UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS DE BAURU FACULDADE DE CIÊNCIAS ARMANDO CIRILO DE SOUZA EFEITO DO NITROGÊNIO NAS PROPRIEDADES ANELÁSTICAS DE Nb E LIGAS Nb-1,0%pZr Bauru 2007 ARMANDO CIRILO DE SOUZA EFEITO DO NITROGÊNIO NAS PROPRIEDADES ANELÁSTICAS DE Nb E LIGAS Nb-1,0%pZr Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” de Bauru como um dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciência e Tecnologia de Materiais. Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Grandini Co-orientador: Profa. Dra. Odila Florêncio Bauru 2007 DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP – BAURU Souza, Armando Cirilo de. Efeito do nitrogênio nas propriedades anelásticas de Nb e ligas Nb-1,0%pZr /Armando Cirilo de Souza, 2007. 127 f. il. (CDROM). Orientador : Carlos Roberto Grandini. Co-orientador: Profa. Dra. Odila Florêncio Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2007. 1. Anelasticidade. 2. Ligas Nb-Zr. 3. Difusão em sólidos. 4. Atrito interno. I – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II - Título. Ficha catalográfica elaborada por Maricy Fávaro Braga – CRB-8 1.622 Aos meus pais, Cirilo Eleutério de Souza e Josefa Maria de Souza, a minha esposa, Andréia Leite do Rego, e meus filhos, Kepler Simões de Souza e Johannes de Souza, com amor.... e ao meu inesquecível irmão, José Alcântara de Souza... Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, pois sem a sua vontade não concretizaria este trabalho. Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Grandini pelo esforço, confiança e facilidade na excelente orientação deste trabalho e amizade. À Profa. Dra. Odila Florêncio pela confiança, pelo apoio e incentivo na obtenção de toda a parte experimental deste trabalho. Ao Prof. Dr. Tomaz Toshimi Ishikawa pelas análises de microscopia óptica e teores de gases nas amostras e amizade. À USP-EEL pelo fornecimento das amostras de Nb e Nb-1%Zr. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais da UNESP pelo apoio e utilização de sua infra-estrutura para a realização deste doutorado. Ao CNPq, FAPESP e Fundunesp pelo suporte financeiro à execução deste trabalho. Ao DF-UFSCar pela utilização de sua infra-estrutura para a realização deste doutorado. À UEMS pelo apoio financeiro e confiança na realização deste doutorado. Ao amigo Paulo Sérgio Silva Jr. pela intensa ajuda as medidas de espectroscopia mecânica. Ao amigo Luciano Henrique de Almeida pela intensa ajuda aos processos de tratamento térmico e nitrogenações. Aos colegas e amigos pelo companheirismo e incentivos na obtenção deste título. E a toda minha Família que acreditaram e apoiaram em todos os instantes na realização deste doutorado. MUITO OBRIGADO SOUZA, A.C. Efeito do Nitrogênio nas Propriedades Anelásticas de Nb e Ligas Nb-1,0%pZr. 2007. 127 f. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Materiais) - Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências, Bauru, 2007. Resumo O desenvolvimento científico e tecnológico na área de novos materiais contribuiu para diversas aplicações do nióbio e suas ligas nas indústrias aeroespacial, aeronáutica, automobilística, naval, usinas nucleares, etc. O Brasil lidera o cenário mundial na oferta de nióbio, atingindo uma participação de 92,4 % da produção mundial, justificando, assim, o interesse no estudo desse metal. Este trabalho tem dois objetivos: o primeiro é garantir a introdução do nitrogênio em solução sólida intersticial na matriz metálica Nb sob pressão parcial na ordem de 10-4 Torr e temperatura na ordem de 1373K , com diferentes tempos de dopagens; e, o segundo é caracterizar a liga Nb-1,0%pZr em termos de suas propriedades anelásticas, com diferentes concentrações de nitrogênio em solução sólida, tendo como referência padrão o metal nióbio. Pelo emprego do método de Espectroscopia Mecânica com base na técnica de atrito interno, que fornece informações sobre as interações Gás-Metal e outras técnicas auxiliares, como Difração de Raios X e Microscopia Eletrônica, foi possível mostrar a introdução de nitrogênio em solução sólida em nióbio sob baixas condições de temperatura e pressão. Além disso, foi efetuada a caracterização anelástica da liga Nb-1,0%pZr em função do aumento da concentração de nitrogênio em solução sólida. Palavra Chave: Anelasticidade. Atrito Interno. Ligas Nb-Zr. Intersticiais. Difusão. Nitrogenação. SOUZA, A.C. Efeito do Nitrogênio nas Propriedades Anelásticas de Nb e Ligas Nb-1,0%pZr. 2007. 127f. Tese (Doutorado em Ciência e Tecnologia de Materiais) - Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências, Bauru, 2007. Abstract The scientific and technological development in the area of new materials has contributed to several applications of niobium and its alloys to the aerospatial, aeronautical, automotive and naval industries, nuclear power stations, among others. Brazil is a worldwide leader in the supply of niobium, reaching 92.4% share in the world production, thus justifying the interest in the study of that metal. In the present paper, there are two objectives: the first is to guarantee the introduction of nitrogen in an interstitial solid solution of niobium under partial pressure of 10-4 Torr and at a temperature of around 1373 K, with different doping times. The second one is to characterize a Nb-1.0wt%Zr alloy according to its anelastic relaxation properties, with different nitrogen concentrations in a solid solution, having niobium as a reference. By using Mechanical Spectroscopy, and based on the internal friction technique – which provides information on Metal-Gas interactions and others auxiliary techniques, such as X-Ray Diffraction and Scanning Electron Microscopy – it was possible to show the introduction of nitrogen in a solid solution in niobium at a low temperature and pressure conditions. In addition, the anelastic characterization of the Nb-1.0wt%Zr alloy was performed in terms of the nitrogen concentration in a solid solution, showing complex anelastic relaxation structures, which were decomposed into their component relaxation processes due to stress-induced ordering of oxygen and nitrogen atoms around niobium and zirconium atoms. Keywords: Anelasticity. Internal Friction. Nb-Zr Alloys. Interstitials. Diffusion. Nitrogenation. Lista de Figuras Figura 1 - Plano complexo mostrando as relações entre as funções resposta reais (NOWICK, 1972).......................................................................................................... 26 Figura 2 – Modelo esquemático dos três parâmetros...................................... 28 Figura 3 - Módulos flexibilidades 1J e 2J (NOWICK, 1972)…………………... 30 Figura 4 - Diagrama x apresentando a energia dissipada em um ciclo de oscilação: (a) energia armazenada durante a aplicação da tensão, (b) energia recuperada durante a remoção da tensão e (c) energia dissipada no ciclo (HAYDEN, 1965)......................................................................................................... 37 Figura 5 - (a) Tensão constante aplicada entre os instantes t1 e t2. Para esta tensão; em (b) é representado um material que apresenta o fenômeno da histerese; e, em (c), um material exibindo o fenômeno da relaxação (FAST, 1976)............................................................................................................................ 40 Figura 6 - Diagramas x t e x t para um material que exibe a relaxação submetida a uma tensão periódica temporal (FAST, 1976)........................................ 40 Figura 7 - Estrutura cúbica de corpo centrado: (a) interstícios octaedrais; (b) interstícios tetraedrais (FAST, 1976.).......................................................................... 43 Figura 8 - Configurações possíveis para: (a) pares, (b) e (c) tripletos e (d) quadrupletos (GIBALA, 1966a; 1966b)....................................................................... 46 Figura 9 - Configuração de intersticiais octaedrais em torno de solutos substitucionais em cristal CCC: (a) único átomo substitucional; (b) par substitucional (MOSHER, 1970).................................................................................. 47 Figura 10 – Esquema de separação dos níveis de energia livre devidos a uma tensão externa aplicada para um conjunto de três dipolos (NOWICK, 1972)............................................................................................................................ 53 Figura 11 - Representação do nível de potencial na reação metal-gás para um sistema exotérmico )0( oH ( Adaptado de FROMM, 1980).................................. 60 Figura 12 - Representa a absorção de oxigênio a partir de: a) O2 e b) vapor de H2 O; e desgaseificação de óxidos voláteis (Adaptado de FROMM, 1980)..................... 61 Figura 13 - Diagrama esquemático do sistema de tratamentos térmicos e dopagens de amostras (GRANDINI, 2003)................................................................. 65 Figura 14 – Modelo esquemático do goniômetro do equipamento de raios X (CULLITY, 1978).......................................................................................................... 67 Figura 15 - Pico de Debye para um único processo de relaxação mecânica (NOWICK, 1972).......................................................................................................... 71 Figura 16 - Esquema de um pêndulo de torção invertido (FLORÊNCIO, 1986)............................................................................................................................ 73 Figura 17 - Sistema de aquisição de dados da espectroscopia mecânica.................. 74 Figura 18 - Gráfico do aumento da concentração de N (%p) em Nb e Nb1Zr em função do tempo (h).................................................................................................... 76 Figura 19 - Padrão de difração de raios X para amostra de Nb.................................. 79 Figura 20 - Padrão de difração de raios X para a liga Nb1Zr...................................... 79 Figura 21 - Gráfico do parâmetro de rede em função da concentração de N(%p), para amostra de Nb e Nb1Zr....................................................................................... 80 Figura 22 - Aspectos resultantes da superfície da amostra nióbio: (a) corte longitudinal; e (b) corte transversal, na condição como recebida ................... 83 Figura 23 - Aspectos resultantes da superfície da amostra Nb1Zr: (a) corte longitudinal; e (b) corte transversal, na condição como recebida............................... 84 Figura 24 - Aspectos resultantes da superfície da amostra de nióbio: (a) contraste da topografia; e (b) contraste da composição, na condição segunda nitrogenação............................................................................................................... 85 Figura 25 - Aspectos resultantes da superfície da amostra Nb1Zr: (a) contraste da topografia; e (b) contraste da composição, na condição segunda nitrogenação............................................................................................................... 86 Figura 26 - Aspectos resultantes da superfície da amostra de nióbio: (a) contraste da topografia; e (b) contraste da composição, na condição terceira nitrogenação............................................................................................................... 87 Figura 27 - Aspectos resultantes da superfície da amostra Nb1Zr: (a) contraste da topografia; e (b) contraste da composição, na condição terceira nitrogenação............................................................................................................... 88 Figura 28 - Espectros de relaxação mecânica como uma função da temperatura, para a amostra de Nb como recebida......................................................................... 91 Figura 29 - Decomposição do espectro de relaxação para amostra Nb como recebida, com freqüência de medida de 4,0 Hz.......................................................... 91 Figura 30 - Espectros de relaxação mecânica como uma função da temperatura, para a amostra Nb com o tratamento térmico............................................................. 