2023 GABRIELA RIBEIRO ZUCCO IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA QUALIDADE DE VIDA GERAL DE PACIENTES FUMANTES EM TRATAMENTO PARA CESSAÇÃO TABÁGICA São José dos Campos 2023 GABRIELA RIBEIRO ZUCCO IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA QUALIDADE DE VIDA GERAL DE PACIENTES FUMANTES EM TRATAMENTO PARA CESSAÇÃO TABÁGICA Dissertação apresentada ao Instituto de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de São José dos Campos, como parte dos requisitos para obtenção do título de MESTRA, pelo Programa de Pós-Graduação em CIÊNCIAS APLICADAS À SAÚDE BUCAL. Área: Patologia e Diagnóstico Bucal. Linha de pesquisa: Inflamação, reparação tecidual e patologia do sistema estomatognático. Orientadora: Profa. Tit. Janete Dias Almeida Instituto de Ciência e Tecnologia [internet]. Normalização de tese e dissertação [acesso em 2023]. Disponível em http://www.ict.unesp.br/biblioteca/normalizacao Apresentação gráfica e normalização de acordo com as normas estabelecidas pelo Serviço de Normalização de Documentos da Seção Técnica de Referência e Atendimento ao Usuário e Documentação (STRAUD). Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Achille Bassi e Seção Técnica de Informática, ICMC/USP com adaptações - STATI, STRAUD e DTI do ICT/UNESP. Renata Aparecida Couto Martins CRB-8/8376 Zucco, Gabriela Ribeiro Impacto da pandemia de COVID-19 na qualidade de vida geral de pacientes fumantes em tratamento para cessação tabágica / Gabriela Ribeiro Zucco. - São José dos Campos : [s.n.], 2023. 67 f. : il. Dissertação (Mestrado) - Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde Bucal - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos, 2023. Orientadora: Janete Dias Almeida Coorientadora: Denise Nicodemo 1. Tabagismo. 2. Cessação tabágica. 3. Qualidade de vida. 4. COVID-19. I. Almeida, Janete Dias, orient. II. Nicodemo, Denise, coorient. III. Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Ciência e Tecnologia, São José dos Campos. IV. Universidade Estadual Paulista 'Júlio de Mesquita Filho' - Unesp. V. Universidade Estadual Paulista (Unesp). VI. Título. BANCA EXAMINADORA Profa. Tit. Janete Dias Almeida (Orientador) Universidade Estadual Paulista (Unesp) Instituto de Ciência e Tecnologia Campus de São José dos Campos Profa. Dra. Emília Angela Lo Schiavo Arisawa Universidade do Vale do Paraíba Ciências da Saúde da UNIVAP Campus de São José dos Campos Profa. Assoc. Maria Aparecida Neves Jardini Universidade Estadual Paulista (Unesp) Instituto de Ciência e Tecnologia Campus de São José dos Campos São José dos Campos, 22 de março de 2023. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Maria da Graça e Gilberto e irmãos, Gustavo e Guilherme, que me incentivaram nos momentos difíceis. À Prof. Tit. Janete Dias Almeida, do Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho (ICT-Unesp), por ter sido minha orientadora e ter desempenhado tal função com dedicação e amizade. À Prof. Dra. Denise Nicodemo, do Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho (ICT-Unesp), pelo carinho, parceria e ensinamentos. Ao Carlos Alberto Guedes e ao Rafael Lopes da Cunha, do Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho (ICT-Unesp), pela paciência e suporte durante essa jornada. As amigas e amigos, que sempre estiveram ao meu lado. À minha banca examinadora, Profa. Dra. Emília Angela Lo Schiavo Arisawa, da Universidade do Vale do Paraíba e Profa. Assoc. Maria Aparecida Neves Jardini, do Instituto de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho (ICT-Unesp), pela participação honrosa em meu trabalho e pelos conhecimentos compartilhados através de cada colocação. Aos professores do programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas À Saúde Bucal, por todos os conselhos, pela ajuda e pela paciência com a qual guiaram o meu aprendizado. À FAPESP, por ter concedido o financiamento para a realização deste projeto no período de 01/07/2022 a 30/04/2023 (processo nº 2021/06500-1). E a todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a realização deste trabalho. "A educação é o poder das mulheres.” Malala Yousafzai RESUMO Zucco GR. Impacto da pandemia de COVID-19 na qualidade de vida geral de pacientes fumantes em tratamento para cessação tabágica [dissertação]. São José dos Campos (SP): Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Ciência e Tecnologia; 2023. O tabagismo é a principal causa de adoecimento e morte em todo o mundo, trata-se de um grave problema de saúde pública. É uma dependência que tem consequências para a vida do indivíduo e as consultas ao dentista são uma valiosa oportunidade para a abordagem ao fumante, motivação e encaminhamento para tratamento do tabagismo. O objetivo deste trabalho é comparar as mudanças em relação ao consumo de tabaco no período de restrição social devido à pandemia de COVID-19 por meio de questionários aplicados para os pacientes tabagistas que participaram do programa de cessação tabágica do Grupo de Estudos e Tratamento ao Tabagismo (GETT) do Instituto de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos antes e durante a pandemia. Setenta e um participantes responderam previamente aos questionários “Short-Form Survey” (SF-36), “Estilo de Vida Fantástico”, “Self Reporting Questionnaire” (SRQ-20), “Medical Outcome Study” (MOS) e “Inventário de Ansiedade Traço-Estado” (IDATE t/e) fora do cenário pandêmico. Os mesmos participantes foram convidados a responder aos mesmos questionários durante a pandemia. Além disso, foram coletados dados relacionados ao perfil tabágico do indivíduo. Os resultados dos questionários foram comparados para responder como o hábito de fumar foi influenciado pela pandemia de COVID-19. A análise dos questionários respondidos evidenciou que não houve diferenças consideradas estatisticamente significantes entre os questionários respondidos antes e durante a pandemia de COVID-19. Considerando as limitações do estudo, a qualidade de vida geral de pacientes fumantes em tratamento para cessação tabágica manteve-se a mesma durante a pandemia de COVID-19. Os instrumentos aplicados evidenciam a existência de uma relação negativa entre tabagismo e qualidade de vida e, a magnitude dessa associação, está ora relacionada ao tempo de uso, ora ao número de cigarros fumados por dia, ora à dependência a nicotina e ora à carga tabágica do paciente. Frente aos resultados da aplicação dos questionários MOS e SRQ-20, o estudo sugere que quanto menor o apoio social, maiores os sintomas de depressão. Palavras-chave: tabagismo; cessação tabágica; qualidade de vida; COVID-19. ABSTRACT Zucco GR. The impact of COVID-19 pandemic on the quality of life of patients undergoing treatment to quit smoking [dissertation]. São José dos Campos (SP): São Paulo State University (Unesp), Institute of Science and Technology; 2023. Smoking is the main cause of illness and death worldwide, it is a serious public health problem and a habit that has consequences for the individual’s life. Dental appointments are a valuable opportunity to approach the smoker, motivate and refer to smoking treatment. The aim of the study is to compare changes in tobacco consumption during the period of social restriction due to the COVID-19 pandemic through validated questionnaires to smoking patients who underwent the smoking cessation program of the Group of Studies and Treatment for Smokers of the Institute of Science and Technology, São Jose dos Campos before and during the pandemic. Seventy-one patients who previously answered the questionnaires “Short-Form Survey” (SF-36), “Fantastic Lifestyle”, “Self Reporting Questionnaire” (SRQ-20), “Medical Outcome Study” (MOS) and “State Trait Anxiety Inventory” (STAI) outside the pandemic scenario were invited to answer the same questionnaires during the COVID- 19 pandemic. In addition, data related to the individual's smoking profile were collected. The results of the questionnaires were compared to answer how smoking was influenced by the COVID-19 pandemic. The analysis of the questionnaires showed that there were no differences considered statistically significant between the questionnaires answered before and during the COVID-19 pandemic. Considering the limitations of the study, the overall quality of life of smokers undergoing treatment for smoking cessation remained the same during the COVID-19 pandemic. The applied instruments show the existence of a negative relationship between smoking and quality of life, and the magnitude of this association is sometimes related to the time of use, sometimes to the number of cigarettes smoked per day, sometimes to nicotine dependence and sometimes to the tobacco load of the patient. Also, the study suggests that the lower the social support, the greater the symptoms of depression. Keywords: tobacco use disorder; tobacco use cessation; quality of life; COVID-19. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resumo Resultados Antes MOS e SRQ-20 ............................................. 35 Figura 2 - Fluxograma do Estudo ............................................................................. 39 Figura 3 - Resumo SF-36 Antes e Durante .............................................................. 47 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Descrição das variáveis e perfil tabágico dos participantes do estudo .... 31 Tabela 2 - Correlação entre perfil tabágico e os instrumentos aplicados ANTES da Pandemia ................................................................................................................. 34 Tabela 3 - Comparacão sexo para Escores ANTES da Pandemia .......................... 36 Tabela 4 - Descrição das variáveis e perfil tabágico dos participantes DURANTE a pandemia .................................................................................................................. 40 Tabela 5 - Correlação entre perfil tabágico e os instrumentos aplicados DURANTE a Pandemia ................................................................................................................. 44 Tabela 6 - Comparação sexo para Escores DURANTE da Pandemia ..................... 