UNESP UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Tecnologia Campus de Presidente Prudente - SP UILIAN DONIZETI VIGENTIM Desenvolvimento de um CMS acessível: publicação e gerenciamento de conteúdo com acessibilidade para a educação. PRESIDENTE PRUDENTE – S.P. 2024 UILIAN DONIZETI VIGENTIM Desenvolvimento de um CMS acessível: publicação e gerenciamento de conteúdo com acessibilidade para a educação. Tese de Doutorado, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP/Presidente Prudente, como requisito para obtenção do título de Doutor, em Educação. Linha de pesquisa: Processos Formativos, Ensino e aprendizagem Orientador: Prof. Dr. Klaus Schlunzen Junior PRESIDENTE PRUDENTE – S.P. 2024 V673d Vigentim, Uilian Donizeti Desenvolvimento de um CMS acessível: publicação e gerenciamento de conteúdo com acessibilidade para a educação. / Uilian Donizeti Vigentim. -- Presidente Prudente, 2024 109 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente Orientador: Klaus Schlunzen Junior 1. Educação. 2. Acessibilidade web. 3. CMS. 4. WCAG2.1. 5. Sites das Universidades Brasileiras. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. UILIAN DONIZETI VIGENTIM Desenvolvimento de um CMS acessível: publicação e gerenciamento de conteúdo com acessibilidade para a educação. Tese de Doutorado, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP/Presidente Prudente, como requisito para obtenção do título de Doutor, em Educação. Linha de pesquisa: Processos Formativos, Ensino e aprendizagem Orientador: Prof. Dr. Klaus Schlunzen Junior PRESIDENTE PRUDENTE – S.P. 2024 UILIAN DONIZETI VIGENTIM Desenvolvimento de um CMS acessível: publicação e gerenciamento de conteúdo com acessibilidade para a educação. Tese de Doutorado, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP/Presidente Prudente, como requisito para obtenção do título de Doutor, em Educação. Linha de pesquisa: Processos Formativos, Ensino e aprendizagem Orientador: Prof. Dr. Klaus Schlunzen Junior Data da defesa: 13/06/2024 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA: Presidente e Orientador: Prof. Dr. Klaus Schlunzen Junior Universidade Estadual Paulista - UNESP. Membro Titular: Profa. Dra. Profa. Dra. Katia de Abreu Fonseca Universidade Estadual Paulista - UNESP Membro Titular: Profa. Dra. Danielle Aparecida do Nascimento dos Santos Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE. Membro Titular: Prof. Dr. Eder Pires de Camargo Universidade Estadual Paulista – UNESP. __________________________________________________________________________________ Membro Titular: Prof. Dr. Leandro Key Higuchi Yanaze Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP – Campus de Presidente Prudente AGRADECIMENTOS Agradeço A Deus Sive Natura, existência de toda capacidade e curiosidade Humana. Aos meus pais Ademir e Divina, que com muito amor sempre me apoiaram estando ao meu lado para me dar conselhos e força nas horas mais difíceis. Para mim, eles são o meu maior exemplo de educação e caráter, que jamais titulação alguma pode prover a um homem. Ao Professor Dr. Klaus Schlunzen Junior, que me orientou e confiou na minha capacidade durante essa empreitada. Exímio mestre e grande professor, sempre me ensinou através das atitudes de como ser cada dia melhor no que nos propomos. A toda equipe de desenvolvimento do protótipo concebido para o CMS com acessibilidade, sem vocês eu não teria conhecimento técnico nem tempo suficiente para conquistar tudo que conquistamos para acessibilidade web. Aos membros da banca de qualificação e defesa, que contribuíram com seu conhecimento e tempo para a melhoria do trabalho. São duas coisas impagáveis que eu fico honrado em compartilhar com vocês. Em especial nesse momento as minhas amigas e supervisoras, Elaine (Elaininha) e Sandra (Sandrinha) pela atenção em vários momentos que precisei de auxílio. O meu muito obrigado. À minha amada Luciana, que também dedicou seu conhecimento e carinho para a realização desse trabalho. Foram horas a fio que só podem ser traduzidas como amor, certamente eu não teria conseguido sem seu apoio. Ao meu amigo e colega de trabalho Leonardo, que ouviu reclamações e me ajudou muito com incentivos e com as imagens que precisei. À Faculdade de Ciências e Tecnologia UNESP campus de Presidente Prudente através dos Professores e funcionários na conquista desse título. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. RESUMO A construção de websites com acessibilidade é obrigatória para atender a legislação brasileira vigente, segundo o Decreto Federal nº 5.296 e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência no. 13.146. Entretanto, comumente, a disponibilização destes recursos não é levada em consideração. Estudo feito em sites brasileiros ativos em 2022, realizado pela BigDataCorp em parceria com o Movimento Web para Todos e com o apoio do World Wide Web (W3C) Brasil, revela um cenário alarmante, menos de 1% dos sites analisados foram aprovados em todos os testes de acessibilidade.(web para todos, 2022).Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 “A população com deficiência no Brasil foi estimada em 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais, o que corresponde a 8,9% da população dessa faixa etária.” (GOV.BR, 2023). Outra razão para elevar ainda mais esta discrepância, pode ser a falta de acessibilidade aos ambientes Web das instituições educacionais do país. Uma grande porcentagem deste público são mulheres, que por meio de sites e cursos digitais, podem conseguir formação profissional por meio da acessibilidade digital. Entre os objetivos de desenvolvimento sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) na sua Agenda 2030, especificamente no de número 4, é necessário garantir a todos igualdades de acesso à educação, acessível e de qualidade, eliminando as dificuldades de igualdade de acesso a todos os níveis de educação para todos os mais vulneráveis. Considerando ainda o atual momento, quando os sistemas educacionais em todo o mundo foram testados devido à pandemia do Covid-19, as tecnologias estão se mostrando uma solução de emergência, sendo um recurso para as pessoas com deficiência. O objetivo da pesquisa de construir um Content Management System (CMS) com acessibilidade nativa, tanto para a geração de conteúdo, quanto para a exibição, atendendo os critérios do Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.1, tem impacto no setor educacional e nas instituições de ensino no Brasil, pois seus web sites, compartilham dos problemas de acessibilidade gerais na web. A ferramenta proposta se diferencia dos CMS atuais, como Drupal, Joomla e WordPress, devido a apresentação de características inovadoras como o gerenciamento de conteúdo acessível para pessoas com deficiência, restrição de conteúdo que não atenda os critérios de acessibilidade, validação nativa dos elementos HTML e utilização de inteligência artificial para inserção de descrição em imagens para garantia da coerência da relação texto-imagem. A aplicação dessa tecnologia pode contribuir para uma web mais acessível para todos, podendo gerar uma democratização dos conteúdos educacionais e científicos produzidos em todas as instituições de ensino do país. Palavras chaves: Acessibilidade web; CMS; WCAG 2.1; Sites das Universidades Brasileiras. ABSTRACT The construction of websites with accessibility is mandatory to comply with current Brazilian legislation, according to Federal Decree nº 5,296 and the Brazilian Law on the Inclusion of Persons with Disabilities no. 13,146. However, the availability of these resources is commonly not taken into consideration. Study carried out on Brazilian websites active in 2022, carried out by BigDataCorp in partnership with Movement Web para Todos and with the support of the World Wide Web (W3C) Brazil, reveals an alarming scenario: less than 1% of the websites analyzed were approved in all accessibility testing. (web for everyone, 2022). According to the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), in 2022 “The population with disabilities in Brazil was estimated at 18.6 million people aged 2 or over, which corresponds to 8.9% of the population in this age group.” (GOV.BR, 2023). Another reason to increase this discrepancy even further could be the lack of accessibility to the Web environments of the country's educational institutions. A large percentage of this audience are women, who, through websites and digital courses, can obtain professional training through digital accessibility. Among the sustainable development objectives established by the United Nations (UN) in its 2030 Agenda, specifically number 4, it is necessary to guarantee equal access to accessible and quality education for all, eliminating the difficulties of equal access to all levels of education for all the most vulnerable. Considering the current situation, when educational systems around the world have been tested due to the Covid-19 pandemic, technologies are proving to be an emergency solution, being a resource for people with disabilities. The research objective of building a Content Management System (CMS) with native accessibility, both for content generation and display, meeting the criteria of the Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.1, has an impact on the educational sector and institutions of teaching in Brazil, as their websites share general accessibility problems on the web. The proposed tool differs from current CMS, such as Drupal, Joomla and WordPress, due to the presentation of innovative features such as management of accessible content for people with disabilities, restriction of content that does not meet accessibility criteria, native validation of HTML elements and use of artificial intelligence to insert descriptions in images to guarantee the coherence of the text-image relationship. The application of this technology can contribute to a more accessible web for everyone and can generate a democratization of educational and scientific content produced in all educational institutions in the country. Keywords: Web accessibility; CMS; WCAG 2.1; Websites of Brazilian Universities. LISTA DE QUADROS Quadro 1 Ranking das Melhores Universidades Brasileiras de acordo com (CWUR) 47 Quadro 2 Universidades e URL 48 Quadro 3 Dados consolidados de nota geral e quantidade de defeitos por conformidade 53 LISTA DE IMAGENS Imagem 1 Caneca de vidro transparente com café e leite 40 Imagem 2 Painel de controle 63 Imagem 3 Painel de edição 64 Imagem 4 CMS Acessível 66 Imagem 5 Relatório de práticas da página exemplo 67 Imagem 6 Relatório de práticas da réplica da UFPel 69 Imagem 7 Relatório de práticas da réplica da UFPB 69 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Notas obtidas pelo validador AccessMonitor 2.1 54 Gráfico 2 Critério de nível de conformidade A por Universidade 55 Gráfico 3 Critério de nível de conformidade AA por Universidade 56 Gráfico 4 Critério de nível de conformidade AAA por Universidade 56 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APIs Application Programming Interface ASES Avaliador e Simulador de Acessibilidade em Sítios CBPF Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas CMS Content Management System CPIDES Centro de Programação para a Inclusão Digital, Escolar e Social CWUR Center for World University Rankings ECM Gerenciamento de Conteúdo Empresarial FRIDA Inovação Digital na América Latina e o Caribe FGV Fundação Getúlio Vargas Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz HTML Linguagem de Marcação de HiperTexto IES Instituições de Ensino Superior In@Web Inclusão e Acessibilidade na Web INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais MVP Mínimo produto viável MWPT Movimento Web para Todos