Centro de Cultura e Lazer para o município de São Raimundo Nonato (PI) Roberta Gomes de Souza Centro de Cultura e Lazer para o município de São Raimundo Nonato (PI) Trabalho Final de Graduação Roberta Gomes de Souza Orientador: Prof. Dr. Alexandre Suárez de Oliveira Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design Universidade Estadual Paulista ‘Júlio de Mesquita Filho’ Bauru 2024 S729c Souza, Roberta Gomes Centro de Cultura e Lazer para o município de São Raimundo Nonato (PI) / Roberta Gomes Souza. -- Bauru, 2024 97 p. : il., fotos, mapas Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado - Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design, Bauru Orientador: Alexandre Suárez Oliveira 1. Centro Cultural. 2. Identidade. 3. Serra da Capivara. 4. Sertão. 5. Tradição. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Dados fornecidos pelo autor(a). agradecimentos Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo esforço e por todas as oportunidades que puderam me promover ao longo de minha vida. Ao meu orientador, professor Alex, pelos aprendizados, pela paciência e flexibilidade, além das dicas sinceras dadas nos atendimentos ao longo deste ano. A todos os meus colegas de universidade que permitiram que esses cinco anos fossem levados de maneira mais leve, com boas risadas e conversas, mesmo nos momentos mais difíceis de nossa vida acadêmica. A todos os meus amigos que me apoiaram e continuam me apoiando nessa jornada, pelos incentivos, pelas palavras de conforto e pela confiança. E aos meus avós, por todo o carinho, todas as boas memórias de infância e por me fazerem me apaixonar por essa terra chamada Piauí. Dedico este trabalho aos meus avós, Maria de Lourdes e Salvador, por me apresentarem e me receberem sempre de maneira tão calorosa em suas terras do Sertão. Parque Nacional da Serra da Capivara. Fonte: ((o))eco (2015). resumo Palavras-chave: centro cultural; identidade; serra da capivara; sertão; tradição. Localizada na região sudoeste do estado do Piauí, a cidade de São Raimundo Nonato, juntamente a outros três municípios, abriga o Parque Nacional da Serra da Capivara, criado em 1979 a fim de preservar a riqueza de vestígios arqueológicos encontrados na região a partir da década de 1960, tornando-se posteriormente patrimônio mundial da humanidade. A partir de sua influência sobre a região, buscou-se compreender as necessidades de equipamentos de cultura e lazer voltados para a população local, além de observar a oferta de espaços atrativos ao turismo para a criação de um projeto de equipamento público que articule a valorização dos costumes e tradições dos habitantes, gerando também um espaço de suporte à estrutura turística municipal. Com isso, este trabalho partiu de uma pesquisa sobre um breve contexto histórico da cidade, observando a influência do parque arqueológico sobre a região, além de seus aspectos físicos, naturais, urbanos e culturais. Por fim, foi feito o estudo de projetos de referência e da linguagem arquitetônica sertanista, os quais serviram de apoio para o desenvolvimento projetual de um Centro de Cultura e Lazer para São Raimundo Nonato. Keywords: cultural center; identity; serra da capivara; sertão; tradition. abstract Located in the southeast region of the state of Piauí, São Raimundo Nonato, together with three other municipalities, holds the Parque Nacional da Serra da Capivara, created in 1979 to preserve the richness of the archaeological remains founded in the area in the 1960 decade, becaming a world recognized heritage site. Because of its influences over the town, this work aims to understand the necessities about the cultural and leisure spaces for the local population in addition to observe the availability of the creation of attractive spaces for tourists through a public project that articulates the promotion of the local inhabitants’ costumes and traditions, creating a support space to the tourist structure. This work starts with a research about the historical context of São Raimundo Nonato, noting the effects of the archaeological park on the region, besides its physical and natural, urban and cultural aspects. After that, it is made studies of reference architecture projects besides the language of the sertanista architecture serving as basis to the development of the project of a multifunctional cultural and leisure center that values the symbolisms of the local traditions. abreviaturas e siglas CTN FUMDHAM IBGE IDH IPHAN Parna PMSRN SNUC Centro de Tradições Nordestinas Fundação Museu do Homem Americano Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Índice de Desenvolvimento Humano Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional Parque Nacional Prefeitura Municipal de São Raimundo Nonato Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza Acesso ao município. Fonte: site oficial da FUMDHAM. sumário 64 68 68 70 72 78 80 82 84 86 88 90 92 lugar proposição projetual conceito e partido programa implantação centro de informações turísticas edifício comercial edifício cultural auditório o percurso e a a praça central áreas livres considerações finais referências bibliográficas introdução metodologia contexto breve contexto histórico aspectos físicos e naturais aspectos urbanos e culturais conclusão estudos de caso sesc pompéia casal saloio - museu da ruralidade pueblo español centro de tradições nordestinas conclusão linguagem arquitetônica sertanista 08 10 12 14 28 32 40 41 42 46 50 54 58 60 introdução Com os vestígios humanos encontrados na região sudoeste do estado do Piauí na década de 1960, a cidade de São Raimundo Nonato passou a ser expoente de atividades arqueológicas guiadas pela pesquisadora franco-brasileira Niède Guidon, evidenciando que a ocupação humana no continente americano ocorreu em um período anterior ao que se acreditava até o momento. A importância da Serra da Capivara é dada pelos: registros da presença humana que remonta a mais de 50.000 anos, nos mais de 1.000 sítios arqueológicos catalogados até junho de 2007, além de apresentar fauna e flora específicas do bioma caatinga e da beleza cênica de suas formações rochosas (Oliveira Filho; Monteiro, 2009, p. 231). A partir da criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, o município de São Raimundo Nonato ganhou relevância em nível nacional e global à medida que foi reconhecido como patrimônio natural, histórico e cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pela UNESCO, tornando-se um atrativo turístico. introdução 08 Processo de investigação das pinturas rupestres. Fonte: site oficial da Fumdham. introdução 09 Por ser um importante fator do desenvolvimento local, o turismo é, muitas vezes, colocado em primeiro lugar nos investimentos e ações governamentais ao passo que a comunidade local ainda sofre com a carência de espaços públicos culturais e de lazer qualificados para o estímulo de seus costumes e tradições. Dessa forma, este trabalho surge a partir da necessidade da criação de um espaço de recreação voltado fundamentalmente à comunidade local, reforçando a estrutura cultural para a população e que, complementarmente, possa servir de apoio à estrutura turística municipal e ao acolhimento de turistas, reforçando a importância do Parque Nacional (Parna), de maneira a promover a sua integração com a população local e seus costumes, quebrando com a ideia da cidade como um mero “espetáculo”. Assim, a partir do contexto de São Raimundo Nonato, esta pesquisa pretende compreender quais são as necessidades locais para a criação de um projeto de um Centro de Cultura e Lazer, por meio de espaços que se diferenciam dos equipamentos culturais já existentes no município, apropriando-se de materiais locais e resgatando a arquitetura tradicional nordestina, em específico, da região do sertão, de forma a reforçar a estrutura recreativa local. metodologia Este trabalho parte de uma breve análise sobre o contexto histórico do município de São Raimundo Nonato, com enfoque na segunda metade do século XX, em decorrência da influência da criação do Parque Nacional da Serra da Capivara sobre a população local, estudando sua cronologia desde o momento em que foram descobertos os primeiros vestígios, passando pelas pesquisas arqueológicas, até a sua influência nos dias atuais. Em seguida, fez-se uma análise geral da cidade, observando- se seus aspectos físicos e naturais, além dos aspectos urbanos e culturais, buscando extrair suas características mais simbólicas, tradições locais e a compreensão da presença de espaços de cultura e lazer no território atual. A partir desse contexto, foi feita uma pesquisa de projetos de referência, os quais foram escolhidos a partir de seu enfoque em espaços culturais, recreativos e que promovem a identidade de uma determinada comunidade, por meio de edifícios que estão atrelados a áreas livres e percursos interativos ao pedestre. Outros aspectos também analisados por meio dos estudos de caso foram a materialidade dos projetos e o caráter multifuncional do programa arquitetônico, buscando sempre observar quais elementos foram utilizados para expressar a identidade e os simbolismos locais. Por fim, fez-se um breve estudo sobre a linguagem arquitetônica sertanista, com o intuito de compreender a maneira como ocorreram as primeiras ocupações da região, por meio das fazendas de gado, observando seus elementos, composições e materiais característicos, e quais desses aspectos perduraram e/ou influenciaram na arquitetura local dos dias atuais. Com isso, partiu-se para o desenvolvimento projetual, a partir da escolha do terreno de inserção do projeto do Centro de Cultura e Lazer de São Raimundo Nonato, tomando como base as diretrizes propostas pelo Plano Diretor Municipal, atentando-se ao fato de que a legislação, delineada em 2008, não foi aprovada até o presente momento. metodologia 10 11Parque Nacional da Serra da Capivara. Fonte: FUMDHAM (2024). contexto A cidade de São Raimundo Nonato localiza-se no sudeste do estado do Piauí na Região Nordeste do Brasil, sendo este o 11º maior estado brasileiro em área, superando inclusive a extensão do estado de São Paulo, com uma população que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024), supera o número de 3,2 milhões de pessoas. Localização esquemática do município. Fonte: site oficial do IBGE (2024); PMSRN (2008c). Adaptado pela autora. Piauí São Raimundo Nonato Teresina mancha urbana De acordo com o Panorama do estado do Piauí no site oficial do IBGE (2024), seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a partir de dados de 2021, equivale a 0,69, estando entre os estados que possuem o menor IDH dentro do território brasileiro. Esse valor é um indicativo de um IDH médio, o qual se mantém em números aproximados desde o censo de 2010, enquanto os censos anteriores indicam um índice baixo, com contexto 12 contexto 13 valores de 0,362 em 1991 e 0,484 no censo do ano 2000. Quanto ao município de São Raimundo Nonato, sua população soma mais de 38 mil pessoas de acordo com os primeiros resultados do Censo Demográfico, realizado em 2022 pelo IBGE (2024b), com um IDH de 0,661 de acordo com o censo de 2010 (2024). Ao fazer uma comparação com o município de Teresina, é possível perceber que há uma grande discrepância no tamanho da população da capital em relação aos outros municípios piauienses, como pode ser visto na tabela abaixo. Maiores municípios por população Posição Município População 1 Teresina 866.300 2 Parnaíba 162.159 3 Picos 83.090 4 Piripiri 65.538 5 Floriano 62.036 Fonte: IBGE (2024). Adaptado pela autora. Além da diferença de cerca de 705 mil habitantes, há também um valor superior do IDH