UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CAMPUS DE BOTUCATU EFEITO DO TRATAMENTO COM PLASMA RICO EM PLAQUETAS EM ÉGUAS RESISTENTES E SUSCEPTÍVEIS À ENDOMETRITE PERSISTENTE APÓS INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL MARIA FERNANDA SVIZZERO REGHINI BOTUCATU – SP 2013 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CAMPUS DE BOTUCATU EFEITO DO TRATAMENTO COM PLASMA RICO EM PLAQUETAS EM ÉGUAS RESISTENTES E SUSCEPTÍVEIS À ENDOMETRITE PERSISTENTE APÓS INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL MARIA FERNANDA SVIZZERO REGHINI Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária para obtenção do título de Mestre em Reprodução Animal. Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Alvarenga BOTUCATU – SP 2013 ii Nome da autora: Maria Fernanda Svizzero Reghini Título: EFEITO DO TRATAMENTO COM PLASMA RICO EM PLAQUETAS EM ÉGUA RESISTENTES E SUSCEPTÍVEIS À ENDOMETRITE PERSISTENTE APÓS INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL. COMISSÃO EXAMINADORA Professor Dr. Marco Antônio Alvarenga Orientador Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária FMVZ – UNESP – BOTUCATU Professora Dr.ª Regina Kiomi Takahira Departamento de Clínica Veterinária FMVZ – UNESP – BOTUCATU Doutor Marcio Teoro do Carmo Médico Veterinário Autônomo Botucatu, 24 de janeiro de 2013. iii À Deus, pela oportunidade de mais uma importante etapa cumprida. Aos meus pais, Terezinha e Léo, pelo amor, carinho, apoio, companheirismo e exemplo. Aos meus irmãos, Juliano e Hebert, pelo carinho, amizade e incentivo. iv AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, professor Marco Antônio Alvarenga, pela orientação, exemplo, apoio e pela oportunidade de realizar este experimento. Obrigada pelo incentivo e por todos os ensinamentos. À FAPESP, pelo apoio financeiro. Aos professores Frederico Ozanam Papa, Regina Kiomi Takahira, Fernanda Landim, Alexandre Borges e Maria Clara Caldas Bussiere, por todo apoio e ajuda e por disponibilizarem todos os recursos necessários para a realização deste experimento. Ao professor da Clinica de Grandes Animais, José Paes Filho, por todo o apoio, ajuda e ensinamentos. Aos professores Maria Denise Lopes e Sony Bicudo, pelos ensinamentos e pela atenção. Aos colegas Renata Uliani, Helene Resende, Marcel Farrás e Carlos Ramires Neto pelo companheirismo, amizade e ajuda nos momentos difíceis. Ao pós graduando Eduardo Fioratti, pelo apoio sempre presente, pela atenção e ajuda durante todo o experimento. Aos pós graduandos: Heloisa Canesin, Rafael Mide, Fernanda Saules, Luis Fernando Novaes, pela ajuda e companheirismo no posto de monta. Aos médicos veterinários Marcio Teoro do Carmo, Ian Martin e Cely Marini, pelos ensinamentos e apoio em todos os momentos. Aos pós graduandos Felipe Hartwig, Fernando Lisboa e Gabriel Monteiro, pela ajuda e atenção. Ao pós graduando Leandro Maia, por todo o ensinamento acerca do plasma rico em plaquetas. Aos funcionários do departamento de Reprodução e Radiologia Veterinária e do posto de monta. Aos estagiários do posto de monta: Bárbara, Cinthia, Roberta, Rafaela, Laíza, Jaqueline, Luis Fernando, Alexandre “Baiano”, Camila, Daniel, Daniel “Cabelinho”, Bruno e Marina. Aos funcionários da pós graduação, por estarem sempre dispostos a ajudar e pela atenção dada aos pós graduandos. v Aos residentes do Laboratório Clínico Veterinário da FMVZ Claudia, Thiago, Kathiane e Carol pela ajuda e disponibilidade. Às amigas: Claudia, Larissa, Renata, Dayanne, Loni, Daniele, Beatriz, Débora e Rafaela por estarem sempre presentes, mesmo à distância, me apoiando em todos os momentos importantes. Aos meus tios e primos que sempre me apoiaram e se fizeram presentes. Aos animais, pois sem eles este trabalho não seria realizado. A Deus, por me proporcionar a oportunidade de realizar este trabalho, e por colocar pessoas tão especiais em minha vida. vi LISTA DE TABELAS TABELA 1: Moléculas bioativas encontradas nos α-grânulos das plaquetas .. 36 TABELA 2: Médias e desvio padrão do número de células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs; n resistentes=7; n susceptíveis =12); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n resistentes=8; n susceptíveis =15), quantidade de fluido uterino (FLU; n resistentes=8; n susceptíveis =15) e concentração de ON no fluido uterino (ON; n resistentes=7; n susceptíveis =12) entre éguas susceptíveis e resistentes 24 horas antes da inseminação artificial ......................................................................................................................... 52 TABELA 3: Médias e desvio padrão do número de células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs n resistentes=7; n susceptíveis =12); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT n resistentes=8; n susceptíveis =15), quantidade de fluido uterino (FLU; resistentes=8; n susceptíveis =15) e concentração de ON no fluido uterino (ON; n resistentes=7; n susceptíveis =12) entre éguas susceptíveis e resistentes 24 horas após inseminação artificial .. 52 TABELA 4: Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s n=7); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n=8), quantidade de fluido uterino (FLU; n=8) e concentração de ON no fluido uterino (ON; n resistentes=7) nas éguas resistentes 24 horas antes e 24 horas após a inseminação artificial .................................................................. 53 TABELA 5: Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s n=12); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT n=15), quantidade de fluido uterino (FLU n=15) e concentração de ON (n=12) nas éguas susceptíveis 24 horas antes e 24 horas após a inseminação artificial ............................................................................................................. 53 TABELA 6: Médias e desvio padrão da concentração das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s; n=4); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n=8), quantidade de fluido uterino (FLU, n=8) e concentração de óxido nítrico (ON; n=4) nas éguas resistentes 24 horas antes (Tratamento pré) e 24 horas após a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas (Tratamento pós) .......................... 56 TABELA 7: Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s; n=11); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n=15), quantidade de fluido uterino (FLU; n=15) e concentração de óxido nítrico (ON; n=11) nas éguas susceptíveis 24 horas antes (Tratamento pré IA) e 24 horas após a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas (Tratamento pós IA) ......................................................................... 56 TABELA 8: Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s, n=7); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT, n=8), quantidade de fluido uterino (FLU, n=8) e concentração de óxido nítrico (ON; n=7) nas éguas resistentes no grupo controle 24 horas após vii inseminação artificial (Controle pós IA) e no grupo inseminado e tratado com plasma rico em plaquetas (Tratamento pós IA) ................................................ 59 TABELA 9: Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT), quantidade de liquido uterino (FLU) e concentração de óxido nítrico (ON) nas éguas susceptíveis (n=15) no grupo controle 24 horas após inseminação artificial (Controle pós IA) e no grupo inseminado e tratado com plasma rico em plaquetas (Tratamento pós IA) ......................................................................... 59 viii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Médias e desvio padrão da concentração (x103/mL) de células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s) nos momentos 24 horas pré (PRE) e 24 horas após (POS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente ........... 54 FIGURA 2: Médias e desvio padrão da porcentagem (%) de células polimorfonucleares na citologia uterina nos momentos 24 horas pré (PRÉ) e 24 horas após (PÓS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente .................................... 54 FIGURA 3: Médias e desvio padrão da quantidade de fluido uterino avaliada na ultrassonografia (mm), nos momentos 24 horas pré (PRÉ) e 24 horas após (PÓS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente ......................................................... 55 FIGURA 4: Médias e desvio padrão da concentração de óxido nítrico (µM) mensurado no fluido uterino nos momentos 24 horas pré (PRÉ) e 24 horas após (PÓS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente .................................... 55 FIGURA 5: Médias e desvio padrão da concentração (x103/mL) de células PMNs recuperadas do fluido uterino das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, no grupo tratado, 24 horas antes (TT PRÉ) e 24 horas após (TT PÓS) a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas ................................................................................ 57 FIGURA 6: Médias e desvio padrão da porcentagem (%) de células PMNs na citologia exfoliativa uterina das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, no grupo tratado, 24 horas antes (TT PRÉ) e 24 horas após (TT PÓS) a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas ......................................................................................................... 57 FIGURA 7: Médias e desvio padrão da quantidade de fluido uterino mensurado ao ultrassom (mm) das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, no grupo tratado, 24 horas antes (TT PRÉ) e 24 horas após (TT PÓS) a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas ......................................................................................................... 58 FIGURA 8: Médias e desvio padrão concentração de óxido nítrico (µM) no fluido uterino das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, no grupo tratado, 24 horas antes (TT PRÉ) e 24 horas após (TT PÓS) a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas .............. 