RESSALVA Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo deste trabalho será disponibilizado somente a partir de 19/01/2024. VINICIUS CARLOS DA SILVA Domingos Olímpio e Os Anais: trajetória intelectual de um homem de imprensa no início do século XX (1904-1906) ASSIS 2022 VINICIUS CARLOS DA SILVA Domingos Olímpio e Os Anais: trajetória intelectual de um homem de imprensa no início do século XX (1904-1906) Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista para a obtenção do título de mestre em História. (Área de Conhecimento: História e Sociedade). Orientador: Dr.º Ricardo Gião Bortolotti ASSIS 2022 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Câmpus de Assis Domingos Olímpio e Os Anais: trajetória intelectual de um homem de imprensa no início do século XX (1904-1906) TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: CERTIFICADO DE APROVAÇÃO AUTOR: VINICIUS CARLOS DA SILVA ORIENTADOR: RICARDO GIÃO BORTOLOTTI Aprovado como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em HISTÓRIA, área: História e Sociedade pela Comissão Examinadora: Prof. Dr. RICARDO GIÃO BORTOLOTTI (Participaçao Virtual) Departamento de História / UNESP/FCL-Assis Profa. Dra. MARIA LETÍCIA CORRÊA (Participaçao Virtual) Faculdade de Formação de professores / UERJ/Rio de Janeiro Prof. Dr. AUREO BUSETTO (Participaçao Virtual) Departamento de História / UNESP/FCL-Assis Assis, 19 de janeiro de 2022 Faculdade de Ciências e Letras - Câmpus de Assis - Av. Dom Antonio, 2100, 19806900 http://www.assis.unesp.br/posgraduacao/historia/CNPJ: 48.031.918/0006-39. BANCA EXAMINADORA Presidente:__________________________________________________________ Ricardo Gião Bortolotti (Unesp Assis) 1º Examinador: ______________________________________________________ Maria Letícia Côrrea (UERJ) 2º Examinador:_______________________________________________________ Áureo Busetto (Unesp Assis) 1º Suplente: _____________________________________________________ Ana Luiza Martins (CONDEPHAAT) 2º Suplente: _____________________________________________________ Ivan Esperança Rocha (Unesp Assis) Assis, 19 de janeiro de 2022. Dedico este trabalho à minha mãe, Márcia Elaine Carlos por todo o apoio. Às memórias de minha avó, Maria App. Marinho Carlos, da minha outra avó, Sueli (Nininha) de minha tia Maria Helena Carlos, e de meu pai, Valdecir da Silva, que o tempo me fez compreender. AGRADECIMENTOS Ao final desse trabalho, muito poderia ser descrito, em tom de desabafo; desse muito, pouco mereceria ser lido por qualquer um que não tenha vivenciado as experiências boas e ruins pelas quais passei para que estas palavras estivessem aqui escritas. De maneira não saudosista, optei por revisitar os meus agradecimentos outrora escritos num hoje longínquo 2012, no auge dos meus 23 anos, momento em que eu sonhara, ávido pelo mestrado e pelo início da minha vida acadêmica. Meu projeto profissional/pessoal consistia em ter já concluído o doutorado antes mesmo de ter completado meus 30 anos. Hoje, aos 32 anos, entrego minha dissertação de mestrado, sem a necessidade de comentar em demasia o quanto se distanciou do meu plano inicial. Das poucas lembranças que tenho de meu pai, e da minha infância no geral, uma delas sempre me vem à cabeça: as lutas de boxe. Nenhum de nós tinha sequer a mínima ideia de quais eram as regras deste esporte tão violento, apenas sabíamos que haveria um vencedor ao final. Meu pai nunca atacava, apenas levantava a guarda e esperava que aquela criança fraca e magricela lhe desferisse um punhado de golpes frenéticos, sem dó nem piedade, o que, na prática, não significava muito. Os golpes continuavam, até minha exaustão, um minuto talvez. E eu, ofegante, buscava inspirar a maior quantidade de ar possível em meus pulmões; havia rounds a serem vencidos. O movimento de pernas? Não havia. Uso do tempo? Também não. Jabs, hooks, cruzados, diretos não faziam parte do meu vocabulário de aluno do pré- primário. Havia alguma estratégia? Não! Resultado: jamais o venci, mas ele nunca ganhou. Quase duas décadas depois, um grande amigo me indicou a leitura do livro Nocaute, de Jack London, uma obra composta de vários contos, que se utiliza do boxe como metáfora para a vida. Um desses em especial me foi recomendado: Por um bife. Naquelas páginas compreendi que muito daquele menino “pugilista” ainda estava presente num outro menino, recém-formado em 2012, e que, ao término da faculdade, sonhava com glórias muito maiores que as suas próprias pernas, maiores que seu fôlego, maiores que suas técnicas. Não bastava a vontade de vencer, faltava- me o conjunto, certa maturidade e a expertise para adentrar a um mundo que ainda não me pertencia. Confesso que ainda hoje não conheço profundamente as técnicas do boxe, nem da Academia, e muito menos da vida. Mas, toda quinta-feira, às 18 horas sigo para minhas aulas de boxe (que