UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO KAUAN GALVÃO MORÃO A OCORRÊNCIA DE BULLYING NO FUTEBOL E SUA INFLUÊNCIA NO ABANDONO ESPORTIVO Rio Claro 2012 EDUCAÇÃO FÍSICA KAUAN GALVÃO MORÃO A OCORRÊNCIA DE BULLYING NO FUTEBOL E SUA INFLUÊNCIA NO ABANDONO ESPORTIVO Orientador: AFONSO ANTONIO MACHADO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Bacharel em Educação Física. Rio Claro 2012 Morão, Kauan Galvão Ocorrência de bullying no futebol e sua influência no abandono esportivo / Kauan Galvão Morão. - Rio Claro : [s.n.], 2012 33 f. : il., gráfs. Trabalho de conclusão de curso (bacharelado - Educação Física) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro Orientador: Afonso Antonio Machado 1. Esportes – Aspectos psicológicos. 2. Abandono. 3. Bullying. 4. Futebol. I. Título. 796.01 M829o Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus familiares, principalmente, aos meus pais e irmã, aos meus amigos, ao meu orientador - Afonso Antonio Machado, colegas de laboratório, professores, ex- professores e as pessoas que convivi durante minha vida e durante estes quatro anos de graduação, fazendo com que essa etapa fosse melhor para mim em todos os aspectos. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer aos meus familiares pelas oportunidades que me proporcionaram ao longo da vida, pelo apoio dado pelos meus pais desde quando me colocaram no mundo, estando ao meu lado em todos os momentos. Agradeço pelo modo que me criaram, pelo jeito que me fizeram crescer, como me educaram e pelo esforço que fizeram para que eu tivesse as oportunidades que julgavam serem de meu merecimento. Família é a base de tudo na vida de uma pessoa, pois sem ela não somos nada. Bons pais são aqueles que educam seus filhos mostrando a verdade do mundo, como ele realmente é, e não aqueles que ficam “passando a mão na cabeça” e fechando os olhos para os erros cometidos pelo próprio filho. Então, agradeço imensamente o carinho que vocês me deram e os momentos que me proporcionaram desde o meu nascimento. Vocês são simplesmente os melhores pais do mundo! Agradeço por estarem ao meu lado em mais uma etapa que vai se concluindo em minha vida, talvez a mais importante. Também agradeço a minha irmã por morar comigo durante esses 4 anos da minha graduação, me aguentando nos melhores e piores dias. Muitas pessoas não conseguiriam conviver com seus irmãos, porém a gente se entende muito bem. Obrigado por fazer o papel de mãe e pai quando eles estavam longe, cuidar de mim, ser mais que uma irmã, ser uma conselheira, uma amiga, companheira, ser a minha parceira em todos os momentos. Desculpe pelos erros, pelas brigas, mas essas coisas acontecem com todos os irmãos. Tenho a certeza de que eu tenho a melhor irmã do mundo. “E a gente vive junto. E a gente se dá bem. Não desejamos mal a quase ninguém.” Não poderia deixar de agradecer meu orientador, Afonso Antonio Machado, que fez a minha faculdade melhor, pois me apoiou em vários momentos, agindo não só como professor (um dos melhores que já tive, se não o melhor), mas também como um amigo, sabendo me orientar e ajudando a amadurecer dentro da faculdade, tanto na área profissional como na pessoal. Também agradeço aos meus colegas do LEPESPE (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte), Renato, Guilherme, Eric, Lucas, Matheus, Cláudio, Mauro, Marcelo, Altair, Flavio, Gustavo, Rebustini, Vivian, Luciana, Renata, dentre outros que me ajudaram a desenvolver pesquisas, discussões e a ter outros olhares diante de diversas situações. Agradeço todos àqueles que fizeram parte dos meus 4 anos de graduação em Educação Física, fazendo com que eu vivesse, talvez, os melhores anos de toda a minha vida, proporcionando momentos inexplicáveis e inesquecíveis, porém, agradeço principalmente aos que eu tive mais contato, obrigado Renato, Márcio, Pedro, Léo, Vanderley, Paulo, Du, Ana Lívia, Mari, Neymar, Cleber, Nicholas e todos os outros que posso afirmar que não foram simples companheiros, mas sim, verdadeiros irmãos dentro dessa fase da minha vida que espero levar para sempre comigo. Não seria justo deixar de lado todos os meus “antigos” amigos que fizeram parte da minha história e ficaram um pouco distantes durante minha faculdade. Gostaria de agradecer cada um deles por sempre me apoiarem, me darem forças, compreenderem algumas situações e me ajudarem! Agradeço de coração ao Caio e ao Danilo por tudo o que um dia fizeram por mim e por serem meus irmãos, não de sangue, mas sim por nossa escolha. Somos irmãos de mães e