JOÃO ARLINDO DOS SANTOS NETO MEDIAÇÃO IMPLÍCITA DA INFORMAÇÃO NO DISCURSO DOS BIBLIOTECÁRIOS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) Marília/SP 2014 JOÃO ARLINDO DOS SANTOS NETO MEDIAÇÃO IMPLÍCITA DA INFORMAÇÃO NO DISCURSO DOS BIBLIOTECÁRIOS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Campus de Marília, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento Linha de Pesquisa: Gestão, Mediação e Uso da Informação Orientador: Prof. Dr. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior Marília/SP 2014 Santos Neto, João Arlindo dos. S237m Mediação Implícita da Informação no discurso dos bibliotecários da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina (UEL) / João Arlindo dos Santos Neto. – Marília, 2014. 193 f. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, 2014. Bibliografia: f. 161-170 Orientador: Oswaldo Francisco de Almeida Júnior. 1. Bibliotecas universitárias. 2. Análise do discurso. 3. Bibliotecários. I. Título. CDD 025.52 JOÃO ARLINDO DOS SANTOS NETO MEDIAÇÃO IMPLÍCITA DA INFORMAÇÃO NO DISCURSO DOS BIBLIOTECÁRIOS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Campus de Marília, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento Linha de Pesquisa: Gestão, Mediação e Uso da Informação BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Dr. Oswaldo Francisco de Almeida Júnior, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Marília. ______________________________________ Profa. Dra. Tamara de Souza Brandão Guaraldo, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Bauru. ______________________________________ Profa. Dra. Sueli Bortolin, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina. Marília, 23 de abril de 2014. A Deus e, especialmente, à Alice Dias dos Santos – minha avó. Eternas saudades! AGRADECIMENTOS Terei a oportunidade de registrar aqui os meus sinceros agradecimentos a tudo e a todos que colaboraram direta ou indiretamente para a construção, desenvolvimento e finalização deste trabalho. Deste modo agradeço: A Deus, primeiramente, que me capacitou e me direcionou em todos os passos desta caminhada. Foi por Ele e graças a Ele que consegui chegar até aqui. Toda a honra e glória são para o nome d’Ele. Aos meus pais, Gisele e Nathanael, meu eterno agradecimento. A vocês que entraram de cabeça nessa etapa comigo, mobilizando toda a família e amigos para conseguirmos arrumar um apartamento confortável e acolhedor para que eu desenvolvesse meus estudos, pela primeira vez “longe” de casa. Obrigado pelo amor e pela acolhida de sempre, principalmente pelo apoio quando, por motivos que vocês conhecem, tive que voltar pra casa, o que foi maravilhoso. Agradeço também por entender e respeitar as minhas ausências como filho e por ter ficado muitas vezes trancado no quarto para dar conta de terminar este trabalho. A minha irmã, Nathália, que sabia exatamente o que eu estava passando por também ser aluna de mestrado, que convivia com as mesmas ou piores angústias que todo aluno de pós-graduação passa durante a sua formação. Obrigado também pelos “sermões” e pelos discursos que muitas vezes não me eram nada agradáveis de ouvir, rs, mas que hoje percebo o quanto ela tinha razão. A minha família de modo geral, tios, tias, primos, avós etc., que mesmo sem entender completamente o que eu fazia, sempre me apoiava e se interessava pelo andamento do mestrado. Ao meu orientador e amigo, Oswaldo, que aceitou mais esse desafio e que sempre se mostrou disposto a me ajudar e a me orientar. Obrigado também pelas conversas e pelos ensinamentos proporcionados durante as orientações, que não foram somente “orientações”, mas incríveis momentos de diálogo, de aprendizado e de crescimento, sem falar das maravilhosas indicações de leituras para aqueles momentos conturbados em meio as disciplinas. Agradeço pela compreensão e paciência durante essa jornada. A amiga e atualmente colega de trabalho, Sueli. Agradeço pelo aceite do convite para compor a banca, pelas correções e sugestões no relatório de qualificação, por apontar os “sacis” do texto, bem como por todas as conversas, reuniões do Grupo de Pesquisa “Interfaces: Informação e Conhecimento”, convites para os eventos e oficinas. Obrigado por sempre destacar a importância da formação continuada do Bibliotecário nas suas áreas de atuação, como também nas outras áreas, o que me motivava a cada diálogo realizado a continuar nessa caminhada. A colega Tamara, pelas poucas, mas, pontuais e produtivas conversas durante as reuniões do Grupo de Pesquisa “Fundamentos Teóricos da Informação”, e principalmente pelas correções e sugestões após o exame geral da qualificação, e também por aceitar o convite para compor a banca de avaliação deste trabalho. As professoras suplentes da banca, Regina Belluzzo e Brígida Cervantes, pelo aceite e disposição de fazer parte desta banca, bem como pela leitura realizada deste trabalho. A Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, que me proporcionou ambientes para aprendizado, leitura, aperfeiçoamento, lazer, além da oportunidade de cursar um curso de pós-graduação, em nível de mestrado, gratuitamente. Ao CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado por 11 meses, o que contribuiu para que eu residisse em Marília e participasse dos eventos da área. A todos os professores do Departamento de Ciência da Informação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp, que contribuíram para essa formação. A coordenadora da Linha de Pesquisa “Gestão, Mediação e Uso da Informação”, Marta Valentim, obrigado por ser tão solicita e acolhedora nos momentos mais agitados. A todos os membros do Grupo de Pesquisa “Fundamentos Teóricos da Informação” e do “Interfaces: Informação e Conhecimento” pelas discussões e pelo compartilhamento das posições das suas pesquisas, bem como de suas ansiedades e inseguranças, tão presentes no âmbito acadêmico. A Ernestina dos Santos Brandão, pela leitura e correção do trabalho e, a Maria Aparecida Santos. A todos os colegas da pós-graduação, em especial aos queridos amigos do PPGCI da Unesp: Michele Brasileiro, Natália Nascimento, Joana Lemos, Mona Cleide, Rafael Semidão, Vanessa Bissoli, Gilberto Viana, Renata Gutierres, Thaís Franciscon, Heloá Oliveira, Lucirene Lanzi, Ana Carolina, Fernando Vechiato, Luciane Cavalcante, Valéria Martins. Agradeço também aos amigos de outros Programas que fiz nesta jornada: Nida Amado, Emílio Evaristo, Richele Vignoli, Rosemary Rodrigues, Larissa Machado, Diana Souto, Leda Araújo. Cada um de vocês contribui de maneira única e imprescindível para a conclusão deste trabalho. A família que eu escolhi e que Deus colocou no meu caminho: Renato Rocha e família, Fernanda Bonesi e família, Roger Bartlo, Henrique Lucas, Isabela Fernandes e família, Pedro Cintra e família, Henrique Neto e família, Natalia Freitas, Felipe Cotarelli, Isadora Pelisson, Julia Carvalho e família, Pedro Thanes, Stefano Basso, Marcela Moreira, Natalia Woitas, entre outros amigos aqui não mencionados, muito obrigado pelo apoio, incentivo e preocupação de cada um de vocês durante o andamento da pesquisa. Aos colegas de trabalho do Departamento de Ciência da Informação da UEL, pelos relatos de experiências e pelas conversas em meio aos corredores do CECA, que me fizeram refletir e tomar decisões com cautela e sabedoria. Aos bibliotecários do Sistema de Bibliotecas da UEL, pela disposição e aceite em participar da pesquisa, sem a contribuição deles o trabalho não poderia se dar por completo. SANTOS NETO, João Arlindo dos. Mediação Implícita da Informação no discurso dos bibliotecários da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina (UEL). 193f. 2014. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências, Campus de Marília/SP, 2014. RESUMO Mediação da Informação e biblioteca universitária são o norte desta pesquisa, que discute o processo da mediação e o bibliotecário em serviço. Apresenta uma discussão em relação à Mediação Implícita da Informação no âmbito de trabalho dos bibliotecários da Biblioteca Central (BC) da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem como objetivo geral conhecer e analisar o discurso dos bibliotecários da BC/UEL quanto à mediação implícita da informação, e como objetivos específicos localizar a literatura científica dentro da CI documentos que abordam os seguintes termos: biblioteca universitária, mediação, mediação da informação, mediação implícita e explícita da informação, interferência e apropriação, e discuti-los; discutir o conceito de mediação da informação na literatura da área de CI; identificar qual é a relação entre mediação implícita da informação e o fazer do bibliotecário; investigar se o discurso dos bibliotecários a respeito da mediação implícita é referido a processos do ambiente de trabalho em que atuam e se faz referência ao usuário final; realizar um contraponto entre o que a literatura diz a respeito da mediação implícita e o discurso de mediação implícita no discurso dos bibliotecários; verificar se existe um consenso entre o saber dos bibliotecários pesquisados em relação ao tema e as condições de produção de discurso. Realizou-se uma pesquisa de caráter exploratório e descritivo. A pesquisa é de natureza aplicada com uma abordagem qualitativa, sendo bibliográfica de início e posteriormente valendo-se de uma coleta de dados. Utiliza a entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados e como método de análise dos dados a Análise do Discurso. Como resultado apresenta: o discurso dos bibliotecário entrevistados quando ao processo e o conceito de mediação implícita em forma de quadros e citações, a posição que cada bibliotecário ocupa dentro da BC/UEL, as condições de produção em que o seu discurso é produzido e o interdiscurso desses sujeitos. Conclui-se que os bibliotecários conhecem o termo mediação da informação, mas ainda se referem a ele como “ponte”. Já o conceito de mediação implícita ainda é desconhecido por alguns, mas desperta a curiosidade entre os participantes. Os bibliotecários reconhecem que são mediadores e afirmam desempenhar suas tarefas para disponibilizar a informação e promover o acesso ao usuário. Contribui para a busca da informação por parte dos pesquisadores e profissionais interessados na área de Mediação da Informação, mas também e principalmente, quanto à Mediação Implícita da informação relacionada ao fazer do bibliotecário. Palavras-chave: Mediação da Informação. Mediação Implícita da Informação. Interferência. Biblioteca Universitária. Biblioteca Central da UEL. Análise do Discurso. SANTOS NETO, João Arlindo dos. Implicit Mediation of Information in the discourse of librarians of the Central Library of the State University of Londrina (UEL). 193 pages. 