UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO CAMPUS DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA ANTONIO ELCIO FERREIRA JÚNIOR Caracterização não linear de sistemas aeroelásticos por meio da Função Densidade de Probabilidade Conjunta São João da Boa Vista 2021 ANTONIO ELCIO FERREIRA JÚNIOR Caracterização não linear de sistemas aeroelásticos por meio da Função Densidade de Probabilidade Conjunta Versão original Dissertação apresentada à Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de São João da Boa Vista para obtenção do t́ıtulo de Mestre em Engenharia Elétrica pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica. Área de concentração: Automação. Orientador: Prof. Dr. Rui Marcos Grombone de Vasconcellos Coorientador: Prof. Dr. André Alves Ferreira São João da Boa Vista 2021 F383c Ferreira Júnior, Antonio Elcio Caracterização não linear de sistemas aeroelásticos por meio da Função Densidade de Probabilidade Conjunta / Antonio Elcio Ferreira Júnior. -- São João da Boa Vista, 2021 131 p. : il., tabs., fotos Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Câmpus Experimental de São João da Boa Vista, São João da Boa Vista Orientador: Rui Marcos Grombone de Vasconcellos Coorientador: André Alves Ferreira 1. Aeroelasticidade. 2. Estabilidade dos aviões. 3. Sistemas não lineares. 4. Análise de séries temporais. 5. Estatística. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Câmpus Experimental de São João da Boa Vista. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Câmpus de Sorocaba CERTIFICADO DE APROVAÇÃO TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: Caracterização não linear de Sistemas Aeroelásticos por meio da Função Densidade de Probabilidade Conjunta AUTOR: ANTONIO ELCIO FERREIRA JÚNIOR ORIENTADOR: RUI MARCOS GROMBONE DE VASCONCELLOS COORIENTADOR: ANDRE ALVES FERREIRA Aprovado como parte das exigências para obtenção do Título de Mestre em ENGENHARIA ELÉTRICA, área: Automação pela Comissão Examinadora: Prof. Dr. RUI MARCOS GROMBONE DE VASCONCELLOS (Participação Virtual) Coordenadoria de Curso de Engenharia Aeronáutica / Câmpus de São João da Boa Vista Prof.Dr. FLÁVIO DONIZETI MARQUES (Participação Virtual) Departamento Engenharia Mecânica / EESC/USP Prof. Dr. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA (Participação Virtual) - / UNESP - Campus de São João da Boa Vista Sorocaba, 19 de julho de 2021 Instituto de Ciência e Tecnologia - Câmpus de Sorocaba - Três de Março, 511, 18087180, Sorocaba - São Paulo http://www.sorocaba.unesp.br/#!/pos-graduacao/--engenharia-eletrica-local/CNPJ: 48031918003573. Dedico este trabalho aos meus pais, que sempre incentivaram o meu crescimento profissional e me apoiaram durante estes dois anos. Agradecimentos Agradeço, primeiramente, à Deus por sempre me guiar e me dar forças nos momentos mais dif́ıceis e ser responsável por todas as minhas oportunidades e conquistas. Agradeço à minha famı́lia, especialmente aos meus pais, Elcio e Luciene, pelos exemplos, integridade apoio e todos os esforços que fazem para que eu possa alcançar meus objetivos ao longo da vida. Agradeço também ao Prof. Dr. José Augusto de Oliveira e ao Prof. Dr. Ivan Aritz Aldaya Garde, não apenas pelas orientações nas pesquisas em que realizei, mas também pelas conversas e apoio ao longo dos anos. Por fim, agradeço imensamente ao meu orientador, Prof. Dr. Rui Marcos Grom- bone de Vasconcellos, não apenas pela oportunidade de realizar este trabalho, mas pelo companheirismo e dedicação no meu aprendizado. “A única forma dos homens chegarem a algum lugar é deixando algo para trás.” Christopher E. Nolan Resumo JUNIOR, Antonio Elcio Ferreira. Caracterização não linear de sistemas aeroelásticos por meio da Função Densidade de Probabilidade Conjunta. 2021. 133 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus Experimental de São João da Boa Vista, São João da Boa Vista, 2021. A indústria aeronáutica realiza investimentos significativos na manutenção de aeronaves, devido a diversos fenômenos aeroelásticos que podem ocorrer ao longo das suas vidas úteis, incluindo danos à integridade estrutural. A mantenabilidade é um campo de operação responsável por analisar tal integridade por meio de estudos do ciclo de um componente, desenvolvendo processos ótimos de manutenção de uma estrutura, a fim de evitar posśıveis acidentes. Para garantir a confiabilidade de um sistema, a previsibilidade de eventuais problemas ao longo de sua operação torna-se fundamental na pretensão de disponibilidade e desempenho de uma aeronave, a partir do monitoramento de sinais obtidos por sensores distribúıdos pela estrutura. Uma alternativa de atingir tal requisito é a análise dos sinais por meio da Função Densidade de Probabilidade Conjunta (Joint Probability Density Function, J-PDF), um método estat́ıstico que realiza mensurações do comportamento de variáveis conjuntas ao longo de um intervalo de tempo. Logo, a probabilidade da variável em determinado estado pode indicar a possibilidade de futuras anormalidades no sistema. A presente pesquisa propôs a análise da J-PDF e a avaliação da sua eficiência na área da Aeroelasticidade por meio de sinais não lineares oriundos de estruturas aeronáuticas, evidenciando a potencialidade da J-PDF para a previsão de anormalidades em uma aeronave e apresentando as vantagens que tal metodologia estat́ıstica possui, não apenas nos processos de mantenabilidade, mas também em diversas áreas de pesquisa. Os resultados demonstram a eficiência da J-PDF quando aplicada em sistemas aeroelásticos não lineares, em séries temporais numéricas e experimentais, de forma que o espaço de fase gerado demonstra a probabilidade do comportamento das variáveis ao longo do tempo. Com isso, é posśıvel detectar futuras anormalidades e demais efeitos quando o sistema é submetido a condições espećıficas. Palavras-chaves: Aeroelasticidade, Função Densidade de Probabilidade Conjunta. Mante- nabilidade. Não linearidade. Abstract JUNIOR, Antonio Elcio Ferreira.Nonlinear characterization of aeroelastic systems using the Joint Probability Density Function. 2021. 133 p. Dissertation (Master of Eletric Engineering), São Paulo State University (UNESP), Campus of São João da Boa Vista, São João da Boa Vista, 2020. The aeronautical industry conducts significant investments in aircraft maintenance due to several aeroelastic phenomena that can occur during an aircraft’s life, including damage to structural integrity. Maintainability is an operating field responsible for analyzing such integrity through studies of the component’s cycle, developing optimal processes for maintaining a structure to avoid possible accidents. In order to guarantee the accuracy of a system the predictability of eventual problems during its operation becomes essential in the pretension of an aircraft’s availability and performance by monitoring the signals obtained by sensors distributed throughout the structure. An alternative to achieve this requirement is the analysis of the signals through the Joint Probability Density Function, J-PDF, a statistical method that measures the behavior of joint variables over a period of time. Thus, the probability of the variable in a given state may indicate the possibility of future abnormalities in the system. This research aimed to analyze J-PDF and evaluate its efficiency in the Aeroelasticity extent through non-linear signals from aeronautical structures, intending to highlight the potential of J-PDF for the prediction of abnormalities in an aircraft and presenting the advantages that such statistical methodology can assist not only in the processes of maintainability but also in several research areas. The results prove the efficiency of J-PDF when applied to non-linear aeroelastic systems, so that the generated phase space demonstrates the probability of the variables behavior over time. Thereby it is possible to detect future abnormalities and another effects when the system is subjected to specific conditions. Keywords: Aeroelasticity, Joint Probability Density Function, Maintainability, Nonlinearity. Lista de figuras Figura 1 – Representação do triângulo de Collar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Figura 2 – Caracteŕısticas e nomenclatura de um aerofólio. . . . . . . . . . . . . . 23 Figura 3 – Forças atuantes devido a incidência do aerofólio. . . . . . . . . . . . . . 24 Figura 4 – Não linearidades estruturais comuns em sistemas dinâmicos. . . . . . . 27 Figura 5 – Representação da separação do escoamento e geração de vórtices. . . . 28 Figura 6 – Fases de elaboração do projeto de mantenabilidade. . . . . . . . . . . . 30 Figura 7 – Processos de uma ACV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Figura 8 – Distribuição de materiais na estrutura de uma aeronave Airbus A350. . 32 Figura 9 – Processos para a aplicação do SHM em estruturas aeronáuticas. . . . . 34 Figura 10 – Esquematização de uma rede de sensores instalados na estrutura de uma asa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Figura 11 – Representação de um ponto fixo para a) Poço, b) Fonte e c) Sela. . . . 41 Figura 12 – Ponto fixo em um sistema bidimensional para a) Poço, b) Fonte, c) Sela tipo 1, d) Sela tipo 2 e comportamento oscilatório para e) Centro, f) Espiral estável e g) Espiral instável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Figura 13 – Atrator de Lorenz com condições inicias definidas. . . . . . . . . . . . . 44 Figura 14 – Onda de pulso quadrado periódico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Figura 15 – Espectro de Fourier do pulso quadrado periódico. . . . . . . . . . . . . 47 Figura 16 – Trajetórias do sistema baseado em uma esfera. . . . . . . . . . . . . . . 57 Figura 17 – Procedimento para cálculo do expoente de Lyapunov. . . . . . . . . . . 58 Figura 18 – Comportamento das trajetórias em um sistema. . . . . . . . . . . . . . 59 Figura 19 – Expoente de Lyapunov no mapa loǵıstico de uma série não linear. . . . 60 Figura 20 – Exemplificação na determinação das variáveis (número de pontos e aspecto de similaridade) para o cálculo da entropia . . . . . . . . . . . 64 Figura 21 – Caracterização de sinais lineares e não lineares por meio do cálculo da entropia, variando o número de pontos e mantendo o aspecto de similaridade fixo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Figura 22 – Representação de um espaço amostral com uma variável aleatória. . . . 69 Figura 23 – Probabilidade do arremesso de um dado não viciado. . . . . . . . . . . 72 Figura 24 – Distribuição cont́ınua de Weibull. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Figura 25 – Distribuição de uma PDF com P (x1 < X < x2). . . . . . . . . . . . . . 73 Figura 26 – Representação de uma distribuição binomial. . . . . . . . . . . . . . . . 75 Figura 27 – Representação de uma distribuição de Poisson. . . . . . . . . . . . . . . 76 Figura 28 – Representação das distribuições de probabilidade conjunta, marginal e condicional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Figura 29 – Desenvolvimento da J-PDF a partir de uma distribuição binomial. . . . 83 Figura 30 – Dispersão das variáveis e histograma da série temporal. . . . . . . . . . 83 Figura 31 – Tratamento de dados coletados e aplicação da J-PDF em duas dimensões. 85 Figura 32 – Mensuração da densidade de probabilidade conjunta. . . . . . . . . . . 86 Figura 33 – Representação da aplicação do método KDE. . . . . . . . . . . . . . . 86 Figura 34 – Aplicação da KDE em uma série com o fenômeno do Estol Dinâmico. . 87 Figura 35 – Projeção bidimensional do atrator de Lorenz através das séries temporais. 90 Figura 36 – J-PDF utilizada para analisar as séries temporais provindas do atrator de Lorenz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Figura 37 – Análise do atrator de Lorenz com a contaminação de rúıdo. . . . . . . 