UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA AVALIAÇÃO DE SESSÕES DE HEMODIÁLISE EM CÃES PORTADORES DE INJÚRIA RENAL AGUDA ASSOCIADA À INFECÇÕES. SABRINA DE ALMEIDA MOREIRA Botucatu – SP 2013 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA AVALIAÇÃO DE SESSÕES DE HEMODIÁLISE EM CÃES PORTADORES DE INJÚRIA RENAL AGUDA ASSOCIADA À INFECÇÕES. SABRINA DE ALMEIDA MOREIRA Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof.Adj. Antonio Carlos Paes Co-Orientador: Prof. Adj. Pasqual Barretti Co-orientador: Prof.Ass. Dr. Priscylla Tatiana C. Guimarães FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉC. AQUIS. TRATAMENTO DA INFORM. DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE - CRB 8/5651 Moreira, Sabrina de Almeida. Avaliação de sessões de hemodiálise em cães portadores de injúria renal aguda associada à infecções / Sabrina de Almeida Moreira. - Botucatu, 2013 Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Orientador: Antonio Carlos Paes Coorientador: Pasqual Barretti Coorientador: Priscylla Tatiana C. Guimarães Okamoto Capes: 50502034 1. Cão - Doenças. 2. Rins - Doenças. 3. Hemodiálise. 4. Insuficiência renal aguda - Complicações e sequelas. Palavras-chave: Cão; Hemodiálise; Injúria renal aguda. Nome do autor: Sabrina de Almeida Moreira Título: AVALIAÇÃO DE SESSÕES DE HEMODIÁLISE EM CÃES PORTADORES DE INJÚRIA RENAL AGUDA ASSOCIADA À INFECÇÕES. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Adj. Antonio Carlos Paes Presidente e Orientador Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Publica Animal. UNESP – FMVZ – Botucatu Prof. Ass. Dr. Alessandra Melchert Membro Departamento de Clínica Veterinária UNESP – FMVZ – Botucatu Prof. Ass. Dr. Júlio César Cambraia Veado Membro Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária Faculdade de Veterinária – UFMG – Belo Horizonte DEDICATÓRIA Aos meus pais, Maria Aparecida e José Carlos, que me ensinaram os mais valiosos ensinamentos na vida, de como ser uma boa pessoa, de acreditar na minha capacidade e der fé sempre. Meu amor por vocês não pode ser escrito com palavras. Ao meu marido Emerson Legatti, por todo amor dedicado, pela paciência, tolerância e pelo companheirismo nas trajetórias difíceis. Amo você. Aos meus filhos de quatro patas, Lois, Dimi e Clark, pelo amor mais puro que tornam minha vida mais feliz e completa. À Deus e aos amigos que não posso ver mas que me protegem e me encaminham sempre na direção certa. Agradecimentos À Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu, Reitoria da UNESP e do diretor da FMVZ, Prof. Luiz Carlos Vulcano, que juntos forneceram apoio financeiro para a estruturação física e aquisição de equipamentos que viabilizaram este estudo. À Faculdade de Medicina e ao Serviço de Diálise do Hospital das Clínicas de Botucatu que generosamente doaram duas máquinas de hemodiálise à FMVZ para a realização desde estudo. Ao meu orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Paes, por ser meu alicerce dentro desta Universidade, pela amizade, pelo apoio incondicional as minhas idéias, que possibilitou a realização de um sonho e pelos mais valiosos ensinamentos, meu eterno reconhecimento, amizade e respeito. Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Pasqual Barretti, por todo meu aprendizado em nefrologia, paciência, dedicação e incentivo para o meu crescimento, apoio nos momentos críticos e difíceis da minha caminhada e por ter acreditado na minha capacidade. Serei eternamente grata. À Profa. Dra. Jaqueline Caramori por te me acolhido de braços abertos, pelo apoio e ensinamentos. Ao Prof. Dr. Luis Cuadrado Martin e Prof. André Luis Balbi pelos ensinamentos e pelo apoio. Ao departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública que me acolheu tão bem, a todos os professores em especial a Profa. titular Jane Megid pelos ensinamentos e conselhos. Aos residentes e funcionários do MI, que durante esse tempo de caminhada me ajudaram na realização deste trabalho, em especial a Karen Caffaro que além de ser meu braço direito sempre foi uma amiga muito querida. À chefe do serviço de diálise do HC de Botucatu, Edwa Bucuvic, pelo acolhimento, apoio e incentivo. E à amiga Edwa Bucuvic, presente valioso que veio junto com o mestrado. À equipe de enfermagem da hemodiálise do HC de Botucatu, da qual tenho o orgulho de ter participado como técnica de enfermagem, como aluna da graduação e posteriormente do mestrado. Muito obrigada a todos os enfermeiros, técnicos de enfermagem e residentes, pelo carinho e apoio. Obrigada pela amizade, Ana Hilda, Jane, Marcela, Lau, Simone, Dani e tantos outros. Ao meu amigo querido e socorrista nos momentos de máquina quebrada, Vinícius. Sem você com certeza esse trabalho não teria se concretizado. À minha amiga Maira, pelos muitos papos, risos e taças de vinho que me propiciaram ser uma pessoa mentalmente saudável e mais feliz. Já estou sentindo sua falta. À todos meus amigos queridos que alegram meu dia a dia. Aos animais participantes deste estudo, que me ajudaram no aprendizado e a ser uma médica veterinária melhor. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características iniciais dos animais estudados..............................................46 Tabela 2 – Média da taxa de redução (RR), desvio padrão e intervalo de valores dos solutos ureia, potássio, sódio, fósforo, cálcio e bicarbonato séricos obtidos durante as sessões de HD............................................................................................................48 Tabela 3 - Médias e desvios-padrão dos parâmetros bioquímicos séricos creatinina (mg/dL), cálcio (mg/dL), sódio (mEq/L) e bicarbonato (mmol/L) nos momentos pré e pós HD...........................................................................48 Tabela 4 – Medianas, intervalos interquartílicos e valores de p para os parâmetros bioquímicos séricos ureia (mg/dL), fósforo (mg/dL) e potássio (mEq/L) e pH nos momentos pré e pós HD..............................................................48 Tabela 5 – Médias, desvios-padrão e valores de p da contagem total de plaquetas (x103/ mm3) nos momentos pré e pós HD..........................................................49 Tabela 6 – Medianas, intervalos interquartílicos e valores de p da contagem total de leucócitos (cél/ mm 3 ) e hemoglobina (g/ dL) nos momentos pré e pós HD..............................................................................................................50 LISTA DE FIGURAS Figura 1-Sistema de estadiamento proposto para IRA em cães e gatos.......................................................................................................27 Figura 2 – Determinação da URR total e horária baseada no grau de uremia e número de sessões de HD...................................................................................36 Figura 3 – Determinação do volume de sangue por quilo de peso corpóreo que deverá ser processado durante a sessão de HD a partir da URR desejada..................................................................................................37 Figura 4 - Cateter venoso de duplo lúmen para HD estabelecido por punção percutânea em jugular direita do cão.........................................................................43 Figuras 5, 6, 7. - Cães durante a realização da sessão de HD........................................63 SUMÁRIO RESUMO...........................................................................................................................3 ABSTRACT......................................................................................................................4 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................5 2. REVISÃO DA LITERATURA.....................................................................................8 Injúria Renal Aguda (IRA)................................................................................................8 Etiologia.............................................................................................................................8 Fisiopatologia da IRA......................................................................................................14 Diagnóstico......................................................................................................................16 Terapêutica......................................................................................................................20 1. Debito urinário e equilíbrio eletrolítico.........................................................20 2. Alterações hemodinâmicas, ácido-base e eletrolíticas..................................23 3. Suporte nutricional.........................................................................................25 4. Terapia de substituição renal (TSR)..............................................................26 5. Hemodiálise...................................................................................................28 5.1. Cateter venoso central.............................................................................29 5.2. Dialisador.................................................................................................31 5.3. Qualidade da água....................................................................................33 5.4. Solução dialisante....................................................................................33 5.5. Prescrição de HD.....................................................................................34 5.6. Intercorrências intradialíticas...................................................................38 Prognóstico......................................................................................................................39 3. MATERIAL E MÉTODOS.........................................................................................41 Animais............................................................................................................................41 Local do experimento......................................................................................................41 Delineamento...................................................................................................................41 Tratamento hemodialítico................................................................................................42 Seguimento clínico e laboratorial....................................................................................44 4. ANÁLISE ESTATÍTICA............................................................................................45 5. RESULTADOS...........................................................................................................46 Características iniciais dos animais.................................................................................46 Avaliação da eficiência da HD........................................................................................46 Avaliação hematológica..................................................................................................49 Intercorrências intradialíticas..........................................................................................50 6.DISCUSSÃO................................................................................................................50 7.CONCLUSÃO.............................................................................................................53 8. BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................54 9. TRABALHO CIENTÍFICO........................................................................................ 