93 Figura 31 - Decomposição do espectro de relaxação para amostra Nb com tratamento térmico, com freqüência de medida de 3,0 Hz.......................................... 94 Figura 32 - Espectros comparativos de relaxação mecânica como uma função da temperatura, para a amostra Nb com o tratamento térmico e primeira nitrogenação................................................................................................................ 96 Figura 33 – Decomposição do espectro de relaxação para amostra Nb com a primeira nitrogenação com freqüência de medida de 4,0 Hz...................................... 96 Figura 34 - Espectros comparativos de relaxação mecânica como uma função da temperatura, para a amostra Nb com a primeira e segunda nitrogenações............... 98 Figura 35 - Decomposição do espectro de relaxação para amostra Nb com a segunda nitrogenação, com freqüência de medida de 4,0 Hz.................................... 99 Figura 36 - Espectros comparativos de relaxação mecânica como uma função da temperatura, para a amostra Nb com as três nitrogenações...................................... 101 Figura 37 - Decomposição do espectro de relaxação para amostra Nb com a terceira nitrogenação, com freqüência de medida de 4,0 Hz...................................... 101 Figura 38 - Espectros comparativos de relaxação mecânica como função da temperatura, para a amostra Nb1Zr como recebida e após o tratamento térmico......................................................................................................................... 104 Figura 39 - Espectros de relaxação mecânica como função da temperatura, para a amostra Nb1Zr após o tratamento térmico.................................................................. 104 Figura 40 - Decomposição do espectro de relaxação para a amostra Nb1Zr após o tratamento térmico....................................................................................................... 105 Figura 41 - Espectro de relaxação mecânica como função da temperatura, para a liga Nb1Zr, após a primeira nitrogenação................................................................... 107 Figura 42 - Decomposição do espectro de relaxação para a amostra Nb1Zr após a primeira nitrogenação.................................................................................................. 108 Figura 43 - Espectro de relaxação mecânica como função da temperatura, para a liga Nb1Zr, após a segunda nitrogenação................................................................... 110 Figura 44 - Decomposição do espectro de relaxação para a amostra Nb1Zr após a segunda nitrogenação................................................................................................. 110 Figura 45 - Espectro de relaxação mecânica como função da temperatura, para a liga Nb1Zr, após três nitrogenações............................................................................ 113 Figura 46 - Decomposição do espectro de relaxação para a amostra Nb1Zr após a terceira nitrogenação................................................................................................... 113 Lista de Tabelas Tabela 1 - Propriedades mecânicas, físicas e químicas do metal nióbio.... 17 Tabela 2 - Análise química nominal de oxigênio e nitrogênio para as amostras de nióbio e Nb1Zr.................................................................................................... 62 Tabela 3 - Teores totais de oxigênio e nitrogênio nas amostras de nióbio e Nb1Zr...................................................................................................................... 76 Tabela 4 - Parâmetros de rede das amostras de nióbio e Nb1Zr........................... 80 Tabela 5 - Parâmetros de relaxações mecânica da amostra de nióbio como recebida................................................................................................................... 92 Tabela 6 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra de nióbio após o tratamento térmico.................................................................................................. 94 Tabela 7 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra de nióbio após primeira nitrogenação............................................................................................. 97 Tabela 8 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra de nióbio após a segunda nitrogenação............................................................................................. 99 Tabela 9 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra de nióbio após a terceira nitrogenação.............................................................................................. 102 Tabela 10 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra Nb1Zr após o tratamento térmico.................................................................................................. 106 Tabela 11 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra Nb1Zr após a primeira nitrogenação.............................................................................................. 108 Tabela 12 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra Nb1Zr após a segunda nitrogenação............................................................................................. 111 Tabela 13 - Parâmetros de relaxação mecânica da amostra Nb1Zr após a terceira nitrogenação.............................................................................................. 115 SUMÁRIO 1 . INTRODUÇÃO............................................................................................. 16 1.1. OBJETIVOS............................................................................................... 22 2 . FUNDAMENTOS TEÓRICOS..................................................................... 23 2.1. CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO ANELÁSTICO................. 23 2.1.1. Funções – Resposta..................................................................... 24 2.1.2. Modelos Mecânicos...................................................................... 26 2.1.3. Sistemas de Variáveis Internas.................................................... 32 2.2. ATRITO INTERNO..................................................................................... 36 2.2.1. Introdução .................................................................................... 36 2.2.2. Defeitos Pontuais ......................................................................... 40 2.2.3. Gases Intersticiais........................................................................ 42 2.2.4. Formação de Agrupamentos........................................................ 44 2.3. FUNDAMENTOS TERMODINÂMICOS..................................................... 48 2.3.1. Termodinâmica da Relaxação...................................................... 48 2.4. PROCESSOS DE REAÇÕES GÁS-METAL.............................................. 54 2.4.1. Equilíbrio Químico........................................................................ 54 2.4.2. Cinética de Reação ..................................................................... 58 2.4.2.1. Reações Reversíveis entre Gases e Metais............................. 58 2.4.2.2. Reações Irreversíveis entre Gases e Metais........................... 59 62 3. PARTE EXPERIMENTAL............................................................................. 3.1. ORIGEM DAS AMOSTRAS....................................................................... 62 3.2. SISTEMA DE TRATAMENTO TÉRMICO E NITROGENAÇÕES.............. 63 3.3. DIFRAÇÃO DE RAIOS X........................................................................... 66 3.4. ANÁLISE DE GASES................................................................................. 68 3.5. ANÁLISES METALOGRAFICAS................................................................ 68 3.6. ESPECTROSCOPIA MECÂNICA.............................................................. 69 3.6.1. Descrição da Aparelhagem.......................................................... 72 3.6.2. Sistema de Aquisição de Dados................................................... 74 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................................. 75 4.1. ANÁLISE DE GASES................................................................................ 75 4.2. DIFRATOMETRIA DE RAIOS X................................................................ 77 4.3. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA.................................... 81 4.4. RELAXAÇÃO ANELÁSTICA DO MATERIAL............................................ 89 4.4.1. Nióbio.......................................................................................... 89 4.4.2. Liga Nb1Zr................................................................................... 102 5. CONCLUSÕES........................................................................................... 116 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 118 Souza, A.C. 16 1. INTRODUÇÃO A caracterização de novos materiais tem contribuído para o grande avanço científico e tecnológico, e a compreensão dos mecanismos de interação entre os elementos intersticiais e estes materiais é de fundamental importância para este avanço. O nióbio é um elemento metálico descoberto em 1801, por Charles Hatchett na Inglaterra, que o denominou colúmbio (Cb). Em 1834, Heimuch Rose redescobriu esse elemento e deu-lhe o nome de nióbio; mas, somente em 1905, W. V. Bolton obteve o nióbio puro. A origem do nome é baseada em Niobe, filha de Tântalo, que, na mitologia germânica, simboliza a Deusa das lágrimas. Sua ocorrência na natureza não é no estado livre, mas combinado e aparece principalmente na forma de niobita ou columbita (niobato de ferro e manganês) [CBMM, 2007]. Na década de 50, o nióbio era obtido como subproduto do tratamento das columbitas e tantalitas, minerais poucos abundantes, que implicava em preço elevado e uso restrito. Já na década de 60, apareceram as descobertas significativas de reservas do mineral, em destaque na cidade de Araxá - MG, que contribui numa transformação no cenário de produção e aplicação do nióbio. O Brasil lidera o cenário mundial na oferta de nióbio, atingindo uma participação de 92,4 % da produção mundial (BRASIL. Ministério de Minas e Energia, 2001), o que justifica, o grande interesse no desenvolvimento desse trabalho. O nióbio é um metal refratário com ponto de fusão de 2468 0C, com excelentes propriedades mecânicas de rigidez, dureza, estabilidade térmica, estabilidade química, resistência à corrosão, resistência à fadiga, biocompatível com massa específica de 8,75 g/cm3, possui uma alta ductibilidade em relação à maioria dos metais, na Tabela 1, temos a apresentação de algumas propriedades física, química e mecânica do nióbio. Com o desenvolvimento científico e tecnológico na área de novos materiais, obtiveram- se diversas aplicações para o nióbio. Citam-se as quais pode-se citar as ligas de ferro- Souza, A.C. 17 nióbio, utilizadas nas indústrias de construção civil, automotiva, naval, aeronáutica e espacial, na fabricação de tubulações (grades, estruturas, gasodutos e oleodutos) e de ferramentas de alta precisão. Tabela 1 – Propriedades mecânicas, físicas e químicas do metal nióbio. Número atômico 41 Raio atômico, nm 2.08 Volume atômico cm3 /mol 10,83 Peso atômico 92,906 Ponto de ebulição, K 5.017 Estrutura cristalina Cúbica de corpo centrado Densidade g/l 8,57 Resistividade elétrica: ohm-cm 17 x 106 Configuração eletrônica [Kr] 424 5s1 Eletronegatividade -1,6 Alongamento (5 cm), 200C 25 Dureza (Recozido): 90 DPH , 48 Rb, 81BHN, 250 Parâmetro da rede, 20oC: 0,3294 nm Temperatura de fusão K 2.741 Estados de oxidação +3,+5 Coeficiente de Poisson: 0,38 Temperatura de recristalização°C 900-1200 Calor especÌfico