58 FIGURA 9: Médias e desvio padrão da concentração (x103/mL) de células PMNs recuperadas do fluido uterino das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, comparando-se os grupos controle (CON) e tratado (TT) 24 horas após a inseminação artificial ...................................... 60 ix FIGURA 10: Médias e desvio padrão da porcentagem (%) de células PMNs na citologia exfoliativa uterina das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, comparando-se os grupos controle (CON) e tratado (TT) 24 horas após a inseminação artificial ..................................................... 60 FIGURA 11: Médias e desvio padrão da quantidade de fluido uterino mensurado ao ultrassom (mm) das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, comparando-se os grupos controle (CON) e tratado (TT) 24 horas após a inseminação artificial ...................................... 61 FIGURA 12: Médias e desvio padrão concentração de óxido nítrico (µM) no fluido uterino das éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à EPPC, comparando-se os grupos controle (CON) e tratado (TT) 24 horas após a inseminação artificial ............................................................................ 61 x LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS °C= graus centígrados µL= microlitro µm= micrometro µM= micromolar 12-HETE= ácido 12-hidroxieicosatetraenoico CL= corpo lúteo eNOS= óxido nítrico sintetase endotelial EPPC= endometrite persistente pós cobertura FCR= força de centrifugação relativa IA= inseminação artificial IL= interleucina iNOS= óxido nítrico sintetase indutora IV= intravenoso Kg= quilogramas LXA4= lipoxina A4 M= molar mg= miligramas mL= mililitros mm = milímetros mm= milímetros mRNA = ácido ribonucleico mensageiro nm= nanômetro nNOS= óxido nítrico sintetase neuronal NO2 -=nitrito NO3 - =nitrato NOS= óxido nítrico sintetase ON = óxido nítrico PBS= phosphate buffered saline pg = picograma PG= prostaglandina PGE1= Prostaglandina E1 PGE2= Prostaglandina E2 xi PGF2α = prostaglandina F2 alfa PMNs= neutrófilos polimorfonucleares PRP= plasma rico em plaquetas RANTES= regulated on activation normal T cells expressed and secreted TNF-α= fator de necrose tumoral alfa UI = unidades internacionais xii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 19 2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 22 2.1 Etiopatogenia da endometrite persistente pós-cobertura ........................... 22 2.2 Trânsito espermático no trato genital feminino e a resposta inflamatória .. 24 2.3 Mecanismos de defesa uterina .................................................................. 25 2.3.1 Barreiras físicas uterinas ......................................................................... 25 2.3.2 Imunoglobulinas ...................................................................................... 25 2.3.3 Inflamação Local ..................................................................................... 26 2.3.3.1 Óxido Nítrico ........................................................................................ 27 2.3.4 Contrações uterinas ................................................................................ 28 2.4 Terapia aplicada à endometrite persistente pós-cobertura ........................ 29 2.4.1 Lavagem uterina ..................................................................................... 30 2.4.2 Drogas ecbólicas ..................................................................................... 30 2.4.3 Promoção da Drenagem Cervical .......................................................... 32 2.4.4 Antiinflamatórios não esteróides sistêmicos ............................................ 32 2.4.5 Imunomoduladores ................................................................................. 32 2.5 Plaquetas e fatores de crescimento ........................................................... 35 2.5.1 Plasma Rico em Plaquetas ..................................................................... 37 3 OBJETIVOS .................................................................................................. 41 4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 43 4.1 Experimento 1 ............................................................................................ 43 4.1.1Seleção dos animais e local da pesquisa................................................. 43 xiii 4.1.2 Colheita de sêmen e preparo das doses inseminantes ........................... 43 4.1.3 Inseminações artificiais ........................................................................... 44 4.1.4 Colheita e processamento do material uterino ........................................ 44 4.1.5 Dosagem de Óxido Nítrico ...................................................................... 45 4.2 Experimento 2 ............................................................................................ 46 4.2.1 Seleção dos animais ............................................................................... 46 4.2.2 Colheita de sêmen e preparo das doses inseminantes ........................... 46 4.2.3 Inseminações artificiais ........................................................................... 46 4.2.4 Obtenção do Plasma Rico em Plaquetas (PRP) e infusão no útero ....... 46 4.2.5 Colheita e processamento do material uterino ........................................ 47 4.2.6 Dosagem de Óxido Nítrico ...................................................................... 48 4.3 Análise Estatística ...................................................................................... 48 5 RESULTADOS .............................................................................................. 50 6 DISCUSSÃO ................................................................................................. 61 7 CONCLUSÕES ............................................................................................. 71 8 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 73 9 TRABALHO CIENTÍFICO.............................................................................. 86 xiv REGHINI, MARIA FERNANDA SVIZZERO. Efeito do tratamento com plasma rico em plaquetas em éguas resistentes e susceptíveis à endometrite persistente após inseminação artificial. Botucatu, 2013. 104 p. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu. RESUMO A endometrite persistente pós-cobertura (EPPC) é uma das principais causas da redução de fertilidade em éguas. Recentes estudos têm demonstrado a importância da imunomodulação da inflamação após a cobertura. O objetivo deste trabalho foi verificar o estímulo do sêmen na resposta inflamatória uterina de éguas resistentes e susceptíveis à endometrite após a inseminação artificial (IA) e propor um novo tratamento a fim de debelar a resposta inflamatória uterina exacerbada, com o uso do plasma rico em plaquetas (PRP), que vem sendo muito utilizado devido à sua ação anti-inflamatória. Foram selecionadas 15 éguas resistentes e 8 susceptíveis à EPPC com base nos seus índices reprodutivos e exames ultrassonográficos e citológicos. A concentração de neutrófilos e de óxido nítrico (ON) no fluido uterino, a citologia exfoliativa uterina e o acúmulo de fluido uterino verificado no exame ultrassonográfico foram analisados nos dois grupos de animais (1) 24 horas antes da IA e (2) 24 horas após a IA com sêmen fresco. No primeiro experimento não houve intervenção medicamentosa, e no segundo as éguas foram tratadas com 20 mL de PRP infundido no útero 4 horas após a IA. As dosagens de ON foram realizadas por reação colorimétrica de Griess em espectrofotômetro, os neutrófilos na secreção uterina foram quantificados com o uso da câmara de Neubauer e a leitura das amostras de citologia foi feita por microscopia óptica utilizando imersão, considerando a porcentagem de neutrófilos/100 células de forma aleatória. Os resultados demonstraram que o sêmen estimula uma resposta inflamatória exacerbada no ambiente uterino das éguas susceptíveis, e que o tratamento local com PRP foi clinicamente efetivo na redução da inflamação uterina nas éguas susceptíveis à endometrite após a IA, observado por meio da redução da quantidade de fluido uterino verificado no exame ultrassonográfico, redução do percentual de neutrófilos observados na citologia exfoliativa endometrial uterina e redução da concentração de ON no fluido uterino. Os resultados mostram que as propriedades anti-inflamatórias do PRP xv podem ser promissoras na modulação da resposta uterina exacerbada ao sêmen. Palavras-chave: Éguas; Endometrite; Plasma Rico em Plaquetas; Sêmen. xvi REGHINI, MARIA FERNANDA SVIZZERO. Effect of treatment with platelet rich plasma on resistant and susceptible post-breeding endometritis mares. Botucatu, 2013. 104 p. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu. ABSTRACT Post breeding endometritis (PBE) is one of the major causes of fertility reduction in mares. Recent reports have been demonstrating the importance of immunomodulation of inflammation after mating. The aim of this study was to verify semen’s stimulus on inflammatory response in mares resistant and susceptible to PBE, and to propose a new treatment to quell the exacerbated uterine inflammatory response against semen, using platelet rich plasma (PRP), which has been widely used due to its anti-inflammatory properties. 