Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências e Letras Departamento de Economia Desenvolvimento histórico da citricultura Bruno Campos Fernandes Araraquara 2010 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências e Letras Departamento de Economia Desenvolvimento histórico da citricultura Bruno Campos Fernandes Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual Paulista como requisito para aprovação da disciplina Monografia II, ministrada pela Prof. Dr. Sebastião Neto Ribeiro Guedes Orientador: Prof. Dr. Sergio Gertel Examinador: Prof. Dr. Alexandre Sartoris Neto Araraquara 2010 DEDIDO a meus pais, Jair e Kátia RESUMO O Brasil é o primeiro produtor mundial de citros e o maior exportador de suco concentrado de laranja - principal produto do complexo agroindustrial da citricultura brasileira. O cultivo da laranja também é o mais importante do Brasil, entre as espécies frutíferas. A cultura da laranja é distribuída desigualmente no Brasil, concentrado um pouco mais de 70% no Estado de São Paulo, e o restante distribuído nos estados: Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Possuindo o Estado de São Paulo mais de 80% da capacidade de processamento, dado esse fato o motivo do foco neste estado. A laranja existe no Brasil desde o tempo da colonização, mas foi em 1930 que essa cultura adquiriu importância comercial. Neste trabalho estão delineadas as etapas da citricultura brasileira e a formação do complexo agroindustrial paulista, tendo em vista os produtores agrícolas e os processadores industriais, destacando a influência do mercado internacional no seu desenvolvimento. No capítulo 1 é feito uma discrição da trajetória da laranja pelo mundo até a sua chegada ao Brasil, no início era apenas para a função de reserva de vitamina C, a partir disso desenvolveremos a sua história no Brasil, sendo no início destinado para o comércio da laranja “in natura”, e depois de constituído o complexo agroindustrial ocorre a sua destinação às empresas processadoras, todo esse desenvolvimento apoiado no mercado internacional. No capítulo 2 apresentamos a estrutura na agroindústria citrícola, a caracterização deste setor, e as relações entre os setores através de contratos de compra e venda de laranja. No capítulo 3 são analisados os processos de fusões e aquisições das empresas processadoras de laranja, e um estudo de caso do município de Matão, mostrando a influência da agroindústria no desenvolvimento socioeconômico nos municípios por onde passaram. Palavras chaves: Agroindústria; Citricultura; Contrato-padrão. ÍNDICE INTRODUÇÃO.............................................................................................................. . 1 1. CAPÍTULO 1 - TRAJETÓRIA DA CITRICULTURA BRASILEIRA E A FORMAÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL CITRÍCOLA.......................... 3 1.1 - Trajetória da laranja pelo mundo.................................................................... 3 1.2 - A trajetória da laranja no Brasil..................................................................... 4 1.2.1 – Da colonização ao início do século XIX..................................... 4 1.2.2 – Citricultura no Brasil dos anos 30 aos anos 60............................ 5 1.3 – Do complexo agroindustrial às transformações recentes.............................. 11 1.3.1 – Anos 60: modernização e formação do complexo Agroindustrial Citrícola........................................................................... 11 1.3.2 – Formação das indústrias processadoras....................................... 13 1.3.3 – Influência do mercado externo na economia citrícola................. 17 2. CAPÍTULO 2 - A AGROINDÚSTRIA CINTRÍCOLA E A OS CONTRATOS INDÚSTRIA/CITRICULTORES................................................................................... 21 2.1 - A agroindústria citrícola.................................................................................. 21 2.2 - Contrato a preço fixo, contrato-padrão e pós-contrato padrão........................ 29 3. CAPÍTULO 3 - EMPRESAS PROCESSADORAS DE SUCO DE LARANJA E A INFLUÊNCIA DA CITRICULTURA NO MUNICÍPIO DE MATÃO......................... 31 3.1 – Fusões e Aquisições das empresas processadoras de laranja......................... 31 3.2 - Influência da citricultura no desenvolvimento do município de Matão.......... 34 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Exportação de Laranja (1934/1960)............................................................... 8 Tabela 2 - Exportação de Laranja (1953/1956)....................................................... ........ 9 Tabela 3 - São Paulo – Pomares Citrícolas em 1957...................................................... 10 Tabela 4 - Produção - Preço Recebido pelo Produtor..................................................... 16 Tabela 5 - Produção, Exportação e Importação de suco concentrado de laranja nos EUA e Produção e Exportação no México - 1991/92 a 1995/96 - em toneladas............ 18 Tabela 6 - Preços pagos (em dólar) ao produtor paulista por caixa de laranja (40,8 Kg), de 79/80 à 96/97...................................................................................................... 19 Tabela 7 - Histórico da indústria processadora – Década de 60..................................... 32 Tabela 8 - Histórico da indústria processadora – Década de 70..................................... 33 Tabela 9 - Histórico da indústria processadora – Década de 80..................................... 33 Tabela 10 - Taxa de Urbanização do Município de Matão (%)...................................... 35 Tabela 11 - Números de Empregados da Citrosuco em Matão....................................... 37 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Trajetória da laranja pelo mundo.................................................................... 3 Figura 2 - Concentração citrícola no Estado de São Paulo............................................. 5 Figura 3 - Indústria processadora de laranja................................................................... 22 Figura 4 - Carregamento de Laranja............................................................................... 24 Figura 5 - Frota própria da Citrosuco.............................................................................. 26 Figura 6 – Empresa Citrosuco em Matão........................................................................ 37 ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Produção Mundial de Citrus......................................................................... 28 Gráfico 2 - Produção de Citrus no Brasil........................................................................ 29 1 INTRODUÇÃO O Brasil é o primeiro produtor mundial de citros e o maior exportador de suco concentrado de laranja - principal produto do complexo agroindustrial da citricultura brasileira. O cultivo da laranja também é o mais importante do Brasil, entre as espécies frutíferas. A citricultura, por motivos econômico-sociais e climáticos, despontou no Estado de São Paulo, gerando ótimos resultados econômicos, e também por causa das ótimas condições no mercado internacional, promovendo reais atrativos para a instalação da indústria processadora de sucos, constituindo a agroindústria citrícola no final da década de 60. O fato de maior peso para a consolidação do suco de laranja no nosso país e principalmente no Estado de São Paulo é o mercado internacional. Este grande desenvolvimento levou a constituição do Complexo Agroindustrial (CAI). O Brasil tornou-se o que é hoje nesse ramo graças ao mercado internacional. Começou com uma alternativa as plantações de café e foi desencadeada pela geada na Flórida em 1962, grande região produtora, ocasionando um excesso de demanda e consequentemente alta nos preços, provocando em um grande desenvolvimento do setor no Brasil (também sofreu influencia da II Guerra Mundial, do choque do petróleo e recentemente do NAFTA e do GATT). No início do século XIX vários municípios se desenvolveram em função da modernização da produção citrícola e de sua transformação industrial para a produção de suco de laranja, um exemplo que iremos analisar é o da cidade de Matão. Conforme a formulação desenvolvida por Labine (1980), o complexo citrícola é uma estrutura de mercado oligopolista concentrado com produto homogêneo. O oligopólio concentrado é definido por uma alta concentração em que poucas empresas possuem a maior parcela da produção. Os contratos de compra e venda de laranja fazem parte da história da citricultura paulista, pois estão presentes nas negociações entre agricultores e indústria processadora desde que estas foram instaladas. Na década de 90, trouxe perspectivas sombrias, surgem os primeiros sinais de uma crise da atividade, com recuperação da produção de laranja na Flórida (Estado Unidos), 2 onde pesquisadores e produtores souberam superar as adversidades da década de oitenta. Os preços internacionais de suco concentrado passaram a declinar à medida que também aumentava substancialmente a produção de laranja em São Paulo, tornando a concorrência no mercado mais acirrada. 3 CAPÍTULO 1 TRAJETÓRIA DA CITRICULTURA BRASILEIRA E A FORMAÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL CITRÍCOLA 1.1 - Trajetória da laranja pelo mundo A laranjeira é umas das árvores frutíferas mais conhecidas, cultivadas e estudadas no mundo. A maioria das árvores cítricas é nativa da Ásia e com a laranjeira não é diferente, porém a sua região de origem é motivo de controvérsia de vários pesquisadores da área. Determinadas pesquisas afirmam que os cítricos teriam surgidos no leste asiático, onde a primeira descrição sobre os citrus aparece há 2000 a.C. na literatura chinesa, o seu nome científico (Citrus sinensis) se dá justamente pela sua origem. Seu registro foi feito pelo imperador Ta Yu, no qual era uma memória de seus conhecimentos agrícolas de seu tempo. FIGURA 1. - Trajetória da laranja pelo mundo Da mesma maneira que o seu surgimento a sua trajetória pelo mundo é pouco conhecida, estudos apontam que da Ásia a laranja foi levada para o norte da África e de lá para o sul da Europa em meados da Idade Média. Da Europa ela foi introduzida no Brasil, 4 pelos portugueses no início da colonização das terras descobertas em 1500. Nesse momento de sua história a laranja disseminou pelo mundo sofrendo mutações e originando novas variedades. O seu sabor, aroma, cor e o seu tamanho sofreram modificações devidas a citricultura ter ficado nessa época entregue a sua própria sorte, assim essas modificações ocorreram aleatoriamente. 