91 Figura 38 – Aplicação da J-PDF em um atrator de Lorenz contaminado por rúıdo. 92 Figura 39 – Modelo aeroelástico com folga na estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . 93 Figura 40 – Momento restaurador da torção e da superf́ıcie de comando. . . . . . . 94 Figura 41 – Série temporal da superf́ıcie de comando. . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Figura 42 – Análise do primeiro cenário de folga na estrutura, com rigidez 20kβ e J-PDF igual a 1, 609× 10−3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 Figura 43 – Segundo cenário de folga na estrutura, com rigidez 50kβ e J-PDF equivalente a 1, 325× 10−3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Figura 44 – Terceiro cenário de folga na estrutura, sendo a rigidez igual a 100kβ e a J-PDF média igual a 0, 398× 10−3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 Figura 45 – Quarto cenário de dupla folga na estrutura, com 100kα e 100kβ, e J-PDF média resultante igual a 0, 197× 10−3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 Figura 46 – Variação da J-PDF média e máxima com o aumento da rigidez. . . . . 101 Figura 47 – Aparato utilizado para os testes de estol dinâmico. . . . . . . . . . . . 103 Figura 48 – Determinação da frequência natural de oscilação e do momento restau- rador da mola. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Figura 49 – J-PDF para o estol dinâmico para a) primeira velocidade analisada (10, 52m/s) e b) velocidade posterior (10, 96m/s), respectivamente. . . 105 Figura 50 – Caracterização da não linearidade causada pelo estol dinâmico em 0◦ por meio da a) Entropia e b) J-PDF média, bem como o espaço tridimensional da J-PDF em c) 11, 24m/s e d) 13, 22m/s. . . . . . . . 106 Figura 51 – Diferença da J-PDF no caso de 5◦ em 9, 92m/s e 13, 55m/s. . . . . . . 107 Figura 52 – Variação da entropia e J-PDF em 5◦ com a velocidade do escoamento. 108 Figura 53 – Complexidade do sinal demonstrada na entropia e na J-PDF com incidência de 10◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Figura 54 – Variação da entropia e J-PDF na indução do estol dinâmico em 15◦. . . 110 Figura 55 – Representação de uma seção t́ıpica com três graus de liberdade. . . . . 111 Figura 56 – Aparato experimental para os testes de folga na estrutura. . . . . . . . 112 Figura 57 – Encoder utilizado para a detecção de movimentos na superf́ıcie de comando. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 Figura 58 – Amplitudes da superf́ıcie de comando para as velocidades analisadas. . 114 Figura 59 – Série temporal e respectiva J-PDF para a deflexão da superf́ıcie de comando a 13, 58m/s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Figura 60 – Séries temporais da deflexão da superf́ıcie de comando e aumento da J-PDF média para o incremento da velocidades. . . . . . . . . . . . . . 116 Figura 61 – Séries temporais da deflexão da superf́ıcie de comando e diminuição da J-PDF média para o decremento da velocidades. . . . . . . . . . . . . . 117 Figura 62 – Séries temporais reconstrúıdas e J-PDF resultantes para as velocidades 13, 32m/s e 13, 14m/s, também referentes ao decremento na superf́ıcie de comando. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Figura 63 – Variação da J-PDF média para os dados da superf́ıcie de comando, onde o incremento da velocidade gera uma J-PDF maior que os dados coletados no decremento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Figura 64 – Série temporal não estacionária para β em 12, 26m/s e aplicação da J-PDF. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Figura 65 – Aplicação da ferramenta em um sinal referente a torção do modelo aeroelástico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 Figura 66 – Séries temporais reconstrúıdas e J-PDF resultantes para as velocidades de incremento na torção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 Figura 67 – Séries temporais reconstrúıdas e J-PDF resultantes para as velocidades de decremento na torção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123 Figura 68 – Séries temporais reconstrúıdas e J-PDF resultantes para as velocidades 13, 32m/s e 13, 14m/s, também referentes ao decremento da velocidade na torção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 Figura 69 – Análise da J-PDF média para os dados da torção ao longo do incremento e do decremento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Lista de tabelas Tabela 1 – Definição do atrator bidimensional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Tabela 2 – Distribuição de probabilidade de um evento. . . . . . . . . . . . . . . . 71 Tabela 3 – Parâmetros considerados para a análise aeroelástica. . . . . . . . . . . 97 Tabela 4 – Dados obtidos referentes a J-PDF nas simulações implementadas. . . . 100 Tabela 5 – Dados obtidos referentes a entropia e a J-PDF média na indução de estol dinâmico para 0◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Tabela 6 – Dados referentes a entropia e a J-PDF média para o estol dinâmico em 5◦.108 Tabela 7 – Dados obtidos referentes a entropia e a J-PDF média na indução de estol dinâmico para 10◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Tabela 8 – Dados obtidos referentes a entropia e a J-PDF média na indução de estol dinâmico para 15◦. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Tabela 9 – Velocidades utilizadas na análise experimental. . . . . . . . . . . . . . 113 Tabela 10 – Resultados obtidos na análise da superf́ıcie de comando (β). . . . . . . 115 Tabela 11 – Resultados obtidos na análise da torção (α). . . . . . . . . . . . . . . . 121 Lista de abreviaturas e siglas ACV Avaliação do Ciclo de Vida Singulares AICV Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida CCV Custo do Ciclo de Vida CDF Função de Densidade Acumulativa DFT Transformada Discreta de Fourier FDA Função de Distribuição Acumulada FFT Transformada Rápida de Fourier J-PDF Função Densidade de Probabilidade Conjunta KDE Estimativa de Densidade de Kernel LCO Oscilação Ciclo Limite MC Monte Carlo PDF Função Densidade de Probabilidade PFM Função Probabilidade de Massa PZT Transdutor Piezoelétrico SHM Sistema de Monitoramento Estrutural SNR Relação Sinal-Rúıdo SVD Decomposição em Valores Singulares Lista de śımbolos Cd(r) Integral de correlação c Deslocamento ċ Velocidade De Dimensão de imersão f0 Frequência fundamental g Gravidade K Distribuição de Kernel L Comprimento da haste Mα Momento de restauração N0 Número de amostras nin(r) Número de padrões similares pn(i) Janela de um sinal r Distância T0 Peŕıodo fundamental U Velocidade de escoamento Uf Velocidade de Flutter xn Estados do sistema ẋ Sistema de uma dimensão α Deslocamento angular da torção β Deslocamento angular da superf́ıcie de comando γ Parâmetro de forma ∆t Intervalo de duas amostras θ Parâmetro de escala Λ Matriz de covariância λ Autovalor µ Média de uma variável aleatória Ω Frequência no tempo discreto ω Movimento de flexão σ2 Variância τ Tempo de defasagem ϕ Tempo de defasagem Sumário 1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 1.1 Aeroelasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.3 Áreas de aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.3.1 Mantenabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 1.3.2 A Avaliação do Ciclo de Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 1.3.3 Monitoramento de Integridade Estrutural (SHM) . . . . . . . . . . 33 1.4 Organização da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2 Sistemas não lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 2.1 A dinâmica não linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 2.2 Sistemas dinâmicos unidimensionais e bidimensionais . . . . . . . . . 40 2.3 Sistemas dinâmicos tridimensionais e a relação com o caos . . . . . . 43 3 Ferramentas tradicionais de análise de séries temporais não lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.1 Análise em frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.2 Reconstrução do espaço de estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.3 Expoente de Lyapunov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 3.4 Entropia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 4 A Função Densidade de Probabilidade Conjunta . . . . . . . . 66 4.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.2 Variáveis aleatórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 4.3 Distribuições de probabilidade usuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 4.4 Desenvolvimento da ferramenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 4.5 Implementação computacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 5 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 5.1 Implementação da J-PDF em simulações numéricas . . . . . . . . . . 89 5.1.1 Aplicação a séries temporais provindas do atrator de Lorenz . . . . 89 5.1.2 Aplicação em um sistema aeroelástico simulado com folga na su- perf́ıcie de comando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 5.2 Implementação da J-PDF em séries experimentais . . . . . . . . . . . 102 5.2.1 Análise a partir de séries provindas do estol dinâmico . . . . . . . . 102 5.2.2 Análise a partir casos experimentais de um modelo com folga na estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 6 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 19 1 Introdução O campo da aeroelasticidade analisa e estuda a interação entre a deformação de estruturas flex́ıveis expostas a um escoamento aerodinâmico e o esforço inercial resultante. Alguns fenômenos aeroelásticos podem provocar deformações significativas, comporta- mentos pouco previśıveis, mas potencialmente catastróficos. Consequentemente, torna-se extremamente importante o seu estudo, a fim de solucionar e buscar melhorias no projeto aeronáutico, aumentando a confiabilidade e a eficiência de uma aeronave. Os sistemas aeroelásticos são inerentemente não lineares, especialmente no caso das aeronaves que possuem estruturas leves e aerodinamicamente eficientes, estando sujeitas à comportamentos distintos dos previstos por meio de métodos convencionais de aproximação linear das equações de movimento (BISPLINGHOFF; ASHLEY; HALFMAN, 1996). A investigação dos problemas aeroelásticos pode ser realizada através de modelos matemáticos do processo f́ısico ou por métodos experimentais para a inspeção direta dos fenômenos. Os resultados dos experimentos, por sua vez, podem ser utilizados em modelos semi-emṕıricos. As metodologias para o desenvolvimento de modelos matemáticos com a finalidade de analisar problemas aeroelásticos apresentam deficiências, principalmente pelo fato de envolver dois meios de comportamento dinâmico diferentes, ou seja: o meio elástico que corresponde à estrutura e o meio flúıdico que envolve tal aparato. Os modelos matemáticos utilizados para o estudo prático da aeroelasticidade acabam sendo viabilizados a partir de modelos independentes, tratando o problema da estrutura e da aerodinâmica não estacionária e uma lei de acoplamento para relacionar os estados e esforços nos respectivos modelos. Por outro lado, ensaios experimentais permitem a observação direta do compor- tamento de um sistema, contabilizando e analisando todos os efeitos significativos. Os experimentos realizados na área da aeroelasticidade necessitam de uma série de medidas simultâneas de sinais, como por exemplo o deslocamento de superf́ıcies móveis, a ace- leração em pontos da estrutura e variações de pressões não estacionárias nas superf́ıcies aerodinâmicas. Em diversos casos, as medidas necessárias para o desenvolvimento do experimento normalmente são complexas e possuem um alto custo. No entanto, para a análise de sistemas dinâmicos não lineares, os ensaios experimentais ainda representam o método de 20 maior eficiência para resgatar caracteŕısticas