ANA BEATRIZ BUENO SILVA REPRESENTATIVIDADE PRETA NOS LIVROS INFANTIS Marília 2024 ANA BEATRIZ BUENO SILVA REPRESENTATIVIDADE PRETA NOS LIVROS INFANTIS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Filosofia e Ciências Marília – Unesp como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia Orientadora:Telma Campanha de Carvalho Marília 2024 S586r Silva, Ana Beatriz Bueno Representatividade preta nos livros infantis / Ana Beatriz Bueno Silva. -- Marília, 2024 58 p. : il. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Biblioteconomia) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília Orientadora: Telma Campanha de Carvalho Madio 1. Processo de representatividade na literatura. 2. Identidades e Cultura. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. ANA BEATRIZ BUENO SILVA REPRESENTATIVIDADE PRETA NOS LIVROS INFANTIS Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia, da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista - UNESP - Câmpus de Marília, para obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia Banca Examinadora Profa. Dra. Telma de Campanha de Carvalho Madio UNESP - Câmpus de Marília Orientadora Profa. Dra. Daniela Pereira dos Reis UNESP - Câmpus de Marília Profa. Dra. Rachel Cristina Vesu Alves UNESP - Câmpus de Marília Marília, 07 de dezembro de 2023. RESUMO O presente trabalho abordou a representatividade preta nos livros infantis, e questões sociais, que contemplam a área da Ciência da Informação, trazendo a reflexão sobre o impacto que a representatividade traz nas crianças e como a presença de personagens pretos são essenciais para a autoestima e a vivência de uma criança preta perante a sociedade, fazendo um levantamento na problemática que está enraizada na sociedade, intitulando sempre um padrão estético como o perfeito e belo. A pesquisa apresenta como a representatividade preta nos livros infantis é na sociedade contemporânea, sendo um fator de construção da identidade, aceitação e na autoestima das crianças pretas. A metodologia foi a partir de um levantamento em quatro editoras sendo elas a Pallas, Editora Mostarda, Companhia das letrinhas e Galerinha, centrando-se na literatura infantil afro-brasileira. Como objetivo principal mostrar como a compreensão e valorização de raízes culturais são necessárias e de extrema importância, e como são os saberes africanos e as suas tradições. Como resultado parcial espera-se contribuir para que bibliotecários e profissionais da educação, percebam como a representatividade preta nos livros infantis é uma forma de construção da identidade da criança,e propor a colocação de livros de literatura infantil afro-centrado em maior quantidade em seus catálogos.Percebeu-se que este tipo de livro é pouco oferecido pelas editoras comerciais, o que acarreta um distanciamento dos bibliotecários, que precisam ter mais contato com este tipo de literatura infantil e tratem desses assuntos com uma maior frequência. Palavras-chave: representatividade; livros infantis; cultura; auto-estima; criança. ABSTRACT The present work addressed black representation in children's books, and social issues, which cover the area of Information Science, bringing reflection on the impact that representation has on children and how the presence of black characters is essential for self-esteem and experience of a black child in society, surveying the problems that are rooted in society, always labeling an aesthetic standard as perfect and beautiful. The research presents how black representation in children's books is in contemporary society, being a factor in the construction of identity, acceptance and self-esteem of black children. The methodology was based on a survey of four publishers, namely Pallas, Editora Mostarda, Companhia das Letrinhas and Galerinha, focusing on Afro-Brazilian Children's literature. The main objective is to show how understanding and valuing cultural roots are necessary and extremely important, and what African knowledge and traditions are like. As a partial result, it is expected to contribute to librarians and education professionals realizing how black representation in children's books is a way of constructing the child's identity, and to propose the placement of Afro-centered children's literature books in greater quantity in their libraries. collections. It was noticed that this type of book is rarely offered by commercial publishers, which leads to a distancing from librarians, who need to have more contact with this type of children's literature and deal with these subjects more frequently. Keywords: representation; children's books; culture; self esteem; child. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que me manteve de pé durante a caminhada da universidade. À minha mãe, que sempre me apoiou nos meus estudos, e me auxiliou em todos esses anos de graduação. A minha prima Thamires,e meus amigos Daiane, Mirela, Marcos, Mayana, Izabella e Adriel, que me ajudaram muito durante a graduação, me ouviram, acolheram e não me deixaram desistir. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – .Narizinho 39 Figura 2 – Capa Pallas Editora 40 Figura 3 – Tia Nastácia 40 Figura 4 – Capa Editora Mostarda 41 Gráfico 1 – Total do número de capas de literatura infantil com representatividade preta 41 Gráfico 2 – Total do número de capas das quatro editoras. 42 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 10 2 PROCESSO DE REPRESENTATIVIDADE NA LITERATURA 15 2.1 Racismo no Contexto Histórico Cultural na Educação Infantil 21 2.1.2 Construção Cultural e Racial no Brasil 25 2.1.3 Educação Voltada a Literatura Preta 29 3 IDENTIDADES E CULTURA 33 3.1 Bibliotecários e Bibliotecas Escolares no Combate a Desigualdade Racial 18 4 METODOLOGIA 36 4.1 Método Indutivo 36 4.1.2 Universo da Pesquisa 37 4.1.3 Procedimentos de Coleta de Dados 37 5 ANÁLISE DOS DADOS 39 5.1 Editora Companhia das Letrinhas 44 5.1.2 Editora Galerinha 45 5.1.3 Pallas 45 5.1.4 Mostarda 46 6 RESULTADOS DA PESQUISA 48 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 50 REFERÊNCIAS 53 1 INTRODUÇÃO A literatura infantil faz parte da construção do aprendizado da criança, com a sua alfabetização e vivências do cotidiano. A representatividade reflete na construção de um indivíduo. Quando você é criança e a todo momento se vê representado nos lugares e por autoridades, isso passa a ser parte da sua vivência e causa bastante influência. A representatividade preta passou a ser um tema mais acessado e construído na sociedade contemporânea, possibilitando que as crianças da geração atual passem a ter mais contato com personagens, livros, brinquedos e outros fatores que os representem e construa uma imagem positiva sobre os seus traços negroides, cabelo, tom de pele, entre outras características. A literatura infantil afro centrada contribui para que a criança preta além da alfabetização, tenha um contato com a literatura em que o personagem principal tem a sua semelhança, e assim possibilita na construção da autoestima da criança, e passa a ser uma maneira de auto aceitação desde cedo. Para refletirmos sobre estas questões pensou-se em uma pesquisa onde será feito um levantamento em quatro editoras sendo duas com catálogos nos temas afro centrados, e as outras duas não. A primeira editora é a Pallas Editora que dedica grande parte do seu catálogo aos temas afrodescendentes, que tem como objetivo a compreensão e valorização das raízes culturais e a consciência que ainda nos dias de hoje é precário o registro de saberes africanos na diáspora e que é de extrema importância possuir este catálogo por ser uma das matrizes fundadoras de nossa nacionalidade, contém a recuperação e o registro de tradições religiosas, linguísticas e filosóficas dos povos africanos. A editora consolida também o seu catálogo de literatura infantil e juvenil, com os títulos de histórias africanas e afro-brasileiras que são contadas e nos quais os personagens pretos são protagonistas, o que é de extrema importância em um país racista e mestiço como o Brasil. A segunda editora é a Mostarda que tem como missão quebrar as barreiras e preconceitos, sua visão é oferecer para os clientes uma responsabilidade sociorracial e socioambiental, possuindo um catálogo todo voltado a personagens pretos e indígenas, e com uma coleção chamada "Black Power" que contribui para a autoestima dos adultos e 10 crianças pretas, realizando conhecimentos e desenvolvendo a capacidade de respeitar e valorizar as diferenças. A terceira editora é a Companhia das Letrinhas que trabalha com o catálogo todo voltado ao público infantil da Companhia das Letras. Tem como compromisso a realização de publicações de livros que contribuíssem para tornar o país e um mundo mais justo e melhor, nos dias de hoje o Grupo Companhia das Letras possui 21 selos com dedicação a variados segmentos. Obtendo mais de 8.500 títulos ativos em seu catálogo, com lançamentos de 400 títulos lançados por ano. A Quarta Editora é a Galerinha que é uma das maiores editoras da américa latina e contém um maior catálogo dentro do segmento dos não-didáticos, atualmente tem cerca de seis mil títulos e lança aproximadamente 30 livros mensalmente. Possui em sua marca a biodiversidade, o grupo contém como publicações livros sobre ficção; narrativas históricas e científicas; ensaios culturais, sociológicos; literários e filosóficos; reportagens; romances policiais e de suspense; literatura infantil e quadrinhos. As pesquisas e assuntos utilizados na formação dos profissionais da informação e da educação também são muito importantes para obter os objetivos propostos neste trabalho, formar bibliotecários entre outros profissionais que têm contato com a literatura infantil com assuntos de visibilidade e inclusão racial é muito importante. Estudar a cultura afro-brasileira e implantar nos livros criados por profissionais fazer palestras e congressos falando sobre a visibilidade preta na literatura. A problemática deste trabalho, se insere no contexto de uma procura em responder como a identidade reflete diretamente no processo de representatividade de uma criança preta, e como conter livros, personagens, brinquedos, filmes, entre outras ferramentas é de extrema importância para a construção da auto estima da criança, e assim observar que o princípio do racismo é por meio da construção cultural e histórica do país, por isso precisamos desconstruí-lo.Com isto o processo de criação da literatura infantil de maneira indireta se baseia no racismo do eurocentrismo, e esse processo para firmar o seu contexto histórico e sociocultural é um trabalho contínuo para ser realizado. Esse único olhar etnocêntrico desconsiderou as culturas e identidades 11 diferentes da européia, trazendo nos livros didáticos e especialmente