que, em Teresina, já no censo de 2010, mostrava um valor de 0,751, sendo, juntamente com o município de Floriano (IDH = 0,700), os únicos municípios do estado que possuem um Índice de Desenvolvimento Humano igual ou superior a 0,700. As cidades citadas localizam-se majoritariamente na porção norte do estado do Piauí, indicando condições mais precárias e menores investimentos governamentais nos municípios ao Sul, nos quais percebe-se uma evolução tardia quanto ao IDH. Foi feito ainda um cálculo gerado por meio de rotas a partir do centro urbano ao longo das rodovias locais com destino às cidades de influência sobre o município. Obteve-se que São Raimundo Nonato localiza-se a mais de 500 km de distância da capital estadual, Teresina, estando mais próximo de grandes cidades dos estados do Pernambuco e da Bahia, localizando-se a cerca de 60 km de distância da divisa com o estado baiano. breve contexto histórico A seguir, será apresentada uma breve abordagem histórica de São Raimundo Nonato, com enfoque no período do processo de criação do Parque Nacional da Serra da Capivara devido aos seus impactos sobre a população e sua relação com projetos sociais, econômicos e culturais, os quais servirão de base para a compreensão das necessidades locais. A população originária da região era formada por grupos de caçadores e coletores e, por um certo período após a invasão europeia no Brasil, a ocupação da Capitania do Piauí se deu majoritariamente em sua porção norte, visto que na região sul encontrava-se o seguinte cenário: imenso vazio ao sul do rio Parnaíba, onde sobressaem os topônimos “Pimenteiras” e “Gilbóes”, tribos indígenas conhecidas pela sua ferocidade, o que tornava seus territórios impenetráveis (Diniz, 2013, p. 45). Após a chegada dos europeus no território sul do Piauí, ocorreram diversos confrontos contra os povos indígenas ali presentes na tentativa de catequizá-los e obter o domínio do local, provocando a sua fuga para as margens do Rio Tocantins contexto 14 (IBGE, 2024). Com a dizimação da população local, Justamand (2014, p. 46) relata que a região passou a ser utilizada para as grandes fazendas de gado e para o cultivo agrícola em pequena escala de grãos como o milho, o feijão e o arroz. Dessa forma, de acordo com o Plano Diretor Municipal (2008, p.3), as primeiras ocupações do município ocorreram na região do vale do Rio Piauí, estendendo-se a Oeste ao longo de suas margens, levando à sua elevação à Freguesia de São Raimundo Nonato no ano de 1832, sendo simbolizada pela construção da igreja matriz no ano de 1836 em sua praça central, hoje, também conhecida como Praça Comandante Piauílino, ilustrada na imagem ao lado. Por fim, a até então freguesia, foi elevada à categoria de cidade somente no ano de 1912, quando passaram a ser construídos os “primeiros equipamentos urbanos importantes, como açude, mercado público, cemitério, cadeia, entre outros” (PMSRN, 2008, p.3). contexto 15 Dessa forma, vê-se que o valor dos vestígios pré-históricos encontrados na região se dá não apenas pelos significados que carregam, mas também pelo fato de terem perdurado perante à invasão europeia, visto que, após a dizimação da população local pelos europeus, a maioria dos vestígios remanescentes no território brasileiro foi perdido, pois, como menciona Justamand: No Brasil, os vestígios dos primeiros habitantes, ou seja, os vestígios de nossa ancestralidade mais antiga foram deixados de lado em nome daquilo que a civilização europeia acredita ou foram destruídos (Justamand, 2014, p. 125). A partir desse contexto, é feita uma cronologia ilustrada do processo de criação do Parna da Serra da Capivara, sendo seguida por uma descrição de cada período, apresentando desde os primeiros contatos por parte de pesquisadores e arqueólogos até os dias atuais, por meio de sua manutenção e desenvolvimento das pesquisas sobre a região.Igreja matriz de São Raimundo Nonato. Fonte: Hans Braegelmann (2010). contexto 16 1979ANOS 70 criação do parque nacionalinício das pesquisas arqueológicas ciclo da borracha ANOS 60 cronologia da Serra da Capivara Fonte das imagens: (1): Justamand (2008); (4): SESC (2018); (5): Carlos Reis (2010); (2; 3; 6; 7; 8; 9; 10): site oficial do FUMDHAM. contexto 2019 museu da natureza 17 1991 1993 tombamento iphanreconhecimento unesco 1986 criação da fumdham contexto ciclo da borracha Devido ao sucesso econômico da exportação do látex na Região Norte, buscou-se a exploração dessa matéria-prima em outras regiões do país, sendo encontrada também no Nordeste, por meio da maniçoba, espécie presente em diversos estados nordestinos, dentre eles o Piauí. Mesmo com a qualidade inferior à da seringueira, a região tornou-se um dos principais expoentes da exploração do látex a partir de 1890, de acordo com a Prefeitura Municipal de São Raimundo Nonato (PMSRN, 2008a, p. 3) e, mesmo após sua decadência, estendeu-se de maneira contínua até a década de 60 (Landim; Oliveira, 2014, p. 4). Dentro desse contexto, muitas pessoas deslocavam-se até a região a fim de buscar melhores condições de vida, ficando conhecidas como maniçobeiros. Para facilitar o trabalho, muitos deles moravam nas cavernas que existiam na região, hoje reconhecidas como sítios arqueológicos, trazendo suas famílias e poucos pertences, apropriando-se do local até 18 Maniçobeiros moradores dos sítios. Fonte: Justamand (2007). mesmo para a realização de “reuniões, festas, batizados, missas e casamentos” (Ibid., p. 10). contexto início das pesquisas arqueológicas De acordo com o documentário produzido pela Unesco sobre o Parque Nacional da Serra da Capivara (2013), a arqueóloga Niède Guidon só teve conhecimento da existência das pinturas rupestres na região do Piauí no ano de 1963, quando a pesquisadora trabalhava no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e alguns moradores do município lhe enviaram registros fotográficos das pinturas presentes na Serra da Capivara, chamadas por eles de “pinturas dos índios”, ou seja, até o momento acreditava-se que tais registros gráficos tinham sido produzidos pelos indígenas que habitaram a região no momento anterior à invasão europeia. Inicialmente, sem obter sucesso em visitar a região devido à dificuldade de acesso ao município, foi apenas na década de 70 que a arqueóloga conseguiu ter um primeiro contato físico com as pinturas rupestres ali encontradas e logo identificadas como potenciais vestígios pré-históricos. 19 Assim, são iniciados os processos de escavações, com o descobrimento de novos sítios arqueológicos e vestígios que levaram ao confronto das teorias de ocupação das Américas até então existentes (Justamand, 2007, p. 53), por meio das missões arqueológicas que tiveram o apoio do Governo da França e da Universidade de São Paulo: Lideradas por Niède Guidon, a missão franco- brasileira indica a presença humana nesta micro região piauiense a mais de 50 mil anos, fato comprovado pelas datações de vestígios fossilizados de carvão, a partir das analises de C14 (ibid., p. 53). O impacto antrópico sobre a região, devido às práticas agrícolas e as queimadas decorrentes destas, além da exploração da maniçoba e a própria ocupação humana das cavernas levou a pesquisadora a fazer um pedido ao Governo Brasileiro para a transformação da área em um Parque Nacional. criação do Parque Nacional Serra da Capivara Um Parque Nacional é definido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) por uma área de domínio público que objetiva, de acordo com a legislação federal (Brasil, 2000): a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Dessa forma, devido à riqueza de vestígios encontrados na região, além de suas características geológicas naturais, espécies da fauna e da flora, foi necessária a delimitação da área de preservação, definida pelo que conhecemos hoje de Parque Nacional da Serra da Capivara, o qual foi oficialmente criado no ano de 1979. 20 Quanto aos objetivos iniciais da criação do Parna, Souto Maior (2020, p. 4) descreve: proporcionar uma proteção legal à área, que implicasse em responsabilidade e compromisso público, envolvendo, inclusive, recursos financeiros para sua manutenção e infraestrutura. Assim, de acordo com o site oficial da UNESCO (2024), o Parque Nacional da Serra da Capivara foi delimitado entre os municípios de Canto do Buriti, São Raimundo Nonato e São João do Piauí, mas posteriormente, após o desmembramento dos dois últimos, passou a estar localizado entre os municípios de Brejo do Piauí, Coronel José Dias, João Costa e São Raimundo Nonato. contexto Localização esquemática do Parna entre os municípios. Fonte: IBGE (2024), Google Earth (2024) adaptado pela autora (2024). SÃO RAIMUNDO NONATO CORONEL JOSÉ DIAS JOÃO COSTA BREJO DO PIAUÍ delimitação do Parna delimitação dos municípios 22 Sob uma outra ótica, é importante ressaltar que para a criação do Parna e, consequentemente, a preservação dos vestígios arqueológicos, além das espécies da fauna e da flora locais foi preciso a desapropriação das diversas famílias que habitavam a região, realocando-as para fora dos limites do Parque, sob uma indenização insuficiente para cobrir suas necessidades de subsistência, além das perdas imateriais das memórias e simbolismos geradas naquele local, mostrada brevemente no documentário produzido pela Unesco (2013) e descrita por Braga e Mageste (2022, p. 22) como um “processo doloroso para as pessoas da comunidade que até os dias atuais ainda é uma ferida não cicatrizada”. Um exemplo disso é o antigo povoado Zabelê, que anteriormente estava inserido no centro da área delimitada para a unidade de conservação, do qual os moradores — quase uma década depois — foram realocados para o assentamento Construções remanescentes na Toca do João Sabino. Fonte: Diva Figueiredo (2018). contexto hoje conhecido como Novo Zabelê, comunidade que hoje reinvindica pela memória de sua história por meio do Museu Zabelê (Muzab). contexto Fundação Museu do Homem Americano No ano de 1986, foi criada a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) em associação ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a fim de promover a preservação dos vestígios encontrados, além do incentivo ao desenvolvimento científico da região — o qual pode ser observado a partir dos artigos publicados na Revista Fumdhamentos —, a instituição também busca envolver a comunidade local por meio de projetos sociais, como cita Justamand (2007, p. 52): A Fundação relaciona-se com a comunidade local e incentiva o desenvolvimento auto- sustentável por meio do turismo, e de atividades não predatórias. Possui um centro de pesquisas, biblioteca especializada e uma equipe permanente trabalhando na conservação do Parque, em especial das pinturas. De acordo com o site oficial da Fumdham (2024), o Museu do Homem Americano apresenta uma exposição dos “resultados 24 de mais de quatro décadas de pesquisas realizadas na região do Parque”, apresentando as teorias da ocupação humana nas Américas a partir dos vestígios encontrados na região: No mezanino, estão expostos instrumentos pré-históricos, urnas funerárias e esqueletos. Nas últimas salas, são apresentados os ossos, as imagens desenhadas e a descrição da megafauna que viveu na região. A exposição se encerra com amostras da biodiversidade atual (Fumdham, 2024). Enquanto o Parna localiza-se na extremidade nordeste do município de São Raimundo Nonato, na área rural, a Fumdham localiza-se na região sul da área urbana de São Raimundo Nonato, portanto, a cerca de 30 km de distância da entrada mais próxima do Parna. Associada ao Campus da Universidade Federal do Vale do São Franscisco (UNIVASF), a instituição tem uma localização mais aproximada