importantes do sistema, por meio de respostas no tempo de variáveis significativas (SAVI, 2006). Na tentativa de compreender fenômenos e comportamentos, observações são fre- quentemente feitas de maneira sequencial durante um certo peŕıodo, onde valores futuros podem desencadear em uma série de relações com observações presentes. Esta dependência torna viável o acesso e o entendimento da dinâmica do sistema, a qual geralmente está contida nos dados informativos. Nesses casos, os dados coletados são pertencentes a sistemas lineares ou não lineares. Os sistemas lineares produzem resultados regulares, ou seja, pequenas variações geram pequenos efeitos que são facilmente previstos por modelos matemáticos. Os sistemas não lineares, por sua vez, possuem uma resposta que pode ou não ser irregular, complexa e dependente das condições iniciais do experimento, apesar de serem resultados de um processo determińıstico e não estocástico (SCHREIBER; SCHMITZ, 1997). O termo Caos é utilizado para descrever os comportamentos complexos supracitados, os quais têm influenciado muitos ramos da ciência, visto que os sistemas caóticos podem apresentar uma dinâmica rica e surpreendente, permitindo explicar comportamentos irregulares observados em sistemas aparentemente simples e determińısticos nas mais diversas áreas de pesquisa (KANTZ; SCHREIBER, 2000). A ligação mais direta entre o caos e o mundo real é a análise de dados provindos de séries temporais, em termos da dinâmica não linear (KANTZ; SCHREIBER, 2004). Um conjunto de equações diferenciais, ou um mapa, pode modelar um sistema apenas da forma suficiente para fornecer informações relevantes (SAVI, 2002). Desta forma, torna-se importante analisar sistemas dinâmicos a fim de conhecer detalhes importantes sobre as suas caracteŕısticas e particularidades, não possuindo, portanto, um modelo matemático estabelecido. Para isso, utiliza-se um conjunto de técnicas de análise de séries temporais não lineares, com a finalidade de se obter caracteŕısticas fundamentais do sistema que são resgatadas a partir de um conjunto discreto, numerável de valores de uma variável de estado de um sistema dinâmico, análises no domı́nio da frequência, reconstrução do espaço de estados, estudo de recorrência e quantificação de invariantes, por exemplo. Tendo em vista a necessidade de uma metodologia robusta, que seja capaz de coletar informações importantes sobre o comportamento do sistema não linear com base 21 em uma ou mais séries temporais medidas, sugere-se a aplicação da Função Densidade de Probabilidade Conjunta (Joint Probability Density Function, J-PDF). A J-PDF é uma operação estat́ıstica que realiza mensurações do comportamento de variáveis analisadas ao longo de um determinado intervalo de tempo (VENKATRAMANI; SARKAR; GUPTA, 2018). Por meio de representações em espaços de fase, a J-PDF é capaz de mensurar caracteŕısticas do estado atual de um sistema por meio das densidades de probabilidades cruzadas das variáveis analisadas, permitindo a detecção de pequenas variações no comportamento. A partir das caracteŕısticas citadas, espera-se que, após a implementação da J- PDF, seja posśıvel caracterizar um sistema aeroelástico e detectar pequenas flutuações comportamentais causadas por variações de parâmetros ou mesmo aparecimento de danos estruturais, como trincas ou fadiga, as quais, considerando-se as não linearidades presentes no sistema, podem levar a variações significativas de amplitude de movimento da estrutura ou mesmo falha catastrófica. Devido a sua potencialidade, a J-PDF mostra-se adequada para ser aplicada na forma de ferramenta anaĺıtica em processos de manutenção, como o Monitoramento da Integridade Estrutural (Structural Health Monitoring, SHM), por exemplo, no qual a estrutura é monitorada para que danos sejam detectados de modo simultâneo (INMAN et al., 2005). Implementada em diversas áreas da Engenharia, o SHM possui a finalidade, ba- sicamente, de detectar danos estruturais em uma estrutura. Utilizando-se de sensores e sistemas de aquisição de dados acoplados ao corpo em operação, esses dados são obtidos e analisados a fim de determinar a existência de problemas na integridade estrutural do objeto de estudo. Contudo, esta técnica não possui capacidade de apontar futuras divergências decorrentes de mudança de estados causados por anomalias não lineares. Consequentemente, o SHM pode analisar de forma incoerente determinados resultados quando há a presença de efeitos não lineares. Devido a isso, a integração da J-PDF com tal sistema pode ampliar e otimizar resultados úteis para a determinação da integridade de uma estrutura, analisando as probabilidades das variáveis e, consequentemente, a previsibilidade do sistema. 22 1.1 Aeroelasticidade Quando um sistema aeronáutico em condições de voo sofre deformações que modi- ficam a aerodinâmica da aeronave devido a fatores relacionados a mecânica dos fluidos, mecânica dos sólidos ou dinâmica inercial, torna-se necessário analisar os fenômenos ocorridos tendo como base os conceitos da aeroelasticidade. A aeroelasticidade abrange a ciência que estuda as interações existentes entre as forças aerodinâmicas, inerciais e elásticas que influenciam no estado de uma estrutura aeroelástica (WRIGHT; COOPER, 2007). As aeronaves atualmente apresentam flexibilida- des estruturais que podem resultar no surgimento de fenômenos aeroelásticos, capazes de causar a alteração da distribuição de sustentação e deformações estruturais, logo, a análise de um sistema aeroelástico busca obter respostas do sistema acoplado aeroestrutural, a fim de caracterizar posśıveis efeitos estruturais e evitar danos significativos. Uma descrição conhecida por representar os conceitos que envolvem a aeroelastici- dade é o triângulo aeroelástico de Collar, conforme a Figura 1, por evidenciar de forma clara todos as relações existentes entre as forças presentes na aeroelasticidade (COLLAR, 1946). As forças decorrentes do escoamento do fluido, da aceleração e das deformações, quando relacionadas separadamente, podem resultar em casos de estabilidade e controle, dinâmica estrutural e aeroelasticidade estática. Quando analisa-se o efeito conjunto, o resultado é um sistema acoplado aerodinâmica e estruturalmente, de forma que as deformações provocam alterações no carregamento aerodinâmico, que por sua vez podem provocar mais deformações. Sob a ação de forças iniciais, o comportamento resultante é chamado de aeroelasticidade dinâmica. A integridade de uma estrutura diante do efeito do escoamento de um fluido é considerada como um dos problemas mais comuns na aeroelasticidade. Basicamente, a variação da velocidade de escoamento faz com que forças aerodinâmicas que atuam no sistema possam interagir com a estrutura, podendo causar excitação e acoplamento de modos de vibração até ocasionar uma instabilidade em uma condição de voo. O sistema aeroelástico mais comum é o constitúıdo por uma seção t́ıpica de uma asa, ou aerofólio, com ao menos um grau de liberdade exposta à um escoamento. Um aerofólio, como pode ser visto na Figura 2 apresenta algumas caracteŕısticas importantes 23 Figura 1 – Representação do triângulo de Collar. Fonte: (COLLAR, 1946). que recebem nomenclaturas espećıficas na aeronáutica, como o bordo de ataque, onde se inicia a divisão do fluxo e altera as caracteŕısticas do escoamento do fluido ao longo das superf́ıcies, e o bordo de fuga, região da parte traseira do aerofólio. Os pontos citados definem a linha média do aerofólio, a qual divide a superf́ıcie inferior e superior da estrutura. Além disso, existe também a corda, referente a linha reta entre os bordos e é representada por c, o arqueamento que é indicado pela distância entre a linha média e a corda, e a espessura que representa a distância entre as superf́ıcies. Figura 2 – Caracteŕısticas e nomenclatura de um aerofólio. Fonte: (ANDERSON, 2015). A Figura 3, por sua vez, demonstra o aumento do ângulo de ataque do aerofólio. É posśıvel verificar o ângulo de ataque (α), representado pela inclinação entre o vento relativo e a corda, as forças de sustentação, aerodinâmica, arrasto e a velocidade do escoamento, 24 definida por U∞, Além disso, a distribuição da pressão resulta no momento indicado por M . Figura 3 – Forças atuantes devido a incidência do aerofólio. Fonte: (ANDERSON, 2015). A aeroelasticidade pode ser dividida em estática e dinâmica. A aeroelasticidade estática estuda a relação entre os efeitos aerodinâmicos produzidos por um escoamento onde a velocidade e pressão não variam com o tempo, denominado por escoamento estacionário (BISPLINGHOFF; ASHLEY, 2013). Um exemplo de fenômeno aeroelástico estático é a divergência, que ocorre quando uma superf́ıcie sofre o processo de deflexão estática causada por um carregamento aerodinâmico estacionário, resultando no aumento da carga e da deformação até o ponto de gerar falhas na estrutura da superf́ıcie. Como os efeitos do escoamento não variam com o tempo na aeroelasticidade estática, é posśıvel representá-los por meio de um conjunto de equações lineares. Por outro lado, a aeroelasticidade dinâmica envolve os efeitos não estacionários gerados pela interação entre o carregamento aerodinâmico e as deformações causadas pelas forças inerciais e elásticas da superf́ıcie sustentadora. O Flutter é um fenômeno presente na aeroelasticidade dinâmica que envolve um movimento oscilatório autossustentado, de amplitude crescente que ocorre a partir de uma velocidade cŕıtica do escoamento. Ao ultrapassar tal velocidade, qualquer pertubação é capaz de resultar no aumento da amplitude das oscilações da superf́ıcie sustentadora (BISPLINGHOFF; ASHLEY; HALFMAN, 1996). 25 Além do Flutter, é comum os fenômenos de Buffeting e Galloping na aeroelastici- dade dinâmica. O Buffeting é a resposta transitória dos componentes estruturais devido a impulsos aerodinâmicos produzidos pela fuselagem ou pela esteira atrás das asas (SER- RANO, 2010). O Galloping, por sua vez, representa uma instabilidade comum relacionada à cabos de linhas de transmissão, uma deformação causada por exemplo pelo acúmulo de gelo causa o aparecimento de forças aerodinâmicas que interagem com os cabos e provocam um movimento caracteŕıstico, podendo causar rompimento de cabos ou quebra de torres de transmissão de energia. Muitas vezes, os fenômenos aeroelásticos dinâmicos geram comportamentos nos quais as teorias e equações lineares não podem ser utilizadas. Em um sistema linear, o entendimento das suas condições iniciais permite que um estado futuro seja conhecido, algo que não ocorre com facilidade em sistemas não lineares. Esses sistemas por sua vez, são gerados a partir de fontes conhecidas de efeitos não lineares em aeroelasticidade, como a separação do escoamento, a turbulência, efeitos de compressibilidade e problemas estruturais como grandes deformações e folgas. (JUNIOR; VASCONCELLOS; MARQUES, 2018). As aeronaves atuais possuem caracteŕısticas que buscam incremento da velocidade e leveza, resultando em estruturas altamente flex́ıveis expostas à um escoamento de alta energia. Inevitavelmente, as estruturas estão sujeitas a grandes deformações e, conse- quentemente, à efeitos não lineares (FILHO, 2020). Como consequência, a aeronave pode apresentar movimentos autossustentados, por exemplo, como a Oscilação Ciclo Limite, que ocorre quando ocorre após uma instabilidade o sistema converge para uma oscilação com amplitude finita, tal efeito é denominado LCO, do inglês Limit Cycle Oscillation (ALONSO; JAMESON, 1994). Por outro lado, quando as oscilações não são periódicas e senśıveis a condições iniciais do sistema, o comportamento é caracterizado como caótico. O comportamento caótico é caracterizado por oscilações não periódicas, que possuem múltiplas frequências e pode apresentar grande variação de amplitude. Nessa situação, o sis- tema, apesar