J/gK @ 20°C 0,26 Limite de resisténcia tração: MPa, 200C 172 Condutividade térmica J/m-sec-deg 53,7 Limite de elasticidade, típico: Mpa, 200C 103 Módulo de Young: Gpa, 200C 98,5 Souza, A.C. 18 A partir do final do século XIX, muitos pesquisadores de diferentes áreas vêm se dedicando à analise do efeito de gases em metais ou ligas, em razão de que alguns metais de transição dissolvem quantidades significativas de oxigênio, carbono e nitrogênio (AHMAD, 1970; SZKOPIAK, 1971). Esses gases ocupam posições intersticiais na matriz metálica, resultando em mudanças nas suas propriedades mecânicas (GIBALA, 1970; WERT, 1970; POVOLO, 1994). A aplicação de uma tensão mecânica externa provoca a ocorrência de um processo de reorientação atômica, onde a configuração de equilíbrio de um conjunto de defeitos numa estrutura cristalina muda com o tempo para um novo e único estado, sob a ação desta tensão externa aplicada. Quando a tensão é removida, a mudança é revertida ao estado de equilíbrio. Essa transição resulta num espectro de perda de energia elástica conhecida como "espectro de atrito interno" (WELLER, 1996). O comportamento desses defeitos puntiformes, os quais podem ser citados como exemplo a vacância, os defeitos intersticiais e substitucionais, desviam a elasticidade perfeita e são capazes de produzir a anelasticidade em sólidos (WELLER, 1995; ZENER, 1948). O método da espectroscopia mecânica (SCHALLER, 2001) é baseado em medidas de atrito interno (WELLER, 1981a; 1981b; POWERS, 1957; BUNN, 1962), e nos últimos anos vem sendo utilizado para obter os parâmetros de relaxação do defeito, uma vez que, através destes pode-se obter informações a respeito da difusividade (POWERS, 1959; WERT, 1949; 1950; FERRO, 1957; FLORÊNCIO, 2003), concentração de solutos intersticiais (ALMEIDA, 2004), limite de solubilidade (HUANG, 1996; BOTTA, 1990), fenômenos de precipitação, discordâncias (MIZUBAYASHI, 1992; 1995), interações interstiticiais-intersticiais, interações substitucionais-intersticiais (SZKOPIAK, 1975; CANNELLI, 1994) e outras imperfeições da rede cristalina (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972; TREQUATTRINI, 1999). O nióbio possui uma estrutura cristalina CCC, com parâmetro de rede de 0,3294 nm e tem a característica de dissolver uma quantidade considerável de elementos em solução sólida intersticial, com uma ocupação preferencial por sítios octaedrais na rede (NOWICK, 1972; SNOEK, 1941). Souza, A.C. 19 O equilíbrio concentração-temperatura-pressão, no estudo da solubilidade do nitrogênio em nióbio, mostra contradições entre os resultados apresentados. Cost e Wert (1963) realizaram experimentos para analisar o limite de solubilidade do sistema Nb-N usando dois métodos: o primeiro, variando a pressão e a concentração de nitrogênio introduzido no sistema, mantendo a temperatura constante, e o segundo método, baseado na variação da pressão e da temperatura, mantendo a concentração constante. Eles observaram a formação de nitretos na superfície das amostras no intervalo de temperatura entre 1110 K e 2500 K para uma concentração de nitrogênio entre 0,8 a 12 %at. As fases de nitretos precipitadas ocorreram no intervalo de temperatura entre 1070 e 2270 K, para um intervalo de pressão entre 10-6 a 10-2 Torr. Com os resultados obtiveram duas equações empíricas para concentração em solução sólida e limite de solubilidade do nitrogênio, mas os resultados mostraram discordância com outros resultados da literatura. A influência da precipitação de nitreto também foi observada por Dollins e Wert (1963) em nióbio, para baixas temperaturas de tratamento térmico. O mecanismo de difusividade do oxigênio e nitrogênio em nióbio foi pesquisado por Raymond e Rex (1978) determinando os coeficientes de difusividade do nitrogênio em nióbio aplicando a técnica de atrito interno. Alam e Debroy (1988) estudaram a solubilidade do nitrogênio em solução sólida no nióbio, usando a técnica de levitação eletromagnética, determinando diferentes valores do limite de solubilidade quando comparado com a literatura nos intervalos de altas temperaturas, entre 2473 e 2673 K e pressão parcial na ordem de 10-5 Torr. Musenich e colaboradores (1994) pesquisaram o crescimento de nitretos em nióbio em altas temperaturas, entre 1670 e 2170 K e pressão parcial de 15x10-3 Torr, identificando as fases formadas na estrutura do nióbio. O limite de solubilidade de nitrogênio em nióbio é obtido pelas equações apresentadas por Fromm e Hörz (1980), num intervalo de temperatura acima de 1873 K, onde é verificado no diagrama de fase Nb-N (pressão-concentração), dois declives nas isotermas, na região de solução sólida- , de forma que a lei de Sieverts é observada. A primeira classe de isotermas mostra que a concentração de nitrogênio em nióbio é saturada para uma dada temperatura, formando a fase de subnitreto Nb2N. Souza, A.C. 20 Para uma pressão constante de nitrogênio, a concentração em solução sólida decresce com o aumento da temperatura, característico de uma reação exotérmica. Isto tem sido observado em alguns tratamentos metalúrgicos, especialmente em temperatura para recristalização. De acordo com o diagrama do sistema Nb-N, as linhas isobáricas mostram que o limite de solubilidade de nitrogênio em solução sólida determina, para uma temperatura de 1373 K, uma pressão parcial na ordem entre 10-8 e 10-10 Torr, evidenciando a dificuldade da introdução de nitrogênio em solução sólida para uma temperatura de 1373K e pressão parcial na ordem de 10-4 Torr. Assim, pode-se observar uma grande divergência nos resultados apresentados na literatura acerca da introdução de nitrogênio em solução sólida no Nb, o que justifica um dos interesses desse trabalho em buscar novas condições para a introdução de nitrogênio em temperaturas mais baixas e pressões mais altas, uma vez que o sistema experimental do Laboratório de Relaxações Anelásticas atinge no máximo 1473 K. Pela análise de solubilidade do nitrogênio em nióbio, pode-se observar que o nióbio apresenta grande afinidade química com o nitrogênio, forma nitretos e altera consideravelmente as propriedades químicas e mecânicas do material. Em solução sólida, o nitrogênio pode melhorar as propriedades mecânicas, aumentando a dureza, a tenacidade, a resistência à fadiga, à corrosão e à oxidação. Assim, para que se possam obter materiais com as qualidades desejadas de acordo com suas aplicações, é necessário um controle dos níveis de nitrogênio nas condições de processamento. O zircônio é um material cinza prateado, dúctil, refratário com ponto de fusão de 2128 K, com elevada resistência à tração, alta dureza e resistente à corrosão. Em 1789, o químico alemão M. H. Klaproth isolou o óxido do elemento zircônio do mineral proveniente do Ceilão (atualmente Sri Lanka), conhecido como zircão ou zirconita (ZrSiO4). A origem do nome zircônio é uma derivação do árabe, zargum, que significa cor dourada, que é uma característica do silicato. Em 1824, o estudioso J.J. Berzelius isolou o metal por redução de K2ZrF6 com potássio, embora de forma ainda impura, sendo que a obtenção da primeira amostra dúctil do metal, com razoável grau de Souza, A.C. 21 pureza, aconteceu na Alemanha em 1914, realizada por Lely e Hamburger. Em 1925, foi desenvolvido pelos pesquisadores Van Arkel e de Bôer o primeiro processo de refinação na busca de um zircônio mais puro. No que se refere às propriedades físico-químicas, o zircônio é pouco reativo. Quando submetido a altas temperaturas, há reação com o oxigênio, formando o ZrO2, e com o nitrogênio e o carbono, resultando, respectivamente, em nitreto (ZrN) e carbeto (ZrC) de zircônio. Devido ao baixo poder absorvente de nêutrons, o zircônio é usado, principalmente, na indústria nuclear, para recobrir as barras de urânio nas pilhas nucleares. Na indústria química, é usado em equipamento resistente à corrosão e na indústria eletrônica compõe-se em placas e filamentos. Aplica-se o zircônio como metal puro, junto com o háfnio, também, em ligas de ferro, estanho e nióbio, com o objetivo de melhorar suas propriedades de acordo com o interesse de suas aplicações. No caso da liga Nb-1,0%pZr (Nb1Zr), a qual tem o zircônio como elemento substitucional, o zircônio entra na estrutura cristalina do nióbio, com o objetivo de melhorar suas propriedades mecânicas de rigidez, dureza, estabilidade térmica, estabilidade química, resistência à corrosão, resistência à fadiga, tenacidade, etc. (BRASIL. Ministério de Minas e Energia, 2001). Esta tese está dividida em três partes, na primeira são apresentados os fundamentos teóricos para a compreensão do fenômeno da anelasticidade, atrito interno (WASSERBACH, 2002), termodinâmica da relaxação e interação metal-gás (HÖRZ, 1981); na segunda é apresentada a parte experimental, onde a origem das amostras e os métodos utilizados, espectroscopia mecânica, difração de raios X, análise metalográfica, análise de gases e o sistema de tratamentos térmicos são descritos. Na terceira parte, são apresentados os resultados e as discussões. Souza, A.C. 22 1.1. OBJETIVOS Este trabalho possui dois objetivos principais, o primeiro foi garantir a introdução do nitrogênio em solução sólida intersticial na matriz metálica sob condições de baixa pressão e temperatura de 1373 K; o segundo objetivo é estabelecer a caracterização da liga Nb1Zr em termos dos parâmetros de relaxação anelástica, quando submetida a diferentes concentrações de nitrogênio em solução sólida, tomando como referência padrão o nióbio, fazendo com que os resultados obtidos possam otimizar as melhores condições de tratamentos térmicos e nitrogenações no estudo das propriedades anelásticas dos metais de transições e suas ligas. Souza, A.C. 23 2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS 2.1. CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO ANELÁSTICO Os materiais utilizados nesse trabalho, ou seja, o metal Nb e a liga Nb1Zr apresentam uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC), de modo que podem acomodar altas concentrações de átomos em solução sólida intersticial, o que contribui para o fenômeno de anelasticidade do material (ZENER, 1948). Pode-se então iniciar a descrição do comportamento anelástico como uma manifestação de processos internos, sem explicitar os mecanismos atômicos. Em geral, um processo de relaxação significa a passagem de um estado fora do equilíbrio para um estado de equilíbrio. Para um material elástico ideal é válida a lei de Hooke e o estado de equilíbrio é obtido instantaneamente, isto é, a uma causa (tensão) o sistema reage instantaneamente produzindo um efeito (deformação). Neste caso, o sistema passa por sucessivos estados de equilíbrio e não ocorre dissipação de energia no processo. Se ao invés de uma resposta instantânea houver uma dependência temporal, o material é considerado anelástico e o tempo requerido pelo sistema para alcançar o estado de equilíbrio é denominado tempo de relaxação. Já a anelasticidade é uma manifestação externa da relaxação e reflete o ajuste das variáveis internas a novos valores de equilíbrio, implicando numa transformação irreversível de parte da energia mecânica em calor. Portanto, a relaxação anelástica é um processo termodinâmico proveniente do acoplamento entre tensão e deformação através de determinadas variáveis internas (ZENER, 1948). Souza, A.C. 24 2.1.1. Funções – Resposta Considerando que um sistema reage (deformação) a uma perturbação externa (tensão), pode-se encontrar uma função resposta que descreva esse comportamento para um sólido linear padrão, que pode ser classificada em duas categorias: quase- estática e dinâmica. Os processos quase-estáticos envolvem grandes intervalos de tempo, onde a tensão ou a deformação é mantida constante. Já os processos dinâmicos ocorrem em curtos intervalos de tempo. Suponha uma tensão que é periódica no tempo: ti oe (1) onde o é a amplitude da tensão e é a sua freqüência angular ( =2 f, sendo f a freqüência de vibração). Logo, a deformação também é periódica com a mesma freqüência, porém, fora de fase em relação à tensão: ti oe (2) onde o é a amplitude da deformação e é o ângulo de fase, também chamado de ângulo de perda. No caso elástico ideal, = 0 e a razão / expressa o módulo elástico de flexibilidade flexibilidade. No caso anelástico 0 e a razão / é uma quantidade complexa, chamada flexibilidade complexa, onde é uma função de (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): Souza, A.C. 25 ieJJ (3) Aqui, J ( ) e são duas funções resposta dinâmicas reais. Por outro lado, a deformação pode ser escrita como: tiei 21 (4) onde 1 é a amplitude do componente da deformação, que está em fase com a tensão, e 2 é a amplitude do componente da deformação que está defasada de 900 . Assim: 21 iJJJ (5) onde J1( ) = 2 / o é a parte real chamada flexibilidade armazenada e J2( ) = 2 / o é a parte imaginária chamada flexibilidade de perda. As funções J1( ) e J2( ) também são funções respostas dinâmicas reais. A Figura 1 mostra que as funções J e são relacionadas por J1 e J2 pela equação: 2 2 2 1 2 JJJ (6) Portanto, pode-se obter o atrito interno em função dos módulos de flexibilidade: tan 1 1 2 Q J J (7) Da mesma maneira, existem relações completamente análogas para o módulo elástico complexo, ou seja: Souza, A.C. 26 ieMM (8) Figura 1 - Plano complexo apresentando as relações entre as funções resposta reais (NOWICK, 1972). 