NVDA NonVisual Desktop Access PcDs Pessoas com deficiências PoC Prova de conceito QA Quality Assurance UDL Universal Design for Learning UEM Universidade Estadual de Maringá UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFABC Universidade Federal do ABC UFBA Universidade Federal da Bahia UFC Universidade Federal do Ceará UFES Universidade Federal do Espírito Santo UFF Universidade Federal do Fluminense UFG Universidade Federal de Goiás UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora UFLA Universidade Federal de Lavras UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul UFPA Universidade Federal do Pará UFPB Universidade Federal da Paraíba UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFPel Universidade Federal de Pelotas UFPR Universidade Federal do Paraná UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UFSCar Universidade Federal de São Carlos UFSJ Universidade Federal de São João Del Rei UFSM Universidade Federal de Santa Maria UFU Universidade Federal de Uberlândia UFV Universidade Federal de Viçosa UNB Universidade de Brasília UNESP Universidade Estadual Paulista UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Unifesp Universidade Federal de São Paulo URL Uniform Resource Locator USP Universidade de São Paulo WCAG Web Content Accessibility Guidelines WCM Gerenciamento de conteúdo da web WebIAM Web Accessibility in Mind W3C World Wide Web TA Tecnologia Assistiva SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS 13 1.1 Objetivo geral e específicos 16 2 DESIGN INCLUSIVO NA EDUCAÇÃO: CONTESTO E APLICAÇÃO 18 2.1 Acessibilidade web 23 3 ACESSIBILIDADE NOS SITES DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO 26 4 O QUE É UM CONTENT MANAGEMENT SYSTEM (CMS) 29 5 MÉTRICAS DE ACESSIBILIDADE WEB E TESTES DE ACESSIBILIDADE 32 5.1. Protocolo resumido de teste de acessibilidade 35 6 O QUE É A WEB CONTENT ACCESSIBILITY GUIDELINES (WCAG) 38 7 METODOLOGIA: A PESQUISA-AÇÃO APLICADA A ACESSIBILIDADE WEB 42 7.1 Conceito e Definição da Pesquisa-Ação 42 7.2 Etapas da Aplicação da Pesquisa-Ação em Estudos de Acessibilidade web 44 8 MÉTODOS E ANÁLISE DE DADOS 46 9 DEFINIÇÃO DOS REQUISITOS, MODELAGEM E EXECUÇÃO DE UM PROTÓTIPO FUNCIONAL DE CMS PARA GERAÇÃO DE PÁGINAS ACESSÍVEIS 58 9.1 Infraestrutura 61 10 RESULTADOS E CONCLUSÃO 63 REFERÊNCIA 72 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 76 APÊNDICE A – ROTEIRO DE TESTES DE ACESSIBILIDADE WEB 78 APÊNDICE B – TABELA DE REGISTRO DE DEFEITOS 79 APÊNDICE C - VALIDAÇÕES REALIZADAS NO ACCESSMONITOR 2.1 80 13 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A acessibilidade na educação no Brasil é um tema complexo que vem sendo discutido há muitos anos por pesquisadores, políticos, jornalistas e pela sociedade como um todo. Existe um consenso aparente de que o nosso país possua uma legislação profunda e relevante sobre o tema, sendo signatário de várias convenções e tratados internacionais, como o Decreto nº 6.949 (Brasil, 2009), que promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo a Lei nº 13.146 (Brasil, 2015a), que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, (Estatuto da Pessoa com Deficiência), o Decreto nº 9.522 (Brasil,2018) que promulga o Tratado de Marraqueche para facilitar o acesso a obras publicadas, essas legislações são alguns exemplos singulares, de uma manifestação jurídica, que pode ou não, se efetivar na prática. A acessibilidade segundo Calado (2006, p. 30) A acessibilidade do meio é condição essencial para o indivíduo realizar qualquer tarefa dentro de suas capacidades, ou seja, movimente-se, locomova-se e atinja uma meta planejada, utilizando ou não aparelhos específicos, e sem depender de outras pessoas. Ou ainda, pode ser encarada como planejamento do ambiente, a fim de que o indivíduo possa utilizá-lo plenamente, realizando as atividades a que se propõe e participando ao máximo das facilidades que o local possa oportunizar. Acessibilidade é garantir autonomia a todos para acessar por exemplo informações e tecnologias, possibilitar a utilização de espaços físicos, meios de transporte e serviços diversos. Segundo o site da Universidade Federal do Pará (UFPA) (2021) Acessibilidade diz respeito à condição de possibilidade para a transposição dos entraves que representam as barreiras para a efetiva participação de pessoas nos vários âmbitos da vida social. No contexto da pessoa com deficiência (PcD), o termo se refere à utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação. No universo da educação, alguns autores apontam que ainda há muitos desafios a serem superados principalmente a acessibilidade arquitetônica. Um dos principais desafios é a falta de acessibilidade física nas escolas muitas não são adaptadas para atender às necessidades de estudantes com deficiência. Isso pode incluir a falta de rampas, banheiros adaptados, salas de aula 14 com espaço suficiente para cadeirantes, entre outros. Para Bertaglia (2022), “[...] A acessibilidade arquitetônica está relacionada aso recursos que permitam a locomoção de pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida, em qualquer espaço com autonomia”. A falta de recursos humanos especializados é outro grande desafio. Diversas escolas não têm professores ou funcionários capacitados para atender às necessidades de estudantes com deficiência. Isso pode dificultar o aprendizado dos estudantes e pode gerar estresse e ansiedade para os professores e funcionários. Konkel et al. (2015) retrata essa questão: A compreensão dos limites das pessoas com deficiência, principalmente a intelectual, por parte do professor da rede regular de ensino, ainda está por se constituir. A falta de preparo para lidar com a criança ou adolescente com deficiência, tem gerado questionamentos em torno da prática pedagógica desenvolvida com estes sujeitos. Um número considerável de professores tem demonstrado insegurança na administração dos conteúdos em sala de aula, ou seja, na transposição didática e na adaptação dos recursos que proporcionem a acessibilidade destes sujeitos aos conteúdos, considerando suas limitações e necessidades. O despreparo ou desconhecimento dos professores tem estigmatizado a pessoa com deficiência, camuflando suas potencialidades para aprender. Apesar dos desafios, pode-se verificar avanços na área da acessibilidade na educação no Brasil. O governo federal tem lançado programas e iniciativas para promover a acessibilidade nas escolas. Um exemplo de programa do governo federal é o Programa Nacional de Apoio à Educação de Estudantes com Deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação, programa que visa a garantir suporte financeiro, técnico e pedagógico às instituições de ensino públicas e privadas que atendam a estudantes com deficiência. Outro exemplo de iniciativa do governo federal é o Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (PROFEI) que oferece cursos de formação para professores que atuam com estudantes com deficiência. De acordo com UNIFESSPA (2020) o programa tem o objetivo de Oferecer formação continuada para professores em efetivo exercício na Rede Pública de Ensino da Educação Básica para que aprimorem seu repertório de conhecimentos e saberes, podendo promover o desenvolvimento em contextos educacionais, garantindo uma educação inclusiva, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade da educação no País. Um programa de relevância é o Portal de Acessibilidade da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) o espaço foi concebido com um design educacional inclusivo e colaborativo. E 15 considerou essenciais as diferentes dimensões da acessibilidade na elaboração do portal, segundo UNIFESP (2020) • ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA: considera a eliminação de barreiras em todos os ambientes físicos, internos e externos; • ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL: visa transpor obstáculos em todos os âmbitos da comunicação, considerada nas suas diferentes formas: falada, escrita, gestual, língua de sinais, digital, entre outras; • ACESSIBILIDADE METODOLÓGICA E CURRICULAR: facilita o acesso ao conteúdo programático oferecido pelas instituições de ensino, ampliando estratégias de ensino e aprendizagem; • ACESSIBILIDADE INSTRUMENTAL: possibilita a acessibilidade em todos os instrumentos, utensílios, recursos e equipamentos, utilizados na instituição de ensino e na vida diária do estudante, empregando-se conhecimentos do campo da tecnologia assistiva; • ACESSIBILIDADE PROGRAMÁTICA: contribui com iniciativas de formação profissional e social no combate ao preconceito, formas de discriminação e demais atitudes que impeçam ou dificultem o acesso aos recursos e serviços oferecidos pela sociedade, promovendo a inclusão e a equiparação de oportunidades; • ACESSIBILIDADE ATITUDINAL: ajuda a extinguir todos os tipos de atitudes preconceituosas que impeçam o pleno desenvolvimento das potencialidades da pessoa com deficiência; • ACESSIBILIDADE WEB/DIGITAL: significa promover medidas para que todas as pessoas possam acessar e utilizar os ambientes web e digitais com autonomia e possam perceber, entender, navegar, interagir e contribuir nesses espaços. Esses programas têm a finalidade de atender de forma direta os aspectos relacionados justamente as condições físicas, materiais e digitais das instituições de ensino, e de formação especializada dos profissionais, o que tem sido alvo de grande parte das críticas acerca da educação inclusiva. A promoção de acessibilidade na educação, não é um dever exclusivo do estado, mas da sociedade como um todo. Como a acessibilidade é um tema transversal que passa por todas as esferas sociais, os reais avanços na área da acessibilidade na educação no Brasil são os movimentos que promovem mudanças a nível cultural na sociedade. De modo que o governo federal, as escolas, a sociedade civil e as famílias, trabalhem em sinergia para tornar natural a inclusão de estudantes com deficiência no sistema educacional, e na vida social e do trabalho. No contexto da educação inclusiva, a acessibilidade digital é uma máxima, algo que sintetiza um ideal, despontando de forma singular por se manifestar de forma transversal no meio tecnológico. A sociedade digital engloba uma grande diversidade de público, pessoa com deficiência, idosos, crianças e pessoas sem deficiência, indivíduos que individualmente ou em grupo, impreterivelmente usam os meios digitais para realizar atividades básicas do ser humano como se 16 comunicar, registrar histórias, modificar o meio, trabalhar e estudar. Segundo o autor Castells (1999), a sociedade digital se baseia no fato de que as tecnologias digitais desempenham um papel fundamental na organização social, econômica e cultural. O autor argumenta que a sociedade digital é caracterizada por uma nova forma de organização social, baseada em redes de comunicação, colaboração e informação. Todos esses indivíduos, são impactados diretamente por conteúdos digitais em diferentes formatos, áudio, vídeo, texto e imagens, que vão constituindo as fontes de referência para o processo de ensino e aprendizado no decorrer de toda a vida. Não se tem dúvidas que a estrutura física e lógica (hardwares e softwares) é determinante para viabilizar a interação dos usuários no meio digital. Todavia, a linguagem, o método e a forma de se apresentar o conteúdo são indispensáveis para efetividade dessa interação. No momento que se compreende essa estrutura também se percebe uma grande necessidade de atuação de profissionais que venham resolver as questões referentes a interação dos usuários nos sistemas digitais. Observa-se um grande crescimento e valorização no design digital, e uma crescente especialização dos profissionais dessa área com foco no usuário, como exemplo o Web Design relacionado ao processo de criação e desenvolvimento de sites, Think Design que se concentra em entender as necessidades do usuário e criar uma solução que atenda a essas necessidades e UX Design processo de criação de experiências de usuário que sejam úteis, agradáveis e eficazes. Essas atividades também são aplicadas no contexto educacional, no desenvolvimento de ambientes virtuais de aprendizagem, portais de instituições de ensino e materiais pedagógicos digitais, como e-books, games, vídeos e simuladores. Com foco na acessibilidade e inclusão surge o design inclusivo, que por sua relevância para a pesquisa será apresentado e discutido logo em seguida no capítulo 2. 