45 Tabela 7 - Comparação Antes X Durante ................................................................. 48 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Escores Interpretativos ........................................................................... 28 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica GETT Grupo de Estudos e Tratamento ao Tabagismo MOS Medical Outcome Study OMS Organização Mundial da Saúde PETab Pesquisa Especial sobre Tabagismo PMS Pesquisa Mundial de Saúde PNCT Política Nacional de Controle do Tabaco PNSN Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição SF-36 Short-Form Survey 36 SRQ-20 Self Reporting Questionnaire IDATE t/e Inventário de Ansiedade Traço-Estado SUS Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 16 3 PROPOSIÇÃO .................................................................................................. 21 4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 22 4.1 Aspectos éticos ............................................................................................ 22 4.2 População do estudo ................................................................................... 22 4.2.1 Critérios de Inclusão ................................................................................. 23 4.2.2 Critérios de Não Inclusão ......................................................................... 23 4.2.3 Critérios de Exclusão..................................................................................23 4.3 Procedimentos .............................................................................................. 23 4.4 Instrumentos ................................................................................................. 25 4.5 Coleta de dados ............................................................................................ 29 4.6 Análise estatística ........................................................................................ 29 5 RESULTADOS .................................................................................................. 30 5.1 Resultados dos questionários respondidos previamente à pandemia de COVID-19 ............................................................................................................. 30 5.1.1 Participantes e Perfil Tabágico ................................................................ 30 5.1.2 Resultados dos Questionários Pré-Pandemia ........................................ 32 5.2 Resultados dos questionários respondidos durante à pandemia de COVID- 19 ......................................................................................................................... 38 5.2.1 Participantes e Perfil Tabágico ................................................................ 39 5.2.2 Resultados dos Questionários Durante a Pandemia .............................. 41 5.3 Comparação entre os Questionários Antes X Durante ............................. 48 6 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 49 7 CONCLUSÃO ................................................................................................... 55 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 56 ANEXOS .............................................................................................................. 63 13 1 INTRODUÇÃO É estimado que 1,3 bilhão de pessoas no mundo usam produtos derivados do tabaco. O tabagismo pode ser associado à condição social de pobreza por desviar a atenção das necessidades básicas da família, como alimentação e abrigo. O potencial do tabaco em gerar dependência química estimula o ciclo de pobreza e redução da capacidade de sustento familiar, considerando ainda a redução da produtividade laboral de adultos em idade produtiva, o aumento dos gastos para tratamento de doenças decorrentes do tabagismo e a possibilidade de redução repentina da renda familiar em decorrência da morte prematura (Neufeld, 2022). Doenças relacionadas ao uso do tabaco são as principais causas de mortes evitáveis e prematuras no mundo. Aproximadamente 1 pessoa morre a cada 6 segundos por consequências relacionadas ao uso do tabaco, totalizando 1 em cada 5 mortes (Goldenberg et al., 2014). Além disso, dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que fumantes têm em média 10 anos de vida a menos do que não-fumantes (World Health Organization, 2020). Evidentemente, trata-se de uma responsabilidade política de saúde pública em que se as tendências atuais continuarem, mais da metade dos fumantes de longa- data irão falecer devido às doenças relacionadas ao tabaco, levando a 8 milhões de mortes anualmente até 2030 (World Health Organization, 2020). Os processos farmacológicos e comportamentais que levam à dependência a nicotina do tabaco são semelhantes aos da dependência de drogas como a cocaína e heroína (U.S. Department of Health and Human Services, 2010). É provável que receptores de acetilcolina-nicotina (nAChRs) são os sítios iniciais de ação da nicotina obtida através do tabaco. A nicotina normalmente se une à acetilcolina (ACh) e acarreta uma mudança da conformação celular, onde um canal seletivo de cátion se abre por alguns milissegundos (Dani, Heinemann, 1996). Porém, os tabagistas também apresentam diversos motivos não farmacológicos, mas psicossociais, que mantêm seu comportamento de dependência (Boudrez, de Bacquer, 2012). Sabemos que o consumo de cigarro na população geral tem mostrado declínio nos últimos 20 anos, todavia, o consumo entre pessoas com 14 doenças mentais continua relativamente sem mudanças (Fluharty et al., 2017). Relatado pela primeira vez em novembro de 2019, o novo coronavírus (COVID-19) resultou em uma condição emergencial de saúde global. Visto que sua transmissão se dá por meio do contato com pessoas ou objetos contaminados, são necessárias também medidas não farmacológicas para conter sua disseminação. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o isolamento social é a ação mais efetiva de conter a propagação do vírus e o surgimento de novas variantes (Barrera-Núñez et al., 2022). A população chinesa, primeira a adotar o isolamento social e protocolo de quarentena como medidas preventivas ao avanço da propagação do novo vírus, revelou as possíveis consequências psicológicas do confinamento em massa. Resultados de estudos apresentaram aumento no índice de depressão, ansiedade, etilismo e redução do bem-estar mental quando comparados aos índices populacionais usuais (Ahmed et al., 2020). Em relação ao consumo de tabaco, devido a deterioração da saúde mental e física decorrente a pandemia e o lockdown instituído na maioria dos países, o consumo de tabaco tem aumentado em alguns desses países como Itália (Carreras et al., 2021), Nova Zelândia (Gendall et al., 2021), China (Sun et al., 2020) e Inglaterra (Chen, 2020). Uma medida comum para acessar o status clínico de fumantes é realizar a avaliação da qualidade de vida pela administração de instrumentos ou questionários que caracterizam a percepção individual e pessoal do indivíduo em termos de saúde global, deficiências e atividades diárias. Qualidade de vida também engloba aspectos não médicos como satisfação social, educacional e função ocupacional (Ciconelli et al., 1999). Em fumantes, a qualidade de vida já foi avaliada por instrumentos tanto genéricos quanto por escalas específicas (Goldenberg et al., 2014). Um estudo recente realizado pela Universidade Federal do Pernambuco, no Recife, Brasil, utilizando o questionário denominado Estilo de Vida Fantástico, concluiu que a pandemia de COVID-19 pode acelerar a escolha da cessação tabágica por aqueles pacientes que apresentam comorbidades, mas que muita atenção deve ser dada aos pacientes que são fumantes pesados (aqueles que fumam mais de 20 cigarros por dia) e que podem aumentar seu consumo devido à ansiedade gerada 15 pelo lockdown e distanciamento social (da Silva Leonel et al., 2021). 16 2 REVISÃO DE LITERATURA Nicotiana tabacum ou tabaco, é uma planta cujas folhas são utilizadas na produção de diversos produtos que contém como princípio ativo a nicotina, substância aditiva (Brasil, 2016). São vários os produtos derivados do tabaco: cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de palha, cigarrilhas, bidi (um tipo de cigarro prensado muito comum no Sudeste Asiático), narguilé, rapé, tabaco, aparelhos eletrônicos para fumar, entre outros. Deve-se notar que a propagação da nicotina ocorre em todos os tecidos do corpo, como pulmões, cérebro e outros. Também é encontrado na saliva, suco gástrico, leite materno, músculo esquelético e líquido amniótico (Martins, 2022). O tabagismo está incluído no grupo de "transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento" decorrente do uso de substâncias psicoativas segundo a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde [CID-11] (Instituto Nacional do Câncer, 2022b). Países de baixa e média renda concentram aproximadamente 80% de um total superior a um bilhão de fumantes no mundo. Nesses lugares, as consequências do uso do tabaco têm um peso ainda maior para os indivíduos que o consomem e seus familiares (World Health Organization, 2020). Considerado como doença, o tabagismo contribui como fator de risco de diversos tipos de canceres, como por exemplo: leucemia mielóide aguda; câncer de faringe; câncer de bexiga; câncer de fígado; câncer de esôfago; câncer de laringe; câncer de pâncreas; câncer na cavidade bucal; câncer de estômago; câncer do colo do útero; câncer de cólon e reto; câncer de rim e ureter; câncer de traqueia, brônquios e pulmão (Instituto Nacional do Câncer, 2022b). Além de estar associado às doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), o tabagismo também contribui para o desenvolvimento de outras doenças, como infecções respiratórias, tuberculose, catarata, úlcera gastrointestinal, osteoporose, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, entre outras (World Health Organization, 2020). O tabaco fumado em qualquer forma é responsável não só por 90% dos cânceres de pulmão, mas aumenta significativamente o risco de acidentes cerebrovasculares e ataques