unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP RIMAR RAMALHO SEGALA A EMERGÊNCIA DE SINAIS NA LIBRAS: a influência dos emblemas ARARAQUARA – S.P. 2021 RIMAR RAMALHO SEGALA A EMERGÊNCIA DE SINAIS NA LIBRAS: a influência dos emblemas Tese de Doutoramento pelo Programa de Pós- Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP – ARARAQUARA – SP, como requisito para obtenção do título de doutorado em Linguística. Linha de pesquisa: Análise Fonológica, Morfossintática, Semântica e Pragmática. Orientadora: Profa. Dra. Angélica Terezinha Carmo Rodrigues. ARARAQUARA – S.P. 2021 Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. S454e Segala, Rimar Ramalho A EMERGÊNCIA DE SINAIS NA LIBRAS: : a influência dos emblemas / Rimar Ramalho Segala. -- Araraquara, 2021 179 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Letras, Araraquara Orientadora: Angélica Terezinha Carmo Rodrigues 1. Libras. 2. Gesto. 3. Emblemas. 4. Sociolinguística. 5. Empréstimo Linguístico. I. Título. RIMAR RAMALHO SEGALA A EMERGÊNCIA DE SINAIS NA LIBRAS: a influência dos emblemas Tese de Doutorado, apresentado Programa de Pós- Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP – Araraquara – SP, obtenção do título de Doutor em Linguística e Língua Portuguesa. Linha de pesquisa: Análise Fonológica, Morfossintática, Semântica e Pragmática. Orientadora: Profa. Dra. Angélica Terezinha Carmo Rodrigues. Data da defesa: 16/04/2021 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Dra. Angélica T.C. Rodrigues (UNESP) Membro Titular: Dr. Leland McCleary (USP) Membro Titular: Dr. Andre Xavier (UFPR) Membro Titular: Dr. Tarcísio de Arantes Leite (UFSC) Membro Titular: Dra. Ronice Müller de Quadros (UFSC) Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras UNESP – Campus de Araraquara AGRADECIMENTO Primeiramente eu gostaria de agradece a Deus, pois sem a existência dele nós não existiríamos. Agradeço imensamente a minha mãe Zenilda R. Segala, a meu pai Antonio Segala, a minha irmã Sueli R. Segala, meu sobrinho Felipe Segala, meu tio Zacheu J. Ramalho (em memória), a toda minha família e também aos meus antepassados, pois sem eles eu também não estaria aqui, assim deixo meus sinceros agradecimentos. Também agradeço a toda a comunidade surda, a todos os surdos, aqueles que já se foram, aos que estão idosos e a todos os demais surdos, pois sem eles não teríamos a Língua de Sinais, então eu devo a Libras a todos eles. Da mesma forma deixo um agradecimento a todas as pessoas que devido a grande quantidade não vou poder citar o nome aqui, mas que se envolveram na minha pesquisa, que conversaram comigo de forma direta ou apenas trocaram ideias, mas que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento da tese. Quero também deixar os agradecimentos a todos os professores que fizeram parte desse processo. Igualmente a todos os intérpretes que me acompanharam durante as aulas, seminários, apresentação de pôsteres e bancas. Especialmente, ao Vinicius Nascimento, que foi o primeiro intérprete voluntário na banca de arguição do processo seletivo. E ao Thyago Santos, com sua presença, com sua vontade, foi um grande intérprete em algumas disciplinas. Do mesmo modo, agradeço a todos aqueles que trabalharam na revisão do texto: Larissa Matos, Rosana Mello, Joaquim Cesar Cunha dos Santos, Thyago Santos e Anderson Marques. Gostaria também de fazer um agradecimento especial à Angélica Rodrigues. Um dia por acaso nos encontramos num ônibus, juntamente com a Vanessa Martins, conversando sobre a necessidade de fazer um doutorado e das dificuldades quanto ao processo seletivo de envolver uma terceira língua (no caso a língua inglesa), e a Angélica aceitou o desafio de tentar fazer uma prova para os surdos que considerasse a Libras como primeira língua e o Português como segunda, e desde aquele dia firmamos esse compromisso de estarmos juntos, até que ela conseguiu abrir esse processo seletivo, abrindo essa porta não só para mim, mas para muitos outros surdos. Então faço um agradecimento especial a ela, pela confiança que teve na minha pesquisa e por acreditar na capacidade dos surdos. Agradeço também ao Jean, pois sei de todo o apoio e suporte que ele deu à Angélica nesta luta pelos surdos na UNESP. Agradeço também a equipe da USP, Leland McCleary, Evani Viotti, Tarcísio Leite, André Xavier e João Paulo da Silva, por terem sido a primeira equipe no Brasil a olhar para a gestualidade na Libras, despertando o meu interesse ao assunto e me trazendo a oportunidade de aprofundar minha pesquisa nessa área. Durante a pandemia do COVID-19, a vida foi muito difícil para todos! Agradeço a Pamela Isis Mota, que tem sido uma pessoa muito importante em quase metade do tempo da tese, que acompanhou o meu cotidiano, que me viu estudando, lendo, escrevendo sempre, e entre um monte de coisas. Pamela não é só namorada, mas sim uma companheira maravilhosa, amorosa. Obrigado. RESUMO Nesta tese, nos propomos a discutir problemas nos estudos da Libras - Língua Brasileira de Sinais e o seu status, tendo em vista a emergência de sinais a partir de emblemas Destacamos que a Libras, como qualquer língua natural, não está isolada linguística e socialmente, tendo contato com várias outras línguas orais usadas no Brasil, como línguas indígenas, português, italiano, inglês, entre outras e línguas de sinais de outros países como a Língua de Sinais Francesa (LSF), Língua de Sinais Americana (ASL) e Língua de Sinais Italiana (LIS), entre outras. Esta tese se fundamenta no fato de que os gestos, o seu subtipo emblema, que constituem o léxico, são normalmente deixados de lado, não recebendo tratamento devido na literatura. e muitos pesquisadores conhecidos pelos estudos sobre gestos, como David Efron (1942, 1972), Ekman e Friesen (1969), Kendon (1988), McNeill (1992, 2000), sempre discorrem que quando envolvem na defendem que, no processo de comunicação, sempre estão presentes o movimento em das mãos, cabeça, braços e todo o corpo. Para Kendon (2004) e, McNeill (1992, 2000), as línguas orais, fala e gestos são manifestações da língua. Para essa discussão, se faz necessário compreendermos, como se deram a evolução da Libras de acordo com acompanha a história dos surdos brasileiros, a educação de Surdos,; os estudos de descrição linguística de língua de sinais brasileira e aspectos sociolinguísticos relacionados à Libras e à Comunidade Surda. Para melhor contextualizar a pesquisa, nos debruçamos sobre ; o estudo dos gestos, especificamente, os emblemas usados no Brasil, que foram trazidos na migração italiana; e também os emblemas franceses que foram trazidos com a Língua de Sinais Francesa, e bem como os emblemas brasileiros e italianos que a Libras teve contato e suas mudanças desde da escola do INES até dias de hoje. O projeto de tese apresenta uma resenha dos estudos linguísticos da Libras, dos estudos sociolinguísticos e dos estudos de gestos. Como uma contextualização dos estudos linguísticos sobre a Libras, iniciados no final dos anos 1980 por Lucinda F. Brito (1984, 1990, 1993, 1995), uma das primeiras pesquisadoras que estudou a Libras e posteriormente, outros linguistas que estudam Libras mostram alguns exemplos dos aspectos da estrutura da língua de sinais usada na comunidade surda brasileira. Os gestos têm sido objeto de estudo desde a Antiguidade. A tese investiga os empréstimos dos emblemas na constituição de sinais da Libras, verificando quais dos emblemas observados nos dicionários da Libras, que podem fazer parte do léxico da Libras. A Metodologia da tese foi desenvolvida por etapas, sendo a primeira a coleta dos emblemas italianos, franceses e brasileiros, a segunda etapa a coleta dos sinais em Libras por meio de 4 dicionários, Gama (1875), Oates (1969), INES (2006) e Capovilla, Raphael e Mauricio (2009). A terceira etapa, foram feitas um a investigação e comparação dos emblemas coletados com os sinais da Libras e a última etapa a análise e identificação dos parâmetros dos emblemas que participam dos sinais coletados. Como resultado, foi possível verificar e comprovar que os emblemas, por diferentes parâmetros, entram e fazem parte da composição dos sinais em Libras. Palavras-chaves: Libras. Gesto. Emblemas. Sociolinguística. Empréstimo Linguístico. ABSTRACT In this thesis, we propose to discuss problems in the studies of Libras - Brazilian Sign Language and its status, in view of the emergence of signs from emblems. We emphasize that Libras, like any natural language, is not isolated linguistic and socially, having contact with several other oral languages used in Brazil, such as indigenous languages, Portuguese, Italian, English, among others and sign languages from other countries such as French Sign Language (LSF), American Sign Language (ASL) and Italian Sign Language (LIS), among others. This project is based on the fact that gestures, their emblem subtype, which make up the lexicon are usually left out, not receiving due treatment in the literature and many researchers known in the studies of gestures like David Efron (1942, 1972), Ekman and Friesen (1969), Kendon (1988), McNeill (1992, 2000) always argue that when they involve in communication, they always move their hands, head, arms and the whole body. For Kendon (2004), McNeill (1992, 2000) oral languages, speech and gestures are manifestations of the language. For this discussion it is necessary to understand, how the evolution of Libras accompanies the history of the Brazilian deaf, the education of the Deaf; studies of Brazilian sign language and its sociolinguistic elements; to better contextualize the research; the study of gestures, specifically, the emblems used in Brazil, which were brought in the Italian migration; and also the French emblems that were brought with the French sign language, as well as the Brazilian and italian emblems that Libras had contact with and their changes since the INES school until today. The thesis project presents a review of Libras linguistic studies, sociolinguistic studies and gesture studies. As a contextualization of linguistic studies on the Brazilian Sign Language - Libras, started in the late 1980s by Lucinda F. Brito (1984, 1990, 1993, 1995) one of the first researchers who studied Libras and later, other linguists who study Libras show some examples of the aspects of the sign language structure used in the Brazilian deaf community. Gestures have been the subject of study since antiquity. The thesis investigates the loan of the emblems in the constitution of the sign of Libras (Brazilian sign language), verifying which of the emblems observed in the dictionaries of Libras, which may be part of the lexicon of Libras. The thesis methodology was developed in stages, the first being the collection of Italian, French and Brazilian emblems, the second stage the collection of signs in Libras through 4 dictionaries, GAMA, OATES, INES and CAPOVILLA, RAPHAEL & MAURICIO, the third stage the investigation and comparison of the badges collected with the signs of Libras and the last step the analysis and identification of the parameters of the badges that participate in the collected signs. Through researching this thesis, it was possible to verify and prove that the emblems, by different parameters, enter and are part of the composition of the signs in Libras. Keywords: Libras. Gesture. Emblems. Sociolinguistics. Linguistic Loan. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Emblema O.K. 20 Figura 2 – Capa de Chirologia, ou Linguagem Natural da Mão (1644) 23 Figura 3 – Chiromania, ou a Arte da Retorica Manual (1644) 24 Figura 4 – Sistema de rotação – representação da esfera imaginária 25 Figura 5 – Posições das mãos usadas pelos oradores 26 Figura 6 – Esfera e posições das mãos de Bacon em 1875 27 Figura 7 – Mão fechada com o polegar levantado 30 Figura 8 – Mãos em forma de coração 30 Figura 9 – Gestos de experiências, sentimentos, pensamentos, entre outros 31 Figura 10 – Emblema de “pequeno” 34 Figura 11 – Emblema brasileiro de “juro” 35 Figura 12 – Emblema brasileiro de “pão de duro” 36 Figura 13 – Emblema brasileiro de “boa vida” 36 Figura 14 – Emblema brasileiro de “estar com dor de cotovelo” (ciúme) 36 Figura 15 – Emblema italiano de “perfeito” 37 Figura 16 – Emblema italiano de “impossibilidade” 37 Figura 17 – Emblema italiano de “eu te venci” 37 Figura 18 – Emblema italiano de “parabéns” 38 Figura 19 – Emblema francês de “Eu, quieto” 38 Figura 20 – Emblema francês de “mentira” 39 Figura 21 – Emblema francês de “Nem mesmo isso” 39 Figura 22 – Emblema francês de “Segure, tenho uma prova” 39 Figura 23 – Dedos cruzados ou dedos em cruz 54 Figura 24 – Olho vivo ou estar de olho vivo 55 Figura 25 – Uma banana ou dar uma banana 55 Figura 26 – Figa ou fazer figa 56 Figura 27 – Vitoria 56 Figura 28 – Biruta, amalucado 57 Figura 29 – Chifrudo 57 Figura 30 – Beijo na ponta dos dedos 58 Figura 31 – Lóbulo de orelha 58 Figura 32 – Mão em forma de bolsa 59 Figura 33 – O círculo - figura do anel 60 Figura 34 – Papo firme ou papo furado 61 Figura 35 – Mau motorista – barbeiro do trânsito 61 Figura 36 – The emergence of grammar from word and gesture 63 Figura 37 – “IR” em ASL 63 Figura 38 – FUTURO” em ASL 63 Figura 39 – From way to what 64 Figura 40 – ASL verb aspect marked by movement modulation 64 Figura 41 – Conjunto de configurações de mãos (CM) da Libras 69 Figura 42 – Mudança na localização – SÁBADO e APRENDER 70 Figura 43 – Mudança na configuração de mão – SÃO PAULO e PENSAR 71 Figura 44 – Mudança no movimento – TRABALHO e VIDEO-CASSETE 71 Figura 45 – Mudança na orientação – MÁQUINA DE LAVAR e LIQUIFICADOR 72 Figura 46 – Mudança na expressão não manual – CASA e MORAR 72 Figura 47 – Exemplo de apagamento de suspensão na ASL (GOOD IDEA) 74 Figura 48 – Exemplo de metátese na ASL (DEAF) 75 Figura 49 – Exemplo de assimilação na ASL 75 Figura 50 – O processo de mudança de um sinal: E-MAIL 77 Figura 51 – Simetria da configuração da mão, conforme ilustrado por DEPEND: (a) forma antiga, (b) forma moderna 78 Figura 52 – Deslocamento da cabeça, conforme ilustrado por FOTO /FOTOGRAFIA: (a) forma antiga, apenas a primeira parte do composto; (b) forma moderna, segunda parte dos compostos idênticos em ambas as fases 79 Figura 53 – Assimilação e fluidez, uma parte de um sinal composto é frequentemente excluída, conforme ilustrado em BIRD: (a) forma antiga; (b) moderno 79 Figura 54 – O movimento da cabeça torna-se movimento da mão, conforme ilustrado pelo PACIENT: (a) forma antiga, cabeça inclinada para baixo; (b) forma moderna, movimento da mão para baixo 80 Figura 55 – Mudança na forma da mão com motivação morfológica, conforme ilustrado por STEAL: (a) forma antiga, movimento de preensão de toda a mão; (b) forma moderna, usando dois dedos 81 Figura 56 – Mudança lexical relacionada ao conceito “café” na Libras 82 Figura 57 – Situação de contato 87 Figura 58 – Sinal BRASIL 97 Figura 59 – Sinal COMUNICAÇÃO 97 Figura 60 – Sinal YES 97 Figura 61 – Sinal LINGUISTICA 98 Figura 62 – Sinal PROFESSOR 98 Figura 63 – Sinal DOCENTE 99 Figura 64 – Dois sinais regionais ALUNO 100 Figura 65 – Dizionario dei gesti degli italiani: una prospettiva interculturale 103 Figura 66 – Dizionario dei gesti degli italiani: una prospettiva interculturale 104 Figura 67 – Senza Parole: 100 gesti degli italiani 105 Figura 68 – Senza Parole: 100 gesti degli italiani 105 Figura 69 – Supplemento al dizionario italiano 106 Figura 70 – Supplemento al dizionario italiano 106 Figura 71 – Il Dizionario dei gesti 107 Figura 72 – Il Dizionario dei gesti 107 Figura 73 – Dictionnaire des gestes 108 Figura 74 – Dictionnaire des gestes 109 Figura 75 – História dos Nossos Gestos 110 Figura 76 – Behaving Brazilian: A comparison of brasilian and north american social behavior 111 Figura 77 – Behaving Brazilian: A comparison of brasilian and north american social behavior 111 Figura 78 – Comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira 112 Figura 79 – Comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira 112 Figura 80 – Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos 113 Figura 81 – Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos 114 Figura 82 – Linguagem das mãos 114 Figura 83 – Linguagem das mãos 115 Figura 84 – Dicionário da Língua Brasileira de sinais (LIBRAS versão 2.0 – 2005) 116 Figura 85 – Novo deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de sinais Brasileira 117 Figura 86 – Novo deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de sinais Brasileira 118 Figura 87 – Palmas 140 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Comparação 129 Gráfico 2 – Origem 130 Gráfico 3 – Dicionários 131 Gráfico 4 – Mudanças fonológicas 150 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Expressões corporais ............................................................................................ 32 Quadro 2 – Continuum 1: relação com a fala ......................................................................... 41 Quadro 3 – Continuum 2: relação com propriedades linguísticas .......................................... 41 Quadro 4 – Continuum 3: relação com as convenções ........................................................... 41 Quadro 5 – Continuum 4: caráter da semiose ......................................................................... 42 Quadro 6 – Resumo de Continuum de Kendon, segundo McNeill (2000) ............................. 43 Quadro 7 – Comparação entre unidades linguísticas e cinéticas ............................................ 48 Quadro 8 – Diferenças entre língua de sinais natural, língua de sinais de contato e código manual ............................................................................................................................... 93 Quadro 9 – Conceitos de empréstimos linguisticos ................................................................ 95 Quadro 10 – Tipos de empréstimos linguísticos ................................................................... 100 Quadro 11 – Exemplo de quadro .......................................................................................... 119 Quadro 12 – Exemplo de emblema e sinal iguais ................................................................. 121 Quadro 13 – Exemplo emblema e sinal da Libras semelhantes ............................................ 122 Quadro 14 – Mudança fonológica de configuração de mãos ................................................ 124 Quadro 15 – Mudança fonológica de movimento ................................................................. 125 Quadro 16 – Mudança fonológica de orientação das mãos ................................................... 126 Quadro 17 – Mudança fonológica de Configuração das mãos e movimento ....................... 127 Quadro 18 – Mudança fonológica de movimento e orientação de mão ................................ 128 Quadro 19 – Mudança fonológica de Configuração de mãos no emblema italiano ............. 132 Quadro 20 – Mudança fonológica de Configuração de mãos no emblema francês .............. 133 Quadro 21 – Mudança fonológica de Configuração de mãos no emblema brasileiro .......... 134 Quadro 22 – Mudança fonológica de movimento no emblema italiano ............................... 136 Quadro 23 – Mudança fonológica de movimento no emblema francês ................................ 137 Quadro 24 – Mudança fonológica de movimento no emblema brasileiro ............................ 138 Quadro 25 – Mudança fonológica de orientação das mãos no emblema italiano ................. 139 Quadro 26 – Mudança fonológica de orientação das mãos no emblema francês ................. 140 Quadro 27 – Mudança fonológica de orientação das mãos no emblema brasileiro .............. 141 Quadro 28 – Mudança fonológica de configuração das mãos e movimento no emblema italiano ............................................................................................................................. 142 Quadro 29 – Mudança fonológica de configuração das mãos e movimento no emblema francês ............................................................................................................................. 144 Quadro 30 – Mudança fonológica de configuração das mãos e movimento no emblema brasileiro .......................................................................................................................... 145 Quadro 31 – Mudança fonológica de movimento e orientações de mãos no emblema italiano ......................................................................................................................................... 147 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LIBRAS Língua Brasileira de Sinais LSF Língua de Sinais Francesa INES Instituto Nacional de Educação dos Surdos ASL Língua de Sinais Americana CM configuração de mão LSCB Língua dos Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros LSB Língua de Sinais Brasileira SUMÁRIO INTRODUÇÃO 14 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 18 2.1 Estudos de Gestos 18 2.2 Fonologia 67 2.2.1 Processos fonológicos 73 2.2.2 Mudanças fonológicas 77 2.2.3 Mudanças lexicais 82 2.3 Estudo de sociolinguísticos sobre as línguas de sinais 83 METODOLOGIA 102 3.1 Coletar os emblemas italianos, franceses e brasileiros 103 3.2 Coletar os sinais da Libras 113 3.3 Investigar e comparar os emblemas coletados e os sinais da Libras 119 3.4 Analisar e identificar os parâmetros dos emblemas que participam dos sinais coletados 123 ANÁLISE E RESULTADO 129 DISCUSSÃO 152 CONCLUSÃO 160 REFERÊNCIAS 164 14 INTRODUÇÃO A história da Libras acompanha a história dos surdos e da educação no Brasil. Os registros comprovados como os de 1857, Huet, professor surdo, veio ao Brasil a convite de D. Pedro II para fundar a primeira escola para surdos do país, o Imperial Instituto de Surdos Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). No Instituto, a Libras emergiu da comunicação e método de ensino entre alunos surdos e o professor surdo francês, como uma mistura entre a Língua Francesa de Sinais, a língua de sinais emergente, e os gestos utilizados pelos surdos brasileiros. Durante muitos anos, desde o início da década 1960, o William Stokoe, as pesquisas da linguística sobre as línguas de sinais encontraram algumas relações com gestos, que variam de acordo com a localidade e a idade dos sinalizantes, o que evidencia que também os emblemas, e não apenas os itens linguísticos tradicionalmente analisados nas pesquisas sociolinguísticas, são condicionados por fatores sociais e culturais. A análise da gramática da Língua Brasileira de Sinais revela que muitos itens linguísticos são suscetíveis a variações devido a aspectos sociais, históricos e contatos com outras línguas de sinais. Na literatura da linguística, a Libras está sujeita a variações por vários aspectos sociais, históricos, culturais, contato com outras línguas orais, língua de sinais e gestos. Para os estudos de Libras é necessário retornar ao passado para compreensão, expansão e desenvolvimento de pesquisas futuras, em que, como afirmam McCleary e Viotti (2011), gesto e língua possam viver em harmonia. Essa citação que o Leland e Viotti trouxeram, podemos pensar que nós como linguistas precisamos romper o preconceito quanto aos gestos, e incluí-los como parte das relações linguísticas que estudamos, nos atentando ao que eles podem nos mostrar. Desse modo, nesta tese, investiga-se a relação entre os emblemas e os sinais da Língua de Sinais Brasileira, com o objetivo de oferecer evidências de como os elementos gestuais participam do léxico dessa língua. A pesquisa se justifica na medida que se faz necessário um aprofundamento a respeito de como esses elementos constroem significação nessa língua. Os objetivos desta pesquisa são:  Analisar os emblemas do léxico da Libras e de que maneira os emblemas contribuem para léxicos. 