pais diferentes, vivendo em outras casas, porque se vivêssemos juntos ninguém aguentaria. Agradeço aos alunos que tive durante o ano de 2012 da categoria sub- 15 de futsal da cidade de Rio Claro, pois eles me ensinaram muitas coisas e foram essenciais para que em alguns dias eu me alegrasse e tivesse certeza que estou fazendo o que amo. Obrigado por tudo “molecada”, vocês foram meus primeiros alunos, aqueles com quem criei vínculos além da quadra, trocamos ensinamentos, aprendizagens, experiências e espero que cada um se lembre de tudo o que passamos. Obrigado pela força que vocês me deram quando eu precisava, foi um prazer dar aula para pessoas como vocês. Por fim, agradeço a Deus por estar me ajudando a todo instante, dando forças, iluminando cada vez mais o meu caminho e me fazendo ter cada vez mais certeza de que estou fazendo as escolhas certas em minha vida, estudando/trabalhando com o que eu gosto e com o que realmente me faz bem. A OCORRÊNCIA DE BULLYING NO FUTEBOL E SUA INFLUÊNCIA NO ABANDONO ESPORTIVO Resumo O objetivo deste estudo é verificar a ocorrência de bullying no futebol e se este fenômeno pode ser considerado uma possível causa do abandono desta modalidade esportiva. A amostra foi composta por 143 atletas do sexo masculino, com idades entre 15 e 18 anos, sendo que todos eles disputaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior no ano de 2011. Os resultados apontam que a maioria dos atletas já praticou, sofreu e observou atos de bullying no futebol, porém a minoria possui medo de ser agredido na equipe e poucos pensaram em parar de jogar por causa deste fenômeno social. Sugere-se que mais estudos sejam realizados nesta área e que o psicólogo do esporte e o treinador proporcionem à equipe uma melhor convivência e estrutura de formação, sendo que os atletas devem ser unidos, evitar brincadeiras que excedam os limites ofendendo outro membro do grupo e fazer com que todos se sintam bem naquele ambiente, não influenciando o rendimento individual ou coletivo. Palavras-chave: Abandono; Bullying; Futebol. THE OCCURRENCE OF BULLYING IN SOCCER AND ITS INFLUENCE ON SPORTING ABANDONMENT Abstract The objective of this study is verify the occurrence of bullying in soccer and if this phenomenon can be considered a possible cause of the abandonment of this sport. The sample consisted of 143 male athletes, aged between 15 and 18 years old, all of whom competed in the Copa São Paulo de Futebol Júnior in 2011. The results show that most athletes have practiced, suffered and observed bullying in soccer, but the minority has fear of being assaulted on the team and few thought to stop playing because of this social phenomenon. It is suggested that more studies be conducted in this area and that the sport psychologist and coach provide to the team a better living and training structure, and the athletes should be united, avoid jokes that exceeding the limits offending another member of the group and make everyone feel comfortable in that place, not influencing the individual or collective performance. Key-words: Abandonment; Bullying; Soccer. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.........................................................................................9 2. OBJETIVO..............................................................................................17 3. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................18 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................19 5. CONCLUSÃO.........................................................................................23 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................24 7. ANEXO – ARTIGO PUBLICADO............................................................25 9 1. Introdução O futebol possui uma história diversificada em relação a outros esportes, pois teve sua origem relacionada como forma de treinamento militar, passando por um período em que foi disputado com as mãos, sendo visto como uma modalidade esportiva violenta devido às mortes causadas durante as partidas, chegando a ser proibido em algumas regiões. No século XVI, em Florença, surge o “Calcio Fiorentino” possuindo regras oficializadas, mas ainda com características muito distintas do futebol disputado naquela época em relação aquele praticado atualmente. Já no século XIX, a Inglaterra introduziu o futebol como esporte moderno e então, iniciou-se a massificação desta modalidade, criando uma associação e fazendo com que outros países se interessassem