UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE ASSIS: A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS COBERTURAS CENOZÓICAS Solange Bongiovanni Orientador: Prof. Dr. Antenor Zanardo Tese de Doutorado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geologia Regional - Área de Geologia Regional para obtenção do título de Doutor em Geologia Regional. Rio Claro (SP) 2008 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA DO MUNICÍPIO DE ASSIS: A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DAS COBERTURAS CENOZÓICAS Solange Bongiovanni Orientador: Prof. Dr. Antenor Zanardo Tese de Doutorado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Geologia Regional para obtenção do título de Doutor em Geologia Regional. Rio Claro (SP) 2008 550 Bongiovanni, Solange B713c Caracterização geológica do município de Assis: a importância do estudo das coberturas cenozóicas / Solange Bongiovanni. - Rio Claro: [s.n.], 2008 218 f. : il., figs., gráfs., tabs., quadros, fots., mapas Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas Orientador: Antenor Zanardo 1. Geologia. 2. Formação Adamantina. 3. Aloformação Paranavaí. 4. Meio físico. 5. Cenozóico. I. Título. Ficha Catalográfica elaborada pela STATI – Biblioteca da UNESP Campus de Rio Claro/SP 2 Comissão Examinadora Prof. Dr. Antenor Zanardo IGCE/UNESP –Rio Claro Prof. Dr. Norberto Morales IGCE/UNESP –Rio Claro Prof. Dr. Jairo Roberto Jiménez-Rueda IGCE/UNESP –Rio Claro Dr. Manoel Carlos Toledo Franco de Godoy FCT/UNESP – Presidente Prudente Dr. José Francisco Marciano Motta IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas –São Paulo Aluna: SOLANGE BONGIOVANNI Rio Claro, 19 de setembro de 2008 Resultado: APROVADA 3 Para Jorge 4 AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Antenor Zanardo, pela orientação, dedicação e competência. Aos Professores Doutores Norberto Morales e Jairo Roberto Jiménez-Rueda, pela excelente contribuição ao desenvolvimento do trabalho, especialmente, no Exame de Qualificação. Ao casal Marin – Norberto Morales, por me receber com carinho em sua casa, nas minhas muitas viagens Assis-Rio Claro. Ao casal Antenor – Ângela Zanardo, pelos jantares familiares a mim oferecidos. Ao técnico de laboratório Leandro Marques, pela presteza em me auxiliar; e aos alunos do curso de Geologia, que me ajudaram muitas vezes, das mais diversas formas, sempre aliviando minha carga de trabalho. Ao biólogo Ricardo Cardoso Leite pelas excelentes fotos tiradas no campo. À geóloga Carolina Del Roveri, muito obrigada. Ao geógrafo Mateus Vidotti, pela confecção dos mapas desta tese. Aos técnicos dos laboratórios do Departamento de Petrologia e Metalogenia, pelos ensaios realizados. Aos Doutores Vera Cristina Silva, Telma Gonçalves Carneiro Spera de Andrade, Catarina dos Santos, Ciro Cesar Zanini Branco e Pitágoras da Conceição Bispo, meus colegas professores do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP – Campus de Assis, pelo incentivo para a conclusão do projeto. 5 Ao Dr. Fernando Frei, do Departamento de Psicologia Experimental e do Trabalho, da FCL/UNESP, meus agradecimentos pelo incentivo, sempre e ajuda nas planilhas de informática. Ao funcionário Gilberto José Milani, pela torcida. À minha mãe Carmelita e à minha irmã Sônia. Aos amigos Brigitte e Ruy, Jorge Romanello, Adriana Iozzi, Edméia Ribeiro. Ao Jorge que, à sua maneira, sempre me mostrou que seria possível recomeçar... E à Clarissa, minha filha querida. 6 ...É mineral o papel Onde escrever O verso; o verso Que é possível não fazer São minerais As flores e as plantas As frutas, os bichos Quando em estado de palavra. É mineral A linha do horizonte, Nossos nomes, essas coisas Feitas de palavras É mineral por fim, Qualquer livro; Que é mineral a palavra Escrita a fria natureza Da palavra escrita (João Cabral de Melo Neto, Psicologia da Composição) 7 RESUMO Para a ocupação racional de uma área ou região, de forma a minimizar o impacto ambiental e aproveitar da melhor maneira possível os seus recursos naturais é indispensável um bom conhecimento do meio físico. O objetivo dessa pesquisa foi realizar a caracterização geológica do município de Assis, com a finalidade de se produzir informações e cartografia pertinente, que pudessem orientar, entre outros, a administração municipal na tomada de decisões sociopolíticas e administrativas,no ordenamento territorial do município. Atividades de campo e laboratório resultaram na confecção de um mapa geológico do município em escala 1:50.000, com as seguintes unidades litológicas: Formação Serra Geral, Formação Adamantina, Aloformação Paranavaí – unidade 1; Aloformação Paranavaí – unidade 2, aluviões atuais e uma unidade constituída pela mistura, em proporção variada, de alteração do basalto mais o material arenoso da aloformação. Estas unidades foram caracterizadas com base em observações de campo, análises granulométricas, petrográficas em amostras e frações silte grosso e areia muito fina, difração de raios X na fração fina e química de elementos maiores e alguns menores. Os dados obtidos foram interpretados de forma integrada possibilitando interpretações genéticas e discussão relativas à ocupação espacial. Palavras-chave: Formação Adamantina; Aloformação Paranavaí; meio físico, cenozóico. 8 ABSTRACT For the rational occupation of an area or region, in order to minimize the environmental impact and make the best possible use of its natural resources, it is essential a sound knowledge of the physical environment. The purpose of this research was to carry out a geological characterization of the municipality of Assis, in order to produce relevant information and mapping, which may be useful, among others, for the municipal administration in decision-making policies for its territorial organization. Activities of field work and laboratory analysis resulted in the preparation of a geological map of the municipality, on scale 1:50.000, with the following lithological units: Serra Geral Formation; Adamantina Formation, Paranavaí Alloformation - Unit 1;Paranavaí Alloformation - Unit 2, present Alluvium and a unit constituted by varied proportion mixture of basalt alteration and sandier material. These units were characterized on the basis of field observations, granulometric and petrographic analyses of samples and thick fractions of silt and very fine sand, X-ray diffraction in the fine fraction and chemistry of elements both larger and smaller. The data were interpreted in an integrated manner making possible genetic interpretations and discussion on space occupation. Keywords: Adamantina Formation; Paranavaí Alloformation; physical environment, Cenozoic. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização do município de Assis 19 Figura 2 - Localização da Bacia do Paraná 29 Figura 3 - Coluna Estratigráfica da Bacia do Paraná 30 Figura 4 - Principais alinhamentos estruturais da área geográfica da Bacia do Paraná no Estado de São Paulo 32 Figura 5 - Esboço geológico regional do rift continental do sudeste do Brasil 33 Figura 6 - Compartimentação morfotectônica e principais traços do Compartimento III 34 Figura 7 - Subdivisão clássica dos sedimentos cretáceos suprabasálticos 37 Figura 8 - Área de ocorrência das unidades suprabasálticas cretáceas na Bacia do Paraná 40 Figura 9 - Seção geológica NW - SE - Presidente Epitácio - Echaporã, cruzando a Depressão de Presidente Bernardes e o Alto de Paraguaçu Paulista 42 Figura 10 - Seção geológica NW - SE Presidente Venceslau - Regente Feijó 43 Figura 11 - Mapa do contorno estrutural do basalto 44 Figura 12 - Mapa Geológico do município de Assis (DAEE/UNESP, 1981; CPTI, 1999) 47 Figura 13 - Córrego do Jacu – basalto bem estruturado, provável base de um derrame, afloramento localizado a sudeste da cidade de Assis. (Ponto 12) 60 Figura 14 - Córrego do Jacu – drenagem encaixada na base de um derrame da Formação Serra Geral (Ponto 12) 61 Figura 15 - Difratogramas da Amostra Ass2 (Ponto 2) 66 Figura 16 - Difratogramas da Amostra Ass16 (Ponto 16) 68 Figura 17 - Difratogramas da Amostra Ass17 (Ponto 17) 69 10 Figura 18 - Água do Fortuninha – banco de argilito siltoso, levemente laminado, com cerca de 1m de espessura, Formação Adamantina (Ponto 8) 71 Figura 19 - Água do Fortuninha – banco de argilito siltoso, com leito mais rico em areia, cerca de 1,2m de espessura, parcialmente alterado, Formação Adamantina (Ponto 8) 71 Figura 20 - Difratogramas da Amostra Ass8n1 (Ponto 8) 73 Figura 21 - Água do Fortuninha – Formação Adamantina (Ponto 8) 74 Figura 22 - SP 270 – Rodovia Raposo Tavares – Formação Adamantina (Ponto 17) 76 Figura 23 - Difratogramas da Amostra Ass57c (Ponto 57) 79 Figura 24 - Difratogramas da Amostra Ass57d (Ponto 57) 80 Figura 25 - Material proveniente de poço localizado no campus da UNESP-Assis – Formação Adamantina. (Ponto 67) 81 Figura 26 - Difratogramas da Amostra Ass56-58m (Ponto 67) 85 Figura 27 - Difratogramas da Amostra Ass64-66m (Ponto 67) 86 Figura 28 - Aloformação Paranavaí – unidade 2 (Ponto 20) 91 Figura 29 - Lâmina da amostra 1 92 Figura 30 - Lâmina da amostra 1 (nicois cruzados) – Ponto 1 93 Figura 31 - Difratograma da amostra Ass1 (Ponto 1) 94 Figura 32 - Lâmina da amostra 20 – Aloformação Paranavaí, unidade 2 95 Figura 33 - Lâmina da amostra 20 (nicois cruzados) – Aloformação Paranavaí, unidade 2 95 Figura 34 - Difratograma da amostra Ass20 (Ponto 20) 96 Figura 35 - Lâmina da amostra 9A - Aloformação Paranavaí, unidade 1 98 Figura 36 - Difratogramas das amostras Ass9 A (Ponto 9) 100 Figura 37 - Difratogramas das amostras Ass15 (Ponto 15) 101 11 Figura 38 - Aloformação Paranavaí, unidade 1. (Ponto 9) 103 Figura 39 - Aloformação Paranavaí, unidade 2. (Ponto 20) 104 Figura 40 - Mapa das drenagens do município de Assis 114 Figura 41 - Boçoroca desenvolvida por escoamento concentrado, Jardim Eldorado, Assis (Ponto 48) 116 Figura 42 - Mapa de solos do município de Assis 121 12 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Nova classificação litoestratigráfica proposta para a Bacia Bauru 39 Quadro 2 - Caracterização das unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru 51 Quadro 3 - Relações solo-substrato geológico 118 Quadro 4 - Relação solo, substrato geológico e relevo para a UGRHI 17 – Médio-Paranapanema 119 13 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Análise Química de Elementos Maiores – Ponto 67 – amostras atribuídas à Formação Adamantina 83 Tabela 2 - Análise Química de Elementos Menores – Ponto 67 – amostras atribuídas à Formação Adamantina 84 Tabela 3 - Resultado da Análise Química – elementos maiores (Pontos 9 e 15) 99 Tabela 4 - Resultado da Análise Química – elementos menores (Pontos 9 e 15) 99 14 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 16 1.1 Generalidades 16 1.2 Objetivos 17 2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 19 3. MATERIAIS E MÉTODOS 21 3.1 Trabalhos Prévios 21 3.2 Trabalhos de Campo 21 3.3 Trabalhos de Laboratório 22 3.3.1 Petrografia 22 3.3.2 Granulometria 23 3.3.3 Análise química de rocha total 23 3.3.4 Difratometria de raios X 24 3.3.5 Análise isotópica 24 3.4 Trabalhos de Escritório 25 3.4.1 Digitalização da base topográfica (compilação cartográfica) 25 3.4.2 Elaboração do mapa geológico e coberturas cenozóicas 26 3.4.3 Elaboração do mapa de solos 26 4. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 28 4.1 Bacia do Paraná 28 4.2 Bacia Bauru 35 4.2.1 Revisão bibliográfica da área de estudo 35 4.2.2 Idade e ambiente deposicional da Bacia Bauru 39 4.2.3 Relações estratigráficas do Grupo Bauru 40 4.3 Unidades Litoestratigráficas Regionais 45 4.3.1 Formação Serra Geral 46 4.3.2 Formação Adamantina 49 4.3.3 Depósitos Cenozóicos 52 15 5. GEOLOGIA LOCAL 56 5.1 Distribuição das Unidades Cartografadas 57 5.2 Formação Serra Geral 59 5.3 Formação Adamantina 69 5.4 Formação Marília 88 5.5 Coberturas Cenozóicas 90 5.6 Coberturas Ricas em Óxidos/Hidróxidos de Ferro 104 5.7 Aluviões 105 6. EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA E PEDOLÓGICA LOCAL 106 6.1 Geomorfologia 106 6.2 Pedologia 117 6.2.1 Latossolos (L) 122 6.2.2 Nitossolos (N) 123 6.2.3 Argissolos (P) 124 6.2.4 Neossolos (R) 125 6.2.5 Gleissolos (G) 126 6.3 Análise Fisiográfica do Município de Assis 127 6.4 Discussão sobre os Solos do Município de Assis 132 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 137 7.1 Conclusões 147 8. REFERÊNCIAS 150 9. APÊNDICES 162 9.1 Apêndice A - Afloramentos 163 9.2 Apêndice B - Análise Granulométrica 169 9.3 Apêndice C - Análise Petrográfica (Microscopia) 175 9.4 Apêndice D - Relatório de Análises Químicas 198 9.5 Apêndice E - Difratometria de Raios X 201 9.6 Apêndice F - Análise Isotópica 14C 217 9.7 Apêndice G - Mapa Geológico do Município de Assis, escala 1:50.000, 2008 218 16 1. INTRODUÇÃO 1.1 Generalidades Para a ocupação racional de uma área ou região, de forma a minimizar o impacto ambiental e aproveitar da melhor maneira possível os seus recursos naturais é indispensável um bom conhecimento referente à geologia, à pedologia e à geomorfologia da mesma, ou seja, é fundamental conhecer o meio físico. No que concerne ao subsolo, é preciso saber sobre as unidades geológicas, o empilhamento estratigráfico, as estruturas tectônicas, os tipos de rochas, as texturas, as composições mineralógicas/químicas, a distribuição espacial, as gêneses, entre outros aspectos da região . No tocante ao solo e/ou coberturas, é inevitável distinguir suas composições, gêneses, distribuição e espessuras. Em relação à geomorfologia, da mesma forma que a geologia e a pedologia, é necessário o entendimento da gênese e a qualificação, a quantificação e o mapeamento das formas ou unidades de relevo, na escala adequada à finalidade que se destina. Grande parte do Estado de São Paulo apresenta alta potencialidade ao desenvolvimento de sulcos, ravinas ou boçorocas, quer pela suscetibilidade natural dos terrenos, quer como reflexo de ações inadequadas de uso e ocupação do solo (IPT, 1994). 17 O município de Assis, localizado na região do Médio-Paranapanema, assim como outros municípios no oeste do Estado de São Paulo, apresenta problemas de uso e ocupação do solo que, quando associados a escoamentos concentrados, acarretam o desenvolvimento de processos erosivos de grandes proporções. O município encontra-se dentro de um triângulo cujos vértices localizam-se nas cidades de Presidente Prudente, Bauru e Andradina, onde predominam terrenos com altíssima suscetibilidade à erosão. Assis, assim como muitos outros municípios do Estado de São Paulo, necessita de informações detalhadas a respeito do meio físico (geologia, geomorfologia, pedologia) e dos recursos hídricos para subsidiar projetos de saneamento básico, uso e ocupação de áreas para resíduos sólidos, dentre outros. O conjunto dessas informações constitui ferramenta fundamental para o planejamento urbano ordenado e a ocupação teritorial racional do município. A falta de informações básicas detalhadas a respeito do meio físico e de muitos outros aspectos relacionados à organização territorial, são empecilhos ao planejamento integrado do município de Assis com a região do Médio- Paranapanema e o Estado de São Paulo. A produção de informações detalhadas a partir de atividades de campo e laboratório, conjugada à cartografia pertinente, colocadas à disposição do poder público municipal e demais interessados, forneceria um conjunto de dados, com recomendações técnicas pertinentes aos temas abordados, fundamentais para os desenvolvimento de políticas e práticas de ocupação e utilização do espaço físico. Com esta orientação de propósitos, não se pode mais deixar de incluir em um mapa geológico de um município localizado na porção oeste do Estado de São Paulo, as coberturas cenozóicas, relativamente espessas de material transportado e depositados sobre as rochas presentes. 1.2 Objetivos O objetivo deste projeto é fazer principalmente uma caracterização geológica do município de Assis, com a finalidade de se produzir novas informações e 18 cartografia pertinente, em escala 1:50.000, a partir das atividades de campo e dos resultados dos ensaios de laboratório (análise granulométrica; análise petrográfica; análises químicas; difratometria de raios X) da seqüência estratigráfica encontrada no município – Formação Serra Geral; Formação Adamantina e as coberturas cenozóicas; aqui denominadas de Aloformação Paranavaí. A finalidade da pesquisa é que ela possa contribuir para o conhecimento do meio físico do município e orientar, entre outros, a administração municipal na tomada de decisões, sociopolíticas e administrativas, no ordenamento territorial do município. 19 2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O município de Assis (Figura 1), criado pela Lei Estadual n° 1581, de 20 de dezembro de 1917, foi desmembrado do município de Platina e hoje ocupa 461 km2 da porção oriental do Estado de São Paulo, região administrativa 04 - Marília. A sede municipal é balizada pelas seguintes coordenadas geográficas: 22°40’ de latitude S e 50º25’de longitude W, na altitude média de 556 metros. Figura 1 - Localização do município de Assis. 20 Seus limites geopolíticos encontram divisas ao Norte com o município de Lutécia, ao Sul com os municípios de Tarumã e Cândido Mota, ao Leste com os municípios de Platina e Echaporã e a Oeste, com Maracaí e Paraguaçu Paulista. De acordo com registros da Fundação SEADE (2008), no ano de 2007 o município de Assis possuía 95.203 habitantes, com 96,5% da população vivendo na zona urbana. O município de Assis está localizado na região do Médio Vale do Paranapanema, na bacia do rio do mesmo nome, possuindo extensa rede de drenagem, composta por vários rios e riachos. A Unidade de Gerenciamento do Médio Paranapanema (UGRH-17) pode ser dividida em seis unidades hidrográficas: Pardo, Turvo, Novo, Pari, Capivara e os tributários de até 3ª ordem do rio Paranapanema. O município de Assis, encontra-se praticamente na unidade hidrográfica do rio Pari, sendo seus principais afluentes o ribeirão Pirapitinga e Matão A maior parte da bacia é caracterizada por clima pluvial temperado (mesotérmico), com temperatura média anual de 22ºC – média das máximas de 31ºC e das mínimas de 12ºC. A pluviosidade média anual é maior que 1400mm/ano, com concentração de chuvas entre os meses de novembro e abril (BOIN; ZAVATINI; MENDES, 2002). Entre junho e setembro, chove apenas 15% do total anual, época em que os solos se tornam deficitários em água e os rios têm seus níveis mais baixos. Quanto à vegetação a região era coberta pela Mata Atlântica, sendo o Vale do Paranapanema o divisor climático entre a Floresta Subtropical pluvial e os Campos Cerrados do Estado de São Paulo.(CPTI,1999) No final do século XIX e início do século XX, com o processo de ocupação e urbanização do território paulista, a expansão agrícola chegou ao Vale do Paranapanema. Hoje, a região do Médio Vale do Paranapanema, onde se insere o município de Assis, é considerada a mais devastada do estado, restando somente 0,5% da vegetação natural, contra a média do estado entre 3,0% a 4,0%. O relevo da região do Médio Vale do Paranapanema é ondulado e as altitudes variam de 230 a 440 metros. O solo é predominantemente utilizado para agricultura de grãos, cana-de-açúcar e pecuária de corte (MELO; DURIGAN, 2006). 21 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Trabalhos Prévios Para a execução da proposta de trabalho, inicialmente foram desenvolvidas atividades relacionadas ao levantamento dos dados bibliográficos (incluindo, geologia, geomorfologia, pedologia, uso e ocupação dos solos) e cartográficos, existentes sobre a região do Médio Vale do Paranapanema, especialmente sobre o município de Assis. 3.2 Trabalhos de Campo Os trabalhos de campo foram executados em várias etapas, no município de Assis e imediações, almejando reconhecer, analisar, descrever detalhadamente e cartografar as diferentes unidades geológicas passíveis de representação em escala de 1:50.000. As etapas de campo resultaram na visita a 80 afloramentos, alguns fora do município de Assis, com obtenção de documentação fotográfica e coleta de amostras para ensaios de laboratório. 22 3.3 Trabalhos de Laboratório No Laboratório foram realizados ensaios mineralógicos, petrográficos, granulométricos, morfoscópicos, litoquímicos e isotópicos. 3.3.1 Petrografia As amostras coletadas nos trabalhos de campo passíveis de serem laminadas (rochas magmáticas e sedimentos litificados) foram enviadas ao Laboratório de Laminação do Departamento de Petrologia e Metalogenia (DPM) do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da UNESP, Campus de Rio Claro, para a confecção de seções delgadas, com o intuito de determinar os minerais presentes, quantificá-los e reconhecer os relacionamentos entre eles, de modo a obter dados de cunho genético e petrográficos (textura, porosidade primária e secundária, morfoscopia, alterações, cimento, matriz). As amostras sem consistência mecânica foram desagregadas, peneiradas e tomadas as frações silte médio a grosso e areia muito fina, para análises microscópicas, por meio de montagens com líquidos de imersão com índice de refração entre 1,535 e 1,54. A análise microscópica visou à caracterização mineralógica, morfoscópica (arredondamento, esfericidade, presença de películas de óxido/hidróxido de ferro e/ou de argilas na superfície dos grãos), com o intuito de obter dados genéticos sobre as coberturas e solos. Em algumas amostras previamente selecionadas, nestas frações, também foram separados os minerais pesados mediante o uso de líquido denso (bromofórmio), para estudos mineralógicos objetivando a obtenção de dados relativos à proveniência dos materiais e que permitissem ou auxiliassem na separação de diferentes coberturas ou solos existentes no município de Assis. 23 3.3.2 Granulometria As amostras sem consistência mecânica ou com baixa consistência foram secadas em estufa e desagregadas em almofariz com pistilo de resina, para não fragmentar os minerais, alterando a granulometria natural. Após a desagregação, esse material foi quarteado e uma alíquota da ordem de 50 gramas foi tomada para peneiramento a úmido. Para tal foram utilizadas as peneiras da W.S. Tyler Standard. O material passante na peneira de 325mesh foi coletado para a quantificação entre 43μm e 4μm e o inferior a esta granulometria. Na quantificação da fração inferior a 4μm não foi utilizado defloculante, aspecto que pode ter levado a subestimar a quantidade dessa granulometria nas amostras, em função de possível floculação dos constituintes da fração argila. Visando verificar esta possibilidade algumas amostras foram refeitas para a quantificação da fração mais fina com o uso de defloculante. E a análise do material decantado foi realizada com ou sem o uso do defloculante, correspondente a fração entre 4μm e 43μm, em microscópio petrográfico. 3.3.3 Análise química de rocha total As 28 amostras para análise química de rocha total foram preparadas no Laboratório de Geoquímica (LABOGEO) do Departamento de Petrologia e Metalogenia (DPM) do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da UNESP, Campus de Rio Claro, seguindo as seguintes etapas: � desagregação da amostra (granulação de 2mm); � pulverização em moinho oscilante, reduzindo a amostra à granulação de silte e argila. Em todas as etapas foram realizadas operações de limpeza dos equipamentos, seguindo os procedimentos rotineiros (palha de aço, pincel, estopa com álcool, secagem do equipamento com ar comprimido). 24 Pelo método de Fluorescência de Raios X (FRX) foram analisados os elementos maiores Si, Al, Ti, Ca, Fe, Mn, Mg, Na, K, P, com os resultados apresentados em porcentagem de peso de óxido. Os elementos menores: Ba, Cr, Cu, Nb, Ni, Rb, Sr, Y e Zr, têm seus teores expressos em partes por milhão (ppm), determinados a partir da metodologia proposta por Nardy et al. (1997). 