15  Discutir se os emblemas podem compartilhar/emprestar e se convencionalizar em sinais, para ver se como mudança fonológica.  Refletir sobre preconceito linguístico contra gestos na Libras; o conceito da linguagem, língua para Libras. Recuperar a origem de qualquer língua, desde seus estágios iniciais, é tarefa que não se pode fazer sem lançar mão de hipóteses, já que registros do nascimento de uma língua não podem ser recuperados arqueologicamente. No caso das línguas de sinais, lidamos com as mesmas incertezas e falta de documentação. No que diz respeito à Língua Brasileira de Sinais, libras, Leite e Quadros (2014) acreditam, assumem que surdos brasileiros usavam línguas de sinais comunitárias ou emergentes antes de terem contato com a antiga Língua de Sinais Francesa (LSF), o que os leva a concluir que língua de sinais que emergem comunitariamente no Brasil é um produto de um processo histórico de crioulização entre sinais brasileiros e franceses. Para Campello (2011), a base da libras foi a LSF, mas não há como recuperar dados sobre a(s) língua(s) de sinais usadas por surdos brasileiros antes do contato desses surdos com a LSF. Bernieri-Souza e Segala (2009) discutem que a origem da Libras remete a um quebra- cabeças, em que a influência da LSF e também de outras línguas dos imigrantes representam suas subpartes. Percebemos que, como no caso de qualquer língua oral ou sinalizada, carecem de dados linguísticos registrados antes do Instituto Nacional de Educação dos Surdos - INES1 para recuperar a emergência da Libras. Apesar disso, podemos, com base nos estudos desenvolvidos no âmbito da sociolinguística (STOKOE, 1969; WOODWARD, 1973; CARVALHO, 1989; ZIMMER, 1989; LUCAS; VALLI, 1992; BOUDREAULT; MAYBERRY, 2006; McKEE, 2007; FARIA, 2009; FERREIRA-BRITO, 2010; NASCIMENTO, 2010; McCLEARY; VIOTTI, 2010, 2011; ADAM, 2012; SCHEMBRI, JOHNSTON, 2007, 2012; MACHADO, 2016; XAVIER, 2019) e gestos (EKMAN; FRIESEN, 1969; CÂMARA CASCUDO, 1976; PIERRE WEILL; ROLAND TOMPAKOW, 1983; RECTOR; TRINTA, 1985,1993; McNEILL, 1992, 2000, 2005; KENDON, 1988, 2004, 2005, 2013; PEREIRA, 2010; WILCOX, 2004) podemos ter como hipótese que libras não tem uma origem única relacionada somente à 1 O INES é um órgão do Ministério da Educação que atende alunos surdos da Educação Infantil até o Ensino Médio, além de oferecer ensino profissionalizante e estágios remunerados que ajudam a inserir os surdos no mercado de trabalho. O INES também apoia e promove a pesquisa de novas metodologias a serem aplicadas no ensino das pessoas surdas, além de prestar atendimento psicológico, fonoaudiólogo e social à comunidade surda. Disponível em: https://www.libras.com.br/ines. Acesso em: 5 maio 2020. https://www.libras.com.br/ines 16 LSF, mas provavelmente uma origem marcada pelo contato e a mistura de outras línguas de sinais, orais e incluindo a incorporação de gestos usados nestas línguas. As línguas de sinais por muito tempo foram desconsideradas no âmbito dos estudos da linguagem, perspectiva que começa a se altera a partir da década de 1960, quando Stokoe (1960) apresenta uma descrição linguística da Língua de Sinais Americana. Stokoe (1960) se concentra na fonologia e fala um pouco da morfologia. Dizer que ele apresentou uma descrição linguística pode fazer o leitor que não conhece que ele fez mais do que ele efetivamente fez no trabalho de 1960. De todo modo, como afirma Leite (2013, p. 38), "[d]entro de uma visão do senso comum, as línguas de sinais não são enxergadas como línguas naturais, com o mesmo estatuto das línguas orais, e por isso as pessoas surdas até hoje lutam para ter a sua língua plenamente reconhecida." Por ser a língua de sinais majoritariamente produzida pelas mãos, como sinais manuais e com o uso de expressões não manuais, e apreendida pela visão, foi por anos estigmatizada e não reconhecida, por se tratar de uma modalidade diferente das línguas orais, que são produzidas pela boca e percebida pela audição. Um pioneiro no estudo das línguas de sinais foi William Stokoe, que em 1960 procurou analisar os sinais e suas estruturas, comprovando que a língua de sinais possui todos critérios linguísticos. Ele não demostrou todos, focou nos fonológicos à luz do estruturalismo norte- americano. Os trabalhos de William Stokoe demonstraram que nas línguas de sinais, a produção dos sinais é formada por unidades menores como classes de fonemas, representadas pelos parâmetros configuração de mão, movimento e locação (ou ponto de articulação). Depois de Stokoe, outros pesquisadores como Klima e Bellugi (1979) abriram o campo da pesquisa sobre línguas de sinais, demonstrando que as línguas de sinais são de natureza visual e espacial. Reconhecer o estatuto linguístico das línguas de sinais como línguas naturais é também compreender que a emergência das línguas de sinais não se dê de modo diferente da emergência das línguas orais. Desse modo, se vamos discutir a origem da Língua Brasileira de Sinais, devemos assumir que sua emergência está igualmente marcada pelas situações de contato linguístico e pelo desenvolvimento de línguas de sinais emergentes (ou sinais caseiros). Nesta tese, todavia, nosso objetivo é, ao assumir uma perspectiva sociolinguística, trazer para o centro das discussões sobre a emergência das línguas de sinais de um modo geral, e da Libras, em particular, o papel dos gestos na composição do léxico. Esta tese está organizada da seguinte forma: 17 A seção 2, Fundamentação Teórica, está subdividida em três subseções. Na primeira subseção, tratamos dos estudos sobre gestos, desde Antiguidade clássica, na tradição ocidental, que começou a estudar a relação e importância dos gestos na retórica, e posteriormente, nos estudos sobre as línguas de sinais, que ajudam muito aprofundar e discutir melhor sobre gestos. Retomaremos também as pesquisas mais atuais que estudam relação gesto e fala. Na segunda subseção, trazemos algumas noções básicas e aspectos linguísticos da Libras, apresentando uma resenha de estudos de fonologia, que podem ser considerados como tipo de estruturalismo, que são estudados ainda até dias de hoje. Na terceira subseção, apresentamos um resumo de estudos sociolinguísticos sobre variação e mudança linguística, com ênfase na mudança lexical motivada pelo contato linguístico. Na seção 3, apresentamos a Metodologia de coleta de dados referentes aos emblemas lexicalizados na Libras. A metodologia se deu em 4 etapas: I) Juntar os dicionários e vídeos trabalhados na pesquisa e coletar os emblemas italianos, franceses e brasileiros; II) Selecionar e recolher os dicionários de Libras e coletar os sinais da Língua Brasileira de Sinais referente aos emblemas; III) Analisar a comparação entre os emblemas coletados e os sinais da Libras que fossem iguais ou apresentassem semelhanças fonológicas; IV) Analisar e identificar nos casos observados no qual havia semelhança separando em cinco possibilidades referentes às mudanças nos parâmetros dos emblemas coletados que participaram dos sinais coletados. A seção 4 apresenta as análises e os resultados. Foi encontrado um total de 145 emblemas que participaram nos sinais da Libras. A análise apresenta como resultados: a porcentagem de sinais da Libras que são iguais aos emblemas; quantos são de origem italiana, de origem francesa e de origem brasileira; também apresenta a quantidade desses emblemas que participam dos dicionários analisados. Esses dados nos propiciaram um bom embasamento para fomentar as discussões da seção seguinte. Na seção 5, trazemos uma discussão tendo sempre em vista toda a historicidade das pessoas surdas, das línguas de sinais, da educação dos surdos, também dialogando com a linguística, abordando os estudos dos gestos e os estudos sociolinguísticos, podendo, como resultado da pesquisa desta tese, constatar que os emblemas sim, participam da Libras, o que nos permite discutir mais abrangentemente o conceito de Língua e da Língua de Sinais, também refletir acerca do conceito de emblemas e de sua importância nos estudos linguísticas como forma de contribuição para a expansão e melhoria de futuros estudos da área. Na seção 6, apresentamos a conclusão da tese, embasados por todo o processo apresentado, desde a articulação dos conceitos teóricos apresentados, dos estudos fonológicos da Língua de Sinais e da Sociolinguística juntamente com os emblemas, podendo identificar nas análises que 18 esses participam da Libras para chegarmos à reflexão de que os emblemas fazem parte das línguas de sinais, portanto podemos chegar a conclusão que os emblemas são um fenômeno linguístico de grande importância para a sociedade e nós como pesquisadores necessitados considerar os emblemas como parte da linguagem. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para poder analisar e discutir a relação entre emblemas e sinais da Libras, faremos uma contextualização do problema a partir dos estudos de gestos, fonologia das línguas de sinais e sociolinguística. 2.1 ESTUDOS DE GESTOS Todos os corpos dos seres humanos são envolvidos na comunicação, através do movimento de mãos, cabeças, braços, etc. No entanto, o entendimento do que é um gesto não é óbvio. Nosso objetivo nesta subseção é discutir a natureza, a definição do gesto e emblema. O conceito de gesto apresenta múltiplos significados. Os significados têm origem nos estudos de vários pesquisadores de filosofia, arte, comunicação, linguística e entre outros. Até alguns de nós, Surdos, temos determinadas visões, conceitos sobre o que é gesto. Atualmente podemos entender o conceito do gesto que vem do latim lat. géstus, que é movimento, atitude, gesticulação, visagem, esgar, careta (HOUAISS; VILAR, 2001). Para Pereira (2010), o gesto é uma ação do corpo visível e (in)voluntária, também é uma forma de comunicação não verbal dos indivíduos que querem expressar sentimentos e pensamentos usando o corpo, mãos, braços e expressões faciais e corporais. Um gesto pode acontecer sem ou com a combinação com uma comunicação verbal. Pode como co-fala e ou mesmo substituir e vice-versa. “A expressão gestual serve tanto a intenção cognitiva, expressiva ou descritiva, quanto a referências de ordem afetiva.” (RECTOR; TRINTA, 1993, p. 21). Cada indivíduo expressa vários sentimentos e pensamentos através do corpo, pode ser feito com uma parte do corpo e ou corpo inteiro, pode fazer como intencional ou não. 19 'Gesto' aqui se refere à grande variedade de maneiras nas quais os humanos, através ação corporal visível da expressão a seu pensamento e sentimento, chama atenção a coisas descreve coisas se comprimenta uns aos outros ou se envolvem em ações naturais como em cerimônias religiosas (KENDON, 2013, p. 1)2. Os gestos podem facilmente ser identificados pelos movimentos corporais da cabeça, olhos, expressão facial, mãos, posições, movimentos do corpo. A produção de gestos não é voluntariamente sem contexto, mas de acordo com contextos, considerados como os fatores sociais, históricos e culturais como em quaisquer línguas, os sistemas linguísticos não vivem em si isolados. Segundo Kendon (2004, p. 7), “[p]ara entender o melhor sobre gesto, assim ‘ação visível usada como um enunciado ou parte de um enunciado”. Os gestos não são apenas elementos de comunicação como as expressões verbais, os pensamentos e sentimentos através do corpo, mas também são elementos da cultura. Para Rector e Trinta (1985, p. 19), “[a] comunicação tanto verbal como não-verbal, a transmissão e a recepção de uma mensagem, o entendimento entre os seres humanos, é uma questão de natureza cultural”. As formas das palavras e dos gestos representam como um código, um sistema de cada cultura ou meio social. A relação entre línguas e cultura ou meio social sempre está sujeita à variação como mostram os estudos de sociolinguística. Este uso por alguns grupos culturais é mais frequente do que em outros e esta variação da quantidade da gesticulação constitui um fator cultural. Isto se dá porque diversas partes do corpo humano são solicitadas de forma diferenciada, de acordo com as demandas da vida individual e social (PEREIRA, 2010, p. 35). Os exemplos das variações dos gestos dos discursos entre indivíduos diferentes, pode ser regional ou social. Pereira (2010) afirma que há diferenças em relação ao ritmo, à prosódia, movimentos das mãos, contato visual e expressões faciais. E, mesmo inconscientemente, também os indivíduos desenvolvem características corporais, sua bagagem cultural como nos seus movimentos, sua forma, são de acordo com o contexto social, histórico familiar, experiências motoras e emocionais. Por essas questões culturais, os gestos podem ter interpretações diferentes, variando de cultura para cultura, também depende da cultura do receptor e emissor. 