1.1 Objetivo geral e específicos Somado a essa necessidade, eleva-se o número de ferramentas de criação e gestão de conteúdo web disponíveis no mercado, o que justifica o objetivo da pesquisa. 17 O objetivo geral é analisar a construção de um gerador de websites acessíveis para a implementação de sites educacionais aderentes as normas técnicas de acessibilidade web. Durante essa análise, para concluir esse objetivo geral a investigação também passou por objetivos específicos.: • Foi desenvolvido um estudo do cenário de acessibilidade em sites educacionais e as normas nacionais e internacionais de acessibilidade visando uma análise das condições atuais de conformidade com as normas de Acessibilidade web; • Colaborar na implementação de um gerador de websites acessíveis, que considerou as diretrizes do WCAG2.1 e a compatibilidade com tecnologias assistivas para construção de sites; • Analisar os resultados dos sites desenvolvidos por meio do gerador e definimos princípios de sua aplicação no campo da educação focados na Acessibilidade web. Na busca por esses objetivos, tivemos como fio condutor a prática da metodologia da pesquisa-ação, que dado as suas características e aplicação metodológica se mostrou a mais adequada e significativa para relacionar a prática do pesquisador com o produto desenvolvido. 18 2 DESIGN INCLUSIVO NA EDUCAÇÃO: CONTESTO E APLICAÇÃO O design inclusivo ou design universal, é uma abordagem para o design de produtos e serviços que visa garantir a acessibilidade a todas as pessoas, independentemente de idade, habilidade ou condições. O conceito surgiu na década de 1980 nos Estados Unidos, o arquiteto Ron Mace foi o primeiro a utilizar a expressão design universal em 1985 a se referir a um conceito de projeto que contemple a diversidade humana. Para Mace, Hardie, Place (1991), “[...] o Desenho Universal aplicado a um projeto consiste na criação de ambientes e produtos que possam ser usados por todas as pessoas, na sua máxima extensão possível”. Quando os designs começaram a reconhecer a necessidade de criar produtos e ambientes que fossem acessíveis a pessoas com deficiência. Desde então, o design inclusivo expandiu-se para incluir uma gama mais ampla de diversidade humana, incluindo idade, gênero, etnia e outras características. Na literatura podemos perceber que o campo de estudo do design inclusivo está focado na usabilidade, na ergonomia e na acessibilidade. O objetivo dessa pesquisa não foi aprofundar a definição ou separação desses conceitos, cabe esclarecer que tanto o design inclusivo ou o design universal, serão utilizados como similares nesta tese. O real valor que interessa para o estudo é o objetivo final dos conceitos, que é garantir e promover a acessibilidade. Segundo Sousa (2015), o design universal “[...] é uma abordagem de projeto que visa criar produtos, ambientes e serviços que sejam acessíveis e úteis a todas as pessoas, independentemente de sua idade, habilidade ou condição”. Existem sete princípios do design universal, que são: • Uso e controle universal: Os produtos e ambientes devem ser projetados para serem usados por pessoas com uma ampla gama de habilidades, incluindo pessoas com deficiência física, intelectual ou sensorial; • Flexibilidade de uso: Os produtos e ambientes devem ser projetados para serem usados de várias maneiras, de modo que possam ser adaptados às necessidades individuais; • Facilidade de uso: Os produtos e ambientes devem ser fáceis de entender e usar, sem a necessidade de instruções ou treinamento; 19 • Visibilidade e compreensibilidade: Os produtos e ambientes devem ser visíveis e compreensíveis para todas as pessoas, incluindo pessoas com deficiência visual ou auditiva; • Tolerância a erros: Os produtos e ambientes devem ser projetados para serem tolerantes a erros, de modo que as pessoas não sejam prejudicadas se cometerem um erro; • Pequena escala e espaço para aproximação: Os produtos e ambientes devem ser projetados para acomodar uma ampla gama de tamanhos e formas de pessoas, incluindo pessoas com deficiência física; • Acessibilidade e uso independente: Os produtos e ambientes devem ser projetados para serem acessíveis e utilizáveis por pessoas com deficiência, sem a necessidade de assistência de outras pessoas. De forma prática e didática, para aplicabilidade real dos princípios do design universal Mara Gabrilli (2007) publicou um manual ilustrativo sobre desenho universal1. Aborda os sete princípios do desenho universal e legislações pertinentes, relacionando o contesto legal e normativo no Brasil, contribuindo de forma ampla para a divulgação e aplicação desses conceitos em projetos a serem realizados, com intuito de promover mudanças na acessibilidade para todos. Na educação, o design inclusivo tem o potencial de transformar a maneira como ensinamos e aprendemos. Ao projetar materiais de aprendizagem que são acessíveis a todos, pode-se garantir que todos os estudantes tenham a oportunidade de aprender e alcançar seu potencial máximo. Isso é especialmente importante em um mundo cada vez mais digital, onde a tecnologia desempenha um papel crucial na entrega de recursos educacionais. O potencial transformador do Design Inclusivo está presente no método de considerar a diversidade de usuários desde o início do processo de concepção do produto ou serviço, o que potencializa a facilidade de aplicação e uso para todos. Isso é especialmente importante para pessoas com deficiência, que muitas vezes enfrentam barreiras significativas ao acesso a produtos e serviços. Na educação, o design inclusivo pode ajudar a garantir que todos os estudantes tenham acesso aos mesmos materiais de aprendizagem, independentemente de suas habilidades. 1 O link do manual: https://maragabrilli.com.br/wp-content/uploads/2016/01/universal_web-1.pdf 20 A metodologia garante que os materiais digitais sejam compatíveis com leitores de tela para estudantes com deficiência visual, fornecer legendas para estudantes com deficiência auditiva, entre outros recursos, bem como o tempo e tipo de aprendizagem. Existem várias maneiras de aplicar os princípios do design inclusivo ao desenvolvimento de conteúdos educacionais digitais. Uma abordagem é garantir que todos os materiais sejam projetados com os princípios do design inclusivo desde o início. Isso inclui o uso cores contrastantes para facilitar a leitura, fornecer alternativas de texto para imagens e garantir que todos os conteúdos sejam compatíveis com tecnologias assistivas. Outra abordagem é envolver os usuários no processo de design. Ao envolver os estudantes com deficiência no desenvolvimento de materiais de aprendizagem, pode-se garantir que suas necessidades e experiências sejam levadas em consideração. Isso pode levar a soluções de design mais inovadoras e eficazes, que beneficiam todos os estudantes. Em última análise, o objetivo do design inclusivo na educação é garantir que todos os estudantes tenham a oportunidade de aprender e ter sucesso. Ao considerar a diversidade dos estudantes desde o início do processo de design, pode-se criar uma experiência de aprendizagem mais rica, inclusiva e eficaz para todos os envolvidos. Essa experiência, vai se traduzir em uma melhoria do desempenho e engajamento. Quando os materiais de aprendizagem são projetados considerando as diversidades são mais atrativos, e atende de forma mais assertiva as demandas dos estudantes, permitindo a ampliação da compreensão e retenção das informações. Isso, por sua vez, pode levar a melhores resultados acadêmicos e maior satisfação. De acordo com Souza (2015), “[...] o material inclusivo é aquele que pode ser utilizado por todas as pessoas, independentemente de suas habilidades ou necessidades”. O design inclusivo também promove a equidade e justiça social na educação, garantindo que todos os estudantes, independentemente de suas habilidades, tenham acesso aos mesmos recursos e oportunidades. Tal fato se mostra de grande relevância, pois ajuda a quebrar barreiras e estigmas que muitas vezes impedem estudantes com deficiências de alcançar seu potencial máximo. Existem diversos exemplos de estratégias e práticas que incorporam o design inclusivo na educação. Algumas dessas estratégias incluem o Universal Design for Learning (UDL) conhecido como Desenho Universal para a Aprendizagem - DUA. 21 O UDL é conjunto de princípios de design que buscam criar materiais e ambientes de aprendizado que sejam acessíveis e flexíveis para todos os estudantes. Segundo Sebastián- Heredero (2020, p.735) “[...] O DUA considera a variabilidade/diversidade dos estudantes ao sugerir flexibilidade de objetivos, métodos, materiais e avaliações, permitindo aos educadores satisfazerem carências diversas”. Ao oferecer múltiplos meios de representação, expressão e engajamento, o UDL ajuda a garantir que todos os estudantes possam aprender e participar de maneiras que se adaptem melhor às suas habilidades e preferências individuais. Segundo Sebastián-Heredero (2020, p.736) “[...] DUA estimula a criação de propostas flexíveis desde o início, apresentando opções personalizáveis que permitem a todos os estudantes progredir a partir de onde eles estão, e não de onde nós imaginamos que estejam”. Em relação às Tecnologias Assistivas (TA). os leitores de tela, programas de ampliação de texto e dispositivos de entrada alternativos, são valiosas ferramentas no apoio a estudantes com necessidades específicas. O design inclusivo na educação garante que os conteúdos e sistemas educacionais sejam compatíveis com essas tecnologias, tornando-os acessíveis a todos os estudantes. Os materiais de aprendizagem multimodais oferecem conteúdo educacional em vários formatos (como texto, áudio, vídeo e gráficos) e podem ajudar a acomodar diferentes estilos de aprendizado e garantir que os estudantes com diferentes habilidades possam acessar e compreender as informações. Essa estratégia é um exemplo de design inclusivo que beneficia todos os estudantes, não apenas aqueles com deficiências. Segundo Barbosa et al. (2016, p.628) No âmbito educacional, recursos gráficos computacionais têm facilitado a inserção de diferentes modos e recursos semióticos, tais como texto verbal (nos quais se incluem a tipografia – cores, tipos, estilo e tamanho da fonte – e a própria organização textual), imagem (estática e em movimento) e sons, na criação de hipertextos voltados para a elaboração de materiais didáticos (impressos e digitais). Dessa forma, o design inclusivo na educação é essencial para garantir o acesso mais igualitário para oportunidades de aprendizado. Ao aplicar os princípios do design na criação de conteúdos educacionais digitais e na prática pedagógica, pode-se ajudar a remover barreiras à aprendizagem e criar um ambiente mais inclusivo e equitativo para todos. 