JULIANA VENANCIO ANÇANELLO SUBSÍDIOS DO DIGCOMP E DO MIL PARA O COMBATE À DESINFORMAÇÃO E ÀS FAKE NEWS MARÍLIA 2023 JULIANA VENANCIO ANÇANELLO SUBSÍDIOS DO DIGCOMP E DO MIL PARA O COMBATE À DESINFORMAÇÃO E ÀS FAKE NEWS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação. Área de concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento. Orientadora: Profa. Dra. Helen de Castro Silva Casarin MARÍLIA 2023 A538s Ançanello, Juliana Venancio Subsídios do DigComp e do MIL para o combate à desinformação e às fake news / Juliana Venancio Ançanello. -- Marília, 2023 127 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília Orientadora: Helen de Castro Silva Casarin 1. Fake news. 2. Desinformação. 3. Competência Digital. 4. Competência Midiática e Informacional. 5. Competência em Informação. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. Impacto potencial desta pesquisa O impacto potencial desta pesquisa para a sociedade em âmbito sociocultural e científico pode ser relacionado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 e 10. Referente ao ODS 4 – “Educação de Qualidade”; espera-se contribuir com a meta 4.7: “Até 2030, garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis, direitos humanos, igualdade de gênero, promoção de uma cultura de paz e não violência, cidadania global e valorização da diversidade cultural e da contribuição da cultura para o desenvolvimento sustentável”. O ODS 10 – “Redução das Desigualdades”, meta 10.2: “Empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra”. De modo geral, espera-se que a presente dissertação contribua para o desenvolvimento de novas competências adequadas à conjuntura atual para que o uso das TDIC seja fundamentado em conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas à criticidade e que pondere a explosão de informações falsas. Além disso, esta pesquisa busca contribuir com a Ciência da Informação e com a linha de pesquisa Produção e Organização da Informação, do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Unesp de Marília, ao propor novas abordagens de Mosaico de Competências e a análise dos documentos DigComp e MIL em conjunto para adaptá-los à realidade brasileira. Potential impact of this research The potential impact of this research on society in the sociocultural and scientific scope can be related to Sustainable Development Goals (SDG) 4 and 10. Referring to SDG 4 – “Quality Education”; it is expected to contribute to target 4.7: “By 2030, ensure that all students acquire the knowledge and skills necessary to promote sustainable development, including, inter alia, through education for sustainable development and sustainable lifestyles, human rights , gender equality, promotion of a culture of peace and non-violence, global citizenship and appreciation of cultural diversity and the contribution of culture to sustainable development”. SDG 10 – “Reducing Inequalities”, target 10.2: “Empower and promote the social, economic and political inclusion of all, regardless of age, gender, disability, race, ethnicity, origin, religion, economic or other status”. In general, it is expected that this dissertation will contribute to the development of new skills appropriate to the current situation so that the use of DICT is based on knowledge, skills and attitudes aimed at criticality and that ponders the explosion of false information. In addition, this research seeks to contribute to Information Science and to the line of research Production and Information Organization, of the Postgraduate Program in Information Science (PPGCI) of Unesp - Marília, by proposing new approaches of Multiliteracies Mosaic and the analysis of the DigComp and MIL documents together to adapt them to the Brazilian reality. JULIANA VENANCIO ANÇANELLO SUBSÍDIOS DO DIGCOMP E DO MIL PARA O COMBATE À DESINFORMAÇÃO E ÀS FAKE NEWS Dissertação apresentada ao programa Ciência da informação, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação, da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento. Linha de Pesquisa: Produção e Organização da Informação. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Orientadora: Dra. Helen de Castro Silva Casarin Universidade Estadual Paulista (UNESP). ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Adriana Rosecler Alcará Universidade Estadual de Londrina (UEL). ___________________________________________________________________ Prof. Dra. Ariadne Chloe Mary Furnival Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Marília, 31 de março de 2023. Para minha avó Isaura (in memorian), a pessoa que me fez gostar de ler, mesmo não tendo a oportunidade de estudar. Uma mulher à frente de seu tempo por respeitar quem quer que fosse e ser bondade, amor e força em meio a uma sociedade cruel e insensível. Vó, você me inspira a buscar um mundo mais justo e mais bonito para todas, todos e todes. AGRADECIMENTOS A gratidão é um dos sentimentos mais bonitos e por mais que eu pudesse escrever incontáveis páginas em agradecimento a realização de um sonho que não é só meu, ainda não seria suficiente. Gostaria de agradecer primeiramente ao meu pai, Julio Cezar Ançanello, por sempre acreditar nos meus sonhos e me apoiar incondicionalmente. Aos meus avós (in memoriam), Isaura Furlaneto Ançanello e Durvalino Ançanello, que infelizmente não estão presentes neste momento tão feliz da minha vida, mas que estarão para sempre no meu coração. Aos meus tios, Vanderlei Ançanello e Maria Ângela Ribeiro, principalmente pelos conselhos durante a reta final do mestrado. Agradeço imensamente ao meu companheiro, Gustavo Bárrios, por me incentivar a me candidatar ao processo seletivo, por ser um ombro amigo que pude chorar durante esses dois anos e por ser a pessoa que revisou meus gráficos e as porcentagens (que sempre me deixam aflita). É incrível saber que vou envelhecer e evoluir ao seu lado. Às amizades antigas Beatriz Rosa Pinheiro, Ricardo Osawa, Eliabner Grespi, Lucas da Silva, Juliana Moretti, Lucilene Messias, Roberta Praxedes e Arthur Lancelotte sou grata por todo o incentivo e pelas risadas compartilhadas que tornaram meus dias mais leves. Agradeço também às novas amizades, que nem imaginei que faria dado o ensino remoto. Agradecimento especial às amigas Sônia Matos Moutinho, Jéssyca Santos, Simone Ulian e Valdirene Pascoal. Fico imensamente feliz de ver mulheres incríveis fazendo Ciência e por ter partilhado conversas, reflexões, risadas, desesperos e, sobretudo, pelo apoio de vocês. Agradeço imensamente à minha orientadora Profa. Dra. Helen de Castro Silva Casarin, por toda a paciência, orientação e dedicação. Gratidão à Profa. Dra. Adriana Rosecler Alcará e à Profa. Dra. Ariadne Chloe Mary Furnival pelas contribuições feitas no Exame de qualificação. E, novamente, pelo aceite em participar da Banca Examinadora. Agradeço aos professores e funcionários da FFC, por todo o acolhimento e aprendizagem. Agradeço ao Grupo de Pesquisa “Comportamento e competência informacionais” pelas trocas e discussões durante as reuniões. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Gratidão imensa às pessoas que lutam pela Ciência! O meu sonho fundamental é pela liberdade que me estimula a brigar pela justiça, pelo respeito do outro, respeito à diferença, ao direito que o outro tem de ser ele ou ela mesma. Quer dizer, o meu sonho é que inventemos uma sociedade menos feia do que a nossa de hoje. Menos injusta. (Paulo Freire) RESUMO O ciberespaço ressignificou os processos informacionais, transformando o cidadão em produtor e consumidor da informação, além de ser propício à falta de confiabilidade e à manipulação da informação. O uso das redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas vêm sendo instrumentalizados para revigorar desinformação e fake news. Estes fenômenos, que não são recentes, mas ganharam os holofotes desde 2016, atacam os pilares fundamentais da Democracia. Esta conjuntura revela uma problemática relevante à Ciência da Informação e aos profissionais da área. Destacam-se os esforços da Competência em Informação, Competência Digital e Competência Midiática e Informacional para o enfrentamento da desinformação e das fake news que propiciam o desenvolvimento de competências voltadas ao cunho analítico e reflexivo sobre as informações disponibilizadas no ciberespaço, indo além do mero domínio tecnológico. Teve como objetivo principal investigar quais são as diretrizes propostas pelos documentos Digital Competence Framework for Citizens e Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely para preparar os indivíduos contra a desinformação e as fake news. Realizou-se o mapeamento sistemático da literatura entre 2018 - 2022 a fim de proporcionar um panorama geral das áreas temáticas Competência Digital e Competência Midiática e Informacional relacionadas ao combate de fake news e desinformação. Dentre os resultados obtidos, foram selecionados 39 artigos pertinentes. Verificou-se que houve um aumento significativo de publicações no período analisado e que os principais enfoques temáticos das publicações que relacionam a Competência Digital com a desinformação e às fake news são: as transformações político-sociais, a democracia e o contexto educacional. Os principais enfoques dos artigos que abordam a Competência Midiática e Informacional relacionada à desinformação e fake news são: contexto educacional, fact checking e a atuação dos profissionais da informação. Aplicou-se a Análise de Conteúdo, especificamente a análise categorial aos documentos: Digital Competence Framework for Citizens e Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely. Foram criadas seis categorias a posteriori com 14 inferências, baseadas na observação de pontos relevantes identificados no referencial teórico e na leitura completa dos documentos analisados. As categorias definidas para análise são: conceitos-chave; avaliação da informação; habilidades, conhecimentos e atitudes; aspectos de manipulação; bots e Inteligência Artificial e empoderamento. O Digital Competence Framework for Citizens apresenta seis das 14 inferências e o Media and Information Literate Citizens 12 inferências. Evidencia-se que o primeiro framework é mais voltado à tecnologia e tem mais diretrizes voltadas ao entendimento de questões relacionadas à Inteligência Artificial, enquanto o segundo framework apresenta diretrizes mais focadas na manutenção dos Direitos Humanos e da cidadania global. Conclui-se que os documentos são complementares e oferecem um conjunto de referenciais conceituais, pedagógicos e de estratégia-ação que oferecem elementos norteadores para ações de preparação dos indivíduos para lidarem com a desinformação e fake news, embora o segundo framework abranja mais inferências. É imprescindível que profissionais da informação sejam proativos em relação aos fenômenos, além de conhecer, analisar e criticar os referenciais disponíveis para que desenvolvam estratégias fundamentadas na integração de diferentes competências a fim de preparar os sujeitos para ciberespaço. Palavras-chave: Fake news. Desinformação. Competência Digital. Competência Midiática e Informacional. Competência em Informação. ABSTRACT Cyberspace has given a new meaning to informational processes, transforming citizens into producers and consumers of information, and it is a space conducive to unreliability and manipulation of information. The use of social media and instant messaging applications has been instrumentalized to reinvigorate disinformation and fake news. These phenomena, which are not recent but have gained the spotlight since 2016, attack the fundamental pillars of Democracy. This conjuncture reveals a problem relevant to Information Science and professionals in the area. The efforts of Information Literacy, Digital Literacy and Media and Informational Literacy stand out to