105Emancipação, Ponta Grossa, 13, nºEspecial: 105-120, 2013. Disponível em <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao

Políticas públicas de mobilidade e assistência a 
itinerantes: o caso dos trecheiros

Mobility Public policies and assistance to itinerants: 
the case of the Wanderers

José Sterza Justo* 
Alexandre Espósito**

Cledione Jacinto Freitas***

Eurípedes Costa Nascimento****

Resumo: As políticas públicas e a promoção da cidadania têm a mobilidade urbana 
como um de seus focos principais, ao lado de outros como a saúde, educação e 
cultura. Um dos alvos das políticas de mobilidade urbana são os recém-chegados 
ou visitantes que desembarcam na cidade, sobretudo aqueles considerados 
indesejáveis, tais como mendigos e trecheiros. A presente pesquisa visou analisar 
as políticas públicas e práticas de assistência social dirigidas aos trecheiros 
de uma cidade do interior paulista. Foram realizadas observações no posto de 
atendimento a essa população, situado na rodoviária local, e entrevistas com 
usuários. Os resultados mostram que a despeito da política pública de assistência 
que propõe o reassentamento psicossocial dos trecheiros, prevalece a prática de 
evitar a permanência deles na cidade, enviando-os para outra localidade assim 
que desembarcam. Dessa forma, tal política pública acentua aquilo que se propõe 
a combater: a deambulação constante de um lugar a outro. 

Palavras-chave: Políticas públicas. Mobilidade. Trecheiros.

Abstract: Public policies and the promotion of citizenship have urban mobility as one 
of its main focuses, alongside others such as health, education and culture. One of 
the aims of urban mobility policies are newcomers or visitors who arrive in the city, 
especially those considered undesirable, such as beggars and wanderers. This 
research aimed to analyze public policies and practices of social work in a city in São 
Paulo state targeting the wanderers. Observations were made at the service station for 
this population, located in the local bus station, and interviews with its users. The results 
show that, despite a public service policy proposing the psychosocial resettlement of 
wanderers, the prevailing pratice is to avoid their permanence in the city, sending them 
to some other place as soon as they disembark. Thus, this policy emphasizes what 
purports to combat: the constant walking from one place to another.

Keywords: Public policies. Mobility. Wanderers.

*Doutor em Psicologia Social, pela PUC SP e Livre Docente em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela Unesp-Assis. Bosista pro-
dutividade do CNPq. E-mail: sterzajusto@yahoo.com.br
**Graduando do Curso de Psicologia da Unesp-Assis e bolsista de iniciação científica (PIBIC-CNPq). E-mail: alexandreespositosp@gmail.com
***Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia - área Psicologia e Sociedade - da Unesp-Campus de Assis. Bolsista da 
FAPESP. E-mail: cledionefreitas@hotmail.com
****Psicólogo, mestre e doutor em psicologia pela Unesp-Campus de Assis. Pós doutorando junto ao Programa de Pós-graduação em 
Psicologia - área Psicologia e sociedade - da Unesp-Campus de Assis. E-mail: nascimentoec@gmail.com

Doi: 10.5212/Emancipacao.v.13iEspecial.0007



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José Sterza JuSto et al

Introdução

Indubitavelmente, a produção da mobi-
lidade foi uma das grandes marcas da cidade 
moderna, bem como a presença do citadino 
nas ruas e demais espaços públicos. Segundo 
Benjamin (1989), essa figura do flaneur emergiu 
no nascimento da cidade moderna, a saber, o 
citadino que frequentava a rua, que tomava a 
si a missão de explorar a cidade, investigá-la, 
percorrer todos seus recantos. Enfim, é possível 
considerá-lo como um habitante dos espaços 
urbanos, sobretudo, o das ruas. A modernidade 
trouxe uma nova experiência de tempo e espaço 
para a humanidade (BERMAN,1986), flexibilizan-
do fronteiras, encurtando distâncias, estimulando 
deslocamentos e trânsitos e produzindo a sen-
sação de uma vida vertiginosa. 

Porém, se a remoção das muralhas e dos 
portões que cercavam as cidades medievais, a 
abertura de grandes artérias de circulação, a pre-
sença de viajantes provenientes de outras plagas 
e as multidões nas ruas foi uma consequência 
do estilo de vida e da cidade moderna, algumas 
dessas presenças logo começaram a gerar pre-
ocupações e se tornaram objeto de coerções e 
de tentativas de erradicá-las do cenário urbano. 
Estamos nos referindo a mendigos, desocupa-
dos, vagabundos, “loucos” e tantas outras figuras 
que, fugindo à racionalidade citadina moderna 
dominante (DONZELOT, 1986; SIMMEL, 1902), 
passaram a ser vistos e tratados como enjeita-
dos e indesejáveis. A crescente importância da 
cidade, o surgimento das metrópoles e a inten-
sificação dos fluxos humanos no seu interior, a 
tornou o palco, por excelência, das disputas mais 
acirradas pelo espaço, pelo tempo e pela veloci-
dade, ou seja, o grande palco da geopolítica, da 
cronopolítica e da dromopolítica (VIRILIO, 1996).

A cidade é um espaço criado socialmente e 
composto fundamentalmente por lugares, territó-
rios e vias de circulação. O zoneamento da urbe, 
estabelecido formalmente ou informalmente, cria 
espaços especializados ou lugares destinados 
a determinadas atividades e práticas urbanas: 
lugares de residência, de comércio, indústria, 
lazer, espaços de trânsito, de chegada e partida, 
dentre tantos outros.   Há lugares específicos e 
modos de se deslocar pela cidade e de esta-
cionar, criando-se padrões de mobilidade e de 
conduta no cenário urbano, com seus respecti-

vos personagens: comerciantes, consumidores, 
trabalhadores, profissionais vários, estudantes, 
visitantes, dentre outros. O tempo, por sua vez, é 
outro constituinte fundamental da cidade, regido 
com bastante zelo para sincronizar as ações, 
atividades e a subjetividade dos citadinos, con-
forme destaca Simmel (1902). Por último, o ritmo 
da vida do citadino, a velocidade de seus deslo-
camentos e de suas ações é mais um elemento 
constituinte utilizado como estratégia de gestão 
da cidade que configura aquilo que Paul Virilio 
(1996) chama de “Dromopolítica”. A variedade de 
serviços existentes na polis, incluindo os chama-
dos serviços públicos, dissemina por todos seus 
recantos as políticas de gestão que, em última 
instância, dizem respeito à disciplinarização e 
controle do citadino – do cidadão – relativamente 
às suas práticas do espaço urbano (CERTEAU, 
1994), à sua temporalização (SIMMEL, 1902) e 
à sua trajetividade pela urbe.

Para os propósitos do presente artigo in-
teressa focalizar as gestões espaço-temporais 
e dromológicas que recaem sobre os fluxos de 
entrada e saída da cidade, sobre os visitantes, 
a saber, especificamente aquele recém-chegado 
que desembarca, porém, sem um destino de-
finido na urbe e um propósito admitido pela 
racionalidade que a preside. Relativamente aos 
visitantes e viajantes, sobretudo aqueles que 
utilizam transportes coletivos, a gestão de sua 
mobilidade e estadia na cidade se inicia numa 
das mais importantes portas de entrada: a ro-
doviária.

Substituindo as antigas estações de trem, a 
rodoviária, hoje, na grande maioria das cidades, 
é uma das principais portas de entrada e saída de 
residentes e visitantes. É um lugar de passagem, 
tal como Augè (1994) caracteriza os aeroportos e 
estações rodoviárias e ferroviárias. O imperativo 
nesses espaços citadinos é mover-se e nunca 
estacionar, posto que trata-se de um local insti-
tuído para ordenar o trânsito; uma instituição que 
emergiu com o propósito de gerenciar a locomo-
ção, a entrada e a saída da cidade, gerenciar os 
fluxos e o desejo de se deslocar, enfim, trata-se 
de uma instituição dromopolítica, por excelência, 
conforme Virilio (1996) chama as gestões e con-
trole das mobilidades no mundo atual.  

Porém, se a ordem é não parar, surgem im-
previstos e casos que a contrariam: aqueles que, 
sem terem para onde ir, procuram permanecer 



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e encontrar ali mesmo, ou nas imediações, os 
meios de sobrevivência. Sobre eles recai o es-
tigma de “indesejáveis” por não se enquadrarem 
nos processos de normalização que disciplinam 
práticas sociais, trajetividades (VIRILIO, 1996) e 
subjetividades na cidade, como aquelas institu-
ídas nas rodoviárias: viajantes desembarcando 
e se dirigindo para o lugar de destino final ou 
aguardando o horário de embarque.