de determińıstico perde previsibilidade com a evolução temporal. Um sistema caótico é dependente da condição inicial, ou seja, as soluções geradas a partir de pequenas mudança das condições iniciais passam a demonstrar comportamentos aparentemente descorrelacionados entre si com a evolução temporal (SIMONI, 2007). Como mencionado previamente, as não linearidades em sistemas aeronáuticos podem ser classificadas entre estruturais e aerodinâmicas. Normalmente, não linearidades 26 estruturais se originam a partir de grandes deformações e problemas de junção, como articulações e fixações. Devido a isso, a não linearidade estrutural pode ser classificada como distribúıda ou concentrada. Para o caso das não linearidades distribúıdas, os efeitos são considerados como espalhados ao longo de uma estrutura, enquanto que as não linearidades concentradas relacionam-se à efeitos localizados (VASCONCELLOS, 2007). Os efeitos de não linearidade concentradas normalmente são relacionados a momentos de restauração elástica em junções ou articulações, onde podem surgir folgas, histerese e outras respostas não lineares, como descritas a seguir. Dentre as não linearidades concentradas, destacam-se os efeitos relacionados a rigidez polinomial, onde o comportamento da mola varia com a amplitude do deslocamento, tornando a mola mais ou menos ŕıgida, comumente indicada por hardening e softening, respectivamente, e o amortecimento não linear seguido por folga. O comportamento de cada efeito pode ser observado na Figura 4. Dentre as não linearidades de origem aerodinâmica, além dos que surgem a partir de efeitos de compressibilidade, um dos principais efeitos amplamente estudado devido aos seus comportamentos de caracteŕısticas complexas é conhecido por estol dinâmico (VAS- CONCELLOS; PEREIRA; MARQUES, 2016). Basicamente, o estol dinâmico é gerado devido ao efeito da separação do escoamento, no qual um aerofólio se movimenta, de modo que em um baixo ângulo de ataque, a carga viabilize o aumento do ângulo de torção do aerofólio. Contudo, se tal movimento persiste, o ângulo de ataque ocasionado pela torção irá aumentar, gerando um atraso de estol provocado pelo vórtice de separação ocorrido no bordo de ataque, conforme a Figura 5. Consequentemente, surge uma região de baixa pressão no extradorso do aerofólio. O processo do fenômeno prossegue com o vórtice seguindo do bordo de ataque para o bordo de fuga, resultando na separação completa do escoamento e gerando um momento de arfagem negativo que reduz de forma impactante o ângulo de ataque. Tal efeito pode provocar sérios danos estruturais ou até mesmo graves acidentes. O estol dinâmico ocorre de modo frequente em pás de helicópteros. (LEISHMAN; BEDDOES, 1989) O fenômeno possui grande complexidade, dificultando ou até inviabilizando a elaboração de modelos matemáticos de alta fidelidade. Modelos de ordem reduzida ou semi-emṕıricos têm sido empregados, no entanto, a análise de dados experimentais ainda representa a melhor forma de entender e buscar informações úteis para a elaboração de modelos mais precisos. Dentre as possibilidades de abordagem de sistemas aeroelásticos 27 Figura 4 – Não linearidades estruturais comuns em sistemas dinâmicos. Fonte: (WORDEN; TOMLINSON, 2001). não lineares, pode-se citar o uso de técnicas de análise de séries temporais que podem ser aplicadas a dados de modelos matemáticos e experimentos. Novas ferramentas que possam contribuir com o conjunto de análises já existentes, de maneira eficiente, na extração informações úteis para a caracterização, identificação ou monitoramento de sistemas aeroelásticos são de suma importância. Tendo em vista os fatos abordados, é evidente e compreenśıvel a importância do desenvolvimento de técnicas para o estudo de sistemas aeroelásticos não lineares, visando aumentar a confiabilidade, segurança e o desenvolvimento de sistemas aeronáuticos mais eficientes. 28 Figura 5 – Representação da separação do escoamento e geração de vórtices. Fonte: (MCDOWELL, 2013). 1.2 Objetivo O objetivo do presente trabalho envolve a implementação e prospecção da viabilidade da utilização da J-PDF em séries temporais aeroelásticas não lineares, a fim de verificar a sua potencialidade na caracterização de sistemas aeroelásticos. As séries temporais são provindas de modelos simulados e coletadas por experimentos realizados pelo grupo de pesquisa. Para tanto, implementou-se a J-PDF por meio de um algoritmo robusto e eficiente, capaz de representar o espaço de fase em termos de densidade de probabilidade conjunta, com capacidade de análise qualitativa por observação e quantificação de indicadores que podem caracterizar o comportamento não linear e detectar transições de comportamento. 1.3 Áreas de aplicação 1.3.1 Mantenabilidade A mantenabilidade é um conceito vasto, no qual pode ser implementado em diversas áreas onde envolvem processos de produção (SERRANO, 2010). Na engenharia estudam-se formas de otimizar os procedimentos para a execução de manutenção, envolvendo estudos loǵısticos e de otimização desde a fase de projeto até a utilização final do produto, incluindo situações e cenários em que determinados reparos devem ser realizados, para que o produto apresente a máxima confiabilidade com o menor custo de operação durante seu ciclo de vida (KARDEC; NASCIF, 2009). 29 Especialmente no segmento aeronáutico, os conceitos associados à mantenabilidade são important́ıssimos e devem ser aplicados desde a fase de projeto, de forma a garantir a confiabilidade e a redução dos custos de manutenção, incluindo-se o tempo em que a aeronave ficará fora de operação. Durante a fase operacional, torna-se importante a capacidade de previsão de falhas, de forma que a partir da detecção da falha ou a possibilidade de falha iminente, todas as providências relativas à segurança sejam tomadas e toda a cadeia loǵıstica seja mobilizada, possibilitando uma manutenção rápida e efetiva, garantindo segurança, disponibilidade e evitando maiores prejúızos aos operadores. A prática da mantenabilidade em um produto ou um processo está associada a dois panoramas, de modo que a aplicação do conceito ocorre a fim de eliminar a probabilidade de futuras falhas ou quando a execução transcorre apenas quando um problema é detectado e deve ser solucionado (SERRANO, 2010). Para ambos os casos, a qualidade e o custo da manutenção são considerados como questões extremamente relevantes na análise da integridade estrutural do produto, de forma que o cenário ideal ocorre quando a manutenção é feita no menor custo posśıvel, mas, mantendo o produto com uma alta qualidade de duração e operação (LEMOS; ALBERNAZ; CARVALHO, 2011). As manutenções podem ser divididas entre manutenção preditiva, preventiva e corretiva. A manutenção preditiva envolve a inspeção dos equipamentos presentes em uma máquina ou produto de forma periódica. A partir de tal análise, é posśıvel acompanhar de forma detalhada a vida útil do material, verificando se existem posśıveis causas que estejam antecipando o seu tempo de operação (SERRANO, 2010). Normalmente, em aeronaves, são realizados testes de vibração. A aplicação da manutenção preditiva garante alguns fatores, como a indicação de uma manutenção antecipada a fim de garantir a integridade da estrutura e reduzir o tempo de inatividade, reduzindo de forma significativa os custos de manutenção. A manutenção preventiva, por sua vez, envolve a prevenção de uma falha ou dano na estrutura. Desse modo, atividades como revisão sistemática e inspeção de equipamentos são realizados. Apesar de possuir certa similaridade, a manutenção preventiva também é utilizada para corrigir posśıveis falhas no sistema, fator que não ocorre nas manutenções preditivas, de modo que esta última realiza processos para evitar danos e não corrigi-los. Devido a isso, as atividades realizadas na manutenção preditiva se diferem das realizadas na manutenção preventiva. 30 Por fim, a manutenção corretiva ocorre quando o equipamento apresenta alguma irregularidade e necessita de um reparo. Isso significa que tal manutenção é realizada somente quando a falha é detectada. Apesar de ser crucial para manter a integridade e confiabilidade de um sistema, a manutenção corretiva pode causar um maior tempo de inatividade, visto que as manutenções preventiva e preditiva não foram realizadas corretamente. A Figura 6 ilustra um fluxograma onde se resumem as ações efetuadas durante a aplicação da mantenabilidade. A priori, são elaboradas propostas de mantenabilidade, onde todas as questões fundamentais para garantir a eficiência do processo de manutenção são estudados. Posteriormente, o melhor plano é aplicado no projeto de mantenabilidade, com a ideia de evitar posśıveis danos no produto causados principalmente por falhas de processos, elétricas ou mecânicas. Por fim, é feita a avaliação do sistema e avaliar se de fato a técnica de mantenabilidade foi empregada de modo efetivo. Figura 6 – Fases de elaboração do projeto de mantenabilidade. Fonte: (SERRANO, 2010). Associando o conceito citado com o presente trabalho, a J-PDF deve ser aplicada no terceiro bloco do fluxograma. Com isso, a medição e avaliação do método é realizada investigando as caracteŕısticas dos sinais coletados, de modo que a densidade da função representa a probabilidade de mudanças no comportamento do sistema, tornando-se posśıvel a previsão de futuras falhas. Por fim, analisa-se o resultado das medições, de forma que se for detectado posśıveis falhas, é necessário retornar para o plano inicial de mantenabilidade. 1.3.2 A Avaliação do Ciclo de Vida A indústria aeronáutica possui diversos padrões de tecnologia e técnicas que pro- porcionam a operação de uma aeronave com uma alta eficiência e a segurança de quem 31 a utiliza. Contudo, a aplicação da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) em equipamentos aeronáuticos tem ganhado destaque na área atualmente (JOHANNING; SCHOLZ, 2014). A ACV é uma área responsável por avaliar o ciclo de vida de um produto, apontando estágios onde ocorrem atividades com alto potencial de impactos ambientais. Além disso, a ACV permite a avaliação de melhorias e alternativas que garantam o desenvolvimento e a operação de um dispositivo com processos sustentáveis (COLTRO, 2007). Inicialmente, existiam diversas metodologias para a implementação da ACV, o que resultava em diferentes conclusões perante um mesmo objeto. Logo, para a realização da avaliação são definidos quatro processos básicos para a análise dos impactos existentes, conforme a Figura 7. Figura 7 – Processos de uma ACV. Fonte: (BARROS; LIBRELOTTO, 2017). A primeira ação a ser feita na elaboração da ACV é a Definição do Objetivo e Escopo, onde o produto e o objetivo a ser analisado são definidos, além do direcionamento do método de estudo a ser desenvolvido. Apesar das determinações serem feitas nesta fase, o objetivo e os procedimentos realizados podem ser alterados de acordo com as informações coletadas ao longo do estudo. Posteriormente, é aplicada a etapa de Análise de Inventário, designada por conter um fluxograma dos processos a serem analisados, além das informações de todas as atividades necessárias para a extração do material, manufatura do produto, manutenção, informações de operação e técnicas de descarte. Nesta fase, destaca-se principalmente o levantamento 32 de dados do consumo de energia e as caracteŕısticas do produto em determinados cenários, sendo considerados como dados significativos para o entendimento do estado do material e, consequentemente, alternativas para a diminuição de impactos ambientais. A próxima fase do processo envolve a Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (AICV), onde os dados coletados são interpretados e ponderados de acordo com o ńıvel de impacto detectado. Porém, o estudo realizado pode haver diversas modificações, desde