cardíacos mortais, além de prejudicar o meio ambiente 17 através da poluição do ar contribuindo para o efeito estufa. Já os produtos de tabaco sem fumaça também são associados ou considerados como fator de risco para o desenvolvimento de câncer de cabeça, pescoço, pâncreas e esôfago, bem como tantas outras patologias bucais (Centers for Disease Control and Prevention, 2021). A dependência em cigarro, antes visto como um comportamento social aceitável e charmoso, atualmente, é caracterizado como uma pandemia. Este, causa dependência física e psicológica, provocando grande consequência na qualidade de vida dos usuários. Neste contexto, compreende-se a importância de se combater a dependência (Rosemberg, 2002). Ocorreu um real aumento no incentivo ao consumo do tabaco nas décadas de 1960 e 1980 através de propagandas. Na década de 1960, auge deste fenômeno, surgiram os resultados dos primeiros relatórios científicos, associando o cigarro ao adoecimento do usuário. Nesta época, o governo americano publicou um relatório abordando os riscos para saúde decorrentes do tabagismo e, em 1972, aprofundou a investigação, publicando dados sobre a relação existente entre o tabaco e várias doenças graves. Houve um impacto imediato no faturamento das indústrias, além de alertar a comunidade científica para o prejuízo da qualidade de vida dos fumantes (Rosemberg, 2002). A Legislação Brasileira Antitabaco é diversa e vista como referência em diversas partes do mundo devido aos seus resultados (Romero, Silva, 2011). A partir de 1970, novos movimentos de controle do tabagismo surgiram liderados por sociedades médicas e profissionais de saúde. A ação do governo no âmbito federal tornou-se institucionalizada em 1985 pelo Grupo Assessor para o Controle do Tabagismo no Brasil e, no ano seguinte, com a criação do Programa Nacional de Combate ao Fumo. A partir do final da década de 1980, visando a promoção da saúde, a gestão e a governança do controle do tabagismo no Brasil, o Ministério da Saúde passou a articular um conjunto de ações nacionais por meio do Instituto Nacional de Câncer (INCA), compondo a Política Nacional de Controle do Tabaco (PNCT) (Cavalcante, 2005; Romero, Silva, 2011). No Brasil, a proporção de fumantes adultos diminuiu significativamente nas últimas décadas como resultado das tantas ações desenvolvidas pelo PNCT. Segundo a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989, 34,8% da população maior de 18 anos era fumante. Uma redução significativa nesses números 18 ocorreu em 2003, quando o percentual observado na Pesquisa Mundial de Saúde (PMS) foi de 22,4%. Em 2008, segundo a Pesquisa Especial sobre Tabagismo (PETab) este número era de 18,5%. Os últimos dados de 2019, da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mostram que em adultos o percentual de fumantes é de 12,6% (Instituto Nacional do Câncer, 2022). Porém, contabiliza-se 443 óbitos diários em decorrência da dependência em tabaco, apesar de tal queda. Os danos produzidos pelo cigarro geram custos alarmantes no sistema de saúde e na economia, chegando a R$125.148 bilhões de reais e 161.853 mortes anuais que poderiam ser evitadas. Quanto aos óbitos anuais relacionados ao tabagismo: 10.041 correspondem a acidente vascular cerebral (AVC), 12.201 à pneumonia, 18.620 ao tabagismo passivo e outras causas, 24.443 ao câncer de pulmão, 25.683 a outros cânceres, 33.179 a doenças cardíacas e 37.686 à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) (Palacios et al., 2020). A organização Tobacco Atlas argumenta que aumentar a taxação de impostos sobre os produtos derivados do tabaco, bem como as leis que proíbem a publicidade nos maços de cigarros e a inclusão de imagens de advertência nos rótulos dos maços de cigarros contribuíram para a saúde do Brasil (The Tobacco Atlas, 2022). A comparação do Brasil com o resto do mundo mostra que ele é líder no uso de imagens nas embalagens de produtos derivados do tabaco com advertências sanitárias. Nas Américas, o Brasil é considerado o primeiro país no combate ao tabagismo. Além disso, desenvolve políticas para promover ambientes livres de fumo nos níveis nacional, regional e local (Silva et al., 2014). O sistema público de saúde brasileiro aborda o tabagismo e desenvolve estratégias para que a sua população alcance um estilo de vida saudável. Para isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) é fundamental para apoiar a ideologia, as expectativas, o planejamento, as políticas de saúde e ações voltadas à saúde, bem- estar físico, social e mental dos cidadãos (Instituto Nacional do Câncer, 2012, 2011). A COVID-19 foi declarada como uma pandemia pela OMS no dia 11 de março de 2020 e causou grande preocupação ao redor do mundo. Esta, se espalhou rapidamente, afetando mais de 223 países e regiões (Priyadarshini et al., 2020). Com isso, muitos países se viram obrigados a fecharem suas fronteiras, instituírem o lockdown e o distanciamento social, como uma tentativa de conter o vírus. Devido a este fato, a população se viu obrigada a mudar totalmente suas rotinas. O isolamento 19 social imposto pela COVID-19, já foi intitulado como o “maior experimento psicológico do mundo” (Lima, 2020). Um estudo chinês apresentou dados sobre a percepção da população a esse respeito e cerca de metade dos entrevistados classificou de maneira moderada a grave o impacto psicológico da pandemia, e aproximadamente 30% dos participantes relatou níveis moderados a graves de ansiedade (Wang et al., 2020). Dados coletados no Japão, onde o impacto econômico foi substancial, apresentaram resultados semelhantes (Shigemura et al., 2020). Além disso, esses resultados psicológicos adversos induzidos pela pandemia podem aumentar o risco de abuso de substâncias e envolvimento em comportamentos viciantes, enfraquecendo ainda mais o sistema imunológico e aumentando a vulnerabilidade à infecção por COVID-19. Isso é particularmente relevante para a dependência a nicotina, pois os fumantes podem confiar no tabaco e na nicotina como seu principal método para controlar o estresse e a ansiedade (Chen, 2020). Uma medida comum para acessar o status clínico de fumantes é através da avaliação da qualidade de vida, que é feita pela administração de instrumentos ou questionários que caracterizam a percepção individual e pessoal do indivíduo em termos de saúde global, deficiências e atividades diárias (Ciconelli et al., 1999). A qualidade de vida é definida pela OMS como “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Envolve o bem- estar espiritual, físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e, também, saúde, educação, habitação, saneamento básico e outras circunstâncias da vida (The World Health Organization Quality of Life Assessment (WHOQOL): Position Paper from the World Health Organization, 1995). Um estudo publicado em 2020, com o intuito de avaliar a qualidade de vida, ansiedade e depressão de pacientes fumantes em tratamento para cessação tabágica utilizou dois questionários genéricos, o Short-Form Survey 36 e o Estilo de vida Fantástico, e dois questionários específicos, o Self Reporting Questionnnaire ou SRQ- 20, para depressão e Inventário de Ansiedade Traço-Estado, para ansiedade, e foi possível observar que o tratamento para cessação tabágica está relacionado com a redução dos níveis de ansiedade e depressão e com uma melhora geral na qualidade de vida do indivíduo, mostrando como o tratamento para cessação tabágica deve ser visto como uma oportunidade de o paciente fumante parar de fumar com a ajuda de 20 uma equipe de profissionais de saúde (Junqueira de Faria et al., 2020). No presente estudo, abordaremos instrumentos genéricos e específicos de qualidade de vida, depressão e ansiedade. São eles, os questionários genéricos: Short-Form Survey ou SF-36 e o Estilo de Vida Fantástico. E os questionários específicos: Self Reporting Questionnaire, ou SRQ-20, para depressão, o Inventário de Ansiedade Traço-Estado, ou IDATE t/e, para ansiedade e ainda, o questionário de Escala de Apoio Social Medical Outcome Study, ou MOS, a fim de avaliar o nível de apoio social dos participantes. Entretanto, para aplicação adequada e confiável dessas medidas, é fundamental realizar a equivalência transcultural, baseada nos processos de adaptação cultural, tradução e validação da ferramenta proposta. Todos estes são instrumentos validados e confiáveis de boa construção que podem ser aplicados por profissionais da área da saúde e que passaram por processo de equivalência transcultural adequado (Sardinha et al., 2010). A partir de 2020, com a deterioração da saúde mental e física devido a pandemia de COVID-19 e o lockdown instituído na maioria dos países, o consumo de tabaco tem aumentado em alguns desses países como Itália (Carreras et al., 2021), Nova Zelândia (Gendall et al., 2021), China (Sun et al., 2020) e Inglaterra (Chen, 2020). Em função da relevância deste tema, o objetivo deste estudo foi comparar os dados obtidos quando da avaliação da qualidade de vida, considerando ansiedade e depressão, de pacientes fumantes em processo de cessação tabágica do GETT do Instituto de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos - ICT-UNESP antes e durante a pandemia de COVID-19 afim de responder como a pandemia influenciou o consumo de tabaco e qualidade de vida dos participantes no período de restrição social. 21 3 PROPOSIÇÃO O objetivo da presente proposta é comparar os dados obtidos quando da avaliação da qualidade de vida, considerando depressão e ansiedade, de pacientes fumantes em processo de cessação tabágica do GETT antes e durante a pandemia de COVID-19 afim de responder como a pandemia influenciou o consumo de tabaco e qualidade de vida no período de restrição social. É esperado que exista uma relação positiva entre os índices dos questionários SF-36, Questionário Estilo de Vida Fantástico, SRQ-20, IDATE t/e e MOS com o uso de tabaco no cenário de pandemia, mostrando uma deterioração da saúde mental e física durante esse período e consequente aumento no consumo/uso do tabaco. 