face disinformation and fake news that favor the development of competences focused on the analytical and reflective nature of the information made available in cyberspace, going beyond the mere technological domain. Its main objective was to investigate the guidelines proposed by the documents Digital Competence Framework for Citizens and Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely to prepare individuals against disinformation and fake news. A systematic mapping of the literature between 2018 - 2022 was conducted to provide an overview of the thematic areas Digital Literacy and Media and Information Literacy related to the fight against fake news and disinformation. Among the results obtained, 39 relevant articles were selected. It was found that there was a significant increase in publications in the analyzed period and that the main thematic focuses of publications that relate Digital Literacy with disinformation and fake news are: political and social transformations, democracy, and the educational context. The main focuses of the articles that address Media and Information Literacy related to disinformation and fake news are: educational context, fact checking and the performance of information professionals. Content Analysis was applied, specifically categorical analysis to the documents: Digital Competence Framework for Citizens and Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely. Six categories were created a posteriori with 14 inferences, based on the observation of relevant points identified in the theoretical framework and on the complete reading of the analyzed documents. The Digital Competence Framework for Citizens presents six of the 14 inferences and the Media and Information Literate Citizens 12 inferences. It is evident that the first framework is more focused on technology and has more guidelines aimed at understanding issues related to Artificial Intelligence, while the second framework presents guidelines more focused on the maintenance of Human Rights and global citizenship. It is concluded that the documents are complementary and offer a set of conceptual, pedagogical, and strategy-action references that offer guiding elements for actions to prepare individuals to deal with misinformation and fake news, although the second framework encompasses more inferences. It is imperative that information professionals are initiative-taking in relation to phenomena, in addition to knowing, analyzing, and criticizing the references available so that they can develop strategies based on the integration of different skills to prepare individuals for cyberspace. Keywords: Fake news. Disinformation. Digital Literacy. Media and Information Literacy. Information Literacy. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - COMPILADO DE ALGUNS EXEMPLOS DE FAKE NEWS VERIFICADAS PELA AGÊNCIA LUPA (JANEIRO DE 2023) .............................................................................................. 35 FIGURA 2 - COMPILADO DE ALGUNS EXEMPLOS DE FAKE NEWS VERIFICADAS PELA AGÊNCIA LUPA (2022) ............................................................................................................... 36 FIGURA 3 - COMPILADO DE ALGUNS EXEMPLOS DE FAKE NEWS VERIFICADAS PELA AGÊNCIA LUPA (2021) ............................................................................................................... 38 FIGURA 4 - MODELO DE REFERÊNCIAS CONCEITUAL DIGCOMP 2.2 ................................... 55 FIGURA 5 - ÁREAS DE COMPETÊNCIA DIGCOMP ............................................................. 56 FIGURA 6 - EXEMPLO DIMENSÕES E NÍVEIS DE PROFICIÊNCIA DIGCOMP 2.2 .................... 57 FIGURA 7 - CINCO LEIS DA COMPETÊNCIA MIDIÁTICA E INFORMACIONAL ........................... 61 FIGURA 8 - ECOLOGIA DA COMPETÊNCIA MIDIÁTICA E INFORMACIONAL ............................ 62 FIGURA 9 - ELEMENTOS CHAVE DA COMPETÊNCIA MIDIÁTICA E INFORMACIONAL MIL 2021 63 FIGURA 10 - CAPA DIGCOMP ........................................................................................ 68 FIGURA 11 - CAPA MIL ................................................................................................ 70 FIGURA 12 - EXEMPLO DE USO DO RECURSO TACHADO NA EXPRESSÃO “FAKE NEWS" NO MIL .................................................................................................................................. 83 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331867 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331867 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331868 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331868 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331869 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331869 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331873 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331875 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331876 file:///C:/Users/55359/Desktop/Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc133331877 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - USUÁRIOS BRASILEIROS DE INTERNET POR FAIXA ETÁRIA 2021 ..................... 42 GRÁFICO 2 - USUÁRIOS DE INTERNET, POR ATIVIDADES MULTIMÍDIA REALIZADAS ONLINE (2019, 2021) .............................................................................................................. 43 GRÁFICO 3 - NÚMERO DE PUBLICAÇÕES DE CD E CMI COM ENFOQUE EM FAKE NEWS E DESINFORMAÇÃO ENTRE 2018 E 2022. .......................................................................... 75 GRÁFICO 4 - QUANTIDADE DE ARTIGOS POR ENFOQUE TEMÁTICO - CD ............................. 76 GRÁFICO 5 - QUANTIDADE DE ARTIGOS POR ENFOQUE TEMÁTICO - CMI ........................... 79 file:///C:/Users/55359/Desktop/08.05%20Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc134698478 file:///C:/Users/55359/Desktop/08.05%20Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc134698479 file:///C:/Users/55359/Desktop/08.05%20Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc134698479 file:///C:/Users/55359/Desktop/08.05%20Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc134698480 file:///C:/Users/55359/Desktop/08.05%20Dissertação.%20pós%20defesa%20-%20alterações.docx%23_Toc134698480 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - TIPOS DE DESINFORMAÇÃO ........................................................................ 26 QUADRO 2 - CAUSAS DA DESINFORMAÇÃO .................................................................... 27 QUADRO 3 - PROTOCOLO DE MAPEAMENTO SISTEMÁTICO DE LITERATURA ....................... 66 QUADRO 4 - UNIDADES DE REGISTRO PARA ANALISE DIGCOMP E MIL: ANÁLISE INICIAL ..... 72 QUADRO 5 - CATEGORIAS DE ANÁLISE E RESPECTIVAS INFERÊNCIAS ................................ 73 QUADRO 6 – EXEMPLO: QUADROS SÍNTESE DE CATEGORIAS DE ANÁLISE. ....................... 74 QUADRO 7 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA CATEGORIA 1: CONCEITOS CHAVE ........................... 82 QUADRO 8 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA CATEGORIA 2: AVALIAÇÃO DA INFORMAÇÃO .............. 84 QUADRO 9 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA CATEGORIA 3: HABILIDADES, CONHECIMENTOS E ATITUDES ............................................................................................................. 86 QUADRO 10 - APONTAMENTOS DO DIGCOMP PARA O COMBATE À DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS ................................................................................................................... 87 QUADRO 11 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA CATEGORIA 4: ASPECTOS DE MANIPULAÇÃO ........... 89 QUADRO 12 - DIRETRIZES QUE RELACIONAM EMOÇÕES NEGATIVAS A GANHOS FINANCEIROS ATRAVÉS DE CLIQUES - MIL ................................................................................... 90 QUADRO 13 - DIRETRIZES RELACIONADAS A VERIFICAR DISCURSO DE ÓDIO E PRECONCEITO - MIL ..................................................................................................................... 92 QUADRO 14 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA CATEGORIA 5: BOTS E IA ...................................... 94 QUADRO 15 - DIRETRIZES VOLTADAS AO ENTENDIMENTO À INFLUÊNCIA DA IA NA DISSEMINAÇÃO DE FAKE NEWS E DESINFORMAÇÃO NO DIGCOMP .............................. 95 QUADRO 16 - DIRETRIZES VOLTADAS AO ENTENDIMENTO À INFLUÊNCIA DA IA NA DISSEMINAÇÃO DE FAKE NEWS E DESINFORMAÇÃO NO MIL ....................................... 98 QUADRO 17 - SÍNTESE DA ANÁLISE DA CATEGORIA 6: EMPODERAMENTO ........................ 100 QUADRO 18 - SÍNTESE DA ANÁLISE DIGCOMP E MIL ..................................................... 102 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC Análise de Conteúdo ACRL Association of College and Research Libraries AL Agência Lupa ALA American Library Association AM Alfabetização Midiática BRAPCI Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação CD Competência Digital CE Comissão Europeia CI Ciência da Informação CL Computer Literacy CMI Competência Midiática e Informacional CoInfo Competência em Informação DigComp Digital Competence Framework for Citizens IA Inteligência Artificial IFCN International Fact-Checking Network IFLA International Federation of Library Associations and Institutions IL Information Literacy JRC Joint Research Centre MIL Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra OAB Ordem dos Advogados do Brasil OMS Organização Mundial de Saúde PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência TDIC Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura WoS Web of Science SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 15 1.1 OBJETIVOS .............................................................................................. 21 1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................... 22 2 O OBJETIVO É ENGANAR: DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS ........ 23 2.1 DESINFORMAÇÃO..................................................................................... 23 2.2 FAKE NEWS ............................................................................................. 28 2.2.1. Exemplos de Fake News no contexto brasileiro ............................ 33 3 MOSAICO DE COMPETÊNCIAS ............................................................ 44 3.1 COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO ............................................................... 44 3.2 COMPETÊNCIA DIGITAL ............................................................................ 51 3.3 COMPETÊNCIA MIDIÁTICA E INFORMACIONAL ............................................. 57 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................ 65 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................... 65 4.2 PROCEDIMENTOS PARA O MAPEAMENTO SISTEMÁTICO DE LITERATURA ....... 66 4.3 PROCEDIMENTOS DA ANÁLISE DOCUMENTAL .............................................. 68 4.4 TRATAMENTO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ..................... 71 5 MAPEAMENTO SISTEMÁTICO DE LITERATURA ............................... 75 5.1 COMPETÊNCIA DIGITAL, DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS E DESINFORMAÇÃO75 5.2 COMPETÊNCIA MIDIÁTICA E DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS ........................ 78 6 ANÁLISES DOS REFERENCIAIS DIGCOMP E MIL ............................. 