15 mares susceptible to PBE and 8 mares resistant to PBE were selected based on their reproductive index, ultrasonographic and cytological examination. The concentration of neutrophils and nitric oxide (NO) in the uterine fluid, exfoliative cytology of the uterus and uterine fluid accumulation observed by ultrasonography were analyzed in both group of animals (1) 24 hours before artificial insemination (AI) and (2) 24 hours after AI with fresh semen. In the first cycle, there was no drug intervention, and in the second cycle mares were treated with 20 mL of platelet rich plasma, infused in uterus 4 hours after AI. NO dosage were performed by colorimetric reaction of Griess with spectrophotometer, neutrophils in uterine fluid were quantified by the use of Neubauer chamber and the lecture of endometrial cytology samples were analyzed by optical microscopy using immersion, considering the percentage of neutrophils/100 cells in an alleatory form. The results showed that semen can stimulate a major inflammatory response inside the uterine environment in susceptible mares, and that the local treatment with PRP was clinically effective in reduction of inflammation on mares susceptible to PBE, by the reduction of uterine fluid examined by ultrasonography, decrease in percentual of neutrophils on endometrial exfoliative cytology, and reduction of NO concentration in uterine fluid. These results showed that the anti-inflammatory properties of PRP can be promising to modulate exacerbated uterine response against semen. xvii Key-words: Endometritis; Mares; Semen; Platelet Rich Plasma. Introdução 19 1 INTRODUÇÃO Com a expansão da equinocultura nas últimas décadas, na qual o Brasil se destaca por estar entre os 3 países com maior número de animais puros de raça, os criadores procuram otimizar a eficiência reprodutiva dos reprodutores, buscando incrementar a produção através de um grande número de embriões coletados por égua doadora. Porém, a excessiva manipulação do trato reprodutivo tem levado ao aumento das desordens uterinas, com consequente comprometimento da fertilidade da fêmea equina. Desta maneira, tais desordens podem acarretar grande prejuízo econômico para os produtores, devido à possível queda na taxa de concepção dos animais, aumento do número de serviço por concepção e sobrevivência embrionária prejudicada. Segundo a literatura, a inflamação uterina induzida pela cobertura/ inseminação artificial é uma resposta ao sêmen depositado no útero, sendo um processo transitório, pelo qual os espermatozóides são eliminados do trato genital feminino. A reação é necessária para a sobrevivência e desenvolvimento do embrião. Porém, quando exacerbada, apresenta uma intensa migração de células polimorfonucleares para o interior do útero originada pela presença dos espermatozóides, resultando em perda embrionária ou interferindo na sobrevivência do embrião. A detecção de animais considerados susceptíveis à EPPC pode ser realizada quando há presença de mais de 2 centímetros de fluido uterino durante o estro (BUCCA et al., 2008). O fluido uterino pode estar livre no lúmen uterino ou então envolto por um tecido cicatricial fibrótico. Estes locais de acúmulo de líquido tornam o útero mais vulnerável às infecções e prejudicam a implantação embrionária (LEFRANC & ALLEN, 2008). Tratamentos de éguas susceptíveis à endometrite persistente pós- cobertura (EPPC) comumente visam auxiliar o útero na limpeza de produtos inflamatórios e contaminantes após a cobertura, sendo apenas uma medida paliativa, que mantêm a condição uterina, não atuando diretamente na causa da inflamação. Estudos recentes têm demonstrado que a imunomodulação da resposta inflamatória após a cobertura é capaz de melhorar a taxa de gestação de 20 éguas susceptíveis à endometrite, já que há atuação diretamente nos mediadores inflamatórios, impedindo uma resposta exacerbada e persistente. Para isso, foram desenvolvidos tratamentos que parecem modular ou até mesmo suprimir a resposta imune visando reduzir a inflamação uterina pós- cobertura. Há evidências de que o uso criterioso de anti-inflamatórios esteróides ou imunomoduladores pode aumentar os índices de prenhez em éguas com acúmulo de fluido ou inflamação uterina (FUMUSO et al., 2003; DELL’AQUA JR., 2004; BUCCA et al., 2008; PAPA et al., 2008). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a resposta inflamatória uterina após inseminação artificial em éguas resistentes e susceptíveis à endometrite e verificar se o tratamento com PRP foi eficiente em debelar a inflamação que se instala imediatamente e persiste em determinadas éguas após a IA. 21 Revisão da Literatura 22 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Etiopatogenia da endometrite persistente pós-cobertura A endometrite é um processo que ocorre para remover do útero o excesso de espermatozóides, plasma seminal, debris e outros contaminantes (TROEDSSON, 1994) que podem adentrar o trato genital feminino através da cobertura, parto e exames ginecológicos realizados pelo médico veterinário. Segundo a revisão realizada por Troedsson (1999), a endometrite persistente pós-cobertura é a principal causa da redução de fertilidade em éguas, e é considerada a terceira afecção clínica mais comum depois da cólica e das afecções do trato respiratório. Uma inflamação persistente frequentemente resulta em luteólise prematura, pois o endométrio lesado induz à produção de PGF2α, que lisa o corpo lúteo, levando consequentemente à perda embrionária. Além disso, a irritação local torna o útero um ambiente desfavorável, interferindo assim na sobrevivência do embrião (ENGLAND, 2005). A monta natural e a inseminação artificial são consideradas as principais causas de endometrite, pois com a deposição do sêmen dentro do útero da égua, bactérias da flora vaginal são carreadas para o interior do útero no momento da cópula (HINRICHS et al., 1988). Atualmente, a utilização da IA com baixa dose vem sendo muito difundida e, sendo assim, menor quantidade de espermatozóides é depositada no ambiente uterino. Aliado a este fator, os diluentes para o sêmen são adicionados de antibiótico, resultando em redução do número de éguas contaminadas. Porém, após a IA, considerável número de leucócitos ainda é observado, pois a célula espermática é o principal fator para que ocorra uma resposta inflamatória local (DELL’AQUA JR., 2004). A EPPC caracteriza-se por uma rápida infiltração de neutrófilos uma hora após a inseminação artificial (CARD, 2005; TROEDSSON, 1999). A mucosa do sistema reprodutivo f e m i n i n o apresenta um sistema imune que retira os contaminantes através de uma combinação entre os fatores celulares, humorais e mecânicos de contração e drenagem linfática que permitem a depuração uterina e a eliminação desse processo fisiológico em até 72 horas. A endometrite se instala de forma exacerbada quando há uma falha 23 em algum desses mecanismos naturais de defesa (LEBLANC, 2003). Éguas que apresentam inflamação persistente tipicamente apresentam vários fatores predisponentes, como uma conformação perineal alterada, idade avançada, localização uterina fora dos padrões anatômicos ou uma falha no clearance uterino devido a uma contração miometrial deficiente (CARD, 2005). Acredita-se que as contrações uterinas retiram o fluido acumulado e os produtos inflamatórios nocivos do útero, bem como são responsáveis pela eliminação de espermatozóides do útero através da cérvix rapidamente após a cobertura (TROEDSSON, 2006). Normalmente, a maioria das éguas consegue efetivamente eliminar o excesso de espermatozóides e produtos resultantes do processo inflamatório em menos de dois dias, sendo estas consideradas resistentes, ao passo que uma população de animais falha em fazê-lo espontaneamente em um período maior do que quatro dias, sendo então consideradas éguas susceptíveis. (ALGHAMDI et al., 2005). A EPPC também pode ser causada por alterações degenerativas que ocorrem continuamente no útero de éguas devido à idade e ao número de partos. O trato reprodutivo se altera devido ao estiramento dos ligamentos largos que ocorre após prenhezes repetidas, resultando no deslocamento crânio-ventral do útero para o abdômen, dificultando a drenagem do fluido existente no lúmen uterino em direção à cérvix. Sendo assim, os animais afetados são, geralmente, fêmeas multíparas com mais de 14 anos de idade (LEBLANC, 2003). A drenagem linfática do útero também pode falhar caso a pressão intraluminal esteja diminuída, permitindo ao fluido entrar no lúmen ao invés de ascender para os vasos linfáticos (CAUSEY, 2006). Se a inflamação persistir, pode haver um grande influxo de linfócitos no endométrio, possivelmente contribuindo para mudanças crônicas degenerativas e consequentemente falha na função endometrial (CAUSEY et al., 2008). Troedsson (2006) relata que durante a realização do exame ginecológico pode ser difícil identificar éguas susceptíveis antes da cobertura. Alguns animais apresentam líquido livre no lúmen uterino antes da cobertura, mas a maioria destes não o apresenta até que sejam cobertos. Se há suspeita de EPPC, a égua deve ser monitorada por ultrassonografia transretal de 6 até 48 horas após cobertura. 24 Assim, os animais acometidos pela EPPC podem apresentar alta contagem de leucócitos, aumento do fluxo sanguíneo uterino, edema uterino com acúmulo de fluido, útero distendido e flácido, ciclo estral com menor duração (devido à regressão precoce do CL) (MOREL, 2003), histórico de repetição de cio e cultura endometrial positiva (BUCCA et al., 2008). 2.2 Trânsito espermático no trato genital feminino e a resposta inflamatória Após a deposição do sêmen no útero da fêmea, os espermatozóides devem ser transportados até o local da fertilização. Para isso, a motilidade espermática, as contrações miometriais e uma inflamação fisiológica do útero após a cobertura são necessárias, possibilitando assim o transporte e a sobrevivência das células espermáticas no trato genital da égua (TROEDSSON et al., 1998). Brinsko et al. (1990, 1991) relataram que lavados uterinos com 1 litro de solução que continha uma substância imobilizadora de espermatozóides realizados entre 30 minutos e duas horas após a cobertura diminuíram significativamente os índices de prenhez em éguas reprodutivamente normais, enquanto que as lavagens feitas aproximadamente quatro horas após a cobertura não reduziram este índice. Os autores concluíram então que aproximadamente 4 horas são necessárias para que um número suficiente de espermatozóides funcionais atinja o oviduto para assegurar a fertilização. O ambiente uterino inflamado também mostrou ser prejudicial às características de motilidade espermática in vitro. A motilidade diminuiu substancialmente quando o sêmen foi incubado com secreções uterinas de éguas com inflamação ativa do endométrio após a cobertura. Além disso, muitos espermatozóides se ligaram aos PMNs da secreção, o que induziu à redução da motilidade destes e impediu que um grande número de células espermáticas fosse transportado para o oviduto, consequentemente reduzindo as chances de fertilização, além de diminuir o número de espermatozóides férteis disponíveis da segunda inseminação (ALGHAMDI et al., 2001). 