e utilizassem a mesma ideia, resultando na expansão do futebol. O grande feito para esta modalidade em questão foi no ano de 1904, quando houve a criação da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), contribuindo positivamente para a divulgação, expansão e definição sobre o espaço de jogo, duração das partidas, regras, criação de ligas, associações, torneios oficialmente internacionais, dentre outros aspectos que são utilizados no futebol atual. Grandes marcos mundiais trazem brilho à história do futebol, visto que a Copa do Mundo FIFA é o evento com maior número de espectadores internacionalmente, superando até as marcas dos Jogos Olímpicos. Atualmente, o futebol é disputado por duas equipes compostas por onze atletas cada uma, podendo-se utilizar somente os pés. A determinação das regras fez com que o esporte atraísse o público e criasse nos torcedores as paixões pelo “clube do coração”, pelas seleções de seus países e/ou pelo simples fato de assistir um jogo, mesmo que seu time favorito não esteja em campo. Uma ideia errada que se tem é que esta modalidade é somente destinada para o público masculino, devido ao contato direto com o adversário, jogadas perigosas, dentre outros fatores. Com o passar dos anos, as mulheres passaram a praticar o futebol, porém sofrendo forte preconceito, fato este que se instaura até os 10 dias atuais, onde pessoas desinformadas ou sem opinião própria, pensam que a opção sexual de um ser humano será definida de acordo com a modalidade esportiva que o mesmo praticar. As diferenças existem em todos os esportes e devem ser respeitadas, pois qualquer pessoa tem por base inicial os direitos humanos, sendo estes uma forma de integração e inclusão a todos. O que acontece é que alguns preconceituosos julgam as mulheres praticantes de futebol pelo que elas se mostram dentro de campo, tendo a ideia de que elas não são vaidosas, não se preocupam com suas aparências e que são agressivas. Com a evolução do futebol, houve aumento nas negociações em todos os âmbitos, envolvendo milhões de reais/dólares/euros na transição de jogadores, patrocínios, empresários, dentre outros fatores que passaram a interferir diretamente nesta modalidade, fazendo com que esta se transformasse em sonho para diversas crianças, principalmente para aquelas nascidas no Brasil, que é considerado o país do futebol. Nos dias de hoje, o esporte mais praticado mundialmente e também o que movimenta maior quantia de dinheiro é o futebol, fazendo com que os atletas almejem não só entrar para a história de um clube, ser bem sucedido em sua carreira, jogar na Europa e na seleção de seu país, mas também a independência financeira ofertada por este. Muitas famílias pressionam seus filhos para que eles se tornem atletas precocemente, vendo no jovem a saída para todos os problemas, fazendo com que o garoto (a) tenha sobre si uma responsabilidade enorme. São vistos também, casos em que os pais forçam os filhos a se tornarem jogadores, pelo simples fato de que ele não conseguiu seguir aquela carreira e este é o seu sonho, ou seja, o pai passa a enxergar no filho a esperança de reviver o seu sonho frustrado anteriormente por qualquer que seja o motivo. Por esses e outros fatores é que os atletas começam cada vez mais cedo a engrenarem nas escolinhas de futebol e em equipes grandes, até mesmo com salários absurdos para a idade que possuem e treinamentos exacerbados. Com o intuito de mostrar ao mundo o futebol dos garotos, foi criada em 1969, uma competição destinada a jovens atletas com idade máxima de 18 anos, envolvendo clubes de todo o território brasileiro, chamada de “Copa São Paulo de Futebol Júnior”, também conhecida como Copinha. Muitos garotos desejam disputar esta competição, pois veem nela a oportunidade de suas vidas, já que um clube grande (brasileiro ou não), empresários, imprensa e torcida podem observar seu 11 futebol, seu talento e oportunizar a eles uma carreira/vida melhor e de maior sucesso, não desistindo precocemente do futebol. Nas suas primeiras edições, a Copinha envolveu apenas clubes do estado de São Paulo, porém nos anos seguintes ganhou destaque em todo o território e passou a ser uma competição nacional, sendo as equipes participantes classificadas de acordo com o regulamento. Toda a disputa é realizada no estado de São Paulo, sendo a grande maioria nas cidades do interior paulista, iniciando-se por volta do dia dois ou três de janeiro e se encerrando no dia do aniversário de São Paulo, vinte e cinco de janeiro, sendo a final disputada