3.3.4 Difratometria de raios X Para a obtenção das análises das amostras pela difratometria de raios-X, utilizou-se um difratômetro Siemens D5000 com goniômetro de textura acoplado, instalado no Departamento de Petrologia e Metalogênia – UNESP – Campus de Rio Claro, equipado com tubo de cobalto (radiação K� 1.7902 ) filtro de ferro e condições de tensão de 35kV e corrente de 25mA. As condições de análise de rotina foram passo de 0,04° 2 , 1s de tempo de contagem e varredura de 2 a 70°2 . Para a interpretação dos difratogramas foi utilizado o programa de EVA 2.0 (1997). 3.3.5 Análise isotópica Objetivando a obtenção de idades de deposição das coberturas superficiais foram enviados fragmentos de carvão vegetal, retirados manualmente de alguns afloramentos existentes na área. A análise isotópica de carbono 14 das amostras 9B e 19 foram executadas no CENA (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), na cidade de Piracicaba. 25 3.4 Trabalhos de Escritório Neste subitem estão agrupadas as atividades de pesquisa bibliográfica, preparação cartográfica do mapa-base e temáticos do município de Assis, bem como tratamento e interpretação dos dados, elaboração de figuras e do texto final. 3.4.1 Digitalização da base topográfica (compilação cartográfica) Para a confecção da base topográfica, na escala de 1:50.000 do município de Assis e imediações, utilizou-se o programa ArcGis 9.1 e as seguintes folhas topográficas, em escala 1:50.000: � Folha Assis - SF-22-Z-A-V-1 (IBGE, 1975) � Folha Cândido Mota - SF-22-Z-A-V-3 (IBGE, 1975) � Folha Exaporã - SF-22-Z-A-II-4 (IBGE, 1974) � Folha Maracaí - SF-22-Z-A-IV-2 (IBGE, 1992) � Folha Lutécia - SF-22-Z-A-II-3 (IBGE, 1974) � Folha Paraguaçu Paulista - SF-22-Z-A-I-4 (IBGE, 1974) Também foram utilizadas fotografias aéreas do município, em escala 1:35.000 da AEROCARTA – Engenharia de Aerolevantamentos S/A, de 1996, adquiridas pela Prefeitura Municipal de Assis. O material aerocartográfico foi gentilmente cedido pelos Engenheiros Dora da Silva Andrade Barbosa e Rui Cesar Spera, do Departamento de Planejamento e Projetos da Secretaria Municipal de Planejamento e Obras (SEMPLOS) – Prefeitura Municipal de Assis. 26 3.4.2 Elaboração do mapa geológico e coberturas cenozóicas O mapa geológico do município de Assis na escala 1:50.000 (Apêndice F) foi elaborado a partir de informações contidas em trabalhos anteriores, atividades de campo e com base nas seguintes cartas: � Folha Marília SF-22-Z-A 1:250.000 - Mapa Geológico do Estado de São Paulo (DAEE/UNESP, 1981). � Mapa Geológico Integrado Bloco 44 – 1:250.000 – Paulipetro – Consórcio (CESP/IPT, 1983). � Mapa Geológico da UGRHI - 17 Médio - Paranapanema, 1:250.000 (CPTI, 1999). � Mapa Geológico da Região de Paraguaçu Paulista 1:50.000, (BONGIOVANNI, 1990). 3.4.3 Elaboração do mapa de solos O mapa de solos do município de Assis, apresentado neste trabalho em escala 1:100.000 (ver item 6.2 - Figura 41) foi elaborado a partir da compilação de cartas existentes e da atualização da nomenclatura das classes de solos, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS, 2006). O material consultado constituiu-se de: � Carta pedológica semidetalhada do Estado de São Paulo - 1:100.000 - Folha de Maracaí (BOGNOLA et al., 2000); � Carta pedológica semidetalhada do Estado de São Paulo - 1:100.000 - Folha de Assis (BOGNOLA et al., 1996); � Carta de solos da UGRHI - 17 Médio-Paranapanema - 1:250.000 (CPTI, 1999); � Levantamento pedológico semidetalhado da região do governo de Assis - Mapa de solos do município de Assis - 1:50.000 (BOGNOLA et al., 1990); 27 � Mapa pedológico do município de Assis - semidetalhe - 1:100.000 (BOGNOLA et al., 1996); � Mapa geológico-pedológico da região de Paraguaçu Paulista - 1:50.000 (BONGIOVANNI, 1990). 28 4. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 4.1 Bacia do Paraná A Bacia do Paraná, com área superior a 1.500.000 Km2, abriga em seus limites uma sucessão de rochas sedimentar e magmática, com idades que variam entre o Neo-Ordoviciano (+- 450 M.a.) e o Neocretáceo (+- 65 M.a.), compondo uma unidade estratigráfica de ordem I (MILANI, 1997). Esta bacia, intracratônica, encontra-se inteiramente contida na Placa Sul- Americana (Figura 2). Zalán et al. (1990) observaram que a Bacia do Paraná deve ser entendida como produto de complexos processos tectono-sedimentares ocorridos no Fanerozóico, com alternância de condições favoráveis de deposição sedimentar ou não deposição, ou remoção erosiva de sedimentos anteriormente acumulados. O formato atual da bacia reflete fenômenos pós-paleozóicos do continente sul-americano, que subtraíram significativas áreas do contexto deposicional original (MILANI, 2004). 29 Fonte: modificado de Taioli (2000) Figura 2 - Localização da Bacia do Paraná Autores como Zalán et al. (1987; 1990), Riccomini (1995, 1997), Riccomini, Sant’Anna e Ferrari (2004) e Milani (1997) discutem os aspectos estruturais e tectônicos da Bacia do Paraná que ao longo de sua evolução teve sua configuração alterada por alinhamentos, flexuras e arqueamentos do embasamento que influenciaram a compartimentação e a acumulação dos sedimentos do Grupo Bauru, sob o substrato basáltico. Fúlfaro e Perinotto (1996) admitem um severo controle estrutural para o substrato Bauru, caracterizado pelo arcabouço tectônico presente no assoalho basáltico e salientam que os dados então existentes, não eram suficientes, para uma melhor caracterização do modelo do arcabouço estrutural Bauru. Para Milani (1997, 2004) e Milani e Ramos (1998), o arcabouço estratigráfico da Bacia do Paraná é constituído por seis unidades de segunda ordem, a saber: Superseqüência Rio Ivaí (Caradociano - Llandoveriano); Superseqüência Paraná (Lochkoviano - Frasniano); Superseqüência Gondwana I (Westphaliano - Scythiano); Superseqüência Gondwana II (Neoanisiano - Eonoriano); Superseqüência Gondwana III (Neojurássico - Berrasiano) e Superseqüência Bauru (Senoniano). (Figura 3) 30 Fonte: Milani, França e Schneider (1994) Figura 3 - Coluna Estratigráfica da Bacia do Paraná 31 Cada uma das superseqüências do arcabouço estratigráfico da Bacia do Paraná é a resposta individual aos processos de subsidência de variadas naturezas, recorrentes no tempo e persistentes em sua localização geográfica, produzindo um registro policíclico de grande amplitude temporal (MILANI, 1997, 2004; MILANI; RAMOS, 1998). Conforme Morales (2005), na Bacia do Paraná, a partir do Triássico até o Paleógeno, incidiram processos termotectônicos (reativação Wealdeniana) ligados aos fenômenos de deformação e ruptura continental, culminando com a separação da América do Sul - África, desenvolvimento de margem continental passiva e abertura do Oceano Atlântico. Ainda segundo o autor, esses processos termotectônicos ocasionaram movimentos de blocos, sob regime distensivo, gerando soerguimentos (Alto Paranaíba, Mantiqueira), alçamentos e abatimentos de blocos por falhas (horstes e grabens), criando os grandes traços de relevo (serra do Mar, serra da Mantiqueira), altos e depressões (arcos, bacias) que possibilitaram intrusões magmáticas (chaminés e diques alcalinos, diques de diabásio) e derrames vulcânicos, bem como sedimentação. Com o soerguimento do Arco de Ponta Grossa, no Cretáceo, evento considerado como o apogeu do tectonismo, ocorre intrusão de sills e diques básicos, extrusão de basaltos e intrusões alcalinas mais antigas, horstes, grabens, altos e domos. A partir do Cretáceo inferior até o Eoceno, ocorreu expressiva subsidência na Bacia de Santos, com acumulação do seu enchimento sedimentar. No mesmo período, no interior de São Paulo, atenuou-se a atividade tectônica, ocorrendo, inicialmente, a deposição do Grupo Bauru em bacia restrita ao norte do Arco de Ponta Grossa, sob condições climáticas de áridas a úmidas e, ao final do período sob condições semi-áridas. Riccomini (1995; 1997) descreve que, na Bacia do Paraná, os processos tectônicos, magmáticos, sedimentares e geomorfológicos foram guiados por uma estruturação estabelecida no final do vulcanismo Serra Geral. Igualmente afirma que no Estado de São Paulo, durante o Neocretáceo, existe uma permanência dos esforços relacionados a um binário dextral de orientação geral E - W, vigentes desde a fase tardia do episódio Serra Geral. Na região oeste, o campo de tensões regional foi superado pela subsidência associada ao grande volume de rochas basálticas, contribuindo para a instalação da Bacia Bauru sobre a área de ocorrência dos derrames Serra Geral, com depocentro coincidente com a maior espessura da pilha vulcânica. (Figura 4) 32 Fonte: Riccomini (1997) Figura 4 - Principais alinhamentos estruturais da área geográfica da Bacia do Paraná no Estado de São Paulo. 1)substrato pré-cambriano; 2) terrenos paleozóicos e mesozóicos da Bacia do Parana; 3) rochas vulcânicas – Formação Serra Geral; 4) soleiras de diabásio; 5) contato aproximado entre 2 e 3; 6) depósitos rudáceos da região de Franca-Pedregulho; 7)Grupos Caiuá e Bauru; 8)Formação Marília (Grupo Bauru); 9) Formação Itaqueri; 10) Formação Rio Claro e depósitos correlatos 11) Alinhamentos estruturais: A- Rio Paranapanema; B- Tietê; C- Ibitinga- Botucatu; D- Rio Mogi-Guaçu; E- Ribeirão Preto – Campinas; F- Rifaina – São João da Boa Vista; G- São Carlos – Leme; H- Barra Bonita – Itú; I – Guapiara; J- Cabo Frio. 12) Manifestações alcalinas (1- Taiúva, 2- Aparecida do Monte Alto, 3- Jaboticabal, 4- Piranji, 5- Ipanema/Araçoiaba da Serra. 13) Altos estruturais (6- Domo de Anhembi- Piapara, 7- Estrutura de Pitanga, 8- Domo de Ártemis, 9- Horst de Pau d’alho, 10- Domo de Jibóia, 11- Domo de Jacarezinho, 12- Domo da Neblina, 13- Domo de Jacu, 14- Estrutura Dômica de Carlota Prenz, 15- Domo de Rio Grande, 16- Domo de Jacutinga, 17- Domo de Guarda, 18- Astroblema de Piratininga,19- Domo de Jacaré-Guaçu). Riccomini, Sant’Anna e Ferrari (2004), apontam que os registros dos processos tectônicos atuantes do final do Mesozóico até o Terciário encontram-se no Rift Continental do Sudeste do Brasil (Figura 5). 33 Fonte: Riccomini, Sant’Anna e Ferrari (2004) Figura 5 - Esboço geológico regional do rift continental do sudeste do Brasil. 1) Embasamento pré-cambriano; 2) rochas sedimentares paleozóicas da Bacia do Paraná; 3) rochas vulcânicas toleíticas eocretáceas da Formação Serra Geral; 4) rochas relacionadas ao magmatismo alcalino mesozóico – cenozóico; 5) bacias cenozóicas do rift (1- Bacia de Itaboraí; 2- Gráben de Barra de São João; 3- Bacia do Macacu; 4- Bacia de Volta Redonda; 5- Bacia de Resende; 6- Bacia de Taubaté; 7- Bacia de São Paulo; 8- Gráben de Sete Barras;9- Formação Pariquera-Açu; 10 – Formação Alexandra e Gráben de Guaraqueçaba; 11- Bacia de Curitiba; 12- Gráben de Cananéia). 6) zonas de cisalhamento pré- cambrianas, em parte reativadas no Mesozóico e no Cenozóico. Morales (2005) organiza uma síntese sobre a neotectônica, morfogênese e sedimentação do Estado de São Paulo, visando apresentar os principais produtos geológicos resultantes da dinâmica interna da Terra em ambiente continental (intraplaca). A morfotectônica foi montada com base em trends regionais de lineamentos e lineações de drenagem, acompanhados de anomalias de relevos e da distribuição das coberturas sedimentares superficiais. Nos domínios da Bacia do Paraná e do Planalto Ocidental, foram reconhecidas direções NW - SE. Os feixes regionais de lineamentos de drenagem representam três compartimentos e separam outros três: � Feixe 1 - E-W, Vale do Paranapanema até o Rio de Janeiro; � Feixe 2 - N-S, Depressão Periférica; � Feixe 3 - NW-SE, entre Maringá (PR) e Florianópolis (SC). 