a normalização de dados até melhorias de análises com a adição de dados no inventário. Para isso, é feita a última fase da ACV denominada interpretação, onde a integridade do sistema e as conclusões finais da avaliação são abordadas. Apesar de acesśıvel para alguns objetos de análise, a elaboração de uma ACV pode ser extremamente complexa quando um produto é formado por diversos materiais e dispositivos. A complexidade e a quantidade de ńıveis na cadeia produtiva são alguns dos principais desafios para a aplicação da ACV na aeronáutica. Somente a estrutura de uma aeronave Airbus A350 representada na Figura 8, por exemplo, contém quatro materiais na sua estrutura, sendo eles o alumı́nio, carbono, monolito e vidro. Desse modo, a execução de uma ACV tomando como base um elemento e admitindo que os outros materiais que compõe o restante da aeronave são irrelevantes para uma avaliação, podem resultar em conclusões incorretas, mascarando posśıveis impactos ambientais. Figura 8 – Distribuição de materiais na estrutura de uma aeronave Airbus A350. Fonte: Adaptado de (MCCONNELL, 2011). Em cenários como esse, a alternativa se dá em aplicar a ACV em etapas do ciclo de vida do produto, como a extração de matéria prima, a manufatura, o uso e o descarte. Uma das subetapas da fase de uso da aeronave é a manutenção, por apresentar significativos 33 impactos no Custo do Ciclo de Vida (CCV), e por ter relação direta com a extensão ou redução do ciclo de vida da aeronave, sugerindo significativos potenciais de impactos ambientais. Sendo assim, a J-PDF pode auxiliar tanto na subfase de manutenção, como também na análise de dados na fase do inventário, gerando informações valiosas nos materiais utilizados em uma estrutura. Desse modo, o presente trabalho associa a ACV na etapa da mantenabilidade, uma área extremamente importante não apenas para a indústria aeronáutica, mas para o desenvolvimento de qualquer dispositivo ou processo. 1.3.3 Monitoramento de Integridade Estrutural (SHM) Os sistemas de Monitoramento de Integridade Estrutural possuem o objetivo de detectar danos estruturais, não necessariamente sendo obrigatória a identificação do dano de modo simultâneo. Existem diversos campos de aplicação, como a aeronáutica e a aeroespacial na análise de estruturas de aviões, helicópteros e satélites, a área civil para projetos de edif́ıcios e estradas, ou até mesmo a área mecânica para a avaliação de estruturas automotivas. De forma sucinta, a realização do SHM se dá na instalação de sensores capazes de detectar os danos ocorridos e de dispositivos cujo objetivo envolve analisar os sinais coletados pelos sensores e fornecer informações relevantes da integridade estrutural do sistema analisado, conforme o esquemático apresentado na Figura 9, onde ambos os aparatos são instalados na estrutura observada. O dano pode ser entendido como qualquer tipo de alteração na estrutura capaz de afetar o seu desempenho ao longo do seu estado de operação. A alteração causada por um dano pode ser constatada por aspectos encontrados na rigidez e na dissipação de energia, por exemplo (BAPTISTA; FILHO, 2010). Inicialmente, é necessário caracterizar o que é um dano. A avaliação de tal efeito é realizada por meio de comparações entre dois estágios distintos da estrutura, sendo eles o estado ı́ntegro do sistema e as suas variações após eventos distintos. Consequentemente, a influência do dano resulta na variação da resposta dinâmica da estrutura. A importância da aplicação do SHM pode ser relacionada no âmbito cientifico, por meio de pesquisas voltadas para métodos de monitoramento e detecção de danos estruturais 34 Figura 9 – Processos para a aplicação do SHM em estruturas aeronáuticas. Fonte: (YANG et al., 2019). visando sistemas mais seguros, como também ao associar pontos de vista econômicos, de modo que os sistemas nos quais possuem monitoramento de integridade estrutural permitem uma economia significativa quando necessária a prática da manutenção (BAPTISTA; FILHO, 2010). Em sistemas avançados de monitoramento, segundo Rytter (1993) é preciso realizar determinados passos para a realização da detecção, sendo eles: • Detecção da existência de dano; • Localização do dano na estrutura; • Identificação do dano; • Avaliação da sua extensão; • Determinação do tempo restante de vida útil da estrutura. O campo aeronáutico, atualmente, possui um elevado ńıvel de segurança quando avaliada a estrutura dos aparatos, contudo, tal área é considerada como uma das que mais aplicam o conceito do SHM, de modo que os custos de manutenção podem ser reduzidos cerca 27% do custo do ciclo de vida (KESSLER; SPEARING; SOUTIS, 2002). Os custos que incluem os processos de manutenção são reduzidos por meio da detecção de danos em um estágio inicial. Por outro lado, os gastos indiretos que envolvem o tempo em que a aeronave ficaria sem operação também são diminúıdos (BAPTISTA; FILHO, 2010). Uma técnica utilizada amplamente para o monitoramento estrutural é nomeada por uso de ondas guiadas. Tais ondas guiadas são definidas como ondas mecânicas nas 35 quais se propagam ao longo da estrutura ou em elementos estruturais, cujas dimensões são comparáveis ao comprimento da onda guiada (CHARUTZ et al., 2013). Para a detecção dos danos, podem-se utilizar sensores de transdução piezoelétrica de transmissão ativa (PZT), localizados em regiões espećıficas da estrutura. Basicamente, um hardware gera e recebe as ondas guiadas, informando as caracteŕısticas da estrutura. Posteriormente, são realizados processamentos digitais nos sinais registrados pelos trans- dutores e realizados métodos avaliativos da integridade do sistema (YANG et al., 2019). A Figura 10 ilustra parte de uma asa onde são aplicados dispositivos piezoelétricos ao longo da estrutura, formando uma rede de sensores. A técnica proposta no presente trabalho poderia ser incorporada às técnicas de processamento para detecção dos danos à partir dos sinais gerados, auxiliando na caracte- rização de posśıveis danos estruturais. Figura 10 – Esquematização de uma rede de sensores instalados na estrutura de uma asa. Fonte: (YANG et al., 2019). 1.4 Organização da Dissertação A continuação do trabalho consiste em cinco Caṕıtulos. No Caṕıtulo 2, é introduzida a fundamentação teórica referente aos sistemas não lineares, onde são apresentadas carac- teŕısticas, posśıveis comportamentos e desafios de análise. No Caṕıtulo 3, são apresentadas as ferramentas tradicionais que são utilizadas atualmente para classificar e compreender fenômenos complexos gerados por efeitos não lineares a partir de séries temporais. No Caṕıtulo 4, é abordada a teoria por trás do método estat́ıstico proposto para analisar séries não lineares, bem como a sua implementação computacional. Os resultados obtidos após a realização de simulações em modelos teóricos e práticos são encontrados no Caṕıtulo 5. 36 Finalmente, as principais conclusões da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros são apresentadas no Caṕıtulo 6. 37 2 Sistemas não lineares Neste Caṕıtulo é desenvolvida uma breve fundamentação teórica referente a sistemas não lineares, com a finalidade de demonstrar a importância de analisar fenômenos f́ısicos considerando os efeitos não lineares. Sendo assim, é abordada na Seção 2.1 a definição de sistemas não lineares, na Seção 2.2 a definição de sistemas dinâmicos unidimensionais e bidimensionais, e por fim, a Seção 2.3 demonstra a relação de um sistema de três dimensões com o comportamento caótico. 2.1 A dinâmica não linear Um sistema dinâmico, normalmente, é representado por meio de equações diferenci- ais, capazes de descrever a evolução do sistema ao longo do tempo. Uma outra alternativa de indicar um sistema dinâmico seria a utilização de mapas iterativos, porém, há uma diferença significativa entre as metodologias, de modo que as equações diferenciais são usadas no tempo cont́ınuo, enquanto que nos mapas iterativos, o sistema é analisado no tempo discreto (YEUNG; STROGATZ, 1998). Independentemente do método de análise, um sistema dinâmico evolui no tempo, permitindo a sua caracterização por uma equação diferencial: dxn dt = fn(x1, ..., xn) (1) onde x1, ..., xn são os estados do sistema e fn determinam as caracteŕısticas do mesmo, e consequentemente, indicam se o sistema é considerado como linear ou não linear. A definição de linearidade parte do prinćıpio da superposição de efeitos, na qual estabelece que um dado efeito pode ser avaliado por meio da superposição de efeitos decorrentes de várias causas. De um modo geral, isto não pode ser considerado em sistemas não lineares (SAVI, 2006). Os sistemas dinâmicos lineares estão presentes em diversos campos de pesquisa, devido a facilidade de detectar eventos frequentes com caracteŕısticas lineares. Os sinais que compõe comportamentos lineares podem ser classificados como autônomos, ou seja, sem dependência espećıfica do tempo. Nesses casos, a evolução do sistema no tempo é 38 identificada por meio da função dos autovalores da matriz de coeficientes (THIELO, 2000). Por meio do desenvolvimento de oscilações periódicas é posśıvel encontrar a sua solução. Supondo uma matriz Anxn com valores randômicos, existe um valor cuja variável denominada por λ é conhecida por ser o valor caracteŕıstico, ou então o autovalor de A se existe um vetor não nulo x ∈ Rn, onde: Ax = λx (2) sendo que os vetores x não nulos que cumprem a equação (2) são denominados autovetores. Os sistemas em geral descrevem diversos fenômenos e conceitos explicados pela f́ısica. Basicamente, um sistema é constitúıdo de componentes caracteŕısticas interconectadas, caracterizadas pelas relações de entrada e sáıda, ou seja, os sinais são analisados de acordo com as suas condições iniciais e o comportamento do seu estado após a sua aplicação a determinado cenário. De forma conveniente, um sistema dinâmico pode ser classificado como uma caixa preta, onde são aplicadas as fontes de entrada x1(t), x2(t), ..., xn(t), gerando-se as variáveis y1(t), y2(t), ..., yn(t) que posteriormente serão analisadas. Quando a sáıda de um sistema é proporcional a sua entrada, classifica-se o sistema como linear (LATHI, 2006). Além da condição de proporcionalidade, um sistema também é determinado por um comportamento aditivo, de forma que o resultado obtido na sáıda do sistema é equivalente a soma de todas as suas entradas. Desse modo, se: x1 → y1;x2 → y2 (3) x1 + y1 → x2 + y2 (4) Um sistema dinâmico linear também respeita a propriedade da homogeneidade, na qual envolve a proporção das variáveis. Se uma constante k é multiplicada pela entrada x, a sáıda y também é multiplicada por k: x→ y (5) kx→ ky (6) 39 Diferentemente dos sistemas lineares supracitados, os sistemas não lineares descre- vem com maior precisão os fenômenos naturais analisados pela f́ısica, visto que tais eventos ocorrem devido a inúmeros fatores e comportamentos de diferentes fontes. Suas análises podem ser feitas por meio de equações anaĺıticas, diferenciais ordinárias e integrais, por exemplo. O modelo matemático de um sistema dinâmico proporciona uma descrição quadro a quadro da realidade, possuindo duas possibilidades distintas: equações diferenciais, que são fluxos cont́ınuos no tempo e no espaço; e mapas, que descrevem a evolução no tempo de um sistema expressando seu estado como uma função do instante anterior. Dessa forma, um mapa é um sistema dinâmico discreto e uma de suas utilidades é auxiliar na análise de modelos descritos por equações diferenciais. Trata-se de uma versão discreta de uma equação diferencial. Por sua vez, as equações diferenciais podem ser divididas em dois grupos: equações diferenciais parciais, que possuem caracteŕısticas espaço-temporais e equações diferenciais ordinárias que descrevem apenas as caracteŕısticas temporais do sistema. O modelo matemático do sistema dinâmico é