nos de literatura uma visão estereotipada do negro (Rufino, 2010, p. 20). Entende-se que, segundo Rufino, promover um estudo mais aprofundado sobre a identidade, cultural e o seus processos históricos-culturais nas escolas, é a primeira iniciativa que tem que ser realizada pelos profissionais da educação, que por meio de conhecimentos sobre essa temática, podem trabalhar com os alunos promovendo oficinas, jogos, e atividades que dissemine o conhecimento de uma maneira efetiva e proporcionar uma mudança do racismo enraizado que está presente em nossa sociedade. Atualmente podemos dizer da literatura brasileira, apesar das grandes mudanças e avanços tecnológicos, que ela continua sendo o elo entre criança e mundo, e este elo ainda tem um papel transformador quando contemplado na escola. Por isso Coelho (2000) diz que a literatura continuará servindo de agente transformador, principalmente quando estimulado pela escola,que segundo a autora é o espaço que permitirá à criança o desenvolvimento do seu autoconhecimento e o acesso ao mundo da cultura ao qual faz parte (Rufino, 2010, p. 25). As crianças pretas não têm muita representatividade nos livros infantis, crescem com a ideia de que todos os personagens nos livros são interpretadas por pessoas brancas pois não possui referência de personagens pretos. Também é importante pontuar que quando os livros são reproduzidos em filmes normalmente os personagens são interpretados por pessoas brancas. A falta da representatividade de personagens pretos nos livros infantis pode interferir na construção da identidade, aceitação e autoestima. Promover nas escolas, bibliotecas escolares e públicas, acesso às informações sobre a representatividade preta e os profissionais da área passarem a ter percepção de como é essencial ter este conhecimento, para combater o apagamento do preto na literatura infantil brasileira. O objetivo da pesquisa é identificar a representatividade preta por meio da imagem em capas em livros infantis, como forma de construção da identidade, aceitação e autoestima da criança. Como objetivos específicos temos: 12 ● Contextualizar as questões do racismo nos livros infantis no Brasil; ● Levantar histórico das quatro editoras selecionadas em seus respectivos sites; ● Identificar as capas de livro com a temática afro centrada em livros infantis nas editoras selecionadas; A justificativa abordada no trabalho, é que a representatividade é algo muito importante para as crianças pretas, pois não existem muitos personagens pretos nos livros infantis, e quando tem, quase sempre são retratados de uma forma pejorativa, como o vilão da história ou o amigo engraçado e ignorante para os assuntos sérios. No livro "A menina do narizinho arrebitado" de Monteiro Lobato é possível observar várias falas racistas do autor como, por exemplo "Macaca de carvão", "Carne preta", "Beiçuda", é inimaginável pensar em como uma criança preta se sentiria lendo isso e como isso pode afetar a vida dela. A identidade de um indivíduo se constrói na infância as memórias que as crianças absorvem constroi e forma a identidade delas, como por exemplo a escravidão algo histórico que impactou centenas de pessoas e que esse acontecimento impacta na personalidade delas até os dias de hoje e como essas memórias moldaram a sociedade que temos hoje, a democratização racial nos livros infantis é um dos primeiros passos para a equidade social. O tema proposto na pesquisa foi escolhido para reforçar como os problemas raciais impactam na literatura infantil brasileira e como pode interferir na autoestima das crianças pretas, trazendo uma visão de mundo distorcida, tanto para as crianças pretas quanto brancas sobre representatividade e os meios de informação que podem interferir neste questionamento. O livro infantil possui um papel importante para a representatividade e identidade da população preta, sendo necessário que as crianças leiam ou escutem narrativas de livros nos quais os personagens estejam em contextos favoráveis e não somente em uma condição social inferior à do branco. É importante que os livros tragam personagens que proporcionem orgulho de sua cor, de nossa história e da nossa cultura, longe das comparações e nos quais o respeito às diferenças prevaleça (Souza, 2019, p. 33). 13 Valorizar a cultura preta, é um dos primeiros passos para a representatividade preta ser algo mais palpável, visível na sociedade e começar isso nas escolas é essencial. "[...] valorização da cultura e estética do negro é evidente a reconstrução do “ser negro” que atravessa a estruturação política e a sua identidade sociocultural, através de um processo de conscientização e valorização da negritude" (Malafaia, 2018, p. 14). A conscientização da valorização preta, ter a capacidade de informar as crianças no geral de que todas têm espaço no mundo da literatura cabe ao profissional de biblioteconomia conscientizar ou transmitir essas informações nos livros e bibliotecas escolares. 14 2 PROCESSO DE REPRESENTATIVIDADE NA LITERATURA A literatura é uma forma de expressão, e dentro de suas características são adotadas a realidade social que torna-se compreensível de acordo com uma determinada concepção do mundo. Articulando a subjetividade do autor, que tem o desejo de trazer uma comunicação, com uma lógica da estrutura gramatical, pelo qual a fantasia ou a ficção, estão colocadas em condições de dinâmica estruturada pela linguagem. Por isso, a literatura não deixa de ser realista, documentando seu tempo de modo lúcido e crítico; mas revela-se sempre original, não esgotando as possibilidades de criar, pois o imaginário empurra o artista à geração de formas e expressões inusitadas (Zilberman, 2009, p. 17). A autora retrata que, as experiências da leitura de um texto literário, traz a capacidade de provocar em um indivíduo efeitos de mudança, dando a capacidade da expansão de novos horizontes daquele que lê, mesmo dentro das situações que o contexto vivido é totalmente diferente do lido. Além disso, o leitor também é de certa forma provocado a compartilhar suas experiências de leitura, debatendo os seus pontos de vistas e concepções sobre o texto, Em certa medida, a leitura sugere outra faceta educativa da literatura: o texto artístico talvez não ensine nada, nem queira fazê-lo; mas seu consumo induz a práticas socializantes, que, estimuladas, mostram-se democráticas, porque igualitárias (Zilberman, 2009, p. 18). A literatura infantil é um gênero mais abrangente do que a literatura, restrita somente aos adultos e, por isso mesmo, enquanto literatura, deve ser “mensagem de arte, beleza e emoção” (Marchens Apud Rodrigues e Aquino, 2010, p. 2). Ainda segundo o autor, a partir da literatura infantil é possível passar a identificar dramas e conflitos sociais de um determinado período histórico e, no Brasil, especialmente durante a época da ditadura militar, foi possível identificar uma brecha cultural neste gênero para que as ideologias mais progressistas, humanizadoras, denominadas de esquerda pudessem assim ser disseminadas. Por este fato, é de extrema importância não reduzir o papel da literatura infantil apenas ao processo que é a instrumentalização pedagógica, reconhecendo também, como um fator histórico, político e social fundamental, que fará parte do imaginário dos futuros adultos. 15 De acordo com Rodrigues e Aquino (2010, p. 2), para compreender a relação entre o racismo e a literatura infantil recorre-se a necessidade social e historicamente construída, especialmente após o século XV, no momento de expansão marítima e de conquista de outros povos, de classificar as pessoas e a partir disso compreender a diversidade humana com traços e características morfológicas visivelmente diferentes. Nesse caso, “[...] o contato com o outro, sobretudo um outro de costumes, língua e crenças diferentes, gerou a necessidade de explicações forjadas a princípio pela Teologia e, posteriormente, pela Ciência [...]” (Rodrigues; Aquino, 2010, p. 2). Ao buscar compreender a complexidade do racismo na sociedade brasileira, negado publicamente, mas praticado em situações privadas, a autora Schwarcz (2012) em sua obra “Nem Preto, Nem Branco, Muito Pelo Contrário”, menciona um livro de “Contos para crianças” publicado no Brasil em 1912, que traz histórias cujo o tema principal se trata do desejo de branqueamento por parte das pessoas pretas. Detalha, especificamente, a história da “Princesa Negrina”, uma criança preta, filha de um casal da realeza, fruto resultante de um comovente pedido à fada madrinha, já que o casal, naturalmente, não poderia ter filhos. Como recompensa por serem muito bondosos, mas, visto que nem tudo era perfeito, a criança, mesmo bela, nasceu “terrivelmente preta” segundo os serviçais do rei (Schwarcz, 2012, p. 10). No entanto, a sina da criança poderia ser revertida, desde que esta fosse mantida no castelo até completar 16 anos de idade. A questão é que, como em todo conto de fada, a já adolescente foi tentada por uma serpente a sair de casa, sendo amaldiçoada para sempre ficar preta. Desamparada, concordou em se casar com uma espécie de monstro que, com o passar do tempo, se revelou ser digno do seu amor. Ao descobrirem o verdadeiro amor um pelo outro, se transformam mutuamente, ele em um belo e branco Príncipe Diamante e ela, em uma linda princesa branca (Schwarcz, 2012, p. 11). Na obra abordada, podemos observar que o tema central desses contos para crianças, relata um período histórico fundamental para passar a compreender como o Brasil iniciou a construção uma interpretação sobre si mesmo, trazendo em questão que tipo de povo deveria servir ao futuro de uma nação evoluída.Assim, a partir da década de setenta, do século XIX, o 16 Brasil passava pelo ínicio do fim da escravidão, mais específicamente com a aplicação da Lei do Ventre Livre (1871), e por este fato, começou um novo projeto de nação e civilidade, em teorias liberais, positivistas e racistas que passaram a cumprir o papel fundamental nas relações sociais brasileiras.De acordo com este contexto, Paradoxo interessante, liberalismo e racismo corporificam, nesse momento, dois grandes modelos teóricos e explicativos de sucesso local equivalente e, no momento contraditório: o primeiro fundamentava-se no indivíduo e em sua responsabilidade pessoal; o segundo retirava a atenção colocada no sujeito para centrá-la na atuação do grupo entendido enquanto resultado de uma estrutura biológica singular (Schwarcz, 1993, p. 20-21). As teorias raciais do século XIX, também nomeadas como pseudociências, que dentro do contexto europeu foi passado por uma análise crítica teórica intensiva, por meio disso foi absorvido pela sociedade brasileira, sem essa devida consideração. De acordo com a autora, o determinismo de tais