só comecei aos 32 anos), tento estudar com frequência, aprendo sobre a vida todo dia. Aprendi a lutar, no sentido mais amplo deste verbo. A entrega desse trabalho é apenas mais um round. Agradeço a todos que me ajudaram nessa trajetória, em especial ao meu orientador Drº Ricardo Gião Bortolotti, por ter aceitado me orientar, bem como por ter sido muito prestativo e humano em vários momentos. À minha mãe, Márcia Elaine Carlos pelo apoio em todos os momentos da minha vida. E, logicamente, aos meus amigos Adolfo Angelotti, Alano Alexandre Umbelino de Barros, Daniel Dozinete Cook, David Rodrigues Pancieri, Diego dos Reis Terlone de Oliveira, Gustavo Garcia Toniato, Maurício Marcião, José Paulo Rodrigues Correa, Mateus Caramouri, Munir Abbud Pompeo Camargo, Rafael Eleias de Souza, Régis Radael Berretta, Renan Falcheti Peixoto, Rubens Arantes Correa e Vânia Paula Baía. RESUMO O início do século XX, no Brasil, foi um período decisivo para a imprensa nacional. Além de ter sido um momento de acaloradas discussões intelectuais e políticas, foi também de suma importância para a consolidação da imprensa nacional. Jornais, revistas e afins se tornaram importantes espaços de exposição de ideias, disputados Com afinco pela intelligentsia nacional. O presente trabalho abordará um destes periódicos, Os Anais - Semanário de literatura, arte, ciência e indústria que circulou semanalmente na cidade do Rio de Janeiro de 08 de outubro de 1904 a 11 de outubro de 1906. Seu idealizador, Domingos Olímpio Braga Cavalcanti, propunha, na edição de abertura, criar um espaço aberto a autores que se sentissem excluídos pela grande imprensa da época, no entanto, na realidade, foram outros os motivos e os interesses que permearam a criação do hebdomadário. Ao todo foram 102 exemplares, que continham escritos tanto de autores renomados como de nomes pouco conhecidos do grande público, em artigos que abarcaram os mais variados assuntos. Dessa forma, pretende-se analisar o periódico em si, com enfoque especial para a realização de sua proposta inicial, que, na verdade, não pode ser desvinculada da trajetória de seu idealizador e de seu núcleo de pessoas próximas, em especial de seu cunhado, Dionísio Cerqueira, Ministro das Relações Exteriores à época. Além disso, pretende-se aqui compreender suas especificidades enquanto periódico e seu papel perante a imprensa da época. Palavras-chave: Domingos Olímpio Braga Cavalcanti. Os Anais. Imprensa no século XX. Rio de Janeiro. Dionísio Cerqueira. ABSTRACT The beginning of the 20th century in Brazil was a decisive period for the national press. In addition to being a moment of heated intellectual and political discussions, it was also of paramount importance for the consolidation of the national press. Newspapers, magazines and the like have become important spaces for the exhibition of ideas, disputed with zeal for the national intelligentsia. The present work will address one of these periodicals, Os Anais - Literature, art, science and industry weekly which circulated weekly in the city of Rio de Janeiro from October 8th, 1904 to October 11th, 1906. Its creator, Domingos Olímpio Braga Cavalcanti, It proposed, in the opening edition, to create a space open to authors who felt excluded by the mainstream press at the time, however, in reality, there were other reasons and interests that permeated the creation of the weekly. In all, there were 102 copies, which contained writings by both renowned authors and names little known to the general public, in articles covering a wide range of subjects. Thus, it is intended to analyze the journal itself, with a special focus on carrying out its initial proposal, which, in fact, cannot be separated from the trajectory of its creator and its core of close people, especially its brother-in-law, Dionísio Cerqueira, Minister of Foreign Affairs at the time. Furthermore, it is intended here to understand its specificities as a periodical and its role in the press at the time. Keywords: Domingos Olímpio Braga Cavalcanti. Os Anais. Press in the 20th century. Rio de Janeiro. Dionísio Cerqueira. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 2 CAPÍTULO I: OS ANAIS NO CONTEXTO DA IMPRENSA NO RIO DE JANEIRO NO COMEÇO DO SÉCULO XX ................................................................................ 14 2.1 Domingos Olímpio: esboço biográfico. ............................................................ 17 2.2 Domingos Olímpio: produção literária ............................................................. 23 2.3 Os Anais: Páginas Esquecidas de um tempo em movimento ......................... 26 2.4 Os Anais: Seções e colaboradores ................................................................. 30 3 CAPÍTULO II: DOMINGOS OLÍMPIO EM EVIDÊNCIA: TRAJETÓRIA POLÍTICA E IMPRENSA REGIONAL............................................................................................ 