2014. Dissertation (Master’s Degree in Information Science) - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Filosofia e Ciências, Campus de Marilia/SP, 2014. ABSTRACT Mediation of Information and university library are the aims of this research, which discusses the process of mediation and the librarian on duty. It presents a discussion regarding Implicit Mediation of Information within the work environment of librarians at the Central Library (CL) from the State University of Londrina (UEL). Its general purpose is to understand and analyze the discourse of librarians from the CL/UEL as for the implicit mediation of information, and as specific purposes: to locate in the Information Science (IS) scientific literature, documents that discuss the following terms: university library, mediation, mediation of information, implicit and explicit mediation of information, interference and appropriation, and discuss them; discuss the concept of mediating information in the IS literature; identify what is the relationship between implicit mediation of information and the librarian performance; investigate whether the librarians’ discourse about the implicit mediation is related to processes of the work environment in which they operate and if it refers to the end user; make a counterpoint between what the literature says about the implicit mediation and the implicit mediation discourse in the librarians’ discourse; verify if there is a consensus between the knowledge of librarians surveyed on the topic and the conditions of discourse production. This is an exploratory, descriptive applied- natured research with a qualitative approach, firstly bibliographical and then making use of a data collection. It uses a semi-structured interview as a tool for data collection and the Discourse Analysis as a data analysis method. The results show: the discourse of respondent librarians concerning the process and the concept of implicit mediation in tabular form and quotations; the position that each librarian occupies within the CL/UEL; the discourse production conditions and the inter- discourse of these subjects. It concludes that librarians know the term mediation of information, but still refer to it as a "bridge"; however, the concept of implicit mediation is still unknown to some of them, but arouses curiosity among participants. Librarians recognize they are mediators and state that they perform their duties to provide information and promote access to the user. Contribute to the search for information by researchers and professionals interested in the field of Information Mediation, but especially to what the Implicit Mediation of information concerns in terms of the librarians’ work. Keywords: Mediation of Information. Implicit Mediation of Information. Interference. University Library. Central Library of UEL. Discourse Analysis. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Análise das ocorrências dos termos e expressões localizadas a partir das definições de mediação trabalhadas na pesquisa ........................ 61 Quadro 2 - Modalidades de Mediação................................................................... 63 Quadro 3 - Condições de produção do discurso dos bibliotecários da BC/UEL... 123 Quadro 4 - Análise das respostas da questão 4 .................................................. 134 Quadro 5 - Comparação entre literatura científica versus o discurso institucional a respeito do termo mediação da informação ................ 136 Quadro 6 - Análise das respostas da questão 5 .................................................. 137 Quadro 7 - Análise das respostas da questão 6 .................................................. 139 Quadro 8 - Análise das respostas da questão 7 .................................................. 141 Quadro 9 - Análise das respostas da questão 8 .................................................. 142 Quadro 10 - Análise das respostas da questão 9 .................................................. 144 Quadro 11 - Análise das respostas da questão 10 ................................................ 147 LISTA DE SIGLAS AACR Código de Catalogação Anglo-americano AD Análise do Discurso ANCIB Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação BC Biblioteca Central BD Biblioteca Digital BS/CCS/HU Biblioteca Setorial do Centro de Ciências da Saúde BS/CH Biblioteca Setorial de Ciências Humanas BS/COU Biblioteca Setorial da Clínica Odontológica Universitária BU Biblioteca Universitária CCE Centro de Ciências Exatas CDD Classificação Decimal de Dewey CDU Classificação Decimal Universal CI Ciência da Informação CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COBIB Congresso de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação GT Grupo de Trabalho IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia MEC Ministério da Educação SB Sistema de Bibliotecas UEL Universidade Estadual de Londrina UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UNESP Universidade Estadual Paulista UNICAMP Universidade Estadual de Campinas SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13 1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 17 1.2 OBJETIVOS .................................................................................................... 20 1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 21 1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 21 1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................. 22 2 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA .................................................................. 23 2.1 ESTRUTURA DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS ................................................ 30 2.1.1 Aquisição e Desenvolvimento de Coleções ................................................. 32 2.1.2 Processamentos Técnicos ........................................................................... 37 2.1.3 Preservação de Documentos ...................................................................... 42 2.1.4 Biblioteca Digital .......................................................................................... 44 3 MEDIAÇÃO ................................................................................................. 50 3.1 MEDIAÇÕES E AS ÁREAS DO CONHECIMENTO.................................................... 62 3.2 A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO BRASIL .............. 68 3.3 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO ............................................................................ 78 3.3.1 Apropriação da Informação ......................................................................... 88 3.4 MEDIAÇÃO IMPLÍCITA DA INFORMAÇÃO ............................................................. 92 4 PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ................................... 99 4.1 TIPOLOGIA DA PESQUISA ................................................................................ 99 4.2 UNIVERSO DA PESQUISA: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL) ......... 101 4.2.1 Biblioteca Central da UEL .......................................................................... 102 4.3 POPULAÇÃO ................................................................................................ 104 4.4 AMOSTRA .................................................................................................... 104 4.5 MÉTODOS DA PESQUISA ............................................................................... 105 4.6 INSTRUMENTO DA COLETA DE DADOS: ENTREVISTA ........................................ 106 4.7 MÉTODO PARA ANÁLISE DOS DADOS: ANÁLISE DO DISCURSO........................... 108 4.7.1 Procedimentos de Análise da Análise do Discurso .................................... 113 4.7.1.1 Categorias da AD escolhidas para a análise dos dados: condições de produção do discurso e interdiscurso ........................................................ 117 5 MEDIAÇÃO IMPLÍCITA DA INFORMAÇÃO NO DISCURSO DOS BIBLIOTECÁRIOS DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA (UEL): Análise dos resultados .................. 120 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 154 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 161 APÊNDICES ............................................................................................. 171 APÊNDICE A - ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ........................ 172 APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................... 174 APÊNDICE C – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO A ...................... 176 APÊNDICE D – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO B ...................... 181 APÊNDICE E – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO C ...................... 184 APÊNDICE F – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO D ...................... 190 13 1 INTRODUÇÃO Nosso interesse foi o de pesquisar, inicialmente, os aspectos da Biblioteconomia e Ciência da Informação (CI), direcionados para a mediação implícita da informação no discurso dos bibliotecários universitários, tendo como base seu fazer cotidiano. De modo breve, para realizarmos essa pesquisa, fizemos um levantamento a respeito dos temas envolvidos: biblioteca universitária, mediação, mediação da informação, interferência, apropriação, mediação implícita da informação. Posteriormente, realizamos uma coleta de dados através do instrumento “Entrevista” com os bibliotecários de uma biblioteca de uma universidade estadual do interior do estado do Paraná. Os bibliotecários desempenham diferentes funções para que o seu “produto final” seja percebido, para que o usuário encontre a informação desejada e que ele satisfaça, toda ou parcialmente, sua necessidade informacional. Cada ação desenvolvida pelo profissional da informação compreende uma etapa que compõe todo o processo biblioteconômico que possui um objetivo central: mediar a informação. A mediação da informação está presente em todas as atividades do bibliotecário. Ela se dá no serviço de referência, no balcão de empréstimo, nas atividades culturais, na contação de histórias e, inclusive, no processamento técnico, isto é, na classificação e catalogação, no desenvolvimento de coleções, na conservação/restauração, como também nas atividades realizadas na biblioteca digital com os suportes informacionais em outros formatos (eletrônico, digital). No entanto, o serviço de mediação desenvolvido no processamento técnico não tem sido valorizado e reconhecido pelos próprios bibliotecários, mesmo sabendo que os serviços realizados nessa etapa são imprescindíveis para a execução e concretização dos serviços finais de uma biblioteca. Desse modo, a pesquisa procura saber qual o discurso dos bibliotecários da Biblioteca Central (BC) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), localizada na cidade de Londrina, Paraná, quanto à mediação implícita da informação. Sabendo que a mediação da informação é fundamental no serviço do bibliotecário, cabe à presente pesquisa conhecer, a partir do discurso dos profissionais da referida instituição, o que eles vislumbram ser, especificamente, a mediação implícita da informação em seu fazer diário. 14 Essa problemática surgiu a partir do contato e conversas informais com profissionais da área, que foram observadas durante a graduação, o mestrado, em participações em eventos, reuniões, em aulas ministradas e outras eventualidades. Os profissionais da área pouco conhecem sobre a temática e, os que falam sobre, não apresentam um contexto formalizado, não têm uma conceituação clara, bem como não vislumbram a sua aplicação. Na pesquisa realizada no ano de 2010 e 20111, foi possível perceber que a maioria dos bibliotecários percebia a ocorrência da mediação da informação de modo explícito, ou seja, com a presença do usuário. Ainda que com maior expressividade no pensamento dos bibliotecários a mediação ocorra somente de modo explícito, foi apontado por parte deles que ela também ocorre em todos os setores da biblioteca, sendo que, neste caso, com menor ocorrência nas respostas fornecidas por eles. A partir deste cenário é que surgiu a motivação para se realizar a presente pesquisa. O fato de os bibliotecários valorizarem com mais ênfase as atividades de mediação explícita, fez com que surgisse a necessidade de uma pesquisa que, ao contrário do que prevalece entre os bibliotecários, buscasse o entendimento a respeito da mediação implícita da informação em seu fazer diário. Sendo assim, o questionamento a ser feito foi de auscultar os profissionais que atuam na área, visando descobrir como eles entendem a mediação implícita da informação que, ainda, é um assunto novo para muitos profissionais. A relação entre essa pesquisa e a CI está justamente na presença da temática na evolução das subáreas da CI. Os estudos a respeito da mediação, ainda que não muito expressivos, estão aparecendo e ocupando seu espaço dentro do corpus teórico da CI. Na CI, inicialmente na Biblioteconomia, as discussões a respeito da mediação começaram a partir do momento em que se percebeu que a área demandava por um novo paradigma. Como uma das abordagens contemporâneas, a mediação propõe novos tipos de instituições e serviços, que deixem de pensar somente no 1 A pesquisa intitulada “A mediação da informação e a organização do conhecimento”, - produto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) defendido pelo autor em 2011 na UEL, no curso de Biblioteconomia -, investigou com os bibliotecários a relação do processo da mediação da informação com a organização do conhecimento. A partir das respostas obtidas pelos questionários aplicados chegou-se à conclusão de que a mediação é mais lembrada de modo explícito e pouco lembrada de maneira implícita, o que motivou a presente pesquisa. 