1 CACOFFATOS Gabriel Maia Salgado (2008-2012) João Vitor Campos dos Reis 1 2 Prefácio O Centro Acadêmico de Comunicação Social “Florestan Fernandes”, ou CACOFF, tem sua primeira gestão no início de 1997, quando no ano anterior — mais especificamente em 1996, em ata de fundação constando o dia 23 de novembro —, os CA que representavam as habilitações do curso de Comunicação Social (Relações Públicas, Radialismo e Jornalismo) se unem em função de pautas comuns, em uma graduação de matriz comum, com o apoio do DADICA. Graduandos como Mara Rita Oriolo (Relações Públicas), Ricardo Matsuzawa (Rádio e TV) e Roger Pascoal (Jornalismo) estavam entre os mais referenciados dentro da chapa ‘Em Cima da Hora’, que teve como marca principal a organização da primeira Semana de Comunicação Social (SeCom). O DADICA inclusive teve verba institucional da FAAC direcionada para o evento, fruto de muita organização e articulação. Mas seu sucesso durou somente o período desta gestão. Não que a entidade tenha sido desativada, mas sua continuidade não permaneceu nas chapas seguintes. Muitos dos membros estavam no fim da graduação e este legado perdeu a prioridade. Moro no distrito dos Pimentas, em Guarulhos, e vim fazer a faculdade de Jornalismo na FAAC, em Bauru, no ano de 2011. Mas depois de cinco anos retornei ao ponto de partida, em 2016. Motivo: um autodiagnosticado desgaste psicológico, por assim dizer. Moro perto do campus da EFLCH-Unifesp. Podemos identificá-la como uma espécie de FFLCH da periferia, que concentra um nicho de estudantes em média mais negro, menos abastado. Certo dia houve uma palestra da Marilena Chauí. Na época, Ocorria a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e ela falava das perdas de direitos, através das reformas e tudo mais que se vê na corrente desmantelação do Estado brasileiro a beira de uma eleição de valores previsíveis e grande tensão gerando a sensação de mudanças intensas no país onde não se sabe dizer se para bem ou para mal. Ela fez um paralelo com o seu tempo de graduanda em Filosofia, nos anos 60, fazendo reminiscência junto às mudanças desta década de 2010 — a polarização política, as lutas de minorias, a libertação do corpo, a mudança de costumes, as diversas descobertas do lazer psicotrópico, os golpes. E aí reside a razão deste projeto editorial-literário: a memória. O que havia de diferente, e o que havia em comum em cada época, em cada geração, diz muito sobre o que podemos ser no presente e decidir o próximo passo. Conhecer o passado para entender o presente. E neste período pensei nesta proposta, que formas, que conteúdo teria, no como, no que fazer: Considerei, nos início deste trabalho, em 2016, a possibilidade da efeméride de 20 anos do CACOFF, com o marco inicial na ata de fundação, no final de 1996. Pensei desde o webdocumentário, passando pela leitura de Eduardo Coutinho a tentativa de desenvolver um método “veja você mesmo” de como é o movimento estudantil; converti o projeto em depoimentos, que, de filmados para uma edição audiovisual, passaram a serem áudios transcritos, por razões tanto técnicas quanto éticas, de exposição da imagem; trouxe, com isso, o uso da fotografia documental; numa última linha deste processo fui desenvolvendo o recorte desde o DCE unespiano até parar na organização estudantil dos comunicadores da FAAC, que é o CACOFF. 3 Neste formato de leitura procurei trabalhar em duas linhas: a narrativa, que envolve crônicas de algumas das minhas experiências com a Unesp, movimento estudantil e até movimentos sociais; e a dos depoimentos, que expõe a experiência com ex-alunos da comunicação da FAAC que tiveram suas experiências pelo CACOFF, seja como chapa, ou como apoiador das gestões. Gestões, ora, desprovidas da memória. Seja o leitor um calouro (que às vezes traz capital político ou cultural de alguma organização da juventude, mas desconhece e deve conhecer a dinâmica onde se insere) ou um formando (que já experienciou e adentrou diversos meandros da atividade discente junto às entidades que compõem o CEUB dentro do campus da Unesp Bauru e na dinâmica das cidades ou na organização estadual pelo DCE-HR, mas deve reconhecer a novidade que o calouro traz), é necessário que se deixem marcas, se acumule nos arquivos a experiência obtida. Que se evite um fenômeno de altos e baixos — entenda-se — um ciclo de construção da sua entidade e da organização discentes em seu entorno, que tem seu auge na participação massiva e caótica de uma greve, que acaba por enfrentar os choques, a “ressaca” e esvaziamento das entidades, que terminam na formatura de uma geração e o legado limitado ao boca a boca. É preciso que se entregue às organizações estudantis a continuidade, o crescente progresso, procurando organizar os eventos culturais (Como houve com o Cacoffonia, o Quinta no Bosque), arrecadar os fundos (comercializando alimentos, organizando festas), prover equipamentos próprios e de qualidade à entidade (uma caixa de som, um violão, uma câmera profissional), sanar os imbróglios do sectarismo (saber lidar com as divergências partidárias, não manobrar e prejudicar a qualificação dos debates, o que gera falsos consensos), do vanguardismo (situar no contexto corrente que não há unanimidade de opiniões sobre uma ideologia, seja o modismo do presente ou do passado, e que a base estudantil, que serve a muitas formas de apoio e necessidade além da representatividade política e não é massa de manobra, ainda mais no privilegiado ambiente acadêmico) e as picuinhas (não dar relevância a práticas destrutivas ou moralistas, como fofocas ou histórias aumentadas, ainda mais se as pessoas envolvidas são concordantes sobre uma causa, o que pede ações dialogadas, talvez investigativas, ao invés de inquisitórias). Acima de tudo, este projeto editorial contém, em essência, uma expressão das vivências do estudante na Unesp Bauru — mais que os conceitos ideológicos e disputas políticas, procuram dar um humilde olhar jornalístico, um olhar sobre o que foi feito e o que pode ser aproveitado. Um entendimento do que é a formação de quadros, as experiências com os projetos de extensão e pesquisa (lembremos que apesar dos extremos político- ideológicos institucionais que possam aparecer com nossos mestres, os mesmos trazem seu saber e nos ensinam). Desejo que a leitura deste e dos demais volumes sirva como um manifesto por uma maior organicidade do Movimento Estudantil, que congregue todas as atividades do corpo discente da Unesp (projetos, empresa júnior, moradia, atlética, bateria). Que a leitura lhe dê uma espécie de “cidadania unespiana”, pertencimento, dinâmica, mobilidade, justiça, em uma universidade de 24 campi, espalhado pelo Estado de SP. Que faça ser ativo o sempre provisório DCE-HR! Clichês à parte: boa leitura! O autor 4 Resumo Neste primeiro volume tratarei do meu início de graduação, algumas experiências do meu primeiro ano em 2011, e do depoimento de Gabriel Maia Salgado, meu veterano da turma de Jornalismo de 2008. Seu contexto foi em uma época sem turbulências institucionais — foi aliás uma época de reorganização da entidade, saída da greve dos chamados ‘decretos Serra’, que envolveu USP, Unesp e Unicamp, em 2007, enquanto que eu, calouro em 2011, presenciei o início do processo judicial do Professor João Eduardo Hidalgo contra estudantes de Jornalismo, inclusive o próprio Gabriel, organizados após um ato que criticou a qualidade da graduação na época. Posteriormente, em 2012, Hidalgo processou o próprio CACOFF e o Google (!). Queira, ou não queira, todos vão ler (...) Fábio,Tim Maia, Edson Trindade, Beto Cajueiro, Sérgio, Paulo, Robson Jorge. ‘Tim Maia Racional Vol.2’. Seroma , 1976, LP e CD (Trama, 2011). 5 Era o início de 2011. Um jovem que passou na Unesp até o início dos anos 10 tinha o perfil médio típico do vestibulando que, oriundo dos cursinhos privados — parte de uma indústria do saber que está presente desde o ensino básico e possui força massiva nas redes de colégios de ensino fundamental e médio — não alcançava as melhores notas no vestibular da FUVEST. Cursos de comunicação da ECA, mais concorridos e bem quistos do que na FAAC, tinham na divulgação da primeira lista geral de convocados alguns nomes de vestibulandos que, por diferença de semanas, e posteriormente à lista da Vunesp, se coincidiam. Apesar de diversas universidades evitarem coincidência nas datas de realização das provas, a não coincidência de matrículas era algo que tornava o resultado final dos vestibulares algo virtual, e dependente da USP. Coisa que passou a ser evitada nas IES públicas de São Paulo (USP, Unesp e Unicamp) somente no vestibular 2012, coincidindo datas de inscrição e matrícula da primeira chamada1. Poderíamos oportunisticamente dizer sobre este mesmo comparativo nos vestibulares de outros cursos e faculdades públicas do Estado de São Paulo, não só da Unesp como Unicamp, e podemos expandir essa comparação para UFSCar e UNIFESP, que são federais (e cujos exames quase que predominam hoje em função do modelo unificado através do Enem e Sisu), ou PUC, PUCCamp, Mackenzie, Cásper Líbero e ESPM, privadas e reconhecidas histórica ou mercadologicamente pelos seus cursos de comunicação (e com matrículas através do Enem e ProUni). Mas sempre há perfis peculiares — em nível de contexto — de graduandos nas universidades. O preço de uma inscrição no vestibular é custoso e, a exemplo, mesmo o Enem garantindo isenções regimentadas por direito (ensino médio integralmente cursado em escola pública, bolsistas integrais da rede privada, baixa renda comprovada ou quem prestou Encceja) e sendo automaticamente gratuito para quem está concluindo o ensino médio público, apresenta em 2017 o preço, após reajuste de 20,68%, de R$82, considerado pelos candidatos como alto, dadas as surpresas nas redes sociais2. Há, também, processos de pedidos de isenção parcial ou total nas taxas nos vestibulares das universidades públicas estaduais (a Vunesp cobrou R$170 no vestibular 2017 e a FUVEST, R$160) e até recursos jurídicos como mandados de segurança em caso de não aprovação do pedido. Para além desta questão, que apesar do mérito possui seu caráter burocrático (na documentação) e excludente (em razão dos custos para a inscrição em uma tentativa anual de inserção que é de direito no ensino superior) — simbolismos divulgados de uma ideologia da meritocracia — podemos falar dos negros e indígenas, que antes da inserção do modelo de cotas na Unesp em 2013 era irrisório; de uma relação seletiva voltada sociologicamente ao perfil minoritário de um ou uma jovem ingressante de um curso de grande concorrência ou de nota de corte alta, que seja advindo de escola pública do estado, ou de bairro periférico da cidade onde se situa o campus. Ou finalmente algum caso mais complexo, que é diversificado em classe social, concepção de mundo, aprendizagem, caso dos que fazem uma segunda graduação, ou dos que entram no ensino superior tardiamente, que trazem experiências passadas dentro de uma nova. Pessoas que buscam exercer seu direito à educação e vivem através dele pela academia, pela oportunidade de ascensão social ou pelo desejo da realização de mudanças sociais. O que posso colocar como meu caso é essa condição de experiência complexa. Passei dos dezoito aos vinte e cinco anos por cursinho privado; curso técnico em eletroeletrônica no SENAI de Guarulhos, concluído porém sem nenhuma hora de estágio; Cursinho Comunitário Pimentas (CCP), onde passei a conhecer melhor a realidade política e aprendi sobre a tomada 6 de consciência social e cidadania; Bacharelado em Ciências da Computação (BCC) na Unifesp de São José dos Campos, minha última tentativa teimosa de me enveredar frustrantemente pelas ciências exatas; voltei ao cursinho comunitário e por fim chegava ao jornalismo na Unesp Bauru. Sendo breve, a razão de uma mudança constante como essa não só tem a ver com gosto, indecisão, experiências ruins ou uma consequência que as descobertas na universidade nos trazem para levar alguém de um lugar a outro. Tem como plano de fundo o questionamento, a curiosidade, talvez idealismos. Para fazer o caminho que fiz até a entrada no jornalismo