UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Instituto de Geociências e Ciências Exatas Campus de Rio Claro CARACTERÍSTICAS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL COM FOCO NOS CURSOS DE PEDAGOGIA E MATEMÁTICA Ana Paula Purcina Baumann Orientadora: Profª Dr.ª Maria Aparecida Viggiani Bicudo Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática Área de Ensino e Aprendizagem da Matemática e seus Fundamentos Filosóficos - Científicos para obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Rio Claro (SP) 2009 Comissão Examinadora ___________________________________________ Profª Drª Maria Aparecida Viggiani Bicudo Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro __________________________________________ Profª Drª Leonor Maria Tanuri Universidade Estadual Paulista - UNESP - Marília __________________________________________ Prof. Dr. Antonio Carlos Carrera de Souza Universidade Estadual Paulista - UNESP - Rio Claro _________________________________________ Ana Paula Purcina Baumann Aluna Rio Claro, 13 de janeiro de 2009. Resultado ___________________________________________________ Para Luis Rodrigo, meu grande Amor. Neide, minha alegre Mãe Ciro, meu forte Pai Rafael, meu Irmãozinho querido AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, por sempre estar presente em minha vida, oferecendo saúde, força e me auxiliando em todos os momentos, mesmo quando não o chamo. Agradeço à professora Maria Aparecida Viggiani Bicudo, por ter me dado a oportunidade de ser sua orientanda, agradeço pela sua competente orientação que tornou possível a finalização deste trabalho. Aos Professores Antonio Carlos Carrera de Souza e Leonor Maria Tanuri, pelas valiosas contribuições e pelas reflexões provocadas. À Professora Zaíra da Cunha Mello Varizo, pelo apoio, amizade, confiança e carinho. À Professora e amiga Maria de Fátima Teixeira Barreto, pela força e ajuda no processo de ingresso ao Programa de Pós Graduação. À amiga Silmara E. de Castro Carvalho, pela acolhida no Laboratório de Educação Matemática (LEMAT/IME/UFG), lugar onde aprendi muito. Agradeço pelo seu entusiasmo contagiante e por seu comprometimento com a Educação Matemática. À Professora e amiga Gene Lyra, por acreditar e torcer por mim. Aos meus grandes, eternos e verdadeiros amigos, Thiago Porto, Elcimara, Michele Cristina, Lady Daiane e Ana Paula Stoppa, por me ensinarem o verdadeiro significado da palavra amizade e por estarem tão presentes em minha vida, apesar da distância. Aos amigos de Catalão-GO Lázaro, Lourdes Maria (Lurdinha), Maria Marta, Renato, Wanderson, Danilo, Thais, Luciana, Guilherme, por me acolherem sempre que retorno à cidade natal. Aos grandes amigos que conquistei na casa de estudantes (CEU III), Márcia, Mônica, Sirlene, Juliana, Leonardo e Jones, pela amizade e pelos momentos de alegria que passamos juntos. À amiga Marlúcia, pelas conversas nos momentos em que necessitei espairecer. Aos amigos que conquistei em Goiânia: Marjuriher, Humberto, Reila, Rose, e Leila, Ao casal Maria Aparecida (Dona Cida) e Sebastião, pessoas abençoadas que tive o privilégio de conhecer e conviver. Aos meus professores da Licenciatura: Élida, Porfírio. Mádson, Martinha, Cléves, André, Rogério, Maria José, Paulinho, Márcio e Carlos Alberto. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática. Em especial àqueles que tive a oportunidade de fazer disciplinas, Rosa S. Barone, Miriam G. Penteado, Sérgio Nobre e Antônio Vicente M. Garnica. Aos funcionários do Departamento de Matemática da Unesp-Rio Claro, Elisa, Ana, Diego e José Ricardo, pela disponibilidade em colaborar sempre que possível. Em especial à Inajara, pelo carinho e pela alegria contagiante que sempre recebe os alunos da Pós-Graduação em Educação Matemática. Aos companheiros do grupo de pesquisa FEM, Luciane, Fabiane, Roger e Marli, pelas contribuições em meu trabalho e em minha formação. Aos amigos do Programa de Pós-Graduação, Magali, Luciano, Rachel, Mirian, Thiago, Viola, Luzia, Keila, Juliana, Célia, Andri, Tati, Adriana, Marco Escher, Mário, Marcela, Maria Helena, Paulo Henrique, Fernando, Jamur, Carlos Francisco, Carlos Eduardo, Carolina, Vanessa, Lucieli, Carla, Laus, Adelino, Moara, Walderez, João Luis, pelos momentos de estudos, debates e descontração (almoços de domingo, etc) Aos meus familiares, por vibrarem junto comigo por mais essa conquista. Como são muitos, serão representados aqui pela Karina, Hellen, Lidiane, Luana e Geisinha. De modo especial ao meu irmão Rafael, que esteve presente nesta caminhada, sempre oferecendo sua amizade e apoio. Agradeço aos meus pais, Ciro e Neide, por me ensinarem o valor da educação e por não medirem esforços para que, meu irmão e eu, pudéssemos sempre estudar. Agradeço o incentivo, a força e principalmente a confiança. À nova família que ganhei, representada aqui pela Paulina (sogra), Lautílio (sogro) e Allan Fábio (cunhado). Ao meu amado esposo Luis Rodrigo, pelo carinho, confiança, serenidade, tranqüilidade, paciência e principalmente pelo amor oferecidos durante esses dois anos. Agradeço seu companheirismo, agradeço a segurança e a força transmitidas, sem isso nada seria possível. Ao CNPq, pelo apoio financeiro. Enfim, obrigada a toooodos!!!!!!! “ [...] Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final”. Elisa Lucinda “[...] E outra vez conquistemos a Distância - Do mar, ou outra, mas que seja nossa!” Fernando Pessoa RESUMO Esta pesquisa busca investigar como os cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia apresentam seus projetos de formação de professores, a fim de atender ao Ensino Fundamental em sua primeira fase, tendo a seguinte pergunta diretriz: De que modo se apresenta o projeto de formação de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia? O contexto escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa foi o da Universidade Federal de Goiás (UFG). Foi analisado de modo constante a legislação que regulamenta a formação de professores em nosso país e especificamente a que trata sobre os cursos de Licenciatura em Pedagogia e em Matemática. Foi feita, de modo sistemático, a análise do Projeto Político-Pedagógico dos cursos focados no intuito de tecer considerações a respeito do trabalho pretendido e anunciado nesses cursos de formação de professores daquela Universidade. Buscou-se contribuir com um (re)pensar constante sobre os cursos de Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Pedagogia, para que estes possam formar profissionais cientes de sua importância e influência para a Educação Matemática. O trabalho foi desenvolvido assumindo os procedimentos qualitativos sob uma perspectiva fenomenológica. Palavras Chaves: Educação Matemática; Formação inicial de Professores; Matemática e Pedagogia; Legislação Educacional; Projeto Pedagógico. ABSTRACT This essay wants to investigate like the courses of Mathematics and Pedagogy present their projects of teacher education, in order to take care of the Basic Teaching in first phase, having the following question: “How does the Formation Project of Teacher Education in the Basic Teaching present in the courses of Mathematics and Pedagogy?” The context chose for the development of this research was of the Goiás Federal University (UFG). The legislation was analyzed in constant way that regulates the teacher education in our country and specifically the one that develops on the courses of Pedagogy and Mathematics. It was made, in systematic way, the analysis of the Politician-Pedagogical Project of the courses to emphasize the intention to do considerations about the work intended and announced in these courses of teacher education of that University. We intended to contribute with one constant (re)think on the courses of Mathematics and Pedagogy, so we can form responsible professionals of importance and influence for the Mathematical Education. The work was developed assuming the qualitative procedures observing a phenomenological perspective. Words Keys: Mathematical Education; Initial Formation of Professors; Mathematics and Pedagogy; Educational Legislation; Pedagogical Project. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANDES Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação ANPED Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação CBE Conferência Brasileira de Educação CEAE Comissão de Ensino da Área de Educação CEB Câmara de Educação Básica CEEC Comissão de Especialistas em Ensino de Ciências CEEFP Comissão de Especialistas de Formação de Professores CEEM Comissão de Especialistas em Ensino de Matemática CEEP Comissão de Especialistas em Ensino de Pedagogia CEEs Comissões de Especialistas do Ensino CEPAE Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação CES Câmara de Educação Superior CFE Conselho Federal de Educação CHTS Carga horária total semestral CNE Conselho Nacional de Educação CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico COM Compulsória CONARCFE Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador CP Conselho Pleno DCN Diretrizes Curriculares Nacionais EI Educação Infantil FE Faculdade de Educação IES Instituições de Ensino Superior IME Instituto de Matemática e Estatística INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais "Anísio Teixeira" IRHJP Instituto de Recursos Humanos João Pinheiro LDB Lei de Diretrizes e Bases MEC Ministério da Educação NC Núcleo Comum NE Núcleo Específico NL Núcleo Livre OBR Obrigatória OPT Optativa pra Prática PROGRAD Pró-Reitoria de Graduação PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo RGCG Regulamento Geral dos Cursos de Graduação SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática SBF Sociedade Brasileira de Física SBM Sociedade Brasileira de Matemática SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBQ Sociedade Brasileira de Química SESu Secretaria de Educação Superior SIEF Séries Iniciais do Ensino Fundamental teo Teórica UDF Universidade do Distrito Federal UFG Universidade Federal de Goiás UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UNICAMP Universidade Estadual de Campinas USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO Página UM PASSEIO PELO TEMA------------------------------------------------------------------------- 16 1.1 - Trazendo o Tema para o Debate------------------------------------------------------- 16 1.2 - Em Busca da Compreensão do Tema----------------------------------------------- 20 1.3 - A Interrogação e seu Significado ----------------------------------------------------- 25 1.4 - Procedimentos de Investigação ------------------------------------------------------ 26 1.4.1 - Fundamentação Metodológica - Fenomenologia: o Olhar Assumido ---- 28 1.5 - Importância do Trabalho para a Educação Matemática ---------------------- 29 1.6 - Estrutura do Texto da Dissertação--------------------------------------------------- 30 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA --------------------------------- 32 2.1- Nascimento do Curso de Pedagogia------------------------------------------------- 33 2.1.1 - Currículo e Mercado de Trabalho-------------------------------------------------- 34 2.1.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática----------------------- 38 2.2- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 e o Parecer CFE nº 251/1962 ---------------------------------------------------------------------------------------------- 38 2.2.1 - Currículo e Mercado de Trabalho-------------------------------------------------- 39 2.2.