NILO ANTONIO DE SOUZA SAMPAIO ESTUDO DA CORROSÃO DAS LIGAS Ni-Cr-Mo PARA PRÓTESES DENTÁRIAS FIXAS EM SOLUÇÃO AQUOSA DE NaF 0,05%, NaCl 0,05% E EM COLUTÓRIOS COMERCIAIS Tese apresentada à Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, para a obtenção do título de Doutor em Engenharia Mecânica na área de Projetos e Materiais. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Norberto Codaro Co-Orientador: Profª Drª Heloisa A. Acciari Guaratinguetá 2011 2 DADOS CURRICULARES NILO ANTONIO DE SOUZA SAMPAIO NASCIMENTO 26.10.1968 – Resende-RJ FILIAÇÃO Emmanuel Pedro W. Sampaio Irma S de Souza Sampaio 1990/1994 Graduação em Engenharia Industrial Química EEL/USP (Extinta FAENQUIL) 2003/2005 Mestrado em Engenharia Mecânica Universidade de Taubaté – Taubaté-SP 2006/2011 Doutorado em Engenharia Mecânica UNESP – Guaratinguetá – SP 3 Dedico este Trabalho Gostaria de dedicar este trabalho ao meu pai Emmanuel Pedro W. Sampaio falecido em Fevereiro de 2007 e que sempre me incentivou a continuar os estudos e buscar sempre uma posição melhor e do qual guardo um carinho e uma saudade indescritíveis, e também a minha querida irmã Patrícia Sampaio que é minha grande amiga e que sempre me apoiou nos momentos bons e difíceis. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado forças diante de tantas adversidades ter conseguido chegar a conclusão desta Pós Graduação ao nível de Doutorado. Ao meu pai Emmanuel Sampaio (in memorian) que sempre me incentivou a seguir em frente nos estudos e não desistir nunca. Ao Prof. Dr. Eduardo Codaro pela transparência, incentivo, empenho e seus conhecimentos transmitidos nos resultados e na discussão oferecida ao trabalho. A Profª Drª Heloisa A. Acciari pelo carinho e disponibilidade que demonstrou em todos os momentos e pelas sugestões criativas para a finalização do trabalho. Ao Prof. Dr. Hamilton de Felipe pelos conhecimentos transmitidos e pelo apoio a realização deste trabalho. Ao Prof. Dr. Roberto Zenhei Nakazato pelo apoio constante e ajuda imprescindível na realização deste trabalho. À UNESP - Campus de Guaratinguetá, pela oportunidade de realizar o curso de pós- graduação. A Dra. Conceição Aparecida Matsumoto Dutra pela ajuda constante e bondade com que me acolheu como colega de pesquisa nesta instituição. Ao José Benedito Galhardo pela usinagem dos corpos-de-prova. 5 A todos os alunos de pós-graduação e iniciação científica do Laboratório de Eletroquímica e Corrosão, pela amizade e pelo companheirismo em todas as fases da pesquisa. Aos técnicos do Departamento de Materiais e Tecnologia, UNESP Campus de Guaratinguetá Wilson Roberto Monteiro e Célio José de Souza, pelo apoio na execução dos trabalhos experimentais. Ao Prof. Dr. Luis Rogério de Oliveira Hein pelo uso do Laimat I para a realização das análises de microscopia óptica. Ao Prof. Dr. Hélcio José Izário Filho do Laboratório Absorção Atômica - DEQUI – EEL/USP - Campus I pela análise de absorção atômica. Às funcionárias da seção de pós-graduação, Juliana Casella, Maria Cristina Silva de Oliva, Sidney Eustáquio Ramos Rabelo e Regina Célia Galvão F. Alves, pela colaboração e apoio nos períodos de matrículas e términos dos trabalhos. Às funcionárias da Biblioteca pela dedicação, atenção, boa vontade e em especial a Ana Maria Ramos Antunes pelo profissionalismo, colaboração e paciência nos trabalhos de pesquisa dos periódicos. Agradecimento a todas as pessoas que, de uma forma direta ou indireta, contribuíram para o enriquecimento deste trabalho. 6 SAMPAIO, N. A. S. Estudo da corrosão das ligas Ni-Cr-Mo, para próteses dentárias fixas em solução aquosa de NaF 0,05%, NaCl 0,05% e em colutórios comerciais. 2011. 130f. Tese (Doutorado em Engenharia Mecânica) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá. 2011. RESUMO As ligas Ni-Cr-Mo têm sido usadas como próteses dentárias por possuírem boa resistência mecânica, elevada resistência à corrosão e também por serem economicamente viáveis. A proteção contra a corrosão destas ligas em soluções salinas típicas de meios fisiológicos é devida ao fenômeno de passivação com a formação de uma camada superficial de óxidos, principalmente óxidos de cromo. Este filme protetor submetido a esforços mecânicos num ambiente corrosivo pode se romper parcialmente liberando íons que apresentam efeitos deletérios no corpo humano. Íons fluoreto existentes em produtos de higiene modificam o ambiente bucal e sua presença pode possibilitar o início de um processo corrosivo localizado. O objetivo deste trabalho foi estudar a resistência à corrosão de três ligas de Ni-Cr-Mo, de diferentes composições: SC (73% Ni; 14%Cr; 8,5%Mo; 1,8% Be; 1,8%Al), SB (61%Ni; 25%Cr; 10,5%Mo; 1,5%Si) e W (65%Ni; 22,5%Cr; 9,5%Mo; 1,0% Nb; 1,0% Si; 0,5%Fe) em meios contendo fluoretos que simulam as soluções de enxágue bucal. O estudo foi realizado em solução de NaF 0,05 %, NaCl 0,05 % e colutórios comerciais em pH 6,0 a 37ºC, utilizando análise metalográfica, técnica de imersão e ensaios eletroquímicos, . A liga SC, com o maior teor de níquel e o menor teor de cromo não se passiva nos meios estudados apresentando um aumento contínuo na densidade de corrente em função do aumento do potencial, enquanto que as outras ligas apresentam intervalo de passivação de 600 mV e densidade de corrente passiva 10-6 A / cm2. De um modo geral, considerando os ensaios de corrosão por imersão e eletroquímicos, conclui-se que o pior desempenho foi atribuído à liga SC, enquanto que, W e SB apresentaram os melhores desempenhos e comportamentos bastante similares. PALAVRAS-CHAVE: Ligas Ni-Cr-Mo, Próteses dentárias, Corrosão, Colutórios. 7 SAMPAIO, N. A. S. Study of corrosion of Ni-Cr-Mo, for fixed prostheses in aqueous solution of 0.05% NaF, NaCl 0.05% and mouthwash commercial. 2011. 130f. Thesis (Doctorate in Mechanical Engineering) - Faculdade de Engenharia do Campus de Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista, Guaratinguetá. 2011. ABSTRACT Ni-Cr-Mo alloys have been used as dental prostheses due their properties such as good mechanical strength, high corrosion resistance and also because they are economically viable. These alloys corrosion protection in salt solutions which are typical of physiological media, is due to the phenomenon called passivation with an oxide superficial layer formation, particularly chromium oxides. This protective film, subjected to mechanical stress in a corrosive environment,can be broken partially releasing ions that have deleterious effects in a human body. Fluoride ions, existent in hygiene products, change the oral environment and their presence may enable the beginning of a localized corrosion process. The objectics this work is to evaluate the corrosion resistance of three Ni-Cr-Mo alloys, of different compositions: SC (73% Ni, 14% Cr, 8.5% Mo, 1.8% Be, 1.8% Al) SB (61% Ni, 25% Cr, 10.5% Mo, 1.5% Si) and W (65% Ni, 22.5% Cr, 9.5% Mo, 1.0% Nb, 1.0% Si, 0.5% Fe) in media containing fluoride which simulate oral rinse solutions. This study has been in solution of 0.05% NaF, NaCl 0.05% and commercial mouthwashes on pH 6.0 at 37 ° C using metallography analyses, immersion techniques, and electrochemical tests, impedance tests and analysis. SC, with the highest nickel and the lowest chromium content, does not passivate in the studied means showing a continuous increase in current density due to increasing potential, while the other alloys exhibit passivation range of 600 mV and passive current density 10-6 A / cm2. In general, considering the immersion and electrochemical corrosion tests, it is concluded that the worst performance has been attributed to the alloy SC, while W and SB have shown the best performance and very similar behaviors. KEYWORDS: Ni base alloys. Dental prostheses. Corrosion, Mouthwash. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Imagens de todos os tipos de Próteses Fixas: (A) Implante, (B) Coroas, (C) Pontes 21 Figura 2 – Diagrama de equilíbrio para a liga binária Ni-Cr 26 Figura 3 – Diagrama de equilíbrio para a liga binária Cr-Mo 27 Figura 4 – Diagrama de equilíbrio para a liga binária Mo-Ni 28 Figura 5 – Ensaio de imersão das ligas Ni-Cr-Mo em solução de NaF 0,05% (m/m) 52 Figura 6 – Célula empregada nos ensaios eletroquímicos 55 Figura 7 – Esquema típico de uma medida de potencial em circuito aberto: ER – eletrodo de referência, ET – eletrodo de trabalho 58 Figura 8 - Perturbação em um experimento de voltametria cíclica 59 Figura 9 – Voltamograma típico para um par redox reversível O + Ne- R 60 Figura10 – Forma de onda AC para o potencial aplicado e a corrente resultante 62 Figura 11 – Circuito equivalente para uma célula eletroquímica 64 Figura 12 – Diagrama de Nyquist para um sistema eletroquímico simples 64 Figura 13 – Diagrama de Bode para sistema eletroquímico simples 65 Figura 14 – Fonte de corrente contínua utilizada no ataque eletrolítico 67 Figura 15 – Microscópio óptico utilizado para captura e análise de imagens 68 Figura 16 – Processo de solidificação da dendrita 71 9 Figura 17 – Micrografia Eletrônica da liga W, após ataque eletrolítico por solução de HCl 20 % com uma ampliação de 2000x 72 Figura 18 – Imagens da liga W indicando as regiões em que foram realizadas as análises de EDS. 72 Figura 19 – Micrografia Eletrônica liga SB, após ataque eletrolítico por solução de HCl 20 % com uma ampliação de 2000x. 73 Figura 20 – Imagens da liga SB indicando as regiões em que foram realizadas as análises de EDS. 73 Figura 21 – Micrografia Eletrônica da liga SC, após ataque eletrolítico por solução de HCl 20 % com uma ampliação de 2000x. 74 Figura 22 – Imagens da liga SC indicando as regiões em que foram realizadas as análises de EDS. 74 Figura 23 – Ilustração esquemática de uma seção transversal de uma área interdendrítica para as ligas Ni-Cr-Mo 76 Figura 24 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo das ligas W, SB e SC em NaF 0,05 % 80 Figura 25 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo das ligas W, SB e SC em NaCl 0,05 % 80 Figura 26 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo das ligas W, SB e SC em meio CP 81 10 Figura 27 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo das ligas W, SB e SC em meio NS 82 Figura 28 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo das ligas W, SB e SC em meio L. 83 Figura 29 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo das ligas W, SB e SC em meio C. 83 Figura 30 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo da liga W em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios comerciais 85 Figura 31 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo da liga SB em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios comerciais 86 Figura 32 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo da liga SC em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios comerciais 86 Figura 33 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo da liga W em NaCl e NaF 0,05% 87 Figura 34 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo da liga SB em NaCl e NaF 0,05% 88 Figura 35 – Curvas de potencial em circuito aberto com o tempo da liga SC em NaCl e NaF 0,05% 88 Figura 36 – Curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC em NaF 0,05 % 90 Figura 37 – Curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC em NaCl 0,05 % 91 Figura 38 – Curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC em meio CP 92 11 Figura 39 – Curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC em meio NS 92 Figura 40 – Curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC em meio L 93 Figura 41 – Curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC em meio C 94 Figura 42 – Curvas de polarização potenciodinâmica da liga W em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios 95 Figura 