modelos, do ponto de vista do conteúdo, foi utilizado de maneira “caricatural” em território brasileiro. Assim, no contexto social, político e econômico dessa época, “as teorias raciais se apresentavam enquanto modelo teórico viável na justificação do complicado jogo de interesses que se montava” (Schwarcz, 1993, p. 24). Era necessário pensar que para manter a estrutura hierárquica rígida de poder de uma determinada classe brasileira e a substituição da mão de obra escrava, seria imprescindível “estabelecer critérios diferenciados de cidadania” (Schwarcz, 1993, p. 24). Dessa forma, os modelos teóricos que justificavam o “atraso brasileiro”, especialmente em relação aos países considerados mais desenvolvidos, notadamente a Europa, também explicavam as formas de inferioridade socioeconômica existente, de “negros africanos, trabalhadores, escravos e ex escravos”, consideradas ao todo “classes perigosas” (Schwarcz, 1993, p. 38). No enfrentamento do racismo, que por séculos, dissemina ódio e dor, fazendo diversas vítimas e perpetuando formas de ver e sentir o mundo. Fanon (2008) destaca o enraizamento dos estereótipos, marcando as representações sociais que constituem e aprisionam pretos e pretas. Para o autor, ao enfrentar essa situação, criamos um mecanismo para que seja 17 possível uma auto libertação, pois, como vítimas do racismo, inculcar o medo, a submissão, a subalternização de nossa estética em função do racismo estrutural e estruturante de nossas práticas. Uma questão de extrema importância é a relação da representatividade com o racismo, pelo fato de que as maneiras de encarar e compreender o mundo constituem nas representações que nós como sujeitos, por meio das sujeições que acabamos submetendo em função do racismo. A estética e a representatividade são fatores tão importantes que se perdura nos estereótipos que são sempre reforçados entre os negros. É assustadora a forma que é de extrema violência como os pretos e pretas forjam suas identidades estéticas e tem suas representações a partir do racismo estrutural, que marca sua existência. Não é por acaso, que crianças pequenas passam a idolatrar personagens brancos que reproduzem discursos acerca da superioridade branca. Durante as brincadeiras e as suas interações nas escolas, sempre as crianças afirmam em algum momento da sua vida que gostaria de ser branca, por ter sofrido racismo desde pequena e a partir disso ter uma imagem negativa sobre si. Quando enveredamos pela representatividade, consideramos que os sistemas de representação oferecem suporte para a constituição tanto da subjetividade quanto da identidade e corroboram um debate sobre as diferenças. Com a luta contra a falta de representatividade, precisa se fortalecer dentro de um sistema estético da pretitude: “É fundamental que enxerguemos a estética como um dos pilares do processo de empoderamento. Veja bem, um dos pilares [...]” (Berth, 2019, p. 129). Mesmo nos primeiros anos de vida, crianças pequenas tendem a negar sua pretitude e os seus traços negróides e passam a valorizar os marcadores identitários da branquitude. Não contendo um repertório muito amplificado de saberes e nem de vocabulário, é bastante preocupante o fato de como os privilégios brancos estão reunidos nas vivências das crianças pequenas dentro do ambiente escolar. Como destaca Bento (2022), ainda que involuntariamente, o pacto da branquitude está posto e atuante, há um esforço do sujeito coletivo em perpetuar seus privilégios. O racismo nas relações infantis dentro das escolas é reproduzido por diversas maneiras diferentes de interações e ainda por cima reforçado pelo currículo e pelas 18 práticas escolares. Confrontar o racismo como uma primeira etapa para as crianças tornou-se uma educação básica e cada vez mais urgente. Por este fato, tem que passar a assumir um compromisso cotidiano colocar uma pedagogia preta, pelo qual as escolas não sejam mais um espaço que ocorra essas experiências dolorosas, ainda mais por ser em sua maioria uma instituição que reforça o sistema de representação da branquitude. Assim, conduzimos a reflexão do racismo na primeira infância problematizando o racismo, que trata principalmente nas formas estéticas pelas quais pessoas pretas são representadas, quando aparecem nas práticas cotidianas. A maneia eficaz para uma melhora no racismo enraizada tanto em um ambiente escolar quanto no dia a dia na sociedade, é passar a criar uma boa relação com a nossa autoimagem que de certa forma é uma ferramenta para a representatividade, ter o reconhecimento de seus valores ancestrais ou conter sempre uma reafirmação da necessidade de aprofundar a busca pelo autoconhecimento de nossa história e passar a entender de como é a condição social de um indivíduo negro. O racismo estrutural e o pacto da branquitude estão impostos na sociedade, dentro e fora das relações escolares, passando a envolver uma criança desde o útero, sendo de extrema urgência sua desconstrução e seu enfrentamento. Dentro de uma sociedade que tem como herança escravagista marcante, ser branco traz um conjunto de privilégios sendo eles os psicológicos, sociais, econômicos e culturais. O racismo sempre impõe uma relação de diferenciação entre pretos e brancos. O protagonismo é e sempre foi das pessoas brancas, por isso, a autopercepção da etnia branca praticamente é inexistente. E esse protagonismo é visto desde a infância. Passando a considerar as interações e as brincadeiras das crianças, há uma discussão muito importante sobre o quesito representatividade. E como é importante pensarmos sobre como as crianças têm o acesso às culturas afro-brasileira e africana, diante da escassez que é o ensino e as práticas de brinquedos que dão esse incentivo. Apesar das conquistas relacionadas à educação étnico-racial, ainda temos uma grande carência em relação aos brinquedos, livros de literatura infantis, desenhos animados, bonecos que representam a cultura preta. 19 Percebe-se que o circuito literário na sociedade contemporânea, que nos dias atuais há uma produção maior de livros infantis que retratam os personagens pretos de maneira positiva e muitas vezes sendo o protagonista da história, sendo assim possibilita que as crianças encontrem representatividade ao se deparar com princesas, príncipes entre outros personagens importantes que nas décadas passadas, eram representados apenas por personagens brancos e que se enquadraram no padrão intitulado pela sociedade. [...] A população negra, embora seja maioria no Brasil,ainda hoje não é bem representada nos veículos midiáticos usuais,dentre os quais,encontram-se os livros. Atentemo-nos,especificamente, aos livros de literatura, de que maneira os afro-descendentes formaram sua identidade, auto-aceitação e valorização de seu povo e cultura, sem pontos de referência ou algo para se espelharem (Silva; Silva; Alves, 2019, p. 1). A presença do preto na literatura brasileira sempre retrata a marginalização, desde suas instâncias fundadoras, com a etnia sendo a marca do processo de construção da nossa sociedade. Os personagens pretos são retratados nos aspectos de suas vivências nos aspectos ligados às suas vivências na realidade histórico-cultural do Brasil, indicando ideologias, atitudes e estereótipos, sendo a estética branca sempre dominante. Pode-se perceber que a falta de representatividade de escritores negros, não é visível somente em bibliotecas escolares, como também dentro do circuito literário. Os estudos de Arruda (1996) e Munanga (2013) mostraram que a literatura multidisciplinar, sempre se esbarra em discussões acerca da discriminação racial e inclusão dos/das pretos/as. Segundo Domingues (2007) e Rosa (2017), estas discussões foram estimuladas a partir da década de 1950, e isso ocorreu essencialmente pela crescente estruturação e força dos movimentos de representatividade e pelas recorrentes discussões acadêmicas. Domingues (2007), Guimarães (2003) e Gomes (2019) mostram que os marcadores de diferença de raça podem operar tanto para gerar desigualdades, desvantagens, vulnerabilidade e opressões, como podem ser 20 acionados para o empoderamento e agenciamento democrático dos “socialmente estigmatizados”. Com esse olhar, Boucher (2019) e Gomes (2019) apontam que a discriminação racial é um resquício do período de escravidão e a mão-de-obra barateada que se estendeu por muitos países, e estas marcas ideológicas recaem sobre as relações de opressão dos grupos sociais minoritários. As discussões sobre a inclusão dos/das negros/as mundo afora, recaem sobre as políticas antirracistas, discriminação racial, de cultos afro-religiosos e de imigrantes afrodescendentes (Davis, 1981; Crenshaw, 1989). No Brasil, os estudos se voltam para a inclusão dos/das negros/as em Instituições de Ensino Superior, discriminação racial, negros/as como suspeitos de crimes, exploração de trabalhos (Guimarães, 2003; Domingues 2012). O que leva a perceber os padrões hegemônicos sociais existentes. Por considerar este cenário complexo e cheio de desafios, os ensinamentos de Arruda (1996), Bicudo (2012) e Gomes (2019) propõem uma análise acerca das bases sociais modernas, no intuito de entender como as questões culturais podem ser determinantes, bem como as implicações que isso tem trazido perante a estudos que tratem da inclusão social desses agentes. Clark, Dantzier, Nickels (2018) e Jones (2019) mostram que a análise dos fatores socioculturais pode ser uma prática acadêmica que ofereça uma maneira para se entender estes fenômenos, pois auxilia aos pesquisadores a interpretarem e reinterpretarem as representações textuais e extratextuais do que tem dito a literatura sobre a inserção dos/das negros/as. Em átimo, Gomes (2019) e Boucher (2019) apregoam que é preciso debater estrategicamente e globalmente o combate sobre estes atos, no sentido emancipatório e reativo, unindo esforços para construir um futuro desejado. 