22 4 MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizado um estudo retrospectivo dos questionários de qualidade de vida geral e específicos aplicados no ano de 2015 ao Grupo de Estudos e Tratamento ao Tabagismo - GETT e posteriormente um estudo observacional transversal com nova aplicação dos mesmos instrumentos ao mesmo grupo de participantes. 4.1 Aspectos éticos A pesquisa faz parte de projeto aprovado pelo Comitê de Ética envolvendo Seres Humanos (CEPH) do Instituto de Ciências e Tecnologia (ICT-UNESP), CAAE número 42387315.0.0000.0077. Aqueles que aceitaram participar da pesquisa após serem esclarecidos sobre a proposição e condições deste trabalho, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias. 4.2 População do estudo Setenta e um participantes (n=71) do Grupo de Estudos e Tratamento ao Tabagismo - GETT que estavam em tratamento para cessação tabágica no ano de 2015. 23 4.2.1 Critérios de Inclusão Foram incluídos somente pacientes que participaram do Grupo de Estudos e Tratamento ao Tabagismo (GETT) em 2015, que haviam respondido a todos os questionários propostos previamente (SF-36, Estilo de Vida Fantástico, SRQ-20, IDATE t/e e MOS) e que assinaram o TCLE. 4.2.2 Critérios de Não Inclusão • Participantes menores de 18 anos. • Participantes que responderam parcialmente a um ou mais dos questionários propostos em 2015 (SF-36, Estilo de Vida Fantástico, SRQ-20, IDATE t/e e MOS). 4.2.3 Critérios de Exclusão • Participantes que por algum motivo não foi possível estabelecer contato. 4.3 Procedimentos A primeira coleta de dados foi realizada em 2015 com a aplicação de questionários gerais e específicos de qualidade de vida a 71 pacientes do GETT. Foi avaliado o perfil tabágico desses participantes com perguntas sobre o consumo de tabaco: idade de início do tabagismo, tipo de tabaco consumido, quantidade e tempo de uso, foi realizado o cálculo de carga tabágica e o Teste de Fargeström. Foram consideradas perguntas relativas ao número de tentativas anteriores de cessação 24 tabágica, uso prévio de medicamentos para cessação, número e os motivos de recaídas anteriores, idade atual, sexo e os hábitos de consumo de bebida alcóolica. A avaliação do estágio motivacional para parar de fumar foi baseada no modelo Transteórico de Prochascka e Di Clemente que é composto por cinco fases: Pré- contemplação, contemplação, preparado para ação, ação e manutenção (Miller, Rollnick, 2012). • Pré-contemplação: Esta etapa é o ponto de entrada do processo de mudança. Nesta fase, o indivíduo ainda não considerou a mudança de comportamento. • Contemplação: Aqui, a pessoa toma consciência do problema e entra num período caracterizado pela ambivalência: o indivíduo considera e, ao mesmo tempo, rejeita a mudança. • Preparado para ação: Neste momento, a pessoa apresenta a intenção de mudar seu comportamento num futuro próximo. No geral, pequenas mudanças são realizadas e partir de tentativas anteriores que foram frustradas, porém, superadas. Nesse momento adota-se um plano de ação. • Ação: Aqui a pessoa se envolve em ações que a levarão a uma mudança. • Manutenção: Fase de manter a mudança conquistada na etapa anterior e prevenir a recaída. (Miller, Rollnick, 2012). O cálculo da quantidade de carga tabágica foi realizado baseado na contagem de maços-ano (pack-years), de acordo com a fórmula: número de cigarros fumados por dia, dividido por vinte e multiplicado pelo número de anos que o indivíduo fumou (dos Santos Gouveia et al., 2020). Todos esses dados foram tabulados e correlacionados com os questionários aplicados. Em 2020, os mesmos 71 participantes do GETT que responderam aos questionários previamente, foram convidados a responder os mesmos questionários no período de ocorrência da pandemia de COVID-19. O contato foi feito via celular ou WhatsApp por meio do número de telefone registrado na ficha clínica. Novamente informações sobre o perfil tabágico dos participantes foram coletados e a aplicação dos instrumentos foi realizada por um aplicador calibrado, de modo a não induzir respostas, em formato de entrevista por ligação telefônica. 25 4.4 Instrumentos Foram utilizados dois questionários genéricos de qualidade de vida conhecidos como: Short-Form Survey (SF-36) e o questionário Estilo de Vida Fantástico. • Short-Form Health Survey (SF-36): O Short-Form Health Survey (SF-36) é um dos mais usados medidores de saúde geral, é um questionário que tem boa construção, consistência e confiabilidade. Consiste em uma medida de perfil de amplo espectro que inclui 36 itens ou 8 subescalas de componentes em saúde mental e física, são eles: aspectos físicos, capacidade funcional, dor, vitalidade, estado geral da saúde, aspectos emocionais, aspectos sociais e saúde mental. Inicialmente foca em funcionamento e habilidade de realizar tarefas diárias e posteriormente, mede como a pessoa se sente física e emocionalmente e o que elas pensam a respeito da sua saúde. Todas as subescalas vão de 0 a 100, sendo que escores mais altos indicam saúde melhor (Laaksonen et al., 2006). • Estilo de Vida Fantástico: O questionário Estilo de Vida Fantástico foi desenvolvido por Wilson e Sirika em 1984 no Departamento de Medicina Familiar da Universidade McMaster, no Canadá. Destina-se a ajudar médicos que trabalham com prevenção a entender e qualificar melhor o estilo de vida de seus pacientes. É uma ferramenta autoadministrada que avalia o comportamento do indivíduo no último mês e permite associar o estado de saúde com o estilo de vida. O questionário é composto por 25 questões organizadas em nove domínios: 1) família e amigos; 2) atividade física; 3) alimentação; 4) tabaco e drogas; 5) álcool; 6) sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro; 7) tipo de comportamento; 8) introspecção; 9) trabalho. As questões foram organizadas em escala Likert, sendo 23 perguntas com cinco opções de resposta e duas dicotômicas (sim/não). As alternativas são organizadas em colunas para que a codificação seja feita considerando que a alternativa à 26 esquerda seja sempre a de menor valor. Tal codificação é realizada por pontos: zero para a primeira coluna, 1 para a segunda coluna, 2 para a terceira coluna, 3 para a quarta coluna e 4 para a quinta coluna. As questões com apenas duas alternativas pontuam da seguinte forma: zero para a primeira coluna e 4 pontos para a última. A somatória dos pontos permite classificar os indivíduos a partir do escore total considerando cinco categorias: "Necessita melhorar" (0 a 34 pontos), "Regular" (35 a 54 pontos), "Bom" (55 a 69 pontos), "Muito bom" (70 a 84 pontos) e "Excelente" (85 a 100 pontos). É desejável que a classificação "Bom" seja sempre alcançada pelos indivíduos, pois haverá maior necessidade de mudança frente aos escores mais baixos. Em geral, a interpretação dos resultados pode ser realizada da seguinte forma: "Necessita melhorar" indica muitos fatores de risco no estilo de vida, "Regular" também apresenta riscos, porém, há algum benefício no estilo de vida para a saúde do indivíduo; "Bom" associa muitos benefícios à saúde decorrentes do estilo de vida; "Muito bom" um estilo de vida adequado para influenciar positivamente na saúde; e "Excelente" aponta ótima influência do estilo de vida na saúde (Rodriguez Añez et al., 2008). Além dos questionários genéricos em qualidade de vida, também foram utilizados questionários específicos para depressão, ansiedade e apoio social, conhecidos como: SQR-20 ou Self Reporting Questionnaire, IDATE t/e ou Inventário de Ansiedade Traço-Estado e o MOS ou questionário de Escala de Apoio Social Medical Outcome Study. • Self Reporting Questionnaire (SRQ-20): Em um esforço para a avaliação dos transtornos mentais nos países em desenvolvimento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) patrocinou o desenvolvimento do instrumento de pesquisa Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), um questionário autoaplicável, em escala dicotômica (sim/não) compostas por 20 afirmativas, onde o índice maior ou igual a 8 indica estado depressivo. Os aspectos positivos da utilização do SRQ-20 incluem o fato dele ser rápido para aplicar e apresentar linguagem acessível que facilita a compreensão, além de ser uma 27 ferramenta padronizada internacionalmente, com níveis de desempenho reconhecidamente aceitáveis em termos de especificidade, sensibilidade e valores preditivos (Mari et al., 1986). • Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE t/e): O Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE t/e) é uma das ferramentas mais amplamente utilizadas para avaliar de maneira quantitativa os componentes subjetivos da ansiedade. Elaborado em 1970 por Spielberger, Gorsuch e Lushene e traduzido e adaptado para o Brasil em 1979 por Biaggio e Natalício, o IDATE traz uma escala que classifica a ansiedade enquanto estado (IDATE-e) e outra que avalia a ansiedade como traço (IDATE-t). A ansiedade-estado se refere a uma reação temporária diretamente relacionada a um momento de adversidade específico, já a ansiedade-traço relaciona- se a uma característica inerente do indivíduo, sendo ele capaz de lidar com as situações com maior ou menor ansiedade ao longo da vida. A partir deste inventário, a escala IDATE-e requer que o participante descreva seu estado emocional "agora, neste momento" em relação a 20 itens dispostos em uma escala Likert de 4 pontos: 1- absolutamente não; 2- um pouco; 3- bastante; 4- muitíssimo. Da mesma forma, a escala traço também é composta de 20 itens, porém o participante é orientado a responder como "geralmente se sente", de acordo com uma nova escala Likert de 4 pontos: 1- quase nunca; 2- às vezes; 3- frequentemente; 4- quase sempre. Para que seja feita tanto a quantificação quanto a interpretação das respostas, uma pontuação foi atribuída à resposta dada para cada pergunta. Os escores para as perguntas de caráter positivo são invertidos, ou seja, se o indivíduo responder 4, atribui-se valor 1 na codificação; se responder 3, atribui-se valor 2; se responder 2, atribui-se valor 3; e se responder 1, atribui-se valor 4. Para o IDATE- estado, as perguntas negativas são: 3, 4, 6, 7, 9, 12, 13, 14, 17, 18; e as positivas: 1, 2, 5, 8, 10, 11, 15, 16, 19, 20. E para o IDATE-traço, as perguntas negativas são: 2, 3, 4, 5, 8, 9, 11, 12, 14, 15, 17, 18, 20; e as positivas: 1, 6, 7, 10, 13, 16, 19. Os escores indicam: baixo (20-30), médio (31-49) ou alto (≥ 50) nível de ansiedade (Cattell, 1963). • Escala de Apoio Social Medical Outcome Study (MOS): 28 Desenvolvida por Sherbourne e Stewart em 1991, a Escala de Apoio Social, MOS, foi idealizada para a utilização em pacientes crônicos, porém, devido a sua facilidade de aplicação, seu uso foi estendido em populações distintas com diferentes contextos com boa qualidade psicométrica a partir de diversos estudos. Esta tem o objetivo de avaliar o apoio de outras pessoas para que o indivíduo enfrente as mais diversas situações da vida. O questionário é composto por 19 questões que o participante deve responder após ser incialmente orientado: "Se você precisar, com que frequência conta com alguém?", respondendo com uma das cinco respostas possíveis de acordo com uma escala Likert de cinco pontos: 0 ("nunca"); 1 ("raramente"); 2 ("às vezes"); 3 ("quase sempre") e 4 ("sempre"). A estrutura interna é caracterizada por quatro fatores, denominados como apoio social do tipo informacional, emocional, material afetivo e de interação social positiva. Os escores interpretativos se encontram no quadro 1 (Gómez-Campelo et al., 2014). Quadro 1 - Escores Interpretativos Fonte: Gómez-Campelo et al., 2014. 