10. ANEXO 1..................................................................................................................82 11. ANEXO 2..................................................................................................................83 12. ANEXO 3..................................................................................................................85 MOREIRA, S.A. Avaliação de sessões de hemodiálise em cães portadores de injúria renal aguda associada à infecções. Botucatu, 2013; 85 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. RESUMO Com o objetivo de avaliar a eficiência e segurança da hemodiálise (HD) em cães portadores de injúria renal aguda (IRA) associada à infecção, foram avaliadas 29 sessões de hemodiálise (HD) realizadas em cães atendidos no ambulatório de enfermidades infecciosas. No atendimento primário os animais possuíam uréia sérica acima de 100mg/dL, creatinina sérica acima de 5mg/dL e sintomas de IRA. Esses animais receberam reposição de volume com fluidoterapia até a normovolemia em seis horas. Após 24 horas, a HD diária foi indicada para os animais que apresentaram aumento da creatinina sérica. O tratamento foi suspenso quando o valor sérico da creatinina no momento pós-diálise e pré-diálise do dia subsequente permaneceram estáveis ou quando o animal apresentou instabilidade hemodinâmica. Foi realizada avaliação laboratorial diária, (creatinina, ureia, potássio, sódio, fósforo, cálcio, bicarbonato e pH séricos, pré e pós-diálise). Os resultados mostraram diminuição das concentrações séricas de creatinina, ureia, sódio, fósforo e potássio em todas as sessões de HD, aumento nos valores de pH e bicarbonato séricos e não foram observados diferenças significativas nos valores de cálcio sérico. A taxa de redução de ureia (URR) obtida nas sessões de hemodiálise variou de 0,13 a 0,54. Os valores de hemoglobina e contagem de plaquetas diminuíram em todas as sessões de HD. As diferenças nos valores de leucócitos pré e pós HD não mostraram diferença estatística. Complicações intradialíticas foram hipotensão (17,24%), alterações neurológicas com vocalização e agitação (3,44%), vomito (13,79%) e queda da SpO2(24,14%). A mortalidade observada no decorrer do tratamento ocorreram por complicações respiratórias e sepse. Não foi observada mortalidade intradialítica. Em conclusão a HD mostrou-se eficaz em promover o controle metabólico nesses pacientes com poucas complicações clinicas intradialíticas, o que a torna um método seguro em pacientes gravemente enfermos. Palavras – Chave: Injúria renal aguda, hemodiálise, cães. MOREIRA, S.A. Evaluation of hemodialysis sessions in dogs with acute kidney injury associated the infections. Botucatu, 2013; 85 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. ABSTRACT With the objective of assessing the efficiency and safety of hemodialysis (HD) in dogs with acute renal injury (ARI) associated with the infection, were studied 29 hemodialysis performad in dogs treated in outpatient clinic of infectious diseases. At initial evaluation the animals had serum urea above 100mg/dL, serum creatinine greater than 5 mg/dL and symptoms of IRA. The animals received volume replacement with fluid until the normovolemia in six hours. After 24 hours, daily hemodialysis (HD) was indicated to animals that showed increase of serum creatinine. HD treatment was discontinued when the value of post dialysis serum creatinine and the next pre dialysis measurement remained stable or when the animal presented hemodynamic instability. The animals were monitored daily by laboratory examination (pre and post dialysis serum creatinine, urea, sodium, potassium, phosphorus, calcium, bicarbonate and pH). The results showed decrease of serum creatinine, urea, sodium, fosphorus and potassium in all the HD sessions; increase of pH values and no significant differences in the values of serum calcium. The urea reduction tae (URR) ranged from 0.13 to 0.54. The values of hemoglobin levels and the platelet count decreased in all sessions of HD. The values of leukocytes before and after HD showed no statistical difference. Intradialytic complications were hypotension (17.24 %), neurological changes with vocalization and agitation (3.44 %), vomiting (13.79 %) and decrease in SpO2 (24.14 %). Mortality was not experienced during HD session. The mortality observed was due to respiratory complications and sepsis. In conclusion, HD was effective in promoting metabolic control in patients with few clinical intradialytic complications which makes it a safe method in severely ill patients. Key – Words: Acute renal injury, hemodialysis, dogs. 5 1. INTRODUÇÃO Injúria renal aguda (IRA) ou insuficiência renal aguda, como é mais conhecida, é uma síndrome caracterizada pelo declínio abrupto da função renal que resulta na incapacidade parcial ou total dos rins de excretar resíduos metabólicos e controlar o equilíbrio eletrolítico e ácido básico. (GRANT & FORRESTER, 2008). Ross (2011) descreveu a IRA em quatro fases. A primeira fase, ou de iniciação, ocorre durante e imediatamente após o insulto para os rins, quando os danos patológicos renais são iniciados. A segunda é chamada de extensão, durante a qual a isquemia, hipóxia, inflamação e lesão celular contínua, levam à apoptose celular, necrose ou ambas. As alterações clínicas e laboratoriais podem não ser evidentes. A terceira ou fase de manutenção, é caracterizada por uremia, azotemia, ou ambas e pode durar de dias a semanas. Oligúria (<0,5 mL de urina por kg de peso corporal por hora) ou anúria (ausência de produção de urina) pode ocorrer durante esta fase, embora a produção de urina seja altamente variável. A quarta é a de recuperação, durante a qual ocorre melhora da azotemia e regeneração dos túbulos renais, nessa fase pode ocorrer evidente poliúria como resultado restauração parcial da função tubular renal e da diurese osmótica devido à acumulação de solutos. A função renal pode se restabelecer plenamente, ou o animal pode permanecer com uma disfunção renal residual. Os animais portadores de IRA severa, geralmente oligúricos, em geral morrem dentro de quatro a seis dias por complicações da uremia, antes que haja tempo para regeneração renal ou reparação da lesão e alívio da uremia (VEADO, 2000). A estratégia terapêutica convencional para os animais com IRA baseia-se na administração de grandes quantidades de fluido intravenoso e diuréticos na tentativa de forçar a excreção do excesso de solutos acumulados pela diurese. Com a progressão da doença, esse método conservador torna-se cada vez menos eficiente com piora os sinais sistêmicos da doença, em virtude da diminuição da função renal (COWGILL & LANGSTON, 1996). O tratamento dialítico está indicado quando a uremia é severa e refratária às terapias convencionais. (COWGILL e FRANCEY, 2006). A hemodiálise (HD) foi realizada pela primeira vez e experimentalmente em cães em 1913 e evoluiu para se tornar a base da gestão da doença renal crônica terminal 6 em humanos. O uso clínico da HD em cães tem sido descrito por quase esse mesmo período, mas apenas nos últimos dez anos saiu da obscuridade clínica para integrar a gestão da uremia aguda em cães e gatos. A HD altera a composição do sangue expondo- o indiretamente a uma solução artificial, solução dialisante, através de uma membrana semipermeável. A troca de fluidos e solutos ocorre através dos mecanismos de difusão, convecção e ultrafiltração pressórica, e a magnitude dessas trocas dependem de características físicas do soluto e da estrutura da membrana de diálise. (DAUGIRDAS, 2008; COWGILL & FRANCEY, 2006). Poucos estudos avaliaram os resultados clínicos da HD em cães, porém o âmbito experimental mostra estudos em que o método hemodialítico mostrou-se efetivo e seguro, tanto do ponto de vista do acesso venoso, quanto do procedimento em animais acima de cinco quilos de peso corpóreo. Meneses et al, (2010), com o intuito de desenvolver um modelo experimental de HD em cães, estudou animais entre sete e quatorze quilos e concluiu que a HD em cães é um método viável e seguro, que pode contribuir para o tratamento clínico em cães com Insuficiência Renal. Melchert (2005) comparou, experimentalmente, a eficácia do tratamento conservador e do hemodialítico em cães com peso corpóreo acima de seis quilos com IRA induzida por gentamicina e obteve como resultado a redução do risco de óbito em animais tratados com hemodiálise, em estudo que mostrou, ainda, que a HD associou-se com a baixa frequência de complicações decorrentes do procedimento, mesmo em animais com baixo peso corporal. Adin & Cowgill (2000) realizaram estudo clínico retrospectivo com 36 cães portadores de leptospirose e azotemia grave, tratados com terapia conservadora (22 animais) e tratamento hemodialítico (14 animais). Dos 14 animais tratados com HD, 12 sobreviveram, e dos 22 animais que receberam tratamento conservador, 16 sobreviveram, concluindo que o tratamento com HD parece melhorar o prognóstico para cães com azotemia grave. Eatroff, et al (2012), em estudo que avaliou o desfecho a longo prazo de 135 cães e gatos com IRA por diferentes causas tratados com HD intermitente entre os anos de 1997 a 2010, revelaram que, dentre 93 cães submetidos a HD, com o número médio de tratamentos de quatro sessões, com intervalo entre elas de um a dois dias, a taxa de sobrevida global no momento da alta hospitalar foi de 53%, sendo que após 30 dias, essa taxa caiu para 42% e após 365 dias a taxa de sobrevida global foi de 33%. Para 7 todas as causas de mortalidade o tempo médio de sobrevivência para os cães foi de nove dias. Os autores concluíram que cães e gatos com IRA tratados com HD intermitente têm taxas de sobrevivência semelhantes à de pacientes humanos e embora tenha havido uma alta taxa de mortalidade antes da alta hospitalar, os pacientes que sobreviveram após o momento da alta tiveram alta probabilidade de sobrevivência em longo prazo. No contexto clínico poucos estudos avaliaram a eficiência da HD na população de animais portadores de IRA gravemente enfermos. O presente trabalho pretendeu avaliar a eficiência e a segurança do tratamento hemodialítico em cães portadores de IRA associada à infecção. 8 2. REVISÃO DE LITERATURA Injúria Renal Aguda (IRA) A IRA é consequência de um espectro grande de doenças que levam a um rápido declínio na função renal e culmina na retenção de produtos urêmicos, desequilíbrio eletrolítico, ácido – base e dos fluidos corporais, ou seja, insuficiência renal aguda (LANGSTON, 2010). A IRA reflete apenas um subconjunto de pacientes com maior morbidade e mortalidade. O termo Injúria Renal Aguda (IRA) foi aprovado na Medicina Humana para melhor refletir o amplo espectro de doenças agudas dos rins e para reforçar o conceito que engloba um contínuo dano funcional e de parênquima renal. Essas condições podem ser clinicamente imperceptíveis nos estágios iniciais e quase sempre evoluem para a necessidade de terapia substitutiva renal (TSR) (COWGILL e LANGSTON, 2011). Etiologia A apresentação da IRA pode incluir condições pré-renais e pós-renais que podem ser independentes ou associadas à doença renal intrínseca, dependendo da origem funcional, extensão e duração do início dos sintomas da doença. O paciente na maioria das vezes é diagnosticado com uremia aguda, deve ser diferenciado posteriormente em lesão pré renal, renal intrínseca, ou ainda em componentes pós renais com adequada avaliação diagnóstica. (COWGILL e LANGSTON, 2011). Nos animais , a causa mais comum de IRA é a nefrotoxicidade e isquemia, seguida das doenças glomerulares e intersticiais. (LABATO, 2001). Segundo Elliot & Grauer (2007) o declínio da função renal está associado a causas como uma injúria isquêmica, um insulto tóxico ou ainda de origem infecciosa como ocorre na leptospirose. As causas da IRA podem ser dividas quanto sua origem, 9 em pré-renal, renal, pós-renal e idiopática, pois em cerca de 20% dos casos não é possível detectar a sua causa. (GRANT & FORRESTER, 2008). A IRA pré-renal é rapidamente reversível se corrigida a causa e resulta principalmente da redução na perfusão dos rins, causada por uma série de eventos que culminam com a diminuição do volume sanguíneo circulante