43 – Curvas de polarização potenciodinâmica da liga SB em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios 96 Figura 44 – Curvas de polarização potenciodinâmica da liga SC em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios 97 Figura 45 – Curvas de polarização potenciodinâmica da liga W em NaCl e NaF 0,05% 98 Figura 46 – Curvas de polarização potenciodinâmica da liga SB em NaCl e NaF 0,05% 98 Figura 47 – Curvas de polarização potenciodinâmica da liga SC em NaCl e NaF 0,05% 99 Figura 48 – Superfície da liga SC antes do ataque 100 Figura 49 - Superfície da liga SC depois do ataque 101 Figura 50 – Voltamogramas cíclicos das ligas W, SB e SC, com v = 10mV/s, Em NaF 0,05% 102 Figura 51 – Voltamogramas cíclicos das ligas W, SB e SC, com v = 10mV/s, 103 em meio CP Figura 52 – Voltamogramas cíclicos das ligas W, SB e SC, com v = 10mV/s, em meio NS 104 Figura 53 – Voltamogramas cíclicos das ligas W, SB e SC, com v = 10mV/s em meio L 105 12 Figura 54 – Voltamogramas cíclicos das ligas W, SB e SC, com v = 10mV/s em meio C 106 Figura 55 – Voltamogramas cíclicos da liga W, com v = 10 mV/s, em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios 107 Figura 56 – Voltamogramas cíclicos da liga SB, com v = 10 mV/s, em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios 107 Figura 57 – Voltamogramas cíclicos da liga SC, com v = 10 mV/s, em meio NaF e em diferentes tipos de colutórios 108 Figura 58 – Gráficos de Impedância obtidos para as diferentes ligas em estudo em meio NaF: (A) Formato do plano complexo, (B) Variação do ângulo de fase com a frequência, (C) Variação do módulo da impedância com a frequência 110 Figura 59 – Gráficos de Impedância obtidos para as diferentes ligas em estudo em meio NaCl: (A) Formato do plano complexo, (B) Variação do ângulo de fase com a freqüência, (C) Variação do módulo da impedância com a freqüência 112 Figura 60 – Gráficos de Impedância obtidos para as diferentes ligas em estudo em meio CP: (A) Formato do plano complexo, (B) Variação do ângulo de fase com a frequência, (C) Variação do módulo da impedância com a frequência. 114 Figura 61 – Gráficos de Impedância obtidos para as diferentes ligas em estudo em meio C: (A) Formato do plano complexo, (B) Variação do ângulo de fase com a frequência (C) Variação do módulo da impedância com a frequência 116 13 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Propriedades de Ligas Metálicas (ANUSAVICE, 1998)................. 22 Tabela 2 – Composição (% em massa) de algumas ligas de Ni-Cr 24 Tabela 3 – Composição (% em massa) de algumas ligas de Co-Cr 24 Tabela 4 – Composição química das ligas metálicas (% m/m)......................... 50 Tabela 5 – Propriedades mecânicas das ligas metálicas..................................... 50 Tabela 6 – Características e composição dos colutórios indicadas na embalagem 56 Tabela 7 – Resultados da análise quantitativa por absorção atômica e dos cálculos de perda de massa para as três ligas. 79 Tabela 8 – Potencial de aparente estabilização (V/ECS) para as ligas W, SB e SC 84 Tabela 9 – Parâmetros obtidos das curvas de polarização potenciodinâmica das ligas W, SB e SC 94 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BF - Amostra como recebida do fabricante (bruta de fusão) FAENQUIL - Faculdade de Engenharia Química de Lorena FEG - Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá MO - Microscopia óptica EIS – Espectroscopia de Impedância Eletroquímica jpass - Densidade de corrente de passivação jcorr - Densidade de corrente de corrosão jmin - Densidade de corrente mínima jcrit - Densidade de corrente crítica Eruptura-Ecorr - Intervalo de passivação Ecorr - Potencial de corrosão Eruptura - Potencial de ruptura c.p. – Comercialmente puro 15 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 INTRODUÇÂO.................................................................. 17 1.1 Objetivo do trabalho............................................................................... 19 CAPÍTULO 2 REVISÂO BIBLIOGRÁFICA.................................................... 20 2.2.1 Ligas Nobres ........................................................................................... 20 2.2.2 Ligas de metais base................................................................................ 20 2.2.3 Biocompatibilidade, corrosão e o impacto da liberação de íons no organismo................................................................................................. 32 2.2.4 Estudos da estrutura e corrosão das ligas Ni-Cr-Mo............................... 36 2.2.5 Resistência à Corrosão das Ligas Ni-Cr em colutórios comerciais.................................................................................................. 45 CAPÍTULO 3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................... 50 3.1 Composição das ligas estudadas........................................................... 50 3.2 Ensaios de Corrosão............................................................................... 51 3.2.1 Ensaios não eletroquímicos...................................................................... 51 3.2.1.1 Ensaios de imersão................................................................................... 51 3.2.1.2 Espectroscopia de absorção atômica........................................................ 53 3.2.2 Ensaios eletroquímicos ............................................................................ 53 3.2.2.1 Eletrodos de trabalho................................................................................ 54 3.2.2.2 Eletrodo de referência e eletrodo auxiliar................................................ 54 3.2.2.3 Célula Eletroquímica................................................................................ 55 3.2.2.4 Soluções e Colutórios............................................................................... 56 3.2.2.5 Técnicas Eletroquímicas........................................................................... 57 3.2.2.5.1 Potencial em circuito aberto com o tempo (Eca)........................................ 57 3.2.2.5.2 Curvas de polarização potenciodinâmica (CP) ........................................ 58 3.2.2.5.3 Voltametria cíclica (VC)........................................................................... 59 3.2.2.5.4 Ensaio de polarização com o objetivo de caracterizar a superfície da SC após o ataque corrosivo: 61 3.2.2.5.5 Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIE)................................ 61 3.3 Análise Metalográfica..................................................................... 66 3.3.1 Preparação dos corpos de prova e revelação da microestrutura................ 66 3.3.2 Microscopia óptica (MO).......................................................................... 67 16 3.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV).................................. 69 3.3.4 Espectroscopia por Dispersão de Energia (EDS)............................. 69 CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................ 70 4.1 Caracterização Microestrutural...................................................... 70 4.1.1 Microscopia eletrônica (MEV).................................................................. 70 4.2 Ensaios de Corrosão................................................................................ 77 4.2.1 Ensaios de imersão................................................................................. 77 4.2.2 Ensaios eletroquímicos........................................................................... 79 4.2.2.1 Medidas de potencial em circuito aberto................................................ 79 4.2.2.2 Curvas de polarização potenciodinâmica............................................... 89 4.2.2.3 Ensaio de polarização com o objetivo de realizar um ataque na liga SC 100 4.2.2.4 Voltametria Cíclica................................................................................ 102 4.2.2.5 Espectroscopia de impedância eletroquímica......................................... 109 4.2.2.5.1 Efeito da Concentração de íons fluoreto e dos íons cloreto no comportamento eletroquímico 109 CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES.............................................................................. 118 Referências................................................................................................................... 120 17 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Biomaterial pode ser definido como qualquer material sintético que substitui ou restaura a função de tecidos do corpo e que mantém contato contínuo ou intermitente com os fluídos orgânicos. Considerando que haverá contato com os fluídos corporais, é essencial que o material apresente biocompatibilidade, não produza resposta imunológica adversa, não induza efeito sistêmico, não seja tóxico, carcinogênico, antigênico ou mutagênico. Porém, a utilização de biomateriais pode causar efeitos adversos no corpo humano, devido à liberação de metais citotóxicos. Todo biomaterial metálico implantado possui alguma interação com os tecidos em contato, havendo liberação de íons por dissolução, desgaste ou corrosão. A corrosão intra-bucal é considerada um processo complexo, que depende da composição e estado termomecânico da liga, em combinação com a fabricação, acabamento de superfície, aspectos mecânicos em função, do meio e o estado sistêmico do hospedeiro (MORAIS; GUIMARÃES ; ELIAS, 2007). Indícios de elementos metálicos no organismo humano são muitas vezes originados de biomateriais implantados no corpo. Os íons metálicos podem ser liberados de biomateriais metálicos, como próteses ortopédicas, placas, parafusos, implantes, etc. Esta biodegradação de metais pode causar vários fenômenos como o transporte, a metabolização, o acúmulo deste material nos órgãos, além disso, causar alergia e carcinomas. Uma grande quantidade de íons metálicos liberada pode ser prejudicial à saúde do indivíduo. A liberação de íons metálicos de biomateriais deve ser entendida para uma melhor discussão a respeito da segurança e da biocompatibilidade destes materiais (HANAWA, 2004). A resistência e a biocompatibilidade de algumas ligas em meios orais são de fundamental importância devido à possibilidade da formação de produtos alérgicos, tóxicos ou mesmo produtos de corrosão carcinogênicos (EFTEKHARI, 2003). A interação destes materiais com os fluídos do corpo humano e outros, podem favorecer as degradações de seus constituintes. É fato comprovado que as doenças que acometem a cavidade bucal são de origem infecciosa e o uso de produtos para higiene 18 bucal contendo alta concentração em fluoreto e diferentes valores de pH têm aumentado muito nos últimos anos (TORRES et al., 2000). Todavia, alguns profissionais relutam em empregar os agentes antimicrobianos para seus pacientes, às vezes, por desconhecimento dos efeitos que os mesmos podem ocasionar ou por apresentarem resolução clínica mais eficaz para o caso. Sendo o desenvolvimento da cárie dentária decorrente do acúmulo de bactérias sobre os dentes e da ingestão frequente de açúcar, uma das medidas primárias para o seu controle seria a remoção periódica da placa dental bacteriana. Entretanto, a medida de maior impacto tem sido atribuída ao uso abrangente de flúor, sob várias formas de utilização. A saliva, por apresentar cálcio e fosfato, os principais minerais componentes da estrutura cristalina dos dentes, protege naturalmente tanto o esmalte como a dentina. Por outro lado, essa propriedade biológica da saliva é dependente do pH. Assim, variações de pH determinarão o limite da capacidade de proteção da saliva e considerando-se que nos dias atuais as pessoas estão expostas ao flúor, seja