34 De acordo com Morales (2005) o Compartimento III, na porção noroeste do Estado de São Paulo, onde está localizada a cidade de Assis, contém as seguintes características descritas na Figura 6. Fonte: Morales (2005) Figura 6 - Compartimentação morfotectônica e principais traços do Compartimento III localizado na porção noroeste com: 1) longos lineamentos NW controlando a distribuição dos principais rios, com traços NE-SW subordinados; 2) relevos sub-nivelados, com altitudes de 650m a 300m, suavemente inclinados para NW, em direção à calha do Rio Paraná; 3) padrão de drenagem assimétrico, treliça e subparalelo, associado às direções dos lineamentos; 4) falhas normais NW-SE, alternadamente inclinadas para NE e SW. A natureza e a orientação das estruturas dos compartimentos neotectônicos do sudeste são fortemente controladas pela diversidade das estruturas pré- cambrianas e mesozóicas e as principais estruturas do Compartimento III que definem os hemigrábens alongados na direção NE-SW estão dispostas rigorosamente paralelas à orientação das falhas normais geradas no evento Sul- Atlântico. 35 4.2 Bacia Bauru A seguir, apresenta-se uma descrição da Bacia Bauru, iniciada por uma revisão de trabalhos anteriores referentes a esta área de estudo. 4.2.1 Revisão bibliográfica da área de estudo Com a Reativação Wealdeniana e conseqüente estabelecimento das bacias marginais, o interior continental brasileiro foi alvo de intensas manifestações tectônicas, que modelaram o embasamento basáltico pré-Bauru com a formação de horsts e grabens, definindo um padrão de falhamentos normais (CPTI, 1999; PAULA E SILVA, 2003). A Bacia Bauru desenvolveu-se por subsidência termo-mecânica, na parte centro-sul da Plataforma Sul-Americana após o rompimento do Megacontinente Gondwana e abertura do Oceano Atlântico (FERNANDES, 1998). Nesta bacia, do tipo continental interior, acumulou-se uma seqüência sedimentar essencialmente arenosa, da qual foram encontradas espessuras máximas preservadas de até 300 metros e área aflorante de 370.000Km2. Esta seqüência sedimentar suprabasáltica neocretácea, de origem continental, tem por substrato rochas vulcânicas básicas da Formação Serra Geral (Ki), da qual está separada por superfície erosiva regional, ocorrendo na parte ocidental do Estado de São Paulo, noroeste do Estado do Paraná, parte oriental do Mato Grosso do Sul, no Triângulo Mineiro e no sul de Goiás (FERNANDES, 1998). Para Suguio (1980), o ciclo inicial de sedimentação Bauru parece ter-se processado sobre um relevo profundamente irregular, favorecendo a formação de ambientes eminentementes lacustres. Segundo Cabral Jr. et al. (1990), o Grupo Bauru apresenta-se, em termos prospectivos, como uma das mais promissoras áreas da bacia do Paraná no Estado de São Paulo, constituindo o principal conjunto litofaciológico suprabasáltico, envolvendo um pacote sedimentar da ordem de 200 metros de espessura, com a possibilidade das seguintes mineralizações: argilas para diversos fins – bentonita 36 (esmectita e atalpugita); argilas refratárias (caulinita, gibbsita); agregado leve (illita), fertilizantes termo-fosfato potássico (illita) e cerâmica vermelha –, rochas carbonatadas (corretivo de solo), sais evaporíticos (trona), diamantes e metais (Cu,U), entre outros. Desde a introdução do nome “Grés de Bauru” por Campos (1905) e os “Delta - like sandstones” ou “Cayuá sandstone” por Baker (1923) e Washburne (1930), o Grupo Bauru passou por várias classificações, subindo e descendo na hierarquia estratigráfica e abrangendo diferentes unidades litoestratigráficas com o intuito de interpretar a inter-relação das diversas unidades sedimentares suprabasálticas cretáceas. A partir de estudos pedológicos da região noroeste do estado, Setzer (1943) apresenta a subdivisão da “Formação Bauru” em “Bauru Superior” e “Bauru Inferior”. Almeida e Barbosa (1953) propõem a divisão em Formação Itaqueri (inferior) e formação Marília (superior). Enquanto que Freitas (1955) distingue o membro inferior ou Itaqueri e o membro superior ou Bauru, e ainda sugere, em 1964, o abandono da designação Itaqueri. Com base em observações geológicas do Pontal do Paranapanema, Mezzalira e Arruda (1965) foram os primeiros a admitir a possibilidade do arenito Caiuá ser considerado como fácies do Grupo Bauru. Em 1975, com os mapeamentos geológicos regionais realizados no oeste do Estado, tornou-se possível uma melhor definição estratigráfica dos depósitos suprabasálticos. Suguio et al. (1977) subdividiram a Formação Bauru em três litofácies distintas. E Landim e Soares (1976), pela primeira vez, utilizaram a denominação Santo Anastácio, para descrever uma das fácies de transição entre as formações Caiuá e Bauru. Soares et al. (1979) e Stein et al. (1979), reescrevem os arenitos Santo Anastácio, e os mapeiam por grande extensão da porção oeste do Estado de São Paulo. Em seus estudos, Soares et al. (1980) e Almeida et al. (1980b) propõem que a designação Grupo Bauru abranja as formações Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília (Figura 7). 37 Fonte: Paula e Silva (2003) adaptado de Soares et al. (1980) Figura 7 - Subdivisão clássica dos sedimentos cretáceos suprabasálticos. Para Suguio (1980), o Grupo Bauru abrange as seguintes unidades estratigráficas: Formação Caiuá, Formação Santo Anastácio, Formação Araçatuba, Formação São José do Rio Preto, Formação Uberaba e Formação Marília. No trabalho do IPT (1981a), os autores consideram que o Grupo Bauru é subdividido em quatro formações: Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e Marília. Fernandes (1992, 1998) analisa a estratigrafia e a evolução geológica do Bauru em sua porção oriental, denominando-o Bacia Bauru. O preenchimento da Bacia Bauru, segundo o autor, teria ocorrido no Cretáceo Superior (Ks), intervalo entre 88,5 -65 Milhões de anos, período este definido pela idade atribuída a fósseis de vertebrados (HUENE, 1939), pela idade absoluta de intercalações de rochas 38 vulcânicas (COUTINHO et al., 1982) e pela correlação com a sedimentação na Bacia de Santos. A Seqüência Suprabasáltica Neocretácea (SSN), conforme Fernandes (1998), é formada pelos grupos cronocorrelatos: Caiuá e Bauru, acumulados em clima semi- árido e árido. O Grupo Caiuá ocorre nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, assentando-se discordantemente sobre unidades do Grupo São Bento e apresenta passagem transicional e interdigitada para o Grupo Bauru. Fernandes e Coimbra (1994) definem que o Grupo Caiuá é constituído pelas formações Rio Paraná, Goio-Erê e Santo Anastácio. Já o Grupo Bauru reúne as formações Vale do Rio do Peixe, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília, Uberaba e os Analcimitos Taiúva, compostos por rochas vulcânicas localmente intercaladas na seqüência. As passagens entre as unidades dos grupos Caiuá e Bauru são graduais e interdigitadas. A sedimentação da Bacia Bauru, segundo Fernandes (1998), em sua primeira fase, ocorreu em condições essencialmente desérticas, com o sepultamento progressivo do substrato basáltico. A intensificação das atividades tectônicas nas diversas regiões da bacia e as mudanças climáticas graduais trouxeram mais umidade às zonas marginais, assinalando o início da segunda fase de sedimentação da Bacia Bauru, ainda em clima semi-árido. Estudando a seqüência suprabasáltica neocretácea, Fernandes e Coimbra (1994; 1996) e Fernandes (1998) propuseram que a Bacia Bauru seria formada pelos Grupos Bauru e Caiuá, implicando em uma revisão estratigráfica para a parte oriental da bacia. A alteração mais importante refere-se ao Grupo Bauru, na denominada Formação Adamantina (Quadro 1). Utilizando-se do Código Brasileiro de Nomenclatura Estratigráfica, os autores propuseram novas formações para a Bacia Bauru. 39 Quadro 1 - Nova classificação litoestratigráfica proposta para a Bacia Bauru Membro: Formação Marília Ponte Alta Serra da Galga Echaporã Formação Presidente Prudente Formação São José do Rio Preto Formação Uberaba Formação Araçatuba GRUPO BAURU Formação Vale do Rio do Peixe Formação Santo Anastácio Formação Rio Paraná GRUPO CAIUÁ Formação Goio-Erê Fonte: Fernandes (1998) 4.2.2 Idade e ambiente deposicional da Bacia Bauru Em relação à idade da sedimentação suprabasáltica cretácea, no Estado de São Paulo, ocorrem divergências entre grupos de estudiosos do tema, conforme se verifica a seguir. De acordo com Freitas (1973), Soares et al. (1980) e Fúlfaro e Barcelos (1993), o início da sedimentação suprabasáltica ocorreu do Cretáceo Médio a Inferior e o limite superior estaria no Senoniano (Cretáceo Superior). Para Fernandes e Coimbra (1994) e Manzini (1999), a sedimentação ocorreu entre o Turoniano e o Maastrichtiano. Posteriormente, Fernandes e Coimbra (1996, 2000) admitem idades Santoniana-Maastrichtiana e Coniaciana-Maastrichtiana. Riccomini (1997) admite para a Bacia Bauru a idade Santoniana- Maastrichtiana. A inexistência de um zoneamento bioestratigráfico com caráter cronológico, para Paula e Silva (2003), dificulta estabelecer o intervalo de tempo em que se depositaram as rochas suprabasálticas cretáceas da Bacia do Paraná(Figura 8). Quanto ao ambiente de deposição dos depósitos suprabasálticos cretáceos, na maioria dos trabalhos, os autores avaliam que a evolução ocorreu em condições desérticas na base e em sua fase intermediária as condições se tornaram predominantemente flúvio-lacustres e novamente condições áridas no topo. 40 Fonte: Paula e Silva (2003) modificada de Fernandes e Coimbra (1994) Figura 8 - Área de ocorrência das unidades suprabasálticas cretáceas na Bacia do Paraná. 4.2.3 Relações estratigráficas do Grupo Bauru Por meio do estudo das correlações de perfis geofísicos dos diferentes compartimentos da Bacia do Paraná, Paula e Silva (2003) e Paula e Silva, Chang e Caetano-Chang (2005) demonstraram que a acumulação de sedimentos do Grupo Bauru ocorreu em três fases de deposição, separadas por superfícies de discordâncias regionais S1 e S2 (Figuras 9 e 10): 41 � Superfície S1 - contato entre a Formação Caiuá, abaixo, e Formação Santo Anastácio, acima; � Superfície S2 - contato entre a Formação Santo Anastácio, abaixo, e Formação Araçatuba/ Adamantina, acima. Os estudos apontam que estas superfícies de descontinuidade (S1; S2), manifestam caráter cronoestratigráfico, pois limitam sucessões sedimentares depositadas em intervalos de tempos específicos. As superfícies de descontinuidade por possuírem um caráter regional, tornam- se excelentes horizontes-guia para distinção e delimitação das unidades geofísicas e sua associação com as unidades litoestratigráficas formais da bacia. 42 Fonte: Paula e Silva (2003) Figura 9 - Seção geológica NW-SE - Presidente Epitácio – Echaporã 43 Fonte: Paula e Silva (2003) Figura 10 - Seção geológica NW-SE - Presidente Venceslau - Regente Feijó. 44 Utilizando-se de dados de 357 poços, Paula e Silva (2003) aponta o mapa da configuração atual do substrato basáltico (Figura 11 ).Regionalmente, a superfície basáltica apresenta caimento para oeste, em direção à calha do Rio Paraná. Neste mesmo estudo o autor demonstra que a configuração atual do substrato basáltico no Estado de São Paulo revela uma bacia compartimentada em depressões e altos internos, formalmente designados como: � depressões: Presidente Bernardes, Dracena, Sud Menuci, Queiroz e Rio Preto; � altos internos: Tanabi, Pereira Barreto, Paraguaçu Paulista. Fonte: Paula e Silva (2003) Figura 11 - Mapa do contorno estrutural do basalto. 45 A Bacia Bauru perde seu caráter de subsidência a partir do início do Terciário, elevando e expondo a cobertura neocretácea no ciclo de aplainamentos da Superfície Sul-Americana (KING, 1956) ou Superfície Japi (ALMEIDA, 1964). Sallun (2003) e Sallun e Suguio (2006) estudaram os depósitos cenozóicos (quaternários) que ocorrem extensivamente entre as cidades de Marília e Presidente Prudente (SP) sob o ponto de vista sedimentológico e estratigráfico, como contribuição para o entendimento da evolução geológica cenozóica na região oeste paulista. Esses depósitos colúvio-eluviais e aluviais formaram-se a partir de pulsos de erosão e sedimentação, intercalados com fases de desenvolvimento de solos sobre as rochas cretácicas. Sallun (2007) e Sallun et al. (2007) mapearam a distribuição dos depósitos quaternários que recobrem rochas da Bacia do Paraná na Bacia Hidrográfica do Alto Rio Paraná nos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul e propuseram a denominação formal do Alogrupo Alto Rio Paraná, constituído pelos depósitos coluviais da Aloformação Paranavaí e depósitos aluviais da Aloformação Paraná. 