e, portanto do fluxo sanguíneo renal, como por exemplo, a desidratação, hemorragias, insuficiência cardíaca e uso de diuréticos. (ELLIOT & GRAUER, 2007)). A IRA renal, causada por fatores intrínsecos ao rim, é classificada de acordo com o principal local afetado, como túbulos, interstício, vasos ou glomérulos. As causas mais comuns de dano tubular são de origens isquêmicas ou tóxicas, embora a necrose tubular aguda (NTA) possa ser de origem pré-renal pela redução severa do fluxo sanguíneo renal a ponto de causar necrose das células tubulares. As nefrotoxinas representam depois da isquemia a causa mais frequente de IRA. Os antibióticos aminoglicosídeos, os contrastes radiológicos e os quimioterápicos, como por exemplo a cisplatina, estão entre as drogas que podem causar dano tubular diretamente. Já as drogas imunossupressoras, os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), podem causar IRA por induzirem alterações renais hemodinâmicas. A IRA devido à nefrite intersticial é mais comumente causada por reações alérgicas a drogas, menos comumente por doenças auto-imunes e infecciosas, embora a leptospirose seja um bom exemplo de uma doença que leva a IRA renal por nefrite intersticial. (SANTOS et al, 2003). A IRA pós-renal ocorre na vigência de uma obstrução do trato urinário. As obstruções das vias urinárias podem ser consequência de obstruções intraluminais (cálculos, tumores vesicais, etc.), extraluminais (hipertrofia prostática, bexiga neurogênica, etc.) e ainda podem ocorrer obstruções intratubulares por precipitação de cristais como oxalato de cálcio, ácido úrico, ou ainda drogas como aciclovir e sulfonamidas, dentre outras. A reversibilidade da IRA pós-renal está relacionada com o tempo de duração da obstrução. (SANTOS et al, 2003). Segundo Cowgill & Langston (2011), condições clinicas que causam lesão estrutural direta para a vasculatura, os glomérulos, o epitélio tubular ou interstício renal podem causar todo o espectro da IRA. Lesão estrutural intrínseca ao rim geralmente promove IRA mais grave que não será prontamente revertida com a restauração do 10 volume de líquidos ou correção do déficit hemodinâmico. A IRA pode se desenvolver pela continuidade de déficit funcional hemodinâmico, eventos isquêmicos evidentes ou exposição a drogas e toxinas exógenas que afetam diretamente os rins. Doenças renais intrínsecas ou doenças sistêmicas com manifestações renais secundárias também promovem IRA. Isquemia renal também pode ser causada por trombose de artérias e veias renais, coagulação intravascular disseminada, transfusões de sangue incompatíveis ou trombos sépticos. Vasculite, pancreatite, hipoproteinemia, acidente vascular cerebral e torções gátricas representam risco elevado para o desenvolvimento de lesão isquêmica hemodinamicamente mediada. Causas hemodinamicamente mediadas provocam aproximadamente 40% dos casos de IRA em pacientes humanos. A IRA hemodinamicamente mediada é reportada variavelmente, porém parece ser menos comum nos animais. Em uma grande série de casos de cães com uremia grave, recebendo terapia de substituição renal, etiologias hemodinâmicas representavam menos de 10% das causas identificadas. Em gatos as causas hemodinâmicas foram reconhecidas em apenas 13% dos casos. Esta diferença na incidência entre animais e pessoas pode refletir os casos de IRA responsivos à reposição de volume que não foram adequadamente reportados com IRA em estudos com animais. Nos países da América do Norte e europeus, a intoxicação por etilenoglicol é a segunda causa mais comum de IRA nefrotóxica em animais de companhia e a exposição geralmente é devida ao uso de anticongelante para automóveis. (COWGILL e FRANCEY, 2005). Os aminoglicosídeos (neomicina, gentamicina, tobramicina, amicacina, netilmicina e estreptomicina) são cátions com baixa capacidade de ligação as proteínas e são livremente filtradas no glomérulo. Eles demonstram nefrotoxicidade hierárquica, conforme descrito acima, de acordo com o número de cátions e capacidade de ser transportadas através das células (PANNU e NADIM, 2008). A anfotericina B é antimicrobiano de polieno que perturba a integridade das membranas celulares e aumenta sua permeabilidade. Ela também reduz o fluxo sanguineo renal e a taxa de filtração glomerular devido a vasoconstrição arterial. A permeabilidade da membrana alterada aumenta o metabolismo celular e promove a privação de oxigênio levando a necrose celular. A toxicidade da anfotericina B é 11 potencializada pela dose e duração da terapia, doença renal preexistente, depleção de sódio e uso concomitante de drogas nefrotóxicas. (TABER e MUELLER, 2006). Os anti-inflamtórios não esteroides (AINEs) se tornaram terapia essencial no tratamento de animais com dor crônica e inflamação, devido à disponibilidade de produtos veterinários eficazes e de fácil administração. Consequentemente a incidência de IRA induzida por AINEs aumentou nos cães e gatos que têm predisposição, bem como nos animais com consumo de produtos sem supervisão veterinária. AINEs inibem seletivamente ou não seletivamente as ciclo-oxigenases renais que mediam a produção de prostaglandinas para manter o fluxo sanguíneo arteriolar aferente e a taxa de filtração glomerular nos estados de hipoperfusão. A toxicidade renal direta associada a utilização de AINEs em sobredosagem ou tempo prolongado provoca isquemia renal e necrose papilar. (TABER e MUELLER, 2006). Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA) impedem a vasoconstrição da arteríola eferente renal mediada pela angiotensina II, resultando em diminuição da resistência arteriolar aferente, pressão capilar glomerular e taxa de filtração glomerular. Azotemia aguda e descompensação da doença renal subjacente são observados em cães e gatos após a administração de inibidor da ECA. A gravidade da alteração da função renal é variável e normalmente ocorre em animais com doença renal crônica (DRC) preexistente ou com predisposições hemodinâmicas (depleção de sódio, insuficiência cardíaca congestiva e uso de diuréticos) quando a manutenção da taxa de filtração glomerular basal é dependente da vasoconstrição mediada pela angiotensina II. (PANNU e NADIM, 2008). A ingestão de uvas e uvas-passa por cães associada à IRA foi primeiramente notificada em 1999. O vômito é uma característica comum que ocorre horas após a ingestão. Uvas ou uvas-passa não digeridas podem ser observadas no conteúdo do vômito ou da diarreia. A azotemia se desenvolve em alguns cães dentro de 24 horas após a ingetão. Em estudo com 10 cães intoxicados, hipercalcemia estava presente em 65% dos cães. Degeneração tubular proximal e necrose foram observadas na histopatologia renal. Foram observados pigmento intracelular em seis dos 10 casos. A composição química do pigmento ainda é indeterminada. Aproximadamente 50% dos cães intoxicados sobreviveram destes 65% tiveram a azotemia resolvida. Nem toda ingestão de uva ou uva-passa leva à intoxicação em cães, sendo que a quantidade 12 ingerida parece estar diretamente ligada à intoxicação. (MORROW, 2005) (EUBIG, 2005). A leptospirose é uma zoonose re-emergente de distribuição mundial, considerada também uma das principais antropozoonoses de importância para os órgãos de saúde pública, pois acomete animais domésticos e silvestres, e, acidentalmente, afeta o homem causando prejuízos econômicos, principalmente em países tropicais e subtropicais. A leptospirose canina também apresenta distribuição mundial, porém é mais frequente nas áreas tropicais e subtropicais com elevada pluviosidade e na estação chuvosa. (GREENE, 2012). As leptospiras patogênicas vivem nas células epiteliais dos túbulos renais proximais dos animais portadores e, nos doentes, podem ser encontradas em todos os órgãos. O fato das leptospiras escolherem as células tubulares renais como abrigo, se deve ao isolamento imunológico que este lugar oferece, ou seja, os anticorpos, que são proteínas, não conseguem ultrapassar a barreira glomerular, e poucos antimicrobianos conseguem penetrar nessas células. Com o rim dos animais infectados, esses microrganismos são eliminados para o meio ambiente com a urina, contaminando o solo, o lixo, coleções hídricas, córregos, riachos e rios (ABDULKADER & SILVA, 2010). O cão portador renal crônico de leptospiras aparentemente não apresenta doença renal, embora estudos histológicos destes animais mostrem lesões compatíveis com nefrite intersticial. Segundo estudos sorológicos, a morbidade da leptospirose canina em áreas urbanas está entre 18 e 20%, seja no Brasil ou em outros países. (GOLDSTEIN, 2010). Com a produção adequada de anticorpos o hospedeiro limpa as espiroquetas da maioria dos órgãos, mas as leptospiras podem persistir nos rins e serem eliminadas na urina por dias ou meses. Sem a produção adequada de anticorpos os danos aos órgãos são mais graves, e incluem síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e sepse. (GREENE, 2012). A pielonefrite aguda é uma infecção causada por bactérias ou fungos que leva a inflamação intersticial difusa e necrose epitelial tubular. O organismo infectante mais comum é a E. coli, mas outros organismos isolados incluem Staphylococcus spp, 13 Proteus, Streptococcus spp, Enterococcus spp, Klebsiella spp e Pseudomonas. Fatores como anormalidades estruturais e anatômicas podem aumentar o risco de pielonefrite, assim como procedimentos como cateterismo vesical, distúrbios de micção, deficiências imunológicas (diabetes mellitus, hiperadrenocorticismo, quimioterapia imunossupressora, etc.) (LANGSTON e BOYD, 2007). A IRA associada à significativa proteinúria pode ocorrer secundariamente as diversas de doenças. Proteinúria pode acontecer devido á lesão tubular aguda, doença glomerular, infecção do trato urinário superior ou inflamação deste. A doença glomerular crônica é diagnosticada tardiamente quando os sinais de uremia aguda aparecem, porém a doença glomerular seguida de falha renal pode ocorrer secundariamente a quadros infecciosos ou doenças inflamatórias. A infecção causada por Borrelia burgdorferi tem sido associada com proteinúria glomerular e IRA fatal dentro de uma a duas semanas. Embora a Borrelia não tiver sido identificada definitivamente nos rins, presume-se que uma reação imunológica antígeno-anticorpo esteja envolvida na patogênese da doença. (HUTTON, 2008). A infecção aguda causada por Ehrlichia canis pode causar glomerulopatia de lesões mínimas com proteinúria e IRA. (CODNER, 1992). A leishmaniose também pode ser causa de glomerulonefrite aguda grave seguida de IRA. A leishmaniose é uma infecção causada por um protozoário transmitido pela picada do mosquito palha. O microrganismo invade os macrófagos e acomete múltiplos órgãos, como fígado, baço, medula óssea, linfonodos, rins e pele. (ZATELLI, 2003). Infecções adquiridas, imunomediadas, neoplásicas, ou doenças degenerativas expressas primariamente nos rins podem causar insuficiência renal intrínseca. De acordo com a extensão e a gravidade da lesão, essas patologias podem causar IRA que deverá ser diferenciada quanto à etiologia nefrotóxica ou isquêmica (COWGILL e LANGSTON, 2011). 