pela ingestão de água ou pelo uso de dentifrícios fluoretados, a presença constante de flúor na saliva muda suas propriedades físico-químicas com relação ao pH crítico de dissolução (CURY, 2002). Os colutórios possuem ação química sobre os dentes auxiliando a higiene no restabelecimento ou manutenção da saúde bucal, pois são soluções anti-sépticas de grande valia como complementação da higiene bucal mecânica. Entretanto, as influências de suas composições e do pH no comportamento da resistência à corrosão das ligas dentárias precisam ser investigadas em meios mais próximos do real (CURY, 2002). Fluoreto de Sódio e outros fluoretos são frequentemente utilizados como agentes profiláticos em tratamentos dentários para prevenir formação de placas dentárias e o desenvolvimento de cáries. O flúor está presente em todos os cremes dentários de uso geral que estão no mercado. Apesar de ser benéfico, ele deve ser usado ou ingerido na dosagem correta, para que a prevenção não resulte em efeitos nocivos à saúde. Os cremes, géis e os enxaguatórios bucais (colutórios) não são as únicas fontes de flúor existentes as quais a população tem acesso. Os governos estaduais e federais, por meio de programas 19 de prevenção da cárie dentária, utilizam métodos para fazer chegar o flúor a toda à população, inclusive a mais carente, com o objetivo de reduzir a incidência de cárie, como por exemplo: • adição de flúor à água de abastecimento público (água fluoretada); • adição de flúor ao leite (geralmente em programas alimentares em escolas públicas) sob a forma de comprimidos ou gotas; • distribuição gratuita de escovas e cremes dentários. Nesse contexto, é necessário aprofundar o conhecimento sobre a reatividade de ligas Ni-Cr-Mo em meios aquosos ácidos contendo fluoretos que simulem cremes, géis e colutórios. 1.1 OBJETIVO DO TRABALHO Estudar o processo de corrosão eletroquímica de ligas comerciais de Ni-Cr-Mo utilizadas na área odontológica, para fabricação de próteses dentárias, nos meios NaF 0,05 %, NaCl 0,05 % e colutórios comerciais, com e sem flúor. 20 CAPÍTULO 2 REVISÂO BIBLIOGRÁFICA As ligas odontológicas podem ser classificadas em ligas nobres, constituídas basicamente de ouro e paládio, ou ligas de metal base, constituídas principalmente de níquel e cobalto. Nas ligas nobres, o ouro é sempre o componente em maior percentual com pequenas quantidades de prata, cobre, platina, paládio e zinco (MONDELLI, 1995). Ligas de metal base contendo níquel são encontradas com ampla aplicação na odontologia com porcentagem variando de 60 a 80%. 2.2.1 Ligas Nobres Por definição, esta classe de ligas odontológicas deve conter 40 % do peso em ouro e 60 % em peso de outros metais nobres. A maior desvantagem encontra-se no custo de produção dessas restaurações, tornando-as inacessíveis a boa parcela da população. São geralmente monofásicas e de fácil manuseio, exceto as ligas de Au-Pt-Zn (WATAHA;NELSON;LOCKWOOD, 2001). Possuem baixos módulos de elasticidade – entre 65 e 105 GPa. A dureza Vickers encontra-se com valores entre 165 e 280 kg/mm2 (WATAHA, 2002). São subdivididas em três tipos: ouro-platina (Au-Pt), ouro-paládio (Au-Pd) e ouro-cobre-prata-paládio (Au-Cu-Ag-Pd). A segurança biológica das ligas de ouro não impede a consideração do alto custo com materiais e com os equipamentos específicos para o manuseio desta liga, não havendo dúvidas de que as ligas áuricas sejam as mais biocompatíveis (BEZZON, et al 2001). 2.2.2 Ligas de metais base As ligas de metais base empregadas na fabricação de próteses fixas, como ilustrado na Figura 1, surgiram no mercado odontológico na década de 30, devido aos fatores sócio-econômicos que abalaram a economia mundial, iniciando-se assim o desenvolvimento dessas ligas alternativas e são empregadas na fabricação de coroas metal-cerâmicas (DHAMAR;RATHNASAMY;SWAMINATHAN, 1993). 21 (A) (B) (C) Figura-1: (A) Secção transversal de um dente: Implante, (B) Implante Completo, (C) Coroas e Pontes Dente Implante Prótese Fixa Pônticos Coroas sobre os Pilares da Prótese Preparos Dentais 22 Desde a década de 30 essas ligas têm se tornado cada vez mais populares nas aplicações odontológicas competindo em propriedades mecânicas com as ligas de ouro convencionais. As ligas à base de Ni e Cr apresentam uma composição de Ni em torno 60 % a 80 % , de Cr entre 12 a 25 % , além dos demais componentes Fe, Al, Mo, Si, Be, Mn, C, Co, Sn e Ti em concentrações de 0,1 a 14 % m/m. Propriedades mecânicas como dureza, ductibilidade e resistência à tração se tornaram preocupações importantes na confecção de novas ligas (VAN NOORT, 1994), além da resistência à corrosão e a biocompatibilidade (WATAHA, 2002). Tais fatores incentivaram os pesquisadores a buscar ligas odontológicas alternativas que possuíssem propriedades mecânicas iguais ou melhores que as ligas de ouro convencionais (ALEXANDRE, 2000). Na Tabela 1 estão comparadas algumas das propriedades de diferentes ligas metálicas utilizadas na odontologia. Tabela 1 – Propriedades das Ligas Metálicas (ANUSAVICE, 1998) Propriedades Ligas Nobres Co-Cr Ni-Cr Ti c.p. Biocompatibilidade Excelente Excelente Regular Excelente Densidade (g/cm3) 14 7,5 7,5 4,5 Módulo de Elasticidade (GPa) 90 145-220 210 103 Sensibilidade Térmica Mínima Alta Alta Extrema- mente Alta União à Porcelana Excelente Regular Boa Regular Custo do Metal relativo Alta Baixo Baixo Baixo Outras formulações de ligas alternativas foram introduzidas na odontologia. Porém, as ligas de Ni-Cr ganharam destaque devido ao seu baixo custo, versatilidade e vasta aplicação, como em restaurações metalocerâmicas, pinos-radiculares, coroas e 23 próteses parciais removíveis e ainda as próteses fixas. Estas ligas precisam ter boa biocompatibilidade, facilidade de fusão, fundição, soldagem, polimento, pouca contração de solidificação, mínima reatividade com o material de revestimento, boa resistência ao desgaste, excelente resistência ao manchamento e à corrosão (ANUSAVICE, 1998). A resistência ao manchamento e a corrosão das ligas de Ni é de grande interesse devido ao potencial alergênico do níquel e seus compostos (HUGET;VERMILYEA,1982;KEDICE et al.,1998). Processos corrosivos podem conduzir à liberação de íons metálicos no meio fisiológico que entram em contato com células e tecidos. Estas ligas são resistentes à corrosão devido ao fenômeno de passivação, com a formação de óxidos estáveis na superfície, como o Cr2O3 (ROACH et al.,2000;WINKLER;MORRIS;MONTEIRO,1984;OKAZAKI;TATEISHI,1997). Óxidos de Ni, Cr, Mo, Nb e de outros elementos podem ser formados na superfície, sob ação do oxigênio atmosférico após o polimento. Por outro lado, a composição e a espessura da camada de óxidos podem ser afetadas após sucessivas refundições, gerando imperfeições que poderão conduzir ao fenômeno da corrosão localizada, principalmente em meios salinos (ELBERT;RYGE,1965;HARCOUT;COTTERILL,1965). Segundo Mondelli (1995) dois grupos de ligas de metal base são oferecidos comercialmente para serem utilizados em restaurações metalocerâmicas: uma a base de níquel, como apresentado na Tabela 2, e outra a base de cobalto, como apresentado na Tabela 3, sendo o cromo o segundo metal predominante. Em particular, a composição básica das ligas comerciais Ni-Cr existentes é de 60 % a 80 % de Níquel e 12 % a 25% de Cromo (MONDELLI, 1995). 24 Tabela 2 – Composição (% em massa) de algumas ligas de Ni-Cr (MONDELLI, 1995) Nome Fabrican te Ni Cr Mo Co Fe Mn Zn Nicron G Metallo y 70,0 19,1 4,20 0,25 0,68 0,65 0,10 Kromalit Kenebel 62,5 20,4 6,25 1,60 2,50 0,15 0,005 Resistal Degussa 62,5 18,5 9,85 2,50 2,10 0,22 0,006 Tabela 3 – Composição (% em massa) de algumas ligas de Co-Cr (MONDELLI, 1995) Nome Fabricante Co Cr Mo Biosil H Degussa 65,7 28,5 4,5 Vitallium Nobelpar ma 60,6 31,5 6,0 Wisil Krupp 65,0 28,0 5,0 Devido a inúmeras variáveis que envolvem o material e o meio bucal, as ligas metálicas usadas como biomateriais são normalizadas pela ASTM G31– American Society for Testing and Materials, (1972). As propriedades das ligas de níquel dependem fundamentalmente de sua composição, das fases presentes e do tratamento térmico ao qual são submetidas. A consulta dos diagramas de equilíbrio de fases também se torna importante no entendimento dessas propriedades (HANSEN, 1958). Neste sentido vários trabalhos foram realizados, levando- se em conta técnicas de caracterização dos materiais como por exemplo, estudos de difração de raios-X, microscopia eletrônica, análise por sonda de elétrons, análise térmica diferencial, análise química (AMERICAN SOCIETY FOR METALS, 1992; BARAN, 1983). 25 O estudo dos diagramas de constituição das ligas metálicas oferece ao pesquisador uma base de temperatura para tratamentos térmicos, possibilitando alterações das quantidades relativas dos constituintes da estrutura interna e decorrentes modificações das características e propriedades das ligas metálicas. As Figuras 2 a 4 apresentam os diagramas binários de equilíbrio de fases dos principais elementos constituintes das ligas em estudo, sendo os seguintes sistemas: níquel-cromo, cromo-molibdênio, molibdênio-níquel. A observação do diagrama de fases do sistema Ni-Cr revela uma grande solubilidade do cromo (Cr) em níquel (Ni) (HANSEN, 1958; NATAL, 2006). Com isso, não há precipitação de solução endurecedora e torna-se necessário adicionar elementos que confiram resistência mecânica, fundibilidade, capacidade de união à porcelana e resistência à corrosão. O cromo (Cr) é responsável pela formação de uma película de óxidos firmemente aderida e resistente à corrosão. Os demais componentes comumente presentes são: ferro (Fe), alumínio (Al), molibdênio (Mo), silício (Si), berílio (Be), manganês (Mn), cobalto (Co), carbono (C), tungstênio (W), nióbio (Nb), boro (B), cobre (Cu), titânio (Ti), gálio (Ga), magnésio (Mg) e estanho (Sn), em concentrações em torno de 0,1 % a 14 % em peso (BARAN, 1983). Uma análise do diagrama de fases binário da liga Ni-Cr mostra que para uma liga contendo em torno de 61% de níquel (porcentagem em massa), devendo o material possuir uma matriz de níquel-cromo (rica em níquel) com a presença da fase eutética, o que está de acordo com as microestruturas obtidas, muito embora a liga em análise não seja binária (SAMPAIO, 2009). As ligas de Ni-Cr são austeníticas desde a solidificação até a temperatura ambiente, não apresentando transformações de fases (SÁ, 2006). 26 Figura 2 – Diagrama de equilíbrio para a liga binária Ni-Cr (BARAN, 1983) A observação do diagrama de fase binário para o sistema Ni-Cr apresentado na Figura 2 revela uma solubilidade sólida extensa de cromo em níquel. Como resultado, as ligas binárias não endurecem por precipitação. Aproximadamente 37% de Cr podem permanecer dissolvidos à temperatura ambiente na matriz chamada γ. 27 Figura 3 – Diagrama de equilíbrio para a liga binária Cr-Mo (BARAN, 1983) O diagrama Cr-Mo da Figura 3 indica completa solubilidade do Cr em Mo no estado líquido e sólido e o diagrama Mo-Ni da Figura 4 indica solubilidade de Mo em Ni acima de 12% em massa. 