da FAAC tive o choque de perceber a desvantagem de ter saído da escola pública e descobrir a defasagem em comparação a quem teve ensino pago e um ambiente sociocultural que favorece o estudo, e não a necessidade urgente de emprego pela sobrevivência; de crer que era feito para as ciências exatas e de somente com aprendizado verdadeiro descobrir uma complexidade que não estava ao meu alcance (ou podemos dizer também por fruto de um sistema fracassado do ensino público por onde passei) e ver que meu talento era para as ciências humanas — isso mesmo teimosamente indo para a eletrônica e para a computação; de desenvolver consciência crítica após as primeiras frustrações com o vestibular e descobrir nas causas sociais um caminho de mudança através da educação e cidadania. Entrar em uma graduação com bagagem na área de estudo é para poucos e mesmo para quem já teve experiências variadas. Mas com certeza já podia dizer neste início de faculdade que uma graduação, não importando a área, forma um ser humano, e este leva adiante seu saber acadêmico adquirido para desenvolver suas potencialidades no mundo afora. Potencial para ‘servir a sociedade’ há, sempre. No ano em que passei no vestibular da Unesp, foi diferente: procura-se um lugar silencioso, senta-se, pega-se apostilas do vestibular e anota-se esmiuçadamente cada detalhe, de cada disciplina. Fuçava por teleaulas no Youtube pela manhã e seguia à tarde na biblioteca do cursinho comunitário, exercitando até dominar cada assunto. Não cheguei a ler tudo que gostaria, mas o apoio vindo de aulas e também da minha paciente família colaboraram para manter o foco. Quando passei, foram aparecendo as listas. Aqueles que passaram no Jornalismo da ECA em primeira chamada já haviam sido chamados na Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da FAAC, me fazendo esperar pela segunda chamada; enquanto isso, pra não perder a oportunidade, cheguei a me matricular em Letras nas FFLCH antes de sair a segunda chamada. Praticamente não me pintaram! Somente um ‘USP’, de cor vermelha, na testa. Corroborando para evitar qualquer caráter repressivo, na FFLCH a cultura estudantil já tratava como opcional qualquer zoeira. Havia uma piscininha de plástico com água e confetes para mergulhar mas simplesmente achei estranho, afinal não era algo que os veteranos do curso de Letras estivessem interessados em incentivar. Bom era ver que o convite para participar de todo o espaço, como grupos de estudo, a Atlética da FFLCH ou o CAELL. Quando olhei a segunda lista da Unesp e meu nome presente, comemorei silenciosamente, com um ar transcendental. A vida de vestibulando durara tanto, que a prova já era um exercício como foi em todos os dias de estudo. Quem lê esse livro e tem paz de espírito vai concordar. Quem não tem essa paz de espírito são os que tratam a prova como uma grande barreira, uma batalha, um martírio. Quando entregava o gabarito da primeira fase da FUVEST, um pobre rapaz teve uma hemorragia nasal bem na hora de passar as respostas para o gabarito, a poucos minutos do fim! Me fez lembrar da “marcha” que faziam todos os alunos do cursinho privado rumo a UnG, bem próxima; também da meditação de 7 última hora, de camisetas enaltecendo o cursinho, como que um peso nas costas por representar uma casta de estudantes privilegiados. ... No início de fevereiro de 2017, estava um tanto moribundo, um tanto renovado e apaixonado pelas possibilidades e prazeres que a vida jornalística oferece. Era tarde de domingo. Viajo de Guarulhos, desde a região dos Pimentas, até São Paulo. Peguei o metrô pelo Terminal Rodoviário Tietê. Fui até a estação República e andei cerca de vinte minutos, cortando a Avenida São Luís, até os lados do Bela Vista, para os lados do bairro do Bixiga. Toquei a campainha do prédio, dei meu nome ao porteiro. Chegando ao apartamento, o efusivo abraço de Gabriel, que foi meu veterano, 3 anos antes de mim. — Você não mudou nada, Mustafá. Tirando pela barba — disse, notando uma proeminente barba. — Meu jeito pode ser o mesmo, mas se tem algo que mudou em mim é que fiquei um pouco mais radical. ... Era um dia de ansiedade. Botei a camiseta pra ser pintada, chamei minha mãe pela companhia. Parti em viagem para fazer a matrícula. Descobri, indo ao Terminal Rodoviário Tietê, vindo pela Zona Norte, que há muito não havia ônibus para Bauru, e que deveria comprar a passagem no Terminal da Barra Funda, Zona Oeste. Uma rápida viagem de metrô e estão nas mãos duas passagens de ônibus double decker (DD) da Expresso de Prata pelo preço aproximado de R$64. Em 2017 essa passagem está custando em torno de R$112, um aumento de 75%. Como estava ansioso, não dormi a viagem inteira, por mais que precisasse. Bauru fica a cerca de 325 Km da capital, seguindo a Rodovia Pres. (Gal.) Castello Branco e a Marechal Rondon. Uma viagem que, neste ônibus dá quatro horas e meia. Envolve paradas no posto Rodoserv e por vezes as paradas nas cidades de Lençóis Paulista e Agudos, o que dá uma meia hora extra de viagem. Consequentemente não deixei minha mãe dormir. Chegando ao Terminal Rodoviário de Bauru pegamos o ônibus até o campus, com uma ajuda de um rapaz que passava em Design. Fazia cursinho popular oferecido pela FAAC, o Principia. No caminho, muito mato alto, um anfiteatro com ares modernistas (Parque Vitória-Régia) e uma estátua metálica (a pomba de asa quebrada da Praça da Paz), duas rotatórias que geravam força centrípeta intensa e, enfim, o campus. No auge do verão e aparentemente com técnicos de manutenção em férias, a grama estava um matagal. Procurou-se imprimir os últimos documentos e fazer a matrícula, levar a tinta na orelha. Mas estranhamente estava frio, tenso. Poucas palavras, observativo. 8 — Jornal? — Sim… — Diurno ou noturno? — Noturno... — Aeee, vem cá! Mais um noturno!! Ali, quando fazia a matrícula, entupido de tintas e perguntando quem, em meio a dedos de tinta na orelha e chamativas parabenizações — um misto de pejorativo com solicitude — fazia parte do Centro Acadêmico… — Ah, tem o Musta! Deixa eu chamar ele — Se bem me lembro era a Luana, de Jornalismo noturno, me dando a resposta depois da sabatina cheia de tintas. Gabriel apareceu prontamente, tanto pela solicitude de um militante vestido a rigor, com camiseta da entidade (se apresentando a mim e à minha mãe como Musta), como pela urgência em repor as vagas em aberto que apareceram em Repúblicas da Vila Universitária como a Xilindró, a Babilônia, e sua república, a “Risca-Faca”, que fica na quadra 5 R. Nicolau de Assis, Jardim Panorama. Prontamente apareceu também a Gringa, pessoa de energia intensa, alta, super amistosa, em alguns segundos nos puxou para o seu Crossfox vermelho e nos levou até a Risca - assim abreviada e carinhosamente chama-se a república. — Bixo: ali é a Central de Salas, lá é que ocorrerão suas aulas — Musta foi me apontando do carro os lugares da faculdade. Enquanto isso a Gringa ia respondendo atenciosamente minha mãe. — Aqui, bixo, é a FEB. — A Faculdade de Engenharia de Bauru — ia lendo numa grande placa em frente à portaria 2, de onde fomos saindo — pelo visto tem ares mais refinados… Parece até uma faculdade à parte. — Como você pode ver a Engenharia é privilegiada, tem muito mais investimento — completou Musta. — É… e pelas escolhas que o governo federal vem fazendo a tendência é pras exatas mesmo — completei, meio acanhado — Se bem que fazemos uma estadual... — Fala da parte legal também Musta! — Brincava a Gringa, apontando o Ubaiano. — Então, o Ubaiano é um lugar legal pra dar uma desestressada, tomar umazinha — explicava o Musta pronta e formalmente. — Também dá pra almoçar, mas é meio carinho. — Bem, já ajuda na hora de bater um rango — respondi, insípido. As informações eram solícitas, mas eram muitas. O tempo de reação não havia, e como bixo recém-chegado a escolha em geral é se guardar. E o Musta e a Gringa falavam do Hospital Estadual, do Hospital de Base, do Supermercado Confiança, dos trailers da Praça da Paz. Chegando lá, também conheci o Buba, jornalista de primeira linha, que já tinha publicado há quase um ano uma reportagem sobre a indústria da cana e as críticas condições de trabalho3. Ambos apresentaram a casa, cômodo por cômodo, formalmente. Buba brincava pontualmente com o ativismo de Musta sempre — ele costuma sempre fazer isso de modo que nunca se sabe se é sério ou se é só brincadeira… A prática e necessidade mais comum entre moradores de república é agregar calouros. Aceitei, ainda ansioso e um tanto inseguro, até porque a última experiência com uma república não foi das melhores. São José dos Campos tinha apenas uma latente energia universitária, mesmo tendo, além do recém-nascido Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/Unifesp) a Faculdade de Odontologia (FOSJC) da Unesp — desde 2012 passou a se 9 chamar ICT/Unesp — não era mais que um centro tecnológico, e convivi somente com o azar e a falta de vocação para as ciências exatas por lá. Mas a verdade é que ainda estava assimilando a energia presente nos campi da Unesp. A Risca (carinhosamente assim chamada) foi onde fui acolhido e lá morei por cinco anos. ... No caminho até o apartamento de Gabriel, cruza-se a rua Xavier de Toledo, local da Biblioteca Mário de Andrade e, curiosamente, da reitoria da Unesp, local de manifestações tanto de estudantes quanto funcionários de diversos campi unespianos durante toda efervescência de um movimento grevista. Apesar disso ele não se mostra mais interessado em nenhuma participação naquele lugar. — Nada tenho que fazer ali, eu passo bem longe. — É, com certeza. Mas digo que é só pintar um movimento, e sua pauta já estará logo ali. Ele avisava que estava de mudança dentro do mesmo prédio. Fazia quase dois anos que não o via, tirando por alguns telefonemas e mensagens trocadas pelas redes sociais. A ocasião era a Virada Cultural e — não sei se antes ou depois — de um show do Alceu Valença ele surgiu com uma amiga negra, no pique das empoderadas, psicóloga, unespiana das antigas. Não muito depois, se despediu, indicando onde morava. Era bem mais próximo da estação. Me guiando apenas pelo endereço e pelo Google Maps descobri que tinha feito a segunda mudança dentro deste período. Sobre seu efusivo e terno abraço, digo que é uma característica eminente dele tanto pela sua ação social como é possível sugerir — pelo espírito político típico de quem vivenciou o movimento estudantil. Estava concluindo a arrumação da sala, lavando louça, descarregando e organizando livros, ajeitando a posição do artesanato. Entre copos gelados de água trocamos argumentos sobre a primavera feminista na universidade e sobre o formato deste trabalho. O planejado inicialmente era um roteiro na mente, ideias na cabeça, câmera na mão, (Eduardo Coutinho, O Cinema Novo, o CPC…) algumas entrevistas pingue-pongue bem enquadradas, com edição voltada apenas à fala do entrevistado, algo que remetesse ao Fernando Faro, falecido apresentador do programa Ensaio da TV Cultura. Havia até explicado a ele anteriormente por algumas conversas pelo telefone. Mas sua sugestão, em síntese, foi: — Faça uma grande reportagem, publique algum conteúdo na internet. Só escreva, acrescente algumas fotos. Com audiovisual, no máximo faça um teaser. De fato o tempo para produção já era curto: fosse elaborar este trabalho via audiovisual, então ele deveria reservar qualidade na produção. Além disso, penso que uma produção audiovisual solo não pediria aquele esmero estético que procurava, e sim um foco no conteúdo de abordagem. Disse-me o Musta: — Você não é um estudante de Radialismo, e o trabalho seria muito grande. Ou você conhece alguém que lhe ajudaria na edição? Estava sozinho, com um esboço, uns nomes pra entrevista e uma coletânea de fichamentos solta como um quebra-cabeça. Retratar o Movimento Estudantil é pauta rara, 10 ainda mais na área da educação, e em se tratando da situação obscurecida das organizações estudantis no interior paulista. O arquivo (físico) do CACOFF encontrava-se tão disperso e fragmentado quanto à situação deste projeto. Encontrara somente fotos antigas da época da FEB e da UB, e alguns cadernos de atas contendo apenas