4.3 Unidades Litoestratigráficas Regionais Na região em estudo, onde se localiza o município de Assis, as unidades litoestratigráficas presentes são constituídas por rochas ígneas (pertencentes à Formação Serra Geral) e rochas sedimentares (da Formação Adamantina), ambas de idade predominantemente mesozóica; e por depósitos sedimentares recentes, de idade cenozóica (Figura 12 - mapa geológico do município de Assis- DAEE/UNESP/CPTI). A apresentação deste mapa, mostrando um quadro regional já conhecido é bastante importante, pois poderemos comparar com o resultado do mapa desenvolvido neste trabalho para o município de Assis (Apêndice G). 46 4.3.1 Formação Serra Geral As “Eruptivas da Serra Geral” (WHITE, 1908) compreendem um conjunto de derrames de basaltos toleíticos entre os quais intercalam arenitos pertencentes à Formação Botucatu. No Médio-Paranapanema, a Formação Botucatu ocorre apenas subsuperficialmente, entretanto, apresenta grande importância por constituir um aqüífero confinado de excelente potencial de explotação. Segundo o IPT (1981a), os derrames de basalto afloram no Estado de São Paulo na parte superior das escarpas das cuestas basálticas e de morros testemunhos destas, isolados devido ao processo de erosão. Nos planaltos de rebordo destas cuestas podem cobrir grandes extensões. Os derrames se apresentam pelos vales que drenam o Planalto Ocidental, expondo-se principalmente nos dos rios Paranapanema, Tietê, Moji-Guaçu e Grande. No Médio-Paranapanema, a Formação Serra Geral ocorre na região centro- sul da bacia, ocupando uma extensa faixa. 47 Figura 12 - Mapa Geológico do Município de Assis (DAEE/UNESP, 1981; CPTI, 1999). As s- 07 0 As s- 01 0 SP284 SP-270 SP-333 SP-270 SP-33 3 Ribeirão da Fortuna Água Bonita Água da Pirapitinga C órrego do P avão Água Funda C ór re go d o Ja cu Ribeirão do Cervo Ribeirão das Antas C ór re go d a S er ra ria C ór re go L em br ad o Água da M ata Córrego do Matão Água do Barreiro Água do Capão Bonito Córrego Paulistinha Água da Lagoa Água do Campestre Água da M um buquinha Água do Barro Preto Água da Porca Ág ua d o Fo rtu ni nh a Ribeirão São Bartolom eu Água da Pirapitinga Águ a da C ru z Ribeirão do Cervo Água da Baixada C órrego do C abral Córrego Cabiúna Cór re go do F re ire Ág ua d o Pi nh ei ro Ág ua d o La ga rto V er de C ór re go d a Fo rtu ni nh a Ribeirão da Fortuna Ág ua d o Ba ix ad ão Ág ua d a Pi ng a Água do Pavãozinho Ribeir ão do C ervo C ór re go d o C at et o Ág ua d a Te m pe st ad e Ág ua d a Divi sa Rio da Capivara Água da M um buca Água do C afé Água da Pirapitinga Água da Figueira 540 560 520 500 480 460 44 0 580 42 0 540 580 540 580 54 0 480 520 460 560 440 58 0 520 540 480 580 560 460 50 0 480 500 540 46 0 580 560 56 0 580 56 0 54 0 52 0 50 0 540 480 440 520 52 0 48 0 520 50 0 460 540 440 58 0 ASSIS 539 570 576 588 568 588 550 548 564 531 536 551 534 528 573 589 583 556 523 527 519 571 590 570 526 534 535 555 541 533 553 562 558 558 545 553528469 517 534 545000 545000 550000 550000 555000 555000 560000 560000 565000 565000 570000 570000 74 90 00 0 74 90 00 0 74 95 00 0 74 95 00 0 75 00 00 0 75 00 00 0 75 05 00 0 75 05 00 0 75 10 00 0 75 10 00 0 75 15 00 0 75 15 00 0 Mapa Geológico do Município de Assis LEGENDA Fm Adamantina (Ka) - arenitos finos a muito finos, siltitos arenosos, arenitos argilosos, subordinadamente arenitos com granulometriamédia, quartzosos, localmente arcoseanos. Fm Serra Geral (JKsg) - derrames basálticos toleíticos, textura afaníca, com intercalaçõesde arenitos finos a médios, intertrapeanos. 50°34' W 22°26' S 50°18' W 22°42' S 0 1 2 3 40,5 Km Projeção: UTM - Universal Transverse Mercator Fuso: 22S Datum: Córrego Alegre Data: julho/2008 Equidistância das curvas de nível: 20m Escala 1: 110 000 Organizadora Solange Bongiovanni BASE CARTOGRÁFICA Folha Marília SF-22-Z-A 1:250.000 - Mapa Geológico do Estado de São Paulo - DAEE/UNESP, 1981. Mapa Geológico Integrado Bloco 44 – 1:250.000 – Paulipetro –Consórcio CESP/IPT, 1983. (inédito) Mapa Geológico da UGRHI -17 Médio - Paranapanema, 1:250.000, CPTI, 1999. Mapa Geológico da Região de Paraguaçu Paulista 1:50.000, (Bongiovanni,1990). Folha Assis - SF-22-Z-A-V-1 IBGE - 1975 Folha Maracaí - SF-22-Z-A-IV-2 IBGE - 1992 Folha Lutécia - SF-22-Z-A-II-3 IBGE - 1974 SÃO PAULO LOCALIZAÇÃO DA ÁREA NO ESTADO Pontos cotados Rodovia Estrada Curva de nível Drenagem Lagoa Área Urbana CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS (DAAEE/UNESP - 1981; CPTI - 1999) 48 A Formação Serra Geral é recoberta em discordância angular, geralmente muito disfarçada, pelas várias formações que constituem o Grupo Bauru ou por depósitos cenozóicos. São formados por rochas de cor cinza escura a negra com textura afanítica até fanerítica fina, apresentando uma composição mineralógica muito simples, essencialmente constituída de plagioclásio (labradorita zonada), associada a clinopiroxênios (augita, pigeonita). Como minerais acessórios encontram-se titano-magnetita, apatita, quartzo e raramente olivina ou seus produtos de transformação. A uniformidade dos derrames, recobrindo uma vasta extensão, a associação a diques contemporâneos, a preservação local de morfologia das dunas e a raridade de produtos piroclásticos indicam que os basaltos da Formação Serra Geral originaram-se do extravasamento rápido de lava muito fluida através de geóclases e falhas menores (IPT, 1981a). A Formação Serra Geral, para Monteiro (2003), é constituída essencialmente por basaltos, riodacitos e riolitos, estando a mesma associada à ruptura do oeste do Gondwana. O derrame vulcânico continental da Bacia do Paraná é composto, em mais de 90% em volume, por basaltos toleíticos e andesito basáltico, apresentando vesículas e amídalas no topo e na base do derrame. Intercalados aos sucessivos derrames, localmente, há depósitos de arenitos eólicos, formando um sistema intertrapeano (MEAULO, 2004). Cessados os derrames de lava da Formação Serra Geral que marcaram o final dos eventos deposicionais e vulcânicos generalizados na área da bacia do Paraná, observou-se uma tendência geral para o soerguimento epirogênico em toda a Plataforma Sul-Americana, em território brasileiro (CPTI, 1999). A porção norte da bacia, entretanto, comportou-se como área negativa, relativamente aos soerguimentos marginais à zona central da bacia, marcando o início de uma fase de embaciamentos localizados em relação à área da bacia como um todo. Nessa área deprimida acumulou-se o Grupo Bauru, no Cretáceo superior, aparecendo em grande parte do oeste do Estado de São Paulo (CPTI, 1999). 49 4.3.2 Formação Adamantina A Formação Adamantina aflora em vasta extensão do oeste paulista, recobrindo as unidades pretéritas do Grupo Bauru (formações Caiuá e Santo Anastácio) e Formação Serra Geral. Em algumas regiões esta formação é recoberta em parte pela Formação Marília e em parte por depósitos cenozóicos. Esta unidade estratigráfica contempla 41,45% de área aflorante no Médio- Paranapanema. O contato entre a Formação Adamantina e os basaltos da Formação Serra Geral é marcado por discordância erosiva, apresentando algumas vezes delgados níveis de brecha basal. Os sedimentos desta unidade litoestratigráfica são de granulometria fina, bem selecionados, contendo freqüentemente micas, e mais raramente feldspatos, sílica amorfa e minerais opacos, e exibem grande variedade de estruturas sedimentares (IPT, 1981a). Segundo Barison (2003), a mineralogia da Formação Adamantina é constituída predominantemente por 93,4% de quartzo monocristalino e 2,1% de quartzo policristalino, aproximadamente 2% de feldspatos, além de fragmentos líticos (quartzitos) e acessórios (silicatos e óxidos). A matriz é composta por argilominerais (montmorilonita e illita) que se distribuem da superfície até em profundidade. As maiores espessuras da Formação Adamantina ocorrem nas porções ocidentais dos espigões entre os grandes rios. Atinge 160 metros entre os rios São José dos Dourados e Peixe; 190 metros entre os rios Santo Anastácio e Paranapanema e 100 a 150 metros entre os rios Peixe e Turvo, adelgaçando-se dessas regiões em sentido a leste e nordeste. Os depósitos da Formação Adamantina apresentam algumas variações regionais que têm levado diversos autores a adotar denominações informais, tais como: membros, fácies, litofácies ou unidades de mapeamento para designar conjuntos litológicos com características distintas, para os depósitos denominados “Bauru”, correspondentes à Formação Adamantina. Entretanto, as subdivisões propostas adaptam-se melhor a variações litológicas localizadas, não havendo, ainda, um consenso a respeito de uma subdivisão que possa ser aceita regionalmente para a Formação Adamantina como um todo. Dentre os motivos para tais divergências destaca-se a descontinuidade 50 geográfica do Grupo Bauru, o que, conforme Fúlfaro e Barcelos (1992) e Fúlfaro e Perinotto (1996), leva diversos pesquisadores a setorizar aspectos da sedimentação desta formação. De acordo com Paula e Silva (2003) e Paula e Silva, Chang e Caetano-Chang (2003, 2005) ainda permanece uma série de dúvidas relacionadas às relações estratigráficas, tectônicas, estruturais, entre outras, desta sucessão suprabasáltica cretácea. Trabalhos desenvolvidos por estes autores, ao estudar o arcabouço litoestratigráfico de subsuperfície, baseados em perfis geofísicos de poços profundos, permitiram estabelecer o arcabouço estratigráfico de subsuperfície da seqüência neocretácica suprabasáltica, com a identificação de duas superfícies de discordâncias regionais (S1 e S2). Estas superfícies de discordâncias constituem-se em horizontes-guia, para a delimitação de unidades geofísicas correspondentes às unidades litoestratigráficas formais (PAULA E SILVA, 2003; PAULA E SILVA; CHANG; CAETANO-CHANG, 2003, 2005). A concepção clássica de estratigrafia dos sedimentos cretáceos suprabasálticos, proposta por Soares et al. (1980), com modificações sugeridas por diversos autores nas décadas de 1980 e 1990, ainda é para Paula e Silva (2003) aquela que tem maior aceitação pela comunidade científica, constituindo-se na coluna geológica padrão da maioria dos trabalhos referentes ao Bauru (Quadro 2). 51 Quadro 2 - Caracterização das unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru Unidade Características litológicas Marília Formalmente caracterizada por Soares et al. (1980); unidade composta por arenitos grossos a conglomeráticos, teor de matriz variável, ricos em feldspatos, minerais pesados e minerais instáveis, maciços ou com acamamento incipiente subparalelo e descontínuo, raras estratificações cruzadas de médio porte e raras camadas descontínuas de lamitos vermelhos e calcários. Espessura máxima 160 metros na região de Marília. Adamantina Formalmente caracterizada por Soares et al. (1980) como um conjunto de fácies compostas por bancos de arenito róseo a castanho, espessura variando entre 2 e 20 metros, granulação fina a muito fina, estratificação cruzada, intercalados com bancos de lamitos, siltitos e arenitos lamíticos, cor castanho avermelhada a cinza castanho, maciços ou com acamamento plano-paralelo, com marcas de onda e microestratificação cruzada. Espessura máxima 182 metros (MEZZALIRA, 1974). Araçatuba Proposta por Suguio (1981) e redefinida por Batezelli et al. (1999), constituída por siltitos arenosos cinza esverdeados, ora maciços, ora com estratificações plano-paralelas e cruzadas, com variações laterais para siltitos argilosos ou arenitos lamíticos, intercalados a bancos de arenitos muito finos, com ocorrência de moldes romboédricos de cristais salinos e espessura média estimada de 30 metros. Santo Anastácio Formalmente caracterizada por Soares et al. (1980), constituída predominan- temente por arenitos de cor marrom avermelhada, granulação fina a média, com grãos recobertos por película limonítica, teor de matriz inferior a 15%, até 15% de grãos de opala e feldspato, cimentação e nódulos calcíferos localizados com incipiente estratificação plano-paralela e cruzada tangencial de baixo ângulo, lentes descontínuas de lamito marrom avermelhado. Espessura de 80 metros. Caiuá Formalmente caracterizada por Soares et al. (1980), como uma unidade com notável uniformidade litológica, representada por arenitos avermelhados a arroxeados, muito finos a médios, com grãos envoltos por película limonítica, estratificação cruzada tangencial de grande porte, teor de matriz lamítica inferior a 5%, com ocorrência restrita à região sudoeste do Estado de São Paulo. Espessura máxima 200 metros. Fonte: Paula e Silva (2003) Paula e Silva (2003) afirma que atualmente as unidades suprabasálticas cretáceas do Estado de São Paulo estão distribuídas segundo duas divisões estratigráficas: a primeira de acordo com as propostas de Soares et al. (1980) e a segunda indicada por Fernandes (1998). Paula e Silva (2003) considera que as concepções propostas por Fernandes (1998) e por Fernandes e Coimbra (1996, 52 2000) não estão ainda suficientemente esclarecidas para serem formalmente utilizadas. 