28 Figura 4 – Diagrama de equilíbrio para a liga binária Mo-Ni a 37oC (BARAN, 1983) De acordo com os três diagramas de equilíbrio apresentados nas Figuras 2 a 4 as ligas de níquel contendo teores de cromo menores que 30 % em massa e teores e molibdênio menores que 12 % em massa formam soluções sólidas com a estrutura cúbica de face centrada (CFC). Duas soluções sólidas - cúbica de face centrada (CFC) de níquel e cúbica de corpo centrado (CCC) cromo - são formadas durante a reação eutética. Devido ao grande número de fabricantes, observa-se uma variedade de ligas que apresentam em sua composição vários elementos. Estas ligas podem ser divididas em: ligas que não contém berílio, contém berílio 2 % em peso, nióbio 4 % em peso, molibdênio 9,5 % em peso e titânio 4 % em peso. Outros elementos podem estar 29 presentes em pequenas quantidades como: alumínio, boro, carbono, cobalto, cobre, cério, gálio, ferro, manganês, silício, estanho e zircônio. Estes elementos são necessários para conferir a liga resistência mecânica, resistência à corrosão, fundibilidade, fluidez e capacidade de união com a porcelana. O Ni é um elemento versátil e apresenta completa solubilidade com o cobre. O cromo e o ferro têm solubilidade parcial, o que possibilita a obtenção de inúmeras ligas. Vale ressaltar que os casos de dermatites de contato observados, que são associados a esta liga, ocorrem devido à presença do Ni (BEZZON, 1993). Este pode ser substituído pelo cobalto, já que são elementos intercambiáveis, o que implicará em aumento da dureza, resistência à tração, módulo de elasticidade, havendo em contrapartida a diminuição do alongamento e ductibilidade (PHILLIPS, 1978). O níquel oferece uma resistência à corrosão muito grande e é uma excelente base para o desenvolvimento de ligas para aplicações dentárias, apesar dos casos de dermatite. Observou-se que o índice de cromo nas ligas a base de níquel acima de 20% e o índice de molibdênio acima de 4% pode assegurar a resistência à corrosão adequada (JOHANSSON;LEMONS;HAO,1989;HUANG,2002). O Cr é responsável pela resistência à corrosão e pela formação de uma película de óxido de natureza passiva (HUANG, 2003). São necessários no mínimo 12% em peso para a formação dessa película. Em estudos laboratoriais, concentrações de 16% a 27% tendem a formar uma camada mais uniforme de óxido de Cr2O3 e Cr(OH)3 com maior resistência à corrosão (BARAN, 1983). A camada de óxido de cromo associa-se com o alumínio proveniente do agente de ligação entre o substrato de metal e a porcelana (ANUSAVICE, 1998). O Mo quando adicionado e em conjunto com o cromo melhora a resistência à corrosão. Segundo Huang, (2002) apresenta-se em concentrações em torno de 8%. O aumento da resistência à corrosão por pites é devido à formação do composto de polimolibdato (Mo7O24 6-) que possui alta afinidade por íons de hidrogênio, ocorrendo reação do íon polimolibdato com hidrogênio e impedindo o pH de baixar. O Mo é um metal refratário que se oxida lentamente, mas o óxido produzido (MoO3) é facilmente 30 volatilizado se a temperatura for superior a 700ºC. Possibilita também a formação de carbetos que melhoram algumas propriedades mecânicas. (HUANG et al., 2005). O Nb apresenta uma grande tendência à formação de óxidos com excelente resistência à corrosão. O óxido de nióbio é fortemente aderido ao substrato metálico o que contribui para uma melhor adesão à porcelana (BEZZON, et al 1998). O Nb ainda tem a possibilidade de formar um composto eutético com o níquel que poderia auxiliar na fluidez da liga. O Be melhora a fluidez das ligas de Ni-Cr, devido à formação do eutético Ni-Be que se fundem antes das demais fases. Segundo Rollo, (1997), a temperatura de fusão pode diminuir em até 100 ºC, aumentando a fluidez (OKUNO; TESK; PENN, 1989). Outra função associada ao Be é a melhora da adesão da porcelana, em função da formação de óxidos no interior e na superfície do eutético Ni-Be. Contudo Bezzon et al., (2001), não encontraram diferenças estatísticas na resistência de união à porcelana entre ligas de Ni- Cr com e sem a presença de Be. Há um aumento nos valores de resistência à tração, bem como limite de escoamento e módulo de elasticidade em função do aumento das concentrações de Be (GEIS-GERSTORFER; PÄSSLER, 1993). Uma condição de elemento tóxico é atribuída ao Be em situações não controladas (ANUSAVICE, 1998). Segundo Eftekhari (2003), o aumento da quantidade de Be na composição da liga aumenta significativamente a corrosão. Ligas contendo Be podem não formar óxidos superficiais que providenciem a melhor resistência à corrosão (ROACH et al., 2000). As mais baixas taxas de corrosão e os mais altos potenciais de ruptura das ligas refundidas que não contém berílio são atribuídas ao cromo, molibdênio e aos óxidos da superfície ricos em nióbio, comparadas com as ligas que contém berílio que exibem reduzidas taxas de óxido de cromo e molibdênio. Os óxidos de nióbio na superfície podem ser particularmente efetivos no aumento da resistência à corrosão por causa de sua baixa solubilidade em soluções fisiológicas. As taxas de corrosão das ligas refundidas que contém berílio são aproximadamente 10 a 100 vezes maiores que as ligas refundidas que não contém berílio e uma quantidade de berílio (acima de 0,6 %) nestas ligas promove a corrosão por frestas (POURBAIX M, 1984; GOFF;JOIRET;ABOURAZZOUK,1998). 31 As superfícies das ligas que contém berílio são heterogêneas com falhas nas camadas de óxido de cromo e molibdênio. Existe uma polêmica com relação ao papel do berílio na dureza da liga, alguns autores acham que o mesmo contribui para o endurecimento da liga e outros dizem o contrário, sabe-se, porém que o berílio é adicionado para se conseguir uma melhor moldagem da liga. Segundo Helsen e Brene (1998) o berílio é adicionado em algumas ligas á base de Níquel em concentrações de 1% a 2% em massa para diminuir a temperatura de fusão, aumentar a fluidez e assim facilitar o processo de fundição, entretanto, há uma preocupação quanto ao potencial de toxidade do Be contidos nessas ligas, portanto seu uso é controverso em virtude de seus efeitos biológicos. Sabe-se ainda que o Be contribui e muito para o processo corrosivo, pois a fase eutética do Ni-Be nessas ligas é responsável pelo desenvolvimento dessas falhas nos óxidos, esses dados sugerem que, no estado de refundição, as ligas que não contém berílio, com 13 % a 20 % de Cr, 9 % a 17 % Mo e acima de 5 % de nióbio podem formar camadas de óxidos superficiais capazes de providenciar uma melhor resistência à corrosão (BAUER, et al 2006). O C é o elemento mais crítico, pois pequenas variações têm um efeito pronunciado na resistência mecânica, dureza e ductibilidade. A afinidade deste, por vários elementos que compõem a liga de Ni-Cr, facilita a formação de inúmeros carbetos metálicos. A precipitação destes carbetos é um fator de importância na resistência de uma liga, porém, se houver excesso uma indesejável friabilidade (que é a característica de uma substância que é facilmente desmontada, fraturada, desmanchada, dissolvida ou destruída) pode ocorrer. Os carbetos segundo Liu et al., (2003), são ainda responsáveis pela melhoria da resistência à deformação. Parece claro que o aumento da concentração de carbono tem uma influência na diminuição da resistência à corrosão, já que o carbono tem a característica de formar compostos que degradam a liga. O Si é adicionado à liga com a função de proteção, para que se evite que elementos importantes se oxidem durante o processo de fundição (ANUSAVICE, 1998). Este elemento ainda atua como redutor no processo de fundição altera as propriedades mecânicas e melhora a ductibilidade. A concentração deste elemento deve ficar com 32 teores menores que 3,5 % para que se alcance uma liga de propriedades favoráveis ao uso odontológico. O silício também pode ser incorporado acidentalmente à liga durante o processo de fundição porque o molde contém compostos de silício. Torna-se, portanto, de fundamental importância entender o papel dos elementos químicos das ligas metálicas para que se tenham mínimas alterações durante os processos laboratoriais de fundição, para se entender também o comportamento das diferentes ligas utilizadas no mercado e, portanto, para se alcançar o sucesso das próteses fixas. 2.2.3 Biocompatibilidade, corrosão e o impacto da liberação de íons no organismo Os materiais implantados no corpo humano exigem primeiro a biocompatibilidade e segundo, que o material não sofra corrosão, desta forma não haverá degradação do implante, evitando consequentemente a liberação dos íons metálicos pelo ambiente corporal. Simulação em condições ambientais similares ao meio implantável pode ser realizada por experimentos químicos e eletroquímicos, fornecendo os parâmetros básicos das reações de corrosão, necessárias para a caracterização dos materiais de uso cirúrgico. No ambiente bucal, outra forma possível de corrosão, é a corrosão galvânica, que ocorre quando se têm dois materiais metálicos diferentes imersos na saliva e estes se apresentam ligados eletricamente entre si de alguma forma. A corrosão em meio aquoso é um processo eletroquímico. Para que ocorra corrosão do metal, uma reação de oxidação (geralmente uma dissolução do metal ou formação de óxido) e uma reação de redução (redução do íon hidrogênio em meio aquoso ou do oxigênio principalmente) devem ocorrer simultaneamente. Conforme as equações (1) e (2), esquematizadas numa forma genérica: Reação anódica : Me Me n+ + ne − (1) Reação catódica : Ox + ne − Red (2) 33 Assim, para tornar possível a corrosão eletroquímica de um determinado metal é necessária a presença de um meio oxidante, que possa ser reduzido de acordo com a equação (2). Os elétrons produzidos pela reação anódica têm que ser consumidos na mesma proporção pela reação catódica. O2 + 2H2O + 4e − 4OH − (3) O2 + 4H + + 4e − 2H2O (4) 2H + + 2e − H2 (5) Separadamente na oxidação metálica a reação anódica pode também ser uma oxidação de compostos orgânicos existentes na saliva. A reação catódica representada pela equação (3) é normalmente a mais relevante na cavidade bucal. Entretanto, as equações (4) e (5) devem, algumas vezes, ser consideradas em pites e frestas onde o meio é ácido com valores de pH menores. O metal sob corrosão é equivalente a uma célula de produção de energia de um pequeno circuito, onde a energia é dissipada durante o consumo do reagente catódico e a formação de produtos de corrosão. Uma vez que elétrons são liberados pela reação anódica e consumidos pela reação catódica, a corrosão pode ser expressa em termos de uma corrente eletroquímica. Assim, a corrente total formada pela reação catódica deve ser igual e de sinal oposto àquela consumida pela reação anódica. No caso de formação de uma pilha o material metálico menos nobre ou com um filme menos protetor, atuará como ânodo e ocorrerá uma reação de oxidação (corrosão); o metal mais nobre ou com um filme passivo, atuará como cátodo e sobre ele ocorrerá uma reação de redução de alguma espécie presente no meio. O filme passivo confere ao metal ou à liga metálica maior resistência à oxidação, podendo ser mais ou menos resistente em diferentes ligas e composições. O rompimento desse filme permite a corrosão do metal ou da liga (FERREIRA, 2005). 