da população local. contexto 25 Quanto à sua atuação em projetos sociais, a Fumdham busca equilibrar a tríade arqueologia, meio ambiente e inclusão social (Souto Maior, 2020) como forma de tentar resolver os problemas encontrados no contexto do Parna da Serra da Capivara, como a falta de conscientização sobre as questões de preservação e a vulnerabilidade da população local, em específico das comunidades que habitavam a região do Parque. Dessa forma, a Fumdham conciliou a necessidade de manutenção do parque e de fortalecimento do turismo e a geração de oportunidades de emprego à população por meio da capacitação de guias turísticos, ensino de idiomas, aplicação de oficinas de cerâmica para a produção do artesanato comercializado pelo Parque, investindo também no fortalecimento da educação infantil local, inexistente nos assentamentos formados na região (Souto Maior, 2020, p. 52). Treinamento dentro de um projeto de apicultura familiar. Fonte: site oficial da FUMDHAM (2002?). contexto reconhecimento pela UNESCO e pelo IPHAN Em 1991 foi feita a inclusão do Parna da Serra da Capivara na lista do Patrimônio Mundial pela UNESCO, levando ao seu reconhecimento numa escala global e, consequentemente, trazendo mais turistas para a região. Sua inclusão se deve tanto à sua riqueza histórica e cultural dos vestígios presentes nos mais de mil sítios arqueológicos, “encontrados na forma de armas, utensílios, fogueiras, sepulturas, cerâmicas, gravuras e pinturas rupestres” (Barros et al, 2012, p. 499), quanto à riqueza de sua paisagem natural: Paralelamente, a região é caracterizada por testemunhos exemplares de beleza natural e estética e de uma diversidade biológica ímpar, abrigando um número significativo de espécies ameaçadas de extinção (ibid., p. 499). Dois anos depois, em 1993, o Parna foi inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico pelo IPHAN. 26 Pintura rupestre, símbolo da Serra da Capivara. Fonte: Barros et al (2012). Museu da Natureza Diferentemente do Museu do Homem Americano, o Museu da Natureza, inaugurado em 2018, localiza-se nas proximidades do Parna da Serra da Capivara e foi criado para servir de apoio ao primeiro, a partir de um conteúdo complementar sobre a evolução histórica da região. De acordo com Silva (2020, p. 94), pode ser classificado como “um museu de história natural e ciências naturais contemporâneo”, por meio da exibição de uma cronologia histórica, desde tempos mais remotos, até os dias atuais — apresentando os efeitos da ocupação humana na natureza — por meio de um acervo de fósseis que: na forma como são dispostos e organizados ao longo da narrativa proposta auxilia na caracterização da diversidade de espécies que já habitaram a região ao longo do tempo geológico (Silva, 2020, p. 94). Sua narrativa é reforçada por meio de sua volumetria espiralada, promovendo um percurso multissensorial uniforme. contexto 27 Museu da Natureza. Fonte: site oficial da FUMDHAM. contexto O município de São Raimundo Nonato está inserido entre os biomas do cerrado e, predominantemente, da caatinga, sendo caracterizado por uma paisagem seca de clima semiárido quente, marcado pela irregularidade de chuvas, as quais devem acontecer entre os meses de outubro a maio, podendo ser reduzidas a um período menor, sendo seguido pela estação das secas, as quais geralmente acontecem entre os meses de maio até setembro, mas podem se estender por mais de anos (PMSRN, 2008, p. 8). Quanto à hidrografia da cidade, encontra-se uma bibliografia bastante reduzida, devido à baixa quantidade de pesquisas acerca do tema. No Plano Diretor, encontra-se a seguinte descrição: Na região, nenhum rio importante é permanente. A água sobe rapidamente e as enchentes são comuns nos meses chuvosos, e nos meses mais secos os leitos dos rios ficam completamente secos (ibid., p. 9). 28 aspectos físicos e naturais Dentre os corpos de água de maior relevância tem-se a Lagoa do Mato, localizada próxima à região central da cidade, a qual, atualmente passa por um projeto de urbanização que, embora vem sendo discutido há anos, ainda não foi executado, sendo inclusive um objeto de crítica da população local, visto que é uma região de construções irregulares, com consequente contaminação da lagoa, além dos casos de enchentes que geram riscos à comunidade que habita suas margens. Além da Lagoa do Mato, há ainda o Rio Piauí, localizado ao sul do município, que, devido à sua intermitência, muitas vezes é chamado por “riacho” pela própria população. Nele, foi construído um açude para assistir a cidade em períodos de seca, no entanto, há relatos de enchentes nos períodos mais chuvosos, sendo esse um grande problema observado no município, como citado no Plano Diretor (p. 52) sobre à região central de São Raimundo Nonato, a qual situa-se na parte mais baixa da cidade, o que favorece a ocorrência de enchentes em outros períodos do ano, mesmo quando não há altos índices de pluviosidade. contexto Vista do Rio Piauí em primeiro plano e da Lagoa do Mato ao fundo. Fonte: André Pessoa (2016). Por fim, é importante ressaltar o aproveitamento dos recursos hídricos tanto nos períodos de cheia quanto nas adaptações antrópicas realizadas para a subsistência da população durante os períodos de estiagem, como citado pelo Plano Diretor: Durante a estação de seca, o fundo dos rios principais é utilizado para as culturas chamadas de vazante como as de milho, feijão, legumes e abóbora, que cresce em locais onde subsiste a umidade. Neste período, alguns poços artesianos e cacimbas são perfurados para o fornecimento de água de algumas populações (...). PMSRN, 2008, p.12) 29 [1] Palmatória. Fonte: NEMA (2020). [2] Coroa-de-frade. Fonte: Tema (2019). [3] Xique-Xique. Fonte: Ymbu (2022). [4] Mandacaru. Fonte: Cobasi (2022). [5] Flamboyant. Fonte: Adobe (s.d.). [6] Pau D’arco. Fonte: Centro Sabiá (2019). [7] Angico. Fonte: Embrapa (2016). [8] Mulungu. Fonte: Eulampio Duarte (2010). [9] Caititu. Fonte: FAPESP (2022). [10] Teiú. Fonte: Marcelo Salgado (2011). [11] Cardeal-do-nordeste. Fonte: SIGAM (2022). [12] Raposa-do-campo. Fonte: Jefferson Bob (2016). contexto A paisagem seca marcante dessa região do Brasil é descrita por Gonçalves (2019, p. 16) por meio da presença de espécies vegetais “agressivas e resistentes”, as quais tornam- se “sentinelas perdidas nos campos descalvados”, formada por palmatórias, xique-xiques, mandacarus, oiticicas, braúnas, aroeiras, angicos, entre outras. Quanto às espécies animais, Gonçalves (2019, p. 16) descreve o sertão como um lugar de muitos “vultos e sons” provocados pelas “graúnas, sabiás, juritis, nambus, anuns, canários, periquitos, raposas, guaxinins, caititus, teiús”. Nas imagens ao lado é possível perceber o caráter singular das espécies da fauna e da flora que compõem a paisagem natural dessa região. Por fim, seu relevo é diversificado e caracteriza-se pelas chapadas, tabuleiros, planaltos, planícies, além das formações rochosas dos volumosos cânions que caracterizam a relevância da beleza natural da Serra da Capivara. 30 31 [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] aspectos urbanos e culturais Desde a criação da Fumdham, foi feita uma solicitação para a construção de um aeroporto municipal em decorrência da inserção de São Raimundo Nonato no setor turístico, de forma a favorecer a estrutura local para a recepção de pessoas advindas de diferentes regiões do Brasil e até mesmo de outros países. Isso se dá, devido a já citada falta de estrutura para facilitar o acesso ao município, até então formada por rodovias de baixa qualidade e situando-se a longas distâncias de cidades com aeroportos (a mais de 500km de distância de Teresina e a 300km de Petrolina). Após mais de uma década de obras e uma longa espera para a sua inauguração, o Aeroporto Serra da Capivara iniciou suas operações no ano de 2022. Quanto ao sistema rodoviário, ao apresentar suas relações com estados fronteiriços, a Prefeitura Municipal (2008, p. 5) descreve: (...) tendo como principais acessos à sede as rodovias BR-020 e PI-140 destacando o fato de ser o Município passagem obrigatória para o sul do Estado, bem como conexão com a fronteira entre Bahia e Pernambuco (PMSRN, 2008, p. 5). contexto 32 Por meio do diagnóstico produzido pela PMSRN (2008, p. 6). é possível perceber a influência das cidades mais próximas de outros estados como Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), podendo superar a influência da capital, devido sua relativa proximidade. No mapa ao lado, são apresentadas em laranja as principais rodovias de conexões, a PI-140, que corta o estado em sentido Norte-Sul e a BR-020, rodovia federal que conecta a cidade de Brasília à Fortaleza. Além disso, são ilustrados a localização do Terminal Rodoviário, na extremidade nordeste da mancha urbana, e o acesso ao aeroporto, localizado a sul e pontuado no mapa da página 31. Por fim, o mapa mostra também os equipamentos de cultura e lazer do município, os quais servirão de base para a construção do programa projetual a ser desenvolvido a partir deste trabalho. É possível observar que três dos equipamentos turísticos e culturais locais estão aglomerados na região central. A Casa da Memória (1) surgiu de um recente projeto de requalificação de um edifício histórico, o qual passou a servir como local de exposição de objetos e tradições que contam a 1 23 4 ACESSO SERRA DA CAPIVARA ACESSO TERESINA ACESSO AO AEROPORTO E PETROLINA 1 - Museu do Homem Americano 2 - Casa da Memória 3 - Mercado do Produtor 4 - Alto do Cruzeiro BR-020 BR-020 PI-140 PI-140 rodoviária municipal área do projeto principais rodovias 34 trajetória do município. Já o Mercado do Produtor (3), importante equipamento de atração de pessoas do município e de outras regiões, onde é possível observar a venda de diferentes tipos de produtos como alimentos locais (farinha, grãos em geral, mel, doces tradicionais como a rapadura), além de vestimentas, chapéus, acessórios de couro, objetos artesanais, etc. Por fim, há ainda o Alto do Cruzeiro (4) que, devido sua localização, promove um espaço de contemplação do espaço urbano de São Raimundo Nonato, mas que, no entanto, é possível encontrar relatos quanto ao descaso da Prefeitura sobre o seu estado de preservação. Casa da Memória. Fonte: Google Maps (2024). Mercado do Produtor. Fonte: Google Maps (2024). Em um mapa esquemático ampliado, na página ao lado, é possível perceber a fragmentação das outras áreas culturais presentes no município. Ainda mancha urbana, observa-se a Fumdham (1), localizada ao sul, em uma área afastada da cidade e em uma contexto 5 1 1 - Museu do Homem Americano 5 - Museu Zabelê 6 - Museu da Natureza delimitação do Parna 6 área urbana PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA aeroporto posição oposta ao Parna da Serra da Capivara, ilustrado em verde no mapa, onde localiza-se o o Museu da Natureza (6). Além disso, percebe-se também a distância entre o Museu Zabelê (5), anteriormente citado no contexto histórico, e a área urbana, localizando-se a cerca de 12 km de distância da região central. 