47 3.1 Mudança de ares: Domingos Olímpio no Grão-Pará ....................................... 48 3.2 Domingos Olímpio e a imprensa grão-paraense: rusgas e afagos .................. 51 3.3 Um banquete político........................................................................................74 4 CAPÍTULO III: DOMINGOS OLÍMPIO E OS ANAIS: POLÊMICAS E IMPRENSA ....................................................................................................................................82 4.1 Um esboço de modernidade? A imprensa carioca no início do século XX.......82 4.2 Domingos Olímpio e Dionísio Cerqueira: diplomacia e imprensa.....................93 4.3 Os Anais e a “polêmica” de Silvio Romero com Manoel Bomfim.....................105 4.4 Domingos Olímpio e a mais polêmica eleição da Academia Brasileira de Letras........................................................................................................................114 5. CONCLUSÃO......................................................................................................130 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................132 Jornais e revistas.................................................................................................132 Almanaques ........................................................................................................132 OBRAS.....................................................................................................................133 ANEXOS ..................................................................................................................137 Anexo I –Tabela com os autores mais frequentes em Os Anais.............................138 Anexo II – Tabela de temas de Os Anais................................................................139 Anexo III – Reprodução da edição digital do número de abertura de Os Anais......140 Anexo IV – Reprodução da edição física do número de abertura de Os Anais (capa frente).......................................................................................................................141 Anexo V – Reprodução da edição física do número de abertura de Os Anais (capa- verso)........................................................................................................................142 Anexo VI – Reprodução da edição física do número de abertura de Os Anais (contracapa frente)...................................................................................................143 Anexo VII – Reprodução da edição física do número de abertura de Os Anais (contracapa verso)....................................................................................................144 Anexo VIII - Imagem de Dionísio Cerqueira em acampamento na Foz do Quarahim..................................................................................................................145 Anexo IX – Representação das Ruinas da Igreja de São Miguel...........................146 Anexo X – Fotos da construção do marco da Foz do Quaraim..............................147 Anexo XI – Salto do Moconan, Rio Uruguai............................................................148 Anexo XII – Finalização do marco principal que delimitava a região da Foz do Peperi-Guaçu, na fronteira entre Brasil e Argentina.................................................149 Anexo XIII – Inauguração do marco principal que delimitava a região da Foz do Peperi-Guaçu, na fronteira entre Brasil e Argentina..................................................................................................................150 Anexo XIV – Foto do marco brasileiro na Foz do Rio Iguaçu, na fronteira entre Brasil e Argentina..............................................................................................................151 Anexo XV – Foto do acampamento da Comissão Brasileira em São Marcos........152 Anexo XVI – Charge satírica retratando a vitória de Mário de Alencar sobre Domingos Olímpio na disputa pela vaga na Academia Brasileira de Letras........................................................................................................................153 Anexo XVII – Autobiografia de Domingos Olímpio.................................................154 Anexo XVIII – Carta de Domingos Olympio endereçada a Álvaro Ottoni, Diretor do Jornal sobralense “A Cidade”...................................................................................157 12 1 INTRODUÇÃO O limiar do século XIX para o XX foi, ao mesmo tempo, conturbado e importante para o Brasil. Marcado por acaloradas discussões intelectuais e políticas, esse período pode ser considerado um momento decisivo para a imprensa nacional, momento em que esta se torna um espaço respeitado e disputado pela