2 ‘Gesture’ here refers to the wide variety of ways in which humans, through visible bodily action, give expression to their thoughts and feelings, draw attention to things, describe things, greet each other, or engage in ritualized actions as in religious ceremonies (KENDON, 2013, p. 1, tradução nossa). 20 Os estudos de gestos (EKMAN; FRIESEN, 1969; McNEILL, 1992) e muitos outros identificam que um gesto pode ter significados diferentes em contextos culturais diferentes, como por exemplo um gesto (emblema) para EUA, significa que “está tudo bem” (Figura 1), mas para alguns países latinos, Turquia e Rússia, significa um insulto. Fonte: acervo do autor. Nos estudos de gestos, existem muitas classificações, às vezes contraditórias, como linguagem corporal, comunicação não-verbal, entre outros. Os conceitos podem ter definições contrárias, como por exemplo, alguns linguistas acreditam que os gestos podem ser quebrados em fonemas, em contraste com outros linguistas que acreditam que não. Por outro lado, esses estudos, que apresentaremos a seguir, consideram que os gestos são aspectos cognitivos, com status cognitivo que pode ser descrito e analisado. Atualmente, os significados de gestos, seus conceitos, há várias perspectivas, com estudos nas áreas de comunicação, arte, e mais nova cognição humana. ‘Gesto’ não é uma categoria bem definida. Embora haja um núcleo de fenômenos, tal como é mencionado, aos quais o termo é geralmente aplicado na prática sem disputa, não é possível estabelecer limites claros ao domínio de sua aplicação, e alguns escritores estão inclinados a incluir um alcance muito mais grande de fenômeno do que os outros (KENDON, 2013, p. 2, tradução nossa)3. 3 ‘Gesture’ is not a well-defined category. Although there is a core of phenomena, such as those mentioned, to which the term is usually applied without dispute, it is not possible to establish clear boundaries to the domain of Figura 1 – Emblema O.K. 21 Kendon (2005) foi um dos primeiros a estudar a história dos estudos sobre gestos, desde a antiguidade da tradição ocidental. Ele nota que o conceito do gesto não é único, mas sim vários. Pereira (2010), para entender o gesto que foi desenvolvido por muitos anos nos seus vários estudos e tratados de pensadores desde a antiguidade. Na história, alguns dos trabalhos sobre gesto, que foi uma evolução do conceito e sua variedade teoria. Os estudos sobre gestos vêm de muitos milênios atrás, um dos registros do estudo inicial foi na antiguidade clássica, na tradição ocidental, área de retórica, primeiro o estudo de formas de gestos com discurso, consideram o gesto é fundamental na arte de retórica como os oradores podem influenciar os outros. Kendon (2013) apresenta uma história do estudo de gestos, desde antiguidade até dias atuais; só mostra na tradição ocidental, e não outras tradições como Índia, onde há muitas discussões sobre gestos. Do levantamento feito por Kendon (2005), nesta tese, destacamos alguns dos pesquisadores selecionados, os que são mais interessantes para os objetivos da pesquisa. Na tradição Romana, Marcus Tullius Cicero (106 a 43 a.C.) discute sobre os gestos na arte da oratória, como o rosto deve ser usado para expressar no discurso. Marcus Fabius Quintilianus (30 a 95 d.C.) discute sobre os gestos no período Romano, para treinar aos jovens oradores como usar gesto no discurso retórico, a importância da voz e do movimento (KENDON, 2005). Julius Victor (por volta do século IV d.C.) mostra a importância dos gestos, especialmente o olhar e a mão; para ele, mãos como uma segunda palavra, por exemplo: pedir, prometer, chamar, despedir, ameaçar, suplicar, temer, interrogar, negar, e também expressar os sentimentos como alegria, tristeza, hesitação, aprovação, arrependimento, a medida como quantidade, número, tempo; acreditam que pode ser substituído por advérbios, pronomes, entre outros (PATILLON, 1990). John Buwler (1606-1656), médico e filósofo, inglês, observou dois surdos conversando, passou a acreditar que os gestos são relevantes à comunicação humana, como a comunicação entre surdos e não surdos; desenvolveu um método para comunicar com surdos; publicou cinco trabalhos que pesquisa a comunicação corporal e humana, especialmente pelo gesto, a publicações e conhecidas da área de surdos e gestos: Chirologia, ou Linguagem Natural da its application, and some writers are inclined to include a much wider range of phenomena than do others (KENDON, 2013, p. 2). 22 Mão; e Chiromania, ou a Arte da Retorica Manual; também seguindo o Quintilianus, registrar os gestos e movimentos corporais, uma coleção ilustrada de gestos. Ele discute sobre o uso do gesto de falar em público, comunicação com as pessoas surdas, leitura labial, de olhar. Tinha identificados e discutidos sessenta e quatro gestos das mãos. Para ele, o gesto tem um caráter universal da razão, era discurso natural, como linguagem natural, da natureza humana para todos indivíduos, como palavras escritas quanto gestos, que todos indivíduos podem expressar os pensamentos e emoções. [A mão] Fala todas as línguas e como caráter universal da razão é geralmente entendido e conhecido por todas as nações, entre as diferenças formais, das suas línguas. E sendo o único discurso que é natural para o homem, E também pode muito bem ser chamado de língua e linguagem geral da natureza humana, que, sem ensinar o homem de todas as regiões habitáveis do mundo, fazem entender mais facilmente na primeira vista4 (BOWLER, 1644, [n.p.], tradução nossa). 4 No original: “[The hand] speaks all languages, and as universal character of Reason is generally understood and known by all Nations, among the formal differences of their Tongue. And being the only speech that is natural to Man, it may well be called the Tongue and General language of Human Nature, which, without teaching, men in all regions of the habitable world doe at the first sight most easily understand”. 23 Alguns anos depois da publicação, John Bowler se tornou um dos primeiros educadores de surdos na Inglaterra, a publicação de Chirologia, é referência e ainda usada na língua de sinais britânica atualmente. Fonte: The Public Domain Review (2021). Figura 2 – Capa de Chirologia, ou Linguagem Natural da Mão (1644) 24 Fonte: The Public Domain Review (2021). McNeill (1992) e Kendon (2013) explicam desde no século XVIII, os filósofos preocupados com a origem da linguagem, sua base, razão, nessa época, eles acreditavam que as primeiras línguas eram gestuais. Gilbert Austin (1753-1837), educador irlandês e sacerdote; influenciado por alguns escritores Quintilianus e John Bulwer, como a importância da voz e uso do gesto para ter discurso bem sucedido, o seu trabalho Chironomia, or a Treatise on Rhetorical Delivery, Chironomia de Gilbert Austin, publicada em 1806, um manual sobre expressão do corpo para efeito retórico, enfatiza os movimentos de todo corpo, incluindo os gestos das mãos, expressão do rosto e da voz; descreve os especificados tom de voz, várias posições dos pés, membros inferiores, os braços, as mãos, cabeça, olhos, ombros e até o corpo em geral. Para ele, cada Figura 3 – Chiromania, ou a Arte da Retorica Manual (1644) 25 corpo, gesto tem significado como um índice, para um público. Também para ele, o gesto é atemporal e universal, também faz parte de entonação, transcende as idiossincrasias da cultura e do país, e até que os humanos se comunicam com os animais. Ele descreve o gesto como transmitir um significado. Fonte: Austin (1806, p. 133). O Sistema de rotação dos gestos apresenta uma representação do corpo em uma esfera imaginária, onde o falante movimenta seu corpo, pés e mãos em determinada direção. Figura 4 – Sistema de rotação – representação da esfera imaginária 26 Fonte:Austin (1806). Austin (1806) apresenta as posições das mãos, como são usadas e seus significados pelos oradores. Essas posições atualmente podem ser consideradas emblemas, icônicos, metafóricos, dêiticos e entre outros. Nessa época, tinha outro estudo importante por Albert M. Bacon (1875 apud KENDON, 2005) baseado em Austin, ele complementa mais uma variedade de expressões faciais, esfera e posições das mãos. Figura 5 – Posições das mãos usadas pelos oradores 27 Fonte: Kendon (2005). Wilhelm Wundt (1832-1920), um dos pontos interesse de conexão entre gesto e pensamento, no laboratório moderno de psicologia no Instituto Experimental de Psicologia da Universidade de Leipzig na Alemanha, pesquisa sobre gestos convencionalizados, como os gestos dos napolitanos, dos índios americanos, e a linguagem de surdos (época ninguém usa o nome língua, sempre usa o nome linguagem). Condillac (1756) que afirma que a linguagem original é gesto; François Delsarte (1893) o gesto é como intérprete do discurso, por exemplo, o gesto de “eu amo você” diz muito mais do que as palavras; Rudolf Laban (1879-1958) como referência no estudo dos gestos, decifra os movimentos humanos, uns seus movimentos têm significados. Figura 6 – Esfera e posições das mãos de Bacon em 1875 28 Segundo McNeill (1992) antes do David Efron, os estudos não foram objetivados e especificados dos gestos que acompanham a fala, até em 1941. David Efron se propôs a estudar a relação entre gesto e a fala. David Efron, em 1941, realiza pesquisa sobre gestos espontâneos, na sua tese, Gesture and Environment, bem científico, com método, em comparação com os pesquisadores anteriores, usou vários métodos de pesquisa, realizando observação visual, filmes mudos em câmera lenta e inúmeros desenhos. Um dos objetivos da pesquisa era desmentir os cientistas nazistas que diziam que os gestos foram herdados através da raça. Ele estudou, observou e analisou dois grupos de imigrantes, especificados, grupos de judeus e italianos, da parte baixa do leste da cidade de New York, com o objetivo de analisar os gestos espontâneos e cotidianos. O autor descreve os gestos que acompanham a fala, introduzindo as categorias gestuais. Descreveu as diferenças de gestos dos judeus e italianos; sua perspectiva antropológica. David Efron observou e analisou os imigrantes, principalmente judeus do leste europeu e italianos do sul, até nos filmes em câmara lenta e inúmeros desenhos, estudou principalmente os gestos espontâneos do cotidiano, o que judeus e italianos usam como gestos e assim, comprovou que os gestos não são herdados da raça. O livro do David Efron pode ser uma importante fonte de informação sobre a gesticulação, sua história, e mostra que gestos estão relacionados com cultura e política. Posteriormente, nos estudos, ele aprofunda e amplia um esquema de classificação da linguagem não-verbal, identificando cinco tipos de gestos: emblemáticos, ilustrativos, reguladores da interação, indicadores do estado emocional e de adaptadores. O pesquisador sobre expressões humanas do Paul Ekman, americano, psicólogo, na época dos anos 1950, poucas descobertas sobre as expressões humanas, na sua época, só livro do Darwin e Margaret. Considerando a expressão das emoções no homem e animais, ele deu início de conhecimento sobre as humanas, aprofundou nas expressões e desvendou um debate entre Darwin (The Origin of Species, 1859) e Mead (On the Influence of Darwin's Origin of Species, 1909), acreditavam que expressões físicas eram inatas, porém descobriu que não era só inata, que eram elementos culturais. Ekman (1969) fez muitas pesquisas por diferentes países e culturas e registrou expressões emocionais dos indivíduos, para buscar as respostas sobre o que Darwin e Mead, que acreditavam que a expressão das emoções é inata. Uma das pesquisas mais interessantes foi na Papua Nova Guiné. Depois disso, também começou a pesquisar sobre as mudanças nas expressões das pessoas quando, por exemplo, estão mentindo. Na década 1970, os estudos sobre gesto por Ekman e Friesen (1969, 1972) e Ekman (1999) fazem revisão e ampliação para melhor. Nesses trabalhos, mostram que o gesto é um 29 produto cultural, a influência da abordagem e do método etológico, como por exemplo os estudos de interação face-a-face, entre mãe e filho, entre adultos, etc. Os autores identificam 5 tipos de gestos, num esquema de classificação de gesto: ilustradores, manipuladores, reguladores, emblemáticos e exposições da influência.  