THAIS DE OLIVEIRA ANTONIO AQUILO QUE ATRAVESSA Bauru 2023 1 THAIS DE OLIVEIRA ANTONIO AQUILO QUE ATRAVESSA Trabalho de Conclusão de Curso de Artes Visuais da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design - FAAC UNESP/Campus de Bauru, como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Artes Visuais. Orientador: Sidney Tamai Bauru 2023 2 A635a Antonio, Thais de Oliveira Aquilo que Atravessa / Thais de Oliveira Antonio. -- Bauru, 2023 86 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Artes Visuais) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design, Bauru Orientador: Sidney Tamai 1. Arte Contemporânea. 2. Instalação Artística. 3. Lina Bo Bardi. 4. MASP. 5. Museu Histórico Municipal de Bauru. I. Título 3 THAIS DE OLIVEIRA ANTONIO AQUILO QUE ATRAVESSA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, como requisito para a obtenção do título de Bacharelado em Artes Visuais. COMISSÃO JULGADORA ____________________________________ Prof. Dr. Sidney Tamai. Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC)- UNESP Professor Orientador — Presidente da Banca ____________________________________ Examinadora Profa. Dra. Joedy Luciana Barros Marins Bamonte. Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC)- UNESP ____________________________________ Examinadora Profa. Dra. Tarcila Lima da Costa. Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) - UNESP 4 Agradecimentos Primeiramente gostaria de agradecer ao corpo docente do Departamento de Artes e Representação Gráfica, que me tornou aprendiz todos os dias. Agradeço ao orientador Sidney Tamai, pela compreensão, paciência e liberdade do que poderia me fazer feliz na pesquisa. À banca examinadora, agradeço imensamente às professoras doutoras Joedy Marins e Tarcila Costa por aceitarem fazer parte do meu caminho. À Secretaria de Cultura, DPPC e Museu Histórico- que juntos alavancaram minha ideia, tornando-a factível e preciosa. À Rebeca, João Pedro e Dora, por terem feito a montagem da obra ser alegre e cheia de reviravoltas. À Julia Nogueira, por estar dividindo comigo suas ideias e uma grande amizade. Aos colegas e amigos que dividiram o tempo e a arte em sala de aula e fora dela. Ao Adriano Antonio Andrade, que é o recarregador de todas as alegrias. À Lilica, minha fiel companheira. Ao Nuno, pelas brincadeiras e afeto. À Patrícia por ser mais que uma irmã, minha amiga e inspiração. Ao Miguel, o indomável, pentelho e protetor. Ao Rodrigo, com quem divido tudo, até minha motoca Bandeirantes, “Amigos para sempre!”. À Cecília, por ter me criado, nutrido, me amado e que continua me acompanhando em meus olhos de jabuticaba. Ao Francisco, pelas cócegas, risadas e conversas sérias demais nos intervalos. Queria que pudessem ainda estar aqui. À Sueli e Luiz, por me amarem, até demais, me apoiando em todas as perdas e conquistas. Ao Michel e Heloísa por me deixarem entrar na família e me abraçarem, mesmo com a distância. Dedico ao Luiz Ben Hassanal, meu melhor amigo, não existe escala criada para medir o quanto sou infinitamente grata por ter você todos os dias em minha vida. Amo você hoje, mais que ontem e menos que amanhã. Um brinde: À Bauru! E por fim agradeço a mim, Outra Thais, por me abrir, buscar e viver. 5 RESUMO A pesquisa teve como propósito criar uma instalação artística que foi concebida no auditório do Museu Histórico Municipal de Bauru. A investigação teve como mote abordar os cavaletes de vidro do acervo do MASP criados pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914- 1992). A partir das dissecações sobre os suportes das obras de arte, a história da Companhia Paulista e estudos sobre a materialidade, apresentou-se a instalação Aquilo que Atravessa, que transpõe para a contemporaneidade o espaço museológico e a relação entre as temporalidades. Palavras-Chave: Arte Contemporânea. Instalação. Museu. Lina Bo Bardi. MASP. Museu Histórico de Bauru. 6 ABSTRACT The purpose of the research was to create an artistic installation, which was conceived in the auditorium of the Museu Histórico Municipal de Bauru. The motto of the investigation was to approach the glass easels from the MASP collection created by the architect Lina Bo Bardi (1914-1992). From dissections on the supports of works of art, the history of Companhia Paulista and studies on materiality, the installation Aquilo que Atravessa was presented, which transposes the museological space and the relationship between temporalities into contemporary times. Keywords: Contemporary Art. Installation. Museum. Lina Bo Bardi. MASP. Historical Museum of Bauru. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Examinando a planta do Museu Histórico Municipal de Bauru e fotografia do MASP,Outra Thais, Bauru, Maio 2023……………………………………18 Figura 02 - Lina Bo Bardi, em 1967, no vão livre do Masp, ao lado do suporte de vidro, com obra de Van Gogh, criado por ela para a Pinacoteca da instituição. INSTITUTO LINA BO E P. M. BARDI…………………………………………………….18 Link: https://brasil.elpais.com/cultura/2021-06-15/duas-vezes-lina-bo-bardi.html Figura 03 - O prédio do durante a construção, no final dos anos 1950, Arquivo MASP………………………………………………………………………………...………21 Figura 04 - Vista interna do Masp em 2015 com a nova versão dos cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi…………………………………………………………….………23 Figura 05 - Cavaletes de vidro com pessoas circulando pelo acervo do MASP. Acervo Digital da UNESP, 2016……………………………..……………………………26 Link: https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/337864 Figura 06 - Estação da Companhia Paulista, Bauru, 1968. À esquerda ao fundo vemos a janela que atualmente faz parte do patrimônio do Museu. Acervo da Seção de Documentação e Pesquisa do Departamento de Proteção de Patrimônio Cultural de Bauru…………………………………………………………………………………….28 Figura 07 - Fotografia com vista da plataforma da Estação da Companhia Paulista e as janelas, Bauru 1990. Processo de Tombamento do Complexo da Estação da Companhia Paulista. Número 18049-96. CODEPAC. 1996 Página 03………………29 Figura 08 - Espaço expositivo após reforma, Outra Thais, Novembro de 2022……30 8 https://brasil.elpais.com/cultura/2021-06-15/duas-vezes-lina-bo-bardi.html https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/337864 Figura 09 - Registro de empréstimo de parte das peças de patrimônio e acervo do MHISB. Outra Thais. Maio de 2023………………………………………………………31 Figura 10 - Comemoração do Centenário da Companhia Paulista, 1968. As janelas aparecem instaladas à direita da imagem. Acervo da Seção de Documentação e Pesquisa do Departamento de Proteção de Patrimônio Cultural de Bauru………….32 Figura 11 - Fotografia da Estação Paulista, 1920. Processo de Tombamento do Complexo da Estação da Companhia Paulista. Número 18049-96. CODEPAC. 1996, Página 03……………………………………………………………………………………33 Figura 12 - Beat the Whites with the Red Wedge, 1920. Bielorrússia.Pôster.Litografia em papel. Fonte: wikiart.org/el-lissitzky …………………………………………………34 Figura 13 - Poster da Exposição Aquilo que Atravessa, Acervo Pessoal, Outra Thais, 2023………………………………………………………………………………….35 Figura 14 - Logo do Museu Histórico Municipal de Bauru, https://m.facebook.com/museuhistoricobauru, acesso 01 de Maio de 2023………...36 Figura 15 - Fotografia Digital da porta de entrada da exposição. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023……………………………………………………………………….37 Figura 16 - Rascunho de reflexão sobre materialidade e disposição vertical, Outra Thais, 2023……………………………………………………….…………………………38 Figura 17- Anotação de reflexões sobre a poética, Outra Thais, 2023...……………39 Figura 18 - LOCATELLI, Dora. Fotografia Digital da janela. Bauru, Maio de 2023..40 Figura 19 - Janelas. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023……………………….41 9 https://m.facebook.com/museuhistoricobauru Figura 20 - Corda tingida com detalhe da alma, Outra Thais, Bauru, Maio 2023…..42 Figura 21 - Outra Thais colocando as cordas no varal. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023………………………………………………………………………………..43 Figura 22 - Detalhe da corda sem nó, apenas dando a volta em si mesma, LOCATELLI, Dora. Maio 2023…………………………………………………………….43 Figura 23 - Outra Thais e equipe de montagem colocando as cordas. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………44 Figura 24 - Esboço final instalação Aquilo que Atravessa, Outra Thais, 2023……..45 Figura 25 - Paralelepípedos do MHISB. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023..46 Figura 26 - Público na vernissage deixando recados no sismógrafo. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023………………………………………………………………..47 Figura 27 - Janela antes da composição com a poeira. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023………………………………………………………………………………..48 Figura 28 - LOCATELLI, Dora. Cordas e paralelepípedos da instalação Bauru, Maio de 2023………………………………………………………………………………………48 Figura 29 - Instalação Aquilo que Atravessa com luz solar no chão. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023……………………………………………………………………………..49 Figura 30 - Instalação Aquilo que Atravessa montada. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023………………………………………………………………………………..50 10 Figura 31- Marceneiro José Jesus Dias misturando areia e tinta para deixar a rampa antiderrapante. HASSANAL, Luiz Ben. Bauru,Maio de 2023…………………51 Figura 32 - Detalhe de Aquilo que Atravessa. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023……………………………………………………………….…………………………53 Figura 33 - Visitantes assinando o sismógrafo e a lista de presença. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………54 Figura 34 - Visitantes na abertura, LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023…..………55 Figura 35 - Grupo com a artista Outra Thais na vernissage, LOCATELLI, Dora. Bauru, maio 2023……………………………………………………………………..