTIFICAÇÃO – compreendeu dados de informação sobre o participante da pesquisa, como nome do paciente (por meio de siglas para garantir o anonimato), registro hospitalar do paciente, sexo, raça, data de nascimento, peso, altura, índice de massa corporal (IMC), número de identificação do formulário do paciente; identificação do leito; datas da internação e da alta; hora da internação; tempo de internação. II – ANÁLISE FARMACOTERAPÊUTICA – tratou-se de informações da queixa do paciente no momento da admissão; condições de saúde como causa da internação; histórico do paciente e medicamentos; parâmetros clínicos e dados laboratoriais; tempo de uso e indicação de uso de omeprazol; e preparações extemporâneas de derivação e transformações da especialidade farmacêutica. III – EVOLUÇÃO CLÍNICA – compreendeu os campos descritivos para registrar os Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM), os tipos de PRM (efetividade, segurança, necessidade) e as intervenções farmacêuticas propostas. IV – EVENTOS ADVERSOS – foram registrados nos campos discursivos os eventos adversos observados, medicamentos envolvidos nos EAM, causalidade, tipo de EAM e gravidade. Além disso, descrever as interações medicamentosas potenciais ou reais relacionados com o omeprazol e classificá-las de acordo com a gravidade das interações. 34 V – DESFECHO CLÍNICO – compreendeu a avaliação em múltipla escolha (sim/não) se o medicamento omeprazol foi efetivo e seguro. Caso não tenha sido seguro, o EAM foi grave ou não grave. 4.2.3.2 Segunda etapa: Adaptação do roteiro de investigação Nos meses de agosto a outubro de 2013, realizou-se um piloto para adaptar o roteiro de investigação para avaliar o risco-benefício do uso do medicamento, bem como para capacitar o pesquisador envolvido na coleta de dados. O pesquisador realizou monitoramento diário por meio da leitura da evolução clínica e dos parâmetros clínicos consultados nos prontuários e sistema de prescrição eletrônica, discussões com a equipe de saúde e consulta aos pacientes. Durante o monitoramento, os pacientes internados foram categorizados em três grupos: aqueles que usaram o omeprazol profilático e aprovado (grupo exposto 1); aqueles que usaram o omeprazol profilático não aprovado (grupo exposto 2); e os pacientes que não usaram o omeprazol (grupo não exposto). Ademais, foi elaborado um Procedimento Operacional Padrão (POP) denominado ―Procedimento de monitoramento para avaliação do risco-benefício do omeprazol‖ (Apêndice B), com objetivo de padronizar o método de monitoramento diário do paciente exposto ou não exposto ao omeprazol entre os pesquisadores. 4.2.3.3 Terceira etapa: Monitoramento diário do paciente exposto ou não exposto ao omeprazol Após a condução do estudo piloto houve a necessidade de alterar o método de análise dos pacientes, uma vez que se observou que durante a hospitalização, os pacientes poderiam alterar de grupo entre o exposto ao omeprazol profilático e não exposto, ou seja, incorporando ou perdendo membros dos grupos, caracterizando uma população dinâmica (BLOCH, COUTINHO, 2009). A partir deste momento, o paciente poderia ser contabilizado em duas situações diferentes, ou seja, em cada uma destas mudanças de grupo, foi considerada uma hospitalização. 35 Foi realizado um monitoramento dos hospitalizados em tempo real do momento da admissão até a alta hospitalar para evitar viés de coleta de dados e de confusão de análise. Porém, a avaliação do desfecho clínico, considerando o benefício e o risco do uso profilático do omeprazol, foi avaliada nestes momentos da hospitalização:  No momento, se houver a inclusão ou retirada do omeprazol profilático da prescrição;  E no momento da alta deste hospitalizado. Se o paciente estivesse internado e interrompesse a administração do omeprazol, necessitava-se analisar o desfecho clínico naquele instante para evitar um possível viés, devido o efeito residual (carryover) que um tratamento pode persistir. Neste caso, deve considerar no mínimo um intervalo de sete meias vidas (washout) para que não tenha efeito residual do fármaco no metabolismo e relacioná-lo com o fim de potenciais EAM ao omeprazol (BRASIL, 2006). Como a meia-vida de eliminação do omeprazol é em torno de 30 minutos a uma hora e aumenta para cerca de três horas em pacientes com doença hepática crônica (ANVISA, 20092), neste estudo foram descartados os valores laboratoriais e EAM durante o período de 24 horas. Após este momento, foi iniciado o acompanhamento do paciente, ou seja, foi considerada uma nova hospitalização de caso independente do momento anterior. O paciente foi analisado como um paciente do grupo não exposto ou exposto ao omeprazol profilático. Além disso, foram adicionados outros parâmetros laboratoriais: cálcio, potássio, sódio, transaminase glutâmico oxalacética (TGO), transaminase glutâmico pirúvica (TGP), ferro sérico e vitamina B12, para monitoramento diário de potenciais eventos adversos. Nesta etapa, o pesquisador contou com o auxílio de dois colaboradores (duas alunas do penúltimo período do curso de Farmácia-Bioquímica da UNESP) previamente treinados de acordo com POP Nº 01 - Procedimento de monitoramento para avaliação do risco-benefício do omeprazol. 