1.2 - A trajetória da laranja no Brasil 1.2.1 – Da colonização ao início do século XIX Quando os portugueses trouxeram da Espanha as plantas cítricas tinham como objetivo criar um abastecimento de vitamina C, que era utilizada como antídoto do escorbuto, doença que eliminava as tripulações no período do descobrimento. Sua adaptação foi tão incrível que as confundiam com plantas nativas, essa adaptação produziu uma variedade particular, reconhecida internacionalmente: a laranja Bahia, baiana ou de umbigo, que teria surgido por volta de 1800, em uma árvore de laranja seleta, num pomar do Bairro da Cabula, em Salvador. Foi a partir a laranja baiana e de sua propagação através de mudas enxertadas que a citricultura tornou-se um ramo da agricultura brasileira. Em meados de 1800, ocorreu um fator fundamental na citricultura mundial, técnicos em citricultura de Riverside, da Califórnia aproveitaram os serviços diplomáticos norte- americanos instalados no Brasil, e receberam três mudas de laranja Bahia. Em virtude da viagem só duas mudas vingaram, mas foram delas que saíram as mudas que se espalharam por todos os Estados Unidos e pelo mundo. O intercâmbio entre os Estados Unidos e o Brasil justamente por causa da laranja Bahia foi fundamental para o ponto de partida da citricultura nesses dois países. Assumia no início apenas um caráter doméstico, sendo cultivada somente em quintais urbanos e em fazendas para consumo familiar, a produção foi aumentando até que em 1911 ocorre a primeira exportação de laranja para a Argentina. O período preliminar de evolução da citricultura coincide com mudanças fundamentais no Brasil. No período entre 1822 e 1889, foi declarada sua independência e proclamada a república, na economia saiu o açúcar e entrou o café, no trabalho saiu o escravo e entrou o imigrante. 5 Em meados do século XIX, o café se encaminha para o interior de São Paulo, no seu rastro a laranja foi ocupando pequenos espaços rurais em Taubaté, Jacareí, São Paulo, Bragança, Sorocaba, Campinas, Piracicaba e Limeira. Nas primeiras duas décadas do século o cultivo da laranja atingiu grande área do Estado de São Paulo. 1.2.2 – Citricultura no Brasil dos anos 30 aos anos 60 O Rio de Janeiro era o centro político e econômico do país, e nele ocorreu o início do cultivo da laranja face à adaptação ocorrida na região de Itaboraí, como razões edafo- climáticas (condições do tipo de solo, clima, precipitação, variações de temperatura e topografia fazem com que a maior parte do estado seja propícia ao cultivo de citros) e econômicas favoráveis (alternativa à grande dependência do Brasil das exportações de café, e com a ocorrência da crise cafeeira no Estado de São Paulo). FIGURA 2 - Concentração citrícola no Estado de São Paulo Vários fatores fizeram com que na década de 30, o cultivo da laranja se desenvolvesse no Estado de São Paulo, dentre eles podemos citar: 1- Decadência do cultivo do café: As geadas de 1918 e 1929 fez com que o cultivo do café caísse no Estado de São Paulo abrindo espaço para outras culturas e ainda ofereceu condições básicas de infreestrutura operacional e econômico-financeira da cultura cafeeira. A rota citrícola foi à mesma do café: ao longo das principais linhas ferroviárias, fator importante por se tratar de um produto perecível. 6 ...após a geada de 1918, mais ainda a geada de 1929 – que devastaram várias plantações de café-, a cultura de árvores frutíferas aumentara. Os fazendeiros da cafeicultura paulista já somavam à sua experiência comercial, a rattionale capitalista e, dessa forma, souberam valer-se do rápido conhecimento adquirido no cultivo de laranjais para obter um custo de produção quatro vezes inferior àquele que os citricultores fluminenses obtinham. Este melhor desempenho permitiu que a exportação paulista de laranja in natura se elevasse de 43,2 mil caixas em 1927 para 2.791 mil em 1939, fazendo com que a participação de São Paulo, no total exportado pelo Brasil, subisse de 12% para 49% neste período. (MARTINELLI, 1987:99 Pág.98); 2- Apoio governamental: O êxito desse acontecimento foi também devido à campanha de propaganda governamental. A presença do governo paulista na citricultura desde a década de 20 contrastava bastante com o que ocorriam nos demais estados produtores. Tal intervenção foi um dos principais condicionantes da posição atual do Estado de São Paulo na produção de laranja no país. (MARTINELLI, 1987:99 Pág. 100); 3- Níveis de preços relativos da laranja: Os níveis de preços relativos da produção da laranja em terras paulistas ofereciam um lucro maior que em outras regiões, como o Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Estado de São Paulo os custos de produção eram quatro vezes menor que nessas áreas, justificado pelo baixo custo de transporte e pela existência de profissionais do meio agrônomo, graças a criação, em 1928, da criação da Estação Experimental e de cultivo de citros no Estado de São Paulo e a fundação da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), de Piracicaba; 4- As condições edafo-climáticas da região e a urbanização que se teve no Brasil (crescendo muito o seu mercado interno). Esse período ocorreu um grande movimento da diversificação das exportações brasileiras, a laranja entrou no ranking dos dez produtos exportáveis mais importantes, adquirindo expressão comercial. Em 1939, ocorreu um marco da citricultura brasileira, as exportações de laranjas atingiram um recorde e 197 mil toneladas, segundo Hasse, (1987). 7 Porém dois fatores causaram, praticamente, a destruição da citricultura brasileira, que foram a eclosão da II Guerra Mundial e a disseminação da doença “tristeza” nos pomares. A II Guerra Mundial causou uma queda das exportações para a Europa, devido ao embargo nas vendas da fruta brasileira, sendo que no período de 1939 a 1942, as exportações caíram 77% para o Brasil e quase na totalidade para São Paulo. (Martinelli, 1987). A queda das exportações brasileiras só não foram maiores justamente porque os produtores fluminenses, que exportavam para a Argentina, não foram afetados pela guerra, mas os paulistas que detinham a maior porcentagem das exportações perderam todo o seu mercado, e na tentativa de reverter essa situação buscaram o mercado interno, porém este mercado não era desenvolvido suficiente para consumir todo o excedente da produção. Juntamente com a guerra a doença “tristeza” dizimou praticamente todos os pomares em 1937, doença essa que causava uma espécie de entupimento da copa das plantas, e assim a morte das laranjeiras por falta de alimentos.1 1 Ver Vieira Lii (1976) e Rodrigues, O., “Aumento da produção às plantas plantas”, Jornal “o Estado de São Paulo”, 01/03/1980 8 TABELA 1 – Exportação de Laranja ANO Brasil São Paulo 1934 2632 1096 1935 2640 1033 1936 3217 1291 1937 4971 2169 1938 5487 2226 1939 5632 2791 1940 2858 788 1941 1950 217 1942 1281 178 1943 1342 229 1944 1271 275 1945 1397 135 1946 2768 515 1947 1703 496 1948 2845 370 1949 2606 316 1950 3457 317 (em milhares de caixas) Fonte: Hasse, 1987, p.115 No final dos anos 40 e início dos anos 50, ocorre o fim da guerra, restabelecendo o mercado Europeu e consequentemente as exportações brasileiras, e também o controle da “tristeza”, que foi solucionada com a utilização do porta-enxerto Limão Cravo, que é resistente a doença, assim surge uma discreta “febre” citrícola no interior paulista, surgindo novos centros produtores mais dinâmicos e produtivos. Segundo Hasse (1987) com o fim da segunda guerra mundial, o fim da ditadura de Getúlio Vargas e a experiência democrática iniciada no ano de 1945 colocaram o Brasil com o pensamento de restaurar, reconstruir, começar outra vez,... Uma nova febre cítrica começava a se espalhar pelo interior paulista. Os novos pomares plantados com maior intensidade a partir de 1948 começavam a dar frutos. 9 Apesar da recuperação dos pomares e da retomada da produção e exportação, foi também na década de 50 que entrou em cena um novo personagem, com traços marcantes e duradouros, a bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri - agente do cancro cítrico. Originária da Ásia, essa bactéria - causadora de lesões nos frutos, folhas e ramos - entrou no Brasil por meio de mudas trazidas clandestinamente do Japão. Com a estabilidade houve uma transformação e ajustamento às exigências do mercado internacional. A recuperação do ‘parque citrícola’ paulista não se deu em moldes tradicionais, mas transformando-se e ajustando-se às novas exigências da realidade econômica. A recuperação dos laranjais atacado pela doença foi realizada também pela substituição da variedade de laranja: laranja-bahia pela laranja pêra, principalmente mais atraente e mais resistente às doenças. (...) Com isto, ocorreu, então, um processo de substituição das variedades da laranja, no sentido de ajustar-se melhor ao comportamento e às exigências do mercado internacional, bem como tornar economicamente mais rentável a atividade, pois as variedades de laranjas menores eram aquelas que alcançavam maiores cotações nos mercados externos. (MARTINELLI, 1987, p. 104) Com a rápida expansão da citricultura 47/58, época da recuperação dos pomares, ocorreu um acréscimo de 70% nos preços, colocando a laranja, no final da década de 50, como a maior receita por hectare, segunda Siffert (1992) 2 2 SIFFERT FILHO, N. F. Citricultura e Indústria: Organização e Mercados. Rio Claro/IGCE, 1992.) TABELA 2 - Exportação de Laranja ANO Brasil São Paulo 1953 24993 5040 1954 31528 11592 1955 45980 21840 1956 42868 38414 (Em toneladas) Fonte: Hasse, 1987, p.141 10 Já nas décadas de 50 e 60, a cultura se expandia para o norte do Estado: São José do Rio Preto, Bebedouro, Araraquara, Taquaritinga e Matão; dando os primeiros sinais da regionalização do setor citrícola paulista. De acordo com os dados da Secretaria da Agricultura, os pomares comerciais paulistas no ano de 1957 estavam distribuídos da seguinte maneira: TABELA 3 - São Paulo – Pomares Citrícolas em 1957 Zonas Agrícolas em 1000 árvores Piracicaba (inclui Limeira) 2629 Pirassununga 1132 Bebedouro 1100 Campinas 760 Araraquara 710 Taubaté 469 Barretos 459 Catanduva 313 Itapetininga 276 São José do Rio Preto 255 Bragança 253 Jaú 167 Ribeirão Preto 129 Fonte: Secretária de Agricultura As exportações também foram favorecidas pela transformação da política cambial de rígida para flexível, o qual representou um fator de incentivo aos exportadores, pois elevariam suas rentabilidades comparativas em termos de cruzeiro.3 Essa alta rentabilidade fez os centros cítricos se desenvolverem, tornando mais dinâmicos e rentáveis, este desenvolvimento juntamente com problemas externos fizeram que surgissem as indústrias processadoras, uma nova etapa da citricultura. 