36 contexto Novo edifício do Museu Zabelê. Fonte: Museu Zabelê (2023). Evento no anfiteatro da Pedra Furada. Fonte: CCOM/PI (2020). contexto 37 Encerrando os espaços de cultura e lazer, tem-se o próprio Parque Nacional, no qual, além das trilhas e percursos promovidos por guias locais, há também a realização de eventos como apresentações teatrais e espetáculos de opera no Anfiteatro da Pedra Furada, construído dentro do próprio parque, apropriando-se de sua paisagem rochosa por meio da projeção de luzes e imagens nas próprias rochas, como visto na imagem anterior. Assim, a partir dessa análise urbana, conclui-se que, além da escassez de espaços culturais diversificados e voltados à comunidade local, os poucos equipamentos existentes encontram-se fragmentados e em locais de maior dificuldade de acesso. Em seguida, foi feita uma apropriação da difusão midiática e informativa das redes sociais para um estudo sobre as práticas e atividades tradicionais realizadas na cidade voltadas à população, a partir da pesquisa em perfis da Prefeitura Municipal de São Raimundo Nonato (PMSRN) Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal do Turismo (SEMTUR), Secretaria Municipal de Esportes Juventude e Lazer (SEJEL), Secretaria Municipal do Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) e Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres. A partir das informações obtidas, percebe-se um forte engajamento por parte da prefeitura no incentivo à cultura e às tradições locais por meio de atividades organizadas pelos órgãos governamentais. Observa-se o investimento em atividades artísticas como o grafite, cursos de dança, eventos musicais e até concursos de diversas naturezas como competições culinárias e campeonatos de pipas. No site oficial da Secretaria da Cultura, há ainda um calendário cultural, no qual são apresentados os eventos que acontecem ao longo do ano, como a prática do Reisado, feiras de artesanato, concursos de poesia, apresentações de sanfoneiros, atividades contexto 38 Apropriação da Praça do Abrigo para o II Encontro de Reisado. Fonte: Portal da Prefeitura Municipal (2020). de conscientização sobre temas sociais, além da tradicional Festa de São João. Há ainda o engajamento na realização de projetos de integração social, como cursos de construção civil e alfabetização. Por fim, para a compreensão das necessidades de áreas livres, foi feito um estudo sobre as principais praças do munícipio, levando em consideração suas dimensões e capacidade para a realização de atividades maiores. Embora haja uma quantidade considerável de praças na cidade, observa-se que elas se localizam majoritariamente na área central. Percebe-se a utilização de mobiliários comumente implantados em praças, como os bancos de concreto e sem encosto, os quais fogem dos parâmetros ergonômicos para a apropriação dos indivíduos. Algumas possuem uma arborização adequada, no entanto a maioria ainda sofre de escassez de vegetação. Além disso, alguns espaços “reservados” para as praças na realidade são áreas remanescentes do desenho viário, o que significa que sua função não foi originalmente pensada para o o usuário. Em grande parte é possível ver sua apropriação para os eventos turísticos da cidade, como o Reisado e as festas juninas e, na maioria dos casos, as praças estão atreladas a edifícios notáveis da cidade como a Igreja Matriz e o Fórum. contexto 39 Praça do Relógio. Fonte: Google Maps (2022). Quadra de esportes Sta. Luzia. Fonte: Google Maps (2012)*. Praça Comandante Piauílino com vista para a Igreja Matriz. Fonte: Google Maps (2012)*. Mobiliário efêmero durante evento junino na Praça do Abrigo. Fonte: Google Maps (2022). “as imagens utilizadas são disponibilizadas pela plataforma e, por esse motivo, algumas estão desatualizadas e datam o ano de 2012, podendo ter sofrido alterações até a data atual. conclusão Com base no estudo do contexto local, seu histórico e seus aspectos naturais, urbanos e culturais, conclui-se que o turismo do Parque Nacional da Serra da Capivara é tomado como prioridade na atuação do governo e de instituições como a Fumdham, visto que os cursos, oficinas e diversas atividades promovidas, embora tenham um caráter social, possuem o intuito de receber um retorno ao turismo, como por exemplo o treinamento de guias turísticos, o ensino de idiomas a fim de preparar a população para o recebimento de estrangeiros e até mesmo o artesanato possui o enfoque na temática do parque, a partir da representação das pinturas rupestres. Essa influência é compreensível dada a importância do Parna no contexto nacional e global de um patrimônio histórico, cultural e natural, porém não deve ser levada como prioridade perante a população. Ainda é possível perceber que, mesmo com tais investimentos, o Parna ainda sofre negligências por parte do governo federal, como a falta de recursos para sua manutenção e os atrasos em obras para seu fortalecimento. Dessa forma, as consequências recaem ainda mais sobre a população local, contexto 40 a qual se vê carente de espaços adequados e qualificados para a realização de atividades de cultura, lazer e tradições, situação que se agrava ainda mais ao se pensar na escala do território municipal e nos diferentes fragmentos da ocupação humana. A deficiência desses espaços é evidenciada na proposta de governo da última candidatura do município, a qual propõe a criação de espaços de apoio a outras áreas artísticas como cinema e teatro, ainda inexistentes na cidade. Por outro lado, percebe-se uma forte apropriação das praças públicas, as quais poderiam se tornar equipamentos mais qualificados por meio de mobiliários urbanos ergonômicos, atrativos e variados, quebrando com a repetição presente nas praças observadas. Poderiam ser criados espaços de apoio às atividades realizadas ao ar livre, além de estratégias que promovem um melhor conforto térmico, gerando um espaço pensado fundamentalmente nas pessoas, em suas ações exercidas e nas percepções e sensações provocadas. estudos de caso A partir da compreensão do contexto local é feito estudo de quatro projetos de referência para a identificação de elementos e recursos utilizados para qualificação de equipamentos de cultura e lazer promovendo um dinamismo de funções, além de permitir a criação de um sentimento de pertencimento por parte dos indivíduos por meio de relações simbólicas e sensoriais com o espaço. Dessa forma, foram escolhidos projetos de espaços culturais, de recreação, de difusão de conhecimento e integração social a partir das obras: Sesc Pompeia, Museu da Ruralidade, Pueblo Español e Centro de Tradições Nordestinas. Para um estudo mais aprofundado, foram realizadas visitas in loco nos dois projetos localizados na cidade de São Paulo no dia 26 de abril de 2024, a fim de compreender melhor a materialidade projetual e as percepções individuais instigadas pelos espaços, observando ainda as interações sociais e lúdicas que são permitidas neles. estudos de caso 41 SESC Pompeia. Fonte: Nelson Kon (1997). sesc pompeia Em um projeto localizado na cidade de São Paulo, a arquiteta Lina bo Bardi executa a requalificação dos galpões de uma antiga fábrica de tambores a partir da criação de um espaço recreativo que acolhesse as práticas já existentes no local, buscando atender a diferentes faixas etárias: Na Pompéia, encontramos várias equipes de futebol de salão, teatro amador feito com recursos mínimos, o baile da terceira idade, o churrasco aos sábados, o centro de escoteiros mirins e muita criança circulando por todo lado, como revoada de passarinhos (Ferraz, 2008, n.p.). Dessa forma, a arquiteta apropria-se do espaço presente entre os galpões para a criação de uma rua interna que atua como uma espinha dorsal para o percurso do usuário, conectando-se aos ambientes presentes dentro dos edifícios, os quais abrigam atividades de diferentes naturezas, para conduzir-lhe à surpresa da presença de um deck construído sobre um o córrego ali existente, servindo como uma extensa área aberta para a recreação do público. estudos de caso Nesse trajeto, Lina toma partido do contraste entre elementos, gerando sensações de curiosidade e surpresas no usuário, as quais manifestam-se por meio da iluminação natural dos espaços abertos em contraposição ao caráter recluso, íntimo e até mesmo, silencioso promovido nas áreas edificadas, caracterizadas por uma menor exposição à iluminação natural. Esse contraste também pode ser percebido na volumetria do projeto, a partir da horizontalidade dos galpões e da abrupta verticalidade dos edifícios esportivos, provocando o estímulo de percepções individuais que podem ser ilustradas pela experiência da arquiteta Marcelina Gorni (2013, p. 129): Se a horizontalidade predominante nos galpões antigos levam nossos olhos ao chão, aos cantos, aos detalhes, às tubulações e calhas aparentes, além do contato direto com a “tatibilidade” de cada componente e de cada material específico, a forte presença vertical dos blocos esportivos apelam para a elevação do olhar para o alto, e o movimento é de subida. Por ser um projeto para a instituição do SESC, o programa necessitava de espaços para a realização de cursos e oficinas, 43 estudos de caso Área do deck e sua relação com os edifícios. Fonte: Nelson Kon (1997). um auditório, um refeitório, áreas para exposições, espaços de leitura, além de quadras e piscinas esportivas. Quanto à função esportiva, para Lina “o esporte é visto como uma modalidade de recreação e confraternização, não contando portanto com quadras e piscina nas dimensões esportivas oficiais para a sua prática” (Trigueiros; Ferraz, 1996, n.p.). A bibliografia utilizada para o estudo do SESC Pompéia apresenta constantemente a vontade da arquiteta de atender fundamentalmente a um espaço de lazer. Sua arquitetura brutalista é evidente em sua busca pela transparência da “verdade dos materiais” por meio da utilização do concreto, dos tijolos aparentes e da visível estrutura do telhado, conservando as marcas deixadas pelos trabalhadores, as quais exibem uma riqueza de texturas, produzidas também a partir da diferença de piso ao longo da implantação, além das emblemáticas canaletas de drenagem formado de seixos rolados (ibid., n.p.). É interessante notar como Lina, ao contrário de muitos arquitetos, busca realçar detalhes de sistemas estruturais, 45 estudos de caso Área da lareira com um espaço expositivo e o espelho d’água ao fundo. Fonte: Nelson Kon (1997). Os simbolismos resgatados por Lina são traduzidos a partir de diferentes elementos como a lareira, o espelho d’água, além da própria materialidade, concebendo um espaço que reúne os diferentes elementos da natureza, os quais carregam novas sensações e formas de percepção do espaço: Sob os antigos telhados de três galpões unidos serpenteia um riacho recortado no piso de pedra, referência ao principal rio do Nordeste, o São Francisco. Ao lado, uma grande lareira acesa nos dias mais frios, reúne, no mesmo ambiente, o fogo ancestral, a água e a terra das telhas e dos tijolos de fechamento dos galpões criando a magia de reunião dos quatro elementos. (Trigueiros; Ferraz, 1996, n.p.). É interessante notar a relação de Lina com o Nordeste, que além da referência ao Rio São Francisco, ainda aparece na vegetação dos cactos e mandacarus, nas “piscinas-açude” e até mesmo nos padrões de azulejos que remetem à natureza, elementos os quais foram extraídos a partir de estudos das construções, eventos e artesanatos populares, os quais pudessem servir de “expressão de fatos, ainda que mínimos, que na vida cotidiana possam exprimir poesia” (ibid., s.p.). a partir da utilização de cores primárias, com enfoque na utilização da cor vermelha, em elementos como tubulações, sistemas elétricos, esquadrias, encaixes, etc. Casal Saloio – Museu da Ruralidade. Fonte: Miguel Marcelino (2023). casal saloio – museu da ruralidade O segundo projeto estudado foi o Casal Saloio, uma antiga residência rural da tradição saloia (população de práticas agrícolas que ocupava os arredores da cidade de Lisboa), localizada no município de Cascais, a cerca de 20 km da capital portuguesa. A habitação passava por uma situação de abandono até o ano de 2019, quando deu-se o início do projeto de requalificação executado pelo escritório