14 Fisiopatologia da IRA Na IRA isquêmica ou nefrotóxica, estão envolvidos basicamente mecanismos de alterações estruturais e bioquímicas que culminam em comprometimento vascular e celular, descamação do epitélio tubular e obstrução intraluminal, vazamento transtubular do filtrado glomerular e inflamação. (SANTOS et al, 2003; NELSON & COUTO, 2006) Segundo Cowgill & Elliot (2004) e Nelson & Couto (2006), os rins são suscetíveis aos efeitos de isquemia e agentes tóxicos em virtude das características anatômicas e fisiológicas singulares. O grande fluxo sanguíneo renal (aproximadamente 20% do débito cardíaco) resulta em liberação elevada de substâncias tóxicas oriundas do sangue para os rins, quando comparado com outros órgãos. Afirmam também que o córtex renal é particularmente suscetível a substâncias tóxicas por receber 90% do fluxo sanguíneo renal e conter a grande área de superfície endotelial dos capilares glomerulares. Uma isquemia renal leva a uma provável IRA quando associada à hipóxia, e a insuficiência de substrato podem reduzir as reservas de ATP das células dos túbulos causando parada da bomba de sódio e potássio, edema e morte celular. (NELSON & COUTO, 2006; FORRESTER, 2003). A isquemia causa uma resposta inflamatória no rim por três mecanismos: depleção de trifosfato de adenosina (ATP), aumento do fator de hipóxia induzida (HIF) e de moléculas reativas a oxigênio. O esgotamento de ATP durante a isquemia renal provoca danos mitocondriais e consequente aumento na produção de citocinas inflamatórias e moléculas reativas a oxigênio. As citocinas induzem quimiocinas que recrutam macrófagos, polimorfonucleares e linfócitos T o que gera um processo de retroalimentação positiva onde as células infamatórias recrutadas produzem mais citocinas exacerbando a resposta inflamatória e causando maior lesão nas células epiteliais tubulares e endotélio vascular (GARWOOD, 2009). As drogas nefrotóxicas e hormônios como IECA, são capazes de modificar a filtração glomerular por induzir alterações em vários dos determinantes deste processo, esse desequilíbrio resulta em vasoconstrição das arteríolas aferentes e eferentes e contração da célula mesangial, levando a redução do coeficiente de filtração glomerular 15 (Kf). Outro aspecto importante é a via final comum pela qual os hormônios realizam suas ações, que envolve a elevação do cálcio intracelular nas células da vasculatura renal, elevação do tônus da musculatura lisa e vascular consequentemente, contribuindo para a vasoconstrição, a qual pode ser minimizada com a utilização de bloqueadores de canais de cálcio. (SANTOS et al, 2003). A IRA é caracterizada em quatro fases distintas: iniciação, extensão, manutenção e recuperação. A fase de iniciação começa após um insulto renal (isquêmico, nefrotoxico ou outro) e continua até que haja uma alteração da função renal definida como diminuição da produção de urina e azotemia. As intervenções terapêuticas nessa fase podem evitar o desenvolvimento da IRA estabelecida. A segunda é chamada de extensão, durante a qual a isquemia, hipóxia, inflamação e lesão celular contínua, levam à apoptose celular, necrose ou ambas. As alterações clínicas e laboratoriais podem não ser evidentes.A fase de manutenção é caracterizada pela perpetuação de lesões tubulares e o estabelecimento da disfunção do nefro devido à resposta inflamatória e hipóxia que propagam os danos aos rins simultaneamente ou independente do insulto iniciador. Embora intervenções terapêuticas nessa fase possam salvar a vida do paciente, não são mais capazes de impedir a gravidade das lesões renais e a garantir a da recuperação. Na fase de manutenção a produção de urina pode ser aumentada ou diminuída e a urina assemelha-se ao filtrado glomerular com poucas modificações tubulares. Na fase de recuperação, ocorre reparação das lesões renais e melhora da função renal. As lesões tubulares podem ser reversíveis se a membrana basal tubular estiver integra e houver células epiteliais viáveis. Em animais oligúricos ou anúricos, essa fase é caracterizada pelo aumento da produção de urina acompanhada variavelmente pela diminuição da concentração de sódio urinário. Em animais não oligúricos a produção de urina não é um bom marcador de recuperação renal. A reparação pode não ser completa, mas a hipertrofia funcional dos nefros íntegros pode garantir a recuperação da função renal. Essa reparação pode levar semanas ou meses, mas se a lesão for extensa a ponto de a reparação e a hipertrofia funcional não conseguirem compensar o restabelecimento da função, esse paciente passa a ser portador de falência renal crônica. (NELSON & COUTO, 2006; ELLIOT & GRAUER, 2007)). Yang (2007) descreveu o mecanismo de lesão da célula tubular renal pela leptospira. A Leptospira spp possui em sua membrana externa uma lipoproteína 16 chamada de Lip 32, muito antigênica, que em contato com a célula tubular renal se liga ao receptor Tool-like receptor 2 (TRL 2), após esse evento ocorre à ativação do fator nuclear kapa B (NFKB) que expressa genes inflamatórios a partir de RNA mensageiro e aumenta a produção de óxido nítrico sintetase induzível (NOsi), proteínas com quimiotaxia á monócitos (MCP) e fator de necrose tumoral alfa (TNFα). A quimiocina CCL2/MCP-1 é um dos fatores mais importantes no início da infiltração de células monocíticas na nefrite intersticial, enquanto o TNF-α, uma citocina inflamatória, é uma mediadora de endotoxemia. A elevação dos níveis dos fatores citados acima leva a lesão celular por recrutamento de células inflamatórias e culmina em nefrite túbulo intersticial. Outro mecanismo de lesão nos rins e também em outros órgãos se deve à ação de uma glicoproteína (GLP) isolada de cepas virulentas, que é capaz de inibir a Adenosina Trifosfatase Sódio - Potássio (Na,K,ATPase) principalmente nos túbulos renais. (SEGURO et al, 2008). Younes & Ibraim (1997) mostraram a ação da GLP experimentalmente em tecido de coelho in vitro sobre a NA,K,ATPase, ao observar que quando a GLP era adicionada à cultura de células, a atividade da Na,k,ATPase diminuía proporcionalmente, o que explica a hipocalemia encontrada nos casos de IRA não oligúrica na leptospirose. Diagnóstico Definições precisas para IRA ainda não foram estabelecidas na Medicina Veterinária. Embora a IRA seja definida como perda aguda da função dos nefros, critérios que definam com exatidão a diminuição da função renal e o tempo dessa lesão ainda não foram estabelecidos nos animais. Em seres humanos um esquema para essa classificação foi proposto para resolver essa questão, que é o esquema RIFLE (risco, injúria, falência, perda da função e estágio final da doença renal). Infelizmente esse esquema é difícil de ser aplicado em pacientes veterinários, pois as informações anteriores a IRA como níveis séricos de creatinina e produção de urina raramente estão disponíveis. (ROSS, 2011). 17 Um sistema de pontuação utilizando diversos parâmetros clínicos e laboratorial para a previsão do prognóstico da IRA em cães submetidos à HD foi recentemente descrito, (Figura 1), que visa facilitar a estratificação funcional, classificação e tomada de decisão terapêutica, porém esse esquema deve ser considerado preliminar pois permanece sujeito às revisões consensuais e modificações que incluam biomarcadores mais adequados para proporcionar mais especificidade e sensibilidade. O estágio I define animais com histórico clínico, laboratorial (biomarcador, glicosúria, cilindrúria, sedimento inflamatório, microalbuminúria, etc.) ou de imagem com evidência de IRA, que não são azotemicos e/ou cuja apresentação clínica seja facilmente resolvida com a correção volêmica e ainda animais com progressivo aumento na creatinina sérica (0,3mg/dL) em intervalo entre horas ou de um dia para o outro, mesmo dentro dos valores de referência. Os animais que se enquadram no estágio II possuem IRA documentada caracterizada por azotemia leve, históricos clínicos e outras anormalidades laboratoriais, esse critério inclui animais com aumento no valor de base da creatinina sérica associada à Doença Renal Crônica preexistente. Os estágios III, IV e V englobam animais com IRA documentada e graus progressivamente maiores de lesão do parênquima renal e falha funcional. Todos os estágios foram subestadiados com base na produção de urina (IRA oligúrica ou não oligúrica) e na necessidade de diálise (COWGILL, 2011). O exame clínico de um animal com IRA deve incluir uma estimativa clínica de hidratação, avaliação do estado cardiovascular e respiratório, avaliação do débito urinário, aferição da pressão arterial e avaliação da dor, seja renal, abdominal ou devido à rabdomiólise comumente encontrada nos quadros da Leptospirose (ROSS, 2011; DAHER et al 2010). Na avaliação laboratorial do animal com leptospirose seguido de IRA, o hemograma evidencia leucocitose intensa com neutrofilia e desvio para a esquerda, acompanhada de trombocitopenia com contagens abaixo de 40.000 cél/µL na dependência da gravidade do quadro de vasculite que gera pequenas hemorragias nos órgãos, e das taxas de uréia que podem exacerbar as lesões vasculares o que aumenta ainda mais o consumo de plaquetas. As provas de função hepática mostram elevação dos níveis de alanina-aminotransferase (ALT) indicando a destruição de hepatócitos. A bilirrubina direta sérica chega a valores acima de 20 mg/dL, o que piora a função renal conduzindo a IRA para a forma anúrica o que aumenta as chances de óbito. A 18 glutamiltransferase (GGT) também aparece em níveis séricos aumentados em praticamente todos os casos de leptospirose (GREENE, 2012, FREIRE et al, 2008). A creatinina, que é um produto do metabolismo da creatina e fosfocreatina musculares constante, é livremente filtrada nos glomérulos pois não se liga a proteínas e é minimamente reabsorvida ou secretada nos túbulos renais, ou seja, apesar de não possuir toxicidade seu clearance reflete a taxa de filtração glomerular, o que faz dela um marcador da função renal. Logo, os níveis de creatinina sérica aparecem elevados e refletem proporcionalmente a gravidade da IRA, mas não sua capacidade de recuperação renal. Os níveis de ureia aumentam com a diminuição da função renal, mas ao contrário da creatinina, é influenciada por inúmeros fatores extra-renais como estado nutricional, função hepática, hidratação, entre outros, que fazem da concentração de ureia um marcados inespecífico de dano renal, mas é útil na avaliação da gravidade do estado urêmico, fornecendo base para acompanhamento tanto da função renal como da adequação nutricional e do catabolismo (DEPNER, 2001). Um exame de imagem que pode auxiliar no diagnóstico da IRA é a ultrassonografia, que mensura o tamanho dos rins, que podem estar aumentados ou normais, determina a ecogenicidade, geralmente hiperecogênico devido à inflamação, e a preservação da arquitetura renal. Exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética não fornecem maiores informações além da ultrassonografia e possuem a desvantagem da necessidade de anestesia (ROSS, 2011). A IRA produz alterações características nas concentrações séricas de cálcio, fósforo, potássio, sódio, bicarbonato e demais eletrólitos, e essas variações acompanham a fase da IRA, ou seja, conforme a IRA se intensifica, os valores desses íons acompanham as alterações coma mesma severidade, o que não é comum na Doença Renal Crônica. Mais de 75% dos cães e gatos com IRA são hiperfosfatêmicos (VADEN et al. 1997; WORWAG & LANGSTON 2008). As concentrações de cálcio no soro estão diminuídas em 25% dos animais com IRA, porém os sinais de hipocalcemia raramente se desenvolvem em fasciculações musculares e tetania, mas pode ser necessária a reposição de cálcio. É importante salientar que o cálcio total sérico não indica fielmente o cálcio ionizado, animais com cálcio total normais podem apresentar cálcio ionizado deficiente (SCHENCK & CHEW 2005; KOGIKA et al. 2006). 