MATEUS DIEGO PAVELSKI INFLUÊNCIA DA PANDEMIA NA INCIDÊNCIA DOS TRAUMAS DE FACE EM MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Araçatuba – SP 2022 MATEUS DIEGO PAVELSKI INFLUÊNCIA DA PANDEMIA NOS TRAUMAS DE FACE EM MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia do Campus de Araçatuba – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, para obtenção do Título de MESTRE EM ODONTOLOGIA (Área de concentração em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial). Orientador: Prof. Dr. Assoc. Osvaldo Magro Filho. Araçatuba – SP 2022 Catalogação na Publicação (CIP) Diretoria Técnica de Biblioteca e Documentação – FOA / UNESP Pavelski, Mateus Diego. P337i Influência da pandemia na incidência dos traumas de face em mulheres vítimas da violência doméstica / Mateus Diego Pavelski. - Araçatuba, 2022 45 f. : il. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Odontologia de Araçatuba Orientador: Prof. Osvaldo Magro Filho. 1. Epidemiologia 2. Traumatismos faciais 3. Violência doméstica I.T. Black D72 CDD 617.64 Ana Claudia M. Grieger Manzatti CRB-8/6315 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos aqueles que participaram desta etapa. Meus amigos, colegas, professores, minha namorada e minha família. Minha namorada (Ingrid Zanuto de Freitas): O seu companheirismo, sua paciência, seu amor e seu apoio foram essenciais para esta conquista. Obrigado por ser tão paciente e ser tudo o que eu precisava para cumprir mais esta etapa. Minha Mãe (Ceni Giani Farias Pavelski): Dedico mais esta vitória. Se estou aqui, é porque sempre esteve ao meu lado, batalhando junto comigo, com seu amor e carinho, especiais é verdade, e que muitas vezes com o coração apertado, precisou tomar decisões difíceis para que eu pudesse seguir em frente chegar até aqui. Você é a melhor mãe do mundo! Meu Pai (Ademir Pavelski): Toda esta conquista tem o seu mérito, não posso imaginar as batalhas vencidas e responsabilidades adquiridas sem a sua dedicação. Você é um grande espelho de perseverança, dedicação profissional, de disciplina e de pai. Meu irmão (Maicon Douglas Pavelski): Sua teimosia me faz lembrar de que desistir não é uma opção. Obrigado por toda amizade, companheirismo e conselhos, você trilhou esse caminho e me mostrou que é possível. Muito obrigado! AGRADECIMENTOS ESPECIAIS AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Hoje é um daqueles dias que esperamos tanto, que parecem estar muito longe, mas que um dia chegam. Há tantas coisas para serem ditas, mas que nos faltam palavras. É uma parte do sonho realizado. É uma alegria percorrer um caminho tão duro e ver que valeu a pena. Um constante aprendizado, que levarei para a vida toda. Primeiramente agradeço a Deus, por me ouvir, amparar e confortar-me em todos os momentos. Ao meu orientador, Prof. Assoc. Dr. Osvaldo Magro Filho, que aceitou esta missão, orientar, dar suporte e ensinar com dedicação mais uma vez, por mais um ano, mais um orientado. São esforços repetitivos, mas com sua dedicação e paciência o torna admirável. É seu exemplo que me fez buscar esta Pós-Graduação. Ao Prof. Assoc. Dr. Idelmo Rangel Garcia Júnior, que apesar do pouco contato, orientou, ajudou e ensinou a nossa tão amada Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Ao Prof. Assoc. Dr. Francisley Ávila Sousa, agradeço pela convivência, paciência e dedicação aos seus alunos, Pós-Graduação e departamento. Ao Prof. Assoc. Dr. Leonardo Perez Faverani, agradeço imensamente a amizade, todo o acolhimento, disponibilidade e vontade, não só comigo, mas com todos ao seu redor. O senhor é um excelente profissional, de um coração gigante e só tenho a agradecer por estar sempre por perto e poder aprender contigo. Ao Prof. Dr. Ricardo Augusto Conci, por aceitar o convite para participar da banca avaliadora, sua amizade e amor pela profissão sempre foi e sempre será um grande direcionador do