2.1 Racismo No Contexto Histórico Cultural Na Educação Infantil Nos dias de hoje, vivencia-se as grandes inovações tecnológicas e a intensificação das descobertas científicas, entretanto, a respeito do tema diversidade cultural pode-se observar que a vida na sociedade contemporânea, ainda, é persistida por variadas formas de preconceito. De acordo com Santos (2007), atualmente no Brasil, assumir a identidade 21 cultural do afrodescendente é um ato de coragem que vem sendo reafirmada por meio das conquistas históricas do Movimento Negro. Passamos a ter a percepção que o preconceito racial, por muitas vezes é refletido dentro da escola entre os alunos, sendo fruto de uma falta de conhecimento, e é extremamente fundamental que o professor e profissionais ligados à educação, trabalhem no ambiente escolar a consciência moral, ética e cultural do aluno, possibilitando o seu desenvolvimento da capacidade de compreender os valores e saberes e passar a agir de maneira consciente a eles. Desta maneira, antes de praticar a discriminação a alguém pela cor de sua pele, orientação sexual, ou religião, o indivíduo passar a ter condições de fazer uma reflexão sobre seus valores e princípios éticos. Com isto, o indivíduo começa a pensar na injustiça que pode causar partindo de suas ideias e atitudes. Sendo assim, quando o sujeito inicia a fazer o uso do bom senso e da consciência moral, evita que realize práticas e atitudes racistas e preconceituosas.Para Chauí (200, p. 147). A consciência moral da pessoa e a consciência política do cidadão formam-se pelas relações entre as vivências do eu e os valores e as instituições de sua sociedade ou de sua cultura. São as maneiras pelas quais nos relacionamos com os outros por meio de comportamentos e de práticas determinados pelos códigos morais que definem deveres, obrigações, virtudes e políticos que definem direitos, deveres e instituições coletivas públicas, a partir do modo como uma cultura e uma sociedade determinada definem o bem e o mal, o justo e o injusto, o legítimo e o ilegítimo, o legal e o ilegal, o privado e o público. O eu é uma vivência e uma experiência que se realiza por comportamentos; a pessoa e o cidadão são a consciência como agente moral e político, como práxis. Portanto, o uso do bom senso e a consciência moral dizem muito a nosso respeito e no modo em que nos relacionamos com os outros, nesse sentido, passa a ser o modo como lidamos com os nossos relacionamentos interpessoais. Dessa maneira, pode-se considerar que colocar em prática o desenvolvimento do bom senso e da consciência moral é uma das formas que contribui o combate do preconceito racial, visto que, se passarmos a valorizar a cultura e as histórias afrodescendentes, podemos desenvolver uma educação voltada à diversidade da cultura brasileira. 22 Para Boni (2008), a temática sobre racismo gera muitas polêmicas, fato este que dificulta o trabalho do professor e demais profissionais da educação, pois alguns têm dificuldades em trabalhar com os conflitos que as questões raciais geram, outros, não possuem conhecimento necessário para atuar com o tema. Outro fator que dificulta a abordagem acerca da cultura africana é o preconceito entre os próprios professores, segundo Boni (2008) a escola está repleta de práticas racistas, discriminatórias e preconceituosas. Percebe-se que no ambiente escolar as situações de conflito que poderiam promover a interação, o conhecimento e o respeito às diferenças e às peculiaridades das diversas culturas ali presentes, não são bem aproveitadas pelo professor, que muitas vezes, veem na situação que se apresenta, algo constrangedor, gerador de tensão e não sabem como trabalhar adequadamente com a questão se omitindo ou tratando isoladamente o fato. (Boni, 2008, p. 2). Pode-se compreender que, é de grande necessidade, seja por meio de cursos, estudos continuados e na prática de exercícios próprios, que o professor e demais profissionais sejam atualizados acerca deste tema, sendo assim, o profissional passa a ter a possibilidade de contribuição em sala de aula em atividades que podem ser colocadas em prática aos alunos para o combate do preconceito racial, voltados à superação de discursos e práticas racistas. Para Scriptori e Junior (2010) o fracasso escolar do aluno negro é gerado, também, através do preconceito, da violência e da discriminação sofrida por ele, o qual internaliza as atitudes negativas recebidas e as transforma em ações prejudiciais, levando o aluno afrodescendente ao fracasso ou até mesmo à evasão escolar. Sabe-se que o pensamento é a capacidade que o indivíduo tem em formar opiniões sobre diversos assuntos, ou seja, é a possibilidade que se tem para avaliar algo e tomar uma atitude, no contexto escolar, o aluno negro na sua maioria não tem oportunidade de expressar seus pensamentos e opiniões, sendo oprimido de tal forma que o leva a evadir-se da escola. Nesse contexto, Scriptori e Junior (2010) trazem a contribuição de elucidar a resiliência como uma ferramenta importante para a educação, com o qual a atitude passa a favorecer a superação de traumas sofridos pelo 23 aluno, pois com o professor e demais profissionais da educação, trazendo a confiança para o aluno, acreditando na sua capacidade, isso passa a estimular a superar os obstáculos da vida e persistir no aproveitamento das oportunidades oferecidas, sendo essencial para essa construção o professor oferecer e demonstrar ao aluno apoio, afeto e conhecimentos. Scriptori e Junior (2010) atribuem ao ambiente escolar o papel de possibilitar ao aluno o desenvolvimento cognitivo, moral e ético. Porém, segundo o pensamento dos autores, a escola impossibilitou ao aluno negro essa possibilidade, pois a mesma negou a esses alunos seu legado histórico cultural. É partindo deste princípio que o professor tem muito valor, já que pode contribuir abordando assuntos e discutindo em sala de aula sobre a educação antirracista, fazendo que cada vez mais as práticas de discursos e ideologias racistas sejam cessadas, combatendo o racismo estrutural enraizado na sociedade. De acordo com Gentili (2003), esta naturalização é fruto de um olhar normalizador, que passa a perceber as injustiças da realidade social como normal, a ponto de com o tempo naturalizar tais fenômenos, os quais constituem a ideologia da maior parte da população. O autor faz uma analogia para explicar os conceitos de “normalidade” e “anormalidade”, usando de exemplo a seguinte situação: [...] enquanto é “anormal” que um menino de classe média ande descalço, é absolutamente “normal” que centenas de meninos de rua andem sem sapatos perambulando pelas ruas de Copacabana pedindo esmolas [...] a possibilidade de reconhecer ou perceber acontecimentos é uma forma de definir os limites sempre arbitrários entre o “normal” e o “anormal”, o aceito e o negado, o permitido e o proibido. (Gentili, 2003, p. 29). Desta maneira, observando a exposição dos autores podemos perceber que o indivíduo por meio de seu pensamento racional pode criar ideias a respeito de valores, moral e ética. É de extrema importância que dentro da sala de aula o professor contenha um diálogo com os alunos pretos cotidianamente vítimas de preconceito racial, realizando um apoio e conforto para que eles exponham seus pensamentos, suas experiências de vida, pois por diversas vezes guardam para si memória de momentos e situações de 24 violência, preconceito, maus-tratos, sejam estas físicas ou psíquicas. Dessa forma, Gomes e Bezerra (2013) contribuem sobre o reconhecimento e a valorização do preto na sociedade, afirmando que é através deste reconhecimento que será possível eliminar o racismo do contexto social.Todavia, para que isto torne-se realidade, são necessárias mudanças nos discursos e conjuntamente nas práticas sociais, sendo viável com o comprometimento dos professores e de toda a comunidade escolar no âmbito das pequenas relações, para além das instituições públicas e econômicas, que no âmbito da sociedade como um todo, contém essa responsabilidade social. Nessa mesma linha de pensamento Kusma (2010), vem destacar que a prática pedagógica do professor deve ser construída acerca da diversidade cultural presente no país, pois, esta abordagem, possibilita que o docente trabalhe com a pluralidade cultural brasileira na formação da identidade cultural do aluno, bem como a percepção e o respeito das diferenças existentes na sociedade, favorecendo a relação democrática étnico-racial entre os alunos. 2.1.2 Construção Cultural E Racial No Brasil Quando analisamos a questão da identidade, principalmente quando se trata da pessoa preta, é muito frequente as pessoas categorizarem os indivíduos com as suas características raciais de maneira que reduza o indivíduo, tomando como base a cor de sua pele classificando por diversas vezes em pretos ou brancos. Para passarmos a entender a problemática da pessoa preta, e termos conhecimento de como ela se constitui no mundo, na construção da sua autoestima, autoimagem e na sua maneira de existência, é fundamental que compreendemos a categoria de identidade. A identidade também é caracterizada como uma compreensão de visão individualista e isolacionista. Tais abordagens, segundo Jacques (1998, p. 165), parecem "limitar o conceito de identidade ao de autoconsciência ou autoimagem" . Ciampa (1987) entende identidade como metamorfose, ou seja, como um processo que está em constante transformação, sendo o resultado provisório da intersecção entre a história da pessoa, seu contexto histórico e 25 social e seus projetos. Ao analisarmos como a identidade se aplica, podemos observar que é uma questão política. Por meio da produção que se faz do coletivo o ser humano compreende a transformação do real e de suas condições de existência, fazendo com que surja o verdadeiro sujeito humano.Segundo o autor, o projeto político dessa humanidade: Uma política de identidade do Homem da nossa sociedade, a realização de tais projetos, para ser coerente com seus propósitos há de ser feita coletivamente e de forma democrática (entendida aqui como forma racional). A questão se coloca como uma questão prática e como tal deve ser enfrentada, conscientemente por nós –cada um de nós, todos nós (Ciampa, 1987, p. 74). Os processos identitários quando vistos como categoria de análise, parte do princípio que abordar um assunto sobre identidade passa a discutir sobre transformação, uma vez que tornamos a ideia de que não tem como pensar em identidade como algo definitivo ou estável. Dentro da visão da sociedade a identidade é uma ação, processo dinâmico, histórico e político, dentro daquilo que se constitui, concebendo-se identidade como aquilo que está. Portanto, segundo Ferreira (2000), a categoria identidade, além de pessoal, é fundamentalmente social e política. É considerada como uma referência em torno da qual o indivíduo se auto reconhece e se constitui, estando em constante transformação e construída a partir das relações que ele estabelece consigo mesmo, com o outro e com o ambiente à sua volta. Identidade é um processo de extrema importância de análise para compreendermos como o indivíduo se vê perante a sociedade, com influência em sua autoestima e na maneira de existir. Nesse sentido, é essencial, para compreender a problemática da pessoa negra, o processo de conhecimento sobre a maneira como ela desenvolve sua identidade, com destaques principais nos contextos sociais pelo qual é discriminada negativamente no cotidiano. Considerando as formas de relações entre os seres humanos, são construídas relações de poder e consequentemente a manutenção de interesses, podendo tratar como exemplo o contexto