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática----------------------- 42 2.3 - O Parecer CFE nº 252/1969 e o Tecnicismo da Época------------------------- 42 2.3.1 - O Currículo por meio do Parecer CFE nº 252/1969 -------------------------- 44 2.3.2 - A Caminho da Formação de Professores para os Anos Iniciais----------- 46 2.4- De 1969 a 1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971 e as Indicações de Valnir Chagas------------------------------------------------------------------ 47 2.4.1 - A Caminho de uma Definição da Formação de Professores --------------- 50 2.4.2 - O Currículo Pretendido pela Indicação CFE nº 70/1976 para o Curso de Pedagogia ----------------------------------------------------------------------------------------- 54 2.4.3 - Capacitando o Pedagogo para o Ensino de Matemática? ------------------ 56 2.5 - O Movimento Nacional em Defesa da Formação de Professores--------- 59 2.5.1 - Mobilizações que Focam os Cursos de Formação do Educador/Professor ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 60 2.5.2 - Delineando o Projeto de Formação de Professores: o Curso de Pedagogia e a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais ------- 66 2.6- Os Encontros Nacionais do Movimento e suas Propostas ------------------ 70 2.6.1- Presença Estudantil e a Crise Gerada no I Encontro Nacional do Movimento----------------------------------------------------------------------------------------- 71 2.6.2- Organização dos Educadores: as Propostas Apresentadas ---------------- 72 2.6.3 - Proposta sobre Formação: Licenciatura e Pedagogia ----------------------- 72 2.6.4 - Delineando a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais no Âmbito do Movimento de Educadores------------------------------------------------- 78 2.7- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e os Cursos de Formação de Professores---------------------------------------------------------------------- 82 2.7.1 - Proposta de Diretrizes Elaborada pela ANFOPE------------------------------ 84 2.7.2 - Proposta de Diretrizes Curriculares da Comissão de Especialistas do Ensino de Pedagogia – 1999----------------------------------------------------------------- 86 2.7.3- Os Institutos Superiores de Educação e a Formação de Professores --- 88 2.8- A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia ------------------------------------------------------------------------------------------- 94 2.8.1- Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia ------------- 98 2.8.2- Repercussão das DCN para o Curso de Graduação em Pedagogia na Comunidade de Educadores. -------------------------------------------------------------- 102 2.9 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva sobre a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Pedagogia ------------------------------------------------------------------------------------- 105 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: O CAMINHO PERCORRIDO PELO CURSO DE LICENCIATURA------------------------------------------------------------ 109 3.1- Os Primeiros Cursos de Licenciatura em Matemática - Década de 1930 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------110 3.2- O Parecer CFE nº 295/1962 e o Parecer CFE nº 292/1962--------------------116 3.3 - O Parecer CFE nº 672/1969 ------------------------------------------------------------118 3.4 - Resolução CFE nº 30/1974: o Curso de Licenciatura em Ciências ------119 3.5 - O Movimento de Educadores da Década de 1980 e as Propostas para as Licenciaturas ------------------------------------------------------------------------------------- 128 3.6 - A Caminho das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Matemática ---------------------------------------------------------------------------------------- 132 3.7 - O que Diz a Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM sobre as Diretrizes------------------------------------------------------------------------------ 138 3.7.1 - A Proposta da SBEM---------------------------------------------------------------- 140 3.8 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva sobre a Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Licenciatura em Matemática ------------------------------------------------------------ 147 HERMENÊUTICA DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSO: LICENCIATURA EM PEDAGOGIA E LICENCIATURA EM MATEMÁTICA-------------------------------- 151 4.1 - Introduzindo o Tema -------------------------------------------------------------------- 151 4.2 - Análise e Interpretação do Projeto Político-Pedagógico do Curso de Pedagogia – UFG-------------------------------------------------------------------------------- 153 4.2.1- O que Ele (o Curso) Pretende----------------------------------------------------- 154 4.2.2- Justificativas que a IES apresenta para manter esse Projeto ------------ 156 4.2.3- Procedimentos Propostos para Atingir os Objetivos Presentes no Projeto ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 157 4.2.4 - Organização Curricular ------------------------------------------------------------- 160 4.2.4.1 - Núcleo Comum e Núcleo Específico-------------------------------------- 160 4.2.4.2 - Núcleo Livre e Prática como Componente Curricular ---------------- 161 4.2.4.3 - Atividades Complementares/ Atividades acadêmico-científico- culturais --------------------------------------------------------------------------------------- 163 4.2.4.4 - Estágio Supervisionado e Prática de Ensino --------------------------- 163 4.2.5 - Tabela de Disciplina do Curso de Pedagogia:-------------------------------- 167 4.2.6 - Análise da Grade Curricular------------------------------------------------------- 171 4.2.7 - Apresentação da Ementa das Disciplinas ------------------------------------- 176 4.2.8 - Expondo Entendimentos sobre a Formação de Professores de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Licenciatura em Pedagogia ---------------------------------------------------------------------------------- 182 4.3 - Análise e Interpretação do Projeto Político-Pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática – UFG------------------------------------------------------- 187 4.3.1 - O que Ele (o Curso) Pretende ---------------------------------------------------- 188 4.3.2 - Justificativa Apresentada para a Existência e Manutenção desse Projeto para o Curso de Matemática --------------------------------------------------------------- 193 4.3.3 - Procedimentos Propostos para Atingir os Objetivos Presentes no Projeto ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 194 4.3.3.1 - Estágio Supervisionado ------------------------------------------------------ 194 4.3.3.2 - Prática como Componente Curricular ------------------------------------ 197 4.3.3.3 - Avaliação da Aprendizagem------------------------------------------------- 198 4.3.3.4 - Atividades Complementares------------------------------------------------- 199 4.3.3.5 - Como Ensino, Pesquisa e Extensão são trazidos para o Projeto de Curso? ---------------------------------------------------------------------------------------- 199 4.3.4 - Organização Curricular ------------------------------------------------------------- 201 4.3.5 - Integralização Curricular ----------------------------------------------------------- 205 4.3.6 - Sugestão de Fluxo: Grade Curricular------------------------------------------- 206 4.3.7 - Apresentação das Ementas das Disciplinas ---------------------------------- 215 4.3.8 - Expondo Entendimento sobre a Formação de Professores de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Licenciatura em Matemática--------------------------------------------------------------------------------- 224 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL------------------------------------------------------------------------- 227 5.1 - A Caminho de uma Síntese Compreensiva ------------------------------------- 228 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------------- 232 16 UM PASSEIO PELO TEMA 1.1 - Trazendo o Tema para o Debate Iniciei, em 2000, o curso de Licenciatura em Matemática na Universidade Federal de Goiás (UFG) � Campus de Catalão depois de ter enfrentado uma dúvida comum aos jovens a respeito de qual profissão escolher. Nos anos que antecederam ao meu ingresso na universidade, vivi experiências significativas e que corroboraram com a escolha efetuada. No ano de 1997, com 13 anos iniciei o Ensino Médio, ou como ainda chamávamos, Colegial e, concomitantemente a esse curso, matriculei-me também no Curso de Magistério de nível médio, antigo Curso Normal voltado à formação de professores para a Educação Infantil e para os primeiros anos de escolarização de 1ª à 4ª séries. Ser professora era algo que, desde cedo, me chamava a atenção e fazia parte das minhas possíveis escolhas profissionais. Assim, o curso de Magistério de nível médio mostrava-se importante por conduzir-me ao trabalho com crianças pequenas, que sempre foi um de meus grandes interesses. Estudando em dois períodos, matutino e vespertino, meu tempo era curto e as responsabilidades para uma jovem tão nova foram crescendo. Assim, pressionaram- me a escolher um dos cursos, pois naquele momento tornava-se inviável continuar 17 nos dois. As pressões pela aprovação no vestibular, vindas da sociedade e de mim mesma, fizeram-me optar pelo Ensino Médio, pois se falava que no curso de Magistério não era oferecida a base1 necessária para se concorrer a uma vaga na universidade. Então, diante disso, e com a vontade de ser professora e o gosto pela Matemática, decidi-me pelo curso de Licenciatura em Matemática. Ao ingressar na universidade, o primeiro momento foi de estranheza, pois parecia que os professores não percebiam que trabalhavam com futuros professores de Matemática e, até mesmo nós, os alunos, ainda não percebíamos a dimensão da profissão que enfrentaríamos ao concluir a graduação. Com o tempo fui aprendendo a lidar com a dinâmica das aulas, porém não me acostumava e nem concordava com certas abordagens e atitudes mantidas por alguns professores, principalmente depois que cursei as disciplinas que discutiam com mais afinco a Educação. Com o avançar do curso, o sentimento de estranheza foi passando, pois tive oportunidade de vivenciar outras experiências além daquelas com as disciplinas, mas mesmo assim sentia uma lacuna na minha formação profissional, principalmente no que dizia respeito aos conceitos pedagógicos. Em 2004, ao concluir a graduação, fui trabalhar como monitora no Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE) da UFG, antigo Colégio de Aplicação da UFG, na cidade de Goiânia. Tal trabalho me aproximou mais da área que outrora buscava, pois eu estava em contato direto com a Educação e participando ativamente das discussões sobre ela, coisa que pouco havia vivenciado até o momento. O CEPAE é responsável pelo Ensino Básico e eu monitorava a primeira fase do Ensino Fundamental. Nesse período percebi as dificuldades que alunos e professores enfrentavam com relação ao trabalho com a Matemática, principalmente os professores recém-formados. No ano seguinte, continuei trabalhando no CEPAE, porém na posição de professora substituta. Como professora de Matemática dos anos iniciais, olhando para a minha experiência vivida, para a minha prática e a dos meus colegas, percebi que nessa fase de ensino, alguns procedimentos e atitudes se diferenciam daqueles assumidos em outras fases. Ao focar a prática docente, então efetuada, observei que o olhar de cada professor, especificamente os de Matemática, sobre a primeira 1 Base entendida, naquele contexto, como o aprofundamento em conteúdos das disciplinas de Matemática, Física, Química e Biologia. 