uma equação de movimento que governa a evolução do sistema dinâmico desde um instante até outro, proporcionando uma descrição quadro a quadro da realidade. No estudo da dinâmica não linear e caótica, muitas pesquisas são desenvolvidas para tratar sistemas dinâmicos descritos por modelos matemáticos simples. A respeito da simplicidade desses modelos, sua resposta pode exibir um comportamento complexo e bastante interessante. Cada um desses sistemas possui uma dinâmica muito rica, pasśıvel de exibir um comportamento caótico. Basicamente, um sistema dinâmico não linear pode ser indicado como um sistema com um elo de retroalimentação no qual a sáıda de um elemento não é proporcional à sua entrada (DRAZIN; DRAZIN, 1992). Os sistemas não lineares, como supracitado, pode ser descrito por meio de uma equação diferencial: xn+1 = f(xn) + g(t) (7) onde f(xn) é uma variável que pode variar constantemente de acordo com as condições iniciais do sistema. A análise de uma série não linear, diferentemente dos sistemas lineares cujas soluções são obtidas por meio de resoluções das séries algébricas, necessitam de ferramentas robustas de análise devido a sua complexidade. Uma das primeiras alternativas 40 de análise, por exemplo, envolve a discretização do sinal, no qual pode ser feito por meio do mapa de Poincaré. Os sistemas não lineares possuem um alto grau de complexidade, o que impossibilita a aplicação de algumas técnicas implementadas em sistemas dinâmicos lineares. Assim, em diversos casos a solução anaĺıtica do sinal não é viável, fazendo com que seja necessária a coleta de informações do sistema, capazes de descrever as caracteŕısticas que o sistema possui. As soluções de um sistema dinâmico não linear são indicadas por curvas no espaço de diversas dimensões, conhecidas por trajetórias. O espaço de n-dimensões por sua vez é denominado de espaço de estados. A partir do espaço de estados é obtido informações relevantes que auxiliam no entendimento do sistema analisado. Para a determinação do espaço de estados, além da resolução do sistema anaĺıtico, utilizam-se técnicas de reconstrução do espaço de estados por meio de séries experimentais (SIMONI, 2007). 2.2 Sistemas dinâmicos unidimensionais e bidimensionais Define-se um sistema como um conjunto de informações agrupadas devido a efeitos que geram a interação ou interdependência entre elas, gerando relações de causa e efeito nos fenômenos consequentes com os elementos desse conjunto (MONTEIRO, 2002). A caracterização das informações presentes em um sistema é realizada a partir de grandezas que sofrem variações ao longo do tempo. Como supracitado, um sistema dinâmico é representado por equações diferenciais, logo, a quantidade de variáveis presentes no sistema definem a sua dimensão no espaço de estados. Os sistemas dinâmicos unidimensionais, por exemplo, descrevem equações loǵısticas para uma única espécie (mapa loǵıstico unidimensional) e pontos fixos, visto que os mesmos necessitam de uma variável para solucionar a equação diferencial. Sendo assim, os sistemas de apenas uma dimensão podem ser descritos por meio de: ẋ = f(x) (8) A equação (8) define que f é influente diante das variações de estado de x, definindo o instante no tempo posterior. A partir do momento em que tem-se o ponto fixo do sistema 41 para os pontos de x, as trajetórias próximas ao ponto fixo podem ser atráıdas ou repelidas, visto que o mesmo pode ser classificado de formas distintas. O ponto fixo pode ser classificado como poço, ponto de sela e fonte, como pode ser visto na Figura 11. Quando as trajetórias são atráıdas para um ponto fixo estável, define-se que o sistema é atráıdo por um ponto fixo do tipo poço, considerando-o como um atrator. Por outro lado, quando o ponto fixo repele as trajetórias que passam próximas por ele, classifica-se como fonte. Além disso, existem os casos em que determinadas trajetórias são repelidas, enquanto que outras são atráıdas para um ponto. Nesse caso, o ponto fixo é do tipo sela (VASCONCELLOS, 2007). Figura 11 – Representação de um ponto fixo para a) Poço, b) Fonte e c) Sela. Fonte: (STROGATZ, 2018). A estabilidade de um ponto fixo depende dos autovalores do sistema, normalmente indicados por λ′, conceito que será abordado com maior detalhamento posteriormente. O termo da derivada presente no autovalor permite identificar o tipo de ponto fixo presente no sistema, de forma que se a operação resultar em um valor positivo, significa que o ponto fixo é do tipo fonte, indicando uma instabilidade no sistema. Da mesma forma, se a derivada gera um valor negativo, o ponto fixo é do tipo poço, referente a um comportamento estável, e por fim, se o valor final for igual a zero, o ponto fixo é do tipo sela. A determinação do tipo de ponto fixo possibilita a dedução do comportamento das trajetórias ao longo do espaço de estados, assim, em sistemas unidimensionais as trajetórias possuem apenas um direcionamento, ou seja, existe somente a atração para pontos fixos estáveis ou então repulsão de pontos fixos instáveis (VASCONCELLOS, 2007). Os sistemas dinâmicos bidimensionais, por sua vez, podem possuir maiores variações de comportamento ao longo da evolução do tempo, o que resulta em um outro exemplo de atrator. 42 Para um melhor entendimento, sugere-se a análise de sistemas referentes a pêndulos e osciladores harmônicos, no qual é descrito por equações de segunda ordem. A equação do balanço de um pêndulo, também conhecida por equação de Mathieu, é dada por: ẍ+ g L sen(x) = 0 (9) onde g representa a gravidade, L o comprimento da haste, x representa o ângulo atual e ẋ a velocidade angular do sistema. Para solucionar tal equação, é preciso de duas variáveis que caracterizem o espaço de estados, assim, é posśıvel representar o sistema dinâmico bidimensional a partir de duas equações: ẋ1 = f1(x1, x2) (10) ẋ2 = f2(x1, x2) (11) Em um caso bidimensional, o sistema é dependente de duas variáveis, logo, consideram- se quatro derivadas parciais. Portanto, o comportamento do ponto fixo deste sistema depende das quatro derivadas, sendo que cada ponto fixo possui dois autovalores reais ou complexos (HILBORN et al., 2000). A resolução do sistema é realizada por meio de uma expansão em séries de Taylor nas vizinhanças do ponto fixo e ignorando termos de derivada que são maiores que 1. O resultado de tal método são duas equações lineares de primeira ordem com coeficientes constantes, os quais são utilizados para a formulação da matriz Jacobiana, definida por: f11 f12 f21 f22  (12) A identificação do ponto fixo pode ser vista na Tabela 1, na qual apresenta o traço das matriz Jacobiana resultante da somatória dos termos na diagonal principal, representado por TrJ e o valor determinante da matriz, indicado por ∆. A Figura 12 apresenta as possibilidades para os pontos fixos no espaço de estados de um sistema bidimensional, sendo os quatro comportamentos não oscilatórios das trajetórias supracitados na Tabela 1, além dos casos onde há oscilação. 43 Tabela 1 – Definição do atrator bidimensional. Condição TrJ < 0 TrJ > 0 ∆ > (1/4)(TrJ)2 poço espiral (atrator) fonte espiral (repulsor) 0 < ∆ < (1/4)(TrJ)2 poço (atrator) fonte (repulsor) ∆ < 0 ponto sela (tipo 1) ponto sela (tipo 2) Fonte: (VASCONCELLOS, 2007). Figura 12 – Ponto fixo em um sistema bidimensional para a) Poço, b) Fonte, c) Sela tipo 1, d) Sela tipo 2 e comportamento oscilatório para e) Centro, f) Espiral estável e g) Espiral instável. Fonte: (SAVI, 2006). 2.3 Sistemas dinâmicos tridimensionais e a relação com o caos Devido a sensibilidade as condições iniciais do sistema, um efeito não linear pode apresentar variações significativas devido a pequenas variações do seu sistema. Assim, os modelos não lineares são mais reaĺısticos quando são comparados aos modelos com aproximações lineares (SAVI, 2006). Um sistema considerado como não linear evolui de forma aperiódica em grande parte da sua evolução temporal. Desse modo, torna-se extremamente complexo obter uma solução anaĺıtica para tais sistemas. Como alternativa, utilizam-se métodos numéricos, capazes de auxiliar na análise do sistema ao longo do tempo, descrevendo o problema real por meio de uma discretização (SAVI, 2006). Apesar da complexidade do sistema, é posśıvel prever o seu comportamento, se as condições iniciais não forem alteradas. Como um exemplo de comportamento não linear, pode-se citar o atrator de Lorenz. Na Figura 13, é posśıvel verificar o comportamento do 44 sistema em termos da taxa de convecção (c), bem como a previsão da sua trajetória, mas somente pelo fato de conhecer as condições iniciais impostas. Figura 13 – Atrator de Lorenz com condições inicias definidas. Fonte: próprio autor. O atrator de Lorenz determinado por um comportamento caótico, permite demons- trar como o estado de um sistema dinâmico evolui no tempo em um padrão complexo e sem repetições. É posśıvel indicar este sistema determińıstico por: dx dt = σ(y − x) (13) dy dt = x(ρ− z)y (14) dz dt = xy − βz (15) onde σ refere-se ao número de Prandtl e ρ refere-se ao número de Rayleigh. Usualmente, os valores de σ e β são iguais a 10 e 8/3, respectivamente, enquanto que ρ varia (HILBORN et al., 2000). Além da sensibilidade às condições iniciais, um efeito que consiste de comportamento caótico determińıstico pode ser encontrado em sistemas com pelo menos três graus de liberdade, ou seja, os sistemas dinâmicos tridimensionais podem possuir duas ou mais equações não lineares. 45 Para o sistema tridimensional, surge o conceito de atrator superf́ıcie toroidal (toro) e atrator estranho. O atrator estranho é detectado quando as linhas de fluxo dependem sensitivamente das condições iniciais (TAKENS, 1981). Visto que as variações das condições iniciais ocorrem frequentemente devido a imprecisões ou atuação de rúıdo, a posição indefinida de uma trajetória no atrator estranho o torna impreviśıvel, fator resultante de divergências exponenciais entre trajetórias vizinhas. A taxa de divergência entre as trajetórias vizinhas é analisada por meio do expoente de Lyapunov, conceito que será abordado na Seção 3.3, contudo, é importante entender que é posśıvel identificar o comportamento de um atrator por meio do valor resultante do expoente. Considerando um atrator tridimensional, são encontrados três expoentes, assim, se o atrator for um ponto fixo, todos os expoentes possuirão um valor negativo, de forma que as trajetórias convergem para um único ponto. Caso o atrator for ciclo limite, um expoente será nulo e os outros serão negativos, onde o expoente nulo representa a direção ao longo da trajetória. Para um atrator toroidal, dois expoentes são nulos e apenas um é negativo, e por fim, para um atrator estranho, ao menos um expoente é positivo. Desse modo, se o sistema possuir um atrator estranho com um expoente positivo e possui dependência das condições iniciais, o sistema possui uma dinâmica caótica. A caracterização de comportamentos não lineares é de suma importância para eficiência e segurança em engenharia. O desenvolvimento ou aperfeiçoamento de técnicas que permitam tal caracterização deve ser constante, frente aos desafios e ao surgimento de novas tecnologias. 46 3 Ferramentas tradicionais de análise de séries temporais não lineares Devido à complexidade existente em um sistema não linear, torna-se necessário a aplicação técnicas capazes de resgatar informações importantes. Neste caṕıtulo serão abordadas ferramentas tradicionais que são utilizadas no estudo de séries temporais não lineares, bem como as vantagens e desvantagens referentes às suas implementações. 