36 4.3 Participantes 4.3.1Universo da pesquisa Todos os pacientes internados no HEAB no período de coleta de dados. O tamanho da amostra e duração do monitoramento foi estipulado no período do estudo (NELSON et al., 2012). 4.4 Tamanho do estudo 4.4.1 Amostra Os critérios de inclusão contemplaram: os pacientes com tempo de internação superior a 24 horas; grupos expostos, apresentar prescrição de omeprazol de uso profilático aprovado (grupo exposto 1) ou de uso profilático não aprovado (grupo exposto 2); grupo não exposto, não apresentar prescrição do omeprazol. Por isso, os pesquisadores buscaram no sistema informatizado os pacientes admitidos no hospital com tempo maior de 24 horas. Os critérios de exclusão foram considerados: os pacientes incapacitados da comunicação (entubados, desorientados mentalmente, em isolamento); com dados insuficientes e prontuários incompletos e pacientes que fizeram uso não profilático de omeprazol, independente do uso aprovado ou não. De todas as enfermarias [Sala de Estabilização Clínica, Unidade de Terapia Intensiva, Bloco Cirúrgico, Clínica Semi-intensiva, Clínica Médica, Cuidados Paliativos e Moléstias Infecciosas (CNES, 2014)], foram selecionadas as clínicas de acordo com os critérios de inclusão e exclusão: Clínica Semi-intensiva, Clínica Médica, Cuidados Paliativos e Moléstias Infecciosas. Desta forma, foram monitorados diariamente os pacientes destas clínicas, sendo considerado uma amostra de conveniência. 37 Caso houvesse algum paciente incluído no estudo de acordo com os critérios de inclusão e depois não houvesse o monitoramento deste paciente por qualquer razão, este seria considerado perda do estudo. Figura 2 – Fluxograma da seleção e monitoramento dos grupos. SIM Identificação dos pacientes internados, segundo os critérios de inclusão. Uso não profilático aprovado Fez uso de omeprazol? ac acho NÃO GRUPO NÃO EXPOSTO  Monitoramento do paciente  Identificação do Problema Relacionado ao medicamento  Desfecho clínico (Grupo 3) MONITORAMENTO DO USO PROFILÁTICO  Monitoramento do paciente  Identificação do Problema Relacionado ao medicamento  Desfecho clínico Uso não profilático não aprovado Uso profilático aprovado (Grupo 1) Uso profilático não aprovado (Grupo 2) (grupo exposto 2) CRITËRIO DE EXCLUSÃO 38 4.5 Variáveis As variáveis qualitativas nominais de interesse foram:  Indicação profilática aprovada e profilático não aprovado de omeprazol;  Início do uso omeprazol antes ou depois da internação;  Efetivo e não efetivo;  EAM e não EAM;  Tipo de EAM;  Categoria de gravidade de EAM, problemas de segurança, necessidade, ou efetividade dos medicamentos não omeprazol, categoria dos eventos adversos. As variáveis quantitativas discretas de interesse foram:  Número de prescrição de medicamentos. As variáveis quantitativas contínuas de interesse foram:  Idade;  IMC;  Tempo de uso do omeprazol;  Tempo de internação;  Parâmetros laboratoriais: concentração sérica do cálcio iônico, creatinina, ferro sérico, magnésio sérico, potássio, sódio, ureia, transaminase glutâmico oxalacética, transaminase glutâmico pirúvica e vitamina B12. 4.6 Fontes de dados/ Mensuração O HEAB possui o sistema informatizado denominado Sistemas HCFMRP (Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) com três ícones: ATHOS (Apoio a Atenção Hospitalar), Prescrição Eletrônica (Prescrição Eletrônica Hospitalar) e SIH (Sistema Integrado de Informação Hospitalar). Estes Sistemas HCFMRP possuem as informações diárias dos pacientes e juntamente com os 39 relatos dos profissionais de saúde e dos pacientes, foi possível o preenchimento do roteiro de investigação. No roteiro de investigação, em cada variável de interesse, foram fornecidos a fonte dos dados e os detalhes dos métodos utilizados na mensuração: II – ANALISE FARMACOTERAPEUTICA:  O motivo de internação foi avaliado: Problema de Saúde não tratado ou EAM de acordo com a queixa do paciente.  Na parte da causa de internação foram descritas as morbidades e comorbidades do paciente segundo a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) (OMS, 2010).  No campo para acompanhamento diário, os medicamentos poderiam ser classificados de acordo com a necessidade, efetividade e segurança.  Foi analisado o tempo (em dias) de uso do omeprazol no hospital, se iniciou o uso no hospital ou anteriormente e, quanto tempo o uso deste medicamento fora do hospital.  