meu caminho. Gostaria de registrar que não há como te agradecer por todo apoio e todo encorajamento nesta caminhada. É uma honra tê-lo como avaliador. A Professora Alessandra Marcondes Aranega, por aceitar participar da banca examinadora, bem como pela idealização da pesquisa e oportunidade concedida. Agradeço também a paciência e apoio durante este trabalho. Muito obrigado! Aos demais professores da Disciplina da Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Dras. Daniela Ponzoni, Roberta Okamoto, Ana Paula Farnezi Bassi, pelos ensinamentos repassados em nosso departamento. Recebam o meu carinho e admiração. Ao professor André Luis da Silva Fabris, agradeço a humildade, amizade e por compartilhar seus conhecimentos. Aos amigos Anderson Maikon dos Santos e Tiburtino José de Lima Neto, o mestrado não seria tão alegre sem a presença de vocês no departamento. São grandes profissionais, agradeço demais a amizade e a hospitalidade. Ao amigo Eduardo Dallazen, agradeço a amizade e companheirismo, obrigado por toda ajuda, fez parte da nossa turma de órfãos agregados, espero que possamos continuar com esta amizade. Ao amigo Leonardo Alan Delanora, agradeço por toda a parceria e amizade. Você merece muito sucesso! Ao amigo William Phillip, agradeço toda amizade e companheirismo desde o início do mestrado, sempre alegre e pensando em experimentos proveitosos né Will. A todos os amigos da pós-graduação, Gustavo Momesso, Lara Cervantes, Cléber Davi Del Rei, Bárbara Rios, Jhonathas Piassi, Naara Monteiro, Ana Carolina Bacelar e demais M1’s, M2’s e D1’s, agradeço a amizade e compartilhamento do dia a dia que tornou esta pós-graduação mais agradável. A colega Doany Cevada dos Santos, agradeço todo auxílio e disponibilidade no desenvolvimento deste trabalho. À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Código de Financiamento 001, pela concessão da Bolsa de Mestrado durante os dois anos do curso. Meus sinceros agradecimentos por promover o apoio financeiro, e com isso, permitir que fosse possível a realização do mestrado. AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS À Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP, na pessoa do diretor Prof. Adj. Glauco Issamu Miyahara pela oportunidade da realização do curso de Mestrado, admiro ainda mais esta instituição que está voltada para o ensino, pesquisa e extensão universitária sempre buscando uma educação para todos. Ao Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, da Faculdade de Odontologia de Araçatuba, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Prof. Assoc. André Luiz Fraga Briso, pela competência e afinco na condução da nossa pós- graduação. Aos funcionários da Pós-graduação da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP pela disponibilidade e paciência em todas as etapas do mestrado. Pelo trabalho honesto e sempre ágil. Aos funcionários da Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP pela prontidão em nos atender e pelo carinho. É preciso três meses para aprender a fazer uma cirurgia, três anos para saber quando é preciso fazê-la e 30 anos para saber quando não se deve fazer uma operação. Henry Marsh RESUMO E ABSTRACT Pavelski MD. Influência da pandemia nos traumas de face em mulheres vítimas da violência doméstica [dissertação]. Araçatuba: Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Paulista; 2022. RESUMO O surgimento do novo coronavírus (SARS-CoV-2 – COVID-19) teve início em dezembro de 2019 na China e rapidamente se espalhou gerando mudanças por todo o planeta. Mudanças drásticas no estilo de vida das pessoas e que afetaram o comportamento da população, inclusive no atendimento dos serviços de saúde. O objetivo do presente trabalho foi avaliar os dados epidemiológicos do serviço de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial de um hospital de referência, analisando o impacto da pandemia nas agressões