das relações raciais, 26 notando-se que temos uma visão efetiva acerca da desigualdade entre a população negra e a população branca. O mito que existe dentro da sociedade que existe uma democracia racial, o racismo ambíguo, é uma via de regra velada e totalmente encoberta, afastando os indivíduos de uma real compreensão das determinações históricas, trazendo uma falsa ideia que existe uma convivência harmoniosa entre as raças. Essa versão ideológica traz com que os indivíduos tenham uma visão de exercer "certos" papéis na sociedade. Nos dias atuais, dentro dos espaços institucionais a ideologia de que é constituída uma democracia racial permanece, esse pensamento acaba sendo um reflexo de nossa sociedade, refletindo-se no pensamento social. Estas implicações têm como início como o indivíduo tem dificuldade em sua identificação como pessoa preta e sofre com o processo da identidade preta, uma vez que ela fica, por diversas vezes, vista pela ideia de moreno, mestiço. São existentes muitas explicações em relação às desigualdades entre os grupos raciais que ainda permanecem, em sua maioria, no nível da aparência, ocultando o que se é essencial como as determinações sociais e históricas que moldam a configuração dos mitos e preconceitos. Segundo Ferreira e Mattos (2007), apesar de os pretos serem personagens fundamentais na construção e no desenvolvimento de nosso país, houve um processo de desqualificação sistemática deste grupo. Segundo esses autores, criou-se referências estigmatizantes de ordem física, intelectual e social associadas à pessoa preta.Essas referências passaram a ser socialmente legitimadas, tornando-se “verdades” compartilhadas e difundidas pela maioria da população. Este processo fez com que as pessoas pretas passassem a vivenciar situações deploráveis e de muita humilhação, que passou a desencadear os processos de desvantagens passados por eles enfrentados nas situações concretas do cotidiano. Os estereótipos estipulados na sociedade, ressignificam-se, e se transformam com o passar do tempo, correspondendo à situação econômica e política atual, não obtendo nenhum interesse na população dominante em mudar sua posição. Nos dias de hoje, a imagem do preto no Brasil sendo positiva ou negativa é de acordo com a sua posição na sociedade, isso 27 mostra que ainda está impossibilitada de mobilidade e sem nenhum tipo de força para conquistar um espaço de vantagem como forma de representação e modificação de sua imagem no Brasil. As pessoas pretas sempre são vistas com maus olhos, muitas vezes em ambiente frequentados pela classe dominante, sempre reforçando que ele não faz parte daquele tipo de ambiente, o fato de ser preto nunca é esquecido e todas as variadas características são colocadas de lado sobre a lembrança de sua pertença racial. Ele é, antes de tudo, uma pessoa preta. Nos lugares é vigiado pelo fato de ser preto. Isso não acontece com pessoas brancas. Visto como o padrão de normalidade, sua identidade não é questionada. A grande maioria da população brasileira, preta ou branca, incorporou o ideal do branqueamento. Inconscientemente este ideal, tem relação direta no processo de construção da identidade da pessoa preta, pois ser solidário e pertencente a um grupo entre a população preta acaba sofrendo um processo de enfraquecimento. O ideal de branqueamento interfere também na formação da autoestima,pois os pretos interiorizam os preconceitos negativos contra eles projetados e desenvolvem sua conduta na assimilação dos valores culturais da esfera dominante branca (Munanga, 2004). A população brasileira assume as características do branco-europeu como representativas de sua superioridade étnica.Em contrapartida, o preto é visto como um tipo étnica e culturalmente negativo.Entre essa dicotomia, estabeleceu-se uma escala de valores, aqui chamada de gradiente étnico, de tal maneira que a pessoa cujas características a aproximam do tipo branco tende a ser mais valorizada é aquela, cujas características a aproximam do tipo pretos, tende a ser desvalorizada e socialmente repelida. Assim, no Brasil, criou-se historicamente a crença de ser a miscigenação um processo pelo qual os pretos se tornaram mais respeitados e teriam mais possibilidades de ascender na escala social (Ferreira, 2000). A sociedade brasileira é construída por meio das características do branco-europeu como representação de superioridade étnica. Analisando em contrapartida, o preto é colocado como o tipo étnica e culturalmente negativo. Entre essa separação, é estabelecido em um gradiente étnico, da maneira 28 com que a pessoa cujas características tenham mais proximidade do tipo branco tendem a ser mais valorizadas e aquelas, cujas características se aproximam do tipo preto, tendem a ser desvalorizadas e socialmente rejeitadas. Assim, no Brasil, criou-se historicamente a crença de ser a miscigenação um processo pelo qual os pretos se tornaram mais respeitados e teriam mais possibilidades de ascender na escala social (Ferreira, 2000). Apesar da política de branqueamento físico da sociedade não ter conseguido o resultado esperado, o ideal desta possibilidade em se tornar possível está enraizado em nossa sociedade por meio de mecanismos ideológicos presentes no inconsciente do brasileiro. As teorias racistas, que fazem parte de construção das relações raciais no Brasil, trouxeram a perspectiva de tratar as diferenças como uma forma de deficiências, prejudicando a construção de uma identidade de um indivíduo preto baseado no seus traços negroides, já que é estipulado na sociedade que todos sigam de certa forma a identidade branca, por se acreditar como uma identidade superior. Por este fato, a população preta enfrenta bastante dificuldade em desenvolver uma identidade que se voltasse em políticas que tratassem como objetivo a melhoria das condições sociais deste grupo de pessoas. As relações raciais da sociedade contemporânea trazem como herança significados universais e ainda estabelece. O papel do preto como um representante de uma coletividade apontada constantemente com atributos negativos. Generalizações estipuladas em torno de sua identidade perfazem numa igualdade pela negatividade sempre colocada aos pretos e de maneira diferente em relação ao padrão identitário posto e reposto a todo momento diante dos mecanismos ideológicos afetando de forma direta a identidade de pessoas pretas. 2.1.3 Educação Voltada A Literatura Preta O século XX foi proclamado e juntamente celebrado como o “ século da criança". É de forma inegável perceber que a infância tornou-se a centralidade na cultura atual, e assim é direcionado todo um mercado de bens simbólicos com alicerces na ideia da sua singularidade e distinção em relação ao adulto. Embora a infância tenha se tornado uma afirmação da 29 especificidade onde é o resultado de uma longa construção histórica, foi no século passado que obteve o ganho de contornos mais precisos e definidos, assim foi iniciado um alvo permanente para a aplicação de políticas de proteção e amparo e, por outro lado, de uma variada produção cultural. A literatura infantil foi concebida como diferente da produção que é destinada para o público de leitores adultos, fundando-se nessa percepção. Dentro da construção de "gênero" só obteve relevância por ser dentro de uma cultura que conferiu ao leitor infantil uma especificidade, a qual teria como demanda um texto propriamente específico a este público de leitores. Ao longo do processo histórico de construção da literatura infantil, os autores não passaram apenas a produzir a identidade do "gênero", mas demandaram uma identidade do leitor. Dentro disso, na definição e qualificação da singularidade dessa produção literária, foi produzido em conjunto a representação de infância e leitor infantil. De modo característico, a literatura infantil foi configurada por meio de formulação e transmissão de visões de mundo, e analisando os modelos de gostos, ações, comportamentos que cotidianamente são reproduzidos pelo leitor. Foi construído uma concepção de ser um texto literário em que se aplica o caráter pedagógico fazendo-se presente de forma especial. Ao mesmo tempo, a questão da menoridade da infância causou influência dentro da menoridade da produção literária, no interior desse campo cultural. Para além da especificidade e semelhança com a literatura destinada ao público adulto, a produção da escrita literária resguarda a que se refere uma relação, não aplicada à transparência, mas do processo de reconstrução. A partir das décadas de 20 e 30 do século XX no Brasil, com relação ao processo de modernização social, que os meios de produção literária destinada ao público infantil foi afirmado. O crescente número da urbanização, passou a exigir uma identificação da população, em que eram necessárias a aplicação das práticas sociais de leitura, com as reformas de ensino que tinham como ponto principal de desenvolver o gosto pela leitura com a criança, sendo uma afirmação de uma família burguesa centrada dentro dos cuidados à infância, nos termos gerais, foi tornando possível a consolidação de uma leitura voltada para o leitor infantil. Dentro dos meios de produção literária nas duas primeiras décadas do 30 século XX já acontecia uma preocupação com o processo de nacionalização da produção. Porém, esta tradução em textos que abordavam sobre o país era dentro de uma perspectiva de modo arbitrário, mostrando as grandezas do nosso povo e da nossa terra de maneira de glorificação, sendo totalmente perceptível que estavam se baseando na cultura europeia. Tratando de desenvolver o sentimento de amor à pátria e, ao mesmo tempo, performar um ideal baseado na civilização europeia. Porém, em meados de 1920, teve o início das transformações com experimentação voltada ao campo cultural mais amplificado, dentro da produção cultural destinada ao público infantil que busca abordar fatos do país que remetem à identidade cultural. Procurava-se que a criança brasileira escrevesse na sua linguagem, sobre o seu grupo étnico, suas raízes culturais e raciais. Essa temática tornou-se tema de preocupação na grande parte dos autores voltados para o público infantil. A literatura infantil nesse período trazia o diálogo com as diversas representações voltadas acerca da questão racial, estabelecendo uma ponte entre os discursos produzidos no campo científico e artístico, passando a incorporar tal temática no interior das narrativas. Ao analisarmos as obras literárias voltadas para o público infantil a partir da década de 1920, e realizando um estudo comparativo com as produções anteriores, chama muito a atenção sobre o aparecimento do preto na narrativa. Nos textos pesquisados, produzidos entre 1900 e 1920, o preto era um personagem totalmente ausente, ou citado