Os parâmetros clínicos e dados laboratoriais devem analisar os dados relacionados com potenciais alterações do medicamento. Desta forma, optou-se por avaliar a concentração sérica do cálcio iônico, creatinina, ferro sérico, magnésio sérico, potássio, sódio, ureia, transaminase glutâmico oxalacética, transaminase glutâmico pirúvica e vitamina B12 (cobalamina) (Tabela 2). Estas informações foram coletadas diariamente até a alta do paciente ou até um dia após a suspensão do uso do omeprazol, considerando que deve ter, no mínimo, sete meias vidas de eliminação do fármaco para garantir a total depuração do metabólito ativo e evitar o efeito residual (BRASIL, 2006). Os valores dos exames laboratoriais avaliados ao longo da internação do paciente foram analisados diariamente e para avaliação do risco foi realizado a média ou a mediana dos valores coletados. 40 Tabela 2 – Parâmetros laboratoriais monitorados e os seus respectivos intervalos de referências. Exame laboratorial Justificativa do biomarcador Intervalo de referência* Cálcio iônico (Ca) Fratura com a redução da absorção de cálcio (SORIANO et al, 2014; FRASER et al., 2013; KHALILI et al., 2007). 1,10 a 1,40 mEq/L5 Creatinina Nefrite intersticial aguda (elevação das concentrações da ureia e / ou da creatinina sérica) (HÄRMARK et al., 2007; ADRAC, 2003; MYERS et al., 2001) 0,5 a1,2 mg/dL6 Ferro sérico (Fe) Diminuição da absorção do ferro (MCCOLL, 2009) 50 a 170 ug/dL7 Magnésio (Mg) Hipomagnesemia (RODRÍGUEZ et al., 2013) 1,9 a 2,5 mg/dL8 Potássio (K) Hipercalemia (ANVISA, 20092) 3,8 a 5,5 mEq/L9 Sódio (Na) Hiponatremia (BUON et al., 2013; BAHAT, 2014) 138 a 148 mEq/L9 Ureia Nefrite intersticial aguda (elevação das concentrações da ureia e / ou da creatinina sérica) (HÄRMARK et al., 2007; ADRAC, 2003; MYERS et al., 2001) 15 a 45 mg/dL10 Transaminase glutâmico oxalacética (TGO) Aumento das enzimas hepáticas (ANVISA, 20092) 10 a 39 U/L11 5 CA ARSENAZO LIQUIFORM. Sistema para a determinação do cálcio em amostras de sangue e urina com reação de ponto final. Ref. 95. MS 10009010076. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: abril, Ref: 180613, 2011. 6p. 6 CREATININA K. Sistema para a determinação da creatinina em soro, plasma, urina e líquidos amniótico por cinética de dois pontos. Ref. 96. MS 10009010143. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: setembro, Ref: 280113, 2007. 6p. 7 FE LIQUIFORM. Sistema bi-reagente para a determinação do ferro em amostras de soro por reação de ponto final. Ref. 91. MS 10009010092. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: setembro, Ref: 280113, 2012. 6p. 8 MAGNESIO. Sistema para a determinação do magnésio em amostras de sangue, urina e líquor por reação de ponto final. Ref. 50. MS 10009010012. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: novembro, Ref: 280113, 2008. 4p. 9 Fundamentação teórica. Instruções de Utilização. Analisador de Electrólitos 9180, Rev. 5.0. Março 2008. 10 UREIA UV LIQUIFORM. Sistema enzimático para determinação da ureia no soro, plasma e urina por fotometria em ultravioleta usando cinética de dois pontos (tempo fixo). Ref. 104. MS 10009010020. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: maio, Ref: 050214, 2011. 6p. 11 AST/GOT LIQUIFORM. Sistema para determinação da Aspartato Amino Transferase (AST) ou Transminase Glutâmico Oxalacética (GOT) em modo cinético. Ref. 109. MS 10009010018. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: maio, Ref: 180613, 2013. 6p. 41 Tabela 2 – Parâmetros laboratoriais monitorados e os seus respectivos intervalos de referências (continuação). Exame laboratorial Justificativa do biomarcador Intervalo de referência* Transaminase glutâmico pirúvica (TGP) Aumento das enzimas hepáticas (ANVISA, 20092) 10 a 45 U/L12 Vitamina B12 (B12) Diminuição da absorção da vitamina B12 (LAM et al., 2013) 210 a 980 pg/mL13  Com relação à indicação e o tempo de uso do omeprazol, foi analisado se o omeprazol foi indicado: profilático aprovado; profilático não aprovado; e não profilático.  Quando houve mudanças nas preparações de dose unitária de medicamentos, foram classificadas em derivação e transformação (BRASIL, 2007). III – EVOLUÇÃO CLÍNICA:  Foram registrados os Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM).  O monitoramento de cada paciente teve como objetivo identificar, prevenir e solucionar problemas de medicamentos quanto à necessidade, efetividade e segurança por meio de intervenções farmacêuticas, tais como: alterações ou adequações posológicas, substituição terapêutica, quando a equipe em conjunto julgasse necessária (HELPER e STRAND, 1990). IV – EVENTOS ADVERSOS:  Os eventos adversos potenciais e reais foram notificados, segundo a sua natureza RAM, EM, queixa técnica (QT), IT e IM (BRASIL, 2009); e 12 ALT/GPT LIQUIFORM. Sistema para determinação da Alanina Amino Transferase (ALT) ou Transaminase Glutâmico Pirúvica (GPT) em modo cinético. Ref. 108. MS 10009010029. Lagoa Santa, MG: Labtest Diagnóstica S.A. Revisão: dezembro, Ref: 250509, 2008. 