3 Estas análises podem ser encontradas de forma melhor sistematizadas em Baer (1979) 11 1.3 – Do complexo agroindustrial às transformações recentes 1.3.1 – Anos 60: modernização e formação do complexo Agroindustrial Citrícola As transformações econômicas e sociais mundiais do pós-guerra possibilitaram o surgimento da produção e consumo de suco de laranja concentrado, especificamente na Europa e Estados Unidos. Esse ramo cresceu consideravelmente de meados da década de 40 até fins de 50, juntamente cresceu a demanda pelo produto. Os Estados Unidos, na década de 60, detinham a maior produção de laranjas no mundo e foi o pioneiro na produção de suco de laranja concentrado. A região da Flórida, principal região produtora, foi palco de um acontecimento que contribuiu fortemente para as mudanças na citricultura paulista. Segundo Hasse (1987), na véspera do Natal de 1962, ocorreu uma forte geada nos Estados Unidos da América, especificamente na Flórida, o frio intenso e prolongado da noite anterior enfeitara de branco grande parte da citricultura americana. Os danos sobre os pomares foram enormes, cerca de 13 milhões de árvores adultas morreram, acarretando uma queda da metade da produção americana, a safra 61/62 foi de 115,878 milhões de galões, em 62/63 caiu para 51,387 milhões, assim diminuindo a oferta do suco e consequentemente o aumento do preço, preço dos galões quase dobraram de preço, indo de 2,0 a 2,5 para 3,5 a 4,0 dólares. (Maia, 1992, p.37) A crise na produção norte-americana abriu espaço no mercado do suco concentrado, e o Brasil que estava em uma fase de modernização de sua agricultura foi estimulado a ingressar nesse mercado, tornando-se um dos países que mais se beneficiaram com a crise da produção americana, propiciando uma transformação na atividade citrícola brasileira. Na década de 60 a citricultura paulista deixou de ser uma alternativa do cultivo do café e assume um papel economicamente importante para a agricultura brasileira, adquiriu um caráter capitalista, tanto na produção quanto na comercialização, empregando um grande número de mão de obra assalariada, de máquinas agrícolas e insumos modernos. Assim nesse período ocorre um processo conhecido como “modernização conservadora” que é constituído por três momentos decisivos: a constituição dos CAIs, integração de capitais intersetoriais e da industrialização da agricultura. 12 Para José Graziano da Silva (1989), o movimento de mudança da agricultura brasileira se caracteriza justamente pela desarticulação do chamado ‘complexo rural’, com a constituição dos ‘complexos agroindustriais’, que se daria através da substituição da economia natural por atividades agrícolas integradas à industria, pela intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais e com a especialização da produção agrícola. A articulação da agricultura com a indústria (...) produziu a expansão de um complexo agroindustrial (CAI) que gerou formas específicas de produção na agricultura que, embora tenham assumido expressão concreta em áreas espacialmente restritas, acabaram contingenciando as condições gerais de produção no país. Desse modo, as diferentes porções do território inserem-se, hoje, num esquema global, em escala nacional e os aspectos que assumiu a evolução da agricultura nos diferentes contextos regionais só podem ser apreendidos a partir de que a dinâmica da agricultura passou a ser comandada pelas forças controladoras do complexo agroindustrial. (Muller, 1981, p. 32) Em outro trabalho, Muller (1989) escreveu que no padrão agrário moderno a agricultura está associada ao complexo agroindustrial e perde a individualidade como unidade analítica, devendo ser considerada junto aos outros dois segmentos que compõe o CAI. Neste, a agricultura é fornecedora de matérias-primas para a agroindústria e demandadora de produtos industriais, caracterizando uma nova forma econômica e social de agricultura, que acompanha a unificação da economia pelo movimento do capital industrial e financeiro. A constituição do CAI é produto da modernização da atividade agrícola e, durante as décadas de 70 e 80, a manutenção e expansão do CAI constituem-se no principal vetor desta modernização.4 A constituição do Complexo Agroindustrial (CAI), que é caracterizada pela integração técnica intersetorial entre as indústrias que produzem para a agricultura, que nada mais é que a implementação do setor industrial de bens de produção para a agricultura. A industrialização da agricultura significa que a agricultura torna-se compradora de insumos industriais e vendedora de matéria-prima para a indústria, que é conhecida respectivamente como indústria a montante e indústria a jusante. 4 Segundo Muller (Complexo Agroindustrial e Modernização Agrária, SP, Hucitec:Educ, 1989, p. 148), “complexo agroindustrial- designação dada às relações entre indústria e agricultura na fase em que a agricultura apresenta intensas conexões para trás, com a indústria para a agricultura, e para frente, com as agroindústrias. O CAI é uma forma de unificação as relações interdepartamentais com os ciclos econômicos e as esferas de produção, distribuição e consumo, relações estas associadas às atividades agrárias”.) 13 A integração de capitais foi o investimento do capital financeiro na agricultura, segundo Kageyama e Graziano o SNCR (Sistema Nacional de Crédito Rural) foi o elo entre o capital financeiro e a agricultura, através de linhas específicas de financiamento que sustentaram a modernização agrícola. Neste processo de desenvolvimento da agricultura brasileira, ficou evidente que essa modernização ocorreu somente nas grandes fazendas e condenou um grande número de agricultores, esse padrão foi diferente de alguns países, como os da Europa e América do norte, que utilizaram um padrão pelo qual beneficiou a produção nas propriedades de pequeno porte. Assim no Brasil, a modernização agrícola não afetou a estrutura fundiária e de propriedade de terra, mantendo-se concentrada. Dentre as culturas beneficiadas pela modernização a principal foi a citricultura, adquirindo maior relação com a indústria, além de ter recebido estímulos governamentais para a exportação a sua produção também começou a ser demandada pela agroindústria processadora. A agricultura adquiriu um grande elo com o capital industrial, além de adquirir suporte produtivo a sua produção ficou direcionada para as indústrias. Com a modernização da agricultura e com a consolidação do complexo mudou o caráter da atividade citrícola brasileira, a laranja que era produto final, tornou-se insumo para a indústria. A economia citrícola passou a ser determinada pelas empresas de suco concentrado, assim a atividade deixou de depender do preço da laranja “in natura” no mercado externo, mas das demandas industriais das empresas processadoras, que tinham o seu mercado no exterior. 1.3.2 – Formação das indústrias processadoras O complexo citrícola possibilitou que a citricultura aproveitasse o aumento da demanda do suco concentrado, graças a quebra de produção norte-americana, em 1962. Durante a década de 60 e início da década de 70 as exportações de suco só cresceram, consolidando a indústria processadora de sucos, assim no início da década de 70 o Brasil deixa de ser basicamente fornecedor do mercado interno e externo de laranja “in natura” para se tornar um grande exportador de suco de laranja concentrado e congelado. As atividades de processamento de sucos cítricos desenvolveram-se por volta dos anos 60, a partir produção de sucos cítricos e do surgimento de condições favoráveis, na época, 14 para o mercado internacional. Nas décadas de 70 e 80 a agricultura e o processamento industrial cresceram sempre apoiados no mercado externo. (LORENZO, C. Helena, pág. 7) O complexo citrícola possibilitou que a citricultura aproveitasse o aumento da demanda do suco concentrado, graças a quebra de produção norte-americana, em 1962. Durante a década de 60 e início da década de 70 as exportações de suco só cresceram, consolidando a indústria processadora de sucos, assim no início da década de 70 o Brasil deixa de ser basicamente fornecedor do mercado interno e externo de laranja “in natura” para se tornar um grande exportador de suco de laranja concentrado e congelado. Segundo Maia em apenas cinco anos, de 1970 até 1975, o número de empresas processadoras de sucos passou de sete para nove, enquanto o número de extratoras de laranjas passou de 76 para 299 empresas. Em 1973, o setor passa por uma pequena crise na qual os países importadores, atingidos pelo primeiro choque do petróleo, reduziram as suas importações, reduzindo a exportação brasileira de suco, acarretando em um aumento dos estoques das indústrias processadoras e uma redução nas cotações de preços internacionais. A expansão de fábricas de suco desencadeou intenso plantio de laranjais em São Paulo, triplicando a cotação do produto, agravando ainda mais o capital de giro das indústrias, alguns produtores já tinham vendido suas safras antes mesmos delas se iniciarem. A empresa Sanderson chegara a comprar 8 milhões de caixas de laranjas a altos preços antecipadamente, durante a sua produção a Companhia Paulista de Força e Luz cortou-lhe o fornecimento de energia pela falta de pagamento, seus funcionários estavam sem receber há alguns meses, assim no