19 Apesar do perfil da maioria das causas de IRA ser de hipercalemia, mesmo nas apresentações não oligúricas, na leptospirose observa-se hipocalemia, o que pode ser forte indício para tal diagnóstico, este padrão acontece devido à ação de uma glicoproteína presente na bactéria que inibe a NA,K,ATPase o que impede a manutenção das concentrações extracelulares de potássio. Porém com o progresso da IRA e o aumento da sua gravidade, se a mesma se tornar oligo/anúrica, a hipercalemia pode aparecer (LEVETT, 2001). A concentração de bicarbonato sérico geralmente está diminuída, e esse déficit aumenta na medida em que a IRA se agrava. A acidose metabólica deve ser corrigida com infusão lenta de bicarbonato de sódio sempre que necessária, ou seja, déficit de base menor que -10, a fim de evitar suas consequências como hipercalemia e o catabolismo (COWGILL, 2011). A urinálise completa deve ser realizada em todo paciente com IRA. A apresentação inicial IRA intrínseca apresenta dificuldade de concentração e de diluição da urina, ou seja, a densidade urinária se mostra em um intervalo fixo. entre 1.008 e 1.018. A densidade urinária entre 1,012 e 1,029 para cães e 1,012 e 1,034 para gatos na presença de azotemia indica falha hemodinâmica, ou seja, algum componente pré-renal como desidratação, hipovolemia e hipotensão sobreposto à injúria renal intrínseca. Glicosúria na ausência de hipoglicemia pode aparecer devido a lesão tubular e ao déficit de reabsorção, e indica frequentemente necrose tubular (OSBORNE et al, 1995). Os cilindros podem aparecer no exame do sedimento urinário e nesse caso indicam lesão ou necrose tubular. As enzimas tubulares epiteliais como a gama- glutamiltranspeptidase (GGT) e N-acetil-beta-Dglucosaminidase (NAG), vem sendo estudados na urina dos cães pela sua capacidade de diagnosticar lesão ou necrose tubular precocemente, porém o NAG parece ser mais sensível e específico para a lesão epitelial e o reconhecimento precoce do dano renal, mas ainda não é usado na rotina diagnóstica humana ou veterinária. Outros biomarcadores estão em estudo com a promessa de maior sensibilidade e especificidade, como a molécula de injúria renal 1 (KIM 1), a interleucina 18 (IL18) e a lipocalina associada à gelatinase de neutrófilos (NGAL).( BRUNKER et al,. 2009; VAIDYA et al. 2009). 20 A biópsia renal só esta indicada nos casos de IRA quando é impossível determinar a causa de base do processo, devido aos riscos envolvidos no procedimento (OSBORNE et al,1996) Terapêutica O manejo da IRA é baseado em corrigir e prevenir as consequências clínicas de acordo com a evolução de cada etapa da lesão renal e eliminar a causa primária. A abordagem médica mudou muito pouco nos últimos 20 anos e não mostrou resultados diferentes. As terapias de substituição renal têm proporcionado o mais significativo avanço na resolução dos sinais clínicos, porém desfechos melhores só poderão ser observados com uma maior disponibilidade desses métodos na prática veterinária. (LANGSTON 2010). 1 - Débito urinário e equilíbrio hídrico. O paciente com IRA pode apresentar poliúria ou produção de urina normal no inicio da doença, porém com a progressão da lesão renal a oligúria ou anúria acontecem com frequência. (COWGILL, 2011). Alterações na volemia são comuns nos pacientes com IRA, o déficit de volume é um frequente alvo terapêutico no atendimento desses animais, seja por vômito, diarreia ou poliúria. A determinação do estado de hidratação do animal é de extrema importância nesse momento, e para isso usamos um conjunto de sinais clínicos que nos ajudam a classificar o nível de hidratação, como a frequência cardíaca, peso corpóreo, pressão arterial, tempo de preenchimento capilar, ausculta pulmonar, volume do pulso, turgor da pele, umidade das mucosas e presença de secreção serosa nasal, além de sinais laboratoriais como valores de proteínas plasmáticas e hematócrito. Ainda podemos utilizar a determinação da volemia de forma mais específica com pressão venosa central ( COWGILL e FRANCEY 2006) 21 Oligúria e anúria representam risco de morte para o paciente com IRA. A oligúria é comumente definida com produção de urina menor que 0,27ml/kg/h ou 6,5ml/kg/dia, considerando anúria a não produção de urina ou débito menor que 0,08ml/kg/h. Anúria ou oligúria causadas por falência hemodinâmica respondem com produção de urina assim que a reposição volêmica é realizada e a pressão arterial restaurada. (COWGILL e FRANCEY, 2005). O fluido de escolha para reposição volêmica inicial nas desidratações mais leves é a solução fisiológica por via intravenosa nas primeiras 2 a 4 horas, com cuidado especial para os animais que apresentem oligúria, doença cardiovascular e sepse, a fim de evitar a sobrecarga hídrica e a congestão circulatória. Se ocorrer desidratação associada a hipovolemia grave e hipotensão ou hemorragias onde a capacidade de oxigenação esteja comprometida, a reposição de cristaloide deve ser na taxa de 90ml/kg/h em cães, e o uso de soluções coloides sintéticas deve ser considerado na taxa de 10 a 20ml/kg em bolus associado ao cristaloide. Fluido adicional à correção da desidratação pode ser administrado com cautela se o déficit inicial estimado foi insuficiente para restaurar a normotensão e promover a formação de urina. (LANGSTON, 2008). Em animais com normo ou poliúria a fluidoterapia deve permanecer ajustada a dose para as taxas de manutenção, perdas sensíveis e insensíveis (DIBARTOLA, 2006). Nos casos em que a IRA progride e a oligúria aparece, a retenção de solutos, hiper-idratação, hipercalemia e acidose metabólica rapidamente colocam em risco a vida do paciente e a oligúria ou anúria devem ser alvo da terapia para sua reversão. A administração de fluidos e medicações pelas vias enteral e parental se tornam problemáticas em animais oligúricos ou anúricos apesar da necessidade contínua dessas terapias. Como consequências da permanência da fluidoterapia em animais oligúricos ou anúricos estão à sobrecarga hídrica, hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e edema pulmonar. (MEHTA et al. 2002; DE VRIESE, 2003).O desejo de promover a diurese em animais oligúricos ou anúricos solidificou o uso empírico de diuréticos (manitol, furosemida) e vasodilatadores ( dopamina). Recentemente a validade dessas práticas empíricas foram contestadas devido a evidências quanto a ineficácia e a exposição do paciente a riscos associados ao uso de diuréticos e vasodilatadores na prática clínica. Se adiada a partir de algumas horas após a fase de iniciação do insulto renal, o uso de diuréticos pode alterar o curso, a morfologia e o desfecho da IRA 22 negativamente. Frequentemente estes riscos são superados pela necessidade de gerir outras complicações mais graves decorrentes da hipervolemia (LAMEIRE et al. 2009). O uso de manitol na prática clinica como diurético osmótico é comum, apesar de não haver base científica que documente seu uso associado a prevenção ou ao melhor desfecho da IRA. Os efeitos terapêuticos do manitol incluem expansão do líquido extracelular (LEC), diminui a resistência vascular, aumenta o fluxo sanguíneo renal e consequentemente a taxa de filtração glomerular e reduz o edema celular. Seu uso pode promover a produção de urina quando a fluidoterapia falhar, na dose de 0,25 a 1g/kg via intravenosa em bolus lento, porém os efeitos adversos devem ser controlados como a sobrecarga hídrica, edema pulmonar, hiperosmolaridade e hipernatremia. (LAMEIRE et al 2009). Quanto à furosemida, conhecido diurético de alça, não há na Medicina Veterinária estudos prospectivos, randomizados que avaliem a eficácia do seu uso no paciente com IRA estabelecida. Estudos em animais normais demonstram a capacidade da furosemida em aumentar o débito urinário, mas não é possível extrapolar essas observações para animais com IRA, mas confirmam as observações em pacientes humanos com IRA, que a furosemida promove um aumento inconsistente na formação de urina.( MEHTA et al, 2002). A conversão de um estado oligúrico em não oligúrico pode facilitar o manejo da terapia, no entanto o uso da furosemida não deve ser considerado milagroso, mesmo quando promove diurese, a ponto de deixar o clinico desatento a quantidade de volume infundido para que a hipervolmia não ocorra. Não há indicação para o uso da furosemida em animais com IRA não oligúrica, exceto nos casos de hiper-idratação e hipercalemia. (COWGILL & LANGSTON, 2011). A dopamina é um agonista dopaminérgico, com efeito, dose dependente, que pode promover vasodilatação pré-glomerular, e aumento do fluxo sanguíneo renal provocando diurese em doses baixas (0,5 a 3 µg/kg), porém em doses mais elevadas ou administração prolongada pode provocar estimulação de receptores α e ß adrenérgicos levando a vasoconstrição renal e maior dano em animais com IRA. A estreita margem terapêutica e os efeitos de sobreposição de dose associada a cinética eliminação renal desconhecida em animais com IRA tornam seu uso arriscado nessa população de pacientes. (SIGRIST 2007). 23 Em casos de anúria refratária a terapia medicamentosa, a hemodiálise ou a diálise peritoneal são a única alternativa para a gestão da hipervolemia e dos distúrbios eletrolíticos. O processo dialítico permite a ultrafiltração, que retira volume do paciente, restabelecendo a euvolemia além de facilitar a administração de fluidos, medicamentos e dietas enterais e parenterais. (COWGILL & FRANCEY 2005). 2 - Alterações hemodinâmicas, ácido-base e eletrolíticas. A ocorrência de vômitos é frequente devido à irritação gástrica causada pela uremia, que culmina em desidratação e hipovolemia. A hipertermia desencadeada por mediadores inflamatórios e leptospiremia causa vasodilatação. A poliúria ocorre geralmente nos quadros de IRA menos grave, devido à natriurese pela dimiuição da reabsorção de sódio e glicose e também pela resistência à vasopressina na medula renal. Hemorragias podem ocorrer devido à vasculite, trombocitopenia e uremia. A soma desses fatores, desidratação, hipovolemia, vasodilatação e hemorragias, culminam em hipotensão, diminuição do fluxo sanguíneo renal, isquemia e necrose tubular. (DAMINET et al, 2008). A terapia anti-emética e a proteção gástrica são necessárias na administração dos desequilíbrios de volume, ácido base e eletrolíticos e no sucesso do suporte nutricional. Antagonistas de receptores H2 como a ranitidina são comumente utilizados e causam redução na produção de ácido gástrico, mas não são suficientes na gestão da gastrite urêmica. O uso de omeprazol, inibidor da bomba de prótons, reduz a produção de ácido gástrico por até 24 horas com melhor eficiência que a ranitidina. O sucralfato, um sal de alumínio, se liga fortemente a proteína exposta em úlceras gástrica formando barreira protetora, também estimula a produção de muco,bicarbonato e prostaglandina na mucosa e melhora a integridade microvascular e o fluxo de sangue na mucosa gástrica, e portanto é recomendado na terapia de gestão de úlceras e irritação gástricas. O uso de anti-eméticos de ação central deve ser adotado, como a metoclopramida e a ondasetrona, recentemente aprovada para o uso em cães, o maropitant mostrou eficácia superior às outras drogas anti-eméticas em animais com IRA. (SEDLACEK et al. 2008). 