ELIANE MARIA DA SILVA JOVANOVICH A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA: ESTUDO NA REDE SOCIAL JUSBRASIL MARÍLIA 2021 ELIANE MARIA DA SILVA JOVANOVICH A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA: ESTUDO NA REDE SOCIAL JUSBRASIL Tese apresentada para a Defesa ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação de Doutorado como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Ciência da Informação. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento. Linha de Pesquisa: Gestão, Mediação e Uso da Informação. Orientadora: Profª. Drª. Lidia Eugenia Cavalcante MARÍLIA 2021 ELIANE MARIA DA SILVA JOVANOVICH A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA: ESTUDO NA REDE SOCIAL JUSBRASIL Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), campus de Marília, como requisito para obtenção do título de Doutora em Ciência da Informação. Área de Concentração: Informação, Tecnologia e Conhecimento. Linha de Pesquisa: Gestão, Mediação e Uso da Informação. BANCA EXAMINADORA Dedico... Aos meus pais, Nelson (in memoriam) e Irene que sempre me incentivaram e fizeram de tudo para que eu pudesse estudar. 13-05-1947 19-03-2021 AGRADECIMENTOS A Deus, pelo cuidado, principalmente pela minha saúde nesse momento de pandemia de Covid-19. Obrigada Meu Deus! À minha orientadora, Profa. Dra. Lídia Eugenia Cavalcante, que mesmo distante geograficamente sempre esteve ao meu lado para todas as dúvidas e desabafos. Meu respeito, pela sua competência e dedicação, por todas as orientações, pelo compartilhamento do seu conhecimento, e principalmente por acreditar e me fazer acreditar mais ainda no meu sonho, me motivando com um extremo carinho e muita fé. Gratidão eterna, você foi um anjo na minha vida! Aos professores Oswaldo Francisco Almeida Junior do Programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP e Henriette Ferreira Gomes do Programa de Pós- Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia - UFBA, pelas grandiosas contribuições e por fazerem parte da banca de defesa de doutorado. À professora Marcia Cristina de Carvalho Pazin Vitoriano do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP por fazer parte dessa equipe e por ter aceito fazer parte da banca. Gratidão! Aos professores e amigos da Universidade Estadual de Londrina - UEL, do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação e do Departamento de Ciência da Informação, Sueli Bortolin e João Arlindo dos Santos Neto, muito obrigada! Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará – UFC, Maria de Fátima Oliveira Costa e Jefferson Veras Nunes por terem concordado em fazer parte da banca. Obrigada! Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP, por me proporcionarem o aprendizado e a desconstrução e construção do meu conhecimento. A professora Maria Inês Tomaél pelo incentivo e por acreditar no meu potencial desde o mestrado. Muito obrigada! A professora Linete Bartalo pelo incentivo e inspiração que me fizeram apaixonar e pesquisar o comportamento informacional. Muito obrigada! Ao meu esposo Michel, que passou por momentos de insatisfação pelas minhas ausências durante esse período de estudo árduo. Obrigada pelos seus momentos de rompante e impaciência que me deixavam desesperada, entretanto mais forte! Aos meus filhos Wallace Wendell e Laiz Stephanny pelas inúmeras vezes em que terceirizei minha função de mãe para o pai. Gratidão meus filhos, foi por vocês também! Ao meu pai, Nelson (in memorian) que no decorrer do meu trajeto do doutorado teve um AVC e estava em tratamento, se recuperando, porém, a Covid 19 não o poupou, o levou e me deixou completamente sem chão. Onde estiver, meu pai, obrigada por tudo! Principalmente pelo seu amor incondicional e incentivo, continue cuidando de mim! À minha mãe Irene que mesmo na dificuldade e sem entender muito bem a minha correria, esteve sempre ao meu lado e me colocou em suas orações. Obrigada, minha mãe, pelo seu amor, orações e incentivo! Aos meus irmãos Adriana, Cleverson e Nelson Junior que, apesar das diferenças, como a irmã mais velha, tenho certeza que alguma coisa eu consegui ensiná-los, obrigada meus queridos! Aos meus familiares que me acompanharam, mesmo de longe, e aqueles que nunca souberam o que eu realmente estava estudando, mas sempre torceram por mim. Aos meus amigos do coração e de longa data que sempre me motivaram, mesmo sabendo que eu estaria muitas vezes ausente. Obrigada! À minha amiga do coração que o mestrado nos apresentou, a bibliotecária Eurides Costa Tavares Nogueira, obrigada por tudo minha amiga! À bibliotecária Vilma Feliciano da BSHU/UEL, amiga do coração e irmã que a vida nos aproximou durante a caminhada acadêmica há mais de duas décadas. Gratidão “Cumadi”! Ao meu cardiologista Dr. Luciano Canônico pelas diversas idas ao seu consultório achando que eu não ia suportar a pressão da vida e a hipertensão arterial e ele com seus remédios fizeram com que eu olhasse a situação com um outro prisma. Obrigada pelos remédios para a ansiedade. Ao meu endocrinologista Dr. Marcos Sadao que, durante as consultas, chamava a minha atenção para a qualidade de vida, que por causa do diabetes, fizeram com que as minhas medicações aumentassem. Obrigada por me fazer entender que a insulina é a minha última opção de vida e que não devo chegar nesse patamar. À Universidade Estadual de Londrina, por entender a minha necessidade e garantir o meu direito de estudar e contribuir muito mais com a instituição. Ao Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos (EAAJ), aos professores, na pessoa da Dra. Marcia Teshima pela compreensão e amizade, gratidão sempre! Não poderia faltar a Dra Juliana Kiyosen Nakayama (EAAJ) que sempre me incentivou e me ajudou nas horas difíceis – Ju, como a chamo carinhosamente, te levo pro resto da vida, muito obrigada! Aos funcionários do EAAJ e aos vários alunos que se tornaram amigos, muito obrigada por cada um de vocês que torceram por mim e sempre me apoiaram. A Suelen Souza Ribeiro, bibliotecária e amiga por ter me acompanhado e me ajudado nessa caminhada, gratidão sempre! Ao Sistema de Bibliotecas da UEL, na pessoa da bibliotecária Maria Aparecida Letrari que enquanto diretora do SB/UEL sempre me incentivou, motivou e defendeu os meus direitos para continuar estudando, me especializando. Di, gratidão! Ao Sistema de Bibliotecas da UEL, mesmo com todas as dificuldades que me foram colocadas durante esses últimos anos, sobrevivi. Aos meus colegas do Sistema de Bibliotecas, obrigada! Aos meus amigos do Sistema de Bibliotecas, levo cada um de vocês no meu coração, gratidão por tudo! Ao Dr. Dawis Silva por suas conversas amigáveis e que pelas diversas vezes me fez enxergar o quanto é gratificante a minha batalha. Obrigada por me acompanhar na carreira acadêmica. Ao Jusbrasil, por ter me recebido e entendido a relevância da minha pesquisa e a importância do papel de um bibliotecário no seu quadro de colaboradores. Apesar de tudo, valeu a pena! Não há sentimento melhor que concluir mais uma etapa de um grande sonho. Enfim, aos que direta ou indiretamente colaboraram para que o MEU sonho se tornasse realidade. Gratidão sempre! “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” (Madre Teresa de Calcutá) RESUMO A mediação da informação está presente na dinâmica dos estudos de usuários por tratar-se de fenômeno social e cultural que envolve as relações humanas e o acesso ao conhecimento. A mediação da informação jurídica é uma ação necessária, tanto para os operadores do Direito, quanto para a sociedade que, em algum momento, necessita desse processo informacional. A presente pesquisa aborda, inicialmente, as relações interdisciplinares entre a Ciência da Informação e as Ciências Jurídicas, de modo a compreender como elas interagem em contexto dinâmico e em constante movimento como é o campo jurídico. Em seguida, tece um diálogo com os estudos sobre mediação da informação, destacando as dimensões elencadas por Gomes (2014, 2016, 2017), quais sejam: dialógica, formativa, estética, ética e política para o entendimento da mediação no contexto do Direito. Destaca, ainda, as contribuições oriundas dos estudos de usuários para a mediação da informação jurídica nas redes sociais virtuais. O objetivo geral é verificar como ocorrem a mediação da informação e o comportamento informacional dos advogados que atuam com Direito de Família e interagem, buscam e compartilham informação jurídica na rede social Jusbrasil. O Jusbrasil é uma rede de pesquisa virtual e de compartilhamento de informações da área do Direito, possui uma comunidade expressiva de advogados que interagem por intermédio do site. Os objetivos específicos desta pesquisa são: Mapear, identificar e caracterizar o perfil dos advogados que são usuários da rede Jusbrasil e atuam na área de Direito de Família nos estados de São Paulo e Paraná; Identificar se existem percepções por parte dos advogados sobre a mediação da informação que ocorre na rede Jusbrasil; Verificar se as informações postadas no Jusbrasil contribuem para a prática informacional no fazer dos advogados; Identificar o comportamento informacional dos advogados no contexto das necessidades informacionais presentes no site do Jusbrasil. A pesquisa é de natureza quali quantitativa, descritiva e exploratória. O método usado é o estudo de caso combinado com a técnica de Análise de conteúdo, utilizando-se Análise das Escalas Tipo Likert, Análise de Redes Sociais e a Teoria do Mundo Pequeno, por ser uma forma de investigação empírica que analisa um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real. A amostra foi composta por advogados que atuam no Direito de Família nos estados do Paraná e de São Paulo. Os resultados obtidos e analisados comprovam as hipóteses, os advogados possuem um comportamento informacional muito próximo do Modelo de Wilson, porém com as suas especificidades, bem como o entendimento da mediação da informação, do mediador e também um superficial entendimento sobre as dimensões da mediação. O estudo contribui efetivamente com a temática na Ciência da Informação e na Ciência Jurídica, bem como possibilita que novos estudos sejam realizados. É evidente que a mediação da informação jurídica nas redes sociais virtuais seguirá como um campo apaixonante e dinâmico contemplando as características das áreas, esperamos que os resultados dessa pesquisa auxiliem outros profissionais interessados no tema. Palavra-Chave: Mediação da informação. Comportamento informacional. Redes sociais virtuais. Informação jurídica. Compartilhamento de informação. Advogados. Jusbrasil. ABSTRACT The mediation of information is present in the dynamics of user studies because it is a social and cultural phenomenon that involves human relationships and access to knowledge. The mediation of legal information is a necessary action, both for legal practitioners and for society that, at some point, needs this informational process. This research initially addresses the interdisciplinary relationships between Information Science and Legal Sciences, in order to understand how they interact in a dynamic and constantly changing context such as the legal field. Then, it creates a dialogue with studies on information mediation, highlighting the dimensions listed by Gomes (2014, 2016, 2017), namely: dialogic, formative, aesthetic, ethical and political for the understanding of mediation in the context of Law. It also highlights the contributions arising from user studies for the mediation of legal information in virtual social networks. The general objective is to verify how the mediation of information and the informational behavior of lawyers who work with Family Law and interact, seek and share legal information on the Jusbrasil social network occur. Jusbrasil is a virtual research and information-sharing