aparições pontuais em meio a documentos e atas do DADICA. Porém, desde o início do projeto a solução está na descoberta da história dos indivíduos, como é o caso de Musta. São fontes, são fatos, é memória viva e coletiva. Dentre os livros que Musta organizava havia um, o qual fazia questão de propagar, por ser de um amigo próximo, chamado Mistérios da Educação4. O livro fala de diversas poesias bem interessantes, envolvendo o ato de educar, com bastante minuciosidade. O livro tinha inspiração em vivências de escolas e outros espaços no entorno da Praça Roosevelt. Notei que era um livro com o selo Creative Commons. — Entende essas simbologias acompanhadas do CC? Nunca entendi elas muito bem. — Pior que não. Ao menos haviam lá explicados os detalhes de permissão. Era um livro repleto de entrelinhas nas mensagens. Entrelinhas aliás são importantes para conceber sempre uma realidade que não aparece às claras. É inclusive o que sustenta jogos de aparências e disputas políticas contraditórias, ou o que se pareça com isso. Musta me convidou para ir a um encontro com amigos, inclusive com amigos dos tempos de Risca. Pediu-me para aguardar enquanto se arrumava. Aproveitei para folhear um pouco do livro e nele havia um conteúdo detalhista. A introdução tratava de dar olhares da cidade, não só a Praça Roosevelt, como São Miguel Paulista — não muito longe de onde moro —, o Parque da Luz… E situações por vezes curiosas, outras vezes intensas ou até contraditórias... e a intervenção poética está justamente em questionar tais situações, que envolvem atores da área da educação. Prestes a sair do prédio deparamos com vizinhos do prédio, um jovem casal a sinalizar cuidados com o vento e as portas. Mostraram bastante simpatia, diferentemente da execração típica que os universitários sofrem nos condomínios do interior. — Eles são gente fina. Porém sempre tem vizinhos difíceis. Quando morava no outro apartamento a vizinha do andar de baixo reclamava de barulhos e pedia para que eu me mexesse menos. Reclamava do barulho que fazia por estar andando. Simplesmente andando. Vê se pode? Partimos em direção ao metrô Santa Cecília. Em realidade precisava voltar pra casa, me organizar e dedicar os esforços ao TCC conforme os aconselhamentos. “Neste trabalho não vale a pena ser perfeccionista”, me dizia. — Meu perfeccionismo — tentava explicar-lhe — começou quando aprendia algo do tempo do primário5 e percebia meu esquecimento do conteúdo quando adentrava o ginásio6. Sentia que precisava recuperar isso — explicava. — O problema é quando o perfeccionismo te trava — me respondeu, pragmático. — É importante ser meticuloso, faz um grande diferencial. Mas você não deve deixar isso te dominar, atrasar a vida. Sua morada também é próxima do Estadão Lanches. Paramos para comer alguns salgados, como coxinhas, bolinhos de bacalhau. “Esse bar é vinte e quatro horas”, me dizia. “É um ótimo lugar pra colar aqui no dia de dar um rolê”. De fato é um bar bastante conhecido por causa do sanduíche de pernil e frequentado por jornalistas, políticos e famosos. Ali foi a primeira vez que fui, e fica na quase na esquina com a reitoria — aí sim, oras —, havia uma 11 oportunidade desconhecida por mim pra espanar a mente da tensão de uma ocupação reivindicatória em 2013... No caminho também passamos pelo Minhocão, nome popular da via Elevado Pres. João Goulart, presidente deposto pelo golpe civil-militar de 1964. A obra foi iniciada pela prefeitura de Paulo Maluf, nomeando o de Pres. (Gal.) Arthur da Costa e Silva, homenageando os generais. A via foi criada para desfazer o miolo de trânsito do centro e consolidar uma via expressa que liga o centro (Praça Roosevelt) à zona oeste (Largo Padre Péricles, na Barra funda). Quando foi inaugurada, em 1971, teve até a benção do humaníssimo e então arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns. A gestão da prefeitura de Fernando Haddad aprovou a mudança de nome em julho de 2016. A atual primeira-dama (e artista plástica) Beatriz Maria Bettanin Dória, poucos dias depois do pleito eleitoral de seu companheiro João Dória Jr. para a 52ª administração da prefeitura, aparentou não saber direito o que era o elevado. “Nunca fui lá. É tipo um viaduto” foram aspas com leve teor sensacionalista no lide de uma reportagem da época7. Pois então, era minha primeira vez no Minhocão enquanto fechado para os carros. Ocupada pelos moradores da região, funciona como um parque e fica plenamente fechado aos domingos. Os moradores da região também desejam o fechamento pleno aos sábados — desde julho de 2015 passou a ficar fechado a partir das 15h. Quanto aos dias úteis, o fluxo frenético dos carros dá sua pausa das 21h30 até as 6h30h do dia seguinte. Nos fins de semana o elevado fica fechado por quase quarenta horas. Como um guia, Musta me explicou sobre esses detalhes em meio à skatistas, patinadores, crianças chutando bola, empinando pipa. Quiçá um dia os moradores consigam fazer do Minhocão um High Line Park, ao estilo de Nova York; quem sabe, um monotrilho leste-oeste elevado, quem sabe se desfazer dele... — Manjava de patinar quando era criança. Acho que ainda consigo mandar bem — eu dizia, contando uma vantagem. — capaz que consiga pular os murinhos de concreto com um pouco de treino. A via corta diversos prédios residenciais — justamente os apartamentos dos frequentadores da via-parque — quanto mais baixo o andar, mais sujeitos estão os moradores à poluição sonora. Um desses prédios, porém era uma ocupação. Lá estava escrito, entre algumas urban arts e pixos: terra livre ocupa fidel castro — Essa ocupação começou na época da morte dele, por isso o nome — disse Gabriel. Fidel morrera no dia 25 de novembro de 2016, com sepultamento no dia 4 de dezembro. Enquanto isso, ocupações que se formavam através de movimentos pela moradia eram homenageadas com este nome. Em Uberlândia (MG), o nome do comandante cubano foi dado por famílias lideradas pelo MTST que ocuparam terreno na zona leste do município aproximadamente no mesmo dia de seu falecimento (no fim de 2016 o município já havia registrado 60 áreas de ocupação8); em Silva Jardim (RJ), no dia 30 de dezembro, houve ação de ocupação de latifúndio improdutivo no terreno da Fazenda Santa Maria, o qual participavam tanto moradores antigos quanto trabalhadores rurais recém-chegados buscando a reivindicar o estabelecimento legal da reforma agrária. Um dia antes de estar ali no elevado veio a ordem de reintegração de posse em favor do empreiteiro César Farid Fiat e sua esposa Lina Maria Miranda Santos, ambos sócios da Oriente Construção Civil Ltda. A empresa 12 tornava-se alvo da Operação Lava-Jato9 há algum tempo. Em Sampa qualquer transeunte do centro deve notar as bandeiras da FLM, MSTC ou do próprio MTST, entre outras, exibidas nas janelas de apartamentos de prédios abandonados, casarões antigos ou terrenos ociosos. No prédio de acesso através da rua Amaral Gurgel, 344, lá embaixo, fica uma de 100 ocupações espalhadas pela megalópole, de acordo com o estimado pelos movimentos de defesa pelo direito à moradia10. Vinte imóveis, pertencentes à Irmandade Santa Casa desde 2014, foram ocupados cerca de duas semanas antes, questionando sua função social. O Movimento Terra Livre alegou que o prédio estava vazio há pelo menos seis anos. Dali para menos de uma semana já havia o pedido de reintegração de posse por parte da Santa Casa11. Chegando ao metrô Santa Cecília preferi deixar o encontro de lado para guardar as dicas de Gabriel e cuidar de preparar a entrevista. Na despedida fizemos questão de manter o contato para qualquer dúvida. Ele se disse bastante interessado ao saber do projeto — afinal sua participação envolveu uma polêmica que denuncia o grande parasitismo de alguns professores. Cada personagem marca o perfil de vários de uma geração, e várias gerações definem o que é o CACOFF. Marquei a entrevista para o sábado seguinte. Um dia antes me reunia no apartamento do Gustavo, na Alameda Campinas para reunião em um projeto de portal jornalístico especializado em Direitos Humanos ainda em rascunho. Após alguns copos de cerveja num bar qualquer da Rua Augusta com os participantes, solicitei a estadia no apartamento para economizar tempo e desgastes com viagens de Guarulhos até São Paulo. No dia seguinte retornei ao prédio do Bela Vista. Dei o nome do Gabriel ao porteiro para o interfonar, da mesma maneira que na última vez. Naquele momento, duas senhoras acabavam de sair do prédio e pararam em frente à fachada, aparentando aguardar alguém. Ao mesmo tempo resmungavam de algo. Dei meu nome ao porteiro, que retornou o aviso de aguardá-lo. — Esses porteiros são folgados — reclamava uma delas como quem quisesse que toda a Rua São Domingos ouvisse. — Pra que dar nome? São fofoqueiros, não precisam saber da vida alheia. — Bem, acho que estão só fazendo o papel deles. Afinal, estão aí para saber quem entra e sai... Não vejo outra maneira de garantir a segurança de um prédio senão essa — comentei, notando certo exagero. Depois disso as senhoras tornaram a conversar entre elas sobre seus resmungos, com pouca distinção. Um bocado sobre problemas pessoais, e um pouco sobre política de leigos. O porteiro recebeu uma chamada. Veio até mim e pediu para que subisse. Chegando ao apartamento (e recebendo novamente o abraço efusivo) Musta já me avisava de irmos almoçar. Meia hora antes enviei mensagem de Whatsapp para ele para saber se já tinha almoçado. — Não tinha lido não, Ninjão… Então você não comeu ainda? Bora lá então, tava pra encontrar uns amigos pra almoçar — dizia, tentando focar em mais de uma coisa ao mesmo tempo, contando comigo. — Você aguarda só eu fazer um trampinho rápido aqui com o chuveiro? Enquanto aguardava, aproveitei pra pegar uma água gelada. Explicava um pouco sobre o curso e projeto de Direitos Humanos que participava ano passado. — Pode pegar a furadeira pra mim, por favor? — dizia Gabriel, multifocado, consertando e aprovando minha iniciativa. 13 Fomos andando até a Praça Dom José Gaspar. Se no domingo era um lugar ermo, com moradores de rua arrumando uma sobra para dormir durante o dia, no sábado é um local movimentado com diversos bares e lanchonetes abertos, com muitas mesas espalhadas por um trecho espaçoso da praça. Dois colegas da Ação Educativa nos acompanharam numa feijoada com direito a boas doses de pinga em mini canecas. Comentou-se do lado bom e ruim do trabalho, dos blocos e da agenda para o carnaval. De volta ao apartamento nos postamos para a entrevista formal, gravador ligado. Bom, meu nome é Gabriel Maia Salgado, sou jornalista formado na Unesp Bauru, durante a faculdade meu apelido era Musta — de Mustafá. Na semana do trote todo mundo recebe apelidos e sempre são essas histórias bem bestas. Estava de turbante, com uma barba muito grande, de saias, fazendo pedágio, pedindo dinheiro. Veteranas de uma república chamada Meca resolveram me apelidar de Mustafá, por parecer árabe. Estudei dois anos para entrar na faculdade — no cursinho —, fora o colégio. Entrei de lista, então tava muito feliz de ter passado e a primeira semana foi uma das semanas mais de felicidade, de êxtase, de conhecer um outro mundo, outras pessoas, outras realidades que não tinha conhecido até então, e outras possibilidades de sociabilidade, de vida. O trote — pra mim — felizmente não foi um trote pesado, nem me agrediu diretamente. Então eu pude aproveitar bastante por estar conhecendo um novo mundo. Então o apelido fazia parte. Então eu queria que me dessem um apelido… queria fazer parte daquilo. ... Foi estranho perceber o mundo que estava por vir depois de me matricular. Ganhei uma pasta, com CD-ROM institucional, folhas explicado como adquirir as bolsas e auxílios, um guia do bixo organizado pelo CACOFF, impressão A5 em preto e branco (com suas devidas proporções, na FFLCH havia recebido um guia do calouro do CAELL, de qualidade equivalente, e o Manual do Calouro, literalmente um livreto institucional da USP). Não que isso se mostrasse para mim como escassez, mas me deixara curioso sobre o que se passa numa entidade estudantil. Da matrícula até a primeira aula, de recepção dos calouros, foram