82 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 106 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 110 15 1 INTRODUÇÃO O uso de dispositivos tecnológicos tem impactado todas as áreas da sociedade. As particularidades do ambiente Web, bem como o desenvolvimento de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), somado ao crescente uso das redes sociais e apps de mensagens instantâneas acompanham transformações em que o indivíduo assume o papel de consumidor e de produtor da informação (FURNIVAL; SANTOS, 2019), simultaneamente. Esse ambiente virtual, o ciberespaço, marcado pelo conteúdo infinito e pela conexão permanente que, para além do excesso informacional, é propício para falta de confiabilidade da informação e manipulação. Relatórios como o “Digital in 2023 - Brazil” (DATAREPORTAL, 2023) e “TIC Domicílios 2021” (CETICBR, 2022) descrevem a população brasileira como altamente conectada à Internet, TDIC, redes sociais e apps de mensagem instantânea. Mesmo que o acesso seja desigual, principalmente quanto à classe social e localização dos indivíduos, foi apontado que em janeiro de 2023 o número de usuários de Internet no país atingiu a marca de 181.8 milhões de pessoas, isto é, 84.3% da população e, em contrapartida, 33.97 milhões (15,7%) permaneceu à margem do acesso ao ciberespaço (DATAREPORTAL, 2023). Em janeiro de 2022, a quantidade de usuários de Internet no Brasil era de 165,3 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 77% da população; houve um aumento de 9,9%, que corresponde a 16,5 milhões de novos usuários nesse curto período (DATAREPORTAL, 2023). Até janeiro de 2023, o número de brasileiros nas redes sociais no país era de 152,4 milhões de pessoas; 116 milhões de usuários no Facebook, 142 milhões de usuários no YouTube, 113,5 milhões no Instagram, 108,4 milhões no Whatsapp, Tiktok com 82,21 milhões, LinkedIn com 59 milhões de usuários e Twitter, 24.3 milhões (DATAREPORTAL, 2023). Ainda segundo o relatório “Digital in 2023 – Brazil” (DATAREPORTAL, 2023), a principal razão pela qual usuários entre 16 e 64 anos usaram a internet foi a busca por informação (77,6%). O “TIC Domicílios 2021” (CETICBR, 2022) aponta que 81% da população brasileira com idade igual ou maior a 10 anos usa a Internet, ou seja, cerca de 148 milhões de indivíduos, à época da coleta de dados da referida pesquisa. Os resultados do estudo também evidenciaram que pela primeira vez a saúde pública foi a categoria de serviço público mais buscada e que 50% dos pesquisados afirmou ter usado a Internet para procurar informações sobre saúde ou serviços relacionados 16 à saúde (CETICBR, 2022). Constatou-se ainda que as atividades de comunicação utilizando a Internet, TDIC e redes sociais era alta: 93% dos usuários trocaram mensagens instantâneas e 81% fizeram uso de redes sociais (CETICBR, 2022). O uso do Twitter, por exemplo, tem servido como estratégia de comunicação de diferentes governos. Segundo Macagno (2022), os tweets de chefes de Estado podem ser usados para definir uma linguagem e cultura política que é exclusiva e excludente. Assim, são criadas narrativas de desinformação vinculadas a um determinado posicionamento político-ideológico (CARVALHO; CASTRO; SCHNEIDER, 2021). Fake news e desinformação, ainda que não sejam fenômenos recentes (FALLIS, 2015), ganharam os holofotes desde meados de 2016 e vêm sendo ressignificados, além de impactarem a sociedade a partir do excesso informacional. Santos-D’Amorim e Miranda (2021) salientam que a desinformação e suas derivações ocorrem a partir da intenção de enganar, de fomentar crenças falsas propositalmente. Evidencia-se que é preciso investigar os aspectos multifacetados dos níveis e dos tipos em que o fenômeno se apresenta para que se possa de fato compreendê-lo, além de inferir que suas possíveis motivações abrangem aspectos financeiros, políticos, sociais e/ou psicológicos (HELLER; JACOBI; BORGES, 2021). Atributos intencionalmente falsos, enganosos e sem compromisso com informações factuais são característicos das fake news, somados à mimetização do texto jornalístico (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017; LAZER et al., 2018). Tensões sociais pré-existentes e estereótipos negativos sobre grupos marginalizados e minorizados são instrumentalizados para gerar o pânico moral (THOMPSON, 2014) criando uma ameaça performática aos valores e interesses “tradicionais” de uma dada sociedade (COHEN, 1972). A falta de confiabilidade das informações disseminadas na Internet, principalmente pelas redes sociais e apps de mensagem instantânea, revela a problemática desses ambientes; dado que permitem a circulação de desinformação e fake news numa escalabilidade nunca vista, causando assim, dificuldade e confusão nos indivíduos, pois informação factual e não factual são parte desse ambiente em uma conjuntura de superabundância informacional. As fake news são parte do cotidiano, assumindo um papel ameaçador já que são instrumentos de manipulação, resultando na desinformação como uma forma de ataques à democracia contra seus pilares fundamentais de cidadania, igualdade, 17 liberdade e a legitimidade em lutar e exigir direitos (CHAUÍ, 2012). O que influencia as relações em sociedade, em nível individual e coletivo, já que as esferas política, econômica e social assumem também uma dimensão informacional. As redes sociais ganharam status de fontes de informação mesmo que tenham confiabilidade questionável (TOMAÉL; ALCARÁ; SILVA, 2021). A decisão política do Reino Unido de sair da União Europeia, apelidada de Brexit (de Britain e Exit)1, e a eleição de Donald Trump2 para presidente dos Estados Unidos da América são eventos simbólicos do poder da desinformação e das fake news. É possível ilustrar a influência desses fenômenos no Brasil, a partir do posicionamento político-ideológico contrário às medidas de combate à Covid-19 propostas e defendidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por parte do ex-presidente, Jair Bolsonaro, e seus apoiadores3; bem como os atentados terroristas de 08 de janeiro de 2023, em que uma horda de apoiadores do ex-presidente invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes, em Brasília-DF, como forma de retaliação pela não reeleição do ex- mandatário através do sistema de votação de urnas eletrônicas no país4. Ambos os fenômenos são instrumentos significativos de manipulação já que induzem que os processos de tomada de decisão, formação de opinião e construção de conhecimento sejam baseados em emoções, crenças pessoais e preconceitos, ao invés de informações factuais. Nessa conjuntura de conexão permanente em que o compartilhamento de informação é ininterrupto e frenético, recai uma problemática relevante para CI, ao evidenciar novas demandas e desafios para pesquisadores. Observa-se que há uma dinâmica que favorece a desinformação e viabiliza a criação de armadilhas informacionais (GERONIMO; CUEVAS CERVERÓ; OLIVEIRA, 2022), portanto é fundamental que os indivíduos possuam habilidades de avaliar tanto as fontes, quanto 1 “[...] O referendo do Brexit em junho de 2016 inaugurou a era das fake news e foi realizado em meio a um desencanto geral da população com seu sistema político, após anos de austeridade imposta pela crise financeira.” (MIGUEL, 2020, não paginado). 2 “Trump é o principal expoente da política da “pós-verdade” – uma confiança em afirmações que “parecem verdadeiras”, mas não têm base em fatos. Sua ousadia não é punida, mas foi tomada como prova de sua disposição de enfrentar o poder da elite” (THE ECONOMIST, 2016, não paginado). 3 “O presidente Jair Bolsonaro usou parte considerável de sua transmissão ao vivo nas redes sociais nesta quinta-feira 6 para, mais uma vez, desestimular a vacinação de crianças contra a Covid-19. Ele também elevou o tom dos ataques contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que avalizou a imunização dessa faixa etária.” (CARTA CAPITAL, 2022, não paginado). 4 Extremistas bolsonaristas vandalizaram as sedes dos Três Poderes em Brasília. “‘Festa da Selma’ foi o código usado por grupos golpistas em trocas de mensagens, na conspiração para tomar o poder” (FANTASTICO, 2023, não paginado). 18 as informações. Logo, discussões acerca dos conceitos de Competência em Informação, Competência Digital e Competência Midiática e Informacional tornam-se relevantes nesse contexto, dado que as TDIC, redes sociais e apps de mensagem instantânea redefiniram e alteram como os indivíduos lidam com a informação. Na área da Ciência da Informação (CI), tradicionalmente destacam-se os esforços da Competência em Informação (CoInfo) para a construção de um arcabouço teórico e de ação para o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e atitudes direcionados à identificação de necessidades informacionais, à busca, avaliação e uso pautados na qualidade e veracidade da informação e de suas fontes, ao passo que também atenta a seus aspectos éticos, legais e econômicos da informação. Aponta- se que as mudanças proporcionadas pela Web, TDIC e redes sociais relacionadas principalmente ao acesso à informação demonstram a relevância da CoInfo (DUDZIAK, 2003; BELLUZZO, 2021). Entretanto, também é possível constatar que conceitos de informação abarcadas por muitas definições da CoInfo não abrangem um ponto crucial dos suportes informacionais: sua essência dinâmica (MURAWSKI et al., 2019; SHABANI; KESHAVARZ, 2021). Por conseguinte, apontam-se convergências entre a Competência em Informação, a Competência Digital (CD) e a Competência Midiática e Informacional (CMI), devido à expansão do entendimento de competência para além da capacidade de interação com meios tecnológicos, digitais, midiáticos e informacionais, especialmente quanto ao fomento do cunho analítico para a reflexão quanto às informações disponibilizadas pela Web, redes sociais e TDIC. Há o enfoque na CD e CMI posto que as competências incorporam elementos que desenvolvem a criticidade direcionada à informação, mídia e tecnologias digitais. Em síntese, pode-se compreender Competência Digital como o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionadas ao domínio tecnológico (SILVA; BEHAR, 2019) e a Competência em Mídia e Informação, relaciona habilidades, conhecimentos e atitudes acerca do universo midiático (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 2020). Assim, entende-se que tanto a CoInfo quanto a CD e CMI podem desempenhar um papel significativo no combate à desinformação e fake news. Diante dos fenômenos, pretende-se investigar quais elementos dos documentos Digital Competence Framework for Citizens (DigComp) (VUORIKARI; KLUZER; PUNIE, 2022) e Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely (MIL) (GRIZZLE et al., 2021) são voltados para o enfrentamento da 19 desinformação e das fake news. Ambos os referenciais resultam dos esforços sistemáticos, por parte da Comissão Europeia (DigComp) e da Unesco (MIL), para o desenvolvimento de políticas e estratégias relacionadas à promoção da educação e aprendizagem ao longo da vida voltadas à compreensão analítica de fenômenos informacionais quanto às mídias e dispositivos digitais, compreendidos como requisitos fundamentais para o cidadão no século XXI. A escolha dos documentos é justificada pelo histórico de pesquisas e promoção de Competência Digital pela Comissão Europeia e de Competência Midiática e Informacional pela UNESCO, esforços coletivos que resultaram no DigComp e Mil, respectivamente. O Projeto DigComp, iniciado em 2010, apresentou sua primeira publicação em 2014 e sua versão atualizada é a de 2022, DigComp 2.2: The Digital Competence Framework for Citizens - With new examples of knowledge, skills and attitudes (VUORIKARI; KLUZER; PUNIE, 2022). A União Europeia (UE) desenvolve pesquisas voltadas ao melhor uso das TDIC para cidadania, educação e desenvolvimento de competências necessárias ao século XXI. Há uma abordagem direcionada a novos requisitos de competências (por exemplo, competência digital) desde 2005. Tecnologias emergentes, desinformação e fake news são apontadas como os principais fatores para a atualização do documento. Salienta-se que o DigComp é um elemento essencial para o planejamento de qualificação digital da população europeia e para o desenvolvimento de um Certificado Europeu de Competências Digitais (VUORIKARI; KLUZER; PUNIE, 2022). O MIL teve sua primeira publicação em 2011 e é fruto da estratégia da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) de disseminar a Competência Midiática e Informacional como fundamental para os cidadãos do século XXI (GRIZZLE et al., 2021). O documento aborda questões referentes a competências em informação, midiática e digital. A versão mais recente, publicada em 2021, conta com atualizações pertinentes a desinformação e fake news, Inteligência Artificial e aumento do discurso de ódio online. Há uma relação direta com as implicações resultantes da infodemia5, que demonstrou o papel da informação factual como primordial à manutenção da democracia (GRIZZLE et al., 2021). 