Ilustradores: como gesto de co-fala, acompanham a fala, sincronia, ajudam e reforçam as informações, gestos ilustrativos servem para demonstrar, dar forma o que está falando, geralmente aumentando do que é dito, e também às vezes contrário do que dito, por exemplo uma pessoa está descrevendo uma pessoa bate de uma pessoa e faz o gesto com a mão aberta simulando uma tapa; desenhar uma imagem de algumas coisas; também como dêitico, movimento de apontar algumas coisas; movimento espaciais, descreve uma relação; direcionar de um itinerário de caminho; movimentos rítmicos que mostra de um ritmo ou uma estimulação de um evento. São normalmente realizados com as mãos, e também com a cabeça e podem envolver até mesmo os pés. Gestos ilustradores são socialmente aprendidos, como aprende sua primeira língua.  Manipuladores: os gestos utilizados, como acariciar, apertar, arranhar, morder, lamber, chupar, podem ser no próprio corpo, em objetos ou em outras pessoas, uma forma de inconsciente e também podem parecidos ser realizados de vários níveis de consciência, como estado de ansiedade, nervosismo, tensão, alegria, amor entre outros.  Reguladores: são movimentos produzidos por quem fala ou por quem ouve para controlar os turnos de fala na conversa, como por exemplo inclinações de cabeça, de olhar, faz gestos pedem mais alto, menos, mais devagar, etc.  Expressões emocionais: são as expressões emocionais, são gestos involuntários que passam informações importantes para outros. Também podem aproximar ação, pensamento. Não são aprendidos; variam indivíduos, sociais e culturais; depende contextos de muitas.  Emblemas: são gestos usados de forma consciente, pensada, sendo opcionais ao uso; podem ser co-fala, sendo expressos junto com uma palavra ou uma frase, mas também possuem significado próprio, podendo ser compreendidos mesmo sem nenhum complemento de palavras; possuem um caráter arbitrário como uma convenção social, tem um significado, podendo representar uma palavra, uma 30 frase, ou um discurso. Abaixo ilustramos alguns exemplos de emblemas que podem ser usados de forma positiva ou amorosa. Este emblema, da mão fechada com o polegar levantado, pode representar uma palavra ou mesmo uma ideia de afirmação, como “bom”, “bem”, “positivo” entre outros. Também pode representar uma frase, como “oi, tudo bem?” – “tudo bem!”. Figura 7 – Mão fechada com o polegar levantado Fonte: Google Imagens5. O emblema da figura, pode representar uma palavra, como “amor”, “coração” e também pode representar uma frase, como “eu te amo!”, “gostei!” entre outros. Fonte: Google Imagens6. Depois de Efron e Ekman, outros pesquisadores como Kendon, McNeill, que aprofundaram no estudo dos gestos e sua a relação com línguas, investigam vários e diferentes 5 Disponível em: https://images.app.goo.gl/5LCqy3yyfJGgtf8N6. Acesso em: 5 mar. 2021. 6 Disponível em: https://images.app.goo.gl/YyCPBirwZftiJVFM6. Acesso em: 5 mar. 2021. Figura 8 – Mãos em forma de coração https://images.app.goo.gl/5LCqy3yyfJGgtf8N6 https://images.app.goo.gl/YyCPBirwZftiJVFM6 31 aspectos dos gestos e propõem a relação e integração do gesto e da língua; numa comunicação, convencionalização, do discurso, da evolução da língua(gem) e entre outros. Para evitar confusões e distorções, precisamos esclarecer que os seres humanos têm capacidade de expressar uma variedade de sentimentos e pensamentos, por vários tipos de comunicação, bem como escrita, fala e também pela expressão corporal. A comunicação do corpo, portanto, também faz parte de toda a linguagem. Contudo existe uma diferença entre a linguagem corporal e os gestos (dos aspectos cognitivos e sua relação com a linguagem oral). A linguagem corporal pode receber nomes como linguagem do corpo e linguagem não- verbal. A Linguística de uma forma geral reconhece que há linguagem sem palavras com vários sentidos, são fáceis de identificar: cabeça, olhos, mãos, posições do corpo, movimentos do corpo, expressão facial, entre outros; que são processo do que pessoas usam intencionalmente e ou não, exprimir experiências, sentimentos, pensamento, entre outros. Fonseca (2008) apresenta os gestos que podem exprimir experiências, sentimentos, pensamentos, entre outros, veja figura: Figura 9 – Gestos de experiências, sentimentos, pensamentos, entre outros Fonte: Fonseca (2008, p. 127). Também há outras pesquisas, outros estudos, acreditam que esses elementos do gesto têm um papel fundamental. Para Rector e Trinta (1993, p. 21), elementos não verbais da 32 comunicação social são responsáveis por cerca de 65% do total das mensagens enviadas e recebidas no processo de interações. Veja algumas expressões corporais, e seus sentidos, os elementos importantes, desenvolvido por Rector e Trinta (1999, p. 28): Quadro 1 – Expressões corporais Não-verbal Formas Interpretações possíveis O olhar Fixo; esquivo; de esguelha; esperto; distante; etc. Informa sobre estados afetivos; sobre a “vida interior”; traduz um significado moral (franqueza, honestidade); dá indicação de dotes pessoais (inteligência, profundidade) Os meneios de cabeça Cabeça erguida ou baixa; rigidez; pescoço encolhido ou estirado; movimento. Pontuam as frases (expressão verbal), acompanhando a entonação ou reforçando-a; substituem-se as formas verbais de afirmação ou negação (“sim”, “talvez” e “não”) As mãos Cruzam-se; colocam-se em repouso uma sobre a outra; dão socos no ar; abrem-se, exibindo a palma; crispam- se; os dedos se mexem. Remetem à palavra, duplicando-a; dão uma “imagem” do pensamento; registram a tensão, o medo ou o “à vontade” da pessoa; denunciam suas posições ou convicções Os gestos Movimentos dos braços, dos ombros e das mãos; a expressão corporal. O corpo “fala”; substituem a palavra ou realçam a expressão linguística, dando “vida” e “cor”; informam sobre estados afetivos As posições do corpo Peito inflado; busto erguido; posições das pernas; maneiras de sentar-se. Informam acerca de características psicológicas da pessoa; informam acerca do grau de segurança, desenvoltura, timidez; estatura moral; posição hierárquica Os movimentos do corpo Sentar-se; levantar-se; mexer-se (de pé ou sentado); Registro de sensações de ordem geral, provindas das formas em 33 bater com os pés; andar de um lado para outro. que se desdobra o “diálogo” (contentamento, perplexidade; irritação; ansiedade etc.) A mediação dos objetos “brincar” com lápis; com cigarros; com relógio; com óculos; com o próprio rosto; com botões da roupa; rabiscar. Assim se procede para “liberar” a tensão; disfarçar a apreensão; serve à indicação de cansaço ou desinteresse; serve para indicar busca ou manutenção de autocontrole Os ruídos Tosse; pigarro; “limpeza” da garganta; barulhinhos com a boca; suspiros; exclamações etc. Intenção de manifestação fora dos domínios estritos da palavra articulada As manifestações psicofisiológicas Enrubescer; empalidecer; sentir “calores” ou calafrios; gaguejar; tremer; suar; “frio”; crispar-se; ter a respiração alterada. Informam sobre condições psicológicas (normais ou anormais): forte emoção, medo, surpresa; assinalam transformações: perplexidade, desgosto, raiva etc. Fonte: Rector e Trinta (1993, p. 28). Para estudo de gestos, para aquilo que nos interessa nesta tese, é preciso apontar que há diferença entre os estudos de linguagem corporal, como comportamento não verbal (postura, cruzamento as pernas e braço; arranhar, mexer cabelo, brincar com um objeto e etc.), que não são gestos comunicativos, e uma expressão linguística e comunicativa, que envolve emblemas aos quais podemos atribuir significado, como, por exemplo, o gesto de uma mão com polegar para cima que indica "positivo" e para baixo, "negativo". Kendon (2004) afirma que as várias classificações de gestos podem ser confusas e distinções entre semióticos e funcionais, às vezes, podem misturar. Vimos no presente trabalho a explanação sobre gestos. O termo “gesto” tem significado, conceito. É um termo que não tem uma única significação, tampouco há unanimidade quanto à sua definição, pois depende de levarmos em consideração o uso desse termo no decorrer da história e como cada autor o utiliza em suas argumentações e objetivos. É importantíssimo lembrar que quando falamos de gestos nós associamos às diversas expressões corporais. 34 Entretanto, na pesquisa científica usam-se variadas expressões. Há diferentes vocábulos dentro de uma ampla classificação arbórea do termo “gestos” que como disse depende de cada autor sobre o tema e todos nós conhecemos seu uso. No presente trabalho, nesta tese, usaremos para clareza de todos, em especial uma expressão dentre outras na classificação, a palavra “emblema”. Efron (1941, 1968), Ekman e Friesen (1969, 1972) e Ekman (1999) apresentam a definição de emblemas como signos, como uma palavra visual, ou seja, um sinal, que faz parte da cultura, é aprendido e ensinado como linguagem verbal. São usados intencionalmente, pensados; o emissor tem consciência e controle, como igual às palavras faladas e sinais. Cada emblema tem suas formas (significante) padrão, e seus significados podem representar uma palavra, uma frase ou um discurso. Seus suportes são várias partes do corpo como mãos, braços, expressões faciais e cabeça. Por exemplo, o ator brasileiro Chico Anysio, no programa de humor “Escolinha do Professor Raimundo”, no final do programa sempre há um bordão “e o salário ó!” no mesmo tempo faz gesto com o dedo indicador e polegar, veja a Figura 11. Fonte: Google Imagens7. 