físicas contra as mulheres vítimas de violência doméstica. Foi realizado um estudo retrospectivo comparativo no período dos doze meses anteriores ao início da declaração de pandemia no Brasil e os doze meses após o início das restrições. Os resultados mostraram que a idade das pacientes agredidas passou de 29.58 para 32 (valor p= 0,24) no período pré-pandemia para pandemia respectivamente. O índice de violência doméstica cresceu 337% (valor p= 0,02), passando de 8 para 27 registros. Houve diferença no número de ossos fraturados nas agressões (p=0,04), sendo a fratura dos ossos nasais a região mais acometida, com variação entre as posições seguintes. Durante a pandemia aumentou o índice de intervenções cirúrgicas de 37,5% para 44,44% (valor p= 0,57). Sendo assim, o perfil epidemiológico das pacientes agredidas não obteve mudanças durante a pandemia, porém, a violência doméstica aumentou significativamente neste período e as agressões ficaram mais graves, necessitando de um maior número de intervenções cirúrgicas. Palavras-chave: Epidemiologia. Traumatismos faciais. Violência doméstica. Pavelski MD. The influence of pandemic in the maxillofacial trauma in women victims of domestic violence [dissertation]. Araçatuba: UNESP – São Paulo State University; 2022. ABSTRACT The emergence of the new coronavirus (SARS-CoV-2 - COVID-19) started in December 2019 in China and quickly spread and generated changes all over the planet. Drastic lifestyle changes have affected the behavior of the population and even impacted the care of healthcare services. The present study aimed to evaluate epidemiological data from the oral and maxillofacial surgery and traumatology service of a reference hospital to analyze the impact of the pandemic on physical aggression against female victims of domestic violence. A retrospective study was developed comparing the period of twelve months before the beginning of the pandemic declaration in Brazil and the twelve months after the start of the restrictions. Results show that the age of battered patients increased from 29.58 to 32 (p value= 0.24) in the pre-pandemic and pandemic period respectively. The rate of domestic violence increased by 337% (p-value= 0.02), from 8 to 27 records. There was a difference in the number of fractured bones in the assaults (p=0.04), with nasal bone fracture being the most affected region, with variation among the following positions. During the pandemic, the rates of surgical interventions increased from 37.5% to 44.44% (p- value=0.57). The epidemiological profile of battered patients did not change during the pandemic. However, domestic violence increased significantly in the pandemic period, and assaults became more severe, requiring a greater number of surgical interventions. Keywords: Epidemiology. Maxillofacial trauma. Domestic violence. LISTAS E SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Pacientes atendidas em período de pré-pandemia versus pandemia e dados totais do período. 38 FIGURA 2 – Dados de distribuição da idade das pacientes analisadas no estudo 38 FIGURA 3 – Áreas mais fraturadas de acordo com a sua localização anatômica. 39 LISTA DE ABREVIATURAS AOCMF Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen (AO Foundation) COVID Coronavírus CTBMF Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial EUA Estados Unidos da América OMS Organização Mundial da Saúde UNESP Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Sumário 1 INTRODUÇÃO 18 2 PROPOSIÇÃO 21 3 POPULAÇÃO E MÉTODO 23 3.1 Desenho do estudo 23 3.2 Análise Estatística 24 4 RESULTADOS 26 5 DISCUSSÃO 29 6 CONCLUSÕES 32 REFERÊNCIAS 34 FIGURAS 38 ANEXOS 41 Introdução 18 1 INTRODUÇÃO Os maiores índices etiológicos de traumas faciais na literatura são indiscutivelmente os acidentes de trânsito, quedas e violência interpessoal (AMARISTA ROJAS et al., 2017; BORMANN et al., 2009; SAWAZAKI et al., 