ocasionalmente como o personagem doméstico. Era o personagem mudo, destituído de uma caracterização além de uma referência racial. Ou então o personagem presente nos era enquadrado dentro do período escravocrata. A problemática da ausência do preto descrito nas cenas sociais no período remete diretamente a forma de marginalização que foi inserida em consequência após a abolição. O processo de apagamento do preto nos textos da época reflete uma mentalidade do racismo enraizado na sociedade e traz os ideais da mentalidade dominante de progresso e civilização. Sempre procuravam anular os hábitos antigos urbanos, assim como afastar em massa dos grandes centros os grupos populares, visto como os focos de agitação e resistência à nova ordem social instituída. Dentro deste quadro, o 31 preto era percebido pela herança de uma sociedade arcaica e ultrapassada, voltado ao tradicionalismo, à ignorância, de uma ordem de um modelo europeu, na ideia de progresso. A escravidão era vista como a representação de um país atrasado e como marca ofensiva. Assim, a figura do preto, com seus traços, suas práticas e sua história manteria a presença de incômodo da antiga ordem escravocrata, sendo incompatível ao projeto de país "civilizado" que as mentes dominantes queriam para a sociedade. As práticas culturais se amplificam, tratando-se de uma discussão em torno da brasilidade, não mais no papel de negação, mas para a afirmação de sua composição racial, a forma de representação do preto na literatura infantil sofre alteração. O papel do preto era identificado de acordo com as raízes do país. Cabe agora analisar as imagens dos personagens pretos nas produções culturais, a fim de compreender as maneiras de representações que as relações raciais assumiram a literatura infantil. 32 3 IDENTIDADES E CULTURA Trazer a discussão de identidade em mundo totalmente globalizado, principalmente no Brasil, trata-se de um assunto muito delicado e polêmico. A percepção que temos de uma população miscigenada é tão eminente que, para a sociedade como um todo, essa noção é de um caráter homogeneizador. O ideal estipulado na sociedade que somos todos iguais, presente na constituição, é um dos principais fatores responsáveis por essa noção e pelo mito nomeado como democracia racial. Entretanto, ao se tratarmos de identidade temos que ter o entendimento que é um processo de construção, que é constituído dentro das próprias diferenças sociais e culturais que temos em nossa sociedade.Além disso, a identidade permite se vermos como sujeitos, seja dentro do âmbito individual ou no coletivo. Meyer (2002), diz que quem e o que somos se define em relação àquilo que nós não somos, e a operação de poder que está envolvida nessa definição nos posiciona de diferentes maneiras nas sociedades e grupos que vivemos. Com isto, a autora traz a reflexão sobre a identidade não ser vista apenas de uma única maneira. Uma mesma pessoa pode possuir várias identidades (gênero, étnica, social, profissional), mas são existentes aquelas que são espaços de luta. Nascimento (2003, p. 29) discute essa ideia e nos diz que a “afirmação de identidades específicas vem demarcando espaços de resistências”. Os diferentes grupos sociais e culturais têm sido tomados na nossa sociedade, como uma forma de dominação por parte daqueles tidos como privilegiados. Na busca de espaços democráticos, a identidade se torna algo fundamental para a conquista desses espaços, por isso o indivíduo não constitui sua identidade sozinho, ela está inserida em um contexto social. Nascimento (2003, p. 30) faz uma comparação pertinente ao dizer que “a identidade pode ser vista como uma espécie de encruzilhada existencial entre indivíduo e sociedade que ambos vão construindo mutuamente”. Pertencer de um determinado grupo pode iniciar a gerar certas dúvidas com relação à identidade, como um conceito estático. Meyer (2002) nos lembra que o pertencimento, quanto etnia, raça e nacionalidade, são marcadores sociais e que estão relacionados com a construção da diferença 33 que aceitamos como naturais e imutáveis. Dessa forma, a compreensão do conceito de identidade como algo fixo é que leva determinados grupos a usar características específicas, para serem transformadas em vantagens e privilégios sobre outros. É de forma equivocada pensarmos em identidade como algo definitivo, e não como algo dinâmico e de modo imprescindível para a construção da subjetividade. Tomando como base a psicanálise contemporânea, Nascimento (2003) diz que o sujeito se constrói a partir dos outros e que a identidade é contínua, é uma dinâmica onde o indivíduo interioriza atitudes do meio social. Por isso, a partir dessas reflexões a autora afirma a noção de identificações remetendo à própria identidade como esse processo dinâmico. Desse modo, a reflexão sobre a construção da identidade preta, é necessário trabalhar no dinamismo dos conceitos de identidade, para analisá-lo no contexto histórico-social. Atualmente a questão da identidade étnica tem trazido bastantes discussões acerca das políticas de reparação, como as ações afirmativas para inserir práticas afirmativas para a reeducação das relações étnico-raciais. 3.1 Bibliotecários e Bibliotecas Escolares no Combate a Desigualdade Racial As Bibliotecas escolares podem contribuir na luta contra a desigualdade racial, o primeiro passo para a aplicação desta prática é inserindo a decolonialidade por meio de seus catálogos, realizando laboratórios para os estudantes pesquisarem a fundo sobre essas temáticas. O Bibliotecário tem que possuir uma formação crítica para passar a pensar e aplicar a diversidade epistêmica de dentro para fora no ambiente informacional. Proporcionar reflexão e ação, tanto em âmbito pessoal, quanto profissional, da ressignificação, da reconstrução e da resistência do longo e complexo processo de dominação vigente, resultante da colonialidade do poder, saber e ser: primeiro, da divisão eurocêntrica, depois, da divisão entre desenvolvimento e subdesenvolvimento (vide: Quijano, 2005; Grosfoguel, 2008; Mignolo, 2007, 2008, 2010); 34 Travar diálogos transversais entre as diferentes culturas e povos que foram desvalorizados e invisibilizados no decorrer histórico e demarcar seus valores e importâncias político, histórico e sociais dentro dos processos e ambientes informacionais (vide: Bernardino-Costa, 2018; Bernardino-Costa; Grosfoguel, 2016; Silva; Valério, 2018; Silva, 2019). Para auxiliar no combate à desigualdade racial e trazer o conhecimentos às crianças acerca deste assunto, é de extrema importância possuir obras que trabalham os componentes essenciais de relações raciais. Essa formação para as crianças promove uma cultura antirracista, fortalecendo a identidade, a ancestralidade e o reconhecimento sobre o processo de resistências dos povos africanos. Abordar histórias das Áfricas em diáspora e dos povos originários para o conhecimento aprofundado para os alunos. As ações que podem ser tomadas dentro de uma biblioteca escolar, para tornar-se um meio de informação e aprendizado com esta temática também consiste na formação de bibliotecários e equipe para terem um ensino aprofundado para assim aplicar na biblioteca e com o seus usuários.Sendo assim, inserindo Palestras e minucursos com especialistas destes assuntos, clubes de leitura antirracista, rodas de diálogo, cineclubes, contação de histórias dos povos africanos e sobre as culturas afro-brasileiras, promovendo ações integradas com a literatura infantil por meio de exposições temáticas que envolve fotografias e literatura, e por final explorar datas de valorização da cultura afro brasileira. O perfil do bibliotecário para conduzir esta temática para o ambiente informacional, é ser um leitor ativo e está sempre atualizado sobre os diversos assunto que trabalham com esta temática, conhecer as teorias da leitura, valorizar as práticas de narrativas orais, torna-se viável o acesso a informação em diferentes meios de suporte, conhecer as políticas públicas para o livro e a leitura, sempre estar atento às questões das multiplicidades culturais, estabelecer relações de afeto com o leitor, trabalhar em equipe, estabelecer parcerias, possuir competências com as TIC, conhecer sobre a web 2.0 e a busca por educação continuada. 35 4 METODOLOGIA A metodologia deste trabalho foi por meio das pesquisas exploratórias e bibliográficas, e também utilizou o método indutivo. "A pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema" (Gil, 1991, p. 45). As pesquisas exploratórias têm como foco a uma maior familiaridade com o problema, com visibilidade para tornar-se mais explícito e também construir hipóteses. Essas pesquisas têm como foco principal aprimorar as ideias ou a descoberta de intuições, e novas ideias. A pesquisa exploratória contém flexibilidade, de maneira que qualquer um dos aspectos com relação ao fato estudado são importantes. Para Malhotra (2001, p. 106), a pesquisa exploratória " é um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo o fornecimento de critérios sobre a situação problema enfrentada pelo pesquisador e sua compreensão". Costumam ser de natureza qualitativa. Segundo Macedo (1994, p. 13), a pesquisa bibliográfica: “Trata-se do primeiro passo em qualquer tipo de pesquisa científica, com o fim de revisar a literatura existente e não redundar no tema de estudo ou experimentação”. Desta forma para Lakatos e Marconi (2003, p. 183): “[...] a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. Por meio destas metodologias, a pesquisa foi realizada com uma análise dos sites de quatro editoras, foram essas a editora Companhia das Letrinhas e Galerinha, que acredita-se não possuir um catálogo voltado aos livros infantis afrocentrados e compará-los com sites das editoras Pallas e Mostarda, que possuem esse tipo de catálogo. A partir desta comparação, foi feito uma quantificação do número de capas de livros infantis afrocentrados, que contém em cada uma das editoras.Na Editora Companhia das Letrinhas apliquei o filtro, no qual eu coloquei o ano de 2010 a 2024 e segundamente coloquei a idade de 0 à 12 anos. Já na Editora Galerinha, foi utilizado somente o filtro de gênero para obter a análise do número de capas. 4.1 MÉTODO INDUTIVO A indução é realizada por meio de um processo mental por intermédio 36 do qual, por meio de dados particulares, suficientemente constatados, tem uma interferência direta na verdade geral ou universal, não contida dentro das partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é trazer as conclusões acerca do conteúdo é mais ampliado do que o das premissas nas quais se baseiam. Dentro dessa característica, o que não pode deixar de ser analisado é o argumento indutivo, da mesma maneira que o dedutivo, é fundamentado partindo de premissas. Mas, será, nos indutivos, conduzir apenas a conclusões prováveis ou, no dizer de Cervo e Bervian (1978, p. 25), “pode-se afirmar que as premissas de um argumento indutivo correto sustentam ou atribuem certo verossimilhança à sua conclusão. Assim, quando as premissas são verdadeiras, o melhor mais amplo que se pode dizer é que a sua conclusão é, provavelmente, verdadeira”. 