6p. 13 VITAMINA B12. Laboratório Alvaro – Análises e Pesquisas Clínicas. Código: B12. Material: soro. Sinônimo: Cianocobalamina. Volume: 1,0 mL. Método: Quimioluminêsncia. Data da última alteração: 12 set. 2012. 42 sinalizados se estavam direta ou indiretamente relacionados ao uso do omeprazol ou outros medicamentos.  Além disso, foi classificada a gravidade dos EAM entre grave ou não grave (BRASIL, 2009). Considerou-se os eventos graves aquelas situações que envolvam óbito, ameaça à vida, hospitalização ou prolongamento de hospitalização já existente, incapacidade significativa ou persistente, anomalia congênita, qualquer suspeita de transmissão de agente infeccioso por meio de um medicamento, ou evento clinicamente significante. Já os eventos não graves indicam qualquer outro evento que não esteja incluído nos critérios de evento adverso grave (BRASIL, 2009).  O grau de probabilidade da RAM foi classificado segundo a categoria de causalidade (WHO, 2009) (Anexo A).  Apenas a gravidade dos EM notificados também foi avaliada, segundo a classificação do The National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention (NCCMERP, 200114) (Anexo B).  Também foram monitoradas as potenciais interações medicamentosas relacionadas com o uso do omeprazol, quando houve resposta farmacológica, toxicológica, clínica ou laboratorial causada pela combinação do medicamento com outros medicamentos (BRASIL, 2009). A interação medicamentosa pode resultar em um aumento ou diminuição da efetividade terapêutica ou ainda no aparecimento de novos efeitos adversos, assim, quando necessário, realizaram-se intervenções farmacêuticas (BRASIL, 2009). Considerando a variabilidade de medicamentos descritos em diferentes referências de interações medicamentosas, recomenda-se que a análise de interações medicamentosas em mais de duas fontes de informações para que possa ter maior robustez (GUIDONI et al., 2011; KORNBLITH; HEARD, 2010). As fontes utilizadas foram a bula do medicamento (ANVISA, 20092), o Micromedex® 15 e Lexi-InteractTM Online16. 14 NCC MERP. National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention. Index for categorizing medication errors, 2001. http://www.nccmerp.org/merindex.htm. Acesso em 20 Jul. 2014. 15 MICROMEDEX Healthcare Series. Base de referência que contém informações sobre medicamentos, etiologia, patologia, epidemiologia, diagnóstico, tratamento, educação do paciente, referências bibliográficas e literatura relacionada. 43  A classificação de gravidade destas interações medicamentosas foi avaliada segundo Lexi-InteractTM Online16, que classifica em A (nenhuma interação conhecida), B (nenhuma ação é necessária), C (monitorar a terapia), D (considerar modificação na terapia), e X (evite combinação). A possível interação medicamentosa do nível D, X ou interação medicamentosa real, foi repassada para a equipe multiprofissional, principalmente para o médico responsável pelo paciente. Já a possível interação medicamentosa do nível A, B ou C, o pesquisador continuou a monitorar com mais afinco este paciente para verificar se a possível interação não se transforme em real. V – DESFECHO CLÍNICO – nesta parte foi relatado se o uso do medicamento omeprazol foi efetivo e seguro.  A efetividade/benefício do omeprazol foi classificada como efetiva quando o uso profilático foi capaz de prevenir a condição clínica que justificou sua prescrição ou indicação na bula (FDA, 20144; ANVISA, 20092), ou seja, o benefício do uso profilático é a não ocorrência do evento/comorbidade que esta prevenindo com o uso do omeprazol. Foi considerado inefetividade terapêutica quando houve a ausência ou a redução da resposta terapêutica esperada de um medicamento, sob as condições de uso prescritas ou indicadas em bula (BRASIL, 2009).  A segurança foi avaliada em segura quando não houve reação adversa a qualquer medicamento, incluindo o omeprazol.  A gravidade do EAM foi classificada em grave ou não grave (BRASIL, 2009). O desfecho clínico do risco (seguro) e do benefício (efetivo) de cada paciente foi concluído na sua alta hospitalar, na transferência para outros serviços de saúde ou quando o paciente ainda internado mudou de grupo por iniciar ou terminar o uso de omeprazol. 2013. Disponível em: http://www-thomsonhccom.ez67. periodicos.capes.gov.br/micromedex2/librarian/. Acesso em : 19 fev. 2013. 16 Lexi-Interact™ Online. Lexi-Comp's Comprehensive Drug-to-Drug, Drug-to-Herb and Herb-to-Herb Interaction Analysis Program. 