Atualmente uma das mais preocupantes 
figuras da errância, para os gestores da cidade, 
refere-se a um tipo de visitante conhecido como 
“trecheiro”. Trecheiro é aquele visitante da cidade 
que nela desembarca, às vezes à procura de 
algum trabalho, outras vezes à procura de um 
auxílio da assistência social do município para 
prosseguir sua viagem ou, então, sem qualquer 
propósito definido, para explorar as oportunidades 
do lugar (JUSTO, 2011). Sua chegada e possível 
permanência representa um incômodo, por 
tratar-se de um tipo de visitante que escapa às 
normas e à racionalidade que regem aos fluxos de 
entrada, saída e permanência no espaço urbano. 
Não tem um destino preciso na cidade, uma 
estimativa de tempo para permanecer, nem um 
objetivo ou finalidade que possa ser enquadrado 
dentro daqueles instituídos pela racionalidade da 
vida citadina moderna: não estão ali por motivo 
de trabalho, não são consumidores vindos para 
compras no comércio ou em busca de serviços, 
não são turistas e também não vieram para visitar 
familiares ou conhecidos; sequer são aventureiros 
ou viajantes contumazes que estão de passagem, 
porém, com proventos suficientes para arcar com 
as corriqueiras despesas de estadia na cidade. 
São vistos como recém- chegados ou visitantes 
que representam um ônus para a municipalidade, 
pois necessitam de ajuda para se acomodarem no 
local ou, caso contrário, permanecerão vagando a 
esmo pela cidade, eventualmente, se associando 
e se somando aos chamados “moradores de 
rua”, compondo um cenário que contraria os 
ideais da urbanização moderna, profundamente 
calcados em noções de assepsia e organização 
(NASCIMENTO et al., 2009).

O serviço social das municipalidades é 
frequentemente chamado a resolver os proble-
mas gerados pela presença indesejável desses 
visitantes e transeuntes enjeitados. Assim, acaba 
por se converter em um dos principais serviços 
públicos encarregados de vigiar e gerenciar as 

portas de entrada das cidades – as rodoviárias, 
principalmente, e dar uma destinação aos “sem 
destino” ou “errantes” que nelas aportam. As polí-
ticas públicas dirigidas a essa população são ela-
boradas e implementadas na área da assistência 
social, tornando-a uma das principais gestoras 
das “dromopolíticas” de Estado, tal como Paul 
Virilio (1996) denomina a governabilidade daquilo 
que entende como sendo o ponto nevrálgico da 
sociedade contemporânea: a velocidade e as ro-
tas de deslocamento do capital, das mercadorias, 
da informação, dos indivíduos, das massas, das 
subjetividades e de tudo o mais que faz parte do 
mundo e da existência.

No caso do Brasil, as políticas públicas 
de assistência social participam ativamente de 
“dromopolíticas” de Estado, interferindo nas 
mobilidades geográficas e psicossociais por 
meio de seus programas e serviços, inclusive 
aqueles não destinados diretamente a migrantes, 
trecheiros, moradores de rua e demais popula-
ções itinerantes.  

As atuais políticas da assistência social, 
estabelecidas no âmbito do Estado e baseadas 
no Sistema Único da Assistência Social (SUAS), 
tendo como equipamento básico os Centros 
de Referência de Assistência Social (CRAS), 
elegem como estratégia principal ações em 
territórios, portanto, privilegiando populações as-
sentadas e formas de vida sedentárias, deixando 
em segundo plano as populações nômades ou 
itinerantes que não se fixam em um determinado 
território urbano. 

O SUAS é um sistema de gestão pública 
não contributiva, descentralizada e participati-
va, cabendo sua coordenação e normas gerais 
à esfera federal e à coordenação e execução 
dos respectivos programas, projetos, serviços e 
benefícios aos estados e municípios que elabo-
ram suas prioridades assistenciais nos projetos 
institucionais. 

O SUAS foi criado pelo Ministério do 
Desenvolvimento Social (MDS) e é coordenado 
pela Secretaria Nacional de Assistência Social. 
Surgiu a partir de três antecedentes fundamentais: 
a aprovação da Lei Orgânica da Assistência 
Social (LOAS), lei nº 8742 de 07 de dezembro 
de 1993; o lançamento das diretrizes da Nova 
Política Nacional de Assistência Social, em 
outubro de 2004, e a Norma Operacional Básica 
do Sistema Único de Assistência Social, em julho 



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José Sterza JuSto et al

de 2005 (BRASIL, 1993). Em reunião ordinária 
realizada pelo Conselho Nacional de Assistência 
Social nos dias 11 e 12 de novembro de 2009 e 
publicada no Diário Oficial da União (DOU) sob a 
Resolução nº 109, de 25 de novembro de 2009, 
foi aprovada a tipificação nacional de serviços 
sócioassistenciais, organizando a política de 
gestão do SUAS por níveis de proteção social 
compreendidas em proteção social básica 
e proteção social especial de média e alta 
complexidade (BRASIL, 2009). 

A proteção social básica visa prevenir a 
violação de direitos e reduzir vulnerabilidades 
e riscos, procurando promover a convivência 
social, familiar e comunitária, além de assegu-
rar às crianças, jovens, adultos, idosos e suas 
famílias, condições mínimas para o exercício 
de cidadania. A proteção social especial de 
média complexidade é voltada para indivíduos 
e famílias que vivem situações de negligência, 
abandono, ameaças, maus-tratos, violações 
físicas e ou psíquicas, discriminações sociais e 
transgressão aos direitos humanos, visando à 
restauração de vínculos familiares e sociais, bem 
como condições para o alcance de autonomia e 
independência. A proteção social especial de alta 
complexidade tem como meta oferecer atenção 
às famílias e indivíduos que se encontram sem 
referência e/ou em situação de ameaça, deman-
dando ações de proteção especial temporária 
fora de seu núcleo familiar ou comunitário. Esses 
serviços socioassistenciais são oferecidos em 
abrigos, casas de passagem, repúblicas, família 
acolhedora, albergues, alojamentos, abrigos 
especiais, moradias provisórias, dentre outros.

A unidade executora das ações de proteção 
social básica é o CRAS e a unidade executora 
das ações de proteção social especial de média 
complexidade é o Centro de Referência Especia-
lizado de Assistência Social (CREAS). Segundo a 
definição do MDS, a proteção social “[...] se ocupa 
do enfrentamento de vulnerabilidades, riscos, 
vitimizações, fragilidades e contingências ocasio-
nais a indivíduos e famílias na trajetória de seu 
ciclo de vida por decorrência de questões sociais, 
econômicas, políticas e de ataques à dignidade 
humana.” (BRASIL, 2007, p. 18). 

Portanto, os nômades e itinerantes, assim 
como a população de rua, dentro do SUAS, são 
objeto de atenção especializada e atendidos 
por equipamentos específicos. Nas cidades de 

pequeno e médio porte, com menos de oitenta 
pessoas em situação de rua, são atendidos pelos 
CREAS. Nos municípios com mais de oitenta 
pessoas em situação de rua há outra unidade 
encarregada de tais serviços, que é o Centro de 
Referência Especializado para a População em 
Situação de Rua (Centro Pop) (BRASIL, 2011a), 
que assume a responsabilidade pelas ações.

 Há que considerar que esses dois 
equipamentos fazem parte da Proteção Social 
Especial de Média Complexidade, portanto, 
na maioria dos municípios são os únicos 
equipamentos disponíveis para execução das 
políticas dirigidas a itinerantes e população de 
rua. No entanto, ainda há outros equipamentos 
que também executam o serviço especializado 
para pessoas em situação de rua, que fazem 
parte da Proteção Social Especial de Alta 
Complexidade, voltados para acolhimento de 
pessoas, como abrigos (albergues), casa de 
passagem, serviço de acolhimento em república, 
casa lar, entre outros (BRASIL, 2009a).