22 O papel dos professores e educadores é fundamental na implementação do design inclusivo. É imprescindível que estes tenham ciência das necessidades de seus educandos e adequem suas práticas de ensino para criar um ambiente acolhedor e inclusivo. Segundo Zerbato e Mendes (2021, p.5) Considera-se que, se o professor, em parceria com profissionais especializados, planejar, implementar e avaliar suas práticas pedagógicas pautadas nos princípios do DUA, ele conseguirá promover a participação e aprendizado de todos em sua sala de aula, inclusive do estudante público-alvo da Educação Especial. Com essa finalidade, tecnologias intuitivas e de fácil uso, são sempre muito bem-vindas para contribuir com as atividades da docência. Foi demonstrado que a implementação do design inclusivo cria um ambiente onde todas as pessoas podem acessar e se beneficiar das oportunidades educacionais, independentemente de suas habilidades, origens e circunstâncias. Essa abordagem ajuda a diminuir a desigualdade e promove a equidade na educação, ao mesmo tempo que prepara o indivíduo para o mundo diversificado. As práticas educacionais inclusivas preparam os estudantes para viver, trabalhar e colaborar com eficácia em um mundo cada vez mais diversificado e globalizado, desenvolvendo habilidades cruciais para a cidadania e o sucesso na vida. A diferenciação do ensino, com as adaptações das estratégias e métodos de ensino para atender às necessidades específicas e aos diferentes estilos de aprendizado dos estudantes, pode ser feito modificando o conteúdo, o processo, o produto ou o ambiente de aprendizagem. Na prática, são as adaptações curriculares que garantem a efetividade do método. Já a acessibilidade ao currículo e aos materiais didáticos, diz respeito ao fornecimento de recursos e materiais educacionais em formatos acessíveis e adaptados, de modo que todos os estudantes possam acessá-los e se beneficiar deles, com autonomia e segurança, incluindo as pessoas com deficiências. Por fim, o suporte e as intervenções individualizadas, decorre das avaliações especializadas, com a finalidade de fornecer condições para estudantes que enfrentam dificuldades ou necessitam de acomodações específicas devido a características individuais, como deficiências, dificuldades de aprendizado ou características culturais e linguísticas. O propósito central do design acessível é a inclusão, seja no ambiente físico ou digital. 23 2.1 Acessibilidade web A acessibilidade na web torna-se um tema central nas discussões, quando a grande convergência das plataformas digitais, que permeiam todas as atividades do cotidiano impacta a vida em sociedade. É crucial que todas as pessoas, independentemente de suas deficiências, consigam acessar e usar as informações e recursos on-line. Essa ação inclui pessoas com deficiências visuais, auditivas, motoras e cognitivas, sendo um passo fundamental para a qualidade de vida e efetiva participação social. Em 2014 a Lei 12.965 Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil, no Capítulo II, Dos diretos e garantias dos usuários, Seção I, Art.7 estabelece sobre o acesso à internet (Brasil, 2014) “[...] O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei”. Em 2015 de forma ampla e contundente a LBI 13.146 define as metidas e ações indispensáveis para promoção da acessibilidade digital obrigatórias no Brasil. Como referência e orientação a acessibilidade, ressalta-se na lei o Art. 63 (Brasil, 2015b) É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no país ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. Outro artigo de suma importância é o Art. 78 (Brasil, 2015c) Devem ser estimulados a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas para ampliar o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias da informação e comunicação e às tecnologias sociais. Parágrafo único. Serão estimulados, em especial: I - o emprego de tecnologias da informação e comunicação como instrumento de superação de limitações funcionais e de barreiras à comunicação, à informação, à educação e ao entretenimento da pessoa com deficiência; II – a adoção de soluções e a difusão de normas que visem ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência à computação e aos sítios da Internet, em especial aos serviços de Governo Eletrônico. O fato é que mesmo a legislação vigente sendo robusta no que se concerne a garantia do direito da acessibilidade digital não fica de forma clara e objetiva as sanções cabíveis no caso de não cumprimento da mesma. 24 Em relação ao não cumprimento da acessibilidade eletrônica a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados aprovou a PL 4238/21 que institui penas administrativas. Sendo essas punições previstas (Câmara dos Deputados, 2022) • advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas; • multa diária, considerando-se o faturamento total da empresa; • suspensão do site por prazo determinado. Em um site acessível o conteúdo pode ser usado pelas pessoas com deficiências, através de uma variedade de dispositivos e tecnologias assistivas que conseguem interagir com os sistemas digitais. Por exemplo, pessoas com deficiência visual podem usar leitores de tela para ouvir o conteúdo de sites, e pessoas com deficiência auditiva podem usar legendas ou transcrição para assistir a vídeos. Efetivamente, nos ambientes virtuais existem muitas estratégias e recursos que devem ser utilizados para tornar o conteúdo acessível, os padrões como: textos alternativos para imagens e outros conteúdos visuais; legendas e transcrição de vídeos; cuidado com o tamanho da fonte e contraste; aplicação de layout claro e intuitivo. Esses padrões possibilitam a cobertura de um grande público com diversidade sensorial e física, que certamente vão usufruir de conteúdos com essas características. A acessibilidade na web é uma questão de direitos humanos. Todas as pessoas têm o direito de acessar e usar informações e recursos online, independentemente de suas deficiências. Ao tornar os sites acessíveis, a sociedade avança em uma etapa fundamental na garantia de que todos tenham a oportunidade de participar da sociedade digital. Nesse ponto, inúmeras iniciativas públicas e privadas, bem como fundações, institutos e organizações, estão constantemente comprometidas com o tema. Como referência, apontamos o World Wide Web (W3C), que pode ser considerado a fonte mais reconhecida, com vasta documentação e atuação. A W3C (2011) “é um consórcio internacional no qual organizações filiadas, uma equipe em tempo integral e o público trabalham juntos para desenvolver padrões para a Web”, as diretrizes de acessibilidade da W3C serão detalhadas no capítulo 6. A Web Accessibility in Mind (WebAIM) é uma organização sem fins lucrativos com intensa atuação no mercado com certificações e avaliação de sites com o objetivo de tornar a web mais acessível, e no Brasil, o Movimento Web para Todos (MWPT), quer tornar a web mais 25 acessível para todos, foi fundada em 2017 e promove ações de conscientização sobre acessibilidade na web e tenta contribuir com os desenvolvedores, no capítulo 5 seus parâmetros serão definidos com mais detalhes. 26 3 ACESSIBILIDADE NOS SITES DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO Nas instituições de ensino no Brasil a acessibilidade digital para a educação é uma questão de direitos humanos e deve ser priorizada. Todas as pessoas têm o direito de ter acesso à educação, independentemente de suas deficiências ou condições sociais. Segundo Corrêa, Taniguti e Ferreira (2021, p.11) As fronteiras da educação digital trazem oportunidades e desafios, entre os quais o Instituto Rodrigo Mendes enfatiza a necessidade de se consolidar formatos de aprendizagem inclusivos, que contemplem a diversidade humana. Se desigualdades educacionais estão presentes em nossa realidade escolar, as tecnologias não devem acentuá-las, e sim servir para a construção de metodologias que singularizem a aprendizagem e possam reduzi-las. Os principais benefícios da acessibilidade digital na educação reconhecidos são a melhora no desempenho acadêmico de estudantes com deficiência, redução da evasão escolar, aumento da participação de estudantes na sociedade e criação de um ambiente de aprendizagem mais inclusivo e acolhedor. O conteúdo disponibilizado na web para a educação é extremamente significativo na nossa sociedade digital. As plataformas podem fornecer aos estudantes acesso a uma variedade de recursos educacionais que não estariam facilmente disponíveis em meio analógico. Esses recursos possuem algumas características que se destacam e merecem ser mencionadas, como: • a existência de grande acervo on-line: e-books, periódicos, vídeos e simulações estão disponíveis na rede sem barreiras geográficas; • a personalização do ambiente web: o conteúdo pode ser modelado para atender às necessidades individuais dos estudantes. Isso significa que podem aprender no seu próprio ritmo e estilo; • Flexibilidade de tempo e espaço: o conteúdo web pode ser acessado de qualquer lugar com acesso à internet. Isso permite que os estudantes aprendam em casa, no trabalho em diferentes momentos, que seja mais conveniente, independente do horário. 27 Segundo Corrêa, Taniguti e Ferreira (2021, p.24), “[...] As tecnologias podem, portanto, contribuir para a construção de ambientes escolares mais diversos, em que as condições arquitetônicas, pedagógicas, tecnológicas, metodológicas e comunicacionais não sejam fatores de exclusão”. Alinhado com esse contexto digital da educação, é necessário considerar se a acessibilidade digital nos sites, nos portais e nas plataformas das instituições educacionais no Brasil, com objetivo de garantir que todos os estudantes, independentemente de suas condições, possam ter acesso aos conteúdos disponibilizados nos meios digitais, para um melhor aproveitamento e desempenho acadêmico, com a finalidade da promoção da inclusão social e a ampliação da igualdade de oportunidades para todas as pessoas incluindo as pessoas com deficiências. Como referência, um site acessível que considere os PcDs, não beneficia apenas esse público. Na verdade, um site acessível, atende necessidades de diversas situações do cotidiano, beneficiando na verdade todas as pessoas. Situações como acessar um aplicativo em ambientes abertos sobre a forte luz do sol, ou ainda navegar em uma página web no celular com apenas uma mão por estar segurando uma xícara de café. Esses exemplos de situações, em que se pode perceber a diferença de um conteúdo pensado com acessibilidade para outro sem acessibilidade. O uso de fontes e cores contrastantes vai ser determinante na jornada de pessoas com alguma deficiência visual que tenha dificuldade com baixo contraste, tanto quanto para quem está usando o dispositivo no sol ou no escuro. Fornecer conteúdo em formato acessível, com texto alternativo para imagens, closed caption, um leitor simples e intuitivo para navegação, não corresponde apenas a aderência com as tecnologias assistivas. De fato, faz com que as instituições de ensino se enquadrem na legislação aplicada, e cumpra com o seu papel social, na perspectiva de romper barreiras de acessibilidade digital, garantindo que todos os estudantes tenham a oportunidade de aprender e se desenvolver com igualdade de oportunidades. Essa ação, melhora a reputação da instituição de ensino, aumenta o número de estudantes matriculados, pode atrair mais financiamento de agências de pesquisa, e amplia e facilita o contato com a comunidade. 