© 2013 WCCA April 04 - 07, 2012, Geelong, AUSTRALIA VI World Congress on Communication and Arts 169 A estética japonesa na cultura brasileira: reflexões a partir de um estudo etno- fotográfico sobre a performance ritual da festa da Cerejeira de Garça – SP Amilton Leonardo dos Santos 1 ; Rosa Maria Araújo Simões 2 1 Amilton Leonardo dos Santos. Graduando em Licenciatura em Educação Artística pela Universidade Estadual Paulista – UNESP/Bauru - SP, Brasil, amilton_leonardo@yahoo.com BOLSISTA PIBIC/RT – Bolsa Reitoria/Unesp0 2 Rosa Maria Araújo Simões. Professora do Departamento de Artes e Representação Gráfica – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – UNESP/Bauru – SP, Brasil, rosinha@faac.unesp.br Abstract  Aiming to understand the Japanese aesthetic in Brazilian culture and to produce a photographic exhibition of artistic and ethnographic nature, we performed a symbolic exegesis of the ritual performance of Garça Cherry Festival - SP (Brazil). The event takes place annually and is held in memory and honor of oriental culture. The festival features various elements of Japanese culture through expressive forms such as dance, music, costumes, martial arts and cooking. Therefore, the study was based on the anthropology of performance and visual anthropology with regard to symbolic exegesis of the party and look artistic and ethnographic photographic records of the proceedings. Such procedures supported the realization of artistic display that contributed, in turn, in promoting the local culture to a wider audience, and, methodologically, have contributed in visual identification and interpretation of the cultural elements of the ceremony. Index Terms  The Cherry Blossom Festival; NipoBrazilian Culture, Popular Art, Visual Antrhopology, Anthropology of Performance. INTRODUÇÃO As primeiras levas de imigrantes japoneses no Brasil, além das dificuldades de adaptação cultural, vivenciaram no país um dos momentos mais tensos da história mundial, o período das duas Grandes Guerras e o seu corolário (GOTO, 2007, p. 1) [2]. No começo do século XX, o Brasil precisava de mão-de- obra estrangeira para as lavouras de café, enquanto o Japão, passava por um período de grande crescimento populacional. A economia nipônica não conseguia gerar os empregos necessários para toda população, então, para suprir as necessidades de ambos os países, foi selado um acordo imigratório entre os governos brasileiro e japonês. Começava o processo de migração japonesa ao Brasil. A maioria dos imigrantes preferia o estado de São Paulo, pois nesta região já estavam formados bairros e até mesmo colônias com um grande número de japoneses, como é o caso da cidade de Garça, situada na região Centro-Oeste do Estado de São Paulo (415 km da capital), a qual possui cerca de 44 mil habitantes. A influência da cultura japonesa em Garça é observável principalmente durante a performance ritual da Festa da Cerejeira, uma das maiores do gênero no Brasil, que é realizada sempre na primeira quinzena do mês de junho. Para Turner (1982, p. 13) [6] “todo tipo de performance cultural, incluindo ritual, cerimônia, carnaval, teatro, é explanação e explicação da vida em si, como Dilthey freqïentemente argumentou” Para tal autor, a performance “não tem nada a ver com “forma”, e sim, deriva do velho francês parfournir, “completar” ou “realizar, cumprir minuciosamente/rigorosamente/totalmente”. A performance é portanto, a própria finalidade de uma experiência”. Posto isto, vale destacar que a cerejeira, o símbolo sintetizador da festa objeto de estudo, foi trazida pelos imigrantes japoneses por volta da década de 1970. As cerejeiras foram plantadas ao redor do lago artificial da cidade e, ao contrário das outras regiões onde as árvores também foram semeadas, na cidade ela se adaptou ao clima e o plantio obteve êxito. A festa ocorre durante a florada da árvore e possui uma grande importância para os descendentes dos imigrantes, pois representa um momento em que as tradições japonesas são lembradas e mantidas acesas, mesmo em terras distantes, quando diversos de seus costumes milenares tais como: danças que são inspiradas em um dos dois elementos essenciais da cultura do país: o mai (com uma