2012. [acessado 2013 Fev 19]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/drug-interaction 44 Foi proposto, neste estudo, adaptação de rastreadores (parâmetros laboratoriais e a exposição ao omeprazol profilático) baseado no método de e Rozich et al. (2003) para o monitoramento intensivo dos pacientes a fim de aumentar a taxa de detecção de eventos adversos ao omeprazol (Tabela 3). Tabela 3 – Rastreados laboratoriais para monitorar potenciais eventos adversos. Parâmetros laboratoriais Rastreador omeprazol exposto Sódio <138 mEq/L Ureia >45mg/dL Creatinina >1,2 mg/dL TGO >39 U/L TGP >45 U/L Magnésio <1,9 mg/dL Cálcio <1,10 mEq/L Potássio >5,5 mEq/L Ferro <50 ug/dL Vitamina B12 <210 pg/mL INR > 4,0 Fonte: adaptado de ROZICH et al. (2003) 4.7 Viés Uma limitação foi com relação ao número de exames laboratoriais solicitados, uma vez que alguns exames, já descritos na literatura, são fundamentais para avaliar potenciais eventos adversos ao omeprazol. Devido à limitação do número pequeno de exames, não foram analisados os fatores interferentes de cada exame, considerando que não houve controle dos interferentes nem no grupo exposto e não exposto. No entanto, foi realizada uma analise exploratória para verificar os pontos discrepantes (outliers) dos valores dos exames laboratoriais. Foram analisados cada outliers individualmente de acordo com os dados do paciente e foram retirados os outliers que correspondiam definitivamente que a causa fosse a condição de saúde do paciente, do qual alterou o valor do exame laboratorial. 45 4.8 Analises e métodos estatístico Os riscos do uso do omeprazol foram analisados pela ocorrência de EAM, que é ―qualquer ocorrência médica desfavorável, que pode ocorrer durante o tratamento com um medicamento, mas que não possui, necessariamente, relação causal com esse tratamento‖ (BRASIL, 2009). O EAM se subdivide em: (a) Reação Adversa a Medicamento (RAM); (b) Erro de Medicação; (c) Queixa Técnica (QT); (d) Uso não aprovado; e (e) Inefetividade Terapêutica (IT) (BRASIL, 2009). Portanto, para análise do risco (EAM) e o beneficio (efetividade) do uso profilático do omeprazol, foi considerada a inefetividade como o não beneficio. Mas, caso a inefetividade seja por motivo de um erro medicação ou uma queixa técnica do produto, a mesma será considerada um EAM. No entanto, para efeito da legislação de farmacovigilância, além destas subdivisões de EAM, considera ainda as notificações dos EAM como: Interação Medicamentosa (IM), intoxicação medicamentosa, e uso abusivo de medicamentos (BRASIL, 2009). Estes podem desencadear um EAM por efeito ou por causa. Neste estudo, foi utilizada a estatística descritiva para apresentar as frequências simples e relativa dos eventos adversos, quanto à sua natureza e classificação; e as interações medicamentosas observadas dos três grupos estudados. Os EAM foram apresentados quanto a sua frequência simples e absoluta e a sua natureza (RAM, EM, QT, IT, IM) no grupo exposto ao omeprazol profilático (aprovado ou não aprovado) e no grupo não exposto. Os desfechos clínicos observados foram a efetividade e não efetividade terapêutica, a presença e a ausência de eventos adversos (EAM). Entre os EAM, foram separados pela gravidade em EAM Não Graves e EAM Graves. Cada um destes será correlacionado diretamente com o grupo não exposto ao omeprazol. Como a amostra entre os grupos exposto e não exposto teve uma relação 1:3, calculou-se a razão de chances (Odds Ratio - OR) para responder quantas vezes é maior ou menor o risco de desenvolver os EAM entre os pacientes expostos omeprazol profilático ao uso aprovado ou não em comparação aos não expostos. 46 Neste caso, foram considerados apenas EAM do tipo RAM. Os EAM do tipo QT e EM geralmente são por problemas técnicos na fabricação do produto ou matéria prima e os erros de medicação, por sua vez, geralmente são por procedimentos da equipe da saúde. Portanto, considerar estes dois tipos de notificação para o cálculo da razão de chances, poderia ser um viés de confusão. Nos dados do projeto piloto, necessitou-se realizar a separação em dois grupos, devido ao pequeno número de usuários de omeprazol profilático aprovado para realizar comparação com o grupo não exposto. Desta forma, dividiu-se nos grupos expostos ao omeprazol profilático e outro grupo não expostos. A avaliação da significância de associação entre variáveis categóricas foi obtida pelo teste Qui- quadrado. O teste t de Student ou o teste não-paramétrico de Mann-Whitney foram utilizado na comparação de dois grupos quanto à variável numérica, conforme se tenha provado ou não a homogeneidade de variâncias dos grupos e a normalidade dos resíduos. Essas condições foram julgadas, respectivamente, pelos testes de Levene e de Shapiro-Wilk. Para a aceitação da existência de associação entre variáveis ou de diferença entre grupos, adotou-se o nível de significância de 5%. Já os dados do estudo, houve a comparação dos três grupos: exposto ao omeprazol profilático com uso aprovado; exposto ao omeprazol profilático com uso não aprovado; e não exposto ao omeprazol. A avaliação da significância de