18 fase do Ensino Fundamental, divergia em alguns aspectos e acredito que tal fato ocorria porque as formações recebidas eram diversas. No início, sentia medo ao entrar em sala de aula. Apesar de gostar muito de criança, sentia uma responsabilidade enorme, pois seria eu a iniciar tais crianças em um pensamento sistematizado da Matemática, e era com isso que eu não sabia lidar. Percebia então que em minha formação como professora de Matemática, em nível de graduação, não havia abordado certos aspectos importantes para uma melhor atuação profissional. Os conteúdos a serem trabalhados, seus fundamentos, propriedades e procedimentos matemáticos diferenciados constituíam algo melhor dominado, porém não sabia como proceder pedagogicamente, ou seja, saber qual o melhor procedimento pedagógico, qual atividade era mais adequada. Somente com o tempo e com a troca de experiências é que fui me sentindo mais segura. Percebia que os colegas, também com formação em Matemática, tinham inquietações parecidas com as minhas. Apresentavam dificuldades ora ao relacionar-se com as crianças, ora com a abordagem pedagógica dos conteúdos matemáticos. Como contraponto, alguns colegas com formação em Pedagogia também sentiam dificuldades no trabalho com a Matemática na primeira fase do Ensino Fundamental. Para eles, lidar com as crianças e com as situações de sala de aula não era o mais complicado. Acredito que sua formação os favorecesse nisso. Porém via que enfrentavam problemas para lidar com os fundamentos da Matemática e, em certos casos, com os conteúdos e seus procedimentos pedagógicos, a fim de obter uma melhor abordagem dos conteúdos. Percebia que a Matemática, para alguns, ainda era vista como técnica e, de certa forma, era abordada como tal. Tive a oportunidade de receber algumas estagiárias do curso de Pedagogia e em conversas tomei conhecimento de suas dificuldades e receios com a Matemática, compreendendo que apresentavam desta disciplina uma visão tecnicista. O diálogo, analisando e refletindo sobre as experiências vividas, estabelecido entre nós, permitia-nos avançar em nossa formação. Essas questões, que naquele momento eram percebidas por mim, levaram- me a buscar informações sobre o ensino de Matemática nas outras escolas de Goiânia que ofereciam a primeira fase do Ensino Fundamental e, principalmente, sobre quem eram os professores responsáveis por ela. 19 Nas escolas Municipais de Goiânia, os licenciados em Matemática vêm ganhando espaço para o trabalho com os anos iniciais. Na proposta vigente nesse município, eles também são responsáveis pelo ensino de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no 2º ciclo2, tendo o pedagogo, a quem anteriormente cabia tal função, o papel de dinamizador das atividades desenvolvidas na escola, bem como a responsabilidade de dar o suporte metodológico aos professores das diversas áreas específicas. Já nas escolas particulares de Goiânia, o trabalho com a Matemática nos anos iniciais está, em geral, sob a responsabilidade dos pedagogos. À medida que esse meu desconforto foi adquirindo contornos mais definidos, em termos dos cursos de onde esses professores são provenientes, passei a perguntar a respeito da qualificação profissional desenvolvida nos cursos responsáveis pela formação dos professores de Matemática dos anos iniciais: Pedagogia e Matemática. Quais as diferenças nessa formação? Há superposições? São discretas? Tais cursos constam somente com duas disciplinas relacionadas à Didática e/ou Metodologia da Matemática, e em geral: na Licenciatura em Pedagogia com foco nos anos iniciais do Ensino Fundamental, do 1º ao 5º ano; e na Licenciatura em Matemática com foco nos anos seguintes da Educação Básica, isto é, do 6º ao 9º ano e no Ensino Médio. Pesquisas (CARZOLA e SANTANA, 2005) mostram que a carga horária destinada a essas disciplinas, que compõem o currículo de formação de professores de Matemática dos anos iniciais, é insuficientes para uma abordagem significativa dos conteúdos matemáticos � números, espaço e formas, medidas e tratamento da informação � de fundamentos e métodos de ensino. Entendo que a formação inicial obtida na universidade exerce grande influência na carreira profissional dos graduandos e, conhecendo a formação dos futuros professores de Matemática no curso de Licenciatura em Pedagogia da UFG e no curso de Licenciatura em Matemática da UFG, onde estudei, minhas inquietações vão se expressando em diferentes perguntas. Mesmo que nos anos iniciais do Ensino Fundamental busque-se uma variedade de recursos didáticos com o intuito de construir os conceitos que estão sendo tratados e mesmo que haja uma preocupação em compreender o processo de 2O 2º ciclo corresponde ao 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. Ou seja, 3ª e 4ª séries na nomenclatura anterior. 20 ensino e de aprendizagem das crianças, acredito que seja necessário que o Projeto Pedagógico dos cursos, que, neste caso, formam o professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental, expresse preocupação daqueles profissionais que o elaboraram em relação a essa formação e que haja por parte deles, em nível institucional, portanto também junto aos professores e alunos do curso, uma constante análise e reflexão sobre tal projeto. Além disso, considero importante que a análise e a reflexão sobre essa questão ocorram durante o próprio processo de formação de professores em uma dinâmica estabelecida entre professores e alunos desses cursos de graduação, Matemática e Pedagogia. Essa preocupação, ligada à formação de futuros professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental, acompanhou-me desde a graduação, acentuando-se ao atuar na primeira fase do Ensino Fundamental no CEPAE/UFG. Assim, a preocupação se transformou em busca de compreensão. Ou seja, lancei-me à pesquisa do tema. 1.2 - Em Busca da Compreensão do Tema Em meados de junho de 2006, apliquei um questionário aos alunos dos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia da UFG, com a meta de obter informações sobre as expectativas que tinham em relação ao futuro profissional, especificamente ao trabalhar com o ensino de Matemática na primeira fase do Ensino Fundamental3. Foi apenas um questionário aplicado aos alunos dos cursos de Licenciatura em Matemática e de Licenciatura em Pedagogia que se propuseram a respondê-lo. Não foi realizada uma pesquisa temática, comprometida com a metodologia, literatura e teorizações decorrentes. Ainda, minha interrogação não está explícita no sentido de “ter uma interrogação e andar em torno dela, em todos os sentidos, sempre buscando suas múltiplas dimensões e andar outra vez e outra ainda, 3 Apliquei o questionário a 19 alunos da Licenciatura em Pedagogia e a 31 alunos da Licenciatura em Matemática. Não foi possível aplicar o questionário em uma quantidade maior de alunos do curso de Pedagogia em função de os mesmos estarem envolvidos em atividades de encerramento de semestre. Duas perguntas foram endereçadas aos alunos que se propuseram a responder, a saber: “Que dificuldades você pensa que encontraria dando aulas de Matemática de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental?” e “Você daria aulas de Matemática de 1ª a 4ª séries? Por quê?”. 21 buscando mais sentido, mais dimensões, e outra vez mais” (BICUDO, 2005, p.8). Porém as perguntas, frutos de minhas dúvidas, que enderecei àqueles alunos, tinham como alvo abrirem-me à compreensão desse tema. Ao analisar esses questionários, tentei agrupar as respostas que se assemelhavam com a intenção de apresentar o que me pareceu importante. Constatei que, para o licenciando em Matemática, o conteúdo matemático trabalhado na primeira fase do Ensino Fundamental é considerado trivial. Entretanto, os graduandos sentem dificuldades em explicá-lo, induzindo as crianças à sua própria construção de conceitos, ou seja, sem fugir às regras e fórmulas Matemáticas, e assim, traduzir tais conteúdos em atividades apropriadas aos alunos. Afirmam: [...] Em primeiro momento, a dificuldade é a forma de passar o conteúdo, uma vez que para mim se tornou algo tão elementar, intuitivo e intrínseco a todo o meu raciocínio matemático [...]; [...] O conteúdo [de matemática] por ser muito elementar, ao ensinar e transmitir, há uma predisposição em pensar que para os alunos também é elementar [...] (Alunos do 4ºAno de Licenciatura em Matemática / UFG - 2006) De uma forma significativa, nas respostas dos alunos da Licenciatura em Pedagogia, aparecem também itens relacionados ao conteúdo matemático, explicitando a falta de afinidade com eles, a falta de domínio, o desconhecimento de suas relações com o cotidiano, e tais fatos os levam a não quererem trabalhar com essa disciplina: Não gostaria de dar aulas de Matemática, pois não tenho facilidade com a matéria, aprendi de uma forma traumática, que não fez sentido para a minha vida (Aluna do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006) Em várias respostas aos questionários, essas dificuldades com a Matemática aparecem justificadas pela formação que receberam enquanto ainda estudantes do Ensino Fundamental, como se observa na citação acima. Os graduandos em Pedagogia argumentam que receberam um ensino tradicional de Matemática e, dessa forma, sentiriam dificuldades em fazer os alunos terem outra visão dessa disciplina. Bem, fomos educados em Matemática tradicionalmente, fazendo listas enormes de arme e efetue. É claro que isso nos deixou marcas, pois temos dificuldades de enxergarmos a Matemática em nosso cotidiano. Então a dificuldade é essa, como colocar a Matemática de outra forma do que aprendi, situando no dia-a-dia dos alunos [...] 22 (Aluna do 7ª Período do curso de Pedagogia / UFG - 2006). Fazer com que os alunos focalizem sua atenção nas atividades, conduzir a aula de modo produtivo, conseguir manter o domínio de sala e manter a disciplina da turma são preocupações bem destacadas por parte dos licenciandos em Matemática. Os futuros pedagogos focam a dificuldade no fato de as crianças já trazerem para a sala de aula crenças que possam afastar o interesse pela disciplina. [...] dificuldades [...] de desenvolver nos alunos o interesse pelo estudo da Matemática, quebrando algumas barreiras que, muitas vezes, as crianças já trazem do meio fora da escola de que Matemática é ultradifícil, bicho - de - 7 cabeças etc. (Aluno do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006) Os graduandos em Matemática reconhecem que os alunos da primeira fase do Ensino Fundamental apresentam características específicas referentes à idade, exigindo cuidados especiais. Não se sentem preparados para [...] lidar com a grande dependência que estes alunos têm do professor; [...] lidar com a falta de amadurecimento da turma e as possíveis faltas de comportamento (travessuras, faltas de controle emocional, e outros). (Alunos do 4ºAno de Licenciatura em Matemática / UFG - 2006) Reconhecem, ainda, que não receberam formação que os qualificasse para o trabalho com tal faixa etária, daí suporem que não conseguiriam uma linguagem acessível, uma didática adequada, uma metodologia interessante. Tal compreensão leva esses alunos a um desinteresse em trabalhar com essa fase de ensino e a encarar esse trabalho como um desafio em sua carreira profissional. [...] Me considero inapto e com conhecimentos pedagógicos insuficientes; [...] não tenho preparo para dar aulas nessas séries. O nosso curso de licenciatura não dá suporte para isso; [...] O curso de Licenciatura nos deu muito conteúdo e pouca didática [...] Não me sinto preparado para esse tipo de aluno; [...] Para poder lecionar de 1ª a 4ª Séries, eu necessitaria de uma melhor formação em termos de conhecimentos pedagógicos para proporcionar melhor educação e formação dessas crianças; Eu acho que a maior dificuldade seria encontrar a melhor metodologia, ou seja, uma forma interessante e de fácil acesso aos alunos. (Alunos do 4ºAno de Licenciatura em Matemática / UFG - 2006) Há, também, por parte dos graduandos em Pedagogia uma preocupação com sua formação, tanto nas especificidades da Matemática, quanto na formação 23 pedagógica, compreendendo a didática e a metodologia. Para alguns, a formação que receberam é insuficiente para o trabalho, acreditando que a dificuldade maior seria a capacitação do profissional nessa área. [...] a primeira dificuldade, acredito que seja o domínio do conteúdo, digo, uma preparação melhor, para transmitir os conhecimentos necessários que as séries exigem [...]