final do ano de 74 a empresa decreta falência. Com isso muitos produtores perderam a safra que tinham vendido, e os que conseguiram vender, venderam a um preço muito baixo. Situação só foi amenizada quando o governo desapropriou os bens da Sanderson e criou a Frutesp, em 1975. O setor foi afetado também pela decisão do governo de proibir a Citrosuco de exportar, alegando dumping no mercado internacional, estava estipulado pela CACEX um preço de US$ 560/t e ela vendera o suco por US$ 400/t. 15 Segundo Martinelli (1987), apesar dos acontecimentos, o setor não esteve ameaçado e a década de 70 registrou uma grande expansão. No início da década, a indústria demandava de 20 a 25 milhões de caixas de laranja e na década seguinte esse número aumentou para 130 a 150 milhões de caixas, o que correspondia entre 80 e 90% da produção total. Na década de 80, o Estado brasileiro se encontrava em uma crise econômica no qual implicou em drásticas reduções no volume de crédito agrícola que começou a ser fornecido a uma taxa real de juros e a ter mais exigências. Porém as geadas durante toda década na Flórida e o aumento do consumo na Europa compensaram a crise econômica brasileira. Em 1982, o Brasil ultrapassa os Estados Unidos e torna-se o maior produtor e exportador mundial de suco concentrado de laranja. A década de 80 é considerada como um período áureo da citricultura, momento em que os produtores receberam melhores preços pela laranja obtendo alta lucratividade, aumentando o seu padrão de vida, expandindo ainda mais os pomares e melhoras nos tratos culturais. Devido ao desenvolvimento da indústria de processamento de frutos cítricos e ao crescimento das exportações, o Brasil tornou-se o maior produtor mundial de laranjas com mais de um milhão de hectares de plantas cítricas em seu território. A maior parte da produção brasileira se destina à indústria de suco, concentrada no Estado de São Paulo, responsável por 70% da produção de laranja (400 milhões de caixas por ano) e 98% da produção brasileira de suco. A alta rentabilidade causou uma euforia no ramo citrícola, atraindo muitos produtores e grupos industriais para o setor. Alguns ficaram conhecidos como “aventureiros” por entrarem no setor apenas pela oportunidade de ganhar dinheiro, sem ao menos ter a mínima experiência na atividade. Segundo Vieira (1998), durante a safra de 87 a 97, o inventário de citrus do Estado de São Paulo, considerando apenas as árvores em produção, passou de 91 milhões para 172 milhões de pés. 16 Na década de 80 houve a entrada de poucas empresas no setor, todas de pequeno porte. Em virtude do momento desfavorável para a exportação de SLCC, as quatro maiores empresas do setor tiraram proveito do capital financeiro gerado para se modernizarem e aumentarem a sua capacidade produtiva. Em 1985, a capacidade produtiva das quatro maiores exclusivos no Brasil e no exterior e, até mesmo, navios negreiros para transporte marítimo do suco; - garantia de abastecimento da matéria-prima (laranja) num volume e qualidade compatíveis com a escala do setor. Neste sentido os acordos de negociações de compra e venda da laranja foram primordiais; - e, manutenção programada de capacidade industrial ociosa pelas empresas líderes. (TAVARES, 1996, pág. 89) O aumento dos preços beneficiou inicialmente somente as indústrias processadoras, os produtores agrícolas para participarem desses adicionais, fizeram reivindicações e foi implantado o contrato-padrão (será estudado no terceiro capítulo), assim os fornecedores TABELA 4 - Produção - Preço Recebido pelo Produtor Ano safra Produção (milhões de Preço recebido pelo caixas de 40,8 KG) Produtor (US$/caixa 40,8 Kg) 1979/80 155 1,54 1980/81 170 1,65 1981/82 180 1,70 1982/83 195 1,40 1983/84 200 0,87 1984/85 205 2,06 1985/86 218 3,59 1986/87 190 1,80 1987/88 234 3,23 1988/89 221 3,74 1989/90 296 3,53 Fonte: IEA e ABECITRUS, 2004 17 aumentaram os seus lucros e detiveram o poder de barganha frente à classe industrial, através da atuação da ASSOCITRUS (Associação Paulista dos Citricultores). 1.3.3 – Influência do mercado externo na economia citrícola A década de 90, apesar de o Brasil estar em uma situação de liderança mundial, oscilações no mercado abalou o setor citrícola brasileiro, pela citricultura estar muito ligada ao mercado externo ela se tornou muito suscetível aos seus movimentos. O início da década ficou marcada pelo aumento da oferta mundial de laranja e suco concentrado, esse aumento baseou-se em 2 fatores: - recuperação das plantações norte-americanas que tinham sido afetadas por geadas na década de 80, recuperação solucionada deslocando as plantações para regiões mais ao sul do Estado da Flórida, onde as quedas de temperaturas não são tão grandes; - aumento da produção nacional, devido a grande oportunidade de auferir bons lucros no setor. A grande oferta na década de 90, fez com que caíssem as cotações do suco concentrado na Bolsa de Nova Iorque, causando uma queda também nos preços da laranja aqui no Brasil, as indústrias brasileiras aumentaram o seu estoque justamente porque os Estados Unidos diminuíram as suas importações, fazendo cair as exportações brasileiras. É também neste período os países mais desenvolvidos entraram em um processo de mudança, investindo em novas tecnologias, movimento este ficou conhecido como Terceira Revolução Industrial.5 Esta revolução desencadeou novas tendências mundiais, que eram a de globalização e regionalização, surgindo os Acordos de Livre Comércio (ALCs). Dois acordos influenciaram a economia citrícola brasileira, um influenciou negativamente e o outro positivamente respectivamente: NAFTA (Acordo de Livre Comércio Norte-Americano, entre Estados Unidos, Canadá e México), e o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio). Os Estados Unidos utilizam-se de um sistema para proteger os seus produtores das concorrências externas, impondo tarifas alfandegárias sobre as suas importações. O México já era um exportador de suco de laranja, porém nunca foi um forte concorrente do 5 Cano (1993) 18 Brasil, com a criação do NAFTA que é um acordo de livre comércio entre os dois países, o México tem uma tarifa alfandegária diferenciada em relação ao seu suco, havendo uma redução imediata de 50% do imposto e uma regressão progressiva até zerar em quinze anos. Com esses benefícios o México entra de concorrente do Brasil nesse setor. A grande vantagem do México é por estar perto dos Estados Unidos e pelo NAFTA, porque a sua citricultura está sujeita a geadas, apresenta baixa produtividade, baixa capacidade industrial instalada e alto custo de produção. A indústria brasileira vem assimilando a perda do mercado norte-americano (EUA e Canadá), mais em função da recuperação da produção da Flórida do que da possível ameaça mexicana beneficiada pelo NAFTA. Os esforços promocionais brasileiros de marketing e merchandising se direcionam, preferencialmente, para os mercados europeus e asiáticos. (Neves, 1994, Folha da Laranja, ano6, n.1, p.8) A tabela a seguir mostra a produção e exportações norte-americanas e mexicanas e das importações dos Estados Unidos, nos anos 90. TABELA 5 - Produção, Exportação e Importação de suco concentrado de laranja nos EUA e Produção e Exportação no México - 1991/92 a 1995/96 - em toneladas PAÍSES 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 ESTADOS UNIDOS Produção 661.495 858.537 800.211 911.495 925.000 Importação 203.465 231.969 287.884 141.140 165.000 Exportação 76.571 81.153 75.345 83.433 82.000 MÉXICO Produção 14.000 25.000 36.000 75.000 55.000 Exportação 7.000 23.000 39.000 70.000 53.000 Fonte: USDA in Agrianual Pode-se verificar o aumento da produção nos dois países, uma redução das importações norte-americanas, e um aumento das exportações do México. Com esses dados fica evidente a recuperação da produção de laranja americana e a entrada do México como concorrente do Brasil. 19 Por outro lado a citricultura brasileira foi beneficiada pela conclusão da Rodada Uruguaia do GATT, em que reduz o protecionismo da CEE (Comunidade Econômica Européia), Japão e EUA. Com o GATT a CEE reduziu a tarifa de importação do suco de laranja concentrado em 20%, a tarifa que era de 19% caiu para 15,20% por tonelada sobre o valor do produto entregue no porto. A redução das tarifas dos membros do GATT ajudou o Brasil a garantir a hegemonia do seu suco de laranja no mercado externo. Apesar de ter um baixo custo de produção, o agricultor brasileiro tem tido rendimentos inferiores aos norte-americanos. No Brasil, a receita líquida do produtor é obtida somente após o desconto com gastos com comercialização o suco, que incluem as tarifas alfandegárias. Com a redução de tarifas previstas no GATT, essa remuneração pode aumentar. (Folha de São Paulo, 09/01/94) Com todos estes fatores que abalaram o complexo nesta década, apesar de terem provocado alterações no setor, foram os citricultores que sofreram os ônus. As indústrias processadoras conseguiram manter a sua competitividade, mas os citricultores só pioram. Desde que os preços começaram a cair na década de 90, os produtores foram perdendo a confortável posição dos anos 80, e foram perdendo a rentabilidade, abaixo a tabela expõe a queda do preço da caixa de laranja dos anos 80 aos 90: TABELA 6 - Preços pagos (em dólar) ao produtor paulista por caixa de laranja (40,8 Kg), de 79/80 a 96/97 Safra Preço Safra Preço 1979/80 1,54 1988/89 3,74 1980/81 1,65 1989/90 3,53 1981/82 1,7 1990/91 1,11 1982/83 1,4 1991/92 2,13 1983/84 0,87 1992/93 1,3 1984/85 2,06 1993/94 1,3 1985/86 3,56 1994/95 1,3 1986/87 1,8 1995/96 1,3 1987/88 3,23 1996/97 1,8 Fonte: ABECITRUS/*IEA 20 Muitas vezes o produtor se encontra em uma situação que fica impossível se manter no setor, essa situação pode ser expressa por uma frase Marx “as condições de produção são simultaneamente as de reprodução”. Com a contínua queda do consumo mundial de suco de laranja há oito anos, a briga de citricultores é com a indústria processadora pela formação de cartel na exportação. A sistemática queda de consumo de suco de laranja no mundo, que chegou a 17% de 2001 a 2008, provocada pela concorrência de outros sucos de frutas, além de refrigerantes, águas aromatizadas e isotônicos. Os principais fatores