4.3.3 Depósitos Cenozóicos Os depósitos cenozóicos do Planalto Ocidental correspondem a níveis escalonados na paisagem que, por sua vez, estão vinculados às fases de aplainamento. São coberturas geralmente pouco espessas que cortam tanto o cristalino como os planaltos interioranos; sua origem estaria ligada a fatores climáticos ou tectônicos. Moraes Rego (1933), estudando o cenozóico paulista, constatou o seu caráter predominantemente terrígeno e não glacial, o que dificulta a separação Terciário e Quaternário e a distinção entre Pleistoceno e Recente. Fúlfaro e Suguio (1974) tendem a minimizar as questões climáticas em função de eventos tecto-sedimentares entre os depósitos cenozóicos do Estado de São Paulo. Os autores descrevem depósitos de areias e colúvios encontrados nos divisores de água do Estado de São Paulo. Estes depósitos apresentam cascalhos com seixos de quartzitos e calcedônia ou fragmentos retrabalhados de limonita. Os fragmentos mostram-se dificilmente individualizados quando não há presença de cascalhos na base, são mal estruturados e confundidos com material eluvial, devido à pouca diferenciação do material de alteração das rochas regionais. Para Landim, Soares e Fúlfaro (1974) e Soares e Landim (1976), os depósitos cenozóicos são constituídos por areias desestruturadas, tendo a base sobre o estágio inferior ou diretamente sobre formações mais antigas, depósitos de cascalho ou uma linha de seixos constituída por quartzito e escassos fragmentos de limonita. Esses autores também atribuíram a origem dos depósitos cenozóicos a duas superfícies geomorfológicas distintas: a) Superfície Sul-Americana: de idade Terciária e anterior à formação da Depressão Periférica. Os depósitos correlatos a esta superfície de aplainamento podem ser encontrados a 600 metros de altitude, mantendo a forma de amplos pediplanos 53 sobre o arenito cretáceo. Seu caráter distintivo é a sua cor vermelho-escuro, com intenso enriquecimento em ferro. b) Superfície Velhas - provavelmente de idade Quaternária (KING, 1956) existindo seus depósitos sobre a Depressão Periférica. Fúlfaro (1979) refere-se aos materiais cenozóicos como sedimentos inconsolidados, assemelhando-se a solos, com níveis de seixos na base, recobrindo discordantemente outros tipos litológicos mais antigos do próprio Cenozóico, Mesozóico, Paleozóico até rochas do embasamento cristalino. O contato dos materiais cenozóicos com as rochas subjacentes é feito por uma superfície irregular de desnível variado, sotoposta a cascalhos com seixos de sílex, quartzitos e fragmentos de limonita, recobrindo os espigões ou preenchendo paleo-vales escavados em rochas mais antigas. Fúlfaro (1979) observa que, no estado atual do conhecimento dos depósitos cenozóicos (final da década de 1970), fica difícil estabelecer uma gênese e cronologia únicas; assim, classifica os materiais inconsolidados em três tipos de depósitos: 1. depósitos de espigão; 2. frontais às escarpas regionais (pedimentos); 3. depósitos em paleo-vales. Suarez (1976, 1991) denomina de Formação Piquerobi, depósitos cenozóicos areno-argilosos de coloração avermelhada, espessura de 8 metros, superpostos em discordância erosiva com o Grupo Bauru, encontrados no extremo oeste do Estado de São Paulo. Segundo Melo e Ponçano (1983), os depósitos cenozóicos e as principais feições encontrados no Planalto Ocidental podem ser agrupados em: � registros sedimentares e morfológicos de fases de morfogênese mecânica; � depósitos controlados por soleiras locais; � depósitos associados às últimas fases de clima úmido; � evidências pedológicas de evolução cenozóica. 54 Godoy (1989) descreve a ocorrência de depósitos coluviais na região de Presidente Prudente, que contêm fragmentos de restos vegetais, com espessuras entre 8 e 30 metros, recobrindo rochas do Grupo Bauru e do Grupo Caiuá. Bongiovanni (1990) estuda os depósitos cenozóicos do Planalto Ocidental, região de Paraguaçu Paulista, integrando aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos como contribuição ao seu conhecimento geotécnico. Fúlfaro e Bjornberg (1993) reconhecem a existência da Superfície Sul- Americana (Terciária) no Estado de São Paulo. Coberturas com espessura máxima de 40 metros apresentam-se sobrepostas a esta superfície. Segundo os autores, com o levantamento da Serra do Mar no Terciário Médio e Superior, ocorreu um rejuvenescimento das drenagens com o aprofundamento dos leitos e a erosão da Superfície Sul-Americana. Já no Quaternário inferior, são formadas amplas planícies aluviais ao longo dos principais rios do Estado, entre eles o rio Paranapanema, além de coberturas coluviais nos divisores de água. A Formação Rio Claro e os depósitos cenozóicos associados foram estudados por Melo (1995) no intuito de contribuir para a compreensão da evolução geológica neocenozóica da Depressão Periférica. No diagnóstico da situação dos recursos hídricos da UGRHI 17 Médio- Paranapanema (CPTI, 1999) são englobados sob a designação genérica de depósitos cenozóicos: 1. Depósitos em terraços suspensos; 2. Depósitos em cascalheiras; 3. Depósitos em aluviões pré-atuais; 4. Depósitos recentes de encostas (coluvionares) e associados às calhas atuais (depósitos aluvionares). As cascalheiras ocorrem associadas principalmente às calhas dos rios Paranapanema e afluentes de sua margem direita, suspensas em relação ao nível de base atual. São depósitos de pequena expressão em área, que variam de decímetros a metros de espessura. Podem apresentar predominância de clastos de natureza quartzítica, ou então de sílica amorfa. Em ambas, seixos de quartzo e de arenitos completam a constituição básica das cascalheiras, sempre com a presença em porcentagens variadas, de matriz arenosa. 55 Em posições de meia encosta aparecem depósitos aluviais pré-atuais de ocorrências restritas, constituídos por intercalações de leitos arenosos e argilosos. A cobertura coluvionar ocupa de forma generalizada os atuais divisores d’água e suas encostas, com espessuras e composições variáveis ao longo da área. Estas coberturas são mais desenvolvidas nos relevos mais aplainados, atingindo algumas dezenas de metros na região do Médio-Paranapanema, e em situações particulares caracterizadas como rampas coluvionares, geralmente associadas aos relevos mais escarpados da área. Os colúvios são constituídos por areias, siltes e argilas, freqüentemente associados com grânulos e seixos. A predominância de um dos tipos granulométricos, bem como de minerais constituintes, respondem diretamente à natureza do substrato rochoso. No Planalto Ocidental é predominante a ocorrência de colúvios arenosos com porcentagens subordinadas de silte e argila. Na área de exposição das rochas basálticas, as coberturas com termos mais argilosos ou argilo-arenosos, quando próximas a arenitos, têm distribuição mais facilmente controlável. No diagnóstico do meio físico do Médio-Paranapanema (CPTI, 1999), os autores descrevem que os principais cursos d’água estão associados aos depósitos aluviais mais desenvolvidos, com constituição predominantemente mais arenosa com níveis de cimentação limonítica. Cascalheiras e intercalações de outros termos são ocasionais, porém sempre presentes. A maior parte da rede de drenagem reentalha seus próprios depósitos. 56 5. GEOLOGIA LOCAL As unidades litoestratigráficas presentes no município de Assis são constituídas por rochas sedimentares e ígneas, de idade mesozóica e depósitos sedimentares, de idade cenozóica. Atividades de campo e laboratório foram realizadas no município de Assis e arredores, principalmente em direção à cidade de Echaporã, com o objetivo de encontrar elementos que permitam identificar as unidades litoestratigráficas, existentes, visando melhor cartografar a região. A seqüência estratigráfica da região inicia-se pelos derrames de basalto – Formação Serra Geral que são sobrepostos por rochas sedimentares atribuídas à Formação Adamantina e às coberturas sedimentares cenozóicas. O mapa geológico do município de Assis, em escala 1:50.000, confeccionado neste projeto encontra-se no Apêndice G. Rochas sedimentares atribuídas à Formação Marília, unidade disposta sobre a Formação Adamantina, foram observadas apenas fora do município de Assis¸ nas proximidades de Echaporã onde são responsáveis pela sustentação do relevo mais pronunciado da região. Ocupando a maior parte da superfície do município de Assis, em cotas que variam de 460m a 580m, encontra-se um sedimento arenoso, pouco consolidado, homogêneo com ou sem estrutura de bioturbação de coloração variando de vermelho intenso a vermelho alaranjado e amarelo pálido, com espessuras que atingem mais de 40 metros, constituídos essencialmente por grãos de quartzo 57 hialino com películas de óxidos/hidróxidos de ferro e/ou ferro argilãns, pequena proporção de argilominerais intersticiais intercrescidos com óxidos/hidróxidos de ferro recobrindo em discordância erosiva com as unidades estratigráficas presentes: Formação Serra Geral e Formação Adamantina (ver perfil no mapa geológico – (Apêndice G). 