conduta introspectiva e tranqüila) e o odori (exuberante e extrovertido) e, também, na forma de música, indumentária, artes marciais, culinária, origami, dentre tantos outros elementos culturais vivenciados pela comunidade. A influência da estética japonesa em Garça é observável em vários locais da cidade, inclusive nas formas arquitetônicas do lago artificial "J. K. Willians" local onde ocorre a festa. Há ao redor do lago um portão tradicional japonês chamado Torii. O Torii é um popular ícone japonês, ligado à tradição xintoísta, assinala a entrada ou proximidade de um santuário. O Torii é composto por dois pilares verticais, unidos no topo por uma trave horizontal (kasagi), geralmente mais larga que a distância entre os postes. Sob a kasagi há outra trave horizontal (nuki), que une os dois pilares. © 2013 WCCA April 04 - 07, 2012, Geelong, AUSTRALIA VI World Congress on Communication and Arts 170 FIGURA 1: TORII DO LAGO J.K.WILLIANS (Foto: Santos, 2012) Garça é uma cidade pequena, “ar” de cidade tranqüila, aconchegante e durante a Festa da Cerejeira ocorrem diversas manifestações artísticas e eventos culinários que condensam valores da cultura japonesa, hoje já intrínsecos na cultura local. Durante o evento ocorrem momentos de pequenas e belas imagens de trocas de gestos cerimoniais. Para registro, análise e produção artística, utilizamo-nos da fotografia como ferramenta de pesquisa na etnografia sobre o evento. Vale destacar que: A “[...] produção e análise de registros fotográficos... pode permitir a reconstituição da história cultural [...], bem como um melhor entendimento de processos de mudança social...” (NOVAES, 1999, p. 116) [4] A fotografia tem ainda a possibilidade de registrar gestos de generosa gratuidade que as gentes do povo de maneira especial [...] preservam. Preservam e compartem, nem que seja para nos lembrar de que até mesmo em tempos tão apressados, utilitários e gananciosos ainda somos humanos. Ainda somos seres em busca de sentidos, [...] mais do que (seres que buscam) fórmulas práticas para o correr da vida. (BRANDÃO, 2009, p. 18) [1] O olhar etnográfico e o olhar artístico são essenciais nesta pesquisa pois, trata-se de uma investigação artístico- etnográfica que tem como objetivos valorizar e compreender uma estética própria, específica, que faz parte da rica diversidade cultural brasileira. SR. NELSON ICHISATO: O “PAI” DAS CEREJEIRAS (SAKURA) DE GARÇA-SP A história das cerejeiras em Garça começou a ser escrita em 1978, quando Nelson Koshe Ichisato, trouxe as primeiras mudas de cerejeiras para o município. Ele, que ficou conhecido como o Pai das Cerejeiras, nasceu em Oshima, especificamente na província de Yamagu-tiken, no Japão. Atualmente aos 93 anos de idade, conta-nos que é um grande admirador da beleza das flores da cerejeira. Chegou ao Brasil aos 6 anos de idade. Com poucas lembranças dessa época, afirma que seus pais tiveram coragem por terem mudado de país levando consigo três filhos pequenos. Chegaram ao Brasil em 1925, após seu pai receber um convite de um amigo japonês que residia no Brasil, no Guarujá - SP. Vieram, com as mesmas pretensões dos outros japoneses: trabalhar na agricultura, plantar arroz, legumes e nas lavouras de café para acumular algum capital em um curto espaço de tempo e retornar à terra natal. As propagandas feitas pelo governo japonês, incentivando a mudança para o Brasil, não condizia com a realidade aqui encontrada. Os pagamentos eram baixos, impossibilitando a concretização do desejo de voltar a terra natal. Após alguns anos, a família do Sr. Nelson já decidida em ficar no Brasil, desistiu da vida rural e mudou-se para Vera Cruz–SP, uma pequena cidade do interior de São Paulo, logo após para Marília-SP. Depois, ele mudou sozinho para Ourinhos-SP. Durante a Segunda Guerra Mundial o Sr. Nelson foi convidado pelo irmão a se mudar para Garça-SP para trabalhar em um estabelecimento comercial recém comprado pelo irmão. Chegou três meses antes do fim da Segunda Guerra Mundial e com o fim da guerra, recebeu a notícia da derrota de seu país. Ele nos conta que muitos japoneses não acreditaram na notícia da derrota do Japão. Acreditavam que as informações, mesmo as dos jornais japoneses, poderiam