associação entre variáveis categóricas foi obtida também pelo teste Qui-quadrado. Uma análise de variância, complementada pelo teste de Tukey corrigido para tamanhos de amostras diferentes, ou o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis, complementado pelo teste de Dunn, foram utilizados na comparação dos três grupos experimentais quanto às variáveis numéricas, conforme se tenha provado ou não a homogeneidade de variâncias dos grupos e a normalidade dos resíduos. Essas condições foram julgadas, respectivamente, pelos testes de Levene e de Shapiro- Wilk. Na presença de amostras grandes (mais de 30 pacientes por grupo), esta metodologia baseada no Teorema Central do Limite pode ser adotada (FARIAS et al., 2003). Para a aceitação da existência de associação entre variáveis ou de diferença entre grupos, adotou-se o nível de significância de 5%. Os cálculos foram executados em planilhas do Microsoft Excel 2013 e STATISTICA® (data analysis software system), version 8.0, StatSoft, Inc. 2007. 47 4.9 Aspectos Éticos 4.9.1 Comitê de Ética em Pesquisa No primeiro momento, durante agosto a novembro de 2013, foi realizado o projeto piloto, que foi um dos objetivos específicos de um projeto de implantação de um serviço de farmacovigilância hospitalar denominado ―Proposta de implantação de um serviço de farmacovigilância no Hospital Estadual Américo Brasiliense‖, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) com apreciação do Instituto Lauro de Souza Lima sob protocolo E-015A/12 (Anexo D). Adverte-se que os projetos de pesquisas abrangendo seres humanos aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa e emitidos antes da implantação da plataforma Brasil em janeiro de 2012, são legítimos, válidos e respaldados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) (BRASIL, 201217; BRASIL, 199618). Posteriormente, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do Campus de Araraquara - UNESP, com o número do parecer 618.397 (CAAE 28217914.6.0000.5426) (Anexo C), com dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), mediante a anuência da diretoria do hospital para a realização do estudo (Anexo F). A dispensa do TCLE foi a fim de conseguir analisar a hipótese desta pesquisa, com a menor interferência possível tanto dos pacientes, quanto dos profissionais de saúde, evitando, assim, uma interferência na prescrição do omeprazol e não superestimando o número de eventos adversos a medicamentos detectados. Desta forma, a dispensa do TCLE foi a fim de não ter viés nos dados da pesquisa, garantido sempre o sigilo da identidade do paciente, assegurando, assim, sua privacidade e a confidencialidade dos dados. 17 BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 466 de 12 de dezembro de 2012. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: fev de 2014. 18 BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n° 196 de 10 de outubro de 1996. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/web_comissoes/conep/aquivos/resolucoes/resolucoes.htm. Acesso em: fev de 2014. 48 Por questão ética do profissional de saúde (pesquisador) e para garantir a segurança do paciente, todos os PRM identificados e potenciais EAM, que eram passíveis de melhorias, foram realizadas intervenções junto com a equipe multidisciplinar para progresso do quadro do paciente. 4.9.2 Registro no Clinical Trials O estudo foi publicado na base de dados ClinicalTrials.gov, sob o número NCT02278432 (http://clinicaltrials.gov/ct2/show/record/NCT02278432) (Anexo E). 49 5 RESULTADOS 5.1 Resultados piloto Durante os meses de agosto a outubro de 2013, foram internados 1.543 pacientes no HEAB, dos quais 476 pacientes utilizaram omeprazol. Realizou-se o monitoramento de 96 pacientes [45 pacientes expostos ao omeprazol profilático (cápsula 20mg, cápsula 40mg ou frasco-ampola injetável 40mg) e 51 pacientes não expostos ao omeprazol] (Figura 3). Figura 3 – Fluxograma dos pacientes internados no Hospital Estadual Américo Brasiliense, segundo os critérios de inclusão do estudo piloto (n=96). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013. As causas principais de internação dos pacientes monitorados foram das seguintes categorias do CID: doenças do aparelho circulatório (22/96); doenças do aparelho respiratório (16/96); sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte (11/96); doenças do 50 aparelho geniturinário (8/96); doenças do aparelho digestivo (6/96); doenças da pele e do tecido subcutâneo (6/96); neoplasias (6/96); algumas doenças infecciosas e parasitárias (6/96); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (4/96); dentre outros (Apêndice C). Durante a internação, o omeprazol foi o quarto medicamento mais prescrito, seguidos da bromoprida, dipirona e solução fisiológica para os pacientes monitorados (n=96). Não foi observada associação entre as variáveis e a exposição ou não de omeprazol profilático (Tabela 4), o que foi utilizado como base para o prosseguimento do estudo. Para algumas variáveis não foram possíveis avaliar a associação, pois o número de pacientes em cada categoria foi pequeno. Mesmo assim, pode-se observar (Tabela 4) que: a indicação do omeprazol profilático não aprovado foi duas vezes maior que o aprovado; a maioria dos pacientes no grupo exposto ao omeprazol foi efetivo e seguro; as frequências de eventos adversos foram semelhantes entre os grupos; e não foram observadas diferenças nos exames laboratoriais entre os grupos (Tabelas 4 e 5). 