network in the area of Law, with an expressive community of lawyers who interact through the website. The specific objectives of this research are: To map, identify and characterize the profile of lawyers who are users of the Jusbrasil network and work in the area of Family Law in the states of São Paulo and Paraná; Identify whether there are perceptions on the part of lawyers about the mediation of information that takes place in the Jusbrasil network; Check whether the information posted on Jusbrasil contributes to the informational practice in the lawyers' actions; Identify the informational behavior of lawyers in the context of informational needs present on the Jusbrasil website. The research is qualitative, quantitative, descriptive and exploratory in nature. The method used is the case study combined with the Content Analysis technique, using Likert Scale Analysis, Social Network Analysis and the Small World Theory, as it is a form of empirical investigation that analyzes a contemporary phenomenon within from its real context. The sample consisted of lawyers who work in Family Law in the states of Paraná and São Paulo. The results obtained and analyzed confirm the hypotheses, lawyers have an informational behavior very close to the Wilson Model, but with its specificities, as well as an understanding of the mediation of information, the mediator and also a superficial understanding of the dimensions of mediation. The study effectively contributes to the theme in Information Science and Legal Science, as well as enabling new studies to be carried out. It is evident that the mediation of legal information on virtual social networks will continue as an exciting and dynamic field contemplating the characteristics of the areas, we hope that the results of this research will help other professionals interested in the subject. Keywords: Mediation of information. Informational behavior. Virtual social networks. Legal information. Information sharing. Lawyers. Jusbrasil. LISTA DE QUADROS Quadro 1- Faixa etária dos Advogados ................................................................... .26 Quadro 2 – Fases dos estudos sobre interdisciplinaridade ..................................... .37 Quadro 3 – Conceito, sentido e significado da Jurisprudência..................................40 Quadro 4 – Atributos da qualidade da informação jurídica ....................................... 53 Quadro 5 – Interferências no compartilhamento de informação ............................... 60 Quadro 6 – Tipologias de compartilhamento ............................................................ 62 Quadro 7- A mediação na visão de Almeida Junior (2008, 2015) ............................ 69 Quadro 8 – Significados das dimensões da mediação ............................................. 77 Quadro 9 – Similaridade e diferenças da mediação na CI e na CJ .......................... 86 Quadro 10– Concepções sobre necessidades informacionais ................................. 97 Quadro 11 – Características das abordagens de estudos de usuários .................... 99 Quadro 12 – Fases da necessidade de informação.................................................101 Quadro 13 – Abordagens adotadas para os estudos de usuários...........................102 Quadro 14 – Grupos de Pesquisas no Brasil que Estudam os Temas: Informação, Usuários da Informação e Comportamento informacional ..................104 Quadro 15 – Evolução das abordagens sobre o comportamento informacional.....109 Quadro 16 – Modelos de comportamento informacional.........................................111 Quadro 17 – Etapa e sentimento do ISP.................................................................117 Quadro 18 – Métricas de estrutura da ARS.............................................................154 Quadro 19 – Cidades mais populosas por Estado...................................................161 Quadro 20 – Amostra de advogados por cidade.....................................................163 Quadro 21 – Perfis dos advogados codificado........................................................177 Quadro 22 – Atributos selecionados para a coleta de dados...................................185 Quadro 23 – Atributos analisados no perfil dos advogados.....................................191 Quadro 24 – Perfis cadastrados nas mídias sociais................................................196 Quadro 25 – Seguidores codificados.......................................................................200 Quadro 26 – Advogados mais influentes por Estado/Cidade...................................204 Quadro 27 – Grau de centralidade dos advogados por Estado/Cidade...................205 Quadro 28 – Categorias criadas para Análise de Conteúdo....................................221 Quadro 29 – Dimensões da mediação.....................................................................223 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Diagrama inter e trans da CI ................................................................... 36 Figura 2 – Tipos de informação jurídica ................................................................... 48 Figura 3 - Sistema de retroalimentação na mediação da informação ...................... 67 Figura 4 – Processo de mediação da informação jurídica ........................................ 82 Figura 5– Representação das necessidades na Pirâmide de Maslow ..................... 95 Figura 6 – Informação na Pirâmide de Maslow ........................................................ 96 Figura 7 – Modelo das necessidades de informação – Modelo NEIN....................100 Figura 8 – Modelo de comportamento informacional de Wilson.............................113 Figura 9 – Modelo de comportamento informacional de Dervin.............................114 Figura 10 – Modelo de comportamento informacional de Ellis...............................115 Figura 11 – Modelo de comportamento informacional de Kuhlthau.......................116 Figura 12 – Modelo de Savolaine...........................................................................118 Figura 13 – Modelo revisado de Wilson e Walsh...................................................119 Figura 14 – Modelo de Choo..................................................................................120 Figura 15 – Modelos de áreas de pesquisa adaptado de Wilson..........................123 Figura 16 – Logo do Jusbrasil .............................................................................. 136 Figura 17 – Tela principal do site de pesquisa do Jusbrasil ................................. 142 Figura 18 – Sofia a ajuda virtual do Jusbrasil ....................................................... 143 Figura 19 – Tela de boas-vindas da assistente virtual Sofia ................................ 143 Figura 20 – Tela de artigos postados ................................................................... 144 Figura 21 – Nova aparência da tela de artigos ..................................................... 145 Figura 22 – Tela principal logada ......................................................................... 146 Figura 23 – Tela atual logada ............................................................................... 146 Figura 24 – Fases da Análise de Conteúdo ......................................................... 152 Figura 25 – Divórcio no Brasil .............................................................................. 157 Figura 26 – Pirâmide de Direito de Família .......................................................... 159 Figura 27 – Redes de conexões da cidade de Curitiba, PR ................................. 165 Figura 28 – Redes de conexões da cidade de Londrina, PR ............................... 167 Figura 29 – Redes de conexões da cidade de Maringá, PR ................................ 169 Figura 30 – Redes de conexões da cidade de Campinas, SP ............................. 171 Figura 31 – Redes de conexões da cidade de Guarulhos, SP ............................. 173 Figura 32 – Redes de conexões da cidade de São Paulo, SP ............................. 175 Figura 33 – Tela de pesquisa do diretório dos advogados no Jusbrasil ............... 179 Figura 34 – Estratégia de pesquisa no Jusbrasil .................................................. 180 Figura 35 – Tela de resultado de pesquisa .......................................................... 181 Figura 36 – Exemplo de perfil do Diretório Jusbrasil ............................................ 182 Figura 37 – Frases existentes nos perfis dos advogados .................................... 197 Figura 38 – Advogados que se destacam na rede da cidade de Curitiba, PR ..... 207 Figura 39 - Advogados que se destacam na rede da cidade de Londrina, PR .... 209 Figura 40 - Advogados que se destacam na rede da cidade de Maringá, PR ..... 211 Figura 41 - Advogados que se destacam na rede da cidade de São Paulo, SP .. 213 Figura 42 - Advogados que se destacam na rede da cidade de Campinas, SP .. 215 Figura 43 - Advogados que se destacam na rede da cidade de Guarulhos, SP .. 217 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Pesquisa sobre “mediação da informação” .......................................... 71 Gráfico 2 – Pesquisa sobre mediação da informação jurídica................................ 80 Gráfico 3 – Representação na rede Jusbrasil ........................................................ 191 Gráfico 4 – Gênero ................................................................................................. 192 Gráfico 5 – Advogados que possuem o registro na OAB ....................................... 193 Gráfico 6 – Comunicação por telefone ................................................................... 194 Gráfico 7 – Disponibilização de endereço físico ..................................................... 194 Gráfico 8 - Uso das tecnologias de comunicação .................................................. 195 Gráfico 9 – Advogados inseridos nas mídias sociais ............................................. 196 Gráfico 10 – Publicações escritas e postadas no Jusbrasil .................................... 198 Gráfico 11 – Respostas as perguntas enviadas aos advogados ............................ 199 Gráfico 12 – Advogados que foram avaliados ........................................................ 200 Gráfico 13 – Perfis certificados pelo Jusbrasil ........................................................ 201 Gráfico 14 – Veiculação do nome do advogado nos Diários Oficiais ..................... 202 Gráfico 15 – Quantidade de recomendações realizada pelos advogados ............. 203 Gráfico 16 – Comentários feitos pelo advogado nos perfis .................................... 203 Gráfico 17 – Grau de importância dos atributos da informação jurídica ................. 219 Gráfico 18 – Redes sociais que os advogados participam ..................................... 224 Gráfico 19 – Motivações para salvar documentos no Jusbrasil.............................. 225 LISTA DE FOTOS Foto 1 – Ambiente de trabalho do Jusbrasil ......................................................... 137 Foto 2 – Ambiente diferenciado de trabalho ......................................................... 138 Foto 3 – Ambientes chamados de “Aquários” ...................................................... 138 Foto 4 – Diferentes ambientes “Aquários” ............................................................ 139 Foto 5 – Vestes usados no ambiente do Jusbrasil ............................................... 140 Foto 6 – Ambientes descontraídos ....................................................................... 140 Foto 7 – Ambientes descontraídos ....................................................................... 