29 4.5 Coleta de dados A primeira coleta de dados foi realizada no ano de 2015, presencialmente no ambulatório de atendimento dos pacientes do GETT. Os instrumentos foram aplicados por participante treinado a realizar a abordagem em formato de entrevista com a orientação de apenas dirimir as dúvidas dos participantes, sem induzir qualquer resposta. Em caso de dúvida, o pesquisador apenas repete a pergunta para o participante. Durante a pandemia, em decorrência da restrição de atendimento clínico e a impossibilidade de aplicar os instrumentos pessoalmente, os dados foram obtidos por meio de ligação telefônica. A aplicação dos questionários foi realizada pela pesquisadora, previamente calibrada, de modo a não induzir respostas, em formato de entrevista. As entrevistas levaram em média uma hora e meia há duas horas para cada participante e seguiu a seguinte ordem: SF-36, Estilo de Vida Fantástico, SRQ-20, IDATE t/e e MOS. 4.6 Análise Estatística Para os todos os questionários, os dados paramétricos receberam tratamento estatístico utilizando o teste t de Student e Anova + Tukey. Os dados não paramétricos, foram analisados pelos testes de Mann-Whitney/Wilcoxon. Em todos os testes foi adotado um nível de significância de 5%. E o grau de relação entre duas variáveis foi observado a partir da análise de correlação de Spearman. 30 5 RESULTADOS 5.1 Resultados dos questionários respondidos previamente à pandemia de COVID-19: 5.1.1 Participantes e Perfil Tabágico Dos 71 participantes do estudo, 66,2% deles eram mulheres (n=47) e 33,8% eram homens (n=24). Com relação a idade, a média foi de 54,5 anos de idade com idade máxima de 81 anos e mínima de 33 anos. Para os homens, a idade média foi de 55,9 anos, com idade máxima de 81 anos e mínima de 35 anos, e para as mulheres, a idade média foi de 53,7 anos, com idade máxima de 69 anos e mínima de 33 anos. A idade de início do uso de tabaco, para homens e mulheres do estudo, teve média de 16,9 anos, com homens apresentando um início mais precoce, aos 15,8 anos de idade em média e aos 17,6 anos de idade para mulheres. Referente ao tempo de uso, homens também apresentaram uma média maior, com 39,2 anos de uso e mulheres com 35,4 anos de uso. Com relação a número de cigarros fumados por dia, homens apresentaram média de 22,9 cigarros por dia e mulheres apresentaram média de 21,9 cigarros por dia, todos sendo considerados então como fumantes pesados, aqueles que fumam mais de 20 cigarros por dia. A carga tabágica para homens apresentou média de 48,3 maços-ano e para mulheres, média de 37,9 maços-ano. A respeito do Teste de Fagerström, que avalia o nível de dependência a nicotina da pessoa fumante, homens apresentaram média de 5,5 pontos e mulheres apresentaram média de 5,8 pontos. A conclusão sobre o grau de dependência é feita da seguinte forma: 0 - 2 pontos = muito baixo 3 - 4 pontos = baixo 5 pontos = médio 31 6 -7 pontos = elevado 8 -10 pontos = muito elevado Logo, os participantes do estudo apresentaram de médio a elevado grau de dependência a nicotina. Acerca da fase motivacional para parar de fumar em que o participante se encontrava, 70,42% deles estavam preparados para ação (n=50), 28,17% estavam em contemplação (n=20) e 1,41% estava em ação (n=1). Tabela 1 - Descrição das variáveis e perfil tabágico dos participantes do estudo (continua) Variáveis Participantes N 71 - Homens 24 - Mulheres 47 Idade (anos) 54,5±9,4(33-81) - Homens 55,9±10,1(35-81) - Mulheres 53,7±8,9(33-69) Início uso do tabaco (anos) 16,9±6,9 - Homens 15,8±5,4 - Mulheres 17,6±7,7 Tempo de uso (anos) 36,9±11,3 - Homens 39,2±11,0 - Mulheres 35,4±11,4 Quantidade de cigarros fumados/dia 22,3±11,7 - Homens 22,9±10,7 - Mulheres 21,9±12,4 Carga tabágica (maços/ano) 41,8±28,5 - Homens 48,3±29,6 - Mulheres 37,9±27,5 32 Tabela 1 - Descrição das variáveis e perfil tabágico dos participantes do estudo (conclusão) Variáveis Participantes Teste de Fagerström (pontos) 5,7 ± 2,4 - Homens 5,5±2,3 - Mulheres 5,8±2,4 Fase motivacional (participantes) Pré-contemplação 0 Contemplação 20 Preparado para ação 50 Ação 1 Fonte: Elaborado pelo autor. 5.1.2 Resultados dos Questionários Pré-Pandemia • SF-36: Quando comparados em relação ao Tempo de Uso (TU), verificamos uma correlação estatisticamente significante e negativa no domínio de Capacidade Física (CF) com r=-0,233 (p-valor=0,045), evidenciando que quanto maior o tempo de uso em anos pelo paciente, menor sua Capacidade Física (Tabela 2). Quando comparados grupos de participantes fumantes de menor e maior número de cigarros por dia (CIG), verificou-se uma correlação estatisticamente significante e negativa nos domínios de Vitalidade (VIT) com r=-0,354 (p-valor=0,002) e de Saúde Mental (SM) com r=-0,398 (p-valor=<0,001), nos mostrando que quanto maior a quantidade de cigarros fumados por dia, menor Vitalidade e Saúde Mental o paciente apresenta. Apesar das diferenças observadas em outros domínios do SF-36, estas não foram estatisticamente significantes. Em tais casos, o desvio padrão elevado, observado em alguns grupos, indica que outros fatores podem ter afetado a qualidade de vida do indivíduo (Tabela 2). 33 Já a comparação do SF-36 em relação ao Teste de Fagerström (TF), pudemos observar uma correlação estatisticamente significantes e negativa nos domínios de Vitalidade (VIT) com r=-0,284 (p-valor=0,014), Aspecto Social (AS) com r=-0,296 (p- valor=0,011) e Saúde Mental (SM) com r=-0,343 (p-valor=0,003), o que significa que quanto maior a pontuação no Teste de Fagerström, ou seja, quanto maior a dependência a nicotina, menor Vitalidade, Aspecto Social e Saúde Mental o paciente apresenta (Tabela 2). Quando comparados em relação a Carga Tabágica (CT), verificamos uma correlação estatisticamente significantes e negativa nos domínios: Capacidade Física (CF) com r=-0,236 (p-valor=0,043) e Saúde Mental (SM) com r=-0,252 (p- valor=0,030), evidenciando que quanto maior a carga tabágica, menor a Capacidade Física e Saúde Mental do paciente (Tabela 2). • Estilo de Vida Fantástico: Concluímos que existe correlação estatisticamente significante, ocorrida entre o número de cigarros fumados por dia (CIG) e Fantástico com r=-0,446 (p-valor <0,001). Esse valor por ser negativo nos mostra que quanto maior o CIG, menor será o escore Fantástico e vice-versa. Logo, quanto maior o CIG, pior o estilo de vida que o paciente apresenta. Podemos classificar essa correlação com sendo moderada (Tabela 2). • SRQ-20: Concluímos que existe correlação estatisticamente significante, ocorrida entre a pontuação do Teste de Fagerström (TF) e SRQ-20 com r=0,260 (p-valor=0,025). Este valor por ser positivo nos mostra que quanto maior a pontuação do Teste de Fagerström, mais deprimidos os participantes se apresentam (Tabela 2). • IDATE t/e: Não foi possível observar correlação estatisticamente significante entre idade de início, tempo de uso, número de cigarros fumados por dia, teste de Fagerström ou 34 carga tabágica com os resultados do questionário Inventario de Ansiedade Traço- Estado (Tabela 2). • Escala de Apoio Social Medical Outcomes Study MOS: Observou-se correlação estatisticamente significante, entre a pontuação do Teste de Fagerström (TF) e MOS com r=-0,243 (p-valor=0,037). Este, nos mostra que quanto maior a pontuação no Teste de Fagerström, ou seja, quanto maior a dependência a nicotina do participante, menor apoio social este apresenta (Tabela 2). Tabela 2 - Correlação entre perfil tabágico e os instrumentos aplicados ANTES da Pandemia (continua) Idade Idade Início TU CIG TF CT CF Corr (r) -0,166 0,188 -0,233 -0,112 -0,132 -0,236 P-valor 0,157 0,108 0,045 0,342 0,262 0,043 DOR Corr (r) 0,111 0,132 0,054 -0,205 -0,186 -0,028 P-valor 0,346 0,263 0,648 0,08 0,112 0,81 EGS Corr (r) 0,01 0,098 -0,016 -0,111 -0,106 -0,049 P-valor 0,931 0,407 0,89 0,348 0,369 0,681 VIT Corr (r) -0,058 0,116 -0,133 -0,354 -0,284 -0,216 P-valor 0,622 0,324 0,259 0,002 0,014 0,064 AS Corr (r) 0,055 0,002 0,059 -0,227 -0,296 -0,031 P-valor 0,642 0,983 0,62 0,052 0,011 0,793 AE Corr (r) 0,01 0,005 0,015 -0,089 -0,188 0,004 P-valor 0,931 0,969 0,902 0,451 0,108 0,972 AF Corr (r) 0,107 0,101 -0,057 -0,223 -0,06 -0,073 P-valor 0,398 0,426 0,655 0,077 0,639 0,565 SM Corr (r) 0,009 0,083 -0,053 -0,398 -0,343 -0,252 P-valor 0,939 0,484 0,654 <0,001 0,003 0,030 Fantástico Corr (r) 0,076 0,126 -0,036 -0,446 -0,327 -0,323 P-valor 0,518 0,285 0,763 <0,001 0,005 0,005 ESTADO Corr (r) -0,11 -0,169 0,019 -0,028 -0,026 -0,02 P-valor 0,352 0,15 0,873 0,811 0,826 0,867 TRAÇO Corr (r) 0,054 -0,053 0,046 0,126 -0,08 0,08 P-valor 0,645 0,655 0,695 0,284 0,497 0,496 35 Tabela 2 - Correlação entre perfil tabágico e os instrumentos aplicados ANTES da Pandemia (conclusão) Idade Idade Início TU CIG TF CT SRQ 20 Corr (r) -0,053 -0,061 -0,026 0,216 0,26 0,073 P-valor 0,656 