24 A inibição da Na,K,ATPase por glicoproteínas potencializa o déficit de potássio urinário, levando a quadro de hipocalemia em animais com IRA não oligúrica na Leptospirose. A poliúria também pode ser explicada pela ação da GLP que causa diminuição da reabsorção de sódio e natriurese, além de resistência à vasopressina na medula renal. A hipercalemia nos cães com leptospirose ocorre somente nos casos de IRA oligo-anúrica, ou seja, nos quadros terminais mais graves e com pior prognóstico. (SEGURO et al, 2008).Nos quadros de hipercalemia pode ocorrer fraqueza muscular, redução da contratilidade cardíaca, perturbações na condução do impulso elétrico cardíaco,arritmias cardíacas e perturbações neurológicas. As alterações eletrocardiográficas devido a hipercalemia podem aparecer com níveis de potássio sérico a partir de 6,5mEq/L, e incluem bradicardia, diminuição na amplitude da onda P, prolongamento do intervalo PR, complexo QRS ampliado, ausência de onda P e depressão do segmento ST. Com concentrações séricas de potássio superiores a 8 mEq/L arritmias potencialmente fatais podem ocorrer associadas a taquicardia ventricular paroxística, fibrilação ventricular e assistolia. (DIBARTOLA & MORAIS, 2006). Para a correção da hipercalemia moderada podemos utilizar estratégias terapêuticas como a fluidoterapia, a correção da acidemia e o aumento do fluxo urinário, mas se a hipercalemia for severa e resultar em alterações eletrocardiográficas, drogas que diminuam a concentração sérica de potássio ou que revertam as alterações na condução cardíaca devem ser utilizadas. (ELLIOT & GRAUER, 2007). As drogas que podem ajudar a diminuir a concentração sérica de potássio são: o bicarbonato de sódio, pela correção da acidemia, pois faz o potássio se mover para o meio intracelular, ou pode-se utilizar insulina regular com glicose, que também visa movimentar o potássio para dentro das células e o gluconato de cálcio que segue a mesma lógica de utilização, porém deve ser utilizado somente em animais com alterações eletrocardiográficas que demonstrem risco de morte. (HOPPER, 2007). Existem ainda resinas trocadoras de potássio, como o poliestirenossulfonato de cálcio, que são administradas por via oral, que reduzem a concentração sérica de potássio, ao invés de apenas movimentá-lo entre compartimentos celulares. Se a terapia convencional falhar em promover a resolução rápida e duradoura da hipercalemia, a hemodiálise está indicada como única alternativa, pois é o único método que atinge a eliminação total da carga excessiva de potássio. (SANTOS et al., 2003) 25 O principal sítio da regulação da homeostase ácido base é o rim. A acidose metabólica desenvolve a partir da produção excessiva de ácidos metabólicos não voláteis, déficit de filtração da carga de ácidos e diminuição da reabsorção de bicarbonato. A acidose metabólica grave produz taquipnéia, diminuição da contratilidade cardíaca, da pressão arterial, do fluxo sanguíneo hepático, além de vasodilatação arterial periférica e vasoconstrição venosa. A acidemia provoca também resistência à insulina, levando a oxidação de aminoácidos e ao catabolismo protéico que agrava a azotemia e o desperdício de energia proteica. A correção da acidose metabólica deve ser considerada para a manutenção dos níveis de bicarbonato sérico entre 18 e 20 mEq/L, e a reposição pode ser realizada através da via intravenosa ou enteral. (DIBARTOLA 2006). Hiperfosfatemia devido à dificuldade de eliminação renal do fosfato é comum em animais com IRA e a terapia é baseada no uso de quelantes de fósforo por via oral como o hidróxido de alumínio, ou o carbonato de cálcio na ausência de hipercalcemia. Quelantes sintéticos que não são absorvidos pelo trato gastrointestinal, como o cloridrato de sevelamer, já são comuns na prática clínica em humanos, mas ainda não difundida na medicina veterinária devido ao custo elevado. (DAMINET et al, 2008). 3 - Suporte nutricional O apoio nutricional nos quadros de IRA é imprescindível na recuperação e sobrevivência dos animais, deve atenuar o catabolismo, o hipermetabolismo e manter a massa corporal magra. Não é fácil atingir esses objetivos, já que o paciente apresenta vômitos e anorexia. O suporte dietético enteral ou parenteral deve ser instituído o mais cedo possível nesses pacientes a fim de evitar o desperdício de energia proteica, aliviar a azotemia, minimizar os distúrbios eletrolíticos e mineral e favorecer a reparação e regeneração do tecido renal. Contrariando a prática histórica, a alimentação enteral também é recomendada em animais onde o vômito não foi completamente controlado. Devem ser fornecidos na dieta enteral, níveis calóricos e proteicos que supram o hipermetabolismo, para que o emagrecimento e a caquexia não ocorram, pois estas 26 condições corporais impactam negativamente no prognóstico do paciente. (FIACCADORI & CREMASCHI, 2009). 4 - Terapia de substituição renal (TSR). A TSR compreende técnicas extracorpóreas, como a HD intermitente, técnicas de diálise contínua por HD e a diálise peritoneal. Nos últimos 20 anos tornaram-se o padrão avançado de terapia em animais urêmicos. Apesar da expansão dos interesses nas TSR sua disponibilidade permanece regional e reduzida. A IRA é a indicação mais comum de TSR em cães e gatos. (LANGSTON 2008). Sem a disponibilidade das TSR, animais que não respondem a terapia clínica estão destinados a morrer de complicações da uremia antes que a reparação da lesão renal aconteça. As indicações incontestáveis da TSR incluem, hipervolemia grave, hipercalemia, graves distúrbios ácido base e eletrolíticos, anúria e uremia, porém permanece ignorado o momento para o início da diálise e a modalidade ideal a ser instituída. (COWGILL & FRANCEY 2006). Adin & Cowgill (2000) realizaram estudo clínico retrospectivo com 36 cães portadores de Leptospirose e azotemia grave, tratados com terapia conservadora (22 animais) e tratamento hemodialítico (14 animais). Dos 14 animais tratados com HD, 12 sobreviveram, e dos 22 animais que receberam tratamento conservador, 16 sobreviveram, esses resultados colaboram com a afirmação de que o tratamento com HD parece melhorar o prognóstico para cães com azotemia grave, considerando que os animais destinados a TSR eram animais clinicamente mais graves. Cowgill (2011), baseado em sua experiência clínica instituiu diretriz pela qual a TSR deve se iniciar antes do aparecimento da uremia grave associada às fases IV e V da IRA (Figura 1). O atraso no início da terapia dialítica causado pelas tentativas conservadoras frustradas piora a condição clínica do animal e aumentam o risco de morte devido á complicações da uremia. Não existe contra indicações específicas para TSR em uremias leve, como estratégia profilática para impedir a progressão da IRA e diminuir a letalidade da doença associada à uremia aguda e a terapia clínica agressiva. (FIEGHEN et al. 2009). 27 A HD aumentou a eficiência e reduziu o trabalho médico intensivo comparado com outros métodos dialíticos como a diálise peritoneal e a terapia de substituição renal contínua (CRRT), além de ser a modalidade dialítica melhor estabelecida na literatura para pequenos animais. (ROSS & LABATO 2006). Cowgill (2011) descreveu baseado em trabalhos retrospectivos, que a taxa de sobrevivência de cães com leptospirose tratados somente com terapia conservadora foi de 52 a 82%, enquanto a taxa de sobrevivência da mesma população de animais tratados com terapia dialítica foi de 76 a 86%. A falha na recuperação renal após duas a quatro semanas após o início da terapia conservadora é utilizada como ponto de referência da irreversibilidade da função renal. Com a disponibilidade da HD esse critério deverá ser reavaliado. Muitos animais que aparentam falha renal irreversível podem recuperar a função se mantidos em hemodiálise por mais de quatro semanas. Não há biomarcadores válidos para a previsão da recuperação renal individual, mas muitas vezes é possível ter uma perspectiva de melhora ao analisar a evolução da cinética da ureia e da creatinina no decorrer das sessões de hemodiálise. (SEGEV et al 2008). Estágios da IRA a Creatinina sérica (mg/dL) Descrição clínica Estagio I < 1,6 IRA não azotemica ou IRA responsiva reposição de volume. Histórico, evidência clínica, laboratorial ou de imagem de IRA. Progressivo aumento não azotemico na creatinina sérica; ≥ 0,3 mg/dL em 48 horas. Estágio II 1,6 - 2,5 IRA leve: histórico, evidência clínica, laboratorial ou de imagem de IRA ou azotemia leve ou progressiva. Estágio III 2,6 - 5,0 IRA moderada a severa: IRA documentada e piora progressiva da azotemia e falência renal funcional. Estágio IV 5,1 - 10,0 Estágio V > 10,0 a Cada fase da IRA foi substadiada com base na produção de urina em (O) oligúrica ou (NO) não oligúrica e na necessidade de terapia renal substitutiva (TRS). Figura 1. Sistema de estadiamento proposto para IRA em cães e gatos.(Adaptado de Cowgill, L.D. Nephrology and Urology os Small Animal. 2011.) 28 5– Hemodiálise. Em 1913, os cientistas americanos Abel, Rowtree e Turner realizaram a primeira sessão de HD em cães, e em 1924 a primeira HD humana foi realizada pelo médico alemão Georg Haas. A utilização na Medicina Veterinária deste método terapêutico teve origem em 1980, no hospital veterinário da Universidade da Califórnia em Davis, onde 10 anos depois foi criada a primeira unidade de hemodiálise para animais de companhia. (HASS, 2008). A maioria das técnicas utilizadas na prática da hemodiálise veterinária são adaptadas da Medicina Humana, com algumas alterações devido principalmente ao tamanho relativamente menor dos pacientes veterinários. (SEGEV, 2010). A HD é definida como um procedimento terapêutico baseado na circulação sanguínea extracorpórea do paciente que permite a filtração do sangue através de um “rim artificial”, o dialisador, com a finalidade de remover toxinas urêmicas, estabelecer o equilíbrio acido base e hidro-eletrolítico adequados, bem como aumentar a esperança de vida dos pacientes que apresentam uremia grave ao oferecer uma oportunidade de recuperação (SEGEV, KASS, et al., 2008). A palavra diálise refere-se ao movimento de solutos e água, através de uma membrana semipermeável de acordo com os gradientes de concentração, ou seja, a composição do sangue é modificada pela transferência de soluto e água através de forças como a difusão e convecção (COWGILL e GUILLAUMIN, 2013). A solução dialisante, é formulada para favorecer o movimento dos produtos urêmicos, e de moléculas como a creatinina, para fora do plasma sanguíneo, mantendo os seus níveis fisiológicos adequados, assim como, repor substâncias permeáveis, como o bicarbonato (FISCHER, 2004). A HD além de corrigir a uremia e os distúrbios eletrolíticos e ácido básico, permite a ultrafiltração com maior eficiência que a diálise peritoneal, que é essencial na remoção de volume que ocorre no paciente oligo-anúrico, devido à hiperidratação iatrogênica, consequente edema pulmonar e também nos casos de insuficiência cardíaca congestiva (ELLIOT, 2000). A terapêutica dialítica reduz a maioria das consequências clínicas da uremia aguda e amplia a expectativa de vida dos animais com IRA (LANGSTON, 2002). 29 Para a realização de um tratamento hemodialítico é necessária a presença de um aparelho de hemodiálise, soluções dialisantes adequadas a cada caso, bem como cateteres venosos centrais que permitam um acesso vascular adequado. Associado a estes componentes, é fundamental a presença de pessoal especializado. (FISCHER, 2004). 5.1.Cateter venoso central O cateter venoso central deve permitir um elevado fluxo de sangue, do paciente para o circuito extracorpóreo de forma contínua e constante, além de um fluxo da circulação extracorpórea para o paciente sem complicações. O fluxo sanguíneo adequado é parte essencial no processo de depuração do sangue durante o processo dialítico. (FRANCEY, 2010). Segundo alguns autores, para a colocação de um cateter não tunelizado, não é normalmente necessária qualquer sedação, exceto em algumas situações, nas quais o animal está muito agitado ou agressivo, enquanto outros defendem a administração de sedação e até anestesia, por segurança, na maioria dos casos (FRANCEY, 2010). No entanto, em qualquer uma das opiniões, deve-se realizar a anestesia local, utilizando fármacos como a lidocaína, ou outros. No caso de ser necessário o acesso direto ao vaso, utiliza-se como anestésico, o propofol (LANGSTON, 2010). Quando se pretende um acesso vascular imediato, como em situações agudas, este pode ser adquirido com cateteres de poliuretano ou de silicone, colocados pór via percutânea com uma ligeira sedação e anestesia local. Estes cateteres temporários, ou também designados como cateteres não-tunelizados, são apropriados para sessões de HD que durem no máximo de duas a quatro semanas. Deste modo, quando se torna necessário estender o tratamento, deve ser considerada a colocação de um cateter permanente tunelizado (FRANCEY, 2010). O cateter venoso central utilizado para os tratamentos hemodialíticos, deve ser de duplo lúmen e colocado na veia jugular externa, através de técnica percutânea (técnica de Seldinger) ou cirúrgica, pois é o único vaso que proporciona um fluxo 30 sanguíneo adequado e seguida, a ponta do cateter deverá avançar até ao átrio direito ou veia cava cranial, e no caso de se tratar de um cateter permanente, a porção extravascular deste é tunelizada por via subcutânea. A veia jugular externa direita deve ser o local de preferência para o acesso venoso, pois o trajeto até ao átrio direito é mais simples. No entanto, pode-se utilizar o lado esquerdo se a