15 tratamento técnico do acervo e nos sistemas de recuperação da informação e que, também, voltem a sua atenção aos usuários, verdadeira motivação do fazer diário do bibliotecário. A CI durante a sua consolidação e seu desenvolvimento, teve por característica o surgimento, a formação e a mudança de subáreas específicas, como também discussões e questionamentos em relação ao seu objeto de estudo. Viu-se a formulação de novos conceitos, a substituição desses conceitos por outros mais “sofisticados” ou socialmente mais aceitos, a exclusão de termos e nomenclaturas devido à mudança de sentido ou pouca usabilidade pelos pesquisadores, a diferença nas formas de pensar em relação ao objeto de estudo da área e sua definição, como também, a interdisciplinaridade tornando-se cada vez mais presente. Esse cenário pode ser benéfico para a CI e, ao mesmo tempo, não o ser. O fato de haver diferentes correntes teóricas e posições em relação ao objeto de estudo, ou mesmo em relação às diferentes definições do termo informação, faz com que a área não seja passível de identificação e visualização de forma igualitária tanto no Brasil como em outros países, pois as produções e publicações ficam muito divididas e cada vez mais específicas. No entanto, o lado positivo e potencial dessa diversidade é, justamente, a possibilidade de se pensar e refletir de diversas maneiras quanto ao objeto de estudo, sua definição e aos fenômenos relacionados à CI, como também observamos o aumento no número de eventos, congressos, encontros, simpósios para divulgação das pesquisas e/ou publicações na área. Não temos, consequentemente, a pretensão de inovar a discussão em relação à mediação na área de CI, mas de aprofundar um pouco mais algumas questões que envolvem a temática sobre a mediação e o mediador, no caso o bibliotecário. Atentamos para o fato de que o termo mediação tem sido utilizado em grande escala nas pesquisas e publicações da área, no entanto em grande parte delas, com pouco aprofundamento. Algumas utilizações do termo mediação estão bastante distantes de uma reflexão sobre o seu verdadeiro sentido, isto é, o termo é utilizado sem conhecimento (DAVALLON, 2007). A utilização do termo mediação passou a ser cotidiano na fala das pessoas, ainda que elas não compreendam a sua verdadeira significação. 16 A pesquisa situa-se na intersecção dos campos da CI e da Biblioteconomia, pois, ao abordar a mediação da informação, destaca os aspectos sociais e intersubjetivos, tanto da parte dos bibliotecários, como, posteriormente, da parte dos usuários. A intersubjetividade aparece na mediação devido à sua relação com a interferência e a impossível neutralidade do bibliotecário em cada fazer e a cada decisão, pois os bibliotecários, além de lidar com instrumentos técnicos, padronizados, também lidam com o seu conhecimento próprio, com suas experiências, com o seu modo de perceber o mundo e os objetos ao seu redor etc. Desse modo, o serviço dos bibliotecários concretizados pela mediação visam a uma apropriação da informação pelos usuários e uma transformação de suas atuais realidades. Como outras publicações nessa temática, a pesquisa visa contribuir para a reflexão e o esclarecimento de alguns questionamentos a respeito da mediação, isto é, indagações que pretendem discutir a mediação implícita no âmbito do fazer do profissional bibliotecário a partir do discurso produzido por esse profissional. Assim, hoje, o que atrai fortemente nossa atenção são esses processos – cujas ações não se restringem ao fazer implícito ou explícito, nem à possibilidade de neutralidade no fazer do bibliotecário – que ultrapassam a “barreira” entre serviços interno2 e externo3, tornando-se atividades imprescindíveis e de alto valor contributivo para os serviços de modo geral de uma biblioteca. Diante desse objeto, um tanto complexo e subjetivo, a primeira dificuldade que se põe é a de escolher os sujeitos da investigação e trabalhar conceitos que possam colaborar com o andamento da pesquisa. É nesse âmbito de processos – de natureza informacional – que muitas questões sócio-ideológicas se encontram em combate. Estudar o discurso sobre as ações dos bibliotecários quanto à mediação da informação é relevante para compreender a relação biblioteca/usuário e bibliotecário/usuário, justamente porque não prevalecem aí, simplesmente, as ações de mediação explícita ou implícita, nem mesmo o modo como essas ações são feitas, se física ou digitalmente. 2 Definimos serviço interno como as atividades de seleção e aquisição, catalogação e classificação, indexação, restauração. 3 Já o serviço externo definimos como os fazeres realizados no serviço de referência, no balcão de empréstimo. 17 A pesquisa é apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Unesp, campus de Marília, que possui como área de concentração: “Informação, Tecnologia e Conhecimento” e situa-se na linha de pesquisa de “Gestão, Mediação e Uso da Informação” que, segundo Fadel (et al., 2010, p. 13) “[...] se constituiu a partir de temáticas imbricadas e é sustentada por abordagens teóricas e metodológicas que consolidam o saber/conhecer e o saber/fazer nesse âmbito”. Tendo em vista esse cenário, durante o processo de construção dessa dissertação tivemos como guia as seguintes questões: qual o discurso que os bibliotecários expressam em relação à mediação implícita da informação? O que sabem sobre a mediação implícita? Como esses conceitos têm sido empregados por eles em seu fazer e discurso? Até que ponto é possível perceber os limites entre interferência e manipulação? 1.1 JUSTIFICATIVA As lacunas observadas nas pesquisas da CI, no Brasil, em geral, referem-se ao pouco aprofundamento e a não contextualização do conceito de mediação da informação no campo epistemológico das Ciências Sociais, atrelados ao pequeno investimento em relação às possibilidades de uma própria teoria de mediação da informação para a CI. Justificamos esta pesquisa também, pois, A mediação da informação se constituiu em uma das problemáticas investigadas na linha de pesquisa, enfocando as formas de mediação, a recepção e a apropriação da informação em diferentes contextos, de forma a refletir o papel do profissional da informação e compreender o usuário em sua complexidade. (FADEL et al., 2010, p. 14). O argumento para a fundamentação desta dissertação de mestrado surge no momento da constatação das dificuldades de localização de literatura na CI em relação à mediação da informação, mais precisamente, a mediação implícita e o bibliotecário em serviço. A pesquisa insere-se nos temas e tópicos que constituem as preocupações – e, atualmente, necessidades – presentes na área da Biblioteconomia e da CI. Então, justificamos esse trabalho, pela possível contribuição no processo da mediação implícita da informação relacionado ao fazer 18 cotidiano, como também se espera contribuir para a literatura da área da CI, pois o tema abordado ainda é escasso. Em um momento de crise das profissões, de reorganização e reestruturação das áreas do conhecimento humano, o avanço das tecnologias de informação e comunicação, e a uma sociedade cada vez mais imediatista, faz-se imprescindível a busca de informações quanto à mediação da informação no âmbito de trabalho do bibliotecário. Além disso, algumas questões justificam este estudo e fazem valer seu questionamento, pelo fato de que ainda a mediação é pouco lembrada no fazer do profissional da informação, supõe-se que por falta de conhecimento da mediação em si e com isso, a ausência de posicionamento sobre a interferência desse profissional no processo decisório. Almeida (2007, Não paginado) afirma que “[...] a forma de construir e apresentar a informação, prevendo os meios para acessá-la, não é universal, estando relacionada aos esquemas culturais de quem disponibiliza muito mais do que aos esquemas de quem a acessa.” E que “essa constatação demarca a ingenuidade do postulado de uma ‘neutralidade técnica’ da organização da informação, que está por merecer uma discussão mais aprofundada.” (ALMEIDA, 2007, Não paginado, grifo nosso). Os estudos atuais têm voltado suas atenções para a mediação em grande escala. No entanto, as abordagens têm sido realizadas envolvendo a questão das redes, da internet, das tecnologias, dos serviços de informação e referência; ou seja, das modalidades de mediação que são produto final da biblioteca. Não que ações de mediação como essas não mereçam destaque e/ou preocupações teóricas e científicas, mas está se esquecendo das mediações “atividades-meio” das bibliotecas, que são as responsáveis por todas as demais oferecidas. Outra questão que motivou a realização deste estudo foi ter participado de dois Grupos de Pesquisa: “Interfaces: Informação e Conhecimento” e “Fundamentos Teóricos da Informação”, o primeiro frequentado pelo autor durante a graduação e o segundo durante a pós-graduação. O Grupo de Pesquisa “Interfaces: Informação e Conhecimento”4, pelo projeto “Mediação da Informação e a Leitura Informacional”, 4 Formado em 1998 no Departamento de Ciência da Informação da UEL, o Grupo investiga aspectos profissionais e científicos da mediação da informação relacionada a temas tais como: leitura, memória, oralidade, linguagem. Disponível em: . Acesso em: 14 jun. 2013. 19 estudou de 2008 a 2011, a mediação da informação em sentidos amplos e nos mais diversificados. Tal projeto analisou a mediação relacionada a diferentes atividades e áreas do conhecimento e observou-se que o termo é pouco conhecido, e pouco investigado em relação à prática bibliotecária. Já o Grupo de Pesquisa “Fundamentos Teóricos da Informação”5, um pouco mais recente, pelo Projeto: “Fundamentos Semióticos da Análise e Mediação da Informação: uma leitura dos processos que viabilizam a construção do conhecimento”, estuda desde 2010 a epistemologia e os fundamentos teóricos a respeito da informação, como também aspectos que envolvem as discussões teóricas quanto ao termo mediação e sua evolução, aspectos semióticos nos processos informacionais, de mediação e da cultura. Durante as reuniões e discussões no grupo, podemos perceber que ainda é escassa a literatura a respeito da mediação no cenário teórico e conceitual. Sendo assim, motivamo-nos a estudar e pesquisar a subárea mediação, mais precisamente a mediação implícita da informação, visto que as discussões a respeito da temática não se inovam muito em relação ao conceito e sua aplicabilidade. O discurso dos bibliotecários, em relação à mediação da informação e, principalmente, à mediação implícita realizada por eles, precisa ser conhecido e analisado para que sejam estabelecidas estratégias futuras que visam a modificar as ideias que interferem na execução adequada das tarefas do profissional da informação. Assim, não é interessante contrapor os fazeres explícitos aos fazeres implícitos como se fossem processos independentes sem conexão. Cada fazer compõe diferentes significados e contribuições entre o usuário e a informação. Então, evidenciamos necessidades de interferência e de mediação, perspectivando contribuir para a compreensão do conceito de mediação implícita da informação no fazer diário do bibliotecário, para que suas ações sejam conhecidas, discutidas, bem como sua postura, com vistas a entender a mediação intencional, 5 Formado em 2008 no Departamento de Ciência da Informação, da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, Campus de Marília, o Grupo investiga aspectos teóricos e epistemológicos à respeito da informação, bem como aspectos da mediação da informação e mediação cultural em processos informacionais. Disponível em: . Acesso em: 14 jun. 2013. 