2.1.2. Modelos Mecânicos As funções resposta constituem uma das possibilidades de descrição do comportamento anelástico. Outra maneira possível é em termos de um conjunto de parâmetros intrínsecos ao material. Neste caso, a relação entre tensão e deformação é expressa através de uma equação diferencial ou por meio de tensores e pode ser visualizada por modelos mecânicos adequados. Podem-se citar, como exemplos, dois modelos mais conhecidos, o modelo de Voigt e o modelo de Maxwell. J1( ) J2( ) J* ( ) ( ) Souza, A.C. 27 O modelo de Voigt é o mais conveniente para descrever o módulo de flexibilidade. Esse modelo associa uma mola em paralelo com um amortecedor, relacionando a tensão e a deformação com o módulo de flexibilidade pela seguinte equação diferencial (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): J (9) onde J é o módulo de flexibilidade e é o tempo de relaxação a tensão constante. O modelo de Maxwell é o mais conveniente para descrever o módulo de elasticidade. Esse modelo associa uma mola em série com um amortecedor, e relacionando a tensão e a deformação com o módulo de elasticidade pela seguinte equação diferencial (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): M (10) onde M é o módulo de elasticidade e é o tempo de relaxação a deformação constante. Os modelos mecânicos de Voigt e Maxwell não explicam completamente o comportamento de um sólido real. Portanto, para explicar completamente o comportamento de um sólido anelástico padrão foi desenvolvido o modelo dos três parâmetros, representado na Figura 2, que é constituído por uma associação em paralelo de uma mola e um amortecedor, associados em série com outra mola. Usando o modelo dos três parâmetros, pode-se combinar, por meio de uma equação linear homogênea, a tensão e a deformação e suas derivadas de primeira ordem em função do tempo para encontrar, as funções respostas dinâmicas J1( ) e J2: NR JJ (11) Souza, A.C. 28 J J NJ Figura 2 - Modelo esquemático dos três parâmetros. onde JR é a flexibilidade relaxada, representando a flexibilidade total (intantânea + relaxada); JN é a flexibilidade não relaxada, representando a parte instantânea (puramente elástica); é o tempo de relaxação sob tensão constante; é a deformação e é a tensão. Considerando-se separadamente as partes real e imaginária ( ), substituindo = o e i t e = ( 1 - i 2) e i t na equação (11), obtém-se: 2121 e JJJJJJ NR (12) Portanto: 221 1 J JJ N (13) 222 1 JJ (14) Souza, A.C. 29 com J = JR - JN , é chamado de relaxação da flexibilidade. As equações (13) e (14) são conhecidas como equações de Debye e os gráficos correspondentes são apresentados na Figura 3. Qualquer função da freqüência que tenha a forma da equação (14) é denominada um pico característico de Debye (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972). Aplicando o modelo de Maxwell, de maneira análoga, substituindo = o e i t e = ( 1 - i 2) e i t na seguinte equação: NR MM (15) obtém-se: 22 22 1 1 MMM R (16) 222 1 MM (17) com M = MR - MN . Da mesma forma, a equação para o atrito interno 1tan Q também pode ser expressa como um pico característico de Debye (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): 1 222 1 2 11 tan Q J J (18) com 2 = ( ) e = J / JN = M / MR, chamada intensidade de relaxação. Souza, A.C. 30 Figura 3 - Módulos flexibilidades 1J e 2J (NOWICK, 1972). A relação entre a altura do pico e a intensidade de relaxação é dada por (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): 1 maxmaxmax 2 1 12 tan Q (19) A intensidade de relaxação é obtida através da altura do pico, enquanto o tempo de relaxação médio é obtido da freqüência em que o pico ocorre. O que foi exposto até aqui é válido somente para o caso de um sólido anelástico padrão, onde são necessários apenas três parâmetros independentes. Souza, A.C. 31 No caso de sólidos mais complexos (reais), a descrição do comportamento anelástico é feita aumentando-se o número de parâmetros. Qualquer uma das funções resposta J1( ), J2( ), M1( ), M2( ), tan ( ) pode ser plotada em função de log . Aqui, a freqüência ( ) varia enquanto o tempo de relaxação é mantido constante. Em termos experimentais, isto é difícil de realizar. Outra maneira alternativa de se obter um pico de Debye é variar o tempo de relaxação, enquanto a freqüência é mantida constante. Isto ocorre quando é valida a equação de Arrhenius (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972; FAST, 1976): kT E eo (20) onde é a temperatura absoluta, k é a constante de Boltzmann e é a energia de ativação do processo de difusão. Neste caso, o tempo de relaxação varia em certo intervalo, simplesmente variando a temperatura do sistema (LAMBRI, 1994). Substituindo a substituição da equação (20) na equação (18), pode-se obter o atrito interno em função da temperatura, pela seguinte relação: pTTk E hQ 11 sec1 (21) onde = 2Q-1 max (Tp/T) e pT é a temperatura correspondente à altura máxima do pico de atrito interno. Souza, A.C. 32 2.1.3. Sistema de Variáveis Internas Uma outra forma de descrever o comportamento anelástico é através das variáveis internas, onde o estado do sólido anelástico é descrito completamente em termos de sua temperatura , da tensão aplicada e de uma variável interna (concentração de defeitos) que acopla as grandezas mecânicas, ou seja, a tensão e a deformação. Numa primeira condição, pode-se considerar um estado de tensão nula ( = 0), definindo um valor de equilíbrio para , que será escolhido como = 0. Logo, para um sistema onde a temperatura permanece constante, pode-se escrever a deformação como (NOWICK, 1972): NJ, (22) onde JN é a flexibilidade não relaxada. O termo representa a deformação anelástica, sendo que a variável mede o acoplamento entre a variável interna e a deformação . Seu valor depende da natureza da deformação, ou seja, se ela é longitudinal em determinada direção cristalográfica ou é transversal. Uma segunda condição é considerar um valor de equilíbrio para , ou seja, 0, e representá-lo por , para cada valor de tensão aplicada (NOWICK, 1972), ou seja: (23) onde é uma constante de proporcionalidade e depende do tipo de tensão aplicada e da temperatura. Uma terceira condição para o sistema é considerar que, com uma mudança na tensão, a variável interna aproxima-se de um valor de equilíbrio em um período de Souza, A.C. 33 tempo. Desta forma, tem-se: 1 (24) Portanto, um sólido anelástico padrão pode ser representado pelas três últimas equações. Já para um caso mais geral, pode-se descrever um sólido por n variáveis internas, ou seja, p (onde p =1, 2,...n). Nesse caso, pode-se considerar a condição de 0p e = 0, e pode-se reescrever a deformação para todos os valores de p na seguinte forma: pp n p nJ 1 (25) onde o somatório representa a deformação anelástica. Analogamente, cada variável interna p tem um valor de equilíbrio dado por (NOWICK, 1972): pp (26) Quando todas as variáveis internas p estão fora do equilíbrio, cada uma delas aproxima-se do equilíbrio numa taxa que depende do desvio de todas as outras variáveis de seus respectivos valores de equilíbrio, o que caracteriza a anelasticidade como um processo termodinâmico proveniente do acoplamento entre as variáveis mecânicas e determinadas variáveis internas. Tais variáveis internas representam as imperfeições da rede, como por exemplo, defeitos pontuais (que é o caso de interesse para esse estudo). Sob o ponto de vista microscópico, pode-se supor um metal com estrutura CCC com certa quantidade de um elemento intersticial e tensionado na direção [100]. Antes da aplicação da tensão, os N Souza, A.C. 34 átomos do elemento intersticial distribuem-se igualmente entre os três tipos de sítios. Logo, considerando o sistema de coordenadas (x, y e z) pode-se escrever: 3 N NNN ZYX (27) Devido à influência da tensão, o número de átomos nos sítios Z aumentará enquanto nos sítios X e Y diminuirá, que implica numa migração induzida por tensão para o sítio Z. Após certo tempo, o número de átomos dos sítios Z sofre certo aumento dado por (FAST, 1976): 3 N Nn Z (28) onde n e Nz são funções do tempo. Quando a tensão é removida, o excesso de átomos nos sítios Z retorna para suas posições iniciais nos sítios X e Y. Se a concentração do elemento intersticial for baixa, não há interação entre os átomos intersticiais. A taxa de diminuição de n, quando a tensão é removida, é dada por (FAST, 1976): n n (29) onde é o tempo de relaxação. Portanto, a relaxação de Snoek (HANECZOK, 2000; SCHALLER, 2001) é produzida por saltos de átomos intersticiais e o tempo de relaxação do processo é relacionado ao tempo médio _ de permanência do átomo no interstício ou à sua freqüência média de salto de uma posição intersticial para outra. Essa freqüência de salto é dada por: Souza, A.C. 35 1 f (30) Supondo que o número de intersticiais nos sítios Z é Nz, a taxa em que esses átomos deixam os sítios é Nz / . Quando nenhuma tensão é aplicada, exatamente metade dos intersticiais abandona os sítios X para ir para os sítios Y e a outra metade vai para os sítios Z; o mesmo ocorre com os sítios Y e Z, pois nenhum sítio é energicamente mais privilegiado. Assim, a taxa nas quais os intersticiais entram nos sítios Z provenientes dos sítiosX é Nx / 2 e vindo dos sítios Y é Ny / 2 . Logo, a variação dos intersticiais nos sítios Z é dada por (FAST, 1976): 22 YXZ Z NNN N (31) Por outro lado, sendo N o número total de interstícios, tem-se: ZYXZYX NNNNNNNN (32) Substituindo na equação (31), tem-se: (33) Das equações (28) e (29), tem-se: 2 3 2 3 e 2 3 N Z Z Z Z N N NN N Souza, A.C. 36 3 2 2 3 2 3 nn n n (34) Numa rede CCC um átomo intersticial pode saltar somente para 4 das 6 posições cúbicas, daí a origem do fator 2/3 . Considerando os conceitos e as equações descritas até o momento sobre o comportamento anelástico, pode-se na seqüência descrever os parâmetros para se medir a anelasticidade do material. 