. (Aluno do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006) Já outros alunos da Pedagogia, mesmo diante da necessidade de uma formação melhor e admitindo certo distanciamento da Matemática, demonstram o interesse em trabalhar com essa disciplina. Em sua maioria se propõem ao desafio de enfrentar os atuais mitos e crenças, que acreditam que os alunos apresentam, e entendem que essa é sua responsabilidade, enquanto futuros educadores dos anos iniciais. [...] seria um desafio, que eu teria que me preparar para assumi-lo, mas tentaria, daria aula [de Matemática] sim; Daria [aulas de Matemática] com o intuito de mudar as concepções de como ensinar Matemática. Procuraria contextualizá-la; A Matemática é considerada um grande problema para o pedagogo, pois a maioria não gosta desta matéria. Isso faz com que ensinemos de qualquer forma para as crianças, fazendo com que eles tenham bastante dificuldades de aprendizagem. Eu gostaria de ser diferente e mostrar a Matemática de forma prazerosa; [...] daria [aulas de Matemática] por fazer parte do papel que o professor das séries iniciais deve executar. (Alunos do 7º Período curso de Pedagogia / UFG - 2006) Embora haja espaço no trabalho como professores de Matemática dos anos iniciais tanto para o licenciado em Matemática, quanto para o licenciado em Pedagogia, somente 63% dos alunos da Pedagogia e 26% dos alunos da Matemática, entre os respondentes, se predispõem a trabalhar com a Matemática nessa fase de ensino, Algumas justificativas que os sujeitos desse questionário apresentaram para trabalharem ou não com a primeira fase do Ensino Fundamental podem ser conhecidas nos quadros abaixo: 24 • Licenciatura em Pedagogia: SIM NÃO Alunos interessados Não se identifica com essa fase de ensino Dificuldade com a disciplina Foram formados para trabalharem nessa fase de ensino Falta de domínio de conteúdo Para mudar a forma de ensino Formação insuficiente As dificuldades não são empecilhos Não gosta da área de exatas Por ser uma disciplina essencial Dificuldade em explicar o conteúdo com clareza Não sente dificuldades com a disciplina Por perceber a dificuldade dos alunos com conteúdos e cálculos matemáticos • Licenciatura em Matemática: SIM NÃO Fase de ensino importante Dificuldades no domínio da turma Gosto por crianças Não gosta de crianças Indisciplina Quer trabalhar com essa fase de ensino visando à pesquisa Pouca paciência As crianças são criativas Alunos dependentes As crianças revelam poucos conceitos formados Formação pedagógica insuficiente Sente-se atraído pelo trabalho Baixa remuneração Muito trabalho Relacionamento entre professor e aluno é prazeroso Preferência por outra fase do ensino Vejo a formação inicial do professor como nuclear para o desempenho dessa profissão, entendida como articuladora de interesses subjetivos, intersubjetivos e histórico-sociais na consecução do processo de aprendizagem. Minha intenção é, portanto, investigar a formação do professor de Matemática dos anos iniciais. Percebo que os licenciados, tanto em Pedagogia quanto em Matemática, estão formalmente capacitados para atuarem como professores de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Entretanto percebo a dificuldade que apresentam para efetuar esse trabalho. Por que a presença dessa dificuldade? O questionário mencionado não esclareceu minhas dúvidas. Continuei minha trajetória de levantadora de perguntas que explicitavam minhas incertezas e já revelavam um avanço na compreensão desse tema. 25 Perguntava de modo mais consistente: a. De que modo os licenciandos em Matemática e em Pedagogia se vêem como professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental? b. Como os conceitos, metodologias e didática de Matemática são tratados nos currículos dos cursos de formação de professores, a fim de trabalharem os problemas colocados pelos licenciandos em Matemática e em Pedagogia que os deixam inseguros para lidar com a Matemática nos anos iniciais? c. De que modos estariam as duas licenciaturas preparando seus alunos para o trabalho com a primeira fase do Ensino Fundamental? d. Como os cursos de formação de professores têm contribuído para deixar claro o papel do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental e, também, para construir um perfil de professor de Matemática adequado para este trabalho? 1.3 - A Interrogação e seu Significado Essas questões habitaram minhas incertezas e estiveram presentes na minha prática docente. Foram sendo mais bem compreendidas, de modo que passei a vê- las como um todo na complexidade do trabalho do professor dos anos iniciais. De maneira mais gritante, falando-me mais alto, aparecia o trabalho do professor de Matemática nessa fase. Minha perplexidade me conduziu à interrogação desse tema. A interrogação que, aos poucos, foi se materializando de modo claro pode ser expressa em termos de “como se dá a formação do professor de Matemática do Ensino Fundamental nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia” Essa interrogação revela-se como complexa e abrangente, de 26 maneira que no momento desta pesquisa fizemos4 a opção por focar a proposta dessa formação, olhada na dimensão da legislação pertinente e dos projetos de cursos específicos. Assim, a pergunta desta dissertação assumiu a seguinte forma: De que modo se apresenta o projeto de formação de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia? Intencionamos com tal interrogação investigar como se mostra o projeto de formação de professores em seus aspectos matemáticos e pedagógicos, nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia, a fim de atender aos anos iniciais do Ensino Fundamental. Como dito anteriormente o professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental é formado em ambos os cursos focados. De maneira mais marcante, após a década de 1990 são os licenciados em Pedagogia que lecionam nos anos iniciais, inclusive a disciplina de Matemática. Atualmente há uma tendência mais forte em alguns Estados do Sul do país e em Goiás, na cidade de Goiânia, por exemplo, que professores de disciplinas específicas lecionem nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A interrogação aqui posta pergunta pelo modo como essa formação ocorre em ambos os cursos responsáveis por formar o professor de Matemática dos anos iniciais. 1.4 - Procedimentos de Investigação Como dito anteriormente, nosso foco inside na investigação das propostas de formação inicial do professor de Matemática que trabalhará nos anos iniciais, abrangendo do 1º ano ao 5º ano, do Ensino Fundamental, buscando compreender e explicitar o projeto de formação desses professores. 4 Uso o plural por que a partir desse momento da pesquisa estou inserida em um grupo de pesquisa com o qual estabeleço um diálogo e, portanto, não estou sozinha no desenvolvimento desta investigação. 27 Retomando a pergunta desta pesquisa: De que modo se apresenta o projeto de formação de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia?, passamos a delinear os procedimentos que se mostram apropriados à investigação pretendida. Visando à perseguição da pergunta formulada, entendemos que o fenômeno ‘formação inicial de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental’ pode ser enfocado por várias perspectivas. Uma delas pode ser olhar para os cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia, oferecidos pela UFG, na cidade de Goiânia. Essa perspectiva é assumida nesta investigação, porque essa Universidade oferece os dois cursos referidos e se situa no município de Goiânia, onde, os licenciados, tanto em Pedagogia quanto em Matemática, atuam como professores de Matemática nos anos iniciais. De forma constante adotamos um procedimento de leitura analítica e crítica de textos significativos que visam a delinear a fisionomia desse curso e a dos profissionais que devem formar. Explicitamos abaixo as modalidades de textos estudados: a. Legislação Educacional (antiga e recente): Pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE); Lei de Diretrizes e Bases (LDB); Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura; Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Licenciatura, Matemática; Diretrizes que regulamentam a Educação no Município de Goiânia; b. Artigos de pesquisas acadêmicas, textos oficiais, ou seja, estudamos a bibliografia que discute questões concernentes à Licenciatura em Pedagogia e Licenciatura em Matemática; c. Projeto Pedagógico atual do curso de Licenciatura em Pedagogia e do curso de Licenciatura em Matemática, ambos da UFG; Currículos de ambos os cursos em questão, bem como as ementas das disciplinas que se fizerem necessárias. 28 1.4.1 - Fundamentação Metodológica5 - Fenomenologia: o Olhar Assumido Analisaremos os Projetos Pedagógicos de Curso, assumindo uma postura fenomenológica6, visando destacar o que de significativo emerge da leitura atenta desses projetos. Pela postura fenomenológica, nossa intencionalidade está direcionada atentamente à interrogação formulada, buscando ouvir o que é dito na bibliografia estudada, nos documentos legais examinados e nos Projetos Pedagógicos de Curso analisados. Isso quer dizer que não propomos nos basear em teorias prévias que expliquem o que se mostra nesses dados. Intencionamos compreender o fenômeno, formação inicial de professores de Matemática, indo-a-coisa-mesma7. Os Projetos Pedagógicos de ambos os cursos focados serão analisados e, para isso, faremos a descrição8 de tais documentos, buscando destacar o fenômeno. Entendendo que a descrição toma a forma de um texto, ele estará, então, à espera de interpretação. Assumindo a forma de um discurso9 escrito, a descrição exige um olhar fenomenológico que solicita uma interpretação hermenêutica. Essa exigência faz sentido na abordagem investigativa aqui assumida. A análise dos Projetos Pedagógicos de Curso focará os objetivos e justificativas que se apresentam para a oferta da licenciatura. Após destacar os objetivos e as justificativas, analisaremos as propostas explícitas que visam à formação do professor e, mais especificamente, do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ao explicitarmos os procedimentos delineados pelo projeto pedagógico de cada curso buscaremos tecer uma síntese compreensiva do apresentado e 5 Este projeto está inserido no Grupo FEM - Fenomenologia em Educação Matemática - e desenvolverá as análises mediante procedimentos fenomenológicos. Vale-se das concepções de mundo e conhecimento presentes nos trabalhos e discussões realizadas pelos membros desse grupo. 6 Mediante postura fenomenológica, a intenção da pesquisadora é olhar atentivamente o que se mostra nos projetos pedagógicos dos cursos focados. 7 É o movimento de ir à própria coisa e “não a conceitos ou idéias que tratam da coisa” (BICUDO, 2000, p.74). É o movimento de olhar atentamente para o fenômeno, entendendo-o “não como o objeto concreto fenomenal que está-aí-diante-dos-olhos, mas como a maneira de esse fenomenal se dar à experiência do ver do inquiridor” (MARTINS, BICUDO, 2006, p.16). 8 “A descrição [...] é um protocolo que se limita a descrever o visto, o sentido, a experiência como vivida pelo sujeito. Ela não admite julgamentos e avaliações. Apenas descreve. Para tanto, expõe-se por meio da linguagem”. (BICUDO, 2000, p. 77). 9 Discurso entendido na concepção heideggeriana como a expressão inteligível do compreendido e interpretado. 