no estádio do Pacaembu. Como os atletas participantes da Copa São Paulo de Futebol Júnior são muito novos, geralmente possuindo idade entre 15 e 18 anos, o preparo psicológico passa a ser algo fundamental para os garotos, pois diversos fatores emocionais surgem durante a competição, como por exemplo, a ansiedade, medo, vergonha, podendo influenciar o rendimento individual do atleta e coletivo da equipe. É necessário que seja feito um acompanhamento com os jogadores e que algumas ferramentas sejam utilizadas com a finalidade de deixá- los mais seguros, confiantes e motivados para cada partida, sem que exista o medo da exposição. O futebol é uma modalidade esportiva em que a convivência com outros atletas se dá a todo o momento, por isso existem brincadeiras incessantes que acabam fazendo parte do ambiente de trabalho destes indivíduos. Geralmente, essas chamadas “brincadeiras” são utilizadas como forma de diversão e descontração, porém é necessário que se tome cuidado para que elas não percam a graça e se tornem bullying, podendo causar desconforto e, até mesmo, abandono precoce por parte de um atleta que seja vítima deste feito. Em suma, o bullying é abordado na literatura por diversos autores como um fenômeno social que está tomando proporções de alta incidência nos dias atuais. É considerado bullying, atos agressivos contra uma pessoa (geralmente estudante) em que o agressor utiliza provocações, apelidos, palavras ofensivas, tendo assim um caráter degradante. Pode ser realizado por apenas uma pessoa ou por um grupo todo, onde a vítima sofre constantes agressões de natureza física ou moral, criando a possibilidade do psicológico ser “afetado”. As agressões podem ser realizadas de maneira direta (agressão física ou verbal) ou indireta (exclusão). Em seu caráter físico, as agressões constituem-se por 12 socos, chutes, empurrões, quebra de pertences, roubo, enquanto as agressões verbais a vítima sofre com a utilização de apelidos, insultos, comentários racistas, homofóbicos, de diferenças religiosas, físicas, econômico-sociais, culturais, morais e políticas (Rolim, 2008). A exclusão (maneira indireta de se cometer bullying) é quando um grupo isola uma pessoa por qualquer motivo, fazendo com que esta se sinta mal acolhida naquele local e grupo. Uma outra categoria de bullying já conhecida pelos pesquisadores, é o cyberbullying, constituindo-se, segundo Berger (2007), em ataques por mensagens instantâneas, web site, salas de bate-papo ou torpedos. Nos casos de bullying, temos a vítima, o agressor, os espectadores/testemunhas e, algumas vezes, um caso a parte onde o indivíduo é vítima e em outro momento é agressor. As pessoas que sofrem agressões de maneira repetida são consideradas vítimas de bullying e possuem a característica de serem supostamente consideradas mais fracas que o agressor. Estes adolescentes costumam sentir vulnerabilidade, medo ou vergonha intensos e uma autoestima cada vez mais baixa, aumentando a probabilidade de vitimização continuada (Middelton-Moz & Zawadzki, 2007). As vítimas acabam se omitindo aos ataques recebidos e muitas vezes possuem o pensamento de que tudo está bem e ficará normal, sendo assim, passivas a eles. Segundo Rolim (2008), algumas vítimas possuem até três vezes mais chance de sofrer com dores de cabeça e com dores abdominais, até cinco vezes mais chances de ter insônia e até duas vezes e meia mais chances de experimentar enurese noturna, quando comparadas às crianças que não são vítimas. Os agressores geralmente são aceitos pelos seus colegas, possuem características agressivas e se orgulham desses seus atos num primeiro momento, pois estão chamando a atenção e se sentindo mais fortes. Em alguns casos, agem dessa maneira para impressionar os outros ou simplesmente pelo fato de se satisfazerem, visto que as agressões fazem com que ele se sinta bem, tendo domínio sobre outro alguém. Analisando alguns estudos previamente realizados, nota-se que quem realiza o bullying possui maior tendência à ingestão de álcool e/ou tabaco, e algumas outras drogas. Caso a prática deste fenômeno venha causar um efeito bom para o agressor, isto é, destaque no grupo, existe uma forte tendência a ele continuar o praticando apenas para firmar seu papel de agressor, porém, no 13 futuro esta criança/jovem poderá desenvolver sentimento de culpa e vergonha devido aos seus atos inadequados realizados no passado. Aquele indivíduo denominado vítima/agressor possui limitações em determinadas atividades/tarefas e para que não seja percebido