28 No relatório das Tecnologias Digitais Aplicadas segundo Corrêa, Taniguti e Ferreira (2021, p.40) A adoção de tecnologias digitais pode melhorar a qualidade da educação, promover e impulsionar o desempenho escolar de todos os estudantes. Aproveitar esse potencial requer liderança política, planejamento e ação - principalmente com foco no investimento em infraestrutura, na adequação curricular, nas condições de trabalho e no desenvolvimento profissional dos educadores. Em suma, a acessibilidade nos sites para educação no Brasil é chave para uma sociedade com mais oportunidades de desenvolvimentos sociais e científicos. Algumas referências acerca da acessibilidade em sites educacionais no Brasil, revelam que as atuais condições ainda são problemáticas. Uma razão é que os desenvolvedores não estão familiarizados com as diretrizes de acessibilidade, e, outra razão apontada constantemente, é o custo de um site acessível. Por fim, muitas instituições de ensino simplesmente acabam descuidando-se da acessibilidade em seus canais digitais. De certa forma, esse retrato nos portais de instituições de ensino não deixa de ser um reflexo da acessibilidade web dos sites em geral. Como citado no resumo, foi realizado estudo em sites brasileiros ativos em 2022, a BigDataCorp e o Movimento Web para todos apoiados pela W3C, constataram que menos de 1% dos sites verificados foram aprovados em todos os testes realizados. Nessa análise, a preocupação que ressaltamos, é que segundo essas pesquisas, percebemos que as condições de acessibilidade em sites educacionais são graves. Ainda considerando o contexto jurídico, cabe apontar que essa atual condição de falta de acessibilidade web, infelizmente é um reflexo de dez anos de atraso no efetivo cumprimento da lei. Frente a essa necessidade posta, a realização de um estudo para refinar uma proposta de solução com uma tecnologia que contribua para a acessibilidade digital emerge de modo natural e emergencial. 29 4 O QUE É UM CONTENT MANAGEMENT SYSTEM (CMS) O Content Management System (CMS) é uma plataforma de software que permite a criação, edição, organização e publicação de conteúdo digital. Os CMSs são normalmente usados para Gerenciamento de Conteúdo Empresarial (ECM) e Gerenciamento de Conteúdo da Web (WCM). Um ECM facilita a colaboração no local de trabalho, integrando a gestão de documentos, a gestão de informações digitais e a retenção de registros. Por outro lado, um WCM facilita a criação colaborativa de documentos e outras informações baseadas na web. Sem dúvidas, esses sistemas são usados em diversos contextos, aonde o meio digital, é o ambiente de produção, armazenagem e gestão de conteúdo. Isso inclui instituições de ensino públicas e privadas, escolas e universidades, fundações, museus e centros de pesquisa. Os CMSs funcionam permitindo que os usuários, mesmo aqueles sem conhecimento técnico, criem, editem e gerenciem conteúdo de sites. Eles fazem isso fornecendo uma interface de usuário gráfica onde os usuários podem trabalhar com elementos de conteúdo sem precisar escrever código. Além disso, muitos CMSs incluem ferramentas para gerenciar o fluxo de trabalho, o que significa que várias pessoas podem colaborar no mesmo conteúdo. As vantagens desse tipo de aplicação é o trabalho colaborativo, permitindo que os usuários gerenciem e atualizem o conteúdo de seus sites, compartilhando e dividindo seções e temas das páginas com mais de um usuário, com diferentes graus de permissão administrativa, tudo isso sem a necessidade de conhecimento técnico. Isso pode economizar tempo e recursos, pois não é necessário contratar um desenvolvedor para fazer alterações a nível de código. De fato, muitos CMSs são altamente personalizáveis, permitindo que os usuários criem sites que atendam às suas necessidades específicas, incluindo ferramentas mais avançadas como Search Engine Optimization (SEO) integrado, análise de site e integração de mídia social. Existem vários CMSs que são amplamente utilizados na educação. Alguns dos mais populares incluem WordPress (2003), Joomla (2005) e Drupal Brasil (2000). Esses sistemas são usados para criar sites de escolas e universidades, bem como para gerenciar conteúdo de cursos online. Eles permitem que os educadores publiquem e atualizem facilmente o conteúdo do curso, e muitos incluem recursos como fóruns de discussão e ferramentas de avaliação. Em relação a acessibilidade, não é que os CMS não possuam nenhuma acessibilidade. Na verdade, os CMS mais utilizados podem ser utilizados para construir sites acessíveis. No 30 entanto, isso vai depender da configuração aplicada nos CMS, utilização de bibliotecas de plugins, customização de templates e um estudo prévio, que extrapola o objetivo inicial de baixo conhecimento técnico e facilidade de uso, proposto inicialmente por esse tipo de sistema. Mais uma vez, as barreiras inerentes ao conhecimento do tema acessibilidade web, seus requisitos técnicos e o conhecimento da compatibilidade com as tecnologias assistivas aparece como impeditivos a uma web mais acessível. Qualquer manual ou tutorial que possa ser consultado sobre os CMS, vai discorrer que escolher o um CMS adequado é crucial para o sucesso de um projeto de website, pois uma plataforma de gerenciamento de conteúdo eficiente e adequada às necessidades de seu negócio garantirá que seu site funcione de forma eficaz e possa ser atualizado e expandido com facilidade. Um bom CMS deve ser fácil de usar, flexível, escalável e altamente personalizável, para poder adaptar-se a muitas situações e necessidades variadas. Também deve ser seguro e oferecer suporte ao cliente, para garantir que seu site permaneça protegido e funcione da melhor maneira possível. Levando em conta essas características, fica claro que as necessidades específicas de cada setor, comercial, público, empresarial, saúde e educacional, devem considerar o tamanho e a complexidade de seus sites, e o nível de habilidade e conhecimento técnico das pessoas que vão gerenciar o conteúdo na escolha das ferramentas utilizadas. Um sistema que seja fácil de aprender e que ofereça uma interface intuitiva para criação e gerenciamento de conteúdo vai apresentar maior facilidade de uso, enquanto aspectos relacionados a personalização, permite ajustes a níveo do design e a funcionalidades do site para atender às necessidades específicas. Tudo isso, sem esquecer da escalabilidade que permita dimensionar a aplicação de acordo com o crescimento da demanda e a compatibilidade com navegadores, sistemas operacionais e tecnologias assistivas. Esse tipo de solução para gerenciamento e publicação de conteúdo on-line, pode trabalhar de forma auto hospedada ou hospedada. Um CMS auto hospedado é aquele que você instala e gerencia em seu próprio servidor ou em um ambiente de hospedagem de terceiros. Este tipo de solução oferece um controle total e flexibilidade para personalizar e gerenciar seu site como desejado, mas também pode exigir mais habilidades técnicas e esforços de manutenção por parte do gerenciador ou administrador. 31 Por outro lado, um CMS hospedado é um serviço baseado na nuvem que fornece uma solução completa de gerenciamento de conteúdo, incluindo hospedagem e manutenção. Essas soluções, muitas vezes, são acompanhadas de preços mensais ou anuais e fornecem uma experiência "tudo em um" que pode ser mais simples de gerenciar para organizações com recursos limitados ou equipes sem especialistas técnicos internos. Além disso, os CMSs hospedados costumam oferecer suporte ao cliente e garantias de tempo de atividade, o que pode aumentar a tranquilidade em relação à estabilidade e desempenho do site. Mesmo que a atividade fim dos CMS seja facilitar ao máximo o gerenciamento e publicação de conteúdo digital na web, percebe-se que em relação aos aspectos de acessibilidade ainda existe uma necessidade de um conhecimento mais avançado da parte do usuário, para aplicar de forma efetiva os princípios de acessibilidade, que devido à grande personalização e flexibilidade desses sistemas, não é factível apenas com o seu uso, garantir que os pontos relacionados a acessibilidade sejam requisitos obrigatórios e aplicados de forma correta na publicação dos conteúdos. 32 5 MÉTRICAS DE ACESSIBILIDADE WEB E TESTES DE ACESSIBILIDADE A fim de estabelecer os critérios utilizados para analisar e mensurar a acessibilidade de um sistema ou plataforma web, é preciso aclarar e definir por qual método e técnica esses critérios serão aplicados. O teste de qualidade de software executado pelo profissional analista de qualidade também conhecido como Quality Assurance (QA), trata-se de um processo sistemático de encontrar erros e falhas em um software antes de ele ser lançado para os usuários. Os testadores de qualidade usam uma variedade de técnicas para encontrar erros, incluindo execução de casos de teste, análise de código e simulação de uso do usuário. A execução do QA em testes de qualidade é importante para garantir que o software seja livre de erros e que atenda às necessidades dos usuários. Os erros em software podem causar uma série de problemas, incluindo perda de dados, desempenho lento e falha do sistema. Essa etapa no desenvolvimento de produto também pode ajudar a identificar possíveis riscos de segurança, sendo uma parte importante no desenvolvimento de software, e ajuda na garantia de alta qualidade e confiabilidade. Alguns dos benefícios do teste de qualidade são: encontrar e corrigir erros antes que eles cheguem aos usuários; garantir que o software atenda aos requisitos dos usuários; melhorar a qualidade e a confiabilidade do software; reduzir o custo de desenvolvimento e manutenção de software e aumentar a satisfação dos usuários. No escopo da engenharia de software os processos de testes são etapas bem definidas e fundamentais para um projeto seguro e eficaz como demostrado no capítulo 8 do livro Engenharia de software Moderno, ainda no trabalho “Testes funcionais aplicados ao desenvolvimento de softwares com ênfase na garantia da qualidade” confirma-se que as etapas e padrões de testes da engenharia de software são complementares no aspecto de validação do código e validação com usuário real do produto. O teste de qualidade pode ser realizado em várias fases do desenvolvimento de software, incluindo: • Teste unitário: testes de unidades individuais de código, etapa onde é testado a menor unidade possível do código para verificar sua validade; 33 • Teste de integração: testes de como diferentes unidades de código interagem umas com as outras, considerando o consumo e a exibição do conteúdo no fluxo que envolve o back-end e front-end; • Teste de sistema: testes de como todo o sistema funciona, considerando o uso real da aplicação em jornadas completas e funcionais; • Teste de aceitação: testes realizados pelos usuários para garantir que o software atenda às suas necessidades. Os analistas de qualidade usam uma variedade de técnicas para encontrar erros, incluindo: • Executar casos de teste: casos de teste são um conjunto de instruções passo a passo que descrevem como testar o software, incluindo componentes, funções e comportamento esperado; • Análise de código: análise de código para encontrar erros de programação; • Simulação de uso do usuário: simulação de como os usuários usarão o software para encontrar erros de usabilidade, considerando compreensão das jornadas, interação com as funções e componentes do aplicativo e esforço geral para realização da atividade que o software se propõe. Esse processo, também se aplica em produtos web, principalmente considerando a experiência do usuário e a interação da plataforma web com os sistemas mais utilizados. Um seguimento dentro dos testes de qualidade, são os testes de acessibilidade. Realizados de forma manual ou automatizada, esses testes compreendem as condições de acessibilidade do produto, considerando a interação com pessoas com deficiências permanentes ou momentâneas, situações atípicas, idosos, compatibilidade com tecnologias assistivas e máxima acessibilidade para todos. Em sites da web, esses testes são realizados por meio de validadores automáticos, que escaneiam o código da página, procurando defeitos de programação. Também são realizados testes manuais, que seguem um roteiro de testes pré-definidos, que