do arquiteto português Miguel Marcelino, finalizado em 2023. estudos de caso 47 Edifício anteriormente à reforma. Fonte: Miguel Marcelino (2019). Edifício após a reforma. Fonte: New in Cascais (2024). estudos de caso 48 A importância do edifício se dá devido ao fato de ser um dos “poucos exemplos que documentam as primeiras ocupações deste território” (Marcelino, 2023, n.p.), caracterizadas por uma tipologia residencial de volumetria irregular, devido a sucessivas construções de áreas anexas que foram construídas com o passar do tempo: Na sua gênese era apenas um simples compartimento, depois ganhou um quarto anexo, depois uma ala lateral, um forno de pedra, o curral e o segundo piso, e novamente mais outros anexos. A certa altura foram adicionados dois contrafortes para conter problemas estruturais. A lógica construtiva foi sempre a da informalidade e do mero suprimento de necessidades (ibid., n.p.). O edifício foi transformado para a criação de um espaço museológico, sendo conhecido atualmente pelo nome de Museu da Ruralidade. Marcelino, ao apropriar-se do desenho truncado característico dessa tipologia residencial, trabalha com a intersecção de dois novos volumes para abrigar as salas de serviço da instituição, além de um espaço que possibilita seu uso como um pequeno auditório, ilustrados pela imagem ao lado em laranja. Implantação. Fonte: Miguel Marcelino (2023). Adaptado pela autora. Área original Área da intervenção estudos de caso 49 Dessa forma, o edifício passa a exibir ao público os instrumentos agrícolas, utensílios do dia a dia e atividades exercidas pelos saloios, por meio de um percurso carregado de informações textuais, imagens, vídeos e até mesmo sons que reproduzem os costumes e tradições locais por meio de um trajeto através de toda a residência, percorrendo pelos diferentes cômodos construídos ao longo dos anos, sendo finalizado no espaço do curral, o qual também era integrado ao volume da habitação. Por fim, nota-se a questão da materialidade dessa tipologia, de característica calcárea, a partir de materiais disponíveis na região, integrando o edifício à terra. Na tentativa de manter sua identidade, Marcelino apropria-se dos materiais tradicionais, como são citados pelo site oficial de Cascais (2024), com o uso de “rebocos à base de cal; a manutenção das cantarias, pavimentos e outros elementos em pedra originais e a recuperação das tradicionais telhas de canudo”. Cozinha da casa saloia. Fonte: Cascais Cultura (2024). 24 Pueblo Español. Fonte: Ceetiz (2024). pueblo español Diferentemente dos projetos até então estudados como referência para este trabalho, Pueblo Español foi construído a partir do contexto do século XX, no qual era comum a realização de exposições cenográficas com o intuito de servirem como “uma exibição da tradição arquitetônica local como forma de rememoração do passado” (Nuño et al, 2019, p. 234, tradução própria). Dessa forma, sua construção foi feita a fim de criar um cenário para a exposição de edifícios históricos espanhois, que, de acordo com o site oficial de Pueblo Español, consiste em: 117 edifícios que replicam construções de praticamente todas as regiões espanholas. Neles estão representados todos os estilos, desde o românico até o barroco (2024, tradução própria). Nuño et al (2019, p. 234) expõe que sua singularidade se dá ao fato de ser a única experiência expositiva europeia a perdurar até os dias atuais, tornando-se hoje um marco turístico da cidade. estudos de caso 51 Inauguração de Pueblo Español em 1929. Fonte: La Vanguarda (2020). Assim como no SESC Pompeia, porém em uma escala muito maior, Pueblo Español também é estruturado a partir de percursos, pelos quais pode-se apreciar o caráter cênico das construções arquitetônicas por meio de caminhos irregulares — desenhados sob influência da irregularidade da malha urbana das cidades medievais —, provocando a curiosidade do o pedestre e gerando surpresas como a promovida pela Plaza Mayor que, assim como a tradição europeia, é um extenso espaço a céu aberto emoldurado pelos próprios edifícios, em contraste com os estreitos caminhos que levam o usuário até ela. Ao longo das vias do projeto, há uma verdadeira mescla de espaços multifuncionais, culturais e de lazer. Pueblo Español traz uma grande variedade de atividades para o público, atrelados à valorização do artesanato local, por meio da realização de oficinas e até mesmos cursos de curta e longa duração. Em seu site oficial são citadas oficinas de joias, cestos, mosaicos, madeira, vitrais, bolsas, estampas, pinturas, entre outros. Oficina de cestos tradicionais catalães. Fonte: Guía Repsol (2022). estudos de caso 52 Evento musical na Plaza Mayor. Fonte: La Vanguarda (2023). estudos de caso 53 As atividades promovidas pelo local também envolvem eventos de maior porte, como por exemplo apresentações musicais e festas realizadas na Plaza Mayor, como pode ser visto na imagem ao lado, com uma estrutura que permite uma grande capacidade de pessoas, sendo realizados tanto no período diurno, quanto no noturno. O projeto ainda abriga um Museu de Arte Contemporânea, que exibe obras de grandes artistas espanhois, como Dalí e Miró, além de um jardim escultórico e de espaços voltados à gastronomia local. Por fim, ao longo do percurso, por estar situado na região da colina de Montjuic, é possível ter acesso a diferentes vistas da cidade, promovendo espaços de contemplação. Centro de Tradições Nordestinas. Fonte: site oficial do CTN. centro de tradições nordestinas O último projeto estudado como referência para este trabalho foi escolhido devido ao seu propósito de resgatar os costumes e interesses do povo nordestino, além de promover a integração da população migrante da Região Nordeste para o município de São Paulo em busca de oportunidades para uma melhor condição de vida. O Centro de Tradições Nordestinas (CTN) localiza-se no bairro do Limão, na Zona Norte da cidade, e sua fundação está atrelada à campanha política do empresário e radiodifusor José de Abreu no ano de 1991. Devido a esse fator, o CTN está vinculado com a emissora de rádio Atual, a qual atua em programas sociais, como é descrito por Azevedo, Batista e Vidal (1999, p. 40): A Rádio Atual desempenha significativa difusão da cultura nordestina, além de desenvolver serviços de utilidade pública, que incluem troca de mensagens entre ouvintes de São Paulo e os seus parentes no Nordeste, orientações jurídicas, médicas e sentimentais. A rádio também tem muita importância na localização de pessoas recém-chegadas que procuram familiares. A partir da visita in loco que foi realizada no local do projeto, foi possível perceber os espaços internos e seu caráter cênico são priorizados, enquanto sua volumetria pavilhonar atua principalmente como forma de cobertura da área interna, contrastando com a qualidade volumétrica do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, localizado na cidade do Rio de Janeiro. O percurso, sob perspectiva do pedestre, atravessa uma considerável área voltada para o estacionamento de veículos para então alcançar os espaços que contém o programa do projeto. Ao adentrar a área coberta, o usuário depara-se com uma estrutura cênica bidimensional que remete à arquitetura nordestina, caracterizada por sua variedade de cores, como pode ser visto na imagem ao lado. Cada uma das residências ilustradas delimita o espaço de um quiosque de vendas de alimentos e doces tradicionais do nordeste. Ao fundo, encontra- se um mural que gera uma sensação de continuidade da paisagem, localizado acima de uma abertura de transição para um amplo espaço gastronômico, com uma grande quantidade de restaurantes de diferentes culturas nordestinas. estudos de caso 55 Esse espaço abriga, além dos restaurantes, um palco para a realização de shows e eventos, como a tradicional Festa de São João, na qual o espaço é apropriado para enfeites característicos, como pode ser visto na imagem à esquerda. Há ainda, de acordo com Azevedo, Baptista e Vidal (1999, p.40), “espaços para manifestação da literatura de cordel e da cantoria”. Na área externa, está localizada uma a igreja memorial de Padre Cícero e Frei Damião, cujo simbolismo é observado por: Na igreja os vitrais retratam cenas de trabalhadores do Nordeste; confirmam-se a presença, através de imagens, de Padre Cícero e Frei Damião. Os “ex-votos” cedem lugar a uma cestinha de pedidos. Pelo volume de bilhetinhos, os pedidos são muitos e vários (ibid.). Além da igreja, na área externa também foi possível encontrar um parquinho com brinquedos voltado para as crianças. estudos de caso 56 Evento junino no CTN. Fonte: Metrópoles (2023). Por fim, logo na entrada do percurso do CTN, de maneira mais modesta, diante da atração das cores do cenário, surge a única representação da arquitetura residencial rural, por meio do espaço comercial ilustrado ao lado. Trata-se de uma representação de uma casa de taipa, com vedações de madeira e é utilizado para a venda de artesanatos e objetos de recordação. Para além de um ambiente de cultura, lazer, eventos e gastronomia, o CTN também conta com projetos de sociais. Em seu site oficial descobre-se que o espaço também oferece cursos profissionalizantes (pedreiro, cabeleireiro, moda, corte e costura, manicure e pedicure, maquiagem), além de ações como a reintegração social de ex-detentos, a campanha do agasalho, a doação de alimentos, entre outros. Espaço comercial do CTN. Fonte: Autora (2024). estudos de caso 57 conclusão De uma maneira geral, mesmo em contextos divergentes, os projetos selecionados se relacionam a partir da ideia do resgate às tradições e aos costumes locais, por meio de equipamentos que impactam diretamente sobre a oferta de espaços de recreação à população, apropriando-se da associação entre as áreas edificadas e áreas a céu aberto como forma de promover novas formas de interação social e de difusão do conhecimento. No projeto de Lina bo Bardi, destaca-se a horizontalidade do percurso principal, o realce dos elementos de suporte por meio da cor vermelha, a natureza dos materiais utilizados, a criatividade em técnicas de drenagem urbana como recursos de influência no projeto a ser desenvolvido a partir deste trabalho. Além disso, os simbolismos carregados quanto aos elementos da natureza no encontro da lareira e do espelho d´água serão tomados como influência ao desenho projetual. Quanto ao Museu da Ruralidade, também é ressaltada a sua estudos de caso 58 sociais, além de resgatar os valores religiosos, gastronômicos e arquitetônicos da Região Nordeste. Em relação às visitações ao SESC Pompeia e ao CTN, estas foram de grande importância para a formação de percepções individuais sobre os projetos, notando elementos que não são visíveis por meio de uma pesquisa virtual, principalmente em relação ao segundo, visto que encontra-se uma quantidade de informações muito reduzidas em comparação à obra de Lina. Assim, foi possível observar quais recursos utilizados na obra favorecem a integração entre as pessoas e a influência do espaço sobre os seus comportamentos pessoais. materialidade, no entanto, destaca-se ainda a sua relação com a utilização de materiais locais de forma a promover a ideia do edifício como extensão da própria terra e sua característica “árida”. É interessante notar também a apropriação da volumetria tradicional local e a forma como é criada uma praça central a qual é desenhada pelo próprio edifício como forma de convite ao público. Na etapa projetual, buscou-se gerar percursos ao ar livre que permitam sensações de curiosidade por parte dos pedestres, de maneira a levá-lo a conhecer as diferentes funções existentes no projeto, além de possíveis vistas, mobiliários e volumetrias, como acontece em Pueblo Español. Por fim, a partir da criação de um espaço público, associado às atividades e programações realizadas pelo governo municipal, o projeto desenvolvido por meio deste trabalho, assim como o Centro de Tradições Nordestinas, buscou reforçar a relação do equipamento público à programas e projetos de ações estudos de caso 59 linguagem arquitetônica sertanista Antes de partir para a análise urbana da implantação, foi feito ainda um breve estudo sobre a linguagem arquitetônica sertanista, visto que, a arquitetura nordestina é, na maioria das vezes, representada pelos edifícios coloridos característicos do período colonial, assim como foi visto pela representação do CTN. É importante ressaltar que esse tipo de construção também é presente nas cidades do sertão, porém não são as únicas formas de ocupação da população nordestina, como será visto neste capítulo. Para esse estudo, foi utilizado como base a tese de doutorado da arquiteta Nathália Maria Montenegro Diniz: “Um sertão entre tantos outros” (2013), no qual a autora aborda sobre as diferenças percebidas entre as comunidades dentro do território que se conhece por “sertão”: O grande sertão aqui em causa é composto de inúmeros pequenos sertões e é resultado de um processo de formação peculiar, diferente dos demais sertões de outras paragens do Brasil (Diniz, 2013, p. 35). 