2010; THAPA et al., 2017). Essas etiologias variam entre as três primeiras posições de acordo com os fatores relacionados à região, cultura e desenvolvimento socioeconômico. Em países socioeconomicamente desenvolvidos como a China, por exemplo, onde o maior índice de traumas é devido a quedas, pela grande quantidade de população idosa e mentalidade oriental (THAPA et al., 2017). Nos Estados Unidos, os maiores índices são causados por violência interpessoal, devido à legislação com permissão armamentista (ELLIS III; MOOS, 1985; LUDWIG et al., 2021). Na América do Sul e na Europa os traumas são causados majoritariamente por acidentes de trânsito, sendo distribuídos essencialmente por motocicletas e bicicletas, respectivamente. (AMARISTA ROJAS et al., 2017; BORMANN et al., 2009; SAWAZAKI et al., 2010). O surgimento do novo coronavírus (SARS-CoV-2 – COVID-19) em dezembro de 2019 na China, se espalhou rapidamente por todo o planeta. Em fevereiro de 2020 foi decretada pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e no Brasil, em março de 2020 (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). Em todo o planeta políticas públicas de quarentena, isolamento social e confinamento foram adotados para conter a transmissão do coronavírus. Em todos os níveis de convivência foram adotados restrições, incluindo o atendimento à saúde que precisou ser adaptado. Foram construídos hospitais de campanha, treinamento em massa dos profissionais de saúde e divisão de enfermarias, além de ser sugerido a telemedicina sempre que possível (MAFFIA et al., 2020). A violência doméstica é bem relatada na literatura. Na maioria dos casos as agressões são causadas pelo parceiro da mulher e diretamente relacionadas ao uso de substâncias e tendem a aumentar nos períodos de férias escolares (CLUVER et al., 2020; SHARMA; BORAH, 2020). A nova inserção social decorrente da pandemia aumentou a permanência das pessoas dentro de casa e limitou as atividades de lazer. Os adultos sem trabalho ou fazendo “home-office” (teletrabalho) e as crianças sem aulas aumentaram o tempo 19 de exposição ao agressor e a violência doméstica e, assim, as suas consequências para a saúde física e mental (MAZZA et al., 2020; SHARMA; BORAH, 2020). O Brasil é um dos países mais afetados pela pandemia, tanto pelo tempo de duração das restrições sociais, quanto pelo número de mortes. Desde a deflagração da pandemia (isolamento e distanciamento social) em março de 2020, foram quase 2 anos de restrições, sendo somente os últimos meses com atenuação das medidas tomadas. O Brasil, apesar de ser o sexto país mais populoso do mundo, foi o terceiro com maior número de casos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da América (EUA) e Índia respectivamente. E o segundo país com mais mortes pela COVID-19, tendo 621.855 mortes, ficando atrás apenas dos EUA (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020). Diante disso, a presente pesquisa tem por objetivo avaliar os dados epidemiológicos do serviço de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista – UNESP para determinar o impacto da pandemia nos traumas de face das mulheres vítimas de violência doméstica. Proposição 21 2 PROPOSIÇÃO O presente estudo tem como objetivo avaliar os dados epidemiológicos do serviço de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial de um hospital regional do estado de São Paulo, e determinar o impacto da pandemia nos traumas de face ocasionados por agressões físicas no âmbito doméstico. População e Método 23 3 POPULAÇÃO E MÉTODO 3.1 Desenho do estudo Os dados epidemiológicos foram obtidos por meio de revisão dos prontuários e fichas específicas padronizadas da equipe de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial (Anexo B) dos anos de 2019, 2020 e 2021. Os prontuários foram cuidadosamente analisados. Para obter os dados necessários para este estudo, foram