20 em seus diversos aspectos, desprovida de uma possível neutralidade, visando a um autêntico fazer profissional e social, pautado em uma prática transformadora colaborativa. Por isso, a proposta desta pesquisa se pauta via princípios orientadores e esclarecedores quanto à compreensão do conceito e do processo mediação implícita da informação, porque não é possível a concepção de um modelo a ser seguido fielmente, até mesmo porque esta pesquisa não tem pretensão de apresentar esse modelo. Abordar o bibliotecário e seu fazer cotidiano, de modo particular, da BC/UEL, permite entender qual a posição que ele ocupa na unidade e as questões de análise tentarão responder como as práticas de mediação da informação, mais especificamente as de mediação implícita da informação, são desempenhadas pelos bibliotecários, quais as maneiras utilizadas na sua prática diária. Uma hipótese é a de que esse fazer é visto por boa parte dos bibliotecários como um fazer mecânico e desprovido de interferências e intencionalidades. “Percebe-se que devem ser mais explorados ou intensificados ou aprofundados os estudos de mediação por serem de muita necessidade nos ambientes informacionais.” (COSTA; ALMEIDA JÚNIOR, 2012, p. 65). Assim, investigar o discurso dos bibliotecários em seu fazer, contribui para o entendimento de um público e sua atuação profissional, que se modifica a todo o momento devido às tecnologias, aos suportes informacionais, ao perfil dos usuários etc. 1.2 OBJETIVOS Esta dissertação estabelece objetivo geral e objetivos específicos a respeito da mediação implícita da informação no fazer do profissional da informação e serão a seguir detalhados. Partiu-se de um objetivo geral descrito a seguir, e dos objetivos específicos que possibilitam que se chegue ao primeiro apresentado. 21 1.2.1 Objetivo Geral Conhecer e analisar o discurso dos bibliotecários que atuam nos “serviços internos” da BC/UEL quanto ao processo de mediação implícita da informação em relação ao seu fazer cotidiano. 1.2.2 Objetivos Específicos Para alcançar o objetivo geral, partiu-se dos seguintes objetivos específicos:  Localizar na literatura científica dentro da CI documentos que abordam os seguintes termos: biblioteca universitária, mediação, mediação da informação, mediação implícita e explícita da informação, interferência e apropriação, e discuti-los;  discutir o conceito de mediação da informação na literatura da área de CI;  identificar qual é a relação entre mediação implícita da informação e o fazer do bibliotecário;  investigar se o discurso dos bibliotecários a respeito da mediação implícita é referido a processos do ambiente de trabalho em que atuam e se faz referência ao usuário final;  realizar um contraponto entre o que a literatura diz a respeito da mediação implícita e o discurso de mediação implícita no discurso dos bibliotecários;  verificar se existe um consenso entre o saber dos bibliotecários pesquisados em relação ao tema e as condições de produção de discurso. A partir dessas questões organizamos o trabalho em uma estrutura que será apresentada a seguir. 22 1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO O presente capítulo destinou-se à introdução do trabalho. Nele foi apontada a problematização do tema escolhido, a definição do problema de pesquisa, as motivações que levaram o pesquisador a desenvolver o estudo, bem como as proposições suscitadas. Também apresenta os elementos que justificam e comprovam a necessidade da realização do estudo, como também aponta a relevância do trabalho de investigação para a área de CI. Aponta o objetivo geral do estudo e, de modo detalhado, os objetivos específicos que foram determinados para se alcançar o resultado final. O Capítulo 2 - Biblioteca Universitária – expõe definições a respeito dessa instituição, suas características, o modo de funcionamento, a maneira como os setores são divididos e suas relações com a sociedade. O Capítulo 3 - Mediação – aborda o conceito de mediação de modo amplo e a necessidade de discuti-lo na CI, expõe o conceito de mediação da informação na CI e o de mediação implícita que traz a principal discussão do presente trabalho, contribui para o entendimento do conceito que ainda é pouco conhecido e lembrado pelo bibliotecário. O Capítulo 4 - Procedimentos Teórico-Metodológicos - detalha, minuciosamente, as características da pesquisa (tipologia, o universo, a população) e o modo como ela foi desenvolvida. Apresenta os métodos de investigação, sua aplicação e maneira como a pesquisa foi analisada. O Capítulo 5 - A Mediação Implícita da Informação no discurso dos bibliotecários da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina (BC/UEL): Análise dos dados. Aponta o que foi extraído a partir da interpretação sobre a os dados coletados e discute o que foi descoberto na pesquisa. O Capítulo 6 - Considerações Finais – apresenta as considerações finais e reflexões sobre os resultados obtidos na e pela pesquisa. Referências - referencia as fontes bibliográficas que foram consultadas e utilizadas para a construção do corpus teórico do trabalho. Apêndices - Apêndice A, Roteiro para Entrevista semiestruturada. Apêndice B, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 23 2 BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA Sem grandes preocupações históricas, as bibliotecas existem desde a invenção da escrita, lidam e gerenciam seus suportes informacionais. Esses suportes variaram ao passar dos anos. No século XV, o acervo das bibliotecas era composto por materiais como os pergaminhos, os papiros e tabletes de argila. Após o advento da imprensa com Johann Gutenberg (1398-1468) e a possibilidade de se publicar materiais impressos em grande escala, surgem os documentos em papel impresso, pois já havia manuscritos em papel naquela época. No entanto, no final do século XX as bibliotecas passaram por uma revolução. Devido às tecnologias e aos computadores, elas passam a utilizar os computadores para implementação de catálogos e banco de dados, iniciou-se o uso dos periódicos eletrônicos e o acesso a textos completos de artigos de periódicos, bem como a outras fontes de referência (CUNHA, 2008, p. 5). As unidades informacionais ou de informação, neste caso, especificamente, as bibliotecas universitárias (BU’s), sempre buscaram atuar como órgãos dinâmicos, seja por natureza ou por necessidade. O desafio dessas bibliotecas atualmente é se reinventar a todo o momento, primeiro porque as informações são produzidas e compartilhadas de maneira muito rápida, e segundo porque a tecnologia tem impulsionado cada vez mais a uma menor procura pelas bibliotecas “físicas”. O avanço tecnológico e da internet fez com que os leitores e usuários passassem a ter o acesso a algumas coleções, bases de dados, periódicos científicos e suportes informacionais de modo geral, de suas próprias residências e, atualmente, utilizando para esse acesso os seus dispositivos móveis, através de uma conexão de rede. Cabe, então, a essa unidade manter-se atualizada e preparada. No entanto não basta que ela esteja repleta de aparelhos tecnológicos e serviços inovadores, mas requer também um preparo e aperfeiçoamento de seus agentes, gerenciadores e mediadores, neste caso, os bibliotecários. É preciso que eles criem um ambiente que proporcione leitura, discussões, produção e compartilhamento de conhecimento construído. As BU’s são unidades de informação com muitas atividades e funções a serem desempenhadas e a sua prestação de produtos e serviços foi sendo aperfeiçoada e customizada ao longo dos anos, levando-se em conta diferentes necessidades informacionais. Porém, a sua missão permaneceu a mesma, isto é, 24 adquirir, tratar, armazenar e mediar os suportes informacionais e a informação. Essa função mediadora irá possibilitar que o discente, docente e pesquisador possam construir conhecimento, apropriar-se da informação e desenvolver suas pesquisas. De acordo com Rosetto (2008, p. 127), As bibliotecas têm sido, nos últimos séculos para as pessoas, ‘portais’ de acesso à informação, conhecimento e lazer. Ao caminhar através de suas estantes, as bibliotecas proporcionam a entrada para um mundo diversificado de fontes de informação, nacionais e internacionais, organizadas por profissionais especializados – bibliotecários – que tratam e promovem serviços referenciais com qualidade e especificidade. Acreditamos que por mais que a revolução tecnológica e era digital ameacem a existência física da biblioteca, não será, repentinamente, que as bibliotecas físicas deixarão de existir, se é que algum dia isso ocorrerá. O número de leitores que ainda prefere a leitura em papel a uma película digital é representativo. Valorizamos, neste momento, as possibilidades sensoriais e criativas que o ambiente físico das bibliotecas possibilita a seu público que, muitas vezes, percebe a biblioteca como um espaço onde o “saber” está armazenado. Segundo Barbosa e Franklin (2011, p. 89), A biblioteca, os arquivos, os centros de documentação, enfim, as unidades de informação bibliográfica e documentária, como se convencionou chamar nos currículos acadêmicos do Brasil, há algum tempo, são organizações prestadoras de serviço e como tal estão submetidas às regras da aceitação social, ou seja, sua permanência no ambiente produtivo é regulado pela demanda social, tendo em vista que produzem serviços e produtos voltados para o bem-estar da sociedade. Uma biblioteca universitária (BU) deve ser o espelho de qualquer universidade. Espera-se que ela atenda às mais diversas necessidades informacionais. O ambiente universitário além de ser com característica própria um ambiente de constante aprendizado; é também, visto por alguns indivíduos como um ambiente “culto”, onde as pessoas “detêm” o conhecimento. Para Cunha (2010, Não paginado) “[...] dentro do contexto do ensino superior, especialmente, quando os usuários querem informações confiáveis, eles se voltavam para a BU quase como a única fonte provedora das informações demandadas.” 