consideram o comportamento do site, e por fim, testes de compatibilidade com tecnologias assistivas, por exemplo, como softwares leitores de telas e ampliadores de telas interagem com a página web. 34 Todos esses processos visam garantir a acessibilidade web, localizando barreiras, e corrigindo defeitos, que poderiam impedir a utilização dos conteúdos pelo público-alvo. A seguir, o detalhamento de cada tipo de teste de acessibilidade: • Avaliação manual: Esta é a técnica mais básica de teste de acessibilidade. Ela envolve verificar o site manualmente para identificar quaisquer barreiras que possam impedir que as pessoas com deficiência acessem e usem o site; • Uso de ferramentas de teste: Existem uma variedade de ferramentas de teste de acessibilidade disponíveis que podem ajudar a identificar barreiras que podem ser difíceis de identificar manualmente. Essas ferramentas podem ser usadas para verificar o site por uma variedade de problemas de acessibilidade, incluindo problemas com contraste, legendas, código HTML (Linguagem de Marcação de HiperTexto) e muito mais; • Uso de usuários com deficiência e tecnologia assistiva: Uma das melhores maneiras de avaliar a acessibilidade de um site é contar com usuários com deficiência para testá-lo com as tecnologias assistivas. Os usuários com deficiência podem fornecer feedback valioso sobre as barreiras que encontram ao acessar e usar o site. Das duas principais técnicas de testes de acessibilidade, manual e automatizado, vale o esforço para detalhar a abordagem de cada uma, para inferir, que as duas são complementares e conclusivas. O teste de acessibilidade manual é realizado por um usuário que navega pelo site e procura por quaisquer barreiras de acessibilidade. O usuário pode usar uma variedade de métodos para realizar o teste, incluindo: • Ler o conteúdo do site para garantir que ele esteja escrito de forma clara e concisa; • Verificar o contraste entre o texto e o fundo para garantir que seja fácil de ler; • Usar um teclado para navegar pelo site para garantir que ele seja acessível por teclado; • Usar um leitor de tela para navegar pelo site para garantir que ele seja acessível para pessoas com deficiência visual. 35 O teste de acessibilidade automatizado é realizado por uma ferramenta que verifica o site em busca de quaisquer barreiras de acessibilidade a nível de código. As ferramentas de teste de acessibilidade podem identificar uma variedade de problemas de acessibilidade, incluindo: falta de texto alternativo para imagens; links não textuais; formulários não acessíveis; falta de legendas para vídeos e falta de navegação alternativa. O teste de acessibilidade manual e automatizado são ambos importantes para garantir que um site seja acessível a todos os usuários. O teste de acessibilidade manual pode identificar problemas que as ferramentas de teste de acessibilidade podem não identificar, e o teste de acessibilidade automatizado pode identificar problemas que podem ser difíceis de identificar manualmente. Na concepção dos testes de acessibilidade as execuções tanto manuais quanto automatizadas consideram como base os critérios de sucesso da WCAG. Ao combinar o teste de acessibilidade manual e automatizado, conseguimos ampliar de forma expressiva a cobertura dos testes, para garantir que os sites sejam realmente acessíveis a todos os usuários. Dessa forma, podemos dar um grande passo na direção da acessibilidade digital e de conteúdo. 5.1. Protocolo resumido de teste de acessibilidade A definição de um protocolo é fundamental para execução dos testes pois garante a reprodutividade das etapas e atividades desenvolvidas em todos os momentos e versões de diferentes produtos. A rastreabilidade dos testes de qualidade depende dos registros sistemáticos que permitem a diferentes profissionais de testes executarem o mesmo procedimento para aferir os resultados durante ou após o desenvolvimento do software, essa sistemática faz parte da metodologia de testes de qualidade que cria diferentes casos de testes fundamentados em um mesmo roteiro de procedimentos, o que garante consistência e segurança nos testes. Esse protocolo foi utilizado para guiar os testes de acessibilidade das homes avaliadas na pesquisa. 36 Proposta de um procedimento sistemático para realizar testes de acessibilidade: • Utilize a metodologia de teste em dupla: Amplamente conhecida, submeter um sistema em dupla checagem por especialistas, aumenta a eficácia, reduzindo os vícios, o que mitiga os defeitos gerando mais qualidade; • Utilize diversidade na dupla, um especialista visual e um especialista não visual. Essa estratégia amplia a cobertura de testes, considerando as características e necessidades distintas dos usuários para realizar a mesma ação em comum; • Estabeleça um roteiro de casos de testes padrão: A escrita de casos de testes seguindo um roteiro padrão documenta os itens testados e possibilita que os testes sejam replicados se necessário, garantindo a rastreabilidade do processo de qualidade. Exemplo no Apêndice A p. 76; • Verificar compatibilidade com tecnologia assistiva. Dada a robustez é indicado o uso de softwares leitores de tela, aproximando os testes mais da realidade dos usuários; • Realize testes automatizados com validadores confiáveis para agilizar a varredura do código: Não substitui os testes manuais pelos automatizados, dos validadores conhecidos, ainda temos uma cobertura de testes muito baixa em relação aos critérios de acessibilidade, que são predominantemente focados na percepção do resultado da interação homem máquina, e não podem ser medidos apenas a nível de código, os validados automáticos devem ser usados para apoiar os desenvolvedores e agilizar a localização de defeitos simples no código HTML; • Defina uma ferramenta de registro dos defeitos com os dados pertinentes para localização do defeito, descrição do defeito, comportamento esperado e evidência para compreensão. Como exemplo no Apêndice B p. 77; • Após correção sempre repita os testes. Esse protocolo resumido, estabelece um fluxo simples e estruturado, para a aplicação de testes de acessibilidade, visando uma transformação nos conteúdos digitais na web, para ampliar a própria condição de acessibilidade para os usuários. O protocolo não tem objetivo de elencar ferramentas específicas ou novas métricas, mas propor um roteiro composto por etapas e que 37 possam ser replicadas em diferentes cenários em diversas demandas sempre considerando como referência os critérios da WCAG. 38 6 O QUE É A WEB CONTENT ACCESSIBILITY GUIDELINES (WCAG) A sigla WCAG significa Web Content Accessibility Guidelines (Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo da Web). São um conjunto de diretrizes desenvolvido pelo W3C para tornar o conteúdo da web mais acessível a pessoas com deficiência. De acordo com consórcio W3C (2014) as diretrizes de acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) 2.0 abrangem diversas recomendações com a finalidade de tornar o conteúdo da Web mais acessível. Seguir estas diretrizes irá tornar o conteúdo acessível a um maior número de pessoas com deficiência, incluindo cegueira e baixa visão, surdez e baixa audição, dificuldades de aprendizagem, limitações cognitivas, limitações de movimentos, incapacidade de fala, fotossensibilidade e combinações destas características. Seu conteúdo da Web também ficará mais acessível aos usuários em geral ao seguir estas diretrizes. As diretrizes WCAG são baseadas em quatro princípios fundamentais: • Percepção: o conteúdo da web deve ser perceptível para todos os usuários, incluindo aqueles com deficiência visual, auditiva ou cognitiva; • Operabilidade: o conteúdo da web deve ser operacional para todos os usuários, incluindo aqueles com deficiência física ou motora; • Entendimento: o conteúdo da web deve ser compreensível para todos os usuários, incluindo aqueles com deficiência de linguagem; • Robustez: o conteúdo da web deve ser robusto para todos os usuários, incluindo aqueles que usam diferentes dispositivos e software. As diretrizes WCAG são divididas em três níveis de conformidade: A, AA (duplo a) e AAA (triplo a). O nível A é o nível mais baixo de conformidade e o nível AAA é o nível mais alto de conformidade. O cumprimento das diretrizes WCAG pode proporcionar uma série de benefícios para os sites, incluindo: maior acessibilidade para pessoas com deficiência; melhor usabilidade para todos os usuários; maior conformidade com as leis e regulamentos e melhor reputação da marca. 39 Para um proprietário de um site, é importante estar ciente das diretrizes WCAG e tomar medidas para cumprir essas diretrizes. Ao cumprir as diretrizes ajuda-se a garantir que o site seja acessível a todos os usuários, independentemente de suas deficiências. Há uma série de critérios do WCAG que não podem ser testados automaticamente e precisam usar um especialista. Estes incluem: • Critérios que exigem julgamento humano: Alguns critérios do WCAG exigem julgamento humano para serem avaliados. O critério 1.3.1, Informações e Relações [A], Perceptível e Adaptável. A organização estrutural de uma tela deve ser construída de forma que sua arquitetura de informação faça sentido tanto para quem vê, quanto para quem ouve o conteúdo. Apresentar a funcionalidade de forma que seja mais fácil de entendimento e uso, mesmo que o usuário não possa ver o conteúdo de tela ou esteja usando um leitor de tela", requer que um especialista avalie se a funcionalidade do site é fácil de entendimento e uso por pessoas com deficiência visual; • Critérios que exigem conhecimento de deficiências específicas: o critério 1.1.1, Conteúdo não textual [A], Perceptível. Qualquer conteúdo "não textual" e relevante para compreensão da informação, deve trazer uma descrição alternativa em texto (visível ou não) para identificar o conteúdo. Requer que um especialista analise o contexto com significado da descrição fornecida para validar o entendimento. Nesse ponto vale destacar a efetividade e fragilidade dos validadores automáticos em comparativo a análise humana. E relação ao código HTML se o campo de texto alternativo estiver preenchido com qualquer conteúdo os validadores automáticos vão considerar como verdadeiro, mas o conteúdo pode não ser necessariamente correto ou significativo para o usuário. Já a validação humana tem a capacidade observar o conteúdo contido no campo de texto alternativo, e relacionar o conteúdo com o contexto, analisando se ele faz sentido e é significativo para o entendimento do conteúdo. 40 Demonstração: Imagem 1 - Caneca de vidro transparente com café e leite Fonte: Elaboração própria. Exemplo de código com texto alternativo Resultado do validador automático Resultado de análise humana imagem Verdadeiro Falso Fotografia 

colorida: Em uma bancada de granito 

uma caneca de vidro transparente com 