utilizadas informações como idade, gênero, etiologia e mecanismo do trauma, história médica pregressa, história do trauma atual e seu tratamento. A coleta de dados, anamnese e exame físico dos pacientes foram realizados pelos alunos da pós-graduação em CTBMF da UNESP. As informações colhidas foram criteriosamente anotadas e subdivididas em categorias, sendo elas: • Idade: 0 a 17 anos (menores de idade), 18 a 65 anos (adultas) e acima de 65 anos (idosas); • Gênero: masculino e feminino; • Etiologia do trauma: ferimentos por arma branca, ferimentos por projéteis de arma de fogo e agressões físicas; • História médica pregressa do paciente: doenças de base e alergias ou comorbidades que pudessem interferir no tratamento; • Presença ou não de fraturas de face e sua classificação de acordo com a localização anatômica. Os tratamentos realizados foram resumidos em dois grupos de acordo com a intervenção realizada, seguindo-se os princípios de fixação das fraturas faciais, sendo instituídos tratamentos cirúrgicos ou não-cirúrgicos. • Cirúrgicos: Realização de redução e fixação interna estável das fraturas, redução incruenta de fraturas, síntese de tecidos e outras cirurgias. • Não-cirúrgicos: Elasticoterapia, Laserterapia, Dieta macia, fisioterapia bucal, entre outras modalidades não invasivas. 24 Esses prontuários analisados foram divididos em duas categorias: o primeiro grupo - Grupo Pré-pandemia: período de um ano pré-pandemia (sendo março de 2019 a fevereiro de 2020) e o segundo grupo – Grupo Pandemia: primeiro ano após a declaração de pandemia (março de 2020 a fevereiro de 2021). Os dados desta pesquisa foram analisados criteriosamente, com questionamentos na avaliação inicial e nas consultas posteriores. As pacientes e/ou familiares autorizaram a utilização dos dados para a pesquisa e divulgação científica. A pesquisa foi enviada ao comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Araçatuba, sendo aprovada sob protocolo nº 54182921.6.0000.5420 (Anexo C). Como critério de análise estão os pacientes encaminhados e avaliados pelo serviço de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial (CTBMF) da UNESP no período descrito anteriormente. Os critérios de inclusão foram pacientes do gênero feminino, que relataram informações na avaliação inicial, como a etiologia do trauma, a agressão física direta (interpessoal) e/ou indireta (uso de armas brancas, objetos etc.). Os critérios de exclusão da pesquisa foram os pacientes que não concordaram em participar da pesquisa, prontuários incompletos ou pacientes que se evadiram do tratamento hospitalar. 3.2 Análise Estatística Os dados dos pacientes foram tabulados e analisados usando o software SigmaPlot® (San José – CA – USA), versão 12, realizando os testes de normalidade estatística. Também foi realizada a estatística de comparação entre os grupos pré- pandemia e pandemia, sempre utilizando intervalo de confiança de 95% e consequentemente o valor de p≤0,05 para diferença estatística. Resultados 26 4 RESULTADOS Obteve-se um total de 744 pacientes atendidos, sendo 303 mulheres e 35 delas enquadradas nos critérios de inclusão, ou seja, sofrer agressão em algum momento durante os dois anos pesquisados, sendo 8 delas em pré- pandemia e 27 no período de pandemia, resultando em um aumento de 337% de um período para outro. Os dados totais das pacientes do gênero feminino atendidas no período pré- pandemia e pandemia são apresentados na Figura 1. A idade da amostra de mulheres agredidas é descrita na Figura 2, com quantidade absoluta, amplitude e média. Os dois períodos estudados apresentaram duas menores de idade e nenhuma idosa. Os dados apresentaram uma distribuição normal no teste de Shapiro-Wilk. Na análise estatística comparativa entre os grupos, o teste T resultou em um valor de p=0,24, não demonstrando diferença entre as amostras. As agressões tiveram um aumento de 337%, 