25 2.3 Mecanismos de defesa uterina O ambiente uterino sadio oferece as condições ideais para que ocorra primeiramente o transporte espermático até o local da fecundação e também o desenvolvimento embrionário. A composição do fluido uterino se dá por hormônios, prostaglandinas, enzimas, substratos energéticos, íons, vitaminas, aminoácidos, peptídeos, proteínas séricas e uterinas (FISCHER & BEIER, 1986). O sangue e o fluido uterino se comunicam através dos vasos sanguíneos, possibilitando assim a troca de substâncias entre eles (McRAE, 1988). 2.3.1 Barreiras físicas uterinas A revisão feita por Troedsson (1999) mostra que, em éguas sadias, o útero é bem protegido das contaminações externas através de barreiras físicas, as quais consistem na vulva, no vestíbulo, vagina e a cérvix. Qualquer comprometimento destas barreiras pode predispor a égua a uma infecção uterina crônica. 2.3.2 Imunoglobulinas Diferentes imunoglobulinas foram detectadas no lúmen uterino de éguas, com o predomínio de imunoglobulina G e imunoglobulina A, que são produzidas localmente pelo trato genital (TROEDSSON, 1999). Segundo Troedsson (1999), embora o mecanismo de defesa realizado por anticorpos seja importante para a efetiva eliminação de bactérias contaminantes no útero de éguas susceptíveis, as concentrações de imunoglobulinas na secreção uterina são semelhantes ou até mesmo elevadas quando comparadas com éguas resistentes à endometrite. Esses achados sugerem que a susceptibilidade à endometrite persistente é causada por outros fatores além dos mecanismos humorais. 26 2.3.3 Inflamação Local Os neutrófilos são as primeiras células inflamatórias a chegarem ao local inflamado, e Katila (1995) observou estas células no lúmen uterino no período de 30 minutos após a inseminação. Estas células, que constituem a primeira linha de defesa do organismo, atuam na eliminação de antígenos por meio de fagocitose (ASBURY, 1986; GALINDO et al., 2003). Assim, após o contato do sêmen com o útero, ocorre uma forte reação inflamatória entre 4 e 24 horas (CARD, 2005). O pico da reação ocorre entre 6 e 12 horas, e esta decresce entre 24 e 48 horas (TROEDSSON, 1994). Já a segunda linha de defesa são os macrófagos, células que são capazes de realizar atividade fagocítica repetidas vezes, controlar a inflamação, secretar moléculas que intensificam a resposta imune e contribuir diretamente para o reparo tecidual através da remoção do tecido danificado (TIZARD, 1998). A população de leucócitos não é somente um modo de defesa do trato reprodutivo ou uma maneira de remodelar tecido, mas também é responsável pela produção de polipeptídeos como citocinas e mediadores quimiotáticos, que agem como “hormônios” na resposta imune contra espermatozóides ou mudanças endócrinas durante o ciclo estral (FUMUSO et al., 2007). As citocinas são proteínas que agem como sinalizadoras entre as células, e são liberadas por células de defesa, células endometriais, dentre outras. A interleucina- 1β (IL-1β), interleucina-6 (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), conhecidos como citocinas pró-inflamatórias, modulam a resposta da fase aguda (BARAÑAO, 1997; FUMUSO et al., 2007). Estudos in vitro e in vivo sugerem que quando o espermatozóide equino entra em contato com o ambiente uterino, há ativação do sistema complemento na secreção uterina (WATSON et al., 1987). A clivagem do fator C5 em C5a e C5b provoca um sinal quimiotático para os PMNs, resultando num influxo destes para o lúmen uterino (KOTILAINEN et. al, 1994; TROEDSSON, 1999). O sistema complemento é mediador de reações inflamatórias, atuando no aumento da permeabilidade vascular, quimiotaxia, opsonização pré-fagocitose, ativação de lipases de membrana e lise do organismo contaminante (TROEDSSON et al., 2008). O s PMNs ativados 27 se ligam aos espermatozóides na presença do fator C3b e de mecanismos complemento- independentes; após a ligação, os espermatozóides são fagocitados pelos PMNs. O processo inflamatório crônico ocorre muito tempo após os neutrófilos atingirem o foco da inflamação. Enquanto os macrófagos eliminam o tecido danificado, os neutrófilos e o fibrinogênio liberam colagenases e elastases que atuam sobre o tecido conjuntivo. A interleucina I, atraída pelos macrófagos, ativa a síntese dos fibroblastos que produzem colágeno, que vai atuar no tecido lesado, resultando assim, em tecido cicatricial (COLLINS et al., 1999). 2.3.3.1 Óxido Nítrico O papel do óxido nítrico (ON) na inflamação representa um dos assuntos mais controversos já estudados em fisiologia. Vários estudos demonstraram que o ON apresenta potente propriedade anti-inflamatória, enquanto que outros sugerem que tal composto pode promover inflamação e consequente disfunção tecidual (GRISHAM et al. 1999). O óxido nítrico é um potente vasodilatador e mediador da formação de novos vasos sanguíneos e está envolvido na manutenção da função, tônus e integridade vascular (ALBRECHT et al., 2003). Além disso, é considerado mediador de vários outros processos fisiológicos, como a resposta imune mediada por células, alteração de secreção de íons e polipeptídeos e remodelamento de tecidos (SOORANNA & DAS, 1995). Como o endométrio é regularmente submetido a tais processos durante o ciclo estral e no início da gestação, as enzimas responsáveis pela produção do ON agem e são encontradas neste local (WELTER et al, 2004). As 3 enzimas da família NOS catalisam a oxidação da L-arginina em L-citrulina (Palmer et al. 1988). A enzima eNOS é expressa principalmente pelas células endoteliais, bem como pelas glândulas endometriais e fibroblastos (ROBERTO DA COSTA et al., 2007) sendo importante no controle da função vascular (JANSSENS et al., 1992). A iNOS é expressa principalmente pelas células imunocompetentes após a inflamação (MONCADA & PALMER, 1991). O terceiro subtipo, nNOS, é 28 conhecido como um importante neurotransmissor e neuromodulador no sistema nervoso central e periférico (McCANN et al., 1996). Sendo assim, o ON está envolvido na regulação das células endometriais e nas interações parácrinas entre as células. Vários estudos moleculares e funcionais têm demonstrado que a eNOS e a iNOS possuem um papel importante nas funções endometriais como remodelamento, receptividade e implantação (PURCELL et al., 1999). Ambas as enzimas têm sido identificadas no endométrio de várias espécies de fêmeas mamíferas prenhes e ciclantes, como humanos (TSENG et al, 1996) e ratas (PURCELL et al., 1999). 2.3.4 Contrações uterinas A contratilidade do miométrio é reconhecida pela sua significante função de retirar os debris endometriais e produtos da inflamação. Acredita-se que defeitos de contratilidade do miométrio aumentam a susceptibilidade de éguas à EPPC. (NIKOLAKOPOULOS & WATSON, 1999; TROEDSSON, 1999). Troedsson et al. (1993) mostraram que a atividade elétrica miometrial, mensurada 20 horas após o contato com bactérias, aumentou em éguas resistentes e susceptíveis, porém em éguas resistentes houve um maior aumento na frequência, intensidade e duração da atividade elétrica comparada com as susceptíveis. Campbell & England (2006) relataram que quando o sêmen entra em contato com o útero, contrações miometriais do corpo e cornos uterinos o transportam para o oviduto. Em aproximadamente quatro horas, parte dos espermatozóides chegam ao oviduto, enquanto que a maioria deles será eliminada do ambiente uterino. Porém, em éguas susceptíveis, as quais apresentam uma diminuição da contratilidade uterina, há um maior acúmulo de líquido no útero proporcionando assim um meio de cultura para agentes oportunistas, agravando assim seu quadro patológico (LEBLANC, 2003). Essas éguas apresentam um retardo de aproximadamente duas horas para iniciar a resposta contrátil à presença de espermatozóides e bactérias em relação ao observado em éguas sadias. Estudos in vitro indicaram que a direção das contrações das fibras musculares difere entre as duas categorias de éguas. Nas éguas sadias, a 29 contração ocorre a partir da ponta do corno uterino em direção à cérvix, enquanto que nos animais susceptíveis a contração não apresenta padrão rítmico e o útero tende a se contrair em direção à ponta do corno uterino, ou seja, no sentido oposto da eliminação do conteúdo pelo órgão (REITZENSTEIN et al., 2002). Assim, a atividade mioelétrica é alterada nestas éguas, o que pode ser a causa primária da EPPC nestes animais (TROEDSSON, 1999). A revisão de Maischberger et al. (2008), mostra que a falha no clearance de bactérias, fluido e debris pós-cobertura pode ser causada por diferentes fatores, que são: diminuição da frequência, intensidade e duração da atividade miometrial devido possivelmente a mudanças na liberação, sistêmica ou local, de prostaglandina e ocitocina (RIGBY et al., 2001), mudanças vasculares do endométrio, alterações de respostas hormonais e alteração na produção de muco. Outros fatores em éguas multíparas incluem alterações degenerativas que ocorrem no útero de éguas devido à idade e número de partos, como interações neuromusculares alteradas, ou falha na drenagem linfática devido a uma dilatação parcial do útero ou deslocamento caudo-ventral deste (LEBLANC, 2003). Alghamdi et al. (2005) investigaram a produção de óxido nítrico, responsável pela lise de bactérias no interior do neutrófilo (MACKAY, 2000). Neste experimento, as éguas susceptíveis apresentaram um elevado acúmulo de óxido nítrico no lúmen uterino 13 horas após IA (ALGHAMDI et al., 2005). Esta substância está relacionada ao relaxamento do músculo liso, e os autores propuseram este efeito como uma possível explicação para a baixa atividade miometrial que as éguas susceptíveis apresentam no período da inflamação. 