5.1 Distribuição das Unidades Cartografadas A partir das diversas atividades de campo desenvolvidas ao longo do projeto e dos resultados dos ensaios de laboratório (granulometria, petrografia, química, difratometria) foi confeccionado um mapa geológico do município de Assis, em escala 1:50.000 (Apêndice G). A seqüência estratigráfica na área de estudo inicia-se com os basaltos da Formação Serra Geral, aflorando em cotas que variam de 460m na parte norte do município; 440-500m a noroeste e sudoeste; 450-540m nas regiões nordeste e sudeste. Já os sedimentos atribuíveis à Formação Adamantina (SOARES et al., 1980) ou Formação Vale do Rio do Peixe (FERNANDES, 1998) foram encontrados somente em cinco pontos da região centro-sudoeste do município, entre o Ribeirão do Cervo e o Ribeirão da Fortuna, em cotas que variam de 460m a 527m. Em campo, não foram observados contatos entre as rochas da Formação Serra Geral e Formação Adamantina, em função da presença de coberturas cenozóicas e solos, mas em função da presença de minerais típicos de rochas basálticas encontradas como constituintes da Formação Adamantina, em concordância com informações da literatura geológica referente a esta região, assim, conclui-se que existe discordância erosiva entre as unidades. Também foram inferidos falhamentos na região, delimitando a área de ocorrência dos sedimentos da Formação Adamantina, no centro-sudoeste do município, com base nos lineamentos de drenagem. Isto ocorreu pelo fato ter sido encontrada apenas em área restrita e em posição topográfica cerca de 20 a 30 metros, abaixo do topo das rochas basálticas, que afloram a menos de três quilômetros a leste, das duas principais ocorrências da Formação Adamantina (Água do Fortuninha, Ponto 8, e o poço do 58 Campus da UNESP, Ponto 67) e baseado, também, na literatura geológica referente à tectônica que afetou o Grupo Bauru. Em todos os demais locais observados, o contato da Formação Serra Geral dá-se com a Aloformação Paranavaí, não tendo sido encontrada ligação física com outras áreas de ocorrência de sedimentos da Formação Adamantina. Os pontos de campo indicam que a preservação da parte basal de um “fragmento” da Formação Adamantina, na área, ocorreu em função de falhamentos ocorridos durante ou mesmo após a deposição do Grupo Bauru, gerando um bloco baixo (graben). Este bloco baixo estaria posicionado na extensão mais leste da Depressão de Presidente Bernardes, e flanco sudeste do Alto de Paraguaçu Paulista (PAULA E SILVA, 2003). Recobrindo praticamente todo o município de Assis, encontram-se sedimentos inconsolidados com coloração variando de vermelho intenso a vermelho alaranjado a amarelo pálido, com baixos teores de argila, denominadas por Sallun (2007) de Aloformação Paranavaí. Neste trabalho foi utilizada esta denominação para os sedimentos inconsolidados, contudo, dividimos a Aloformação Paranavaí em duas unidades descritas a seguir: � Unidade 1 – coloração vermelho intenso, com grande quantidade de óxido e hidróxido de ferro, encontrada na porção sul do município; e � Unidade 2 – coloração vermelho alaranjado a amarelo pálido, recobrindo praticamente todo o município de Assis. Considerando a importância agrícola, procurou-se separar outra unidade, que é constituída pela mistura, em proporção variada de produto de alteração do basalto mais o material arenoso da aloformação. Este material, pela maior riqueza de óxidos/hidróxidos e caulinita, é de boa qualidade agrícola, e foi classificado como Nitossolo Vermelho. A unidade foi separada da unidade Serra Geral, por não ser produto de alteração in situ e sim alteração de basalto movimentado e misturado com a cobertura. Depósitos aluvionares recentes também foram identificados, recobrindo em discordância erosiva todo o conjunto. Localmente pode ser observado que o aluvião está recoberto pela cobertura por movimentos coluvionares atuais. 59 5.2 Formação Serra Geral As rochas da Formação Serra Geral e seus produtos de alteração, afloram no município onde o relevo possui cotas entre 460m e 540m. Ao norte, na divisa dos municípios Assis-Lutécia, encontram-se em cotas de 460 metros sob a drenagem do Ribeirão São Bartolomeu. Na porção noroeste em direção a Paraguaçu Paulista e na porção sudoeste em direção à cidade de Tarumã, afloram rochas da Formação Serra Geral em cotas que variam de 460m a 500m. Na região sudeste-noroeste em direção a Platina e Cândido Mota, afloram rochas em cotas da ordem de 460m a 540m. Estas rochas constituem o nível de base da maioria das drenagens ativas do município de Assis. Quando aparecem sustentando elevações, podem ser aproveitadas para a produção de brita (fato observado em duas pedreiras em atividade – Britamax e Fortuna – e em três pedreiras desativadas). No município de Assis, os basaltos exibem diferenças granulométricas e texturais nas bordas do derrame (especialmente no topo); apresentam coloração cinza escuro quando sãos e esverdeada a vermelha quando alterados; granulação muito fina (afanítica) e estrutura vesicular a amigdaloidal. Na base do derrame apresentam estruturas de fluxo que quando ressaltadas pelo intemperismo (erosão diferencial), possuem aspecto estrutural (laminação/fitamento) de rocha sedimentar (Figura 13). Na porção central do derrame o basalto é fanerítico, com granulação média atingindo mais de 1mm. Na base e especialmente no topo a rocha possui textura afanítica. As amígdalas são milimétricas a centimétricas, raramente atingem mais de 10cm, e constituídas por intercrescimento concêntrico de calcedônia com diferente textura ou granulometria e, às vezes opala (ágata), podendo ter na porção central quartzo hialino com cristais submilimétricos a centimétricos. Podem conter, ainda, calcita, zeólitas e filossilicatos microcristalinos de cor verde (bowlingita, clorofeita, esmectita, nontronita, clorita, vermiculita e/ou illita trioctaédrica?). 60 Fonte: Arquivo da pesquisadora Figura 13 - Córrego do Jacu – basalto bem estruturado, provável base de um derrame, afloramento localizado a sudeste da cidade de Assis. (Ponto 12). No desenvolvimento do projeto, nas atividades de campo, foram visitados, no perímetro do município de Assis 37 pontos onde afloram rochas e/ou produtos de alteração da Formação Serra Geral (ver mapa geológico e de pontos – Apêndice G). Com base na variação da granulação, presença de concentração de amígdalas no topo e, secundariamente, base de derrame e estrutura de fluxo no limite inferior do derrame, foi possível observar que os derrames possuem espessuras mínimas da ordem de 20 metros e que as drenagens do limite norte do município estão encaixadas, pelo menos, no penúltimo derrame da Formação Serra Geral, e que imediatamente a sudeste de Assis, ainda dentro do perímetro urbano, a drenagem está encaixada na base de um derrame. Neste caso não foi possível determinar se se trata do último, do penúltimo ou do antepenúltimo derrame. Com base nesta constatação, para sul em direção a Cândido Mota, é possível afirmar que as drenagens também estão encaixadas pelo menos no penúltimo derrame (Figura 14). 61 Fonte: Arquivo da pesquisadora Figura 14 - Córrego do Jacu – drenagem encaixada na base de um derrame da Formação Serra Geral (Ponto 12). O contato entre esta unidade e a Formação Adamantina não foi observado em campo, porém a presença de clinopiroxênio, plagioclásio cálcico, material de amígdala (calcedônia com estruturas características) e micro seixos constituídos por filossilicatos verdes, indicam discordância erosiva entre as duas unidades. Com a unidade cenozóica o contato também é discordante erosivo e foi observado em vários locais. Outro aspecto também constatado foi a contribuição em grau variado de material de alteração do basalto na formação das coberturas. Em dois afloramentos, um em pedreira abandonada (Ponto 12) e outro em pedreira ativa (Ponto 13) foram recolhidas amostras para análises de laboratório. No Ponto 12, antiga pedreira, hoje denominada Estância Lago Azul, localizada imediatamente a sudeste da cidade de Assis, o material exibe estrutura isótropa a visivelmente orientada, com raras máculas (amígdalas/vesículas) na porção central. Os topos dos derrames são caracterizados por estrutura amigdaloidal a vesicular, coloração cinza escuro (quase preto) e granulação fina (submilimétrica). A amostra analisada foi obtida na porção central deste derrame. 62 Ao microscópio a amostra mostrou ser constituída por: plagioclásio (±50%), augita (±20%), pigeonita (±15%), opacos, vidro vulcânico e argilominerais (±5%) cada um. A estrutura é de fluxo (aspecto pilotaxítico) e a textura é intersticial a intergranular, com cerca de 5% de vidro intersticial, material que pode estar ausente no centro dos derrames mais espessos e em teor maior na borda dos corpos. Os maiores cristais raramente atingem mais de 1,0mm de comprimento e a granulação média é da ordem de 0,3mm. Os cristais de plagioclásio atingem aproximadamente 2,5mm de comprimento, com forma tabular a subtabular, exibindo um zoneamento pouco perceptível. A lâmina apresentou também a presença de pseudomorfos de olivina, subedrais (quase euedral/anedral), constituído por filossilicatos de cor laranja a marrom avermelhado, sugerindo ser iddingsita. Os argilominerais formam pequenas concentrações concêntricas intersticiais, com formas de subamebóide ou circular. Na borda da lâmina aparece material com relevo maior, cor mais forte, granulometria fina e com fibrosidade perpendicular à parede, coloração similar aos pseudomorfos de olivina (iddingsita). A porção central o material exibe índice de refração menor, granulação cripto ou microcristalina, coloração amarelo-alaranjado, sugerindo ser nontronita ou outro argilomineral do grupo das esmectitas. Na porção centro-oeste a noroeste do município de Assis, afloram rochas maciças e de granulação fina (Ponto 13) às vezes, porém, visíveis a olho nu (faneríticas), constituindo matéria-prima para a produção de brita para a região. A amostra de basalto coletada no Ponto 13 – Pedreira Britamax, pedreira em atividade – exibe rocha de estrutura isótropa, coloração cinza escura (quase preta) e granulação fina (submilimétrica). A composição mineralógica é plagioclásio (±45%), augita (±18%), pigeonita (±12%), argilominerais (±10%), magnetita (±5%), vidro intersticial (± 5%). A rocha exibe textura intersticial a granular, com 5% de vidro intersticial isolado entre os cristais, que no máximo atingem 1,0mm. O plagioclásio (labradorita) exibe formas tabulares a sub-tabulares, dispostos caoticamente pela rocha, expondo também alguns fraturamentos e corrosão local pelo vidro. Nas fraturas podem aparecer películas de carbonato e argilominerais com cristais que raramente atingem 1,0mm de comprimento. A augita forma cristais anedrais/subedrais isolados ou em pequenos agregados com poucos cristais, freqüentemente com pigeonita. A augita aparenta ter 63 iniciado a cristalização antes da pigeonita e, certamente, terminou depois desta fase mineral, uma vez que a envolve e a corroe. A pigeonita forma cristais tabulares a eqüidimensionais, sempre menores que 0,5mm. É mais euédrica e clara que a augita e, localmente, possui fraturas curvas características. A magnetita constitui cristais menores que 0,5mm, anedrais a subedrais, esqueletiformes a maciços, dispersos pela lâmina; e exibe granulação média pouco superior à dos outros minerais. Os argilominerais aparecem intersticialmente e formam massas criptocris- talinas de cor marrom com matiz amarelo e verde, apresentam microfraturas de contração (gretagem). Estes minerais aparentam ter substituído possíveis cristais de olivina e, principalmente, estão preenchendo cavidades intersticiais (micro vesículas intersticiais) ou substituindo o vidro intersticial onde ele aparece em maior quantidade. Argilominerais aparecem como o principal material de uma amígdala em associação com carbonato, barita e calcedônia. Aparecem também como alteração de piroxênio (nontronita?) em um domínio da lâmina. O vidro exibe cor marrom e posicionamento intersticial. A barita forma cristais tabulares submilimétricos, preenchendo amígdalas com nontronita e carbonato. A apatita aparece como agulhas dispostas heterogeneamente na lâmina, gerando difusos agregados fibrosos. A calcedônia aparece na borda da amígdala. O carbonato forma cristais anedrais a euedrais (romboédricos) aparentando se tratar de ser dolomita. No caso em que aparece isolada, a forma do cristal aparenta ser produto de substituição da olivina. As duas amostras de rochas básicas analisadas (Ponto 12 e Ponto 13), retiradas da região sudeste e centro-oeste do município de Assis, têm estrutura, composição mineralógica e granulometria similares, diferindo no tipo de material de alteração. Merece destaque os argilominerais que na amostra do Ponto 12 formam pequenas concentrações concêntricas intersticiais, com forma variada de subamebóide a circular, e no Ponto 13 aparecem intersticialmente, formando massas criptocristalinas; aparentam, também, ter substituído cristais de olivina. Na área de ocorrência de basalto, normalmente aparece um solo de coloração vermelho intenso, mais ou menos argiloso, e com porcentagem variada de 64 quartzo hialino ou com impregnação de óxidos/ hidróxidos de ferro, indicando tratar- se de sedimento recente, normalmente coluvionar, originado de basalto alterado e de sedimentos oriundos das unidades mais recentes: cretáceas e/ou quaternárias. Em vários afloramentos, especialmente nas proximidades das drenagens, observou-se que o material argiloso, oriundo da alteração do basalto, nas épocas secas sofre gretamento, que atinge decímetros de