intelligentsia nacional por diversos motivos, em especial, para a visibilidade de seus escritos e suas ideias. Neste ínterim, surgiram diversos periódicos, para diferentes gostos e públicos, dentre eles Os Anais1 – Semanário de literatura, arte, ciência e indústria, que circulou semanalmente na cidade do Rio de Janeiro, de 8 de outubro de 1904 a 11 de outubro de 1906. O trabalho aqui apresentado busca analisar este periódico, ainda inédito, em relação às próprias premissas do mesmo e como este se situou em seu período histórico. Criado e dirigido pelo advogado, político e escritor sobralense Domingos Olímpio Braga Cavalcanti, Os Anais se colocava como um espaço à disposição de autores nacionais e internacionais que porventura se sentissem excluídos pela imprensa da época e seus apadrinhamentos intelectuais. Foram, ao todo, 102 exemplares, quase todos dirigidos por seu criador, salvo nos casos de afastamento deste por motivos pessoais referentes à sua saúde, o teor das publicações eram os escritos, tanto de autores renomados da época como de nomes pouco conhecidos do grande público, em artigos que abarcaram, em especial, assuntos como política, ciência, literatura, notícias diversas, assuntos e diversões intelectuais, dentre tantos outros. Os Anais tornou-se o lugar no qual Olímpio deu visibilidade para suas publicações, tanto políticas, presentes em todas as 102 edições, literalmente, quanto literárias; Olímpio publicou em Os Anais as obras O Almirante (94 partes) e O Uirapuru (6 partes), interrompida devido ao falecimento do autor. No entanto seu trabalho de maior reconhecimento ocorreu anteriormente com a publicação de seu único romance transformado em livro, Luzia-Homem, de 1903, que foi bem recebido 1 Os exemplares físicos de Os Anais são extremamente raros de se encontrar na atualidade. Algumas edições fazem parte do acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, e atualmente encontram-se indisponíveis ao público devido ao seu estado de conservação. Possuímos em mãos a coleção completa do periódico, inclusive com partes a mais, como as páginas de abertura e fechamento, material riquíssimo que vem sendo digitalizado pela Biblioteca Nacional por meio da Hemeroteca Digital. 13 por seus pares e acabou lhe valendo um lugar na Academia Brasileira de Letras. Por meio dos estudos realizados aqui, descobriu-se que Olímpio foi cogitado para adentrar à Academia Brasileira de Letras algumas vezes. Porém, a mais notória candidatura do autor à ABL foi justamente a mais polêmica: a disputa com Mário de Alencar, apadrinhado de Machado de Assis, querela esta que repercutiu fortemente na imprensa do período. Almeja-se compreender o lugar deste periódico e o grau de impacto de suas opiniões e publicações na imprensa dos primeiros anos do século XX, época de importantes mudanças na impressa nacional. Para tanto, levar-se-á em conta aqui os métodos de trabalho mais recentes no que tange à pesquisa relativa à imprensa, partindo da análise do veículo-suporte; neste caso, nosso próprio objeto de estudos. Pensar questões como a dimensão, a materialidade do papel impresso, técnicas de impressão, suas características estéticas e opções temáticas, presença ou não de ilustrações, a presença ou não de anúncios, demais fontes de receita, o papel de seus colaboradores no impresso e na imprensa, dentre outras, faz-se necessária uma vez que nossa intenção é lançar um olhar diacrônico com enfoque em Os Anais, tendo-se em conta a inter-relação entre métodos disponíveis e lugar social no qual o periódico estudado se insere.2 Não obstante, se fez necessário traçar e compreender a trajetória de Domingos Olímpio e as redes de sociabilidade que este construiu ao longo de décadas, sem as quais não seria possível entender o significado de Os Anais para a biografia de Olímpio. A divisão dos capítulos ficou disposta da seguinte maneira: o capítulo I buscará situar Os Anais no contexto da imprensa que lhe era contemporânea, ou seja, no início do século XX, buscando também compreender suas especificidades (materialidade, seções, colaboradores etc.), além de traçar a base da biografia de Domingos Olímpio. Já no capítulo II será analisada a trajetória pessoal de Domingos Olímpio em um momento pouco trabalhado de sua biografia: os anos em que este morou na província do Grão-Pará, momento fundamental para a compreensão de sua trajetória de vida e seu deslocamento posterior para o Rio de Janeiro. Por fim, no capítulo III, serão abordadas as principais polêmicas que envolveram tanto Os Anais quanto Domingos Olímpio, com destaque para a discussões acerca da derrota 2 LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. IN: PINSKY, Carla (org.) Fontes históricas. SP: Contexto, 2005, p. 11-153. 