foram os maiores estoques de suco de laranja nos Estados Unidos e na Europa em relação ao consumo nos últimos anos e o câmbio. (Christian Lohbauer, entrevista Terra Magazine, 28 de Setembro de 2009) Não bastasse o cenário conturbado, o greening ou huanglongbing (HBL),doença que obriga a erradicação dos pomares, está excluindo citricultores do mercado e arrasando fazendas em São Paulo, o maior produtor mundial da fruta. O greening é o maior e mais sério problema da citricultura atual. O impacto tem sido grande e os ataques da doença têm sido severos em muitos pomares. Há casos de perda de 10% das árvores. O desafio para a manutenção do controle da doença, sua redução e, quem sabe, eliminação levará alguns anos. (Christian Lohbauer, entrevista Terra Magazine, 28 de Setembro de 2009) Há alguns anos, a citricultura brasileira vive uma batalha inglória. O greening, doença que tem devastado pomares Estados Unidos, também vem atacando violentamente as fazendas que produzem laranja no estado de São Paulo. Não há tratamento para a doença - considerada o câncer da laranja - que diminui a produtividade das lavouras. A solução recomendada pelo Ministério da Agricultura é arrancar o pé infectado. No estado de São Paulo, mais de quatro milhões de árvores já foram derrubadas. Em algumas regiões do estado, como Araraquara, os níveis da infestação são alarmantes (Fabiane Stefano, o drama da laranja, mundo agro) 21 CAPÍTULO 2 A AGROINDÚSTRIA CINTRÍCOLA E A OS CONTRATOS INDÚSTRIA/CITRICULTORES 2.1 - A agroindústria citrícola No Brasil, a agroindústria citrícola não tem a mesma tradição da agroindústria canavieira. A primeira grande planta industrial destinada à produção de suco concentrado de laranja, com padrão tecnológico americano, só foi instalada no ano de 1964, na cidade de Matão, antigo distrito de Araraquara. Desde então, tanto a citricultura quanto as agroindústrias citrícolas são marcadas por um processo de crescimento e modernização, principalmente em algumas regiões do Estado de São Paulo. A grande geada da Flórida em 1960 foi a principal determinante para a industrialização da laranja no Brasil, de produtora e exportadora da fruta “in natura” transformou-se no principal produtor mundial de suco concentrado de laranja. Os benefícios financeiros e fiscais da política federal de estímulo à expansão da agroindústria voltada para a exportação foi determinante para o desenvolvimento do setor, sendo que a concessão de créditos subsidiados foi ampla e generosa, incluindo até mesmo recursos para a formação de pomares pelas indústrias. “elenco de facilidades era constituído basicamente do seguinte: 1. financiamento a curto prazo, de até 180 dias, para manufatura de artigos de exportação e como adiantamento sob contratos de câmbio, a juros subsidiados; 2. financiamento a médio e longo prazo (180 dias a cinco anos) para implantação ou expansão industrial, capital de giro e sustentação de estoques, a juros subsidiados; 3. isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM) sobre o valor das mercadorias exportadas; 4. incentivos fiscais à exportação, ou seja, restituição dos valores equivalentes aos impostos no item3, num total de 28%; 5. financiamentos agrícolas a juros subsidiados” (Hasse, 1987) 22 Para Tavares (1996) o caráter empreendedor assumido por alguns citricultores, que se lançaram no processamento industrial, e a capacidade de auto-financiamento desses empresários e os incentivos governamentais foram decisivos para as primeiras grandes empresas de suco se instalasse no Brasil As décadas de 60 e 70 foram de grande efervescência no setor, com a instalação de várias indústrias. Na primeira década foram inúmeras experiências a segunda conhece um rápido processo de concentração do setor, com empresas industriais de grande porte passando a deter o controle da maior parcela da produção e do mercado, encampando os menores, pela fusão, incorporação ou mesmo eliminação das pequenas indústrias, que se viam sufocadas com a quase impossibilidade de competição, formando um dos setores mais oligopolizados do Brasil. Desde o início a estrutura da indústria processadora é caracterizada pelo oligopólio concentrado, nas palavras de Possas (1985) “pela ausência de diferenciação dos produtos, dada a sua natureza essencialmente homogênea, pouco passível de diferenciação”. Este tipo de oligopólio é determinado também pela alta concentração técnica, aonde a maior parcela da produção vem de poucas unidades produtivas. A competição no mercado é determinada pelo comportamento do investimento face ao crescimento da demanda e não pelo preço. A alta concentração industrial deve-se pela existência de barreiras à entrada, tais como economia de escala, exigência de um elevado capital inicial. No complexo citrícola, as barreiras à entrada não foram fortes o suficiente para impedir que novas firmas ingressassem na produção de suco concentrado no final dos anos 80 e início dos anos 90, atraídas pela elevada taxa interna de retorno do investimento, além de financiamentos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). FIGURA 3 - Indústria processadora de laranja 23 Mesmo com a entrada de algumas empresas a grande parte da produção estava nas mãos de poucas empresas, o setor também é caracterizado por sua estrutura oligopsônica, que é a existência de um pequeno número de compradores em contraposição a um grande número de vendedores, ou seja, tem muitos produtores de laranja, mas um pequeno grupo de empresas processadoras. O processo de exclusão das empresas ocorre em duas frentes, na relação vertical com os produtores rurais com o achatamento de preços e na horizontal com o processo de fusão ou aquisição das maiores em relação às menores. As empresas para assegurar a oferta crescente de uma matéria-prima de qualidade, as indústrias intervêm diretamente na produção citrícola e de seus fornecedores, apoiando-se técnica e financeiramente, subordinando-os a rígidos padrões de produção no que se refere à qualidade da matéria-prima que deve apresentar características específicas quanto ao tamanho, sabor, durabilidade etc. A assinatura do contrato de fornecimento à indústria garante à mesma a total regulação sobre os pomares, que possam a ser geridos com um alto padrão técnico-científico, devendo então ser adotado pelo citricultor-fornecedor. Objetivando modernizar a produção de seus fornecedores, as indústrias realizaram pesados investimentos em pesquisa tecnológica, assistência técnica e treinamento, buscando eliminar os problemas tradicionais da citricultura e aumentar a produtividade dos pomares, ainda muito inferior à dos Estados Unidos. Possui pessoal especializado para prestar orientação técnico-científico aos seus fornecedores, concretizada através de visitas periódicas de técnicos (o agrônomo, o especialista em sementes, em pedologia, entre outros), que acompanham todas as etapas do processo produtivo, da realização de periódicos didáticos.6 A forma de compra e pagamento da matéria-prima utilizada pelas indústrias foi um dos mais importantes fatores que incentivaram muitos agricultores a substituir seus cultivos para plantar laranja e a se subordinar às exigências colocadas pelas agroindústrias. Estas compram a produção total dos pomares ainda na época da florada, parcelando o pagamento a partir do momento da assinatura do contrato de compra, quando adiantam uma parte do pagamento da safra futura, dividindo o restante em doze vezes, até a colheita 6 ‘Laranja & CIA’ é um dos importante periódicos da indústria dirigido aos citricultores. Produzido pela Citrosuco onde são abordados temas gerais visando a melhoria da produtividade do pomar. 24 da produção que foi comprada. Técnicas modernas são utilizadas para estimar o total da safra futura e o preço é fechado de acordo com a cotação do dólar do dia da compra. Tais fatores aliados à elevação das cotações do suco concentrado de laranja no mercado internacional, nas décadas de 1970 e 1980, têm propiciado níveis crescentes de remuneração aos citricultores e ainda mais às indústrias, induzindo à expansão da produção citrícola paralelamente à do setor industrial. Com os adiantamentos recebidos de a indústria no transcorrer do ano, o citricultor tem condições e manter e modernizar seus pomares de maneira diferenciada do sistema de crédito agrícola estatal, mantendo relações de cooperação com o sistema bancário de forma muito distinta da maior parte dos produtores agrícolas. As indústrias responsabilizam-se pela colheita da laranja, realizada manualmente por trabalhadores citrícolas, contratados temporariamente apenas durante a safra. O transporte do pomar para a indústria também fica sob a responsabilidade das indústrias, que se utilizam não apenas das suas frotas particulares, como também contratam os serviços de empresas autônomas e transporte de carga. FIGURA 4 - Carregamento de Laranja As indústrias de suco de laranja têm uma participação maciça na pesquisa tecnológica voltada à citricultura, visando a transformação de sua base técnica. Atuando 25 decisivamente para o melhoramento das condições fitossanitárias dos pomares, combatendo suas principais doenças, nas pesquisas biotecnológicas, aprimorando a produção de mudas e enxertos, que passam a oferecer aos seus fornecedores, na criação de novas variedades de laranjas mais produtivas e mais resistentes às doenças. Atuam também no desenvolvimento de técnicas capazes de modificar as características da fruta, adequando-se ao tipo mais indicado para o processamento, que não coincide com o tipo mais apropriado ao consumo da fruta ‘in natura’, provocando uma certa uniformidade da produção. Pesquisas técnico-científicos conseguiram também produzir técnicas capazes de aproveitar integralmente a fruta. O bagaço da laranja (casca, sementes e membranas), que constitui aproximadamente metade a composição média da laranja e formava o lixo industrial do processamento do suco, transforma-se em inúmeros subprodutos, com alto valor no mercado. Os principais subprodutos são: Óleo essencial: a casca da laranja fornece vários óleos essenciais, muito utilizados na indústria de alimentos, bebias alcoólicas, cosméticos e perfumes; ‘pellets’: após a extração do suco e dos óleos essenciais, o