34 Quanto mais estável for um filme passivo em um meio considerado, melhor a resistência à corrosão dos implantes. A quantidade de metal liberado varia consideravelmente dependendo da natureza e força da ligação metal-óxido, estrutura, vacâncias, elementos intersticiais, grau de ordem, papel do elemento ligante, composição e espessura dos filmes óxidos (BROWNE; GREGSON., 1994). A biodegradação é passível de ocorrer no meio bucal, onde há dissolução e destruição pela saliva, destruição físico-química, desgaste e erosão, causados por alimentação, mastigação, como também, pela atividade bacteriana, sendo a corrosão a principal causadora deste fenômeno (SYRJÄNEN et al., 1985; LYGRE, 2002; HOUSE et al., 2008). Mjor e Christensen (1993) Apud Lygre (2002) ressaltam que não existe metal inerte e que todos os metais podem ser degradados pelo meio em que se encontram. Além disso, a variedade de fatores físico-químicos do meio em que a liga se encontra, tais como os produtos de corrosão, pode acelerar, retardar ou não influenciar a corrosão. De acordo com Agaoglu et al. (2001) ao avaliar uma liga Ni-Cr em saliva e soro constatou um aumento significativo na concentração de íons Ni e Cr após dois anos, mas estes não alcançaram o nível de toxicidade. A concentração média de Cr na saliva foi de 1 a 61 ppb e de Ni de 1 a 55 ppb, e no soro a concentração deve estar em torno de 0,2 ppb. O meio bucal é propício à formação de produtos de corrosão, pois a boca é úmida e está continuamente sujeita a oscilações de temperatura. Os alimentos e líquidos ingeridos têm ampla variação de pH, e ácidos são liberados durante sua decomposição. Os fragmentos alimentares ficam frequentemente aderidos a restaurações metálicas, aparelhos ortodônticos e implantes, estabelecendo então, uma condição localizada extremamente favorável a uma reação acelerada entre os produtos de corrosão e o metal ou liga (GEISGERSTORFER, 1994; LYGRE, 2002; ANUSAVICE, 2005). A corrosão pode ser acentuada pela composição química das ligas ou pela microestrutura apresentada na superfície do material. A liberação de íons metálicos proveniente do processo corrosivo depende de várias características como a aspereza 35 superficial, grau de oxidação, o potencial da liga, a presença de inibidores, pontos de solda, fossas e fendas (FARIA, 2005). Os produtos de corrosão, podem ter efeito acelerador ou retardador do processo ou mesmo não influenciar a deterioração superficial da estrutura metálica. O estresse e a presença de impurezas no metal podem aumentar a velocidade do ataque corrosivo com o tempo, causando severa desintegração da estrutura. Esta desintegração também pode ocorrer pela ação da umidade, da atmosfera e de soluções ácidas ou alcalinas (O’BRIEN, 1997). O manchamento é precursor da corrosão, e o filme formado pode acumular elementos ou compostos que poderão atacar a superfície metálica. Vários sulfetos tais como sulfeto de hidrogênio ou amônia, podem corroer a prata, o cobre, o mercúrio e outros metais presentes nas ligas odontológicas. Os fatores mais importantes que afetam a escolha de ligas metálicas odontológicas são a aceitabilidade do corpo para estas ligas, chamada de biocompatibilidade, a adaptação aos tecidos vivos, as propriedades mecânicas, a fácil formalização e sua resistência à corrosão. Também, as ligas usadas devem resistir à umidade, a mudança de temperatura dentro da boca que altera de 0 a 70ºC, e também, as mudanças de pH. Entretanto, muitas categorias de alimentos têm níveis de pH diferentes, em sua maioria são menores que 7, correspondendo a um meio de corrosão agressivo (AMEER; KRAMIS; AL-MOTLAQ, 2004). Segundo Wataha (2000) a única propriedade segura capaz de garantir a segurança biológica de uma liga para implante é a sua resistência à corrosão. Toxidade sistemática e local, alergias e carcinogenidade se devem aos elementos de liga sendo liberados na boca durante a corrosão. Existem poucas evidências de que ocorra toxidade sistemática, porém efeitos tóxicos locais junto à liga, apesar de não serem bem documentados, são de alto risco devido às concentrações dos íons serem maiores neste local. Diversos elementos tais como níquel e cobalto têm o potencial relativamente elevado. Alguns elementos destas ligas são mutagênicos conhecidos, o berílio e o cádmio são carcinogênicos. Segundo Brune (1986) e Wataha e Lockwood (1998) uma redução de pH aumenta a liberação de íons nas ligas Ni-Cr porque criam um ambiente corrosivo. Os íons de Ni são 36 liberados em maior quantidade que os de Cr e Mo em testes de imersão utilizando soluções de saliva artificial (GÜLSEN; GUL;AHMET, 2007). Bumgardner e Lucas, 1995 relatam que os produtos de corrosão das ligas com base em Ni-Cr não afetam a morfologia celular ou a viabilidade, mas reduzem a proliferação celular, sendo que os íons metálicos liberados das ligas odontológicas a base de Ni-Cr interferem com a energia do metabolismo celular. Em termos de compatibilidade biomecânica, é necessário que as propriedades mecânicas e a resistência à corrosão, não alterem significativamente durante o uso prolongado. A presença de cromo melhora a resistência à corrosão das ligas em um ambiente corrosivo devido à formação de uma película de óxido passiva que é altamente resistente ao meio ácido. Similarmente, a presença de molibdênio na liga Ni-Cr aumenta a resistência à corrosão localizada num ambiente que contém o íon cloreto (SCHIFF et al., 2004). 2.2.4 Estudos da estrutura e corrosão das ligas Ni-Cr-Mo Lewis 1975(a) analisando uma liga Ni-Cr ressaltou que as ligas à base de Ni apresentavam estrutura cúbica de face centrada denominada matriz gama. Comentou que normalmente as ligas à base de Ni continham carbono em sua composição, o que resultava em microestruturas contendo carbetos distribuídos interdendriticamente. Observou que os carbetos também podiam formar-se dentro do grão, onde apresentavam forma globular com diâmetro geralmente maior que 1 μm, reforçando a resistência da matriz de solução sólida já caracterizada pela presença de elementos metálicos ligantes (Ni, Cr, Mo, Mn, Co e W). Comentou que havia três tipos de carbetos encontrados nas ligas à base de Ni: - MC, estes provavelmente os mais encontrados, dispostos dentro e nos limites dos grãos e de formato irregular, sendo M representado por um metal geralmente caracterizado pelo Ti que, todavia, poderia ser substituído por outros elementos metálicos; - M23C6, sendo M representado por Co, Fe, Mo e W, encontrados mais frequentemente nos limites dos grãos; - M6C sendo M caracterizado por Mo e W em maiores proporções, encontrados dentro e fora dos grãos. Enfatizou, ainda, que a resistência das ligas poderia ser melhorada pela precipitação de compostos frequentemente designados Ni3Al ou, 37 ainda, NiTi desde que 65% do Al fosse substituído pelo Ti. Mencionou que a morfologia lamelar era normal para todas as solidificações eutéticas. Segundo Baran, (1979), a matriz primária (dendrítica), é composta principalmente por Ni, porém o Mo, Cr, Si, Nb e Al podem também estar presentes quando fazem parte da composição da liga. Por serem as últimas fases da liga a se solidificarem, os carbetos estão situados predominantemente na fase interdendrítica e, nessa região seriam responsáveis pela dureza e resistência mecânica. Além dos carbetos, precipitados metálicos também podem estar presentes melhorando as propriedades mecânicas da liga. A precipitação de fases secundárias ocorre como resultado da saturação da matriz em elementos ligantes forçando os excessos a formar nova fase. Baran (1983) ressaltou a presença de carbetos do tipo MC, M23C6 e M6C com M sendo representado por vários elementos metálicos. Ressaltou, também, que após a solidificação, as ligas Ni-Cr possuem uma morfologia dendrítica. A estrutura dendrítica é acompanhada pela segregação composicional evidenciada na microestrutura das amostras da liga reveladas por ataque eletroquímico. No processo de resfriamento e solidificação é que a microestrutura das ligas é definida (BARAN, 1983). Nesse processo, a precipitação de fases secundárias resulta da saturação da matriz que separa os elementos ligantes. É durante esta fase que há formação de carbetos metálicos. Eles estão presentes principalmente na fase interdendrítica, já que são os últimos a solidificarem. Como resultado, formam uma nova fase (BARAN, 1979) cuja identificação, exceto nas ligas que contém berílio, propõe um desafio (BARAN, 1983). Sabe-se também que o calor latente liberado pela solidificação inicial eleva a temperatura nas proximidades das áreas de solidificação, e a condição se torna favorável ao crescimento dendrítico, resultando em grãos denominados grãos colunares. Na região dos contornos de grãos pode-se encontrar muitas impurezas, além do mais é facilmente atacada por substâncias químicas (PHILLIPS, 1978). Wataha, (2002) ressaltou a influência do tamanho dos grãos e da microestrutura nas propriedades físicas e na corrosão das ligas. A velocidade de resfriamento da liga durante a fundição interfere no modo de cristalização e consequente na microestrutura do 38 material. A microestrutura afeta a corrosão, que está relacionada com a biocompatibilidade. Fernandes (1992) estudou a microestutura de duas ligas de Ni-Cr [Resistal P (61,60 % Ni; 22,61 % Cr; 8,88 % Mo; 3,55% Nb e 3,35% Fe) e Litecast B (80,21% Ni; 14,28 % Cr; 2,97 % Mo; 1,39 % Nb e 0,29 % Fe)]. Os autores observaram a formação de estruturas dendríticas, sendo que para a liga Litecast B ocorre a formação de uma fase sólida lamelar, provavelmente de Ni-Be, entre as dendritas. Pode-se identificar em ambas as micrografias, a matriz rica em Ni, elemento presente em maior quantidade. Bumgardner e Lucas (1993) estudaram as composições da superfície de quatro ligas comerciais à base de Ni-Cr: Neptune (63,36 % Ni; 20,95 % Cr; 8,40 % Mo; 1,73 % Fe); Rexalloy (67,21 % Ni; 12,88 % Cr; 6,76 % Mo; 5,18 % Fe); Regalloy T (71,20 % Ni; 15,89 % Cr; 4,50 % Mo; 0,10 % Fe; 0,57 % Be); Verabond (64 % Ni; 24 % Cr; 10 % Mo; 2 % Be). Os resultados mostraram que as ligas que não continham Be exibiram uma superfície homogênea de Cr-Mo que resultou em ligas mais resistentes à corrosão, enquanto que as ligas contendo Be mostravam superfícies não uniformes. As superfícies destas ligas apresentaram regiões com baixos teores de Cr e O e altos teores de Be, e foram menos resistentes ao processo de corrosão. Esses autores também estudaram a microestrutura dessas ligas. A liga Neptune exibiu uma fase matriz de solução sólida contendo precipitados intermetálicos. A Rexalloy mostrou uma matriz de solução sólida com arranjo dendrítico típico e uma estrutura eutética sólida entre os dendritos. As ligas VeraBond e Regalloy também tiveram uma matriz de solução sólida com um arranjo dendrítico típico, e uma estrutura eutética solidificada junto com precipitados entre os dendritos. Quantidades menores de estrutura eutética solidificada estiveram presentes nas ligas Rexalloy e Regalloy T que nas ligas VeraBond. Gil et al. (1999) estudaram a liga Verabond (64 % Ni; 24 % Cr; 10 % Mo; 2 % Be) e observou a formação de microestrutura dendrítica e uma fase eutética lamelar, que é suscetível à dissolução preferencial. Isto significa que existem placas uma do lado da outra com composição química diferente, dessa maneira a estrutura atua como 39 se fosse uma célula eletroquímica. Foi observado por MEV que a superfície atacada mostrou uma corrosão preferencial da fase eutética. Bayramoglu et al. (2000) investigaram a corrosão de várias ligas odontológicas e concluíram que a liga de níquel-cromo é resistente à corrosão, mas que elementos como cobre, estanho, prata e ferro aumentam a corrosão da liga e é mais susceptível à mudança de pH, enquanto a maior porcentagem de metais nobres, cobalto e molibdênio aumentavam a resistência à corrosão. Ameer, Khamis e Al-Motlaq (2004) realizaram uma análise química e eletroquímica de ligas de Ni-Cr e de Co-Cr refundidas. Os corpos-de-prova foram confeccionados e colocados em uma solução de saliva artificial. A concentração de Ni, Fe, Co e Cr dissolvidos na saliva foi registrada em diferentes tempos de imersão. Foi observado que a liberação do níquel foi maior que a do cromo. O autor concluiu que usar baixas concentrações de Cr até 11 % é bastante, em alguns casos, para atrasar o ataque, devido à formação da camada passiva estável que cubra a superfície da liga. Aumentar a concentração do Cr acima de 11 % aumenta a proteção de corrosão e igualmente aumenta o ponto de fusão da liga. As ligas Co-Cr-Mo possuem maior resistência à corrosão do que as ligas de Ni-Cr-Mo. Huang (2003) em um estudo sobre o efeito da composição química no comportamento da corrosão de ligas dentárias Ni-Cr em saliva artificial mostraram que a liga Ni-Cr com elevado teor de Cr e Mo tem uma extensa região de passivação na curva de polarização e são imunes à corrosão por pite. É assumido que o comportamento da corrosão de ligas Ni-Cr na cavidade oral não depende somente