130 5 CONCLUSÃO Ao iniciar uma pesquisa histórica, o historiador parte de algumas ideias e objetivos que, ao longo de todo o processo caraterístico de sua profissão, vão sendo ajustados e (re)calibrados. Preocupações primeiras são respondidas e, por vezes, tornam-se até mesmo secundárias, sem julgamentos de valor. Como bem apontou Tania de Luca, ao analisar o trabalho pioneiro de Sidney Chalhoub e seus próprios apontamentos sobre a pesquisa,241 pesquisa histórica possui forte dinamismo, na medida em que a realização da mesma acaba por definir seus rumos.242 Ainda que nosso recorte tenha se baseado nos primeiros anos do século XX, resta claro que essa imprensa ainda se parecia, e muito, com a imprensa do século XIX. Paulatinamente, o processo de profissionalização da imprensa foi se concretizando, surgiram diferentes tipos de impressos, para gostos e públicos diferentes, diversificação esta que ocorria na medida em que a imprensa se constituía como empreendimento capitalista, o que aconteceria, de fato, décadas depois do encerramento das atividades d’Os Anais. Enquanto na sua edição de abertura, Os Anais se colocava como um espaço aberto para autores menosprezados e fora dos grandes centros do país (Rio de Janeiro e São Paulo), na prática o semanário apresentou vários nomes já conhecidos da intelectualidade, com o intuito de respaldar os interesses de Olímpio, que buscava se consolidar também com uma dessas personagens de destaque. Num momento em que essas elites compartilhavam de várias funções de prestígio na vida pública e intelectual, Olímpio construíra uma teia de relações robustas que o retiraram de uma província distante da capital para jogá-lo no epicentro das disputas políticas do Brasil do início do século XIX. Concomitantemente, Olímpio, antes de mudar-se para o Rio de Janeiro, já havia passado por vários jornais, atuando muitas vezes como gerente e redator nos locais onde atuou. Sendo assim, tinha profundo conhecimento do potencial 241 O livro em questão é a obra Visões de liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. Ver: CHALHOUB, Sidney. Visões de liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo, Companhia das Letras, 1990. 242 LUCA, Tania Regina de. Práticas de pesquisa em história. São Paulo: Contexto, 2021, p. 92. 131 econômico de tais empreendimentos, seus custos e, inclusive, já como advogado, como abrir e fechar empreendimentos jornalísticos. Versado na arena política, Domingos sabia que, ao ceder espaço aos artigos que não necessariamente lhe beneficiavam diretamente, porém demonstravam suas qualidades enquanto escritor como no caso do texto de Augusto Franco, artigo no qual jogava os holofotes para a sua trajetória de vida, alimentando a polêmica que poderia deixar seu nome em evidência. Ao mesmo tempo, usava de cada espaço que lhe era cedido na imprensa para demonstrar sua atividade como político, sua atuação como advogado, se posicionava perante temas em voga à época etc. Assim, esteve presente do teatro à política, das letras às missões estrangeiras (extraoficialmente), graças a seu cunhado Dionísio Cerqueira. Jornalista reconhecido por seus pares, inclusive por aqueles que divergiam ideologicamente de suas posições, adquiriu seu próprio periódico, Os Anais, possivelmente pleiteando tornar-se diplomata, ambição respaldada por suas indicações à Academia Brasileira de Letras, anseio esse reforçado quando da repercussão negativa de sua derrota para Mário de Alencar; seria apenas uma questão de tempo para sua consagração como imortal. No entanto, o que poderia ter sido não existe. No dia 7 de outubro de 1906 Domingos Olímpio veio à óbito acometido de um mal súbito. Aos 55 anos de idade, findava-se a vida e a trajetória do sobralense mais conhecido da literatura nacional, sem que este pudesse ser coroado um imortal para a Academia Brasileira de Letras. Ainda assim, parte de sua trajetória, acompanhada pela imprensa, da qual Domingos Olímpio atuou em grande parte da sua vida adulta (para não dizer toda ela) chegaria satisfatoriamente até a atualidade, demonstrando assim a riqueza historiográfica de se utilizar da imprensa para a realização de pesquisas de cujo intelectual, promovendo, assim, o reencontro com a trajetória de personagens ímpares, sendo um deles Domingos Olímpio. 132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Jornais e revistas Amazônia (PA) Folha do Norte (PA) A Constituição: Órgão do Partido Conservador (PA) A Reação (PA) A República (PA) Correio da Manhã (RJ) Diário do Grão-Pará (PA) Diário do Maranhão (MA) Diário de Notícias (PA) Folha do Norte (PA) Gazeta de Notícias (RJ) Jornal do Comércio (RJ) O Liberal do Pará (PA) O Malho (RJ) O País (RJ) O Pará (PA) O Rio Nu (RJ) Os Anais (RJ) Revue Commerciale Financière Et Maritime: L’Etoile du Sud: jornal politique, comercial et finacier (RJ) Almanaques Almanaque Brasileiro Garnier (1911) 133 OBRAS AGUIAR, Ronaldo Conde. 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