60 linguagem arquitetônica sertanista Dentro desse contexto, foi estudada a arquitetura da região do Piauí e também da região do Rio São Francisco, no estado da Bahia, as quais estão em um contexto mais aproximado do município de São Raimundo Nonato. Esse resgate histórico das fazendas de gado da região é importante para a compreensão dos elementos que permaneceram na tradição arquitetônica local. Quanto à implantação das residências, é comum encontrar a casa isolada no terreno, como cita Jucá Neto e Gonçalves (2019, p. 18), “ao descansar em si, isolada de tudo, a casa mostra ao sertão o quanto ele é vasto”. Já com relação ao seu posicionamento no terreno, é possível observar que: “ventos e chuvas nunca foram determinantes de orientação, enquanto o sol queima por todos os lados” (Silva Filho, 2007 apud Diniz, 2013, p. 159). A horizontalidade também é presente na maioria dos edifícios analisados, com poucos exemplos possuindo mais de um pavimento. linguagem arquitetônica sertanista 61 A configuração da planta arquitetônica é o elemento de maior heterogeneidade, podendo ser quadrangular, em L, em U, em T, entre outras configurações menos encontradas. No entanto, apesar das divergências formais, “são muitas as semelhanças no que diz respeito à forma de distribuir a circulação e no arranjo do zoneamento das funções (receber/ estar, estar íntimo/repouso e serviços)” (Diniz, 2013, p. 270). Em alguns casos o alpendre aparece como elemento de transição entre o espaço interior e o exterior, elemento o qual é utilizado também como uma técnica para favorecer o conforto térmico das edificações. Além do alpendre, a própria materialidade dos edifícios favorece para um melhor conforto térmico das edificações, por meio da utilização do barro na utilização do tijolo de adobe e da taipa. Há ainda a ocorrência de edificações formadas por paredes espessas a fim de favorecer o que hoje se conhece por inércia térmica. Casa datada do século XVIII no sertão do Ceará. Fonte: Clóvis Jucá (2019). linguagem arquitetônica sertanista Já nas aberturas, o material predominante é a madeira, extraída de espécies locais como a carnaúba. Esse material também aparece na estrutura das coberturas, associadas às telhas de barro e, na maioria dos casos, sem a presença de forro. Os telhados muitas vezes aparecem “esparramados, de beirais baixos e de cumeeiras altas” (ibid., p. 180), como pode ser visto na imagem ao lado. Devido ao material utilizado, é comum encontrar edificações sobre alicerces de pedra (e, atualmente, de concreto), elevando a casa do solo. Quanto aos revestimentos, Diniz cita: O revestimento, em geral, é de argamassa de barro, com exceção dos casos de edificações de pedra, na qual não havia revestimento. Em se tratando de uma arquitetura de terra, a caiação era imprescindível para a conservação da edificação contra o sol e a chuva (ibid., p. 180). Casa datada do século XIX no sertão do Ceará . Fonte: Clóvis Jucá (2019). 62 63 linguagem arquitetônica sertanista Residência na Praça Comendador Piauílino. Fonte: Hans Braegelmann (2010) A diversidade de soluções presente nas edificações estudadas evidenciam que: as habitações rurais do Piauí foram fortemente condicionadas pelos materiais disponíveis no local da construção, resultando num repertório rico em soluções (ibid., p. 178). É preciso destacar que, devido à dificuldade de acesso a informações da região, as imagens utilizadas das residências sertanistas são do estado do Ceará, as quais foram selecionadas a fim de ilustrar os elementos citados anteriormente presentes na arquitetura da região do estudo. Ao lado observa-se uma residência localizada na praça da igreja matriz do município de São Raimundo Nonato e as influências desses elementos em sua volumetria e materialidade, além das cores vibrantes características das áreas centrais das cidades nordestinas. lugar lugar Para a definição da implantação do projeto, partiu-se da análise da proposta do Plano Diretor municipal desenvolvida entre os anos de 2007 e 2008. É importante ressaltar que até os dias atuais o Plano não foi aprovado ao passo que sua proposta é a fonte mais recente de diagnóstico municipal, podendo haver informações imprecisas ou desatualizadas com a realidade atual do município. O Plano Diretor determina o zoneamento da cidade em sua escala urbana e rural, adequando-se às leis de proteção ambiental e às necessidades de preservação do patrimônio local, por meio da criação de delimitações como: Áreas Especiais de Preservação dos Sítios Arqueológicos (AEPSA), Zona Especial de Preservação Ambiental (ZEPA), Zona de Equilíbrio Urbano- Ambiental (ZEUA), Zona Especial de Preservação Histórico- Cultural (ZEPH), Imóveis Especiais de Preservação (IEP), entre outros (Souto Maior, 2020, p. 21-22). Quanto à inclusão social, ainda de acordo com Souto Maior (2020, p. 22), “embora prevista especificamente nas Zonas de Interesse Social (Zeis), insere-se de forma difusa e correlacionada com os demais temas do Plano Diretor”. 64 Foi feita então a decisão da implantação do projeto na área urbana, visto que o território municipal é fortemente fragmentado e ainda há a carência de espaços integradores da cultura e lazer em sua área central. Assim, a escolha do terreno foi feita a partir do macrozoneamento urbano. No entanto, a única possibilidade prevista no Plano seria a implantação do projeto nas Zonas Urbanas Preferenciais 3 (ZUP 3), localizada nas áreas de expansão do município, com seus raios de abrangência indicados em amarelo na imagem ao lado. Em contrapartida, o terreno que melhor atende às necessidades de integração à malha urbana e promove uma maior facilidade de acesso por meio do sistema de transporte municipal encontra-se na Zona de Interesse Estratégico 4, representada em laranja, a qual deve ser destinada para áreas de esporte e lazer, condizente com o o programa previsto a partir deste trabalho. Delimitação urbana e áreas livres do município. Fonte: Prefeitura Municipal (2008b). s/ escala ZIE 4 área escolhida para o projeto áreas livres (praças e quadras) raios da ZUP 3 De acordo com o Plano Diretor, a ZIE 4 não pode ser edificada, porém, visto que este ainda não foi aprovado e está desatualizado, o terreno indicado foi o local mais adequado para o desenvolvimento do projeto deste trabalho, pois sua localização permite uma maior facilidade de acesso devido à sua proximidade com vias de conexão com a área central, além de ocupar um vazio urbano que é formado pelo terreno atualmente. Por fim, destaca-se ainda a sua relação com uma uma praça qualificada presente na quadra adjacente, como pode ser observado pela cor verde na imagem ao lado, na qual há a presença de equipamentos esportivos e de lazer a céu aberto, levando à conclusão de que a criação de um novo espaço não edificado seria repetitivo e não atenderia a diferentes necessidades da população. Dessa forma, considerando que há uma conciliação entre o governo municipal e a realização deste projeto na Zona Estratégica 4, a partir do seu retorno à comunidade local e sua função estar relacionada com atividades recreativas, o terreno lugar 66 escolhido situa-se no bairro Santa Fé, a Oeste da cidade, entre as Ruas Dr. Abílio Costa, B. Ribeiro de Castro, Frade Macedo e Alves Pamplona. A praça adjacente, conhecida como Praça do Gavião, é composta por vegetação, mobiliários de permanência, playground, academia ao ar livre e uma quadra com arquibancada. No entanto, percebe-se que a materialidade dos mobiliários não é adequada para as condições climáticas do local, visto que são majoritariamente de concreto e metal, além de não possuir nenhuma cobertura (com exceção de pergolados isolados no lote que acabam sendo pouco eficientes). Ao lado da Praça, há ainda uma Unidade Escolar a qual está integrada a uma quadra de grande dimensões, porém de qualidade bastante precária — não possui cobertura, a pintura do piso está praticamente apagada, além de não possuir nenhum mobiliário de apoio — a qual encontra-se cercada por muros, o que acredita-se que seja parte integrante da escola. R. DR. ABILIO COSTA R. FRADE MACEDO R. BARÃO RIBEIRO DE CASTRO R. ALVES PAMPLONA PRAÇA DO GAVIÃO ÁREA TOTAL: 10.590 m² 0 70 conceito e partido A partir da compreensão do contexto local, das leituras dos projetos de referência, do estudo da linguagem arquitetônica da região e da análise urbana da implantação, buscou-se a criação de um espaço de difusão de cultura, tradições e lazer, de forma a resgatar desde as tradições mais remotas, como as caracterizadas pelas pinturas rupestres as quais representavam “ideias, pessoas e eventos” (Justamand, 2014, p. 132), até os costumes e atividades atuais, como a prática do reisado, as apresentações de música e poesia, além da tradicional festa de São João, criando um espaço de identidade e pertencimento. Dessa forma, o projeto possuiu o intuito de construir um espaço de lazer a céu aberto integrado a espaços edificados, promovendo a acomodação da população, com a possibilidade de realização de eventos como feiras, festas juninas e celebrações religiosas, além das atividades realizadas pela própria Prefeitura Municipal junto da população, como a 68 proposição projetual realização de cursos e oficinas. Os espaços edificados foram pensados a fim de refletir as tradições arquitetônicas locais por meio da utilização da materialidade presente na região, por meio dos tradicionais tijolos cerâmicos, alternados com o uso da madeira em elementos de vedação. Buscou-se trabalhar com uma volumetria majoritariamente horizontal, na escala do pedestre, a fim de abrigá-lo em seu percurso, reforçando a ideia de pertencimento. No entanto, o projeto também procurou se apropriar do recurso do contraste, como a utilização de cores vibrantes em determinados elementos, volumes que se sobressaem sobre os outros, criando pontos focais, buscando gerar surpresas e curiosidades por parte do pedestre, de forma a promover uma maior apropriação do espaço por parte da população através de sua qualificação. proposição projetual Foram reforçados os elementos que promovem o conforto térmico diante das necessidades térmicas locais por meio da materialidade, da racionalidade das aberturas, além da integração com o elemento água. Por fim, o equipamento