8 registros no grupo pré- pandemia e 27 casos no grupo pandemia, sendo duas pacientes deste último período, mulheres gestantes. A análise estatística descreve um aumento significativamente maior, obtendo-se um valor de p=0,02. Quanto a etiologia do trauma dessas mulheres, em todos os casos elas reportaram espontaneamente a agressão física, e em alguns casos, a vítima não informou o seu agressor ou o grau de parentesco, não sendo possível a avaliação do agressor nesse estudo. No período pré-pandemia foram registrados oito casos de agressão física interpessoal (uso dos punhos e mãos), enquanto no período de distanciamento social, observou-se um caso de ferimento por projétil de arma de fogo (evoluindo a óbito), um caso de agressão com auxílio de um martelo e uma agressão por pedradas, além de outras 24 violências físicas diretas, tendo um valor de p=0.44. No período pré-pandemia ocorreram oito casos sendo: três fraturas nasais, uma fratura de órbita, uma fratura de maxila e três lesões de tecidos moles. Dos 27 casos do período de restrições sociais, ocorreram nove fraturas nasais, quatro fraturas mandibulares, duas do osso zigomático, duas de órbita, uma fratura 27 panfacial, um trauma dento-alveolar e oito ferimentos em tecidos moles (Figura 3) (valor de p = 0,04). O tratamento para esses casos antes do isolamento incluiu três cirurgias para redução, fixação e síntese dos tecidos duros e moles, e, na quarentena, foram 12 cirurgias. Os dados demonstram, que 37,5% das mulheres agredidas no grupo pré- pandemia necessitaram de cirurgias, enquanto 44,44% do grupo Pandemia necessitaram de intervenção cirúrgica, tendo neste último, uma complicação de pseudoartrose, sendo necessária uma segunda cirurgia para resolução do caso. Na comparação da necessidade de tratamentos, os dados apresentaram o valor de p=0,57, resultando em semelhança estatística entre os dois grupos avaliados. Discussão 29 5 DISCUSSÃO A pandemia de COVID-19 alterou a rotina cirúrgica e as condutas a serem tomadas pelos cirurgiões nesse período. Diversos órgãos internacionais e associações de cirurgiões publicaram protocolos de atendimentos, triagem e categorização para eleição de pacientes aptos ou não para procedimentos cirúrgicos, com cancelamento temporário de cirurgias eletivas (AO CMF, 2020; FIORILLO et al., 2020; MAFFIA et al., 2020; PAVELSKI; FAVERANI; MAGRO- FILHO, 2021; PIOMBINO et al., 2020). A principal questão nesse caso é a geração de aerossóis, visto que procedimentos localizados em boca e vias aéreas superiores podem espalhar o vírus pelo ambiente, especialmente quando no uso de motores piezoelétricos, pneumáticos ou rotatórios. A prioridade era a realização de outras formas de tratamento, como o tratamento fechado que sempre que possível deveria ser instituído, bem como a utilização de acessos externos preferivelmente ao acesso intraoral (AO CMF, 2020; FIORILLO et al., 2020; PAVELSKI; FAVERANI; MAGRO- FILHO, 2021; PIOMBINO et al., 2020). O confinamento obrigatório das pessoas em ambiente doméstico nesse período é um fator chave para o aumento nos índices de violência doméstica (CLUVER et al., 2020; MAZZA et al., 2020; SHARMA; BORAH, 2020). Um dado divulgado em veículos de notícia reportaram um aumento em 40 a 50% nas chamadas de emergência nos órgãos competentes para violência doméstica (SHARMA; BORAH, 2020), porém não há estudos com estatísticas hospitalares publicados sobre esse assunto no Brasil. Ao redor do mundo temos resultados diferentes da pandemia. Na Inglaterra e na Turquia (CAVUS OZKAN; SARAC, 2021; HOFFMAN et al., 2020) houve diminuição da violência de forma geral, não tendo nenhum caso de violência doméstica nos períodos analisados. Na Índia, Vishal e colaboradores (VISHAL et al., 2020) relataram uma redução de agressões, porém, sem especificar violência doméstica. Na Austrália (SALZANO et al., 2021) e na Itália (CANZI et al., 2021) houve um aumento das agressões domésticas na pandemia, corroborando com o presente estudo. Na Austrália o aumento oi de 0 para 3 casos registrados em período de lockdown e em Milão na Itália aumentou significativamente a violência doméstica com 13 casos em 2019 e 37 no mesmo período em 2020. 