29 analisado, tentando iluminar a questão da formação do professor de Matemática. Mais do que isso, buscaremos esclarecer o lugar (curso) em que a formação desse profissional dos anos iniciais do Ensino Fundamental se dá, abrindo, desse modo, à compreensão sobre a formação oferecida. A interpretação dos projetos pedagógicos, bem como da bibliografia escolhida, pode conduzir a uma metacompreensão da pesquisa e à compreensão do fenômeno interrogado, que em nosso contexto, são os modos pelos quais se dá a formação do professor de Matemática que podem trabalhar nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Sabendo que essa formação se dá nos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia, buscaremos, também, abrir caminhos para compreender as concepções de pedagogo e de professor de Matemática, profissionais que podem atuar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ensinando Matemática. 1.5 - Importância do Trabalho para a Educação Matemática A Educação Matemática tem como cerne a preocupação com a educação da pessoa e do cidadão, que, na sua realidade mundana, se depara com a lógica presente na organização da sociedade e da cultura científica e tecnológica. Trata a Matemática como uma das possibilidades de o ser humano organizar seu mundo e expressar essa organização em uma linguagem compreensível e lógica. Assim, a Matemática é importante, bem como seus conteúdos, conceitos, lógica, linguagem e aplicação. Porém, ela não é tida como o fim em si dessa Educação, mas como um dos seus muitos e importantes meios. Isso significa que os profissionais envolvidos com Educação, especificamente com a Educação Matemática devem buscar compreender as idéias que permeiam essa área do conhecimento humano, sua lógica de produção, conceitos, habilidades e competências presentes nessa área, bem como as leis que regulamentam seu ensino. Assim, mantendo-se atentos às possíveis implementações que venham ocorrer, posicionando-se de maneira aberta e crítica ao olharem para elas, terão condições de lutar por melhores condições de trabalho e por uma formação que venha atender o almejado para o nível de ensino em que estejam envolvidos. 30 1.6 - Estrutura do Texto da Dissertação Capítulo 01: Um Passeio sobre o Tema Esta dissertação contou com esta introdução10 � que explicitou a trajetória do surgimento da presente pesquisa, bem como sua relevância para o âmbito da Educação, especificamente, para a Educação Matemática e delineou os procedimentos metodológicos usados. Capítulo 02: A Formação do Professor de Matemática dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no Curso de Pedagogia Destacamos da trajetória do curso de Licenciatura em Pedagogia, ao longo de sua existência em nosso país, aspectos significativos para conceituá-lo, enfocando as interfaces da Matemática e a formação oferecida para professores dessa ciência. Buscamos com autores, como: Carmem Silvia Bissolli da Silva, Leonor Maria Tanuri, Dermeval Saviani, Iria Brzezinski, Selma Pimenta, José Carlos Libâneo, Ildeu Coelho, Valnir Chagas dentre outros, para tratar da trajetória do curso de Pedagogia no Brasil e sua constante busca por identidade. Utilizaremos também textos da legislação brasileira que tratam do assunto. Capítulo 03: A Formação do Professor de Matemática: o Caminho Percorrido pelo Curso de Licenciatura Foi abordado neste capítulo, aspectos históricos do curso de Licenciatura em Matemática. Trabalhamos com textos da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (SBEM), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de autores como Vera Lúcia Ferrão Candau, Amélia Império Hambúrguer, José Cunha da Silva, Arthur Eugênio Quintão Gomes e também com textos da legislação brasileira que tratam sobre os cursos de Licenciatura e especialmente os que tratam sobre a Licenciatura em Matemática. 10 A Introdução é o Capítulo 01 da Dissertação. 31 Capítulo 04: Hermenêutica dos Projetos Pedagógicos de Curso: Licenciatura em Pedagogia e Licenciatura em Matemática Neste capítulo fizemos a análise e a interpretação dos projetos de formação de professores de Matemática dos anos iniciais, visando especificar o perfil dos cursos de Licenciatura em Matemática e em Pedagogia da UFG. Ou seja, falamos sobre que professores ambos os cursos se propõem a formar. Capítulo 05: A Formação de Professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental Foi feita uma síntese de todo o trabalho, tecendo considerações sobre a formação de professores de Matemática dos anos iniciais de escolarização, principalmente onde e como ela ocorreu e ocorre. 32 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO CURSO DE PEDAGOGIA11 Nem sempre o curso de Pedagogia esteve responsável pela formação de professores para atuarem nos primeiros anos de escolarização, ou seja, historicamente esse não foi o seu objetivo. Entretanto, a partir de um dado momento histórico ele passa a ser o responsável pela formação do professor dos anos iniciais, de modo que, entendemos que esse curso é o responsável em formar o professor de Matemática para atuar nessa fase de ensino. Tendo isso em vista, é importante focar a constituição do curso de Pedagogia em nosso país e no decorrer dessa história como ele veio tratando os conteúdos matemáticos e a formação do professor de Matemática para a atuação nos anos iniciais. Devemos ainda deixar claro que ele não forma apenas o professor de Matemática, ele forma também professores para as outras disciplinas – Língua Portuguesa, Geografia, História, Ciências, Artes, Educação Física. Para traçar a trajetória do curso de Pedagogia, tomaremos como norte a legislação que o regulamentou desde sua implantação no Brasil, pois entendemos que ela poderá mostrar os rumos tomados pelo curso evidenciado e como se dava e 11 No Brasil. 33 se dá a formação de professores, incluindo a formação do professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Decidimos nos estender neste assunto ainda que não seja o tema específico desta dissertação porque efetuamos a investigação que dá sustentação a este texto e, principalmente, para informar os educadores matemáticos sobre essa história e com ela o modo pelo qual a formação do professor de Matemática dos primeiros anos de escolarização veio se delineando ao longo do tempo. 2.1- Nascimento do Curso de Pedagogia Falar do curso de Pedagogia e de sua trajetória é uma tarefa complexa. Sua história é marcada por lutas na busca por sua identidade e isso implica em mudanças significativas na formação do pedagogo. Assim, a identidade do pedagogo e, por extensão, a do curso de Pedagogia, está diretamente relacionada à clara definição de mercado de trabalho, bem como ao reconhecimento profissional. A questão da identidade está intimamente interconectada aos questionamentos: O curso de Pedagogia tem ou não um “conteúdo próprio” a ser estudado? A Pedagogia é um curso ou uma área de conhecimento? Os curso para formar profissionais da educação em nível superior passaram a figurar em nosso país somente em 1939, apesar de a Faculdade de Educação ter sido oficialmente criada em 1931 pelo Estatuto das Universidades Brasileiras dentro da Reforma Francisco Campos. (GADOTTI; RABELLO, 1980). Desse modo, o primeiro curso oficial de Pedagogia foi oferecido pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1939. Nesse ano estava sendo reorganizada a Faculdade Nacional de Filosofia12, e o curso de Pedagogia, instituído pelo Decreto-Lei nº 1.190, de 4 de abril de 1939, passou a funcionar oficialmente, portanto, nessa Faculdade. (GADOTTI; RABELLO, 1980) (SILVA, 2006) (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d). 12 Pelo Decreto-Lei nº 1.190/1939, art. 1º, fica regulamentado que “a Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras, instituída pela Lei nº 452, de 5 de julho de 1937, passa a denominar-se Faculdade Nacional de Filosofia” (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d, p. 562). 34 O nome “pedagogia”, para referir-se ao curso de formação de docentes para o ensino normal, foi utilizado pela primeira vez nesse mesmo ano de 1939. (GADOTTI; RABELO, 1980). 2.1.1 - Currículo e Mercado de Trabalho A Faculdade Nacional de Filosofia, pelo Decreto supracitado, foi estruturada em quatro seções fundamentais, sendo elas de Filosofia, de Ciências, de Letras e de Pedagogia e uma seção especial, a de Didática. Tais seções eram responsáveis pelo oferecimento de cursos ordinários e extraordinários. As seções de Filosofia, Pedagogia e Didática eram compostas, cada uma, por um único curso ordinário, o Curso de Filosofia, o Curso de Pedagogia e o Curso de Didática respectivamente; a seção de Ciências era composta por seis cursos ordinários, a saber, Curso de Matemática, Curso de Física, Curso de Química, Curso de História Natural, Curso de Geografia e História e Curso de Ciências Sociais; e, a seção de Letras compreendia três cursos, a saber, Curso de Letras Clássicas, Curso de Letras Neo-Latinas e Curso de Letras Anglo-Germânicas (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d). O curso de Pedagogia, Bacharelado, ficou com sua Matriz Curricular assim organizada: primeira série: Complementos de Matemática, História da Filosofia, Sociologia, Fundamentos Biológicos da Educação e Psicologia Educacional; na segunda série, Estatística Educacional, História da Educação, Fundamentos Sociológicos da Educação, Administração Escolar e Psicologia Educacional; e na terceira série o curso era composto pelas disciplinas de Filosofia da Educação, Educação Comparada, Administração Escolar, História da Educação e Psicologia Educacional (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d). O curso de Didática ficou constituído pelas seguintes disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Administração Escolar, Fundamentos Biológicos da Educação e Fundamentos Sociológicos da Educação (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, NÓBREGA, s.d). Segundo Gadotti e Rabello (1980), o curso de Pedagogia, na época de sua instituição, aparecia como uma extensão dos cursos de formação de professores normalistas. Tais autores afirmam: 35 Com a reestruturação da Faculdade Nacional de Filosofia, naquele ano [1939], o Curso de Pedagogia aparece como o resultado da integração do curso de formação do professor secundário com disciplinas que desenvolviam o conteúdo do Curso Normal, prolongando-o apenas. (GADOTTI E RABELO, 1980, p. 17) Quando de sua criação, em 1939, o curso funcionava no modelo “3+1”, o chamado “padrão Federal”. O aluno fazia três anos de curso e recebia o diploma de Bacharel em Pedagogia. Os interessados na licenciatura estudavam por mais um ano, ou seja, cursavam Didática e, dessa forma, faziam jus ao diploma de licenciados no conjunto de disciplinas que compunham o bacharelado. Essa separação entre bacharelado e licenciatura expõe o modelo de formação que deixou marcas profundas na Faculdade de Filosofia e, segundo Silva (2006, p.13), reflete a “nítida concepção dicotômica que orientava o tratamento de dois componentes do processo pedagógico: o conteúdo e o método”. De acordo com Coelho (1987, p.9), a dicotomia entre bacharelado e licenciatura era tão explícita que, de acordo com o Decreto-Lei nº 3.454/1941, era proibida “a matrícula simultânea num curso de bacharelado e no curso de didática”. Essa maneira de introduzir os cursos superiores de formação de professores marcou a história dos cursos de licenciatura em nosso país, pois ela direcionou-os a se organizarem nesse molde por muito tempo. Esse modelo foi e é muito questionado, de modo que percebemos que recentemente têm-se buscado outros modos de fazer essa formação. Ao falar do decreto que instituiu esse modelo de formação, Silva (2006, p.11) afirma que ficou estabelecido, “(...) por tal documento legal, o chamado ‘padrão federal’ ao qual tiveram que se adaptar os currículos básicos dos cursos oferecidos pelas demais instituições do país”. A situação dos bacharéis em Pedagogia não era das melhores, pois eles lutavam por um lugar no mercado de trabalho ainda não definido para eles. O Decreto-Lei nº 1.190/1939, que cria o curso de Pedagogia, ao se referir especialmente ao bacharel, determina em seu art. 51, alínea c, a exigência dessa diplomação para preencher os cargos de técnicos de Educação do então Ministério da Educação e Saúde13, a partir de 1943. 