0,606 0,826 0,064 0,025 0,535 MOS Corr (r) 0,026 0,084 -0,016 -0,162 -0,243 -0,077 P-valor 0,825 0,478 0,896 0,167 0,037 0,516 CF: capacidade funcional; Dor: ESG: estado de saúde geral; VIT: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos emocionais; AF: aspectos físicos; SM: saúde mental Fonte: Elaborado pelo autor. Os Resultados de MOS para apoio social e SRQ-20 para depressão quando comparados em relação ao Teste de Fagerström estão ilustrados na Figura 1. Estes, sugerem que menor apoio social reflete em maior depressão. Figura 1 - Resumo Resultados Antes MOS e SRQ-20 Fonte: Elaborado pelo autor. Com relação ao sexo, no período antes da pandemia de COVID-19, pudemos 36 observar que houve uma diferença estatisticamente significante entre homens e mulheres nos domínios de Capacidade Física, Aspecto Social e Aspecto Emocional do questionário SF-36. Uma diferença estatisticamente significante também foi observada para os questionários MOS e SRQ-20 (Tabela 3). Para Capacidade Física, tivemos que mulheres apresentaram uma média de 53,9 e homens apresentaram uma média de 73,6, logo, o sexo masculino se mostrou com melhor Capacidade Física do que o sexo feminino, tal padrão se repete para os outros domínios de Aspecto Social e Aspecto Emocional, mostrando que os homens apresentaram melhores escores de Aspecto Social e Emocional do que as mulheres. Para o questionário de Apoio Social MOS novamente este padrão se repete, com mulheres apresentando uma média de 53,7 e os homens, uma média de 73,2, o que significa dizer que os homens apresentaram maiores escores, logo, maior apoio social. Já para o questionário SRQ-20, a média para mulheres foi de 8,11 e para homens foi de 4,82, nos mostrando que as mulheres se apresentaram com mais sintomas depressivos do que os homens. Tabela 3 - Comparação sexo para escores ANTES da Pandemia (continua) Média Mediana Desvio Padrão Min Max N IC P- valor CF Feminino 60,9 60 25,2 10 100 46 7,3 0,034 Masculino 73,6 80 22,1 25 100 28 8,2 DOR Feminino 53,9 51 28,9 10 100 46 8,3 0,209 Masculino 62,1 63 25,9 10 100 28 9,6 EGS Feminino 56,8 57 21,5 5 92 46 6,2 0,129 Masculino 64,9 74,5 26,7 5 100 28 9,9 VIT Feminino 51,0 50 22,8 10 95 46 6,6 0,066 Masculino 61,1 70 27,7 5 100 28 10,3 37 Tabela 3 - Comparação sexo para escores ANTES da Pandemia (conclusão) Média Mediana Desvio Padrão Min Max N IC P- valor AS Feminino 65,8 75 29,6 12,5 100 46 8,5 0,021 Masculino 80,4 93,75 27,1 0 100 28 10,0 AE Feminino 59,2 66,66 44,2 0 100 46 12,8 0,008 Masculino 84,5 100 29,4 0 100 28 10,9 SM Feminino 57,5 56 22,6 12 100 46 6,5 0,051 Masculino 68,0 76 27,2 8 100 28 10,1 AF Feminino Masculino 49,6 53,0 50 58 18,7 17,7 14 23 76 76 46 28 5,7 7,2 0,542 Fantástico Feminino 56,1 57,5 10,3 24 75 46 3,0 0,518 Masculino 55,1 56,5 12,1 33 89 28 4,5 MOS Feminino 53,7 50 39,9 0 100 46 11,5 0,035 Masculino 73,2 100 37,2 0 100 28 13,8 ESTADO Feminino 48,7 49 11,3 23 69 46 3,3 0,514 Masculino 46,8 52 11,2 23 65 28 4,1 TRAÇO Feminino 48,5 47,5 9,1 28 69 46 2,6 0,713 Masculino 50,9 51 15,5 28 92 28 5,8 SRQ 20 Feminino 8,11 8,00 4,47 0 19 46 1,29 0,002 Masculino 4,82 2,50 5,28 0 20 28 1,96 CF: capacidade funcional; Dor: ESG: estado de saúde geral; VIT: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos emocionais; AF: aspectos físicos; SM: saúde mental Fonte: Elaborada pelo autor. 38 5.2 Resultados dos questionários respondidos durante pandemia de COVID-19: No segundo momento do presente estudo, durante a pandemia de COVID-19 em 2020, os participantes foram convidados a responder novamente aos mesmos questionários. Eles foram contatados via telefone e os questionários respondidos em forma de entrevista. Dos 71 participantes elegíveis para a avaliação, foi possível fazer contato com 19 deles, e destes, 12 foram incluídos e analisados, pois 1 recusou-se a participar, 3 estavam impossibilitados de responder por motivos de saúde e 3 faleceram no período de 2015 a 2020. A dificuldade para contato foi decorrente da ausência de telefone em algumas fichas (n=24) e a mudança de número de telefone de alguns participantes (n=28). Para esses participantes, foi realizada uma busca ativa no sistema do município utilizando dados como RG, CPF, CRA e endereço com o intuito de conseguir um novo telefone para contato, porém tal busca foi improdutiva. Devido ao isolamento, a pesquisadora estava impossibilitada de recorrer à entrevista na residência do indivíduo. O fluxograma do estudo está ilustrado na Figura 2. 39 Figura 2 - Fluxograma do Estudo Fonte: Elaborado pelo autor. 5.2.1 Participantes e Perfil Tabágico Dos 12 participantes que responderam aos questionários, 58,33% eram mulheres (n=7) e 41,6% eram homens (n=5). A idade média dos participantes foi de 57,67 anos, sendo 71 a idade máxima e 41 a idade mínima. Para as mulheres, a idade média foi de 57,71 anos, com idade máxima de 71 anos e mínima de 47 anos. Para os homens, a idade média foi de 57,60 anos, sendo a idade máxima 64 anos e a mínima 41 anos. A idade de início do uso do tabaco, para homens e mulheres, apresentou média de 15,42 anos. As mulheres apresentaram um início mais precoce, com média de idade de 14,14 anos em comparação a 17,20 anos para os homens. Referente ao tempo de uso, as mulheres também apresentaram uma média maior, com 36,29 anos de uso e homens com 27,80 anos de uso. 40 Com relação a número de cigarros fumados por dia, homens apresentaram média de 7 cigarros fumados por dia e mulheres apresentaram média de 10,29 cigarros fumados por dia. A carga tabágica para as mulheres apresentou média de 22,65 anos-maço e para homens, 9,20 anos-maço. A respeito do Teste de Fagerström, homens apresentaram média de 2,60 pontos e mulheres apresentaram média de 4,29 pontos. A conclusão sobre o grau de dependência é feita da seguinte forma: 0 - 2 pontos = muito baixo 3 - 4 pontos = baixo 5 pontos = médio 6 -7 pontos = elevado 8 -10 pontos = muito elevado Logo, homens e mulheres apresentaram grau de dependência baixo. Quanto ao sucesso do tratamento de cessação tabágica, 50% (n=6) dos participantes que responderam à pesquisa conseguiram parar de fumar e 50% (n=6) não conseguiram. Tabela 4 - Descrição das variáveis e perfil tabágico dos participantes DURANTE a pandemia (continua) Variáveis Participantes N 12 - Homens 5 - Mulheres 7 Idade (anos) 57,67±8,57(41-71) - Homens 57,60±9,40(41-64) - Mulheres 57,71±8,71(47-71) Início uso do tabaco (anos) 15,42±3,32 - Homens 17,20±3,70 - Mulheres 14,14±2,54 41 Tabela 4 - Descrição das variáveis e perfil tabágico dos participantes DURANTE a pandemia (conclusão) Variáveis Participantes Tempo de uso (anos) 32,75±9,90 - Homens 27,80±7,50 - Mulheres 36,29±10,36 Quantidade de cigarros fumados/dia 10,83±15,20 - Homens 7,00±9,75 - Mulheres 10,29±14,57 Carga tabágica (maços/ano) 18,19±26,92 - Homens 9,20±12,62 - Mulheres 22,65±32,19 Teste de Fagerström (pontos) 3,58±4,10 - Homens 2,60±4,34 - Mulheres 4,29±4,11 Parou de fumar (participantes) 6 - Homens 3 - Mulheres 3 Fonte: Elaborado pelo autor. 5.2.2 Resultados dos Questionários Durante a Pandemia • SF-36 Os participantes que responderam ao questionário SF-36, ficaram com a qualidade de vida entre 35 (regular) e 75 (bom), onde 0 representa pior qualidade de vida e 100 representa a melhor qualidade de vida. Não foi possível observar correlação estatisticamente significante quando 42 comparados em relação ao Tempo de Uso (TU) e Carga Tabágica (CT) (Tabela 4). Quando comparados grupos de participantes fumantes de menor e maior número de cigarros por dia (CIG), verificou-se uma correlação estatisticamente significante e negativa no domínio de Estado Geral de Saúde (EGS) com r=-0,619 (p- valor=0,032), evidenciando que quanto maior a quantidade de cigarros fumados por dia, pior o Estado Geral de Saúde dos participantes (Tabela 5). Já a comparação do SF-36 em relação ao Teste de Fagerström (TF), pudemos observar uma correlação estatisticamente significante e negativa nos domínios de Dor com r=-0,646 (p-valor=0,023), Estado Geral de Saúde (EGS) com r=-0,781 (p- valor=0,003) e Aspecto Social (AS) com r=-0,639 (p-valor=0,025), o que significa que quanto maior a pontuação no Teste de Fagerström, ou seja, quanto maior a dependência a nicotina, pior a Dor, Estado Geral de Saúde e Aspecto Social (Tabela 5). • Estilo de Vida Fantástico No Questionário Estilo de Vida Fantástico, 75% dos respondentes apresentaram estilo de vida “bom” (entre 55 e 69 pontos) e 25% apresentaram estilo de vida “regular” (entre 35 a 54 pontos). Ninguém apresentou estilo de vida “excelente” (85 a 100 pontos), "Muito bom" (70 a 84 pontos) ou "Necessita melhorar" (0 a 34 pontos). Não foi possível observar correlação estatisticamente significante entre idade de início, tempo de uso, número de cigarros fumados por dia, teste de Fagerström ou carga tabágica com os resultados do questionário Estilo de Vida Fantástico (Tabela 5). • SRQ-20 Em relação ao SRQ-20, 50% dos participantes se apresentaram deprimidos (n=6), ou seja, com pontuação maior ou igual a 8, e 50% não deprimidos (n=6). Não foi possível observar correlação estatisticamente significante entre idade de início, tempo de uso, número de cigarros fumados por dia, teste de Fagerström ou carga tabágica com os resultados do questionário SRQ-20 (Tabela 5). 43 • IDATE t/e Para o IDATE – traço, 58,33% apresentaram alto nível de ansiedade e 41,66% apresentaram médio nível de ansiedade. E para o IDATE – estado, 16,66% apresentaram alto nível de ansiedade e 83,33% apresentaram médio nível de ansiedade. Não foi possível observar correlação estatisticamente significante entre idade de início, tempo de uso, número de cigarros fumados por dia, teste de Fagerström ou carga tabágica com os resultados do questionário Inventário de Ansiedade Traço- Estado (Tabela 5). • Escala de Apoio Social Medical Outcomes Study MOS O Questionário Escala de Apoio Social Medical Outcomes Study, apresentou os seguintes resultados para Interação Social: 25% da amostra exibia baixa interação social enquanto 75% apresentavam média interação social. No domínio de Apoio Afetivo foi possível observar que 8,3% possuíam baixo apoio afetivo, 66,67% médio apoio afetivo e 25,03% alto apoio afetivo. Em relação ao Apoio Emocional, 33,33% da amostra possuía baixo apoio emocional, 58,33% médio apoio emocional e 8,34% alto apoio emocional. Já para Apoio Material, 8,34% tinham baixo apoio material, 58,33% médio apoio material e 33,33% alto apoio material. Não foi possível observar correlação estatisticamente significante entre idade de início, tempo de uso, número de cigarros fumados por dia, teste de Fagerström ou carga tabágica com os resultados do questionário Escala de Apoio Social Medical Outcomes Study (Tabela 5). 