30 Esses dados tem relação direta com o consumo de álcool, o que é bem estabelecido na literatura, o que poderia explicar a diminuição da violência interpessoal em alguns países, visto que estes, limitaram a venda de bebidas alcoólicas durante a pandemia, o que não aconteceu no Brasil (DAWOUD et al., 2021; HOFFMAN et al., 2020). Outra justificativa é o período de avaliação dos estudos, que são relativamente curtos, de semanas a alguns meses, enquanto o presente trabalho tem o período de 12 meses de comparação. A literatura também relata a presença das fraturas faciais, onde alguns autores reportaram o osso nasal como osso mais fraturado no período pré- pandemia e pandemia, assim como o presente estudo (CAVUS OZKAN; SARAC, 2021). Outro estudo apresenta alteração na primeira colocação de nasais no período pré-pandemia para osso mandibular em período de isolamento (SALZANO et al., 2021), enquanto que outros autores não descreveram mudanças entre os dois períodos avaliados (CANZI et al., 2021; DE BOUTRAY et al., 2021). Na opção pelo tratamento cirúrgico ou não cirúrgico desses traumas de face, não houve concordância na literatura. O tratamento não-cirúrgico foi significativamente maior nos estudos da Austrália, Turquia e do Reino Unido (CAVUS OZKAN; SARAC, 2021; HOFFMAN et al., 2021). Na Inglaterra prevaleceu a opção cirúrgica (DAWOUD et al., 2021). No presente trabalho não tivemos diferença estatística quanto a escolha dos tratamentos, visto que os tratamentos não- cirúrgicos devem ser instituídos dentro de suas indicações específicas para cada caso. Conclusões 32 6 CONCLUSÕES A pandemia aumentou a incidência dos traumas de face em casos de violência doméstica. As agressões durante a pandemia também foram mais intensas, visto que ocasionaram um número significativamente maior de fraturas de ossos da face. O perfil epidemiológico das pacientes com relação à idade e etiologias dos traumas foi semelhante entre os períodos de pandemia e o anterior. Portanto, ainda há a necessidade de ampliação de políticas públicas nos estados para proteção e defesa das mulheres vítimas de violência doméstica, especialmente em casos de restrições sociais e crises econômicas. Referências 34 REFERÊNCIAS AMARISTA ROJAS, Félix J.; BORDOY SOTO, María A.; CACHAZO, Morelba; DOPAZO, Juan R.; VÉLEZ, Henrique. The epidemiology of mandibular fractures in Caracas, Venezuela: Incidence and its combination patterns. Dental Traumatology, [S. l.], v. 33, n. 6, p. 427–432, 2017. DOI: 10.1111/edt.12370. AO CMF. AO CMF International Task Force Recommendations on Best Practices for Maxillofacial Procedures during COVID-19 Pandemic Executive Summary. [s.l: s.n.]. 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Figuras 38 FIGURA 1 - Pacientes atendidas em período de Pré pandemia x Pandemia, e dados totais do período Fonte: Autor, 2022 FIGURA 2 - Dados de distribuição da idade das pacientes analisadas no estudo Fonte: Autor, 2022 303 175 128 35 27 8 0 50 100 150 200 250 300 350 Total Pandemia Pré Pandemia Número de pacientes atendidas Agredidas Mulheres 6,25% 15,42% 11,55% 39 FIGURA 3 - Áreas mais fraturadas de acordo com sua localização anatômica Fonte: Autor, 2022 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Nasal Maxila Mandíbula Órbita Zigomático Panfacial TDA Tec. Moles Regiões mais afetadas pelas agressões Pré Pandemia Pandemia Anexos 41 ANEXO A International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery http://www.ijoms.com/content/authorinfo http://www.ijoms.com/content/authorinfo 42 ANEXO B - Prontuários 43 44 45 ANEXO C - Comitê de Ética em Pesquisa