4.1.2 Universo Da Pesquisa O universo, ou população, é o conjunto de elementos que possuem as características que serão objeto do estudo, e a amostra, ou população amostral, é uma parte do universo escolhido selecionada a partir de um critério de representatividade (Vergara, 1997). O universo da pesquisa é composto por 4 editoras brasileiras, sendo duas delas com o catálogo voltado à literatura afro centrada e as outras duas editoras não, contendo os seus catálogos variados. Essas editoras são Pallas e Mostarda (catálogo Afro-centrado) e Companhia das letrinhas e Galerinha (catálogo variado).O critério da pesquisa é mostrar a quantidade de capas de livros que contém representatividade preta presente no catálogo dessas duas editoras que contém o seus catálogos variados. 4.1.3 Procedimentos De Coleta De Dados A partir da definição das Editoras, pensou-se em um levantamento das capas de livros que possuem algum personagem preto dentre outros personagens existentes ou o personagem como principal para uma comparação.Sendo assim, inicialmente eu procurou-se a Editora Pallas e Mostarda, por saber que trabalham com o catálogo totalmente voltado a 37 representatividades e contém em suas capas de livros. Com isto, obtive a ideia de comparar o número de capas com as editoras Companhia das Letrinhas e Pallas que não contém esse tipo de catálogo, e por meio deste levantamento analisar como a questão da representatividade preta nos livros infantis está sendo desenvolvida na sociedade contemporânea. Partindo dessa observação foi realizado um levantamento das capas de livros que possuem algum personagem preto dentre outros personagens existentes ou o personagem preto como principal, nas editoras companhia das letrinhas e galerinha. O levantamento no site das duas editoras foi facilitado por conter filtros para simplificar a busca aos catálogos. 38 5 ANÁLISE DOS DADOS Foi realizado um levantamento no número de capas nas duas editoras que não contém o catálogo voltado ao tema afrocentrado. O primeiro levantamento foi no site da Editora Companhia das Letrinhas, ao adentrar no catálogo da editora, foi inserido dois tipos de filtro para realizar a análise.O número de capas com representatividade preta na companhia das letrinhas obteve o resultado de 58 capas dentro dos 834 resultados encontrados. O segundo levantamento realizado no site da Editora Galerinha, foi utilizado apenas um filtro de busca para o levantamento do número de capas, sendo ele a inserção do gênero literatura infantil para diferenciar dos outros gêneros que possuíam no catálogo, o número de capas com representatividade preta na galerinha obteve o resultado de 12 capas dentro dos 159 resultados encontrados. Ao analisar as capas para o levantamento de dados, os personagens eram em sua maioria vistos como engraçados, faladores, o amigo brincalhão, ou o personagem que sempre tem que carregar o símbolo de identidade. Todavia, também foi encontrado muitas capas que possuem releituras de histórias famosas de conto de fadas possuindo atualmente personagens pretos nos lugares que eram sempre retratados por personagens brancos, pude perceber que nas obras contemporâneas contém bastante número de capas com fadas, princesas, príncipes, bruxas, entre outros personagens de contos de fadas que nas décadas passadas não encontrava nenhuma dessas representações. Os livros disponíveis no catálogo, poucos foram os livros que tratavam sobre a história africana e afro-brasileira de modo específico, ou seja, que trouxessem aspectos religiosos, da dança, e das contribuições à sociedade. A sua grande maioria estavam presentes nas primeiras categorias e correspondiam a contos e lendas, os livros de literatura infantil atualmente obteve muitas mudanças comparado aos séculos passados. O eurocentrismo tem uma projeção muito forte na minha pesquisa, pelo fato da construção da literatura infantil ter sido criada partindo do pensamento europeu, com o pensamento do colonizador pelo colonizado, e como os diversos tipos de preconceitos enraizados vieram por meio deste paradigma. 39 De acordo com Rodrigues e Aquino (2010, p. 2), para compreender a relação entre o racismo e a literatura infantil recorre-se a necessidade socialmente e historicamente construída, especialmente após o século XV, no momento de expansão marítima e de conquista de outros povos, de classificar as pessoas e a partir disso compreender a diversidade humana com traços e características morfológicas visivelmente diferentes. Nesse caso, “[...] o contato com o outro, sobretudo um outro de costumes, língua e crenças diferentes, gerou a necessidade de explicações forjadas a princípio pela Teologia e, posteriormente, pela Ciência. [...]” (Rodrigues; Aquino, 2010, p. 2). A questão da representatividade é de extrema importância, e tem bastante relação com o racismo que foi construído com o eurocentrismo. As maneiras de compreender e encarar o mundo vem por meio das representações que nós temos, por meio de sujeições que acabamos nos submetendo em função do racismo, a estética e a representatividade é um fator tão importante que se perdura nos estereótipos que são constantemente reforçados entre as pessoas pretas. A figura 1 representa as primeiras capas produzidas de literatura infantil, pode-se observar como os personagens pretos eram retratados na época. Figura 1- Narizinho Fonte: Lobato, 1920. A figura 2, já mostra uma capa atual da Editora Pallas, mostrando um personagem comum já não sendo colocado em papel de minoria e de marginalização da sociedade. 40 Figura 2- Capa Editora Pallas Fonte: McQuinn, 2014. A figura 3, retrata que na década de 30 as capas mostravam bastante as características negroides do personagem preto. Figura 3- Tia Nastácia Fonte: Lobato, 1937. A figura 4, mostra uma capa já atual da literatura brasileira, trazendo um dos grandes nomes da história brasileira. 41 Figura 4- Capa Editora Mostarda Fonte: Orlando, 2019. Gráfico 1- Total do número de capas de literatura infantil com representatividade preta Fonte: Autoria própria 42 Gráfico 2-Total do número de capas das quatro editoras. Fonte: Autoria própria Fonte: Autoria própria 5.1 Editora Companhia Das Letrinhas A editora Companhia das Letrinhas faz parte do catálogo voltado ao público infantil da Companhia das Letras. A Companhia das Letras1 é uma das maiores editoras localizadas no Brasil, foi fundada no ano de 1986, com sede na cidade de São Paulo. Fundada por Luiz Schwarcz, que já tinha experiência de trabalho na Editora Brasiliense, juntamente com sua esposa Lilia Moritz Schwarcz, que teve como um dos quatros primeiros livros publicados Rumo à Estação Finlândia, de Edmund Wilson, que foi um sucesso de vendas e impulsionou a editora, e nos seus primeiros 12 meses de existência, teve o lançamento de 48 títulos. Atualmente a editora contém vários selos sendo entre eles a Companhia das Letras, Companhia das Letrinhas, Companhia de Bolso, Editora JBC, Quadrinhos na Cia, Penguin-companhia, Editora Objetiva, Editora Claro Enigma, Editora Seguinte, Editora Paralela, Zahar e Alfaguara. Com o compromisso de realizar publicações de livros que contribuíssem para tornar o país (e um mundo) mais justo e melhor, atualmente o Grupo Companhia das Letras possui 21 selos com dedicação a variados segmentos. São mais de 8.500 títulos ativos em seu catálogo, em média são lançados 400 títulos ao ano. Essa abundante gama de selos independentes traz com que a companhia das letras tenha uma expressiva 1 https://www.companhiadasletras.com.br. 43 https://www.companhiadasletras.com.br presença no mercado editorial brasileiro, além de obter a capacidade de atender as necessidades de promoção e comunicação de cada nicho com um maior foco para manter um relacionamento aproximado entre os seus autores e parceiros. 5.1.2 Editora Galerinha Sendo um dos maiores conglomerados editoriais da América Latina e com o maior catálogo dentro do segmento dos não-didáticos, o Grupo Editorial Record2 tem nos dias de hoje cerca de seis mil títulos e lança aproximadamente 30 livros mensalmente. Além da editora Record, fundada no ano de 1942 por Alfredo Machado e Décio Abreu como uma distribuidora de quadrinhos e outros serviços voltado a imprensa, também integram o grupo os selos Galera e Galerinha, a editora Bertrand Brasil e o selo Difel; as editoras José Olympio, Civilização Brasileira, Paz e Terra, Verus, Best Seller (e o selo Best Business), as edições Bestbolso, rosa dos tempos, nova era e viva livros. Possui como marca a biodiversidade, o grupo tem como publicações livros sobre ficção; narrativas históricas e científicas; ensaios culturais, sociológicos, literários e filosóficos; reportagens; romances policiais e de suspense, literatura infantil e quadrinhos. Obtendo um parque gráfico próprio, composto por meio de um sistema Poligráfico Cameron, um moderno equipamento de impressão, sendo único no continente, saem em torno de 100 livros de 200 páginas por minuto. 5.1.3 Pallas Fundada no ano de 1975, na cidade do Rio de Janeiro, a Pallas Editora tem como dedicação grande parte de seu catálogo aos temas afrodescendentes. Com interesse em abranger a compreensão e também na valorização de nossa raízes culturais e ciente que ainda é precário obter esse registro dos saberes africanos na diáspora e de sua importância sendo umas das matrizes fundadoras de nossa nacionalidade, a casa editorial busca a 2 https://www.record.com.br/ 44 recuperação e o registro de tradições religiosas, linguísticas e filosóficas dos variados povos africanos trazidos de forma contínua para o Brasil durante o regime escravista. A Editora visa acompanhar, ainda, as manifestações afro-brasileiras contemporâneas, valorizando-as como uma das formas fundamentais de expressão da brasilidade. O espectro do catálogo é totalmente amplo: da religiosidade com o registro escrito das tradições orais africanas inseridas em nosso país, à literatura, que passa pelo caminho da antropologia, sociologia, por livros de referência, pelo cinema, e pela filosofia entre outros. A editora ao longo de sua história vem consolidando seu catálogo de literatura infantil e juvenil, com os títulos que as histórias africanas e afro-brasileiras são contadas e nos quais personagens pretos ocupam o lugar de protagonismo, o que é de extrema urgências e necessário em uma país mestiço como o Brasil. Atualmente a Editora Pallas contém em seu catálogo 78 títulos do gênero infantil. O seu diferencial nas capas de livros, diferente das Editoras Companhia das Letrinhas e Galerinha, é que em seu catálogo são abordados todas as temáticas da cultura afrodescendente e afro-brasileira, trazendo jogos africanos, religião, comida típica, tradições africanas, música, entre outros. 