pelos outros, ele acaba expondo outra pessoa, passando de vítima para agressor. Isto é comum também em esportes, pois o atleta menos habilidoso ao se sentir ameaçado, percebendo que estão zombando dele, irá apontar o defeito ou a dificuldade de outro para que este passe a tomar o seu lugar de vítima. É difícil lidar com essas situações, principalmente pelo motivo destas crianças terem grande chance de apresentar problemas de comportamento, baixa autoestima, atitudes agressivas, alterações psicológicas, dentre outros fatores descritos por Lopes (2005). As vítimas/agressores apresentam certas características como sintomas de depressão, ansiedade e outras formas de estresse internalizado (Bandeira, 2010). Os espectadores são aquelas pessoas que estão presentes na cena de bullying, porém apenas observam o acontecimento sem utilizar qualquer forma de intervenção. Algumas crianças testemunham o fato ocorrido e por medo da possibilidade de se tornarem as próximas vítimas, acabam se omitindo, não agindo da maneira correta. Importante é que nas escolas os professores notem se está havendo bullying e, também, que haja conversas com os alunos, verificando se há ocorrência deste fenômeno mundial naquele ambiente. É de suma importância que o professor/coordenador venha intervir em casos de bullying. Nos esportes, pode-se notar a ocorrência das agressões, principalmente em modalidades coletivas, sendo assim, o treinador e toda a equipe técnica deve estar atenta para que as brincadeiras não se transformem em atos de bullying contra um jogador, pois isso poderia acarretar até o abandono precoce de sua carreira esportiva. Existe certa prevalência nas atitudes que geram o bullying por parte dos meninos em relação às meninas, ou seja, pesquisadores verificam que o bullying é um fenômeno muito mais decorrente dos meninos do que das meninas. Porém, é necessário lembrar que muitas vezes os atos de garotas possuem toda a estrutura de bullying, mas não é identificado porque é apresentado como uma fofoca ou apenas um comentário, enquanto em garotos, há muita agressão física, sendo mais visível aos olhares de todos. Bandeira (2009) aponta que os meninos se identificam 14 mais como agressores e vítimas/agressores, enquanto as meninas possuem maior assimilação em serem vítimas ou testemunhas. Muitos pesquisadores estudam o bullying como fenômeno escolar, porém ele também aparece no esporte e algumas vezes com um destaque muito grande. Em equipes de todas as modalidades esportivas, nota-se que atletas possuem apelidos, estes muitas vezes são determinados pelos seus companheiros de profissão, sendo algo que denigre a imagem do outro ou algo que ele não goste, o que acaba por fazer mais presente ainda tal apelido, pois quanto menor for a aceitação por parte da vítima, maior será a incidência. Outro fator presente no esporte que pode ser considerado bullying, é a exclusão de atletas que possuem mais dificuldade ou que são menos habilidosos em algumas atividades, visto que estes até tentam se incluir, porém o restante do grupo forma um subgrupo, isolando o atleta em questão, ou simplesmente deixa-o participar da atividade, mas faz de tudo para que ele seja excluído, mudando regras, etc. Com a presença do treinador, fica mais difícil a incidência de bullying, principalmente se ele conseguir respeito de seus atletas, porém acaba acontecendo. Não podemos ter uma visão de que tudo o que ocorre é bullying, pois realmente nos esportes há muita brincadeira e de todos os tipos, o perigo é quando o limite é ultrapassado e acaba se tornando uma forma de agressão. Sabe-se que no futebol existe uma variedade de etnias, culturas, religiões, raças, grupos sociais, por exemplo, que podem influenciar uma equipe, seja de forma positiva ou negativa. O respeito dentro do esporte deve ser exercido por todos, seja com seus treinadores e comissão técnica, seja com seus companheiros de trabalho. Porém, como citado anteriormente neste mesmo estudo, apelidos e outras brincadeiras são rotineiras no futebol, pois a convivência e proximidade entre os atletas é muito grande, já que passam horas treinando, concentrados, somente conversando e vendo seus parceiros de equipe. Presente no futebol, atos de racismo por parte das torcidas e até mesmo dos atletas, chegam a agredir jogadores negros ou estrangeiros de forma física ou verbal, podendo ser consideradas como bullying na visão do jogador agredido. Em algumas regiões da Europa, principalmente, torcedores levam faixas aos estádios com frases racistas e ofensivas, e