da composição química, mas também da caracterização do filme passivo sobre as ligas. Todas as ligas utilizadas para o desenvolvimento deste trabalho apresentaram estruturas dendríticas com uma estrutura lamelar eutética após refundidas com argônio. Venugopaladan e Messer, (2005) avaliaram a corrosão em soro, soro e antibióticos, microcarregadores e microcarregadores com células cultivadas tentando simular o ambiente da cavidade oral, procurando estudar a influência de células e seus 40 componentes no processo corrosivo das ligas para implantes orais. Foram utilizadas ligas comerciais Ni-Cr-Mo e Ni-Cr-Be. A célula de corrosão foi preparada de acordo com a norma ASTG G5. Os resultados obtidos foram reprodutíveis com 95% de confiança, indicando uma precisão na montagem do ensaio de corrosão e das condições ambientais. Esses estudos preliminares também mostraram que os meios com soro e antibióticos induziram uma taxa significativamente mais elevada de corrosão para ambos os materiais comparadas as demais condições. Sá (2006) trabalhou com a liga Verabond II (77,05 % Ni; 12,5 % Cr; 4,25 % Mo; 4 % Nb; 2,25 % Al; 0,5 % Si; 0,45 % Ti) bruta de fusão e fundida por maçarico. Na análise microestrutural observou uma solução sólida (matriz) em disposição dendrítica, típica de estado bruto de fusão (fase primária), e uma fase interdendrítica (secundária). Essa fase primária é a primeira a se formar na medida em que a liga vai sendo resfriada e suporta uma determinada quantidade de metais dispersos no grão. A partir de uma determinada concentração desses metais presentes na liga, eles se precipitam ao redor dos contornos de grãos, formando a fase secundária. Na liga de Ni-Cr refundida a solução sólida é de cromo em níquel e a região interdendrítica vai assumindo coloração mais escura, provavelmente devido à adição de carbetos metálicos e outros intermetálicos. Esses carbetos são provenientes do gás do maçarico e são vistos como pontos globulares na fase interdendrítica. Na análise por difração de raios-X da amostra fundida foram identificados além do Cr2Ni3, a presença das fases, Ni2Mo4C e AlNi3. Bauer et al. (2006) trabalharam com 3 ligas Ni-Cr: Ni-Cr-Mo-Nb (76,05 % Ni; 12,5 % Cr; 4 % Nb; 4,25 % Mo; 0,50 % Si; 2,25 % Al; 0,45 % Ti); Ni-Cr-Mo-Be (74 % Ni; 14 % Cr; 8,5 % Mo; 1,80 % Be; 1,70 % Al) e Ni-Cr-Mo-Ti (76,5 % Ni; 13,5 % Cr; 6 % Mo; 4 % Ti). Essas ligas foram fundidas em 4 diferentes condições: maçarico/ar, indução/argônio, indução/vácuo e indução/ar. Todas as amostras apresentaram solidificação dendrítica com uma estrutura lamelar eutética antes e depois da fundição. As microestruturas das ligas bruta de fusão apresentaram solidificação dendrítica típica. A liga Ni-Cr-Mo-Nb é caracterizada por uma baixa 41 fração de precipitados (zona interdendrítica). A Ni-Cr-Mo-Be tem a presença de uma solução com a composição Ni-Be localizada entre as dendritas. A Ni-Cr-Mo-Ti apresenta uma fase lamelar interdendrítica (carbeto e eutético) e um fino precipitado nas dendritas, provavelmente a fase intermetálica Ni3 (AlTi). Esta liga apresentou a maior quantidade de grãos dendríticos. Wylie et al. (2007) trabalharam com 2 ligas Ni-Cr: Matchmate (62,2 % Ni; 25 % Cr; 9,5 % Mo; 3,3 % Si) e Dsign 10 (75,4 % Ni; 12,6 % Cr; 8 % Mo; 3,3 % Al; 0,2 % Si; 0,5 % Fe). A análise microestrutural para as 2 ligas Ni-Cr mostraram estruturas dendríticas. A superfície da liga Matchmate bruta de fusão apresenta uma estrutura ondulada entre as fases matriz e das partículas. Já para a liga Dsign 10 há a presença de ricos solutos nas regiões interdendríticas. Análise elementar para a liga Matchmate mostra que nas partículas entre as dendritas houve um enriquecimento de Si e Ni e um ligeiro esgotamento de Mo e nenhuma mudança do nível de Cr para que para a liga fundida as regiões interdendrítica eram ricas em Mo, Si e Cr, e tinham pouco Al. O centro das dendritas tinha menor nível de Cr e Mo e níveis mais elevados de Ni. Fases adicionais foram observadas em ambas as ligas e há presença de pontos pretos nas micrografias. Espectros de raios-X indicaram que essas fases são baseadas em silício para a liga Matchmate e à base de alumínio para Dsign 10. Estas fases foram identificadas anteriormente e é provável que sejam os óxidos internos. Liu et al. (2008) estudaram uma liga Ni-Cr (77 % Ni; 14 % Cr; 4,7 % Mo; 2 % Al; 1,8 % Be) usada em porcelana dentária. A composição da interface porcelana/metal contém principalmente SnO2, AlNi3, SnCr0,14Ox e KAlSi2O6. O aumento da temperatura e do tempo de queima favoreceu a formação e o crescimento de novas fases (SnCr0,14Ox e KAlSi2O6) nas interfaces da porcelana Ni-Cr. Palmeira et al. (2008) trabalharam com uma liga Ni-Cr comercial FIT-CAST SB (61 % Ni; 25 % Cr; 10,5 % Mo; 1,5 % Si; Ti < 1%) utilizada para fabricação de próteses odontológicas fixas. As micrografias obtidas revelaram aspectos típicos de fundição de ligas de níquel para as regiões de metal de base, em que a estrutura consiste em carbetos 42 precipitados (regiões mais escuras) em formas esféricas e dendríticas em uma matriz rica em níquel. As zonas de fusão revelaram-se com uma segunda fase precipitada que variava do esférico ao dendrítico e uma zona termicamente afetada fazendo uma interface distinta da microestrutura do metal de base. Sá et al. (2008) estudaram a microestrutura de uma liga de Ni-Cr-Mo comercial Kromalit (66,93 % Ni; 22,19 % Cr; 5,9 % Mo; 3,63 % Si). Essa liga caracteriza-se por uma matriz de solução sólida em disposição dendrítica típica de estado bruto de fusão (fase primária) e uma fase interdendrítica (secundária) regularmente distribuída. Essa organização foi constante em todas as amostras, mostrando o aspecto metalográfico padrão das ligas de níquel-cromo. Ao se realizar consecutivas refusões, a liga foi apresentando uma maior porosidade e uma menor microdureza, diminuindo, portanto, suas propriedades mecânicas. Lin et al. (2008) trabalharam com 2 ligas Ni-Cr: Litecast (68,5 % Ni; 15,5% Cr; 14,0 % Mo; 1,0 % Al) e NPXIII (76,5 % Ni; 14,0 % Cr; 4,5 % Mo; 2,5 % Al; 1,6 % Be; 0,5 % Co; 0,4 % Ti) brutas de fusão e fundidas por maçarico. Devido à resistência das ligas ao ataque e dificuldades com o processo de corrosão, a mesma solução não foi utilizada para ambas as ligas. A microestrutura de ambas as ligas apresentou uma matriz de solução sólida dendrítica. Após a fundição há a presença de precipitados eutéticos na estrutura interdendrítica Das et al. (2010) estudaram a microestrutura de uma liga Ni-Cr (79 % Ni; 20 % Cr e 1 % Si). A microestrutura revela estruturas dendríticas no interior do grão. Devido à presença de certos precipitados, como o carbono, aparecem graves danos nos contornos de grãos. Os resultados de MEV, EDS e raios-X confirmam a presença indesejada de carbono na liga. O carbono forma precipitados de carbeto de cromo no contorno de grão, que degrada as propriedades mecânicas e de corrosão das ligas. Saji e Choe. (2009) trabalharam com uma liga Ni-Cr (63 % Ni; 16 % Cr; 5 % Mo; 8 % Co; 3 % Al; 1,5 % Be; 3,5 % Mn) e uma Co-Cr (64,51 % Co; 27 % Cr; 5,5 % Mo; 2 % Fe; 0,99 % Ni) fundidas por centrífuga e por indução em forno de alta frequência. O 43 comportamento eletroquímico das ligas foi estudado usando polarização potenciodinâmica e espectroscopia de impedância em solução de NaCl 0,9 % em meio desaerado (37 ± 1)ºC. A liga Co-Cr exibe um valor de densidade de corrente menor do que a liga Ni-Cr, independentemente do método de fundição utilizado. A região passiva da liga Co-Cr é extendida além de uma ampla faixa de potencial. O potencial no qual a densidade da corrente aumenta abruptamente é mais positivo para a liga Co-Cr. Essas observações indicam que a liga Co-Cr possui a propriedade de resistência à corrosão mais desejável do que a Ni-Cr. As superfícies das ligas após o experimento de polarização foram examinadas no MEV para identificar os locais de ataque de corrosão. Há uma espessa camada do produto de corrosão na liga Co-Cr. Tal camada é visível a olho nu. A superfície das ligas Co-Cr após ataque químico para a liga bruta de fusão revelou uma estrutura dendrítica de duas fases. O EDS mostrou que a composição química da dendrita e das regiões interdendríticas são próximas. No entanto, as regiões dendríticas são ligeiramente mais rica em Cr e pobres em Co. A análise de raios-X sugere que a dendrita e as regiões interdendríticas correspondem a estruturas tipo cristalinas de hcp e fcc. As microestruturas para as ligas Ni-Cr exibem duas regiões distintas na composição de elementos: matriz e zonas ricas em Ni. As regiões mais escuras são ricas em Ni e pobres em Cr e Mo. A análise de EDS revela que as composições da matriz e das zonas ricas em Ni são aproximadamente 68Ni-20Cr-5Mo e 92Ni-4Cr-1Mo, espectivamente. A segregação preferencial de fases ricas em Ni ocorre durante a solidificação de uma extensão maior. A liga Co-Cr é mais resistente à corrosão do que a liga Ni-Cr. Sampaio (2009) estudou uma liga de Ni-Cr (61 % Ni; 25 % Cr; 10,5 % Mo; 1,5 % Si; < 1 % Ti) fundida com um maçarico de gás (GLP) – oxigênio. A microestrutura apresenta-se como uma matriz de uma solução sólida à base de níquel e cromo contendo nela um típico arranjo dendrítico de estrutura eutética. A liga contém ainda precipitados metálicos na região interdendrítica da estrutura eutética, conforme os resultados obtidos pela técnica de EDS. Bhattarai (2009) estudou a passividade das ligas ternárias amorfas W-Cr-Ni e ligas binárias amorfas W- Ni através de testes de imersão e medidas eletroquímicas na solução 44 HCl de 12 M em 30 °C em meio aerado, a liga ternária exibiu uma resistência à corrosão maior que a liga binária, em particular a adição de 18% ou mais de cromo as ligas diminui significativamente as taxas de corrosão e conduz a um aumento notável do potencial em circuito aberto por formar uma película passivante de óxido de cromo. Tuna et al. (2009) estudaram a influência dos componentes puros nas propriedades eletroquímicas de quatro ligas diferentes de fundição, selecionaram para seu estudo quatro ligas utilizadas em próteses dentárias (Ni-Cr, Co-Cr, Pd, Au), para isso foi montada uma célula eletroquímica de polarização potenciodinâmica a 37 o.C em uma solução de saliva artificial. Os resultados mostraram que as ligas Ni-Cr e Co-Cr possuem potenciais superiores aos encontrados para o Ni puro e o cobalto puro, comprovando a formação de uma camada apassivadora pelo óxido de cromo nessas ligas. Para as ligas à base de Pd e Au, os potenciais encontrados por suas ligas são parecidos com os encontrados para os seus elementos puros. Quanto a liberação de íons, para as ligas a base de Au e Pd a liberação foi cerca de 20 vazes inferior quando comparada com a liga a base de Ni-Cr e Co-Cr como esperado. Sousa et al. (2010) estudaram 2 ligas Ni-Cr com composições de 65,0 % Ni, 22,5 % Cr, 9,5 % Mo (Wiron 99) e 59,6 % Ni, 24,0 % Cr, 9,8 % Mo (Wironia) que são comercializadas na condição bruta de fusão. As ligas foram refundidas pelo método da cera perdida utilizando dois procedimentos: chama aberta (maçarico oxi-GLP) e indução em forno de alta frequência. A análise da superfície das ligas bruta de fusão, após revelação por ataque eletroquímico evidencia uma estrutura constituída por uma matriz de solução sólida em disposição dendrítica (fase primária) e uma fase interdendrítica (secundária) regularmente distribuída. Nas amostras refundidas são observadas duas fases: principal (solução sólida de Ni-Cr-Mo) e precipitados ricos em Mo. A Wiron 99 apresenta menor concentração de precipitado. Esses precipitados são constituídos provavelmente de carbetos de Cr e Mo, principalmente de Mo. O número destes precipitados nas amostras refundidas por indução é maior indicando maior heterogeneidade. As ligas refundidas por indução apresentam menor resistência à corrosão em soro fisiológico, a 37 ºC, evidenciada por não se passivarem neste meio, 45 apresentarem alta densidade de carga, indicando a formação de filme protetor superficial menos resistivo. A refundição das ligas diminui os valores de dureza Vickers, sendo o abaixamento mais pronunciado para a refundição com maçarico. Diferentes processos de refundição alteram a microestrutura, o comportamento eletroquímico e a dureza das ligas Wiron 99 e Wironia. Takeuchi et al. (2010) estudaram a resistência à corrosão de ligas a base de Níquel em meio mistura de HNO3-HF, muitos tipos de ligas tipo Ni-Cr e Ni-Cr -X (X = Mo, W, Nb, Ti, Si, Cu) foram fabricadas com a quantidade de cromo desejável e mais um terceiro elemento entre os citados acima, o resultado comprovou que as ligas com maiores concentrações de Cr e uma pequena quantidade de Mo tem uma resistência à corrosão acima das demais. Jakupi Zagidulin e Shoesmith (2010) estudaram a resistência à corrosão de uma liga 22 (de composição: 22% Cr e 56% de Ni), através das propriedades da Impedância em uma solução de cloreto de sódio concentrada (5M) em meio neutro. Os resultados mostraram que a corrosão é controlada pela camada de óxido de cromo (Cr2O3) na liga. Hsin-Yi et al. (2010) avaliaram o comportamento de corrosão pré-queima e pós- queima de ligas comerciais Ni-Cr-Be e Ni-Cr-Mo encontraram um pequeno aumento na camada de óxida de Cr2Ox para as ligas isentas de Be e um aumento nas concentrações de Ni-Mo na camada de ambas as ligas. Houve alterações na dureza e microestrutura das ligas após a queima, entretanto não houve mudanças significativas nas taxas de corrosão após a queima. 