Enquanto a proteção social especial tem 
como prerrogativa a atuação sobre famílias e 
indivíduos com vínculos fragilizados e/ou rom-
pidos (BRASIL, 2009b), visando reconstituir os 
vínculos familiares e comunitários, a proteção 
social básica procura agir preventivamente, 
em momento anterior, buscando fortalecer tais 
vínculos para que não ocorra ou para que se re-
duza ao máximo a probabilidade de fragilização 
e rompimento dos vínculos, elegendo a família 
e seus ciclos vitais como objeto de atuação 
(BRASIL, 2011b).

Para atingir tal finalidade, a proteção 
social básica institui o Centro de Referência 
de Assistência Social (CRAS) como unidade/
equipamento responsável para gerir a política 
pública sobre as populações em situação 
de vulnerabilidade e risco pessoal e social 
referenciados em territórios demarcados como 
sendo produtores de tais vulnerabilidades 
e riscos. Trata-se de territórios onde há, em 
sua maioria, pobreza, criminalidade, tráfico e 
uso de substâncias psicoativas; problemas de 
habitabilidade, entre outros. As ações preventivas 
nesses territórios e junto a essas populações 
diagnosticadas como sendo de risco, por um 
lado buscam evitar ou conter situações tidas 
como produtoras de desagregação e fragilização 
dos vínculos e, por outro lado, buscam proteger 



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e fortalecer as nucleações familiais, nas suas 
diferentes configurações.

O serviço escolhido para dar conta dessa 
demanda é o Serviço de Proteção e Atendimen-
to Integral à Família – PAIF - (BRASIL, 2012), 
que atua diretamente sobre as famílias que são 
diagnosticadas como estando na iminência de ter 
seus vínculos fragilizados, acompanhando sis-
tematicamente suas ações, procurando atender 
suas necessidades e fazendo encaminhamentos 
para a rede socioassistencial, visando garantir 
a manutenção de sua estrutura e integridade. 
Perseguindo os mesmos objetivos, o PAIF é 
complementado pelo Serviço de Convivência e 
Fortalecimento de Vínculos e pelo Serviço de 
Proteção Social Básica no domicílio para pes-
soas com deficiência e idosas (BRASIL, 2009a) 
que atendem grupos e indivíduos com ciclos de 
vida diferenciados.

Para os indivíduos e famílias que já 
estão com os vínculos fragilizados há o Serviço 
de Proteção e Atendimento Especializado 
a Famílias e Indivíduos – PAEFI - (BRASIL, 
2009a), serviço análogo ao PAIF, mas voltado 
para o fortalecimento e preservação dos vínculos 
fragilizados ou para a reconstrução dos já 
rompidos. Ambos são serviços fundamentais 
para o êxito das ações do CREAS, ao qual 
compete os casos mais críticos de ruptura total 
de vinculações e assentamentos psicossociais.  

O CREAS, por conseguinte, atua para 
retornar os indivíduos e famílias aos parâme-
tros instituídos pela proteção social básica, por 
acreditar que os modos de vida postulados pela 
política são os basilares de uma vida digna. Tais 
modos de vida saudável e digna pressupõe uma 
vida harmoniosa em família, o assentamento num 
determinado território e emprego fixo. Isso justifica 
as ações de retorno à sedentarização, mesmo 
que, para tal fim, produza a mobilidade constante.  

Diante do exposto, os projetos desenvol-
vidos pelos CREAS, segundo os preceitos es-
tabelecidos na Política Nacional de Assistência 
Social e na Tipificação Nacional de Serviços 
Socioassistenciais, via de regra, procuram re-
assentar os itinerantes ou enviá-los de volta às 
suas cidades de origem ou, ainda, reintegrá-los 
às suas famílias. 

Dentro desse quadro, o objetivo desta 
pesquisa foi examinar as ações das políticas 
de mobilidade adotadas por uma cidade do 

interior paulista em relação a itinerantes que 
nela desembarcam, sobretudo, aqueles que são 
identificados como trecheiros, tomando-os como 
um caso para exame e discussão mais ampla 
das políticas de mobilidade ou dromopolíticas 
realizadas por meio das políticas públicas de 
assistência social e, ainda, examinar suas re-
lações com garantias de direitos e exercício da 
cidadania, particularmente no que diz respeito 
ao direito de ir e vir e ao direito de assentamento 
territorial e psicossocial nos espaços urbanos.

Delineamento geral da pesquisa

A cidade escolhida para a realização da 
pesquisa em questão possui aproximadamente 
cem mil habitantes e situa-se no interior do esta-
do de São Paulo. Como em tantas outras, essa 
cidade dispõe de três CRAS e um CREAS que, 
dentre outros programas e serviços, possui um 
dirigido especificamente a migrantes e demais 
itinerantes. Tal programa funciona num posto de 
assistência do CREAS denominado Unidade de 
Atendimento ao Migrante (UAM), instalado nas 
dependências da rodoviária da cidade. Nesse 
posto trabalham dois funcionários em turnos ma-
tutino e vespertino: um encarregado de atender 
os usuários do serviço e outro encarregado do 
serviço de copa e limpeza do local. Os usuários 
são todos aqueles que desembarcam na cidade 
e pretendem prosseguir viagem para outra locali-
dade ou que pretendem partir da cidade sem, no 
entanto, possuírem os meios para o pagamento 
da passagem. Existem também aqueles que, 
igualmente sem qualquer recurso financeiro, 
desembarcam em busca de tratamento médico 
ou de trabalho. Os serviços oferecidos são ba-
nho, lanche, pernoite em um hotel conveniado 
e, principalmente, a concessão de passagem de 
ônibus para outra cidade próxima.

A UAM também conta com o apoio da 
vigilância da Polícia Militar, mediante a chama-
da Atividade Delegada. A “atividade delegada” 
é outra estratégia utilizada para regrar a per-
manência no recinto da rodoviária e dissuadir 
trecheiros de tentarem se refugiar ali e evitar 
demais presenças consideradas inoportunas 
nesse local. O município em questão orgulha-
-se por ser o primeiro do centro-oeste paulista a 
ter a Atividade Delegada em muitos dos locais 
considerados “perigosos” e, ao mesmo tempo, de 



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José Sterza JuSto et al

grande circulação, como é o caso da rodoviária. 
Essa estratégia consiste em, mediante convênio 
da prefeitura com a Polícia Militar, remunerar, 
como hora extra de trabalho, policiais militares 
para vigiarem esses locais, nos seus horários de 
folga do serviço regular. Os funcionários da UAM 
relatam que o objetivo da atividade delegada é 
retirar e impedir a mendicância e o uso de drogas 
na rodoviária.

Recentemente começou a funcionar 
no município uma Casa de Passagem, um 
serviço de Proteção Social Especial de Alta 
Complexidade destinado, principalmente, a 
abrigar temporariamente pessoas em situação 
de rua e demais deambulantes. A iniciativa de se 
criar essa Casa decorreu, sobretudo, da pressão 
da cidade para a retirada dos “moradores de 
rua” dos logradouros públicos. O tipo de trabalho 
que se fazia até então, junto a essa população – 
abordagem e tentativa de encaminhamento para 
a família ou algum outro tipo de moradia - acabou 
não gerando os resultados desejados. 

Segundo o site do CREAS dessa cidade, 
o objetivo da UAM é interromper a itinerância e 
fazer o itinerante retornar para sua cidade de 
origem:

O CREAS - Centro de Referência Especiali-
zado de Assistência Social mantém a UAM 
(Unidade de Atendimento ao Migrante) com o 
objetivo de agilizar o retorno e permanência à 
cidade de origem, interrompendo a trajetória 
de vida itinerante do sujeito, de forma a não 
se caracterizarem em famílias inteiras como 
nômades e andarilhos1.

A presente pesquisa foi desenvolvida na 
UAM dessa cidade, por meio de observações 
da rotina da UAM e de entrevistas com usuários, 
durante plantões semanais realizados ao longo 
do ano de 2013. Os dados levantados permitiram 
discutir o sentido das políticas de assistência 
social adotadas para trecheiros e seus efeitos 
sobre a itinerância. Permitiram, também, aden-
trar o sentido da errância para os trecheiros e 
verificar ao que atribuem o rompimento com a 
vida sedentária e a procura de uma vida errante. 