3.1 Análise em frequência Em determinados cenários, os sinais que compõem um sistema dinâmico apresentam caracteŕısticas que dificultam a sua análise no domı́nio do tempo, ou até mesmo o espaço de fase apresenta informações que não são relevantes para um estudo espećıfico. Para isso, podem ser utilizadas ferramentas que analisam o sinal no seu domı́nio da frequência. A conversão dos domı́nios requer de métodos que mantenham a integridade das informações do sistema. A Figura 14 apresenta um sinal de periódico de onda quadrada no domı́nio do tempo. Por outro lado, a Figura 15 apresenta a mesma onda quadrada, porém no domı́nio da frequência, onde tal comportamento da onda é denominado por sinc. Em ambas as figuras, é posśıvel observar que nos dois domı́nios é posśıvel extrair informações valiosas que indicam as caracteŕısticas de um sinal. Figura 14 – Onda de pulso quadrado periódico. Fonte: (LATHI; DING, 2012). A passagem de um sinal no domı́nio do tempo para o domı́nio da frequência é realizada por meio das séries de Fourier, quando é analisado sinais periódicos e cont́ınuos no tempo, e a Transformada de Fourier para sinais sem periodicidade. Com tal aplicação, é posśıvel obter a representação dos espectros dos sinais, bem como as frequências dominantes e relativas. 47 Figura 15 – Espectro de Fourier do pulso quadrado periódico. Fonte: (LATHI; DING, 2012). Dado um sinal cuja função é x(t), define-se que o sinal é periódico se um valor de peŕıodo T 6= 0 respeita a seguinte condição: x(t+ T ) = f(t) (16) O peŕıodo fundamental do sinal é dado por T0, logo, a frequência fundamental f0 é dada por: f0 = 1 T0 (17) Contudo, a análise frequencial depende também de uma metodologia distinta, capaz de adequar o sinal e evitar a perda de informações relevantes. Para isso, são implementadas conversões a partir das séries de Fourier, as quais representam o sinal a partir de uma soma de funções periódicas, representada por: x(t) = ∞∑ i=0 aisen(ωit) + bicos(ωit) (18) onde ai e bi são os coeficientes da série, e ω é dado por: ω = 2π T (19) Assim, a representação exponencial de uma série de Fourier de x(t) de peŕıodo T0 é: x(t) = ∞∑ i=−∞ cie jiω0t (20) 48 De modo que o coeficiente ci é calculado por: ci = 1 T0 ∫ T0 x(t)e−jiω0tdt (21) Quando utilizamos o peŕıodo fundamental e k = 0 na equação (21), tem-se: c0 = 1 T0 ∫ T0 x(t)dt (22) indicando que c0 é denominado o valor médio de x(t) sobre um peŕıodo. Quando a função analisada não é periódica, não é posśıvel representá-la por meio por meio de uma somatória de senos e cossenos. Logo, utiliza-se a transformada de Fourier, dada por: X(ω) = ∫ ∞ −∞ x(t)e−iωtdt (23) Para um sinal discreto e aperiódico x[n], a transformada de Fourier com duração finita é dada por: X(Ω) = ζ {x[n]} = ∞∑ n=−∞ x[n]e−jΩn (24) sendo Ω a frequência no tempo discreto. Como a transformada de Fourier é aplicada de modo computacional, utilizam-se sinais discretos com duração finita, assim aplica-se a Transformada de Fourier Discreta (Discrete Fourier Transform, DFT). O método que apresenta resultados satisfatórios em um curto tempo para calcular a DFT é a Transformada Rápida de Fourier (Fast Fourier Transform, FFT). A FFT é capaz de gerar informações significativas para uma análise qualitativa da dinâmica do sistema por meio de técnicas de análise espectral (VASCONCELLOS, 2007). Desse modo, informações como as frequências de oscilação do sistema são essenciais para a caracterização de um comportamento caótico. Apesar de apresentar resultados satisfatórios para sistemas que possuem três graus de liberdade, a FFT não gera resultados que trazem alta confiabilidade para a caracterização de caos quando sinais com maiores graus de liberdade são analisados (MOON, 1992). O caos caracteriza-se por possuir harmônicos de uma frequência fundamental, o qual gera um espectro de banda limitada. Em sinais aleatórios, normalmente as frequências 49 estão distribúıdas ao longo de todo o espectro, resultando em uma banda infinita (SAVI, 2006), porém em casos espećıficos, pode ocorrer de um sinal aleatório possuir um espectro similar ao de um sinal caótico. Com isso, nem sempre é posśıvel diferenciar sinais de um sistema aleatório e de um sistema caótico. Portanto, a análise em frequência é considerada como uma ferramenta qualitativa de caracterização do caos. Contudo, outras metodologias são utilizadas para apresentar uma caracterização quantitativa, como por exemplo os expoentes de Lyapunov e a medida de entropia (SIMONI, 2007). Além disso, a implementação da análise em frequência pode possuir limitações, de acordo com a banda analisada. 3.2 Reconstrução do espaço de estados Quando um sistema dinâmico é analisado, nem sempre é posśıvel detectar e mensurar todas as variáveis presentes. A reconstrução utiliza como base o teorema de imersão de Takens. Apesar do espaço resultante não ser idêntico ao espaço de fases original do sistema, o método é capaz de representar o atrator do sistema, mantendo suas principais caracteŕısticas. Dentre os principais métodos de reconstrução do espaço de estado, destacam-se o método das derivadas, o método das coordenadas defasadas e o método da Decomposição em Valores Singulares (SVD). Na implementação do método das derivadas, a reconstrução do espaço se dá pela aproximação numérica das derivadas de ordem superior de uma variável presente no sistema (PACKARD et al., 1980). Assim, o método é aplicado por meio da seguinte equação: ḟ(t) = f(t0 + ∆t(n+ 1))− f(t0 + ∆tn) ∆t (25) sendo que f(t0 + ∆tn) é a função de acordo com o intervalo de análise, n o número de amostras, t0 o tempo inicial e ∆t o intervalo entre duas amostras. Desse modo, cada intervalo do espaço de estados é calculado, gerando a reconstrução com aspectos semelhantes ao sistema original. Apesar de apresentar vantagens como velocidade de processamento devido a simpli- cidade dos cálculos e a ampla utilização em diversos sinais, tal método possui uma alta 50 sensibilidade ao rúıdo, ou seja, sistemas contaminados pelo rúıdo que são reconstrúıdos pelo método da derivada possuem uma alta probabilidade de apresentar caracteŕısticas divergentes quando comparado o sistema obtido e o sinal real. Para a aeroelasticidade, onde os fenômenos não lineares são causados por diversas condições do estado e a alta presença do rúıdo, o método das derivadas não apresenta resultados satisfatórios. Uma solução pra isso seria a aplicação de técnicas de filtragem que eliminem parte do rúıdo antes da utilização do método das derivadas. A reconstrução por meio do método das coordenadas defasadas possuiu diversos estudos, como os propostos por Ruelle 1979, Packard et al. 1980, Takens 1981 e Sauer et al. 1991. Basicamente, a ideia por trás da metodologia implica em reconstruir o espaço de estados a partir de defasagens no tempo (SAVI, 2006). Com base no teorema de Takens, todos os cruzamentos de órbitas são eliminados quando um atrator cuja dimensão DA é inserido em uma dimensão onde De > 2DA, sendo que De indica a dimensão de imersão, ou seja, tal variável define quantas defasagens são necessárias para realizar a reconstrução do sistema dinâmico. A partir do momento em que uma dimensão possua a condição supracitada, a mesma é denominada de dimensão de mergulho ou dimensão de imersão. Com isso, ao De possuir um valor alto, definido por De > 2DA + 1, o espaço reconstrúıdo é equivalente ao espaço de estados original do sinal. Analisando de forma anaĺıtica, o sistema é reconstrúıdo a partir da seguinte equação: y(t) = [s(t), s(t+ τ), ..., s(t+ τ(d− 1))] (26) onde y(t) indica o espaço reconstrúıdo na imersão, t o instante temporal de análise e τ o tempo de defasagem, definido por: τ = ϕ∆t (27) Sendo ϕ um valor múltiplo da amostragem e ∆t o intervalo de tempo em que contém a amostragem. Quando o rúıdo é predominante no sistema dinâmico, ocasionando no aumento da complexidade para a compreensão das caracteŕısticas do sinal, é vital a escolha da dimensão e do tempo de defasagem na reconstrução do espaço de estado. Contudo, a determinação 51 desses parâmetros de imersão são considerados como as principais dificuldades para a aplicação do método das coordenadas defasadas. Desse modo, o teorema de Takens foi estendido para que cenários onde os efeitos do rúıdo são significativos sejam analisados por meio de métodos estat́ısticos, levando em conta erros de estimativa (CASDAGLI et al., 1991). Existem três metodologias que viabilizam a determinação da dimensão mı́nima de imersão, denominadas de método da saturação dos invariantes do sistema, método da decomposição em valores singulares e o método das falsas vizinhanças. O método das falsas vizinhanças determina uma dimensão mı́nima espećıfica em que não existem cruzamentos da órbita no próprio espaço de estado. Basicamente a técnica consiste em classificar se um ponto vizinho é verdadeiro ou falso quando projetado o sistema na dimensão escolhida. Em um pequeno espaço, onde a dimensão D é menor que De, um determinado ponto do sinal pode ser considerado com um vizinho, mesmo não sendo, logo, o mesmo é consi- derado como falso vizinho. Por outro lado, quando o espaço está imerso em uma dimensão onde De ≥ D, os pontos vizinhos de todas as órbitas são vizinhos verdadeiros (KENNEL; BROWN; ABARBANEL, 1992). O método da saturação dos invariantes do sistema estima a dimensão D por meio do cálculo de um dos invariantes do sistema para um valor espećıfico de D. Posteriormente, o valor de D é incrementado e o invariante do sistema é recalculado para que seja feita uma comparação entre o valor atual e o anterior (GRASSBERGER; PROCACCIA, 1983). Se a diferença entre os resultados está dentro de um limite de tolerância estipulado, o valor de D é considerado como válido. Caso contrário, o processo é repetido até que a variação entre os invariantes seja pequena. A dimensão de imersão De pode ser definida pela divisão entre a integral de correlação Cd(r) e a distância r: De = log(Cd(r)) log(r) (28) A integral de correlação Cd(r) possui uma relação de outros conceitos necessários para a aplicação do método, sendo que a mesma define a fração média do número de 52 pontos presentes em um atrator com distâncias menores que r (ANDERSON; NAYFEH; BALACHANDRAN, 1996): Cd(r) = 1 M2 M∑ i 6=j H(r − |yi − yj|) (29) M = N0 − τ(d− 1) (30) sendo que N0 indica o número de amostras e τ é a defasagem do sinal. Além disso, H(t) representa a função Heaviside, indicada por: H(t) = 1 se t ≥ 0 0 se t ≤ 0 (31) Por fim, |yi − yj| é a matriz Euclidiana, calculada por: |yi − yj| = √√√√ d∑ t=1 (si+τ(t−1) − sj+τ(t−1))2 (32) onde s indica a série experimental presente no sistema dinâmico analisado. Apesar de eficiente em diversos casos, o método da defasagem deve ser utilizado quando a série temporal em questão não possui rúıdo, ou então se o mesmo é desconsiderado no sistema. Quando o rúıdo prevalece no sistema dinâmico, existe a possibilidade dos atratores resultantes apresentarem distorções. Esse evento ocorre devido ao fato de que os métodos para a definição do tempo de defasagem são senśıveis ao rúıdo. Do mesmo modo que o método das falsas vizinhanças, a utilização de filtros são úteis para atenuar o rúıdo da série e viabilizar os cálculos, porém, a aplicação do mesmo pode inferir na defasagem e posśıveis distorções na série temporal (SMITH, 2013). Sendo assim, torna-se interessante a utilização da Decomposição em Valores Singulares (SVD). O método da reconstrução do espaço de estado por meio da decomposição em valores singulares foi proposto por Broomhead & King, onde não é necessária a determinação do tempo de defasagem para a realização dos cálculos. Assim, a dimensão de imersão é determinada e o sinal não sofre distorções para a implementação da reconstrução do espaço, resultando na diminuição da probabilidade de erros significativos (BROOMHEAD; KING, 1986). O SVD utiliza das propriedades da matriz de covariância para gerar coordenadas descorrelacionadas (VASCONCELLOS, 2007). Inicialmente, é necessário determinar a 53 variância da variável aleatória. Indicada por σ2, a variância indica a dispersão de uma determinada distribuição em relação a sua média. Em outras