141 LISTA DE MAPAS Mapa 1 – Mapa do Estado do Paraná......................................................................162 Mapa 2 – Mapa do Estado de São Paulo.................................................................163 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Seleção dos advogados por cidade.................................................... 176 LISTA DE SIGLAS AC Análise de Conteúdo ARS Análise de Redes Sociais BDTD Base de Dados de Teses e Dissertações BRAPCI Base de Dados em Ciência da Informação CI Ciência da Informação CJ Ciência Jurídica CNB Colégio Notarial do Brasil CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico EAAJ Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ISP Information Source Process JUSBRASIL Justiça Brasileira LISA Library Information Science Abstratcs OAB Ordem dos Advogados do Brasil PPGCI Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação RSV Redes Sociais Virtuais RSVE Redes Sociais Virtuais Especializadas STJ Superior Tribunal de Justiça TDIC Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação TIC Tecnologia de Informação e de Comunicação TRF4 Tribunal Regional Federal da 4ª Região UC Unidade de Contexto UR Unidade de Registro UEL Universidade Estadual de Londrina UFC Universidade Federal do Ceará UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFPA Universidade Federal do Pará UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSCAR Universidade Federal de São Carlos UNB Universidade de Brasília UNESP Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNIR Fundação Universidade Federal de Rondônia UT Unidade Temática SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 21 2 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A CIÊNCIA JURÍDICA .......................... 31 2.1 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E CIÊNCIA JURÍDICA: RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES . 31 2.2 DA INFORMAÇÃO À INFORMAÇÃO JURÍDICA E O COMPARTILHAMENTO NO AMBIENTE VIRTUAL ....................................................................................................... 42 3 A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA .................................................................................................... 62 3.1 ESTUDOS SOBRE A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO ............................................... 62 3.2 A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO JURÍDICA .......................................................... 77 4 PERCORRENDO CAMINHOS SOBRE USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO E COMPORTAMENTO INFORMACIONAL ................................................... 90 4.1 COMPORTAMENTO DOS USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO JURÍDICA ........................... 104 5 INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E A REDE SOCIAL VIRTUAL JURÍDICA ..................................................................................................................... 123 5.1 AS MÍDIAS SOCIAIS E O ACESSO À INFORMAÇÃO ............................................... 123 5.2 O ACESSO À INFORMAÇÃO JURÍDICA POR MEIO DAS MÍDIAS SOCIAIS: O JUSBRASIL, SUA CRIAÇÃO, CONTEXTOS E PARTICULARIDADES ............................................ 128 6 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ............................................................... 146 6.1 UNIVERSO DA PESQUISA E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA .............................. 154 6.2 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ......................................................... 175 6.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ....................................................... 184 6.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .............................................................................. 186 7 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .... 187 7.1 MAPEAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DOS PERFIS ............................................... 187 7.2 RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS: MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO E COMPORTAMENTO INFORMACIONAL DA REDE JUSBRASIL .................................. 215 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 223 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 229 APÊNDICES ........................................................................................................ 263 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............................ 264 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO ................................................................................. 265 APÊNDICE C – FORMULÁRIO DE COLETA DOS DADOS PARA ANÁLISE DE CONTEÚDO .... 269 23 1 INTRODUÇÃO A Ciência da Informação (CI), desde a sua constituição histórica e social, apresenta diversas características de interdisciplinaridade, resultantes do fato de que seu objeto de estudo – a informação – também pertence aos domínios de pesquisa de outras áreas. Nesse sentido, exemplo importante a ser destacado é o dos advogados Paul Otlet e Henri La Fontaine. Eles foram citados por Mattelart (2002) como visionários na organização do conhecimento humano quando, em 1895, criaram o Instituto Internacional de Bibliografia e, em 1910, organizam o I Congresso Mundial de Associações de Documentação em Bruxelas. Anos mais tarde, em 1934, surge o Tratado de Documentação que, na concepção de Figueiredo (1996, p. 16), é a “[...] primeira sistemática e moderna discussão dos problemas gerais da organização da informação [...]. Considerado um dos primeiros textos de Ciência da Informação.” Diante desses acontecimentos, o tratado é tido como marco para a CI, considerada oriunda da documentação otletiana (MATTELART, 2002). Nesta perspectiva, esta pesquisa se desenvolve no contexto da Ciência Jurídica1 (CJ) e de sua interdisciplinaridade com a CI. A questão fundamental do estudo, por conseguinte, emerge das reflexões e inquietações provenientes das observações sobre o processo que envolve as interações e a dinamicidade das redes jurídicas nas redes sociais virtuais (RSV). Além disso, é importante destacar, como ponto de interesse por essa temática, o fato de esta pesquisadora desenvolver atividades profissionais como bibliotecária no Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos (EAAJ) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e atuar diariamente na gestão de conteúdo do Facebook do EAAJ, o que despertou encantamento e interesse científico. Diferentemente das postagens que fazemos em nossas redes sociais pessoais e privadas, em uma rede especializada na área jurídica não basta 1Nesta pesquisa vamos usar a expressão Ciência Jurídica e não Ciência do Direito como alguns autores (DINIZ, 1988; FERRAZ JUNIOR, 2010; TELLES JUNIOR, 2011) costumam usar. 24 selecionar as informações que serão compartilhadas. Além de postar informações de interesse da rede e do público, é necessário certificar-se da qualidade dessas informações e, ainda, verificar atributos como: precisão, clareza, relevância, credibilidade, fonte, ordem, completeza, atualidade e tempestividade. Dentre os motivos que me instigaram a pesquisar essa temática, inclusive sobre o comportamento informacional dos advogados na rede, destaco as diversas idas e vindas entre o pensamento profissional e científico e a experiência obtida em anos de atuação na área como bibliotecária jurídica, após, por várias vezes, ficar observando a forma como os indivíduos se comportam no seu dia a dia no espaço virtual e, ainda, o desenvolvimento dos estudos do mestrado voltados para a área das mídias sociais jurídicas. Ademais, acabava por fazer uma análise superficial de como os advogados se conectam e interagem em cada postagem, seja ela com relação às mudanças na legislação ou quando alguma jurisprudência inédita é disponibilizada nessas redes. Outro ponto observado é a maneira como a informação se movimenta nesses grupos, e na análise do discurso dos comentários e discussões que tomam forma, volume e encorpam a ponto de contribuírem no fazer das atividades cotidianas dos advogados. Nessa perspectiva, verificamos que o processo de mediação e compartilhamento dessas informações na rede pode interferir a ponto de modificar diretamente a interação e o comportamento informacional dos indivíduos que se apropriam e fazem uso dessas informações. Tais inquietações nos fizeram recorrer a autores como Choo (2003). Esse autor relata que estudar o comportamento das pessoas na busca e na utilização da informação é algo que acontece desde a década de 1950. Ele ainda, destaca que o desenvolvimento de habilidades para essa atividade tem grande impacto no desempenho desses profissionais, principalmente na capacidade e na competência de acessar, selecionar, avaliar e utilizar a informação. O intuito deste estudo é verificar como os advogados se comunicam e interagem nesse ambiente virtual especializado, na tentativa de identificar elementos dessa comunicação e interação que possam vir a ser explorados para o desenvolvimento de uma mediação consciente da informação jurídica na perspectiva da CI, bem como analisar o comportamento informacional e o compartilhamento da informação jurídica na rede social virtual jurídica Jusbrasil. 25 Na atual conjuntura, é primordial, para estar em sintonia com a nova demanda e a complexidade dos indivíduos, entender como funciona o processo informacional dos advogados na rede virtual Jusbrasil. Trata-se de uma organização composta por operadores de Direito2, indivíduos das mais diversas áreas do conhecimento e outros profissionais com necessidades informacionais específicas e, ainda, por leigos e curiosos sobre a área do Direito. Assim, concordamos com Fialho e Andrade (2007) quando ressaltam que, por analisar elementos como sentimentos, percepções em ambientes variados, o comportamento informacional humano é um processo complexo. As RSV oportunizam uma integração social do mundo real com o mundo virtual almejando quebrar as barreiras existentes nas conexões entre as pessoas, principalmente a barreira geográfica. Essa nova sociedade virtual emergente possui características próprias. Grupos com interesses comuns vão se formando em busca de aprendizado e conhecimento. Grupos especializados surgem a todo momento com o intuito de compartilhar informação e conhecimento, buscando na coletividade um meio de atualização e de colaboração. Dentre os operadores de Direito, o mais conhecido é o advogado, bacharel em Direito, que atua nas práticas jurídicas, e os indivíduos que podem receber a nomenclatura são: advogados já aprovados na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)3, promotores de justiça, juízes, desembargadores e delegados. (BRAGA, 2010). De acordo com o Conselho Federal da OAB ([2021]), existem, atualmente no Brasil mais de 1.220.000 advogados registrados na OAB, distribuídos nas 27 2“Do modismo que corriqueiramente impera na área jurídica, passou-se a utilizar a palavra “operador” como designação de todos aqueles profissionais que militam na referida área. Com isto, já não se chama advogado o bacharel em Direito, mas, contudo, operador do Direito – homem ou mulher que, detendo o título de formando em Ciências Jurídicas, faz o seu trabalho na ação e nas lides correlatas.” (OLIVEIRA, 2016, p. 1). 