quatro dias, todos passados muito rapidamente. Daí combinei a viagem no carro do meu tio, recolhi minhas tralhas — colchão inclusive — e fomos até a Risca, viagem de mais de quatro horas. Depois de um almoço no Bauru shopping e me despedir da família, seguiram-se os “trotes de verdade”. Dependendo da tradição dos cursos na Unesp Bauru as tosas nos rapazes variam, dentro do primeiro semestre (ou ano), da inscrição de alguma letra que representasse uma república até cortes de cabelos “alternativos”. Mas naquela época a zoeira na Risca era mais voltada a obrigações com cuidados com a casa: uma pilha de louça, um vinil do Tim Maia tocando numa vitrola com alguns problemas, e uns panfletos da primeira edição do Cacoffonia — evento de recepção dos calouros com bandas, oficinas diversas, Grupos de Discussão (ou GD’s) e apresentação de curtas — para serem cortados e organizados com tesoura ou régua. Nessa mesa fui ter os primeiros diálogos com o Miguelito e com o Ligeiro (ou Pão de Queijo). O fluxo da casa 14 aumentava mais e mais com a chegada de outros agregados, como o Batata, o Glendinha, o Wikipédia, o Curau. Amigos e amigas da república também… viraria tudo isso uma festinha? Minas da República Vegas, da R. Nelson Yoshiura, como a Gringa (que me levava de carro para ver a Risca pela primeira vez), Mamute, Coca (que mancava depois de um certo acidente). A Babilônia, república da mesma época de surgimento da Risca, fazia uma festa de recepção à meia-noite. Eu não bebia, não fumava, e estava com uma energia latente, como a ficha que não caiu de que passava no vestibular no curso que realmente queria. Fui até a festa, entrei livremente pela garagem, dei uma volta, vi o clima… voltei pra casa. Bem na hora de me deitar, num dos quartos vagos, mas já apertado de colchões, chegava de viagem o Malfoy, outro morador da Risca, mas que desistira do curso mais tarde pra fazer medicina. A energia de quem passa no vestibular só viria no dia seguinte, na recepção: um rápido discurso dado pelo professor Dino Magnoni na sala 70 enquanto os colegas de segundo ano batiam nas janelas como zumbis num filme de terror trash. Muita farinha e tinta depois, recebíamos as credenciais de calouro — a fonte de muitos apelidos da faculdade. Deviam ter me achado meio desanimado na matrícula, e me deram o nome de Diabetes, dado também por causa de alguma veterana chamada Glicose ou qualquer apelido similar, destes que se repetem de tempos em tempos.. Mas ali perto tinha um tal de Coringa, que derramou um pote de tinta no chão acidentalmente, e aproveitou pra pedir para a bixarada sentar. Me joguei, me lambuzei! A tal energia “despertou”: dei uma cama-de-gato como nunca havia dado antes… — Nossa, que ninja! É o bixo ninja, Ninja!! — disse o Coringa riscando o diabetes e sobrescrevendo o apelido. Acho que meu ano deve ter sido o último de jornalismo a ter o famigerado e doloroso elefantinho, além de uns constrangimentos que considerei chatos… mas, sem preocupações, noutra hora aprofundo tais críticas. Por fim, me livrei de quase toda a tinta num banho e foi pra outra festa na Babilônia, que abrigou a recepção de jornalismo noturno: a ‘porradinha’. Os diurnos teriam festa de recepção na Risca: o ‘primeiro furo’. Daí em diante começaram os primeiros shows, as primeiras festas de república, as primeiras chapações. Pra relaxar, o despertar para um novo dia com um Novos Baianos na vitrola. Pra mediar a vaquinha do almoço e da marmita, o trabalho pra pagar as contas e o estudo nem sempre organizado, um chapéu pra arrecadar uns R$25 por uma caixa de litrão. Era um vai e vem, eram amizades loucas, passageiras, intensas, amor fraternal, muito a se dizer sobre tudo e todos, sem o temor do erro que corrói. Era o barato! Carolzinha, Fezão, Pixe, Miau, Grevis, Jack, Boi, Dalva, Mandi, Aline, Xaxado, Last, Gabriela... Abstrações sobre tudo isso tomam conta, fazem escritores de livros despretensiosos como este aqui que vos lê… Fenômenos (eu reforço: abstratos. Sonhos são intocáveis) tal qual àquele que se referiu àquela singela moça que sempre quis ser princesa, e que ao atravessar a porta da Risca viu meus cumprimentos, e defronte meus honestos e plebeus olhos descobrira que uma pessoa servil não necessariamente submetia-se; ao invés disso dedicava-se; diminuía-se, mas pelo bem do detalhe mais belo que eram justamente seus olhos altivos e verdes como esperança dos sonhos que se buscam — os meus e talvez os seus, leitor — pois então, é minha forma de me apaixonar, de pouquinho em pouquinho e tentando a todo dia achar razão para que não seja platônico e tolo objeto de sermão. Mas mulheres livres se 15 libertam de tais conceitos, enquanto homens como eu viam a mudança diante dos olhos, sem muito aceitar que não se abusa da regra três — poderia falar de outras músicas equivalentes de época pra descrever isso — e não, não se trata necessariamente de traições. Só ficam ali mesmo depois desses anos, seus olhos verdes. Mas não devia ter sido desse jeito. O bom é que agora pode ser de outro. Afinal o que antes se apresenta como oportunidade e experiência depois se torna conceito, essência. Chamo esse encontro de olhos agora de ‘um curioso caso de troca ecológica de saberes’12. ... Por um instante fomos interrompidos por um som de broca de algum apartamento vizinho. Com o buraco feito, Gabriel seguiu: Eu sou um cara de um bairro de classe média-baixa de São Paulo, da Vila Formosa. Sempre tive bolsa numa escola particular, sempre pelos pedidos, pela humilhação que minha mãe passou, de ter que, todo ano ter que ir lá, se humilhar pro diretor. Eu lembro que todo ano que minha mãe ia pedir bolsa ela voltava chorando, pra gente continuar estudando na mesma escola. Quando fiz o cursinho comecei a ir para áreas mais centrais da cidade. Isso me abriu um pouco a cabeça, aumentou um pouco minha sociabilidade com pessoas de ciclos sociais que nunca imaginaria. E quando eu fui pra Bauru isso se intensificou ainda mais. Então sair de São Paulo e ir pra Bauru significou conhecer mundos, perspectivas diferentes, significou uma maior autonomia em relação as minhas decisões políticas, sociais. Tive muita vontade de participar da vida acadêmica, de militar dentro da universidade. Minha escola não tinha grêmio, não tinha nada politicamente engajado. A universidade me deu várias experiências muito importantes e fundamentais pra mim: o convívio numa casa — a gente chegou a morar em treze pessoas numa república, e o convívio com pessoas bem diferentes… com perspectivas políticas e ideológicas distintas, o desafio de me relacionar… Depois de dar o furo contra a parede, marteladas do vizinho deram uma outra pequena interrompida. — Tá ruim… mas vamo tentar — disse Musta. As marteladas continuavam, mas confiamos em continuar, sem preocupações. … Claro que é um processo sempre de construção, acho que a gente aprende sempre. A universidade proporcionou, por meio dos grupos de estudo, do CA, dos projetos de extensão, das brigas políticas, das experiências que ela me proporcionou, um amadurecimento de vida, uma transformação muito grande daquilo que eu era, um moleque de bairro que mal conhecia o centro da cidade em que morava. 16 ... De fato a Risca era uma casa polivalente. Desde o início da faculdade a concebo como um lugar que preza a liberdade de pensamento, um local sempre convidativo e sempre aberto ao debate, especialmente na sala, cozinha ou fundos da casa. Se haviam definições metafóricas para praça pública — daquelas onde se subiam em algum lugar alto para bradar palavras de ordem — estes eram os espaços. Imagino que assim o seja em outras repúblicas, mas apenas na hora de um chapéu e cervejada. Eliminando os exageros, repúblicas de comunicadores em geral sempre possuem debatedores, uma roda pra se falar (e fumar) algo. No ano de 2011 o normal era fumar narguilé13 — coisa ainda comum na minha quebrada, mas que desapareceu do ambiente universitário nestes últimos anos. A sala sempre foi o local comum dos moradores para o diálogo aberto, lá sempre houve essa energia. Na época havia um papelão daqueles de propaganda — no caso política — com o rosto do Tripa (antigo morador que acabava de sair da república) colado sobre o rosto do candidato, uns cones e cavaletes de trânsito, uma parede repleta de assinaturas e um quadro ganho de presente em um amigo secreto, vindo de uma república de Artes que pegou a Risca no sorteio. A única coisa que se sabe é o nome de Pedro na assinatura do quadro. Sugere-se (carece de fontes) que seja do Pedro Filite, um artista de graffiti, inclusive com alguns espalhados pela cidade. Os mais velhos que eu na faculdade dizem que não; os mais novos gostam de reforçar que a ideia é verdadeira. ... Muitas pessoas na minha república — a Risca — não curtiam o movimento político na universidade, o movimento estudantil. Mas aproveitei muito, fui muito privilegiado por estar em uma universidade pública, por estar estudando fora da minha cidade, pelos contatos que eu tive, morar na república que eu morei. Aproveitei bastante. A gente criou uma república, criou uma cultura de festa, dava festas para amigos. Principalmente nos primeiros anos tinha um acolhimento muito grande. Nos meus conflitos políticos, amorosos, sociais que eu enfrentava. Me apaixonei por muitas mulheres. Namorei durante a universidade por mais de dois anos, fui muito apaixonado pela pessoa com quem namorei — a Ana Lis. A universidade também me proporcionou essa possibilidade de me relacionar inclusive amorosamente. Aí eu percebi que poderia ser interessante pra várias pessoas. Estar num ambiente de lidar de igual pra igual. Na escola sempre fui muito tímido, então na faculdade eu consegui melhorar minha sociabilidade, estar presente nos espaços. Comecei a beber mesmo. Tenho uma formação, da saída da minha infância para minha adolescência, neopentecostal. Então tinha uma bagagem pessoal muito fechada em relação a aproveitar a vida, poder conhecer outras pessoas. A universidade me ajudou a transpor perspectivas que eram fechadas pra mim, seja pela religião, seja pelo lugar que eu morava, seja pelo meu jeito tímido de ser... Pude 17 desenvolver mais minhas relações, minha sociabilidade com meus companheiros de casa, meus companheiros de militância. Entrei na faculdade e já queria participar do movimento estudantil. Mas quando eu cheguei eu peguei um movimento de refluxo do ano de 2007. Tinha acabado de ter uma grande greve em Bauru. Estava muito parado, desarticulado. O CA, o DA, as outras organizações do movimento estudantil estavam fragilizadas dentro do campus. Aí foi no contato com alguns veteranos de jornalismo e dos outros cursos que começamos a rearticular o Centro Acadêmico de Comunicação “Florestan Fernandes” — o CACOFF. Eles me convidaram. Juntos, eu, o João Ricardo — que tem o apelido de Bulhões — o Marcos, a Natália, o Pastor… o Lucas. Começamos a rearticular o CA que tava em refluxo por causa da greve que foi muito forte em 2007. Então durante os quatro anos em que estudei na universidade a nossa atuação foi de como a gente consegue estruturar o CA e fazer com que a cultura do ME possa voltar a se estabelecer, e com isso fazer com que as pessoas possam ser provocadas pelo ME, como envolver mais os alunos. A gente tinha uma perspectiva de que a luta estudantil deveria ser de todos, universalizada. Mas tinha muita gente que claramente não queria participar; porém, pra gente era praticamente óbvio o quanto era importante e fundamental essa disputa dentro da universidade. Então a gente atuou sempre no sentido de fazer uma boa recepção aos calouros e já envolvê-los nessa cultura do ME: uma cultura crítica, de problematizar o que já tava colocado, de problematizar um histórico de descaso, inclusive de muitos professores, uma cultura de descaso em relação a nossa formação. Mas também pensando não só nas questões relacionadas ao curso, mas também da própria convivência universitária — da moradia, do RU —, então a gente fazia esse exercício. O que foi legal é que a gente conseguiu reestruturar o CACOFF, e com ele minimamente reestruturado, tendo chapas eleitas durante alguns anos conseguimos contribuir para que