O conjunto dos dados obtidos possibilita 
discutir as ações e serviços predominantes dis-

1 O endereço eletrônico do site no qual esse texto está publicado 
foi omitido para preservar o sigilo sobre a cidade.

pensados aos itinerantes que desembarcam na 
cidade e os sentidos dessas ações relativamente 
à gestão da mobilidade dessa população pela 
cidade, enquanto desdobramento de políticas 
de Estado mais amplas que visam gerir não so-
mente a pobreza, a saúde, a educação e outros 
aspectos fundamentais da vida e da sociedade, 
mas também regrar as forças cinéticas que dis-
param movimentações psicossociais, produzem 
desterritorializações e acentuam oscilações entre 
o nomadismo e o sedentarismo.

Relato de casos

O primeiro caso se refere à trajetória de vida 
de uma travesti que se dirigiu à UAM solicitando 
a cessão de uma passagem de ônibus para outra 
cidade, onde, segundo ela, sua mãe residia. A 
escolha desse caso se deveu, principalmente, à 
maneira como essa usuária foi tratada pelo fun-
cionário do serviço. Esse caso permite discutir as 
práticas que acabam ocorrendo nos serviços e, 
com elas, é possível observar os modos como as 
políticas de assistência enunciadas em programas 
de atenção são efetivamente executadas.  

O segundo caso relatado é o de um tre-
cheiro que caminhou quinhentos quilômetros 
a pé, seguido por uma breve comparação com 
outra pessoa em situação de rua da cidade. Es-
ses casos servem para exemplificar e justificar 
especificidades dos trecheiros que, apesar de 
serem considerados pessoas em situação de rua, 
possuem práticas distintas. Os casos também 
permitem expor as diferenças de tratamento 
dado pelos estabelecimentos da Assistência 
Social aos seus usuários.

O terceiro caso relatado é o de um ex-
-taxista que se tornou errante e alcoolista após 
a morte dos pais. Foi selecionado para mostrar 
reviravoltas que a vida pode dar e a complexi-
dade que cerca a ruptura com a vida sedentária 
e a deserção para a vida trecheira, errante, não 
assentada num espaço geográfico e psicossocial 
fixo e estável. O último relado traz recordações 
de uma usuária, há tempos no trecho, sobre os 
recursos e políticas antigas do CREAS.

Primeiro caso: meretrício errante

O orientador do projeto leva seu novo bolsis-
ta para apresentar-lhe aos funcionários da UAM.  



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Políticas públicas de mobilidade e assistência a itinerantes: o caso dos trecheiros

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Há um tênue tempo nublado e a rodoviária está 
calma, em plena segunda-feira. Dentro da UAM, 
uma travesti tenta explicar ao funcionário que não 
tem dinheiro para viajar. Em outros casos, confor-
me observado posteriormente, basta pedir uma 
passagem para uma cidade próxima do destino 
desejado que a mesma é concedida. Não neste 
caso. O funcionário não quer lhe dar a passagem. 
O experiente orientador e o novo bolsista entram 
na recepção e cumprimentam o funcionário. Ele 
está conversando com a travesti que, apesar do 
semblante cansado, aparentava ter pouco mais 
de trinta anos. Tinha a tez morena, com manchas 
mais escurecidas pela face. Usava peruca preta. 
Seu cabelo real era curto, tingido de louro. Vestia 
roupas desgastadas, uma blusa escura um pouco 
transparente que mostrava o sutiã preto, e sapa-
tos que permitiam ver o quanto seus pés estavam 
extremamente inchados. 

Quer uma passagem para poder visitar a 
mãe. O funcionário discute com ela, apontando 
para o nome do local e afirmando que, ali, na 
Unidade de Atendimento a Migrantes, são aten-
didas apenas as pessoas que se enquadram em 
situação de rua ou que estão de passagem pela 
cidade e não dispõem de nenhum recurso para 
prosseguir viagem. E que esse não era o caso 
dela. Ela revida, dizendo que não tem casa, es-
tando assim em situação de rua. Afirma não ter 
dinheiro algum. Ele então pede para a travesti 
ficar na sala de espera, insistindo que ela não se 
enquadra no perfil do usuário daquele serviço. 

O orientador e o bolsista começam a 
conversar com ela, na sala de espera, de modo 
informal, enquanto o funcionário faz outros aten-
dimentos. Perguntam sobre sua vida, como veio 
parar ali, como está se sentindo, o que pretende 
fazer. Mesmo com algumas lágrimas escorrendo 
no rosto, num choro contido, começa a falar de 
sua vida. Conta que não tem residência e, em 
cada cidade que entra, fica conhecendo apenas 
os prostíbulos que lhe dão abrigo temporário en-
quanto permanece se prostituindo no local. Logo 
vai embora para outra cidade, repetir o ciclo. Pois 
essas casas preferem renovar as profissionais 
do sexo que atendem seus clientes. A renovação 
é mais rentável, atrai mais os frequentadores. 
Esse é seu meio de sobrevivência. O que ganha 
acaba gastando, e é comum se ver sem dinheiro, 
como agora, tendo que ir tentar a sorte em outra 
cidade. 

“Caiu nessa vida”, como ela mesma diz, 
depois que seu pai, percebendo suas tendências 
sexuais, passou a recriminá-la e maltratá-la seve-
ramente. Então, fugiu de casa, ainda adolescente, 
e leva a vida assim, numa espécie de meretrício 
errante. Não sabe para onde vai no dia seguinte. 
Conta que os dias que passou na cidade aonde 
se encontra se prostituiu na rodovia que margeia 
essa cidade, num ponto conhecido como local de 
travestis que fazem programas com viajantes que 
passam por ali e também com moradores da cida-
de, que vão a esse local procurá-las. Disse ainda 
que, naquela noite, havia dormido no terreno de 
uma instituição de assistência a crianças órfãs, 
que fica à margem dessa rodovia. No momento, 
afirma que quer apenas visitar a mãe, sem saber 
o que virá depois. Mas, pergunta a si mesma, 
se não liberarem a passagem de ônibus, como 
vai sair dessa cidade? Num dado momento, os 
músculos da sua face se enrijecem para cima, os 
lábios se contraem, os olhos ficam quase cerra-
dos: ela chora.

Depois da promessa do orientador de 
interceder junto ao funcionário para que ele lhe 
conceda a passagem, ela fica um pouco mais 
calma. O orientador e o bolsista se dirigem ao 
funcionário – que era um antigo conhecido do 
orientador, de quando aquele trabalhava em 
outra instituição de atendimento a trecheiros. 
Ao final da visita, o funcionário diz, de modo 
humorado, para o bolsista, que ele “vai se dar 
bem por ali” e que o movimento é mais ou menos 
aquele que foi presenciado. Afirma que a travesti, 
mesmo não tendo dinheiro e levando uma vida 
itinerante, não se enquadra no perfil dos usuários 
daquele serviço, mas que, no fim das contas, iria 
dar uma passagem a ela.

Esse caso demonstra, em primeiro lugar, 
o poder absoluto do funcionário para decidir a 
concessão da passagem. Ele trabalha sozinho 
nesse lugar, no período vespertino, e mesmo não 
tendo formação profissional adequada e conhe-
cimento dos princípios e objetivos dos serviços 
especializados da assistência social, se coloca 
no lugar de quem pode diagnosticar os casos, 
decidir se estão ou não enquadrados no perfil 
do usuário e conceder ou negar a passagem ou 
outro benefício.   Isso trás um questionamento: 
Qual o critério, afinal, para ceder passagens? 
Será que o funcionário agiu com preconceito 
contra a usuária do serviço por ela ser uma 



112 Emancipação, Ponta Grossa, 13, nºEspecial: 105-120, 2013. Disponível em <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao

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travesti? Ela está em um meretrício errante, 
não tem residência e renda fixas. Por que não 
é considerada uma usuária típica do serviço, 
estando nessas condições?  Ela se prostitui para 
sobreviver, ficando alguns dias na casa de um 
cafetão, de uma cafetina ou em qualquer outro 
lugar, porém, temporariamente. A maioria dos 
itinerantes recebem passagens sem questio-
namento algum, outros, no entanto, carregam 
estigmas que os tornam objeto de hostilização 
e repulsa, seja por estarem alcoolizados, muito 
sujos e maltrapilhos ou, como parece ser esse 
caso, pela orientação sexual.