veia jugular externa direita apresentar condições não desejáveis. Após a colocação do cateter deve-se realizar exame radiográfico para confirmar a localização do mesmo e ajustá-lo caso necessário (CHALHOUB, LANGSTON e POEPPEL, 2011). Para manter o cateter patente e viável durante todo o curso do tratamento dialítico, é necessária uma adequada manutenção do mesmo. Esta requer um cuidado meticuloso do orifício de saída, utilização restrita para indicações não dialíticas e manipulação asséptica do mesmo. Devem-se destacar procedimentos necessários para assegurar a viabilidade do cateter venoso central, dentro dos quais se destacam, a sua manipulação asséptica; uso de luvas e máscara; limpeza do orifício de saída do cateter; verificação da presença ou não de áreas inflamadas, edemaciadas, com odor ou presença de descarga de secreções na saída do cateter, e aplicação de soluções anticoagulantes, uma vez que a formação de trombos é uma das complicações mais comuns na sua utilização, inviabilizando a sessão dialítica. (CHALHOUB, LANGSTON e POEPPEL, 2011). Entre as sessões de diálise, o cateter deve ter seu lúmen preenchido com solução anticoagulante para evitar a formação de trombos o que inviabiliza sua utilização. Heparina não fracionada é geralmente a solução mais utilizada, na concentração de 500 – 1000 U/ml para gatos e 1000 – 5000 U/ml para cães. No início de cada sessão, a heparina deve ser aspirada antes da conexão das linhas arterial e venosa. Caso ocorra a trombose do cateter, o fluxo de sangue (Qb) estará diminuído ou inexistente. Em pacientes veterinários a aspirina, agente antiplaquetário, é rotineiramente utilizada na prevenção de trombose associada ao cateter. (DAPNER, 2001). Se a trombose do cateter impedir a aspiração da heparina e consequentemente do sangue ou ainda não permitir um fluxo de sangue favorável para o tratamento, pode-se realizar a lavagem do cateter com solução salina em bolus e se o fluxo de sangue não for restaurado, um ativador de plasminogênio tecidual (alteplase) pode ser instilado no lúmen ocluído do cateter. A aspiração do lúmen é realizada após 10 minutos de permanência da solução, se o trombo não for aspirado e o fluxo restaurado, a permanência é prolongada por 2 – 3 31 horas, e caso o Qb ainda não for satisfatório, o cateter pode permanecer com o ativador de plasminogênio tecidual por até 48 horas e ser retirado na próxima sessão. O cateter deve ser substiuido por um novo caso nenhuma abordagem resolva a obstrução do mesmo (LANGSTON, 2011). A recirculação do acesso diminui a eficiência do tratamento, uma vez que o sangue que entra no cateter para ser dialisado é diluído com o sangue que acabou de sair do dialisador e que possui baixa quantidade de solutos. Com as linhas do circuito de sangue conectados da forma convencional, a recirculação do acesso é geralmente inferior a 5%, mas invertendo as ligações, de forma que o sangue é retirado do paciente pelo orifício distal do cateter (venoso), a taxa de recirculação sobe para 13 – 24%. Se o fluxo de sangue é maior com os circuitos conectados de forma invertida do que com a conexão convencional, o fluxo de sangue maior compensa a diminuição da eficiência devido a recirculação do acesso. Durante os tratamentos iniciais de hemodiálise intermitente, onde a eficiência é propositalmente menor a fim de evitar complicações, as conexões podem ser invertidas para criar recirculação do acesso. (LANGSTON, 2011). 5.2. Dialisador Também conhecido como “rim artificial”, o dialisador possibilita a modificação da composição sanguínea do paciente por ser um aglomerado de inúmeras fibras ocas que constituem uma membrana semi permeável, através da qual se processam as trocas. (SEGEV, 2010). O sangue circula no centro das fibras, sendo estas banhadas pela solução dialisante. Esta configuração promove uma grande superfície de contato para as trocas se realizarem, ao mesmo tempo em que utiliza um volume mínimo de sangue para o preenchimento do dialisador. Normalmente, o sangue entra pelo topo do dialisador, e sai pelo fundo ou base do mesmo. Por sua vez, a solução dialisante executa o trajeto contrário, entrando no dialisador pelo fundo, ou base deste, e saindo pelo topo, no sentido de manter um mecanismo de contracorrente, sendo este responsável pela manutenção de um gradiente de concentração elevado ao longo de todo o comprimento do dialisador, possibilitando uma maior eficiência nas trocas entre o sangue e a solução dialisante (LANGSTON, 2011). No dialisador, existem duas vias através das quais as toxinas são removidas: difusão e convecção. Na difusão, os solutos são transportados de acordo com o 32 gradiente de concentração, estabelecido entre o sangue e a solução dialisante, isto é, de onde há maior concentração, para onde esta é menor, até se tornarem iguais em ambos os lados da membrana. Desta forma, uma vez que a concentração sanguínea de ureia e creatinina é elevada nos pacientes com insuficiência renal, estas passam do sangue para o dialisante continuamente, desde que este seja reposto, pois desta forma, as concentrações em ambos nunca se igualarão (SEGEV, 2010). A taxa de difusão é determinada pelo gradiente de concentração do respectivo soluto, pelas suas características (como o peso, movimento cinético, entre outros), e permeabilidade da membrana Assim, moléculas pequenas e não ligadas a proteínas, passam facilmente através da membrana semipermeável, como é o caso da ureia (FISCHER, 2004). Na convecção, a remoção de solutos está associada à remoção de fluidos, sendo esta fundamentalmente determinada por um processo designado ultrafiltração. Esta é alcançada pelo estabelecimento de gradiente de pressão através da membrana, forçando a passagem de fluidos do sangue para o dialisante (SEGEV, 2010). Esta arrasta consigo solutos que se difundem na água ultrafiltrada, independentemente do gradiente de concentração em ambos os lados da membrana semipermeável. A pressão transmembrana necessária para permitir a ocorrência da ultrafiltração, é estabelecida pela bomba de sangue do circuito extracorporal, que cria uma pressão positiva no compartimento sanguíneo do dialisador, associada a uma pressão negativa, produzida pela bomba de vácuo presente no compartimento do dialisante (ELLIOT, 2000). O tamanho ideal do poro de um dialisador deve permitir fácil passagem de toxinas urêmicas, ou seja, moléculas pequenas e médias, enquanto restringe a perda de albumina. Membranas de celulose ou celulose modificada possuem poros menores comparadas com membranas sintéticas, o que limita a depuração de moléculas médias. A membrana de diálise pode causar reações de hipersensibilidade, porém as membranas sintéticas são mais biocompativeis que as membranas de celulose ou celulose modificada. Os dialisadores são de uso único na Medicina Veterinária em pacientes agudos. (HOENICH e RONCO, 2008) O clearance de um dialisador é calculado pelo volume de sangue depurado de um determinado soluto durante uma única passagem pelo dialisador em um fluxo Qb predeterminado (200, 300 e 400 ml/min.), fluxo da solução dialisante (Qd) de 500ml/min e taxa de ultrafiltração. O clearance de ureia, creatinina, fósforo, vitamina B12 e inulina são comumente relatados como moléculas de interesse, ou marcadores da depuração de outros solutos (ex: vitamina B12 e inulina como marcadores de depuração 33 de moléculas médias). Clearance é calculado em ml/min e abreviado com Kd [soluto]. As especificações de clearance dos dialisadores dão mensuradas in vitro e o desempenho real é geralmente mais baixo. (LANGSTON, 2011). O coeficiente de ultrafiltração (Kuf) é uma medida de permeabilidade hidráulica da membrana, ou seja, é o numero de mililitros de água que pode ser removido por hora a cada 1mmHg de pressão transmembrana. A pressão transmembrana pode ser descrita como a diferença da pressão hidráulica entre o compartimento de sangue e o compartimento da solução dialisante. Dialisadores com maior Kuf podem remover maior quantidade de água do paciente em determinado tempo com uma pressão transmembrana menor, e para isso possuem um poro maior. Na medicina veterinária mesmo dialisadores com baixo Kuf são suficientes para promover uma ultrafiltração eficiente e normalizar a hidratação dos pacientes. (YEUN e DEPNER, 2005) (LANGSTON, 2011). 5.3. Qualidade da Água A água que compõem a solução dialisante, deve ser tratada, geralmente por osmose reversa, pois se esta possuir contaminantes, que, ao entrarem em contato com o sangue do paciente, poderão difundir-se para a corrente sanguínea. (LANGSTON, 2010) Dentre os contaminantes hídricos, consideramos três grandes grupos: substâncias inorgânicas dissolvidas, substâncias orgânicas dissolvidas e bactérias/pirógeneos. Nestes grupos estão incluídos íons como o cálcio, magnésio, sódio, potássio, alumínio, sulfato, nitrato, chumbo, cobre e zinco, assim como as cloraminas. Um design apropriado de um sistema de tratamento de águas depende da fonte e qualidade da mesma, no entanto, existem sempre requisitos mínimos que devem ser cumpridos, tais como: a presença de filtros de sedimentos, para aprisionar partículas de diferentes tamanhos; um descalcificador; filtros de carvão ativado; unidade de osmose reversa e sistema de distribuição de água. (LANGSTON, 2010). 5.4. Solução Dialisante A solução de eletrólitos e a solução tampão são diluídas em água purificada para formar a solução dialisante final. Na HD intermitente a máquina de hemodiálise realiza 34 essa diluição e entrega a solução pronta na velocidade de 300 – 800 ml/min. Uma solução altamente concentrada contendo sódio, cloreto, glicose, magnésio e outros componentes na concentração desejada como potássio e cálcio, são diluídos em água purificada até atingir a concentração de sódio desejada com base na condutividade da solução. A concentração dos outros componentes será proporcional a concentração de sódio e não podem ser ajustados individualmente pela máquina de HD. O bicarbonato é oferecido individualmente e a máquina permite a escolha da concentração desejada, independente da concentração de sódio. (ELLIOT, 2000). 5.5. Prescrição de hemodiálise. A principal aplicação da HD intermitente é a eliminação transitória de inúmeros solutos inespecíficos e de fluidos retidos durante a IRA. Os benefícios da HD intermitente são transitórios, uma vez que com o fim da sessão de hemodiálise, a concentração de ureia e todos os solutos urêmicos começam a aumentar devido a geração espontânea, até que um novo estado de equilíbrio seja alcançado ou até uma nova sessão de HD. A intensidade do tratamento pode ser ajustado alterando a taxa de fluxo de sangue (Qb), a taxa de fluxo da solução dialisante (Qd), o clearance do hemodialisador (Kd), a taxa de ultrafiltração (UF) e o tempo de diálise (Td), de modo a adequar a prescrição ao tamanho e necessidades do animal. (COWGILL, 2011). Após a dialise, a concentração de ureia e outros solutos urêmicos acumulados, aumentam proporcionalmente a geração de ureia a partir da proteína dietética ingerida e ao catabolismo proteico endógeno, e inversamente ao clearance da função renal residual (Kr). O pico de ureia pré diálise e a exposição á ureia e outros solutos urêmicos será menor nos pacientes mais frequentemente e eficazmente dialisados. A prescrição da hemodiálise deve considerar o estado fisiológico, hematológico e bioquímico dos pacientes antes da sessão, bem como o alvo das modificações esperadas ao final de cada tratamento. A prescrição da diálise é individualizada para cada paciente e cada sessão de HD e visa atingir a opção dialítica para remoção eficiente de solutos e melhor ultrafiltração sem riscos terapêuticos para o paciente. (COWGILL e GUILLAUMIN, 2013). A escolha do dialisador deve considerar o tipo de membrana, o tamanho dos poros e o volume total de sangue para preenchê-lo, ou seja, o priming. A membrana mais utilizada atualmente na medicina veterinária é composta de polissulfona, uma 35 membrana sintética