palavras, a variância mensura quanto a variável se desvia em relação a média. O cálculo da variância é dada por: σ2 = 1 n− 1 n∑ i=1 (Xi − µ)2 (33) onde µ é a média da variável e n o número de elementos da variável. Quando a variância possui um valor pequeno, é indicado que ocorre a massa da distribuição na média está concentrada, e quando a variância possui um valor igual a zero, significa que a distribuição está inteiramente na média. Quando mais de uma variável aleatória é analisada, aplica-se a covariância, definida por σxy, responsável por mensurar o grau de interdependência entre duas variáveis aleatórias. Assim, a covariância indica a relação entre as variáveis analisados, de modo que quanto maior é o seu valor, maior é a dependência entre as variáveis. Assim a covariância das variáveis x e y é dada por: σxy = n∑ i=1 (Xi − µx)(Yi − µy) (34) Quando mais de duas variáveis são relacionadas, é comumente utilizada a chamada matriz de covariância Λ, definida por: Λ = E { (X −mχ)(X −mχ)T } (35) onde E é o operador do valor esperado, X é o vetor coluna que compõe os valores de X1, X2, ..., Xn e mχ representa as respectivas médias das variáveis na matriz (SOONG, 2004). Em geral, uma série temporal possui informações relevantes sobre o comportamento e os estados do sistema. A matriz de covariância possui um alto potencial para a reconstrução do espaço de estados, de forma que a sua implementação possibilita na detecção da diferença entre as projeções da trajetória, de forma que o que estado que contém o maior valor de variância indica onde estão as informações do sistema. De modo semelhante, a trajetória onde há o menor valor de variância representa o estado do sinal em que o rúıdo é predominante. Consequentemente, tal operação permite realizar a separação e definição da melhor projeção para a reconstrução do espaço de estados. 54 Supondo uma matriz com trajetória X definida por: {X} =  xT1 xT2 ... xTn  (36) onde xT1 representa um vetor transposto por n elementos da série analisada. Assim, as colunas da matriz indicam os vetores de um estados em uma trajetória reconstrúıda. A finalidade da implementação da matriz se dá em detectar um conjunto de vetores independentes capazes de descrever de modo satisfatório o espaço de estados. Os vetores constituem parte de uma base ortonormal (ei, i = 1, 2, 3, ..., n) perten- cente ao espaço de imersão e relacionados possuem a condição: sTi X = σic T i (37) onde si e ci são autovetores do sistema e σi indicam os autovalores. O teorema da decomposição em valores singulares afirma que os vetores ci e si são os autovetores das matrizes XXT e XTX da trajetória (MEYER, 2000). Tal fato pode ser indicado a partir das relações: XXT si = σ2 i si (38) XTXci = σ2 i ci (39) Assim, os vetores si e ci são definidos como os vetores singulares de X e σi é considerado como os valores singulares. Reescrevendo a relação da matriz X, é posśıvel calculá-la a partir de: X = SDCT (40) sendo que S e C representam o conjunto dos vetores [s1, s2, ..., sn] e [c1, c2, ..., cn] e D significa a matriz diagonal dos autovalores [σ1, σ2, ..., σn]. Sabe-se que o número de autovalores da matriz XXT que não são iguais a zero é equivalente ao número de autovalores não nulos na matriz de covariância XTX. Além disso, o número de autovetores que são independentes de ci que descrevem o sistema 55 dinâmico, e consequentemente, o sistema de imersão, é igual ao número de autovalores não nulos (VASCONCELLOS, 2007). Logo, pode-se concluir que: (XC)TXC = D2 (41) A Equação (41) indica que cada σ2 i indica a projeção da média quadrática da trajetória existente no sistema dinâmico, assim, o autovalor possui dados da trajetória relacionada a cada vetor ci no espaço de imersão. Nos casos em que o sinal estudo apresenta comportamentos gerados pelo rúıdo, os valores de σi são mascarados, principalmente nos autovalores pequenos e iguais a zero, de forma que a prevalência do rúıdo interfere na análise estat́ıstica dos dados. Nestes cenários, os autovalores podem ser expressos por meio dos autovalores relacionados com a dinâmica determińıstica σ̄i 2 e a presença do rúıdo na matriz de covariância ξ2 por: σ2 i σ̄i 2 + 〈 ξ2 〉 , i = 1, 2, ..., n (42) A Equação (42) indica que no caso de rúıdo branco, a existência de um piso constante não nulo, em um diagrama chamado espectro singular, que relaciona o tamanho do valor singular com seu ı́ndice, é uma caracteŕıstica que pode ser usada para separar as componentes determińısticas, somente as componentes acima desse piso são utilizadas na formação de uma nova matriz de trajetória: A Equação (42) demonstra que para o caso de um rúıdo branco, a presença de um limiar constante não nulo em um espectro singular que relaciona o seu ı́ndice com o tamanho do valor singular, pode ser considerada como é uma caracteŕıstica usada para separar as componentes determińısticas do sistema (BROOMHEAD; KING, 1986). Assim, somente as componentes acima de tal limiar são utilizadas na geração da nova matriz de trajetória reconstrúıda X̄, ou seja: X̄ = ∑ σi>ruido (Xci)c T i (43) Por meio de tal método, é viável a reconstrução do espaço de estado de sistemas lineares e não lineares que possuem a contaminação do rúıdo, de forma que a nova trajetória não possui comportamentos ruidosos na sua série temporal. O fato de não apresentar o rúıdo na reconstrução do espaço de estado indica que o SVD também pode ser considerada 56 com uma técnica de filtragem, o que justificam as vantagens do método e a razão pela qual é utilizada no atual estudo. De modo sucinto, é necessária a coleta da série temporal presente no sistema dinâmico para a aplicação do método da SVD e obtenção do espaço de estado do sinal. Isso significa que a janela temporal utilizada na análise é de extrema importância para encontrar resultados satisfatórias. O número de amostras na janela determinada por n pode ser encontrada a partir da análise frequencial do sinal: n = 2π fcTs = ωs fc (44) onde fc representa a frequência principal do sinal (de maior magnitude) em rad/s e Ts o intervalo de amostragem (BROOMHEAD; KING, 1986). 3.3 Expoente de Lyapunov Utilizados amplamente em séries não lineares por meio de ferramentas computacio- nais, o expoente de Lyapunov possui a finalidade de indicar o ńıvel de sensibilidade quando as condições iniciais de um sistema são aplicadas, determinando divergências exponenciais nas trajetórias de um sinal. Os resultados obtidos podem ser utilizados para determinar a caoticidade de sistemas dinâmicos não lineares, devido ao fato de que a presença de ao menos um expoente de Lyapunov positivo indica a presença de um comportamento caótico no sistema. Basicamente, o expoente de Lyapunov representa uma medida da razão exponencial média do afastamento de pontos de trajetórias no espaço de fase. A sua finalidade envolve em representar o ńıvel de pertubação em que uma determinada trajetória pode aumentar ou diminuir ao longo do tempo no espaço de fase (NAYFEH; BALACHANDRAN, 1995). A partir das informações obtidas quando aplicado tal conceito, é posśıvel caracterizar se um sistema dinâmico composto por equações não lineares possui comportamentos caóticos. Em um sistema dinâmico com um determinado número de dimensões de imersão, os expoentes de Lyapunov são detectados devido as variações comportamentais apresentadas pela fase do sinal no espaço de estados. O maior expoente de Lyapunov encontrado no sistema indica a divergência exponencial entre trajetórias localizadas no espaço de estados. Devido a isso, afirma-se que se o maior expoente de Lyapunov na série de análise é positivo, 57 o sistema é classificado como proveniente de comportamentos caóticos, e consequentemente, o mesmo apresenta sensibilidade as condições iniciais do sistema. Por outro lado, se o expoente de Lyapunov calculado é negativo, significa que a série temporal analisada apresenta comportamentos lineares. A Figura 16 apresenta a suposição um sistema dinâmico cujas trajetórias próximas umas das outras são indicadas por φ(x, t) e uma esfera que relaciona o fluxo das trajetórias, cujo diâmetro é equivalente a d0. Figura 16 – Trajetórias do sistema baseado em uma esfera. Fonte: (SAVI, 2002). A ideia do expoente de Lyapunov parte da ideia de avaliar o quanto a trajetória φ(x2, t) diverge da sua trajetória vizinha φ(x1, t) enquanto o sistema dinâmico evolui ao longo do tempo. Com isso, o expoente de Lyapunov avalia a evolução no tempo a partir dos eixos de uma esfera suficientemente pequena de estados do sistema dinâmico (SAVI, 2002). Entre as diversas técnicas utilizadas para o cálculo do expoente de Lyapunov, destaca-se o método proposto por Wolf et al. 1985a. Ao longo do processo, são definidas duas órbitas yn e zn, sendo que yn é classificada como a órbita de referência. Espera-se encontrar um vetor distância (uk) dado por: uk = zn−k − yn+k (45) de forma que as órbitas z0 e y0 são as primeiras a serem analisadas. Após os cálculos, percebe-se que o vetor calculado direciona para o maior expoente de Lyapunov, indicado por λ1 (WOLF et al., 1985b). A Figura 17 apresenta o procedimento para a aplicação de tal método. 58 Figura 17 – Procedimento para cálculo do expoente de Lyapunov. Fonte: (SIMONI, 2007). Além do método proposto por Wolf et al. (1985a), as séries temporais também podem ser analisadas levando em conta o crescimento exponencial médio da distância entre as órbitas vizinhas da dimensão de imersão por meio de: p(k) = 1 Ts N∑ n=1 log2 (∥∥yn1+k − yn2+k ∥∥ ‖yn1 − yn2‖ ) (46) sendo que N e mts indicam o número de amostras e o peŕıodo de amostragem, respectiva- mente, y1 é uma amostra e y2 a sua órbita vizinha. A função p(k) possui uma dependência com o número de passos referente a um tempo k que pode ser dividido em três fases, sendo que o transiente, indicado pela órbita vizinha que converge na direção do maior expoente de Lypaunov é a primeira fase. A segunda fase envolve o aumento da distância entre as órbitas de forma exponencial, dada por eλ1tsk até o ponto em que tal distanciamento seja maior que o limiar do fluxo da órbita yn+k (VASCONCELLOS, 2012). Por fim, a última fase implica no aumento seguido da diminuição do distanciamento devido a existência de dobras no espaço de estados (PARLITZ, 1998). 59 Como visto nos métodos elaborados por Wolf e Sato, o cálculo do expoente de Lyapunov pode ser calculado de formas distintas, porém, ambos os momentos utilizam o mesmo prinćıpio, que é a análise das órbitas e as suas respectivas trajetórias. Analisando matematicamente, a existência de duas trajetórias próximas permite a definição de x(t) como um determinado ponto de uma das trajetórias, x(t) + δ(t) o ponto da trajetória vizinha e δ o vetor distância, conforme a Figura 18. A evolução do sistema ao longo do tempo demonstra que estas trajetórias se afastam a um comportamento exponencial, independente da técnica implementada. Figura 18 – Comportamento das trajetórias em um sistema. Fonte: (YEUNG; STROGATZ, 1998). Após tais definições, basta analisar a distância entre as trajetórias, denominada por λ, em uma iteração espećıfica. Consequentemente, o valor da iteração é conhecido como o Expoente de Lyapunov. É posśıvel demonstrar como é feita análise do conceito, partindo da ideia do distanciamento da trajetória até a definição do expoente: |δ(t)| = |δ(0)| eλt |δ(t)| |δ(0)| = eλt ln(eλt) = ln |δ(t)| |δ(0)| λt = ln |δ(t)| |δ(0)| Alterando a ordem das variáveis, tem-se: λ = 1 t ln |δ(t)| |δ(0)| (47) 60 Assim, se o resultado obtido apresentar um valor de λ positivo e maior que zero, define-se que as trajetórias estão se afastando e o sistema dinâmico estudado apresenta comportamentos caóticos. Por outro lado, se o valor do expoente for negativo, significa que as trajetórias estão aproximando, mostrando uma estabilidade no sistema. A Figura 19 ilustra o comportamento do expoente de Lyapunov em um mapa