desenvolvido no decorrer deste trabalho buscou a criação de um espaço que também pudesse servir como um ambiente receptivo aos visitantes da cidade, devido ao forte caráter turístico local — ainda fragmentado e com poucas informações —, buscando reunir em um único local informativos sobre locais atrativos da cidade, servindo de apoio à estrutura turística municipal, além de incentivar a sua integração com a população local. proposição projetual 69 Situação atual do terreno. Fonte: Google Maps (2024) programa O programa partiu da multifuncionalidade para a criação de um equipamento que busca a sua ocupação por diversos grupos sociais e faixas etárias em diferentes períodos do dia. Dessa forma, a área livre envolvida pela volumetria edificada conta com mobiliários para a permanência e contemplação dos usuários — como bancos, mesas, além da iluminação e vegetação. A praça central criada possui um espaço reservado para uma fogueira a ser utilizada em eventos juninos, podendo ser apropriada no restante do ano para a prática de contação de histórias, atividade característica da tradição local, favorecendo a ocupação do espaço em outros períodos do ano, além de promover também seu uso no período noturno. Em referência direta ao projeto de Lina bo Bardi para o SESC Pompeia, a fim de integrar os “quatro elementos ancestrais”, além do uso do fogo, é integrada a utilização da água por meio de fontes que permitem o seu uso de forma interativa pela população. proposição projetual 70 Sketches iniciais das atividades criativas que seriam exploradas a partir do projeto desenvolvido a partir deste trabalho. Fonte: Autora (2024). Dentro dos edifícios foram projetadas áreas para a realização das oficinas e dos cursos temporários, os quais poderão ser organizados pela própria Prefeitura Municipal, por Organizações Não Governamentais ou até mesmo, por parte da própria população, tendo como exemplo atividades que atualmente são realizadas na cidade como oficina de compostagem, cursos de construção civil, artesanto, etc. Para um maior dinamismo do local, também foram reservados espaços voltados para o comércio de pequeno porte para a venda de artesanatos, vestuários e objetos tradicionais locais, além de lanchonetes. Foi projetado também um auditório de capacidade de 100 pessoas, a fim de promover debates, apresentações de teatro, sessões de cinema, espetáculos musicais, entre outras atividades, o qual é integrado à praça central, podendo ser aberto para o público externo. Por fim, foi criada uma área de apoio à estrutura turística local, como forma de apresentar, de maneira organizada, os pontos turísticos da cidade, os quais vão além do Parque Nacional, e seus museus, como por exemplo o Museu Zabelê e o Museu da Memória, que, se encontram espraiados pela área municipal. O edifício busca recuperar a escassez de sinalizações indicando o acesso a esses locais, observada a partir de reclamações de visitantes. Dessa forma, o espaço serve como uma breve introdução do que poderá ser encontrado no município, estando articulado à realização de serviços e passeios turísticos, contando com uma área de estacionamento para diversos tipos de veículos, como a motocicleta e a bicicleta, meios de transporte bastante utilizados na região. proposição projetual 71 72 implantação proposição projetual Área total do terreno: 10.590 m² Área total construída: 3.486,4 m² Após a compreensão das necessidades locais para a delineação do conceito, partido e programa do projeto, tomou-se como ponto de partida a análise formal de pinturas rupestres encontradas na região nordeste para a estruturação da implantação. Assim, apropriou-se de seus elementos para a criação dos caminhos e espaços livres que compõem a implantação, por meio de um eixo principal que cria um percurso para o pedestre, alcançando uma praça central, a qual é conectada também por caminhos secundários de maneira a conversar com o contexto das ruas do entorno. Sketches feitos a partir da reprodução de pinturas rupestres encontradas na região do sertão nordestino. Fonte: Autora (2024). RUA FRADE MACEDO RUA DR. ABÍLIO COSTA R U A AL VE S PA M PL O N A R U A B. R IB EI R O D E C AS TR O PRAÇA CENTRAL 354 354 FOGUEIRA 353,4 BANHEIROS 354,2 354,1 354,1 FONTE INTERATIVA 353,9 0 5 10 15 20 25 50 AA' B B' RUA FRADE MACEDO RUA DR. ABÍLIO COSTA R U A AL VE S PA M PL O N A R U A B. R IB EI R O D E C AS TR O 1 A C I M B D G E J F H 2 3 4 5 6 7 9 3 4 5 B 7 8 9 10 13 D I 41 J L K C 5 F G 6 8 B 7 9 10 E H 10 K E A D 146 C 1 2 11 12 L A M 32 G F E B 3 54 D C I H A K L J 1 2 118 ADMINISTRAÇÃO 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS TECNOLOGIA 354,2 BIBLIOTECA 354,2 SALA DE REUNIÕES 354,5 BALCÃO ATENDIMENTO 354,2 SALA/COPA FUNCIONÁRIOS 354,2 BANHEIROS 354,2 D.M.L. 354,2 ATELIÊ 354,2 354,2 PRAÇA CENTRAL COMERCIAL 06 354,1 COMERCIAL 02 354,1 354 354,1 COMERCIAL 04 354,1 COMERCIAL 05 354,1 354 PALCO 354,2 AUDITÓRIO CAPAC. 109 PESSOAS 353,4 354,3 SALA PROJ. 354,3 CAMARIM 01 354,2 BANHEIROS 354 CAMARIM 02 354,2 ADMINISTRAÇÃO 354,3 ACERVO CENOTÉCNICO 354,2 BANHEIROS 354,3 SALA DE MÚSICA 01 SALA DE MÚSICA 02 354,3354,3 354,3 BALCÃO ATENDIMENTO COMERCIAL 01 354,1 COMERCIAL 03 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 FOGUEIRA 353,4 EXPOSIÇÃO SEMIFIXA CENTRO CULTURAL 354,2 EXPOSIÇÃO FIXA TURISMO LOCAL 354,2 BALCÃO ATENDIMENTO 354,2 HALL DE ENTRADA 354,2 ESPERA/ESTAR 354,3 ACERVO EXPOGRÁFICO 354,2 BANHEIROS 354,2 BANHEIROS 354,2 ÁREA LIVRE 354 354,1 354,1 SALA DE CONFECÇÕES CENOGRAFIA 354,2 SALA DE CONFECÇÕES FIGURINOS FONTE INTERATIVA 353,9 AA' B B' 0 5 10 15 20 25 50 Em seguida, foram projetadas as áreas a serem edificadas, as quais foram divididas em quatro edifícios espalhados pelo terreno, permitindo uma comunicação de toda a área do projeto com as ruas adjacentes, além de envolver a rua interna 75 proposição projetual principal. Os edifícios consistem em: um Centro de Informações Turísticas, como uma “porta de entrada” ao projeto, os edifícios Comercial e Cultural, direcionando o indivíduo através do percurso e, por fim, o edifício do Auditório inserido na praça. Vista da Rua Barão Ribeiro de Castro 0 5 10 15 20 25 50 0 5 10 15 20 25 50 Vista da Rua Alves Pamplona Vista da Rua Frade Macedo Vista da Rua Abílio Costa 0 5 10 15 20 25 50 0 5 10 15 20 25 50 proposição projetual 76 Corte AA’ ilustrando intermanente os edifícios do auditório e do centro turístico e a fachada interna do edifício cultural. Corte BB’ apresentando outra fachada do edifício cultural e a área do vão livre em continuidade ao edifíco comercial, com a fachada interna do centro turístico ao fundo. proposição projetual 77 R U A AL VE S PA M PL O N A ADMINISTRAÇÃO 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS TECNOLOGIA 354,2 BIBLIOTECA 354,2 SALA DE REUNIÕES 354,5 BALCÃO ATENDIMENTO 354,2 SALA/COPA FUNCIONÁRIOS 354,2 BANHEIROS 354,2 D.M.L. 354,2 COMERCIAL 02 354,1 354 354,1 COMERCIAL 04 354,1 CCOMERCIAL 01 354,1 COMERCIAL 03 SALA DE OFICINAS 354,2 EXPOSIÇÃO SEMIFIXA CENTRO CULTURAL 354,2 EXPOSIÇÃO FIXA TURISMO LOCAL 354,2 BALCÃO ATENDIMENTO 354,2 HALL DE ENTRADA 354,2 ESPERA/ESTAR 354,3 ACERVO EXPOGRÁFICO 354,2 BANHEIROS 354,2 BANHEIROS 354,2 354,1 A C I B D G E J F H 3 4 5 B 7 8 9 10 K E A D 6 C 1 2 L G F E B 3 54 D C I H A K L J 1 2 0 5 104321 79 centro de informações turísticas proposição projetual Com um programa reduzido, o edifício de função turística serve como um mediador entre os visitantes do município e os pontos turísticos existentes já ilustrados no decorrer deste trabalho no capítulo dos aspectos urbanos e culturais. A planta arquitetônica possui uma divisão rígida entre as funções do projeto, separando os espaços administrativos e de serviços dos espaços expositivos. Os primeiros são representados pelo balcão de atendimento ao público, sanitários e uma sala de apoio às exposições. O espaço expositivo é explicado por meio de duas possibilidades de percursos, descritas a seguir. Ao adentrar o edifício, o visitante depara-se com uma planta livre, dividida entre duas possibilidades de exposições: a primeira, apresentando-lhe o próprio Complexo de Cultura e Lazer e as várias funções que podem ser encontradas no projeto, além de sua importância para a população do município, servindo também como um espaço de exposição de obras criadas pela própria comunidade local nos ambientes de criação e artesanato do edifício cultural. Já a segunda metade, abriga uma exposição informativa dos pontos turísticos locais, com painéis explicativos, mapas e recursos que apresentam o município para os visitantes de São Raimundo Nonato. Esse ambiente se encerra em um espaço de estar, projetado para abrigar os turistas, visto que o projeto busca estar atrelado à possibilidade de realização de passeios turísticos, contando também com vagas de estacionamento para ônibus e vans. Por fim, há uma abertura envidraçada alinhada à abertura principal do edifício, emoldurando a paisagem a ser encontrada por quem chega no local: a vista da rua interna e a praça central, apresentando-lhes os outros três edifícios do projeto. Área construída: 468,1 m² RUA DR. ABÍLIO COSTA A B 3 4 5 B 7 8 9 10 13 E A D 146 C 1 2 11 12 54 ADMINISTRAÇÃO PRAÇA CENTRAL COMERCIAL 06 354,1 COMERCIAL 02 354,1 354 354,1 COMERCIAL 04 354,1 COMERCIAL 05 354,1 354 BANHEIROS 354 COMERCIAL 01 354,1 COMERCIAL 03 FOGUEIRA 353,4 ÃO SEMIFIXA O CULTURAL 354,2 ÁREA LIVRE 354 354,1 354,1 0 5 104321 81 edifício comercial proposição projetual Em seguida, é apresentado o espaço comercial, o qual foi desenhado de maneira modular a fim de otimizar a adaptação de seu uso para diferentes possibilidades de programas. Foram projetados comércios de pequeno porte, inicialmente pensados para servir de apoio ao próprio complexo cultural, como a presença de lojas de souvenires, artesanato, vestuários locais, ou até mesmo uma papelaria para o fornecimento de materiais para os cursos, oficinas e confecções de cenografia e fantasias que ocorrem nos outros edifícios do projeto. Sua flexibilidade foi considerada na possibilidade de abrigar também lanchonetes de pequeno porte, que não necessitam de uma estrutura de apoio complexa. Com isso, surgiu uma tipologia replicada em 06 espaços comerciais, os quais possuem um pequeno espaço de permanência em ambas fachadas, por meio de mobiliários utilizados de acordo com a função principal do comércio, permitindo a contemplação das áreas livres e verdes. Área construída: 912,9 m² Área da tipologia: 44,95 m² Além disso, o desenho da cobertura, o qual acompanha o desenho da praça central, gera uma continuidade do edifício para a criação de uma área livre, que conta com mesas, cadeiras e bancos, e que possibilita a ocorrência de feiras livres de diferentes naturezas, organizadas pela própria comunidade local, integrado diretamente com a Rua Dr. Abílio Costa, a partir do avanço do desenho da calçada que permitiu a criação de uma baia voltada para o estacionamento de veículos como food trucks. Ao longo do projeto foram incluidos diferentes equipamentos de lazer que acrescentassem aos equipamentos já existentes na Praça do Gavião. Neste caso, é possível observar mesas de pingue pongue que foram instaladas de forma adjacente ao vão livre. 