44 Tabela 5 - Correlação entre perfil tabágico e os instrumentos aplicados DURANTE a Pandemia Idade Idade Início TU CIG TF CT CF Corr (r) 0,115 0,531 -0,218 -0,098 -0,251 -0,043 P-valor 0,722 0,076 0,497 0,761 0,432 0,894 DOR Corr (r) 0,269 0,199 0,329 -0,485 -0,646 -0,36 P-valor 0,399 0,535 0,297 0,11 0,023 0,251 EGS Corr (r) 0,62 0,133 0,381 -0,619 -0,781 -0,526 P-valor 0,031 0,681 0,221 0,032 0,003 0,079 VIT Corr (r) 0,277 0,792 -0,347 -0,258 -0,335 -0,267 P-valor 0,383 0,002 0,269 0,417 0,288 0,401 AS Corr (r) 0,32 0,5 -0,241 -0,467 -0,639 -0,472 P-valor 0,311 0,098 0,45 0,126 0,025 0,121 AE Corr (r) 0,142 0,117 0,131 -0,389 -0,383 -0,375 P-valor 0,659 0,716 0,684 0,211 0,22 0,23 AF Corr (r) 0,091 0,206 0,073 -0,319 -0,313 -0,32 P-valor 0,778 0,521 0,822 0,312 0,322 0,31 SM Corr (r) 0,434 0,205 0,348 0,214 0,147 0,257 P-valor 0,159 0,523 0,267 0,505 0,65 0,42 Fantástico Corr (r) 0,211 0,025 0,154 0,309 0,366 0,277 P-valor 0,511 0,939 0,632 0,328 0,241 0,384 ESTADO Corr (r) -0,2 -0,358 -0,221 0,163 0,262 0,139 P-valor 0,532 0,254 0,489 0,612 0,41 0,668 TRAÇO Corr (r) -0,058 0,17 0,002 0,273 0,148 0,268 P-valor 0,858 0,597 0,996 0,391 0,646 0,399 SRQ 20 Corr (r) -0,233 -0,053 -0,392 0,339 0,47 0,263 P-valor 0,467 0,869 0,208 0,281 0,123 0,409 MOS Corr (r) 0,242 -0,106 0,424 -0,471 -0,489 -0,407 P-valor 0,449 0,743 0,17 0,122 0,107 0,189 CF: capacidade funcional; Dor: ESG: estado de saúde geral; VIT: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos emocionais; AF: aspectos físicos; SM: saúde mental Fonte: Elaborada pelo autor. Já com relação ao sexo, no período durante a pandemia de COVID-19, pudemos observar que houve uma diferença estatisticamente significa entre homens e mulheres no questionário IDATE-t, onde as mulheres apresentaram média de 51,7 e os homens de 46,2. Ambos apresentam um alto nível de traço ansioso, porém tal traço é maior entre as mulheres do que entre os homens (Tabela 6). 45 Tabela 6 - Comparação sexo para escores DURANTE da Pandemia (continua) Média Mediana Desvio Padrão Min Max N IC P-valor CF Feminino 69,9 75 23,5 20 90 7 17,4 0,254 Masculino 83,0 80 9,7 70 95 5 8,5 DOR Feminino 68,7 61 15,9 51 100 7 11,8 0,924 Masculino 58,4 64 28,4 10 84 5 24,9 EGS Feminino 62,1 52 16,7 45 87 7 12,4 0,850 Masculino 65,6 72 16,2 37 77 5 14,2 VIT Feminino 53,6 60 17,3 20 70 7 12,8 0,058 Masculino 77,0 80 13,5 55 90 5 11,8 AS Feminino 66,8 80 28,0 12,5 87,5 7 20,8 0,438 Masculino 81,4 87,5 12,5 62,5 92 5 10,9 AE Feminino 57,1 66,67 37,1 0 100 7 27,5 0,073 Masculino 95,0 100 7,1 85 100 5 6,2 SM Feminino 73,4 74 10,0 64 88 7 7,4 0,846 Masculino 72,2 69 12,6 60 92 5 11,0 AF Feminino Masculino 60,7 97,0 50 100 31,8 4,5 25 90 100 100 7 5 23,6 3,9 0,073 Fantástico Feminino 56,9 60 10,7 40 67 7 8,0 0,850 Masculino 57,8 57 6,1 50 66 5 5,3 MOS Feminino 43,3 43 19,0 18 65 7 14,1 0,257 Masculino 50,4 42 21,2 29 76 5 18,6 46 Tabela 6 - Comparação sexo para escores DURANTE da Pandemia (conclusão) ESTADO Feminino 41,1 40 6,2 33 52 7 4,6 0,255 Masculino 40,8 37 8,9 34 55 5 7,8 TRAÇO Feminino 51,7 52 4,6 46 57 7 3,4 0,029 Masculino 46,2 43 6,1 41 55 5 5,3 SRQ 20 Feminino 6,43 7,00 3,99 1 11 7 2,96 0,568 Masculino 6,00 8,00 4,69 0 10 5 4,11 CF: capacidade funcional; Dor: ESG: estado de saúde geral; VIT: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos emocionais; AF: aspectos físicos; SM: saúde mental Fonte: Elaborada pelo autor. A fim de facilitar a visualização dos resultados de SF-36 antes e durante a pandemia de COVID-19, um resumo é demonstrado na figura 3. 47 Figura 3 - Resumo SF-36 Antes e Durante Fonte: Elaborado pelo autor. 48 5.3 Comparação entre os Questionários Antes X Durante Embora exista diferença entre os momentos para todos os escores, as mesmas (diferenças) não são consideradas estatisticamente significantes, ou seja, os momentos são considerados estatisticamente iguais (Tabela 7). Tabela 7 - Comparação Antes X Durante Média Mediana Desvio Padrão Min Max N IC P- valor SF36 CF Antes 69,2 65 18,4 40 100 71 10,4 0,196 Durante 75,3 80 19,5 20 95 12 11 DOR Antes 65,7 73 28,1 10 100 71 15,9 0,76 Durante 64,4 63 21,4 10 100 12 12,1 EGS Antes 69,6 74,5 22,4 30 97 71 12,7 0,18 Durante 63,6 68,5 15,9 37 87 12 9 VIT Antes 60,4 65 24,3 25 100 71 13,7 0,581 Durante 63,3 65 19,3 20 90 12 10,9 AS Antes 72,9 81,25 28,6 12,5 100 71 16,2 0,814 Durante 72,9 83,75 23,3 12,5 92 12 13,2 AE Antes 77,8 100 38,5 0 100 71 21,8 0,528 Durante 72,9 87,5 33,9 0 100 12 19,2 AF Antes 64,2 75 35 0 100 12 19,8 0,411 Durante 75,8 92,5 30,1 25 100 12 17,1 SM Antes 68,7 82 28,3 20 100 71 16 0,722 Durante 72,9 71,5 10,6 60 92 12 6 Fantástico Antes 56,6 53,5 11,7 45 89 71 6,6 0,61 Durante 57,3 59 8,8 40 67 12 5 IDATE T/E ESTADO Antes 48,3 50,5 13,5 23 69 71 7,6 0,071 Durante 41 39 7,1 33 55 12 4 TRAÇO Antes 48 50,5 11,3 28 64 71 6,4 0,724 Durante 49,4 50 5,8 41 57 12 3,3 SRQ 20 Antes 5,8 5,5 5,1 0 14 71 2,9 0,687 Durante 6,3 7,5 4,1 0 11 12 2,3 MOS Antes 46,1 43 17,3 21 76 71 10,3 0,789 Durante 43,5 42 17,8 18 70 12 10,5 CF: capacidade funcional; Dor: ESG: estado de saúde geral; VIT: vitalidade; AS: aspectos sociais; AE: aspectos emocionais; AF: aspectos físicos; SM: saúde mental Fonte: Elaborada pelo autor. 49 6 DISCUSSÃO O presente estudo teve como objetivo avaliar como a pandemia impactou o consumo de tabaco e qualidade de vida no período de restrição social. Considerando que a hipótese do estudo era de uma relação positiva entre os índices dos questionários SF-36, Questionário Estilo de Vida Fantástico, SRQ-20, IDATE t/e e MOS, com o uso de tabaco no cenário de pandemia, mostrando uma deterioração da saúde mental e física durante esse período e consequente aumento no consumo/uso do tabaco, observamos que apesar das diferenças observadas entre os resultados dos questionários respondidos antes X durante a pandemia de COVID- 19, estas, não foram consideradas estatisticamente significantes. Logo, no presente estudo, a qualidade de vida dos participantes manteve-se durante o período de lockdown. Tais resultados diferem de alguns estudos que evidenciam impacto significante da pandemia de COVID-19 no estresse, depressão e ansiedade (Fancourt et al., 2021; Husky et al., 2020). Uma pesquisa translacional em larga escala durante a pandemia de COVID-19 na população em geral revelou um efeito negativo do confinamento domiciliar no bem-estar mental e emocional, com mais pessoas desenvolvendo sintomas depressivos “durante” em comparação com “antes” do período de confinamento (Ammar et al., 2020). Considerando a população idosa, uma revisão de literatura evidenciou que o grau de solidão e qualidade de vida foram afetados negativamente (Sayin Kasar, Karaman, 2021). Já para crianças e adolescentes, uma revisão de literatura observou que, devido a grandes mudanças em suas vidas diárias, como fechamento de escolas, distanciamento social ou confinamento em casa, independentemente do sexo, a qualidade de vida foi afetada negativamente (Nobari et al., 2021). Na mesma linha, estudos anteriores mostraram que as meninas são mais vulneráveis ao sofrimento psicológico do que os meninos (de la Barrera et al., 2019). Além disso, um estudo brasileiro revelou que os brasileiros reduziram as atividades físicas, aumentaram o tempo dedicado às telas (TV, tablets e/ou computadores), reduziram o consumo de alimentos saudáveis e aumentaram a ingestão de alimentos ultra processados, bem como o consumo de cigarro e álcool (Malta et al., 2020). Outro estudo brasileiro, realizado virtualmente com uma amostra de 45.160 indivíduos, revelou que 34% dos participantes da pesquisa relataram 50 aumento no consumo de cigarros. Esse aumento foi maior entre as mulheres e os fatores foram associados à piora da qualidade do sono, ao sentimento de isolamento dos familiares, de tristeza ou de estar deprimido, ansioso, de ficar sem rendimentos e de pior avaliação do estado de saúde (Malta et al., 2021). Todavia, é importante ressaltar que houve diferença estatisticamente significativa entre o hábito de fumar e pior qualidade de vida nos dois momentos para alguns dos instrumentos aplicados. Tal relação entre o hábito de fumar e pior qualidade de vida também foi observada em diversos estudos (Jia, Lubetkin, 2010; Laaksonen et al., 2006; Strine et al., 2005; Vogl et al., 2012; Wilson et al., 1999). A avaliação do questionário SF-36 antes da pandemia de COVID-19 evidenciou que em relação ao Tempo de Uso de cigarro, houve uma correlação estatisticamente significativa e negativa no domínio de Capacidade Física, evidenciando que quanto maior o tempo de uso em anos pelo participante, menor sua Capacidade Física. Quando foram comparados os grupos de participantes fumantes de menor e maior número de cigarros por dia, houve uma correlação estatisticamente significativa e negativa nos domínios de Vitalidade e de Saúde Mental, evidenciando que quanto maior a quantidade de cigarros fumados por dia, menor Vitalidade e Saúde Mental o paciente apresenta. Já a comparação do SF-36 em relação ao Teste de Fagerström, pudemos observar uma correlação estatisticamente significativa e negativa nos domínios de Vitalidade, Aspecto Social e Saúde Mental, o que significa que quanto maior a pontuação no Teste de Fagerström, ou seja, quanto maior a dependência a nicotina, menor Vitalidade, Aspecto Social e Saúde Mental o paciente apresenta. Quando comparados em relação a carga tabágica, verificamos uma correlação estatisticamente significativa e negativa nos domínios: Capacidade Física e Saúde Mental, evidenciando que quanto maior a carga tabágica, menor a Capacidade Física e Saúde Mental do paciente. Já a avaliação