5 Corresponde à superabundância de informações que ocorre durante uma epidemia. O uso inicial do termo foi em 2003, ao traçar um paralelo entre como a informação (factual ou não) se espalha entre as pessoas de modo semelhante a uma epidemia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021). 20 Espera-se que a análise destes referenciais possa servir de subsídio aos profissionais da informação, especialmente bibliotecários, que também devem ter um posicionamento em relação à circulação de informações no ciberespaço. Exigindo, assim, novas estratégias, posto que ambos os fenômenos, desinformação e fake news, podem e são utilizados para a manipulação ao induzir o cidadão a perder a razão, a lógica e a criticidade (ARAÚJO, 2021). Dada a gravidade das consequências que as fakes news e a desinformação geraram, geram e podem gerar, busca-se, através da análise de dois documentos publicados por fóruns oficiais e mundialmente respeitados, a saber o “Digital Competence Framework for Citizens” (VUORIKARI; KLUZER; PUNIE, 2022) pela CE, e o “Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely” (GRIZZLE et al., 2021) pela UNESCO, verificar se as diretrizes propostas pelos documentos são eficazes para o combate à desinformação e as fake news, visto que ambos se propõem a fomentar a criticidade do cidadão em relação à informação, mídia e dispositivos tecnológicos. Dessarte, apresentam-se os questionamentos: as diretrizes propostas pelos documentos selecionados contemplam como a problemática da desinformação e fake news ocorre no ciberespaço? Tais instrumentos podem ser adaptados e utilizados no contexto brasileiro de desinformação enquanto instrumento de combate à manipulação social? É possível propor recomendações fundamentadas nos documentos analisados que se enquadrem no contexto do Brasil? Acredita-se que a relevância deste trabalho consiste em contribuir para a discussão acerca das relações entre a Competência Digital e Competência Midiática e Informacional como necessárias ao fomento da avaliação, uso e apropriação da informação, dispositivos tecnológicos e mídias. O que no cenário de desinformação e fake news empregadas deliberadamente para atingir fins escusos e que, por muitas vezes, objetivam desmantelar a Democracia, disseminar ódio contra grupos minorizados e ferir Direitos Humanos, torna-se imprescindível trabalhar com esse Mosaico de Competências (MARZAL, 2020) a fim de garantir uma participação social legítima. A análise dos documentos, DigComp e MIL, pode servir de subsídio aos profissionais da informação, especialmente a pessoa bibliotecária, para auxiliar suas práticas voltadas ao combate à desinformação e fake news. Ambos os documentos ainda não possuem tradução em Português e o idioma pode ser uma barreira para a 21 leitura, análise, interpretação e adaptação dos documentos. Além disso, a análise comparativa a partir do contexto brasileiro pode beneficiar esses profissionais a compreender quais diretrizes podem ser mais bem aplicadas e adaptadas no contexto específico da unidade de informação em que atua e até mesmo como trabalhar essas diretrizes no ciberespaço, sem necessariamente se restringir ao espaço físico da unidade. Dado que o país apresenta dimensões continentais e que cada região, estado e até mesmo bairros de uma mesma cidade apresentam especificidades socioculturais. A análise comparativa das diretrizes dos documentos atrelada a um panorama ilustrativo das tensões sociais e do pânico moral (THOMPSON, 2014) já existentes no país dos últimos anos, podem auxiliar a pessoa bibliotecária em suas práticas. Sobretudo, quanto ao fomento à cidadania, respeito à diversidade e aos Direitos Humanos e na informação factual para a manutenção da Democracia. Dessa forma, justifica-se que a análise de ambos os documentos, com foco nas diretrizes acerca de fake news e desinformação, pode servir de subsídio para o desenvolvimento de novas competências adequadas à conjuntura atual para que o uso das TDIC, redes sociais e apps de mensagem instantânea sejam fundamentados em conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas à criticidade e que pondere a explosão de informações falsas. Vale ressaltar que o resultado desta pesquisa poderá também se constituir em material para novos estudos e iniciativas em prol da aprendizagem ao longo da vida, pertinente ao desenvolvimento das competências informacional, midiática e digital enquanto Mosaico de Competências e, também, no desenvolvimento de estudos dessas competências para o enfrentamento da desinformação e fake news. 1.1 Objetivos A presente pesquisa propõe os seguintes objetivos: 1.1.1 Objetivo Geral Verificar como os referenciais Digital Competence Framework for Citizens (Competência Digital) e Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely (Competência Midiática e Informacional) abordam o enfrentamento dos fenômenos das fake news e da desinformação. 22 1.1.2 Objetivos Específicos ° Realizar o Mapeamento Sistemático do panorama de pesquisas recentes que relacionam desinformação e fake news à Competência Digital e Competência Midiática e Informacional; ° Analisar as diretrizes dos documentos Digital Competence Framework for citizens (Competência Digital) e Media and Information Literate Citizens: think critically click wisely (Competência Midiática e Informacional) para o combate às fake news e desinformação; ° Comparar os documentos buscando evidenciar as convergências e divergências. 23 2 O OBJETIVO É ENGANAR: DESINFORMAÇÃO E FAKE NEWS Esta seção apresentará conceitos e abordagens teóricas acerca dos fenômenos de desinformação e fake news já que ambos estão relacionados, sendo até mesmo confundidos. Incluem-se aqui estudos sobre estratégias e mecanismos de manipulação das fake news. Serão abordadas as origens da desinformação e fake news, que precedem as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), redes sociais e apps de mensagem instantânea; diferentes definições e consequências político-sociais decorrentes desses fenômenos. Pretende-se apresentar uma sistematização das principais abordagens recorrentes sobre desinformação e fake news, que é resultado de uma revisão de literatura. 2.1 Desinformação A desinformação não é um fenômeno novo e a linha do tempo do uso de informações enganosas a serviço de disputas de poder começa muito antes da Web, TDIC e redes sociais. No Império Romano, 44 a. C., Octavio empreendeu uma campanha de propaganda (de informações falsas) contra Marco Antônio projetada especificamente para manchar sua reputação quando conheceu Cleópatra (POSETTI; MATTHEWS, 2018); sonetos afixados em estátuas na Itália tinham o propósito de influenciar escolhas de Papas Católicos; ilustrações, cantigas, poemas e sátiras desestabilizaram reinados franceses (DARNTON, 2017). E institucionalmente, a veiculação de informações manipuladas/falsas/fora de contexto sustentou ditaduras, guerras e discurso de ódio contra grupos minorizados muito antes da Internet. Boatos e mentiras sempre ocuparam um lugar de destaque na história da humanidade. À título de exemplo, pasquins e gazetas na Europa do século XVIII dependiam da produção de notícias falsas, semi falsas, descontextualizadas tanto quanto de informações verdadeiras ocasionais, mas que de alguma forma poderiam ser prejudiciais à reputação de alguém (DARNTON, 2017). No século seguinte, pode- se destacar a publicação do jornal New York Sun em 1835, intitulada “The Great Moon Hoax”, composta por seis artigos relatando a descoberta de vida (inexistente) na Lua; aponta-se também a influência exercida pela propaganda sobre a Guerra dos Bôeres (1899-1902) em que o estereótipo “boer” foi criado e popularizado pelo exército britânico para influenciar a opinião pública a apoiar o conflito (POSETTI; MATTHEWS, 2018). 24 A propaganda baseada em desinformação foi crucial nas disputas de poder do século XX. O apelo ao patriotismo e nacionalismo marcou o modus operandi do recrutamento dos soldados, que somado à propaganda britânica concentrou-se em demonizar os alemães inimigos durante a Primeira Guerra Mundial. Perto do fim do conflito, em 1917, os jornais The Times e The Daily Mail publicaram artigos que continham informações falsas sobre como o bloqueio naval britânico resultou na escassez de gordura na Alemanha e, em decorrência dessa falta, cadáveres de soldados alemães foram fervidos para obter gorduras, farinha de ossos e ração para animais de fazenda (POSETTI; MATTHEWS, 2018). A desinformação das publicações de 1917 surtiram o efeito reverso durante a Segunda Guerra Mundial, pois os primeiros relatos de atrocidades do Holocausto publicados no The Times e no The Daily Mail foram tidos como mentirosos, dado o histórico de informações falsas envolvendo a Alemanha no período da Primeira Guerra (POSETTI; MATTHEWS, 2018). Ainda que com a ascensão do nazismo, no período entre guerras, o governo alemão criou o Ministério do Esclarecimento Público e da Propaganda em 1933 por Joseph Goebbels, cujo objetivo era disseminar informação que instigasse ódio, principalmente, contra os judeus, mas também contra negros, ciganos, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIA+ (DARNTON, 2017; POSETTI; MATTHEWS, 2018). O eixo dos Aliados também fez uso da desinformação. A Inglaterra em busca de vencer conflitos e ampliar o seu território, empregou táticas fundamentadas em informação falsa, tanto contra o adversário, quanto manipulando a população britânica e países aliados (BRITO; PINHEIRO, 2015; BRISOLA; BEZERRA, 2018). Os Estados Unidos da América (EUA) reuniram instrumentos conceituais de desinformação com o desenvolvimento tecnológico alcançado no pós-guerra (BRITO; PINHEIRO, 2015). Durante a Guerra Fria, na então União Soviética (URSS), foi criado um setor dentro da Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti (KGB) especializado em dezinformatsiya (desinformação), pois a desinformação era vista como uma das mais poderosas armas na guerra. No século XX, o termo foi empregado e associado à contrainformação e espionagem em projetos militares e, posteriormente, estendeu-se para os meios de comunicação e para aparelhos privados e estatais (BRISOLA; BEZERRA, 2018). Inicialmente, as definições equiparavam o termo com falta de informação. A intencionalidade da desinformação era entendida como um “defeito” no processo 25 informacional, assim o que definia o fenômeno era a falta de objetividade, integridade ou clareza (FLORIDI, 1999). Ao longo das pesquisas acerca da temática, evidenciou- se a manipulação como uma característica da desinformação a partir de uma gama de habilidades técnicas para convencer determinado público em determinado contexto a duvidar da realidade, mecanismos que possibilitam que uma informação falsa assuma uma fachada crível e direcionados a influenciar a opinião pública a partir de falácias (BRETON, 1999). Novas facetas foram atribuídas para a compreensão da complexidade do fenômeno, como distorção (proposital ou não) da