O caso permite também caracterizar a 
existência de pessoas invisíveis ou que pos-
suem pouca visibilidade social, como essas que 
sobrevivem da prostituição, transitando de um 
lugar para outro, de cidade em cidade, sem rumo 
ou local para estacionar. Poderíamos chamar 
tal condição de vida de “meretrício errante” ou 
“prostituição nômade”, à feição de tantos ou-
tros nomadismos que marcam diversos outros 
modos de vida na atual sociedade dromológica 
(VIRILIO, 1996) ou líquida (BAUMAN, 2003) na 
qual a vida tende a ser cada vez mais produzida 
em espaços abertos (DELEUZE,1992), em mo-
vimentações do sujeito e não mais em lugares 
estacionários e identitários (AUGÈ, 1994). 

Segundo caso: a cada vida, vários trechos

Num dia mais agitado, com mais emissões 
de passagens, no meio da tarde um homem vai 
até a UAM pedir uma passagem para viajar. Al-
meja deslocar-se até Francisco Morato, próximo 
a São Paulo.  

Carrega duas bolsas, uma mochila e uma 
mala de viagem. Tem cabelos já acinzentados. 
Andrajoso, mas com um bom humor que nem 
fez transparecer que caminhou durante dias, 
repousando e se alimentando aonde conseguia, 
de Assis Chateaubriand, no Paraná, até a che-
gar à cidade onde o encontramos. Usa chinelos 
gastos que resistiram a uma caminhada de qui-
nhentos quilômetros. Diz que, enquanto viajava, 
estava com o pensamento vazio. Andou a pé, na 
contramão dos veículos, como fazem todos os 
andarilhos (JUSTO, 2012). Ele se queixa de que, 
num certo trecho do percurso, o acostamento 
estava em péssimas condições de conservação, 
dificultando a caminhada.

Agora que está cansado de andar a pé, 
pretende conseguir uma passagem para chegar 
até o destino desejado. No entanto, a concessão 
de passagem é para curtas distâncias – prefe-
rencialmente para cidades vizinhas. O serviço 
da UAM o encaminha até uma cidade vizinha. 
De lá, poderá ser encaminhado para outra cida-
de situada na rota do seu destino final. Assim, 
de cidade em cidade, o usuário talvez consiga 
chegar ao destino almejado.

Nessa mesma tarde, outro homem chega 
até a UAM, reclamando de dores para uma fun-
cionária, dizendo que havia permanecido num 
acostamento da rodovia, deitado durante três 
dias, com uma hérnia de disco enorme. Sua voz 
é confusa e repetitiva. Pede uma ambulância e 
as chaves do banheiro para tomar um banho. A 
funcionária encarregada do serviço de copa e da 
limpeza do local revida dizendo que para chamar 
uma ambulância é preciso estar muito mal, mas 
concorda em abrir o banheiro para ele. Ela sai e 
logo volta com o outro funcionário, encarregado 
do serviço. O homem é repelido da rodoviária por 
esse funcionário, que diz conhecê-lo de outros 
tempos. O impede também de tomar banho. As 
ordens a serem seguidas são de que apenas os 
trecheiros, itinerantes podem tomar banho na 
rodoviária. Ninguém da população de rua local 
pode ter acesso a esse serviço. 

A preocupação com o aumento da popu-
lação de rua é tamanha que, segundo noticiou 
um jornal da cidade, numa matéria de destaque, 
seria instaurada a internação compulsória para 
os casos de mendicância. O grande temor com 
trecheiros que desembarcam é o de que eles 
possam permanecer na cidade e se somarem 
aos moradores de rua já existentes. Por isso são 
atendidos ali mesmo, na rodoviária, e enviados 
para outra localidade o mais rápido possível.

Terceiro caso: motivos para a Errância

Cinquenta e seis anos. Dez anos de trecho.  
Não se considera um trecheiro. Relata que vive 
de modo pior que um mendigo. Pretende visitar 
um primo no Paraná e, quem sabe, conseguir 
um biscate temporário numa lavoura qualquer. 
Um relato de voz trêmula.

Era taxista em Campinas. Tinha seu pró-
prio carro e muitos amigos do mesmo ramo o 
cercavam. Sempre que possível era ajudado 



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Políticas públicas de mobilidade e assistência a itinerantes: o caso dos trecheiros

Emancipação, Ponta Grossa, 13, nºEspecial: 105-120, 2013. Disponível em <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao

pelos seus pais. Vivia razoavelmente bem na 
cidade e parecia ter uma vida estável. No entan-
to, uma avalanche de acontecimentos o levou à 
errância: seus pais foram a óbito. Sua dor e luto 
o fizeram procurar o consolo do álcool, de modo 
cada vez mais constante. Esse hábito o atolou 
em dívidas, segundo relatou, perdeu o que tinha. 
Estigmatizado como alcoólatra, seus amigos 
não confiaram mais nele e foram se afastando. 
Passou por uma clínica de reabilitação e, ao sair, 
não via mais motivo para levar uma vida esta-
cionada. Tomou o rumo da estrada. Há dez anos 
vaga pelo eixo São Paulo-Paraná em busca de 
trabalhos sazonais e, às vezes, visita parentes.

Apesar de todas as necessidades, dias 
mal dormidos, má alimentação e incerteza do 
destino, afirma que tem a mais absoluta fé em 
Deus. Relata que, certa vez, ganhou um prêmio 
de R$ 6.000,00, na loteria, o que deu para se 
sustentar por um tempo no trecho.

São diversos os motivos que podem levar 
a uma vida errante. Não apenas os econômicos, 
mas também pode haver questões afetivas e 
emocionais, tais como sentimentos de perda ou 
de infidelidade e traição; doenças e o desejo de 
conhecer outras realidades, entre outros fatores, 
assim como aponta Peres (2001). No caso desse 
homem, o motivo crucial não foi a bebida em si 
nem sua situação de precariedade econômica. 
A morte dos pais parece ter pesado considera-
velmente para a sensação de esvaziamento do 
sentido da vida sedentária. Sua decisão de dar 
outro rumo à sua vida, ou melhor, de viver sem 
rumo, embora podendo ter a experiência depres-
siva da perda dos pais como um acontecimento 
que tenha pesado consideravelmente, ainda 
assim, não agiu isoladamente e se articulou com 
outros tais como o distanciamento dos amigos, o 
uso abusivo de bebidas alcoólicas, a diminuição 
da renda do seu trabalho, experiências afetivas 
e emocionais pregressas, dentre outros, que 
compuseram o quadro geral no qual acabou se 
tornando um deambulante.

É comum o próprio trecheiro não reconhecer 
um sentido para sua vida de errante e nem 
atribuir a ela qualquer propósito ou motivos que 
o induziram a viver desse modo. Certo dia, na 
UAM, um homem bem humorado, procedente de 
uma determinada cidade queria uma passagem 
para outra cidade à cerca de 90 km de distancia, 
pela rota mais curta. No entanto, lhe concederam 

uma passagem de ônibus para uma terceira, o 
que praticamente duplicaria a distância de seu 
itinerário. No seu caso, porém, isso não fazia 
muita diferença ou até contribuía com seu modo 
de viver em trânsito. Originário de Limeira, dizia 
que pretendia ir para Andirá, no Paraná, cidade 
situada próxima à divisa com o estado de São 
Paulo, e depois para Bauru, cidade situada no 
centro desse estado. Relata que faz esse circuito 
regularmente, porque tem vontade. Depois, diz 
nem saber ao certo porque faz essa trajetória, 
mas que, em Andirá, poderá arranjar emprego e 
abrigo temporário para juntar dinheiro e continuar 
na errância. 

Quarto caso: Velha recordação

Havia passado algum tempo sem apare-
cer alguém para atendimento naquele dia, na 
UAM. Uma senhora para em frente à porta. Vê 
a placa, vê a porta, volta a fitar a placa. Pensa 
um pouco e entra. Está muito bem cuidada e 
limpa, com uma blusa de lã rosa. Apesar de ter 
apenas um dente canino e ainda, com cálculo 
dental, possui um sorriso largo. Ela fala de modo 
baixo e sussurrante. Demoramos muito para 
entender o que dizia com aquelas palavras, 
quase internalizadas. Depois de algum tempo, 
conseguimos compreender que ela perguntava 
sobre um albergue que existiu na cidade. In-
formamos, então, que não havia mais aquele 
albergue que ela tinha frequentado. Logo, Dona 
Maria – a funcionária da copa e limpeza - vai 
conversar com ela. Maria finge entender o sus-
surrar da senhorinha, apenas confirmando tudo 
com acenos de cabeça. Consegue entender 
que a senhora veio de uma cidade vizinha e 
pretende ir a outra, distante 35 km de onde está. 
A comunicação com ela é realmente muito difícil 
e enigmática. Ela já não precisa mais de passa-
gens concedidas pela assistência social, pois 
já é considerada como pertencente à terceira 
idade e tem direito a transporte gratuito. Ela sai 
do estabelecimento. Tempos depois, resolvemos 
verificar o clima da rodoviária e encontramos 
essa senhora, novamente, ainda animada e 
sorridente. Perguntou pelo menos quatro vezes 
seguidas se não dava mais para esperar o ônibus 
no CAM (Centro de Atendimento ao Migrante), 
local fechado e sem funcionamento já há um 
bom tempo. Ainda animada, mesmo com seus 



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76 anos, mostra orgulhosamente seu RG e diz 
que não paga passagem. Resolvemos procurar 
seu nome nos registros mais antigos da UAM e 
não encontramos nada. 