café e leite. Verdadeiro Verdadeiro • Critérios que exigem interação com o usuário: critério 1.3.2, Sequência com significado [A], Perceptível e Adaptável. Seja qual for o método de interação, a apresentação das informações na tela sempre deverá ter uma sequência lógica.; critério 2.4.2, Página com título [A], Operável e Navegável. Todas as telas devem ter um título principal e que descreva claramente a sua finalidade; critério 2.4.4, Finalidade do link (em contexto) [A], Operável e Navegável. A finalidade de um link deve ser determinada a partir do texto do próprio link ou a partir do contexto no entorno deste link. A interação com o conteúdo executada pelo indivíduo, com ou sem o uso de tecnologias assistivas, faz parte de um processo cognitivo observado na experiência do usuário, que é fundamentalmente dirigida pela relação homem máquina, que ainda depende dos aspectos 41 humanos para ser mensurada. Lógica, emoções, satisfação e facilidade de uso, são dimensões próprias do indivíduo que não podem ser substituídas. Saber que a ordem do conteúdo faz sentido, se o nome do link tem significado ou se os títulos das páginas têm relação e sentido, até o momento é uma habilidade humana. Para garantir que o site esteja em conformidade com as diretrizes WCAG, é importante consultar um especialista em acessibilidade que pode avaliar o site para deficiências e determinar se ele está em conformidade com as diretrizes. Nesse universo explicitado sobre a relação da Acessibilidade web, considerando as diretrizes e as tecnologias que são utilizadas na construção desse espaço virtual, que verdadeiramente tenha o objetivo de atender as necessidades reais do usuário, rompendo as barreiras de acessibilidade digital, cabe buscar a compreensão do resultado atual desses produtos, investigando um processo prático, que altere o objeto observado de forma significativa para o usuário, gerando mudanças transformadoras na experiência da Acessibilidade web. Na condução desse propósito, emprega-se a metodologia da pesquisa-ação que será conceituada no próximo capítulo, dado as suas características e aplicação metodológica. 42 7 METODOLOGIA: A PESQUISA-AÇÃO APLICADA A ACESSIBILIDADE WEB 7.1 Conceito e Definição da Pesquisa-Ação A pesquisa-ação é uma abordagem metodológica que combina a pesquisa acadêmica com a ação prática, visando resolver problemas reais e promover mudanças significativas na sociedade. Por sua natureza participativa diferencia-se das outras metodologias de pesquisa, dessa maneira os participantes estão engajados na busca por soluções. Segundo Thiollent (1986, p.14) Entre as diversas definições possíveis, daremos a seguinte: a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. E ainda segundo Thiollent (1986, p.15) Uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Além disso, é preciso que a ação seja uma ação não-trivial, o que quer dizer uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzida. Nesse contexto, a Acessibilidade web torna-se um campo crucial para aplicação da pesquisa-ação, pois envolve a melhoria do acesso e uso de conteúdo on-line por pessoas com deficiência. Ainda de acordo com a pesquisa realizada por Santos e Vasconcelos (2019), os autores argumentam que a pesquisa-ação é uma metodologia adequada para investigar problemas complexos como a acessibilidade web, pois permite a participação dos envolvidos e a construção conjunta de soluções. Essa abordagem permite que os pesquisadores trabalhem em estreita colaboração com os usuários reais, identificando suas necessidades e desafios específicos no contexto digital. Ao integrar a teoria à prática, a pesquisa-ação busca não apenas compreender as questões de acessibilidade web, mas também implementar soluções concretas que melhorem a experiência online para todos os usuários. 43 Um dos principais aspectos da pesquisa-ação em Acessibilidade web é o seu caráter participativo e inclusivo. Ao envolver ativamente as pessoas com deficiência no processo de pesquisa e desenvolvimento, essa abordagem garante que as soluções propostas sejam verdadeiramente centradas no usuário e reflitam as necessidades reais da comunidade. Além disso, a pesquisa-ação em acessibilidade web também enfatiza a importância da avaliação contínua e do feedback iterativo. Ao testar regularmente as soluções propostas com os usuários finais e ajustá-las conforme necessário, os pesquisadores podem garantir que estão realmente fazendo progresso na promoção da acessibilidade digital de forma eficaz. Costa e Gomes (2022) comprovam a efetividade da pesquisa-ação participativa na identificação e resolução de barreiras à Acessibilidade web em ambientes de ensino superior, promovendo a inclusão digital de alunos com deficiência. Em consonância com esses trabalhos, segundo Oliveria e Freire (2021, p.115) “[...] O estudo demonstra que a aplicação da metodologia da pesquisa-ação contribuiu para a implementação de medidas eficazes para a melhoria da acessibilidade web da biblioteca digital, tornando-a mais inclusiva para pessoas com deficiência”. Em resumo, a pesquisa-ação em acessibilidade web representa uma abordagem dinâmica e colaborativa para melhorar o acesso online para todos os usuários, especialmente aqueles com deficiência. Ao integrar teoria e prática, essa metodologia visa não apenas entender os desafios de acessibilidade web, mas também implementar soluções tangíveis que tenham impacto real na vida dos usuários. Uma das principais vantagens da pesquisa-ação em acessibilidade web é a sua natureza participativa e colaborativa. Ao envolver ativamente as pessoas com deficiência no processo de pesquisa e desenvolvimento, os pesquisadores podem garantir que as soluções propostas sejam verdadeiramente centradas no usuário e atendam às necessidades específicas da comunidade. Além disso, a pesquisa-ação em acessibilidade web enfatiza a importância da avaliação contínua e do feedback iterativo. Ao testar regularmente as soluções com os usuários reais e ajustá-las conforme necessário, os pesquisadores podem garantir que estão progredindo de forma eficaz na promoção da acessibilidade digital. Esse processo ocorre independente do setor, seja público ou privado, a experiência do usuário é valorosa para os resultados. 44 Outro aspecto relevante é o impacto social positivo gerado pela pesquisa-ação em Acessibilidade web. Ao melhorar o acesso online para pessoas com deficiência, essa abordagem contribui para uma sociedade mais inclusiva e equitativa, onde todos os indivíduos têm igualdade de oportunidades no ambiente digital. Em suma, a pesquisa-ação em acessibilidade web não só visa compreender e resolver problemas reais de acessibilidade online, mas também busca promover mudanças significativas na sociedade, tornando a internet um espaço mais acessível e inclusivo para todos os usuários. 7.2 Etapas da Aplicação da Pesquisa-Ação em Estudos de Acessibilidade Web A aplicação da pesquisa-ação em estudos de acessibilidade web envolve diversas etapas fundamentais que contribuem para a eficácia e relevância do processo. Essas etapas são essenciais para garantir que as soluções propostas atendam às necessidades reais dos usuários com deficiência e promovam uma experiência online inclusiva e acessível. Uma das primeiras etapas é a identificação dos problemas de acessibilidade existentes nos sites ou plataformas digitais em questão. Isso requer uma análise detalhada das barreiras enfrentadas pelos usuários com deficiência ao navegar na web, como falta de descrições alternativas para imagens, ausência de contraste adequado ou dificuldades de navegação. Após a identificação dos problemas, segue-se a fase de planejamento e implementação de soluções. Nesta etapa, os pesquisadores trabalham em colaboração com especialistas em acessibilidade e pessoas com deficiência para desenvolver estratégias eficazes que abordem as questões levantadas. Isso pode envolver a criação de diretrizes claras de design acessível, o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas específicas ou a realização de testes com usuários reais para validar as soluções propostas. Outra etapa crucial é a avaliação e monitoramento contínuo do impacto das intervenções realizadas. Os pesquisadores devem acompanhar o desempenho das soluções implementadas, coletar dados das alterações e realizar ajustes conforme necessário. Esse ciclo iterativo de avaliação garante que as melhorias feitas estejam alinhadas com as necessidades reais dos usuários e resultem em uma experiência digital mais inclusiva e acessível. 45 Em resumo, as etapas da aplicação da pesquisa-ação em estudos de acessibilidade web são essenciais para garantir que as intervenções realizadas sejam eficazes, centradas no usuário e capazes de promover mudanças significativas na promoção da inclusão digital. 46 8 METÓDOS E ANÁLISE DE DADOS Nesse capítulo foram analisadas as atuais condições de acessibilidade das homes das Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil. Com o objetivo de desenvolver uma solução prática e efetiva, e que garanta um resultado de máxima acessibilidade nos sites sem considerar as barreiras de conhecimento especializado na área de desenvolvimento web e compatibilidade das plataformas com as tecnologias assistivas atuais. Utilizou-se de trinta homes das melhores universidades brasileiras segundo UFJF notícias (2023), que mostram os dados do Center for World University Rankings (CWUR) de 2023 para o Ranking de melhores Universidades Brasileiras. Além do Ranking o critério aplicado para validação da amostra foi a publicidade da página, ou seja, o conteúdo estar disponível publicamente sem necessidade de login ou cadastro prévio e a compatibilidade com o validador AccessMonitor 2.1 para a varredura do código HTML e inferência dos possíveis bugs de acessibilidade. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Fundação Getúlio Vagas (FGV), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal de Goiás (UFG) apesar de suas posições no ranking não foram avaliadas pois suas páginas apresentaram bloqueio ao validador automático. Dessa forma para manter o total de trinta homes avaliadas seguiu-se a sequência na listagem dos rankings das melhores Universidades do Brasil. Apresentam-se, a seguir no quadro 1, a relação das instituições de ensino superior selecionadas para a amostragem: 47 Quadro 1 – Ranking das Melhores Universidades Brasileiras de acordo com (CWUR). Posição Universidades Siglas 1 Universidade de São Paulo USP 2 Universidade Estadual de Campinas Unicamp 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ 4 Universidade Estadual Paulista Unesp 5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS 6 Universidade Federal de Minas Gerais UFMG 7 Universidade Federal de São Paulo Unifesp 8 Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ 9 Fundação Oswaldo Cruz Fiocruz 10 Universidade Federal de Santa Catarina UFSC 11 Universidade Federal do Paraná UFPR 12 Universidade de Brasília UnB 13 Fundação Getúlio Vargas FGV 14 Universidade Federal de Pernambuco UFPE 15 Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas CBPF 16 Universidade Federal de Viçosa UFV 17 Universidade Federal do Ceará UFC 18 Universidade Federal de São Carlos UFSCar 19 Universidade Federal de Pelotas UFPel 20 Universidade Federal Fluminense UFF 21 Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN 22 Universidade Federal do ABC UFABC 23 Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF 24 Universidade Federal da Bahia UFBA 25 Universidade Federal de Santa Maria UFSM 26 Universidade Federal de Goiás UFG 27 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS 28 Universidade Federal da Paraíba UFPB 29 Universidade Federal do Pará UFPA 30 Universidade Federal do Espírito Santo UFES 31 Universidade Federal de São João Del Rei UFSJ 32 Universidade Federal de Uberlândia UFU 33 Universidade Federal de Lavras UFLA 34 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE 35 Universidade Estadual de Maringá UEM Fonte: Elaboração própria. 