2.4 Terapia aplicada à endometrite persistente pós-cobertura O tratamento da endometrite na égua é focado primariamente em minimizar os fatores predisponentes do processo inflamatório, reduzindo o número de espermatozóides totais que adentrarão o trato reprodutivo da fêmea, bem como diminuir o número de inseminações por ciclo, reduzindo assim a resposta inflamatória. Também é fundamentado em estudos prévios 30 que investigaram a resposta inflamatória pós cobertura e a contratilidade uterina (BRINSKO et al., 1990; KATILA, 1995). 2.4.1 Lavagem uterina Tendo em vista que o transporte espermático para o oviduto se completa no período de 4 horas após a introdução do sêmen no corpo do útero, o lavado uterino pode ser realizado após este período, evitando assim a interferência com o transporte espermático e consequente queda na taxa de fertilidade. A lavagem uterina pode ser realizada com ringer lactato ou solução salina aquecidos. Este procedimento é comumente realizado em éguas repetidoras de cio e naquelas que apresentam mais de 2 centímetros de fluido intrauterino após a cobertura (BRINSKO et al., 2003). Se o fluido acumulado é hipoecóico e menor do que 2 centímetros quando examinado no exame ultrassonográfico, ou se há pouco ou nenhum edema após a ovulação, um tratamento apenas com ocitocina ou cloprostenol, um análogo da prostaglandina, pode ser realizado. Éguas com fluido uterino antes da cobertura podem ser lavadas com solução de ringer com lactato 1 hora antes da inseminação sem causar qualquer subsequente decréscimo nas taxas de prenhez. A remoção do fluido é desejável porque esta secreção intrauterina pode conter debris inflamatórios, especialmente se a égua requer repetidas inseminações com sêmen refrigerado ou congelado. O fluido afeta negativamente a motilidade espermática e a fertilidade (VANDERWALL & WOODS, 2003). Alguns veterinários recomendam repetir a lavagem uterina (mais de 3 litros) até o fluido recuperado aparecer claro. A ocitocina ou cloprostenol podem ser administrados imediatamente após a última lavagem uterina para ajudar na remoção de toda a quantidade de líquido. 2.4.2 Drogas ecbólicas As drogas ecbólicas estimulam a contração uterina e ajudam a promover uma drenagem no útero em animais que apresentam dificuldade de realizar o clearance uterino. A ocitocina se mostrou uma droga eficaz 31 em promover tais efeitos em éguas que apresentam esta deficiência (ALLEN, 1991). Esta droga induz contrações uterinas de grande amplitude por aproximadamente 30 minutos durante o estro e no período de 48 horas após a ovulação (LEBLANC et al., 1994). Os receptores de ocitocina no miométrio e no oviduto das éguas, ovelhas e vacas estão presentes em maior número durante o fim do diestro e no estro (RIGBY et al., 1999) e, portanto, o seu efeito diminui após a ovulação, pois seu número de receptores varia conforme a fase do ciclo estral, sendo maior na fase estrogênica e menor na fase pós ovulatória. A droga atua no útero da égua para estimular a contração uterina, agindo diretamente em tais receptores e liberando a PGF2α do endométrio (CADARIO et al., 1999). A maioria das éguas responde rapidamente, expelindo o fluido quase imediatamente. As doses recomendadas variam entre 10 e 25 UI, administradas via intramuscular ou intravenosa (KNUTTI et al., 2000). No período pós ovulatório a maior dose (25 UI) deve ser administrada. (VERONESI, 2006). A completa limpeza uterina ocorre em 24 horas após o tratamento com ocitocina, o que confirma a eficácia dos hormônios ecbólicos exógenos no útero. (CADARIO et al., 1999). Porém, esta droga parece não ser efetiva em todas as éguas que acumulam fluido uterino. Alguns fatores que podem afetar a resposta uterina são: número inadequado de receptores endometriais, um útero penduloso, cérvix fechada, dose excessiva que resulta em contrações inapropriadas, propagação anormal das contrações uterinas ou inflamação prolongada (VON REITZENSTEIN et al., 2002). Se o clínico suspeita que a ocitocina não estimulou a drenagem apropriadamente, pode ser útil a utilização do cloprostenol, mas não há investigações detalhadas dos padrões de propagação uterina após a sua administração. O efeito da PG na contratilidade uterina tem sido investigado porque a ocitocina estimula a liberação de PG, e as contrações uterinas associadas à administração de ocitocina têm uma meia-vida relativamente curta. Dos três análogos da PG avaliados (PGF2α, cloprostenol e fenprostalene), o cloprostenol produziu a resposta uterina mais consistente (COMBS et al., 1996). A contração uterina é mais fraca, mas 32 significativamente mais prolongada após administração de cloprostenol do que de ocitocina (4 horas vs. 30 minutos). Por esta razão, seu uso tem sido defendido para éguas com estase linfática, já que a drenagem linfática conta com a ajuda da contração uterina (TROEDSSON et al., 2001). Quando esta droga é utilizada antes da ovulação, não se observa efeito sobre a formação do corpo lúteo ou na produção de progesterona. Porém, se administrada após a ovulação, a PGF2α é capaz de interferir na formação luteal, levando, consequentemente, à redução na produção de progesterona e consequente redução da taxa de prenhez (LEBLANC, 2003). 2.4.3 Promoção da Drenagem Cervical Em éguas que apresentam uma cérvix que falha ao se dilatar, as drogas ecbólicas podem ser ineficazes na expulsão do fluido uterino. Portanto, a cérvix pode ser manualmente dilatada para auxiliar na expulsão do fluido. Também o Misoprostol, um análogo sintético da Prostaglandina E1 (PGE1), pode causar o seu relaxamento quando aplicado topicamente no epitélio cervical 2 a 4 horas antes da cobertura (LEBLANC & CAUSEY, 2009). 2.4.4 Anti-inflamatórios não esteróides sistêmicos Os anti-inflamatórios não esteróides mostraram-se menos eficazes na minimização da reação inflamatória uterina após a IA. No estudo realizado por LeBlanc (1997), no qual foi utilizada a fenilbutazona no tratamento da EPPC, foi notado um atraso na limpeza uterina dos animais tratados, pois esta classe de drogas atua inibindo a ação da enzima ciclooxigenase, bloqueando a síntese de prostaglandinas (principalmente PGF2α), a qual, por sua vez, auxilia no processo de depuração uterina das éguas. 2.4.5 Imunomoduladores Recentemente foram desenvolvidos tratamentos que parecem modular ou até mesmo suprimir a resposta imune como um meio de reduzir a 33 inflamação uterina pós-cobertura (LEBLANC & CAUSEY, 2009). Há evidências de que o uso criterioso de anti-inflamatórios esteróides ou imunomoduladores pode aumentar os índices de prenhez em éguas com acúmulo de fluido ou inflamação uterina (FUMUSO et al., 2003; BUCCA et al., 2008; PAPA et al., 2008). Dell’aqua Jr. et al. (2006) obtiveram taxas de prenhez satisfatórias com o uso de corticóides no período peri-ovulatório. Éguas resistentes e susceptíveis, baseando-se no histórico de acúmulo de fluido uterino, foram submetidas a tratamentos com acetato de prednisolona a cada 12 horas, iniciando 2 dias antes e continuou-se 1 dia após ovulação. Os dois grupos foram inseminados com sêmen congelado em dois ciclos, o primeiro sem tratamento e o segundo com o uso de corticóide. Nas éguas sadias não se observou diferenças na taxa de prenhez de éguas tratadas e não tratadas, enquanto que nas éguas susceptíveis taxa de prenhez superior foi obtida nas éguas tratadas (67%) comparadas as controle (5%). Além disso, no grupo tratado, houve redução no volume do fluido uterino e notou-se um aspecto mais límpido deste. A melhora da taxa de prenhez e do aspecto da secreção uterina pode ser explicada pela modulação de várias citocinas como IL-1β, TNF-α, IL-4, IL-3, IL-5 e IL-8 causada pelos corticóides, o que leva à redução da inflamação (MALSCHITZKY et al., 2007). Fioratti (2010) mensurou o efeito da dexametasona sobre a fertilidade de éguas resistentes e susceptíveis à EPPC e obteve resultados positivos para éguas susceptíveis, pois o tratamento com dexametasona local aumentou em 40% a taxa de recuperação embrionária, e o tratamento sistêmico duplicou o número de embriões recuperados por ciclo em comparação ao grupo controle. Uma única aplicação de dexametasona administrada no momento da cobertura (50 miligramas intravenoso) combinado com terapias rotineiras realizadas após a cobertura (lavagem uterina, drogas ecbólicas, e em alguns casos, antibióticos intrauterinos) resultou em aumento das taxas de prenhez em éguas com histórico de acúmulo de fluido após ovulação e em éguas com incompetência cervical (BUCCA et al., 2008). Porém, os animais submetidos a tratamentos com corticóides devem ser escolhidos 34 cuidadosamente, pois o uso equivocado destes medicamentos em éguas com endometrite bacteriana pode exacerbar a infecção (LEBLANC e CAUSEY, 2009). Estudos recentes têm demonstrado que outros imunomoduladores podem melhorar os índices de prenhez, embora os mecanismos de ação ainda estejam um pouco obscuros. A imunomodulação pode ajudar a restabelecer a homeostase dos mecanismos inflamatórios locais reduzindo a produção de citocinas pró- inflamatórias, consequentemente auxiliando na profilaxia da EPPC ou endometrite crônica infecciosa em éguas velhas (LEBLANC e CAUSEY, 2009). Fumuso et al. (2003) avaliaram a expressão de mRNA de citocinas pró inflamatórias em éguas resistentes à EPPC, susceptíveis e tratadas com imunomodulador feito através do extrato de parede de micobactéria e foram observadas mudanças nos perfis de expressão da transcrição do mRNA. As éguas tratadas apresentaram reversão nos padrões de expressão do mRNA a níveis basais. Foi notado também que nas éguas que receberam o tratamento após IA houve modulação da inflamação pela significante redução na expressão da IL-1β. Em outra análise, Fumuso et al. (2007) também avaliaram a expressão de mRNA das citocinas IL-8, IL-10, entre outras. No ciclo controle, durante o estro, foi notado que houve menor expressão de IL-10, uma citocina anti- inflamatória, em éguas susceptíveis do que em resistentes, o que pode ter contribuído para a manutenção do estado inflamatório. N o segundo ciclo, durante o estro, no qual houve o estímulo do sêmen sobre a resposta inflamatória, notou-se que os animais susceptíveis apresentaram maiores níveis de IL-8 e menores de IL-10 do que as resistentes. No diestro notaram- se, nos animais susceptíveis, altos níveis de todos os parâmetros inflamatórios que continuaram elevados até 7-8 dias após ovulação. No grupo tratado com imunomodulador, a expressão endometrial de IL-8 24 horas após IA foi reduzida em éguas susceptíveis a níveis similares àqueles encontrados em éguas resistentes. Os autores concluíram que o tratamento de éguas susceptíveis com imunomoduladores pode auxiliar no restabelecimento da homeostase dos 35 mecanismos imunes uterinos, por meio da regulação das citocinas pró e anti- inflamatórias. 