2.2. ATRITO INTERNO 2.2.1. Introdução As medidas de atrito interno foram realizadas utilizando um pêndulo de torção (KÊ, 1999). Estas medidas são fundamentais para o fornecimento de informações sobre o comportamento de gases dissolvidos em solução sólida nos metais e ligas (INDRAWIRAWAN, 1987), o que contribui para melhor caracterização das propriedades anelásticas desses materiais. O atrito interno é um fenômeno produzido devido ao movimento desses átomos, que ocupam posições intersticiais ou substitucionais dentro da rede cristalina metálica, tendo seu módulo como o gradiente da energia dissipada pelo sistema. O estudo de atrito interno envolve o conceito de relaxação anelástica. Considera-se um pêndulo de torção uma haste metálica sob a ação de uma tensão mecânica externa. Se a tensão aplicada for constante, a maior parte da deformação ocorre instantaneamente e uma outra pequena parte aparece como um aumento gradual na sua deformação denominada de efeito pós-elástico, que é uma aproximação da deformação elástica de seu valor de equilíbrio após a aplicação de uma tensão. Supondo que a tensão aplicada seja temporal periódica, haverá um atraso da Souza, A.C. 37 deformação, isto é, existe uma diferença de fase entre tensão e a deformação, onde essa diferença de fase é denominada ângulo de perda e mede a porção de energia que é dissipada em cada ciclo. Essa energia dissipada pode ser representada em um diagrama x , conforme a representação na Figura 4. A energia elástica armazenada durante a aplicação da tensão é representada pela área sob a curva A da Figura 4, isto é: dA (35) Figura 4 - Diagrama de x apresentando a energia dissipada em um ciclo de oscilação: (a) energia armazenada durante a aplicação da tensão, (b) energia recuperada durante a remoção da tensão e (c) energia dissipada no ciclo (HAYDEN, 1965). A energia elástica recuperada durante a remoção da tensão é representada pela área sob a curva B da Figura 4 e a energia dissipada em um ciclo é igual à área sob a curva A menos a área sob a curva B da Figura 4, que é a área encerrada no diagrama na figura (c). Essa área é uma função da freqüência com a qual a tensão é aplicada e removida (HAYDEN, 1965). Se a freqüência de oscilação do sistema é menor que a freqüência de salto dos átomos intersticiais, o ciclo é isotérmico e a área encerrada no diagrama é pequena. Por outro lado, se a freqüência de oscilação do sistema é maior Souza, A.C. 38 que a freqüência de salto dos átomos intersticiais, o ciclo é adiabático e novamente a área encerrada é pequena. Logo, existe uma freqüência intermediária para a qual a área é máxima. A medida do atrito interno é dada pela razão entre a energia dissipada num ciclo de tensão W e a máxima energia elástica armazenada no material W . A energia dissipada por unidade de volume num ciclo completo é dada por (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): 2 02JdW (36) O máximo de energia armazenada por unidade de volume é dado por (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972): 2 01 2 0 2 1 JdW t (37) Portanto, tem-se: 1 1 2 2tan22 Q J J W W (38) A equação (38) representa a fração de energia perdida por ciclo completo devido ao comportamento anelástico e a quantidade Q-1 é conhecida como o atrito interno do material (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972). Logo, pode-se utilizar W / W para obter o atrito interno em função da freqüência (a temperatura constante) ou em função da temperatura (a freqüência constante). No caso de oscilações livres, a amplitude diminui com o tempo e o decremento logarítmico ( ) = W / W é usado como uma medida do amortecimento. Ele é definido como o Souza, A.C. 39 logaritmo natural da relação entre uma amplitude An e a sucessiva An+1 (NOWICK, 1972; DE BATIST, 1972). Assim, pode-se medir o atrito interno pela seguinte relação: 1 1 ln 2 1 2 tan n n A A Q (39) A relaxação anelástica do material refere-se ao tempo necessário para que o sistema atinja o equilíbrio interno (LAMBRI, 1994). O amortecimento provocado pelos átomos intersticiais vai depender da razão entre a freqüência de salto dos átomos e a freqüência de oscilação da amostra. Ele é tanto maior quando as duas freqüências são da mesma ordem de magnitude. Se a freqüência de saltos dos átomos é muito menor que a freqüência de oscilação, o equilíbrio interno do sistema não acompanha a mudança de condições. Por outro lado, se a freqüência de salto é muito maior que a freqüência de oscilação o equilíbrio interno ajusta-se continuamente, não havendo tempo para a relaxação, o que mostra a dependência do atrito interno da freqüência (FAST, 1976). Além da relaxação, outro fenômeno que provoca dissipação de energia é a histerese. Ao completar um ciclo, a deformação não retorna a zero quando a tensão é nula; ocorre uma deformação remanescente. A Figura 5 apresenta a diferença entre relaxação e histerese para o caso de uma tensão constante aplicada entre os instantes t 1 e t 2 (FAST, 1976). Um material que apresenta o fenômeno de relaxação necessita de um tempo para que a deformação se auto-ajuste, enquanto que um material exibindo o fenômeno de histerese responde imediatamente à tensão aplicada, mas apresenta uma deformação remanescente que permanece após a tensão ser removida. Considerando um material que apresente somente o fenômeno de relaxação e submetido a uma tensão oscilante no tempo, sua deformação será defasada com relação à tensão como mostrada na Figura 6, onde é o ângulo de defasagem e é a freqüência angular de oscilação. Souza, A.C. 40 Figura 5 - (a) Tensão constante aplicada entre os intantes t1 e t2. Para esta tensão, em (b) é representado um material que apresenta o fenômeno da histerese, e em (c), um material exibindo o fenômeno da relaxação (FAST, 1976). 2.2.2. Defeitos Pontuais O atrito interno representa o comportamento anelástico de materiais e pode ser considerado como uma manifestação de processos internos de relaxação. Figura 6 - Diagramas x t e x t para um material que exibe a relaxação submetida a uma tensão periódica temporal (FAST, 1976). Souza, A.C. 41 Em nível microscópico, a relaxação é devida a mecanismos atômicos e sua análise pode ser feita através da teoria do dipolo elástico (NOWICK, 1972). Dentre os processos de relaxação existentes, é de interesse para este trabalho aqueles que se originam a partir de imperfeições cristalinas conhecidas como defeitos pontuais (KITTEL, 1965; ASCHOROFT, 1976; DAMASK, 1963). Os tipos mais simples de defeitos pontuais elementares (CALLISTER, 1991; ASKELAND, 2003) são: a) Vacância, que representa um vazio na rede cristalina; b) Impureza substitucional, que é identificada como a substituição de um átomo da rede por outro de espécie diferente; c) Impureza intersticial, que define a presença de átomos nos interstícios da rede cristalina. Os defeitos pontuais podem apresentar-se em metais puros (constituído de um único elemento) ou em ligas (associação de dois ou mais elementos). O metal que apresenta em maior proporção na liga é chamado de solvente ou metal base, enquanto que o metal que apresenta menor quantidade é denominado soluto. Quando dois elementos distintos têm propriedades químicas análogas, de maneira que eles apresentem pouca afinidade química entre si, ocorre a formação de cristais através da coexistência pacífica entre os átomos. Estes cristais constituem uma solução sólida e a condição para que ela ocorra é que os raios atômicos sejam semelhantes, ou seja, satisfazem os coeficientes do fator de empacotamento (HIGGINS, 1982). Se por outro lado, os elementos diferem muito com relação às suas características químicas, os átomos são atraídos uns pelos outros e ocorre a formação de um composto químico (composto intermetálico). Souza, A.C. 42 Os defeitos pontuais apresentam algumas características importantes, dentre as quais se podem destacar (KITTEL, 1965; ASCHOROFT, 1976): 1) Provocam uma distorção da rede em torno de suas posições; 2) Existe uma concentração de equilíbrio que é definida por parâmetros termodinâmicos (dentre eles destaca-se a energia de formação do defeito); e 3) Em geral são móveis e capazes de migrar através da rede cristalina. 2.2.3. Gases Intersticiais As mudanças em algumas propriedades de metais e ligas dependem dos níveis de gases dissolvidos intersticialmente (VEDENYAPIN, 1979), apresentando influências diferentes quando em solução sólida e quando ocorre precipitação de segundas fases na matriz metálica. Os átomos não-metálicos com pequeno raio iônico ou atômico (em comparação com os átomos do solvente metálico), tais como hidrogênio, oxigênio, nitrogênio ou carbono, quando dissolvidos nos metais ocupam posições intersticiais na rede (FAST, 1976; NOWICK, 1972). Nas estruturas cúbica de corpo centrado (CCC), existem dois tipos diferentes de interstícios (BESHERS, 1964): interstícios de simetria octaedral e de simetria tetraedral, conforme estão representados na Figura 7 (CALLEN, 1960). A estrutura CCC pode acomodar átomos pequenos de outros elementos em seus interstícios, de modo que os raios máximos de esferas rígidas que podem ser inseridas sem causar deformação na rede do solvente dependem do tamanho dos interstícios. Souza, A.C. 43 (a) (b) Figura 7 - Estrutura cúbica de corpo centrado: (a) interstícios octaedrais; (b) interstícios tetraedrais (FAST, 1976). As distorções locais provocadas pelos solutos intersticiais podem ser discutidas utilizando a teoria da anelasticidade, pela aplicação do conceito de dipolo elástico, no qual o defeito é descrito como um dipolo elástico (BESHERS, 1970) e pode ser caracterizado pelo tensor p ij. A simetria deste tensor corresponde à simetria da distorção local da rede, geralmente à simetria do defeito (MINER, 1970). Em cristais cúbicos, a variação relativa no parâmetro de rede a é dada por (FROMM, 1980): )( 1 321 dx da ao (40) onde: a o parâmetro de rede do metal puro; 1, 2 e 3 as dilatações por fração molar x dos defeitos nas direções dos eixos principais do tensor . Desta forma, o parâmetro de rede aumenta linearmente com a concentração dos defeitos. Souza, A.C. 44 2.2.4. Formação de Agrupamentos Uma solução sólida ideal apresenta uniformidade entre os vários componentes das forças de coesão entre os átomos (ASKELAND, 2003). As interações atômicas são idênticas e há uma distribuição aleatória dos componentes na solução. Em soluções sólidas reais, ocorrem interações distintas entre as componentes das forças de coesão e surge certo grau de agrupamento entre os átomos vizinhos, que depende da natureza das forças. Sendo assim, o comportamento de átomos intersticiais em soluções sólidas pode ser estudado pelo processo de relaxação Snoek (SZKOPIAK, 1976). Os agrupamentos de átomos intersticiais (WELLER, 1992) podem apresentar efeitos anelásticos mensuráveis, dependendo de sua natureza. É interessante notar que numa medida anelástica ocorrem simultaneamente relaxações devidas a átomos intersticiais isolados e a agrupamentos (STIEGLER, 1963). Assim, é necessário separar os tipos de relaxação na interpretação de um processo. Um agrupamento pode ser caracterizado por um tempo de relaxação que é associado à taxa de reorientação no cristal e por uma intensidade de relaxação que é uma medida de sua concentração (LAMBRI, 1994). Um material que apresenta n processos de relaxação independentes terá contribuição individual de cada processo para a relaxação total seja pequena, e possui atrito interno dada pela seguinte expressão (GIBALA, 1966a; 1966b): 2 1 1 21 2 i i i n i f f AQ (41) onde f é a freqüência aplicada, i é o tempo de relaxação do i - ésimo processo e A1 é a fração da relaxação total devida ao processo i . Souza, A.C. 45 Nos metais CCC, a geometria dos agrupamentos é tal que os campos de deformação produzidos por eles possuem simetria não cúbica (GIBALA, 1966a; 1966b). Os agrupamentos dos átomos intersticiais podem ocorrer em torno de átomos da matriz ou em torno de átomos substitucionais. No primeiro caso, Gibala e Wert (1966a; 1966b) estudaram o agrupamento de dois (pares), três (tripletos) e quatro (quadrupletos) átomos de oxigênio em torno de um átomo de nióbio. Eles verificaram que as intensidades de relaxação desses processos aumentaram com o aumento da concentração de oxigênio em várias configurações. Essas configurações são apresentadas na Figura 8. Supondo que existe um equilíbrio entre os átomos ligados em agrupamentos e os átomos isolados, a concentração dos átomos em agrupamentos de tamanho n , Cn, pode ser relacionada às concentrações dos átomos isolados C1 pela expressão (GIBALA, 1966a; 1966b): RT H R S CZC o n o nnn nn expexp3 1 (42) onde Zn é uma constante configuracional que determina o número de configuração do agrupamento de tamanho n , 3-n é a ocupação dos sítios octaedrais pelos intersticiais, So n e Ho n são, respectivamente a variação de entropia e de entalpia para a dissociação do agrupamento