bagaço da laranja é moído, prensado e ‘pelletizado’. Usa-se o ‘pellet’ como componente na fabricação de ração animal, destinada principalmente ao mercado externo; D’limonene: no processo de produção do ‘pellet’ extrai-se o D’limonene, solvente orgânico empregado na fabricação de tintas e vernizes; Essências aromáticas: durante o processo de concentração do suco, são obtidas as essências aromáticas, consumidas por indústrias de alimentos, bebidas, cosméticos e perfumes; Polpa cítrica congelada: aproveitada na indústria alimentícia; Álcool: a partir do melaço extraído do bagaço da laranja, obtémse o álcool combustível (hidratado) e industrial (anidro). As agroindústrias citrícolas são responsáveis também por uma importante transformação no setor de transporte e armazenamento de cargas no Brasil. No início da década de 1980, o transporte do suco de laranja passou a ser realizado pelo sistema ‘tank - farm’, que consiste no bombeamento automático do suco dos tanques de armazenamento 26 na indústria direto para caminhões-tanque, nos quais é transportado até o porto de Santos (SP). FIGURA 5 - Frota própria da Citrosuco A modernização do transporte e do armazenamento do suco de laranja não apenas barateou os custos do produto como aumentou significativamente a capacidade de armazenamento, propiciando novas condições de competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Até o início dos anos 1990, apenas as maiores empresas do setor, como a Citrosuco, a Cutrale e a Cargill possuíam esse moderno sistema de transporte, que foi introduzido no Brasil pela multinacional americana Cargill. Outra iniciativa da Cargill (Bebedouro) foi a substituição as tradicionais caldeiras, que produzem energia elétrica necessária ao processo de concentração de suco e de movimentação as turbinas, movidas a óleo combustível por caldeiras movidas a bagaço de cana, em 1983, o que proporciona grande economia. Os Estados unidos é o maior mercado consumidor de suco de laranja concentrado do mundo e, apesar de realizarem a segunda maior produção mundial, compram 50% das exportações brasileiras, sendo que, além de baratear o próprio produto, dado o menor preço do similar brasileiro, ainda reexportam. A Europa é o segundo maior comprador. 27 Embora o Brasil seja o maior exportador de suco de laranja no mundo, ele é também ‘fornecedor dos fornecedores’, ou seja, vende o suco para ser novamente processado, embalado e reexportado com uma diferente marca. Ao chegar nos países importadores, o suco é adquirido por empresas engarrafadoras que readicionam parte do volume de água extraído anteriormente, reconstituem e embalam o suco sob diversas marcas. O setor fez com que algumas multinacionais entrassem no Brasil, como é o caso da FMC, localizada em Araraquara, ela é uma poderosíssima multinacional norte-americana, que possui instalações de fabricação em vários países, ela possui cinco linhas de produtos principais que são: maquinaria para alimentos e agricultura; produtos químicos industriais; equipamentos para tratamento de recursos materiais e naturaiis, produtos para construção de transmissão de eletricidade; equipamento governamental e municipal. Há fortes evidencias, nos anos 90, de uma tendência de verticalização da produção de suco concentrado de laranja, por exemplo, o fato das indústrias estarem realizando grandes investimentos para aumentar suas atividades no setor da citricultura. As evidências de um processo de concentração na citricultura provocaram reações das associações de citricultores, que têm realizado gestões junto ao governo federal para reivindicar uma regulação sobre o assunto, que determine que as indústrias possam produzir o máximo de 20% de toda a matéria-prima que tenham possibilidade de processar. Como a maior parte dos setores que se organizam baseados na produção à exportação, os setores agrícolas e industriais associados à produção de suco concentrado de laranja vivem às voltas com oscilações freqüentes nos preços desta ‘commodity’ no mercado internacional, que varia conforme situações conjunturais nas principais regiões produtoras e consumidoras do mundo. As geadas nos pomares da Flórida, por exemplo, é uma das notícias que os produtores no Brasil mais gostam de escutar na época da safra, pois indicam maiores oportunidades de aumento de produção e preços para o suco brasileiro. A completa dependência do mercado externo para a venda do suco, agravada pelo fato das indústrias brasileiras serem apenas meras fornecedoras de grandes distribuidoras internacionais; o fato de ser um setor que cresceu em grande parte, devida às quebras das safras norte-americanas causadas pelas geadas, problemas que vêm em parte sendo solucionados com os progressos tecnológicos, fizeram com que o setor crescesse apoiado 28 sobre situações conjunturais muito particulares, que são diferentes a cada safra, e se relacionam fortemente com a produção e o consumo norte-americano. Como a produção brasileira cresceu num momento de quebra da produção citrícola da Flórida, fazendo com que as empresas do setor procurassem se instalar junto a outros locais de produção importante ou em condições de rapidamente se modernizar, faz com que, a cada norte-americana sem problemas haja um excesso de oferta do produto no mercado. A cada safra, tem sido freqüente a apreensão pela queda do preço internacional do produto. A produção de laranja embora disseminada em mais de 60 países, tem sua produção pouco uniforme. De 65 milhões de toneladas produzidas em 2003, o Brasil e os Estados Unidos foram responsáveis por 30 milhões de toneladas. Os quase 30% da produção mundial localizada no Brasil também é distribuído desigualmente, predominando a produção no Estado de São Paulo. 29 2.2 - Contrato a preço fixo, contrato-padrão e pós-contrato padrão Na história da citricultura paulista, os contratos de compra e venda de laranja tem papel fundamental, pois as negociações entre agricultores e indústria processadora se dão por meio deles. O primeiro modelo de contrato entre agricultores e indústria ficou chamado de contrato a preço fixo, no qual o preço da caixa era determinado antecipadamente, baseado em uma projeção futura de produção. Este período ficou marcado pelas constantes geadas na Flórida, acarretando em uma queda na oferta de suco de laranja, e consequentemente um aumento nos preços e acarretando em um aumento dos lucros das indústrias processadoras. Este modelo de contrato excluía as possibilidades dos produtores lucrarem com o aumento do preço do suco de laranja, pois o valor da laranja ‘in natura’ era projetado com antecedência, e quando fosse feita a concretização da venda da laranja ocorresse uma geada e aumentando o preço do suco, esse lucro esse remetido somente para as indústrias processadoras, pois o valor a ser pago pela fruta já estava determinado. Assim os produtores reivindicaram que o preço da caixa de laranja fosse determinado quando a indústria já estivesse vendendo o seu suco, assim os lucros seriam destinados aos dois. 30 Após muitos protestos, discussões para estabeleceram valores a safras sendo necessário em certos casos até intervenção do Estado, no inicio da década de 80, foi estipulado um novo tipo de contrato: o contrato padrão ou de participação. Com esse novo contrato, o preço da caixa de laranja ficou vinculado às cotações do suco no mercado internacional, determinado pela bolsa de Nova Iorque. Chegava-se ao preço final da caixa de laranja, quando se encerravam as vendas do suco, no final da safra. A indústria fazia o pagamento baseado em uma estimativa inicial, caso o preço final superasse a esse valor era feito outro pagamento, caso ficasse abaixo, os produtores devolviam a diferença corrigida ou pagava em laranja da próxima safra. Dessa maneira diminuiu os conflitos entre agricultura/indústria, porém na década de 90 começaram a surgir novos conflitos. Os pontos de discordância em torno do contrato-padrão foram vários, entre eles: a) o fato de se considerar as despesas de alíquotas e fretes com referência apenas nos Estados Unidos, onde se paga uma das taxas mais elevadas, sendo que este país não é o único importador do suco concentrado brasileiro; b) considerar a cotação apenas da Bolsa de Nova Iorque para o cálculo do preço; c) questionamento sobre a taxa de rendimento (caixas de laranja/ tonelada de suco); d) discordância sobre a Remuneração de Produção e Comercialização (RPC). (ANA CLAÚDIA VIEIRA, 1997, pág.3) As indústrias apresentavam os custos de produção e comercialização como um custo comum, elas não especificavam o valor, assim os citricultores alegavam que eles estariam a partir dessa conta fixando e controlando os preços, e queriam que as indústria abrissem as sua planilhas. Em 1994, a ASSOCITRUS e a ACIESP entraram com ações para processar as indústrias processadoras acusando-as de cartel e imposição de preços, foi determinado então a suspensão do contrato-padrão. Com a queda do contrato-padrão as negociações foram definidas caso-a-caso, e acordo com a livre concorrência, vigorando a lei da oferta e da procura. Isso causou uma queda do preço da laranja, e uma revolta dos citricultores, assim essa fase pós-contrato padrão é marcada por uma crise institucional. 31 CAPÍTULO 3 EMPRESAS PROCESSADORAS DE SUCO DE LARANJA E A INFLUÊNCIA DA CITRICULTURA NO MUNICÍPIO DE MATÃO 3.1 – Fusões e Aquisições das empresas processadoras de laranja As empresas processadoras de suco de laranja surgiram na década de 60, estimulado por uma grande estrutura citrícola no estado de São Paulo, alteração e crescimento no mercado de consumo internacional, e a ocorrência de geadas na Flórida, que era o maior produtor de laranja e suco de laranja. Em 1962 foi instalada a primeira empresa processadora em Bebedouro (SP), detinha o nome de companhia Mineira de Conservas. Possuía apenas uma extratora com capacidade para processar 750 caixas de laranja por dia, ela processava somente as frutas que não eram exportadas. Neste mesmo período o grupo Toddy do Brasil construiu em Araraquara (SP) a empresa Suconasa S.A. (Sucos Naturais S/A) e também em Matão a produtora Pasco Packing Company associou-se com à brasileira Fischer S.A. e aos Grupo Eckes e investiram em uma fábrica denominada Citrosuco Paulista S.A. Em 1964 Edmond van Parys instalou a fábrica Citrobrasil em Bebedouro, que tinha porte equivalente aos da Suconasa e da Citrosuco, na década de 70 ela foi vendida para o grupo norte-americano Cargill. Em 1967 o grupo italiano Sanderson compra 50% da Companhia Mineira de Conservas, e após três anos a adquiri 100% da mesma, transformando-se na Sanderson S.A. Produtos Cítricos, nesta mesma data a Suconasa entra em concordata e é vendida para José Cutrale Jr., surgindo a Sucocítrico Cutrale Ltda. No final na década a Frular/Sucolaranja instala-se em Limeira (SP) e logo em seguida é vendida para Avante S.A. Produtos Alimentícios, e sete anos mais tarde é adquirida pela Citrosuco Paulista. 