outros CA e até o DADICA pudesse ser eleito. Entre radicais e pelegos, estratégias de diálogo Tinha gente que considerava que a gente era mais conservador, porque não tínhamos convicções mais drásticas em relação às disputas que estavam colocadas. Tinha gente que achava que éramos muito “revolucionários” — o pessoal das engenharias por exemplo — porque já tínhamos posições que nós não abríamos mão, porque a gente acreditava que deveria seguir ‘assim’. Então a nossa disputa era pra conseguirmos contribuir da melhor forma possível por uma universidade pública, gratuita e de qualidade pra todos e todas, e dialogando com os alunos. A gente não queria ser um órgão do ME ilustrado, que fosse de dez, quinze pessoas que tinham toda a razão e não precisariam dialogar com ninguém. Nós tínhamos princípios bem estabelecidos, mas acreditávamos que nossa ação só fazia sentido se a gente dialogasse e provocasse o máximo de pessoas possível, dos cursos de comunicação e dos outros. Pra mim e para algumas pessoas que militaram comigo a luta estudantil sempre fez muito sentido, ela sempre foi muito óbvia, a gente tinha certeza do que estava fazendo. Lógico que a gente enfrentou conflitos mesmo dentro da chapa. Gente que desistiu no meio do caminho, ou que se opuseram, ou até quem combatia a própria luta… Mas eu tenho bem claro que eu e alguns companheiros e companheiras tínhamos muita certeza daquilo. Efetivamente tinham pessoas que não queriam, e que não se interessavam mesmo. Qual é o limite do diálogo? Como conversar com quem efetivamente não quer conversar com a gente? Então a gente tentou fazer estratégias pra isso, pra tentar chegar até as pessoas, pra provocá- 18 las, pra tentar problematizar muita coisa. Mas muitas vezes isso realmente não era possível, as pessoas realmente não queriam nada… Dá pra dizer que era uma dificuldade muito grande… Lógico que frustrava, mas… É quando a gente ganha uma luta que é completamente legítima e vê que as pessoas não estão com a gente. Não é uma coisa exclusiva do ME, é uma coisa de quem está lutando com uma perspectiva contra hegemônica. A partir do momento em que você se posiciona contra os privilégios estabelecidos, contra a perspectiva hegemônica de sociedade, você escolhe efetivamente lutar de um lado que, por não ser hegemônico, é o que acaba enfrentando mais dificuldades de se estabelecer — no nosso caso a gente tentava se reestruturar com o refluxo da greve de 2007 — e invariavelmente a gente acabava se frustrando porque as pessoas não estavam nem aí. As pessoas não se importavam, não queriam. Por outro lado a gente conseguiu mexer com muita gente. Tiveram pessoas que se conscientizaram efetivamente, da importância de uma universidade pública, de garantir um curso de jornalismo de qualidade, contra hegemônico, que fizessem um posicionamento na sociedade. E tinham pessoas que se sensibilizaram pela melhoria da sua formação como jornalista, pessoas que se sensibilizaram por garantir uma educação pública de qualidade, porque os recursos que financiaram a universidade — vindo do ICMS — e muitas pessoas que não tem condição de estar naquele espaço que financiam. Então as motivações partem de diferentes perspectivas. Fazia um jornal sobre a temática ambiental — o Impacto Ambiental — e a gente distribuía em escolas públicas da região, trazendo a perspectiva ambiental, em construção, tentando problematizar o ponto de vista hegemônico do que se tem como ambientalismo. Pra além disso participei também de algumas atividades do Observatório de Educação em Direitos Humanos (OEDH) que também tinham ações para além dos muros da universidade. Todos os projetos eram um pouco disso: é possível questionar sempre, cada vez mais. Com a experiência que eu tenho hoje talvez eu fizesse alguma coisa diferente? Sim. Mas a experiência que eu tive contribuiu para fazer a pessoa que eu sou hoje, pra chegar a essa constituição do que eu sou hoje. É difícil ter essa análise — já se passaram alguns anos [desde o término da universidade]. A gente [CACOFF] tentava fazer algumas coisas, para além da universidade, poderia ter sido mais, com certeza. É uma problematização super válida. Se pudéssemos fazer mais, a gente deveria ter feito? Deveria… Teoricamente a gente fez tudo que nossas pernas alcançaram. Mas como julgar isso? A gente tenta fazer o máximo possível dentro das escolhas que a conjuntura permitiu. Eu, o Pastor, a Play, tínhamos posicionamento mais “firme”, mas nossa chapa tinha 15 pessoas. Então a gente tinha que lidar com um processo de formação — nossa formação e a formação dos companheiros e companheiras que estavam militando com a gente… Cada um vem com uma perspectiva de vida, uma formação, um processo. E não era coeso. A gente fez o máximo possível na conjuntura que a gente encontrou. Era perfeito? Não. Foi o mais coerente em todos os momentos? Não foi. Teve problemas? Muitos. Mas eu acho que a luta do ME e dos MS não é pela busca da perfeição ou coerência completa. A luta dos MS é pela garantia de uma sociedade mais justa, de uma educação pública de qualidade para todas e todos, e no sentido de tentar superar, justamente essas contradições, superar os conflitos que estão dados, de estabelecer um processo formativo próprio e coletivo, mais profundo. Então, qual é a sociedade que a gente almeja, e o que a gente vai ter que fazer pra isso? A conjuntura vai influenciar muito nisso. E cada vez mais dentro e depois fora do ME eu 19 procurei com maior coerência, com maior ou menor habilidade chegar a esse objetivo final, da militância, de tentar contribuir do meu lugar para a resolução de desigualdades. Tenho uma influência, na família, muito grande, das minhas tias, e principalmente do meu pai, referências de luta na vida da minha avó, da minha mãe. Não foram lutas mobilizadas. Minhas tias, sim, tiveram uma luta partidária, eu nunca tive. Elas tinham um vínculo progressista, uma formação política estabelecida pelas Comunidades Eclesiais de Base, pela formação do Partido dos Trabalhadores (PT), pela militância no partido em que elas estiveram. Meu pai, defendendo os direitos na categoria de trabalho dele, condutor de vans escolares da rede municipal. minha mãe e minha vó superaram muitas dificuldades. Minha vó era de uma origem muito vulnerável. Desde as plantações de café em que ela trabalhava na infância até a morte do meu vô e ela tendo que vender vestidos que ela fazia, indo até Aparecida conseguir vestidos de noiva e vender. Isso da minha mãe também, que teve uma infância muito triste, de passar fome, ter que trabalhar em casa de família com 10 anos de idade. A família da minha mãe é de origem portuguesa, acho que todos os avós da minha mãe são portugueses. A do meu pai é uma mistura. De Minas. Minha avó veio de MG então tem uma parte portuguesa, mas a gente não sabe direito… tem um tio avô que é indígena… mas aí é uma mistura. É a complexidade da formação do povo brasileiro. O corpo docente em fase crítica de transição Tínhamos grandes lutas do campus pela moradia universitária, pelo restaurante universitário. Lutas conjuntas pelos recursos da universidade com outros movimentos estudantis do campus e de outros campi, de outras faculdades da Unesp, e de outros movimentos sociais. Também as questões internas, muito fortes. O campus de Bauru foi encampado em 88, e os professores que trabalhavam na FEB/UB não poderiam ser mandados embora — óbvio, ainda bem. Aí eles tinham um prazo para poder realizar suas formações: se não tinha mestrado, doutorado, tinha um prazo pra obter o grau e continuar dando aula. O curso de jornalismo pegou um momento de transição dos professores, em processo de aposentadoria, com os novos professores, concursados. O problema não é o professor ter vindo da FEB. Muitos professores nesse processo não se comprometeram efetivamente com a garantia de uma educação pública de qualidade, com o compromisso efetivo para isso. Mas isso não aconteceu somente com os professores da FEB: A gente teve professores recém- concursados que também demonstraram isso… ... Mustafá foi daqueles que vi militar com forte embate em se tratando da cobrança em relação às disciplinas e suas ementas. Se havia um combustível pra ser gasto em seu período provavelmente foi no confronto com conceitos pedagógicos ultrapassados e o descompromisso de alguns professores com a graduação. No ano de 2011, houve o incidente envolvendo o professor Antônio Carlos de Jesus e a TV Unesp, onde ele era o diretor do projeto em consolidação e fora demitido14. ACJ, porém, fora reintegrado meses depois15 — a TV Unesp foi inaugurada em novembro —; foi o ano em que tive aulas de Sociologia com o professor Murilo, professor do DCHU já em processo de 20 aposentadoria numa pedagogia parada no tempo, insípida; aulas de um número crescente de professores bolsistas ou substitutos da parte do DCSO — lembro-me do Mateus, que entre ensinamentos essenciais do jornalismo na disciplina de Técnicas de Reportagem e Entrevista comentou em aula sobre uma certa rivalidade entre os departamentos do curso de jornal; ‘Aulas-slide’ de Fluxos da informação com o professor Pedro Celso Campos (PCC, favor não confundir com nome de facção), também próximo da aposentadoria; ou a ‘aula stand-up’ do professor João Winck, de Métodos da Pesquisa. Eventos como esses, e também envolvendo disciplinas dos anos que teria adiante, geraram problemas que tem resquícios prejudiciais até hoje para o CACOFF. O leitor verá mais sobre isso páginas adiante. O que posso dizer por aqui é que em ambos os departamentos se observava uma pedagogia ultrapassada ou uma dinâmica moderna de aula, mas não que isso significasse algo de caráter progressista ou ético para ambos os casos. ... …Aí a gente, nesse contexto do desafio muito grande com a qualidade do curso a gente também teve lutas muito diretas pra garantir uma reforma curricular dos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Radialismo, pra garantir que todos os professores dessem todas as aulas que estavam no programa, que cumprissem a ementa, pra garantir que os alunos que entrassem tivessem um compromisso efetivo com a sua formação também, pra pensar qual é o curso de jornalismo que estávamos tendo, qual a perspectiva de jornalismo que se acreditava ali dentro, praquela formação que estávamos tendo. SP só tem dois cursos de jornalismo em universidade pública, na ECA e FAAC. Então a gente sempre observou a importância muito grande de fazer essa disputa também. A gente participou dos processos da Conferência Nacional de Comunicação, participou de encontros de comunicação, da militância de estudantes de comunicação. Então nosso desafio sempre foi de como poder contribuir com esses processos da melhor maneira possível e dialogando ao máximo com os alunos, provocando esses alunos, tentando incomodá-los, trazê-los pras reuniões, pro debate. Lógico que tínhamos conflitos dentro do ME. Sempre tem. Caso do DCE-HR, o ME de Marília que era um dos mais próximos, da ANEL, relações poucas que a gente tinha com o pessoal da UNE. Eles nos procuraram uma vez, mas sempre numa perspectiva muito utilitarista da militância. Sempre queriam assinatura, filiação, mas eles não queriam — talvez não estivessem em condições pra isso — estabelecer realmente uma problematização sobre as coisas que estavam acontecendo no campus ou sobre a nossa realidade. Nossa profissão é comunicação, então a gente buscava quebrar uma linguagem de militância conservadora. Linguagem conservadora, estereotipada — lógico que é importante valorizar os referenciais teóricos e estéticos da militância e dos setores de esquerda e progressistas, é importante valorizar. Só que a gente tem que pensar que as pessoas foram criadas em um outro período. Tentávamos minimamente poder dialogar com as pessoas. Não era possível dialogar com as pessoas usando a mesma linguagem que era utilizada há 30, 40 anos atrás. E muitas vezes nesse processo a gente se posicionava: “essa forma de se comunicar, de se posicionar não é a melhor”. Como a gente faz? Pra seguir esses objetivos? A garantia de uma universidade pública de qualidade tentando minimamente dialogar com os estudantes, estar em todos os espaços da universidade, questionar, conhecer efetivamente esses espaços. 