48 O quadro 2, mostra a Uniform Resource Locator (URL) utilizadas das universidades para as validações: Quadro 2 – Universidades e URL Posição Siglas URL 1 USP https://www.usp.br 2 Unicamp https://www.unicamp.br 3 UFRJ https://ufrj.br 4 Unesp https://www.unesp.br 6 UFMG https://ufmg.br 7 Unifesp https://www.unifesp.br 9 Fiocruz https://portal.fiocruz.br 10 UFSC https://ufsc.br 11 UFPR https://ufpr.br 12 UnB https://www.unb.br 15 CBPF https://www.gov.br/cbpf 16 UFV https://www.ufv.br 17 UFC https://www.ufc.br 18 UFSCar https://www.ufscar.br 19 UFPel https://portal.ufpel.edu.br 20 UFF https://www.uff.br 21 UFRN https://www.ufrn.br 22 UFABC https://www.ufabc.edu.br 23 UFJF https://www.ufjf.br 24 UFBA https://www.ufba.br 25 UFSM https://www.ufsm.br 27 UFMS https://www.ufms.br 28 UFPB https://www.ufpb.br 29 UFPA https://www.ufpa.br 30 UFES https://www.ufes.br 31 UFSJ https://www.ufsj.edu.br 32 UFU https://ufu.br 33 UFLA https://ufla.br 34 INPE https://www.gov.br/inpe/pt-br 35 UEM http://www.uem.br Fonte: Elaboração própria. http://www.uem.br/ 49 A metodologia de teste seguiu o protocolo estabelecido no capítulo 5 - Métricas de Acessibilidade web e testes de acessibilidade. Os testes de qualidade foram definidos em duas etapas, um manual e outra automatizada. No teste automatizado foi utilizado o validador AccessMonitor 2.1 devido a suas características como fácil uso, atualização constante das normas do WCAG, idioma em português e principalmente acessibilidade com softwares leitores de tela. O AccessMonitor 2.1 apresenta um relatório simples e intuitivo separado por criticidades com o ranking de 1 até 10, sendo 1 o pior cenário e 10 o melhor nível de aderência aos critérios de acessibilidade. As validações realizadas com cada Universidade constam no Apêndice C - Validações Realizadas no AccessMonitor 2.1, p. 78. Para efeito de classificação e ranking da acessibilidade web das páginas, em complemento das notas, foi aplicada uma escala de tolerância do nível de acessibilidade encontrados. Considerando que por si só os validadores automáticos não possuem uma cobertura total nos testes e dependem muito de um complemento humano para validação dos critérios. Considera-se que a eficácia nos melhores cenários seja na ordem de 50% na assertividade da avaliação. Portanto foi inserido a seguinte escala para nortear a leitura das notas obtidas: 8,5 a 10 – aceitável, 7 a 8,5 - preocupante e abaixo de 7 - não aceitável. Vale esclarecer, que tanto o conteúdo das homes como a tecnologia utilizada para suas publicações são dinâmicas e configuráveis, podendo passar por modificações constantes a qualquer momento de acordo com as demandas e trabalho dos administradores e profissionais responsáveis pelo conteúdo e desenvolvimento. Como o validador AccessMonitor 2,1 considera as características atuais das páginas no momento da validação, processos de validação realizados em outras datas podem apresentar divergência nas notas para mais ou para menos, dependendo da situação encontrada. As validações utilizadas para análise nessa investigação, foram realizadas dos dias sete a nove de agosto de dois mil e vinte e três (07 a 09/08/2023). O Avaliador e Simulador de Acessibilidade em Sítios (ASES) mantido e gerenciado pelo Governo Federal do Brasil também é uma ferramenta de avaliação de acessibilidade web. No entanto não foi possível utilizar essa ferramenta para coleta e análise dos dados da pesquisa, dado a baixa aderência aos critérios da WCAG 2.1, causada pela falta de atualização da ferramenta 50 somado a problemas de indisponibilidade da plataforma, que impactaria a evolução e os resultados da investigação. O teste manual foi realizado por especialista em acessibilidade digital com a exploração nas homes da Universidades selecionadas utilizando o navegador Google Chrome, versão 116.0.5845.96 64 bits, e o software leitor de tela NonVisual Desktop Access (NVDA), versão 2023.3. Para análise e leitura dos defeitos nos testes foi utilizado o nível de aderência baseado no WCAG 2.1, na qual os setenta e oito critérios estão classificados nas seguintes categorias: A, AA (duplo a) e AAA (triplo a), essa é uma escala crescente que demonstra do nível mais básico de acessibilidade para o mais completo, em que todos os níveis são desejados para se atingir uma boa acessibilidade digital. No entanto, o nível A e AA (duplo a) apresentam critérios que se caso não atendidos revelam barreiras que são realmente impeditivas para um fluxo de navegação básica nas telas. O AAA (triplo a) corresponde a um nível mais avançado que por vezes é codependente da tecnologia utilizada, portando plataformas que atendam os critérios A e AA (duplo a) são consideradas e validadas pelos testes de qualidade de acessibilidade. Com o estabelecimento desses requisitos para homologação e posteriormente o levantamento dos principais defeitos recorrentes nos sites analisados, foi realizado para desenvolvimento um planejamento que configurasse características de gerenciamento e publicação de conteúdo na web, considerando no resultado da exibição do conteúdo, os critérios do WCAG 2.1 a nível A e AA (duplo a), mitigando qualquer bug impeditivo nas páginas das Universidades e outras instituições de ensino. A ferramenta deve atender os seguintes objetivos: • Gerar conteúdo de modo estruturado nas páginas, que respeite a hierarquia de navegação e a ordem dos elementos tanto visual como não visual; • Todas as imagens da página tenham descrição; • As páginas geradas devem contemplar a plena navegação por teclado, sem depender do mouse. 51 A semântica do HTML deve ser respeitada, que os elementos sejam usados para a função esperada de acordo com o componente. Um botão seja um botão, um link seja um link, um texto seja um texto, uma imagem seja uma imagem etc. As características para homologação do protótipo, também estão contidas nas diretrizes da WCAG 2.1, por se tratar de diretrizes testáveis de acessibilidade tanto para desenvolvimento quanto para publicação de conteúdo, focando na qualidade, referência internacional e padronização das métricas na pesquisa, foi mantida as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) 2.1 no W3C RECOMMENDATION (2018) 1.1.1 - Conteúdo não textual [A] Perceptível e alternativas em texto: Qualquer conteúdo "não textual" e relevante para compreensão da informação, deve trazer uma descrição alternativa em texto (visível ou não), para identificar o conteúdo. 1.3.1 - Informações e Relações [A] Perceptível e adaptável: A organização estrutural de uma tela deve ser construída de forma que sua arquitetura de informação faça sentido tanto para quem vê, quanto para quem ouve o conteúdo. 2.1.3 - Teclado (sem exceção) [AAA] Operável e Acessível por teclado: Todas as funcionalidades devem ser acionadas via teclado, sem exceção. 2.4.2 - Página com título [A] Operável e Navegável: Todas as telas devem ter um título principal e que descreva claramente a sua finalidade. 2.4.3 - Ordem do foco [A] Operável e Navegável: A interação por elementos focáveis na tela sempre deverá ser sequencial e lógica de acordo com o conteúdo apresentado. 2.4.4 - Finalidade do link (em contexto) [A] Operável e Navegável: A finalidade de um link deve ser determinada a partir do texto do próprio link ou a partir do contexto no entorno deste link. 2.4.6 - Cabeçalhos e rótulos [AA] Operável e navegável: Todos os títulos (diferentes níveis) e rótulos (campos de formulários) devem descrever claramente a finalidade dos conteúdos ou agrupamentos nos elementos da tela, sem que haja ambiguidade em seu entendimento. 2.4.10 - Cabeçalhos da seção [AAA] Operável e Navegável: Sempre que o conteúdo da tela for dividido em sessões, todas devem possuir títulos claros, com níveis de hierarquia bem definidos, facilitando a identificação das áreas. 2.5.3 - Rótulo no Nome acessível [A] Operável e Modalidade de Entrada: Rótulos em botões, ícones acionáveis ou qualquer controle interativo, devem ter uma descrição significativa tanto para quem vê, quanto para quem apenas ouve a informação. 3.1.1 - Idioma da página [A] Compreensível e Legível: Declarar adequadamente o idioma da tela faz com que leitores de telas utilizem uma entonação correta para citar os conteúdos de acordo com o idioma oficial da página. 4.1.2 - Nome, função, valor [A] Robusto e Compatível: Toda tecnologia assistiva faz uso das propriedades de nome, função e valor para identificar adequadamente os elementos padronizados 52 do HTML. Qualquer componente customizado deve trazer também essas marcações de forma adequada. A seguir será apresentado o levantamento realizado das condições de acessibilidade, juntamente com a análise dos defeitos recorrentes para o refinamento das características ferramenta. O quadro 3 mostra os indicadores de acessibilidade com base no teste automatizado, pode-se perceber que a nota referente a aderência de acessibilidade dos critérios do WCAG 2.1 não segue o ranking que considera as melhores Universidades do país. 53 Quadro 3 – Dados consolidados de nota geral e quantidade de defeitos por conformidade Raking Pontuação de AccessMonitor (1 até 10) Quantidade de defeitos por conformidade A AA AAA 1 USP 8,1 4 1 1 2 Unicamp 6,1 12 5 1 3 UFRJ 8 4 2 1 4 Unesp 6,4 11 4 0 6 UFMG 7,5 8 2 0 7 Unifesp 7,2 8 1 0 9 Fiocruz 8,2 6 1 0 10 UFSC 6,4 11 1 1 11 UFPR 7,2 8 2 2 12 UnB 6,8 14 1 1 15 CBPF 7,3 9 3 0 16 UFV 7,7 7 0 0 17 UFC 7,5 7 0 0 18 UFSCar 7 9 5 0 19 UFPel 5,4 9 3 0 20 UFF 7,9 6 1 0 21 UFRN 7,5 8 2 0 22 UFABC 7,4 8 1 0 23 UFJF 7,4 5 1 1 24 UFBA 7,7 5 2 0 25 UFSM 7,6 5 4 1 27 UFMS 7 9 3 1 28 UFPB 8,6 4 1 0 29 UFPA 7,7 6 0 1 30 UFES 6,5 7 0 0 31 UFSJ 7,7 6 0 0 32 UFU 7,2 7 2 1 33 UFLA 8 5 0 1 34 INPE 7,9 6 3 0 35 UEM 7,9 4 2 1 Fonte: Elaboração própria. A USP considerada a primeira colocada em relação as melhores universidades do país, apresenta como nota de acessibilidade 8,1 considerada preocupante segundo o parâmetro 54 estabelecido. Em contrapartida a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que figura em vigésimo oitavo no ranking se destaca com a maior nota de acessibilidade, 8,6 sendo a única home que atinge uma nota maior que 8,5 sendo classificada como aceitável. Nos testes manuais a recorrência de alguns defeitos chama a atenção: em geral os cabeçalhos das páginas que não possuem hierarquia correta e o posicionamento dos elementos na tela não seguem uma ordem lógica do código HTML, não atendendo os critérios 1.3.1, 2.4.2, 2.4.3 e 2.4.6. Além disso falta de rótulos em botões, descrição de links, texto alternativo em imagens são os bugs que mais comprometeram a navegação com leitor de tela, critérios 1.1.1, 2.4.4.e 4.1.2. Para refinar o comparativo da atual condição de acessibilidade encontradas nas homes avaliadas segue o gráfico 1: Gráfico 1- Notas obtidas pelo validador AccessMonitor 2.1 Fonte: Elaboração própria. Com base no gráfico 1 é possível concluir que as universidades com as melhores pontuações em AccessMonitor 2.1 são UFPB (8,6), Fiocruz (8,2) e a USP (8,1), percebe-se que mesmo dentre as três melhores pontuadas apenas uma alcançou o nível aceitável. As universidades com as piores pontuações chegam a vinte por cento (20%) da amostra do total de trinta validações seis (6) atingiram nota abaixo de sete i que é considerado um 55 resultado não aceitável. Foram a UNB (6,8), UFES (6,5), UNESP e UFSC (6,4), Unicamp (6,1) e a UFPel (5,4). A grande maioria das universidades validadas obtiveram notas classificadas como preocupantes cerca de setenta e seis por cento (76%) tiveram resultado de 7 a 8,5, que não é um bom resultado dado as limitações e na cobertura de testes automatizados. Foram as seguintes universidades: Fiocruz (8,2); USP (8,1); UFRJ e UFLA (8,0); UFF, INPE e EEM (7,9); UFV, UFBA, UFPA e UFSJ (7,7); UFSM (7,6); UFMG, UFC e UFRN (7,5); UFABC e UFJF (7,4); CBPF (7,3); Unifesp, UFPR e UFU (7,2); UFSCar e UFMS (7,0). Realizando o cálculo da média das notas da validação apresentadas no quadro 3, obteve-se a média 7,3 como indicador de acessibilidade das trinta homes avaliadas. Esse resultado merece um ponto de atenção já que está muito próximo a linha de corte, que considera não aceitáveis notas abaixo de 7 do validador utilizado. Sobre os níveis de conformidade relacionados aos defeitos encontrados no qual A corresponde ao nível mais básico de acessibilidade, o AA (duplo a) um nível intermediário de acessibilidade e AAA (triplo a) um melhor nível de acess