13 “O Ministério da Educação – MEC, pela Lei n.º 378, de 13 de janeiro de 1937, passou a denominar- se Ministério da Educação e Saúde com atividades relativas à educação escolar, educação extra- escolar, saúde pública e assistência médico-social”. (Disponível em MEC: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=84&Itemid=233 Acesso em: 15 jun 2008). Porém, no texto desta Lei aparece apenas Ministério da Educação. Para mais informações 36 CAPÍTULO VIII Das regalias conferidas pelos diplomas Art. 51 � A partir de 1 de janeiro de 1943 será exigido: c) para preenchimento, dos cargos de técnicos de educação do Ministério da Educação, do diploma de bacharel em pedagogia. (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA NÓBREGA, s.d, p.568) No entanto, a identidade do Bacharel em Pedagogia não se encontrava definida. A situação do licenciado em Pedagogia não era diferente daquela do bacharel. Além dos problemas relacionados com sua formação dicotômica, esses profissionais também enfrentavam problemas concernentes ao campo de trabalho. O Decreto-Lei nº 1.190/1939 também trata das regalias conferidas a todos os licenciados e, desse modo, inclui os licenciados em Pedagogia. Determina em seu art. 51, alínea a e b: CAPITULO VIII Das regalias conferidas pelos diplomas Art. 51 � A partir de 1 de janeiro de 1943 será exigido: a) para preenchimento de qualquer cargo ou função do magistério secundário ou normal, em estabelecimento administrados pelos poderes públicos ou por entidades particulares, o diploma de licenciado correspondente ao curso que ministre o ensino da disciplina a ser lecionada; b) para preenchimento dos cargos ou funções de assistentes de qualquer cadeira em estabelecimentos destinados ao ensino superior da filosofia, das ciências, das letras ou da pedagogia, o diploma de licenciado correspondente ao curso que ministre o ensino da disciplina a ser lecionada. (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA NÓBREGA, s.d, p. 568) Um campo de trabalho aparentemente definido para o licenciado em Pedagogia era o Curso Normal, cujos conteúdos das disciplinas do seu currículo eram aqueles trabalhados no curso de Pedagogia, em sua maioria. Entretanto, o Curso Normal não era exclusivo de atuação do licenciado em Pedagogia. A Lei Orgânica do Ensino Normal, Decreto-Lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946, em seu artigo 49, determina que: “deverão os professores do ensino normal receber conveniente formação, em cursos apropriados, em regra de ensino superior”. Entendemos que ao assim estabelecer, a Lei Orgânica do Ensino Normal não vincula a formação exigida em nível superior somente ao curso de Pedagogia, abrindo espaço para atuação de outros profissionais. Conferiu-se também ao sobre o Ministério da Educação e sua trajetória histórica, visitar: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=content&task=view&id=521&Itemid=759. 37 licenciado em Pedagogia o direito de lecionar Filosofia e História Geral e do Brasil (no 1º ou no 2º ciclo - onde houvesse a oferta da disciplina) e, ainda de Matemática (no 1º ciclo) no então chamado Ensino Secundário14. Segundo Silva (2006) isso prova como o mercado de trabalho para o pedagogo se encontrava difuso. Entendemos também que o direito de atuar em outras áreas do saber dado a alguns profissionais da educação � pois, situações como essa não ocorriam somente com o pedagogo � se justificava em função de o número de professores para atuarem em algumas disciplinas ser ainda insuficiente para atender a demanda existente. Esse problema, vivido naquela época, persistiu até recentemente em algumas regiões de nosso país, evidenciando como o Poder Público por meio de sua política “resolve” os problemas referentes à Educação. 14 Anteriormente à Lei nº 4.024/1961� que, entre outras coisas, traz regulamentações para as fases de ensino � existiam as leis orgânicas que se incumbiam da tarefa de regulamentar o ensino em todas as suas etapas. Tais leis regulamentavam o Ensino Primário, o Ensino Secundário, o Ensino Normal, o Ensino Comercial, o Ensino Agrícola e o Ensino Industrial. • O Ensino Primário, disciplinado pelo Decreto-Lei nº 8.529, de 2 de janeiro de 1946, abrangia duas categorias de ensino, a saber: o ensino primário fundamental, destinado a crianças de sete a doze anos, era ministrado em dois cursos sucessivos: o elementar com quatro anos de duração e o complementar com um ano de duração; o ensino primário supletivo, destinado aos adolescentes e adultos, era ministrado por meio de um único curso, o supletivo, com duração de dois anos; • O Ensino Secundário, disciplinado pelo Decreto-Lei nº 4.244, de 9 de abril de 1942, era ministrado em dois ciclos. No primeiro ciclo era oferecido um único curso: o ginasial, que tinha duração de quatro anos. No segundo ciclo eram oferecidos dois cursos paralelos: o clássico e científico. Ambos os cursos tinham duração de três anos. “O curso clássico e o curso científico, [...] terão por objetivo consolidar a educação ministrada no curso ginasial e bem assim desenvolvê-la e aprofundá-la. No curso clássico, concorrerá para a formação intelectual, além de um maior conhecimento de filosofia, acentuado estudo das letras antigas; [...] no curso científico, essa formação será marcada por um estudo maior de ciências”. (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1942, art. 4º, p. 1); • O Ensino Normal era disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Normal Lei nº 8.530/1946 e ministrado em dois ciclos, a saber, o primeiro ciclo, realizado em um período de quatro anos, era responsável pelo curso de regentes de ensino primário e o segundo ciclo, cursado em três anos, oferecia o curso de formação de professores primários. O Curso Normal ainda era responsável em oferecer “cursos de especialização para professores primários, e cursos de habilitação para administradores escolares do grau primário” (BRASIL, PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1946, art 3º, p. 1). • O Ensino Comercial foi disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Comercial - Decreto-Lei nº. 6.141, de 28 de Dezembro de 1943. Visitar: www.soleis.adv.br/leiorganicaensinocomercial.htm. Acesso em: 05 nov 2008. • O Ensino Agrícola foi disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Agrícola - Decreto-Lei nº. 9.613, de 20 de Agosto de 1946. Ver: www.soleis.adv.br/leiorganicaensinoagricola.htm. Acesso em: 05 nov 2008. • O Ensino Industrial foi disciplinado pela Lei Orgânica do Ensino Industrial - Decreto-Lei nº. 4.073, de 30 de Janeiro de 1942. Ver: www.soleis.adv.br/leiorganicaensinoindustrial.htm. Acesso em: 05 nov 2008. 38 2.1.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática Depois do exposto fica claro que o curso de Pedagogia no período histórico relatado não tinha o objetivo de formar o professor dos anos iniciais. Ao direcionar para o nosso foco, a Educação Matemática, constatamos que o curso apresentava em seu currículo duas disciplinas que discutiam tal área do saber. Como já relatado, os estudantes da Graduação em Pedagogia estudavam na primeira série do curso a disciplina Complementos de Matemática e na segunda série, Estatística Educacional. Como o curso de Licenciatura em Pedagogia nessa fase estava mais direcionado a formar o professor do Curso Normal, ou seja, como já ressaltado, não se voltava à formação de professores para os anos iniciais, fica evidente que apesar de ser dado o direito ao licenciado em Pedagogia de trabalhar com a disciplina Matemática, entre outras, em função da necessidade de profissionais da educação que se mostrava naquele contexto, sua formação não se comprometia com o ensino dessa ciência, independentemente da etapa de ensino em que o licenciado fosse atuar. 2.2- A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 e o Parecer CFE15 nº 251/1962 Em 1961, depois de quinze anos de gestação, foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 4.024, de 20 de dezembro. Essa lei traz, entre outros, as regulamentações para a Educação pré-Primária16 e para os Ensinos Primário17, Médio18 e Superior. Ela também cria o Conselho Federal de Educação (CFE) e os 15 CFE: Conselho Federal de Educação. 16 A Educação Pré-Primária era destinada aos menores até sete anos; ministrada em escolas maternais ou jardins-de-infância. 17 O Ensino Primário, obrigatório a partir dos sete anos, era ministrado, no mínimo, em quatro séries anuais; 18 O Ensino Médio funcionava em dois ciclos, a saber, o Ginasial e o Colegial, os quais compreendiam os cursos: Secundário, Técnico e Formação de Professores para o Ensino Primário. Secundário: O ciclo ginasial com duração de quatro séries anuais e o colegial, de três anos no mínimo; o curso secundário visa ao ensino Superior; Técnico: abrange os cursos: a) industrial; b) agrícola; c) comercial. Esses cursos eram ministrados em dois ciclos: o ginasial, com a duração de quatro anos, e o colegial, com duração mínima de três anos; Formação de Professores para o Ensino Primário: O ensino normal era voltado para a formação de professores, orientadores, supervisores e administradores escolares destinados ao Ensino Primário, e 39 Conselhos Estaduais de Educação. Observamos que a Lei nº 4.024/1961 não trouxe mudanças significativas para o curso de Pedagogia, porém, sua aprovação suscitou a intervenção nos currículos dos cursos Superiores. Assim, um ano após a aprovação da Lei nº 4.024/1961 e a criação do Conselho Federal de Educação, pequenas alterações foram introduzidas no currículo do curso de Pedagogia pelo Parecer CFE nº 251/1962 relatado pelo professor Valnir Chagas. Mas, os problemas enfrentados pelo curso, apesar das alterações, continuaram intocados. O relator deixou clara a fragilidade do curso ao explicitar os principais argumentos contra e a favor da Pedagogia. Muitos, naquela época, propunham a extinção do curso pelo fato de ele não ter um conteúdo próprio de discussão, por verem-no indefinido, enfim, sem identidade. Tal Parecer também não deixou claro que profissional o curso deveria formar, dizendo de maneira geral que os egressos do bacharelado em Pedagogia seriam técnicos em educação e os egressos da licenciatura, professores das disciplinas pedagógicas do Curso Normal, o que de certa forma já vinha acontecendo desde a sua criação. 2.2.1 - Currículo e Mercado de Trabalho O Parecer de 1962 estabelece o currículo mínimo e a duração para o curso de Pedagogia e mantém o modelo de formação “3+1”. Para o bacharelado, o Parecer estabelece sete disciplinas, sendo cinco obrigatórias e duas opcionais. As disciplinas obrigatórias são: Psicologia da Educação, Sociologia (Geral; da Educação), História da Educação, Filosofia da Educação e Administração Escolar (BRASIL, CFE, DOCUMENTA, nº 11, pp. 65 - 66). As opcionais são: Biologia, História da Filosofia, Estatística, Métodos e Técnicas de Pesquisa Pedagógica, Cultura Brasileira, Educação Comparada, Higiene Escolar, Currículos e Programas, Técnicas Audiovisuais de Educação, Teoria e Prática da Escola Primária, Teoria e Prática da Escola Média e Introdução à Orientação Educacional (BRASIL, CFE, para o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos relativos à educação da infância. Quanto ao diploma desse curso: em escola normal de grau ginasial no mínimo de quatro séries anuais: diploma de regente de ensino; e, em escola normal de grau colegial, de três séries anuais: diploma de professor primário. 