durante o jogo quando um atleta possui a posse de bola eles imitam sons de macacos, fazendo com que alguns jogadores se revoltem. Já foi constatado, 15 também, torcedores que atiram bananas no campo em um ato de racismo contra jogadores negros ou pardos. Essas atitudes são ofensas de baixo calão e só fazem com que o espetáculo em si, seja deixado de lado por coisas banais, pois dentro de campo não importa qual é a classe social, raça, etnia, religião, nacionalidade, todos estão ali por um propósito, jogar futebol, enquanto o papel do torcedor é de comparecer ao estádio para apoiar sua equipe e prestigiar os jogadores, não recriminá-los com atitudes racistas. Outras atitudes que podem ser consideradas bullying dentro do ambiente esportivo, neste caso em relação ao futebol, são torcedores nazistas que ainda levam adiante a história de que a raça ariana é melhor em relação às outras e ofendem jogadores de alguns países e religiões que não eram aceitas por Hitler durante o período de seu poder, discriminando os atletas com ofensas verbais, gritos nazistas e faixas com frases e símbolos referentes à suposta superioridade dos nazistas. Outro fator observado com certa frequência no futebol é o homossexualismo, que nem sempre é tão visível, já que alguns atletas preferem se privar de expor sua opção sexual, com medo de não ser aceito por seus companheiros de equipe, treinador, torcida e até mesmo pela mídia. Poucos são os jogadores que assumem a homossexualidade, e quando isto ocorre, o atleta passa a ser perseguido, pois durante uma partida mais “quente” o jogador de outra equipe pode ofendê-lo verbalmente com palavras que deixam claro o seu preconceito. Também é visto a torcida adversária, principalmente, denegrindo a imagem do jogador homossexual com diversas palavras ofensivas, criando gritos com gozações que acabam expondo o preconceito contra o suposto atleta. Quando o jogador homossexual passa por uma má fase e não rende o que é esperado dentro de campo, curiosamente, a própria torcida acaba implicando com o atleta e utiliza xingamentos de forma preconceituosa, mostrando que a culpa parece sempre ser maior quando o jogador assume sua homossexualidade. Na mídia, também é constatado o grande preconceito que se tem em aceitar atletas homossexuais nas modalidades esportivas, seja ela qual for, porém analisando o futebol, nota-se que frequentemente são utilizadas brincadeiras em web sites, charges ou tirinhas com ironia o que acaba denegrindo a imagem do jogador em questão, também são 16 realizadas brincadeiras com a exibição da imagem do jogador para zombar dele ou da equipe toda, podendo acarretar sérios problemas para o profissional. O que autores como Filho e Sousa (2008) afirmam é que a educação deve se preocupar com a formação da criança como cidadão, fazendo com que o homossexualismo deixe de ser condenado por grande parte da população. Acontece que no esporte, muitos jogadores não têm formação alguma e cresceram em um ambiente onde pessoas homossexuais são recriminadas, mas a culpa não é somente destes seres humanos, pois muitos atletas possuem uma formação ótima e mesmo assim não aceitam esses sujeitos, tendo um preconceito desnecessário. Até mesmo apresentadores de programas esportivos, jornalistas, donos de blogs, que são pessoas com uma estrutura de formação muito boa, acabam expondo seu preconceito e influenciando toda a população irracional, que acredita em tudo o que a mídia fala e mostra, não se preocupando em refletir sobre o assunto, tornando-se assim pessoas do senso comum. Talvez por isso o homossexualismo não seja tão aceito nos dias atuais, principalmente nos esportes. Alguns itens foram citados acima como formas de prática de bullying. O que pode acontecer com os jogadores, principalmente na iniciação esportiva, é o abandono do esporte, ou seja, o atleta pode ter um excelente potencial, porém sem estrutura e não aguentando lidar com certos tipos de “brincadeiras” e perseguição, ele opta pela desistência de sua carreira esportiva, abandonando o que poderia ser o sonho de sua vida, devido a outros atletas que cometeram bullying. 17 2. Objetivo O presente estudo possui como o objetivo, analisar a ocorrência de atitudes que possam ser consideradas bullying em equipes juniores de futebol, buscando relatar o que já foi praticado, sofrido e/ou observado pelos atletas envolvidos na pesquisa, analisando separadamente os dados e posteriormente, fazendo comparações entre eles. Pretende-se verificar também, se o bullying é uma possível causa para o abandono precoce da modalidade esportiva. 