Ela vive de uma recordação dos tem-
pos antigos da assistência para os trecheiros. 
Recorda-se do CETREM (Centro de Triagem 
e Encaminhamento do Migrante) e do CAM. O 
CETREM era uma instituição que, além de con-
ceder passes de viagem, oferecia hospedagem 
por dois dias, com refeições. O CAM funcionava 
como um serviço muito parecido com o da atual 
UAM, porém, dispunha de uma sala de espera 
bem mais confortável, onde os usuários podiam 
permanecer enquanto aguardavam o embarque. 
Essa senhora resolvera dar as caras na UAM 
para perguntar de um serviço que há um bom 
tempo não existe. Com certeza fazia tempo que 
não passava por essa cidade, mas tinha passado 
em outros tempos. Suas lembranças do antigo 
CETREM demonstram há quanto tempo ela leva 
uma vida itinerante e como guarda bem as infor-
mações e recursos dos locais por onde passa, 
algo essencial para um trecheiro. 

Discussão geral

Uma primeira consideração a ser feita 
sobre os casos apresentados diz respeito à sua 
heterogeneidade, isto é, eles se diferenciam tanto 
no que diz respeito aos motivos que os impulsio-
naram à errância, quanto em relação ao sentido 
que atribuem aos seus modos nômades de viver. 
Um primeiro equívoco é classificá-los como uma 
“população” e tratá-los como se fossem iguais 
uns aos outros, portanto, passíveis de serem sub-
metidos a um protocolo padrão de atendimento.

A condição de mobilidade, as cineses, a 
incitação ao desapego, à fluidez, à multiplicidade 
e efemeridade de vínculos afetivos e sociais, 
bastante presentes no mundo atual, são 
subjetivadas de modo singular. Alguns canalizam 
tais condições e incitações para o consumo, 
outros para o trabalho e existem aqueles, como 
os trecheiros, que rompem radicalmente com o 
sedentarismo e passam a viver como errantes, 
vagando de um lugar para outro. Mesmo entre 
esses últimos, também existem diferenças 
marcantes que precisam ser consideradas: parte 
deles, como é o caso do ex-taxista, ainda possui 
alguma referência à família e ao trabalho, como 

se pode observar quando disse que pretendia 
visitar um irmão e tentar arranjar algum “bico”, 
mesmo sendo essa referência tênue pelo tempo 
que ele se encontra no trecho (10 anos); a travesti 
também se refere à família, ao seu desejo de 
visitar a mãe, mas não sinaliza para qualquer 
possibilidade de reintegrar-se à família, que 
ela abandou bastante magoada com a rejeição 
paterna; outra parte, como no segundo caso, 
já assumiu completamente a vida no trecho, 
enfrenta o desafio de longas caminhadas a pé, 
quando necessário, e se propõe a se aventurar 
por grandes distâncias. Mas existem ainda aqueles 
que, como o segundo personagem apresentado 
no terceiro caso, realizam trajetos circulares ou 
trajetos de idas e vindas pelas mesmas rotas. 
Existe até o caso de mulheres, como a senhora que 
foi apresentada no quarto caso, que também se 
lançam ao trecho, embora sejam casos mais raros.

Enfim, cada um subjetiva à sua maneira a 
vida no trecho e mantêm com ela vínculos igual-
mente distintos: alguns estão bastante arraiga-
dos nesse modo de vida, vivem assim há muito 
tempo, gostam dessa forma de viver, não pre-
tendem abandoná-la e não querem outra, princi-
palmente aquela dantes, sedentária. Outros, no 
entanto, não estão plenamente convencidos da 
vida no trecho e nem se sentem tão satisfeitos 
e gostariam de ter outra oportunidade, de uma 
vida assentada em uma família e trabalho fixo.

A política de assistência social para os 
trecheiros mostra sua fragilidade já na maneira 
como é enunciada, ao propor um tratamento 
único a todos eles e, ainda, quando elege como 
meta a interrupção da itinerância e o retorno do 
trecheiro à cidade de origem ou à família, tal 
como foi possível observar na proposição dos 
objetivos da UAM, do município que serviu de 
base empírica para esta pesquisa. Com toda 
convicção e determinação, nos referidos objeti-
vos foi enfatizado que se pretendia com a UAM 
(Unidade de Atendimento ao Migrante) “agilizar 
o retorno e permanência à cidade de origem, 
interrompendo a trajetória de vida itinerante do 
sujeito”, isto é, a meta principal seria interromper 
a “trajetória errante”, vista como inadmissível e 
condenável por si mesma. Não paira qualquer 
dúvida, nesse tipo de visão sedentarizadora, de 
que a vida errante é, consensualmente e evi-
dentemente, um tipo de vida execrável que deve 
ser coibida e desestimulada. Outra evidência 



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Políticas públicas de mobilidade e assistência a itinerantes: o caso dos trecheiros

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que não admite dúvidas e dispensa qualquer 
reflexão, nessa visão condenatória da errân-
cia, diz respeito à família e à vida sedentária e 
territorializada, consideradas como o nicho e a 
forma ideais de se viver. A possibilidade de uma 
vida nômade, errante, desvencilhada de um 
território convencional formado por uma família, 
uma comunidade, uma cidade, um emprego fixo 
e estável e assim por diante, está totalmente 
descartada, de antemão.

A propalada pretensão de reassentar o itine-
rante no solo natal e, para isso, facilitar o retorno à 
cidade de origem é uma boa justificativa encobri-
dora, destinada a legitimar a prática perversa de se 
colocar os itinerantes num jogo de empurra-empur-
ra entre as cidades, todas elas querendo mesmo, 
simplesmente, se livrar deles. Se é verdade que os 
trecheiros querem viver de cidade em cidade, sem 
se fixar em uma, em especial, também é verdade 
que as administrações municipais e os próprios 
munícipes desejam o mesmo. No fundo, há uma 
convergência entre as políticas públicas destinadas 
aos itinerantes e as pretensões dos trecheiros. A 
diferença, nada desprezível, é que os trecheiros 
assumem o modo itinerante ou errante de viver, 
enquanto as políticas públicas de assistência o 
combatem e o recriminam por considerar esse 
modo de vida indigno.

Pretender interromper a itinerância de to-
dos eles, indistintamente, é tarefa fadada ao fra-
casso. Além do que, contraria direitos humanos 
fundamentais. Muito provavelmente, o discurso 
contra a itinerância, presente nas políticas pú-
blicas e nas práticas de assistência social, deve 
se prestar mais a uma preocupação com um 
discurso politicamente correto, que pressupõe 
a condenação moral da itinerância, do que pro-
fessar uma crença efetiva nessa possibilidade, 
sobretudo, para aqueles - e não são poucos – 
que estão há bastante tempo nessa vida.

Muitos deles se distanciaram muito, tanto 
da terra natal, quanto dos familiares e de ou-
tros laços sociais, rompendo completamente 
os vínculos de origem, portanto, não têm para 
onde voltar. Fora isso, também não desejam 
voltar para suas origens ou sequer desejam ir 
para um determinado lugar. Vivem em trânsito e 
elegem a errância, o vagar de um lugar a outro, 
como forma de estar no mundo. Diferentemente 
dos sedentários, eles não buscam raízes, nem 
pretendem criá-las, em qualquer plano da vida. 

Não querem se estabelecer numa determinada 
cidade, num território, num círculo de relaciona-
mentos sociais e nem querem construir vínculos 
afetivos e emocionais. Querem mesmo é viver 
no “trecho”, perambulando de um lugar para ou-
tro. Fazem de tudo para viver assim e resistem 
a todas as pressões para que estacionem e se 
estabeleçam em algum lugar.