21 No meu período não teve greve em Bauru. Teve algumas ocupações, teve paralisação de um, dois dias, algumas vezes. A gente fez algumas manifestações. Lembro de uma vez que a gente, junto com outros movimentos da universidade, paralisou a Rondon durante um dia. Fizemos vários movimentos de abaixo-assinado com questões internas do curso, movimentos de avaliação das disciplinas tentando a reforma curricular das disciplinas dos três cursos de comunicação, várias coisas. Pra arrecadar dinheiro a gente fazia festas, fazia carteirinha estudantil, várias parcerias com movimentos culturais, vendia lanche numa atividade chamada Quinta no Bosque. A gente ia tentando fazer essas coisas pra poder sobreviver e ter o mínimo de recursos pra poder trabalhar. Nunca tivemos apoio da universidade, apoio financeiro. Participei de várias representações — conselho de curso, de departamento — mas diretamente como representante participei só de conselho de curso. Era difícil, você encontra de tudo. Tem aqueles professores que são mais comprometidos com representação democrática e pela busca de uma educação de qualidade, que consideram sua opinião, tem professores que são arrogantes, que são corporativistas no pior sentido da palavra, que usam a defesa dos seus pares acima da coerência e da própria da profissão. Encontramos professores conservadores politicamente, que tinham uma perspectiva de opiniões mais liberais, mas que eram mais democráticos, aceitavam mais a opinião dos alunos. As coisas são complexas, muitas vezes contraditórias. Tinham professores que eram muito socialmente progressistas, questionavam a repressão sexual, com perspectiva cultural de mundo muito intensa, só que ao mesmo tempo se revelaram abusadores, super machistas. Professores com perspectivas de mundo muito progressistas, só que eram autoritários em alguns momentos, não eram democráticos, não consideravam tanto a opinião dos alunos. Fiquei feliz, pois depois que saí de Bauru o desafio do ME passou a ser o de se estabelecer com outras características, ao que me parece. Foi fruto de um amadurecimento da cultura estudantil no campus e do momento político que a sociedade está vivendo. O discurso do local de fala começou pondo lideranças em xeque Teve um momento em Bauru, principalmente quando estava no terceiro e no quarto ano, em que eu e mais um outro amigo principalmente éramos os mais antigos no CACOFF. E por sermos mais antigos a gente conhecia mais e se apegava um pouco nesse conhecimento pela prática que a gente tinha. A gente falava mais nas reuniões, se estabelecia mais. Nossas opiniões prevaleciam. Depois, em conversas com amigas elas apontaram que isso era resultado de uma cultura machista, em que a gente hegemonizava as falas e não dava as condições favoráveis para a participação das mulheres dentro daquele espaço. Acho que elas têm razão. ... 22 Minhas primeiras conversas com o Musta na Risca sobre movimento estudantil eram na defensiva, de afastamento, de ver de longe. A chapa do CACOFF na época chamava-se “Do Leme ao Pontal” — notória referência ao Tim Maia —, que tinha além do Musta o Pastor, Play, Pandeiro, Pist, Bulma, Pé, Dalva, entre outros. Foi assim por quase todo meu primeiro semestre. Adentrava os eventos do PICU ao invés do BATICUN e ouvia da Laís, do Capeta e da Camila, Carmen e Diego, todos veteranos da Psicologia sobre os últimos eventos críticos da época, como o famigerado Rodeio das Gordas16 e um processo institucional que ocorria após a proibição de festas no campus e a permanência no mesmo após as 23h. Ouvia dos mesmos a crítica ao CACOFF, a opinião da entidade ser pelega. Era o setor mais radical, com elos ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Por outro lado, independente de partidos, a Psicologia, através do CAPSI e do DACEL representava as ações mais organizadas e que batiam de frente com a instituição do campus como linha de frente. Dentro deste grupo estavam as principais engrenagens de articulação do CEEUB. Da parte do CACOFF o encontro com colegas começou nas RAC. Via nos colegas mais velhos (dentro do curso: engraçado que pra quase todo caso o mais velho era eu) um pouco de imposição e controle dos debates — algo que já observava na EFLCH em Guarulhos em muitas reuniões de MS antes de entrar na Unesp — e aparecia com mais peso, se relacionarmos com o CEEUB: há quem usasse o nome “stalinista” para o grupo. Mas em geral usamos a palavra “autoritarismo”, muito usada por mim, em relação aos meus veteranos, por calouros em relação a mim, pelo CACOFF em relação ao CEEUB, por Bauru em relação a Marília, Por Assis em relação a Prudente, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em relação ao PSTU etc. Mas se for pra falar do Musta, que foi do Jornalismo diurno, ou até do Pastor, colega de chapa do mesmo ano mas do jornalismo noturno, ambos tinham uma faminha de controladores, autoritários etc. Mas nada que lhes atingisse moralmente, pois se compensava tudo pela competência. Isso, porém, até as minas começarem a apontar o dedo. E era só o começo. ... …Quando estava no CACOFF, a minha perspectiva era de tentar fazer com que todo mundo fale ao máximo, que as pessoas se estabeleçam. Só que acho que provavelmente falava mais. Provavelmente poderia ter uma posição machista em alguns momentos. Ser coerente não é negar as contradições que eu tive ou que tenho. É buscar ter cada vez menos contradições. Sou um homem branco, hétero, cis, de classe média baixa, tive o privilégio de estudar fora da cidade numa universidade pública. Então, minha visão de mundo é contaminada pelos privilégios que eu tive e tenho, isso é inegável. Só que no entanto tenho um posicionamento — ou tento ter um sempre — de combater essas contradições e ser uma pessoa melhor, pra gente conquistar uma sociedade menos homofóbica, menos racista, menos machista, com menos desigualdade social. Quando vejo algumas críticas ao meu posicionamento, e ao posicionamento de amigos, eu respeito com muita sinceridade. Porque acho que fez parte do meu processo me posicionar de maneira cada vez mais clara a lutar contra meus privilégios. Eu sempre tentei ser uma pessoa dialógica, que não fosse arrogante, 23 que escutasse o outro. Mas não quer dizer que não sou machista, que não sou racista, não sou homofóbico. Não quer dizer que não tenha privilégio de classe sobre muita gente. Quer dizer que me ajudou a construir nesse meu processo um ponto de vista cada vez mais direto, de questionar meus privilégios, contradições. Consegui? Algumas sim, tenho claro isso. Outras não. Mas vou conseguir, acredito nisso. E sempre vai ter coisas… porque o mundo me dá muitos privilégios ainda que eu tenha tentado — e opto —, tento sempre combater isso. Não posso falar da miséria extrema hoje a partir da perspectiva de quem sofre essa miséria. Eu posso conhecer essa narrativa. Eu posso conhecer essas pessoas, eu posso me solidarizar, tentar lutar. Mas ao mesmo tempo posso falar sobre relações sociais a partir da minha branquitude. Esse é o desafio: falar sobre relações étnico-raciais e sobre o racismo a partir de alguém que é branco, que tem privilégios sim sobre isso. Eu não posso falar de relações étnico-raciais a partir do racismo que você sofre. Mas eu posso falar a partir do racismo que pessoas que são brancas como eu provocam em pessoas negras, ou indígenas — não brancas. A minha perspectiva hoje é essa. Eu tinha essa perspectiva dessa forma durante a universidade? Não. Não tinha essa clareza, não tinha essa identificação tão formatada assim. Acho que o Gabriel que saiu da universidade é uma pessoa muito melhor que o Gabriel que entrou. E eu fico feliz com isso. Tô satisfeito? Nunca. Até pelo reconhecimento dos meus privilégios. Como ficar satisfeito numa sociedade tão desigual e opressora? Difícil. A luta continua. E esse que é o nosso grande desafio sempre. Gabriel me interrompe: — Se seu áudio der algum problema, pode perder tudo. Não acha melhor parar este e começar um novo? — disse, apontando cautela. — É verdade. Vamos lá: Acho que o meu compromisso como militante pra ser cada vez mais coerente e pra questionar meus privilégios é ter uma posição ativa de falar sobre isso, de reivindicar essas coisas, me posicionar dessa forma nos espaços de privilégio em que eu estou inserido também. SP têm privilégios históricos; Brasil acumulou contradições A gente tem, no governo do estado de SP, infelizmente, um governo liberal- conservador. A Unesp, a USP e a Unicamp têm essa influência desta gestão governamental muito marcada. Então são processos pouquíssimo democráticos, uma pouca atenção para a universalização da universidade, um ambiente elitizado ao extremo, um ambiente que “prega pela excelência acadêmica”, mas fundamentado na exclusão de praticamente toda a população do Estado. Então isso marcou. A gente tinha o maior campus da Unesp no Estado e que não tinha nem RU nem moradia. A gente tinha pouquíssimo auxílio estudantil pras pessoas que vinham de escolas públicas ou para pessoas negras e indígenas. Não tinha apoio de entrada dessas pessoas nessa universidade. SP é um Estado com muitos privilégios históricos em relação aos outros Estados do país e a universidade reproduz essa lógica restrita, hegemônica, classista, racista, machista nesse espaço. Se você for comparar, por exemplo, quanto ganham as professoras da educação infantil — e eu falo professoras — porque a ampla maioria das educadoras infantis são mulheres, se você for comparar o salário dessas profissionais com o salário dos professores do ensino universitário — professores — porque a maior parte são homens — vai ver uma disparidade gigantesca de valorização, reconhecimento. 24 Agora, em que momento a sociedade teve uma escolha direta de falar que a educação infantil é menos fundamental pra constituição do indivíduo do que o ensino universitário? E por que não tem tantas professoras sendo coordenadoras de curso, sendo professoras universitárias, sendo diretoras das universidades? Acho que em âmbito estadual fomos muito impactados. Acho que a universidade, ao que tudo indica, tende a ser melhor inclusive em sua militância porque o perfil das pessoas que estão lá dentro vai mudando cada vez mais. Uma conquista histórica dos movimentos de mulheres, dos negros, indígenas. Então eu acho que a universidade tende a se problematizar e melhorar cada vez mais nesse sentido. Em âmbito nacional, de 2008 a 2012 pegamos o segundo momento dos governos Lula e Dilma, que também são muito contraditórios em relação ao projeto. Mesmo a relação com a UNE, que era um movimento muito articulado com o Governo Federal, ela era pouquíssimo democrática e não tinha minimamente a perspectiva de fortalecer o nosso grupo da universidade como um grupo atuante, questionador, mobilizado. Por isso na época que estava na universidade se fortalecia a ANEL. E a ANEL fazia oposição a essa perspectiva hegemônica do ME ligado ao Governo Federal, que era pouquíssimo dialógico. Então ela era questionadora nesse sentido. Mas ao mesmo tempo a gente viu que esse período dos governos Lula e Dilma contribuíram efetivamente para a mudança no ensino superior no Brasil. Para uma maior diversidade, para um maior acesso de pessoas negras e indígenas. Isso não é pouco! Isso é muito importante. Um governo que se dizia progressista com tantos anos no poder poderia ter feito mais coisas nesse sentido. A América Latina mostrou isso. Mesmo um governo que não se dizia de esquerda que foi o governo dos Kirchner teve reformas mais estruturais que no Brasil. Mais populares17. Houve impacto sim, lógico. Era uma conjuntura que se demonstrava muito difícil em âmbito estadual, muito elitizada, muito privatista. Em âmbito nacional, uma situação contraditória. Gabriel não tinha uma memória clara sobre a greve dos decretos Serra, que ocorreu antes de sua entrada na Unesp. Mas… Lembro até de uma coisa engraçada, quando estava no cursinho — o cursinho foi convidado para participar do programa do Serginho Groismann. O programa tinha um quadro de um palanque — o ‘púlpito’ — poderíamos bater no púlpito e reclamar