25 Numa linha de pensamento que se aproxima da anteriormente referida, Miranda (2007, p. 3), discorre que “[...] a biblioteca sempre trabalhou em parceria com a universidade, desempenhando a função de preservar e disseminar o conhecimento.” A BU segundo Fujita (2005, Não paginado) “[...] é um sistema de informação que é parte de um sistema de informação acadêmico, no qual, a geração do conhecimento é objeto da vida universitária [...]”, e ainda, que ela “insere-se em um contexto universitário cujos objetivos maiores são o desenvolvimento educacional, social, político e econômico da sociedade humana.” Vale ressaltar que a BU deve ser reconhecida como um todo da instituição, e não como um órgão a parte, um órgão de apoio, mas percebida como um ambiente fundamental para o crescimento e desenvolvimento do ensino e da produção e divulgação das pesquisas. Uma BU, do ponto de vista acadêmico, é vista como um elemento básico de contribuição para atividades de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, ela também fornece base para aquele estudante que está se iniciando no universo da pesquisa acadêmica desenvolvendo ações de mediação junto ao usuário nos processos de busca da informação para que ele tenha condições de transformá-la em conhecimento (SOUZA; FUJINO, 2009). No cenário atual é imprescindível que as BU’s procurem por novas competências demandadas pela sociedade da informação, da comunicação e do conhecimento. É preciso que essas unidades lembrem-se, a todo o momento, de que a satisfação do usuário é o objetivo do seu fazer e, para isso alertamos que se atentem às políticas que foram estipuladas para se almejar essa satisfação, à melhoria e inovação de seus serviços, bem como contribuir no resultado da formação acadêmica e profissional de seus alunos. As BU’s, de acordo com Carvalho (2008, p. 19): [...] são áreas de atuação do bibliotecário propícias ao desenvolvimento de produtos e serviços para a educação dos usuários, bem como a realização de estudos de usuários, uma vez que a comunidade universitária inclui diversos segmentos de usuários a serem atendidos. O corpus acadêmico de uma universidade é formado, na maioria das vezes, por muitos cursos de graduação e pós-graduação, incluindo, aqui, docentes, 26 discentes e servidores. Cunha (2010, Não paginado) nos afirma que ainda que a BU se torne uma “fonte secundária de informação”, é a qualidade de informação disponibilizada na web que fará o papel de preservar o espaço e a função da BU, porque no ensino superior “a integridade e a confiabilidade do conhecimento” e da informação são fatores essenciais. Ao mesmo tempo em que a sua coleção deverá conter materiais genéricos, é necessário também que ela possua um acervo específico para cada área do conhecimento presente nos cursos de graduação e pós-graduação. [...] os profissionais da biblioteca, especialmente aqueles que militam na biblioteca universitária, há muito já reconheceram essa necessidade e estão realizando as adaptações destinadas a assegurar que as bibliotecas continuem a fazer parte integrante do compromisso da nossa sociedade com a educação e ao acesso igualitário à informação. (CUNHA, 2010, Não paginado). Na esteira também de Cunha (2000, p. 73), o foco das universidades têm sido a biblioteca que, com o seu acervo de obras impressas, preserva o conhecimento da humanidade. No entanto, esse pensamento já não se faz presente. Há muito tempo, e as BU’s deixaram de se preocupar com a quantidade de itens existentes no seu acervo, bem como pensar somente nas suas atividades tradicionais – de adquirir, tratar, organizar e salvaguardar – e passaram a adotar uma postura que se atenta às novas possibilidades de acesso à informação demandada, integrando-se a uma rede gigantesca onde circulam informações e socialização de conhecimento de modo rápido e dinâmico. Cunha (2010, Não paginado) expõe de forma bastante promissora a questão das reduções nas despesas orçamentárias devido às mudanças e a inclusão de novos suportes informacionais afirmando que, [...] a tendência crescente do usuário para o acesso eletrônico a esses documentos [a indagação: ‘Cadê o pdf’, está sendo um comportamento do estudante universitário], o espaço físico limitado, e a incapacidade de sustentar financeiramente coleções completas, estão forçando muitas bibliotecas universitárias a adotarem a filosofia do ‘just-in-case’ para um ‘just-in-time’. (CUNHA, 2010, Não paginado, grifo do autor). O autor supracitado realizou um alerta para o fato de que ao invés de manter um grande e diversificado acervo, as BU’s passam a não adquirir mais nenhum 27 material a menos que este seja demandado pelo usuário. Porém “[...] essa mudança de postura pode acarretar implicações no orçamento bibliográfico e na política de seleção da biblioteca universitária.” (CUNHA, 2010, Não paginado). O objetivo da instituição biblioteca é atender o universo populacional do ambiente que está integrada, segundo Miranda (2007, p. 4), O principal papel da biblioteca universitária é atender as necessidades informacionais da comunidade acadêmica (corpo docente, discente, pesquisadores e técnico administrativo), direcionando sua coleção aos conteúdos programáticos ou em projetos acadêmicos dos cursos ministrados pela universidade a qual encontra-se inserida. Tendo em vista esse pensamento, infere-se que, mais uma vez, a biblioteca tem como objetivo final o seu usuário, seja este docente ou discente, pesquisador ou técnico administrativo, para que ele, usuário, consiga suprir suas necessidades informacionais. No pensamento de Barbosa e Franklin (2011, p. 90): A biblioteca e o arquivo, no entanto, continuam exercendo papel significativo no universo da informação científica e tecnológica e no fortalecimento das bases culturais da sociedade, primeiro porque há ainda uma vasta gama de material impresso; segundo, porque os recursos informacionais, como os bancos de dados bibliográficos científicos, em sua maioria, não estão livremente disponíveis; terceiro, porque grande parte da população não só sabe lidar com os recursos e as fontes tecnológicas, como também ainda carece de uma formação cultural mais sólida, que lhe permita manejar as fontes de informação e explorá-las ao ponto de, a partir de sua leitura, compreender, refletir e transformar aquela informação científica ali registrada, em novo conhecimento. A BU convive, diariamente, com uma coleção impressa de documentos que não deixará de existir e, ao mesmo tempo, com uma coleção de documentos que já surge em meio digital. Ela deve se atentar às mudanças nas tecnologias e se adaptar às evoluções das mídias etc. A partir do momento em que as BU’s se adéquam às mudanças, é provável que elas aumentem o seu “alcance”, que antes era limitado ao usuário local e atualmente atinge usuários virtuais e potenciais. As mudanças que o impacto tecnológico tem causado se dão nas formas de aquisição, tratamento, armazenamento e disseminação da informação, ou seja, 28 acontece em todas as atividades de mediação, como também nos processos de busca e acesso aos suportes informacionais. Em texto publicado no XI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, Santos e Gomes (2010), afirmam que as bibliotecas (mais especificamente as universitárias) possuem um importante papel no âmbito em que desenvolvem as atividades de mediação que permitem aos sujeitos terem acesso à informação. Ao pensar nas atividades mediadoras da informação que as bibliotecas promovem e no modo como aproximam as informações das necessidades reais dos usuários, os profissionais da informação estarão facilitando e sugerindo a utilização da informação, não somente como um objeto externo à realidade de cada um, mas como “[...] fontes que permitem espaços de significação.” (SANTOS; GOMES, 2010, Não paginado). Sendo assim, os mediadores assumem uma postura que não se basta ao fornecimento dos materiais aos usuários, mas a uma postura colaborativa para que os leitores tenham contato com leituras que realmente lhe trarão significado, possibilitando-lhes a construção de conhecimento, e até mesmo uma apropriação da informação. Vale lembrar que, os produtos e serviços oferecidos por uma BU pública dependem de como os recursos são liberados pelo governo e pela própria instituição/universidade. Merecem destaque neste momento três importantes apontamentos em relação às bibliotecas e aos bibliotecários que são discutidos por Targino (2008): o primeiro destaque e, devidamente, correto é que a biblioteca é, fundamentalmente, uma instituição social, isto é, ela está incluída na sociedade para dar suporte e atendimento a quaisquer que sejam as dúvidas informacionais de seus sujeitos. O segundo apontamento é quanto à mobilidade dos paradigmas, “[...] em qualquer circunstância e em qualquer área de atuação, incluindo a CI, princípios como ‘verdadeiros’ em certas épocas são modificados ou substituídos diante de novas descobertas.” (TARGINO, 2008, p. 40). Deste modo, infere-se que em cada momento a atenção das bibliotecas está voltada para uma necessidade, necessidade esta que sofre alterações conforme a evolução da sociedade, ao avanço das tecnologias, às descobertas da ciência, a formação social dos sujeitos etc. O terceiro aspecto destacado pela referida autora “[...] é que, antes de qualquer elemento, é a ação profissional e governamental que determina a atuação das 29 instituições.” (TARGINO, 2008, p. 41). Sendo assim, é possível perceber que mesmo a biblioteca possuindo instrumentos tecnológicos de última geração, espaços projetados corretamente, acervo rico e diversificado (impresso, eletrônico, digital, virtual), são as ações do profissional ali inserido, atreladas a ação governamental, que fará com que a unidade cumpra seu papel social. Antes de prosseguirmos para a próxima seção, justificamos a citação de Cunha (2010, Não paginado) discorrendo que, Por séculos a biblioteca universitária tem sido mantida por universidades ou faculdades com a sua localização num lugar nobre e/ou central no campus. Ela geralmente é abrigada em belos e espaçosos prédios, com áreas para salas de leitura, para reuniões em grupo, provendo um ambiente saudável, com o necessário silêncio e conforto para facilitar as tarefas ligadas ao aprendizado e a interação com o conhecimento registrado. Concordamos com o autor ao dizer que as bibliotecas são mantidas nos locais mais nobres do campus universitário, no entanto, nem todas são e foram projetadas para serem edifícios que “abrigassem” bibliotecas. Como é o caso do prédio da Biblioteca da UEL, que centralizou as antigas bibliotecas setoriais, em 1981. Ainda que esteja localizado no centro do campus, o prédio pertence ao Centro de Ciências Exatas (CCE) e foi cedido à Biblioteca provisoriamente, porém, passados tantos anos a biblioteca continua a ocupar o mesmo prédio. Considerando o aumento progressivo do acervo e dos alunos, o espaço é insuficiente para abrigar toda a coleção impressa que cresce diariamente, bem como acomodar os usuários que necessitam de ambientes para leitura, consulta, estudos em grupo e outras atividades. Importante mencionar que a construção do novo prédio para a Biblioteca, encontra-se em andamento. Acreditamos que as categorias e os conceitos que o termo biblioteca recebe merecem destaque, mas assim como afirma Targino (2008, p. 41) “[...] se não há predisposição dos profissionais em consolidá-las como tal, e, sobretudo, se não existir vontade política para acioná-las como verdadeiros centros de aprendizagem [...]” ela por si só não representa nada e não proverá ações de mediação. Apresentamos, nesta seção, definições quanto às BU’s, seus objetivos, funções, características, bem como a relação que essa unidade possui com o ambiente universitário. Destacamos, também, a necessidade de se perceber as BU’s 30 como ambientes não só para consulta, acesso e empréstimo de suportes informacionais, mas como espaços de significação, de construção de conhecimento, de compartilhamento de informação, de debates e conversas entre os usuários. 