informação, informação imprecisa, informação descontextualizada, manipulada, distorcida ou fragmentos da verdade e, sobretudo informação que evoca uma forte reação emocional, com apelo a crenças pessoais levando à manipulação (SERRANO, 2010; HELLER; JACOBI; BORGES, 2020). Brito e Pinheiro (2015) indicam que o conceito de desinformação é composto por três elementos indissociáveis: a ação proposital de conduzir ao erro; a não identificação de autoria e o propósito de manipular a opinião pública a partir da distorção de fatos objetivos. Aponta-se ainda que é (geralmente) imperceptível e objetiva influenciar a partir de vieses formulados para dissimular uma informação como verdadeira (BRISOLA; BEZERRA, 2018). A desinformação é encarada como “[...] um instrumento de influência poderoso” (EUROPEAN COMISSION, 2018, p. 5, tradução nossa) já que há um intricamento entre fatores sociais, econômicos, tecnológicos, políticos e ideológicos que vêm resultando em danos à humanidade em geral. O indivíduo nesse contexto, deve estar mais do que atento, pois a desinformação é extremamente complexa, com ramificações de conteúdo total ou parcialmente, incluindo distorções e descontextualização de informações factuais (EUROPEAN COMISSION, 2018). A confiabilidade e qualidade nos processos informacionais, no contexto da desinformação, perdem espaço para um discurso que não se baseia em fatos, ao que Leite e Matos (2017) denominaram “zumbificação da informação”. Para os autores, é possível fazer uma analogia entre a generalização do consumo e disseminação de informação acrítica a uma epidemia zumbi, pois esse processo em que a informação falsa, distorcida ou descontextualizada é consumida e compartilhada sem que o indivíduo sequer perceba dá suporte para “[...] a infecção generalizada da desinformação na web” (LEITE; MATOS, 2017, não paginado). 26 Santos-D’Amorim e Miranda (2021) descrevem e analisam os termos informação incorreta (misinformation), desinformação (disinformation) e má informação (malinformation) destacando a dificuldade em se apresentar um consenso sobre a definição semântica dos conceitos, evidenciando inferências sobre os fenômenos da desinformação e suas derivações que ocorrem com intencionalidade deliberadamente enganosa. Autores como Floridi (2010) e Fallis (2015) já discutiam questões acerca de termos distintos que contemplassem também diferenças relacionadas à intencionalidade, em que disinformation corresponde ao ângulo do fenômeno que tem a intenção de enganar, ao passo que misinformation corresponde ao compartilhamento de informações não factuais sem que o indivíduo saiba que são falsas e sem o intuito de enganar. Heller, Jacobi e Borges (2021) destacam que é necessário observar a pluralidade de tipos e níveis de desinformação para que se possa de fato compreender o fenômeno. Os autores estabeleceram uma síntese de espécies de desinformação, conforme o Quadro 1. Quadro 1 - Tipos de desinformação Tipo Conceito Exemplos de conteúdo Wardle (2016) Sátira ou paródia Nenhuma intenção de prejudicar, mas tem potencial de enganar quem desconhece o contexto Memes Conexão falsa Quando manchetes, ilustrações ou legendas não confirmam o conteúdo Notícias Conteúdo enganoso Uso enganoso de informações para encaixar uma questão ou individuo Manchete tendenciosa Contexto falso Quando conteúdo genuíno é compartilhado com informação contextual falsa Junk news6 Conteúdo impostor Quando fontes genuínas são imitadas Artigo científico plagiado Contexto manipulado Quando a informação ou imagem genuína é manipulada para enganar Deep fake news Conteúdo fabricado Conteúdo novo, que é 100% falso, criado para ludibriar e prejudicar Fake news (notícias falsas) Volkoff (2015) Ocultação de informações Quando informações são ocultas em um conteúdo para torná-lo mais atrativo Alguns textos governamentais Sobrecarga informacional Informações excessivas com a intenção de saturar a atenção e, consequentemente, o sentido de determinado conteúdo Infodemia Pariser (2012) Falta de informação Quando não se procura pela informação porque não há interesse, ou porque não se sabe onde procurar ou sequer sabe-se da sua existência Bolha informacional Fonte: HELLER; JACOBI; BORGES (2021), p. 197. 6 “Notícias que se caracterizam por tirar o contexto de determinado assunto para dar outro sentido àquela notícia ou fato” (AIDAR; ALVES, 2019, p. 19 apud HELLER; JACOBI; BORGES, 2021, p. 197). 27 O Quadro 1 exemplifica como a desinformação assume características de informação incompleta, distorcida, falsa, manipulada, desatualizada ou descontextualizada. Na Web, TDIC e redes sociais há uma infinidade de informações que assumem os atributos apontados pelos autores. Evidencia-se também, a partir dos tipos de desinformação, há três principais motivações relacionadas ao fenômeno: financeira, política, social e psicológica (WARDLE; DERAKHSHAN apud HELLER; JACOBI; BORGES, 2021). Além disso, é possível sistematizar as causas da desinformação conforme o Quadro 2: Quadro 2 - Causas da Desinformação Causa Definição Excesso Informacional A infinidade de informações disponíveis na web faz com que os usuários sofram com a sobrecarga informacional, resultando na dificuldade em discernir o que é uma informação factual de uma informação manipulada. Falta de verificação da informação A crença de que não há necessidade em checar uma informação cria maiores condições de compartilhamento de desinformação. Contexto de guerra Empregada para atrasar, enganar ou confundir adversários em conflitos. Contexto político Utilizada para enaltecer o mandato de um governante e/ ou para desacreditar o adversário, manipulando e omitindo informações em favor de um mandatário. Formato de notícia de fácil disseminação Circulação de manchetes tendenciosas, que muitas vezes não têm relação com o conteúdo. Facilidade de compartilhamento nas redes sociais Somente o acesso à internet e a plataforma da rede social permite a publicação/compartilhamento sem o controle de qualidade. Curtidas que alavancam o alcance de um post A bolha informacional das mídias e redes sociais mostram ao usuário o que ele gostaria de ver ou trazem as novidades viralizadas do momento, mesmo que não sejam verdade. Falta de competências relacionadas à informação O sujeito não sabe como e onde procurar para determinar se a informação se trata de uma desinformação. Falta de acesso ao conteúdo completo Jornais eletrônicos que necessitam de assinatura para acesso integral à notícia, permitindo ao leitor apenas a leitura do título e manchete da reportagem, que por muitas vezes são sensacionalistas e tendenciosas. Fonte: Elaborado pela autora, com base em HELLER; JACOBI; BORGES (2021). Fallis (2015) descreve a desinformação como um tipo de informação, cujo principal escopo é a criação de falsas crenças propositalmente. Existem diferentes tipos de desinformação, que variam desde propaganda enganosa até teorias da conspiração, mas todas as categorias do fenômeno convergem pela sua função de enganar, e, “[...] além de causar danos diretamente, a desinformação pode prejudicar as pessoas indiretamente corroendo a confiança e, assim, inibindo nossa capacidade 28 de compartilhar informações de forma eficaz com um outro” (FALLIS, 2015, p.402.). O autor afirma também que esse objetivo é intermediário que serve a propósitos diversos, como influenciar eleições, por exemplo. Há autores que evidenciam como a desinformação na atualidade é uma das raízes de problemas sociais, pois compromete a capacidade analítica das pessoas (BELLUZZO, 2021). As pessoas enfrentam uma realidade em que é imprescindível identificar o que é ou não uma informação factual e, sobretudo, compreender que a desinformação existe justamente para enviesar e manipular a opinião pública nos mais diferentes aspectos que vão impactar diretamente em suas vidas. Logo, pode-se compreender que a desinformação apresenta proporções multifacetadas e utilizadas desde épocas longínquas. O fenômeno, apesar do destaque recente, é corriqueiro e que deriva da complexidade das ações humanas. 2.2 Fake news Intrínseca à desinformação, o termo fake news ganhou os holofotes em 2016, durante a eleição presidencial estadunidense, devido ao uso dos chamados “fatos alternativos” pelo do candidato eleito, Donald Trump, e sua equipe (ALBRIGHT, 2017) em detrimento de informações factuais em que a verdade não era minimamente relevante ao político. No Brasil, o fenômeno foi explicitado a partir das eleições presidenciais de 2018, com o ex-presidente Jair Bolsonaro; e têm se intensificado com a pandemia de Covid-19 e, novamente, com as eleições presidenciais de 2022. As fake news, por sua vez, podem ser compreendidas como “[…] informações fabricadas que imitam o formato de apresentação do conteúdo de mídias de notícia, mas não quanto ao processo de organização ou intenção” (LAZER et al., 2018, p.2, tradução nossa). Nos últimos anos, o termo tem sido destaque no âmbito do Jornalismo, concebido como postagens falsas e virais feitas para se parecer com reportagens reais (TANDOC JR; LIM; LING, 2018). São conteúdos que parecem notícias (ou trechos de notícias) mas que são apoiados em escândalos falsos, discurso de ódio, manchetes enviesadas que ao inflamar o sujeito resultam na falta de criticidade, na falta de atenção aos detalhes que podem desmentir aquele conteúdo, na falta de verificação da qualidade da informação e na criação de bolhas circunstanciais de “verdades absolutas” que desconsideram outras perspectivas e vivências (FURNIVAL; SANTOS, 2019). 29 Caracterizam-se como publicações e/ou informações intencionalmente falsas e que são deliberadamente criadas com o propósito de manipulação (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017). As etapas que garantem confiabilidade, precisão e qualidade da informação são intencionalmente ignoradas, mas como consequência da mimetização do formato de notícia jornalística, o sujeito é levado a associar as fakes news às notícias sérias e confiáveis (LAZER et.al, 2018). O termo fake news, mesmo que não seja novo (FALLIS, 2015), ganhou notoriedade e assumiu, também, novos significados bem como novas formas de impactar a sociedade a partir do excesso informacional. Mesmo que o costume de criar notícias falsas ou descontextualizadas intencionalmente seja antigo, a singularidade proporcionada pelas TDIC reside na escala de produção e na possibilidade de qualquer pessoa produzir uma fake news, o que caracteriza o ineditismo do fenômeno no século XXI (IFCJ, 2018). São os ambientes informacionais contemporâneos que tornam as fake news um fenômeno tão singular, as redes sociais são fundamentais para a divulgação de informações e disputam espaço com fontes tradicionais. A Web, TDIC e redes sociais em geral alteraram as definições e percepções tradicionais do que é uma notícia ou uma informação factual, “A mídia social não apenas mudou a distribuição de notícias, mas também desafiou as crenças tradicionais de como as notícias deveriam ser” (TANDOC JR; LIM; LING, 2018, p. 139) pois a produção de conteúdo nesses ambientes permite o alcance de público em massa e seus usuários podem postar vídeos, fotos e narrativas sobre qualquer assunto sem necessariamente estarem comprometidos com fatos, o que pode ser deliberadamente ignorado dependendo do viés daquele usuário. Há duas especificidades que são marcas das fake news: a forma que se assemelha ao texto jornalístico e a intencionalidade de manipular, fica evidente que são artigos de notícias deliberadamente falsos que a partir da redação semelhante a artigos de notícias podem enganar os leitores (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017). A disseminação de fake news conta ainda com o auxílio dos bots7, que visam influenciar os usuários para fins comerciais, políticos ou ideológicos (RUFFO et al., 2023). Segundo Mbona e Eloff (2022) o Twitter, por exemplo, conta com um alto 7 “Usuário de rede social controlado por um software que imita o comportamento humano; frequentemente usado uma ferramenta para spam, espalhando fake news.” (RUFFO et al., 2023). 