3A Ordem dos Advogados do Brasil é a entidade máxima de representação dos advogados brasileiros e a responsável pela regulamentação da advocacia e pela aplicação do Exame de Ordem dos advogados no país. 26 seccionais existentes. Os dados ainda revelaram que o número de advogadas é superior ao número de advogados no país. Segundo a OAB, outro dado relevante é que a faixa etária varia de acordo com o gênero: até 40 anos, o gênero feminino predomina e a partir dos 41 anos o gênero masculino está em maior número, como podemos confirmar no quadro 1. Quadro 1– Faixa etária dos advogados Faixa Etária Feminino Masculino Total Até 25 anos 35.492 18.650 54.142 De 26 a 40 anos 311.971 235.526 548.497 De 41 a 59 193.292 210.205 403.497 60 anos ou mais 72.738 145.695 217.433 Fonte: Elaborado pela autora, baseado na OAB [2021]. Todas as atividades dos advogados e dos operadores do Direito, na concepção de Ibaixe Júnior (2007), é uma leitura da realidade, um dado, fato ou uma situação (porque envolve espaço, tempo, atores ou partes). Uma causa necessita ser lida no todo em que ela se nos apresenta, ou seja, em seu todo de realidade que inclui a norma social que a regulamenta. O advogado tem uma postura a zelar. No código de conduta desta profissão, o cuidado com as roupas é sempre muito cobrado: o advogado veste- se de acordo com a formalidade que a sua profissão exige, de preferência com roupas que respeitem a moral e os bons costumes; as advogadas devem evitar o uso de blusas com decotes ou roupas curtas. Os advogados devem primar pela pontualidade, nas audiências cíveis de conciliação ou de instrução e julgamento; inclusive, existe uma padronização nos lugares utilizados, o advogado do autor se senta à direita do magistrado, à mesa, e o advogado do réu se senta à esquerda. O Código de Ética e conduta do advogado norteia a postura e o comportamento dos advogados, orienta para que não se usem gírias, expressões que não sejam técnicas e, principalmente, palavras de baixo calão. Esses profissionais precisam transmitir confiança nas suas atitudes, pois é o conjunto de atributos que levará o advogado ao convencimento favorável do magistrado. As atividades jurídicas desenvolvidas pelos operadores de Direito exigem informações atualizadas, de confiabilidade, principalmente quanto a autoria e 27 fonte. Recuperar informações relevantes na área, seja para tomada de decisões ou para sanar uma curiosidade informacional, está cada vez mais difícil na internet, devido ao volume informacional disponível na Web. Nesse sentido, a qualidade da informação é importante no desempenho das atividades profissionais do advogado, para que tenha sucesso nos seus processos. As Tecnologias Digitais de Informação e de Comunicação (TDIC) propiciaram novas práticas no processo informacional de produção, acesso, transferência e uso da informação, de forma que se tornou emergente a criação de ambientes informacionais virtuais (JARDIM, 1999). Com a explosão informacional, a era digital emergiu na sociedade atual como um fenômeno revolucionário no que diz respeito à produção, armazenamento, recuperação e disseminação da informação. As mudanças são resultantes dos novos instrumentos tecnológicos utilizados para armazenamento e recuperação da informação, bem como ao acesso a ferramentas modernas de compartilhamento de informação. A internet facilitou a disseminação e compartilhamento de informação por intermédio dos indivíduos pertencentes às redes sociais. O ambiente virtual é um local complexo mantido pelas interações e propício para que as pessoas possam dialogar e compartilhar informação através dos canais de comunicação, ou seja, é um ambiente de muita procura informacional por parte dos indivíduos que lá frequentam e com interesses específicos. Nas RSV, os indivíduos desempenham diversos papéis, e os relacionamentos ocorrem de diferentes formas. Os sujeitos ora são produtores de informação, ora são consumidores, ora colaboradores, a exemplo do que acontece nas redes sociais. Os poderes legislativo, executivo e judiciário produzem inúmeras informações jurídicas, elaboram e editam um número expressivo de leis, decretos, instruções, medidas provisórias, emendas constitucionais, súmulas e jurisprudências, originando grande volume de informações a ser compartilhado. O Jusbrasil é um exemplo de rede social virtual onde as informações e o conhecimento são compartilhados em diversos formatos, como artigos, notícias, jurisprudência, legislação e diários oficiais. É uma empresa de tecnologia e, na sua concepção, é “[...] considerada a primeira rede social orientada a conteúdo jurídico e o portal jurídico mais visitado do mundo.” (JUSBRASIL, 2014, p. 1). 28 A empresa agrega pessoas com background jurídico assessorando no compartilhamento e disseminação das informações jurídicas no país, seja por intermédio do seu site ou pela rede social na sua página do Facebook. Disponibiliza aos cidadãos, portanto, milhões de documentos que podem ser acessados a partir das buscas efetuadas em suas redes sociais (JUSBRASIL, 2014). Considerado um profissional social, de acordo com o artigo 133 da Constituição Federal, “O advogado é indispensável à administração da justiça sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.” (BRASIL, 2016, p. 62). Nesse sentido, o Jusbrasil disponibiliza um diretório de advogados com o objetivo de facilitar a busca por profissionais atuantes nas diversas áreas do Direito. Os espaços virtuais foram fomentados pelas TIC com especificidades próprias no que tange à questão da produção, fluxo e acesso à informação. Consequentemente, a internet representa o que se pode chamar de “um não lugar” com fluxo extremamente grande de informações que sofrem mutações e multiplicidade (JARDIM, 1999). Gomes (2002, p. 33), ao se basear nos estudos de Augé (1994), assevera que “a noção de ‘não lugar’ permite abordar alguns aspectos relevantes do mundo de nossos dias, incluindo-se, ao nosso ver, o fenômeno da internet (ou ciberespaço4) como espaço universal que integra um oceano de informações, porém de navegação solitária.” Diante desta contextualização, as RSV especializadas passaram a ter papel importante, sendo, muitas vezes, comparadas aos colégios invisíveis5 por se assemelharem em algumas características, como a comunicação informal entre os pesquisadores que tinham o interesse por uma mesma temática (MUELLER, 1994). Naquela época, as interações eram mais lentas e dificultadas 4Ciberespaço remete ao espaço nas redes de computação/internet, onde necessariamente não precisamos estar fisicamente nesse ambiente para que exista uma comunicação ou relacionamento. 5 São grupos de pesquisadores que não estão reunidos geograficamente no mesmo ambiente e troca informações sobre pesquisas em determinada área, são informais e desestruturadas. 29 pelas formas de comunicação existentes. Hoje, as inter-relações ainda são baseadas na troca de informações e conhecimentos; apesar disso, no ambiente virtual, esse fluxo é muito mais ágil e dinâmico. Para que a sociedade evolua e se desenvolva, gerar conhecimento é um fator preponderante à construção da sociedade de informação, vislumbrando a sociedade do conhecimento e em rede. Todo esse conhecimento humano é produzido e mediado, de modo a possibilitar, no ambiente virtual, o seu uso e acesso por aqueles que dele necessitam. Principalmente por se tratar de um ambiente diferenciado, complexo, necessita de estudos, de aplicação dos métodos de pesquisa de maneira a subsidiar e fortalecer o objeto de pesquisa da CI, principalmente nesse momento no qual vivenciamos o paradigma emergente e pós-custodial da CI. Por se tratar de uma ciência social, a CI tem na sua essência a pesquisa, com foco nas investigações que se preocupam também com os fenômenos infocomunicacionais (origem, recuperação, disseminação, compartilhamento, mediação, interpretação, o uso e a apropriação). Com o desenvolvimento e o uso das tecnologias, as formas de mediação e de apropriação da informação por indivíduos e por grupos também sofreram modificações, inclusive quanto aos suportes informacionais. A inter-relação entre a CI e a CJ compreende percurso interdisciplinar que estabelece um diálogo entre ambas as áreas e auxilia na produção do conhecimento para o fortalecimento dos estudos desses campos. Diante dessas reflexões, surge o seguinte questionamento: como ocorre o processo de mediação da informação entre os advogados e como o comportamento informacional dos advogados contribui para uma possível apropriação da informação e do conhecimento nas redes sociais especializadas em informação jurídica? Para buscar responder a essas questões, a pesquisa tem como objetivo geral: Verificar como ocorre a mediação da informação jurídica e o comportamento informacional dos advogados que fazem parte da rede social Jusbrasil e que atuam na área do Direito de Família. Portanto, apresentamos os seguintes objetivos específicos da pesquisa: 30 a) mapear, identificar e caracterizar o perfil dos advogados que são usuários da rede Jusbrasil e atuam na área de Direito de Família nos estados de São Paulo e Paraná; b) identificar se existem percepções por parte dos advogados sobre a mediação da informação que ocorre na rede Jusbrasil; c) verificar se as informações postadas no Jusbrasil contribuem para a prática informacional no fazer dos advogados; d) identificar o comportamento informacional dos advogados no contexto das necessidades informacionais presentes no site do Jusbrasil e se existe uma relação com o modelo de Wilson. É uma pesquisa relevante socialmente, dada a constatação de que a informação jurídica é necessária na promoção da cidadania. Além disso, os operadores do Direito, por se tratar de um grupo especializado, geram conhecimentos que serão pilares para suas análises e tomam decisões que passam a regular a vida em sociedade. O estudo ainda aponta características das mediações e do comportamento informacional dos advogados nas redes sociais especializadas em informações jurídicas no ambiente virtual. A área jurídica possui forte significado para a sociedade e seus diferentes contextos, por isso o estudo ainda pode ser um instrumento de avaliação da gestão dos conteúdos digitais da plataforma, além de ajudar a conhecer o comportamento informacional dos indivíduos que fazem parte da rede. Sendo assim, o estudo também pode contribuir com outras redes virtuais jurídicas existentes, bem como trazer subsídios para a CI sobre esse ambiente diferenciado de pesquisa de grande complexidade, que necessita de investigações e de aplicação de novos instrumentos de pesquisa por ser um tema escasso de estudos na área. Trata-se de uma pesquisa aplicada, de natureza quali-quantitativa, que se caracteriza como descritiva e exploratória. Os participantes da pesquisa são os advogados selecionados do universo integrante da rede social do Jusbrasil, especificamente dos estados de São Paulo e Paraná. O segundo passo foi selecionar qual a área do Direito a ser estudada, decidindo pelo Direito de Família, por ser uma área que está passando por várias mudanças na legislação e por ser a base da sociedade de acordo com a 31 Constituição Federal (BRASIL, 1988, p. 159) no seu Art. 226, Capítulo VII, que trata Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” A primeira hipótese levantada era de que o Facebook fosse o ambiente virtual de maior interação entre os advogados, por isso a coleta aconteceria nas postagens dessa mídia social do Jusbrasil. Todavia, quando se iniciou a parte empírica do estudo, constatou-se que a interação maior entre os participantes da rede acontecia no próprio site, pois as postagens realizadas no Facebook eram, na sua maioria, sobre a promoção da profissão do advogado, enquanto no site eram postadas diversas informações jurídicas. A tese está dividida em oito seções. Na primeira seção, faz-se uma introdução sobre o tema e se discorre sobre as motivações da pesquisa. Além disso, são apresentados os questionamentos e os objetivos do estudo, assim como algumas considerações sobre a metodologia. Na segunda seção apresenta abordagem teórica da Ciência da Informação e da Ciência Jurídica, com foco nas relações interdisciplinares entre ambas. Faz um recorte acerca das origens da CI, desde a Documentação até os dias atuais, incluído a CJ, apresentando alguns dos seus precursores e principais estudiosos. Aborda também o compartilhamento da informação jurídica que perpassa o ambiente físico e é obtida no ambiente virtual. A terceira seção é dedicado aos estudos sobre mediação da informação no contexto geral e, mais especificamente, à mediação da informação jurídica. Estudos de usuários e comportamento informacional são as temáticas abordadas na quarta seção. Esta seção da tese apresenta o comportamento informacional dos usuários da informação, especificamente o comportamento informacional dos advogados atuantes no Jusbrasil, que é abordagem mais específica da pesquisa ora realizada. A seção cinco apresenta a rede social virtual jurídica, abordando mais especificamente o Jusbrasil, com o objetivo de apresentar a rede através do seu site e descortinar as possibilidades informacionais que as mídias sociais oportunizam para os advogados e para os cidadãos em geral que buscam informação jurídica. A sexta seção dedica-se a apresentar a trajetória metodológica deste estudo, discorrendo sobre as abordagens e métodos para a pesquisa, definindo os 32 instrumentos de coleta de dados. Além disso, revela as limitações da pesquisa no momento crucial de Pandemia de Covid-19. A sétima seção discute os resultados da pesquisa, apresentando o mapeamento realizado e os resultados do questionário enviado aos advogados que compuseram a amostra do estudo. A oitava seção aponta as considerações finais da pesquisa; nele destacamos o cumprimento dos objetivos propostos e, ainda, fazemos algumas reflexões sobre o desenvolvimento do estudo, mais especificamente das relações entre a Ciência da Informação e a Ciência Jurídica. 