nos seus n átomos isolados. Souza, A.C. 46 Figura 8 - Configurações possíveis para: (a) pares, (b) e (c) tripletos e (d) quadrupletos (GIBALA, 1966a; 1966b). Assim, eles chegaram às seguintes conclusões: 1) Em uma dada temperatura, os processos com menor tempo de relaxação têm maiores intensidades, indicando que eles são predominantes; 2) O tempo de relaxação de cada processo tem dependência temporal característica de processos termicamente ativados; 3) A intensidade de relaxação diminui com o aumento de temperatura (dependência do tipo 1/T); e 4) Há predominância do processo devido a átomos isolados sobre os processos devidos aos agrupamentos. Com relação aos agrupamentos em torno de átomos substitucionais, Bunn e colaboradores (1962) estudaram os picos Zr-O e O-Zr-O em nióbio e Mosher e colaboradores (1970) estudaram os picos Zr-N e Zr-N-Zr em nióbio. Estes últimos, a Souza, A.C. 47 partir de medidas feitas em amostras policristalinas, esboçaram a geometria dos agrupamentos. A Figura 9 exibe essa geometria (MOSHER, 1970). Pode acontecer também o fato de átomos intersticiais serem aprisionados por outros átomos intesticiais de espécie diferente. Um caso comum é o aprisionamento do hidrogênio por impurezas intersticiais. Neste caso, a energia de ligação entre o hidrogênio e os átomos de impurezas depende da posição ao átomo de hidrogênio com relação ao átomo de impureza considerado. Figura 9 - Configuração de intersticiais octaedrais em torno de solutos substitucionais em cristal CCC (a) único átomo substitucional. (b) par substitucional (MOSHER, 1970). Shirley e colaboradores (1983) fizeram uma investigação teórica do aprisionamento do hidrogênio por impurezas de oxigênio e nitrogênio nos metais CCC nióbio, vanádio e tântalo. No modelo proposto por eles, os átomos das impurezas são localizados nos sítios octaedrais e saltam ao redor dos sítios octaedrais. Souza, A.C. 48 A interação entre o átomo de hidrogênio e o átomo de impureza produz um pico de relaxação, referenciado como pico-hidrogênio (FUKAI, 1983; 1984). Schiller e Schneiders (1975) avaliaram a influência do oxigênio no pico hidrogênio em nióbio puro. Este pico é representado como O-H, onde verificaram que a altura do pico depende da concentração de hidrogênio e que ele ocorre em torno de 100K, no intervalo entre 700 e 18Hz. O pico O-H foi estudado em ligas Nb-Zr por Grandini e colaboradores (1994). Interações entre os intersticiais oxigênio e nitrogênio também podem ocorrer quando ambos estão presentes na matriz metálica, por exemplo, pico O-N em nióbio (SZKOPIAK, 1975; VAN OIJEN, 1964). Em síntese, pode-se dizer que átomos intersticiais presentes em metais (NUMAKURA, 2003) e ligas CCC produzem o efeito Snoek. Nos metais puros, os picos de relaxação devido às interações entre os átomos intersticiais e os átomos da matriz já são bem conhecidos (picos Snoek ordinários). No caso das ligas CCC, existem interações entre os átomos intersticiais de espécies diferentes, formando os agrupamentos que reduzem e alargam os picos Snoek ordinários, devido à introdução de picos subsidiários (SZKOPIAK, 1975; MINER, 1970). Wert (1970) fez uma importante revisão dos principais picos que ocorrem na relaxação de átomos intersticiais em metais com estruturas cúbicas de corpo centrado (CCC). 2.3. FUNDAMENTOS TERMODINÂMICOS 2.3.1. Termodinâmica da Relaxação As funções termodinâmicas não são expressas somente em função das variáveis de estado externas, mas também em função das variáveis internas, e possibilitam estudar as propriedades de relaxação sob o ponto de vista termodinâmico (ALEFELD, 1970; CALLEN, 1960). Souza, A.C. 49 Considerando a tensão , a deformação , a temperatura e as variáveis internas p (concentração de defeitos) como variáveis independentes, define-se a função de Gibbs por unidade de volume pela seguinte expressão (NOWICK, 1972): Tsug (43) onde u e s são, respectivamente, a energia interna e entropia por unidade de volume. Combinando-se a primeira e segunda lei da termodinâmica, têm-se: pp p dXAdTdsdu (44) onde as quantidades Ap são as variáveis conjugadas a Xp, denominadas afinidades. Derivando a eq. (43) e utilizando a eq. (44), obtém-se: pp p dXAdsdTdg (45) Entretanto, tem-se (NOWICK, 1972): XT X XTp p g T g s X g A pq , , ,, (46) No estado de equilíbrio, com tensão e temperatura constantes, dg = 0. Assim, tem-se Ap = 0, para todo p. Souza, A.C. 50 Então, a afinidade é considerada como uma força na direção do equilíbrio quando as variáveis Xp não estão nos seus valores de equilíbrio. Dependendo das configurações termodinâmicas do sistema considerado, tem-se que utilizar determinada função termodinâmica que possa satisfazer às condições experimentais mais apropriadas. No caso da temperatura e tensão como variáveis independentes, verificou-se que a função de Gibss é mais adequada. Quando s, e Xp são tomadas como variáveis independentes, a entalpia por unidade de volume é mais conveniente. Neste caso, tem-se a seguinte equação diferencial (NOWICK, 1972): pp p dXAdTdsdh (47) Analogamente, a energia livre de Helmholtz por unidade de volume é mais conveniente, cuja diferencial é (NOWICK, 1972): pp p dXAdsdTdf (48) Finalmente, a energia interna por unidade de volume é mais conveniente quando a deformação é constante. Sua diferencial é dada por (NOWICK, 1972): pp p dXAdTdsdu (49) Supondo que a concentração molar total de defeitos seja Co, é válida a seguinte condição de conservação: Souza, A.C. 51 . 1 constCC op n p t (50) onde nt é o número de tensores independentes e Cp é a fração molar de defeitos para um tensor com orientação p. A equação implica que não pode haver mudanças na concentração molar total, mas somente dipolos com determinada orientação podem passar para outra concentração. Em condições de equilíbrio, para tensão nula, Cp=Co /nt , para todo p. Tome-se um caso simples, onde a tensão é aplicada ao longo de uma determinada direção, por exemplo, ao longo do eixo x1. Seu valor é 11 e a correspondente deformação sofrida é 11 . Omitindo os índices, a deformação do material, é dada por (NOWICK, 1972): t o p p n p n n C CJ t 1 (51) O primeiro termo à direita da igualdade corresponde à parcela elástica da deformação, o segundo representa a parcela anelástica e as variáveis [Cp – C0/n1] correspondem às variáveis internas p já vistas anteriormente. Os valores de equilíbrio das concentrações Cp para uma dada tensão devem ser substituídos na equação (50). Para determiná-los faz-se uso da função de Gibbs por unidade de volume, na forma: pp p dCAsdTddg (52) Assim, define-se um nível de energia livre p associado com o dipolo p por meio da relação (NOWICK, 1972): Souza, A.C. 52 p o p p C g V N g E (53) onde Np é a concentração de dipolos com orientação p expressa como um número por unidade de volume e g’ é a função de Gibbs por unidade de volume g menos a contribuição configuracional da entropia - Scf , isto é: cfTSgg´ (54) Portanto, a quantidade Ep corresponde à energia livre associada com um único dipolo numa determinada orientação p. Se dg é uma diferencial exata, tem-se: A Cp p (55) Considerando que Ap = - pCg / , usando as equações (53) e (54), e que a entropia configuracional por unidade de volume, scf, depende somente da concentração Cp e não de , obtém-se (NOWICK, 1972): p o p V E (56) A equação (56) implica que uma tensão externa aplicada ao material origina uma mudança no nível de energia livre do dipolo p se e somente se a presença desses dipolos resultam numa deformação conjugada. Integrando-se a Equação (56) obtém-se (NOWICK, 1972): Souza, A.C. 53 p op VE (57) Os níveis de energia livre dependem somente da tensão externa aplicada, por isso os termos relacionados à concentração não foram considerados. Fazendo-se uma escolha apropriada do zero de energia, a constante de integração pode ser omitida. A Figura 10 exibe esquematicamente os níveis de energia livre antes e após uma tensão aplicada. Figura 10 – Esquema de separação dos níveis de energia livre devidos a uma tensão externa aplicada para um conjunto de três dipolos (NOWICK, 1972). Uma vez separados, os níveis são repostos obedecendo a uma distribuição de Boltzmann. A redistribuição dos dipolos para novos conjuntos de valores de equilíbrio sob a aplicação de uma tensão é denominada reorientação induzida por tensão. Considerando o sistema em contacto com uma fonte de pressão constante, essa reorientação induzida por tensão, satisfaz o teorema de mínima energia para entalpia. p = 1 2 3 0 Ep E Souza, A.C. 54 2.4. PROCESSOS DE REAÇÕES GÁS-METAL O equilíbrio entre uma fase gasosa constituída de moléculas diatômicas de gás 2 (casos típicos do hidrogênio, oxigênio e nitrogênio) e átomos do gás dissolvidos no metal (sólido cristalino) (FROMM, 1980) pode ser alcançado sob condições moderadas de pressão e temperatura e descrito pela reação: MeAgA )(½ 2 (58) onde g é a fase gasosa, Me é o metal e simboliza hidrogênio, oxigênio e nitrogênio ou qualquer outro elemento que forme gás diatômico. Nesta reação, dois aspectos são importantes: o equilíbrio químico e a cinética da reação. 2.4.1. Equilíbrio Químico O equilíbrio químico determina a concentração final de átomos do gás na solução. Baseando-se na reação (58) de dissolução e no fato de que no equilíbrio os potenciais químicos dos átomos na fase gasosa e na solução sólida devem ser iguais, obtém-se (FROMM, 1980): MeAA2 2/1 (59) onde: o potencial químico é definido para o componente j como: KjNTpj j K N G ,,, (60) Considerando a energia livre de Gibbs na forma diferencial como: Souza, A.C. 55 VdpSdTdG (61) e integrando à temperatura constante, desde a pressão de referência padrão p0 até uma pressão p qualquer, tem-se (FROMM, 1980): VdppTGG p p o o o , (62) Para um gás ideal, já que a fase gasosa pode ser considerada como ideal a menos que a pressão seja muito maior que 1atm ou esteja perto do ponto crítico do gás, a equação (62) torna-se (FROMM, 1980): dp p nRT pTGG p p o o o , (63) o o o p p RTpT n G n G ln, (64) Usando-se como referência padrão à pressão p0 = 1 atm, obtém-se G0(T), que é a energia livre padrão do componente sob pressão de 1 atm . O potencial químico é a energia livre por mol, então: 222 ln AAA pRTo (65) Para soluções não ideais a razão p/p0 é chamada atividade química do componente na solução a e, portanto, tem-se: )()( ln MeA o MeAMeA aRT (66) onde p0 = p0A2 é a pressão no estado padrão, neste caso, igual a 1 atm. Souza, A.C. 56 Agora, pela condição de equilíbrio, pode-se igualar as equações (64) e (65) (FROMM, 1980): )()( lnln2/1 22 MeA o MeAAA aRTpRTo (67) onde 0 é o potencial químico no estado padrão, R é a constante universal dos gases e aA (Me) é a atividade química dos átomos de gás A dissolvido no metal. A pressão parcial pA2 surgiu da definição de potencial químico de um gás ideal. Assim, a atividade de A dissolvido no metal é então dada por (FROMM, 1980): RT G p RT pa o A A o MeA AMeA o exp )2/1( exp 2 2 2 )( )( (68) ou seja, 2 )()( AMeA pTKa (69) onde K(T) é a constante de equilíbrio da reação de dissolução do gás. Portanto, a constante de equilíbrio K(T) para a reação é dada por (FROMM, 1980): RT G p a TK o A MeA exp)( 2 )( (70) onde G0 é a variação da energia livre padrão de Gibbs da reação. A atividade dos átomos do gás A dissolvido no metal pode ser escrita como: )()()( MeAMeAMeA xa (71) Souza, A.C. 57 onde A(Me) é o coeficiente de atividade, que fornece o desvio do comportamento ideal dos átomos de gás A no metal e xA(Me) é a concentração. Assim, para xA(Me) 0 e A(Me) (pA2, T) = constante , segue-se a lei de Henry; para xA(Me) 1 e A(Me) = 1 , segue-se a lei de Raoult (HAASEN, 1996). Se a solução diluída e ideal de átomos na matriz do metal for usada como estado de referência e a lei de Henry for obedecida dentro de uma grande faixa de concentrações. (como normalmente ocorre), a equação será idêntica à lei de Sieverts (NOWICK, 1972), ou seja: RT H R S papTKa oo AMeAAMeA exp)( 22 )()( (72) onde K(T) representa a constante de Sieverts, dependente da temperatura, aA(Me) é a concentração de equilíbrio do componente A , S0 é