7 Disponível em: https://images.app.goo.gl/ifvbi4EbYokRH7hy6. Acesso em: 5 mar. 2021. Figura 10 – Emblema de “pequeno” https://images.app.goo.gl/ifvbi4EbYokRH7hy6 35 Outro exemplo de emblema conhecido como levantar o polegar para cima para falar que “está tudo bem”, como na Figura 8; mas o seu significado não é único, pois existem outros países como Tailândia, Bangladesh e Irã, o significado dele é diferente, como gesto obsceno. Os gestos têm seus significados e dependem de cada cultura. Os emblemas são a única verdadeira linguagem corporal que nas quais esses movimentos têm um conjunto de significados precisos que são compreendidos por todos os membros de uma cultura ou subcultura. O termo ‘emblemas’ é tomado de Efron (1968), pioneiro no estudo das diferenças culturais em movimentos corporais. Emblemas são socialmente aprendidos e como linguagem culturalmente variáveis. Uma mensagem pode ter um emblema em uma cultura, e não emblema em outro ambiente cultural. Ou o mesmo movimento padrão pode ter significados bastante diferentes em diferentes ambientes culturais8 (EKMAN, 1999, p. 39). Ekman (1999) explica que emblemas usados por um grupo de determinado lugar ou cultura, quando há contato, direto ou através da massa, podem ser adotados por outros grupos de outra cultura. Veja alguns exemplos de emblemas usadas no Brasil: Fonte: Harrison (1983, p. 96). 8 No original: “Emblems are the only true 'body language', in that these movements have a set of precise meanings, which are understood by all members of a culture or subculture. The term 'emblem' I borrowed from Efron (1968), the pioneer in studying cultural differences in body movements. Emblems are socially learned and thus, like language, culturally variable. A message may have an emblem in one culture, and no emblem in another cultural setting. Or the same movement pattern may have quite different meanings in different cultural settings”.) Figura 11 – Emblema brasileiro de “juro” 36 Fonte: Harrison (1983, p.102). Fonte: Dominique (2005, p. 9). Fonte: Dominique (2005, p. 9). Figura 12 – Emblema brasileiro de “pão de duro” Figura 13 – Emblema brasileiro de “boa vida” Figura 14 – Emblema brasileiro de “estar com dor de cotovelo” (ciúme) 37 Veja alguns exemplos de emblemas italianos: Fonte: Caon (2010, p. 43). Fonte: Caon (2010, p. 208) Fonte: Cavallo (2017, p. 411). Figura 15 – Emblema italiano de “perfeito” Figura 16 – Emblema italiano de “impossibilidade” Figura 17 – Emblema italiano de “eu te venci” 38 Fonte: Munari (1999, p. 104). Veja alguns exemplos de emblemas franceses: Fonte: Learn French with Vincent9. 9 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MJCeUUJ9kls. Acesso em: 1 mar. 2021. Figura 18 – Emblema italiano de “parabéns” Figura 19 – Emblema francês de “Eu, quieto” https://www.youtube.com/watch?v=MJCeUUJ9kls 39 Fonte: Learn French with Vincent10. Fonte: Learn French with Vincent11 Fonte: Learn French with Vincent12 10 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LRzRJnCWPPg. Acesso em: 1 mar. 2021. 11 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q4AzFUcjh1Y. Acesso em: 1 mar. 2021. 12 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OOBUWCVQZnU. Acesso em: 1 mar. 2021. Figura 20 – Emblema francês de “mentira” Figura 21 – Emblema francês de “Nem mesmo isso” Figura 22 – Emblema francês de “Segure, tenho uma prova” https://www.youtube.com/watch?v=LRzRJnCWPPg https://www.youtube.com/watch?v=q4AzFUcjh1Y https://www.youtube.com/watch?v=OOBUWCVQZnU 40 Nesta tese, desejamos compreender nitidamente a expressão “emblema”. Comparando com quaisquer palavras sejam das línguas orais ou de sinais, por exemplo, uma palavra ou sinal tem igualmente dentro dela forma, significado e variações que ocorreram em cada uma no decorrer do tempo e da história, tais como mudanças, neologismos dentre outras. Adam Kendon, representa um referencial para o estudo dos gestos, por muitos anos. Desde 1972, investiga muitos aspectos dos gestos, buscando especificar seu papel na comunicação e na evolução da língua(gem), a convencionalização do gesto, a integração do gesto e do discurso e a unidade entre a fala e o gesto. Sua pesquisa sempre se voltou para a interação face-a-face, línguas de sinais e gestos. Para o autor, o gesto é importante para o discurso, pois os dois formam uma unidade de enunciado. Um dos trabalhos muito relevante, a proposta de integração do gesto e do discurso de Kendon, fez uma classificação muito eficiente e prático chama-se continuum, baseado de trabalho do Kendon (1988), que foi elaborado por David McNeill (1992, 2000, 2005). Alguns trabalhos de Kendon buscou estabelecer a ligação entre linguístico e não linguístico, esclarecendo algumas contribuições sobre gesto, considerou que os gestos como um fenômeno natural e universal, discutindo sobre a diferença entre gesto e sinal acreditando que os estudos das línguas de sinais contribuem para o estudo dos gestos. Os estudos de Kendon (1988) os gestos têm seus aspectos de convencionalidade e seus valores comunicativos, assim, foi chamada posteriormente por McNeill (1992, p 37) de continuum de Kendon: Gesticulação > gestos idênticos à língua > pantomima > emblemas > língua de sinais. A gesticulação é a realização de movimento espontâneo dos braços, das mãos e de outras partes do corpo, que acompanha a fala. Os gestos idênticos à língua são gesto que acompanham a fala como cofala, estando integrados aos enunciados. Na pantomima, as mãos e corpo que demonstram objetos e ações. A fala, nesse caso, não é obrigatória. Emblemas são padrões consensuais. As línguas de sinais são línguas naturais com sistema linguístico (gramática, léxico etc.) próprio. McNeill (1992) colocou 4 tipos de gesto de continuum de Kendon; a gesticulação, refere um movimento espontâneos, idiossincráticos dos produzidos pelas mãos e dos braços, que acompanhar a fala; também pode chamar-se de cofala. Pantomima, por meio de gestos, os movimentos corporais e faciais, fazer uma mímica, exprima uma ação humana ou um objeto; 41 as ideias ou sentimentos; mas não é obrigatório de acompanhar a fala. Emblema, produção de gestos convencionalizados que tem significados definidos por comunidades culturais, que foram apreendidos juntamente com sua primeira língua; eles podem ocorrem como acompanhar a fala e ou não, considerados cofala. Língua de sinais, é sistema linguístico completa, tem convencional, estrutura e possui gramática como quaisquer as línguas naturais. A proposta de McNeill (2000) para o continuum de Kendon destaca que há muitas dimensões, que precisam ser definidas, como a relação com a fala, a relação com propriedades linguísticas, a relação com as convenções e a relação com caráter da semiose. Desse modo, o autor analisa cada item do continuum de Kendon tendo em vista essas diferentes relações:  Relação com a fala Quadro 2 – Continuum 1: relação com a fala Gesticulação → → Emblemas → → Pantomima → → Língua de sinais Presença obrigatória de fala Opcional presença de fala Obrigatória ausência de fala Obrigatória ausência de fala Fonte: elaborado pelo autor.  Relação com propriedades linguísticas Quadro 3 – Continuum 2: relação com propriedades linguísticas Gesticulação → → Pantomima → → Emblemas → → Língua de sinais Propriedades linguísticas ausentes Propriedades linguísticas ausentes Algumas propriedades linguísticas presentes Propriedades linguísticas presentes Fonte: elaborado pelo autor.  Relação com as convenções Quadro 4 – Continuum 3: relação com as convenções Gesticulação → → Pantomima → → Emblemas → → Língua de sinais Não convencionalizada Não convencionalizada Parcialmente convencionalizada Totalmente convencionalizada Fonte: elaborado pelo autor. 42  O caráter da Semiose Quadro 5 – Continuum 4: caráter da semiose Gesticulação → → Pantomima → → Emblemas → → Língua de sinais Global e sintética Global e analítica Segmentado e sintético Segmentada e analítica Fonte: elaborado pelo autor. Na relação com a fala, a gesticulação descreve uma imagem, como na fala, uma personagem em uma narrativa, por exemplo. Emblemas, na sua convenção social, têm seu significado, podendo ou ser acompanhados pela fala. Pantomima não é usada com fala, é usada, por exemplo, por mímicos tradicionais que fazem mímicas sem palavras. A língua de sinais é outra modalidade de língua e não está associada à fala. A relação com as propriedades linguísticas, a gesticulação e a pantomima não tem restrições e formas de sistema de fonologia, morfologia, sintaxe, pois são produções livres, que variam de pessoa por pessoa. Já os emblemas não são fixam às propriedades linguísticas como sistema. A língua de Sinais, como qualquer língua, tem propriedades linguísticas. Na relação com as convenções, a gesticulação e pantomima não têm os gestos convencionalizados e são dependentes de contexto, não ocorrem mesmo forma de gestos e significados como convencionalizados, pois a convenção é como uma forma e significado como convencional compartilhado social, comunidade, seu tempo. A língua de sinais se mostra convencionalizada sempre. Na relação de caráter semiótico, a gesticulação é global, não tem especificamente um foco, mas qualquer um que gesticule não estará muito focado com um lugar específico, uma locação; é em todo o espaço, global, pois, e sintética, pois um gesto que pode ter diferentes significados. A pantomima é global e analítica, porque pode separar e descrever a função do que quer expressar. Os emblemas podem ser segmentados, como uma sequência fonológica, e sintético. A língua de sinais é segmentada e analítica, porque há diversos sinais que estão em harmonia, concordância entre os elementos. Às vezes, isso não ocorre com outros sinais, por isso é analítico, ver como concordam entre si e ver cada detalhe. 43 Em resumo, segundo McNeill (2000): Quadro 6 – Resumo de Continuum de Kendon, segundo McNeill (2000) Relação com a fala Propriedades linguísticas Relação com convenção Caráter semiótico Gesticulação Presente Ausente Ausente Global e sintético Pantomima Ausente Ausente Ausente Global e analítico Emblemas Opcional Algumas Parcialmente Segmentado e sintético Língua de sinais Ausente Presentes Totalmente Segmentado e analítico Fonte: elaborado pelo autor. Kendon (2005) faz uma análise dos gestos tendo em vista um continuum entre seu valor não linguístico para o linguístico, assim como do não convencional para convencional. O autor defende a importância do estudo das línguas de sinais nesse estudo, tendo em vista que propõe que o gesto está na base da emergência dos sistemas linguísticos das línguas naturais. McNeill foi um dos primeiros a estudar o gesto de modo sistemático, propondo uma tipologia de gestos, buscando correlacionar pensamento e o gesto. Defende que os gestos produzidos durante a fala, que acompanham de modo sincronizado a fala, devem ser analisados como uma unidade inseparável, pois estão integrados no processo cognitivo. Para McNeill (1992, p. 23-24), o gesto e a língua têm ligação: a) Do significado, pois são semântica e pragmaticamente coexpressivos; b) Do tempo, realizando-se em sincronia um com o outro; c) Da função, desenvolvimento e dissolução pois se desenvolvem em conjunto na criança e desparecem juntos nos casos de afasia. Portanto, “junto formam um sistema e representam a mesma ideia de modos diferentes” McNeill (1992, 2002, 2005) mostra bem claro que ele defende a conexão, uma ligação, inseparável entre gesto e língua. Ele discorda de estudos anteriores mais tradicionais (INDICAR ALGUNS) que distinguem comunicação verbal e não-verbal, pois entende que constituem uma única realização da língua. Além de organizar o continuum de Kendon, o McNeill (1992, 2000, 2005) estuda a relação entre o pensamento e gesto, mostrando que os gestos ocorrem simultaneamente com a fala/discurso, durante as conversas, narrativas etc. 44 O McNeill (1992) distingue quatro tipos de gestos: Gesto icônicos, Gestos metafóricos, Gestos dêiticos e Gestos ritmados (beats):  Gestos icônicos: são gestos que representam e ilustram os objetos físicos para mostrar como é o objeto; pode oferecer informação complementar, exibindo significados de objetos e de ações, em resumo, na fala o gesto icônico como completa a imagem da cena em descrição;  Gestos metafóricos: são gestos que representam e referem às expressões abstratas metaforicamente para dar forma a ideia; podem parecidos muito aos gestos icônicos, mas é outro tipo que serve atua como uma imagem simbólico para uma ideia de um conceito; para compreender melhor o McNeill (1992, p. 145) explica geralmente os gestos icônicos mostram mundo real e os gestos metafóricos mostra mundo mental;  Gestos dêiticos: são gestos demonstrativos e direcionais ao objeto de que fala acompanha as palavras; também referem às coisas ou algum lugar, também pode ser que aponta algum abstrato quando quer referir algo; pode ser ausente ou presente algum; por exemplo gesto aponta o copo enquanto fala “o copo está em cima da pia”.  