2.2.5 Resistência à Corrosão das Ligas Ni-Cr em colutórios comerciais A ação química dos colutórios favorece o combate às doenças periodontais e à cárie, porém íons fluoreto e cloreto existentes em produtos de higiene também modificam o ambiente oral e sua presença pode possibilitar o início de um processo de corrosão localizada (GAL;FOVERT; ADIB-YADZI,2001). Observa-se que são utilizados cloreto de cetilpiridíneo, cloretos, fluoretos, triclosan (este se apresenta como um agente antimicrobiano não iônico de amplo espectro, classificado como um bisfenol lipossolúvel, 46 que é usado há mais de duas décadas na cosmética geral e o seu mecanismo de ação baseia-se no aumento da permeabilidade celular e na inibição da atividade de enzimas tipo tripsina), álcool etílico (que normalmente provoca ardência), essências, mentol, sacarina sódica, fosfato dissódico anidro, água e etc CURY,1997. Em alguns componentes ativos dos colutórios, como o timol verifica-se a existência da propriedade desinfetante e fungicida; o eucaliptol tem ação antiinflamatória; o mentol produz analgesia e o salicilato de metila tem apenas alguns efeitos mais genéricos, configurando-se particularmente, em um produto irritante topicamente (ARAÚJO et al., 2007). Muitos colutórios comerciais apresentam quantidades significativas de álcool como solvente de princípios ativos. Como esses colutórios são utilizados por uma parcela significativa da população adulta, alguns autores sugerem uma possível relação entre o uso rotineiro desses produtos e do desenvolvimento de câncer de boca e faringe (BLANC BARUZZI; PANNUTI, 2007). O etanol tem seu efeito carcinogênico devido ao seu metabólito acetaldeído (HARTY et al., 1997; YOKOYAMA et al., 1998). Colutórios contendo anti-sépticos promovem diminuição da quantidade total de bactérias bucais e consequentemente da concentração de acetaldeído na cavidade bucal. Homann et al. (1997) relataram que a produção de acetaldeído in vivo pode ser significativamente reduzida após o uso de colutórios contendo clorexina. O flúor, na saliva ou no esmalte, perturba a colonização pelas bactérias, seu crescimento, sua multiplicação ou sua fermentação (THYLSTRUP e FEJERSKOV, 1995), evitando a formação do biofilme dentário. O mecanismo mais provável de ação do flúor veiculado na forma de bochecho é o de sua fixação na camada superficial do esmalte, o que ocasiona uma redução da solubilidade do mesmo, frente aos ácidos (AMARANTE, 1983). Quando são feitas aplicações de flúor ocorre a formação de fluoreto de cálcio na zona mais superficial do esmalte, através de reações químicas (AMARANTE, 1983; KATCHBURIAN e ARANA, 1999). Lucas et al., (1991) usaram saliva artificial chamada de solução de Fusayama in vitro cuja concentração é NaCl 0,4 g/L, KCl 0,4 g/L ,CaCl2.2H2O 0,795 g/L, NaH2PO4. CURY,1997 47 H2O 0,690 g/L , KSCN 0,3 g/L e uréia 1,0 g/L em estudos com ligas Co-Cr, Ni-Cr, Cu- Ni-Al e Ti comercialmente puro usando técnicas eletroquímicas como Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS) e curvas potenciodinânicas. Os parâmetros eletroquímicos tais como potencial de corrosão, corrente de corrosão, taxa de corrosão, características passivas da película no que diz respeito ao tempo foram obtidos e concluíram que a taxa de corrosão decresce na seguinte ordem: Cu-Ni-Al > Ti > Co-Cr (Comercial) > Ni-Cr > Co-Cr. Dong et al., (2003) estudaram o comportamento da resistência à corrosão das ligas Ni-Cr, Co-Cr, Cu-Ni-Al e Ti comercialmente puro em meio NaCl 3 % usando testes eletroquímicos como curvas potenciodinânicas. De acordo com os resultados obtidos a natureza do filme passivo sofreu alterações com o tempo para as ligas Ni-Cr, Co-Cr e a liga de Ti, enquanto que para o Co-Cr (comercial) e a liga de Cu-Ni-Al, a característica passiva da película permaneceu a mesma. Johanson et al., (1989) analisaram a perda de massa de várias ligas Ni-Cr-Mo e Co- Cr-Mo em solução de NaCl 0,1 mol/L durante 5 semanas e observaram que a perda de massa foi maior nas ligas com menor concentração de cromo. Huang (2003) estudou a resistência à corrosão de fios ortodônticos de Ni-Ti e do aço inoxidável usando testes potenciodinâmicos e voltametria cíclica em saliva artificial ácida a 37 °C e conclui-se que a redução do pH aumentou sensivelmente a taxa de corrosão nestes fios. Segundo Lorenzo (2000), NaF e outros compostos fluoretados são frequentemente usados como produtos profiláticos em tratamentos dentários para prevenir a formação da placa dentária e o desenvolvimento de cáries. Os mecanismos de prevenção das cáries não são bem conhecidos e uma variedade de mecanismos ocorre simultaneamente incluindo efeitos químicos na hidroxiapatita do esmalte resultando na formação de fluorapatita, efeitos locais influenciando a desmineralização e remineralização do esmalte, interferência com ligação iônica durante a formação da placa e da película e a inibição da produção de enzimas ácidas pelos microrganismos. Entretanto, a ação profilática pode ser acompanhada pela corrosão dos materiais dentários metálicos por um ânion agressivo. 48 Infiltração da saliva contendo fluoreto dentro da estrutura que suporta o implante ou, contato entre coroas e pontes com a saliva contendo este ânion pode ser a causa do ataque corrosivo. De acordo com este autor a concentração do íon fluoreto altera o potencial de ruptura. Xiaoji et al. (2007) estudaram fios ortodônticos Ni-Ti de composição: 52 % Ni e 48 % Ti, usando técnicas eletroquímicas convencionais para se estudar a corrosão que acontece em meios contendo fluoreto e cloreto (NaF 0,05 % e NaCl 0,069 %). As medidas de potencial em circuito aberto mostraram um potencial de estabilização mais baixo para a liga em meio fluoreto do que em meio cloreto o que evidencia um ataque maior feito pelo íon fluoreto do que cloreto. Porém, os desvios padrão para os valores do potencial de corrosão na solução de cloreto são maiores do que aquelas na solução correspondente do fluoreto. Na curva de polarização é possível observar que a corrosão por pites ocorre no meio cloreto e, de forma geral, os resultados mostraram que a liga de NiTi é primeiramente suscetível à corrosão localizada quando exposta a uma solução que contém o íon cloreto, e susceptível à corrosão geral quando sujeita a uma solução que contém o íon fluoreto. Além disso, a interação sinérgica do fluoreto e do cloreto na corrosão da liga de NiTi está associada às suas respectivas concentrações molares, ou seja se houver um aumento nas concentrações molares destes íons a corrosão será intensificada. Segundo Kedice (1998) ligas de Ni-Cr contendo vários elementos entre eles Si, Mo, Fe e Al foram expostas a dois tipos de saliva artificial, uma de pH 5,53 que simula o ambiente oral e outra com pH 6,5 que simula o ambiente oral na presença de alimentos e a uma solução de fluoreto de pH 6,5 que simula a ação de colutórios comerciais. A composição da liga pode alterar bastante a sua taxa de corrosão. As ligas que contém níquel, cromo e ferro são as que apresentam as maiores taxas de corrosão em saliva artificial. A adição de molibdênio aumenta a resistência à corrosão de todas as ligas e a adição de cobalto e ferro aumenta a corrosão da liga no ácido cítrico e em meio fluoreto, aonde esses elementos formam complexos solúveis com os íons citrato e fluoreto em solução. As ligas Ni-Cr-Mo mostraram-se resistentes à corrosão nestes três meios 49 agressivos o que mostra a ação de soluções fluoretadas na taxa de corrosão de ligas Ni- Cr-Mo. O comportamento eletroquímico de ligas metálicas usadas na confecção dos implantes dentários é de grande interesse para o entendimento do processo corrosivo que pode ocorrer no meio bucal. A cavidade bucal representa particularmente um habitat ideal para a biodegradação de metais devido às propriedades microbiológicas, térmicas, químicas, enzimáticas que podem acelerar o processo corrosivo e expor os pacientes aos produtos desta corrosão (BERGMAN; BERGMAN e SOREMARK, 1980; MAIJER; SMITH, 1986; BARRETT; BISHARA; QUINN, 1993, MARIGO et al, 2003). Estes fatos motivaram um estudo mais aprofundado da influência dos colutórios comerciais com e sem flúor na resistência à corrosão de ligas Ni-Cr, que é o principal objetivo deste trabalho. Assim foi feita uma seleção de um colutório com flúor e três sem flúor, solução de NaCl e de NaF tomado como padrão, para se fazer os ensaios eletroquímicos e microestruturais com o objetivo de descobrir o potencial de estabilização, faixa de passividade e densidade de corrente passiva, sendo estes parâmetros fundamentais para descobrir se ocorre corrosão ativa. 50 CAPÍTULO 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Composição das ligas estudadas Para a realização deste trabalho foram utilizadas três ligas de Ni-Cr-Mo usadas no mercado odontológico: SC, SB (American Dent All, EUA) e W (BEGO, Alemanha). Nas Tabelas 4 e 5 são mostradas as composições químicas e as propriedades mecânicas, fornecidas pelos fabricantes. Tabela 4 – Composição nominal química das ligas metálicas (% m/m) Liga Ni Cr Mo Be Si Al Nb Fe Ce C SC 73 14 8,5 1,8 - 1,8 - - - - SB 61 25 10,5 - 1,5 - - - - - W 65 22,5 9,5 - 1,0 - 1,0 0,5 0,5 < 0,02 Tabela 5 – Propriedades mecânicas das ligas metálicas Propriedades mecânicas SC SB W Ductibilidade (%) 7 3 25 Dureza Vickers (HV 10) 350 200 180 Intervalo de fundição (ºC) 1.165-1.207 1.301-1.364 1.250-1.310 Densidade (g/cm³) 7,9 8,3 8,2 Limite de Escoamento, esc 20 (MPa) 880 261 330 Resistência tração, esc R (MPa) 1160 316 ---------- Coeficiente linear de expansão térmica (10-6 K-1) 13,4 (25º- 500ºC) 14,07 (25º - 500ºC) 14,0 (20º - 500ºC) Na Tabela 4 podemos observar na composição química da SC uma concentração menor de cromo e uma concentração maior de níquel em relação as outras duas e ainda uma pequena concentração de berílio que podem prejudicar a resistência à corrosão desta liga. Na Tabela 5 são apresentadas algumas propriedades mecânicas das três ligas e pode-se observar um valor muito maior de Ductibilidade para a liga W em relação às outras duas, esta propriedade é conseguida devido a composição da mesma com alta concentração de 51 Ni e Cr e principalmente MO que é desejável nas ligas utilizadas no mercado odontológico pois quanto maior o alongamento da liga antes de se romper melhor a sua utilização na odontologia. Na liga SC aparece elevado alto valor de tensão de escoamento e também da dureza Vickers devido à presença de uma concentração menor de cromo e devido à presença de berílio que melhora as propriedades mecânicas (WATAWA, 2002). 