40 DOCUMENTA, nº 11, p. 66). Observamos que, no rol de doze disciplinas opcionais estabelecido pelo Parecer, a disciplina Estatística é a única que discute, de modo evidente, conceitos matemáticos. As licenciaturas foram disciplinadas pelo Parecer CFE nº 292/1962. Tal Parecer regulamenta a formação pedagógica de todas as licenciaturas, centrando-a em quatro disciplinas: Psicologia da Educação � Adolescência, Aprendizagem � Didática, Elementos de Administração Escolar e Prática de Ensino sob a forma de Estágio Supervisionado. Aos alunos da licenciatura em Pedagogia bastava cursar Didática e Prática de Ensino � sob a forma de estágio supervisionado, pois as outras disciplinas fixadas já se encontravam no grupo de disciplinas do bacharelado em Pedagogia. Mediante esses dados, concluímos que o curso, na década de 60, não se dedicava à formação de professores para os anos iniciais. Isso é corroborado no Parecer CFE nº 251 de 1962, que explicita que esse ainda não era o objetivo do curso de Pedagogia, apesar de o conselheiro Valnir Chagas projetar a formação de professores dos anos iniciais em nível superior, enquanto a formação do técnico em Educação é projetada em nível de pós-graduação. Entendendo que essa seria uma projeção a ser realizada em longo prazo, Chagas explicita no Parecer CFE nº 251/1962 que: Não há dúvida, assim, de que o sistema ora em vigor ainda representa o máximo a que nos é lícito aspirar nas atuais circunstâncias: formação do mestre primário em cursos de grau médio e conseqüente formação superior, ao nível de graduação, dos professores desses cursos e dos profissionais destinados às funções não-docentes do setor educacional. Na porção maior do território brasileiro, sem a ocorrência de fatores que no momento estão fora de equação, vários lustros serão ainda necessários para a plena implantação deste sistema. Nas regiões mais desenvolvidas, entretanto, é de supor que ela seja atingida � e comece a ser ultrapassada � talvez antes de 1970. À medida que tal ocorrer, a preparação do mestre-escola alcançará níveis post-secundários, desaparecendo progressivamente os cursos normais e, com eles, a figura do respectivo professor. Ao mesmo tempo, deslocar-se-á para a pós-graduação a formação de pedagogista, num esquema aberto aos bacharéis e licenciados de quaisquer procedências que se voltem para o campo de Educação. O curso de Pedagogia terá então de ser redefinido; e tudo leva a crer que nele se apoiarão os primeiros ensaios de formação superior do professor primário. (BRASIL, CFE, DOCUMENTA nº 11, p. 61) Críticas foram feitas a esse Parecer, principalmente pelo fato de o relator se preocupar primeiramente em definir o currículo mínimo para a formação do 41 pedagogo antes mesmo de deixar claro para que ele viera e se o mercado de trabalho estaria pronto para recebê-lo. Silva (2006) deixa claro em seu trabalho por meio da análise de documentos de congressos de estudantes do curso de Pedagogia que os alunos, em geral, reclamavam da imprecisão do currículo do curso, pois as disciplinas opcionais não favoreciam a formação do “técnico em Educação”, ou seja, o currículo não se apresentava de modo satisfatório para a formação que desejavam. Reivindicavam, também, espaço no mercado de trabalho para o licenciado por meio de abertura de novos concursos públicos e ainda contestavam a presença de outros profissionais em espaços que seriam deles. Alunos de Pedagogia da região de Rio Claro e da de São Paulo elaboraram na ocasião de seu Congresso Estadual de Estudantes de Pedagogia em 1967, um trabalho contendo uma proposta de reformulação do curso, na qual deixavam explícita a insatisfação quanto ao currículo e ao espaço do pedagogo no mercado de trabalho. Recomendavam os campos em que poderiam/deveriam atuar, pressionando as autoridades para a abertura de concursos públicos, para provimento de cargos que necessitassem da formação em Pedagogia, ou seja, lutavam pela regulamentação da profissão do licenciado em Pedagogia. A situação do pedagogo nada havia melhorado depois do Parecer de 1962. De acordo com Silva (2006), no Estado de São Paulo ainda não havia um mercado de trabalho que o demandasse, de modo que não fica difícil imaginar a indefinição nas outras regiões do país. Toda a dificuldade enfrentada por esse profissional ainda era acompanhada por situações que a todos chocavam, pois, os [...] licenciados até 1965, conforme Portaria MEC n. 478/1954, além do direito ao registro nas chamadas cadeiras de educação, possuíam também esse direito em relação a outras disciplinas do ensino médio: em filosofia, história geral e do Brasil � no ciclo em que fosse ministrado o ensino da disciplina ou nos dois ciclos � e ainda em matemática, apenas no primeiro ciclo. Aos licenciados de 1966 a 1968, nos termos da Portaria MEC n. 341/1965 esse direito estendeu-se à psicologia, sociologia (2º ciclo) ou estudos sociais (1º e 2º ciclos), [...]. Aos licenciados a partir de 1969 não foi dado mais o direito em relação à filosofia, história e matemática. (SILVA, 2006, p.22-23) 42 2.2.2 - Capacitação do Pedagogo e o Ensino de Matemática O Parecer não trouxe grandes modificações ao currículo do curso de Pedagogia. Os licenciados permaneceram com o direito de lecionar Matemática, História e Filosofia até o ano de 1969, como mostrado na citação anterior. Mas, apesar do direito, vemos que a única disciplina que tratava de conceitos matemáticos presente no currículo mínimo estabelecido pelo Parecer CFE nº 251/1962 era a de Estatística, que constava no rol de disciplinas opcionais do bacharelado. Nessa fase o pedagogo não era formado para ser o professor do Ensino Primário e nem mesmo dos cursos Secundário e Técnico do Ensino Médio. Seu objetivo ainda era o de formar o professor das disciplinas pedagógicas do Curso Normal – um dos cursos que também compunham o Ensino Médio. Portanto, a disciplina de Matemática presente nessa época no currículo mínimo estabelecido para o curso de Pedagogia, não tinha como foco formar professores capacitados para darem aulas de Matemática, independentemente da etapa de ensino que fossem atuar. Assim, o licenciado em Pedagogia ainda não era o professor de Matemática dos anos iniciais. 2.3 - O Parecer CFE nº 252/1969 e o Tecnicismo da Época Ainda tracejando a história do curso de Pedagogia, vemos que até o ano de 1968 ele permaneceu vinculado às Faculdades de Filosofia. Somente depois de aprovada a Lei Federal nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, da Reforma do Ensino Superior, é que foram recriadas as Faculdades de Educação, concebidas como o espaço institucional próprio para as Ciências da Educação, onde então passou a funcionar o curso de Pedagogia. E esta foi uma tendência da Reforma Universitária, estruturar as unidades sob o modelo de Institutos (GADOTTI; RABELLO, 1980). Somente no ano seguinte, na tentativa de amenizar os impasses enfrentados pelo curso de Pedagogia, foi emitido o Parecer CFE nº 252, de 11 de abril de 1969. O tecnicismo presente naquela década aliado a indefinição mantida quanto ao curso e a insatisfação dos alunos e demais profissionais ligados a esse campo de trabalho 43 motivou a idéia de reformular o curso de Pedagogia contemplando ainda nessa reforma as idéias tecnicistas. Almejava-se uma reformulação que atingisse a estrutura curricular e não apenas a grade de disciplinas como tinha sido efetuado até então. O Parecer CFE nº 252/1969 também foi relatado pelo conselheiro Valnir Chagas e em seguida incorporado à Resolução CFE nº 2/1969. Esse Parecer sofreu as influências do momento político do país e também aquelas provenientes da Reforma Universitária de 1968, a qual, por sua vez, estava no encadeamento de idéias da política do contexto pós-golpe militar de 1964. A Reforma do Ensino Superior, então, tinha o “intuito de aumentar a eficiência e a produtividade da universidade” (FÁVERO, 2006, p. 34), bem como triunfava nela o princípio da racionalidade. Desse modo, nasceu o que muitos “críticos passaram a chamar de universidade tecnocrática, ainda que mesclada com nuanças do pensamento liberal” (SILVA, 2006, p.25). Segundo Coelho (1987), o Parecer CFE nº 252/1969 deu continuidade à tendência no crescimento das habilitações dentro do curso e, também, apresentou a idéia da formação do professor primário em nível superior já em processo de acontecimento. Ele traz em seu bojo o perfil do profissional que o curso de Pedagogia se destinaria a formar, estabelece o currículo mínimo e a duração do curso, visando, assim, à “formação de professores para o ensino normal e de especialistas para as atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção no âmbito de escolas e sistemas escolares” (SILVA, 2006, p.26). Tal objetivo quanto a área de atuação do pedagogo também se faz presente no art. 30 da Lei da Reforma Universitária de 1968. E era justamente esse perfil de profissional especializado que o contexto da época exigia. Almejava-se um profissional que contribuísse para a Educação como um fator de desenvolvimento do país. Daí a subordinação dos cursos superiores às exigências da sociedade, na visão da ditadura militar, tanto no que concerne à formação de profissionais para os seus diferentes setores de trabalho, quanto às necessidades relacionadas ao desenvolvimento nacional, acentuando então a relação entre os cursos superiores e as profissões. (SILVA, 2006, p.25) Como já mencionado, essa Lei da Reforma Universitária de 1968 influenciou no Parecer CFE nº 252/1969, bem como em outros decretos e pareceres daquela época. Na legislação desse período, houve “uma tendência de encaminhar a 44 questão da educação, fundamentalmente, como uma questão técnica, a ser resolvida por especialistas” (COELHO, 1987, p.10). Isso explica o crescimento de habilitações presentes nas diversas especializações oferecidas pelo curso de Pedagogia, pois se admitia que elas formariam pessoas que assumissem uma prática pedagógica em consonância com os princípios do Estado e, conseqüentemente, com os princípios presentes na Lei da Reforma Universitária, dos quais um deles é a relação formação superior e profissão. O Parecer CFE nº 252/1969, ao estabelecer várias especializações para o curso de Pedagogia trouxe uma contradição. Ao mesmo tempo em que ele criou aquelas especializações � Orientação, Administração, Supervisão, Inspeção �, designando, portanto, um conjunto de atividades em que se encaixariam os especialistas, oferecendo assim, elementos para a caracterização do pedagogo, acabou, também fragmentando a formação desse profissional. 