de alguma coisa. A aí eu lembro que estava muito ansioso, muito nervoso por causa dos decretos do Serra, antes de entrar na universidade. Bati no púlpito e falei mal do governador. Foi engraçado… Interrompemos o áudio para um rápido telefonema… Há de se saber mais sobre esta greve, que envolveu as três universidades de SP no livro 4. … O ME me ajudou a ser mais crítico, me ensinou a dialogar com pessoas que pensam radicalmente diferente de mim. O ME me ensinou a pensar no que eu acreditava de fato, na minha militância. Isso me ajudou muito a pensar na minha formação profissional pensando no jornalismo como uma técnica pra se alcançar uma sociedade mais democrática, pra se estabelecer uma maior transparência dos fatos, das reclamações, dos contextos políticos pra população. Então o ME me ajudou muito nessa perspectiva de eu poder ser mais crítico sobre o que já está colocado. E no jornalismo a crítica do que já está colocado é um dos fundamentos pra você fazer essa análise dessa realidade. O Jornalismo deve vivenciar o 25 contraditório. Deve fazer uma grande exposição dos conflitos sociais. E com base na garantia de uma sociedade democrática e na garantia dos Direitos Humanos, nos Direitos Universais. A militância contribuiu e contribui pra eu pensar nessa sociedade democrática onde o jornalismo também é fundamental. A prática e o incentivo do jornalismo. Também a militância serviu pra me mostrar o quanto esse jornalismo não é praticado. E essa comunicação pública de fato não está dada. Por meio da militância pude ser mais crítico aos meios de comunicação hegemônicos, aos processos elitizados de mídia, as grandes empresas e grandes conglomerados que na verdade não buscam jornalismo de verdade, buscam mais dinheiro. Buscam defender os interesses das categorias, das classes as quais eles pertencem. Então os empresários, as multinacionais, os governantes que defendem uma perspectiva de um mundo liberal. A militância no ME contribuiu para eu ter uma visão um pouco mais madura da realidade, mais crítica, mais coerente frente às coisas que eu via no meu cotidiano. “Uma perna na comunicação, outra na assessoria de projetos” No final da minha formação fiz alguns estágios, um deles foi na ONG Ação Educativa para trabalhar auxiliando a comunicação de um curso de formação em Direitos Humanos. Ao trabalhar nesse curso, pude melhorar muito minha formação e depois de trabalhar nesse curso fui ser repórter de um projeto nessa mesma organização, de um site especializado em educação. Fui cobrir a área educacional como jornalista, área de políticas educacionais. Depois fui ser assessor de comunicação de um programa que chamava diversidade, raça e participação. Aí eu também trabalhava como assessor de comunicação e como repórter de um site sobre participação na construção de políticas educacionais. Surgiu a oportunidade de uma outra vaga em uma outra organização — o ‘Instituto Alana’ onde estou hoje — para eu ser assessor do projeto ‘Criativos da Escola’. Hoje não só faço só coisas de comunicação, sou assessor do projeto, trabalho com relações institucionais dentro do projeto com outras organizações, com redes de ensino, com institutos. Para além disso também faço atividades de comunicação. Sou editor do site, das matérias que a gente publica no site sobre ações de jovens e o que fazem com o objetivo de transformar a realidade deles. Aí eu coordeno o trabalho de uma estagiária que faz as matérias pro site e faz hoje o gerenciamento da comunicação nas redes sociais, página no Facebook. Estou uma perna na comunicação e a outra na assessoria de projetos. E também sou representante do Fórum Municipal de Educação de São Paulo. São reuniões mensais com representantes de várias organizações na cidade toda, sindicatos, movimentos, organizações, secretaria de educação. “Sua formação é fruto do investimento do Estado” O que eu recomendaria pro estudante de jornalismo ou de comunicação, é buscar, primeiro, se preocupar cada vez mais com sua formação, pensando que a sua formação é fruto do investimento do Estado, de muitas pessoas que estão ali financiando seu estudos e nesse comprometimento você deve dar uma resposta pra sociedade. Pra além disso recomendaria pensarmos cada vez mais no contraditório. 26 O exercício da comunicação hoje é evidenciar as ações que vão contra os Direitos Humanos Universais. É poder expor efetivamente os conflitos que estão postos e eu acho que uma coisa que contribui muito é o comprometimento pelo que de fato essa profissão significa nessa sociedade democrática. E eu acho que é questionar os discursos hegemônicos, discursos que já estão colocados, buscar efetivamente contribuir pro que essa profissão tem de potencial pra construir uma sociedade mais justa para todas e todos. A gente tem uma profissão ainda muito elitizada, que não se reconhece enquanto trabalhador… Sendo mais direto, Gabriel fez questão de edificar. … Se eu fosse dar um conselho pro estudante Gabriel, acho que falaria isso: esteja em contato cada vez mais com os Movimentos Sociais, vá para as periferias, converse muito com as pessoas. Busque efetivamente o que essa profissão tem pra contribuir nessa sociedade tão desigual. Conheça os movimentos de cultura periférica. Converse com as pessoas, escute o que elas têm a dizer. Não seja arrogante. Busque entender o que as pessoas pensam de fato. Tente entender quais são os interesses das pessoas por aquilo que elas estão fazendo. “Há um perfil muito elitizado de profissional” O mercado de comunicação passa pelo desafio de se reformular, se restabelecer. Temos um monopólio de mídia muito grande, uma precarização do trabalho cada vez maior, com os profissionais da comunicação não se reconhecendo enquanto [classe de] trabalhadores. Tenho conhecidos que há pouco tempo estavam trabalhando em um grande meio de comunicação de 10 a 13 horas por dia e não ganhando nem o piso salarial. Muitas vezes uma pessoa dessa não se reconhece enquanto trabalhadora. Então eu acho que há um perfil muito elitizado de profissional, um perfil que a maior parte das vezes não se reconhece enquanto trabalhador e trabalhadora, muitas vezes por estar em um espaço de privilégio, de contato com os setores que têm poder acaba se identificando mais com a minoria da minoria da população que toma as decisões dos espaços de poder do que com os setores mais vulneráveis, que com certeza podem estar mais próximos inclusive deles financeiramente, culturalmente — não sei, acho que faz parte dessa presença nos espaços de privilégio. Acho que a conjuntura que estamos hoje é uma conjuntura de um monopólio insustentável dos meios de comunicação com a precarização cada vez maior, chegando em níveis absurdos, mas ao mesmo tempo com uma pulsão de movimentos de comunicação nas periferias — um movimento de comunicadores populares, negros, mulheres — cada vez maior e com novos projetos, novas configurações, novos jeitos de trabalhar, novas narrativas. Os processos de Hidalgo Vários estudantes de comunicação estavam fazendo uma série de questionamentos e mobilizações contra as precariedades do curso: contra os professores que não queriam dar aula, contra as más condições estruturais do curso, contra uma dinâmica muitas vezes viciada, pouco democrática de decisão, de diálogo, contra uma grade curricular atrasada. Estávamos num contexto de muitos questionamentos. Os alunos foram atrás do CACOFF para que pudéssemos contribuir. Então os alunos começaram a se mobilizar, realizar abaixo- assinados, questionamentos, surgiram alguns conflitos em salas de aula. O CACOFF chamou uma assembleia e estavam rolando várias manifestações. Nelas, outros alunos que não eram 27 da chapa também se envolveram. Todos da chapa reunidos com os que não eram da chapa se perguntaram: como fazer para chamar mais pessoas a participarem desse processo, dessa discussão? Estava todo mundo insatisfeito. ... Não era a toa que dizia sobre os problemas nas disciplinas dos anos por vir na universidade: no final do meu primeiro semestre de curso, rusgas entre estudantes e professores no jornalismo estiveram em alta neste período. Na turma de jornal diurno do meu ano a aula de João Winck encontrava problemas de assiduidade, de dar aulas no período no meio do semestre; No quarto ano, PCC faria uma prova dada pelos alunos como esdrúxula e com perguntas meramente decorebas, o que gerou um bate boca que lembro ser relatado em reunião. Isso só levando em consideração o que lembrava entre outras situações envolvendo docência e disciplina da graduação. A tensão só aumentava. PCC era o coordenador de curso de jornalismo (estava para ser sucedido pelo Juarez, que acabara de ser contratado) quando recebera uma multidão de graduandos de jornalismo de ambos os turnos em peso no DCHU e DCSO — na época ambos eram perto do bosque —, trazendo um abaixo-assinado cobrando melhorias no curso e pautando todos os problemas, sejam nas disciplinas, sejam estruturais. O mesmo grupo se tornou ainda maior na realização de assembleia na sala 79, a qual não comportava tal massa. Era um pontual “Zeitgeist” que trouxe aos estudantes de jornalismo a proatividade para o ambiente do campus, para fora da sala de aula: reuniam o útil ao agradável, convergindo tarefas disciplinares com suas indignadas manifestações, inclusive com cartazes contendo humor parodiado e provocativo direcionado aos professores mal avaliados. Manifestações que levaram, mais ou menos uns seis meses depois, a uma situação de completo absurdo. ... Como fazer pra chamar a assembleia? As pessoas foram e criaram frases parodiando casos que realmente tinham acontecido com cada um dos professores — A paródia como propaganda da assembleia, um recurso utilizado há centenas de anos. Fizeram os cartazes e os espalharam. Tinha um professor que já estava sofrendo problemas na faculdade. Ele estava recém-contratado e já estava sendo questionado pelo DCHU, por alunos que tinham feito abaixo-assinado contra ele. E esse professor foi um dos professores parodiados nesses cartazes que o pessoal fez. Ele viu os cartazes espalhados pela universidade — não tinham xingamento, só parodiavam coisas que tinham acontecido mesmo. Aí começou o maior rebuliço. Chamou a atenção das pessoas. Ninguém fazia as coisas com um tom irônico assim. Gerou uma p*** repercussão. Aí tem a disciplina de Jornalismo Impresso - I, em que eles introduzem na disciplina um jornal mural chamado ‘Extra’. Uma 28 aluna que estava fazendo essa disciplina, a Luana, viu tudo que estava acontecendo nessas manifestações e resolveu fazer uma matéria sobre isso e fez uma pá de entrevistas e me entrevistou também. Pra ilustrar a matéria ela colocou as frases das paródias. E é engraçado que o jornal mural é assinado por um professor que era o coordenador de curso na época. [Ângelo Sottovia]. Tinha a coordenação do jornal, que recebia todo o conteúdo, o jornal era da disciplina. Um tempo depois me encontraram na internet e o processo tinha sido aberto. Resumindo: nesse processo ele tentou abrir uma sindicância acusando o chefe de departamento dele [Jean Cristtus Portela] a me manipular, falando que eu era o presidente — e não era —, e que eu tinha usado a menina [Luana] pra fazer uma matéria no jornal do CACOFF contra ele. E na verdade o jornal não era do CACOFF, eu não era presidente, tinha uma relação puramente acadêmica, institucional com o chefe de departamento — conhecia, respeitava, mas não tinha nenhuma relação de proximidade com o Jean. A Unesp criou uma comissão de três professores de outra faculdade pra investigar os fatos. Investigaram e não abriram processo de sindicância, porque viram que não tinha sentido. Na justiça comum ele abriu processo contra o CACOFF e contra o Google acusando tudo isso que já falei — quando a gente soube que a gente foi processado divulgamos as notícias oficialmente [pelo Blog do Caco], sem nenhuma adjetivação, nada. Dois alunos fizeram comentários pelo blog, ofensivos. Demoramos pra excluir e aí ele deu um print, copiou esses comentários e anexou nos processos. E aí ele abriu outro processo contra mim — a mesma história que não era verdadeira. A matéria não era sobre ele, o jornal não era do CACOFF, a menina estava fazendo uma matéria obrigatória do curso que era orientada por um professor que assinava o jornal, então era outro responsável que ele não envolveu mas que era responsável pelo jornal e pela matéria, não só a menina. Ele tentou intimidar, inclusive quem analisava seu processo probatório, causar. Nas fases que já passaram foi um processo que eu “ganhei” em primeira instância, tá terminando de rolar a segunda instância eu acho, mas o processo que foi contra mim não tinha o mínimo sentido, e ele também perdeu. Pra mobilização pra pagar o advogado tivemos que fazer uma festa na Risca. Não tínhamos dinheiro, então a gente foi com o apoio das pessoas. Teve gente que se voltou contra a gente, ou por ‘picuinha’, ou por achar que a gente estava sendo extremista demais, que não deveríamos enfrentar o professor — sendo que não enfrentou professor nenhum, apenas estávamos nos defendendo — teve professor que se voltou contra a gente por uma questão corporativista do pior tipo sem observar os fatos que tinham ocorrido, só por uma questão de proteção do profissional, sem avaliar se esse profissional estava cumprindo as atividades como funcionário público dele, ou não… enfrentamos muitos conflitos internos, externos. Aprendi muito nesse processo. Mas no fim mostramos que valeu a pena sermos coerentes. Valeu a pena a gente se posicionar a favor de um ensino de qualidade, valeu a pena todas as manifestações que aconteceram questionando os problemas que tinham no curso e na universidade. ... 