2.5 Plaquetas e fatores de crescimento As plaquetas são corpúsculos anucleados, em forma de disco, e apresentam aproximadamente 2 a 4 µm de diâmetro. Os megacariócitos, células gigantes e poliplóides da medula óssea, são seus precursores e estão localizados abaixo dos capilares sinusóides da medula e emitem prolongamentos citoplasmáticos, os quais ficam em contato com o sangue. Tais prolongamentos são seccionados e as plaquetas são então liberadas para a corrente sanguínea (HARTWIG & ITALIANO, 2003). Estas apresentam importante função no processo de coagulação do sangue (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). A estrutura das plaquetas consiste em microtúbulos, microfilamentos de actina e miosina, lisossomo, glicogênio, α-grânulos e grânulos densos e lisossomais. Os grânulos lisossomais possuem hidrolases, guaninas, fosfolipases e quinases, os quais agem como enzimas proteolíticas e hidrolíticas (WEIBRICH et al., 2005). Os grânulos densos possuem adenosina difosfato (ADP), adenosina trifosfato (ATP), serotonina e cálcio. Os α- grânulos contém diversas moléculas, como fatores de coagulação e de crescimento, além de outras proteínas como albumina e proteoglicanos (ZUCKER- FRANKLIN et al., 1988). Estas moléculas são importantes para todas as funções plaquetárias, como formação de coágulos, modulação da inflamação e síntese de matriz extracelular, no caso da reparação de tecidos (GENTRY et al., 2000). As plaquetas encontram-se no seu estado inativo (EVERTS et al., 2006). Para a ativação destas, podem ser utilizados tanto agentes fisiológicos, como trombina, tromboxano, serotoninina, epinefrina, como também agentes farmacológicos (cloreto de cálcio, ionóforo de cálcio, dentre outros) (CARMONA et al., 2006). A membrana plasmática das plaquetas é composta por diversos receptores. Desta maneira, acredita-se que tais agentes desencadeiam a ativação plaquetária através da ligação com receptores. Consequentemente, após esta estimulação, os α-grânulos liberam suas 36 moléculas por exocitose no local da lesão para iniciar o recrutamento de outras plaquetas, leucócitos e proteínas plasmáticas. (HARRISON e CRAMER, 1993). Quando ativadas, as plaquetas mudam seu formato, secretam seus grânulos, formam um tipo de “tampão” hemostático e realizam a retração do coágulo (GENTRY et al., 2000). Além da função de coagulação, as plaquetas também liberam substâncias que promovem reparação tecidual e influenciam na reativação da vascularização e de células que promovem a angiogênese e a inflamação (ANITUA et al., 2004). Elas contêm fatores de crescimento como fator de crescimento beta transformante (TGF-β), fibrinogênio, fator de crescimento derivado da plaqueta (PDGF), fator de crescimento epidérmico (EGF), tromboplastina plaquetária, cálcio, entre outros (HARRISON & CRAMER, 1993). Estes fatores são peptídeos sinalizadores que regulam o metabolismo celular pela interação com um organizado complexo de receptores que se encontram na membrana celular, pelas vias de sinalização intracelular e também pelo aumento da transcrição de fatores e produção de proteínas que resultam na proliferação e diferenciação celular, como também no aumento da produção da matriz extracelular (DAHLGREN et al., 2001). Tais peptídeos liberados na matriz extracelular ligam-se ao receptor tirosina-quinase, presente nas células teciduais, e então o mRNA é transcrito após os genes que controlam a divisão celular serem acionados, e assim inicia-se a cascata que promove a reparação e regeneração tecidual (DINATO et al., 2001). Os fatores de crescimento (Tabela 1) são essenciais na regulação dos eventos celulares envolvidos no processo de cicatrização por permitirem a quimiotaxia para o local da lesão (Declair, 1999). TABELA 1. Moléculas bioativas encontradas nos α-grânulos das plaquetas* Atividades gerais Categorias Moléculas específicas Atividades biológicas Fatores de crescimento TGF-β Promoção da síntese da matriz PDGF Quimiotaxia, proliferação celular IGF-I, II Proliferação celular, maturação, síntese da matriz FGF Angiogênese, proliferação dos fibroblastos EGF Proliferação celular VEGF angiogênese 37 ECGF Proliferação das células endoteliais, angiogênese Proteínas aderentes Fibrinogênio Cascata da coagulação sanguínea (formação de coágulo de fibrina) Fibronectina Se liga às integrinas da superfície celular, afetando a adesão celular, crescimento celular, migração e diferenciação Vitronectina Adesão celular, quimiotaxia Trombospondina- 1 Inibição da angiogênese Fatores de coagulação Fator V, XI, proteína S, antitrombina Todos tem papel na ativação da trombina e eventual formação do coágulo de fibrina. Fatores fibrinolíticos Plasminogênio Produção de plasmina (leva a fibrinólise) Plasminogênio ativador e inibidor Regulação da produção de plasmina α-2 antiplasmina Inativação da plasmina Proteases e antiproteases TIMP-4 Regulação da degradação da matriz Metaloprotease-4 Degradação da matriz α- 1 antitripsina Inibe grande variedade de proteases e enzimas Proteínas básicas Fator plaquetário 4 Inibição da angiogênese β – tromboglobulina Ativação plaquetária, inibição da angiogênese endostatinas Inibidoras da migração das células endoteliais e da angiogênese Glicoproteínas das Membranas CCD40 ligante Inflamação, síntese das interleucinas e produção das integrinas; adesão plaquetária nas células endoteliais, sinalizador celular, modulação da molécula de adesão plaquetária (PECAM-1) nos leucócitos. P-selectina Molécula de adesão das células vasculares, auxilia na ligação e recrutamento dos leucócitos para o tecido inflamado. *TGF, fator de crescimento transformante; PDGF, fator de crescimento derivado da plaqueta; IGF, fator de crescimento semelhante à insulina; FGF, fator de crescimento fibroblástico; EGF, fator de crescimento epidermal; VEGF, fator de crescimento vascular endotelial; ECGF, fator de crescimento celular endotelial; TIMP-4, tecido inibidor da metaloprotease-4. Fonte: FOSTER et al. (2009). 2.5.1 Plasma Rico em Plaquetas O plasma rico em plaquetas (PRP) vem sendo muito utilizado na Odontologia, em cirurgias ortopédicas, reparação de músculos e tendões, reversão de úlceras na pele, entre outros. O PRP é uma fonte autógena de fácil aquisição e baixo custo, que contém diversos fatores de crescimento 38 importantes na reparação tecidual, devido à sua ação mitogênica, quimiotática e neovascular. É derivado do sangue total e deve conter entre três e cinco vezes mais plaquetas do que os níveis fisiológicos (GONSHOR, 2002; KEVY & JACOBSON, 2004). Inicialmente o PRP era obtido através de máquinas de plasmaférese e utilizava-se a trombina bovina para sua ativação. Porém, com o intuito de facilitar sua obtenção e reduzir os custos, surgiram equipamentos automatizados e diversos protocolos, inclusive alterando-se os produtos utilizados para sua ativação. Ainda assim, o uso de “kits”, que tornam simples a obtenção do PRP, manteve seu custo elevado e, por isso, diversos protocolos utilizando centrífugas comuns vêm sendo usados. No estudo de Vendruscolo et al. (2012), no qual foram testados diversos protocolos de obtenção de PRP disponíveis na literatura, os autores concluíram que o protocolo de Carmona et al. (2007) foi o mais eficiente em concentrar plaquetas de equinos. Os autores observaram que os protocolos com força de centrifugação relativa alta não obtiveram altas concentrações plaquetárias, provavelmente por ativar ou lesar as plaquetas durante a centrifugação, levando à formação de pellets no fundo do tubo que não se desfaziam facilmente, diminuindo a quantidade de leucócitos presentes no PRP. Nos protocolos com menor força esta condição não ocorreu, uma vez que os leucócitos e plaquetas contidos no fundo do tubo se soltaram mais facilmente. As lipoxinas, moléculas lipídicas oriundas do ácido aracdônico, são moduladoras do processo inflamatório, pois exercem diminuição na quimioatração dos neutrófilos para o local lesado, além de promover a sua apoptose. Além disso, apresentam quimiotaxia para os monócitos que posteriormente se tornarão macrófagos nos tecidos, a fim de se realizar posterior cicatrização e resolução da inflamação (BANNENBERG et al., 2005). Uma das principais rotas para a biossíntese da Lipoxina A4 (LXA4) é a interação dos neutrófilos com as plaquetas nos vasos sanguíneos. As interações entre as células promovem a hidroxilação do 12-HETE das plaquetas pela 5- lipoxigenase das células mieloides para produzir as lipoxinas (FIORI et al., 1995), o que sugere que as plaquetas podem estar envolvidas com a resolução da inflamação. El-Sharkawy et al. (2007) demonstraram que além do PRP aumentar a distribuição dos fatores de crescimento para a área 39 lesionada, ainda há aumento local do nível de LXA4 e de RANTES, quimiocinas secretadas por macrófagos, células endoteliais, dentre outras, que também tem a função de manter o gradiente quimiotático para migração dos leucócitos da circulação para os tecidos. Além disso, os RANTES podem inibir a liberação de histamina pelos basófilos (ALAM et al., 1992), levando à inibição do processo inflamatório. Desta maneira, tal estudo mostrou que os níveis de LXA4 e RANTES derivados das plaquetas foram elevados, o que auxilia na promoção da resolução da inflamação. Em estudo realizado por Woodall et al. (2008), foi analisada a atuação das plaquetas na liberação da IL-1 pelos macrófagos. Foi notado que as plaquetas causam uma supressão inicial da IL-1 liberada por macrófagos ativados. Posteriormente, a IL-1 liberada foi aumentando durante os 7 dias seguintes, indicando que o PRP pode ser usado como um agente anti-inflamatório transitório que inicialmente suprime a inflamação e depois estimula uma resposta de restabelecimento tardio. Diante do exposto, o uso do PRP como modulador da reação inflamatória e como reparador de lesões no tecido uterino pode vir a ser uma terapia promissora para a resolução da EPPC. 40 Objetivos 41 3 OBJETIVOS � Verificar o estímulo do sêmen na resposta inflamatória uterina de éguas resistentes e susceptíveis à endometrite persistente 24 horas após a inseminação artificial. � Determinar se o tratamento com plasma rico em plaquetas interfere na resposta inflamatória de éguas resistentes e susceptíveis a endometrite após a inseminação artificial. 