profundidade. Esses espaços são preenchidos por material trazido pelo vento, pela água ou apenas pela gravidade. Esse material, quando encharcado, aumenta de volume espremendo o sedimento das rachaduras, que se mistura com o material da alteração do basalto. A repetição desse processo possibilita a introdução de grande quantidade de quartzo e outros minerais presentes nas coberturas cenozóicas no produto de alteração do basalto, melhorando a textura do solo. Este aspecto chega a dificultar a separação de sedimentos recentes com contribuição de basalto dos solos desenvolvidos diretamente do basalto. Em função do exposto, no material de alteração e no solo desenvolvido sobre as rochas basálticas, foram realizadas análises granulométricas em 3 amostras (Pontos 2, 21 e 67 (72-74m)). Na amostra coletada no Ponto 2 foi também realizada análise química da amostra total e difrações de raios X da fração passante na peneira 325mesh. Os resultados são apresentados e discutidos a seguir: O Ponto 2, com material oriundo da alteração de basalto “in situ” apresentou: ±60% de areia fina, ±35% de areia média e ±5% de silte. A fração silte grosso da amostra retirada do Ponto 2, atribuída à Formação Serra Geral é constituída por quartzo (±83%), caulim (±8%), opacos (± 5%), goethita (±0,9%), turmalina (±0,9%), zircão (±0,7%), anatásio (±0,1%) e fitólito (±0,1%). Em sua maioria os grãos de quartzo apresentam crostas de óxido/hidróxido de ferro. Nessa amostra, a maior parte da granulação areia média e areia trata-se de concreções argilo-ferruginosas (caulinita, hematita e goethita). A fração leve é constituída basicamente por grãos de quartzo cobertos por crostas de óxido/hidróxido de ferro, caulim e fitólito. Como minerais pesados, foram encontrados: opacos, goethita, turmalina, zircão e anatásio. A análise química de elementos maiores da amostra retirada do Ponto 2 apresentou resultados de 32,38% de SiO2, 26,27% Fe2O3, 21,55% Al2O3, 4,87% TiO2, demonstrando que o material em questão trata-se de basalto com pequena 65 contribuição da cobertura cenozóica. A análise química completa encontra-se no Apêndice D. A difração de raios X mostrou que a fração fina é composta por caulinita, hematita e em menor quantidade magnetita/maghemita, goethita, anatásio (pico 3,52 Å). Os ruídos ou anomalias positivas pouco definidas, detectados no difratograma obtido para a fração in natura, correspondentes a possibilidades de picos relativos a espaçamentos basais de 24,6, 17, 16,2, 14,7, 13, 9,1 e 8,0 Å, que poderiam ser interpretados como minerais do grupo da montmorillonita e interestratificados resultantes da transformação de argilominerais 2:1 para caulinita e illita para esmectita, não foi confirmada pelos difratogramas obtidos para as amostra glicolada e queimada por quatro horas a 300 e 550ºC (Figura 15). Os difratogramas apresentam background e intensidade relativamente baixa sugerindo a presença de material amorfo (hidróxidos de ferro e alumínio e possivelmente sílica). Os picos relativos à caulinita evidenciam que este mineral não exibe boa cristalinidade, e o pico 7 Å correspondente ao espaçamento basal apresenta forte assimetria para a esquerda, sugerindo a entrada de água (halloysita) e/ou interestratificação com esmectita (caulinita-esmectita), aspecto que também não foi confirmado pelos difratogramas adicionais. Um outro aspecto é a presença de um pico bem marcado relativo ao espaçamento da rede cristalina da ordem 4,08 Å, interpretado como pertencente à caulinita correspondente à opala. 66 In te ns id ad e 0 100 200 300 400 500 600 700 800800 Escala 1/d 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.6 In te ns id ad e 0 100 200 300 400 500 600 700 800800 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.6 d= 16 .6 72 K K K O p Q z M g He He Figura 15 - Difratogramas da Amostra Ass2 (Ponto 2) fração menor que 4μm de material de alteração de basalto. Linha preta amostra normal, linha vermelha (glicolada), linha azul (material queimado a 300ºC) e linha verde (material queimado a 550ºC por 4 horas). Aparecem picos referentes à caulinita (K), hematita (He), magnetita (Mg), quartzo (Qz), opala (Op). Não foram marcados os picos referentes a hematita e goethita. A anomalia marcada com o espaçamento 16,672 trata-se de ruído do aparelho, fato demonstrado pelos espectros glicolado e queimados. Os dados químicos associados aos dados microscópicos e de difração de raios X mostram que, nas frações de areia fina e silte grosso, ocorre maior quantidade de material proveniente da cobertura cenozóica e que, nas frações mais grossas, concentra-se o produto de alteração do basalto (agregados de caulinita cimentados por óxidos e hidróxidos de ferro e titânio e concreções ferruginosas). Para a amostra 21 os resultados da análise granulométrica foram: 10% de areia média, 26% de areia fina e 60% de silte e 4% de argila. A fração silte grosso mostrou ser composta por 61% de quartzo, 28% de opacos, 2,4% de argila, 0,9% de goethita, 0,6% de turmalina, 0,4% de feldspato e zircão, 0,2% de rutilo. Os grãos de quartzo apresentaram esfericidade moderada a subarredondada. Constatou-se a presença em lâmina de grande quantidade de minerais opacos. A fração leve é constituída por grãos de quartzo, argila e feldspato. Os minerais pesados presentes são: opacos, goethita, turmalina, zircão e rutilo. 67 Em relação ao ponto anterior nota-se maior contribuição de material da cobertura cenozóica e praticamente ausência de concreções grossas, quase que apenas como silte fino a argila. Esta diferença aparenta estar relacionada com a evolução pedogenética e topográfica. A amostra 2 foi obtida em cabeceira de drenagem, com evidência de ter sido pântano, enquanto a amostra 21 foi obtida em encosta de divisor de água. O Ponto 67, locado dentro do Campus da UNESP - Assis, é um poço de 74 metros de profundidade, e a amostra analisada está entre 72-74m, logo abaixo do contato com a Formação Adamantina. O material trata-se de basalto totalmente modificado com porções parcialmente alteradas, as quais foram fragmentadas na perfuração por percussão. A análise granulométrica da amostra resultou em 33% de areia grossa, 7% de areia média, 12% de areia fina, 33% de silte e 15% de argila. A granulometria areia grossa e média é composta basicamente por fragmentos de basalto parcialmente alterado ou não. A porção mais fina é constituída basicamente pelo material de alteração. As amostras das porções de topo obtidas nos Pontos 16 e 17 mostraram, nos estudos microscópicos e de difração e fluorescência de raios X, serem oriundas de coberturas que tiveram como fonte principal um material alterado de basalto. No Ponto 16 a difração de raios X, além de caulinita, quartzo, hematita e hidróxidos de ferro, acusou a presença de pequena quantidade de clorita (Figura 16). O difratograma da amostra do Ponto 17 revela a presença de gibbsita, que constitui pico nítido demonstrando estar presente em quantidade significativa. Neste difratograma também nota-se estar presente a opala (pico 4,08 Å) (Figura 17). Neste caso a possível precipitação da sílica criptocristalina ou amorfa pode estar ligada à calagem, uma vez que a amostra foi coletada em local de agricultura, inclusive na fração silte foram encontrados grãos de carbonato, provavelmente decorrentes de material utilizado para calagem. 68 in te ns id ad e 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900900 Escala 1/d 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.6 in te ns id ad e 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900900 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.6 Q Q z G b K K K He He M C l Figura 16 - Difratogramas da Amostra Ass16 (Ponto 16) fração menor que 44μm de material com aspecto de terra roxa mostrando a presença de caulinita (K), quartzo (Qz), hematita (He), Gibbsita (Gb), clorita (Cl) e mica (M). Linha preta amostra normal, vermelha glicolada, azul queimada a 300ºC e verde a 550ºC por 4 horas. As anomalias positivas entre 0,05 e 0,08 1/d trata-se de ruído do aparelho, fato confirmado por glicolagem e queima do material. Os resultados de campo e laboratório indicaram que a maioria dos solos interpretados como resultantes da alteração de basaltos, no município de Assis, apresenta contribuição em grau variado, normalmente significativo de material da cobertura cenozóica e que a mineralogia é constituída principalmente por caulinita, quartzo, hematita, magnetita, goethita, óxidos de titânio (anatásio/rutilo e ilmenita) e por material amorfo composto por sílica e hidróxidos de alumínio e ferro. Dependendo da pedogênese pode aparecer nos casos mais elevados gibbsita e nos restos menores clorita e outros argilominerais presentes nos basaltos resultantes de alterações deutéricas e pedogenéticas. 69 In te ns id ad e 0 500 1000 1500 Escala 1/d 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.6 In te ns id ad e 0 500 1000 1500 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.6 He He K G b K GK Q z Op Figura 17 - Difratogramas da Amostra Ass17 (Ponto 17) fração menor que 44μm de material com aspecto de terra roxa mostrando a presença de caulinita (K), quartzo (Qz), hematita (He), Gibbsita (Gb), goethita (G) e opala (Op). Linha preta amostra normal, vermelha glicolada, azul queimada a 300ºC e verde a 550ºC por 4 horas. As anomalias positivas entre 0,05 e 0,08 1/d trata-se de ruído do aparelho, fato confirmado por glicolagem e queima do material. 5.3 Formação Adamantina As rochas sedimentares atribuídas à Formação Adamantina (segundo concepção de SOARES et al., 1980) e utilizadas neste trabalho, foram observadas em apenas 5 afloramentos (Pontos 8, 11, 17,57 e 67) posicionados a noroeste e sudoeste da cidade de Assis em cotas que variam de 460 a 527 metros. No Ponto 67, poço tubular para a captação de água subterrânea, foi amostrado um perfil com espessura da ordem de 25 metros (47 a 72m). Esta espessura encontrada – 25m – é bastante próxima ao se observar o mapa de isópacas da Formação Adamantina (PAULA E SILVA, 2003), em que as menores espessuras são encontradas na calha do médio e baixo rio Tietê e na região sudoeste do Estado, significativamente reduzidas pela erosão cenozóica. 70 A seção-tipo que representa as rochas da Formação Adamantina (Ponto 8) ocupa um barranco de drenagem da Água do Fortuninha, em cota de 510m, localizado no Parque Universitário, zona urbana de Assis. São rochas estratificadas com espessuras decimétricas a métricas, constituídas por argilitos, siltitos, arenitos e, subordinadamente níveis conglomeráticos de granulação fina, exibindo dominantemente cor marrom avermelhada a arroxeada. Ocorrem níveis de espessura decimétrica a centimétrica de coloração esverdeada, cinza claro a creme, que se destacam do material avermelhado. Esses níveis ocorrem intercalados ritmicamente exibindo tonalidades, texturas e estruturas diferentes e são compostos por arenitos finos e siltitos, com ou sem laminações argilosas a siltosas, estratificações cruzadas de pequeno porte e laminação, ondulada e plano-paralela (Figuras 18 e 19). Como o afloramento é de barranco de drenagem, sem grande continuidade lateral não foi possível ter certeza se a coloração desses níveis é primária ou é resultante de percolação de água subterrânea, em condições redutoras. Os bancos mais espessos possuem medidas decimétrica a métrica (no afloramento atinge pouco mais de 1 metro) e estrutura dominantemente maciça. São representados por argilitos e arenitos com coloração avermelhada, com limites nítidos, especialmente no caso do material mais fino e transicional ou gradacional entre os níveis arenosos. 71 Fonte: Arquivo da pesquisadora Figura 18 - Água do Fortuninha – banco de argilito siltoso, levemente laminado, com cerca de 1m de espessura, Formação Adamantina (Ponto 8). Fonte: Arquivo da pesquisadora Figura 19 - Água do Fortuninha – banco de argilito siltoso, com leito mais rico em areia, cerca de 1,2m de espessura, parcialmente alt