30 número de bots e um aumento repentino no número de tweets, chamado de trending topics, geralmente contém inúmeras fake news compartilhadas inicialmente por bots. Ainda que não necessariamente todos os bots sejam projetados com o objetivo de persuadir, manipular ou enganar os usuários humanos, as plataformas das redes sociais deveriam considerar o poder de manipulação dos bots e mudar seus planos de negócios para proteger seus usuários humanos contra essas ações manipulativas (ARAL, 2020; RUFFO et al., 2023). Os bots, contudo, são apenas uma faceta da Inteligência Artificial (IA). Que em suma, é o uso da tecnologia e da ciência da computação para o desempenho de tarefas que demandam análises de padrão e comportamentos caracteristicamente atribuídos a seres humanos (PORTO, 2018; VALADARES, 2021). O grande impacto da IA no ciberespaço é, justamente, no que tange a disseminação de desinformação e fake news. Identifica-se que a técnica de perfilamento (profiling), a qual emprega técnicas de semântica e modelagens de IA para extrair sentido das interações dos usuários a partir de suas interações no ciberespaço a fim de traçar um perfil comportamental e de alinhamento ideológico para fins, sobretudo, comerciais o que fomenta a desordem informacional (VALADARES, 2021). Vale ressaltar que “[...] o sujeito fornece não ativamente esses dados, seja pelo simples uso de eletrodomésticos ou objetos smart, seja pela ação de cookies pelos sites que acessa.” (VALADARES, 2021, p.11), assim as pessoas fomentam a criação e ampliação de suas bolhas sociais (PARISER, 2011) sem nem ao menos terem consciência disso. As bolhas sociais são geradas a partir da orientação dos algoritmos de IA que decidem sobre o feed das redes sociais para aumentar o engajamento, ou seja, a permanência do usuário em interação com a rede pelo maior tempo possível (PARISER, 2011). Logo, a criação e manutenção dessas bolhas sustenta pensamentos, comportamentos e ideologias de determinados grupos. A Inteligência Artificial acentua a imersão dos indivíduos em bolhas informacionais restritivas (ARAÚJO, 2021). O grande volume informacional engloba tanto informações verdadeiras quanto falsas, o que parece sobrecarregar o sistema cognitivo das pessoas resultando na perda da principal função da informação: informar (LEITE; MATOS, 2017). As condições proporcionadas pelas TDIC, redes sociais e internet, são favoráveis tanto à desinformação quanto às fake news, apenas o aparato tecnológico 31 por si só não seria capaz de impactar a sociedade de tal forma. Logo, é fundamental contextualizar as construções que envolvem as práticas infocomunicacionais a partir da dimensão simbólica dos problemas sociais enquanto movimentos de sentido (ANGENOT, 2010). É possível identificar como as fake news retroalimentam e ampliam estereótipos, fomentando pânicos morais (THOMPSON, 2014). O conceito de pânico moral é cunhado na década de 70 e vinculado originalmente à área de criminologia, em que determinado grupo, condição social ou episódio passam a ser encarados como uma ameaça aos valores e interesses de uma dada sociedade (COHEN, 1972). Desencadeiam-se representações e percepções errôneas sobre grupos minorizados e/ou comportamentos culturais; assim, os estereótipos construídos nos meios informacionais também podem facilitar a promoção de um pânico moral à sociedade sobre um tema específico. Esses grupos são apontados como os agentes desse desarranjo social e devido a estereótipos previamente relacionados a eles, constrói-se uma imagem de não pertencimento que contrasta com o imaginário idealizado dos sujeitos tidos como “normais”, os fazem parte e respeitam as regras morais (MACHADO, 2004). As principais características do pânico moral são: um grupo ou evento é apontado como uma grande ameaça a valores e interesses vistos como tradicionais, tal ameaça é amplamente divulgada e toma conta de discussões no âmbito privado e coletivo, resultando em dois cenários: o pânico moral é dissipado ao longo do tempo ou acarreta mudanças político-sociais (THOMPSON, 2014). A combinação “pânico” e “moral” evoca uma ameaça ao que é entendido como sagrado para uma determinada sociedade. O uso da palavra moral revela um suposto perigo atrelado à ordem social em si mesma ou a uma concepção idealizada (ideológica) de alguma parte de tal ordem social. Sendo que, essa própria “ameaça” e seus executores passam a ser vistos como demônios. Exige-se então uma resposta a esse “mal”, uma demanda para regressar aos “valores tradicionais” (THOMPSON, 2014). Essa ameaça, contudo, é inventada ou fundamentada em fatos distorcidos. Não é apenas uma mentira, surge como parte de uma narrativa maior de que um certo grupo (ou evento) estaria conspirando a favor da degradação moral da sociedade. É apontado como um grande movimento que quer destruir tudo o que é base fundamental da vida em sociedade. Logo, esse grupo (ou evento) deve ser fortemente combatido por aqueles que desejam o “bem” social. Cria-se então um cenário de 32 disputa entre o “bem” e o “mal”, o “nós” versus “eles” fundamentado pelo anseio de adequação moral (MACHADO, 2004). Esse pânico moral pode e é instrumentalizado politicamente para ganhar eleições, impulsionar agendas políticas, justificar projetos de lei e políticas públicas. Ainda que essas narrativas surjam com roupagens diferentes, a retórica é mais ou menos sempre a mesma: a humanidade precisa ser resgatada de um processo de decadência moral. Somado a isso, os pânicos morais frequentemente surgem em situações de aumento de níveis de estresse na população em geral, provocados por várias origens que passam pela mídia, política, economia, dentre outros fatores, mas que não tem relação com o estopim do fenômeno em si. Ademais, é importante frisar que os pânicos morais são, em essência, performáticos justamente para alcançar a sociedade de forma massiva (MACHADO, 2004), seja por meio de mídias tradicionais ou redes sociais e apps de mensagem instantânea. De fato, não se pode atribuir a criação de um pânico moral a apenas um segmento, mas sim a um conjunto deles (THOMPSON, 2014). Pode-se inferir que as fake news são carregadas de crenças fundamentadas em relações de cunho sociopolítico e é importante frisar que seu êxito depende de tensões sociais pré- existentes baseadas no anseio em manter relações simbólicas de poder e subjugação por meio de uma representação intencionalmente enganosa da realidade. Cria-se um contexto em que o a disseminação de fake news atrelada ao discurso de ódio vai para além da questão se o conteúdo da mensagem é ou não verdadeiro, o apelo emocional cria ódio, medo e agressividade objetivando que o sujeito abdique da razão e da lógica ao tomar decisões (ARAÚJO, 2021). No Brasil, por exemplo, Nunes Júnior (2021) investiga a relação existente entre a desinformação e a viralização de fake news em relação a pessoas negras, evidenciando como o racismo estrutural no Brasil perpetua a construção da imagem do “criminoso” como diretamente ligada a homens negros. Evidencia-se também os ataques sistemáticos voltados a iniciativas de combate à homofobia e que promoveriam a ampliação de direitos para a população LGBTQIA+ que foram/são alvo de desinformação fomentada pelo uso de fake news que associam a defesa da “família tradicional brasileira” com o combate ao “kit gay” e à “ideologia de gênero (MARANHÃO FILHO; COELHO; DIAS, 2018; NUNES JÚNIOR, 2021). Além dos aspectos que englobam diferentes contextos de manipulação, vêm sendo observadas novas facetas cada vez mais obscuras do fenômeno, em que a 33 expressão fake news é utilizada como um artifício de contrainformação factual (TANDOC JR; LIM; LING, 2018; FURNIVAL; SANTOS, 2019; MOLINA et al., 2021). Tanto a mídia tradicional quanto jornalistas profissionais têm sido sistematicamente atacados pelo uso deturpado do termo como uma espécie de arma contra notícias factuais e organizações de comunicação profissionais (FURNIVAL; SANTOS, 2019). Segundo Vosoughi, Roy e Aral (2018), a expressão fake news foi associada, especialmente por candidatos a cargos políticos, a qualquer informação contrária a seus posicionamentos e/ou que abordem aspectos negativos acerca dessas figuras e seus partidos políticos, ocasionando o que os autores descrevem como uma irremediável polarização da expressão. Ou seja, a expressão vem sendo utilizada não somente como um clichê de notícias falsas; mas também como um chavão político e ideológico empregado para minar a credibilidade de veículos de notícia, de jornalistas e até mesmo de qualquer indivíduo que tenha opinião contrária (TANDOC JR; LIM; LING 2018; MOLINA et al., 2021). A produção de fake news apresenta duas motivações dominantes: ideológica e financeira (TANDOC JR; LIM; LING, 2018). Há empresas que têm como “serviço” a produção de fake news e até mesmo indivíduos não vinculados a essas organizações que ocupam essa função com intuito de lucro financeiro por meio de compartilhamentos (FURNIVAL; SANTOS, 2019). Posto que é próprio do fenômeno incitar emoções negativas a partir de ideias particulares e/ou figuras que seus autores favorecem em detrimento de outros, é também comum que essas “notícias” alarmantes e falsas se tornam virais (justamente por seu feitio ultrajante) o que resulta em ganhos financeiros a esses produtores de conteúdo através de cliques (ALLCOTT; GENTZKOW, 2017). Em suma, essas mimetizações de notícias inteira, parcialmente falsas ou até mesmo descontextualizadas são fabricadas e difundidas premeditadamente com a única função de enganar visando objetivos políticos, econômicos ou ambos (ARAÚJO, 2021). Assim, é possível inferir que as fake news são um fenômeno complexo, instrumento da desinformação e que depende de tensões sociais pré- existentes. 2.2.1. Exemplos de Fake News no contexto brasileiro A fim de ilustrar os fenômenos em estudo nesta pesquisa - fake news e desinformação, sobretudo no contexto brasileiro, é preciso também que a pesquisa 34 conte com dados advindos do ciberespaço, pois é o espaço em que o fenômeno tem conquistado proporções nunca experimentadas e a delimitação foi pautada na necessidade de elementos de análise razoavelmente estáveis. A partir disso, percebeu-se que poderiam ser utilizados os serviços de checagem de informação, os nomeados fact-checking. São centenas de serviços de fact-checking disponíveis em todo mundo e para fundamentar a escolha da agência de checagem brasileira, foi necessário averiguar quais possuem credencial da International Fact-Checking Network (IFCN). Uma rede internacional de checagem de informação, iniciativa da Poynter Institute, escola de jornalismo sem fins lucrativos localizada na Flórida (Estados Unidos), e [...] o Instituto Poynter é instrutor, inovador, organizador e recurso para qualquer um que aspire envolver e informar os cidadãos. Servimos não apenas às democracias do século XXI, mas também àquelas dos cantos do mundo onde as pessoas que honram a liberdade e o governo autônomo lutam contra tiranos e autocratas. (INSTITUTO POYNTER, 2022, tradução nossa). Isto posto, a partir da análise identificou-se que a Agência Lupa (AL) é pioneira quanto à checagem de fatos no Brasil e a primeira a integrar o IFCN (INSTITUTO POYNTER, 2022), justificando, assim, a escolha dessa agência como fonte documental. No site da Agência foi possível levantar exemplos reais de fake news disseminadas em redes sociais no Brasil, principalmente em grupos de WhatsApp (AGÊNCIA LUPA, 2022). A partir da seção “Jornalismo”, subdivisão “Nas Redes” pôde-se recuperar os exemplos abaixo. Foram selecionados e compilados exemplos de fake news por ano, no período de janeiro de 2021 a janeiro de 2023, com o intuito de ilustrar como as temáticas são fomentadas e ampliadas por estereótipos, concepções equivocadas e por vezes preconceituosas sobre grupos minoritários, pessoas públicas, comportamentos culturais e/ou representações religiosas diversas. Racismo, misoginia, LGBTQIA+fobia, intolerância religiosa, descrédito à ciência, moralismo e ataques à democracia vêm sendo considerados valores tradicionais da “família tradicional brasileira” (MARANHÃO FILHO; COELHO; DIAS, 2018; NUNES JÚNIOR, 2021; GERONIMO; CERVERÓ; OLIVEIRA, 2022). Logo, é possível identificar a urgência dos conteúdos conspiratórios presentes nas fake news para mobilizar uma parte da população a partir de tensões sociais pré-existentes. 