2.1 ESTRUTURA DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS Nesta subseção apresentamos o modo de como a maioria das BU’s estruturam “fisicamente” seu espaço, ou seja, como é feita a divisão de seus setores para que as atividades cotidianas possam ser realizadas. Ainda que a divisão abaixo apresentada não seja única e adotada por todas as BU’s, acredita-se que ela seja realizada por boa parcela das BU’s existentes. A estrutura das bibliotecas, grosso modo, é dividida em 5 (cinco) grandes espaços como mostra a figura abaixo: Figura 1 - Estrutura das bibliotecas universitárias. - Ambiente interno: espaço em que são realizadas atividades de seleção de materiais e processamento técnico, como também os trabalhos de restauração; 31 - Ambiente externo: espaço que é destinado ao balcão de referência, balcão de empréstimo e demais serviços de auxílio ao usuário; - Ambiente administrativo: espaço em que ocorre o gerenciamento, supervisão e avaliação da unidade de um modo geral; - Ambiente do acervo: espaço que é destinado à guarda dos suportes informacionais (livros, periódicos, jornais etc.) e dos computadores que fornecem o acesso ao catálogo; - Ambiente de leitura: espaço amplo com mesas, cadeiras e salas de estudos que os usuários utilizam para realizar suas leituras e consultas, bem como atividades em grupo. Essa divisão de ambientes quanto à estrutura das bibliotecas universitárias foi estipulada de acordo com o que se observa nas universidades, minimamente. No entanto, reconhecemos que há bibliotecas que além desses espaços já possuem, entre outros, divisão de editoração e publicação, cafés. De modo geral, as BU’s possuem uma mesma divisão estrutural para a separação de tarefas e funções desempenhadas por elas. De acordo com Barbosa e Franklin (2011, p. 97) essa divisão “[...] é concernente com os grandes assuntos, pilares do conhecimento na área da Biblioteconomia: política e desenvolvimento de coleções, organização da informação e do conhecimento e disseminação da informação.” Os mesmos autores vislumbram que em geral as bibliotecas são estruturadas da seguinte maneira: - Divisão/Sessão/ou Setor de Formação e Desenvolvimento de Coleções/ou de Seleção e Aquisição. Divisão/Sessão/ou Setor de Processamento/ou Tratamento Técnico da Coleção/ ou de organização da informação, expressão que tem se tornado usual na contemporaneidade. Divisão/Sessão/ou Setor de Atendimento ao Usuário (Referência, Empréstimo, Divulgação em Geral do acervo e dos serviços-fins da biblioteca). Gerência de todo os processos anteriormente citados, inclusive os administrativos, como pessoal, financeiro e de atividades auxiliares. (BARBOSA; FRANKLIN, 2011, p. 97). No entanto, discutimos na subseção a seguir os espaços em que acontecem as atividades relacionadas ao “ambiente interno”, apontado anteriormente. Sendo assim, tratamos, de modo não muito exaustivo, as atividades realizadas nestes 32 ambientes: aquisição e desenvolvimento de coleções; processamentos técnicos; conservação e restauração e Biblioteca digital. 2.1.1 Aquisição e Desenvolvimento de Coleções O desenvolvimento de coleções consiste em 6 (seis) etapas: estudo da comunidade ou estudo de usuários; política de seleção; seleção; aquisição; avaliação; desbaste e descarte. Os estudos de usuários e os estudos de comunidade consistem em descobrir quem são os usuários e quais são as suas necessidades. Esses estudos ou investigações são realizados para buscar o perfil da comunidade à ser atendida, bem como para desvendar as necessidades e interesses dos usuários em matéria de informação, como também, para saber se essas necessidades de informação estão sendo atendidas e supridas de maneira adequada, seja por uma BU, uma biblioteca escolar, uma biblioteca pública, um arquivo, um centro de informação e documentação etc. A partir deste tipo de investigação é que podemos pensar em uma Política de Desenvolvimento de Coleções, bem como os processos de seleção e aquisição. Neste caso, em meio ao universo informacional e documental que existe, cabe ao bibliotecário decidir e interferir diretamente nos materiais que irão compor o acervo, tendo como base os estudos de usuário e de comunidade. No entanto, cada BU segue uma política de desenvolvimento de coleções que irá direcionar os passos a serem tomados, bem como estabelece normas e diretrizes para a formação do acervo. Uma política de aquisição de acordo com Guinchat e Menou (1994, p. 83) “é um instrumento indispensável. As aquisições não são feitas ao acaso, mas de acordo com escolhas sucessivas.” Alguns elementos são apontados pelos autores referidos para que uma política de aquisição possa ser construída: - do orçamento e dos recursos disponíveis, isto é, do montante de créditos, do número e qualificação do pessoal, pois na realidade, não basta adquirir documentos, é necessário ter condições para tratá-los; da especialização da unidade, isto é, do campo e disciplina cobertos. Sua delimitação determina o interesse relativo dos documentos, sua pertinência em relação ao fundo documental e às necessidades dos usuários; dos objetivos correntes e das prioridades da unidade, pois 33 não se pode nem se deve adquirir tudo; da natureza da unidade, isto é, de seu ‘status’ jurídico, de seu tamanho e do papel que exerce; da natureza dos serviços oferecidos e do público visado; das relações com outras unidades de informação, que permitam eventualmente trocas de documentos ou a utilização de um fundo comum, bem como do nível de cobertura dado à informação na especificidade da unidade (existência ou ausência de redes de informação, grau de isolamento da unidade). Desta forma, a participação da unidade de informação em rede de aquisição pode modificar em parte a sua política de aquisição. (GUINCHAT; MENOU, 1994, p. 83). No entanto, Weitzel (2006, p. 9) afirma que “[...] não há uma receita para elaborar uma política de desenvolvimento de coleções, especialmente porque nenhuma biblioteca é exatamente igual à outra [...]”, mas que existem alguns elementos comuns a todas as bibliotecas e devem ser vistos com atenção pelos bibliotecários. Sendo assim, a autora referida propõe 12 (doze) passos para nortear a construção de uma política de desenvolvimento de coleções: - Primeiro passo: identificação da missão e objetivos institucionais; Segundo passo: perfil da comunidade; Terceiro passo: perfil das coleções; Quarto passo: descrição das áreas e formatos cobertos pela biblioteca; Quinto passo: descrever a política de seleção; Sexto passo: descrever o processo de seleção; Sétimo passo: descrever o processo e a política de aquisição; Oitavo passo: descrever o processo de desbastamento e descarte; Nono passo: descrever o processo de avaliação; Décimo passo: detalhamento de outros aspectos importantes; Décimo primeiro passo: documentos correlatos; Décimo segundo passo: avaliação da política. (WEITZEL, 2006, p. 40-52). Miranda (2007, p. 6) afirma que, após a elaboração das políticas, obter-se-á um documento administrativo formalizado e oficializado pela direção da instituição designado como “Política de Desenvolvimento de Coleções”, a mesma autora ainda acrescenta que essa política “[...] deverá ser revisada a cada 02 (dois) anos, pela Comissão de Biblioteca com a finalidade de garantir a sua adequação à comunidade acadêmica e aos objetivos da instituição.” Quando falamos da atividade de selecionar, ela consiste na escolha dos documentos que a unidade de informação deseja adquirir, e a aquisição é o procedimento pelo qual se obtém os materiais e/ou suportes informacionais selecionados. De acordo com Figueiredo (1998, p. 84 apud WEITZEL, 2006, p. 26) a seleção “[...] é um processo de tomada de decisão título a título. Portanto, não é 34 possível selecionar por lotes uma vez que este processo está balizado pela política de seleção.” A atividade de aquisição para Weitzel (2006, p. 29) “[...] é o processo que implementa as decisões tomadas no processo de seleção. Dessa forma, cabe ao bibliotecário de aquisição localizar os itens identificados no processo de seleção agregando-os às coleções por meio de compra, permuta ou doação.” Guinchat e Menou (1994, p. 83) também discorrem sobre o processo de seleção e aquisição ao afirmarem que, A seleção dos documentos é uma operação intelectual delicada, que deve ser realizada por um responsável competente no assunto tratado, em colaboração com os usuários. A aquisição é uma tarefa da administração da unidade, que necessita um método e uma boa organização. A aquisição e o desenvolvimento da coleção são feitos de acordo com as necessidades informacionais dos alunos dos cursos de graduação e pós-graduação (stricto e lato sensu) oferecidos pela universidade, como também, pelas indicações dos docentes. Lembrando que os pedidos são atendidos à medida que os recursos para compra são disponibilizados. A partir de uma política de aquisição ou de desenvolvimento de coleções é que de fato a aquisição dos materiais é feita, essa atividade pode ocorrer de 3 (três) maneiras distintas: por compra, doação ou permuta, podendo ser paga ou gratuita. A aquisição paga, ou compra, na definição de Guinchat e Menou (1994, p. 86), [...] pode ser feita diretamente com o produtor do documento (autor, editor, ou fabricante) – este procedimento é mais rápido, mas necessita de um longo trabalho de gestão do orçamento dos pedidos; ou indiretamente, por intermédio de um livreiro ou de um organismo especializado, que funciona como agente de compra e realiza todas as operações técnicas e financeiras. No caso da seção de aquisição da UEL, os docentes poderão enviar seus pedidos a qualquer momento pelo e-mail comprabc@uel.br, e/ou deverão preencher o Formulário de pedido de compra6, disponível no site da instituição. 6 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. Sistema de Bibliotecas da UEL. Sugestões de aquisição. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2013. 35 A doação, segundo Guinchat e Menou (1994, p. 87), “[...] pode ser efetuada de diversas formas, como a doação de uma coleção particular, doações espontâneas e periódicas como as de embaixadas, dos serviços oficiais e de organismos comerciais, ou o envio de obras por seus autores.” Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode fazer a doação. Cada instituição determina como será feito este processo. O SB/UEL estabelece uma série de requisitos e procedimentos a ser realizada pelo doador: primeiramente deve-se entrar em contato (pessoalmente, por telefone ou e-mail) com a biblioteca para manifestar o interesse de doação. Em seguida envia-se uma lista do material a ser doado contendo dados referentes às obras (autor, título, editora e ano de publicação), essa listagem facilitará o processo de seleção do material. Após realizar esses procedimentos o doador poderá se dirigir, ou a BC/UEL ou a uma das Bibliotecas Setoriais, com os volumes a serem doados e assim efetivar a doação7. O SB/UEL aceita materiais de informação em geral, no entanto, opta por livros e periódicos levando em consideração as necessidades informacionais dos usuários e a política de desenvolvimento de coleções. Não será aceito material que: não se adéquem ao ensino superior, obras que estiverem danificadas, xerox ou fotocópias, apostilas, materiais desatualizados, em idioma pouco acessível e materiais que exigem destaque especial ou alguma restrição quanto ao seu uso. Cabe ao bibliotecário da divisão de aquisição, que é o responsável por selecionar as doações, a decisão de inserir no acervo ou não os itens doados, pois nem todos os materiais doados logo serão incorporados ao acervo do SB/UEL. O Sistema possui o direito de não incorporar obras recebidas por doação. Caso a biblioteca não tenha interesse nos materiais, com o consentimento do doador, ela poderá repassar esses materiais a outras instituições, neste caso apenas pessoa jurídica, pois pessoa física não pode receber doações da biblioteca. As doações sempre ficam documentadas na instituição, pois logo que o doador entrega o material, ele preenche um “Termo de doação”8 com seus dados pessoais. Nesse termo, o doador autoriza a inclusão dos materiais no acervo à coleção já existente na biblioteca, bem como, o seu uso e, quando necessário, 7 ______. Doação. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2013. 