5.1.4 Mostarda A Editora Mostarda faz parte da segunda geração de uma família dedicada aos livros. A escolha do nome para a Editora foi por meio da origem no que a semente de mostarda representa: uma pequena semente, mas que transforma na maior das hortaliças. Assim, a meta é ser uma grande e importante difusora do livros, no qual, em sua trajetória, seja possível ter uma mudança na vida das pessoas, agregando conhecimento, e quebrando barreiras e preconceitos. Sua missão é a busca constante, por meio do livro, como ferramenta, difundir e desenvolver o hábito da leitura, propondo mudanças na vida das pessoas, quebrando todas as barreiras e preconceitos. Fidelizando seus clientes através da busca constante de sua excelência em 45 seu atendimento. Atualmente a editora tem em seu catálogo 10 títulos do gênero infantil, 6 desses livros fazem parte da box de edição especial que traz em suas capas biografias de quatro grandes e inspiradoras figuras históricas pretas, sendo elas Carolina Maria de Jesus, Irmãos Rebouças, Mandela, Dandara e Zumbi. 46 6 RESULTADOS DA PESQUISA Como resultados desta pesquisa pode-se destacar que existem uma quantidade maior de livros de literatura infantil que não contém personagens pretos em suas capas, comparado aos livros que contém, mesmo com os avanços na literatura infantil e o número de representatividade terem aumentado, observa-se que não há ainda uma representatividade significativa nas Editoras Companhia das Letrinhas e Galerinha. Portanto, os profissionais da área de biblioteconomia e da educação devem estar atualizados sobre aspectos ligados às vivências do preto na realidade histórico-cultural do Brasil, sendo que por muito tempo os personagens pretos dos livros infantis eram retratados de uma forma pejorativa, como os vilões da história ou o amigo engraçado e totalmente ignorante quando tratava de assuntos sérios. Com isto, a presença de mais livros com personagens pretos na prateleiras e nas histórias contadas, traz um grande impacto para uma criança preta, sendo um papel importante para a sua representatividade e identidade na população. Com as criações de narrativas e na leitura desses livros em sala de aula e bibliotecas, as percepções da criança quanto a ela mesma mudam e proporcionam uma auto estima e orgulho da sua cor, cabelo e todos os traços negróides que a criança possui. Levantamento de capas de livros das quatro editoras: A Editora Companhia das Letrinhas contém em seu catálogo 58 capas com representatividade preta dentro dos 834 resultados encontrados. Ao observar estas capas percebe-se que grande parte são de contos de fadas e fantasias, poucos retratam a temática de afro ancestralidade ou a cultura afro-brasileira.Também é possível constatar, que ainda é escasso o número de capas que apresentam essas temáticas por mais que a representatividade preta tenha aumentado comparado a outras épocas na literatura infantil. A Editora Galerinha, contém em seu catálogo 12 capas em 159 resultados encontrados, pode-se observar que este número é muito inferior comparado a quantidade total de títulos existentes do gênero infantil na 47 editora. As capas com representatividade preta são, em sua maioria, sobre contos de fadas e fantasia. De modo geral, as capas também não trazem a cultura afro centrada em si, religiões africanas, cultura afro-brasileira ou sobre a África. A Editora Pallas contém em seu catálogo 78 capas do gênero infantil, todas com representatividade preta, o diferencial encontrado na análise, comparado a duas editoras citadas anteriormente, é como a editora trabalha com as temáticas da cultura afrodescendente e afro brasileira, trazendo em suas capas, jogos africanos, religiões africanas, músicas, suas tradições, entre outros. Obter esses tipos de capas mais específicas a esta temática é extremamente importante para a criança ter um contato desde cedo, sendo extremamente importante para auxiliar a criança desenvolver sua identidade e auto estima. A Editora Mostarda contém em seu catálogo o número total de 10 capas do gênero infantil, sendo todas com representatividade preta em suas capas. O diferencial desta Editora é que em suas capas de livros colocam o máximo de temas retratados nos livros, além de conto de fadas e fantasia, biografias de grandes figuras pretas importantes na história. Com a análise das capas de livros nos sites das editoras, foi possível identificar o quanto o processo de representatividade de personagens pretos apresentou um avanço significativo quando comparado, mas ainda apresenta uma quantidade inferior no número de capas com personagens pretos quando comparados. Observa-se que, muitos desses livros não tratavam diretamente da cultura africana e afro-brasileira, ou que retratavam aspectos da religiosidade de matriz africana. É de extrema relevância acrescentar que os livros na análise das capas, se deu a partir da valorização evidenciando as características da cultura afro e a forma como a identidade preta foi representada e abordada. 48 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da história da literatura nacional, os personagens pretos estiveram, em sua maioria, representados por estereótipos, que como já comentamos anteriormente, destacavam negativamente seus traços físicos e costumes de higiene, questionavam sua inteligência e os posicionavam em um lugar de marginalidade ou subserviência. Essas tendências permanecem, de certo modo, até hoje, principalmente devido às relações de poder e preconceito enraizadas historicamente na humanidade. Porém, para Silva e Silva (2011, p. 5), "Não devemos descartar tais obras, temos que revisitá-las sempre, buscando o entendimento de suas construções para que haja desenvolvimento intelectual". Apesar de não podermos alterar o passado, podemos agora compreendê-lo de uma maneira diferente. Sendo necessário, dedicar uma atenção especial e tempo para criar reflexões e discussões no momento da leitura de obras que descaracterizam a figura do preto, com referências totalmente preconceituosas, para assim evitar que valores errôneos enraizados na sociedade continuem sendo reforçados. Em seguida, a linha de questionar, criticar e interpretar textos que foram criados em outros tempos não deixa de ser algo bastante importante, principalmente na escola, o primeiro ambiente de aprendizado, multicultural e de diálogo pelo qual todos fazem parte em algum momento. Nos dias atuais, a literatura infantil traz uma preocupação quanto à novas criações de obras que valorizem a identidade preta e essencial, que demostra os aspectos culturais e históricos além da época de escravidão. Nas últimas décadas do século XX, inicia-se novos livros de autoria nacional com propostas modificadas das anteriores, agora realizando a defesa sobre uma nova representação da imagem do preto, mais fiel à realidade, prezando suas tradições e costumes.Nesta pesquisa, passei a ter um carinho especial com a literatura infantil. Além disso, desenvolvi um olhar mais crítico quanto às questões da temática afro centrada na própria literatura. Conclui-se que apesar do número de representações de personagens pretos terem tido um aumento 49 circunstancial, ainda é totalmente inferior às demais categorias existentes na literatura. Por isso, a contribuição da escola e bibliotecas escolares precisa ser constante para discutir e problematizar, a valorização da história e cultura afro centrada, bem como o racismo dentro de nossa sociedade e das escolas. O papel educativo que pode ser exercido pelo bibliotecário, em especial daqueles que atuam em instituições escolares é promover o incentivo à leitura, ou seja, desenvolver nos usuários o hábito e o prazer de ler. Este papel pode ser realizado por variados níveis. Primeiramente com a ação organizadora, por onde a biblioteca disponibiliza uma coleção estruturada com recursos informacionais e instrumentos para o acesso do bibliotecário.Está ação educativa se limita ao fornecimento de instrumentos que cada biblioteca escolar propõe para o uso desses recursos, em grande parte no formato de folhetos ou textos explicativos, pelo qual os alunos pode aprender por conta própria alguns aspectos do funcionamento da biblioteca. Segundamente, o bibliotecário também pode ser um palestrante, com o papel de reunir os alunos novatos no início de um período letivo para assim auxiliá-los sobre o uso e funcionamento da biblioteca acerca dos regulamentos e normas. Terceiramente, o bibliotecário pode ser um instrutor, ajudando os estudantes no esclarecimento acerca do uso de determinadas fontes de informações, que pode estar relacionada a um tópico trabalhado em sala de aula por um professor. Em quarto lugar, o Bibliotecário pode ser um tutor, auxiliando nos passos a serem seguidos durante a pesquisa e assim elaborar um roteiro que irá servir posteriormente para a execução de tarefas similares. Em quinto e último lugar, o Bibliotecário pode ser um orientador, auxiliando o aluno no entendimento do conteúdo acerca das fontes de informação, para assim o aluno responder à questão ou resolução do problema proposto em seu projeto, o bibliotecário torna-se ativo no processo de aprendizagem, que envolve planejamento, implementação e avaliação. Além disso, o bibliotecário pode contribuir para as escolas colocando clubes de leitura com a temática afro centrada, possibilitando que os alunos discutam e compartilhem suas experiências com a leitura. Fornecer sugestões de livros, facilitar as discussões e ajudar os alunos a desenvolver 50 habilidades de análise e interpretação de textos.Discutir e compartilhar suas experiências de leitura. Esta pesquisa é apenas uma parte pequena diante aos assuntos que esta temática pode desdobrar, pois além do processo da representação da identidade preta nos livros de literatura infantil, também existe a questão da criança preta. Este assunto é de extrema importância para a sociedade e de significativo interesse pessoal. Para mim, sendo uma pessoa preta não foi possível obter meios de visualizar essa representatividade na literatura e sofri no processo da minha identidade, juntamente com o racismo. Espero que esta pesquisa conduza a maiores discussões acerca deste assunto e contribua para estudos importantes futuramente. 51 REFERÊNCIAS ARRUDA, M. A. N. Dilemas do Brasil moderno: a questão racial na obra de Florestan Fernandes. In: MAIO, M. C.; SANTOS, Ricardo Ventura (org.). 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