ter sido manipuladas pelo governo brasileiro. Com o tempo essa preocupação foi sendo substituídas por outras da vida cotidiana e ele continuou sua vida na cidade. Em 1978 pensou em plantar as primeiras cerejeiras. Acontecia nesse ano o aniversário de 70 anos da imigração japonesa. Ele convidou toda a comunidade japonesa para participar do plantio, porém, ninguém aceitou a ideia. Segundo o Sr. Nelson, a colônia disse que não adiantaria plantar. Ele nos disse que a comunidade japonesa sempre afirmava: não adianta, aqui é muito quente, não dá. Ainda assim ele continuou sozinho, plantou diversas mudas no local onde hoje ocorre a Festa da Cerejeira, o lago artificial J.K.Willians. FIGURA 2 JARDIM DO LAGO J.K. WILLIANS (Foto: Santos, 2012) © 2013 WCCA April 04 - 07, 2012, Geelong, AUSTRALIA VI World Congress on Communication and Arts 171 Cento e dez mudas foram plantadas em uma só vez e para sua tristeza, após o plantio choveu muito na região e várias mudas morreram. Mas, ele mais uma vez não desistiu e as replantou. Após oito anos de cuidado, amor e dedicação às cerejeiras, elas deram a primeira florada. Bonitas e floridas, incentivaram a colônia japonesa a fazer a primeira celebração à cerejeira, em 1984. Segundo o Sr. Diogo, 48 anos, “sansei” (neto de imigrante japonês), atual responsável pela manutenção do lago onde ocorre a festa, seu pai, após ver a florada, junto com o Sr. Nelson começaram a organizar a festa. Porém, segundo ele, à colônia japonesa da cidade falta senso de coletividade e desde os primórdios das festas, poucos contribuíram. Afirma ainda que, como funcionário da Prefeitura recebe para o serviço de manutenção, o “faz por amor, mas não como o Sr. Nelson que sempre acreditou e cuidou do local mesmo sem remuneração e, ao contrário, até comprando mudas e incrementando o jardim com seu próprio dinheiro”. O Sr. Nelson nos afirma ter investido mais de dois mil reais apenas com mudas de cerejeira. Ele também nos conta que alguns fazendeiros já o ajudaram doando adubo para as plantas e que alguns prefeitos que já passaram pela administração da cidade contribuíram para a manutenção do local. O Sr. Nelson, um senhor de 93 anos de idade, apresenta o cansaço que o tempo impõe a todos nós. Com toda a sua experiência de vida, nos fala com vitalidade e amor sobre as cerejeiras e ainda nos conta seu próximo desejo: fazer no lago “J.K.Willians” o maior e mais belo jardim japonês do Brasil. CEREJEIRA: SÍMBOLO DA TERRA DO SOL NASCENTE No Japão a florada das cerejeiras é apreciada dentro de um rito com espírito de confraternização e preservação, onde as pessoas observam a beleza das flores enquanto se reúnem para conversar e se relacionar. Segundo Sr Nelson, a Sakura está em toda a parte no Japão, as pessoas possuem árvores particulares de 1.200 anos, passadas de geração a geração. Ela, além de uma bela flor, é um símbolo que nos revela diversos valores da cultura japonesa. FIGURA 3 FLOR DAS CEREJEIRAS PLANTADAS PELO SR. NELSON ICHISATO (Foto: Santos, 2012) Os rituais de culto ao símbolo Sakura revelam mitos, crenças religiosas e muitas das filosofias orientais. Eles “revelam os valores no seu nível mais profundo... os homens expressam no ritual aquilo que os toca mais intensamente e, sendo a forma de expressão convencional e obrigatória, os valores do grupo é que são revelados.” (WILSON apud TURNER, 1974, p. 19) [5]. Como nos conta o Sr. Diogo, o Sakura Matsuri (ritual de celebração da florada da cerejeira) é muito mais que uma festa ou um grande encontro, a palavra matsuri vem de veneração e está ligada à religião. A religiosidade oriental é muito ligada à natureza. No Xintoismo podemos encontrar essa proximidade entre espiritualidade e natureza. O xintoísmo é uma espiritualidade tradicional japonesa que caracteriza-se pelo culto à natureza e aos ancestrais. Politeísta, tem como uma de suas práticas honrar e celebrar a existência de Kami, que pode ser definido como "espírito", "essência" ou "divindades", e é associado com múltiplos formatos compreendidos pelos fiéis; em alguns casos apresentam uma forma humana, em outros animística, e em outros é associado com forças mais abstratas, "naturais", do mundo (montanhas, rios, relâmpago, vento, ondas, árvores, rochas). Considerado como consistindo de energias e elementos "sagrados", o Kami e as pessoas não são separados, mas existem num mesmo mundo e partilham de sua complexidade interrelacionada. A cerejeira, em sua rápida florada, apresenta matizes de cores rosa e branco compondo uma estética digna de veneração. É uma grande beleza em uma pequenina e efêmera flor. A Sakura, segundo Diogo, era também um símbolo militar. Os aviões da Segunda Guerra Mundial tinham o símbolo estampado em uma das laterais que lembrava a efemeridade da vida e motivava os pilotos kamikazes para cumprirem sua missão “suicida”. A cerejeira também nos trás os conceitos do Wabi Sabi, que é uma abrangente visão de mundo japonês centrada na aceitação da transitoriedade e da imperfeição. E ainda nos lembra um outro tradicional costume japonês que, resumidamente, é o ato de contemplar a beleza das flores, chamado Hanami. Entre várias outras ligações possíveis entre o símbolo Sakura e a cultura oriental, finalizaremos citando que ela também representa as histórias dos antigos samurais. Guerreiros decididos a morrer pelos seus mestres em qualquer circunstância, os samurais estavam preparados espiritualmente para viver poucos anos, assim como as flores imponentes das cerejeiras que nascem pela manhã e morrem no final da tarde. © 2013 WCCA April 04 - 07, 2012, Geelong, AUSTRALIA VI World Congress on Communication and Arts 172 FIGURA 4 GUERREIRO JAPONÊS A SERVIÇO DE UM DAIMYÕ (SENHOR FEUDAL).ARMADURA DE SAMURAI DO SÉCULO XVIII.DOADA PELO SR. NAOTAKA HONDA EM 1994. EXPOSTA NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE GARÇA. (Foto: Santos, 2012) É notável a importância do culto à Sakura na cultura japonesa. Ela condensa diversos valores e costumes em um único símbolo. “Um único símbolo, de fato, representa muitas coisas ao mesmo tempo, é multívoco e não unívoco. Seus referentes não são todos da mesma ordem lógica,e sim tirados de muitos campos da experiência social e de avaliação ética.” (TURNER, 1974, p.71) [5]. A FESTA DA CEREJEIRA ATUALMENTE EM GARÇA-SP Existem algumas diferenças entre o Sakura Matsuri e a Festa da Cerejeira em Garça. Como nos conta o Sr. Diogo, em Garça, a festa não está associada a veneração do símbolo japonês, a Sakura. É um evento de origem japonesa que com o tempo agregou hábitos brasileiros. Durante o evento é possível encontrar comidas típicas orientais como yakisoba e tempura ao lado de pastéis de pizza por exemplo. No Japão, a celebração ocorre quando acontece a florada, sem uma data previamente fixada. Em Garça, a festa é marcada seis meses antes da florada, o que pode, em algumas ocasiões, não coincidir o evento com a florada das cerejeiras. A festa em Garça é um rito marcado pelo calendário. Segundo Turner (1974, p. 204) [5], “os ritos marcados pelo calendário, [...] quase sempre se referem a grandes grupos e em geral abrangem sociedades inteiras. Com frequência, também, são realizados em momentos bem assinalados dentro do ciclo produtivo anual, e atestam a passagem da escassez para a abundância (como na época dos primeiros frutos e nas grandes festas das colheitas). No caso de Garça é um rito celebrativo associado à abundância de flores símbolos da cultura oriental, a Sakura. Conta-nos o Sr. Diogo que antigamente, a festa também ocorria como no Japão, sem data fixa. Conforme a festa foi crescendo, o agendamento antecipado passou a ser exigência da prefeitura para a possível divulgação do evento. Hoje ela é organizada pela prefeitura. A colônia japonesa da cidade participa dos três dias de festa, mas o Sr. Nelson nos conta, com tristeza, que a colônia japonesa não contribui com a manutenção do jardim onde estão as cerejeiras. Hoje a manutenção é realizada principalmente pelo Sr, Diogo, funcionário da prefeitura indicado pelo Sr. Nelson que atualmente, devido à limitação da idade quase não frequenta o jardim. A Festa da Cerejeira conta com diversas apresentações de elementos da cultura japonesa. A apresentação de Taiko (tambores japoneses) sempre está presente. FIGURA 5 APRESENTAÇÃO DE TAIKO NA XXVI FESTA DA CEREJEIRA DE GARÇA-SP (Foto: Santos, 2012) FIGURA 6 APRESENTAÇÃO DE TAIKO NA XXVI FESTA DA CEREJEIRA DE GARÇA-SP (Foto: Santos, 2012) No encerramento do evento ocorre o convite para que todos participem da grande performance coletiva chamada Matsuri Dance. Matsuri Dance é uma expressão criada pelos descendentes orientais, hoje brasileiros. Derivado do Bon © 2013 WCCA April 04 - 07, 2012, Geelong, AUSTRALIA VI World Congress on Communication and Arts 173 Odori, que é uma expressão relacionada à festa em homenagem aos antepassados. O Matsuri Dance mescla gestuais de dança popular brasileira, músicas populares internacionais aos gestuais orientais. É possível notar essa mistura de referências inclusive no nome Matsuri Dance que se deriva da linguagem oriental junto com a norte- americana. Matsuri Dance não é uma performance com elementos exclusivamente japoneses, assim como o Brasil, ela é multicultural. É a representação da espontaneidade brasileira mesclados à dança tradicional oriental. Os gestos realizados na dança não trazem os símbolos do “plantar”, “colher” ou “afastar negatividade” como na tradicional dança. É uma performance onde todos podem participar sem conhecimento prévio dos gestuais. Os movimentos do Matsuri Dance misturam gestos da dança popular brasileira em um ritmo calmo característico da cultura da apreciação e do conceito “zen” japonês. Sem regras específicas, é um performance que apresenta uma repetição de gestos espontâneos. O Matsuri Dance é um fenômeno brasileiro contemporâneo e não exatamente o conjunto de tradicionais danças culturais japonesas conhecido como "Odori". FIGURA 7 MATSURI DANCE NA XXVI FESTA DA CEREJEIRA DE GARÇA-SP (Foto: Santos, 2012) O Matsuri Dance é um exemplo do quanto a cultura é dinâmica e do quanto uma cultura sofre influências internas e externas no decorrer da história. Segundo Laraia (1986, p. 96) [3]“é praticamente impossível imaginar a existência de um sistema cultural que seja afetado apenas pela mudança interna. Isto somente seria possível no caso, quase absurdo, de um povo totalmente isolado dos demais”. CONSIDERAÇÕES FINAIS O plantio das primeiras mudas de cerejeiras feito pelo Sr. Nelson Ischisato, mais que a realização de um sonho pessoal, foi fundamental e representa literalmente o cultivo da tradição japonesa que, aos poucos, constribuiu para a consolidação da Festa da Cerejeira na cidade de Garça. Em meio à diversidade cultural brasileira, a festa proporciona a contemplação da cultura oriental cheia de significados, marcada pela resistência, muitas vezes pouco conhecida no ocidente. Ela atrai fotógrafos de várias regiões do Brasil buscando perpetuar a beleza das efêmeras sakuras. É um evento anual aguardado por todos e proporciona encontros familiares em um ambiente que favorece a apreciação e que enriquece a cultura do interior paulista. O toque dos tambores, os sabores ímpares da culinária japonesa, a magia da dança nipônica são detalhes desta festa onde as cerejeiras são as estrelas principais. Enfim, vale destacar que, realizar este exerício de compreensão da estética própria da Festa da Cerejeira (uma manifestação cultural nipo-brasileira) significa uma trajetória percorrida que contribuiu para darmos continuidade a outra etapa da pesquisa, de cunho mais artístico específicamente, qual seja, a elaboração de uma exposição fotográfica sobre tal festa que, em será foco de nossas discussões numa outra oportunidade. REFERÊNCIAS . [1] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. “A clara cor da noite escura: escritos e imagens de mulheres e homens negros de Goiás e Minas Gerais.” Uberlândia: EDUFU: Ed. da UCG, 2009. [2] GOTO, Paula Regina. Cultura nipo-brasileira: a reinvenção da tradição japonesa no Brasil. In: Revista Espaço Acadêmico, n. 69, fevereiro de 2007, mensal, ano VI. [3] LARAIA, Roque de Barros. “Cultura: um conceito antropológico.” Rio de Janeiro: Zahar, 1986. [4] NOVAES, Sylvia Caiuby. “O uso da imagem na antropologia.” In: Samain, Etienne (org.). O fotográfico. São Paulo: Hucitec/CNPQ, 1999 (linguagem e cultura, 29) (p. 113-119). [5] TURNER, Victor. “O processo ritual: estrutura e antiestrutura”; tradução de Nancy Campi de Castro. Petrópolis, Vozes, 1974. [6] ______. “From Ritual do Theatre: The Human Seriousness of Play.” New York City: Performing Journal Publications, 1982.