8 O Termo de Doação está disponível na internet na página da Biblioteca da UEL. 36 autoriza que a instituição realize o desbaste e/ou descarte9, a devolução ao doador ou, quando for o caso, a autorização de repasse do material para outras instituições. Existem alguns casos em que a coleção a ser doada é de importância fundamental para o acervo, pois pertenceu a algum pesquisador de referência em determinada área do conhecimento, e que irá contribuir para a formação do acervo, neste caso quando a biblioteca dispõe de espaço para armazenamento especial, é destinado então um local reservado. Como exemplo, na BC/UEL existe a coleção do arquiteto Luiz César da Silva. A permuta consiste no intercâmbio das publicações de uma determinada universidade com a de outras instituições. De acordo com Guinchat e Menou (1994, p. 87) a permuta corresponde ao “[...] envio recíproco de documentos de uma unidade de informação a outra. Este procedimento necessita de uma ‘moeda de troca’, como obras em duplicata, coleções de periódicos supérfluas ou documentos produzidos pelos organismos que efetuam a permuta.” Esta atividade objetiva o enriquecimento da coleção de periódicos científicos da própria universidade, bem como a divulgação de periódicos editados em outras bibliotecas do país e exterior. Qualquer instituição de ensino superior poderá fazer permuta com as publicações da UEL. Se houver o interesse, a instituição deverá informar os títulos que são editados pela mesma para que seja feita a escolha dos títulos de interesse para os cursos oferecidos pela UEL, para assim poder oficializar a troca de publicações entre as instituições 10 . As instituições interessadas deverão manifestar o interesse entrando em contato com a Divisão de Formação e Desenvolvimento da coleção, em especial a Seção de Doação/Permuta. Sendo assim o processo de desenvolvimento de coleções precisa ser uma atividade contínua e que permaneça em constante evolução, e que deva passar por uma avaliação. De acordo com Miranda (2007, p. 14) “a avaliação da coleção deve ser sistemática e entendida como um processo empregado para determinar a 9 O desbaste requer envolvimento do bibliotecário, pois refere-se ao procedimento avaliação do item e se preciso da retirada temporária do material do acervo devido à sua pouca utilização. Já o descarte consiste na retirada definitiva do material com base na avaliação de uso e empréstimo, e de importância do material, no caso das obras raras. (SILVA; CASTRO FILHO; QUIRINO, 2012, p. 51). 10 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, Sistema de Bibliotecas da UEL. Permuta. Disponível em: . Acesso em: 30 maio 2013. 37 importância e a adequação do acervo com os objetivos da Biblioteca e da instituição, possibilitando traçar parâmetros quanto à aquisição, a acessibilidade a ao descarte.” A autora referida sugere que no processo de avaliação sejam verificados tanto aspectos qualitativos quanto os quantitativos, isto é, analisa-se o número de materiais relacionando-os com o seu uso. No entanto, existe flexibilidade nessa avaliação, que é o caso das obras raras e/ou tradicionais, que possuem pouco ou nenhum uso, mas são de fundamental importância para a coleção. 2.1.2 Processamentos Técnicos De acordo com Silva e Araújo (1995, p. 51 citado por VIEIRA, 2000, p. 3) “são considerados processos técnicos todos os procedimentos biblioteconômicos: a catalogação, a classificação, a alfabetação, a ordenação dos livros nas estantes e o preparo técnico mecânico do livro”. O processamento técnico lida com o tratamento e organização da informação. Deve-se direcionar o trabalho à satisfação das necessidades informacionais do usuário. (SANTOS NETO, 2011, p. 23). A razão de ser da biblioteca é o atendimento das demandas de seus leitores, na medida em que estes têm necessidades informacionais e querem ter acesso aos suportes informacionais. Para “suprir” essa demanda, os bibliotecários devem analisar e tratar os itens preparando-os com vista ao seu uso, ou seja, o bibliotecário causa interferência também neste processo, seja temático ou descritivo. O modo como o bibliotecário descreve o suporte informacional influencia diretamente no resultado de busca pelo usuário, e o que se espera é que este resultado seja satisfatório. O departamento de processos técnicos é responsável por tratar técnica e fisicamente os suportes informacionais. Nesse espaço são realizadas as atividades de representação descritiva ou catalogação, que têm como objetivo a descrição da obra a partir de suas características físicas e de forma, e as de representação temática ou classificação, que se destinam a uma descrição mais subjetiva e complexa, pois lidam com o conteúdo informacional expresso e registrado em uma determinada obra. A representação descritiva ou catalogação refere-se ao procedimento realizado na seção de processos técnicos de uma biblioteca. Nesse local é feita a descrição do suporte informacional de acordo com as suas características físicas e 38 de forma, isto é, descreve-se o material a partir da: dimensão da obra em cm (centímetro), número de páginas, autor, título, ano, editora, local de edição, edição, volume, coleção, tradução, revisão, ilustração e outras características. Essas representações, elaboradas pelos bibliotecários, contribuem para o processo de busca pela informação dos usuários, e a partir delas, diversos instrumentos de auxílio são criados, como: bibliografias, catálogos e outros. Shyiali Ramamrita Ranganathan (1892-1972), em 1928 idealizou 5 (cinco) leis para a Biblioteconomia, visando que: Os livros são para usar A cada leitor o seu livro A cada livro o seu leitor Poupe o tempo do leitor A biblioteca é um organismo em crescimento. (RANGANATHAN, 2009, p. xi). Pautados nessas cinco leis propostas por Ranganathan, é que os bibliotecários norteiam o seu fazer no âmbito da catalogação. Para auxiliar esse fazer, existem alguns códigos e uma ordem que são utilizados pelo bibliotecário no momento de descrição do item, para que se possa representá-lo de maneira adequada. Por exemplo, ao registrar somente “2001”, este registro refere-se ao número de páginas ou ao ano de publicação do item. Por isso existe uma ordem a ser cumprida na hora de fazer o registro nos campos da catalogação: autor, título, edição, local de publicação, editor, data, paginação, dimensão e outros. A catalogação ou representação descritiva segundo Mey e Silveira (2009, p. 7) compreende: [...] o estudo, preparação e organização de mensagens, com base em registros do conhecimento, reais ou ciberespaciais, existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir a interseção entre mensagens contidas nestes registros do conhecimento e as mensagens internas dos usuários. Atentamos que a catalogação não é uma atividade neutra ou imparcial, mas é intencional e interfere na recuperação da informação pelo usuário. Não é somente uma técnica de elaborar catálogos; ela possibilita que os itens se relacionem, criando alternativas de escolha no resultado da busca dos usuários e, além disso, permite a localização física do item no acervo físico. 39 Para atingir seu objetivo a catalogação requer 5 (cinco) fatores: - Integridade: o bibliotecário deve ser honesto e fiel na representação; - Clareza: o código utilizado na representação deve ser compreensível e legível ao usuário; - Precisão: cada informação deve representar um único dado ou conceito; - Lógica: as informações registradas devem seguir uma estrutura lógica, para fácil entendimento; - Consistência: uma mesma solução deve ser sempre usada para informações semelhantes. (MEY; SILVEIRA, 2009). Vale ressaltar que, durante o processo de catalogação, variáveis como a biblioteca, o usuário e o item a ser catalogado, devem ser levadas em consideração. Tendo dito que o bibliotecário interfere na recuperação da informação do usuário, Mey e Silveira apontam algumas qualidades que julgam ser indispensáveis ao fazer do catalogador: - muita leitura, com prazer e entendimento: deve ler, no mínimo, trinta livros por ano. O catalogador precisa ter o hábito e gostar de ler; conhecimentos gerais atualizados: o catalogador não pode manter-se afastado do mundo em que vive; preocupação em superar a prática irreflexiva e automática de seu trabalho; conhecimento dos seus usuários, reais e potenciais; abertura quanto às tecnologias e, ao mesmo tempo, preocupação com a descoberta do novo, ou do desconhecido, por si próprio e por seus usuários. (MEY; SILVEIRA, 2009, p. 5). Podemos inferir que, devido a essas qualidades apontadas, o bibliotecário responsável pela catalogação, bem como o responsável por outras atividades cotidianas da biblioteca, precisa da leitura não só de livro, mas de modo lato11, deve estar atualizado quanto às mudanças tecnológicas e informacionais, e precisa se lembrar a todo o momento que cada passo e ação executados influenciarão na recuperação da informação pelo usuário. Portanto, é fundamental que se esqueça de toda e qualquer ideia de que seu fazer é neutro, sem interferência. Deve-se considerar que seu trabalho não é um fazer técnico automático e repetitivo desprovido de reflexão. 11 Quando falamos de leitura de modo lato, queremos valorizar todo tipo de leitura, sejam elas de texto escrito ou oral, de imagens, sons, expressões corporais, vídeos, leitura de mundo etc. 40 A importância da leitura pelo bibliotecário é destacada por Barros (2006b, p. 123) ao elucidar que, [...] o bibliotecário que não lê limita-se, castra-se conscientemente ou inconscientemente. Não avança e não promove conhecimento. Não se arma para os imprevistos do dia-a-dia, como que esquecendo que a biblioteca é um palco de incontáveis dúvidas, que a sua própria cultura pode ajudar a resolver. Além dos seus próprios conhecimentos e habilidades, os bibliotecários utilizam tabelas auxiliares para desenvolver a catalogação. Essas tabelas direcionam o serviço do bibliotecário. Na hora de registrar um determinado item, geralmente são utilizadas tabelas com padrões universais, ou seja, tabelas que são utilizadas pela maioria, senão por todas, as bibliotecas. Entre essas tabelas temos o Código de Catalogação Anglo-americano (AACR). De modo geral, essa tabela descreve regras12 para auxiliar e direcionar a catalogação pelo bibliotecário. Outra duas tabelas que auxiliam o serviço do bibliotecário ao escolher o número que representa o sobrenome do autor, como ponto de acesso para o registro da obra, são as tabelas de autoria PHA e Cutter, entre outras. No entanto, a representação temática ou classificação corresponde a uma atividade que também é feita no setor de serviços técnicos, mas, diferentemente da catalogação, a classificação é uma descrição a partir do conteúdo expresso na obra ou suporte informacional. Um importante evento que colaborou de forma expressiva para a evolução dos processos de classificação em bibliotecas, foi a invenção da imprensa13, no século XV. 12 Estas regras se destinam à elaboração de catálogos e outras listas em bibliotecas gerais de todos os tamanhos. Elas não visam, especificamente bibliotecas especializadas e de arquivos mas recomenda-se que essas bibliotecas usem as regras como base para a sua catalogação e façam os acréscimos necessários. As regras incluem a descrição e a provisão de pontos de acesso para todos os materiais da biblioteca comumente coletados hoje em dia. A estrutura integrada dos textos facilitará o uso das regras gerais como base para a catalogação de materiais raramente colecionados, de qualquer tipo, bem como de materiais ainda desconhecidos. (CÓDIGO DE CATALOGAÇÃO ANGLO- AMERICANO, 2002, p. 1). 13 Este evento democratizou a cultura propiciando uma produção em massa de documentos. Um grande número de pessoas passou a ter acesso ao conhecimento. Surgem necessidades diferentes e mais complexas de informação provocando uma revolução nos métodos de organização do conhecimento registrado em bibliotecas. (SOUZA, 1976, p. 265). 