42 Materiais e Métodos 43 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Experimento 1 4.1.1Seleção dos animais e local da pesquisa Foram utilizadas 23 éguas, sem raça definida, com peso médio entre 300 e 400 kg e idade entre 5 e 18 anos. Os animais pertenciam à FMVZ – UNESP Botucatu, e estavam situados no Posto de Monta desta instituição, latitude 22°53’09’’, altura 804 metros. Todos os animais apresentavam ótimo estado de condição corporal e foram alimentados diariamente com ração e feno e receberam sal mineral e água ad libitum. Os animais foram divididos em duas categorias: 15 éguas susceptíveis, com idade maior que 10 anos, sendo duas éguas com 6 anos, apresentando histórico de acúmulo de fluido intra-uterino após a IA por mais de 24 horas, determinado por ultrassonografia e baixa taxa de recuperação embrionária (<30%), e 8 éguas resistentes, com idade inferior a 10 anos sem qualquer tipo de alteração no aparelho reprodutivo, que não apresentavam histórico de acúmulo de líquido ou queda na taxa de fertilidade. Com o intuito de melhor selecionar os grupos experimentais de éguas resistentes e susceptíveis, foi realizada uma inseminação artificial e assim verificada a resposta inflamatória nestes animais para posterior tratamento com plasma rico em plaquetas. 4.1.2 Colheita de sêmen e preparo das doses inseminantes A colheita de sêmen foi realizada com o auxílio da vagina artificial modelo Botucatu. Imediatamente após a obtenção do sêmen foi retirada a fração gel através de filtração e o sêmen foi diluído com produto comercial a base de leite desnatado Botu-semen® (Botupharma, Botucatu/SP, Brasil) na proporção de 1:1 (o mesmo produto foi utilizado para todas as amostras de sêmen utilizadas). Após a diluição, a motilidade dos espermatozóides foi mensurada através de análise computadorizada (Hamilton Thorne Research, Danvers, USA) e a concentração mensurada através da câmara de Neubauer. Após 44 esses procedimentos, foram separadas doses contendo 800x106 de espermatozóides totais. 4.1.3 Inseminações artificiais As éguas resistentes e as susceptíveis foram inseminadas em ciclos estrais consecutivos com o mesmo garanhão, utilizando-se sêmen fresco com uma dose de 800 milhões de espermatozóides totais. Este primeiro ciclo não sofreu nenhuma interferência medicamentosa. Ao se detectar um folículo de 35 mm e edema uterino compatível, as éguas foram induzidas à ovulação com 1 mg de acetato de deslorelina intramuscular. Cada animal foi inseminado uma vez por ciclo. Nos ciclos em que a ovulação não ocorreu dentro do período desejado, as colheitas foram descartadas e o ciclo estral, desconsiderado. 4.1.4 Colheita e processamento do material uterino Foram realizadas citologias exfoliativas uterinas 24 horas antes da IA e 24 horas após a IA. As coletas foram feitas com o auxílio de um aparelho para coleta de citologia uterina equina, cuja função é proteger a escova ginecológica do contato com o ambiente vaginal e cervical da fêmea, além de facilitar sua entrada no útero, como foi descrito por Alvarenga e Iwana de Matos (1990). Após a coleta, as lâminas foram secas em temperatura ambiente e coradas pelo método Panótico Rápido. A leitura das amostras foi realizada por meio de microscopia óptica utilizando imersão (1000x), considerando a porcentagem de neutrófilos/100 células de forma aleatória. Foram realizados exames ultrassonográficos 24 horas antes da IA e 24 horas após, a fim de se detectar a presença de fluido uterino acumulado na região de bifurcação dos cornos uterinos e mensuração do mesmo. Em tais momentos, foi realizada a coleta da secreção uterina através de um tampão de algodão (absorvente feminino modelo mini - OB® - Johnson & Johnson), utilizando um aplicador especialmente preparado de aço inox. Para facilitar a remoção do tampão, o mesmo teve seu puxador aumentado com fio cordonê grosso estéril. A retirada do tampão ocorreu após 30 minutos através da 45 introdução da mão enluvada via vaginal e tração do fio cordonê, mantendo-o protegido do contato com o canal vaginal da égua. Imediatamente após a retirada do tampão do interior do útero o mesmo foi colocado em uma seringa estéril, pressionando-se o êmbolo até a total liberação do líquido absorvido em um tubo estéril. A partir desta amostra foi separada uma alíquota para obtenção da concentração de neutrófilos/mL em câmara de Neubauer e microscopia óptica. Outra parte desta amostra foi submetida a um processo de centrifugação a 3000g por 10 minutos, conforme realizado por FIORATTI (2010) para retirada de células presentes, e as amostras foram congeladas imediatamente a temperatura de -20°C até o momento da realização das avaliações laboratoriais. Em algumas éguas, não foi possível recuperar fluido uterino nos momentos antes da IA, desta maneira, tais animais não foram utilizados na mensuração da concentração de células PMNs e ON no fluido uterino. 4.1.5 Dosagem de Óxido Nítrico Após o descongelamento das amostras de fluido uterino armazenadas dos momentos 24 horas antes e 24 horas após IA, as concentrações de nitrato (NO3 -) e nitrito (NO2 -) foram determinadas pelo método da reação colorimétrica de Griess em espectrofotômetro (Multiskan EX primary EIA V 2.1-0) com absorbância de cor em 540 nm para estimar a concentração de Óxido Nítrico (ON) total. Está bem estabelecido que o congelamento das amostras não altera a concentração de ON, portanto a primeira reação na amostra ocorre quando o nitrito forma o sal diazonium, que reage com o segundo reagente gerando-se a cor roxa, para a qual o pico de absorbância é de 540 nm. Com o objetivo de se reduzir o nitrato a nitrito, uma alíquota de 40 µL da amostra armazenada foi incubada em mistura contendo 1000µL de nitrato reductase, 1000µL do cofator NADPH (5 mg/mL) diluído em água deionizada e 1000µL de PBS (0,5 M). As amostras foram incubadas em uma temperatura de 37°C por um intervalo de tempo de 14 a 16 horas numa placa de 96 poços. Após esta etapa, 80 µL do reagente de Griess foram adicionados à amostra. Todas as soluções foram completamente protegidas da luz durante o experimento. A curva padrão para 46 o nitrito foi diluída em PBS contendo concentrações variando entre 0,5 a 400 µM. Os valores de absorbância adquiridos nas concentrações pré estabelecidas foram usados para construir a curva de dispersão. Dessa forma, foram realizadas as dosagens de nitrito, o metabólito de menor concentração, e de ON total, ou seja, nitrito e nitrato. As reações fazem com que todo nitrato seja reduzido a nitrito e por medições deste foi obtida a quantidade total de metabólitos (NO2- e NO3-). 4.2 Experimento 2 4.2.1 Seleção dos animais Para o tratamento com PRP, foram utilizadas as mesmas éguas do experimento 1, sendo um ciclo controle e outro tratado. As éguas foram controle delas mesmas. 4.2.2 Colheita de sêmen e preparo das doses inseminantes Os procedimentos para colheita de sêmen e preparo das doses inseminantes foram realizados conforme descritos no experimento 1. 4.2.3 Inseminações artificiais As inseminações artificiais foram realizadas conforme foi descrito no experimento 1. 4.2.4 Obtenção do Plasma Rico em Plaquetas (PRP) e infusão no útero A obtenção do PRP foi realizada a partir do método descrito por CARMONA et al. (2007). Amostras de 100 mL de sangue de cada um dos animais foram colhidas através de punção da veia jugular externa, e acondicionadas em tubos contendo o anticoagulante citrato de sódio a 3,2%. As amostras de sangue foram homogeneizadas e imediatamente centrifugadas a 120 g, durante 10 minutos. De cada tubo centrifugado foi 47 descartado 50% do plasma presente na superfície, com o intuito de se usar um plasma mais concentrado em plaquetas na segunda centrifugação. Para isso, o plasma obtido após a primeira centrifugação foi acondicionado em dois tubos plásticos sem anticoagulante, procedendo-se em seguida à centrifugação dos mesmos a 240 g por 10 minutos. Após a segunda centrifugação, o plasma foi dividido em duas frações: o sobrenadante (plasma pobre em plaquetas) e a fração remanescente denominada plasma rico em plaquetas. O plasma pobre foi descartado e o PRP, reservado. Os tubos com PRP foram acondicionados em caixa isotérmica Botuflex® (Botupharma, Botucatu/SP, Brasil) com gelo em uma temperatura controlada entre 20-25°C, por um período de 1 hora até o momento da aplicação. A certificação da concentração de plaquetas no PRP foi realizada manualmente no Laboratório Clínico Veterinário da FMVZ – Unesp, Botucatu/SP, logo após a segunda centrifugação. A ativação das plaquetas para liberação dos grânulos plaquetários foi realizada com Cloreto de Cálcio a 10%, na proporção de 50µl para cada ml de PRP (ARGUELLES et al., 2006). A infusão de 20 mL de PRP no útero foi realizada 4 horas após a IA, com o auxílio de uma pipeta de inseminação introduzida no corpo uterino, com a mão enluvada e uso de lubrificante. As éguas foram higienizadas previamente. Em alguns animais, não foi possível concentrar o número de plaquetas desejado, mesmo após várias tentativas. Sendo assim, tais animais foram retirados do experimento. A concentração plaquetária média utilizada foi de 257.000 plaquetas/µL. 4.2.5 Colheita e processamento do material uterino Os procedimentos para colheita e processamento do material uterino foram realizados conforme descritos no experimento 1. Em algumas éguas, não foi possível recuperar fluido uterino nos momentos antes da IA, desta maneira, tais animais não foram utilizados na mensuração da concentração de células PMNs e ON no fluido uterino. 