……55 Figura 36- Outra Thais com os visitantes da Secretaria de Cultura de Bauru. LOCATELLI, Dora, Bauru, Maio 2023……………………………………………………56 Figura 37- Frame do vídeo de Outra Thais explicando o trabalho e ensaiando……56 Link:https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1FN7jJ4DAfWpSuXrVZBw-cbQeN-Vd wHd- Figura 38- Abrindo o espaço para receber a mediação da 21ª Semana Nacional de Museus presencial, Outra Thais, Bauru, Maio 2023……………………………………57 Figura 39- Mediação online de Outra Thais para a 21ª Semana Nacional de Museus, no Instagram: https://www.instagram.com/p/CsReU57u6hl/ ………………………….58 Figura 40- Logo do Unati no Instagram de chamamento para evento: https://www.instagram.com/p/CsG1rnGOfqe/ …………………………………………..59 11 https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1FN7jJ4DAfWpSuXrVZBw-cbQeN-VdwHd- https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1FN7jJ4DAfWpSuXrVZBw-cbQeN-VdwHd- https://www.instagram.com/p/CsReU57u6hl/ https://www.instagram.com/p/CsG1rnGOfqe/ Figura 41- Grupo Unati visitando o espaço expositivo, LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………………………60 Figura 42 - Mostrando para o grupo Unati o livro usado na pesquisa, LOCATELLI, Dora, Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………61 Figura 43 - Orientando como ia funcionar a oficina de gravura para o grupo, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023……………………………………….……………62 Figura 44 - Materiais para desenvolvimento do desenho de observação, LOCATELLI, Dora, Bauru, Maio 2023……………………………………………………63 Figura 45 - Materiais da Oficina de Gravura em EVA, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………………….…………63 Figura 46 - Aprendizes desenhando no espaço expositivo, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………………………64 Figura 47 - As gravuras do grupo sendo impressas, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023………………………………………………………………………………….………64 Figura 48 - Gravuras secando no varal, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023…..…65 Figura 49 - Matrizes dos aprendizes da Oficina. LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………………………….…66 Figura 50 - Alguns dos aprendizes no final da Oficina com suas gravuras dentro do espaço expositivo. LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023……………………………...67 Figura 51 - O curador da exposição Luiz Ben Hassanal recepcionou o grupo Polo da manhã. Dora,Bauru, Maio 2023…………………………………………………………..68 12 Figura 52 - Piso com iluminação das janelas pela manhã,Dora,Bauru, Maio 2023..68 Figura 53 - Grupo do Polo da tarde conhecendo a exposição, LOCATELLI, Bauru, Maio 2023……………………………………………………………………………………69 Figura 54 - Grupo Polo da tarde, finalizando assim a exposição Aquilo que Atravessa. Dora,Bauru, Maio 2023……………………………………………………….70 Figura 55 - Xilogravura Feita após a desmontagem de Aquilo que Atravessa. Outra Thais. Bauru. Maio 2023…………………………………………………………………..71 Figura 56 - Equipe do Museu Histórico desmontando a exposição Aquilo que Atravessa, MACHADO DA SILVA, Luiz Ben Hassanal, Bauru, Maio 2023……………………………………,..................................................................…...72 Figura 57 - Equipe do Museu Histórico retirando as janelas de suspensão e desamarrando as cordas, MACHADO DA SILVA, Luiz Ben Hassanal, Maio 2023……………………………,..,........................................................................…….73 Figura 58 - Colar de Maria Cecília de Oliveira Antonio. Outra Thais, Bauru, 2023...78 Figura 59 - Retrato de Outra Thais com máscara de proteção tóxica, LASRY, Julia. Bauru, 2022…………………………………………………………………………………78 Figura 60- Militantes atiram pedras na polícia parisiense no fatídico Maio de 1968. RIBOUD, Marc. França, 1968…………………………………………………………….79 Fonte: http://marcriboud.com/en/countries/may68/ Figura 61- Anexo A- Texto curatorial redigido por Luiz Ben Hassanal Machado da Silva………………………………………………………………………………………….80 13 http://marcriboud.com/en/countries/may68/ Figura 62- Anexo B- Ficha Técnica, Fonte: DPPC (Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural)....................................................................................................81 Figura 63- Anexo C- Detalhe de Aquilo que Atravessa Detalhe das cordas entrelaçadas, LOCATELLI. Dora, Bauru, Maio 2023…………………………………...82 Figura 64- Anexo D - Polo Arte na Escola Bauru Manhã. Grupo aguardando a mediação, GODEGUEZI, Jerônimo, Bauru, Maio 2023………………………………..83 Figura 65- Anexo E - Polo Arte na Escola Bauru Manhã. Mediação com a curadoria. GODEGUEZI, Jerônimo, Bauru, Maio 2023……………………………………………..84 Figura 66 - Anexo F - Detalhe da exposição Aquilo que Atravessa como metalinguagem fotográfica, GODEGUEZI, Jerônimo, Bauru, Maio 2023…………………………………………………………………………...……………..85 14 Sumário Agradecimentos…………………………………………………………………………….05 Resumo……………………………………………………………………………………...06 Abstract……………………………………………………………………………………...07 Lista de Figuras……………………………………………………………………………..08 Introdução…………………………………………………………………………………...16 Capítulo I- São Paulo………………………………………...…………………………….20 Capítulo II- Bauru...…………………………………………………………………………28 Capítulo III-Processo e Montagem…………………………………..…………………...34 Capítulo IV Contrapartidas………………….……………………………………………..53 Conclusão…………………………………………………………………………………...71 Referências………………………………………………………………………………….74 Links………………………………………………………………………………………….75 APÊNDICE - Aquilo que Atravessou, registro pós exposição de Outra Thais…………………………………………………………………………………………77 Anexo A - Texto curatorial redigido por Luiz Ben Hassanal Machado da Silva………………………………………………………………………………………….80 Anexo B - Ficha Técnica…………………………………………………………………..81 Anexo C - Detalhe de Aquilo que Atravessa ……………………………………………82 Anexo D - Polo Arte na Escola Bauru Manhã. …………………………………………83 Anexo E - Polo Arte na Escola Bauru Manhã. …………………………………..……..84 Anexo F - Polo Arte na Escola Bauru Manhã……………………………………………85 15 Introdução O trabalho proposto registra a pesquisa realizada sobre os cavaletes de vidro que residem no MASP - projetados pela arquiteta Lina Bo Bardi. Tal investigação resultou posteriormente em instalação artística no Museu Histórico Municipal de Bauru, nomeada Aquilo que Atravessa. Uma instalação artística é uma linguagem que trabalha a poética através do espaço e tem um caráter efêmero, ou seja, ela tem uma validade fugaz, que remonta a arte a partir de 1960, em que novas linguagens eram trabalhadas, como a assemblage, por exemplo, e acabou se popularizando como modo artístico em 1970. Sua origem, no entanto, remonta aos environments dos dadaístas. Mais tarde o Environmental Art e a Land Arf tomariam não apenas o contexto da galeria, mas todo o entorno, a natureza inteira, como objeto de apreciação estética. (FREIRE, Cristina. 1999. p. 91) Na museologia existem regras de cuidados e preservação básicos das obras de arte, que vão desde temperatura, não ter contato com fontes luminosas excessivas, poeira, manuseio com luvas devido às gorduras e bactérias que existem nas mãos. Sabendo disso, é interessante que Lina Bo Bardi rompe com essas regras museológicas ao sair do escuro do museu, visto que em sua proposta o acervo em princípio tem todas as paredes de vidro para que as pinturas nos cavaletes de vidro dialogassem com a cidade de São Paulo e a vegetação do parque em frente ao MASP. Trazendo a modernidade para a cidade de São Paulo com a construção do MASP, Bo Bardi criou um acervo aberto - tanto pelas janelas de vidro, quanto para olhar do público - diferentemente do que conhecemos como acervo de arte que fica resguardado da sociedade. A inserção do vidro cria variadas problemáticas, que vão desde a incidência de luz solar direta nas pinturas, que pode trazer a questão da mudança de temperatura e também a luz ultravioleta que deteriora as cores das pinceladas, sendo uma estrutura que ativamente tem este revés no cuidado com a obra de arte. 16 Outra contrariedade museológica é o fato dos cavaletes serem de vidro, pois a resistência de material, nesse caso, poderia refletir as luzes que incidem para iluminar as pinturas, os vidros poderiam rachar e trincar com os pesos dos quadros e suas respectivas molduras, podendo sofrer quedas. Outra questão seria o vidro trazer uma dificuldade na leitura pelo fato de romper com o estilo museológico cronológico tradicional, pois as obras estão dispostas como uma grande nuvem pictórica, podendo-se fazer, assim, relações entre diferentes períodos históricos da arte. Mas afinal Lina Bo Bardi conhecia essas regras museológicas? Por que ela estaria rompendo-as e criando um museu urbano e aberto por todos os lados? Bo Bardi estava inserida no período da discussão da morte da arte, que abarca que toda obra tem seu começo-meio-fim, em uma efemeridade programada. Nenhum de nós [Arthur Danto e Hans Belting] estava falando em morte da arte, embora meu próprio texto acabasse sendo o artigo principal em um volume chamado "The Death of Art". O título não era meu, visto que eu estava escrevendo sobre uma forma de narrativa que, assim eu pensava, havia objetivamente se completado na história da arte, e era essa narrativa, pareceu-me, que havia chegado a um fim. Uma história havia se acabado. (DANTO, Arthur. 2006. p. 5) Foi pensando em todas essas problemáticas que a pesquisa começou, tendo como objetivo criar uma instalação artística, em que a poética viesse da pesquisa sobre os cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi. A pesquisa é qualitativa, e para a investigação foi consultada a ampla bibliografia do Centro de Pesquisa do MASP. A instalação fez parte da programação cultural bauruense, visto que trazer uma obra de arte contemporânea no interior paulista envolveu diversas relações entre as instituições, como a UNESP, Secretaria de Cultura, o Museu Histórico Municipal de Bauru (MHISB), Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Foi necessária a ajuda coletiva para a construção da mostra de arte e pesquisa, que abrangeu desde os funcionários do MHISB, estudantes do curso de Artes Visuais da FAAC-UNESP auxiliando na montagem, oficina e fotografia, (com emissão de certificado de horas da Secretaria de Cultura de Bauru), até a imprensa local que divulgou a exposição nas mídias paulistas. 17 No que diz respeito ao MHISB, a obra abriu o auditório como espaço expositivo, sendo a primeira exposição no local, inaugurando uma intersecção entre um espaço que trabalha o passado e a obra instalativa e atual. Examinando a planta do Museu Histórico Municipal de Bauru e fotografia do MASP, Outra Thais, Bauru, Maio 2023. Aquilo que Atravessa é claramente um trabalho contemporâneo em um espaço antigo, trazendo contraste e visibilidade ao museu - não somente pelo acervo ou por guardar a história na volta ao passado - mas por abrir para a sociedade um olhar crítico e poético no presente. Tivemos também como contrapartida o educativo - recebimento de públicos agendados e espontâneos e uma oficina. Todas as mediações foram realizadas pela artista da obra Aquilo que Atravessa, Outra Thais. Foi oferecida uma visita presencial e uma online na programação da 21ª Semana Nacional de Museus - Instituto Brasileiro de Museus, IBRAM - onde os mais variados locais do Brasil, Alemanha e entre outros países puderam acessar a obra instalativa e fazer perguntas para a artista. 18 Montamos uma oficina com o público da terceira idade do grupo de extensão da UNESP, o UNATI, onde após a conversa sobre a exposição Aquilo que atravessa foram trabalhadas a linha e o desenho de observação da instalação artística e Oficina de técnica de reprodução de gravura em EVA. Recebemos dois grupos agendados do Polo Arte na Escola Bauru no último dia de exposição. 19 Capítulo I- São Paulo A arquiteta, a artista Lina Bo Bardi, em 1967, no vão livre do Masp, ao lado do suporte de vidro, com obra de Van Gogh, criado por ela para a Pinacoteca da instituição. INSTITUTO LINA BO E P. M. BARDI Link: https://brasil.elpais.com/cultura/2021-06-15/duas-vezes-lina-bo-bardi.html Lina Bo Bardi foi uma arquiteta nascida em Roma, mas que boa parte da vida residiu no Brasil. Ficou conhecida por projetar o MASP (Museu de Arte de São Paulo), o Teatro Oficina e o Sesc Pompeia. A arquitetura é uma forma de comunicação visual e pode ser considerada uma representação artística, apesar de muitas vezes ser vista como algo funcional, afinal a arquitetura e o urbanismo modernos podem comunicar visualmente como uma comunidade se relaciona ou como pode vir a se relacionar. A sociedade ocidental pós-moderna pode ser vista como individualista e visada em pautas de liberdade individual. Após o Iluminismo e a Revolução Industrial a forma pela qual o capitalismo trouxe a necessidade de tratar cada indivíduo como consumidor ativo de mercadorias e o medo da perda de posse por 20 classes menos abastadas, fez com que houvesse um acúmulo de produtos e um isolamento social. Isso consequentemente criou a necessidade de muros em residências e o uso do espaço privado como algo seguro e o lugar público como algo perigoso e de pouca relação com o outro. A maneira como as cidades são construídas e as casas são feitas tem relação direta com a comunidade. A função do arquiteto muitas vezes é vista como algo que apenas projeta uma estrutura. Porém, ao falarmos de Lina Bo Bardi reconhecemos referências estéticas que relacionam e trabalham fortemente com o coletivo. Precisamos anteriormente reconhecer qual o corpo social em que as obras de Lina Bo Bardi que será analisada estão inseridas. Uma sociedade brasileira industrial como a cidade de berço capitalista que era São Paulo de meados do século XX. O cerne de uma sociedade capitalista emergente, com o anseio de mostrar-se moderna. Na Avenida Paulista residiam os grandes barões de café que eram as maiores referências econômicas do país. Posteriormente tornou-se uma referência econômica por simbolizar a inovação nas formas de arranha-céus, prédios cada vez mais altos simbolizando a imponência e ascensão econômica. Essas construções acabam cobrindo grande parte da paisagem urbana O prédio do durante a construção, no final dos anos 1950, Arquivo MASP. O MASP foi construído entre 1957 e 1968 em um momento desenvolvimentista característico de Juscelino Kubitschek. O museu acabou sendo 21 o símbolo do desenvolvimento da Avenida Paulista. Na construção do edifício, existem características modernistas de terceira geração que elevam o prédio com estruturas expostas, havendo um vão embaixo, não se bloqueia a paisagem urbana e nem o fluxo de pessoas e transeuntes para que possam contemplar o panorama da cidade. Inclusive foi assinado um acordo com os proprietários do terreno para que a vista de São Paulo não fosse perdida, de forma que se o projeto tirasse esse espaço era motivo de restituição à família do senhorio e o MASP não teria surgido como é atualmente, suspenso por extensas pilastras vermelhas. Apesar do museu ser privado e algo utilitário para exposições artísticas pagas, sua estrutura predial permite que seja um ponto de encontro para grandes manifestações políticas e culturais da Avenida Paulista, como um grande teto de uma ágora urbana moderna e também contemporânea. O projeto de Lina Bo Bardi rompe com essa tradição de muros cada vez mais altos ao criar uma estrutura que relaciona a obra de arte de outro lugar e temporalidade com a cidade de São Paulo. Concretude e Nitidez Bo Bardi teve de materialidade o vidro como expoente em sua produção arquitetônica, tanto na construção dos cavaletes de vidro onde reside o acervo e também na própria composição do MASP, como na residência da família Bardi, onde ela e seu esposo Pietro Maria Bardi, parceiro de vida e projetos arquitetônicos, viveram parte da vida. A casa dos Bardi é chamada de Casa de Vidro e atualmente é um museu com referências e materiais de pesquisa sobre o casal. O museu fica no bairro do Morumbi, em São Paulo. Como referência para a instalação da obra Aquilo que atravessa foram escolhidos os cavaletes de vidro do acervo do Museu de Arte de São Paulo. 22 Vista interna do Masp em 2015 com a nova versão dos cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi. Os cavaletes de Bo Bardi são feitos de concreto, madeira, vidro e ganchos de metal que prendem as pinturas no vidro. A base dos cavaletes é moldada em um cubo de concreto, de forma que o assento seja pesado o suficiente para segurar um quadro, sua moldura e o vidro transparente. As pinturas nesse tipo de suporte oferecem ao olhar do público não somente a obra pictórica, mas também a parte de trás onde estão a placa de descrição museológica e a traseira que mostra toda a história que aquela obra resistiu, o tempo que degrada a matéria. Vemos a poética do desgaste natural que tinge com as marcas do decurso e base do artista. O próprio nome do suporte: Cavalete. O artista pinta geralmente sobre um cavalete, o de Bo Bardi é uma amostra do tempo em que ela foi pintada, ou seja, uma obra em tempo não museal, criando uma proximidade maior com a autoria da tela. Não dizem, portanto, “deves admirar, é Rembrandt” mas deixam ao espectador a observação pura e desprevenida, guiada apenas pela legenda, descritiva de um ponto de vista que elimina a exaltação para ser criticamente rigorosa. Também as molduras foram eliminadas ( quando não eram autênticas da época) e substituídas por um filete neutro. Desta maneira as obras de arte antigas acabaram por se localizar numa nova vida , ao lado das modernas, no sentido de virem a fazer parte da vida de hoje, o quanto possível. ( BO BARDI, Lina, n.p 1997) O Hiato e a Desobediência Os cavaletes atualmente fazem parte do Museu de Arte de São Paulo como suporte das pinturas do acervo, mas nem sempre foi assim. O acervo precisa de certos cuidados - como ausência de luz solar, temperaturas reguladas - afinal a 23 preservação dos itens artísticos se dá pelo valor dado historicamente, eles refletem como a humanidade representava o mundo em certo período passado. O fato do prédio ser envolto por vidro trouxe algumas problemáticas às normas museológicas, pois- por causa da transparência- os raios ultravioleta incidem diretamente nas artes. A luz solar é extremamente nociva aos pigmentos das pinturas, pois a reação acarreta mudanças cromáticas e decomposição da tinta, fazendo mudar a coloração e havendo um desbotamento, alterando as tonalidades das obras de arte. Outro ponto foi o fato do cavalete de vidro refletir a luz solar e também o público, o que trouxe um problema na leitura das pinturas. Por causa desta problemática os cavaletes entraram em desuso desde 1996 e estavam guardados e posteriormente foram colocadas paredes opacas e persianas na janela do acervo. Do projeto de Lina Bo Bardi (1914-1992), finalizado em 1968, até os dias de hoje, houve avanço significativo nos princípios de conservação das obras em espaços expositivos. Preocupações com as radiações de luz nocivas às obras, além da prevenção contra outros riscos, levaram a equipe do MASP a rever alguns detalhes que antes não eram previstos. (BARBOSA, 2015, p.35) Bo Bardi construiu uma série de cavaletes de concreto e cristal que foram reformados e reconfigurados na pinacoteca do Museu ao final de 2015. Em 2015, enquanto a equipe de arquitetura se preocupava em aprimorar o encaixe das obras nos cavaletes de cristal, a equipe de conservação e restauração do museu ficou responsável por montar uma contramoldura- uma estrutura por trás de molduras originais, para facilitar esse encaixe. ( op. cit.) A forma como as pinturas ficam dispostas estabelecem uma relação entre público e a obra de arte. Anteriormente havia apenas uma relação paralela entre a obra e a interpretação. Os cavaletes de cristal transparente criam uma nova relação, onde as pinturas convergem com os corpos dos visitantes, sendo assim um público ativo e pertencente à obra de arte. Os visitantes passam a enxergar as pinturas não apenas como espectadores, mas como parte da imagem e com isso há uma quebra da aura da obra de arte e consequentemente o rompimento da tradição clássica. “Em suma, o que é a aura? É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: 24 a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja” (BENJAMIN, Walter. 1996. p. 170) As galerias de arte, museus e instituições culturais costumavam- e costumam- utilizar o padrão MoMA, o chamado “cubo branco”, que são paredes neutras e brancas que cerceiam as obras de arte de forma que nada contamine o olhar do espectador e faz com que a pintura seja vista de maneira unitária, uma obra por vez. No espaço de exposição asséptico e atemporal das galerias desse museu, a obra de arte é individualizada e apresentada em ambiente homogêneo que sublima as nuanças arquitetônicas do edifício. A obra assim se destaca como uma coisa em si mesma e também contracena com outros trabalhos de arte dispostos no mesmo ambiente, formando uma composição balanceada espacialmente (O’DOHERTY, Brian. 2002. p. XIII). A expografia que os cavaletes trazem é de um contexto inteiramente diferente, pois ao invés de uma noção museológica que esconde as obras em muros institucionais, Bo Bardi lança uma forma de relacionar todas as obras de arte do acervo de maneira não cronológica, diferentemente do cubo branco. A proposta do MASP, para Van Eyck, “surge como um choque no primeiro encontro, ao contrário a tudo aquilo a que fomos acostumados equivocadamente" (VAN EYCK, Aldo - apud - MIYOSHI, A. G., 2015, p. 99). Contudo a forma como Lina Bo Bardi desenhou seus projetos pauta a noção de coletividade e relação com a cidade, e de como o MASP conta a história de uma obra artística que se relaciona com a contemporaneidade. Os museus podem ter uma função didática na forma de expressar a relação histórica da arte com a busca de seu tempo e não sendo apenas mais um prédio institucional sem relação com a comunidade. E a transparência dos cavaletes dispõe- também- uma forma de pensar a obra de arte no educativo do museu. Num certo sentido- sentido errado- pinturas em paredes tendem a ser vistas como janelas para um outro mundo, mas isto nega a realidade tátil de superfície pintada, i.e., a existência física de algo realmente feito- com tinta e pincel, pincelada após pincelada- NO ESPAÇO. (VAN EYCK, Aldo. 1997, s.p. ) A pintura passa a não ser vista como uma janela, e sim como objeto bidimensional consciente, no qual o público atravessa por toda sua realidade, não 25 sendo assim mais um espectador da obra pictórica que aceita a imagem de forma passiva, mas sim como agente político e questionador da cena proposta. A proposta do MASP fugiu da distribuição característica de uma coleção apresentada num arranjo progressivo de tempo. Abrigar uma coleção tinha papel secundário frente a importância do museu como espaço de aprendizagem, de caráter também lúdico e eminentemente coletivo. ( GOMES, Priscyla. 2022) Cavaletes de vidro com pessoas circulando pelo acervo do MASP. Acervo Digital da UNESP, 2016. https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/337864 As obras de arte estarem elevadas em painéis de vidro tem um respiro visual e um ir e vir muito mais fluido, de forma que pode ser explorada a história da arte não cronologicamente, e isso constrói uma fusão e uma narrativa completamente nova na expografia. “As justificativas da curadoria para sua substituição misturavam motivações de ordem técnica com as conceituais.” (ANELLI, Renato. 2015. p. 44) Esse novo agente interlocutor da obra- que é o público- argumenta e isso é um rompimento da quarta parede da narrativa. A quarta parede é uma expressão 26 https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/337864 usada no teatro e cinema que é o lugar onde a plateia assiste à cena. É o que permeia entre o público e a história que está sendo contada, ao cair essa membrana temos a realidade à mostra dentro do museu, o agente narrador é o público e isso traz para nós uma revolução no campo museal, afinal o corpo coletivo também é encarregado pela historicidade contemporânea. “Estratégia brechtiana livre de cenografias e disfarces” ( PEDROSA, Adriano. 2015. p. 18), não criando mais uma fantasia de que aquilo é uma ilusão, mas sim uma realidade poética que faz parte do novo tempo. 27 Capítulo II- Bauru Uma linha férrea com destino ao passado Estação da Companhia Paulista, Bauru, 1968. A esquerda ao fundo vemos a janela que atualmente faz parte do patrimônio do Museu. Acervo da Seção de Documentação e Pesquisa do Departamento de Proteção de Patrimônio Cultural de Bauru. O Museu Histórico Municipal de Bauru (MHISB) reside no centro da cidade de Bauru, no interior paulista. Nele existe um acervo rico de itens mobiliário, fotografias, documentos, vestuários, e itens que contam a história do município. Por estar em processo de adequação às normas de acessibilidade, o público não pode fazer visitação ao acervo. Pela a exposição Aquilo que Atravessa se tratar de um evento temporário de curta duração, foi possível fazermos adequações para a hospedagem da obra. O museu era uma antiga estação ferroviária, a Companhia Paulista, portanto o prédio atualmente conta com mudanças e adaptações necessárias para abrigar o patrimônio da coleção e seus funcionários. A casa da atual administração museológica foi a residência da família da chefia da estação, o acervo era o prédio do Controle de Tráfego Central e o espaço 28 no qual aconteceu a exposição foi o Departamento Pessoal e parte do setor Administrativo. É interessante notarmos o trilho que perpassa na lateral do museu e sua antiga plataforma- onde não existe mais a passagem de trens na estação, pois a mesma fora desativada- pois nela podemos observar algumas das janelas em seu estado de uso. Fotografia com vista da plataforma da Estação da Companhia Paulista e as janelas, Bauru 1990. Processo de Tombamento do Complexo da Estação da Companhia Paulista. Número 18049-96. CODEPAC. 1996 Página 03. Infelizmente, atualmente esta região de trilhos é a conhecida “Cracolândia” bauruense, onde os passageiros caminhantes fazem furtos para a compra de entorpecentes, necessitando de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida e a segurança desse círculo de pessoas. Por causa desse fato houve uma queda de fluxo da massa para a região central devido à apreensão de falta de tranquilidade no local. Por causa dessa questão de segurança, tivemos que refletir na materialidade da instalação artística, pois poderiam acontecer furtos, trazendo prejuízo à poética, ou então, as peças da obra teriam que ser recolhidas diariamente para a área administrativa onde contém alarmes e vista da segurança do local. O espaço 29 expositivo fica aos fundos do museu, sendo necessária atenção maior ao resguardo da obra final. Porém é importante ressaltar que a violência urbana faz parte da cidade, mas coube na montagem dosar a poética pelo o espaço e materialidade e não em conformidades obcecadas pelas chamadas privações. O espaço no qual a exposição deste trabalho foi montada foi visitada em novembro de 2022 como possível local para a instalação artística, o local acabara de passar por reforma, onde as paredes foram pintadas de branco e o piso aplainado com concreto, visto que antes era de tacos desgastados pelo tempo. A sala tem cerca de 73 m² ( sem contar o espaço de recepção e corredor). A intenção é que este lugar venha a se tornar um auditório. Ainda existe o assoalho de madeira na sala onde foi feita a vernissage (recepção), mas como dissemos anteriormente o museu está passando por reformas de adaptação e modernização. Espaço expositivo após reforma, Outra Thais, Novembro de 2022. Todas as edificações do Museu Histórico são tombadas, portanto deve-se respeitar as normas de preservação das características do prédio. As janelas da obra de arte que foram utilizadas também são consideradas patrimônio e todas as peças não tiveram alterações físicas, elevando o respeito à conservação histórica. 30 Na construção da instalação foi pensado que deveríamos valorizar a memória e recontar a história da cidade de Bauru. Todos os elementos são originais e é importante ressaltar que a equipe responsável do Museu não mediu esforços para dedicar os materiais para a instalação, sendo que somente assim foi possível executarmos o projeto final. Recebemos autorização para utilizar os paralelepípedos, as janelas e usar as vigas que sustentam o telhado. Essas vigas tem um caráter muito importante na montagem da obra, pois em novembro de 2022 já via-se uma possível elaboração que compusesse em total espacialidade do lugar, tanto no sentido horizontal como na verticalidade, fazendo com que o arranjo valorizasse completamente a sala da instalação. Foi feito teste de resistência de materiais e conversamos com arquitetos e especialistas que esclareceram sobre a força da viga e que a instalação não prejudicaria a estrutura por se tratar de janelas de cerca de 8 kg. Foi considerado o uso das portas do museu, mas pela questão da criação e conceito da obra não seriam necessárias. Registro de empréstimo de parte das peças de patrimônio e acervo do MHISB. Outra Thais. Maio de 2023. As janelas não são datadas exatamente no ano em que foram produzidas, mas deduz-se que seja em meados de 1940. Existem imagens que as mostram em suas molduras e paredes no Centenário da Companhia Paulista, onde temos em registro fotográfico delas em alto vigor na Comemoração do Centenário em 1968. Nesta imagem podemos ver que entre munícipes existem homens fardados, pois estávamos em consumada ditadura militar no Brasil, com a atuação na presidência 31 do ditador Artur da Costa e Silva que neste ano decretou o Ato Institucional N° 5 .1 Vemos também a bandeira com o símbolo da Companhia Paulista. Comemoração do Centenário da Companhia Paulista, 1968. As janelas aparecem instaladas à direita da imagem. Acervo da Seção de Documentação e Pesquisa do Departamento de Proteção de Patrimônio Cultural de Bauru. O Museu só passou a existir em 2012 nesse endereço, a Companhia Paulista fez parte do tráfego ferroviário do estado de São Paulo desde 1868, a linha perpassou por Bauru e fez parte da FEPASA (Ferrovia Paulista S/A) à partir de 1971. A FEPASA encerrou suas atividades em 1998. 1 O Ato Institucional n° 5. Pela primeira vez desde 1937 e pela quinta vez na história do Brasil, o Congresso era fechado por tempo indeterminado.O Ato era uma reedição dos conceitos trazidos para o léxico político em 1964. Restabeleciam-se as demissões sumárias, cassações de mandatos, suspensões de direitos políticos. Além disso, suspendiam-se as franquias constitucionais da liberdade de expressão e de reunião. Um artigo permitia que se proibisse ao cidadão o exercício de sua profissão. Outro patrocinava o confisco de bens. (GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. Editora Schwarcs. São Paulo. 2002. P. 346.) 32 Fotografia da Estação Paulista, 1920. Processo de Tombamento do Complexo da Estação da Companhia Paulista. Número 18049-96. CODEPAC. 1996, Página 03. 33 Capítulo III- Processo e Montagem Pôster Aquilo que Atravessa O arte do poster vermelho de divulgação da exposição fez a função necessária para atrair o público com essa cor primária que remetesse ao MASP e relacionasse com o Museu Histórico Municipal de Bauru (MHISB), quando ao mesmo tempo não denunciou do que se tratava a instalação, de forma que abraçasse a ideia sem oferecer dicas do que seria a obra. Foi pensado com abstração das formas, com retas, cores neutras como o preto, o branco e o vermelho. Usou-se como referência o artista gráfico russo El Lissitzky, que fez diversos cartazes de propagandas com o uso de litografia, entre outras técnicas manuais. Lissitzky fez parte do suprematismo e construtivismo russos. Beat the Whites with the Red Wedge, 1920. Bielorrússia. Pôster. Litografia em papel. Fonte: Wikiart.org/el-lissitzky O cartaz foi montado no aplicativo Canva e fez-se necessário colocar não somente a arte, mas também os apoiadores e agradecimentos, eles foram 34 impressos e distribuídos por instituições culturais bauruenses, como a Casa Ponce, o Museu Ferroviário, a Secretaria de Cultura, o próprio MHISB. Foi distribuído em diversas partes do campus da UNESP Bauru, como a Biblioteca, cantinas, Central de Laboratórios ( Mundo Perdido), Ateliês, no Estúdio Fotográfico, etc. Poster da Exposição Aquilo que Atravessa, Acervo Pessoal, Outra Thais, 2023. 35 Objetos e a Passagem de Volta Os paralelepípedos do Museu Histórico Municipal de Bauru fazem parte da praça que fica logo na entrada de pedestres, a qual está passando por reforma, onde todas as pedras foram retiradas e estão sendo recolocadas em uma nova concepção. Já o sismógrafo utilizado para recolher assinaturas e desenhos do público para a artista da exposição, foi um empréstimo do acervo do MHISB para ampliar a relação entre público e o tradicional espaço museológico, onde a autora buscou construir a experiência da mostra logo no começo, desde a sala de recepção. Na entrada da porta do espaço expositivo foram utilizadas duas mãos francesas de madeira maciça, com desenhos bem particulares, que até lembram o símbolo do Museu, com suas curvas e detalhes esculpidos. Logo do Museu Histórico Municipal de Bauru, https://m.facebook.com/museuhistoricobauru, acesso 01 de Maio de 2023. Junto a eles foram utilizadas seis paralelepípedos para manter as peças de madeira na vertical, formando um portal na abertura da instalação Aquilo que Atravessa. Abaixo temos o registro da fotógrafa Isadora Locatelli, artista que fez parte tanto da montagem da obra como também responsável pelas fotografias desde a preparação até as oficinas e recepção de público agendados. A escolha por terceirizar as fotografias da mostra foi justamente para não induzir o olhar prévio e trazer a poética de Locatelli, que possui um tom de fotografia analógica, com cores quentes e por mais que estejamos falando de uma obra de arte claramente contemporânea. Juntamos o passado e presente do museu em que criamos uma 36 https://m.facebook.com/museuhistoricobauru poesia na forma de contarmos a história da instalação artística, de maneira que amplifique o registro na memória de como foi estar naquele lugar em maio de 2023. Fotografia Digital da porta de entrada da exposição. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. 37 A transversalidade Rascunho de reflexão sobre materialidade e disposição vertical, Outra Thais, 2023. Ao iniciar os esboços para a instalação artística, primeiramente o que mais chamava atenção era a ideia de transversalidade no olhar para o espaço expositivo do acervo do MASP. O público pode enxergar todas as pinturas suspensas no ar, de maneira que trabalha o passado, com a preservação da memória da história da arte e a contemporaneidade. Tanto a estrutura do museu paulistano quanto os suportes são compostos por vidro, dando uma dimensão não cronológica e um olhar geral devido à sua transparência. 38 Anotação de reflexões sobre a poética, Outra Thais, 2023. A transversalidade como cerne da poética, o cortar o ambiente com os olhos e poder circular entre os diferentes tempos, fez com que a instalação ocupasse a verticalidade e a horizontalidade do auditório do Museu Histórico Municipal de Bauru. O espaço tem cerca de 73 metros quadrados, com oito amplas janelas, vigas e telhado aparente. Foi feita uma lista de materiais que seriam interessantes para serem trabalhados na instalação, que trouxesse contraste com o ambiente de madeira, telhas, vidro, paredes brancas e piso cinza. Esses materiais não poderiam ter metal por questões de segurança à obra - que poderia ser furtada - e proteção aos visitantes de não transitarem por uma região perigosa como é o centro bauruense à noite, por isso foi feita a escolha de trabalharmos com o horário comercial. Por ser uma exposição diurna, não utilizamos luz artificial, que também se fez necessário pela falta de fiação elétrica nos fundos do prédio do museu. O espaço está em reforma, portanto carece de alguns recursos. Porém, ao observar o lugar e perceber a relação solar com o prédio, as janelas são inundadas por raios cintilantes nas paredes e chão, trazendo leveza para a poética. 39 Durante o processo criativo, foram pensados diversos formatos, como, por exemplo, que as janelas do museu ficassem coloridas de luz vermelha, graças à gelatina para iluminação, porém traria uma violência e uma escuridão que não era a proposta da instalação, ainda mais com os elementos pendurados com cordas. A cor vermelha viria a calhar por correspondência ao prédio do MASP, portanto era importante que este elemento contribuísse com a narrativa da obra, nem que fosse em detalhes. Geração Espontânea da Materialidade LOCATELLI, Dora. Fotografia Digital da janela. Bauru, Maio de 2023. Durante a pesquisa da materialidade respondemos às escolhas que fosse possível falar da história do museu bauruense sem a figuração dos trilhos do trem e que tivesse essa relação entre presente e passado sem termos uma obra antiquada. 40 A intenção era formar uma instalação artística contemporânea que fosse formada por objetos antigos. Sabendo do valor da transversalidade, procuramos materiais que pudessem trazer a importância da composição no espaço museológico, sem que houvesse muitos vazios, mas também que não fosse um espaço blocado por intensa quantidade de objetos, dirigindo um respiro necessário da disposição. Janelas. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. Ao ver as janelas do museu em seu estado in natura, empilhadas junto às portas da antiga Estação e consumidas pela poeira de anos de armazenamento, reparamos que eram extremamente justas à proposta. A janela tem um formato interessante, leve, com valor estético e simbólico. No que tange ao significado da janela, aquilo que separa e une ao mesmo tempo, que seleciona o quem entra e sai, um amante que chega, ou uma deslealdade fugitiva. O sol e a lua, tempos de 24 horas de um dia, mas as janelas do Museu Histórico falam-nos de um tempo muito maior. Por isso, ao declararmos à janela que ela será uma das protagonistas da instalação, não podemos deixar de falar do tempo. O decurso dos anos deterioraram os vidros, os fechos, a madeira. A passagem do tempo deixou-as leves, com trincas que permitiram ir embora os vidros, tornando-as mais transparentes, apenas uma 41 moldura do que foi outrora. Ela se tornaria janela novamente ao entrar na representação? É janela e ao mesmo tempo não o é. Aquilo que atravessa é o rompimento com a barreira sólida do olhar e quase uma ode aos tempos passado e presente que permeiam a arte em si. Já sabendo que a janela seria o expoente que estabeleceria a base de nosso trabalho, testamos também junto de uma porta. Porém ter um elemento que destoava na poética escolhida, descartamos a porta de volta ao seu lugar de origem, selando assim nossa seleção. A busca pela corda foi uma decisão que viria com poesia, ao aprendermos que para resistir ao peso, elas têm alma. Corda tingida com detalhe da alma, Outra Thais, Bauru, Maio 2023. A alma da corda é o cerne, é ela que distribui e segura de fato toda a gravidade do objeto. As fibras externas poderiam se desfazer com o atrito na rigidez da madeira da viga, porém a corda escolhida resiste 170 kg, mais que suficiente para amparar e suspender nossas molduras temporais. Foram feitos testes anteriormente com cordas de espessuras diferentes, mas as mais grossas ficaram visualmente desproporcionais e a mais fina trouxe a ideia de fragilidade, com a sensação de que algo poderia se romper, tornando-a mais interessante. As cordas eram originalmente brancas e tiveram todos os seus 200 metros tingidas de vermelhas. Foi usado pigmento de tinta de parede, pois o corante de material sintético não se fixou no material da corda. 42 Outra Thais colocando as cordas no varal. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. Fora feita uma pesquisa para sabermos como as vigas se mantêm em pé e distribui o peso do telhado e testes de resistência de material, pois a altura da viga é de aproximadamente 4,5 m e a corda precisava ser bem posicionada para não ter atrito desnecessário, mesmo ela sendo resistente e com alma. Detalhe da corda sem nó, apenas dando a volta em si mesma, LOCATELLI, Dora. Maio 2023. 43 A princípio não era possível escolher a posição das cordas nas vigas, pois eram arremessadas com pequenos contrapesos embrulhados - para não machucar nenhum dos assistentes de montagem - e desciam para o receptor. Porém este processo, além de demorado, era pouco preciso, então com isto em mente nós buscamos outras formas, descartando também usar as escadas por serem inseguras e podendo causar acidentes. Até que encontramos no museu uma vara de bambu que é utilizada para colher abacates, no qual em sua ponta tem um vasilhame de plástico e um arame. Ao final transformamos este bambu em uma imensa agulha de aproximadamente 10 metros. Outra Thais e equipe de montagem colocando as cordas. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023. De acordo com a premissa do projeto, precisaríamos de um contrapeso para a janela, pois a intenção não era ter apenas janelas penduradas, mas sim fazer uma composição também no chão. Em princípio a intenção era fazer cubos de concreto, contudo não era a intenção parafrasearmos os cavaletes de Lina Bo Bardi, mas trazer um contrapeso que fosse seguro suficiente para manter a instalação em pé e tivesse uma linguagem da própria realização. 44 Esboço final instalação Aquilo que Atravessa, Outra Thais, 2023. Foi quando resolvemos fazer cubos de madeira com paralelepípedos do museu em seu conteúdo para trazer bagagem suficiente. Pensou-se que seria muito interessante não esconder as pedras que são do próprio Museu Histórico, abrindo uma das faces do cubo para apresentar parte da história do lugar. 45 Paralelepípedos do MHISB. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. Contudo a empiria de erguer as janelas e os paralelepípedos, notamos que um paralelepípedo seria suficiente para erguer uma janela com total amparo e equilíbrio. Sendo o chão do Museu Histórico Municipal de Bauru, teríamos assim a materialidade contando a história do lugar, do solo ao teto, em nova concepção poética. No vão abaixo do MASP, o piso é todo envolto por essas pedras, pois “O Belvedere é uma “praça”, com plantas e flores em volta, pavimentada com paralelepípedos na tradição iberico- brasileira”. (BO BARDI, Lina., 1997, n.p) Essa reflexão de onde eram os paralelepípedos criou um paralelo poético, afinal vieram da nivelada construção de Bo Bardi ou da entrada do museu bauruense ? Locomove-se assim até ao formato final da obra, no qual seria cada janela ligada com uma corda em seu respectivo paralelepípedo. A questão sísmica sempre esteve presente na dicotomia entre manter ou não o suporte das obras em voga no MASP. O sismógrafo é um dos paralelos da exposição com os cavaletes de vidro. Uma forma de utilizá-lo foi em permitir que os 46 visitantes pudessem desenhar e deixar recados, desenhos, não sendo apenas o padrão museológico do caderno de presença, com numeração, mas uma interação direta com a artista em caneta vermelha. O sismógrafo foi emprestado pelo Museu Histórico de Bauru, e é patrimônio do acervo. As alterações no papel dos traços sísmicos só foram possíveis por se tratar de um material impreciso e sem datação, podendo ser utilizado como base para os cumprimentos do interator. Público na vernissage deixando recados no sismógrafo. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. A poeira deixada pelo tempo nas janelas foram limpas e fez-se uma composição com a fuligem, algumas ficaram mais limpas que as outras, e as mais leves foram suspendidas mais ao alto e as mais pesadas com molduras e vidros mais abaixo, justamente por questões de segurança extra para as peças. Era importante que não fossem feitas alterações, por se tratar de patrimônio do museu, portanto nenhum vidro ou madeira foi danificada durante o processo, cabendo a nós abarcar a originalidade de cada uma. 47 Janela antes da composição com a poeira. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. Instalar a ação A montagem de onde ficaria cada janela, corda e paralelepípedo fez parte do desenho, era como se estivéssemos desenhando no espaço tridimensional. A altura das janelas e posição das cordas faziam com que os paralelepípedos dançassem no espaço, como se fossem lápis de pedra. LOCATELLI, Dora. Cordas e paralelepípedos da instalação Bauru, Maio de 2023. 48 Se os paralelepípedos estivessem todos alinhados no chão, ou todas as janelas em um paralelepípedo, ou vários paralelepípedos para uma janela, quaisquer que fosse o formato traria uma intenção e conceitos diferentes. Na montagem reparamos que as janelas da instalação já penduradas se mexiam sozinhas com o movimento das pessoas pelo espaço. Duas delas foram travadas por um dos lados da corda para não rodarem, mas durante o processo aceitamos a dinamicidade delas, e foi uma solução muito feliz em que elas dançam no próprio eixo, de forma que uma vez montada nunca seria igual, o tempo novo teria uma nova composição obra. Outro fator que compôs com o trabalho foram as janelas do museu e da instalação coreografaram juntas o movimento através da luz solar. Todos os dias durante a manhã, perto das 11h o chão da obra ganhava a companhia de fachos de luz que passavam pelas janelas das paredes. Instalação Aquilo que Atravessa com luz solar no chão. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. 49 A questão de relacionar o espaço em que o museu está inserido com posição solar dignificou excelentemente a poética. São peças de um museu, para falar de um tempo no museu, no lugar do museu. Uma condição metalinguística que coloca a instalação como site-specific. Afinal o sentido da interpretação só poderia ser nas condições deste lugar em especial, e não em outro. Primeiramente estas janelas são patrimônio do museu, e mesmo que pudessem fazer parte de uma obra instalativa em outro lugar, provavelmente o contexto seria completamente diferente. Instalação Aquilo que Atravessa montada. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. Em princípio a intenção era de ser livre para o público poder andar por debaixo das janelas, porém por existirem três eixos em que as pessoas poderiam esbarrar ou tropeçar, e por questões de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, fez-se necessário colocar faixa na obra final por questões de segurança. O espaço externo foi medido para que tivesse espaço de circulação suficiente para cadeiras de rodas e fluxo de ir e vir do público visitante. 50 A acessibilidade da exposição foi um fator extremamente importante, no qual foi feita uma rampa de acesso- pelo marceneiro do museu- para cadeirantes na entrada do prédio expositivo. A autorização de carro para a entrada da pessoa com deficiência foi liberada para estacionar próximo ao edifício. Marceneiro José Jesus Dias misturando areia e tinta para deixar a rampa antiderrapante. MACHADO , Luiz Ben Hassanal. Bauru,Maio de 2023. A exposição contou com cerca de 85 assinaturas presenciais, sendo que algumas pessoas apenas assinaram no sismógrafo ou não deixaram o registro de entrada, podemos constatar que pelo menos 100 pessoas foram pessoalmente à Aquilo que Atravessa. Um excelente número de presentes, visto que a exposição ficou 7 dias em cartaz e se tratando de uma obra de arte contemporânea em uma cidade do interior paulista. Também tivemos o público da mediação online do evento da 21ª Semana Nacional de Museus, que viu a chamada ao vivo no Instagram e depois que ficara gravada recebemos mais de 370 visualizações. 51 Em princípio eram 5 dias de exposição, porém foi pedido para prorrogarmos o prazo para recebermos público agendado e espontâneo da 21ª Semana Nacional de Museus, portanto ficamos 7 dias no total em cartaz. A exposição contou com uma ampla contrapartida, visto que a exposição foi gratuita, teve o educativo conduzido pela própria artista, oficina e recebeu público espontâneo, grupos agendados e mediação online . Detalhe de Aquilo que Atravessa LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio de 2023. 52 Capítulo IV- Contrapartidas Relações coletivas em Aquilo que Atravessa A proposta de fazer uma exposição que não fosse dentro do grupo universitário veio do fato de que queríamos que a obra pudesse ser apreciada pela comunidade bauruense. Poucos são os trabalhos de bacharelado em artes visuais que de fato se relacionam com o município, enquanto a licenciatura o faz por conta do vínculo com as escolas regulares dos estágios obrigatórios. O fato do espaço expositivo da universidade estar em reformas não seria um impeditivo para a exposição acontecer, afinal poderia ser feito um projeto em qualquer lugar da instituição. Porém, encerrar este ciclo de graduação devolvendo todo o enlace com a cidade de Bauru se fez muito necessário e contar a sua história através do próprio lugar fez-se primordial. Para a exposição acontecer no Museu Histórico Municipal de Bauru, foi necessário ter uma contrapartida relevante que fosse adiante de ser um evento gratuito. Além da exposição, foi oferecida cronologicamente uma mediação online e outra virtual para o evento da 21ª Semana Nacional de Museus; uma mediação com oficina de gravura em EVA para o grupo da terceira idade - o UNATI; e recebemos dois grupos de professores de artes de ensino básico do Polo Arte na Escola Bauru com visita mediada. Foram recebidos também o público espontâneo, que são pessoas que iam visitar a exposição de maneira independente. Todas as mediações foram feitas pela própria artista Outra Thais, tendo uma ligação direta com os visitantes. Pela exposição fazer parte da programação da 21ª Semana, a divulgação nas mídias impressas e televisivas foram feitas e programadas pelo DPPC (Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural de Bauru). A vernissage da exposição deu-se em uma sexta-feira à tarde no dia 12 de Maio de 2023, onde familiares, amigos, público de estudantes e professores de artes da UNESP, agentes culturais e secretário da cultura puderam abrir - juntos à artista - Aquilo que Atravessa. Finalmente o projeto estava entregue aos olhos do público. 53 Vernissage Na abertura foi uma grande ansiedade e surpresa. Organizamos uma bancada de comidas e bebidas na sala da frente, que virou uma sala de recepção do público. Os copos plásticos eram vermelhos para trazer parte da experiência e do conceito da obra. Havia o pôster Aquilo que Atravessa na entrada do museu e no prédio do evento, uma ficha técnica com todos os apoiadores foi colocado ao lado do sismógrafo e o texto curatorial no corredor em sentido à sala expositiva. Visitantes assinando o sismógrafo e a lista de presença. LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023. Ao apresentar o local e permitir que as pessoas entrassem na obra foi muito interessante ver as reações das pessoas. Diversas conversas sobre de onde eram as janelas, sobre a sensação de que elas poderiam cair a qualquer momento, ou até questionaram o uso da faixa no chão. A intenção era de nenhuma maneira induzir o olhar sobre a obra na questão poética, pois o mais importante é saber qual o caminho o visitante faz, fazer suas próprias relações e dar autonomia para que possa fazer o caminho que quiser. 54 Visitantes na abertura, LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023. Atravessar o olhar pela sala, onde janelas estão estendidas e os paralelepípedos no chão. Muito foi perguntado sobre a forma pela qual foi instalada a corda e fez-se uma brincadeira sobre como foi possível sem ser arremessado com um contrapeso? Sem usar escada ou andaime, realmente fica difícil entender como aquilo foi formado e a curiosidade é uma forma de imaginar e repensar os tempos que a materialidade pode trazer. Grupo com a artista Outra Thais na vernissage, LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023. 55 As pessoas se impressionaram com o tamanho do espaço, que muitas não conheciam e viram uma obra sem paredes opacas como divisoras, as paredes do museu brancas eram finalmente parte do todo da composição, mesmo fora da faixa branca no chão. Outra Thais com os visitantes da Secretaria de Cultura de Bauru. LOCATELLI, Dora, Bauru, Maio 2023. No dia 13 de maio recebemos um visitante, o jornalista Rodrigo Antonio e juntos fizemos alguns vídeos-teste para a chamada da mediação da segunda-feira. Frame do vídeo de Outra Thais explicando o trabalho e ensaiando. ANTONIO, Rodrigo, Bauru, Maio 2023. Link: https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1FN7jJ4DAfWpSuXrVZBw-cbQeN-VdwHd- 56 https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1FN7jJ4DAfWpSuXrVZBw-cbQeN-VdwHd- Mediação do evento presencial e online da 21a Semana Nacional de Museus Abrindo o espaço para receber a mediação da 21ª Semana Nacional de Museus presencial, Outra Thais, Bauru, Maio 2023. 57 A mediação presencial fora marcada para às 9h da segunda-feira do dia 15 de maio de 2023. No grupo recebemos as impressões sobre o trabalho, um deles é vigia do museu e não sabia do que se tratava a exposição, apenas viu-nos com os objetos circulando durante a montagem, então sua reação foi de extrema surpresa ao ver o local. Disse-nos que nunca havia visto aquele espaço ser ocupado daquela forma, e ficou sensivelmente emocionado, quando pegou o telefone celular para ligar para esposa e pediu para que a convidasse para a instalação artística. Por ser manhã, ficamos observando a luz solar bater entre as frestas das janelas, e houve um silêncio respeitoso de reflexão. Já no período da tarde, das 14h, tivemos a mediação remota por live do Instagram. Mediação online de Outra Thais para a 21ª Semana Nacional de Museus, no Instagram: https://www.instagram.com/p/CsReU57u6hl/ 58 https://www.instagram.com/p/CsReU57u6hl/ Pelo formato ser ao vivo, a demanda era de que se falasse primeiramente sobre a inspiração da obra, sobre a pesquisa dos cavaletes de vidro e o MASP de Lina Bo Bardi, de onde veio a materialidade, para depois abrirmos para perguntas. Conseguimos, ao final das perguntas, mostrar o espaço como se fosse uma visitação online. Os educativos presenciais costumam primeiramente ter um tempo para explorar a obra com autonomia, para depois haver uma conversa do que fora visto, portanto foi diferente do habitual. Foram feitas perguntas sobre a corda, sobre o porquê da pesquisa ser sobre Bo Bardi, sobre as problemáticas do MASP e principalmente sobre a materialidade, pois acharam interessante poder perguntar para a própria artista das escolhas que tomou, humanizando o contato entre público e a criadora. Unati e a Oficina de Gravura em EVA Logo do Unati no Instagram de chamamento para evento: https://www.instagram.com/p/CsG1rnGOfqe/ 59 https://www.instagram.com/p/CsG1rnGOfqe/ O educativo do Unati foi de um período de tempo maior, das 14h30 às 18h, pois além da mediação fora feita uma oficina de gravura em EVA com os desenhos de observação. Para isso acontecer, primeiramente demos um tempo hábil para poderem ver a obra e conhecer o espaço expositivo, para depois ouvirmos as reflexões dos visitantes sobre a exposição. O grupo faz parte da terceira idade e muito se lembrou da nostalgia de ver essas janelas novamente- que antes eram novas, pois eles conheceram a Estação Paulista- e falou-se sobre o tempo de cada material, de que o paralelepípedo seria a peça mais velha, e a corda a mais jovem. Grupo Unati visitando o espaço expositivo, LOCATELLI, Dora. Bauru, Maio 2023. Outra visitante contou-nos que para ela toda instalação parecia que sempre estivera ali, naquele mesmo lugar, que as janelas envelheceram naquela disposição, como se o tempo tivesse passado dentro daquele espaço. Ela disse que mesmo sabendo que as janelas vieram de outro lugar, parecia que ali era sua morada. 60 Mostrando para o grupo Unati o livro usado na pesquisa, LOCATELLI, Dora, Bauru, Maio 2023. Quando falamos sobre a pesquisa dos cavaletes do MASP, mostramos os cavaletes na referência de imagens no livro para que conhecessem, caso nunca tivessem visto-os antes. Conversamos que objeto corda é uma linha e da linha faz-se um traço e do traço um desenhar. Foi quando orientamos a proposta para o grupo de fazerem desenhos de observação da instalação. Para isso foi necessário uma equipe colocar as mesas, cadeiras e materiais de desenho no espaço expositivo enquanto na sala de recepção a artista explicou como era feita a gravura em EVA com o palito de churrasco. 61 Outra Thais orientando como ia funcionar a oficina de gravura para o grupo, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. Os materiais foram distribuídos para a proposta em suas respectivas mesas: ● papeis coloridos ● canetas hidrográficas coloridas ● palitos de churrasco ● EVA’s azuis previamente cortados para serem as matrizes 62 Materiais para desenvolvimento do desenho de observação, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. Para a impressão das gravuras utilizamos: ● tinta guache preta ● rolo de espuma pequeno ● fita crepe ● papel para a impressão das matrizes em EVA ● varal com linha vermelha ● pregadores Materiais da Oficina de Gravura em EVA, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. Houve tempo para desenharem, testarem os materiais do EVA com o palito de churrasco e fomos orientando as dúvidas em cada mesa. Colocamos música ambiente enquanto o grupo desenhava. 63 Aprendizes desenhando no espaço expositivo, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. Para gravurarmos, existiam algumas instruções no qual a artista acompanhava com o rolinho de pintura e outros da equipe eram responsáveis por pendurar as obras de nossos aprendizes no varal e colocar as matrizes para secar. As gravuras do grupo sendo impressas, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. 64 Gravuras secando no varal, LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. Para finalizarmos o evento, foi feito um pequeno piquenique na sala de recepção enquanto as gravuras secavam. Por ser um material à base d'água, secou rapidamente, ao ponto que podiam levar para casa sua própria gravura. A professora responsável pelo grupo de extensão, Thais Ueno, levou as matrizes de todos os visitantes para entregá-los na semana seguinte. 65 Matrizes dos aprendizes da Oficina. LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. Pela atividade proposta, com instruções no espaço expositivo e por termos um grupo conduzido, foi liberada a entrada na obra instalativa Aquilo que Atravessa ao final da atividade, com muita atenção para que não ocorresse nenhum contratempo. Foi interessante, pois todos tiveram receio de ficar embaixo das janelas, ou se engancharem nas cordas vermelhas, mesmo sabendo a segurança em que estavam fixas. Foi surpreendente termos essa reação do público. 66 Alguns dos aprendizes no final da Oficina com suas gravuras dentro do espaço expositivo. LOCATELLI, Dora,Bauru, Maio 2023. 67 Grupo Polo ( Manhã e Tarde) O curador da exposição Luiz Ben Hassanal recepcionou o grupo Polo da manhã. Dora,Bauru, Maio 2023. A turma do Polo da manhã foi o único grupo grande que pôde ver a claridade da manhã, quando o Sol inundara toda a instalação com luz. Houve um dia que um visitante do público espontâneo disse que as luzes no chão pareciam mais paralelepípedos de luz, além de janelas ao chão. O grupo falou sobre a questão do tempo e perguntou o porquê do vermelho da corda, se tinha alguma menção objetiva na escolha. Piso com iluminação das janelas pela manhã, Dora,Bauru, Maio 2023. 68 Todos os grupos conheceram a alma da corda. Foram levados junto ao material da mediação dois pedaços de corda, uma mais frágil e outra mais resistente e com alma. Também foi utilizado o livro dos cavaletes do MASP para referências. O grupo da manhã teve a mediação dividida com o curador da exposição, Luiz Ben Hassanal Machado da Silva. Grupo do Polo da tarde conhecendo a exposição, LOCATELLI, Bauru, Maio 2023. No grupo da tarde, apenas Outra Thais fez a mediação e foi elogiado o fato de ter um educativo em que pudessem perguntar para a própria artista sobre a concepção da obra, que não costuma ser comum. Foi perguntado também o porquê da faixa de limite da obra e explicou-se assim a questão de segurança e também por ser uma exposição de classificação livre, portanto recebemos público de diversas faixas etárias. Foi com este grupo que fechamos a semana da exposição Aquilo que Atravessa, foi feito café para recebermos ambas as turmas do Polo Arte na Escola, que foram servidas em copo vermelho. 69 Grupo Polo da tarde, finalizando assim a exposição Aquilo que Atravessa. Dora,Bauru, Maio 2023. 70 Conclusão Xilogravura feita após a desmontagem de Aquilo que Atravessa, Outra Thais, Bauru, Maio 2023. Conclui-se, por fim, que os objetivos gerais e específicos foram cumpridos, uma vez que a instalação Aquilo que Atravessa ponderou sobre a historicidade e importância não apenas de Lina Bo Bardi, dos cavaletes de vidro e MASP, como também como do registro de pesquisa da extinta Companhia Paulista, o atual Museu Histórico Bauru. A intenção de sairmos do eixo universitário para nos relacionar com os centros de cultura de Bauru foi trabalhada, envolvendo variadas instâncias, como a Secretaria de Cultura, o DPPC, o Museu Histórico. O Museu Ferroviário e a Pinacoteca Casa Ponce também divulgaram as ações da exposição, não apenas com o cartaz, mas em todas as redes sociais. Participamos da 21ª Semana Nacional de Museus, fazendo assim parte da programação do país, especificamente da região Sudeste. A exposição inaugurou o evento em Bauru, com mediação presencial durante a manhã e durante a tarde 71 fizemos uma mediação online no Instagram. Toda programação teve inscrição prévia por formulário do Google feito por organizadores do evento de Bauru. Foi possível os grupos de extensão da UNESP- FAAC fazerem ponte com a pesquisa sobre os cavaletes de vidro, MASP e Lina Bo Bardi, visto que acompanharam as visitas à obra com mediação com a artista e oficina no Museu Histórico Municipal de Bauru. A exposição Aquilo que Atravessa foi um evento de classificação livre, gratuita, de duração de uma semana, que contou com obra de arte instalativa contemporânea. Todo registro fotográfico e vídeo foi feito, desde antes da montagem, até a finalização da exposição. A desmontagem foi feita pela equipe do Museu Histórico que retornou todas as peças aos seus devidos lugares. Equipe do Museu Histórico desmontando a exposição Aquilo que Atravessa, MACHADO DA SILVA, Luiz Ben Hassanal, Bauru, Maio 2023. 72 Equipe do Museu Histórico retirando as janelas de suspensão e desamarrando as cordas, MACHADO DA SILVA, Luiz Ben Hassanal, Maio 2023. O que ficou sobre Aquilo que Atravessa foi um olhar sobre os tempos que se conectam em um espaço expositivo, trazendo o modo artístico de uma companhia ferroviária que interseccionou Bauru ao restante do estado de São Paulo, onde atualmente traz aos trilhos as janelas, os vidros de outrora, com pesados paralelepípedos, atando em vermelho a história da cidade de bauru. 73 Referências bibliográficas ANELLI, Renato. (2015) “Origens e Atualidade da Transparência no Masp” in. Concreto e Cristal: O Acervo do Masp nos Cavaletes de Lina Bo Bardi. Cobogó. São Paulo. pp. 44-50 BARBOSA, Karen. (2015) “Concreto e Cristal: Conservação” in. Concreto e Cristal: O Acervo do Masp nos Cavaletes de Lina Bo Bardi. Cobogó. São Paulo. p.37 BENJAMIN, Walter. (1996) “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica” in. Magia e Técnica. Arte e Política. Editora Brasiliense. São Paulo BO BARDI, Lina. (1997) “Museu de arte de São Paulo” in. Museu de Arte de São Paulo. CODEPAC. (1996) Processo de Tombamento do Complexo da Estação da Companhia Paulista. Número 18049-96. Bauru Editora Blau. São Paulo DANTO, Arthur. (2006) Após o Fim da Arte: A Arte Contemporânea e os limites da História. Odysseus Editora. São Paulo. FREIRE, Cristina. (1999) Poéticas do Processo: Arte Conceitual no Museu. Iluminuras São Paulo. GASPARI, Hélio. (2002) A Ditadura Envergonhada. Companhia das Letras. São Paulo GOMES, Pryscila (2019). De Olho na História do Masp. Disponível em 10 de abril de 2023. de página Editorial do site SP-Arte. https://www.sp-arte.com/editorial/de-olho-na-historia-do-masp/ MIYOSHI, Alexander Gaiotto. (2015) “Sobre Cristais e Paredes: Recepção Crítica dos Cavaletes de Vidro e Soluções da Pinacoteca do Masp” in. Concreto e Cristal: O Acervo do Masp nos Cavaletes de Lina Bo Bardi. Cobogó. São Paulo. pp. 98-103 O'DOHERTY, Brian. (2002) No Interior do Cubo Branco. Martin Fontes. São Paulo PEDROSA, Adriano (2015) “Concreto e Cristal: Aprendendo com Lina” in. Concreto e Cristal: O Acervo do Masp nos Cavaletes de Lina Bo Bardi. Cobogó. São Paulo. pp. 14-21 VAN EYCK, Aldo. (1997) “Um Dom Superlativo” in. Museu de Arte de São Paulo. Editora Blau. São Paulo 74 https://www.sparte.com/editorial/de-olho-na-historia-do-masp/ Links: Programação 21° Semana Nacional de Museus. Publicado em 28 de Abril de 2023. Disponível em 25 de maio de 2023 https://www.gov.br/museus/pt-br/assuntos/eventos/21a-semana-nacional-de-museus/ guia Reportagem G1 21ª Semana Nacional de Museus. Publicado em 14 de Maio de 2023. Disponível em 25 de maio de 2023 https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2023/05/14/semana-nacional-de-museu s-tera-atividades-em-bauru-veja-programacao.ghtml Publicação na página no Instagram do Museu Histórico Municipal de Bauru para 21ª Semana Nacional de Museus. Disponível em 03 de junho de 2023 https://www.instagram.com/reel/CsKFQcds4Jb/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng== Ensaio com o jornalista Rodrigo Antonio. ANTONIO, Rodrigo, Bauru, Maio 2023. https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1FN7jJ4DAfWpSuXrVZBw-cbQeN-VdwHd- Publicação na página no Instagram do Pinacoteca de Bauru para 21ª Semana Nacional de Museus. Disponível em 06 de junho de 2023 https://www.instagram.com/reel/CsKFfdUg-lE/?igshid=MzRlODBiNWFlZA== Live da monitoria online de Outra Thais para a 21ª Semana Nacional de Museus por sua página no Instagram do Museu Histórico Municipal de Bauru. Disponível em 06 de junho de 2023 https://www.instagram.com/tv/CsReU57u6hl/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng== Reportagem do Diário do Brasil Tv Prevê sobre a 21ª Semana Nacional de Museus em sua página no Facebook . Disponível em 19 de maio de 2023 https://fb.watch/lfkAsbkxGo/?mibextid=YCRy0i 75 https://www.gov.br/museus/pt-br/assuntos/eventos/21a-semana-nacional-de-museus/guia https://www.gov.br/museus/pt-br/assuntos/eventos/21a-semana-nacional-de-museus/guia https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2023/05/14/semana-nacional-de-museus-tera-atividades-em-bauru-veja-programacao.ghtml https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2023/05/14/semana-nacional-de-museus-tera-atividades-em-bauru-veja-programacao.ghtml https://www.instagram.com/reel/CsKFQcds4Jb/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng== https://www.instagram.com/tv/CsReU57u6hl/?igshid=MTc4MmM1YmI2Ng== https://fb.watch/lfkAsbkxGo/?mibextid=YCRy0i Publicação na página no Instagram do Museu Histórico Municipal de Bauru para a Oficina com a turma do UNATI. Disponível em 19 de maio de 2023 https://www.instagram.com/reel/CsWZp7tLGSJ/?igshid=MzRlODBiNWFlZA== Imagem de Lina Bo Bardi no Masp em 1967. Publicado em 15 de junho de 2021. Disponível em 13 de junho de 2023 https://brasil.elpais.com/cultura/2021-06-15/duas-vezes-lina-bo-bardi.html Imagem dos cavaletes em uso em 2015. Publicado em 20 de Abril de 2016. Disponível em 29 de maio de 2023 https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/337864 Logo do Museu Histórico Municipal de Bauru. Disponível em 06 de junho de 2023 https://m.facebook.com/museuhistoricobauru Mediação online de Outra Thais. Disponível em 03 de junho de 2023 https://www.instagram.com/p/CsReU57u6hl/ Logo do UNATI no Instagram. Disponível em 06 de Junho de 2023 https://www.instagram.com/p/CsG1rnGOfqe/ Imagens de Maio de 1968 na França. Disponível em 15 de junho de 2023 http://marcriboud.com/en/countries/may68/ 76 https://www.instagram.com/reel/CsWZp7tLGSJ/?igshid=MzRlODBiNWFlZA== https://brasil.elpais.com/cultura/2021-06-15/duas-vezes-lina-bo-bardi.html https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/337864 https://m.facebook.com/museuhistoricobauru https://www.instagram.com/p/CsReU57u6hl/ https://www.instagram.com/p/CsG1rnGOfqe/ APÊNDICE Aquilo que Atravessou E é aqui que passamos por toda a exposição em registro nestas páginas. Será cá que romperei com a primeira pessoa do plural e pedirei licença, pois assumirei como este trabalho teve impacto poético e as reflexões dele na primeira pessoa de Outra Thais. Aquilo que Atravessa criou uma proporção tão imensa para mim como artista, não apenas por ser minha primeira exposição solo, mas também pelo tumulto sensível que causou. O trabalho ativou memórias antigas, até de quando um amigo da família e corretor de imóveis, chamado Lysias, quando eu tinha 15 anos me levou para conhecer uma das casas que ele estava colocando a placa de VENDE-SE. Reparo que um dos quartos não possui janelas. Disse ele que eram quartos para moças, para que se mantivessem virgens na casa de seus pais. Um quarto sem janela para mulheres, onde o ar não entra, o Sol não esquenta a pele e abafa toda a vivacidade de uma juventude. Uma janela pode ser um privilégio, significa o tanto de liberdade ao abrir o mundo para dentro de si mesma. A caixa das cinzas de minha mãe Cecília está sepultada junto ao Lysias, na cidade de Brotas. Foi quando eu erguia as janelas com a equipe de montagem que eu sentia que aquilo já fora pendurado em algum lugar, mas não me lembrava onde. Até que me deparo com o colar de Cecília em uma de minhas gavetas e ele tem o mesmo formato da janela do Museu Histórico. Eu brincava com o colar em seu peito, ficava subindo e descendo a janela em seu pescoço. A saudade da pessoa que só existe dentro de mim agora. 77 Colar de Maria Cecília de Oliveira Antonio. Outra Thais, Bauru, 2023. Cecília ao falecer em 2012 fez uma catapulta em mim para uma militância para romper com as paredes desses quartos sem sabor. No vão do MASP, onde me reuni diversas vezes entre bandeiras e coro, minha voz abraçou em algum momento os cavaletes de vidro de Lina. Ainda não como artista, mas como uma mulher que havia perdido a mãe e um ganho de maturidade que apenas o luto pode trazer. Em junho de 2013, dez anos atrás, na Avenida Paulista do MASP, havia um véu de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha de uma polícia que quebrava os vidros dos prédios e espalhava estilhaços em seus manifestantes. Eu não conseguia respirar, como num quarto sem janela. Retrato de Outra Thais com máscara de proteção tóxica, LASRY, Julia. Bauru, 2022 78 Durante toda a pesquisa o ano de 1968 se repetiu muitas vezes. Na fotografia do Museu Histórico, 1968 foi o ano em que o MASP ficara pronto, e na rua Maria Antonia de 1968 tivemos uma batalha que teve como estopim também em 2013 repetindo o passado. Foi então que na França de 1968, quando os militantes atiraram pedras contra a polícia, Marc Riboud registrou o paralelo acidental com Aquilo que Atravessa, ao ponto de faltarem apenas as cordas vermelhas para erguer os paralelepípedos franceses. Militantes atiram pedras na polícia parisiense no fatídico Maio de 1968. RIBOUD, Marc. França, 1968. Fonte: http://marcriboud.com/en/countries/may68/ 79 http://marcriboud.com/en/countries/may68/ Anexo A- Texto curatorial redigido por Luiz Ben Hassanal Machado da Silva 80 Anexo B - Ficha Técnica 81 Fonte: DPPC (Departamento de Proteção ao Patrimônio Cultural) Anexo C- Detalhe de Aquilo que Atravessa 82 Detalhe das cordas entrelaçadas, LOCATELLI. Dora, Bauru, Maio 2023. Anexo D - Polo Arte na Escola Bauru Manhã 83 Grupo aguardando a mediação, GODEGUEZI, Jerônimo, Bauru, Maio 2023. Anexo E - Polo Arte na Escola Bauru Manhã 84 Mediação com a curadoria. GODEGUEZI, Jerônimo, Bauru, Maio 2023. Anexo F - Polo Arte na Escola Bauru Manhã 85 Detalhe da exposição Aquilo que Atravessa como metalinguagem fotográfica, GODEGUEZ, Jerônimo, Bauru, Maio 2023. 86