18 3. Materiais e Métodos Para a realização da pesquisa, primeiramente os atletas foram orientados a responder as questões com seriedade e sinceridade com o intuito do estudo ser o mais fidedigno possível, sendo voluntária a participação de cada um deles. O instrumento utilizado foi um questionário com perguntas fechadas, em que os jogadores poderiam assinalar várias alternativas sem que as respostas fossem consideradas corretas ou incorretas, sendo aplicado nos momentos que precediam os treinamentos das equipes. A amostra foi constituída por 143 atletas do sexo masculino que disputaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior, realizada em janeiro do ano de 2011. Os participantes continham idade entre 15 e 18 anos. O trabalho foi realizado em duas cidades sedes do interior do estado de São Paulo, sendo que quatro equipes que colaboraram com o estudo, estavam hospedadas em Águas de Lindóia e as outras três equipes se hospedaram no município de São Carlos. 19 4. Resultados e Discussão Após a aplicação do questionário, foi feita uma base de dados envolvendo os resultados da pesquisa e foram criados gráficos de comparação entre os fatores a serem estudados. Como a prática de bullying é bastante estudada em escolas e esta pesquisa trás a ocorrência deste fenômeno no futebol, é interessante a visualização gerada através do gráfico 1, pois é feita uma comparação entre o que os atletas já praticaram, sofreram e observaram algum companheiro de equipe praticar contra outro. Através deste primeiro gráfico, pode-se notar que algumas atitudes que podem estar relacionadas diretamente ao bullying ocorrem com certa frequência no futebol. Os atletas assumem, através do questionário, que eles próprios praticam, principalmente, ofensas e intimidações com os outros companheiros, talvez não sabendo que estas “simples” ações podem levar o outro a se sentir mal no ambiente em que se encontra. Os resultados aumentam sua expressividade quando os sujeitos são indagados sobre o que já sofreram no âmbito do esporte, apontando que as ofensas, agressões e roubos são os fatores que fizeram maior número de vítimas. Através da questão “O que você já viu um companheiro de equipe fazer contra outro?” observa-se que, novamente, as ofensas prevalecem nesta modalidade, seguidas por agressões e por outros dois fatores, as provocações para 20 brigas e ameaças. Comparando os três pontos de vista, pode-se verificar que os números aumentam gradativamente quando os jogadores são questionados sobre o que já praticaram (menor incidência), o que já sofreram e o que já viram outro companheiro fazer (maior incidência), ou seja, os atletas até confessam a prática e o sofrimento de atitudes que possam ser consideradas bullying, porém apontam que são mais espectadores deste fenômeno do que propriamente agressores ou vítimas. Um ponto interessante a ser abordado neste estudo, está exposto no gráfico 2, onde os atletas responderam a seguinte pergunta “Você tem medo de ser agredido na equipe?”. A porcentagem assinalada na alternativa “Não”, mostrando que os jogadores não possuem medo de sofrer agressões, pode gerar situações de confronto, podendo-se indagar que se existe a prática de bullying no futebol e muitos relataram neste mesmo estudo que já foram vítimas deste fenômeno, por que não há o medo de ser agredido? Por outro lado, pode-se concluir que os atletas não se sentem reprimidos pela ocorrência de bullying neste esporte. Por fim, a última questão analisada possui seus resultados expostos no gráfico 3 e tem por objetivo verificar se os atletas já pensaram em encerrar suas carreiras, devido a prática de bullying. 21 Após os resultados obtidos, pode-se concluir que pela prática frequente de bullying, alguns atletas, mesmo que seja a minoria, já chegaram a pensar em abandonar sua atual profissão, o que ocasionaria uma desistência precoce, visto que estes jogadores possuem idade máxima de 18 anos, sendo uma faixa etária que pode ser considerada o início de uma carreira esportiva. Os dados não são muito expressivos, porém para que um atleta consiga jogar seu futebol de maneira tranquila, é necessário que o trabalho psicológico feito com ele seja bem estruturado e que o técnico e sua equipe saibam até onde é o limite da brincadeira. Muitos estudos são encontrados sobre bullying na escola, bulying na Educação Física escolar, e poucos são os trabalhos realizados sobre o mesmo fenômeno no esporte. De acordo com o estudo de Rolim (2008) em um