48 4.2.6 Dosagem de Óxido Nítrico Os procedimentos para dosagem de óxido nítrico foram realizados conforme descrito no experimento 1. 4.3 Análise Estatística Para os valores da concentração de células polimorfonucleares e óxido nítrico no fluido uterino; porcentagem de neutrófilos na citologia uterina e acúmulo de fluido analisado através de exame ultrassonográfico, nos diferentes momentos e grupos de éguas foram realizados os cálculos das médias e desvio padrão, e os dados foram comparados por meio do teste T para os grupos com e sem tratamento com PRP, e T pareado para os momentos pré e pós IA, utilizando o Programa GraphPad InStat 3®. O nível de significância considerado foi de 5% e valores de p entre 5 e 10 % foram considerados tendência estatística (FISHER & BELLE, 1993). 49 Resultados 50 5 RESULTADOS Experimento 1: Resposta inflamatória uterina após inseminação artificial em éguas resistentes e susceptíveis à endometrite. Ao se comparar as duas categorias de éguas, no momento pré inseminação artificial, não houve diferença estatística (p>0,05) em todos os parâmetros avaliados (concentração de PMNs e ON no fluido uterino, porcentagem de PMNs na citologia exfoliativa uterina e acúmulo de fluido observados no exame ultrassonográfico) (Tabela 2 e figuras 1,2, 3 e 4). TABELA 2. Médias e desvio padrão do número de células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs; n resistentes=7; n susceptíveis =12); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n resistentes=8; n susceptíveis =15); quantidade de fluido uterino (FLU n resistentes=8; n susceptíveis =15) e concentração de ON no fluido uterino (ON; n resistentes=7; n susceptíveis =12) entre éguas susceptíveis e resistentes 24 horas antes da inseminação artificial. ab Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si (p<0,05). Após a IA, a concentração de PMNs no fluido uterino, porcentagem de PMNs na citologia exfoliativa uterina e acúmulo de fluido observados no exame ultrassonográfico foram estatisticamente diferentes (p<0,05) entre as duas categorias de éguas, apresentando valores maiores para as éguas susceptíveis. A concentração de ON não variou entre as duas categorias de animais (p>0,05) após a IA (Tabela 3 e Figuras 1, 2, 3 e 4). TABELA 3. Médias e desvio padrão do número de células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs; n resistentes=7; n susceptíveis =12); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n resistentes=8; n susceptíveis =15),quantidade de fluido uterino (FLU; n resistentes=8; n susceptíveis =15 ) e concentração de óxido nítrico no fluido uterino (ON; n resistentes=7; n susceptíveis =12) entre éguas susceptíveis e resistentes 24 horas após a inseminação artificial. PRÉ IA RESISTENTES SUSCEPTIVEIS PMNs (células x 103/ml) 237,86 ± 219,5a 406,4 ± 416,6a CIT (%) 2,25 ± 1,6a 6 ± 12,4a FLU (mm) ON (µM) 0 ± 0a 506,99 ± 332,03a 0± 0a 489,37 ± 364,09a PÓS IA RESISTENTES SUSCEPTIVEIS PMNs (células x 103/ml) 611,43 ± 324,8a 3536,25 ± 3626,6b CIT (%) 26,63 ± 10,7a 69,93 ± 12,5b FLU (mm) ON (µM) 0,25 ± 0,7a 310,15 ± 396,9a 11,07 ± 6,6b 405,27 ± 446,3a ab Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si (p<0,05). 51 Comparando-se os momentos pré e pós inseminação artificial na categoria de éguas resistentes, foi observado aumento significativo (p<0,05) na concentração de PMNs no fluido uterino e na porcentagem de PMNs na citologia exfoliativa uterina, enquanto que a quantidade de fluido uterino mensurada na ultrassonografia e a concentração de ON no fluido uterino não apresentaram diferença estatística entre os momentos (p>0,05) (Tabela 4 e figuras 1,2, 3 e 4). TABELA 4. Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs; n=7); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n=8), quantidade de fluido uterino (FLU; n=8) e concentração de ON no fluido uterino (ON; n =7) nas éguas resistentes 24 horas antes e 24 horas após a inseminação artificial. a,b Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si (p<0,05). Já nos animais susceptíveis, todos os parâmetros aumentaram e diferiram significativamente após a inseminação artificial (p<0,05), com exceção da concentração de ON, que não variou entre os dois momentos (p>0.05) (Tabela 5 e figuras 1,2, 3 e 4). TABELA 5. Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMN`s n=12); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n=15), quantidade de fluido uterino (FLU; n=15) e concentração de óxido nítrico (ON; n=12) nas éguas susceptíveis 24 horas antes e 24 horas após a inseminação artificial. ON (µM) 489,37 ± 364,1a 405,27 ± 446,3a a,b Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si (p<0,05). RESISTENTES Pré IA Pós IA PMNs (células x 103/ml) 237,86 ± 219,5a 611,43 ± 324,8b CIT (%) 2,25 ± 1,6a 26,63 ± 10,7b FLU (mm) ON (µM) 0 ± 0a 506,99 ± 332,0a 0,25± 0,7a 310,15 ± 396,9a SUSCEPTÍVEIS Pré IA Pós IA PMNs (células x 103/ml) 406,42 ± 416,6a 3536,2 ± 3626,6b CIT (%) 6,0±12,4a 69,93± 12,5b FLU (mm) 0± 0a 11,07 ± 6,6b 52 FIGURA 1. Médias e desvio padrão da concentração (x103/mL) de células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs) nos momentos 24 horas pré (PRE) e 24 horas após (POS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente. FIGURA 2. Médias e desvio padrão da porcentagem de células polimorfonucleares na citologia uterina nos momentos 24 horas pré (PRÉ) e 24 horas após (PÓS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente. -1000 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 PRE POS Resistentes Susceptíveis -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 PRE POS Resistentes Susceptíveis C on ce nt ra çã o de P M N s (x 10 3 ) P or ce nt ag em d e P M N S 53 FIGURA 3. Médias e desvio padrão da quantidade de fluido uterino avaliada na ultrassonografia (mm), nos momentos 24 horas pré (PRÉ) e 24 horas após (PÓS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente. FIGURA 4. Médias e desvio padrão da concentração de óxido nítrico mensurado no fluido uterino nos momentos 24 horas pré (PRÉ) e 24 horas após (PÓS) inseminação artificial, nas éguas resistentes (Resistentes) e susceptíveis (Susceptíveis) à endometrite persistente. -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 PRE POS Resistentes Susceptíveis -200 0 200 400 600 800 1000 PRE POS Resistente Susceptivel M ilí m et ro s (m m ) d e flu id o ut er in o C on ce nt ra çã o de ó xi do n ítr ic o 54 Experimento 2: Efeito do tratamento com plasma rico em plaquetas na resposta inflamatória uterina de éguas resistentes e susceptíveis à endometrite persistente. Na comparação entre os momentos pré e pós inseminação artificial na categoria de éguas resistentes, a porcentagem de PMNs na citologia exfoliativa uterina aumentou significativamente após a IA (p<0,05), enquanto que não foi observada alteração significativa (p>0,05) na concentração de PMNs no fluido uterino, na quantidade de fluido uterino mensurada através de exame ultrassonográfico e na concentração de ON no fluido uterino (Tabela 6 e figuras 5, 6, 7 e 8). TABELA 6. Médias e desvio padrão da concentração das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs; n=4); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT; n=8), quantidade de fluido uterino (FLU, n=8) e concentração de óxido nítrico (ON; n=4) nas éguas resistentes 24 horas antes (Tratamento pré IA) e 24 horas após a inseminação artificial e tratamento com plasma rico em plaquetas (Tratamento pós IA). RESISTENTES Tratamento pré IA Tratamento pós IA PMNs (células x 103/ml) 785,0 ± 687,6a 705,0 ± 311,4a CIT (%) 5,25 ± 3,9a 14,38 ± 10,8b FLU (mm) ON (µM) 0 ± 0a 394,20 ± 250,8a 0 ± 0a 292,05 ± 297,6a a,b Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si (p<0,05) Nos animais susceptíveis, todos os parâmetros aumentaram e apresentaram diferença estatística após a inseminação artificial (p<0,05), com exceção da concentração de ON, que não diferiu estatisticamente entre os dois momentos (p>0,05). A concentração de PMNs no fluido uterino apresentou uma tendência estatística em aumentar após a inseminação artificial e tratamento com PRP (0,05
0,05), enquanto que a citologia exfoliativa uterina apresentou diferença estatística (p<0,05), diminuindo seu valor no grupo tratado (Tabela 8 e figuras 9, 10, 11 e 12). Tabela 8. Médias e desvio padrão das células polimorfonucleares no fluído uterino (PMNs, n=7); porcentagem de polimorfonucleares na citologia uterina (CIT, n=8), quantidade de fluido uterino (FLU, n=8) e concentração de óxido nítrico (ON; n=7) nas éguas resistentes no grupo controle 24 horas após inseminação artificial (Controle pós IA) e no grupo inseminado e tratado com plasma rico em plaquetas (Tratamento pós IA). a,b Letras minúsculas diferentes na mesma linha diferem entre si (p<0,05) Os animais susceptíveis apresentaram, 24 horas após a inseminação artificial, diferença estatística significativa (p<0,05) entre os dois grupos na citologia exfoliativa uterina, concentração de ON no fluido uterino e quantidade de fluido uterino mensurado ao ultrassom, enquanto que a concentração de PMNs no fluido uterino apresentou tendência estatística à redução após o tratamento com PRP (0,05