a entropia da solução e H0 é a entalpia (calor) da solução. Se H0 > 0, a solubilidade para uma pressão constante aumenta com o aumento da temperatura e o processo é endotérmico. Se H0 < 0, a solubilidade para uma pressão constante diminui com o aumento da temperatura e o processo é exotérmico. Desvios da Lei de Sieverts são observados sob algumas circunstâncias, por exemplo, para altas concentrações, quando uma grande fração dos vazios intersticiais disponíveis é ocupada pelos átomos do gás, ocorrendo interações entre eles. Souza, A.C. 58 2.4.2. Cinética de Reação 2.4.2.1. Reações Reversíveis entre Gases e Metais O mecanismo de reação é um conjunto de etapas, que podem ocorrer paralelamente ou em série, dependendo da complexidade específica da reação, de forma que a soma delas resultará na reação global observada. As etapas da reação no caso de absorção a partir de um gás A2 são (CRANK, 1967): (I) Transporte das moléculas do gás na fase gasosa, para a superfície do metal, seguido por uma adsorção molecular (adsorção física) a baixas temperaturas: física)(adsorção)( 22 AgA (73) (II) Dissolução das moléculas gasosas e adsorção dos átomos de gás (adsorção química): química)(adsorção2física)(adsorção2 AA (74) (III) Transferência de átomos na rede do metal: (Me)química)(adsorção AA (75) (IV) Difusão dos átomos na rede do metal. Na reação de desgaseificação, as mesmas etapas ocorrem na seqüência inversa, conforme apresentaram as equações anteriores. As condições energéticas da reação metal-gás estão esquematizadas na Figura 11, onde a energia de 1 mol de A2 ou 2 átomos-grama de A é representada graficamente em função da distância das moléculas ou átomos da superfície do metal, num sistema cujo calor de solução é negativo ( H0 < 0) , como no caso do sistema Nb-Ti com nitrogênio. Na Figura 11, HD Souza, A.C. 59 é a entalpia de dissociação; Hs é o calor (ou entalpia) de solução; Qab é a energia de ativação para a absorção; Qdif é a energia de ativação de difusão (FROMM, 1980) e Qdesg é a energia de ativação para a desgaseificação. As reações reversíveis de gases em metais ocorrem nas condições de equilíbrio termodinâmico, ou seja, quando a taxa de absorção é igual à taxa de desgaseificação. Isto acontece principalmente com os gases: hidrogênio, nitrogênio e monóxido de carbono. 2.4.2.2. Reações Irreversíveis entre Gases e Metais Para muitos metais de transição, as reações de absorção e desgaseificação com o oxigênio são irreversíveis, sendo que a absorção segue a seqüência descrita anteriormente, ou seja, as etapas (I), (II), (III) e (IV), mas a desgaseificação não, pois é acompanhada pela formação e evaporação de moléculas de óxidos voláteis para a fase gasosa. Geralmente, vários tipos de óxidos são formados e evaporados simultaneamente. A Figura 12 apresenta, esquematicamente, a absorção de oxigênio a partir de oxigênio molecular e de vapor de água e a desgaseificação através da formação de óxidos voláteis (FROMM, 1980). Para o oxigênio e o vapor d 'água prevalece o estado estacionário, decorrente de etapas não reversíveis, e que provoca uma taxa de absorção de oxigênio quantitativamente igual à taxa de volatilização (FROMM, 1980). Souza, A.C. 60 Figura 11 - Representação do nível de potencial na reação metal-gás para um sistema exotérmico )0( oH (Adaptado de FROMM, 1980). Souza, A.C. 61 Figura 12 - Representa a absorção de oxigênio a partir de: a) oxigênio e b) vapor de água; e desgaseificação de óxidos voláteis (Adaptado do FROMM, 1980). Souza, A.C. 62 3. PARTE EXPERIMENTAL 3.1. ORIGEM DAS AMOSTRAS As amostras policristalinas de Nb e da liga Nb-1Zr foram obtidas por fusão através de feixe eletrônico e fornecidas no formato de barras cilíndricas de 0,3 cm de diâmetro, pela Escola de Engenharia de Lorena, da USP. A Tabela 2 apresenta a análise química nominal do material recebido, em termos de elementos intersticiais, efetuada na Escola de Engenharia de Lorena, da USP. As amostras foram preparadas com 6,0 cm de comprimento aproximadamente e atacadas quimicamente numa mistura de ácidos nítrico e fluorídrico, numa razão de 2:1, até atingir um diâmetro em torno de 0,1cm, dimensões adequadas para serem utilizadas no pêndulo de torção. Para garantir a realização das medidas de atrito interno dentro do regime elástico, após prender a amostra no pêndulo, anota-se o comprimento útil da amostra, seu diâmetro e a amplitude de oscilação para que se possa determinar a deformação na amostra e garantir a realização das medidas dentro do regime elástico (LIMA, 1994). Todas as medidas foram efetuadas com deformação menor que 10-4. Tabela 2 - Análise química nominal de oxigênio e nitrogênio para as amostras de Nb e Nb1Zr . Amostra Oxigênio (%p) Nitrogênio (%p) Nb 0,0050 0,0028 Nb1Zr 0,0060 0,0028 Souza, A.C. 63 Foram realizadas as análises de gases, para determinar os teores totais de oxigênio e nitrogênio nas amostras após cada condição em que as amostras foram submetidas. Foram realizadas análises de difratometria de raios X, para determinar os parâmetros de rede e identificar eventuais alterações estruturais e possíveis precipitados nas amostras. Foram realizadas análises metalográficas para observar os contornos e tamanho de grãos e possíveis formações de precipitados. A partir desses resultados foi possível determinar as condições de nitrogenação em termos das variáveis termodinâmicas intensivas objetivando a introdução de átomos de nitrogênio em solução sólida em baixa temperatura em nióbio e na liga Nb1Zr. Após cada processo de nitrogenação as amostras foram submetidas a análises de espectroscopia mecânica. Pelos espectros de atrito interno como função da temperatura foram determinados os parâmetros de relaxação mecânica para diferentes teores de nitrogênio em solução sólida no metal. A caracterização anelástica da liga Nb1Zr foi efetuada com base nos processos de relaxação mecânica, devido às variações de suas propriedades mecânicas (WILLIAM, 1979) quando submetidas a diferentes concentrações de defeitos. 3.2. SISTEMA DE TRATAMENTO TÉRMICO E NITROGENAÇÕES Para realizar os tratamentos térmicos e as nitrogenações nas amostras foi utilizado um sistema de ultra-alto-vácuo pertencente ao Laboratório de Relaxações Anelásticas do Departamento de Física da UNESP/Bauru. Souza, A.C. 64 A Figura 13 apresenta um diagrama esquemático do sistema de tratamentos térmicos e nitrogenações das amostras. Para a realização dos tratamentos térmicos e nitrogenações, as amostras são colocadas num aparador que está localizado na extremidade do posicionador magnético através da câmara. O sistema é fechado e bombeado com um sistema de bombas mecânicas e turbomolecular, até que o sensor S 1 atinja uma pressão da ordem de 510 Torr, mantendo as válvulas V1 e V3 fechadas. Após o alcance da pressão desejada, fecha-se a válvula V2 e abrem-se as válvulas V3 e V4 para que seja efetuada a passagem da amostra até o centro do tubo de quartzo com auxílio do posicionador magnético. Com a amostra na posição para a realização do tratamento desejado fecha-se a válvula V 3 e abre-se V 1 para que o interior do tubo de quartzo seja evacuado (GRANDINI, 2003). A partir do momento em que os sensores S1 e S2 acusem uma pressão da ordem de 710 Torr, a bomba iônica é ligada para que seja feito ultra-alto-vácuo no sistema, de modo que S 3 acuse uma pressão da ordem de 910 Torr. Neste ponto é acionado o analisador de gases residuais (RGA), para a realização de uma análise da atmosfera do interior do tubo de quartzo. Em seguida, o forno é acionado para iniciar o aquecimento, que permite que seja estabelecida a taxa de aquecimento, a temperatura máxima e o tempo de permanência nessa temperatura. Durante o processo de tratamento térmico é feita a análise de gases com o RGA, para que se possam determinar qualitativamente quais elementos poderiam ter saído da amostra. Para a realização da dopagem da amostra, o procedimento é quase semelhante. Uma vez obtida a temperatura máxima a válvula V4 é fechada e a bomba iônica e o RGA são desligados, e então é introduzido o gás (nesse trabalho foi introduzido o nitrogênio) com uma pressão parcial controlada pelo sensor S4 previamente calibrado. Decorrido o tempo de permanência na temperatura desejada, o sistema é imediatamente resfriado. Souza, A.C. 65 Figura 13 - Diagrama esquemático do sistema de tratamentos térmicos e nitrogenações de amostras (GRANDINI, 2003). Os tratamentos térmicos nas amostras policristalinas de Nb e Nb1Zr foram realizados em vácuo com uma pressão da ordem de 710 Torr, seguindo uma rampa de aquecimento de 10 K/min, até atingirem o patamar de 1173 K, no qual permaneceram por um período de tempo de 2 horas. A partir desse período de tempo, o sistema foi resfriado com uma taxa de 10 K/min. O processo de nitrogenação foi semelhante ao processo de tratamento térmico. Para cada nitrogenação variou-se a pressão parcial do gás nitrogênio a ser adicionado. Após atingir uma temperatura igual a 1373 K, o bombeamento da parte do sistema que Posicionador magnético Analisador de Gases Residuais Microcomputador Visor V2 Câmara para colocação da amostra N2O2 Bomba Turbomolecular V3 V1 V4 Bomba Iônica S2 S3 Forno Controlador do forno Controladores de entrada de gases Tubo de quartzo S4 S1 Souza, A.C. 66 contém as amostras é fechado e o analisador de gases residuais é desligado. Segue então a introdução controlada do gás nitrogênio. Para cada nitrogenação, a pressão e a temperatura foram mantidas constantes, variando o tempo de dopagem, a primeira, segunda e terceira nitrogenação com tempos de 1, 8 e 10 horas, respectivamente. O objetivo fundamental era obter diferentes concentrações e distribuições do nitrogênio em solução sólida nas amostras. Após o tempo de dopagem, o sistema foi submetido externamente a um rápido resfriamento com água. O gás nitrogênio utilizado para a realização das nitrogenações deste trabalho foi o nitrogênio 6.0, fornecido pela White Martins, com pureza mínima de 99,9999%. 3.3. DIFRAÇÃO DE RAIOS X As medidas de difração de raios X foram realizadas em um equipamento composto basicamente de uma câmara circular onde é inserida uma radiação monocromática. Os raios X incidem na amostra que é colocada no centro da câmara que possui um movimento giratório, onde a radiação difratada é coletada por um detector que está localizado na borda da câmara e que se movimenta ao seu redor. O movimento da amostra e do detetor são acoplados. Assim, enquanto o detector rotaciona de 2 , a amostra sofre uma rotação de um ângulo , sendo os movimentos obtidos com velocidade angular constante. A Figura 14 apresenta a representação de um difratômetro universal, onde os espectros de difração de raios X podem ser obtidos de forma contínua ou passo-a-passo. Seus resultados são representados pela intensidade da radiação difratada em função do ângulo de rotação de rotação do detetor 2 . Souza, A.C. 67 O método utilizado nesse trabalho foi o do pó (CULLITY, 1978), que consiste na consideração que cada partícula deste pó se comporta como um pequeno cristal, com orientação aleatória em relação ao feixe de raios X incidente. Para o caso de amostras policristalinas metálicas nem sempre é feita a polverização da amostra para a obtenção dos difratogramas. Considera-se que os materiais policristalinos são formados por um conjunto de monocristais de orientações aleatórias e obtém-se comportamento próximo de amostras polverizadas. Assim, convencionou-se chamar o método de obtenção de difratogramas de raios X destes metais policristalinos também de método do pó. As medidas foram realizadas num difratômetro da marca Rigaku, Modelo D/MAX 2100-PC, com aceleração de tensão de 40 kV e corrente de 20 mA, pertencente ao Departamento de Física da UNESP/Bauru. Nas amostras policristalinas de Nb e Nb1Zr, a aplicação do método do pó permitiu a identificação das estruturas cristalinas através da comparação dos difratogramas com padrões difratométricos de fases individuais disponibilizados pelo ICDD (International Center for Diffraction Data - 2007). A partir desses dados foram calculados as distâncias interplanares e os parâmetros de rede dessas amostras (TAYLOR, 1973). Figura 14 - Modelo esquemático do goniômetro do equipamento de raios X da UNESP/Bauru (CULLITY, 1978). Souza, A.C. 68 3.4. ANÁLISE DE GASES Considerando que os dados de atrito interno obtidos pela espectroscopia mecânica são comparativos, é de fundamental importância efetuar uma análise de gases e determinar o teor de oxigênio e nitrogênio das amostras policristalinas de Nb e Nb1Zr, utilizadas em cada condição experimental. O analisador de gases efetua a determinação do teor total dos gases e se baseia na técnica de extração a quente dos gases presentes na amostra, pelo aquecimento até a fusão da amostra seguido pela aplicação de um gás de arraste inerte (hélio). Os detectores utilizam-se das técnicas de absorção de radiação infravermelho, para análise de oxigênio e da diferença de condutividade térmica para o nitrogênio. O equipamento utilizado para esta finalidade foi TC-436 DR da LECO pertencente ao Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM), da UFSCar/UNESP. 