51 Tabela 4 – Pacientes expostos ao omeprazol profiláticos ou não, de acordo com a variável de interesse no estudo piloto (n=96). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013. Variável Classificação Paciente não exposto ao omeprazol n Paciente exposto omeprazol profilático (aprovado ou não) n Valor p(1) Total 51 45 + Sexo Mulher 21 26 Homem 30 19 0,104 INDICAÇÃO (2) Não Aprovada Neoplasia maligna do estômago 1 Prevenir úlcera relacionada ao estresse causado por internação 1 Proteção da m. g. contra antibiótico 6 Proteção da m. g. contra antibiótico e corticoide 3 + Proteção da m. g. contra corticoide 6 Proteção da m. g. contra polimedicação 13 Aprovada Proteção da m. g. contra AINE 15 Início do omeprazol (pacientes) Antes da internação - 16 + Depois da internação - 29 Efetivo Não - 2 + Sim - 43 Seguro Não - 5 + Sim - 40 EAM por paciente Não 43 38 Sim 8 7 0,986 Tipo de EAM EM 2 0 IT 0 2 + IM 0 1 RAM 9 7 Magnésio Normal (1,9 a 2,5 mg/dL) 6 5 Inferior (RAM) 4 2 Superior 0 1 0,914++ Creatinina Normal (0,5 a 1,2 mg/dL) 37 33 Inferior 2 0 Superior (RAM) 6 10 0,524++ Ureia Normal (15 a 45 U/L) 26 25 Inferior 2 2 Superior (RAM) 17 16 0,973++ Nota: m. g. (mucosa gástrica) (1) Valor p do teste χ2: significativo se p≤0,05 (2) FDA, 20144; ANVISA, 20092 + Associação não avaliada 52 ++ Foi avaliada a associação entre normal e as outras categorias agrupadas. ( RAM) Suspeita de Potencial Reação Adversa ao omeprazol EAM – evento adverso a medicamento Durante o monitoramento, 15 pacientes tiveram 21 EAM, gerando 18 notificações (Tabela 4), sendo que sete RAM foram graves porque estavam relacionadas com aumento no tempo de internação. A taxa de EAM detectada foi 0,21 (21/96) e para 10 dos 21 EAM, o medicamento omeprazol estava presente na prescrição. Com a análise das prescrições diárias dos pacientes, notou-se o uso não registrado dos medicamentos em 46 casos, sendo que 17 medicamentos sofreram o processo de derivação e 29 transformações para administração da farmacoterapia do paciente (Apêndice G). Uma dosagem do medicamento omeprazol passou por um processo de transformação para mudança de via de administração (omeprazol cápsula 20mg via oral para via sonda naso-esofágica) para atender a necessidade do paciente. Não se identificou qualquer diferença entre os grupos sem e com omeprazol em relação a todas as variáveis (Tabela 5). Tabela 5 – Comparação dos parâmetros entre o grupo controle e o grupo exposto ao omeprazol profilático no estudo piloto (aprovado ou não) (n=96). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013. Variável não exposto omeprazol profilático Valor p n Estat.(3) n Estat.(3) Idade (anos) 51 64 (17) 45 65 (14) 0,659(1) Magnésio (mg/dL) 10 2,0 (0,3) 8 2,0 (0,4) 0,873(1) Creatinina (mg/dL) 45 0,9 (0,4; 2,0) 43 0,9 (0,5; 5,3) 0,846(2) Ureia (mg/dL) 45 36,0 (7,0; 117,0) 43 38,0 (3,0; 194,0) 0,592(2) IMC (kg/m2) 14 24,4 (5,6) 22 27,4 (10,8) 0,130(1) Tempo Internação (dias) 51 8 (2; 79) 45 9 (2; 67) 0,830(2) Nº prescrições 50 9 (1; 100) 45 12 (1; 67) 0,238(2) Nº medicamentos 51 12 (4; 36) 45 14 (4; 36) 0,160(2) Nota: (1)Valor p do teste t (2)Valor p do teste de Mann-Whitney (significativos se p≤0,05) (3)Estatística: média (desvio padrão) ou mediana (mínimo; máximo) Neste período, foram solicitados e registrados nos prontuários apenas 18 exames laboratoriais para analisar a concentração sérica de magnésio, os quais não 53 foram suficientes para avaliar o risco-benefício da utilização profilática, embora a exposição crônica, ressaltando uso contínuo do omeprazol, pode conduzir a grave hipomagnesemia, inferior a 1,9 mg/dL. Os dados demonstraram que não há evidências de associação entre hipomagnesia e exposição ao omeprazol (Tabela 4 e 5). Já os parâmetros laboratoriais houve igualdade da concentração sérica de creatinina e de ureia entre os grupos, não havendo associação destes dados (Tabelas 4 e 5). A avaliação do risco da exposição do omeprazol profilático resultou em 0,7857 (0,2308-2,6745), porém não se pode afirmar que o omeprazol profilático é um fator de proteção, uma vez que o resultado não é significativo (Tabela 6). Tabela 6 – Avaliação da segurança do uso profilático de omeprazol, considerando apenas reação adversa ao medicamento