2.2 Ensaios de Corrosão São de extrema importância, pois um dos requisitos fundamentais de qualquer metal a ser usado na boca é que ele não forme produtos de corrosão que sejam prejudiciais à saúde. 3.2.1 Ensaios não - eletroquímicos 3.2.1.1 Ensaios de imersão Estes ensaios têm por objetivo estudar a morfologia superficial e identificar os produtos de corrosão formados durante o tempo de imersão, e ainda estudar a variação de massa e a detecção de íons dissolvidos na solução após o período de 12 meses. Os corpos de prova de aproximadamente 1 cm2 de área exposta foram lixadas com lixas 80, 220, 600 e 1200 e depois foi feito um polimento com alumina 1 e, em seguida, mergulhados em acetona num banho ultra-sônico Thorton modelo Metasom-14 por um período de 15 minutos, lavados em água destilada, depois secos com ar quente e então pesados em balança analítica Shimadzu com precisão 0,1 mg, obtendo-se a massa inicial (minicial). Cada amostra foi pendurada com fio de nylon e colocada em um frasco com aproximadamente 500 mL de solução de NaF 0,05 % (m/m), pH 6,0 a 37ºC. Os corpos de prova foram mantidos em estado estático durante um período de 12 meses como apresentado na Figura 5. 52 Figura 5 – Ensaio de imersão das ligas Ni-Cr-Mo em solução de NaF 0,05% (m/m) Após este período, os corpos de prova foram retirados da solução, lavados com água destilada, secos com ar quente e pesados para a obtenção da massa final (mfinal). Em seguida as soluções foram analisadas por espectrometria de absorção atômica para detecção e quantificação dos íons níquel, cromo e molibdênio. O cálculo para verificar a perda de massa percentual foi realizado utilizando a expressão abaixo: Perda de massa %.cm-2 ( ) 100 / exp− = inicial ostafinalinicial m Amm (6) onde: Aexposta = área do corpo-de-prova 53 3.2.1.2 Espectroscopia de absorção atômica (AA) Para determinar a concentração de íons em solução das ligas Ni-Cr em estudo, utilizou-se a técnica espectroscopia de absorção atômica (AA). Esta técnica é uma importante ferramenta da química analítica devido à sua alta sensibilidade e capacidade de distinguir um elemento de outro em uma amostra complexa. No experimento de absorção atômica, de determinação por chama, uma amostra líquida é aspirada para a chama evaporando o líquido, e o sólido remanescente é atomizado na chama. Os átomos absorvem parte da radiação proveniente da fonte e a radiação restante alcança o detector e dispositivo de leitura. Em um procedimento típico são injetados 10 μL de amostra líquida. Para a determinação por forno de grafite, o forno é programado para secar a amostra a 125ºC por 20 segundos para retirar o solvente. A secagem é seguida de 60 segundos de queima a 1400ºC para destruir a matéria orgânica. Após a queima, a amostra é atomizada a 2100ºC por 10 segundos, durante os quais a amostra evapora. A absorbância chega ao máximo e diminui assim que a amostra evapora no forno. O sinal analítico é a absorbância integrada no tempo durante a atomização. Seguindo a atomização, o forno é aquecido a 2500 ºC por três segundos para eliminar qualquer resíduo que tenha ficado (EWING, 1972; EVANS, 1998). O espectrômetro de absorção atômica utilizado foi o AAnalyst 800 Perkin Elmer Instruments, do Laboratório de Absorção Atômica do DEQUI – EEL – USP. 3.2.2 Ensaios eletroquímicos A corrosão de metais ocorre em diferentes tipos de meios, com maior frequência sobre o meio aquoso, no qual o mecanismo da corrosão é essencialmente eletroquímico e técnicas eletroquímicas podem ser utilizadas na avaliação, controle e investigação da corrosão de metais sob diferentes tipos de ataque corrosivo que ocorrem na interface metal/solução. Essas técnicas envolvem medidas de parâmetros elétricos tais como corrente, potencial, carga e impedância. A diferença entre as diversas técnicas eletroquímicas está na natureza do sinal elétrico empregado. 54 3.2.2.1 Eletrodos de trabalho Os eletrodos de trabalho utilizados foram as ligas SC , SB e W como recebidas do fabricante. Para a confecção dos eletrodos de trabalho, as ligas Ni-Cr foram usinadas na forma cilíndrica. O contato elétrico foi feito através da fixação de um fio de latão de 0,2 cm de diâmetro e 15 cm de comprimento a uma das extremidades da peça, utilizando-se solda Sn/Pb e cola de prata para minimizar a resistência elétrica do contato. Em seguida, o conjunto foi desengraxado com acetona em um banho de ultra-som durante 15 minutos. O cilindro metálico foi colocado em um molde de polietileno e preso por uma garra, fixada a um suporte metálico. O espaço entre o metal e o tubo foi preenchido com resina poliéster (Milflex) de polimerização rápida, mantendo o tubo na vertical para a saída das bolhas. Depois de 48 horas os eletrodos foram retirados do molde e utilizados para a realização dos ensaios eletroquímicos. Antes de cada ensaio os eletrodos foram lixados mecanicamente com lixas d’água, utilizando água corrente como trocador de calor. A direção do lixamento obedecia sempre um ângulo de 90º em relação ao lixamento anterior. As lixas empregadas no lixamento foram 80, 220, 600 e 1200 mesh. Após essa etapa o eletrodo foi lavado com água destilada e finalmente secado com ar quente, utilizando-se um secador de cabelos. 2.2.2.2 Eletrodo de referência e eletrodo auxiliar O eletrodo de referência utilizado para os experimentos realizados neste trabalho foi o de calomelano saturado(ECS), o qual consiste de mercúrio, coberto por uma pasta de Hg2Cl2, imerso num eletrólito contendo íons cloreto, normalmente KCl. No ECS, o eletrólito está saturado com KCl. O eletrodo é representado por Pt, Hg/Hg2Cl2/KCl sat e o seu potencial em relação ao eletrodo padrão de hidrogênio é igual a + 0,242 V a 25 °C. Os eletrodos de referência são sistemas eletroquímicos que têm potenciais fixos conhecidos, cujo uso é necessário quando se pretende avaliar o potencial do eletrodo de trabalho, pois 55 se pode medir a diferença de potencial entre os dois. Como eletrodo auxiliar ou contra eletrodo foi utilizado um bastão de grafite 3.2.2.3 Célula Eletroquímica As medidas eletroquímicas foram realizadas utilizando-se uma célula eletroquímica convencional termostatizada de vidro borossilicato, com capacidade para 250 mL de solução, com uma tampa de náilon contendo 4 orifícios para a adaptação dos eletrodos de trabalho, de referência, contra-eletrodo e o termômetro, Figura 6. Figura 6 – Célula empregada nos ensaios eletroquímicos 56 Na parte exterior da célula eletroquímica, um compartimento onde circula a água para a termostatização do eletrólito a 37°C, foi conectada a duas mangueiras para a entrada e saída de água, conforme ilustrado na Figura 6. 3.2.2.4 Soluções e Colutórios As medidas eletroquímicas realizadas empregando-se como eletrólitos quatro colutórios comerciais, uma solução de fluoreto de sódio e outra de cloreto de sódio. A solução de fluoreto de sódio 0,05 % e cloreto de sódio 0,05 % foram preparadas em laboratório com reagente de grau analítico utilizando uma Balança Analítica SHIMADZU para pesagem do soluto. O pH dessa solução foi ajustado para valor igual a 6,0 pela adição de hidróxido de sódio, com o auxílio de um agitador magnético, empregando-se um pH-metro DIGIMED modelo DM20 com eletrodo combinado de vidro e agitador magnético TECNAL modelo TE-085. Na tabela 6 são apresentadas características dos colutórios comercializados e utilizados neste trabalho, conforme descrição dos fabricantes. Tabela 6 – Características e composição dos colutórios indicadas nos rótulos de cada embalagem e das soluções de NaF e NaCl. Colutórios Presença de íons fluoreto Outros Componentes pH CP SIM Triclosan (0,03 %); Fluoreto de Sódio 227 ppm de flúor; Copolímero PVM / MA (0,2 %) “Gantez”. 7,0 L NÃO Timol 0,064 %; Eucaliptol 0,092 %; Álcool 21,6 %; poloxamer 407; Álcool Benzóico 0,042 % (Componentes: água, solução de sorbitol, 4,3 57 essências de menta e hortelã, sacarina sódica, benzoato de sódio e corante verde no.3). NS NÃO Cloreto de Cetilpiridíneo 0,059 %; Sorbitol; Mentol; Sacarina Sódica; CI 19140/42090; Aroma; Polisorbato 80; Etanol; Nipagin e Água. 4,6 C NÃO 5 mg de cloreto de Cetilpiridíneo; 0,1 mg de mentol em veículo tamponado aromatizado; álcool etílico 96oGL; glicerina; edetato dissódico; eucaliptol; essência de Canela da China; L-mentol Cristalizado; Silicato de Metila; Óleo de Menta; Polisorbato 80; Sacarina Sódica; Fosfato Monosódico Anidro; Fosfato Dissódico Anidro; Corante azul patente (CF 42051); Corante Amarelo e água purificada. 7,0 NaF Fluoreto de sódio 0,05 % Água destilada 6,0 NaCl Cloreto de sódio 0,05 % Água destilada 6,0 3.2.2.5 Técnicas Eletroquímicas 3.2.2.5.1 Potencial em circuito aberto com o tempo (Eca) Potencial de circuito aberto é o potencial do eletrodo de trabalho em relação ao eletrodo de referência quando nem potencial e nem corrente são aplicados. Este método se caracteriza-se pelo monitoramento do potencial em relação ao tempo. A Figura 7 ilustra 58 uma representação esquemática de uma medida de potencial em circuito aberto. No caso de corrosão, o multímetro permite registrar Ecorr vs. Tempo (ROSIFINI, 2005). Figura 7 – Esquema típico de uma medida de potencial em circuito aberto: ER – eletrodo de referência, ET – eletrodo de trabalho. O objetivo desta medida é estudar a estabilidade de um material metálico num determinado meio aquoso, sem passagem de corrente elétrica. O potencial de corrosão é uma medida da estabilidade e o estudo da sua variação com o tempo de imersão é particularmente importante nos estágios inicias do ensaio. O objetivo deste ensaio foi verificar a estabilidade do sistema, em meio NaF 0,05%, NaCl 0,05% e colutórios comerciais, medindo-se o potencial em função do tempo durante um período de 7 horas, para determinar a região de estabilização do potencial e o comportamento químico das ligas Ni-Cr. O equipamento utilizado foi um potenciostato MQPG-01 acoplado a um computador através de uma interface MQ/12/8PCC. 3.2.2.5.2 Curvas de polarização potenciodinâmica Medidas de potencial em função do logaritmo da densidade de corrente são denominadas curvas de polarização. Tais medidas podem ser obtidas de maneira potenciostática ou potenciodinâmica, no segundo caso, sob baixas velocidades de varredura (v 1 m V s-1). 59 Os ensaios de polarização potenciodinâmica foram realizados em uma faixa de potencial de –0,4 V a 1,0 V. A velocidade de varredura para todos os ensaios foi de 20 mV/min, utilizando o potenciostato EG&G PAR 283, conectado a um microcomputador GS – Pentium II através de uma interface GPIB munido do programa Softcorr III. Neste trabalho, as medidas de polarização potenciodinâmica foram realizadas em triplicata. 3.2.2.5.3 Voltometria cíclica (VC) A voltametria cíclica ou voltametria de varredura linear de potenciais (VVLP) constitui um dos métodos mais adequados para a obtenção de informações sobre a reversibilidade de um sistema, seus potenciais formais, ocorrência ou não de reações acopladas aos processos de transferência de elétrons, bem como sobre a carga envolvida no processo e a reprodutibilidade da superfície. Estas características, e a facilidade nas medidas, fazem da voltametria cíclica uma técnica muito útil em diferentes áreas como a eletroquímica, química inorgânica, bioquímica e outras (BARD; FAULKNER, 1980). Esta técnica