3.5. ANÁLISES METALOGRÁFICAS As amostras foram preparadas e embutidas no Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM), da UFSCar/UNESP. Após o embutimento, as amostras foram polidas e atacadas quimicamente por uma solução preparada na proporção de 3 HF : 1,5 HNO 3 : 3 HCl e levadas ao equipamento de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV- JEOL 5800 LV), pertencente ao Departamento de Física da UFSCar, para obter as fotomicrografias e analisar as possíveis mudanças microestruturais nas amostras de nióbio e Nb1Zr (TAYLOR, 1973). Souza, A.C. 69 3.6. ESPECTROSCOPIA MECÂNICA A espectroscopia mecânica (SCHALLER, 2001) é um método baseado na técnica do atrito interno (WULFF, 1964), e têm sido bastante utilizada para se obter informações sobre o comportamento de gases dissolvidos em solução sólida nos metais (HIVERT, 1970), (PERKINS, 1977). Ela pode ser definida como uma espectroscopia de absorção, onde ondas de tensão mecânica interagem com um sólido, resultando num espectro de absorção. Experimentalmente, o procedimento de medida de atrito interno é o seguinte: a amostra é colocada para oscilar e a dissipação de energia (transformação da energia de oscilação em calor) ocorre como resultado de causas internas e pode ser medida direta ou indiretamente. Do ponto de vista microscópico (KUSTOV, 1997), qualquer atrito interno está relacionado com movimento relativo das imperfeições da rede provocada pela oscilação (NOWICK, 1952). O atrito interno do tipo relaxação mecânica é produzido por imperfeições na rede cristalina causadas por átomos intersticiais (MIURA, 2003), elétrons de condução (READ, 1978), vacâncias, átomos substitucionais, contornos de grãos e discordâncias (GANGULY, 1970). Como a relaxação mecânica está relacionada com o tempo necessário para que o equilíbrio das variáveis internas seja ajustado, o atrito interno (ou amortecimento das vibrações do sistema) devido a átomos intersticiais é dependente da relação de duas freqüências, a freqüência de salto dos átomos intersticiais e a freqüência de oscilação da amostra contendo os intersticiais. Não existe praticamente nenhum atrito interno quando a freqüência de salto é menor ou muito maior que a freqüência de oscilação. Quando as duas freqüências são da mesma ordem de grandeza, o amortecimento é grande e pode ser estudado experimentalmente: pela variação da freqüência de oscilação a temperatura constante ou pela variação da temperatura, para uma freqüência constante de oscilação. Souza, A.C. 70 Geralmente, o amortecimento de Snoek é medido como uma função da temperatura (INO, 1967), pois torna-se mais simples experimentalmente variar a temperatura do que variar a freqüência de oscilação sobre um intervalo grande (FAST, 1976). O atrito interno (Q-1) é dado por ( NOWICK, 1972): 22 1 1o o Q (76) onde é a freqüência angular da medida; (0), ( ) e estão relacionados com (t), que é a deformação dependente do tempo da na forma: )()exp()()( t ot (77) onde (0) é a deformação instantânea, ( ), é a deformação relaxada e é o tempo de relaxação, para uma resposta de Debye puramente anelástica. Considerando que o processo de relaxação envolvido é termicamente ativado, o um comportamento pode ser descrito pela equação de Arrhenius e, assim, calcular-se o tempo (ou a freqüência) de relaxação (NOWICK, 1972): p o kT E exp (78) onde p é a temperatura absoluta no ponto máximo do pico de Debye, é a energia de ativação, -1 = fo é a freqüência de pico característico da interação e o é o tempo de relaxação fundamental. Souza, A.C. 71 A energia de ativação do processo pode ser calculada a partir da largura do pico de Debye, representado na Figura 15, para um único processo de relaxação mecânica, pela seguinte relação (NOWICK, 1972). E k E k T 635,2303,2144,11 (79) Assim, a largura do pico é inversamente proporcional à energia de ativação. Considerando que a Figura 15, apresenta todas as variáveis características de um pico de atrito interno, pode-se determinar experimentalmente o atrito interno pela equação (21). Figura 15 - Pico de Debye para um único processo de relaxação mecânica (NOWICK, 1972). Souza, A.C. 72 3.6.1. Descrição da Aparelhagem O equipamento geralmente utilizado para experimentos de espectroscopia mecânica no estudo da interação Gás-Metal consiste em um aparelho conhecido como pêndulo de torção (KÊ, 1948), esquematizado na Figura 16 (FLORÊNCIO, 1986). Este equipamento pode operar em freqüências de oscilação entre 1 e 10 Hz, no intervalo de temperatura entre 300K e 700K, a uma taxa de aquecimento de 1K/min e pressão melhor que 6x10-7 Torr. Pode-se dividi-lo em duas partes principais, a superior e a inferior: Na parte superior, como o pêndulo está invertido, seu peso é compensado por um contrapeso através de um fio de nylon passando por uma polia. O pêndulo foi confeccionado com um tubo de aço inox e seu braço de inércia possui pesos reguláveis, que permite diferentes freqüências de oscilações. No seu centro existe um espelho que reflete o feixe de um laser. De cada lado do braço de inércia, e em posições simétricas, situam- se dois eletroímãs que dão o movimento inicial no pêndulo e que são acionados por uma fonte de corrente externa. A parte superior é coberta por uma campânula de aço inox que possui uma janela de vidro para permitir a passagem do feixe de laser. Na parte inferior, tem-se um porta-amostras colocado dentro de um criostato, preso à superfície inferior do prato onde a amostra é fixada em uma de suas extremidades e a outra é presa na haste do pêndulo através de mandris. A parte inferior é protegida por uma camisa, também de aço inox, que é envolvida em parte por uma serpentina refrigerada a água e por um forno de resistência. Este conjunto, campânula e camisa, formam um sistema hermeticamente fechado e, no seu interior, é efetuado vácuo. A parte eletrônica consiste num microcomputador (tipo Pentium) ligado a uma interface microprocessada (GRANDINI, 2002). Souza, A.C. 73 Figura 16 - Esquema de um pêndulo de torção invertido (FLORÊNCIO, 1986). Souza, A.C. 74 3.6.2. Sistema de Aquisição de Dados O sistema de aquisição dos dados, representado pela Figura 17, funciona da seguinte maneira: um feixe de laser é refletido por um espelho situado na barra de inércia do pêndulo e os dados do decaimento das oscilações são coletados automaticamente por dois fotodiodos conectados a um microcomputador, ligado a uma interface microprocessada (GRANDINI, 2002). Os fotodiodos são colocados lado a lado num anteparo situado a aproximadamente 5,3 m e são interceptados pela trajetória do feixe refletido. Os fotodiodos situam-se bem próximos ao centro de oscilação, de maneira que o tempo de trânsito do feixe é inversamente proporcional à amplitude de oscilação. Um software calcula o atrito interno, a cada acréscimo de grau de temperatura, obtido pelo do decaimento da amplitude de oscilação determinado pela razão entre dois tempos de trânsito do feixe entre os fotodiodos. Assim, o software calcula os dados de atrito interno pelo método das velocidades. Portanto, a razão entre as amplitudes está na mesma proporção que a razão entre as velocidades e podem ser determinados o decremento logarítmico, e a freqüência de oscilação da amostra. Os dados de atrito interno em função da temperatura são plotados numa curva, que posteriormente é decomposta em picos de Debye. Os seus parâmetros, tais como intensidade de relaxação, temperatura de pico e energia de ativação, são calculados para cada processo de interação. Figura 17 - Sistema de Aquisição de Dados da Espectroscopia Mecânica. Souza, A.C. 75 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. ANÁLISE DE GASES A solubilidade do nitrogênio no nióbio inicia-se acima de 1073K, para uma pressão na ordem de 10-10 Torr com valor menor que 0,001 % peso (FROMM,1975 ; 1976). O equipamento utilizado neste trabalho possui uma limitação em temperatura, não ultrapassando 1373K. Foram realizadas, então, nitrogenações abaixo desta temperatura. Após cada nitrogenação a que as amostras de nióbio e Nb1Zr foram submetidas, foram retirados pequenos pedaços das amostras de sacrifício para a realização das análises. Os resultados obtidos para as concentrações totais de oxigênio e nitrogênio presentes nas amostras estão apresentados na Tabela 3. Observa-se uma diminuição no teor total de oxigênio e nitrogênio nas amostras, após o primeiro recozimento, que foi atribuído à saída de átomos de oxigênio e nitrogênio que estavam aprisionados nos contornos de grãos. Após as nitrogenações, observa-se que o gradiente da concentração de nitrogênio na liga Nb1Zr é maior quando comparado com o nióbio, isso explica a afinidade química entre zircônio e nitrogênio ser maior que nióbio e nitrogênio (BUNN, 1962). Já o aumento na concentração de oxigênio após as nitrogenações pode ser atribuído às dificuldades na obtenção de resultados confiáveis das análises de gases, pois o tamanho das amostras é de fundamental importância, uma vez que os detectores utilizam-se das técnicas de absorção de radiação infravermelho e a quantidade de material pode influenciar nos resultados. A Figura 18 representa os valores obtidos do teor total de nitrogênio introduzido nas amostras em cada nitrogenação. Pode-se observar um aumento mais acentuado Souza, A.C. 76 na concentração de nitrogênio após a segunda nitrogenação nas amostras de nióbio e Nb1Zr, o que pode ser atribuído ao longo intervalo de tempo. Após a terceira nitrogenação, esse aumento não é tão expressivo, o que pode ser atribuído a uma aproximação do limite de solubilidade. Tabela 3 - Teores totais de oxigênio e nitrogênio nas amostras de Nb e Nb1Zr. Nb Nb1Zr Amostras O (%peso) N (%peso) O (%peso) N (%peso) Recebida 0,08 ± 0,03 0,033 ± 0,001 0,07 ± 0,02 0,03 ± 0,01 T.Térmico 0,05 ± 0,01 0,007 ± 0,001 0,07 ± 0,01 0,02 ± 0,01 1a Nitrogenação 0,27 ± 0,02 0,044 ± 0,004 0,4 ± 0,2 0,09 ± 0,02 2a Nitrogenação 0,49 ± 0,05 0,159 ± 0,003 0,42± 0,01 0,126 ± 0,002 3a Nitrogenação 0,78 ± 0,06 0,16 ± 0,01 0,67 ± 0,01 0,135 ± 0,010 0 2 4 6 8 10 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 Nb Nb1Zr 3a Nitrogenação 2a Nitrogenação 1a Nitrogenação T.Térmico 3a Nitrogenação 2a Nitrogenação C o n ce n ta çã o d e n itr o g ê n io ( % p e so ) Tempo (h) 1a Nitrogenação p N = 5,0 x 10-4 Torr T = 1373 K T.Térmico Figura 18 - Gráfico do aumento da concentração de nitrogênio (%p) em Nb e Nb1Zr em função do tempo (h). Souza, A.C. 77 Comparando as curvas da introdução de nitrogênio nas amostras em função do tempo, pode-se verificar que as curvas das amostras de nióbio e Nb1Zr apresentam um aumento na concentração de nitrogênio em cada processo realizado, mostrando a eficiência dos processos de nitrogenações e a possibilidade da introdução de nitrogênio sob baixas condições de pressão e temperatura na ordem de 1373K. 4.2. DIFRATOMETRIA DE RAIOS X Após cada análise de difratometria de raios X, foram obtidos e identificados os índices de Miller dos respecti