41 A classificação é totalmente subjetiva e o seu resultado pode variar ou não, dependendo da pessoa que faz essa atividade. Neste caso, a leitura e a interpretação são fundamentais, pois o bibliotecário extrai da obra as principais informações relevantes, isto é, ele procura descrever, da melhor maneira possível, o item, com o intuito de que o usuário consiga recuperá-lo no momento de busca. Langridge (1977, p. 11) afirma que “[...] sem classificação não poderia haver nenhum pensamento humano, ação ou organização que conhecemos.” Percebemos que o autor referido dá destaque merecido aos processos de classificação, visto que estes possibilitam uma “ordem” em meio ao caos informacional, pois o que seria dos acervos se não fossem os princípios da classificação. Segundo Souza (1976, p. 259), “toda classificação é elaborada em função de uma necessidade específica.” Sendo assim, “a finalidade de uso da classificação em bibliotecas é organizar o conhecimento como apresentado em livros e outros meios para que seja eventualmente consultado.” (SOUZA, 1976, p. 265). Vale ressaltar que a função da classificação em bibliotecas não está restrita a uma simples organização dos documentos nas estantes, através de sistemas fixos e rígidos, mas que também contribui para a elaboração de cabeçalhos de assuntos em catálogos, índices e bibliografias. A classificação, ou arte de classificar, fez com que surgissem diferentes teorias da classificação, entre elas a que recebe maior destaque é a Teoria do Conceito, de Ingetraut Dahlberg. Diferentes formas de classificação foram pensadas e criadas, com isso surgiram os sistemas de classificação ou tabelas de classificação. Estes instrumentos referem-se a um conjunto de classes apresentadas em ordem sistemática. Segundo Langridge (1977, Não paginado) o ato de classificar “é uma mapa completo de qualquer área do conhecimento mostrando todos os seus conceitos e suas relações, é chamado também de classificação.” Estes “mapas” apontados por Langridge podem ser as tabelas de classificação, que descrevem, minuciosamente, os termos técnicos e assuntos gerais e específicos de todas, ou quase todas, áreas do conhecimento, algumas com mais profundidade e outras com menos. Nessas tabelas é possível encontrar o número referente a um determinado assunto, mais conhecido como notação. Este número é que vai direcionar a posição física que o item ocupará nas estantes do acervo. 42 Existem diversos esquemas de classificação, entre eles: Classificação Decimal de Dewey (CDD); Classificação Decimal Universal (CDU); Classificação de Assunto de Brown; Classificação Bibliográfica de Bliss; Classificação da Biblioteca do Congresso (EUA); Classificação de Dois Pontos de Ranganathan. No entanto, dentre esses diversos esquemas de classificação, os mais utilizados em BU’s são a CDD e a CDU. As formas de classificação e as técnicas de organização da informação foram evoluindo e se adequando às realidades das bibliotecas e às diferentes necessidades. Atualmente, os modelos de classificação permitem que uma mesma obra ocupe lugares diferentes no acervo, cabendo ao bibliotecário optar por essa decisão. Souza (1976, p. 266) reforça a presença do bibliotecário no serviço de classificação ao afirmar que “cabe ao bibliotecário selecionar o que melhor satisfaça as necessidades do usuário a que serve.” Exposto esse pensamento, fica evidente a interferência do bibliotecário no processo de classificação, pois a escolha dos termos influenciará consequentemente a posição que o item ocupará na estante. A classificação é uma operação mental que conta com o apoio de tabelas e manuais de serviço. No entanto, somente o seu produto final é visualizado, e algumas vezes, pouco valorizado. Porém, a classificação em bibliotecas é uma das atividades mais importantes para a organização da informação e, também, é responsável por todo o funcionamento da unidade, além de contribuir para o papel de mediadora da informação que a biblioteca exerce. 2.1.3 Preservação de documentos A preservação de documentos em BU’s reúne 3 (três) procedimentos: a conservação, que visa proteger os materiais dos danos; a restauração, que procura tratar e cuidar dos materiais já deteriorados; e a preservação que rege os dois procedimentos anteriores e envolve a parte administrativa da biblioteca. As atividades de conservação consistem em diretrizes que direcionam a maneira de como se deve manusear os diferentes suportes informacionais para que nenhum dano se cause a eles, ou seja, constituem um conjunto de ações preventivas para proteger os materiais de danos e degradação física, evitando sua deterioração e estabelecer medidas para deter esse processo. Tomando como regra 43 essas atividades, evita-se que os procedimentos de restauração sejam realizados, pois esses últimos só são desempenhados quando as de conservação não forem atendidas. Nesse caso, tem-se a conservação preventiva que visa à melhoria do meio ambiente e dos meios de armazenagem e proteção com o intuito de retardar a degradação. De modo breve, a conservação nos alerta que, por exemplo: ao manusear livros, monografias, dissertações, teses etc., pede-se que não se coma ou beba, evitando manchas e borrões, bem como a aproximação de agentes biológicos de deterioração. Já no caso de manuseio de obras raras e exemplares únicos, pede-se o uso com luvas e máscaras evitando o degrado do material e sua contaminação. Quando se tratar se material fotográfico e/ou microfilmado, deve-se manusear sempre com luvas com o auxílio de pinças e pegadores. É necessário que não se armazene alimentos próximos ao acervo e/ou salas de processamentos técnicos; que a luz não incida diretamente ao material para não alterar a coloração do mesmo; que a umidade e a temperatura sejam controladas e próprias para cada tipo de acervo; e que a disposição das estantes em relação à janela (quando houver) seja perpendicular àquela, permitindo que a iluminação natural percorra as estantes. No entanto, as atividades de restauração são exercidas em laboratórios, como o objetivo de tratar e recuperar o material já deteriorado, ou seja, consistem em realizar reparos e “consertos” na obra que já foi danificada. Por exemplo: realizar uma nova encadernação em material que contém folhas e capas descoladas e/ou descosturadas, higienizar o material infectado por algum tipo de resíduo, colar as folhas que durante o tempo ficaram craqueladas ou quebradiças, secar os materiais que, por algum incidente natural ou não, tiveram contato com a água. Já as ações de preservação envolvem aspectos administrativos, projetos de instalações e edifícios, seleção, aquisição, armazenagem e distribuição física, como também envolvem treinamento de pessoal e de usuários, visando à preservação. Essas medidas tomadas pelos bibliotecários constituem atividades também de mediação, pois vão influenciar na possibilidade ou não do usuário realizar a leitura de modo que não se perca nenhuma informação causada por problemas relacionados à integridade física e textual do material. Os bibliotecários percebem a necessidade de restauração de um material visando a que, futuramente, o conteúdo expresso naquela obra, talvez, possa não ser mais recuperado e/ou lido pelo usuário, devido às consequências da deterioração. 44 Desse modo, medidas preventivas como: controle do ambiente (luz, temperatura e umidade); higienização (acervo e ambiente); manutenção (edifício, instalações elétricas e hidráulicas); sistemas de segurança (contra incêndios e furtos). Orientação e treinamento (funcionários e usuários) devem ser realizados, constantemente, para que o uso dos suportes informacionais da biblioteca não seja interferido, ou, até mesmo, impossibilitado. Ao se atentar para as medidas preventivas, aumenta-se a chance de que as medidas curativas não sejam realizadas. Medidas curativas são usadas para obras danificadas. É um processo oneroso e que exige treinamento. Em alguns casos, uma restauração imperfeita pode causar maiores danos à obra. Existem alguns critérios para se decidir sobre o quê e quando será restaurado. Deve-se atentar ao tipo do interesse no momento do restauro, se é o papel, a escrita ou o material; também é preciso saber quando é o momento certo de restaurar, levando em contra prioridades, se pelo estrago, pelo uso, ou pela importância do material. A conservação, dentro do exposto, dá-se através de ações sistemáticas que visam à prevenção do acervo, que a restauração constitui ações de tratamento e recuperação física do material já danificado, e a preservação lida com o gerenciamento das ações de prevenção e tratamento. 2.1.4 Biblioteca Digital Em meados dos anos 90, as BU’s começaram a desenvolver e gerir bibliotecas digitais (BD’s) com conteúdos informacionais confiáveis (CUNHA, 2010, Não paginado). Com o aumento exponencial de documentos eletrônicos, documentos digitais, as bibliotecas tradicionais passaram, e algumas ainda passam, por um desafio: oferecer serviços e produtos no ambiente digital para que os usuários continuem a visualizar a biblioteca como um ambiente que se preocupa tanto com a sua formação profissional, quanto com a sua formação social de sujeito crítico. Manter os usuários na unidade física sendo que existe a possibilidade deles consultarem suportes informacionais de informação sem precisar ir até a biblioteca, também apresenta-se como outro desafio. Dessa maneira, bibliotecas e bibliotecários 45 integraram-se às BD’s, e procuram ainda estabelecer critérios quanto ao nível de acesso e a disponibilização da informação. É importante ressaltar que, além da biblioteca digital (BD) de uma BU se preocupar com documentos e produções científicas, deverá também se atentar e disponibilizar conteúdos provenientes da literatura cinzenta, isto é, “[...] a produção acadêmica dos docentes e discentes, daí, a crescente importância dos repositórios institucionais e as bibliotecas digitais de teses, dissertações e monografias de cursos de graduação e especialização.” (CUNHA, 2010, Não paginado). Não somente a biblioteca e os bibliotecários terão de mudar sua postura, como também os usuários, e segundo Baganha (2004, p. 95): [...] o tipo de utilizador dos serviços de informação está a mudar (sobretudo nas bibliotecas universitárias). O actual utilizador do ensino superior está habituado a utilizar os computadores e a aceder à Internet, [...] ele pretende, sobretudo, obter toda a informação relevante sobre um determinado assunto e aceder-lhe o mais rapidamente possível, onde quer que ela se encontre. O contato dos usuários com os bibliotecários na BD é pouco percebido, visto que essa atividade não demanda a presença daqueles. O que realmente diferencia a BD de uma biblioteca comum é a possibilidade de acesso imediato a diversos suportes informacionais. Para confirmar nossa posição Baganha (2004, p. 95) afirma que, As bibliotecas digitais, trazem uma mais valia significativa no que respeita o acesso imediato ao documento e a possíveis conexões com outros documentos similares ou correspondentes ao assunto selecionado. O acesso imediato ao texto e a vários documentos em simultâneo, marca a grande diferença relativamente às bibliotecas tradicionais. A BD oferece “[...] um serviço de informação virtual de acesso global porque [está] disponível numa rede informática ligada a múltiplas outras (world wide web).” (BAGANHA, 2004, p. 94). Inferimos que a BD terá utilidade e uso se os usuários estiverem conectados a uma rede. Ainda sabendo que os serviços em uma BD são desempenhados e oferecidos em outro ambiente, Cunha (2010, Não paginado) afirma que “a natureza do ambiente pode mudar, mas a necessidade de um navegante experiente e bem 46 preparado permanecerá.” Concluímos que não é a mudança de ambiente o elemento mais importante, mas sim a presença de um bibliotecário mediador por trás desse novo ambiente. A