35 Fonte: Agência Lupa, 2023. O exemplo A da figura 1 é de uma publicação que circulou no WhatsApp em que uma mulher de vestido é identificada como a socióloga e primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, de maneira pejorativa. A imagem, no entanto, é de outra pessoa que publicou a foto em seu perfil no Twitter (AGÊNCIA LUPA, 2023a). A legenda da publicação tem um teor de deboche e machista já que pede aplausos à nova primeira-dama, pois estaria usando um vestido curto com as pernas à mostra. O medo relacionado à falta de liberdade de expressão é tema do exemplo B da figura 1. Circulou pelas redes sociais uma mensagem alertando que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teria determinado o desligamento dos servidores de internet no Brasil. Contudo o texto não é claro sobre a data. O canal de notícias CNN foi usado para dar credibilidade ao texto, mas conforme foi apurado, a empresa de comunicação desmentiu a informação novamente, pois em novembro de 2022 a mesma fake news havia sido amplamente disseminada (AGÊNCIA LUPA, 2023b). O exemplo C da figura 1 é um vídeo que circulou pelo WhatsApp de autoria de um homem que ficou conhecido como “Ramiro Caminhoneiro”, preso após os atos terroristas em Brasília (DF) no dia 08 de janeiro de 2023. Na gravação, o homem afirma que quatro pessoas detidas faleceram no ginásio da Academia Nacional da Polícia Federa. A apuração da AL, no entanto, destaca que todos os procedimentos foram acompanhados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Corpo de Bombeiros, Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Defensoria Pública da União; e que as pessoas detidas Figura 1 - Compilado de alguns exemplos de fake news verificadas pela Agência Lupa (janeiro de 2023) 36 receberam alimentação regular e atendimento médico, quando necessário. Destaca- se que o autor da gravação é um nome recorrente nos grupos de WhatsApp e Telegram e que publicações de pessoas que faleceram após serem detidas pós atos terroristas são regulares (AGÊNCIA LUPA, 2023c). Fonte: Agência Lupa, 2023. A imagem A da figura 2 circulou pelo WhatsApp afirmando que o governo brasileiro teria fechado as fronteiras terrestres com países da América do Sul. A publicação não apresentava data e nem a razão da decisão. A informação foi publicada originalmente em 19 de março de 2020, por meio de uma portaria do governo federal, que restringiu a entrada de estrangeiros vindos de países sul- americanos por conta do avanço da pandemia de Covid-19. O conteúdo foi tirado de contexto no ano de 2022, sem razão aparente (AGÊNCIA LUPA, 2022a). O exemplo B da figura 2 é um print que circulou no WhatsApp de uma notícia do G1 sobre o falecimento de um oficial da Aeronáutica em Campinas (SP) no dia 7 de novembro de 2022. A legenda informava: “Um dos oficiais envolvidos e responsáveis pela auditoria sobre fraudes nas urnas”. A AL verificou que a notícia do óbito publicado no G1 é verdadeira, mas que ele não tinha nenhuma relação com a fiscalização das urnas eletrônicas. O print não acompanha link para a notícia do portal G1 e a legenda, além de descontextualizar a informação, é enganosa (AGÊNCIA LUPA, 2022b). Figura 2 - Compilado de alguns exemplos de fake news verificadas pela Agência Lupa (2022) 37 O exemplo C da figura 2 foi disseminado nas redes sociais a partir de uma publicação de um site cristão e associa a decisão de aprovar a união conjugal entre adultos e menores de idade a partir de 14 anos ao atual presidente da Colômbia, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro. O atual governante é o primeiro candidato de esquerda a comandar o país. A AL verificou que não foi o atual presidente colombiano, Gustavo Petro, que aprovou essa decisão. Verificou-se que o site cristão que criou e disseminou a fake news utilizou um fato descontextualizado. No ano de 2021, a decisão verdadeira a que a publicação falsa faz alusão foi tomada pela Suprema Corte da Colômbia, ano em que o presidente era Iván Duque (eleito em 2018) e representante da direita. À época a Suprema Corte da Colômbia apresentou a justificativa de que a partir dos 14 anos as pessoas já têm autonomia e podem ser responsabilizadas pelos seus atos (AGÊNCIA LUPA, 2022c). O print do exemplo D da figura 2 é de um vídeo de nove minutos de duração em que é lida uma suposta declaração da Organização das Nações Unidas (ONU), no qual a entidade se declara inimiga da igreja cristã. O narrador, não identificado, afirma que a ONU pretende se tornar uma “religião mundial” a fim de controlar a humanidade através do “lesbianismo” e “homossexualismo”, além de esterilizar crianças como medidas para reduzir a população. A AL verificou que não há registro no site da ONU sobre a entidade ter se declarado inimiga da igreja. Ademais, a ONU tem como princípios fundamentais a liberdade de religião e no Artigo 18, da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamado que “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, não paginado). Além disto, a Organização defende que leis baseadas na convicção religiosa que discriminam mulheres e comunidade LGBT+ sejam revogadas. Assim, é infundado que a ONU tenha declarado que se tornaria uma religião ou que praticaria algum tipo de violência (AGÊNCIA LUPA, 2022d). O print do exemplo E da figura 2, é uma publicação compartilhada no WhatsApp de um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que teria comprovado a eficácia da hidroxicloroquina como tratamento precoce da Covid-19. Na verdade, o estudo feito em parceria por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e da Universidade de Málaga, na Espanha, não comprova que a 38 hidroxicloroquina é eficaz como tratamento precoce contra a Covid-19. Os autores apontam evidências pouco significativas do ponto de vista estatístico dos primeiros ensaios com a droga, ainda no começo da pandemia (AGÊNCIA LUPA, 2022e). O exemplo F da figura 2 é de um vídeo compartilhado nas redes sociais em que um robô supostamente está sendo usado na China para coletar corpos. O vídeo foi publicado no YouTube em abril de 2014 e apresenta uma demonstração do robô realizada em uma conferência sobre combate a incêndios no Japão, conforme verificado pela AL. O corpo de bombeiros de Tóquio usa essa tecnologia para o resgate de vítimas de incêndios e/ou terremotos em locais de difícil acesso e transportam essas pessoas com vida até um local seguro (AGÊNCIA LUPA, 2022f). Fonte: Agência Lupa, 2023. O exemplo A da figura 3 é o print de um vídeo que circulou principalmente no WhatsApp. O conteúdo informava que a variante ômicron da Covid-19 seria mais severa entre os vacinados contra a doença e que era baseada em um artigo do website The Exposé. A verificação da AL apurou que não há evidências científicas suficientes que comprovem uma relação entre a nova variante ômicron e a vacinação. O The Exposé é uma conhecida página de divulgação de teorias da conspiração e conteúdo antivacina. Além disso, o artigo considera apenas mortes por Covid-19 no Reino Unido e que compreende apenas o período entre a semana 43 e 46 da pandemia. Evidências científicas mostram que as vacinas são eficazes em evitar o Figura 3 - Compilado de alguns exemplos de fake news verificadas pela Agência Lupa (2021) 39 agravamento do quadro dos infectados, reduzindo assim o risco de morte e a maioria dos casos graves e mortes estão entre os não vacinados (AGÊNCIA LUPA, 2021a). O exemplo B da figura 3 também é um print de um vídeo que circulou nas redes sociais em que a youtuber e ex-candidata a deputada federal pelo PSL do Ceará Regina Vilella criticando a Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (CE) pelo treinamento dado a professores e funcionários de creches que incentivaria masturbação de crianças. O vídeo apresenta informações falsas e circula pelas redes sociais desde 2019. Os materiais sinalizados na gravação foram criados e utilizados pela pedagoga e psicóloga Elisabete Cabral durante uma palestra para cerca de 20 formadores educacionais da Secretaria Municipal da Educação de Fortaleza no ano de 2019, pois os professores solicitaram à prefeitura uma formação para falar sobre questões que aparecem no cotidiano das crianças dentro de sala de aula, como, por exemplo, a escolha de brinquedos, debatendo sobre a proibição de meninos não poderem brincar de boneca. Ela afirma que os textos nunca incentivaram abuso de crianças e classificou o vídeo como criminoso. A AL afirma ainda que em 2019, essa informação foi desmentida por Aos Fatos, Fato ou Fake e Estadão Verifica (AGÊNCIA LUPA, 2021b). Circulou pelo WhatsApp um texto de um estudo alemão que teria descoberto que o uso de máscaras prejudica crianças (exemplo C da figura 3). As apurações da Agência Lupa constaram que, na época da circulação desse texto, o estudo citado foi publicado em formato pré-print. E a própria plataforma em que o trabalho foi divulgado apontou falhas metodológicas adotadas pelos pesquisadores, o que impossibilitaria demonstrar uma relação causal entre o uso das máscaras e os efeitos adversos relatados. Além disso, a OMS e o Ministério da Saúde apresentavam uma diretriz para a utilização da máscara como forma de proteção contra a Covid-19 a partir dos 2 anos de idade (AGÊNCIA LUPA, 2021c). A imagem D da figura 3 é referente a um print de um vídeo que circulou no WhatsApp em que uma mulher afirma que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) teria destruído casas no município de Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco. A informação analisada pela Agência Lupa foi constatada como falsa. Constatou-se que em agosto de 2021 imóveis em construção pelo programa Minha Casa Minha Vida foram ocupados por pessoas que teriam sido tiradas da lista de beneficiários do incentivo habitacional. A Polícia Civil da cidade confirmou, por telefone, que não foi registrado nenhum envolvimento de integrantes do MST. Em 40 nota, a assessoria de imprensa da organização informou que não tem nenhuma área ocupada nesse município pernambucano. O movimento sofre constantemente com fake news que visam criminalizar o MST (AGÊNCIA LUPA, 2021d). O exemplo E da figura 3 foi compartilhado principalmente pelo WhatsApp. Uma imagem de um extrato bancário da Caixa Econômica Federal no qual aparecem três benefícios no valor total de R$ 2,6 mil: R$ 1.802, em referência ao Cartão Família Carioca; R$ 660, em referência ao Bolsa Família; e R$ 138, em referência ao Bolsa Família Jovem. A legenda informa que o comprovante é de uma família que é considerada abaixo da linha da pobreza e que o pai seria um preso condenado. A AL apurou que o extrato corresponde a supostos pagamentos recebidos em maio de 2014 e que na data, o valor do programa Família Carioca estava entre R$ 20 e R$ 400, e não R$ 1,8 mil, como aparece no extrato. O valor do Bolsa Família também não correspondia à realidade da época, de R$ 70 que poderia chegar a no máximo R$ 230 em caso de famílias com até cinco filhos e o valor do Bolsa Família Jovem era no valor de R$ 38 para adolescentes de 16 e 17 anos. No recibo não há descrição