Gestos ritmados (beats): são gestos, batidas rítmicas que se ligam ao ritmo da fala de uma estrutura temporal do que fala; como batidas (golpes) de dedo, da mão ou do braço; como o gesto que marca um ritmo no discurso; Os resultados dos estudos de tipologia de McNeill, que durante as conversas e quando conta histórias, sempre expressam os 4 tipos de gestos (dêitico, icônico, metafórico e ritmo), mais frequentes, que eles ocorrem com a fala como simultâneos. E, expressam algum gesto repetido, como mesmo gesto, movimento ou localização do espaço, chama-se gesto coesivo, que pode expressar por gestos icônicos, metafóricos ou dêiticos, para que mostra uma continuação de um específico, diretamente as questões funcionais no discurso. Podem ocorrer como simultâneo, continuidade e a descontinuidade. McNeill (1992, 2005) também analisa a produção de gestos tendo em vista suas fases de realização e com base nos trabalhos de Kendon (1972, 1980) sobre as hierarquias dos movimentos gestuais. Uma produção de um gesto tem cinco fases, considerando seu começo até o final. 45  Preparação: é a fase que a mão move até uma posição ideal para stroke, como uma preparação;  Stroke (golpe): é uma fase que fazer um gesto, como ponto;  Retração: que retorna para descansar;  Sustentação: onde o gesto é mantido, mesma posição como um congelamento, não movimenta. Gesto é interesse desde a antiguidade, os clássicos foram Cicero (106 a 43 a.C.), Quintilianus (30 a 95 d.C.), Julius Victor (IV d.C.), John Bulwer (1606 – 1656), Gilbert Austin (1753 - 1837), Condillac (1756), Bacon (1875), Wilhelm Wundt (1832 - 1920), Laban (1879 – 1958), Delsarte (1893) acreditam que os gestos são um papel relevante para todo tipo de comunicação humana. Os pesquisadores como Efron (1941), Ekman e Firesen (1969) começam a estudar os gestos que acompanham a fala. Depois de Efron e Ekman, os pesquisadores que aprofundaram no estudo dos gestos a relação com línguas, investigam vários e diferentes aspectos dos gestos e propõem a relação e integração do gesto e da língua; numa comunicação, convencionalização, do discurso, da evolução da língua(gem) e entre outros. A respeito das pesquisas sobre gestos, nos Estados Unidos da América estas vem sendo desenvolvidas há tempo em diversas áreas da linguística, da psicologia e em outras áreas de estudo. Aqui no Brasil também as pesquisas sobre gestos já existem há muito tempo. Tomo como referência, primeiro, Câmara Cascudo, um intelectual mundialmente conhecido, da área da sociologia, não da área da linguística. Ele pesquisou diversas manifestações culturais coletando dados de vários sujeitos a partir da vivência e de suas experiências de vida. Outra referência, Pierre Weil e Roland Tompakow, pesquisou, assim como Cascudo, os gestos do corpo, linguagem não verbal, os movimentos corporais. Sua pesquisa foi muito mais focada na psicologia, antropologia, sociologia e não nos estudos linguísticos. Além de ambos, trago Rector e Trinta, estes na área da linguística. Estes autores pesquisaram os gestos brasileiros, principalmente os emblemas usando diferentes metodologias. Câmara Cascudo (1898 – 1986), pesquisador do folclore e da etnografia, nas pesquisas, fazem muitas viagens, fazia amigos e ouvia as histórias, também como historiador, passou muitas informações sobre a cultura brasileira, com base na antropologia, história e registros de vários elementos folclóricos brasileiros. Em 1976, escreveu uma história dos gestos (1976), distribui em 333 capítulos brevíssimos sobre gestos, vários gestos não-brasileiro; e mostra os 46 gestos típicos brasileiros, comuns que integram o dia-a-dia, que são observáveis no Brasil. Como os gestos, sua caracterização como negativa, afirmativas, normativas (ordens e convites) e religiosas (submissão, vênia, adoração, respeito), saudação. Os estudos dele sobre gestos mostraram que os gestos vêm por muitos anos anteriores, como a primeira linguagem humana. Defende também que o gesto é anterior às palavras e, portanto, atesta que a mímica não é complementar, mas uma provocação aos exercícios da oralidade. Conclui que sem gestos a palavra é precária e pobre. Para ele, o gesto é: “força definitória do pensamento pela atitude das mãos” (CÂMARA CASCUDO, 1976) “Antes das interjeições e onomatopeias, supriria essa deficiência oral” (CÂMARA CASCUDO, 1976, p. 5) “O gesto é tradutor da ideia e primeira linguagem humana” (CÂMARA CASCUDO, 1976, p. 5) “O gesto é anterior à palavra. Dedos e braços falaram mistérios antes da voz. As áreas do entendimento são infinitamente superiores as da comunicação verbal. A mímica não é complementar, mas uma provocação ao exercício da oralidade...” (CÂMARA CASCUDO, 1976, p.6) “O gesto é a comunicação essencial, nítida, positiva. Não há retorica mímica; apenas reiteração da mensagem. Essa limitação recorda o inicial uso entre seres humanos, quando o metal era pedra e a caverna abrigava a família nas horas da noite misteriosa” (CÂMARA CASCUDO, 1976, p. 6) “Aprende com mudos o segredo dos gestos expressivos” (1976, p. 6) “A palavra muda. O gesto, não” (CÂMARA CASCUDO, 1976, p. 6) “Além do ato instintivo, inconsciente, automático, puramente reflexo, evitação do sentimento doloroso, existe a infindável serie dos gestos intencionais, expressando o pensamento pela mímica, convencionada através do tempo” (CÂMARA CASCUDO, 1976 [2003], p.20). 47 O autor faz referência aos trabalhos de Rossini Tavares de Lima e Verissimo de Melo. Tavares (1953) baseia-se no estudo de Francis C. Hayes (DATA): o gesto como elemento autônomo da expressão emotiva. Câmara Cascudo denomina o gesto folclórico, que é sentir, do pensar, do agir e do reagir do povo, descreveu os gestos como admiração, ameaça, beber, dançar, dormir, desespero, distração, dúvida, embaraço, etc. Melo (1958), também baseado no estudo do Hayes, propõe que o gesto é uma segunda linguagem, que pode expressar sentimentos, atitudes, ideias, saudação etc. Weil e Tompakow (1983) produzem uma obra de psicologia aplicada, na qual se referem a signos e cinésica. Seu livro O corpo fala tem objetivo de dar o conhecimento sobre o que corpo comunica através de elementos não verbais. Eles propõem os princípios da linguagem corporal, na sua teoria de informação e percepção cinésica: 1- Os componentes simultâneos das mensagens em linguagem corpo humano sempre concordam ou discordam entre si (WEIL E TOMPAKOW, 1983, p. 87) 2- É possível discernir entre atitude conscientemente exteriorizada e consciente ou inconscientemente oculta; 3- A percepção e/ou a reação do receptor das mensagens podem ser de modo consciente e/ou inconsciente (WEIL E TOMPAKOW, 1983, p. 88) 4- Na percepção consciente de mensagens corretamente avaliada, o acordo dos componentes confirma a verdade da intenção convencionalmente exteriorizada; o desacordo dos componentes revela oposição reprimida à intenção convencionalmente exteriorizada (WEIL E TOMPAKOW, 1983, p. 89) Os autores mostram que o corpo expressa, querendo dizer sim ou não, sorriso, ternura, resistência, passiva, teimosia, atenção, interesse, desinteresse, avidez, expectativa, eu, submissão, domínio, acusação, ameaça, receio, medo, pavor, firmeza, franqueza, sensualidade, inveja, desconfiança, mutismo, persuasão, proteção, desafio, regressão, linguagem dos objetos, culpa, tensão, amor, invasão de território, etc. Em 1985, Rector e Trinta, voltados ao estudo de semiótica13, propõem que a semiótica da língua (comunicação verbal) seja acrescentada uma semiótica do gesto (comunicação não- verbal). Usando teoria geral dos signos como dividida em 3 partes entre si, os níveis: sintático 13 Se referem à semiologia da língua, diferente os termos semiologia de semiótica, porém evitamos confusões terminológicas adotando apenas o termo semiótica. 48 (combinatório), semântico (significativo) e pragmático (efetivo). Rector e Trinta (1985, p. 17 e 19) mostram a importância do gesto como um comportamento individual se torna um comportamento social, a cultura como uma questão de natureza cultural. Rector e Trinta (1985, p. 76) afirmam que todo gesto é uma ação. Um gesto é, elementarmente, uma ação pela qual se envia um sinal visual para quem está olhando; porém, para tornar-se um ato, deve comunicar algo ao receptor. Como, por exemplo, abanar as mãos como saudação, do espirro que pode interpretar como sintoma de resfriado, quando professor que chama a atenção a classe, transmitir os sinais por imitação como fazer cara alegre, simular para divertir, imitar o voo do avião, ocupar lugar de um objeto ausente, emblemas, dêiticos, e etc. Segundo os autores, o objetivo da pesquisa é estudar mais os emblemas, pesquisam, descrevem, analisam sistematicamente os gestos emblemas brasileiros, e explicam a linguagem dos movimentos do corpo. Rector e Trinta (1985), tendo em vista a linguagem dos movimentos do corpo, baseado na teoria de Birdwhistel (DATA), definem que a menor unidade é o cine, como, por exemplo, fonema; cinemorfe, como morfema; sintagma, como palavra sem frase, por exemplo, gesto sequência gestual e emissão e para gesto como ação, o contexto. Rector e Trinta (1985, p. 57) comparam entre unidades linguísticas e cinéticas, veja Quadro 7: Quadro 1 – Comparação entre unidades linguísticas e cinéticas Linguística Cinésica Som Grupo muscular e esqueleto Fone Alofone Cine Alocine (cinema) Morfe Alomorfe, morfema Cinemorfe Ato, ação Sintagma Palavra sem frase Sintagma Gesto, sequência gestual Emissão No contexto Ação No contexto Fonte: elaborado pelo autor. O autor Continuum de Kendon segundo McNeill (2000), diz que cada um dos emblemas podem sofrer quebras linguística, que podemos imaginar como as mudanças fonológicas, pequenas quebras nos emblemas, não de uma forma generalizada, como um fenômeno que acontece com todos os emblemas, mas que há a possibilidade que isso ocorra com alguns deles. Também temos outra pesquisa desenvolvida no Brasil, de Rector e Trinta (1985), onde eles dizem que os emblemas podem sim ser quebrados. Por meio desta pesquisa, naquilo que 49 conseguimos observar em algumas questões que se apresentam de forma congruente ou contrária aquilo que foi apresentado, podemos concluir que essas quebras podem acontecer, nos parâmetros das Línguas de Sinais, como configuração de mão, movimento, localização, orientação de mão e expressões não manuais, pois o emblema em si é a expressão desta mesma forma. E também Trinta e Rector (1985, p. 77) colocam uma classificação dos gestos:  Gestos expressivos, ações não-comunicativas, exemplo, professor que chama à atenção da classe se os alunos se sentam direito em suas carteiras e o professor fica animado;  Gestos mímicos ou icônicos, os gestos que expressam os sinais por imitação, exemplo, os mímicos fazem mímica, imita de dirigir o carro, e etc.;  Gestos simbólicos ou metafóricos, gesto mostra uma qualidade abstrata, não parece no mundo dos objetos, representam ideias;  Gestos codificados, gestos caseiros usados numa família que tem um familiar surdo;  Gestos técnicos, gestos usados no ambiente que não há possibilidade de usar fala por barulho alto;  Gestos incidentais; ações mecânicas que mostram uma mensagem secundária, por exemplo, de uma tosse, que pode interpretar como um sintoma de resfriado. Na pesquisa, eles