33 2 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A CIÊNCIA JURIDICA Nesta seção explanamos as relações interdisciplinares que aproximam a Ciência da Informação e a Ciência Jurídica. Tais semelhanças convergem e colaboram para que as duas áreas conversem entre si. 2.1 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E CIÊNCIA JURÍDICA: RELAÇÕES INTERDISCIPLINARES Com base nos estudos de Pinheiro (1998), Shera (1968) e Taylor (1966), é inegável apontar como marco importante para o surgimento da Ciência da Informação (CI) a Conferência do Georgia Institute of Technology, em 1960. Podemos citar ainda que, na concepção de Bougnoux (1999), a Ciência da Informação e da Comunicação tem as suas origens na década de 1960, justamente no período em que acontecia referida conferência. Oito anos depois, num artigo clássico intitulado: Information Science – what is it?, Shera e Cleveland (1977, p. 265), baseados nos trabalhos apresentados no evento, a CI é tida como A disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem o fluxo informacional e os meios de processamento da informação para otimização do acesso e do uso. Está relacionada com um corpo de conhecimento que abrange a origem, coleta, organização, armazenamento, recuperação e interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. Borko ([2019]), analisando os trabalhos apresentados na Conferência, delineou, naquele momento, uma definição para a CI como ciência, tratando-a como uma ciência interdisciplinar, como é até os dias de hoje, por estar imbricada com os diversos campos do conhecimento. Referido autor afirma que a CI tem “[...] tanto um componente da ciência pura, que indaga o assunto sem ter em conta a sua aplicação, como componente de ciência aplicada, que desenvolve serviços e produtos.” (BORKO, [2019], p. 4). No conceito clássico sobre a disciplina CI, o autor descreve pontos relativos ao comportamento informacional, o fluxo de informações, o acesso e o uso da informação como sendo, 34 A disciplina que investiga as propriedades e o comportamento informacional, as forças que governam os fluxos de informação, e os significados do processamento da informação, visando à acessibilidade e à usabilidade ótima. A Ciência da Informação está preocupada com o corpo de conhecimentos relacionados à origem, coleção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transmissão, transformação, e utilização da informação. Isto inclui a pesquisa sobre a representação da informação em ambos os sistemas, tanto naturais quanto artificiais, o uso de códigos para a transmissão eficiente da mensagem, bem como o estudo do processamento e de técnicas aplicadas aos computadores e seus sistemas de programação. É uma ciência interdisciplinar derivada de campos relacionados, tais como a Matemática, Lógica, Lingüística, Psicologia, Ciência da Computação, Engenharia da Produção, Artes Gráficas, Comunicação, Biblioteconomia, Administração, e outros campos científicos semelhantes. Têm ambos componentes, de ciência pura visto que investiga seu objeto sem considerar sua aplicação, e um componente de ciência aplicada, visto que desenvolve serviços e produtos (BORKO, [2019], p. 1). (tradução livre). Em seu texto intitulado “O que é a Ciência da Informação”, Araújo (2014b) faz uma compilação da trajetória histórica da CI com o olhar voltado para autores como Capurro (2003), Borko (1968), Hjorland e Albrechtsen (1995). Na concepção de Capurro (2003), a informação é matéria que pode ser transmitida de um emissor para um receptor, informação esta que está relacionada com conhecimento a partir do momento em que modifica e altera o conhecimento do indivíduo. A CI desponta com um paradigma social em seus processos informacionais com uma forte crítica ao antigo modelo que tinha o usuário como um indivíduo isolado e passa a olhá-lo não somente numa dimensão cognitiva, mas sim engajá-lo como “parte do mundo”, de Heidegger, ou as “comunidades de discurso”, estudadas por Hjorland e Albrechtsen a partir de uma inspiração em Wittgenstein. (ARAÚJO, 2014). A CI tem, em sua trajetória, diversos sinais de interdisciplinaridade, resultantes do fato de que seu objeto de estudo, a informação, também pertence ao domínio de outras áreas, exemplo dado por Barreto (2012) ao salientar o importante papel de Paul Otlet e Henri La Fontaine, advogados, que organizaram em 1910, o I Congresso Mundial de Associações de Documentação em Bruxelas. Para estudiosos da área, a CI surgiu da documentação otletiana. “Com o intuito de estabelecer sua teoria a partir de estudos bibliográficos, Otlet utilizou a Bibliologia como base conceitual, ampliou o objeto de estudo do livro para documento e 35 desenvolveu novos métodos voltados para seu objeto de estudo.” (MIRANDA, 2015, p. 67). A CI é considerada uma área de conhecimento interdisciplinar, especialmente no âmbito da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia. Nesse sentido, apresenta três características importantes a serem ressaltadas. A primeira, é justamente a interdisciplinaridade, apresentada por Borko ([2019]) e Saracevic (1970), por ter o envolvimento e a atuação de profissionais oriundos das mais diferentes disciplinas científicas. “Entre os pioneiros havia engenheiros, bibliotecários, químicos, linguistas, filósofos, psicólogos, matemáticos, cientistas da computação, homens de negócios e outros, vindos de diferentes profissões ou ciências”, afirma Saracevic (1992, p. 12) (tradução livre). A segunda característica é a proposta da CI enquanto ciência pós-moderna, apontada por Wersig e Windel (1985), pelo fato de a informação não se constituir como um objeto empírico. E a terceira característica é ser uma ciência humana e social. Nessa perspectiva, destaca-se que foi no final da II Guerra Mundial que ocorreram as grandes mudanças nesse campo. As ciências clássicas, com a divisão do conhecimento científico em várias disciplinas e as novas ciências, com características e práticas interdisciplinares, surgem no pós-guerra. Araújo (2014, p. 3) considera que “A história da Ciência da Informação tem sido, pois, a história da diversidade. Modelos de compreensão distintos, campos de estudo diversos, variados objetos empíricos têm evidenciado a inexistência de um corpo teórico unificado e acabado.” Silva (2006) apresenta um diagrama da construção transdisciplinar e interdisciplinar da CI, o qual consideramos significativo para vislumbrar essa concepção dinâmica da área, como vemos a seguir: 36 Figura 1 – Diagrama inter e transdisciplinar da CI Fonte: Baseado em Silva (2006, p. 28). De modo dinâmico, a CI tem buscado pontos de aproximação de suas abordagens e metodologias de pesquisa com outras áreas do conhecimento como na Educação, que no Brasil, a interdisciplinaridade ganhou força a partir da Lei nº 5.692/71, criada para fixar Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus. No ano de 1996 surge uma nova lei, a Lei nº 9.394 de Diretrizes e Bases, que fortalece ainda mais a questão interdisciplinar na educação. Refletindo com Japiassú (1976), as ciências são interdisciplinares por interagirem com outras disciplinas ou áreas do saber e acontecem em níveis diferentes. Klein (1990, p. 11) ressalta que a interdisciplinaridade Tem a finalidade de responder questões complexas, abordar questões gerais, explorar as relações disciplinares e profissionais, solucionar problemas que estão além do escopo de qualquer disciplina única e buscar a unidade de conhecimento em uma grande ou limitada escala. As interações e a reciprocidade contribuem para o enriquecimento das disciplinas, o que nos reporta para a interdisciplinaridade, como colaboração entre diversas disciplinas. Em indagação feita por Pombo (2005, p. 1) sobre a interdisciplinaridade, a autora assim se pronuncia: “eu não sei como se faz interdisciplinaridade. Aliás, indo um pouco mais longe, atrevo-me a pensar que 37 ninguém sabe. A interdisciplinaridade é mesmo capaz de não ser qualquer coisa que se faça.” Para essa autora, a interdisciplinaridade é uma resposta à tendência de especialização na ciência que surgiu a partir das ideias de Galileu e de Descartes, em meados do século XVII. Na contemporaneidade, as relações interdisciplinares continuam se fortalecendo, especialmente por meio das inovações tecnológicas. Na concepção de Fazenda (2002), o significado da palavra interdisciplinaridade é a relação entre as disciplinas. O todo é igual à soma das partes, ou seja, é possível ter uma visão total do conhecimento por meio do exame das disciplinas isoladas. Ao ampliar o conceito de interdisciplinaridade debatido por Pombo (2008), são visíveis as relações interdisciplinares existentes entre Ciência da Informação e Ciência Jurídica, principalmente no cruzamento de ambas as disciplinas e no quanto uma contribui com o crescimento da outra em termos de pesquisas científicas. A produção científica nacional e internacional contemplam muitos estudos sobre interdisciplinaridade e a CI. Destacamos os estudos de Bicalho e Oliveira (2011), Borko ([2019]), Higino (2011), Le Coadic (1996), Oliveira (1998, 2001), Pinheiro (1997, 1998, 1999, 2006) e Saracevic (1992). Desta forma, o conceito de interdisciplinaridade está muito bem associado à CI onde podemos ver essa associação por intermédio das publicações científicas nesse campo. Pinheiro (1997, 2005, 2006) apresenta no quadro 2 as fases de estudo sobre interdisciplinaridade que contribuíram para uma história cronológica da interdisciplinaridade na CI. Quadro 2 - Fases dos estudos sobre interdisciplinaridade Período 1ª Fase – (de 1961/62 a 1969) 2ª Fase – (1970- 1989) 3ª Fase – (a partir de 1991) Fase Conceitual e de reconhecimento interdisciplinar. De delimitação do terreno epistemológico: princípios, metodologia e teorias próprios e influência de novas tecnologias. De consolidação da denominação e de alguns princípios, métodos, teorias e aprofundamento da discussão sobre interdisciplinaridade com outras áreas. Dá ênfase à natureza O período em que são Teve como temas aspectos relativos à 38 Processo disciplinar da área e discute as denominações iniciais, a confusão terminológica com a Informática, suas origens e interfaces, principalmente com a documentação, a biblioteconomia e a informática. Foi observada, também, a preocupação quanto à cientificidade da área que estava surgindo. estudados, com maior profundidade, o objeto e a natureza da CI, a presença da tecnologia no processo da área e o contexto de desenvolvimento científico daquele momento. organização interna da área e sua institucionalização cognitiva. Fonte: Adaptado de Pinheiro (1997, 2005, 2006). Autores como Borko ([2019]) e Saracevic (1970) já vislumbravam uma CI totalmente interdisciplinar e, no Brasil, autores como Pinheiro e Loureiro (1995), Gomes (2001), Mostafa (1996), Souza (2007) e Targino (1995) comungam desse pensamento e apresentam importantes contribuições para os estudos dessa temática. Para esse grupo de autores, a interdisciplinaridade se firma quando existem pesquisadores envolvidos em duas ou mais áreas de conhecimento com o mesmo objetivo. A CI, por estar debruçada nas questões de produção, organização e disseminação da informação para as demais áreas, mantém relação estreita com as outras áreas do conhecimento. Targino (1995, p. 12) nos esclarece que a Ciência da Informação emergiu como decorrência natural do processo de evolução da Biblioteconomia e Documentação e configura-se, portanto, como o conjunto de conhecimentos relativos à origem, coleta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, transferência, transformação e utilização da informação, ou seja, refere-se a todo o ciclo informacional. 