do questionário SF-36 durante a pandemia de COVID-19, os resultados do questionário SF-36, quando comparados grupos de participantes fumantes de menor e maior número de cigarros por dia, verificou-se uma correlação estatisticamente significativa e negativa no domínio de Estado Geral de Saúde, evidenciando que quanto maior a quantidade de cigarros fumados por dia, pior o Estado Geral de Saúde dos participantes. A comparação do SF-36 em relação ao Teste de Fagerström, pudemos observar uma correlação estatisticamente significativa 51 e negativa nos domínios de Dor, Estado Geral de Saúde e Aspecto Social, o que significa que quanto maior a pontuação no Teste de Fagerström, ou seja, quanto maior a dependência a nicotina, pior a Dor, Estado Geral de Saúde e Aspecto Social. Estudos anteriores usando o SF-36 corroboram com esses achados e relatam problemas de saúde com o aumento da quantidade de cigarros fumados por dia (Mulder et al., 2001; Wilson et al., 1999). Além disso, estudos sobre mortalidade também mostraram uma relação dose-dependente com a quantidade de fumo (Doll et al., 2004). Um estudo mostrou que diferenças entre as categorias de tabagismo (baixo, médio e alto consumo) foram encontradas em algumas subescalas físicas e mentais do SF-36. As diferenças foram ligeiramente maiores entre os homens (Laaksonen et al., 2006). No presente estudo, com relação ao sexo, pudemos observar que os homens também apresentaram escores maiores nos domínios de Capacidade Física, Aspecto Social e Aspecto Emocional do questionário SF-36 respondidos antes da pandemia de COVID-19, o que significa dizer que demostraram melhor Capacidade Física, Aspecto Social e Emocional que as mulheres. Lyons et al. observaram que os participantes fumantes se classificaram como tendo pior estado de saúde em comparação com os que nunca fumaram em quatro dos oito domínios de saúde avaliados no SF-36. Os fumantes relataram serem menos ativos fisicamente, sentirem mais dores no corpo, terem menos vitalidade e, em geral, se considerarem menos saudáveis. Não houve diferenças nas limitações devido a problemas físicos, funções sociais, limitações devido a problemas emocionais ou de saúde mental (Lyons et al., 1994). Isso também foi confirmado por outros (Segovia et al., 1989; Tillmann, Silcock, 1997). O presente estudo também mostrou menos vitalidade e pior saúde mental ao comparar pessoas que fumam menos (1-19) e mais (40-60) cigarros por dia. Como podemos observar, neste estudo, dos 8 domínios presentes no questionário SF-36 (capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental), 6 deles (capacidade funcional, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental) apresentaram uma diferença estatisticamente significativa quando correlacionados com a dependência em tabaco, evidenciando que o tabagismo afeta na qualidade de vida do usuário. Para o questionário Estilo de Vida Fantástico, respondido antes da pandemia 52 de COVID-19, observamos que existe correlação estatisticamente significante ocorrida entre o número de cigarros fumados por dia. Este nos mostra que quanto maior o número de cigarros fumados por dia, menor será o escore Fantástico, isto é, pior o estilo de vida do participante. Tais achados corroboram com os do estudo de Seon Mee Kim et al., onde foi constatado que os fumantes tinham pior estilo de vida em comparação com os que nunca fumaram, e, ao comparar grupo de fumantes de menor e maior número de consumo de cigarros por dia, aqueles que fumavam mais cigarros tinham pior estilo de vida (Seon Mee Kim et al., 1996). Para os questionários IDATE t/e, respondidos antes do período de pandemia de COVID-19, não foi possível observar correlação estatisticamente significativa entre o hábito de fumar e os escores obtidos. O questionário SRQ-20, respondido antes da pandemia de COVID-19, evidenciou que existe correlação estatisticamente significante entre a pontuação do Teste de Fagerström e SRQ-20. Este nos mostra que quanto maior a pontuação do Teste de Fagerström, mais deprimidos os participantes se apresentaram. Diversos estudos demostraram uma associação entre tabagismo e depressão (Grabovac et al., 2017; Killen et al., 2003; Mykletun et al., 2008; Xue et al., 2017). Uma revisão crítica com cinquenta e quatro estudos relevantes sobre tabagismo e qualidade de vida conclui que a baixa qualidade de vida e a depressão estão associadas a maiores chances de iniciar o tabagismo e menores chances de cessação tabágica bem- sucedida (Goldenberg et al., 2014). Em relação ao questionário Escala de Apoio Social Medical Outcomes Study (MOS), respondido antes da pandemia de COVID-19, observamos uma correlação estatisticamente significante, ocorrida entre a pontuação do Teste de Fagerström e MOS. Este, nos mostra que quanto maior a pontuação no Teste de Fagerström, ou seja, quanto maior a dependência a nicotina do paciente, menor apoio social este apresenta. Um estudo que analisou o suporte social, a heterogeneidade da rede de apoio e o comportamento tabagista em mulheres demonstrou que as mulheres que relataram baixa heterogeneidade de sua rede de apoio ou nenhum apoio de seus parceiros ou parentes tinham aproximadamente 1,2 vezes mais chances de serem fumantes em comparação com suas contrapartes com alta heterogeneidade ou alto suporte social (Väänänen et al., 2008). No presente estudo, os homens apresentaram apoio social mais alto do que as mulheres. Em um estudo realizado por Bodenmann 53 et al. (2015), os autores evidenciaram que apesar de se ter previsão de que as mulheres dão mais apoio social em relacionamentos do que os homens, as diferenças no apoio são moderadas pelo estresse e generalizações acerca do sexo dos indivíduos podem subestimar a qualidade do apoio que os homens podem oferecer quando há ausência de estresse (Bodenmann et al., 2015). Frente aos resultados encontrados quando da aplicação dos questionários MOS e SRQ-20, sugerimos que o menor apoio social reflete em maior depressão. Tal achado corrobora com uma revisão de literatura feita por Gariépy et al. (2016), em que as evidências foram, em geral, altamente consistentes e apoiam a noção de que o apoio social é um importante fator de proteção em relação à depressão (Gariépy et al., 2016). Para os questionários Estilo de Vida Fantástico, IDATE t/e, SRQ-20 e MOS, respondidos durante o período de pandemia de COVID-19, não foi possível observar correlação estatisticamente significativa entre o hábito de fumar e os escores obtidos em tais instrumentos. Como podemos observar, existe uma relação negativa entre tabagismo e qualidade de vida e a magnitude dessa associação está ora relacionada ao tempo de uso, ora ao número de cigarros fumados por dia, ora à dependência a nicotina e ora à carga tabágica do paciente. O fumo passivo também parece estar negativamente associado à qualidade de vida e a cessação do tabagismo pode resultar em melhora significativa da qualidade de vida (Goldenberg et al., 2014). Com relação ao sucesso do tratamento de cessação tabágica, 50% (n=6) dos participantes que responderam à pesquisa durante o período de pandemia de COVID- 19, conseguiram parar de fumar e 50% (n=6) não conseguiram. Um estudo realizado na Itália demonstrou que a preocupação com a COVID-19 fez que 3,3% dos fumantes abandonassem o hábito (di Renzo et al., 2020). Já um estudo realizado na Espanha por López-Moreno et al. (2020), mostrou que no período inicial de lockdown, 38,8% das pessoas relataram ganho de peso e, na contrapartida, 31% perderam peso, 18,3% revelaram o aumento do consumo de bebida alcoólica e da porcentagem tabagista, 7,5% aumentaram o consumo de cigarros (López-Moreno et al., 2020). Em resumo, o hábito de fumar afeta a qualidade de vida do usuário e a cessação do tabagismo é importante porque está associada a melhorias duradouras na qualidade de vida. Os efeitos positivos da cessação do tabagismo na qualidade de 54 vida, na ansiedade e na depressão são impressionantes e devem ser destacados para todos os fumantes e principalmente para aqueles que estão pensando em parar de fumar. Essa associação foi identificada em vários países, comorbidades e diversos grupos socioeconômicos e culturais (Goldenberg et al., 2014). Dentre as limitações do estudo é preciso mencionar que o número de participantes que responderam aos questionários durante a pandemia é inferior ao que foi estimado no princípio e é reflexo da constante alteração de formas de contato sem atualização nos sistemas de saúde, da ausência de registro dos dados na base de dados do município e impossibilidade de contato pessoal com os participantes devido ao lockdown. 55 7 CONCLUSÃO Considerando as limitações do estudo, decorrentes principalmente pelo lockdown, a qualidade de vida geral de pacientes fumantes em tratamento para cessação tabágica manteve-se a mesma durante a pandemia de COVID-19. Apesar disso, os instrumentos aplicados evidenciam a existência de uma relação negativa entre tabagismo e qualidade de vida e, a magnitude dessa associação, está ora relacionada ao tempo de uso, ora ao número de cigarros fumados por dia, ora à dependência a nicotina e ora à carga tabágica do paciente. Ainda, frente aos resultados da aplicação dos questionários MOS e SRQ-20, o estudo sugere que quanto menor o apoio social, maiores os sintomas de depressão. 56 REFERÊNCIAS Ahmed MZ, Ahmed O, Aibao Z, Hanbin S, Siyu L, Ahmad A. Epidemic of COVID-19 in China and associated psychological problems. Asian J Psychiatr. 2020;51:102092. doi: 10.1016/j.ajp.2020.102092. Ammar A, Mueller P, Trabelsi K, Chtourou H, Boukhris O, Masmoudi L, et al. Psychological consequences of COVID-19 home confinement: the ECLB-COVID19 multicenter study. PLoS One. 2020;15(11):e0240204. doi: 10.1371/journal.pone.0240204. Barrera-Núñez DA, Rengifo-Reina HA, López-Olmedo N, Barrientos-Gutiérrez T, Reynales-Shigematsu LM. Cambios en los patrones de consumo de alcohol y tabaco antes y durante la pandemia de Covid-19. Ensanut 2018 y 2020. Salud Publica Mex. 2022;137–47. doi: 10.21149/12846. Bodenmann G, Meuwly N, Germann J, Nussbeck FW, Heinrichs M, Bradbury TN. 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