usam o método de análise pela interação, baseado na metodologia da pesquisa sobre os gestos por 3 modelos diferentes: modelo de S. Johnson (1979), Ekman e Friesen (1969) e Morris (1979) no qual, pessoas de diversos lugares se encontram pessoalmente e anotam os gestos de uma conversação, sala de aula e entrevista. O processo se repete em vários locais, então, agrupam os dados e encontram 53 emblemas usados pelos brasileiros, na época. Rector e Trinta (1985, p. 113 – 114) na conclusão da pesquisa sobre comunicação gestual brasileira:  O brasileiro é mais sóbrio no gesticular do que, por exemplo, os italianos. Mas o brasileiro sempre acompanha com gestos o que diz. Para um norte-americano parecerá, porém, que gesticula muito. Os gestos mais próximos do corpo parecem ocorrer com maior frequência. Geralmente, não são nada discretos, como querendo abarcar o maior número de coisas e pessoas, ao mesmo tempo. Não faltam, porém, interagentes que 50 usam até mesmo gestos teatrais, no qual exigem a movimentação do corpo como elemento enfático e indicador de expressividade;  Há uma evidência de que os gestos são elementos rítmicos, que acompanham a manifestação do que se quer externar;  No uso gestual parece haver um dado evidente de expressividade e ênfase. O chamado malandro brasileiro exprime-se com a ‘ginga do corpo’;  As crianças gesticulam mais, sobretudo em determinada faixa etária, podendo-se atribuir isso quer ao seu metabolismo bastante ativado, quer à necessidade de dar maior eficiência à comunicação, num período em que seu vocabulário é limitado;  No Brasil houve, em pouco tempo, uma evolução no que respeita à manifestação social pelo gesto, devido, hoje, beijar-se na face com grande liberdade, toca-se nas pessoas com mais desenvoltura e o abraço é muito comum entre amigos;  Não obstante haver regras e valores, que permitem ou impedem pessoas de se tocarem, entre os jovens, principalmente, elas não são observadas ou obedecidas. Todos tocam a todos, sem acanhamento, sem inibições, com toda a liberdade, em qualquer situação ou lugar. Rector e Trinta (1985, p. 105) aplicam o modelo de S. Johnson, que elaborou um questionário para mostrar a complexidade da situação social numa dada cultura, assim como o modo pelo qual podemos desmembrá-la em elementos discretos (no sentido linguístico do tempo, para fins operatórios. A autora enumerou alguns contextos sociológicos, significativos em qualquer cultura, como funerais, contatos sociais num restaurante, numa sala de aula etc. Em mensagens aborda gestos facilmente identificáveis, como os chamados dêiticos, etc. Rector e Trinta (1985, p. 106) O questionário consiste, portanto, em um córpus de questões relacionadas à forma como as pessoas interagem durante o processo de comunicação, tomando como referência apenas os dados não-linguísticos, em situações de encontro social específicas. Eles aplicam o esquema de pesquisa de coleta de material sobre interação do modelo S. Johnson: grupo grande; grupo pequeno; duplas (homem-homem, mulher-mulher, homem- mulher, adulto-criança, etc.) nas várias situações (funerais, restaurante/botequim, maneiras à mesa, sala de aula, feira-livre, veículo público, fazer fila, espetáculos) e encontram os emblemas: 51  Afirmação: polegar para cima; menear a cabeça em sentido vertical;  Negação: o indicador se movendo de um lado para outro rapidamente ou o mesmo movimento feito com a cabeça (sacudir a cabeça horizontalmente); também abaixar o polegar;  Chamada: “psiu”! Movimento com a mão direita com indicação de chamamento; assoviar;  Saudação: Mão direita espalmada se movendo da direita para esquerda (abano); beijar, abraçar, tocar as mãos com as mãos;  Apontar: uso do dedo indicador, apontado na direção que se quer mostrar; também apontar a direção com a cabeça;  Gozar: mão direita espalmada, batendo sobre a esquerda forma de círculo. Vaia (assoviado ou gritando); fazer gesto de deboche com o polegar no nariz; movimento em um sobe e desce dos demais dedos;  Louco: o dedo indicador próximo do parietal direito, girando;  Número: o indicador da mão direita tocando os dedos da mão esquerda ou vice-versa;  “Não saber”: dar de ombros e projetar o lábio inferior para frente; sacudir a cabeça horizontalmente; sacudir (os) ombros;  Tamanho: usar as mãos, em posição horizontal, deixando entre elas um vazio maior ou menor para indicar a dimensão das coisas; também o braço direito estendido;  Dinheiro: esfregar o polegar direito no dedo indicador, levantando a mão;  Mal odor: mão direita abanando em frente ao nariz, acompanhado de um muchacho: huuuum!; fazer careta, franzindo o nariz; tampar o nariz com as mãos;  Aspecto maravilhoso: Os dedos unidos e levados à frente dos lábios, acompanhados de um ruído característicos; pegar no lóbulo de orelha com o polegar e o indicador. Os autores aplicam o modelo de Ekman e Friesen (1969) à gestualidade brasileira. Tomaram por base o conceito de emblema adotado por Davis Efron, que o movimento tem significado. Para eles, os emblemas, seus característicos, os gestos como a verbalização, são: 1) estereótipos ou clichês gestuais; 2) significam “iconicamente”, não precisando de equivalente verbal em muitos casos; 3) os campos conceituais devem ser determinados a posteriori, pois se classificam naturalmente. Rector e Trinta (1985, p. 123) A mesma pesquisa foi realizada eles, com alunos de pós- graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, assim como alunos de graduação em comunicação da Universidade Federal Fluminense, interessaram-nos apenas 52 os emblemas verificados no quadro de referências da cultura brasileira. Para tanto, as classes foram divididas em duas metades, o mesmo ocorrendo com os campos conceituais. Uma turma adaptava a mensagem verbal (em inglês) para a língua portuguesa, ficando um monitor com o encargo de apresentá-la para a turma. Emblemas verificados eram aqueles gestos realizados por todos os membros do grupo, aproveitando-se, ainda, certas variantes de um mesmo gesto. A outra turma, depois de decidir qual o melhor desempenho de um dado gesto, encarregou um monitor de apresentá-lo, incumbindo à classe sua verbalização. Aqui, também, foram aproveitados, como emblemas verificados, aqueles gestos que obtiveram a mesma expressão verbal, assim como as suas respectivas variantes. Dos resultados obtidos selecionamos somente aqueles pertinentes aos quadros da cultura brasileira. São os seguintes: Insultos: - foda-se; - dar uma banana. Direções interpessoais: - senta aqui; - cala a boca (chh!; silencio); - vem cá; - para aí (pare, espere); - olha! (prevenir); - to liquidado (dedo polegar abaixado); - entrei pelo cano; - calma; hora de ir (não verbalizado); - Tem cigarro?; - Tem fosforo?; - Cai fora; - vai embora; - anda (depressa); - pedir carona. Respostas: - sim (meneio de cabeça); - não (MENEIO DE CABEÇA E DEDO INDICADOR); - O.K; positivo; negativo; 53 - não sei (movimento de ombros); - acabou; - mais ou menos; - tanto faz. Estado físico pessoal - cansaço; - To por aqui (estar cheio); - tá daqui (comida boa); - ficar (estar “quente”); - abraçar-se (estar “frio”) - esfregar as mãos na cabeça (febre, preocupação); - vomitar (indicativo da ação); - forte (um ou dois braços, exibindo o bíceps) - grávida (indicativo de gravidez); - magro (o dedo mínimo erguido); - pequeno (quantidade ou dose: para pedir pinga, cafezinho). Afeto: - paz (expressão); - boa sorte, sucesso (figa); Aparência: - mulher boa (as mãos desenham contornos de uma figura); Diversos: - cumprimento (“oi”, “tchau”: abanos e acenos de mão); - dinheiro (“pão-duro”); “é assim, ó” (mão direita ou esquerda bem cerrada. Aplicou o método de D. Morris, que estudou 20 gestos e fez quadro com os gestos- chaves, na entrevista, perguntou aos informantes se gestos eram usados, durou aproximadamente 40 minutos e fez a descrição. 54 Tendo como modelo de Rector e Trinta (1985, p. 125), eles verificaram como o brasileiro gesticula e reconhece seus gestos característicos, usaram o mesmo quadro em 60 informantes de ambos os sexos no Rio de Janeiro, durante o segundo semestre de 1980. Nossas perguntas ativeram-se a três pontos: (1) designação (nome do gesto); (2) sua significação ou significações (verbalização do significado); (3) variações (em forma e conteúdo, além da variação regional). Encontraram emblemas usados (1985, p. 127 – 132): a) Dedos cruzados ou dedos em cruz: Trata-se de um gesto de origem cristã. A mão (direita ou esquerda) é erguida, em posição vertical; os dedos indicador e médio são superpostos em forma de cruz, ficando os demais voltados para baixo e contra a palma da mão, cobertos pelo polegar. Os três dedos referidos são a representação da Santíssima Trindade: Deus é o polegar; o indicador, o Espírito Santo; o médio, enfim, cristo. O significado deste gesto é Cristo vitorioso”; Figura 23 – Dedos cruzados ou dedos em cruz14 b) Olho vivo ou estar de olho vivo O dedo indicador é colocado sob o olho, puxando-se a pele para baixo. Primeiro um olho, depois o outro: simboliza-se assim o aumento de consciência visual. Significa prestar atenção, estar alerta; sagacidade, astúcia; também estar interessado em alguém (“estar de olho em”); enfim, indica suspeita ou falta de confiança; 14 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinal_da_cruz#/media/Ficheiro:Christus_Ravenna_Mosaic.jpg. Acesso em: 22 jun. 2021. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinal_da_cruz#/media/Ficheiro:Christus_Ravenna_Mosaic.jpg 55 Figura 24 – Olho vivo ou estar de olho vivo Fonte: Rector e Trinta (1985, p. 164). c) Uma banana ou dar uma banana É um gesto de natureza sexual: a banana simboliza o pênis. Trata-se de uma forma de insulto, usado, principalmente, por homens de nível social mais baixo; é indicativo de rejeição, negação; veicula, enfim, a resposta a uma ofensa, traduzindo-se por uma expressão de baixo calão. A verbalização pode ser (implícita) “vá tomar...”, sem predicado, ou (explícita) “vá tomar banho”, “vá tomar naquele lugar”; ainda, sem eufemismo, “vá tomar no cu”. Fonte: Rector e Trinta (1985, p. 159). d) Figa ou fazer figa O polegar é colocado entre os dedos indicador e o médio, que se acham dobrados e voltados contra a palma da mão. Há aí uma inequívoca conotação sexual: o polegar significa o pênis introduzido na vagina; os dedos dobrados representam os lábios vaginais femininos. Traduções (verbais) usuais deste gesto indicam ter boa sorte, livrar- se do mal (cortar mau olhado) e um pedido de proteção. Nesse último sentido, equivale aos dedos cruzados. Figura 25 – Uma banana ou dar uma banana 56 Figura 26 – Figa ou fazer figa15 e) Vitória A mão (direita ou esquerda) erguida com os dedos indicador e médio formando um ângulo em V significam vitória. Este gesto data da II Guerra Mundial: proviria do V de Victor de Lavelaye – um certo advogado belga. O gesto ficou famoso pelo uso que W. Churchill fez dele. É um signo amizade, verbalizado em “paz e amor!”; Figura 27 – Vitoria16 f) Biruta, amalucado Ao contrário dos gestos mais estáticos, este adquire significado com movimento rápido e contínuo. Fazendo-se um movimento de rotação na têmpora, com o dedo indicador, mantendo-se os demais dedos da mão fechados e voltados contra a palma da mão. Indica-se, assim, insanidade, verbalizada em expressões como “ficou doido”, “está louco” ou, na gíria, “está (tá) biruta”, “não regula bem”, “tá meio pancada”; 15 Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e4/Gesture_fist_with_thumb_through_fingers.jpg. Acesso em: 22 jun. 2021. 16 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/V_(gesto)#/media/Ficheiro:Churchill_V_sign_HU_55521.jpg. Acesso em: 22 jun. 2021. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e4/Gesture_fist_with_thumb_through_fingers.jpg https://pt.wikipedia.org/wik