39 A CI surge como proposta de uma ciência inovadora, mudando o cenário da área, inclusive nacional, pois as instituições responsáveis pelos cursos nesse domínio sentiram a necessidade da mudança. A Ciência da Informação designa o campo mais amplo, de propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por objetivo o estudo de fenômenos ligados à produção, organização e difusão e utilização de informações em todos os campos do saber (OLIVEIRA, 1998, p. 25). Se, por um lado, a CI está cada vez mais interligada com outras áreas do conhecimento, tornando-a uma ciência com características fortes de interdisciplinaridade. Por outro, a Ciência Jurídica (CJ) ou Ciência do Direito, como também é denominada, traz em seu bojo grandes complexidades. A CJ, assim como a CI, levou muito tempo para se consolidar. Isso só ocorreu no século XIX, mesmo que para alguns autores como “Chamberlain, Nussbaum, Max Rumpf e Julio Hermann Von Kirchmann”, citados por Bobbio (1950, p. 53), a Ciência do Direito não era considerada uma ciência. Para esses autores, o seu objeto (o direito) passa por alterações no decorrer do tempo e do espaço, o que impossibilita ao jurista fazer uma construção científica (BOBBIO, 1950). Em contrapartida, para Rickert (1922), Wundt (1963), Siches (1956) e Lorenz (1997), Diniz (2003) e vários estudiosos do Direito, a jurisprudência seria a ciência. Uma questão para salientar no âmbito da Ciência do Direito é o seu “ponto de mutação” onde, em determinados momentos, é considerada como uma ciência (scientia), vista pelo seu aspecto teórico e, em outros momentos, é vista como ars, ou seja arte, técnica, habilidade (adquirida pelo estudo ou pela prática)” (ARS, [2019], p. 1). Ferraz Junior (1973) salienta que a ciência não é unívoca, não existe apenas um critério para determinar sua extensão, natureza e característica, considerando que os fundamentos filosóficos estão presentes na prática científica. Para o tema ciência jurídica, encontramos diversos conceitos. Ao revisitar a história da Ciência Jurídica ou da Ciência do Direito, como é chamada, e toda a complexidade que envolve a área, encontramos duas doutrinas muito relevantes: de Hans Kelsen (1881-1973) e de Carlos Cossio (1903-1987). O pensamento de Kelsen, jurista e filósofo austríaco, está relacionado com sua teoria pura do direito, e a teoria egológica, de Carlos Cossio (1945, 1947, 1954, 40 1964, 1965), que de acordo com Rodrigues Junior (2012, p. 1), Cossio “além de ser um gigante desconhecido no Brasil” foi um militante universitário reformista, conceituado advogado, um grande filósofo do Direito e professor argentino. Não pretendemos aqui esgotar o tema, visto tratar-se de ampla discussão, ainda assim apresentamos um pouco essas duas teorias. Por muitos anos, a Ciência do Direito era chamada de Jurisprudência por ser a designação dada pelos jurisconsultos romanos. No entanto, na Ciência do Direito não existe um consenso entre os autores sobre o conceito do direito. Montoro (2016) nos apresenta três tipos de significado para a palavra jurisprudência conforme apresentado no quadro 3. Quadro 3 – Conceito, sentido e significado da Jurisprudência Conceito Sentido Significado Jurisprudência “Ciência Jurídica” sentido amplíssimo conjunto de sentenças sentido amplo abrange a jurisprudência uniforme e a contraditória sentido estrito conjunto de sentenças uniforme Fonte: Baseado em Montoro (2016). Considerando o quadro 3, observamos que o objeto da jurisprudência é o conhecimento do direito, o que na realidade se apresenta como grande complexidade, haja vista que o conhecimento do direito exige que o conceituemos. Entretanto, Vilanova (1973, p. 6) salienta que a universalidade do conceito só acontece quando se abstrai de todo o conteúdo, [...] pois o único caminho possível será não reter, no esquema conceitual, o que é variável, contingente, heterogêneo, determinado hic et nunc, mas somente as essências que são permanentes e homogêneas. Ante a multiplicidade do dado, o conceito deve conter apenas a nota comum, a essência que se encontra em toda multiplicidade. Na afirmação de Diniz (2003, p. 7), “A ciência jurídica é uma inquietude ante o problemático [...]”; a autora ressalta que “É imprescindível que a pesquisa jurídico- científica adote um método apropriado, porque a segurança e a validade do resultado do pensamento científico dele advêm.” Diante de tal afirmativa, o 41 pesquisador tem total autonomia para escolher seus métodos em função do ponto de vista escolhido para o estudo do seu objeto. O austríaco Hans Kelsen foi professor visitante em Harvard e Berkeley. Durante a Segunda Guerra foi perseguido pelo nazismo alemão, vindo a falecer em 1973. Esse autor é tido como um dos maiores teóricos do Direito do século XX, cuja teoria normativista é consolidada na sua obra Teoria Pura do Direito. É considerado importante referência para a reflexão sobre a adequação e profundidade das normas jurídicas e do fenômeno jurídico. Sua obra é relevante, principalmente no que tange às questões da Teoria do Direito com um conceito universalista. A base da Teoria pura do Direito é a filosofia de Kant, que é focada na Crítica da Razão Pura, excluindo a doutrina do direito natural com referência ao direito positivo. O Direito tem relações estreitas com outras ciências, entretanto a Teoria Pura do Direito trata da norma positiva, das relações entre a justiça e o Direito e das aproximações e distinções entre o Direito e Moral. Para Kelsen, o objeto da Ciência do Direito positivo é conceituado como sistema de normas com método de pureza que foi muito criticado e acusado de tentativa de purificação do Direito, excluindo-o dos fatos morais, políticos e sociais. Kelsen é o principal representante da escola Positivista do Direito. Valorizando o conteúdo normativo, o Direito se preocupa com o “dever ser” e não com o “ser” (fatos). A interpretação regulamentará o que é o “dever ser” e o “ser“ que é aplicado somente se se enquadrar no dever ser. A norma prevê de forma abstrata que “deve ser” a atitude, então, se há enquadramento, haverá fundamento. Seus estudos são primordiais para se compreender o positivismo jurídico, bem como a análise no ordenamento jurídico. O Positivismo Jurídico surgiu da transposição das linhas mestras do Positivismo Filosófico ao Direito, como reação ao Idealismo de Hegel, e recebendo grande influência do Formalismo de Kant. A primeira ideia juspositivista foi a rejeição de todos os elementos de abstração na área jurídica, a iniciar-se pelo Direito Natural, por julgá- lo metafísico (FREITAS, 2016, p. 1). Sua obra é um importante conteúdo que fundamenta a CJ; ela “reduz o Direito à norma e causa uma certa insustentabilidade por ter um conteúdo abrangente.” (FREITAS, 2016, p. 1). Na visão de Kelsen (1988, p. 84), “a ciência 42 jurídica é uma ciência social normativa, uma vez que tem como objeto as normas de conduta”; a teoria identifica o estudo da validade voltada para a norma jurídica. Direito é norma que consiste em um dever ser lógico. Por outro lado, temos o jusfilósofo argentino Carlos Cóssio (1903-1987) com a Teoria Egológica do Direito. Ele concebe o direito como objeto cultural. A teoria egológica reconhece a importância de Kelsen para a Ciência do Direito e admite a importância de Cóssio, apesar de ser um pensador com menor repercussão no ensino jurídico brasileiro. O objeto da CJ foi delimitado por Cóssio a partir do “ser” do direito, com base nas investigações de Edmund Husserl que contribuíram no novo enfoque à indagação ontológica do direito. O “direito egológico considera a conduta enquanto interferência intersubjetiva, razão pela qual sempre haverá, no mínimo, dois sujeitos, dois egos, em qualquer relação jurídica.” (COSSIO, 1945, p. 76). Carlos Cóssio (1903-1987) é considerado o pai da Teoria Egológica do Direito e fundador da Escola Jurídica Argentina. No Brasil, seus representantes são: o jurista, sociólogo, filósofo, professor e advogado brasileiro, Antonio Luís Machado Neto, e o jurista, advogado e filósofo brasileiro, professor da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Fortaleza, Arnaldo Vasconcelos. Diante desse contexto histórico, a CI e a CJ estreitam suas relações por terem na sua área de atuação o documento, que é a base da informação registrada, desde a criação da Bibliografia por Paul Otlet e Henri La Fontaine. Além da informação e do conhecimento, a documentação está presente nas duas ciências. Para Frohmann (2004), os objetos instituem documentos informativos onde o documento é a materialidade da informação. A CI e a Arquivologia possuem aproximações importantes; assim, na concepção de Geraldo e Pinto (2019, p. 3), Uma aproximação das noções de documento encontradas na Ciência da Informação e Arquivologia aponta duas direções. Na primeira, o documento é colecionado em função da informatividade de seu conteúdo os itens recebem um tratamento individualizado. Na Arquivologia, os documentos são acumulados pelo indivíduo ou instituição no decurso de sua vida ou atividade. Os estudos elaborados por Miranda (2015) destacam que “Em 1971, a Documentação Jurídica torna-se oficialmente reconhecida com a criação da Comissão Brasileira de Documentação Jurídica – CBDJ.” A autora ainda faz uma 43 ressalva: “Partindo do entendimento que o documento faz parte do quadro conceitual da CI que por sua vez abriga a Documentação Jurídica como área de informação especializada.” (MIRANDA, 2015, p. 66). Para Nascimento e Guimarães (2007, p. 33-34), o documento jurídico, “revela uma efetiva interface entre as dimensões arquivísticas e biblioteconômicas da informação”, por “nele residirem aspectos tanto relativo ao binômio proveniência/organicidade quanto ao binômio forma/conteúdo.” Ou seja, o documento jurídico não é apenas um registro de informações históricas para o Direito, mas seu principal meio de efetivação. A CJ ou Ciência do Direito, como também é conhecida, é uma ciência interdisciplinar por se relacionar com várias áreas do conhecimento, inclusive com a CI. Trata-se de ciência de caráter normativo, de onde todo fato social é estruturado normativamente, em que o formalismo centra seu objeto na atividade sistemática de estudar as normas positivas reguladoras do “dever ser” da sociedade em que está presente. Reale (1998, p. 17) destaca que “a Ciência Jurídica tem sido definida como ciência positivada no tempo e no espaço.” Tanto as expressões Ciência Jurídica ou Ciência do Direito são amplamente utilizadas pelos autores; para a teoria pura do direito, o que a caracteriza é o seu conteúdo. É uma ciência interdisciplinar por se relacionar com várias áreas do conhecimento, inclusive com a CI. Entendemos que a CJ é um tema complexo diante da “pluralidade de concepções epistemológico-jurídicas que pretendem dar uma visão da Ciência Jurídica.” (DINIZ, 1996, p. 11). A consolidação da CJ só aconteceu no século XIX, e, assim como na CI, não existe um consenso sobre o objeto da CJ, que é considerado por alguns autores como sendo o Direito. Torres e Almeida (2013, p. 43) argumentam que a Ciência do Direito tem seu foco nos estudos dos conteúdos dos documentos jurídicos, enquanto a “Ciência da Informação tem a missão de gerar conhecimento para organizar a documentação jurídica.” Tanto a CJ quanto a CI possuem base histórica em outras áreas do conhecimento, e essa relação interdisciplinar entre ambas é recente, pois a própria CI é também é recente. 