universo de 178 crianças, 84% delas admitiram sofrer bullying durante o ano letivo da escola, o que mostra a grande incidência do mesmo. O autor considerou agressões físicas, verbais, ameaças, vitimização sexual. A comparação pode ser realizada com o gráfico 1, pois foram analisados alguns destes fenômenos sofridos pelos atletas e pode-se verificar através da soma dos resultados considerados “próximos” aos do estudo de Rolim, que 85% dos jogadores já sofreram bullying. O medo de ser agredido em uma equipe esportiva pode surgir de acordo com diversos fatores totalmente distintos como, erros durante os jogos, ser potencialmente o atleta mais fraco/inferior aos demais por algum motivo, homossexualismo, dentre outros. De acordo com Júnior e Melo (1996) os indivíduos homossexuais possuem medo das outras pessoas desconfiarem de sua opção sexual e excluirem-no do grupo ou agredí-los de forma física e/ou verbal, sendo um 22 fato que pode-se notar nos esportes. Os atletas desta pesquisa afirmaram em sua minoria que sentem medo de ser agredido na equipe, porém o motivo não foi especificado. Como abordado no estudo de Filho e Garcia (2008), o abandono precoce possui diversos motivos para existir, sendo que 24,9% dos homens apontam a desmotivação somada com a falta de companheirismo como principais fatores da desistência quanto a prática da modalidade. Esses dados podem estar ligados diretamente com os atos de bullying que os atletas sofreram, resultando no abandono precoce ou na reflexão sobre a continuidade ou não da prática esportiva, como visto neste estudo. Para que os atletas se sintam mais seguros no seu ambiente de trabalho e não sofram com a ideia de pensar em deixar de praticar a modalidade esportiva que gostam, é necessário que o grupo esteja bastante unido, que toda a comissão técnica saiba lidar com as diferenças e ensinem isso para seus jogadores, para que assim o elenco seja fortalecido e as brincadeiras sejam realizadas de maneira saudável, não desrespeitando um atleta, deixando-o com medo e prejudicando seu rendimento. As brincadeiras sempre vão ocorrer no âmbito esportivo, porém é necessário muito controle e consciência por parte de todos, para que elas não se tornem bullying. 23 5. Conclusão Conclui-se que jovens atletas jogadores de futebol, já praticaram, sofreram e observaram alguma ação relacionada ao bullying nesta modalidade esportiva, sendo que a maior parte deles aponta que são muito mais espectadores desses atos do que propriamente vítimas ou agressores. Poucos atletas assumem o medo de sofrer qualquer tipo de agressão dentro da equipe. O estudo ainda abrange uma questão chave, onde alguns atletas demonstram que já refletiram sobre a possibilidade do término da própria carreira esportiva de maneira precoce, devido à ocorrência frequente de ações que possam ser consideradas como bullying observadas no futebol. Visto que na literatura há muitos estudos sobre a prática de bullying no ambiente escolar e poucos sobre a mesma no esporte, sugere-se a ampliação de pesquisas realizadas com bullying no ambiente esportivo, pois os resultados deste artigo mostram que este fenômeno social vem sendo tratado algumas vezes de forma natural no futebol, onde os sujeitos estão acostumados com alguns tipos de agressões que são consideradas naturais da modalidade e acabam não tendo a visão de que algumas ofensas, principalmente contra um único atleta e de maneira repetitiva, se tornam bullying, podendo desestabilizar psicologicamente o jogador alvo e fazer com que este abandone a modalidade esportiva em questão. Buscando amenizar e/ou resolver alguns problemas/situações citados neste estudo, é necessário que haja um trabalho estruturado por trás desses atletas, onde o psicólogo do esporte poderia ser a figura mais indicada para orientar a equipe e a comissão técnica quanto às atitudes que devem ser tomadas e o que deve ser evitado. Sem a presença deste profissional, a responsabilidade passa a ser, principalmente, do técnico/treinador que deve possibilitar situações de companheirismo, exercícios onde um atleta deve colaborar com o outro, trabalho em equipe, motivação, visando a união do elenco e extinção de qualquer preconceito, ato hostil, brincadeira de mau gosto e, consequentemente, bullying. 24 6. Referências Bibliográficas BANDEIRA, C. M.; HUTZ, C. S. As implicações do bullying na auto-estima de adolescentes. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 131-138, jan./jun. 2010. BANDEIRA, C. M. 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