29 É bom sempre se lembrar de Arthur Monteiro Junior, presença importante em todo embate que acompanhei. Morador de Bauru e graduado em Direito na ITE e Jornalismo na FAAC/Unesp, foi advogado não somente nesta causa como aparecia prontamente em situações de manifestação, cumprindo seu papel social. Foi assessor jurídico tanto do sindicato dos bancários como dos professores de Bauru e Região. Também o fez pelo Sindicato dos Radialistas de São Paulo. Eu o conheci através da Débora, uma presença do curso de Biologia, no que me levou a um cineclube o qual Arthur cuidava, no bairro bauruense da Bela Vista. Havia também a estrutura para um cursinho popular. O filme que assisti era um curta chamado “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, do gaúcho Jorge Furtado. Produção pouco conhecida. Dorival, um prisioneiro negro dentro de um quartel, só gostaria de tomar um banho. PRAÇA: Não pode. DORIVAL: Porque que não pode, caralho? PRAÇA: Ordens. DORIVAL: E quem deu a ordem? PRAÇA: O cabo. DORIVAL: Então vá chamar o cabo que eu quero falar com ele. PRAÇA: Chamo nada. Vá pro teu canto e fica quieto! DORIVAL: Escuta aqui, ô Catarina, barriga-verde, barata descascada, polaco comedor de sabão! (DORIVAL espanca a porta) Tu vai chamar esse cabo, porque senão eu vou começar a gritar, a berrar, dar porrada aqui dentro! (DORIVAL dá outra porrada na porta) Vou fazer um escândalo tão grande, mas tão grande, que eu vou acordar o cabo, a mãe do cabo, e até o general desta bosta aqui! E não pensa que eu tô brincando não, Catarina! Por que eu vou fazer isso agora mesmo! ... No fim todo esse processo foi muito desgastante mas mostrou que efetivamente vale muito a pena ser crítico, ser atuante, buscar um ensino de qualidade, questionar a realidade que já está dada. Sobre o processo contra o CACOFF não sei exatamente qual foi o resultado, mas iria executar sobre quem? E ele pediu uma indenização absurda! Acho que foram uns R$10 mil… Do processo com o CACOFF/Google, Musta não estava muito bem informado. Keyty, que entraria mais tarde na faculdade, lidaria com novas situações no anos seguintes. E isso é triste, pois na verdade era uma questão puramente de funcionalismo público, acadêmica. Quando ele vai pra esfera cível, processando a gente, ele já evidencia muita coisa, é muito grave. Mostra uma falta de disposição pro diálogo, uma agressividade muito forte. É muito complicado. Enfim, isso tudo mostrou que valeu e vale muito a pena seguir reivindicando pelo o que a gente realmente acredita. 30 O CACOFF não deve sofrer com pagamento de indenizações ao professor inclusive por se encontrar com o CNPJ inapto por falta de declaração de IR ao fisco. Mas o fato hoje é saber qual é a viabilidade de uma entidade estudantil se manter enquanto pessoa jurídica e ao mesmo tempo ser autônoma. O Centro Acadêmico é um espaço fundamental na universidade, de participação. E tem que ter um apoio institucional pra poder ter suas atividades. Agora não sei como é esse apoio. Tem que ser consumido de acordo com a realidade onde ele estiver. Não acredito que tem que ter uma resposta única. Não sei se é verdade, mas a informação que a gente tinha na época é que tinham outros CA’s ou a Atlética e a Bateria [Naumteria] que recebiam apoio financeiro da universidade. Não sei o quanto isso é verdade, o quanto não é. Mas se isso for verdade, é grave. Porque é apoio seletivo: organizações que não tinham qualquer análise crítica em relação ao que já estava dado pela universidade recebiam apoio financeiro, e os CA’s e outras organizações estudantis que eram mais questionadoras e buscavam melhorias no que estava colocado não recebiam. Então acho que o CA e as organizações estudantis devem ter a mínima condição de funcionamento. É por dinheiro? Não sei se é. Acho que tem que ter uma sala, uma mínima condição de se estruturar, talvez um computador pra poder trabalhar, pra poder atender os alunos. Tem modelos. Tem universidade em que os alunos têm xerox — Com muito esforço. Qual a melhor alternativa? Não sei. Cada realidade é um contexto. Isso tem que ser construído conjuntamente. O que eu acho é que tem que ter condição de funcionamento. E a universidade deveria prezar pela manutenção do ME. Porque ele faz reviver o espírito crítico, ele ajuda a melhorar a universidade, o ensino. Acho que a participação dos estudantes é fundamental pra garantir uma educação de qualidade. O que a universidade muitas vezes critica a forma de ensino hegemônico da educação básica, mas reproduz um padrão de educação ainda mais elitista, ainda menos democrático, ainda mais restrito, e atrasado. Um lugar que se diz a vanguarda tem uma dinâmica de trabalho de articulação, de funcionamento muito conservadora. Terminada a conversa, Gabriel me convidou para acompanhar a Play em um show em Guarulhos. Play era o apelido de Thaís Almeida Rocha, que era liderança no CACOFF pelo curso de Radialismo e entrara na faculdade em 2009. Aceitei o convite com fins de rememorar e confraternizar uma tarefa cumprida. Descemos o prédio, mandamos o salve ao porteiro trabalhador. O caminho para Guarulhos era novo pra mim, pelo metrô e terminal Tucuruvi, pegando um corredor da EMTU (a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de SP) rumo às regiões centrais, próximas à Zona Norte. A viagem passou pela Vila Galvão e atravessou grande parte da Av. Dr. Timóteo Penteado… Uma Guarulhos bem diferente, noutro padrão de vida, com maior consolidação urbana. Ela é limítrofe aos condomínios do parque Cecap (o parque da Caixa Estadual de Casas para o Povo, criação dos arquitetos Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado) onde já se insere o corredor industrial, atravessando a Rodovia Presidente Dutra, passando por Cumbica e chegando aos distritos dos Pimentas, Bonsucesso e Itaim, próximos à Zona Leste. Os trajetos de ônibus da EMTU se relacionam, em termos de projeto de mobilidade, a um substitutivo de interesses econômicos sobre a Estrada de Ferro Cantareira e o antigo ramal ferroviário de Guarulhos18, que chegou a interligar o que é a atual lavanderia da Base 31 Aérea de Cumbica até o que hoje é o Terminal D. Pedro II, que incluía uma estação em Jaçanã — manja o tal do trem das onze19? Gabriel não só é pessoa efusiva como solicita: esteve dividido entre a conversa comigo e telefonemas e mensagens de Whatsapp diversas durante a viagem. Em algum trecho da Timóteo mora a Play. Casa espaçosa, tal como uma república. Tomamos umas cervejas enquanto aguardávamos dois Uber e contava causos nestes últimos anos de Unesp os quais ambos já terminaram há mais ou menos meia década. — O Ninja está fazendo uma homenagem pra gente — adiantava Gabriel, antes de eu expor a ideia em torno do trabalho. Curioso, perguntava os detalhes do rolê, o qual caía quase de paraquedas. — Casa Clam… Taí um rolê que desconheço, mas vai me trazer uma faceta que não conhecia em Guarulhos — comentava. Como é o nome da atração, Play? — Warley Noua. Vocês vão curtir, é muito bom. — Thais dizia com a veemência tal como a de que um fenômeno estivesse por vir. A Casa Clam fica na Avenida Rotary, número 98, umas seis quadras de um dos terminais de ônibus do Shopping Internacional. Pra quem sente falta do ambiente de festas de república de Bauru é um bom lugar… referencial. Warley Noua é um artista que pode ser descrito como de inspirações similares às de Liniker e os Caramelows, mas com voz e sensibilidade musical consideravelmente mais profundas. Eu a vi atuar em um sarau e do que deu pra ver foi belo. Músicas que não eram de pele, mas que tocariam a sua de maneira completamente inesperada. Inesperadamente, aliás, imagino que o perfil de Facebook, salvo tenha se tornado fake, é Noua Noélia. O canal de música independente e localista Peixe Barrigudo (nome que faz referência etimológica ao nome da cidade — os índios Guaru, apesar de que posteriormente soube-se que os índios originários eram maromomi) conta mais sobre sua arte. Pena que por horários tive que partir. Bauru me esperava para mais duas entrevistas. 32 1 USP, Unesp e Unicamp podem unificar inscrição no vestibular e matrícula, reportagem de Mariana Mandelli, portal O Estado de S. Paulo, 14/Jun/2011. 2 Além da inscrição de R$ 82, outras 3 mudanças que tornam o Enem mais difícil, reportagem de Grasielle Castro para o portal Huffpost Brasil, 10/abr/2017. 3 Os contrastes da indústria da cana, reportagem de Rôney Rodrigues para a revista Caros Amigos, Ano 14, ed. 168 (mar/2010). 4 Mistérios da Educação é um livro do Movimento Entusiasmo, escrito por André Gravatá e Daniel Ianae. 5 Antigo ensino fundamental I, do primeiro ao quarto ano. 6 Antigo ensino fundamental II, do quinto ao oitavo ano. 7 O que é e para que serve o Minhocão, reportagem de Estêvão Bertoni para o portal Nexo, 11/Out/2016. 8 Uberlândia já registra 60 áreas urbanas e rurais invadidas neste ano, reportagem de Diogo Machado, portal Correio de Uberlândia, 29/nov/2016. 9 Trabalhadores rurais da Ocupação Fidel Castro são ameaçados no interior do Rio de Janeiro, escrito por Theo Rodrigues, blog O Cafezinho, 4/Fev/2017. 10 Ocupações: São Paulo tem déficit de 230 mil moradias, reportagem de Fernanda Cruz, portal EBC, 8/set2015. 11 URGENTE: Não à Reintegração de posse da Ocupação Fidel Castro, portal CMI Brasil, 8/dez/2016. 12 Inspirado no artigo Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes, do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, onde se fala da “existência de uma pluralidade de formas de conhecimento além do conhecimento científico”. 13 Espécie de cachimbo de água de origem oriental, utilizado para fumar tabaco aromatizado. 14 Professor da Unesp é demitido após causar perda de equipamento de TV, notícia de Mariana Mandelli para o portal Estadão.edu, 5/jul/2011. 15Antônio Carlos é reintegrado à Unesp, reportagem de Tisa Moraes para o portal JCNET, 15/out/2011. 16Unesp ouve alunos envolvidos em 'rodeio das gordas', notícia de José Maria Tomazela para a Agência Estado, 9/nov/2010. 17A Lei de Meios argentina e a imprensa no Brasil, reportagem de Thales Schmidt para a revista digital Calle 2, 22/mar/2016. 18 Extinto há 50 anos, trem da Cantareira atendia zona norte e Guarulhos, reportagem da Agência Mural, 29/mai/2015. 19 Jaçanã (antiga Guapira), Blog ‘Estações Ferroviárias do Brasil’, elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht, última atualização em 19/mar/2018. 33 Siglas AG - Administração Geral - Unesp Bauru. AP - Ação Popular, organização política extraparlamentar formada nos anos 60 pela militância estudantil da JUC e de agremiações da Ação Católica Brasileira (ACB). Alesp - Assembleia