1 A C I M B D G E J F H 2 3 4 5 6 7 9 10 K E D L 118 ADMINISTRAÇÃO 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS TECNOLOGIA 354,2 BIBLIOTECA 354,2 SALA DE REUNIÕES 354,5 BALCÃO ATENDIMENTO 354,2 SALA/COPA FUNCIONÁRIOS 354,2 BANHEIROS 354,2 D.M.L. 354,2 ATELIÊ 354,2 354,2 354 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 SALA DE OFICINAS 354,2 EXPOSIÇÃO FIXA TURISMO LOCAL 354,2 BALCÃO ATENDIMENTO 354,2 HALL DE ENTRADA 354,2 ESPERA/ESTAR 354,3 BANHEIROS 354,2 BANHEIROS 354,2 SALA DE CONFECÇÕES CENOGRAFIA 354,2 SALA DE CONFECÇÕES FIGURINOS FONTE INTERATIVA 353,9 0 5 104321 83 edifício cultural proposição projetual O edifício cultural foi desenhado por meio de uma espécie de divisão do programa, reservando as áreas mais reclusas, voltadas à aulas, cursos, palestras, etc. além da sala administrativa e a biblioteca a oeste do edifício. Quanto à outra metade da planta arquitetônica, pensada para abrigar ambientes criativos e de maior fluxo de pessoas e, consequentemente, maior ruído, foram posicionadas em direção à área da praça, apropriando-se da paisagem para a criação de espaços avarandados. Centralmente, o edifício foi fisicamente separado e mediado pelo volume voltado às funções administrativa e de serviços. Assim, foram pensadas cinco salas de oficinas, com tamanhos variados permitindo sua ocupação tanto para grupos maiores quando para grupos mais reduzidos. As salas de oficinas contam ainda com uma sala com equipamentos de tecnologia, ampliando a possibilidade de oferecimento de cursos que envolvam programas de computação, pesquisas e apresentações que se apropriam do uso de projetores. Já as salas de criação possuem maiores dimensões para possibilitar a realização de cursos e atividades que envolvam trabalhos manuais e materiais artesanais de maior porte, sendo divididas em um ateliê e duas salas de confecção, a primeira voltada para a criação de figurinos e outra para cenários, ambas pensadas para apoiar os eventos realizados na própria praça, como as fantasias e adereços confeccionados nos eventos de Reisado, por exemplo, servindo também como um local para armazenar objetos acessórios aos eventos. Por fim, o edifício conta com um pátio interno que permite um espaço contemplativo, além de servir como instrumento para favorecer a ventilação e a iluminação da área central, o qual foi trabalhado por meio do uso de espécies vegetais locais. Área construída: 1.063,6 m² R U A B. R IB EI R O D E C AS TR OD I 41 J L K C 5 F G 6 8 B 7 9 10 E H A M 32 PRAÇA CENTRAL 354 PALCO 354,2 AUDITÓRIO CAPAC. 109 PESSOAS 353,4 354,3 SALA PROJ. 354,3 CAMARIM 01 354,2 CAMARIM 02 354,2 ADMINISTRAÇÃO 354,3 ACERVO CENOTÉCNICO 354,2 BANHEIROS 354,3 SALA DE MÚSICA 01 SALA DE MÚSICA 02 354,3354,3 354,3 BALCÃO ATENDIMENTO FOGUEIRA 353,4 0 5 104321 85 auditório proposição projetual Por fim, o edifício do auditório foi isolado dos outros edifícios culturais devido às questões acústicas. No entanto, ainda é feita a sua integração com o restante do projeto devido à sua conexão direta com a praça central, estando em uma posição que permite a abertura do palco para o público da área externa, possibilitando a realização de eventos de maior porte. Com capacidade de 109 pessoas, o auditório permite tanto a realização de obras teatrais como a projeção de filmes e documentários, multiplicando a sua utilização e flexibilizando seus usos para diferentes eventos, bem como as diferentes atividades realizadas pelo governo atualmente. Além do palco, foram integrados uma sala para o acervo cenotécnico, a qual possui uma ligação com a área externa, facilitando o transporte de objetos de apoio aos eventos teatrais e espetáculos. Há ainda duas salas de músicas integradas ao espaço do Área construída: 1.041,8 m² acesso principal ao edifício pensadas para para eventuais ensaios da comunidade local durante os eventos realizados na praça, permitindo também a possibilidade de armazenamento dos instrumentos musicais. Ao lado do edifício, foi criada uma outra alternativa de espaço de lazer e contemplação, que possui bancos e mesas para abrigar os usuários em uma paisagem mais isolada das atividades recreativas que ocorrem de maneira mais concentrada na área da praça central e sua integração com e estrutura comercial. 86 o percurso e a praça central proposição projetual Como mencionado anteriormente, as vias secundárias foram pensadas de forma a encaminhar o pedestre à rua interna principal e à praça central, a qual também permite a conexão direta entre as ruas adjacentes: Rua Dr. Abílio Costa e a Rua Frade Macedo. A rua principal é delimitada por meio dos edifícios comercial e cultural, sendo projetada de forma a criar uma sensação de acolhimento ao pedestre, por meio dos espaços avarandados inspirados nos alpendres característicos da arquitetura sertanista e que permitem o uso de seus espaços de circulação para a permanência. Em contrapartida, é criado um contraste entre o percurso principal e a amplitude do espaço da praça central, reforçado pelo uso de espécies de palmeiras locais, encaminhando o pedestre para a surpresa de deparar-se com o edifício de maior pé-direito, simbolizado pelo auditório, reforçando também sua ampla abertura do palco, contrastanto na materialidade crua Área da praça: 715,4 m² de sua fachada. Quanto à materialidade do projeto, optou-se pelo uso do tijolo de adobe, resgatando o uso da terra das tradições da arquitetura sertanista, além de ser uma alternativa econômica que favorece o conforto térmico. Foi optado pelo uso da madeira em elementos como os pilares e esquadrias, os quais foram pintados em uma cor de tonalidade avermelhada, inspirada pelos tons dominantes nas pinturas das cavernas pré-históricas, fazendo um paralelo com as marcas das comunidades ancestrais sobre as paredes de terra. Quanto às áreas livres e aos espaços de contemplação, foi feita uma escolha de espécies a partir de uma bibliografia voltada para a arborização e ornamentação de regiões da Caatinga. As áreas verdes foram espalhadas pelo terreno, possuindo diferentes funções, como a arborização perimetral dos caminhos e espaços de permanência, favorecendo o conforto térmico dos usuários por meio de espécies arbóreas perenes como o Juazeiro (Ziziphus joazeiro). Nos espaços de contemplação, os quais contam com mobiliários como bancos, mesas e cadeiras, além das espécies arbóreas, foram utilizadas espécies arbustivas, herbáceas e forrações de menor porte, gerando uma composição variada dos elementos paisagísticos. Há ainda, como já mencionado, jardins secos formado apenas por espécies cactáceas e bromeliáceas, mesclando com o uso de pedras e areia em sua composição. Prevaleceu-se a escolha de espécies que transmitem o espírito geral do projeto de transmissão de cultura e conhecimento, como por exemplo o mandacaru (Cereus jamacaru) que, além de ser uma vegetação simbólica da região nordeste, também é apropriada para a criação de cercas vivas e para “costurar o couro em partos de gado, para fazer rendas e para tecer cestos feitos de caroá” (Kill et al, 2013, p.95). Como mencionado, o caroá (Neoglaziovia variegata) também escolhida para compor o projeto paisagístico traduz uma tradição artesanal local: O sertanejo não se compraz em admirar essa beleza; ele também conhece sua utilidade artesanal. Com as fibras das folhas do caroá, o sertanejo confecciona corda, barbante e papel, e as utilizam também na tecelagem (ibid, p.110). E é na praça central onde é aplicada uma referência direta aos quatro elementos trabalhados por Lina bo Bardi no SESC Pompeia, por meio da presença da fogueira localizada centralmente no espaço, como elemento de importância a ser utilizada pelos eventos juninos realizados no município, proposição projetual áreas livres 88 89 além de permitir seu uso noturno nos outros períodos do ano, buscando reforçar a tradição local da contação de histórias. Já a água é representada por uma fonte com esguichos que podem ser utilizados para aliviar as altas temperaturas e usado de maneira lúdica pela população. Quando à materialidade, foram escolhidos dois pisos diferentes, um para a área da circulação central que conta com a área da praça, da rua interna, as calçadas e seus eixos de conexão, contando com um piso em cor avermelhada na área da fogueira, ressaltando a sua importância e seguindo uma linguagem já existente na Praça do Gavião, criando uma continuidade com o entorno. Já para as demais áreas externas e áreas de transição entre os ambientes externos e internos foi feito o uso do porcelanato de pedra. Por fim, na área onde estão localizados os esguichos de água, optou-se a utilização de um piso antiderrapante de cor azulada, gerando uma brincadeira entre o uso das cores de acordo com os elementos da natureza. proposição projetual Isométricas da fogueira e da fonte. considerações finais É evidente o impacto do Parque Nacional Serra da Capivara no município de São Raimundo Nonato, tanto em questão da promoção de uma maior visibilidade à região, quanto na geração de oportunidades para a comunidade local. No entanto, é importante destacar os impactos negativos que a criação do Parna gerou para as comunidades que viviam dentro da área delimitada para a unidade de conservação. Consequências essas que são vistas até os dias atuais como são mostradas pelos moradores do assentamento Nova Zabelê, que buscam pelo reconhecimento de sua história, por meio do Museu Zabelê. O levantamento de espaços de cultura e lazer na área urbana municipal levou à conclusão de que ainda há uma carência de espaços recreativos que geram uma maior interatividade entre os indivíduos, visto que a maior parte dos equipamentos culturais são espaços museológicos e, na maioria das vezes, possuem relação com o Parna da Serra da Capivara. Além disso, observou-se uma forte apropriação das praças como espaços de difusão dos costumes e tradições locais por meio considerações finais 90 considerações finais 91 Buscou-se a concepção de um espaço livre que estimule diferentes sensações e novas percepções aos moradores do município, contrastando com a paisagem atual e buscando promover uma relação de pertencimento por parte da comunidade. Por fim, ao criar um equipamento vivo, interativo e simbólico da cultura e tradições locais, pretendeu-se gerar um espaço atrativo também aos visitantes do município, de forma a convidá-los para o espaço, sendo aproveitado para a divulgação dos espaços turísticos municipais, servindo como um espaço informativo e criando um equipamento de apoio à estrutura turística. de atividades e eventos que reunem a comunidade, as quais, no entanto, não possuem mobiliários e estrutura de suporte para as diferentes comemorações. Destaca-se ainda as dificuldades de acesso às informações municipais, a falta de retorno por parte da Prefeitura Municipal, somada à desatualização da legislação, o que dificultou no processo de análise urbana do município. Em contrapartida, é interessante notar o engajamento por parte do governo municipal na promoção de eventos e atividades de conscientização, aprendizado, valorização da cultura, tradição, esportes e lazer. É nesse sentido que o projeto desenvolvido a partir desta pesquisa teve como objetivo a criação de um espaço que adequasse aos programas e atividades já atualmente organizados pela prefeitura, criando um ambiente atrativo à população, e que pudesse ser utilizado por diversos grupos sociais, por meio de um equipamento multifuncional que abriga diferentes usos, como por exemplo a função comercial. referências bibliográficas bibliografia de referência referências bibliográficas 92 AZEVEDO, M. M. M.; BAPTISTA, D. M. T.; VIDAL, M. S. C. CTN: Um Nordeste paulistano. TRAVESSIA - revista do migrante, [S. l.], n. 34, p. 39–42, 1999. DOI: 10.48213/travessia.i34.690. Disponível em: https://travessia.emnuvens.com.br/travessia/article/view/690. Acesso em: 16 abr. 2024. BARROS, J. S. et al. Geoparque Serra da Capivara (PI): proposta. In: SCHOBBENHAUS, C.; SILVA, . R. (Org.). Geoparques do Brasil: propostas. Rio de Janeiro: CPRM, 2012. Cap. 14. BRAGA, M. A. S.; MAGESTE, L. 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