de nenhum tipo de auxílio reclusão, diferentemente do que consta na legenda (AGÊNCIA LUPA, 2021e). A imagem F da figura 3 é o exemplo de uma fake news que circulou nas redes sociais alegando que a Prefeitura do Recife passaria a exigir em 2021 que 50% dos atletas de times esportivos juvenis fossem LGBTQIA+. De acordo com apurações da AL essa exigência valeu apenas para a competição Jogos do Orgulho. A Prefeitura de Recife informou, através de nota, que o torneio objetivou promover a inclusão ativa de jovens LGBTQIA+ no esporte e que a imagem aborda de maneira distorcida uma ação inédita destinada a ações inclusivas (AGÊNCIA LUPA, 2021f). No contexto brasileiro é possível identificar como os ataques à democracia vêm em investidas contínuas e crescentes ao sistema eleitoral eletrônico de votação, gerando assim, a corrosão da confiança pública no sistema eleitoral brasileiro (GERONIMO; CERVERÓ; OLIVEIRA, 2022) que resultou nos ataques terroristas às sedes dos Três Poderes. A partir de 2020, a pandemia de Covid-19 foi empregada como temática de fake news utilizada por figuras políticas e/ou religiosas e grupos para empurrarem suas agendas baseado em: 1) negação da gravidade do problema; 2) minimização das mortes; 3) posicionamento anticiência; 4) apelo religioso; 5) adoção de solução milagrosa; 6) preocupação com questões que influenciassem a reeleição em detrimento da saúde; 7) divulgação de informações 41 erradas; 8) ataque à mídia; 9) ataque aos governadores e às medidas de isolamento social; 10) intitulação do vírus como inimigo; 11) culpabilização de terceiros pelos problemas (como governadores, prefeitos, China e mídia). (CARVALHO; CASTRO; SCHNEIDER, 2021, p.38). Somado a isso há a defesa do arquétipo da “família tradicional brasileira”: cis hétero cristã, que é usado como figura protetora do Brasil e das crianças brasileiras. O combate ao “kit gay” e à “ideologia de gênero é empregado como tática para despertar a reação emotiva e a perda de racionalidade desse grupo (MARANHÃO FILHO; COELHO; DIAS, 2018). Macagno (2022) aponta que o uso dessas expressões e termos estratégicos que sugerem determinado juízo de valor é um indicativo das táticas manipulativas das fake news. Desse modo, é definida uma linguagem e cultura próprias de grupos específicos, que são exclusivas e, sobretudo, excludentes. “Seus argumentos são claramente ‘persuasivos’, mas apenas na medida permitida pelos limites dos insensíveis. Aceitação de um fundamento que não é comum a todos os cidadãos” (MACAGNO, 2022, p.79). Detecta-se o objetivo de mobilização de parcelas específicas da sociedade através de conteúdos conspiratórios específicos. Logo, é possível identificar a urgência dos conteúdos conspiratórios presentes nas fake news para mobilizar uma parte da população a partir de tensões sociais pré-existentes. O relatório “TIC Domicílios 2021” investiga o uso de Internet com usuários a partir de 10 anos de idade e constatou que a faixa etária entre 10 e 15 anos é a terceira mais conectada conforme se verifica no Gráfico 1. Ou seja, pessoas extremamente jovens passam muito tempo expostas a conteúdos que podem ou não ser factuais, que podem trazer mensagens violentas e discurso de ódio, impactando toda uma nova geração de cidadãos brasileiros. 42 Fonte: adaptado CETICBR, 2022. Como a pesquisa foi realizada no auge da pandemia de Covid-19, conforme já mencionado na introdução, a categoria de saúde pública foi a de serviço público mais buscada e que 50% dos pesquisados afirmou ter usado a Internet para procurar informações sobre saúde ou serviços relacionados à saúde (CETICBR, 2022). Contudo, conforme uma parte dos exemplos acerca do fenômeno no país (Figura 1, 2 e 3), as fake news acerca de saúde púbica, pandemia e vacinação se popularizaram no país, especialmente, no Whatsapp e Telegram. Além disso, a pesquisa apontou que o consumo de notícias é a terceira atividade mais realizada entre os usuários da Internet e que esse número vem crescendo, conforme aponta o Gráfico 2. Gráfico 1 - Usuários brasileiros de Internet por faixa etária 2021 43 Fonte: CETICBR, 2022. Logo, verificar se uma informação é factual ou não é uma tarefa árdua. O sentimento de desorientação é generalizado e aponta-se como a complexidade desses fenômenos demandam competências distintas, mas interligadas a fim de mitigar suas consequências (DAMASCENO, 2021). Assim, pretende-se abordar na seção seguinte a relação entre a Competência em Informação, Competência Digital e Competência Midiática e Informacional como uma alternativa para identificação e combate das fake news e desinformação ao fomentar a aprendizagem ao longo da vida e oferecer ferramentas, conhecimentos, habilidades e estratégias que aguçam o cunho analítico e proativo das pessoas em relação à informação, dispositivos digitais e mídia. Gráfico 2 - Usuários de Internet, por atividades multimídia realizadas online (2019, 2021) 44 3 MOSAICO DE COMPETÊNCIAS Ao excesso informacional, a alta escalabilidade de compartilhamento de informação devido às TDIC, redes sociais e apps de mensagem instantânea, além da não obrigatoriedade de identificação de autoria ou até mesmo falsa atribuição de responsabilidade intelectual de conteúdos disseminados nesses ambientes, soma-se a circulação de fake news nas mais diversas esferas sociais, obrigando indivíduos e instituições a lidarem com os impactos da desinformação e fake news. Newman et al. (2021) apontam que mesmo com aumento da confiança nas mídias tradicionais de notícias em 2020, a confiança nas notícias que são encontradas nas mídias sociais permanecem inalteradas e muito próximas aos veículos tradicionais, embora não apresentem os mesmos critérios de confiabilidade, precisão e qualidade da informação. Há, aparentemente, uma espécie de mosaico de competências relacionadas ao uso da informação (MARZAL, 2020). Pode-se observar relações entre a CoInfo, a CD e a CMI, pois as três ampliam seus escopos para além do domínio meramente instrumental dos meios tecnológicos, digitais, midiáticos e informacionais. Segundo Marzal (2020), as TDIC causaram um impacto profundo na sociedade, conduzindo-a à economia digital e do conhecimento. Logo, é imprescindível o fomento de competências focadas na análise e avaliação consciente dos múltiplos formatos e plataformas das TDIC. Evidencia-se, sobretudo, a necessidade de avaliação quanto ao conteúdo, bem como do uso e apropriação da informação, dispositivos tecnológicos e mídias, imprescindíveis para garantir uma participação social legítima. Pretende-se apresentar uma sistematização das principais abordagens recorrentes sobre Competência em Informação, Competência Digital e Competência Midiática e Informacional como resultado de uma revisão de literatura. 3.1 Competência em Informação O conceito inicial de Information Literacy (IL) surge nos Estados Unidos da América (EUA) em decorrência da preocupação relacionada à superabundância informacional, que teve como precursor o bibliotecário estadunidense Paul Zurkowski em 1974. Nesta pesquisa, emprega-se Competência em Informação (CoInfo) como tradução de Information Literacy validada pelo Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação (PINHEIRO; FERREZ, 2014). 45 No documento “The information service environment relationships and priorities” o termo é cunhado pela primeira vez e nele é apontado pelo autor que a quantidade massiva de informação havia se tornado uma característica inerente à Sociedade da Informação e que, portanto, seria necessário que pessoas bibliotecárias promovessem habilidades quanto ao uso das fontes de informação, bem como da informação orientadas para a solução de problemas dos usuários (ZURKOWSKI, 1974). As recomendações propostas em relação ao acesso, leitura e interpretação da informação eram diretamente ligadas à prática profissional desses usuários. O movimento de CoInfo surge da necessidade de aprimoramento profissional da indústria da informação norte-americana. São definidos parâmetros para definir o usuário competente em informação, o qual deveria ser capaz de usar um conjunto diverso de ferramentas e fontes primárias para planejar soluções informacionais (ZURKOWSKI, 1974). Dudziak (2003) demonstra a evolução da CoInfo desde a década de 1970 até 1990. Em que a primeira década é a dos “precursores”, seguida dos “exploradores” durante o período dos anos 1980 e a que a “busca de caminhos” caracteriza o período da década de 1990. A década dos precursores, anos 1970, tem como estopim o relatório de Zurkowsk, citado previamente, em que as competências necessárias à utilização de bases de dados eletrônicas que estavam sendo comercializadas nos EUA desde a década de 1960 foram elencadas em um contexto em que a superabundância informacional já preocupava bibliotecários (DUDZIAK, 2001). Entendia-se que o aprendizado sobre técnicas e habilidades para uso dos recursos informacionais deveriam ser orientados à resolução de problemas em situações de trabalho que deveriam iniciar um movimento em âmbito nacional de CoInfo (ZURKOWSKI, 1974; DUDZIAK, 2003). Dois anos após o relatório, 1976, a definição da CoInfo foi ampliada, inicialmente ao transcender a questão do trabalho com proposições para resolução de problemas e tomada de decisão em geral. No mesmo ano, o conceito é relacionado à cidadania, abrangendo a CoInfo para além da simples noção de aquisição de habilidades e conhecimentos. O foco em habilidades técnicas caracterizou o último ano do período dos precursores da CoInfo em que questões relacionadas à capacitação em informação foram discutidas como um dos principais requisitos para a competência (DUDZIAK, 2003). 46 Reconheceu-se, então, o valor da informação para todas as atividades humanas, desencadeando a demanda para se desenvolver habilidades voltadas ao uso eficiente e eficaz da informação. Observa-se que a CoInfo surge no contexto da biblioteca e que o foco principal é voltado ao acesso e uso da informação no contexto de preocupação relacionada à quantidade de informação em que mudanças quanto ao papel dos profissionais da informação começaram a ser pronunciadas. As tecnologias de informação e o computador ganharam destaque durante a década de 1980, fase dos “exploradores”, tanto que Dudziak (2003) aponta que um número substancial de trabalhos abordou a CoInfo como information technology literacy (Competência em tecnologia da informação) na época. A ênfase tecnológica traduziu-se também como ênfase instrumental da CoInfo, tópicos relacionados à capacitação em tecnologia da informação se popularizaram, especialmente no âmbito profissional, contudo tais programas de capacitação não eram estruturados (DUDZIAK, 2003). Interconexões entre bibliotecas, educação, CoInfo e aprendizado ao longo da vida começaram a ser identificadas a partir do estudo de usuários de Breivik, da publicação do documento “A Nation at Risk” (THE NATIONAL COMISSION ON EXCELLENCE IN EDUCATION, 1983) e da divulgação do “Information Power: Guidelines for School Library Media Programs” (AMERICAN ASSOCIATION OF SCHOOL LIBRARIANS; ASSOCIATION FOR EDUCATIONAL COMMUNICATIONS AND TECHNOLOGY, 1988). O trabalho de Breivik é entendido como um dos primeiros esforços para a integração do trabalho desenvolvido por pessoas bibliotecárias e educadores para o desenvolvimento de programas de IL (DUDZIAK, 2003). A monografia de Kuhlthau, Information Skills for an Information Society: a review of research (1987), aprofunda as discussões CoInfo e educação propondo o ensino direcionado a CoInfo a partir da integração da Information Literacy ao currículo e amplo acesso aos recursos informacionais. Essa abordagem evidencia a compreensão da CoInfo como holística no processo de aprendizagem, rompendo a concepção de que habilidades informacionais eram restritas à biblioteca e aos itens bibliográficos. Nesse cenário de eufori