com melhor biocompatibilidade que as membranas de celulose, ou celulose modificada. Quanto maior o tamanho do dialisador, maior será sua superfície de membrana para trocas de água e soluto e, portanto mais eficaz será a sessão de hemodiálise. No entanto, quanto maior o dialisador, maior será seu priming e consequentemente maior o volume de sangue exigido para preencher o circuito extracorpóreo. Portanto o tamanho do dialisador deve maximizar a eficiência da sessão e minimizar o volume de sangue extracorpóreo. O volume de sangue extracorpóreo suficiente para preencher o priming das linhas do circuito e do dialisador deve ser inferior a 10% do volume total de sangue do paciente. Em situações onde o priming é maior que 10% do volume de sangue do paciente, é vantajoso preencher o circuito extracorpóreo com expansor plasmático para minimizar a hipotensão e a hipovolemia. (BLOOM e LABATO, 2011). O sangue ao entrar em contato com a membrana do dialisador ativa a cascata de coagulação, portanto, a HD pode ser considerada um procedimento trombótico e a anticoagulação é quase sempre utilizada nas sessões. O anticoagulante mais comumente utilizado na HD é a heparina não fracionada, que é infundida diretamente no circuito de sangue extracorpóreo na dose de 25 – 50U/Kg no inicio da sessão e 25U/Kg a cada hora. Na ultima hora da sessão não é realizada a heparina e se considera o paciente heparinizado por 6 a 8 horas após o termino da mesma. Se disponível, o tempo de coagulação ativado (TCA) do paciente deve ser monitorado a cada hora da sessão, com o objetivo de manter o mesmo em 1,6 a 2 vezes maior que o normal, ou seja, entre 160 a 200 segundos. (COWGILL e FRANCEY, 2006). Embora a HD intermitente seja eficaz na redução dos níveis de ureia de forma rápida, a diminuição brusca de ureia ou dos níveis de sódio leva a diminuição da osmolaridade do plasma sanguíneo, o que pode desencadear o deslocamento rápido de fluido para as células do interstício e dos órgãos, e gerar quadros de edema cerebral, o que é denominado como síndrome do desequilíbrio da diálise (SDD). Por esse motivo, as sessões iniciais de HD são programadas para serem menos eficientes, de modo que se ajusta as taxas de fluxo de sangue e fluxo da solução dialisante para obter fluxos mais lentos, com tempo mais curto. (BLOOM e LABATO, 2011). O cálculo da eficiência desejada da sessão de hemodiálise baseada na gravidade da uremia é realizado através da taxa de redução da ureia (URR). Gráficos baseados em dados obtidos em estudos em cães e gatos na Unidade de Hemodiálise para Animais de Companhia no Hospital Veterinário da Universidade da Califórnia em Davis, EUA 36 determinaram o volume de sangue que precisa ser processado pelo dialisador e a taxa de fluxo de sangue correspondente para atingir a determinada URR. Na HD intermitente a taxa de fluxo de sangue é o principal determinante no clearence de moléculas pequenas como a ureia e o potássio. Portanto uma maneira de começar uma prescrição de HD é determinara a URR desejada (Figura 2) e o volume de sangue correspondente que deverá ser dialisado (Figura 3). O tempo de duração da sessão foi estabelecido também na Universidade da California em 1,5 a 2 horas para a primeira, 3 horas para a segunda e de 4 a 5 horas nas demais sessões. Após determinar o volume de sangue que deverá ser dialisado e o tempo da sessão, a taxa de fluxo de sangue é facilmente calculada em ml/min. Uma URR horária (Figura 2) também pode ser utilizada como guia adicional para determinar o tempo de tratamento adequado para minimizar as intercorrências intradialíticas e maximizar a eficiência da sessão. Sessão inicial Uréia < 200 mg/dL URR < 0,5, não > 0,1 URR/h 200 - 300 mg/dL URR 0,3 - 0,5, não > 0,1 URR/h > 300 mg/dL URR ≤ 0,4, não > 0,05 - 0,07 URR/h Segunda sessão Uréia < 200 mg/dL URR 0,6 - 0,7 / 0,12 - 0,15 URR/h 200 - 300 mg/dL URR 0,6 - 0,4, não > 0,05 - 0,1 URR/h > 300 mg/dL URR ≤ 0,4, não > 0,05 - 0,1 URR/h Terceira e demais sessões Uréia < 200 mg/dL URR > 0,8 / > 0,15 URR/h 200 - 300 mg/dL URR 0,5 - 0,6 / 0,15 - 0,1 URR/h > 300 mg/dL URR 0,5 - 0,6 / < 0,1 URR/h FIGURA 2. Determinação da URR total e horária por sessão de HD, baseada no grau de uremia e número de sessões. (Adaptado de COWGILL e FRANCEY, 2006) (COWGILL e GUILLAUMIN, 2013). 37 FIGURA 3. Determinação do volume de sangue por quilo de peso corporal que deverá ser processado durante a sessão de hemodiálise a partir da URR desejada. (COWGILL e FRANCEY, 2006) (COWGILL e GUILLAUMIN, 2013). A grande discussão sobre HD envolve a remoção a partir do sangue de solutos como a ureia, creatinina, potássio entre outros eletrólitos, no entanto durante a hemodiálise o fluido também pode ser removido da corrente sanguínea, esse processo é chamado de ultrafiltração o que beneficia os pacientes hipervolêmicos. A velocidade e o volume de ultrafiltração alcançados dependem da estabilidade hemodinâmica do animal. A ultrafiltração excessiva pode remover líquido do espaço intravascular mais rapidamente do que a taxa de redistribuição a partir do interstício e do compartimento intracelular. Esse desequilíbrio pode causar hipovolemia, hipotensão e colapso circulatório, caso a ultrafiltração não seja prescrita e monitorada cuidadosamente. (BLOOM e LABATO, 2011). Baixas taxas de ultrafiltração, entre 5 a 10 ml/kg/h, são geralmente bem toleradas em cães e gatos, taxas mais rápidas devem ser prescritas com cautela e ajustadas de acordo com os sinais vitais e a pressão arterial do paciente (COWGILL e GUILLAUMIN, 2013). 38 5.6. Intercorrências dialíticas As intercorrências associadas à HD foram amplamente reportadas e incluem, hipotensão, hipovolemia, problemas com o acesso vascular, complicações neurológicas, respiratórias, gastrointestinais e hematológicas. (ELLIOT, 2000). Hipotensão e hipovolemia ocorrem durante a sessão de HD como resultado da ultrafiltração excessiva ou de grande volume de sangue no circuito extracorpóreo, e podem persistir durante ou entre as sessões de HD devido a perda de sangue em casos de hemorragia secundaria a ulceração urêmica, heparinização excessiva, coagulopatia ou ainda a coagulação do circuito extracorpóreo onde o sangue removido do paciente não pode ser totalmente devolvido. O tratamento inclui diminuição da taxa de ultrafiltração, terapia com cristaloide ou coloide, terapia vasoconstritora e interrupção da sessão em casos graves. (COWGILL e GUILLAUMIN, 2013) Problemas com acesso vascular são comuns e incluem trombose, insuficiência em fornecer fluxo de sangue adequado, e mais raramente hemorragias e infecções. A trombose e o fluxo de sangue insuficiente podem ser prevenidos com o preenchimento do lúmen do cateter com heparina entre as sessões de HD (CHALHOUB, LANGSTON e POEPPEL, 2011). As complicações neurológicas podem ser causadas por encefalopatia urêmicas, trombose, hemorragia intracraniana ou síndrome do desequilíbrio da diálise. Os sinais clínicos envolvem agitação, desorientação, vômito, convulsões, coma e morte durante ou após a sessão de hemodiálise. A prevenção da síndrome do desequilíbrio da diálise inclui infusão de manitol durante a sessão, uso de perfil de sódio e eficiência limitada nas sessões, o tratamento pode ser realizado com a administração de manitol e diazepan (COWGILL e FRANCEY, 2006). Sinais respiratórios podem ocorrer devido a doença pulmonar já existente, por complicações da HD, ou ambos. As complicações respiratórias envolvem pneumonia urêmica, hemorragia pulmonar, derrame pleural, edema pulmonar, tremboembolismo pulmonar (TEP), hipoxemia e hipoventilação. O ganho de volume circulante durante a sessão de HD ou falha em corrigir a hipervolemia podem desencadear o edema pulmonar e derrame pleural. Doença cardíaca preexistente pode contribuir para esse desfecho. (LANGSTON, 2010). As complicações hematológicas envolvem trombocitopenia, leucopenia e anemia que podem ser causadas pela hemodiálise, pela doença primária ou por 39 comorbidades e devem ser tratadas de acordo com a causa, com infusão de coloide, sangue total compatível, concentrado de hemácias ou transfusões de plasma. (BLOOM e LABATO, 2011). Sintomas gastrointestinais como náusea, vômitos e inapetencia são comuns em pacientes urêmicos ou podem ser complicações resultantes da hipotensão induzida pela hemodiálise, síndrome do desequilíbrio da diálise, solução dialisante contaminado e reação a transfusão de sangue incompatível. Essas complicações podem ser tratadas com bloqueadores dos receptores de histamina, inibidores da bomba de prótons, antieméticos, estimulantes do apetite, nutrição enteral ou parenteral, conforme a necessidade individual de cada paciente. (COWGILL e LANGSTON, 2011). Prognóstico. Diversos fatores determinam o resultado e o prognóstico em longo prazo de animais com IRA. Esses fatores estão relacionados à reversibilidade da lesão renal (diretamente ligada a causa e gravidade da IRA), comorbidades, complicações e terapias médicas disponíveis. (SEGEV, et al., 2008) Ocasionalmente o rim tem capacidade de recuperação, porém a uremia grave pode levar a morte antes que a recuperação aconteça. As terapias médicas fornecem uma janela estreita de oportunidade para que a recuperação renal aconteça. A diálise amplia essa janela por tempo ilimitado na ausência de complicações fatais ou restrições financeiras. (LANGSTON, 2010) À medida que a capacidade de recuperação renal esta associada com a causa da IRA, etiologias diferentes produzem prognósticos diferentes. Limitado número de estudos têm investigado a associação da etiologia da IRA com seu prognóstico. Anúria ou oligúria persistente são fatores de risco de mortalidade mais consistente em estudos em cães e gatos com IRA, e são consideradas indicadores de prognóstico negativo. (COWGILL e FRANCEY, 2005) Eatroff, et al (2012) em estudo que avaliou o desfecho a longo prazo de 135 cães e gatos com IRA tratados com hemodiálise intermitente entre os anos de 1997 a 2010, revelaram que dentre 93 cães submetidos a hemodiálise por diferentes causas, que foram: 43% por causa desconhecida, 23% infecciosas, 22% por intoxicações e 10% divididos entre sepse, rabdomiólise, nefropatia perdedora de proteínas e insolação, o número médio de tratamentos foi de 4 com intervalo entre as sessões de 1 a 2 dias, a 40 taxa de sobrevida global no momento da alta hospitalar foi de 53%, após 30 dias essa taxa caiu para 42% e após 365 dias a taxa de sobrevida global foi de 33%. Para todas as causas de mortalidade o tempo médio de sobrevivência para os cães foi de 9 dias. O autor conclui que cães e gatos com IRA tratados com HDI têm taxas de sobrevivência semelhantes à de pacientes humanos e embora tenha havido uma alta taxa de mortalidade antes da alta hospitalar, os pacientes que sobreviveram após o momento da alta tiveram alta probabilidade de sobrevivência em longo prazo. 41 3. MATERIAL E MÉTODOS Animais O estudo contou com dados obtidos em 29 sessões de HD realizadas em cães portadores de IRA associada à infecção, sem critérios quanto à raça e idade e com peso corpóreo acima de cinco quilos, provenientes da clínica de Enfermidades Infecciosas da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da UNESP Campus de Botucatu, com consentimento esclarecido do proprietário por escrito. O estudo foi a aprovado pelo Comitê de ética em experimentação animal desta universidade, sob protocolo n° 61/2011. Local do Experimento Os animais participantes do estudo foram acomodados na ala de internação da Clínica de Enfermidades Infecciosas em baias individuais e em sala separada dos portadores de doenças transmitidas por gotículas, contatos ou aerossóis, onde receberam todo o tratamento clínico. O procedimento dialítico foi realizado no laboratório de Hemodiálise Veterinária na FMVZ da Unesp de Botucatu. Delineamento Os cães foram inicialmente classificados como portadores de IRA quando apresentaram elevação dos níveis de ureia acima de 100mg/dl, creatinina acima de 5mg/dl. Esses animais