32 TABELA 7 - Histórico da indústria processadora – Década de 60 Ano Fato Relevante 1962 Instalação da Companhia Mineira de Conservas, em Bebedouro-SP. 1963 Suconasa S/A é instalada em Araraquara-SP. * 1964 Citrosuco Paulista é inaugurada em Matão-SP. 1964 Citrobrasil instala-se em Bebedouro-SP. * 1967 Sucocitros Cutrale surge com a compra da Suconasa por José Cutrale. 1967 Companhia Mineira de Conservas passa 50% das ações para o grupo italiano Sanderson. 1968 Frular/Sucolanja é instalada em Limeira-SP. Fonte: Borges (2004). Em 1971, em Cosmópolis (SP), se implanta a Citral S/A, com capital de 160 citricultores, um ano depois na região de Araras surge a Sucorrico S/A. Em 1973 na cidade de Santo Antônio da Posse (SP) surge a Tropisuco S/A pertencente a um grupo de 11 produtores e comerciantes de frutas cítricas. Com as complicações no ano de 1974, como visto anteriormente, a Sanderson veio a faliu e foi desapropriada pelo governo do Estado de São Paulo, passou a ser operada sob gestão estatal e tornou-se a Frutesp S.A.. Quatro ano depois foi transferida para a COOPERCITRUS (Cooperativa dos Cafeicultores e Citricultores de São Paulo), resultando numa verticalização para frente. Em 1977, as duas maiores empresas do setor (Cutrale e Citrosuco) controlavam 50% da capacidade produtiva do setor, elas se uniram e assumiram a Sucorrico, a Citral e a Tropisuco, isto porque a crise abalou o setor, e as empresas de pequeno porte não dispunham de recursos financeiros para suportá-la. Após essa crise o setor continuou a crescer devido as geadas nos Estados Unidos, com isso em 1978 surgirão a Central Citrus e a Frutopic Indústria e Comércio Ltda em Matão. Um ano depois surge a Citromogiana Ltda e a Citrovale, que serão adquiridas pela Cutrale 33 TABELA 8 - Histórico da indústria processadora – Década de 70 Ano Fato Relevante 1970 Sanderson passa a controlar 100% da Companhia Mineira de Conservas, denominando-se Sanderson S/A Produtos Cítricos. 1971 Citral S/A – entra em operação em Limeira-SP. 1972 Tropisuco é instalada em Santo Antonio da Posse-SP. 1973 Sucorrico entra em operação em Araras-SP. * 1975 Sanderson volta a operar sob gestão estatal do governo do estado de São Paulo, e passa a ser denominada Frutesp. 1977 Cutrale e Citrosuco se unem e assumem a Sucorrico, a Citral e a Tropisuco. 1977 Central Citrus é implantada em Matão-SP. * 1978 Frutropic Indústria e Comércio Ltda é fundada em Matão-SP. 1979 Frutesp é transferida para cooperativa COOPERCITRUS 1979 Intalação da Citromogiana Ltda 1979 Citrovale S/A surge no município de Olímpia-SP.* Fonte: Borges (2004). Na década de 80, em Itápolis (SP), a fábrica da empresa Branco Peres Citrus S.A., expandindo na metade da década sua capacidade operacional, mas não conseguiu evitar que 49% de suas cotas fossem transferidas para a Cutrale e, em 1998, sua totalidade. Em 1983, em Mirassol, foi constituída a Bascitrus Agroindústria S/A, concomitantemente em Limeira voltou a funcionar a Citropectina S/A, no final da década surge uma nova empresa em Taquaritinga, a Royal Citrus. E o grupo francês Louis Dreyfus adquiriu a Frutopic de Matão (SP). TABELA 9 - Histórico da indústria processadora – Década de 80 Ano Fato Relevante 1980 Branco Peres Citrus S/A começa a operar em Itápolis-SP. 1983 Bascitrus-Agroindústria S/A é fundada em Mirassol-SP. 1984 Citropectina, fundada em 1954, volta a produzir em Limeira (SP) 1988 Frutropic é comprada pelo grupo francês Louis Dreyfus 1989 Royal Citrus é instalada em Taquaritinga-SP. Fonte: Borges (2004). 34 Segundo Siffert Filho (1992), em 1988 a Citrosuco, a Cutrale, a Cargill e a Frutesp eram responsáveis por 84% da capacidade industrial e 71% das exportações nacionais de SLCC. Na década de 90 a Citrosuco passou a pertencer totalmente ao grupo Fischer, e em Catanduva (SP), entrou em funcionamento a fábrica da Citrovita, pertencente ao grupo Votorantim. Dois anos depois a empresa Cambuhy Citrus entra no ramo do suco concentrado. Em 1993 a Frutesp foi adquirida por Dreyfus, virando Coinbra-Frutesp, e mais tarde apenas Coinbra. Em 1994, uma parcelo do grupo Montecitrus que não se associou à Cambuhy, cria uma nova empresa chamada de Monte Azul Paulista (SP). E recentemente a Cargill vendeu seus ativos para a Citrosuco Paulista e para a Sucocítrico Cutrale. No ano de 2010, mesmo sob investigação de cartel, Citrosuco e Citrovita anunciam a fusão dos negócios de processamento de suco, e assumem a liderança do segmento, até então ocupado pelo Cutrale. O setor citrícola brasileiro é caracterizado pelas grandes fusões e aquisições de suas empresas processadoras, nas quais as décadas de intensas mudanças foram as de 70 e 80. 3.2 - Influências da citricultura no desenvolvimento do município de Matão No início do século XIX, Matão foi emancipada do município de Araraquara, ela é um exemplo importante de cidade que se desenvolve em função da modernização da produção citrícola e da sua transformação industrial para a produção de suco de laranja, que acabaram por promover o desenvolvimento de uma gama de outras atividades econômicas. Em 1963, quando a Citrosuco Paulista S.A produtora de suco concentrado de laranja, instalou-se em Matão, esta cidade era apenas um município vivendo exclusivamente das atividades agrícolas, com 37% de urbanização, com pouco mais de 8 mil habitantes; um território de baixa densidade técnico-científico-informacional; nenhuma complexidade dos sistemas de engenharia; comércio insignificante; vivendo em grande parte das rendas agrícolas que conseguia extrair através dos impostos. Até então Matão não possuía uma grande produção de laranja, porém encontrava-se no centro de uma região citrícola, composta por Limeira, Bebedouro e São José do Rio Preto. Com a instalação da Citrosuco, deu-se início a um novo período de desenvolvimento 35 econômico e urbano, que desde então se dão com esta agroindústria e que, juntamente com a produção agrícola de laranja e casa, constituem o motor principal da vida urbana de Matão. As atividades industriais associadas à produção de implementos agrícolas também se desenvolveram muito nas últimas décadas, mas de forma verticalizada, sem criar horizontalidades complexas, como o fizeram as produções agrícolas e agroindústrias de sucos de laranja, estas últimas hoje são em números de três: além da Citrosuco, a Central Citrus e a antiga Cambuy. Estas são as atividades hegemônicas de Matão, uma vez que são predominantes na criação de empregos, no desenvolvimento de atividades econômicas; no pagamento dos melhores salários; no crescimento do poder público; na atração de migrantes rurais e urbanos etc. Visto que as atividades hegemônicas não se pautam apenas pelas demandas locais, mas, principalmente, em lógicas distantes, Matão é cada vez mais apenas uma parte de um sistema complexo, formado por inúmeros circuitos espaciais de produção e círculos de cooperação que escapam ao entorno próximo e, dessa forma, um teatro de condições locacionais para estas mesmas atividades hegemônicas. Matão se configura, assim, como um lugar que se insere num sistema de produção agroindustrial globalizado. A presença de importantes indústrias associadas ao complexo agroindustrial da laranja deu alcance à cidade, ampliando sobremaneira sua quantidade de fixos e fluxos, materiais e informação e, consequentemente, ampliou sua urbanização que, desde então, se processa de maneira acelerada. Diante do crescimento econômico associado ao CAI, houve um importante aumento da população de Matão, assim como de sua urbanização. Entre 1940 a 1970, a população do município chegou a diminuir em alguns períodos, a partir da década de 70 ela cresceu em ritmo frenético. TABELA 10 - Taxa de Urbanização do Município de Matão (%) 1940 16,64 1950 20,9 1960 36,98 1970 65,21 1980 87,66 Fonte: Censos IBGE 36 O complexo agroindustrial associado à laranja atingiu uma forma avançada de organização nas últimas três décadas. Nesse período, foi capaz de criar, incentivar e transformar relações econômicas, sociais e espaciais, tendo interferido sobre outros setores econômicos e organizado um sistema denso de relações técnicas e financeiras, que deram organicidade aos investimentos. Mudou a divisão territorial do trabalho agrícola, a repartição dos instrumentos de trabalho, do emprego e da população sobre a superfície do município, culminando num crescimento demográfico urbano, numa nova divisão social do trabalho, com um processo acelerado de concentração fundiária e da renda. A espessura do território rural foi aumentada com a utilização intensiva da ciência, tecnologia e informação, fazendo crescer a produtividade da atividade agrícola. Fato este que foi realmente catalisador para a transformação das relações sociais de produção, com a diminuição do trabalhador agrícola residente e a expansão do trabalhador agrícola temporário, contratado apenas nos períodos da colheita das principais culturas do município, a cana e a laranja. O crescimento das atividades econômicas pode ser percebido pelos números de novos empregos que passaram a ser oferecidos, assim como a nova divisão do emprego possibilita evidenciar a hegemonia dos setores associados ao complexo agroindustrial na expansão de fixos e fluxos, e consequentemente, na construção e uma cidade corporativa. Em 1970, praticamente metade da PEA (população economicamente ativa) encontrava-se no setor agrícola, ocorrendo uma transferência para o setor industrial nas próximas décadas. O seu parque industrial era composto por 77 estabelecimentos em 1980, os quais se dividiam na produção de suco de laranja, metalúrgico e de confecções. Entre estas, apenas a Citrosuco, a maior e mais importante, oferecia sozinha cerca de 70% dos 5 mil empregos no setor de produtos alimentícios. 