44 2.2 DA INFORMAÇÃO À INFORMAÇÃO JURÍDICA E O COMPARTILHAMENTO NO AMBIENTE VIRTUAL A informação é um atributo que modifica o ser humano. Toda e qualquer informação, em algum momento, terá um significado transformador, dependendo da necessidade e do contexto de cada indivíduo. Consequentemente, não podemos falar de informação jurídica sem antes conceituar e esclarecer um pouco sobre os conceitos de informação, pois ela está presente intrinsecamente na vida das pessoas, em suas ações e na tomada de decisões, permeando as relações sociais. É fato que a informação tem caráter relacional e está ligada às experiências e às vivências dos indivíduos. Para González de Gómez (1995) é nesse processo concatenado que a informação passa a ter significado, transformando-se em conhecimento. Wurman (1991, p. 42) esclarece que A palavra informação sempre foi ambígua e liberalmente empregada para definir diversos conceitos. Os dicionários nos mostram que a palavra tem sua raiz no latim informare, que significa a ação de formar matéria, tal como pedra, madeira, couro, etc. [...] a definição mais comum é a ação de informar, formação ou moldagem da mente ou do caráter, treinamento, instrução, ensinamento, comunicação de conhecimento instrutivo. Historicamente, o conceito de informação tem sido continuamente estudado em diferentes áreas do conhecimento. Assim, suas dimensões epistemológicas ganham atributos e características de acordo com o campo estudo e os objetivos de pesquisa. Na contemporaneidade, a informação adquiriu propriedades e passou a ser autônoma e, por conseguinte, objeto de diversas reflexões principalmente pelos pesquisadores e estudiosos da CI. A teoria da informação surgiu em fins da década de 1940, baseada em estudos matemáticos, desenvolvida por Shannon e Weaver (1949). Esses autores trouxeram importantes contribuições para a CI quando, em 1949, produziram um modelo de comunicação que, na época, era especificamente para emitir e receber sinais telefônicos; tratava-se, no entanto, de um modelo de comunicação humana. Até os dias atuais é considerada uma abordagem importante sobre a transmissão das mensagens. 45 Tratava-se de um modelo composto por seis elementos utilizados na transferência de informações, os quais eram: uma fonte geradora, um codificador, uma mensagem, um canal, um decodificador e um receptor. O modelo rendeu o reconhecimento de “pai da teoria da informação” ao defini-la como uma mensagem que é enviada de um emissor para um receptor e se estabelece como um parâmetro de redução de incertezas. Em 1969, MacKay afirma que “A informação é uma distinção que faz a diferença.” Diante dessa perspectiva, autores como Capurro e Hjõrland (2003) descrevem que a informação depende das interpretações feitas por um agente cognitivo, que é a partir das interpretações que dão sentido para o indivíduo com um propósito relevante. Assim, a informação pode ter um significado diferente para cada pessoa. Do ponto de vista do paradigma social da informação (CAPURRO, 2003), a construção social é a principal característica dos processos informacionais, em que as redes sociais e o contexto influenciam nos estudos que tratam da produção, recuperação, compartilhamento e usos da informação. A informação tem papel importante na vida do ser humano e para o desenvolvimento das sociedades, por isso o crescente número de estudos e pesquisas sobre essa temática, nas mais diversas áreas do conhecimento, fazendo emergir distintas abordagens e conceitos. Na atualidade, ainda se discute uma ou várias possibilidades de definição de informação, e, apesar de não existir consenso entre os estudiosos da CI sobre o seu objeto de estudo, o termo é continuamente empregado em diferentes dimensões de pesquisa da área, no âmbito das representações, das mediações e das tecnologias, por exemplo. Barreto (2005, p. 2) ressalta que A informação, quando adequadamente assimilada, modifica o estoque mental de informações do indivíduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da sociedade em que ele vive. É como agente mediador na produção do conhecimento, que a informação mostra as suas qualidades, de forma e substância, como: estruturas simbolicamente significantes com a (in)tensão de gerar conhecimento no indivíduo em seu grupo e na sociedade. Nas palavras de Oliveira (2005, p. 18), “[...] a informação é uma representação, tornando-se assim um objeto complexo, flexível, mutável, de difícil apreensão, sendo que sua importância e relevância estão ligadas ao seu uso.” 46 Lara (2006, p. 1) reforça que, [...] de um modo geral, a informação é reconhecida como uma inscrição organizada, fruto de uma construção institucional intencional que tem nos valores simbólicos e funcionais a condição para a construção do sentido como para circular socialmente, desencadeando processos de conhecimento. O conceito de informação proposto por Buckland (1991) é composto por três aspectos: o primeiro é informação-como-processo, que é o ato de informar; o segundo é a informação-como-conhecimento, ou seja, o conhecimento comunicado; e o terceiro é a informação-como-coisa, funcionando como atributo para objetos, dados ou documentos. Brookes (1980) apresenta o entendimento de que a informação é um elemento que provoca transformação social. Ela ultrapassa qualquer limite físico e está disponível nos mais diversos suportes e tecnologias, principalmente por meio da internet onde podemos acessar um volume expressivo de informação que independe da sua localização geográfica. De acordo com Dobelin (2004), diversos autores defendem que existem conceitos distintos para diferentes usos da informação, assim como o entendimento de Messias (2005) ao mostrar que a literatura nos aponta que o termo informação pode ser a ação de informar(-se) ou a de averiguar, buscar, inquirir ou investigar. A informação na concepção de Octaviano, Rey e Silva (1999, p. 175) ocupa um lugar, assim como na pirâmide das necessidades de Maslow, pois acreditam que “[...] a informação é considerada a quinta necessidade do homem, precedida por ar, água, alimentação e abrigo. Inclui-se entre os recursos básicos da sociedade, juntamente com materiais, alimentos, energia, espaço vital e mão de obra.” Nos tipos de informação apresentados por Buckland (1991) podemos inferir que, como processo, consideramos a informação que, num momento específico, modifica de alguma forma o conhecimento de um indivíduo. É o ato de informar por meio de um objeto, documento, dado, fato, evento. A informação como conhecimento é aquela que em algum momento atenua de certa forma as dúvidas e incertezas. O dado e os documentos expressos, descritos ou representados por alguma forma física como o sinal, o texto ou a comunicação desses, tratam a informação como coisa, pois fazem referência aos 47 objetos que são considerados informativos em suas características físicas (BUCKLAND, 1991). Para Araújo (2002, p. 13), “A informação é uma prática social que envolve ações de atribuição e comunicação de sentido, que, por sua vez, podem provocar transformações nas estruturas pois geram novos estados de conhecimento.” Com olhar direcionado para a área jurídica, Souza (2014, p. 233) destaca que “[...] a informação é tratada como direito e garantia constitucional [...]”. Nessa mesma direção, Araújo (1999, p. 155) salienta que a informação é um bem social, ou seja, “[...] um direito coletivo como qualquer outro sendo tão importante como o direito à educação, à saúde, à moradia, à justiça e tantos outros direitos do cidadão.” Do ponto de vista de uma abordagem pragmática, Marteleto (1987) conceitua informação como aquela que pode auxiliar o receptor a tomar uma decisão. Logo, a informação basilar para a tomada de decisões dos operadores do Direito é a informação jurídica. A CJ tem características que não se assemelham com as demais áreas do conhecimento. É também chamada de Ciência do Direito, pois tem características que não se assemelham com as demais áreas, conforme Campello e Campos (1993, p. 131) destacam: Uma área de assunto com características bem diferentes das demais é a jurídica. Por suas peculiaridades intrínsecas mais dependente de fontes nacionais, a informação jurídica tem-se distinguido, e seu desenvolvimento já alcançou, em alguns casos, o estágio comercial, o que não ocorre nas outras áreas ainda subsidiadas pelo governo [...]. Divergente dos demais tipos de informações, a informação jurídica, perpetuada em um documento jurídico, carrega consigo uma densa particularidade que a difere de qualquer outro tipo de informação. A informação jurídica é específica e está relacionada aos direitos fundamentais da pessoa, considerando que a informação é um direito garantido pela Constituição e distinto quanto ao seu conteúdo e formato. A informação jurídica é gerada, registrada e recuperada em três tipos distintos: doutrina (descritiva), legislação (normativa) e a jurisprudência (interpretativa) e está firmada nestas fontes do Direito que, mesmo estando intrinsicamente ligadas ou separadas, representam a informação jurídica, conforme apresentada na figura 2. 