2.3.1 - O Currículo por meio do Parecer CFE nº 252/1969 O curso era organizado, então, em duas partes. Uma comum, por entender que “a profissão que corresponde ao setor de Educação é uma só e que por isso as diferentes modalidades de capacitação devem partir de uma base comum de estudos” (SILVA, 2006, p.26). Outra diversificada, voltada para as habilitações específicas. A parte diversificada do curso ficou organizada da seguinte maneira: magistério dos cursos normais, atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção. A atividade de planejamento que também se incluiria nesse rol de especialidades ficou fora do curso de graduação, sendo indicado que seu desenvolvimento poderia ocorrer no mestrado, visto que essa especialidade requer um número menor de profissionais. Assim, para as áreas que comporiam o curso de Pedagogia, ficaram estabelecidas as seguintes habilitações: Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais, Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar. 45 O curso de Pedagogia tinha a duração mínima fixada em: 2.200 horas de atividades para a licenciatura plena (1º e 2º Graus) e de 1.200 horas de atividades para a licenciatura curta19 (1º Grau). O Parecer CFE nº 252/1969 fixa as disciplinas que deverão compor a parte diversificada do curso de Pedagogia, bem como a parte comum a todas as modalidades de habilitação. A parte comum abrange as seguintes disciplinas: Sociologia Geral, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, História da Educação, Filosofia da Educação e Didática. Entre as habilitações que compõem a parte diversificada do curso, e que se mostram relevantes para a nossa discussão � a Educação Matemática, apontaremos duas e destacaremos as disciplinas presentes em ambas. Para a habilitação Ensino das Disciplinas e Atividades Práticas dos Cursos Normais, o Parecer fixa as seguintes disciplinas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º Grau, Metodologia de 1º Grau, Prática de Ensino na Escola de 1º Grau com Estágio Supervisionado. E para a habilitação plena em Administração Escolar, as seguintes disciplinas são fixadas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º Grau, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º Grau, Princípios e Métodos de Administração Escolar e Estatística Aplicada à Educação. (BRASIL, CFE, AZEVEDO, 1969) O diploma para os egressos do curso de Pedagogia, independentemente da habilitação escolhida, passou a ser o de licenciado, decisão essa tomada pela aprovação da emenda apresentada pelo então conselheiro D. Luciano Duarte (SILVA, 2006). No Parecer é trazida uma posição contra essa decisão, indicando que o diploma fosse o de bacharel e não o de licenciado, argumentando que “o pedagogo não precisa obter uma licença, através de formação pedagógica, para efeito de ensino, pois, na verdade, o pedagógico já constitui o próprio conteúdo do curso de pedagogia” (SILVA, 2006, p.31). Entretanto essa argumentação não obteve êxito. 19 Os cursos de curta duração foram regulamentados em 1964, por indicação do Conselheiro Newton Sucupira, com as licenciaturas “de três anos” em Ciências, Estudos Sociais e Letras. (CHAGAS, 1976, p.15) 46 2.3.2 - A Caminho da Formação de Professores para os Anos Iniciais Como já comentado, havia a idéia, desenvolvida no início da década de 1960, de elevar a formação do professor do Ensino Primário para o nível superior. Assim, quanto ao impasse, vivido na época, se o pedagogo poderia atuar ou não no Ensino Primário, o Parecer CFE nº 252/1969 entende que “quem pode o mais, pode o menos”, ou seja, quem forma os professores para atuarem no Ensino Primário poderá atuar no Ensino Primário também, desde que tenha cursado certas disciplinas. Tal posicionamento era devido à impossibilidade de criar, naquele momento, uma habilitação especial para esse fim. As disciplinas fixadas para o direito ao magistério do Ensino Primário são: Metodologia do Ensino de 1º Grau e Prática de Ensino na Escola de 1º Grau, com Estágio Supervisionado. Logo, os habilitados para atuarem nos Cursos Normais, automaticamente estavam formalmente habilitados para o magistério de 1º Grau, ou como ainda era chamado Ensino Primário. Nas demais habilitações, bastava cursar as disciplinas mencionadas. No entanto, sendo exigido que o aluno interessado no magistério do Ensino Primário cursasse as disciplinas de Metodologia e Prática de Ensino de 1º Grau, podemos entender que, apesar de o Parecer abrir essa possibilidade para atuação do pedagogo, ele não oferece bases suficientes para que o aluno possa atuar multidisciplinarmente. Considerando que atualmente existem nos cursos de Pedagogia disciplinas de metodologia específicas para cada área de conhecimento � Ciências Humanas, Ciências Biológicas, Língua Portuguesa e Matemática; considerando que há pesquisas (CARZOLA & SANTANA, 2005) que mostram que a carga horária destinada à disciplina de Metodologia da Matemática é insuficiente para um trabalho profícuo, podemos pensar como seria, em 1969, quando havia apenas um curso de Metodologia para dar conta de toda a formação metodológica de 1º Grau. Focando a Matemática e seu ensino, nesse período, constatamos que a única habilitação que contém uma disciplina que trabalha com os conceitos matemáticos é a de Administração Escolar, e o foco de tal disciplina � Estatística Aplicada à Educação � não é o de formar professores e sim administradores. 47 2.4- De 1969 a 1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1971 e as Indicações de Valnir Chagas Durante o período de 1969 a 1996, algumas tentativas de reformulação ocorreram, porém, não conseguiram modificar ou revogar o Parecer CFE nº 252/1969, que sustentou a organização do curso de Pedagogia até o ano de 1996, quando ocorreu a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Federal nº 9.394/1996 (SILVA, 2006) (FRAUCHES, 2006) e com ela algumas alterações para os cursos de formação de professores. Tal Parecer resistiu ao tempo, apesar de seu próprio relator tentar reformulá-lo. As tentativas de reestruturação dos cursos superiores de formação de professores foram desencadeadas na década de 1970. Novamente temos o Professor Valnir Chagas encabeçando algumas indicações de relevância para a história desses cursos. Nas indicações desenvolvidas a partir de 1973, esse professor tenta atender algumas questões que desde 1962 vislumbrava para a formação de professores. Um dos objetivos que levou o professor Valnir Chagas a propor novas indicações aos Cursos Superiores de formação de professores, mesmo antes de o curso de Pedagogia se adequar à legislação de 1969, foi o de adequar os cursos às necessidades geradas pela Reforma do Ensino de Primeiro e Segundo Graus, promovida pela Lei Federal nº 5.692/1971. O conselheiro também exerceu fortes influências na redação dessa lei. Portanto, antes de discutirmos o conjunto de indicações dadas por Valnir Chagas, incidiremos nosso olhar para a Lei Federal nº 5.692/1971, na tentativa de mostrar as modificações que ela trouxe e as influências que ela exerceu na redação das indicações feitas na década de 1970. A Lei de Diretrizes e Bases nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, imprime em sua redação as influências sofridas pela reforma do Ensino Superior, como já havíamos anteriormente aventado. Após uma reformulação no Ensino Superior do país, se fazia necessária uma reorganização nas outras etapas do ensino. A partir da Lei nº 5.692/1971, o Ensino Primário juntamente com o 1º ciclo do Ensino Médio, o Ginasial, passaram, então, a ser nomeados de Ensino de Primeiro 48 Grau. O Ensino Médio, em seu 2º ciclo, o Colegial, recebeu a denominação de Ensino de Segundo Grau. CAPÍTULO II Do Ensino de 1º Grau Art. 17. O ensino de 1º grau destina-se à formação da criança e do pré-adolescente, variando em conteúdo e métodos segundo as fases de desenvolvimento20 dos alunos. Art. 18. O ensino de 1º grau terá a duração de oito anos letivos e compreenderá, anualmente, pelo menos 720 horas de atividades. [...] CAPÍTULO III Do Ensino de 2º Grau Art. 21. O ensino de 2º grau destina-se à formação integral do adolescente. Art. 22. O ensino de 2º grau terá três ou quatro séries anuais, conforme previsto para cada habilitação, compreendendo, pelo menos, 2.200 ou 2.900 horas de trabalho escolar efetivo, respectivamente. (grifos nossos). (BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1971) Quanto à atuação de professores e especialistas em educação, a Lei nº 5.692/1971 se posiciona mostrando qual a formação mínima para atuarem no mercado de trabalho e onde podem atuar. Diz no Capítulo V, em seu art. 29, que tal formação se dará em níveis que se elevem progressivamente, respeitando a cultura de cada região do País, bem como o desenvolvimento dos estudantes. Em seu art. 30, fornece a formação mínima exigida para o exercício do magistério. Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do magistério: a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau; b) no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica de grau superior, ao nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura plena. §1º Os professores a que se refere a “letra a” poderão lecionar na 5ª e 6ª séries do ensino de 1º grau se a sua habilitação houver sido obtida em quatro séries ou, quando em três mediante estudos adicionais correspondentes a um ano letivo que incluirão, quando for o caso, formação pedagógica. §2º Os professores a que se refere a “letra b” poderão alcançar, no exercício do magistério, a 2ª série do ensino de 2º grau mediante estudos adicionais correspondentes no mínimo a um ano letivo. 20 Queremos dar destaque aqui no modo como esse trecho da lei foi apresentado. Quando é dito das “fases de desenvolvimento dos alunos” imediatamente somos levadas a pensar na teoria piagetiana de aprendizagem e desenvolvimento, cujos pilares estão na caracterização de cada uma das etapas do processo de desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes. Entendemos que, como foi nessa mesma década, 1970, que tal teoria estava sendo difundida no Brasil, certamente o legislador estava imbuído dela, de modo que foi influenciado ao escrever o texto da lei. 49 (BRASIL, CONGRESSO NACIONAL, 1971) Pela “letra c” do art. 30, constatamos que o pedagogo que possuísse licenciatura plena poderia atuar em todo o 1º e 2º Graus. No entanto, sabemos, como já relatado neste capítulo, que foi dado o direito a ele de lecionar, além das disciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores do Ensino Primário, a disciplina de Matemática, História e Filosofia no período de 1954 � Portaria MEC21 478/1954 � a 1969, quando foi retirado esse direito (SILVA, 2006) e que, a partir de 1965, pela Portaria MEC nº 341/1965, foi lhe acrescentado o direito às disciplinas de Psicologia (2º ciclo� colegial), Sociologia (2º ciclo � colegial) ou Estudos Sociais (1º e 2º ciclos � ginasial e colegial). Desse modo, concluímos que, a partir de 1971, ao licenciado em Pedagogia, foi conferido o direito de lecionar apenas as disciplinas regulamentadas pela Portaria MEC nº 341/1965. Como já ressaltado anteriormente, o Conselho Federal de Educação, na figura de seus conselheiros, se empenhou em implementar as regulamentações que diziam respeito à formação de profissionais da educação dispostas na Lei nº 5.692/1971. Para tanto, Valnir Chagas lança um conjunto de Indicações, que discutiremos agora, na tentativa de facilitar e acelerar esse processo de implementação. Algumas das Indicações, após serem aprovadas pelo Conselho Federal de Educação e homologadas pelo então Ministro da Educação e Cultura, Ney Braga, foram sustadas e devolvidas ao CFE por meio do Aviso Ministerial nº 385/1976 (SILVA, 2006) (CHAVES, 1981). O motivo da devolução ao CFE foi pela forte reação de alguns setores envolvidos no assunto. Porém, mesmo que algumas das Indicações, feitas nessa década, não tenham alcançado êxito nos trâmites de aprovação, são de importância histórica para o curso de Pedagogia, assim como para os outros cursos de formação para o magistério. Pois, desse modo, veremos como as Indicações, caso fossem aprovadas e implementadas, delineariam os cursos de formação de professores, em especial o curso de Pedagogia, nosso interesse neste capítulo. 21 Ministério da Educação 50 2.4.1 - A Caminho de uma Definição da Formação de Professores Entre as Indicações, merece destaque a Indicação CFE nº 22, de 8 de fevereiro de 1973 que dita as normas a serem seguidas por todas as licenciaturas, ou seja, define a filosofia geral a ser seguida na formação do magistério de 1º e 2º Graus (CHAVES, 1981). Tal Indicação, concordando com a Lei 5.692/1971, também diz sobre o preparo regular do magistério, entendido aqui como o preparo de docentes e especialistas para o ensino de 1º e 2º Graus. Em sua primeira norma, regulamenta que tal preparo será feito conforme o conteúdo e a duração dos estudos, em nível de 2º grau, para exercício docente até a quarta ou sexta séries do 1º grau, e, em nível superior, para exercício docente ou de especialidade pedagógica em toda a escola de 1º grau ou nesta e na de 2º grau. (CHAGAS, 1976, p.23) Da Indicação CFE nº 22/1973, dita introdutória, resultam outras “indicaçõ