Mas, como entender que as políticas de as-
sistência podem carregar consigo a condenação 
da vida errante e, ao mesmo tempo, promovê-
-la com a prática da concessão de passes de 
viagem? Uma resposta possível é a de que o 
discurso politicamente correto que enaltece a 
vida sedentária, baseada num território estável, 
em vínculos e relacionamentos duradouros, no 
fundo, não é construído para instruir práticas de 
atendimento aos itinerantes, mas, isto sim, é 
um discurso que os condena e que os aprisiona 
nesse modo de vida recriminado para, de fato e 
em contraponto, valorizar e promover ideologi-
camente o seu oposto: o sedentarismo.

Da mesma forma que um elemento qual-
quer precisa do seu contrário para se firmar e se 
fortalecer, os sedentários ou os citadinos preci-
sam dos nômades/errantes ou dos estranhos e 
visitantes, principalmente dos indesejados, para 
se sentirem bem-aventurados na cidade e se 
fortalecerem no modo em que vivem. O traba-
lhador se enaltece às expensas do vagabundo, 
da mesma forma que aqueles que se julgam 
honestos, benfeitores, ilibados e portadores de 
tantas outras qualidades também se miram nos 
seus respectivos contrários, retratando-os de 
maneira pejorativa. 

Dessa forma, o citadino precisa da figura 
do trecheiro maltrapilho, que procura enxotar de 
sua cidade, para valorizar sua vida e o lugar que 
habita. O indesejado, cuja vida soa como degra-
dada e povoada de sofrimentos, funciona como 
uma imagem do inferno, do qual todos querem 
se livrar. Enxotar o trecheiro, visto como maltra-
pilho e miserável, é como expurgar de si mesmo 
tais imagens e, assim, se purificar. Talvez seja 
essa a principal função das políticas públicas: a 
purificação da cidade e dos citadinos, mediante 
a projeção dos seus males.

A condenação do trecheiro aparece enfa-
ticamente em um panfleto, reproduzido a seguir, 
distribuído fartamente na rodoviária da cidade 
em questão, durante o ano de 2012. Nesse 



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José Sterza JuSto et al

panfleto está claramente dito que quem “vive 
perambulando” e não trabalha, não estuda, é 
um execrável vadio.

VADIAGEM!
Vadiagem é o costume de permanecer 

ocioso, mesmo sendo apto para o trabalho. 
Assim, está sujeito a ser considerado vadio 
todo aquele indivíduo que, sadio, não estuda, 
não trabalha, não procura emprego e vive 
perambulando.

A vadiagem é uma infração penal, e 
como tal, pode ser punida com prisão simples 
de 15 (quinze) dias até 3 (três) meses - Art. 59 
da Lei das Contravenções Penais.

Além de ser conduzida à delegacia, a 
pessoa que estiver vadiando, ainda poderá ser 
considerada um indivíduo perigoso - Art. 14 - II 
da Lei das Contravenções Penais.

No período em que esse panfleto foi 
distribuído, essa cidade estava promovendo a 
conhecida política de segurança denominada 
“Tolerância Zero”, como a principal ferramenta 
para enfrentar os problemas de segurança pú-
blica. Como parte do instrumental acionado para 
promover tal política de segurança e diminuição 
da criminalidade, foi evocada a Lei da Vadiagem, 
da década de 1940, que dava à polícia poder de 
deter para averiguação qualquer pessoa, sob a 
alegação de suspeita de vadiagem. A distribui-
ção desse panfleto, obviamente, visava intimidar 
eventuais visitantes que pretendessem peram-
bular pela cidade. Ao ser associada à vadiagem, 
a perambulação passava a ser criminalizada e 
podia respaldar a detenção do trecheiro. 

Mais do que o tratamento policialesco e au-
toritário dado à itinerância, subsiste sua profunda 
condenação moral, bastante alastrada entre os 
citadinos. Curiosamente, a sociedade condena 
aquilo mesmo que ela incita e produz. Nesse 
tempo de intensa mobilidade, a dos trecheiros 
é tida como nefasta e passa a ser condenada. 
Portanto, na sociedade cinética, nem todas as 
movimentações são aceitáveis e bem-vindas. 

A localização do serviço da UAM, na pró-
pria rodoviária, já deixa claro a grande preocupa-
ção com a presença de indesejados na cidade. 
A estratégia é agir na fonte, no desembarque, 
procurando evitar que visitantes non gratos per-
maneçam na cidade, ainda que por poucos dias. 

Vale ressaltar que a concessão de passagens 
para outra cidade é a principal ferramenta do 
serviço de atendimento ao usuário. Em casos 
muito especiais é concedida hospedagem no 
hotel conveniado, na maioria das vezes, para 
outros usuários, menos para trecheiros. Aliás, 
para aqueles que insistem em permanecer 
perambulando pela cidade, sequer é permitido 
um banho na rodoviária, tal como foi observado 
numa das ocasiões.

Outro dado bastante saliente diz respeito 
às curtas distâncias das passagens concedidas. 
Via de regra, a pretensão do usuário é ir para 
localidades bem mais distantes do que aquelas 
para as quais recebe a passagem. Predomina a 
preocupação com o custo e não com a necessi-
dade do usuário. A lógica do serviço é se livrar 
do indesejado com o menor custo possível, por 
isso mesmo, a passagem é para a cidade mais 
próxima, na direção da cidade pretendida pelo 
usuário. Essa prática também demonstra que, 
no fundo, não se pretende enviar o usuário para 
sua cidade de origem, mas tão somente se livrar 
dele. A desaprovação e condenação da vida 
itinerante se torna ainda mais cruel quando se 
soma a outros preconceitos, tal como foi obser-
vado no caso da travesti. Não bastasse o fato de 
viver perambulando de um lugar a outro, pesou o 
fato de ser prostituta e, ainda, ter uma orientação 
sexual fortemente condenada moralmente.

Mesmo sendo uma política restritiva, a 
concessão de passagens de curta distância sofre 
a limitação do interstício entre duas concessões. 
O aviso abaixo, amplamente divulgado na ro-
doviária, chama a atenção para o interstício de 
seis meses. Trata-se de um aviso que funciona 
como uma advertência, visando desestimular 
retornos frequentes. Atualmente o interstício é 
de oito meses, mas o que importa salientar é o 
sentido de tal advertência. No lugar da tradicional 
saudação ao visitante – “seja bem-vindo” ou “vol-
te sempre”– é dito aos trecheiros: “seu retorno 
não será bem-vindo”, “nunca mais volte”. A ten-
tativa de se evitar retornos breves e constantes 
traz consigo o reconhecimento de que há uma 
forte tendência ao retorno e que a política de 
interrupção da itinerância é irreal, assim como a 
implementação do retorno à cidade de origem. 



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Políticas públicas de mobilidade e assistência a itinerantes: o caso dos trecheiros

Emancipação, Ponta Grossa, 13, nºEspecial: 105-120, 2013. Disponível em <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao

Prefeitura Municipal de [...]
Secretaria Municipal da Assistência 

Social

AVISO IMPORTANTE

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DE ACORDO COM ORIENTAÇÕES 
RECEBIDAS, INFORMAMOS QUE AS 

PASSAGENS PODERÃO SER ENTREGUES 
PARA CADA PESSOA SOMENTE A CADA 

SEIS (6) MESES.
NÃO SERÁ POSSÍVEL UMA NOVA 

ENTREGA ANTES DESTE PRAZO.

Tais políticas e práticas mostram o que, 
para Hardt (2002), caracteriza a sociedade de 
controle: todas as instituições jazem em todos 
os locais possíveis. Dessa forma, é possível 
entender que a Rodoviária exemplifica um local 
que abriga órgãos de vigilância, de controle 
populacional, de gestão do movimento (dromo-
política), de assistência social, entre outros. Eles 
funcionam de modo pedagógico, instaurando a 
norma e o modo de ser e agir.