48 Figura 2 – Tipos de informação jurídica Fonte: Elaborada pela autora. Diferentemente da CI, no contexto da área das Ciências Jurídicas, temos diversos conceitos para fontes de informação jurídica. O jurista Reale (1984, p. 140) define fonte do Direito como sendo “[...] apenas os meios de expressão do Direito, produzindo normas jurídicas vigentes e eficazes.” São elas: a Legislação, a Doutrina e a Jurisprudência. De acordo com Sarmento, Rosa e Ferreira (2000, p. 3): Legislação é a normatização do fato social, elaborada pelo Poder Legislativo dos Municípios, Estados e União. A doutrina é o pensar o Direito, dele participando todos os produtores do mundo jurídico, como uma das Ciências Sociais. E a jurisprudência é resolução do conflito social pelo Estado, através de um Juiz, que produz decisões, sentenças, no primeiro grau, ou acórdãos nos Tribunais. A legislação é a reunião ou um agrupamento de leis (ordinárias6 ou 6 Lei ordinária: “Complementa as normas constitucionais que não forem regulamentadas por lei complementar, decretos legislativos e resoluções. Deve ser aprovada por maioria simples, ou seja, pela maioria dos presentes à reunião ou sessão da Casa Legislativa.” https://www.direitonet.com.br/busca?palavras=Lei+ordin%C3%A1ria. 49 complementares7) e de atos normativos originário das autoridades competentes do Poder Executivo ou do Poder Legislativo. A legislação, na concepção de Miranda (2004, p. 138), é o “[...] conjunto normativo que regula a convivência social.” Existe uma relação hierárquica entre as diferentes espécies normativas que integram o ordenamento jurídico brasileiro. É necessário ter uma ideia dessa hierarquia ou subordinação existente entre as normas, pois é importante no que diz respeito ao controle de constitucionalidade das leis, bem como para resolver eventual conflito intertemporal. “Ressalte-se que por vezes, como há normas sucessivas no tempo, haja vista que a norma só pode ser revogada por outra norma de igual ou superior hierarquia.” (LEITE; CRUZ, 2018, p. 2). Em estudos realizados em 2004, Andreta hierarquizou a legislação da seguinte maneira: Constituição, Emendas Constitucionais, Leis, Leis Complementares, Leis Delegadas, Leis Ordinárias, Medidas Provisórias, Decretos, Decretos Legislativos, Decretos Reservados, Decretos sem número, Resoluções, Portarias, Códigos, Consolidações, Estatutos, Regulamentos, Regimentos, Ordens de Serviço, Circular, Despachos e Deliberações. Venosa (2017, p. 10) apresenta outro conceito ao descrever a lei como “[...] uma regra geral de direito, abstrata e permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade competente, de cunho obrigatório e de forma escrita.” O mesmo autor define a doutrina como sendo “o trabalho dos juristas, dos estudiosos do direito dentro dos campos técnico, científico e filosófico.” A doutrina, atualmente, não é tão citada ou tão utilizada como era na Antiga Roma, mas não podemos esquecer que o Direito é inspirado pelas doutrinas e elas estão o tempo todo visíveis nos textos o que nos leva a admitir que o trabalho doutrinário é fonte subsidiária de Direito. A CJ é compreendida pelos vocabulários e pelos conceitos jurídicos que são elaborados pela doutrina, composta por diversas disciplinas. 7 Lei Complementar: “É a lei criada para complementar as normas constitucionais. Deve ser aprovada por maioria absoluta, ou seja, pela maioria do total de membros que integram a respectiva Casa Legislativa votante (Senado ou Câmara de Deputado)”. https://www.direitonet.com.br/busca?palavras=Lei+complementar 50 Quanto à jurisprudência, que é o conjunto das decisões dos tribunais, Venosa (2017, p. 19) acrescenta que “a jurisprudência pode ser também uma série de decisões similares sobre uma mesma matéria”, ou seja, ela “nunca é constituída de um único julgado, mas de uma pluralidade de decisões.” No direito antigo, esse conjunto de decisões tinha o significado da CJ e, atualmente, é considerado o próprio direito vivo. É ela que orienta o legislador na interpretação de uma norma e tem o papel de atualizar o entendimento da lei, já que as leis envelhecem, perdem a atualidade e distanciam-se dos fatos sociais para as quais foram editadas. Venosa (2017, p. 20) destaca que “O juiz deve ser um arguto pesquisador das necessidades sociais, julgando como um homem de seu tempo, não se prendendo a ditames do passado não tentando adivinhar o futuro.” Esse tripé basilar da informação jurídica, citado anteriormente, independente da instituição ou da categoria de usuários. Silva (2010a) afirma que todos farão uso da doutrina, legislação e jurisprudência, sejam entidades docentes como as faculdades de Direito, os institutos de pesquisas, as entidades vinculadas ao Poder executivo, Poder Judiciário, associações profissionais ou escritórios de advocacia. Professores, estudantes, pesquisadores, advogados, magistrados, juízes, ministros, a tríade: o advogado, o juiz e o promotor “promana a prestação jurisdicional, que é a justiça concreta, ratioultima, do Direito.” (SARAIVA, 1996, p. 50). Diante do exposto, utilizamos também o conceito de Passos (1994, p. 363), que define a informação jurídica como [...] toda a unidade de conhecimento humano que tem a finalidade de embasar manifestações de pensamento de jurisconsultos, tratadistas, escritores jurídicos, advogados, legisladores, desembargadores, juízes e todos aqueles que lidam com a matéria jurídica, quando procuram estudar (do ponto de vista legal) ou regulamentar situações, relações e comportamentos humanos, ou ainda quando interpretam e aplicam dispositivos legais. Além disso, destaca-se que “A informação legislativa e jurídica, de forma especial, caracteriza-se por um alto grau de relacionamentos. As normas jurídicas, proposições legislativas, acórdãos e doutrina interligam-se de várias formas, criando uma rica rede de informações.” (LIMA, 2008, p. 1). Os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário produzem, diariamente, um exorbitante conteúdo informacional. Elaboram e editam muitas leis, decretos, 51 jurisprudências, emendas constitucionais, súmulas, medidas provisórias e instruções, que se acumularão e gerarão um conteúdo expressivo de informações, tornando-se talvez o maior responsável pela produção no Brasil, inclusive se considerarmos o universo de advogados brasileiros, o expressivo número de cursos graduação em Direito e, também, a rápida obsolescência desse tipo de informação, em decorrência da constante desatualização da legislação (CUNHA, 2010). Passos (1994, p. 364) destaca que “O fato de a informação jurídica não ser usada durante certo tempo, mesmo que seja um longo tempo, não significa que a informação não tenha valor ou utilidade ou que não seja eficaz.” A informação jurídica difere dos demais tipos de informação por possuir características próprias, como a interdisciplinaridade, a rápida obsolescência dessas informações, a grande diversidade de fontes de informação, entre outras (MARTINHO, 2006). Porém, em Passos e Barros (2009) tratam a longevidade em se tratando da legislação pode ser considerada uma característica da informação jurídica, ou seja, a obsolescência não se torna um fator desfavorável, pois, além de possuir interdisciplinaridade com outras áreas, pode ser aplicada, ainda que revogada, conforme destacam Passos e Barros (2009). A informação jurídica é aquela que trata de conteúdos especializados e, sob a ótica do seu gerenciamento, tem a responsabilidade de nortear as decisões dos magistrados e demais operadores de Direito nos processos e atividades jurisdicionais, com a finalidade de prestar serviços de informação com a maior especificidade e eficiência possível, como relata Oliveira (2006). Na definição de Silva (2010a, p. 3), informação jurídica é “[...] todo e qualquer conhecimento produzido pelo homem, com o intuito de fundamentar as atividades profissionais desenvolvidas pelos operadores do Direito.” Passos e Barros (2009, p. 94) afirmam que “[...] a informação jurídica pode ser gerada, registrada e recuperada, basicamente, em três formas distintas: analítica (por meio da doutrina); normativa (pela legislação) e interpretativa (com o emprego da jurisprudência)”. Nos escritórios de advocacia, os advogados processam, interpretam informações e transferem conhecimento com o intuito de fundamentar os processos e solucionar os casos de seus clientes. Fullin (2006, p. 4) salienta que “[...] a essência do trabalho é a manipulação, reelaboração e transferência de informações.” 52 A transferência dessas informações no ambiente desses escritórios envolve tecnologia, conteúdo informacional e, principalmente, interação entre pessoas. Ainda de acordo com Fullin (2006, p. 4), “[...] para materializar essas informações em resultados palpáveis e úteis, o advogado depende da informação como matéria- prima básica de seu dia a dia, especialmente informação jurídica.” Por conseguinte, os operadores do Direito necessitam de informações encontradas em diversas fontes além das fontes primárias e secundárias de recursos legais, precisam também de bases de dados que atendam assuntos relacionados ao meio ambiente, direito digital, à segurança, assuntos técnicos e científicos variados (BRESNICK, 1988). Assim, podemos inferir que informação jurídica é toda e qualquer informação relacionada à área do Direito. Logo, toda informação relacionada com doutrina, jurisprudência e legislação é considerada “informação jurídica”. Muitas vezes, o termo informação legislativo é utilizado como sinônimo de informação jurídica. A informação legislativa, entretanto, é a lei propriamente dita, e Passos e Barros (2009, p. 93) a definem como Aquela que resulta do processo legislativo federal, estadual ou municipal: as proposições legislativas, substitutivos, pareceres, emendas, relatórios, entre outros. A informação legislativa assemelha-se à informação jurídica normativa (legislação): ambas são públicas, emanam do poder público competente e são insubstituíveis. A expressão informação legal também é utilizada, sendo que, na maioria das vezes, é empregada como sinônimo do termo informação jurídica. Esse emprego é considerado como uma tradução inapropriada de legal information que, em muitos casos, significa apenas a base legal ou legislação que sustenta determinado ato ou decisão (PASSOS; BARROS, 2009). Na explicação de Fullin (2006, p. 32), “No setor jurídico brasileiro, há uma abundante produção de informação jurídica, começando pela proliferação de atos normativos, de hierarquia superior e inferior, passando pela jurisprudência e a doutrina [...]”. A informação jurídica atua de forma contundentenos ambientes jurídicos; é uma informação consistente, útil, de credibilidade e de mudança contínua, e, em alguns casos, momentânea. Como já foi mencionado, para que a informação seja útil, é preciso que ela seja relevante e confiável. Uma informação jurídica é importante quando ela 53 influencia as decisões. “As informações confiáveis estão livres de erros materiais e preconceitos e podem ser confiáveis pelos usuários para representar fielmente em termos de descrição válida que pretende representam ou pode-se razoavelmente esperar que representem.” (GLAUTIER; UNDERDOWN, 1994, p. 384). Por se tratar de informação que tem um grau de exigência quanto à qualidade, algumas lhes são atribuídas de acordo com os atributos apresentados no quadro 4 têm o foco de contribuir para que a informação jurídica seja percebida como informação de qualidade. Quadro 4 – Atributos de qualidade da informação jurídica Atributos Explicação do atributo Fonte Fonte produtora da informação Credibilidade A informação é considerada verdadeira. Precisão Informação precisa, livre de erros. Clareza Entendimento da informação Relevância Importância da informação Completeza/Integralidade Informação completa Atualidade Informação atualizada Confiabilidade O quanto a informação está correta. Ordem Apresentação coerente da informação Tempestividade Informação dentro do tempo de execução da decisão Longevidade Tempo de duração, obsolescência Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Trindade, Oliveira e Becker (2011). A avaliação, quanto à qualidade da informação, consiste em processos para identificar: autoridade e reputação, atualização da fonte, consistência, validade, fidedignidade, confiabilidade da fonte, singularidade, completeza e cobertura. E se estivemos nos referindo à informação disponível na internet, ainda temos que avaliar links internos e externos atualizados, facilidade para explorar o site, facilidade de uso, layout da fonte e suporte ao usuário (TOMAÉL et al., 2001). Para Miranda (2004, p. 138), “A informação jurídica é elemento imprescindível para que se alcancem os objetivos no âmbito jurídico”, por isso deve 54 ser uma informação pautada na qualidade, ou seja possuir os atributos citados acima. Alonso (1998, p. 26) faz uma abordagem mais ampla sobre o tema Informação jurídica e esclarece que, sob o aspecto genérico, pode ser conceituada como qualquer dado ou fato, extraído de toda e qualquer forma de conhecimentos da área jurídica, obtido por todo e qualquer meio disponibilizado e que pode ser usado, transferido ou comunicado sem a preocupação de estar integrado a um contexto. É um dado ou qualquer elemento identificado em sua forma bruta que por si só não conduz a uma compreensão de determinad