nos pacientes do estudo piloto (n=96). Américo Brasilense. Agosto a outubro de 2013. RAM (por paciente) NÃO RAM (por paciente) TOTAL Exposto ao omeprazol profilático 5 40 45 Não exposto 7 44 51 TOTAL 12 84 96 Nota: RAM - reação adversa a medicamento Dentre os 45 pacientes expostos ao omeprazol profilático, cinco pacientes apresentaram seis EAM (RAM + IT), sendo que não foi efetivo em dois pacientes usuários de omeprazol não aprovado (Tabela 7). Tabela 7 – Frequência do risco x benefício do uso profilático de omeprazol do estudo piloto (n=45). Américo Brasiliense. Agosto a Outubro de 2013. EFETIVO INEFETIVO TOTAL RAM 5 1 6 NÃO RAM 38 1 39 TOTAL 43 2 45 Nota: RAM - reação adversa a medicamento 54 Foram identificados quatro em 40 potenciais interações medicamentosas de níveis D e X, sendo que três destas foram relacionadas ao medicamento clopidogrel, necessitando uma monitoração mais intensiva para que evitasse uma interação real (Tabela 8). Tabela 8 – Frequências das potenciais interações com omeprazol profilático do estudo piloto (n=40). Américo Brasiliense. Agosto a outubro de 2013. Medicamento n Risco interação clopidogrel 3 x carbamazepina 1 D carvedilol 5 C sinvastatina 5 C losartana 5 C clonazepam 5 C varfarina 4 C diazepam 4 C midazolam 1 C fenorbarbital 1 C digoxina 4 B claritromicina 2 B TOTAL 40 Nota: A gravidade das interações medicamentosas foi classificada em: A (nenhuma interação conhecida), B (nenhuma ação é necessária), C (monitorar a terapia), D (considerar modificação na terapia), e X (evite combinação), segundo Lexi-InteractTM Online16. 5.2 Adaptação do roteiro de investigação Durante o estudo piloto, o roteiro sofreu algumas modificações de organização e estrutura das informações para de facilitar o preenchimento e a visibilidade dos dados. Foi acrescentado um campo de identificação numérica do roteiro, porque cada paciente, desde o momento da inclusão no estudo até a sua alta, era monitorado, e os seus dados preenchidos no mesmo roteiro. Tal informação permitiu a rastreabilidade da documentação. 55 Incluiu-se o campo data de monitoramento para rastrear os dias de acompanhamento deste paciente, facilitando a identificação diária do monitoramento. Na parte da Identificação, foi adicionado apenas o item Clínica, com os nomes das clínicas (Clínica Semi-intensiva, Clínica Médica, Cuidados Paliativos e Moléstias Infecciosas) para apenas assinalar o nome da clínica de internação referente ao paciente e desta forma facilitar a busca por este paciente. Na parte de análise farmacoterapêutica, foram separadas as informações sobre a condição de saúde e a farmacoterapia do paciente, o que facilitou a análise de causalidade entre o problema de saúde e o EAM identificado, ou ainda para avaliar se o evento adverso observado podia ser explicado pelo problema de saúde. As informações farmacoterapêuticas foram desmembradas em: medicamento, forma farmacêutica, dosagem, dose, via, posologia, a fim de identificar algum erro de medicação e/ou identificar alguma adequação posologia (derivação, transformação ou uso de forma farmacêutica não aprovada). Há ainda a inclusão das datas de início e término de cada medicamento e o número da prescrição para rastreabilidade das informações. Já no que se refere à evolução clínica, incluíram-se os intervalos de referência de cada exame bioquímico e espaços para registrá-los diariamente, quando necessário. Enfim, o estudo piloto permitiu treinamento do pesquisador e adequação do método, do qual definiu:  A mudança na análise de pacientes internados, que alteravam de grupos devido à exposição ou não ao omeprazol, podendo um paciente internado corresponder mais de uma hospitalização, caracterizando uma população dinâmica;  Para acompanhar outros potenciais eventos adversos do omeprazol, foram adicionados outros exames laboratoriais: concentração sérica do cálcio iônico, ferro sérico, potássio, sódio, transaminase glutâmico oxalacética, transaminase glutâmico pirúvica e vitamina B12 (cobalamina);  Selecionou as clínicas de atuação (Clínica Semi-intensiva, Clínica Médica, Cuidados Paliativos e Moléstias Infecciosas); 56  Estabeleceu que devessem ser analisados primeiramente os novos pacientes incluídos no estudo e depois realizar o acompanhamento dos demais. 5.3 Monitoramento dos pacientes Depois da condução do piloto, houve apenas modificações estruturais no roteiro de investigação. Porém, houve a necessidade de alterar o método de análise dos pacientes, uma vez que se observou que durante a hospitalização, os pacientes poderiam alterar de grupo entre o exposto ao omeprazol profilático e não exposto, ou seja, incorporando ou perdendo membros dos grupos, caracterizando uma população dinâmica. A partir deste momento, o paciente poderia ser registrado em duas situações diferentes, ou seja, em cada uma destas mudanças de grupo foi con