Conclusão

A sociedade e a cultura atuais promovem 
intensamente a mobilidade do sujeito, fazendo 
do deslocamento geográfico, social e psicológico 
o elemento fundamental da existência. Hoje, ser/
existir significa movimentar-se, navegar, flanar, 
viver fluidamente ou “ser uma metamorfose 
ambulante”. Os deslocamentos no tempo e no 
espaço se tornam cada vez mais factíveis e 
ousados, fortalecendo a figura do nomadismo 
na experiência humana: o trânsito por distintos 
territórios geográficos, sociais e psicológicos. A 
vida passa a tomar como referentes básicos os 
estados líquido e gasoso da matéria, no lugar 
dos sólidos que, até então, reinavam hegemoni-
camente (BAUMAN, 2003). A mobilidade passa 
a ser o bem maior e o signo, por excelência, de 
potência e vitalidade.

A importância crescente dos fluxos huma-
nos pelo incremento da mobilidade e da produ-
ção da vida nos “não lugares” (AUGÈ, 1994) – a 

vida produzida em espacialidades não identitá-
rias, ou seja, em espaços de trânsito – aumenta 
a importância do controle e gestão da velocidade 
e das direções dos movimentos, sobretudo para 
se evitar descompassos nos ritmos e desgarres 
dos percursos estabelecidos ou admitidos. A so-
ciedade da aceleração do tempo e da ampliação 
do espaço desenvolve mecanismos bastante 
hábeis e ágeis de controle da movimentação 
em qualquer território existencial. Por um lado, 
o sujeito é instado a realizar certas cineses, 
como a do consumismo e da precarização dos 
vínculos afetivos e sociais. Por outro, é impedido 
de realizar algumas movimentações, como a da 
livre circulação, no caso dos trecheiros e outros 
deambulantes indesejados.

O morador de rua, trecheiros ou demais 
itinerantes representam uma grande preocupa-
ção para os gestores das cidades. De maneira 
geral, as políticas adotadas em relação a essa 
população procuram barrar sua entrada na ci-
dade, tratada como indesejável, ou retirá-la das 
ruas quando já se encontra instalada no interior 
da urbe. Ao serem chamadas para participar da 
gestão da mobilidade, as políticas de assistência 
social e seus equipamentos passam a fazer parte 
dessa importante área da governamentalidade.

Observando detalhadamente o texto da 
Resolução 109, publicada no DOU que aprova 
os mecanismos de gestão do SUAS, é possível 
verificar que a ênfase contida nesse documento 
é direcionada às famílias em situação de risco 
e vulnerabilidade, bem como a indivíduos em 
situação de rua ou que estão sobrevivendo nas 
ruas, carecendo, portanto, de projetos voltados 
àqueles que se encontram na perambulação a 
esmo pelas rodovias brasileiras, como é o caso 
dos trecheiros e andarilhos de estrada.

Uma análise crítica e atenta das diretrizes 
das políticas públicas de assistência elaboradas 
pelo SUAS revela que elas promovem 
ideologicamente a família (SANTOS, 2012; 
ROSA, 2012; CAMPOS; MIOTO, 2003; SILVA, 
1987) e desconhecem outros indivíduos em 
situação de precariedade e miséria que não 
possuem vínculos familiais e não habitam os 
espaços urbanos das cidades, sendo, portanto, 
ignorados das prioridades contidas no Artigo 
1º da LOASm, que define a assistência social 
como “um direito do cidadão e dever do Estado”, 
visando a garantia de atendimento às suas 



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necessidades emergenciais (BRASIL, 1993). 
Nesse sentido, será que os andarilhos de estrada 
e tantos outros sujeitos em situação semelhante 
não são considerados como cidadãos com 
direito à cidadania e aos mínimos sociais? 
Esse questionamento se faz necessário porque 
não se menciona em momento algum o sujeito 
andarilho e trecheiro, na definição dos usuários 
desses serviços, mas apenas sujeitos que 
utilizam os espaços públicos como forma de 
sobrevivência, sujeitos que estão em situação de 
rua, em migração, transitoriedade, dentre outros, 
conforme está expresso no seguinte documento:

São diversos os grupos de pessoas que estão 
nas ruas: imigrantes, desempregados, egres-
sos dos sistemas penitenciário e psiquiátrico, 
entre outros, que constituem uma enorme 
gama de pessoas vivendo o cotidiano das 
ruas. Ressalte-se ainda a presença dos cha-
mados “trecheiros”: pessoas que transitam de 
uma cidade a outra (na maioria das vezes, 
caminhando a pé pelas estradas, pedindo 
carona ou se deslocando com passes de via-
gem concedidos por entidades assistenciais) 
(BRASIL, 2008).

A preocupação com a manutenção da 
família e da vida sedentária e sedentarizada e, 
consequentemente, com pessoas em situação 
de rua, presentes nas diretrizes gerais do SUAS, 
acabam por negligenciar ou desconsiderar pro-
blemas e desafios das vidas nômades como 
a dos trecheiros. Vale enfatizar, novamente, 
que trecheiros não podem e jamais deverão 
ser compreendidos como sujeitos migrantes, 
moradores de rua ou em situação de rua que 
utilizam os espaços públicos das cidades como 
forma de sobrevivência, pois, sua condição 
existencial é a perambulação de cidade em 
cidade, utilizando passes de viagem ou andan-
do a pé pelas estradas e sem destino definido, 
escapando, portanto, ao conceito de migração 
e transitoriedade (contidas na descrição do 
SUAS) que pressupõem uma rota definida e 
pré-determinada. 

Se, por um lado, o SUAS proporcionou um 
avanço significativo nas políticas públicas do go-
verno federal, ao romper com a cultura assisten-
cialista fundamentada na ideologia da caridade 
e do filantropismo alienante que caracterizou 
a prática do serviço social ao longo da história 

brasileira, por outro lado permanece, ainda, sem 
políticas de gestão voltadas para determinados 
indivíduos que não se inscrevem nos objetivos 
e nem se enquadram nas descrições desses 
serviços, tal como sucede com os trecheiros 
em questão. É nesse sentido que a política de 
gestão do SUAS tem revelado uma acentuada 
tendência à focalização, seletividade e fragmen-
tação, comprometendo, portanto, o princípio de 
universalidade, continuidade e sistematicidade 
das ações socioassistenciais.

No entanto, é preciso enfatizar que con-
templar efetivamente trecheiros nas políticas 
públicas de assistência social significa abrir 
mão, necessariamente, da matriz familiar sobre 
a qual repousam, direta ou indiretamente, tais 
políticas e seus serviços. É preciso admitir o 
nomadismo, a itinerância, a errância e demais 
formas de vida, contrastantes com as normas 
calcadas no sedentarismo, como formas de vida 
perfeitamente possíveis, legítimas e igualmente 
dignas e importantes para a diversificação da 
existência. 

 Urge pensar os direitos humanos, 
também como direito ao deslocamento, à livre 
movimentação e à cadência do ritmo da vida. É 
mister assegurar, como garantia primordial, a 
livre circulação por distintos espaços-territórios 
demarcados no plano geográfico, social, político, 
econômico e psicológico.

Trata-se de reconhecer o direito à errân-
cia, isto é, à mobilidade sem rota, rumo ou ritmo 
definidos. Errância essa que pode ser exercida 
no plano cognitivo – o pensar sem fronteiras, 
por exemplo; no plano afetivo-emocional – o 
nomadismo das paixões; no plano econômico – 
a livre circulação do trabalhador para além das 
fronteiras nacionais e em tantos outros planos 
da vida. 

Por último, é importante ressaltar que é 
simplista pensar as políticas públicas de assis-
tência social e o próprio SUAS apenas como 
dispositivos de construção da cidadania ou mes-
mo como dispositivos de Estado para o controle 
do “perigo dos pobres” e de outras ameaças à 
ordem social que possam representar todas as 
situações caracterizadas como sendo de vulne-
rabilidade e risco em que vivem certos segmen-
tos da população. Tais políticas, organizadas 
com bastante engenhosidade e abrangência, 
também intervêm na experiência do tempo, 



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Políticas públicas de mobilidade e assistência a itinerantes: o caso dos trecheiros

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do espaço e da velocidade que constituem as 
dimensões básicas da existência. Participam 
ativamente da geopolítica, da cronopolítica e da 
dromopolítica que são três grandes esferas da 
governamentalidade e, ao mesmo tempo, as três 
e mais básicas esferas dos direitos humanos e 
do exercício da cidadania: o direito ao espaço 
e à construção dos lugares habitados, o direito 
ao tempo e à construção da trajetória de vida, o 
direito à velocidade e à regência do ritmo da vida.

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