37 TABELA 11 - Números de Empregados da Citrosuco em Matão. 1975 851 1977 1586 1979 2077 1981 2531 1983 2555 1985 3200 1986 3727 1987 4224 1988 4330 Fonte: Relatório Social 1987/88, Citrosuco. FIGURA 6 – Empresa Citrosuco em Matão Apesar do crescimento do emprego industrial nestes anos, se dá paralelamente à piora das condições de trabalho, uma vez que uma das características principais do emprego industrial de Matão é justamente a importância da sazonalidade, dada pelo fato das agroindústrias citrícolas funcionarem somente durante o período da colheita da laranja, quando então operam 24 horas ininterruptamente. Em contrapartida, durante a entressafra, aproximadamente de dezembro a maio, os funcionários da indústria são dispensados. Se durante a safra aumenta o emprego, na entressafra aumenta o desemprego, e, por conseguinte, o circuito inferior da economia. Na Citrosuco, por exemplo, os meses de 38 agosto a outubro são os que apresentam o maior número de pessoas contratadas, seja para a colheita da laranja, pela qual a indústria é responsável, seja para a atividade na indústria. Considerando que a cidade do campo tem sua organização e desenvolvimento associado ao tipo de demanda que as atividades agrícolas e agroindustriais exigem, desenvolveu-se uma combinação entre os fatores necessários à realização destas atividades e o crescimento do setor de comércio e serviços. No comércio de Matão se destacam os estabelecimentos que oferecem insumos e implementos à atividade agropecuária, tendo um alcance maior do que os limites do município. Eram os maiores e principais estabelecimentos especializados nestes produtos: Agroceres, Agrofito, Agrotécnica, Safra e Coopercitrus, sendo que o primeiro é também indústria, exportadora e importadora e o último vende apensas para os cooperados, no casa os citricultores. Todos se instalaram na década de 80, sendo que a Coopercitrus é a mais recente, tendo se instalado somente no final da década de 90. O vigor apresentado pelo comércio associado ao consumo produtivo, no entanto, não é encontrado no comércio dirigido á população de maneira geral, especialmente considerando o crescimento de uma classe média agrícola, formada em parte por empresários agrícolas de porte médio, especialmente citricultores, que têm auferido grandes rendas com o desenvolvimento das agroindústrias citrícolas. As rodovias que dão acesso a Matão foram adaptadas com a modernização agrícola e industrial, surgindo alguns sistemas de engenharia dos transportes e das comunicações, é por estas rodovias que Matão se liga com o resto do mundo. Como os serviços públicos não oferecem a mesma lógica dos mercantis, porém a prefeitura pode oferecer uma vida melhor aos seus habitantes comparados a outras cidades, a cidade nos anos 90 já possuía ruas largas e asfaltadas, programa de construção de casas populares, escolas municipais de primeiro e segundo graus, alto percentual de fornecimento da rede de água e esgoto, entre outros. As agroindústrias de sucos têm grande participação nisso, uma vez que a maior fonte de renda do município vem das exportações de suco de laranja. Somente a Citrosuco respondia a 60% do ICMS recolhido.7 Enquanto muitas prefeituras pelo país afora 7 No ano de 1995, a participação de Matão na arrecadação do ICMS era de 2,95% no Estado, o que nos dá uma ideia da magnitude de dinheiro circulando pela região 39 praticamente ficaram com seu saldo negativo durante o Plano Collor (1990), implantado pelo governo de Fernando Collor de Mello (1990-92), a prefeitura de Matão sofreu poucos abalos. Por conta do crescimento do setor público, a partir da arrecadação de impostos, a prefeitura passou a oferecer um maior número de empregos. Segundo dados dos Censos Econômicos do IBGE, de 1970 a 1980, o número de pessoas empregadas na administração pública na cidade saltou de 169 para 390 pessoas. Matão de configura assim, como um lugar inserido na produção mundial, pela presença de grandes indústrias como a Citrosuco. O desenvolvimento das atividades associadas ao CAI deu grande alcance à cidade, ampliando sobremaneira os fixos e os fluxos e todas as naturezas, intensidades e direções, aumentando as atividades econômicas. A expansão do meio técnico-cientifico-informacional, o aumento das rugosidades, a construção da cidade corporativa, as novas relações cidade-campo e todas as demais variáveis e signos característicos do atual período histórico, sobre os quais tentamos falar até aqui, estão presentes na cidade de Matão, que cresce com o desenvolvimento da agroindústria da laranja, que, a sua vez, tem o poder de comando sobre a maior parte das demais atividades. 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS A laranja foi trazida ao Brasil na época do descobrimento como fonte de vitamina C, desde o início ela se adaptou muito bem no nosso solo, até sendo confundida como árvore nativa. A agricultura citrícola teve sua expansão como alternativa ao café que estava em decadência no início do século XIX, conseguindo dominar a agricultura paulista. O complexo agroindustrial paulista teve uma trajetória expansiva e de perspectivas positivas até o final dos anos 80, perspectivas essas devido aos altos lucros proporcionados pelo aumento da demanda externa. A agroindústria de suco de laranja, por sua vez, embora não domine o processo de produção de sua matéria-prima, extrai parte da renda dos citricultores através do comando desta atividade agrícola, da sua colheita e do seu transporte, o que também lhe garante as qualidades desejáveis da matéria-prima. No interior do Complexo Agroindustrial Citrícola, o segmento de produção agrícola e o de produção industrial, embora possuam interesses comuns, apresentam uma histórica relação conflituosa, na qual o ponto básico de tensão é a definição de preços. Os contratos de compra e venda eram os instrumentos de intermediação entre os dois segmentos na comercialização da matéria-prima, sendo que ambos eram representados pelas suas associações em negociações. O agronegócio citrícola brasileiro desenvolveu-se influenciado, fundamentalmente, pela demanda externa crescente de SLCC, recebendo menor impacto das transformações econômicas do país. De fato, constituiu uma atividade que, desde a sua origem, teve sua estrutura voltada, prioritariamente, para o mercado internacional, desenvolvendo-se a partir da lógica deste e dinamizada pelo comércio externo. A citricultura brasileira está muito ligada ao mercado externo, o que tornou a atividade muito volátil em relação ao mercado internacional. Os fatores internacionais que alteraram a economia citrícola nacional são: elevação da oferta internacional, principalmente, pela intensificação da produção da Flórida (EUA), direcionando para uma queda do preço do suco concentrado, além da concorrência entre Brasil e EUA, o NAFTA 41 (Acordo de Livre Comércio Norte-Americano, entre Estados Unidos, Canadá e México), e o GATTA (Acordo Geral de Tarifas e Comércio). O Brasil foi fortemente prejudicado pelo NAFTA, pois esse acordo fez com que o suco de laranja mexicano sofresse uma redução imediata de 50% dos impostos e uma regressão progressiva que chegaria a zero em 15 anos. Assim o suco brasileiro ganha um novo concorrente para o mercado norte-americano, o suco mexicano, apesar de o Brasil ter grandes vantagens em relação ao México, porém ele tem proximidade geográfica e o acordo. Se por um lado o NAFTA é desfavorável ao Brasil o GATT é favorável, pois reduz o protecionismo da CEE (Comunidade Econômica Européia), Japão e EUA. Mostramos a influência da agroindústria citrícola no desenvolvimento de municípios, apresentado o caso de Matão, antigo distrito de Araraquara, o qual foi o pioneiro da indústria processadora. Esse setor fez desenvolver no município a criação de empregos, o desenvolvimento de atividades econômicas; o pagamento dos melhores salários; o crescimento do poder público; a atração de migrantes rurais e urbanos etc. Essa dependência ao mercado externo viabilizou as empresas processadoras e ao agronegócio citrícola, como um todo, um desenvolvimento favorecido por esse mercado, no período que se estende da década de 60 até fins da década de 80. Após esse período mudanças tecnológicas na produção citrícola americana contribuíram para a redução das perdas decorrentes de geadas, garantindo maior estabilidade para os Estados Unidos. Para a efetivação da conduta de aquisição foi utilizada, como meio, outra estratégia: a parceria (união). Essa ação foi praticada principalmente pelas empresas de maior porte, como a Citrosuco e a Cutrale, quando efetivavam a aquisição de outras empresas, em conjunto. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALVES, Francisco, VIEIRA, Ana Claudia; A quebra do contrato padrão e o acirramento dos conflitos no setor citrícola, Informações Econômicas, SP, v.27, n.8, ago. 1997. 2. BAPTISTELLA, Celma da Silva Lago, Colhedores de laranja na indústria paulista, São Paulo, 1998. 3. BORGES, A.C.G. Competitividade e coordenação no agronegócio citrícola. Tese (Doutorado em Sociologia) – FCL/UNESP, Araraquara, 2004. 4. CAMARGO, Ana Maria. Complexo citrícola do Estado de São Paulo e o mercado japonês de sucos cítricos, Araraquara, 1995. 5. CAMARGO, Luiz Manoel de Moraes. Consórcios de produtores rurais na citricultura paulista: uma alternativa de organização – Araraquara, SP, 2006 6. CASER, Denise Viani; AMARO, Antonio Ambrosio. Evolução da produtividade na citricultura paulista. 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CAPA FOLHA DE ROSTO DEDICATÓRIA RESUMO ÍNDICE ÍNDICE DE TABELAS ÍNDICE DE FIGURAS ÍNDICE DE GRÁFICOS INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 - TRAJETÓRIA DA CITRICULTURA BRASILEIRA E A FORMAÇÃO DOCOMPLEXO AGROINDUSTRIAL CITRÍCOLA CAPÍTULO 2 - A AGROINDÚSTRIA CINTRÍCOLA E A OS CONTRATOSINDÚSTRIA/CITRICULTORES CAPÍTULO 3 - EMPRESAS PROCESSADORAS DE SUCO DE LARANJA E AINFLUÊNCIA DA CITRICULTURA NO MUNICÍPIO DE MATÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS