3 A Família Myrtaceae na Reserva Particular do Patrimônio Natural da Serra do Caraça, Catas Altas, Minas Gerais, Brasil* Patrícia Oliveira Morais1 & Julio Antonio Lombardi2 1 Mestre em Biologia Vegetal. Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, Caixa Postal 486, 30123-970, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail: pomorais@yahoo.com.br. 2 Departamento de Botânica, Instituto de Biociências de Rio Claro, UNESP - campus de Rio Claro, Caixa Postal 199, 13506-900, Rio Claro, SP, Brasil. Abstract The family Myrtaceae in the Reserva Particular do Patrimônio Natural da Serra do Caraça, Catas Al- tas, Minas Gerais, Brazil. This is a floristic survey of Myrtaceae in the Serra do Caraça, Minas Gerais. Fifty two species were found belonging to 12 genera - Myrcia with 17 species, Eugenia with nine, Campomanesia and Myrciaria with five species each, Psidium with four, Siphoneugena with three, Blepharocalyx, Calyptranthes, Marlierea and Myrceugenia with two species each, and Accara and Plinia with one species each. Descriptions of the genera and species, identification keys, geographical distributions, illustrations and comments are provided. Keywords: Taxonomy, Myrtaceae, Serra do Caraça, Minas Gerais. Received:28.III.06 Accepted:15.VII.06 Distributed:30.XII.06 Lundiana 7(1):3-32, 2006 © 2005 Instituto de Ciências Biológicas - UFMG ISSN 1676-6180 * Dissertação de mestrado da primeira autora. Curso de Pós Graduação em Biologia Vegetal, UFMG Introdução O Maciço do Caraça está inserido em três regiões do estado de Minas Gerais, importantes do ponto de vista biológico e econômico: a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA Sul - RMBH) cuja área coincide grandemente com a região do Quadrilátero Ferrífero. O Maciço do Caraça é considerado assim uma ilha cercada de todos os lados por empresas de mineração (Zico, 1990); além disso, a Serra do Caraça está localizada na porção Sul da Cadeia do Espinhaço, caracterizada pelo predomínio de floresta tropical na base da encosta, e pela ocorrência dos Campos Rupestres, restritos a afloramentos rochosos ou manchas de solos empobre- cidos ou podzolizados, isolados nas áreas mais altas (Harley, 1995). A família Myrtaceae está entre as 10 famílias com alta representatividade de espécies em vários levantamentos florísticos realizados na Cadeia do Espinhaço, tais como: Giulietti et al. (1987) para a Serra do Cipó em Minas Gerais, Harley (1995) para o Pico das Almas na Chapada Diamantina na Bahia, Mota (2002) para a Serra do Caraça, Zappi et al. (2003) para a região de Catolés na Chapada Diamantina. Além disso, as Myrtaceae estão entre as famílias com maior riqueza específica nas formações vegetais da costa oriental brasileira, especial- mente na Mata Atlântica, sendo a identificação de suas espécies condição indispensável para a quantificação da biodiversidade desse ecossistema (Barroso & Peixoto, 1992). É freqüentemente citada em trabalhos de florística e fitossociologia em formações florestais, estando entre as mais importantes em riqueza de espécies e gêneros (Lima & Guedes-Bruni, 1997). As Myrtaceae compreendem ca. 1000 espécies no Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997) e constituem uma tribo – Myrteae – dividida em três subtribos, dist intas pela morfologia do embrião: Myrtinae - caracterizada pelo hipocótilo desenvolvido e cotilédones pequenos ou vestigiais, Myrciinae - cotilédones foliáceos e hipocótilo desenvolvido e Eugeniinae - cujos cotilédones são carnosos e o hipocótilo vestigial ou ausente (Fig. 1A-C). De acordo com Landrum & Kawasaki (1997), as característ icas dos embriões são de grande importância taxonômica no estudo das Myrtaceae. Dentre os trabalhos que abordaram estudos taxonômicos da família Myrtaceae no Brasil estão aqueles de O. Berg (1857), Kiaerskou (1893), McVaugh (1958,1968, 1969), Legrand & Klein (1967, 1969a, b, 1970, 1971a, b, 1977, 1978), Landrum (1981, 1986), Barroso et al. (1984), Kawasaki (1989), Proença , (1990), Sobral (1993, 2003), Barroso & Peron (1994), Nic Lughadha (1995), Landrum & Kawasaki (1997), Arantes & Monteiro (2002), Mazine (2002). O presente trabalho teve como objetivos realizar o levanta- mento florístico das espécies de Myrtaceae ocorrentes na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Serra do Caraça, bem como confeccionar chaves de identificação, descrições e ilustrações para as espécies encontradas. 4 Materiais e métodos Área de Estudo - A RPPN da Serra do Caraça localiza-se no município de Catas Altas a 120 Km de Belo Horizonte, sua sede situa-se a 1240m de altitude, nas coordenadas 20º 05’ 46,2’’ S e 043º 29’ 13,5’’ W. As maiores elevações são: o Pico da Carapuça com 1955m, o Pico do Inficionado com 2032m e o Pico do Sol com 2107m de altitude. O clima da região é classificado como Cwb segundo o sistema de Köppen, ou seja, temperado chuvoso (mesotérmico) também chamado subtropical de altitude, com temperatura média do mês mais quente inferior a 22ºC (Antunes, 1986). As geadas são intensas no inverno, onde a temperatura pode chegar a quase 0°C. Os ventos dominantes vêm do SW e SE (Ferreira et al., 1977). As fitofisionomias encontradas na RPPN da Serra do Caraça foram divididas em: formação campestre – Campo Rupestre – e formações florestais – Capoeira, Floresta Estacional Semidecidual, Mata de Galeria, Mata Ciliar e Mata Nebular. Para definição de Floresta Estacional Semidecidual e Mata Nebular foi seguido Veloso & Góes-Filho (1982) e para Campo Rupestre, Mata de Galeria e Mata Ciliar foi seguido Ribeiro & Walter (1998). A fitofisio- nomia denominada Capoeira é uma formação fortemente alterada por ação antrópica. Pode ser caracterizada pela presença de estrato herbáceo-arbustivo, com mistura de elementos de Floresta Semidecidual e de Campo Rupestre. Amostragem - As espécies analisadas neste estudo foram obtidas a partir de consulta ao Herbário BHCB, além de nove excursões adicionais que foram realizadas entre 2003 e 2004, para observações das espécies em campo, registro fotográfico e coletas complementares. Todos os espécimes coletados e citados neste trabalho estão devidamente preservados na coleção do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Herbário BHCB). A identificação das espécies foi feita a partir de literatura específica, fotografias de material tipo do Field Museum (F) e comparações com exsicatas depositadas no herbário BHCB. As variedades e outras formas subespecíficas referidas na literatura não foram incluídas neste trabalho. Os conceitos genéricos são aqueles definidos por McVaugh (1968), sendo que foram incluídas em Myrcia, como proposto por Landrum & Kawasaki (1997), as espécies de Marlierea e Gomidesia que possuíam sinonímia neste gênero, após análise das características morfológicas destas espécies. As descrições da família e dos gêneros foram obtidas com base em literatura, sendo adaptadas para abrangência das espécies da área de estudo, enquanto que a descrição das espécies foi baseada somente na análise dos materiais provenientes da área. A utilização de material adicional foi feita quando o material disponível não estava completo, ou seja, com botões, flores e frutos. Os gêneros e as espécies dentro de cada gênero são apresentados em ordem alfabética. A citação dos acrônimos dos Herbários segue Holmgren et al. (1990) e só é efetuada no caso de duplicatas de outras instituições ou na ausência do número do coletor. Os termos morfológicos usados são baseados em Radford et al. (1974) ou Stearn (1992). As características quantitativas foram tomadas com base nos valores mínimo e máximo observados. No caso de observação de apenas uma estrutura ou quando a variação era muito pequena, foi utilizada a notação “ca.” (cerca de) e caracteres não mensuráveis, como a coloração das estruturas, foram obtidos em campo ou a partir das etiquetas das exsicatas, quando anotados pelo coletor. Os símbolos usados para notação dos estados fenológicos foram: Bo (Botão), Fl (Flor) e Fr (Fruto). Resultados e discussão Na lista de fanerógamas ocorrentes na RPPN da Serra do Caraça, elaborada por Mota (2002), foram apresentadas 38 espécies de Myrtaceae. Durante o presente trabalho foram coletadas mais 14 espécies além daquelas listadas por Mota, totalizando 52 espécies de Myrtaceae ocorrendo na área da RPPN. Estas espécies estão distribuídas em 12 gêneros, sendo os gêneros com maior número de espécies: Myrcia com 17, Eugenia com nove e Campomanesia com cinco. Das espécies encontradas, duas são endêmicas da RPPN (Eugenia neosericea Morais & Sobral nom. n. e Blepharocalyx myriophyllus (Casar.) Morais & Sobral comb. n.) e três são endêmicas da Serra do Espinhaço em Minas Gerais (Accara elegans, Campomanesia rufa e Myrcia subcordata). A maior parte das espécies encontradas na RPPN apresenta distribuição pelas regiões Sul e Sudeste. As espécies com ampla distribuição (de Norte a Sul da América do Sul) foram coletadas principalmente em Floresta Semidecidual e Capoeira, áreas que foram alteradas antigamente para extração de madeira, utilização como pasto ou área de visitação e lazer. Chave de identificação para os gêneros de Myrtaceae 1. Ovário 2-3 locular ................................................................... 2 2. Inflorescências em panículas (Fig. 1D) .................................3 3. Botão floral aberto (Fig. 1E) ..................................... 8.Myrcia 3. Botão floral totalmente fechado (Fig. 1F;G) .........................4 4. Cálice rompendo-se na antese em lobos regulares lanceolados ou obtusos ......................................... 6.Marlierea 4. Cálice rompendo-se na antese por uma caliptra decídua, lobos ausentes (Fig. 1G; 7) ........ 3.2.Calyptranthes pulchella 2. Inflorescências em dicásios, racemos, glomérulos, fascículos ou flores solitárias ................................................................... 5 5. Inflorescências em dicásios, às vezes reduzidos a 1 flor (Fig. 1G;J) ............................................................................... 6 6. Cálice aberto no botão floral com 5 lobos regulares .............. .................................................................................... 8.Myrcia 6. Cálice fechado no botão floral, lobos ausentes ou assimétricos (Fig. 1J) .............................................................. 7 7. Cálice rompendo-se na antese por uma caliptra decídua, lobos ausentes (Fig. 1G; 6) ...... 3.1.Calyptranthes grammica 7. Cálice rompendo-se na antese irregularmente, lobos assimétricos (Fig. 1J) ............................................. 11.Psidium 5. Inflorescências em racemos, glomérulos, fascículos ou flores solitárias (Fig. 1K; L; H; 2G; D) .................................8 8. Flores solitárias ou reunidas em fascículos (Fig. 1H;2G) ....9 9. Lobos do cálice decíduos após a antese, restando apenas uma cicatriz quadrangular no fruto (Fig. 1I) ........................................................................ 2.Blepharocalyx 9. Lobos do cálice remanescendo total ou parcialmente no fruto ...................................................................................... 10 10. Tricomas dibraquiados, ferrugíneos, presentes na planta toda; embrião mircióide (Fig. 1B) .................. 7.Myrceugenia 10. Tricomas presentes, simples, esbranquiçados ou dourados, ou plantas glabras; embrião eugenióide (Fig. 1C) .................................................................................. 5.Eugenia Morais & Lombardi 5 Myrtaceae da Serra do Caraça 8. Flores reunidas em racemos (às vezes muito reduzidos) ou glomérulos (Fig. 1L;2J) .................................................. 12 12. Hipanto prolongado em tubo ............................................... 13 13. Lobos do cálice e tubo do hipanto persistentes após a antese e até a frutificação (Fig. 48) .... 10.1. Plinia cauliflora 13. Lobos do cálice e tubo do hipanto decíduos após a antese como uma unidade, restando somente uma cicatriz no fruto (Fig. 1M; 2A) ........................................... 14 14. Inflorescências em glomérulos; ovário com 2 óvulos em cada lóculo (Fig. 1L) ...................................... 9.Myrciaria 14. Inflorescências em racemos, às vezes muito reduzidos; ovário com mais de 2 óvulos em cada lóculo (Fig. 2J) ...................................................................... 12.Siphoneugena 12. Hipanto não prolongado em tubo (Fig. 2K) ....................... 15 15. Cálice 4-lobado; placentação axilar ........................ 5.Eugenia 15. Cálice 5-lobado; placentação bilamelada (Fig. 2B) ................................................................................ 11.Psidium 1. Ovário com 4 ou mais lóculos ............................................ 16 16. Ovário com 4 lóculos, testa da semente brilhante e lisa (Fig. 2L; 3) ................................................ 1.1.Accara elegans 16. Ovário com 8-16 lóculos, falsa testa da semente membranosa, verrucosa-glandular (Fig. 2C) ........................... ...................................................................... 4.Campomanesia 1) Accara Landrum Subarbustos a arbustos. Flores solitárias; brácteas decíduas; cálice fechado no botão floral e rasgando regularmente na antese em 4 lobos, ou aberto somente por um pequeno poro apical; pétalas geralmente 4; hipanto tubular; ovário 4-locular, 25-28 óvulos por lóculo, placentação bilamelada. Frutos globosos, coroados pelos lobos do cálice; cerca de 40 sementes, testa dura e brilhante, embrião mirtóide. Comentários: gênero monotípico ocorrendo nos Campos Rupestres de Minas Gerais (Landrum & Kawasaki, 1997). Segundo Landrum (1990), o nome Accara possui duplo significado. As letras trocadas formam Caraça, uma das localidades onde o material tipo foi coletado e uma área na qual a espécie tem sido coletada novamente, além do nome Accara ser similar a Acca, gênero ao qual, provavelmente, ela é fortemente relacionada. 1.1) Accara elegans (DC.) Landrum (Fig. 1H; 2L; 3) Folhas com pecíolos de 1,1-2,7mm, glabros; lâmina 2,0- 2,8cm x 0,8-1,5cm, elíptica a obovada, base atenuada, ápice agudo com pequeno múcron, glabra em ambas faces. Flores pediceladas, axilares; pedicelo 0,9-2,1cm, glabro; botões 5,1- 5,6mm x 3,6-4,1mm, globosos, pubescentes, fechados; cálice com lobos de 3,4-4,1mm x 3,0-3,5mm, triangulares, pilosos internamente e no ápice, glabros externamente. Frutos imaturos verdes, ca. 5,9mm, glabros. Material Examinado: 14/XII/2000 (Bo/Fl) R.C. Mota 1080; 19/XII/2002 (Bo/Fl) R.C. Mota 1919; 29/XI/1997 (Bo/Fl) M.F. Vasconcelos s.n. (BHCB 39958); Campo de Fora, 02/IV/ 2000 (Fr) J. Ordones et al. 117; trilha para a Cascatinha, 18/XII/ 2003 (Bo/Fl) P.O. Morais 152. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: Na RPPN a espécie ocorre em Campo Rupestre e Capoeira. Os botões e flores aparecem entre novembro e dezembro e os frutos, ainda imaturos, em abril. A. elegans é, até o momento, endêmica de Minas Gerais (Landrum, 1990). Foi coletada na Serra do Caraça e localidades adjacentes e no Parque Estadual do Rio Preto, município de São Gonçalo do Rio Preto, norte de Minas Gerais, crescendo em Campo Rupestre. Possui ramos caracte- risticamente alaranjados e glabros. É um pequeno arbusto com folhas nitidamente glandulosas, cartáceas e com margem revoluta. O cálice rasga em quatro lobos regulares e triangulares, bem característicos e que persistem até a frutificação. 2) Blepharocalyx O. Berg Subarbustos a arbustos. Flores solitárias; brácteas decíduas; cálice aberto no botão floral, 4-lobado; pétalas geralmente 4; hipanto tubular; ovário 2-locular, 2 óvulos por lóculo, placentação axilar. Frutos globosos a arredondados, coroados pela cicatriz quadrangular da queda dos lobos do cálice; 1-4 sementes, embrião mirtóide. Comentários: gênero com 3 espécies ocorrendo desde o Caribe até o sul do Chile; no Brasil ocorrem duas espécies, uma delas – Blepharocalyx eggersii (Kiaersk.) Landrum – restrita à região Amazônica e a outra – B. salicifolius (Kunth) O. Berg – uma espécie extremamente variável distribuída pelas regiões Sudeste e Sul do Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997). No Caraça foram encontradas duas variantes morfológicas que, segundo a interpretação de Landrum (1986), seriam ambas consideradas B. salicifolius. Realmente, uma delas foi determinada como B. salicifolius típica e a outra, coletada no Campo de Fora, dada a diferença signi- ficativa observada, necessita uma nova combinação (ver na discussão da espécie). Chave de identificação das espécies de Blepharocalyx 1. Folhas elípticas, nervuras secundárias evidentes, nervura central proeminente na face abaxial (Fig. 2D; 5) ................................................. 2.2.Blepharocalyx salicifolius 1. Folhas aciculares, nervuras secundárias não evidentes, nervura central plana na face abaxial (Fig. 1I; 4) .............................................. 2.1.Blepharocalyx myriophyllus (Casar.) Morais & Sobral, comb. n. 2.1) Blepharocalyx myriophyllus (Casar.) Morais & Sobral, comb. n. Basônimo: Eugenia myriophylla Casar., Novarum Stirpium Brasiliensium Decades 9:77, 1844 (tipo: Serra do Caraça, Claussen 2684, holótipo TO). (Fig. 1I; 4) Arbustos. Folhas com pecíolo de 1,1-1,3mm, glabro; lâmina 1,8-3,0cm x 0,8mm, filiforme, base atenuada, ápice acuminado, glabra em ambas faces. Flores pediceladas, axilares ou terminais; pedicelo 2,7-3,8mm, piloso; botões 2,3-2,4mm x 1,8- 2,0mm, obovóides, glabros, abertos; cálice com lobos de 1,1- 1,7mm x 1,1-1,7mm, sub-orbiculares, côncavos, levemente pilosos, decíduos após a antese. Frutos maduros alaranjados, ca. 3,7-4,1mm, glabrescentes. Material Examinado: Campo de Fora, 17/IX/2004 (Bo/Fl/Fr) P.O. Morais 181; idem 27/IV/2004 (Bo/Fl) P.O. Morais 171 et al. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: a espécie foi coletada somente em um local na Serra do Caraça, 6 Fig. 1 - A. embrião Myrtinae, corte longitudinal (adaptado de Landrum & Kawasaki 1997); B. embrião Myrciinae (Morais 150); C. embrião Eugeniinae (Morais 143); D. Myrcia splendens: inflorescência em panícula (Morais 187); E. Myrcia hispida: botão floral aberto, lobos do cálice arredondados (Morais 144); F. Marlierea clausseniana: botão floral fechado (Morais 180); G. Calyptranthes grammica: inflorescência em dicásio, botão floral fechado abrindo por uma caliptra (Salino 3793); H. Accara elegans: flor solitária, lobos do cálice abrindo regular (Morais 152); I. Blepharocalyx myriophyllus (Casar.) Morais & Sobral nov. comb.: folhas aciculares, fruto com cicatriz quadrangular (Morais 181); J. Psidium guineense: inflorescência em dicásio, botão floral fechado abrindo irregular (Morais 186); K. Psidium myrtoides: inflorescência em racemo (Morais 177); L-M. Myrciaria floribunda: L. inflorescência em glomérulo, M. detalhe da flor após a antese, hipanto tubular que, junto com os lobos do cálice se destaca como uma unidade (Morais 159). Morais & Lombardi 7 Fig. 2 - A. Siphoneugena kiaerskoviana: fruto evidenciando as sementes e cicatriz quadrangular no ápice (Morais et al. 143); B. Psidium myrtoides: corte transversal do ovário, placentação bilamelada (Morais et al. 177); C. Campomanesia guaviroba: corte transversal do ovário, placentação axilar (Morais et al. 188); D. Blepharocalyx salicifolius: flores solitárias (Morais 182); E. Campomanesia sp.: botão floral rasgando regular, constrição no ápice do ovário e bráctea (Morais & Sobral 165); F. Eugenia cerasiflora: flor solitária, lobos do cálice assimétricos (Morais et al. 145); G. Eugenia sonderiana: inflorescências em fascículos (Mota 1031); H. Myrcia eriocalyx: flor após a antese, lobos do cálice triangulares (Morais et al. 160); I. Siphoneugena dussii botão floral aberto (BHCB 90679); J. Siphoneugena widgreniana: inflorescência em racemo reduzido (Ordones 276); K. Eugenia sonderiana: flor em corte longitudinal, hipanto não tubular (Mota 1031); L. Accara elegans: corte transversal do ovário, placentação axilar (Morais 152); M. Siphoneugena widgreniana: flor após a antese evidenciando a caliptra (Ordones 276). Myrtaceae da Serra do Caraça 8 crescendo em Afloramento Rochoso no Campo de Fora, com botões e flores em abril, julho e em novembro, sendo que neste mês os indivíduos também apresentavam frutos. Eugenia myriophylla Casar. foi o nome encontrado para este espécime. Porém, este possui todas as características diagnósticas para ser considerado um Blepharocalyx, tais como: flores 4-meras, botão floral aberto, lobos do cálice fortemente côncavos e decíduos após a antese, folhas com glândulas densamente distribuídas em ambas faces e bem nítidas. A presença de folhas aciculares, nervuras secundárias não visíveis, além da disposição peculiar das flores solitárias, aglomeradas principalmente nos ramos novos, é bastante incomum e não foi visto em B. salicifolius “senso amplo”. Sendo assim optamos por uma combinação com E. myriophylla. 2.2) Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg (Fig. 2D; 5) Arbustos. Folhas com pecíolo de 2,0-2,7mm, piloso; lâmina 2,2-2,5cm x 0,6-0,8cm, elíptica, base cuneada a atenuada, ápice agudo a obtuso, face adaxial glabra, face abaxial pilosa, indumento esbranquiçado, brilhante. Flores pediceladas, axilares ou terminais; pedicelo 4,8-7,0mm, piloso; botões 2,8-3,5mm x 1,8-2,2mm, obovóides, pilosos, abertos; cálice com lobos de 1,7- 2,3mm x 1,0-1,9mm, sub-orbiculares, côncavos, glabros internamente e pilosos externamente, decíduos após a antese. Frutos maduros alaranjados, ca. 4,1-4,8mm, glabrescentes. Material Examinado: trilha para a Cascatona e Oratório, 18/IX/2004 (Bo/Fl) P.O. Morais 182; base do Pico da Carapuça, 19/XII/2002 (Fr) R.C. Mota 1920. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: a espécie ocorre desde a região Sudeste do Brasil e Goiás até o Rio Grande do Sul, Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolivia e Equador (Landrum, 1986). No Caraça a espécie foi coletada acima de 1100m de altitude, crescendo em Campo Rupestre. Os botões e as flores aparecem em novembro e os frutos em dezembro. Segundo Landrum (1986), B. salicifolius é uma espécie bem delimitada e que pode ser caracterizada pelo cálice aberto no botão floral, lobos do cálice fortemente côncavos e decíduos após a antese, frutos com cicatriz quadrangular e tricomas simples. Na estrutura da inflorescência, flores e frutos, B. salicifolius é muito uniforme, mas é extremamente variável quanto ao formato da lâmina e quantidade de indumento (Landrum, 1986). As características morfológicas dos indivíduos coletados confirmam a identificação da espécie, que, além disso, é caracterizada pelas folhas discolores em material herborizado e na natureza, com a face adaxial das folhas verde-escuro brilhante e face abaxial verde pálido e glândulas densamente distribuídas em ambas faces, bem visíveis. 3) Calyptranthes Sw. Árvores, ramificação freqüentemente dicotômica. Inflores- cências em panículas ou dicásios; brácteas e bractéolas decíduas; cálice completamente fechado no botão floral, não diferenciado em lobos, com deiscência circular, separando uma caliptra decí- dua; pétalas rudimentares; hipanto tubular; ovário 2-locular, 2 óvulos por lóculo, placentação axilar. Fruto globoso, coroado pelo prolongamento do hipanto; 1-4 sementes, embrião mircióide. Comentários: Calyptranthes ocorre desde o México e Caribe até o Norte da Argentina, possuindo cerca de 100 espécies no Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997). Na RPPN da Serra do Caraça o gênero está representado por duas espécies, que ocorrem entre rochas de Mata Ciliar e Mata de Galeria, e em Campo Rupestre a 1200m de altitude, ou mais. 3.1) Calyptranthes grammica (Spreng.) D. Legrand (Fig. 1G; 6) Folhas com pecíolo de 1,3-2,8mm, glabro; lâmina 1,4-2,4cm x 0,3-0,8cm, lanceolada a obovada, base decurrente ou cuneada, ápice agudo, glabra em ambas faces. Flores sésseis ou pedice- ladas, reunidas em dicásios, às vezes reduzidos a 1 flor, axilares ou terminais; pedúnculo 0,9-1,7cm, pubescente; pedicelo 1,1- 3,2mm, pubescente; botões 1,8-3,3mm x 0,8-1,5mm, rostrados, pubescentes na base, fechados. Frutos imaturos verdes 3,7mm x 3,3mm, glabros. Material Examinado: 20/XI/1997 (Bo/Fl) A. Salino 3793; 08/ X/2000 (Bo) R.C. Mota 953; Cachoeira do Belchior, 12/XII/1986 (Bo/Fl) M.B. Horta et al. 013; Caminho da Cascatinha, 20/XI/1985 (Bo) S. Eliasaro 36; Caminho dos Pinheiros, 14/XI/1980 (Bo/Fl) Tales 334. Material Adicional Examinado: MG, Itabirito, Pico do Itabirito, 07/VII/1995 (Fr) W.A. Teixeira s.n. (BHCB 32035). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Kawasaki (1989), C. grammica é citada para os estados de MG, RJ e SP. Na RPPN ocorre preferencialmente entre rochas de Mata Ciliar e Mata de Galeria, associadas a Campo Rupestre, formando caules extremamente grossos, embora seja uma pequena árvore. Floresce de outubro a dezembro e frutifica em julho. É uma espécie bem característica, devido a seu padrão de ramificação, suas folhas pequenas e lanceoladas, extremamente glandulosas em ambas faces, discolores na natureza e em material herborizado, botões florais parecidos com cápsulas de esporófito de alguns musgos e frutos maduros variando de vermelho-claro a vermelho-escuro. 3.2) Calyptranthes pulchella DC. (Fig. 7) Folhas sésseis ou com pecíolo até 2,5mm, pubescente; lâmina 1,8-3,2cm x 1,0-2,0cm, obovada a arredondada, base cuneada, ápice agudo a arredondado, glabra em ambas faces. Flores sésseis, reunidas em inflorescências paniculadas, axilares ou terminais; pedúnculo 0,9-1,2cm, pubescente; botões 1,7- 2,3mm x 1,5-1,6mm, globosos a arredondados, glabros, fechados. Frutos 3,8-4,7mm x 3,6-5,8mm, glabros. Material Examinado: 10/I/2000 (Fr) M.F. Vasconcelos s.n. (BHCB 52846). Material Adicional Examinado: MG, Caeté, Serra da Piedade, X/1989 (Bo/Fl) H.C. de Souza s.n. (BHCB 17160). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo McVaugh (1958) a espécie ocorre no Sudeste do Brasil e nas terras baixas da Amazônia Brasileira e Colombiana. No Caraça foi coletada e observada sempre em Campo Rupestre, em torno de 1200m de altitude, florescendo em outubro e frutifi- cando em janeiro. Pode ser caracterizada por seu padrão de ramificação, folhas coriáceas, arredondadas, discolores na natureza e em material herborizado, densamente glandulosas na face abaxial e pelas panículas multifloras. 4) Campomanesia Ruiz & Pav. Subarbustos, arbustos ou árvores. Flores solitárias, axilares; brácteas decíduas; cálice aberto no botão floral Morais & Lombardi 9 Figura 3 – Accara elegans (Morais 152) Figura 4 – Blepharocalyx myriophyllus (Ca- sar.) Morais & Sobral comb. n. (Morais 171 Figura 5 – Blepharocalyx salicifolius (Mo- rais 182) Figura 6 – Calyptranthes grammica (Salino 3793) Figura 7 – Calyptranthes pulchella (BHCB 52846) Figura 8 – Campomanesia adamantium (Ordones 432) (parcialmente fechado em Campomanesia sp.), 5-lobado (4- lobado em Campomanesia sp.); pétalas geralmente 5; hipanto pouco prolongado acima do ovário, ou não evidente; ovário 8 a 16 locular, parede do lóculo fortemente glandular; numerosos óvulos por lóculo, dispostos em duas fileiras com placentação central. Frutos globosos, coroados pelos lobos do cálice; 1-4 sementes, raramente mais, falsa testa fortemente glandular formada pela parede do lóculo, embrião mirtóide. Comentários: o gênero Campomanesia possui cerca de 30 espécies bem distribuídas pela América do Sul tropical e subtro- pical, sendo que 24 espécies são conhecidas para o Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997). No Caraça, o gênero está representado por cinco espécies que ocorrem em formações florestais e em Campo Rupestre. Uma espécie ainda não foi determinada. Chave de identificação das espécies de Campomanesia 1. Ovário com 14 lóculos (Fig. 11) ...... 4.4.Campomanesia rufa 1. Ovário com 8 a 10 lóculos .....................................................2 2. Botão floral parcialmente fechado restando apenas um poro denteado no ápice; cálice 4-lobado (Fig. 2E; 12) ............................................................. 4.5.Campomanesia sp. 2. Botão floral aberto; cálice 5-lobado .......................................3 Myrtaceae da Serra do Caraça 10 3. Folhas predominantemente glabras, indumento concentrado somente na axila das nervuras secundárias na face abaxial; porte arbóreo (Fig. 9) .............. 4.2.Campomanesia guaviroba 3. Folhas glabras ou pilosas, mas então o indumento não concentrado somente na axila das nervuras secundárias na face abaxial; porte arbustivo .............................................4 4. Pecíolo com até 7,0mm; pedicelos com 1,2-2,3cm; lobos do cálice glabros externamente (Fig. 8) ............................................. 4.1.Campomanesia adamantium 4. Pecíolo igual ou maior que 7,0mm; pedicelos com 4,0-4,5cm; lobos do cálice pilosos externamente (Fig 10). ................................................. 4.3.Campomanesia pubescens 4.1) Campomanesia adamantium (Cambess.) O. Berg (Fig. 8) Subarbustos a arbustos. Folhas com pecíolo de 3,2-6,7mm, pubescente; lâmina 3,9-5,5cm x 1,1-2,8cm, elíptica a obovada, base cuneada, ápice agudo, acuminado ou arredondado, glabra em ambas faces, sendo as mais jovens pilosas, indumento ferrugíneo concentrado principalmente sobre as nervuras e margem das folhas. Flores com pedicelo de 1,2-2,3cm, pubescente; botões 4,7-9,4mm x 4,7-8,4mm, arredondados a globosos, glabros, abertos; cálice com lobos de 4,1-4,6mm x 2,8-3,8mm, obtusos, pilosos internamente e na margem, glabros externamente; hipanto pouco prolongado acima do ovário, quadrangular, piloso; ovário 8 a 10-locular. Frutos imaturos, 5,8-8,5mm, glabros a pubescentes. Material Examinado: 09/X/2000 (Bo/Fl) J. Ordones et al. 432; 19/VIII/2000 (Fl) R.C. Mota 862; caminho para a cachoeira Belchior, 12/XII/1986 (Fr) M. B. Horta 012; caminho para a Cascatinha, 28/IX/1987 (Bo/Fl) M. B. Horta et al. 261; 10/IX/ 1990 (Bo/Fl) J. R. Stehmann et al. s.n. (BHCB 28395); caminho para a Mata dos Pinheiros, 06/X/1988 (Bo/Fl) N. C. Attala 72. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Landrum (1986), C. adamantium se distribui pelo norte de SC, PR, SP, MG, MG, GO, DF e Paraguai. Na Serra do Caraça, esta espécie ocorre tanto em Florestas Estacionais Semideciduais, quanto em Campo Rupestre e Capoeiras. A produção de botões e flores é de agosto a outubro, e a de frutos em dezembro. A espécie é conhecida popularmente como Guabiroba, assim como outras espécies do gênero, e seus frutos são bastante apreciados. É caracterizada pelas folhas elípticas a obovadas, geralmente glabras, verde- acinzentadas na natureza e castanho-arroxeadas em material herborizado. 4.2) Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk. (Fig. 2C; 9) Árvores. Folhas com pecíolo de 0,7-1,1cm, pubescente; lâmina 9,4-13,1cm x 3,1-5,7cm, elíptica a obovada, base atenuada, ápice acuminado, glabras em ambas faces, indumento presente somente na axila das nervuras secundárias na face abaxial. Flores com pedicelo de 2,6-6,2mm, piloso; botões 8,0- 10,0mm x 8,0mm, globosos, pilosos somente na base, abertos; cálice com lobos de 1,7-3,8mm x 4,1-6,0mm, triangulares, ápice agudo, glabros em ambas faces; hipanto pouco prolongado acima do ovário, glabro; ovário 10-locular. Frutos imaturos verdes, ca. 1,5cm, pubescentes. Material Examinado: rio da Fazenda do Engenho, 23/I/ 2004 (Fr) P.O. Morais et al. 164; idem, 20/XI/2004 (Fl) P.O. Morais et al. 188. Material Adicional Examinado: MG, Estiva, 07/XI/1997 (Bo/Fl) L.V. Costa s/n (BHCB 40986). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Landrum (1986) C. guaviroba é uma pequena árvore de floresta, ocorre no leste do Brasil, desde o sul do ES, RJ, MG, SP, SC, PR e RS. No Caraça a espécie foi coletada somente em formação florestal – Mata Ciliar e Floresta Semidecidual, na Fazenda do Engenho. Floresce em novembro e inicia a frutificação em janeiro. Pode ser reconhecida pelas pontuações escuras nos ramos, por seu indumento concentrado somente na axila das nervuras secundárias da face abaxial das folhas, nervação marcadamente reticulada, impresso-saliente, glândulas densamente distribuídas na face abaxial, evidentes e lobos do cálice curtos e agudos. 4.3) Campomanesia pubescens (DC.) O. Berg (Fig. 10) Arbusto. Folhas com pecíolo de 6,4-12,2mm, densamente piloso; lâmina 5,0-10,0cm x 2,0-5,0cm, elíptica a obovada, base cuneada ou obtusa, ápice mucronado ou arredondado, face adaxial glabrescente, face abaxial pilosa, indumento mais concentrado sobre as nervuras. Flores com pedicelo de 4,0- 4,5cm, pubescente; botões 10,0-11,0mm x 7,2-9,0mm, obova- dos, pilosos, abertos; cálice com lobos de 3,7-4,5mm x 3,9- 5,4mm, triangulares a obtusos, pilosos interna e externamente; hipanto não evidente; ovário 8-locular. Frutos imaturos, 8,0- 9,0mm x 9,0-11,0mm, pilosos, indumento amarelado. Material Examinado: 19/XII/2002 (Fr) R.C. Mota 1915; 01/XI/1997 (Bo/Fl) M. F. Vasconcelos s/n (BHCB 40055); Campo de Fora, 15/IX/2004 (Bo/Fl) R.C. Mota 2704. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Landrum (1986), C. pubescens se distribui pela BA, GO, DF, MG, MG, MS, SP, PR e Paraguai. No Caraça esta espécie ocorre em borda de Floresta Estacional Semidecidual e em Capoeira. A produção de botões e flores ocorre em setembro- novembro e de frutos em dezembro. De acordo com Landrum (1986) C. pubescens é uma espécie extremamente variável, principalmente na morfologia e pilosidade das folhas. No Caraça a espécie já foi observada desde densamente pilosa, nas folhas jovens, até totalmente glabra, nas folhas mais velhas. Neste estágio, além de glabras, as folhas apresentavam uma coloração caracteristicamente avermelhada, tanto no material fresco quanto no herborizado. 4.4) Campomanesia rufa (O. Berg) Nied. (Fig. 11) Arbustos a árvores. Folhas com pecíolo de 3,7-9,5mm, densamente piloso; lâmina 5,6-10,2cm x 2,5-4,1cm, elíptica a lanceolada, base cuneada ou obtusa, ápice agudo a acuminado, densamente pilosa em ambas faces, às vezes indumento mais concentrado sobre as nervuras na face abaxial. Flores com pedicelo de 2,0-4,0mm, densamente piloso; botões 8,0-14,0mm x 8,0-13,0mm, arredondados, pilosos, abertos; cálice com lobos de 5,0-6,0mm x 3,8-7,5mm, triangulares, pilosos interna e externamente; hipanto pouco prolongado acima do ovário, piloso; ovário 14-locular. Frutos maduros esverdeados a amarelados, 2,0-4,0cm, pilosos. Material Examinado: 01/IV/2000 (Fr) R. C. Mota 727; 03/IV/ 2000 (Fr) R.C. Mota 809. Material Adicional Examinado: MG, Brumadinho, Retiro das Pedras, 17/X/2001 (Bo/Fl) P.L. Viana 392. Morais & Lombardi 11 Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Landrum (1986), C. rufa, um arbusto ou pequena árvore da vegetação do cerrado é uma espécie pouco conhecida e aparentemente restrita a MG. No Caraça ocorre em borda de Floresta Estacional Semidecidual ou em Capoeira. Floresce em outubro e frutifica em abril. Pode ser reconhecida por seu indumento denso, dourado a ferrugíneo brilhante, presente em praticamente toda a planta e por seus frutos grandes e saborosos, coroados pelos lobos do cálice. 4.5) Campomanesia sp. (Fig. 2E; 12) Arbustos. Folhas pecioladas; pecíolo 2,2-4,0mm, piloso; lâmina 3,9-5,3cm x 2,0-2,6cm, elíptica, base cuneada, ápice agudo a acuminado, às vezes com pequeno mucrom, face adaxial glabra a pubescente principalmente na nervura central, face abaxial pilosa, indumento seríceo. Flores com pedicelo de 1,3- 4,5mm, densamente piloso; botões 5,2-6,70mm x 4,1-5,0mm, obovóides, ápice denteado, densamente pilosos, indumento esbranquiçado, parcialmente fechados, restando apenas um poro no ápice; cálice abrindo em 4 lobos regulares, 4,3- 5,2mm x 3,6-4,2mm, triangulares, pilosos interna e exter- namente; hipanto pouco prolongado acima do ovário, piloso; ovário 10-locular. Frutos maduros com 7,2cm, pilosos quando jovens, indumento ocre, glabros quando maduros, exceto na base e ápice. Material Examinado: trilha para Capelinha, 31/I/2004 (Bo/ Fl) P.O. Morais 167 & A. Salino; idem 23/I/2004 (Bo/Fl) P.O. Morais 165 & M. Sobral; 20/VI/2002 (Fr) Alves 122. Material Adicional Examinado: ES, Cachoeiro do Itapemirim, VIII/2000 (Fr) Alberto s/n (IAC 39987). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: a espécie foi coletada no Espírito Santo e em Minas Gerais, no Caraça ocorre em Mata Semidecidual a 1500m de altitude. Floresce em meados de janeiro. A espécie apresenta nervuras secundárias que se encontram duas a duas, formando arcos, sem evidenciar uma nervura coletora propriamente dita, ovário 10- locular e falsa testa da semente fortemente glandular, caracterís- ticas utilizadas na determinação do gênero. Foi coletada somente em um local no parque, em floresta, e apresenta características muito particulares, tais como: 4 lobos no cálice, botões florais parcialmente fechados com pequeno poro apical denteado, flores nutantes (voltadas para a face abaxial do ramo) e grandes frutos, podendo ser uma espécie não descrita. 5) Eugenia L. Árvores ou arbustos. Flores solitárias ou reunidas em racemos ou fascículos, axilares ou terminais; brácteas decíduas e bractéolas persistentes; cálice aberto no botão floral, 4-lobado; hipanto não evidente; pétalas 4; ovário 2-3 locular, 2 a numerosos óvulos por lóculo, placentação axilar. Fruto globoso, elíptico, oblongo ou piriforme, coroado pelos lobos do cálice; 1- 2 sementes, embrião eugenióide. Comentários: este gênero ocorre desde o México e Caribe até o Norte da Argentina, sendo estimado cerca de 350 espécies no Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997). No Caraça está representado por nove espécies, sendo uma espécie ainda não determinada, que ocorrem nos Campos Rupestres, Florestas Estacionais Semideciduais e Capoeiras. Chave de identificação das espécies de Eugenia 1. Ovário 3-locular ......................................................................2 2. Face abaxial das folhas densamente pilosa, indumento seríceo, esbranquiçado a dourado, brilhante nas folhas novas e enegrecido nas folhas mais velhas (Fig. 18) ............... 5.6.Eugenia neosericea Morais & Sobral, nom. n. 2. Face abaxial das folhas glabra ................................................3 3. Flores solitárias, aos pares; lobos do cálice assimétricos, dois maiores, dois menores (Fig. 2F; 14) ............................................................ 5.2.Eugenia cerasiflora 3. Flores em fascículos; lobos do cálice simétricos (Fig. 2G; 20) .......................................................... 5.8.Eugenia sonderiana 1. Ovário 2-locular ......................................................................4 4. Flores reunidas em racemos ...................................................5 5. Lâmina com 3,4-5,2cm, ápice cuspidado, lobos do cálice glabros em ambas faces (Fig. 13) .............. 5.1.Eugenia bella 5. Lâmina com 6,9-10,1cm, ápice agudo a acuminado, lobos do cálice pilosos pelo menos internamente (Fig. 16) .................................................................. 5.4.Eugenia florida 4. Flores solitárias .......................................................................6 6. Bractéolas com 7,2-10,1mm x 7,0-7,8mm, cordiformes .......7 7. Folhas pubescentes em ambas faces, ápice agudo (Fig.17) ........................................................... 5.5.Eugenia involucrata 7. Folhas glabrescentes na face adaxial, pilosas na face abaxial, ápice longo acuminado a caudado (Fig. 21) ......................................................................... 5.9.Eugenia sp. 6. Bractéolas com menos de 4,0mm x 3,0mm, cimbiformes ....8 8. Face abaxial glabrescente, indumento negro em tufos nas folhas mais velhas, nervuras secundárias e central invisíveis na face adaxial (Fig. 15) ... 5.3.Eugenia eurysepala 8. Ambas faces glabras e com nervuras secundárias e central evidentes (Fig. 19) ................. 5.7.Eugenia punicifolia 5.1) Eugenia bella Cambess. (Fig. 13) Arbustos. Folhas com pecíolos de 2,7-4,6mm, pubescentes, indumento esbranquiçado; lâmina 3,4-5,2cm x 1,0-2,1cm, estreito-elíptica a largo-elíptica, base atenuada a obtusa, ápice agudo a acuminado, glabra em ambas faces. Flores pediceladas, reunidas em inflorescências racemosas reduzidas; pedúnculo 2,8-7,6mm, piloso; pedicelo 0,6-1,8mm, piloso; botões 1,2- 2,3mm x 1,3-2,0mm, arredondados, glabros, abertos; brácteas e bractéolas persistentes, ambas com menos de 1mm comp., cimbiformes, ciliadas, pilosas; cálice com lobos de 1,0- 2,0mm x 1,2-1,8mm, arredondados, glabros, margem ciliada; ovário 2-locular. Frutos 7,8-9,2mm, globosos, glabros, bractéolas persistentes. Material Examinado: 10/III/2002 (Fr) R.C. Mota 1914; 16/ XII/2000 (Bo/Fl) R.C. Mota 1161; trilha para a Cascatinha, 18/ XII/2003 (Bo/Fl) P.O. Morais 153 et al. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: no Caraça a espécie ocorre em Campo Rupestre e Capoeira, os botões e flores aparecem de dezembro a janeiro e os frutos em março. E. bella pode ser reconhecida pelas folhas com margem revoluta, glândulas densamente distribuídas e visíveis em ambas faces, estando em depressões na face adaxial e pelas nervuras secundárias pouco evidentes em ambas faces. Como o próprio nome sugere, sua floração é muito bela, embora efêmera, e as flores reunidas em racemos, são bastante perfumadas. Myrtaceae da Serra do Caraça 12 5.2) Eugenia cerasiflora Miq. (Fig. 2F; 14) Árvores. Folhas com pecíolo de 3,7-5,1mm, glabro; lâmina 4,5-5,7cm x 2,0-2,7cm, elíptica a obovada, base obtusa, ápice cuspidado, glabra em ambas faces. Flores solitárias, pediceladas, axilares; pedicelo 3,7-5,1mm, pubescente; botões 9,7mm x 7,7mm, arredondados, pubescentes, abertos; brácteas persis- tentes ca. 1,0mm, cimbiformes, pilosas; cálice com lobos de 2,7- 4,7mm x 3,5-4,4mm, arredondados, glabros internamente, pilosos externamente, tricomas ferrugíneos, margem ciliada; ovário 3-locular. Frutos 1,6cm x 1,3cm, elípticos, glabros. Material Examinado: Campo de Fora, 09/X/2000 (Fr) J. Ordones et al. 431; trilha para a Cascatinha, 09/V/2003 (Bo/Fl) P.O. Morais et al. 145. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: no Caraça a espécie ocorre em Floresta Estacional Semidecidual, floresce em maio e frutifica em outubro. E. cerasiflora é caracte- rizada por suas folhas discolores, com margem revoluta e ondu- lada, características que se mantém no material herborizado, pelas nervuras secundárias espaçadas e ápice das folhas cuspi- dado, além das flores solitárias e lobos do cálice assimétricos. 5.3) Eugenia eurysepala Kiaersk. (Fig. 15) Arbustos. Folhas com pecíolo de 3,3-5,5mm, glabro; lâmina 5,1-5,8cm x 1,8-2,2cm, elíptica, base atenuada, ápice agudo a acuminado, face adaxial glabra, face abaxial glabrescente, indumento negro em tufos nas folhas mais velhas. Flores pediceladas, solitárias; pedicelo 0,9-1,9mm, glabro; botões não vistos; brácteas 1,5-2,0mm x 2,4mm, curto cimbiforme, glabras; cálice com lobos de 2,6-5,1mm x 5,0-5,7mm, arredondados, côncavos, glabros; ovário 2-locular. Frutos 7,3-10,2mm x 5,7- 7,9mm, oblongos, pilosos. Material Examinado: Buraco da Boiada, 01/IV/2000 (Fr) J. Ordones et al. 55. Material Adicional Examinado: SC, Blu- menau, Spitzkopf, 03/II/2001 (Fl) M. Sobral s/n (BHCB 90678). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: Eugenia eurysepala foi coletada somente em um local no Caraça, em Floresta Estacional Semidecidual. O início da frutificação ocorre em abril. A espécie é caracterizada pela face abaxial das folhas glabrescente, indumento negro em tufos nas folhas mais velhas, cálice com lobos desiguais e flores solitárias que às vezes, nos ramos mais novos, ou quando caem as folhas, aparentam estarem em inflorescências racemosas. 5.4) Eugenia florida DC. (Fig. 16) Árvores. Folhas com pecíolo de 5,9-6,9mm, piloso; lâmina 6,5-10,1cm x 2,4-4,5cm, elíptica, base cuneada, ápice cuspidado, pubescentes em ambas faces. Flores pediceladas, reunidas em inflorescências racemosas; pedúnculo 6,5-11,1mm, glabro; pedicelo 1,0-2,5mm, pubescente; botões 1,5-2,0mm x 1,1- 2,0mm, globosos a obovados, glabros, abertos; bractéolas 1,5mm x 1,5mm, arredondadas, base reta, glabra em ambas faces, margem ciliada; cálice com lobos de 1,5-2,0mm x 2,0- 2,5mm, arredondados a triangulares, pilosos internamente, glabros externamente, margem ciliada; ovário 2-locular. Frutos ca. 7,9mm, globosos, glabros, bractéolas persistentes. Material Examinado: rio da Fazenda do Engenho, 20/XI/ 2004 (Fr) P.O. Morais 189 et al. Material Adicional Exami- nado: MG, Carangola, 5/IX/2001 (Bo/Fl) L.S. Leoni 4718. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: espécie de ampla distribuição geográfica ocorre desde o centro e sul do Brasil – como Eugenia gardneriana O. Berg – até o norte da América do Sul, incluindo Panamá, Guianas, Colômbia e Bolívia – como E. florida – embora o primeiro nome seja considerado sinônimo do segundo (Mc Vaugh, 1969; Kawasaki, 1989). No Caraça a espécie ocorre em Floresta Estacional Semidecidual e Mata Ciliar, os botões e flores aparecem em setembro e os frutos em novembro. É uma espécie predominan- temente glabra, apresenta glândulas em ambas faces de suas folhas, bem nítidas. O primeiro par de nervuras secundárias não é confluente com os demais na nervura marginal apresentando geralmente duas nervuras marginais. 5.5) Eugenia involucrata DC. (Fig. 17) Arbustos. Folhas com pecíolo de 1,7-4,8mm, piloso; lâmina 3,8-5,2cm x 1,3-2,1cm, elíptica, base aguda a atenuada, ápice agudo, pubescente. Flores pediceladas, solitárias, axilares; pedicelo 1,4-2,3cm, pubescente; botões 6,6-7,7mm x 4,3-5,8mm, capitados, pilosos na base, abertos; brácteas 7,2-10,1mm x 7,0- 7,8mm, cordiformes, glabras; cálice com lobos de 5,4-7,0mm x 3,8-4,4mm, ovados a oblongos, glabros; ovário 2-locular. Frutos imaturos, 1,5-1,8cm x 0,8-1,1cm, piriformes, pilosos principal- mente na base, bractéolas persistentes. Material Examinado: 20/VIII/2000 (Fl) R.C. Mota 894; gruta do Padre Caio, 15/IX/2004 (Bo/Fl) R.C. Mota 2706. Material Adicional Examinado: MG, Igarapé, próximo ao sítio Pedra Menina, 12/I/2000 (Fr) A. Salino 5065 & P.O. Morais. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Legrand & Klein (1969a), a espécie ocorre desde GO, MG até o RS, sendo comum na Floresta Estacional Semidecidual e ocorrendo ocasionalmente na Floresta Atlântica. Na RPPN E. involucrata é um arbusto em Campo Rupestre, coletada somente em um local, com flores velhas em agosto. O início da frutificação ocorre em outubro. Conhecida popularmente como cereja-do-mato ou cerejeira é facilmente identificada devido às suas bractéolas cordadas, grandes, que envolvem totalmente o botão floral e persistem até no fruto, pelos lobos do cálice, grandes, oblongos e que se projetam acima da corola. 5.6) Eugenia neosericea Morais & Sobral, nom. nov. Myrciaria sericea O. Berg, Flora Brasiliensis 14(1):375. 1857 (Tipo: Serra do Caraça, Sellow). (Fig. 18) Arbustos. Folhas com pecíolo de 0,6-0,8mm, densamente piloso; lâmina 1,1-1,7cm x 0,3-0,5cm, lanceolada, base truncada, ápice agudo com pequeno tufo de tricomas lembrando um múcrom, face adaxial glabra, às vezes com indumento na base da nervura central, face abaxial densamente pilosa. Flores pediceladas, solitárias, axilares; pedicelo 2,1-4,9mm, densa- mente piloso; botões 2,6-3,2mm x 2,1-3,0mm, globosos, densamente pilosos, abertos; cálice com lobos de 1,8-1,9mm x 1,3-1,7mm, triangulares, ápice agudo, glabro internamente, pilosos externamente; ovário 3-locular. Frutos imaturos verdes, 4,5-5,5mm, pilosos, coroados pelo hipanto e lobos do cálice. Morais & Lombardi 13 Figura 9 – Campomanesia guaviroba (Mo- rais 188) Figura 10 – Campomanesia pubescens (BHCB 40055) Figura 11 – Campomanesia rufa (Mota 809) Figura 12 – Campomanesia sp. (Morais & Salino 167) Figura 13 – Eugenia bella (Morais et al. 153) Figura 14 – Eugenia cerasiflora (Morais et al. 145) Material Examinado: trilha para o Pico do Sol, 19/XII/2002 (Bo) R.C. Mota 1918; idem, 09/V/2003 (Fr) P.O. Morais 149 et al. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: não foram observadas coletas mais recentes da espécie, sendo o material tipo coletado por Sellow (O. Berg 1857:375) na Serra do Caraça, onde foi coletada novamente e observada somente na trilha que leva ao Pico do Sol, crescendo em Campo Rupestre, com botões em dezembro e frutos imaturos em maio. A espécie foi identificada por O. Berg como Myrciaria sericea, porém os lobos do cálice e hipanto persistem até no fruto (não caindo como uma unidade, o que é comum nas espécies do gênero Myrciaria), suas flores são solitárias, pediceladas e o ovário possui 3 lóculos, características que não ocorrem no gênero Myrciaria e que são comuns no gênero Eugenia. Desta forma a espécie é transferida para o gênero Eugenia recebendo um nome novo. Eugenia neosericea Morais & Sobral, non. n. pode ser reconhecida pelo indumento seríceo muito característico, cobrindo densamente várias partes da planta, variando do Myrtaceae da Serra do Caraça 14 esbranquiçado ao dourado brilhante nas partes mais novas até o enegrecido nas partes mais velhas. 5.7) Eugenia punicifolia (Kunth) DC. (Fig. 19) Arbustos ou árvores. Folhas com pecíolo de 2,7-4,9mm, pubescente; lâmina 4,2-5,6cm x 1,7-2,5cm, elíptica, lanceolada ou obovada, base cuneada a atenuada, ápice cuspidado, glabra em ambas faces. Flores pediceladas, solitárias, axilares; pedicelo 0,8-1,4cm, glabro; botões 5,9-7,3mm x 5,3-6,2mm, globosos, glabros, abertos; brácteas 1,7-2,3mm x 1,2-2,3mm, cimbiformes, glabras, margem ciliada; cálice com lobos de 4,2-5,9mm x 5,3- 6,9mm, arredondados, glabros, margem ciliada; ovário 2-locular. Frutos 1,2-1,5cm x 0,6-1,0cm, elípticos, glabros. Material Examinado: 30/VIII/1997 (Fr) J.R. Stehmann et al. 2283. Material Adicional Examinado: MG, Brasilândia de Minas, 09/IV/2002 (Bo/Fl) S. M. Soares 494. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo McVaugh (1958) E. punicifolia é uma espécie ampla- mente distribuída, ocorrendo no Caribe, leste da América do Sul e Andes, sul e sudeste do Brasil e sudeste da Bolívia. Na RPPN a espécie ocorre em Floresta Estacional Semidecidual e Capoeira. Floresce em abril e frutifica em agosto. Segundo Sobral (1987) E. punicifolia ocorre em uma grande variedade de ambientes, desde borda de matas tropicais, campos cerrados, campos rupestres e savanas, até as formações litorais (restingas). E esta variedade de ambientes dá lugar a uma grande diversidade na morfologia foliar, podendo apresentar folhas lanceoladas, estreitamente lanceoladas ou oblanceoladas, elípticas, obovadas ou oblongas (Sobral, 1987). Pode ser distinguível por suas folhas discolores e brilhantes na face adaxial, margem revoluta, nervuras secundárias visíveis e espaçadas, e por seus frutos caracteristicamente coloridos, desde alaranjados a averme- lhados. 5.8) Eugenia sonderiana O. Berg (Fig. 2G; 20) Árvores. Folhas com pecíolo de 1,8-3,5mm, piloso; lâmina 2,5-3,1cm x 1,0-1,4cm, elíptica a lanceolada, base cuneada, ápice agudo a acuminado, às vezes levemente cuspidado, pilosa somente na nervura central da face adaxial, indumento pubérulo, glabra na face abaxial. Flores pediceladas, reunidas em fascículos, axilares; pedicelo 3,5-4,5mm, pubescente; brácteas e bractéolas ca. 1,0mm comp., arredondadas, côncavas, glabras, margem ciliada; cálice com lobos de 1,0-1,3mm x 1,6-1,7mm, arredondados, côncavos, glabros; ovário 3-locular. Frutos 4,4- 5,6mm, globosos, glabros, bractéolas persistentes. Material Examinado: 14/XII/2000 (Fl) R.C. Mota 1031; trilha para a Cascatinha, 09/V/2003 (Fr), P.O. Morais et al. 146. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: na RPPN a espécie ocorre em Floresta Estacional Semidecidual e Capoeira, floresce em dezembro e frutifica em maio. E. sonderiana pode ser reconhecida pelo indumento pubérulo que ocorre de forma marcante no pecíolo e nervura central da face adaxial; as folhas possuem margem revoluta, são discolores em material herborizado e na natureza, onde ficam verde- escuro brilhantes na face adaxial e verde-opaco na face abaxial, apresentam inflorescências fasciculadas e frutos característicamente coloridos, variando do amarelo-alaranjado ao vináceo. 5.9) Eugenia sp. (Fig. 21) Árvores. Folhas com pecíolo de 4,6-6,2mm, piloso; lâmina 4,3-8,1cm x 1,4-1,7cm, elíptica a obovada, base cuneada a atenuada, ápice longo-acuminado a caudado, pilosa em ambas faces. Flores com pedicelo de 1,5-1,7cm, piloso; brácteas ca. 7,7mm, cordiformes, pilosas; cálice ca. 9,7 mm, oblongos, pilosos. Frutos 1,3-1,6cm diam., globosos, pilosos, brácteas e lobos do cálice persistentes. Material Examinado: 23/X/1999 (Fr) R.C. Mota 86. Comentários: a espécie não foi identificada ainda, uma vez que o local onde foi coletada não é preciso; sendo assim, não foi possível obter material florido. O gênero foi determinado com base no embrião eugenióide e na presença dos 4 lobos do cálice no fruto. Apresenta bractéolas cordadas e grandes, lobos do cálice oblongos e grandes, ambos persistentes no fruto. Indumento ferrugíneo e glândulas densamente distribuídas. 6) Marlierea Cambess. Árvores ou arbustos. Flores reunidas em panículas, axilares ou terminais; brácteas e bractéolas decíduas; cálice fechado no botão floral, rompendo-se em 4-5 lobos irregulares; pétalas rudimentares ou 4; hipanto tubular; ovário 2-locular, 2 óvulos por lóculo, placentação axilar. Frutos globosos, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto; 1-2 sementes, embrião mircióide. Comentários: gênero com cerca de 95 espécies (McVaugh, 1969), no Caraça ocorrem duas, sendo uma espécie de ocorrência comum em Campo Rupestre e a outra exclusiva de Mata Atlântica. Segundo Landrum & Kawasaki (1997), as espécies de Marlierea são distintas de Myrcia por possuírem botão floral fechado, cálice que se rasga irregu- larmente na antese e em alguns casos é parcialmente decíduo no fruto. Segundo estes autores a divisão entre estes dois gêneros é arbitrária e diferentes interpretações podem existir com relação à pré-floração do cálice. Chave de identificação das espécies de Marlierea 1. Espécie comum em Campo Rupestre, densamente pilosa, indumento ferrugíneo; lobos do cálice 4; pétalas nítidas, 4 (Fig. 22) ...................... 6.1.Marlierea clausseniana 1. Espécie exclusiva de Mata Atlântica, predominantemente glabra; lobos do cálice 5; pétalas rudimentares (Fig. 23) .......................................................... 6.2.Marlierea parviflora 6.1) Marlierea clausseniana (O. Berg) Kiaersk. (Fig. 1F; 22) Arbustos. Folhas com pecíolo de 3,5-8,7mm, piloso a glabrescente; lâmina 7,2-10,2cm x 2,2-4,1cm, elíptica a lanceolada, base cuneada, ápice acuminado a cuspidado, face adaxial glabra, face abaxial densamente pilosa a glabrescente. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 3,0-7,0mm, densamente piloso; botões 3,7-4,1mm x 2,6-3,3mm, obovados, densamente pilosos, fechados; cálice rasgando em 4 lobos, 1,3-2,1mm x 1,3-1,8mm, obtusos, pubescente internamente e densamente pilosos externamente. Frutos maduros vináceos, até 6,7mm, glabrescentes. Morais & Lombardi 15 Figura 15 – Eugenia eurysepala (Ordones 55) Figura 16 – Eugenia florida (Morais 189) Figura 17 – Eugenia involucrata (Mota 2706) Figura 18 – Eugenia neosericea Morais & Sobral nom. n. (Morais 149) Figura 19 – Eugenia punicifolia (Stehmann 2283) Figura 20 – Eugenia sonderiana (Mota 1031) Material Examinado: Campo de Fora, 09/X/2000 (Bo/Fl) J. Ordones et al. 410; idem, 17/IX/2004 (Bo) P.O. Morais 180. Material Adicional Examinado: MG, perto da extração vindo de Diamantina, 09/XII/1992 (Fr) J.A. Lombardi 169. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Kawasaki (1989) a espécie é encontrada em MG e RJ, ocorrendo com freqüência nos Campos Rupestres e nas proximidades de Matas Ciliares. No Caraça foi coletada somente em um local crescendo em Campo Rupestre. Os botões e flores surgem em outubro. Os frutos aparecem em meados de dezem- bro. M. clausseniana distingue-se pelo indumento denso, ferrugíneo que recobre praticamente toda a planta jovem e que vai se soltando à medida que ocorre o desenvolvimento da planta, embora permaneça nos ramos da inflorescência. As folhas são discolores em material fresco e herborizado, a face adaxial verde claro e a face abaxial verde bem escuro, e densamente glandulosas, sendo as glândulas proeminentes na face abaxial e visíveis a olho nu. Myrtaceae da Serra do Caraça 16 6.2) Marlierea parviflora O. Berg (Fig. 23) Árvores glabras. Folhas com pecíolo de 4,7-7,0mm; lâmina 7,0-12,8cm x 2,0-4,2cm, elíptica a obovada, base aguda, ápice longo acuminado a aristado. Flores pediceladas, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 0,9-2,5cm; pedicelo 1,5-2,7mm; botões 3,0-3,7mm x 2,4-2,9mm, globosos, fechados; cálice rasgando em 5 lobos irregulares, 2,3-3,1mm x 1,5-1,8mm, lanceolados. Frutos imaturos, ca. 5,5mm. Material Examinado: Fazenda do Engenho, 23/I/2004 (Fr) P.O. Morais 163 & M. Sobral. Material Adicional Examinado: PR, Tunas, Chácara Paraíso, estrada para Parque das Lauráceas, 11/XI/1997 (Bo/Fl) J.M. Silva & L.M. Abe 2197. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Legrand & Klein (1971a) a espécie é característica e exclusiva da mata pluvial da vertente Atlântica do sul do Brasil, internando-se nas matas de encosta entre 600-800m de altitude. Distribui-se desde a região do RJ até a costa Atlântica de SC e RS. No Caraça foi coletada somente na Floresta Estacional Semidecidual da Fazenda do Engenho a aproximadamente 800m de altitude, com frutos imaturos em janeiro. Os botões e flores aparecem em novembro. M. parviflora pode ser reconhecida pela ausência de indumento em toda a planta, ramificação dicotô- mica, caule liso e acinzentado. As folhas no material fresco são verde brilhante na face adaxial e, no material herborizado, verde claro a pálido, possuem glândulas densamente distribuídas e flores pediceladas. 7) Myrceugenia O. Berg Arbustos ou árvores. Flores solitárias ou aos pares, axilares; brácteas persistentes; cálice aberto no botão floral, 4- lobado; pétalas geralmente 4; hipanto não evidente; ovário 2 a 3- locular, 5 ou mais óvulos por lóculo, placentação axilar. Fruto globoso, lobos do cálice e brácteas persistentes; 1-2 sementes, embrião mircióide. Comentários: este é um gênero com cerca de 40 espécies, crescendo desde o Brasil, em clima temperado e subtropical, até o sudeste do Chile e nas Ilhas Juan Fernández, sendo que destas, 29 espécies ocorrem no Brasil (Landrum & Kawasaki, 1997). No Caraça foram encontradas duas espécies, uma delas crescendo em Mata Nebular a 2000m de altitude, a outra em Mata Ciliar a 1200m. Chave de identificação das espécies de Myrceugenia 1. Flores uma por axila; lobos do cálice com 0,9-1,1mm x 0,9-1,1mm, triangulares a arredondados; ovário 2-locular (Fig. 24) ............................................. 7.1. Myrceugenia ovata 1. Flores duas por axila; lobos do cálice com 3,8-4,5mm x 2,5-2,7mm, longo-lanceolados; ovário 3-locular (Fig. 25) .................................................... 7.2. Myrceugenia oxysepala 7.1) Myrceugenia ovata (Hook. et Arn.) O. Berg (Fig. 24) Folhas com pecíolo de 3,0-4,0mm, piloso; lâmina 1,8-2,7cm x 0,6-1,1cm, elíptica a ovada, base cuneada, ápice acuminado, glabra na face adaxial, pubescente na face abaxial. Flores solitárias; pedicelo de 0,4-1,4cm, piloso; brácteas ca. 1,5mm x 0,8mm, lanceoladas, côncavas, glabras; cálice com lobos de 0,9- 1,1mm x 0,9-1,1mm, triangulares a arredondados, glabros internamente e pilosos externamente; ovário 2-locular. Frutos imaturos, 5,0-7,0mm, pilosos. Material Examinado: Pico do Inficionado, 15/IX/2004 (Fr) R.C. Mota 2703; idem, 10/II/2005 (Bo/Fl) R.C. Mota 2743. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. ovata ocorre no Chile e no Brasil, de MG ao RS. No Caraça foi encontrada somente em um local crescendo em mata nebular a 2000m de altitude. As flores aparecem em fevereiro e os frutos em setembro. A espécie apresenta indumento ferrugíneo do tipo malpiguiáceo (dibraquiado) característico, as folhas são discolores em material fresco e herborizado e quando secas tornam-se onduladas. 7.2) Myrceugenia oxysepala (Burret) D. Legrand et Kausel (Fig. 25) Folhas com pecíolo de 3,4-5,1mm, piloso; lâmina 3,2-5,0cm x 1,2-2,3cm, elíptica a obovada, base atenuada, ápice agudo, pubescente em ambas faces. Flores aos pares; pedicelo de 2,7- 3,9mm, piloso; brácteas 3,7-4,1mm x 0,8-1,2mm, longo- lanceoladas, pilosas externamente e glabras internamente exceto no ápice; cálice com lobos de 3,8-4,5mm x 2,5-2,7mm, longo- lanceolados, glabros internamente exceto no ápice e pilosos externamente, côncavos na base; ovário 3-locular. Frutos não vistos. Material Examinado: Taboões, 13/II/2005 (Fl) R.C. Mota 2703. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. oxysepala é citada somente para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em floresta nebular e em floresta de araucária (Landrum, 1981) sendo, portanto, um registro novo para Minas Gerais. Floresce em fevereiro. É uma espécie característica pelos lobos do cálice longo- lanceolados, levemente côncavos na base, ferrugíneos, flores curto-pediceladas, aos pares, folhas discolores na natureza e em material herborizado, indumento ferrugíneo nas partes mais jovens e que se torna enegrecido nas partes mais velhas. 8) Myrcia DC. ex Guill. Árvores ou arbustos . Flores reunidas em panículas multifloras, ou mais raramente reduzidas a dicásios, axilares ou terminais; brácteas e bractéolas decíduas; cálice aberto no botão floral, 5-lobado, raramente 4-lobado; pétalas geralmente 5; hipanto tubular ou não; ovário 2 a 3-locular, 2 óvulos por lóculo, placentação axilar. Fruto globoso, oblongo ou obovado, lobos do cálice e hipanto persistentes ou não; 1-4 sementes, embrião mircióide. Comentários: de acordo com Landrum & Kawasaki (1997), Gomidesia pode ser considerada um grupo dentro de Myrcia. A característica que separa estes dois grupos é a posição dos sacos polínicos na antera, que em Gomidesia estão em níveis diferentes. Esta característica, considerada a mais importante para distinguir os dois gêneros, é freqüentemente difícil de ser observada e varia até em um mesmo indivíduo. Tal constatação torna o caráter inconsistente para a utilização taxonômica em nível genérico, sendo possível utilizá-lo para separação somente em grupos de espécies, dentro de Myrcia. Segundo Landrum & Morais & Lombardi 17 Kawasaki (1997), o gênero ocorre desde o México e Caribe até o norte da Argentina e o número de espécies, segundo McVaugh (1969), é superior a 300. No Caraça até o momento foram encontradas 17 espécies de Myrcia ocorrendo nos vários ambientes do parque. Chave de identificação das espécies de Myrcia 1. Ovário 3-locular ......................................................................2 2. Folhas glabras em ambas faces (Fig. 36) ................................................................ 8.11.Myrcia obovata 2. Folhas pilosas em ambas faces ...............................................3 3. Pecíolo 6,3-12,6mm; lâmina 6,3-7,2cm x 2,6-3,3cm, nervuras secundárias muito tênues em ambas faces (Fig. 38) .................................................................. 8.13.Myrcia rufipes 3. Pecíolo 1,6-6,1mm; lâmina 1,2-4,7cm x 0,8-2,2cm, nervuras secundárias evidentes, impressas pelo menos na face adaxial (Fig. 43) ....................... 8.17.Myrcia venulosa 1. Ovário 2-locular ......................................................................4 4. Inflorescências em dicásios (Fig. 31) ..... 8.6.Myrcia lapensis 4. Inflorescências em panículas ..................................................5 5. Folhas densamente pilosas na face abaxial, principalmente as mais jovens ................................................6 6. Folhas cordiformes, base cordada ..........................................7 7. Lâmina 1,0-2,0cm x 0,8-1,3cm, margem fortemente revoluta (Fig. 27) ................................... 8.2.Myrcia eriocalyx 7. Lâmina 4,2-7,4cm x 2,4-5,5cm, margem não revoluta (fig. 40) .............................................. 8.15.Myrcia subcordata 6. Folhas elípticas, longo-elíptica, lanceolada, longo-lanceolada, ovadas, obovada, oblonga ou arredondada, base cuneada, truncada ou atenuada ................8 8. Indumento das folhas ferrugíneo ............................................9 9. Lâmina 10,0-19,7cm x 5,6-8,3cm (Fig. 33) ................................................................. 8.8.Myrcia lutescens 9. Lâmina 4,7-7,0cm x 1,4-2,4cm (Fig. 35) .............................................................. 8.10.Myrcia mutabilis 8. Indumento das folhas dourado ou esbranquiçado .............. 10 10. Lobos do cálice arredondados, ápice arredondado (Fig. 1E) ............................................................................................... 11 11. Inflorescências paucifloras; brácteas foliáceas e esverdeadas; lobos do cálice nitidamente desiguais (Fig. 30) ................................................................... 8.5.Myrcia hispida 11. Inflorescências multifloras; brácteas não foliares e não esverdeadas; lobos do cálice nitidamente iguais (Fig. 29) .............................................................. 8.4.Myrcia hebepetala 10. Lobos do cálice triangulares ou agudos, ápice acuminado ou longo-acuminado (Fig. 2H) ............................................ 12 12. Lobos do cálice pilosos em ambas faces (Fig. 27) ................................................................ 8.2.Myrcia eriocalyx 12. Lobos do cálice glabros em pelo menos uma face ............ 13 13. Lâmina 2,8-3,9cm x 1,0-2,3cm, indumento tornando-se negro nas folhas mais velhas e soltando como tufos, nervuras secundárias muito tênues em ambas as faces (Fig. 37) .................................................... 8.12.Myrcia retorta 13. Lâmina 7,8-11,1cm x 4,1-6,5cm, indumento não se torna negro nas folhas mais velhas, nervuras secundárias impresso-salientes em ambas as faces (Fig. 41) ............................................................. 8.16.Myrcia tomentosa 5. Folhas glabras a pubescentes na face abaxial, mesmo as mais jovens ........................................................................... 14 14. Hipanto não tubular (Fig. 39) ........... 8.14. Myrcia splendens 14. Hipanto tubular .................................................................... 15 15. Botão floral, raque e pedúnculo das inflorescências pilosos ................................................................................... 16 16. Folhas coriáceas, margem fortemente revoluta; lobos do cálice glabros internamente e pilosos externamente (Fig. 28) ...................... 8.3.Myrcia hartwegiana 16. Folhas cartáceas, margem não revoluta; lobos do cálice pilosos em ambas faces (Fig. 26) ........ 8.1.Myrcia amazonica 15. Raque e pedúnculo das inflorescências e botão floral, glabros .................................................................................. 17 17. Flores pediceladas; lobos do cálice pilosos internamente e glabros externamente (Fig. 34) ......... 8.9.Myrcia multiflora 17. Flores sésseis; lobos do cálice glabros em ambas faces (Fig. 32) .............................................. 8.7.Myrcia laruotteana 8.1) Myrcia amazonica DC. (Fig. 26) Árvores. Folhas com pecíolo de 2,7-6,8mm, glabro; lâmina 3,7-7,1cm x 1,4-2,9cm, cartácea, elíptica a longo-elíptica, base cuneada, ápice agudo a acuminado, pubescente em ambas faces. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,9-2,3cm, piloso; botões 1,4-1,8mm x 1,0-1,3mm, capitados, pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,6-0,7mm x 0,7-1,4mm, triangulares a arredondados, pilosos em ambas faces; hipanto tubular, glabro; ovário 2-locular. Frutos imaturos, 3,1-3,5mm, globosos, pubescentes, coroado pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: estrada a caminho da portaria do parque, 18/XII/2003 (Fr) P.O. Morais 151 et al.; trilha para a Cascatinha, 18/XII/2003 (Bo/Fl) P.O. Morais 154 et al.; 21/VIII/ 2000 (Bo) R.C. Mota 911. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Peron (1994, sob Myrcia detergens Miq.) M. amazo- nica ocorre desde MG até a BA, provavelmente através da cadeia do Espinhaço, sendo uma espécie típica das Matas de Galeria dos Cerrados e Campos Rupestres, tendo sido observada também em Florestas Semideciduais. No Caraça a espécie foi observada em Florestas Semideciduais, na borda e interior, e em Capoeira. A floração vai desde agosto até meados de dezembro e a frutificação ocorre a partir de dezembro. M. amazonica é uma árvore com 4-5m, ou mais, de altura, e pode ser caracterizada pelas panículas multifloras, caule e ramos alaranjados caracteris- 21ticamente manchados em tons de branco, exfoliantes. Suas folhas são discolores na natureza e em material seco, quando se tornam marrons. 8.2) Myrcia eriocalyx DC. (Fig. 2H; 27) Arbustos a árvores. Folhas sésseis a pecioladas; pecíolo até 3,2mm, densamente piloso; lâmina 3,5-5,0cm x 1,8-2,2cm, elíptica, arredondada ou cordiforme, base truncada, cuneada ou cordada, margem revoluta, ápice agudo, acuminado ou arredon- dado, pilosa a pubescente na face adaxial, mais densamente nas folhas mais jovens, densamente pilosa na face abaxial. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 2,2-3,1cm, densamente piloso; botões 3,5-3,6mm x 2,5-3,3mm, globosos, densamente pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 2,3-3,2mm x 1,8-2,7mm, triangulares, ápice acuminado a longo acuminado, densamente pilosos em ambas faces; hipanto tubular, Myrtaceae da Serra do Caraça 18 piloso; ovário 2-locular. Frutos maduros vináceos, até 6,5mm, globosos, pilosos, indumento se destaca com facilidade, coroados pelos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: Fazenda do Engenho, 23/I/2004 (Bo/ Fl) P.O. Morais 160 et al.; idem P.O. Morais 166 et al; estrada próximo à saída da RPPN, 23/I/2004 (Bo) P.O. Morais 166 & M. Sobral. Material Adicional Examinado: MG, Mariana, Serra do Frazão 25/VIII/2000 (Fr) J.A. Lombardi 4053. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. eriocalyx ocorre em uma variedade de ambientes em MG e no RJ (Legrand, 1958). No Caraça foi coletada em Floresta Estacional Semidecidual, a aproximadamente 800m de altitude, embora tenha sido também observada em Afloramento Rochoso e Capoeira. A espécie apresenta botões e flores em janeiro e seus frutos amadurecem em meados de agosto. É uma espécie extre- mamente variável quanto ao formato de suas folhas e quanto ao porte, podendo ser um pequeno arbusto com 50cm ou árvore com 4m de altura. Pode ser caracterizada principalmente pelos lobos do cálice triangulares com ápice acuminado a longo acu- minado, folhas discolores com margem revoluta e indumento denso, dourado a esbranquiçado brilhante, presente em pratica- mente toda a planta, podendo tornar-se negro nas partes mais velhas. 8.3) Myrcia hartwegiana (O. Berg) Kiaersk. (Fig. 28) Arbustos. Folhas com pecíolo de 2,6-4,3mm, glabro; lâmina 3,1-3,6cm x 1,4-1,9cm, coriácea, elíptica a oblonga, base cuneada, margem revoluta, ápice arredondado a agudo, pubescente em ambas faces, sendo mais densamente as mais jovens. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,6-2,6cm, piloso; botões 3,0-3,8mm x 2,0-2,5mm, globosos, pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,7-1,0mm x 1,2-1,7mm, triangulares, glabros internamente, pilosos externamente, mar- gem ciliada; hipanto tubular, densamente piloso; ovário 2-locu- lar. Frutos maduros vináceos, 4,5-6,3mm, globosos, pubescen- tes, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: Pico do Sol, 08/V/2000 (Bo/Fl) M.F. Vasconcelos s/n (BHCB 53710); trilha para Cascatinha, 18/XII/ 2003 (Fr) P.O. Morais et al. 155; trilha para o Pico do Sol, 29/ IV/2004 (Fl) P.O. Morais 175 & R.C. Mota; Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. hartwegiana ocorre desde MG até RS, de 800 a 2100m de altitude, em formações florestais, ombrófilas e nebulares, e Campo Rupestre (Legrand & Klein, 1967, sob Gomidesia sellowiana O. Berg). No Caraça foi coletada em Campo Rupes- tre a 1930m de altitude, em Mata Ciliar de rio rochoso e em Capoeira. A espécie floresce em meados de maio, com floração em massa, e frutifica em meados de setembro. Pode ser caracteri- zada pelas folhas discolores, em material fresco e herborizado, em tons de verde pálido, fortemente coriáceas com margem revoluta e nervuras reticuladas, marcadamente impresso-saliente. 8.4) Myrcia hebepetala DC. (Fig. 29) Árvores. Folhas com pecíolo de 4,1-7,3mm, densamente piloso; lâmina 5,3-10,5cm x 2,7-6,0cm, elíptica, base truncada a cuneada, ápice agudo a longo-acuminado, pilosa em ambas faces, sendo mais densamente a abaxial, indumento dourado a esbranquiçado. Flores sésseis, reunidas em panículas, multi- floras, axilares ou terminais; pedúnculo 2,5-4,5cm, densamente piloso; botões 2,5-3,5mm, abertos, arredondados, densamente pilosos; cálice 5-lobado, lobos 0,6-0,8mm x 1,2-1,7mm, arre- dondados, ápice arredondado, glabros internamente, pilosos externamente; hipanto tubular, piloso; ovário 2-locular. Frutos maduros amarelados, 8,7-13,4mm, globosos, pilosos, indumento dourado, coroados pelos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: Fazenda do Engenho, 23/I/2004 (Bo) P. O. Morais 162 et al; 28/IV/2004 (Bo) P.O. Morais 172 & R.C. Mota. Material Adicional Examinado: PR, Rio Bonito do Iguaçu, Faz. Giacomet-Marodin, Pinhal Ralo, 23/VI/1995 (Fr) C.B. Poliquesi 338 & J. Cordeiro. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. hebepetala ocorre em MG, SP, PR e SC, exclusivamente em floresta pluvial da encosta atlântica, tanto em formações primárias como em secundárias, onde é mais freqüente (Legrand & Klein, 1967, sob Gomidesia affinis (Cambess.) D. Legrand). No Caraça foi coletada em Floresta Estacional Semidecidual, a aproximadamente 800m de altitude. A espécie floresce de janeiro a abril, e frutifica de junho a setembro. Pode ser reconhecida pelas folhas cartáceas, discolores em material fresco e seco, de margem revoluta, indumento denso e dourado presente em praticamente toda a planta, dando uma aparência velutina à folha. 8.5) Myrcia hispida O. Berg (Fig. 1E; 30) Árvores ou arbustos. Folhas com pecíolo de 2,2-3,1mm, densamente piloso; lâmina 5,8-8,5cm x 2,1-2,5cm, elíptica, base cuneada a truncada, ápice agudo, densamente pilosa em ambas faces, indumento dourado a esbranquiçado. Flores sésseis, reunidas em panículas, paucifloras, axilares ou terminais; pedúnculo 1,5cm, densamente piloso; botões 2,9-3,7mm x 2,0- 2,7mm, abertos, globosos, densamente pilosos; brácteas e bractéolas foliáceas, esverdeadas; cálice 5-lobado, lobos 0,9- 1,5mm x 1,3-2,1mm, arredondados, ápice arredondado, desi- guais, glabros internamente, densamente pilosos externamente; hipanto tubular, glabro; ovário 2-locular. Frutos maduros vermelhos, 6,0-7,9mm x 4,2-4,4mm, oblongos a obovóides, densamente pilosos, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: trilha para a gruta do Padre Caio, 08/ V/2003 (Bo) P.O. Morais 144 et al.; Buraco da Bioada, 5/I/2005 (Fr) R.C. Mota 2708. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: no Caraça a espécie foi coletada em Floresta Estacional Semideci- dual. Os botões aparecem em maio e os frutos em janeiro. M. hispida é muito característica por ser uma arvoreta com ramos flexuosos, indumento denso, às vezes dando uma aparência viscosa, dourado brilhante, visível a olho nu e presente em praticamente toda a planta. As inflorescências são pequenas, com poucas flores e pouco ramificada, as brácteas são foliáceas, esverdeadas e os lobos do cálice são caracteristicamente assimé- tricos, sendo dois menores, dois maiores e um intermediário. 8.6) Myrcia lapensis N. Silveira (Fig. 31) Arbustos. Folhas com pecíolo de 3,2-6,6mm, pubescente; lâmina 2,2-2,8cm x 0,6-1,7cm, elíptica a obovada, base cuneada a atenuada, ápice agudo a cuspidado, pubescente na face adaxial Morais & Lombardi 19 Figura 21 – Eugenia sp. (Mota 86) Figura 22 – Marlierea clausseniana (Morais 180) Figura 23 – Marlierea parviflora (Morais 163) Figura 24 – Myrceugenia ovata (Mota 2703) Figura 25 – Myrceugenia oxysepala (Mota 2703) Figura 26 – Myrcia amazonica (Morais et al. 154) com maior concentração de tricomas na nervura central, pilosa na face abaxial, mais densamente nas folhas mais jovens. Flores sésseis, reunidas em dicásios, axilares ou terminais; pedúnculo 1,0-1,5cm, piloso; botões 2,8-3,5mm x 2,0-2,8mm, obovóides, pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 1,2-1,8mm x 1,4-2,6mm, triangulares a arredondados, desiguais, pilosos, decíduos após a antese; hipanto tubular, glabro; ovário 2-locular. Frutos maduros vináceos, ca 5,0mm, globosos, pubescentes, coroados pelo prolongamento do hipanto. Material Examinado: trilha para o Pico do Sol, 09/V/2003 (Fr) P.O. Morais 150 et al; base do Pico da Carapuça, 19/XII/ 2002 (Bo/Fl) R.C. Mota 1921; trilha para o Pico da Carapuça, 20/IV/2004 (Fr) P.O. Morais 170 et al. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: no Caraça a espécie foi coletada em Afloramento Rochoso a 1550m de altitude, em formações florestais e Campo Rupestre. Os botões e flores aparecem em dezembro e os frutos em abril/maio. M. lapensis pode ser caracterizada pelos seus ramos nodosos, Myrtaceae da Serra do Caraça 20 folhas discolores, em material fresco e seco, em tons castanho-amarelado, coriáceas e cobertas por uma rede de indumento esbranquiçado que se solta em tufos, princi- palmente nas folhas mais jovens e inflorescências. Os indiví- duos jovens podem apresentar folhas lineares e bem menores que as folhas dos indivíduos adultos. As inflorescências são dicásios simples, os lobos do cálice são assimétricos e decíduos após a antese. 8.7) Myrcia laruotteana Cambess. (Fig. 32) Árvores a arbustos. Folhas com pecíolo de 2,1-5,4mm, pubescente; lâmina 3,5-7,3cm x 1,2-2,8cm, elíptica a obovada, base cuneada a truncada, raramente atenuada, ápice acuminado, glabra na face adaxial, pubescente na face abaxial. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 2,6-5,0cm, pubescente; botões 1,5-1,9mm x 1,2-1,5mm, globosos, glabros, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,6-0,7mm x 0,7-0,8mm, triangulares a arredondados, glabros em ambas faces, margem ciliada; hipanto tubular, glabro; ovário 2-locular. Frutos 3,4-4,7mm, globosos, glabros, coroados pelos remanes- centes dos lobos do cálice. Material Examinado: 22/XII/1999 (Fr) M.F. Vasconcelos s/ n (BHCB 52845); caminho para Verruguinha 21/V/1980 (Bo/Fl) T.S.M. Grandi & Tales 095; idem, 01/V/1980 (Bo) T.S.M. Grandi & Tales s/n (BHCB 2845). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. laruotteana é amplamente distribuída, ocorre em GO, RJ e MG até o RS, em matas ciliares ou em capões (Legrand & Klein, 1969). No Caraça cresce tanto em campo, como em mata. Os botões e flores aparecem em maio e os frutos em dezembro. A espécie, popularmente conhecida como Cambuí, apresenta folhas com coloração amarelada em material seco e margem caracte- risticamente ondulada, além de glândulas douradas em ambas faces e venação reticulada muito evidente. 8.8) Myrcia lutescens Cambess. (Fig. 33) Árvores. Folhas com pecíolo ca. 1,7cm, densamente piloso; lâmina 10,0-19,7cm x 5,6-8,3cm, lanceolada a ovada, base cuneada a truncada, ápice agudo, face adaxial glabrescente, face abaxial densamente pilosa, indumento ferrugíneo. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 4,7cm, densamente piloso; botões 3,4-4,1mm x 3,0-3,4mm, globosos, densamente pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 1,7-2,2mm x 1,9-2,2mm, arredondados, pilosos em ambas faces; hipanto tubular, piloso; ovário 2-locular. Frutos maduros pardo- alaranjados, 5,0-6,4mm, globosos, densamente pilosos, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: 10/I/2000 (Bo) M.F. Vasconcelos s/n (BHCB 52848). Material Adicional Examinado: MG, Santana do Riacho, Parque Nacional da Serra do Cipó, 27/VI/1991 (Fr) M. Pereira 743 et al. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: foi coletada no Caraça em borda de mata a 1450m de altitude, florescendo em janeiro e frutificando em junho. M. lutescens é muito característica pelo denso indumento presente em toda a planta, sendo ferrugíneo nos ramos mais jovens passando a negros nos ramos mais velhos, e pelas folhas glabrescentes na face adaxial sendo as mais velhas totalmente glabras. 8.9) Myrcia multiflora (Lam.) DC. (Fig. 34) Árvores. Folhas com pecíolo de 1,5-3,9mm, piloso; lâmina 2,3-4,5cm x 1,0-2,1cm, elíptica a elíptico-obovada, base atenuada, ápice agudo a acuminado, face adaxial glabra, face abaxial pubescente. Flores pediceladas, às vezes sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,1- 2,1cm, pubescente; pedicelo 1,3-3,9mm, pubescente; botões 2,0- 2,2mm x 1,3-1,5mm, obovóides, glabros, abertos; cálice 5- lobado, lobos 0,5-0,7mm x 1,0-1,6mm, arredondados, pilosos internamente e glabros externamente, margem ciliada; hipanto tubular, glabro; ovário 2-locular. Frutos imaturos verdes, 3,6- 4,3mm, globosos, glabros, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: 20/XI/1985 (Bo/Fl) S. Elisaro 13 et al.; Caminho dos Pinheiros, 14/XI/1980 (Bo) Tales & J.L. Pedersoli 338; trilha para a Cascatinha, 18/XII/2003 (Fl/Fr) P.O. Morais et al. 156. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. multiflora é amplamente distribuída, ocorrendo desde o norte da América do Sul até o Rio Grande do Sul (Legrand & Klein, 1969b). No Caraça foi coletada e observada em Floresta Estacional Semidecidual e Capoeira, os botões e flores aparecem em novembro a dezembro e os frutos em dezembro. A espécie pode ser reconhecida pelo seu caule descamante, esbranquiçado com manchas marrons, pelo indumento escasso e por suas nervuras reticuladas e evidentes em ambas faces. As folhas apresentam-se discolores na natureza, sendo verde escuro brilhante na face adaxial e verde mais claro na face abaxial, com glândulas densamente distribuídas e evidentes. É uma espécie com 50cm a 4m ou mais de altura, muito comum em áreas de Capoeira. 8.10) Myrcia mutabilis (O.Berg) N.Silveira (Fig. 35) = Myrcia pilodes Kiaersk., Symb. ad Floram Bras. Centr. Cogn. 39:67 (1893). Tipo: Glaziou 16976. Sinônimo novo = Marlierea pilodes (Kiaersk.) Kawasaki, Bol. Bot. Univ. São Paulo 11:126 (1989). Sinônimo novo Arbustos. Folhas com pecíolo de 3,6-7,5mm, piloso; lâmina 4,7-7,0cm x 1,4-2,4cm, elíptica a ovada, base cuneada, ápice acuminado a longo-acuminado, face adaxial glabrescente, face abaxial densamente pilosa, indumento ferrugíneo. Flores sésseis, reunidas em inflorescências paniculadas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,5-2,0mm, densamente piloso; botões 3,5-5,0mm x 2,2-3,0mm, obovóides, densamente pilosos, abertos; cálice 4- lobado, lobos 1,1-1,6mm x 1,5-2,2mm, arredondados ou triangulares, pilosos em ambas faces; hipanto tubular, glabro; ovário 2-locular. Frutos 5,8-6,1mm, globosos, glabrescentes, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: trilha para a Capelinha, 19/IX/2004 (Bo) P.O. Morais 183; Material Adicional Examinado: MG, Brumadinho, Retiro das Pedras, 07/III/2002 (Fr) A. Fonseca 188 et al. Distribuição Geográfica, Fenologia, Comentários: a espécie parece ser típica dos Campos Rupestres de Minas Gerais e Bahia, ocorrendo nas Matas Ciliares como arvoreta ou árvore, e nos afloramentos rochosos como um arbusto retorcido de até 2m de altura (Perón, 1994, sob Marlierea pilodes (Kiaersk.) Kawasaki). Na Serra do Caraça foi coletada somente em Morais & Lombardi 21 Figura 27 – Myrcia eriocalyx (Morais et al. 160) Figura 28 – Myrcia hartwegiana (Morais & Mota 175) (= Gomidesia sello- wiana) Figura 29 – Myrcia hebepetala (Morais & Mota 172) (= Gomidesia affinis) Figura 30 – Myrcia hispida (Morais et al. 144) Figura 31 – Myrcia lapensis (Mota 1921) Figura 32 – Myrcia laruotteana (Grandi 95) Afloramento Rochoso, com botões começando a se desenvolver em setembro e os frutos em março. Embora a espécie tenha sido determinada como Marlierea pilodes, em diversos trabalhos botânicos (Perón, 1994; Kawasaki, 1989; Nic Lughadha, 1995), o indivíduo coletado no Caraça apresenta botões florais abertos e, sendo esta, a única característica que separa Myrcia e Marlierea optou-se neste trabalho por determiná-la como Myrcia. Neste caso, Myrcia mutabilis é o nome mais adequado para a espécie, uma combinação nova realizada por N. Silveira para a espécie Aulomyrcia mutabilis O. Berg, uma vez que é mais antigo que Myrcia pilodes Kiaersk. ou Marlierea pilodes. M. mutabilis pode ser facilmente reconhecida devido a seu padrão de ramificação, freqüentemente dicotômico, ramos nodosos, gemas envolvidas por catáfilos densamente cobertos por indumento ferrugíneo. O botão floral é aberto e os lobos do cálice assimétricos, dois maiores e arredondados e dois menores e triangulares. A face abaxial das folhas apresenta indumento ferrugíneo que vai tornando- se negro nas folhas mais velhas e soltando como tufos. Myrtaceae da Serra do Caraça 22 8.11) Myrcia obovata (O. Berg) Nied. (Fig. 36) Árvores ou arbustos. Folhas com pecíolo de 3,1-7,2mm, glabro; lâmina 4,0-7,5cm x 2,5-5,9cm, elíptica, obovada a orbicular, base atenuada a cuneada, ápice arredondado a levemente agudo, glabra em ambas faces. Flores sésseis ou pediceladas, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,6-3,0cm, glabro; pedicelo ca. 1mm, glabro; botões 3,3-3,6mm x 2,2-2,4mm, claviformes, glabros, abertos; cálice 5- lobado, lobos 0,4-0,9mm x 1,2-1,8mm, arredondados, pilosos internamente e glabros externamente, margem ciliada; hipanto tubular, glabro; ovário 3-locular. Frutos maduros vináceos, 6,8- 7,5mm, globosos, glabros, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: trilha para Cascatinha, 09/V/2003 (Fr) P.O. Morais 146 et al.; idem, 28/IX/1987 (Bo/Fl) M.B. Horta 251 et al.; 07/X/1988 (Bo/Fl) M.M.N. Braga 256; caminho para Belchior, 12/XII/1986 (Fr) I.R. Andrade et al. 43; Tanque Grande, 30/V/2002 (Fr) R.C. Mota 1917. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. obovata ocorre em MG, SP e PR. No Caraça foi coletada em formações florestais e em Campo Rupestre. Floresce em setembro/outubro e frutifica de dezembro a maio. A espécie, predominantemente glabra, pode ser reconhecida pelas folhas tipicamente obovais a arredondadas, com margem revoluta, coriáceas, densamente glandulosas, glândulas visíveis a olho nu e proeminentes em ambas faces. O material fresco e herborizado é discolor, sendo na natureza verde escuro brilhante na face adaxial e verde claro opaco na face abaxial. 8.12) Myrcia retorta Cambess. (Fig. 37) Árvores ou arbustos. Folhas com pecíolo de 2,1-3,8mm, pubescente; lâmina 2,8-3,9cm x 1,0-2,3cm, elíptica, base cuneada a truncada, ápice agudo, face adaxial glabrescente, face abaxial pilosa. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 2,2-2,9cm, densamente piloso; botões 3,5- 4,4mm x 3,3-3,7mm, arredondados, densamente pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 1,8-2,4mm x 1,9-2,3mm, triangulares, ápice acuminado, glabros internamente e pilosos externamente; hipanto tubular, piloso; ovário 2-locular. Frutos maduros aver- melhados a vináceos, 3,8-4,6mm x 3,2-3,7mm, globosos, pilo- sos, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: caminho para Belchior, 12/XII/1986 (Fr) M.B. Horta et al. 33; 14/IV/2000 (Bo/Fl) M.F. Vasconcelos s/n (BHCB 52841); Pico do Inficionado, 15/IX/2004 (Fr) R.C. Mota 2705. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: M. retorta ocorre desde MG ao RS (Legrand & Klein, 1969b sob Myrcia arborescens O. Berg). No Caraça cresce em Campo Rupestre e Mata Nebular a 2.020m de altitude. Os botões e flores aparecem em meados de abril e os frutos em setembro- dezembro. A espécie pode ser reconhecida pelo indumento denso, esbranquiçado a dourado, presente em praticamente toda a planta, que vai tornando-se negro e soltando em tufos na face abaxial das folhas e nos ramos mais velhos. As nervuras são bem marcadas em ambas faces e as folhas, no material herborizado, adquirem uma coloração amarelada. A mesma espécie foi descrita por O. Berg na Flora Brasiliensis (14(1):200.1857) como M. arborescens, provavelmente por não ter tido oportu- nidade de ver as coletas de Saint-Hilaire das espécies descritas por Cambessedès (1832-1833), sendo que suas descrições na Flora Brasiliensis são baseadas apenas nos protólogos (Sobral, 2003). Ao examinar o material tipo de M. arborescens, espécie descrita por O. Berg, e coletado por Sellow (4856 - LE), consideramos esta sinônimo de M. retorta, confirmando o que já havia sido proposto por Sobral (2003). 8.13) Myrcia rufipes DC. (Fig. 38) Arbustos. Folhas com pecíolo de 6,3-12,6mm, piloso; lâmina 6,3-7,2cm x 2,6-3,3cm, elíptica a obovada, base cuneada, ápice agudo a rotundo, face adaxial pubescente, exceto na nervura central e margem das folhas, face abaxial pilosa. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 2,2-4,7cm, densamente piloso; botões 2,0-2,6mm x 1,5-2,1mm, claviformes ou obovóides, pubescentes, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,6-0,8mm x 1,1-1,3mm, arredondados, pilosos interna- mente e glabros externamente, margem ciliada; hipanto tubular, glabro; ovário 3-locular. Frutos maduros vináceos, 6,4mm diâm., globosos, glabros, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: 16/XII/2000 (Fr) R.C. Mota 1167; Buraco da Boiada, 10/X/2000 (Bo/Fl/Fr) J. Ordones et al. 465; idem, 21/VIII/2000 (Bo/Fl) J. Ordones et al. 311. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: Myrcia rufipes ocorre em MG e GO (Kawasaki, 1989), sendo freqüente no Caraça em Floresta Estacional Semidecidual e Capoeira. Os botões e flores aparecem de agosto a outubro e os frutos de outubro a dezembro. Segundo Kawasaki (1989) esta é uma espécie que apresenta muitas variações quanto aos caracteres vegetativos e florais. Pode ser reconhecida pelo indumento denso nas partes mais jovens e que varia do esbranquiçado ao ferrugíneo, se tornando enegrecido nas partes mais velhas. No material herborizado as folhas tornam-se marrom claro a acinzentado e as mais jovens são ferrugíneas na face abaxial devido ao adensamento de tricomas. Às vezes as folhas mais novas ficam menores que as folhas mais velhas. 8.14) Myrcia splendens (Sw.) DC. (Fig. 1D; 39) Árvores ou arbustos. Folhas com pecíolo de 4,1-8,3mm, piloso a glabro; lâmina 5,9-11,7cm x 1,6-3,3cm, lanceolada a longo-lanceolada, base atenuada, ápice longo-acuminado, face adaxial pilosa somente no sulco da nervura central, face abaxial pubescente. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,1-2,4cm, piloso; botões 2,8-3,1mm x 1,9- 2,1mm, globosos, pilosos, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,7- 1,4mm x 0,9-1,4mm, triangulares, côncavos, pilosos em ambas faces; hipanto não evidente; ovário 2-locular. Frutos imaturos, 6,8-8,2mm x 4,7-5,4mm, oblongos a obovóides, pilosos, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice. Material Examinado: Bocaina, 07/X/2000 (Fl) J. Ordones et al. 343; Campo de Fora, 09/X/2000 (Bo/Fl) J. Ordones et al. 435; 07/X/1988 (Bo/Fl) M.M.N. Braga et al. 258; 12/IX/1999 (Bo) M.F. Vasconcelos s/n (BHCB 52844); beira da estrada que chega à serra, 30/IV/2004 (Fr) P.O. Morais 176; estrada da Fazenda do Engenho, 20/XI/2004 (Bo/Fl) P.O. Morais et al. 187. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: ocorre desde o México até o sul do Brasil (McVaugh 1969). Morais & Lombardi 23 Figura 33 – Myrcia lutescens (BHCB 52848) Figura 34 – Myrcia multiflora (Morais et al. 156) Figura 35 – Myrcia mutabilis (Morais 183) (= Myrcia pilodes; = Marlierea pilodes) Figura 36 – Myrcia obovata (Horta et al. 251) Figura 37 – Myrcia retorta (BHCB 52841) (= Myrcia arborescens) Figura 38 – Myrcia rufipes (Ordones 311 No Caraça cresce em borda e interior de Floresta Estacional Semidecidual e em Campo Rupestre. A espécie floresce em setembro/outubro e inicia a frutificação em dezembro. Embora seja uma espécie bastante variável, pode ser reconhecida pelas nervuras secundárias proeminentes e bem marcadas na face abaxial, ramo, pecíolo e base da nervura central geralmente enegrecidos e folhas que conservam o típico formato lanceolado a longo-lanceolado com ápice acuminado a longo acuminado e base atenuada. 8.15) Myrcia subcordata DC. (Fig. 40) Arbustos a árvores. Folhas sésseis; lâmina 4,2-7,4cm x 2,4- 5,5cm, cordiforme, base cordada a subcordada, ápice agudo, face adaxial pubescente, face abaxial densamente pilosa. Flores sésseis, reunidas em panículas, terminais ou subterminais; pedúnculo 1,8-2,1cm, densamente piloso; botões 2,1-2,9mm x 1,5-2,0mm, claviformes, pilosos, indumento ferrugíneo, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,7-1,1mm x 1,2-1,9mm, arredondados, Myrtaceae da Serra do Caraça 24 pilosos em ambas faces; hipanto tubular, glabro; ovário 2- locular. Frutos imaturos verdes, 5,3-6,2mm diâm., globosos, glabros, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: fim da estrada para a Cascatinha, 10/ XII/1986 (Bo) N.C. Attala 06; 25/V/1987 (Fr) T.S.M. Grandi et al. s/n (BHCB 28360); trilha em direção ao Campo de Fora, 22/ V/1997 (Fr) R. Mello-silva 1339 et al. Material Adicional Examinado: MG, Caeté, Serra da Piedade, 05/IV/1986 (Bo/Fl) J.A. Paula et al. 03. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Peron (1994), M. subcordata é um arbusto ou arvoreta típica dos afloramentos quartzíticos e das matas ciliares dos Campos Rupestres, até o momento referido somente para Minas Gerais. Na Serra do Caraça ocorre em Campo Rupestre e Capoeira a 1350-1500m de altitude. Os botões e flores aparecem de dezembro a abril e os frutos em maio. A espécie habita tanto Mata de Galeria quanto formações arbustivas abertas dos Campos Rupestres, sendo que os exemplares das matas apresentam-se como arvoretas ou pequenas árvores, com folhas bem desenvolvidas e base acentuadamente cordiforme e as plantas das formações arbustivas rupestres são arbustos com folhas de tamanho menor e base subcordiforme (Perón, 1994). Pode ser reconhecida pelas folhas amplexicaules em ângulo de 45°, coriáceas, cordiformes, sésseis, ramificação dicotômica, ramos e râmulos nodosos e cilíndricos. 8.16) Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. (Fig. 41) Arbustos a árvores. Folhas com pecíolo de 1,0-1,5cm, piloso; lâmina 7,8-11,1cm x 4,1-6,5cm, elíptica a obovada, base cuneada a atenuada, ápice agudo a rotundo, face adaxial pilosa, face abaxial densamente pilosa. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares; pedúnculo 5,0cm, densa- mente piloso; botões 3,1-3,6mm x 2,3-2,7mm, claviformes, totalmente cobertos pelo indumento, abertos; cálice 5-lobado, lobos 1,4-1,6mm x 1,5-1,7mm, agudos, pilosos internamente e glabros externamente; hipanto tubular, glabro; ovário 2- locular. Frutos maduros amarelados, 4,1-4,3mm, globosos, pilosos, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: Buraco da Boiada, 10/X/2000 (Bo) J. Ordones et al. 468. Material Adicional Examinado: MG, Belo Horizonte, Estação Ecológica da UFMG, 21/XI/1990 (Fr) E. Tameirão Neto 268. Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo McVaugh (1969) esta é uma das espécies de Myrcia mais variável e mais bem distribuída, ocorrendo desde o Panamá, norte da Venezuela e Guianas até o sudeste do Brasil. No Caraça, M. tomentosa foi coletada em Floresta Estacional Semidecidual, os botões aparecem em outubro e os frutos em novembro. Popularmente é conhecida como goiaba-brava devido ao seu caule caracteristicamente manchado como o da goiabeira, liso e tortuoso e com ritidoma exfoliante marrom- avermelhado. Pode ser reconhecida também, pelo indumento denso, dourado brilhante presente em toda a planta, dando uma textura aveludada à folha e pelas nervuras secundárias que se encontram formando um arco, de duas a duas, não evidenciando a formação de uma nervura coletora pro- priamente dita. 8.17) Myrcia venulosa DC. (Fig. 42; 43) = Myrcia carassana Glaz., Liste des Plantes du Brésil Central. Bull. Soc. Bot. France. liv. Mem. III. pg. 222. 1908. (Material Tipo: Glaziou 14817, P!), sinônimo novo. Arbustos a árvores. Folhas com pecíolo de 1,6-6,1mm, densamente piloso; lâmina 1,2-4,7cm x 0,8-2,2cm, elíptica a obovada, base cuneada a levemente atenuada, ápice agudo, face adaxial pubescente, face abaxial densamente pilosa. Flores sésseis, reunidas em panículas, axilares ou terminais; pedúnculo 1,4-2,4cm, densamente piloso; botões 2,2-3,2mm x 1,5-2,3mm, capitados, densamente pilosos na base, abertos; cálice 5-lobado, lobos 0,7-1,1mm comp. x 1,0-1,4mm larg., arredondados, pilosos em ambas faces; hipanto tubular, piloso; ovário 3- locular. Frutos 3,9-4,3mm, arredondados, glabrescentes, coroados pelos remanescentes dos lobos do cálice e hipanto. Material Examinado: fim do caminho para a Cascatinha, 10/XII/1986 (Bo/Fl) N.C. Attala 08; 14/XII/2000 (Bo/Fl) R.C. Mota 1034; subida para o Pico da Carapuça, 20/IV/2004 (Fl) P.O. Morais 168 et al. Material Adicional Examinado: MG, Serra da Moeda, 26/X/1988 (Fr) T.S.M. Grandi s/n (BHCB 14608). Distribuição Geográfica, Fenologia e Comentários: segundo Kawasaki (1989) a espécie ocorre em SP e MG. No Caraça foi coletada em Floresta Estacional Semidecidual e em Campo Rupestre no Pico da Carapuça a 1800m de altitude. Os botões e flores aparecem em dezembro a abril e os frutos em outubro. M. venulosa apresenta grande variabilidade em sua morfologia foliar e na coloração do indumento (Kawasaki, 1989; Perón, 1994; Nic Lughadha, 1995). A espécie, no Caraça, apresenta duas formas distintas, embora ambas caracterizadas pelas folhas nitidamente discolores, com venação saliente e densamente reticulada, principalmente na face adaxial, indu- mento denso na face abaxial das folhas, ferrugíneo a ocráceo. De acordo com Soares-Silva (2002), embora existam grandes variações morfológicas em M. venulosa é possível detectar algumas populações que apresentam constância em algumas características, diferenciando-a de outras populações. Por exemplo, a população observada no Pico da Carapuça, a 1800m de altitude, apresenta folhas fortemente coriáceas, glabras e verde escuro brilhante na face adaxial, denso indumento ferru- gíneo na face abaxial das folhas novas e que persiste nos órgãos mais velhos, porém enegrecido. Características que poderiam ter sido desenvolvidas como adaptações a altitudes mais elevadas e que são comuns em espécies que ocorrem nestes ambientes. Myrcia carassana (Fig. 43) foi o nome dado por Glaziou para o espécime coletado por ele no Pico da Carapuça (tipo: Glaziou 14817 – P; Glaziou, 1905). A partir da análise da fotografia do material tipo e da descrição original, o indivíduo coletado neste trabalho é considerado não uma espécie, mas uma variante morfológica de altitudes mais elevadas de M. venulosa. Sendo esta uma espécie extremamente variável, o conjunto de características descritas para M. carassana, define bem a população de altitudes mais elevadas, embora não seja suficiente para sustentar uma espécie, já que a mesma compartilha outros caracteres, comuns em M. venulosa. 9) Myrciaria O. Berg Árvores ou arbustos. Flores reunidas em glomérulos, axilares ou caulinares; brácteas decíduas e bractéolas soldadas Morais & Lombardi 25 pelo menos na base e persistentes após a antese; cálice aberto no botão floral, 4-lobado, lobos decíduos após a antese; pétalas 4; hipanto tubular e decíduo após a antese; ovário 2-locular, com 2 óvulos por lóculo, placentação axilar. Fruto globoso, com cicatriz circular da queda do cálice e