R E V I S T A
ISSN: 1808-8759
Energ. Agric., Botucatu, vol. 28, n.4, p.270-276, outubro-dezembro, 2013.
AVALIAÇÃO FITOQUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DA ESPÉCIE
Artemisia annua L., SUBMETIDA A TRATAMENTOS DE
ARMAZENAMENTO E CONDIÇÕES DE AMBIENTE
Thalita Cristina Marques Cervezan1, Fernando Broetto2, Glyn Mara Figueira3, Aline
Cristina Rabonato4 & Ilza Maria de Oliveira Souza5
RESUMO: A espécie Artemisia annua, Asteraceae, nativa da China, tem a artemisinina como seu principal
componente ativo, é considerado um potente antimalárico. Com o aumento do valor dos princípios ativos naturais,
estudos relacionados à pós-colheita e armazenamento de material vegetal tornam-se importantes para melhor
conservação de suas propriedades fitoterápicas. O presente estudo teve como objetivo definir as melhores condições de
armazenamento para preservar a qualidade da droga vegetal. Folhas de A. annua secas foram armazenadas por seis
meses em sacos de polietileno envolto por papel Kraft e acondicionadas em quatro tratamentos: em condição ambiente e
refrigerada a 4º±2C, em embalagem normal e em embalagem sob vácuo. No tempo zero e nos períodos de 30, 90, 120 e
180 dias foram realizados as análises microbiológicas, de teor de umidade e de avaliação do teor de artemisinina. Os
resultados dos ensaios microbiológicos não demonstraram contaminação significante, assim como o teor de umidade do
material armazenado, que permanece entre 5% a 10%, mantendo-se dentro do parâmetro aceitável. O tratamento sem
vácuo ambiente (SVA) foi o que melhor manteve estabilidade de armazenamento durante os 180 dias, no entanto, foi o
sem vácuo refrigerado (SVR) que apresentou maior eficiência para a conservação do teor de artemisinina.
PALAVRAS-CHAVE: princípio ativo, artemisinina, plantas medicinais.
PHYTOCHEMICAL AND MICROBIOLOGICAL EVALUATION OF THE SPECIES Artemisia annua L.
SUBMITTED TO TREATMENT STORAGE AND CONDITIONS OF AMBIENT
ABSTRACT: The species Artemisia annua L. (Asteraceae) is native to China and has artemisinin as its main active
component, substance that is considered a potent antimalarial drug. With the increased interest in natural active
principles, studies related to post-harvest and storage of vegetable material become important for better conservation of
its phytotherapic properties. Therefore, the present study had as objectivedefine the best storage conditions to preserve
and keep the quality of phytotherapic drugs. Leaves of A. annua dried were stored for six months in polyethylene bags
wrapped in Kraft paper and packed in four treatments: at ambient condition, refrigerated at 4 ± 2 oC, using normal
packing, and using vacuum packing. Samples were taken for microbiological, moisture content, and level of artemisinin
analyses before the experiment begun and at 30, 90, 120 and 180 days. The results of microbiological tests showed no
significant contamination, as well as the moisture content of the stored (biological) material, which remain between 5%
and 10%, keeping within acceptable parameters. The ambient without vacuum treatment (SVA) was the treatment that
better maintained the sample stability during 180 days, however, the refrigerated without vacuum (SVR) showed
greater efficiency to conserve the content of artemisinin.
KEYWORDS: active principle, artemisinin, medicinal plants.
12
1 Doutoranda da FCA/UNESP. Programa Energia na Agricultura.
E-mail: thacmc@yahoo.com.br
2 IBB/UNESP. E-mail: broetto@ibb.unesp.br
3 CPQBA/UNICAMP. E-mail: glyn@cpqba.unicamp.br
4 CPQBA/UNICAMP. E-mail: alinerabonato@yahoo.com.br
5 CPQBA/UNICAMP. E-mail: ilza@cpqba.unicamp.br
mailto:broetto@ibb.unesp.br
mailto:glyn@cpqba.unicamp.br
mailto:alinerabonato@yahoo.com.br
mailto:ilza@cpqba.unicamp.br
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1 INTRODUÇÃO
A utilização e comercialização de plantas medicinais têm
estimulado a demanda crescente na indústria pela busca
de novas fontes naturais de medicamentos. O aumento
desse consumo natural também é incentivado devido aos
efeitos colaterais causados pelos fármacos sintéticos
(VAN DEN Berg, 1993). Os medicamentos fitoterápicos
apresentam duas diferenças importantes quando
comparados com os sintéticos. A primeira, é que ao
contrario dos medicamentos sintéticos, os princípios
ativos dos fitoterápicos raramente são conhecidos. Já a
segunda diferença fundamental é que o controle da
qualidade e a padronização dos fitoterápicos são tarefas
bem mais complexas do que no caso dos medicamentos
sintéticos (CALIXTO, 2001).
À medida que estudos químicos e farmacológicos
confirmam cientificamente suas ações terapêuticas,
aumenta a demanda por matéria-prima envolvida na
elaboração destes fitomedicamentos e a busca por
produto de alta qualidade torna-se cada vez maior. Sejam
estas espécies provenientes do extrativismo ou do
cultivo, o material vegetal produzido deve passar pelo
processo de secagem e armazenamento a fim de atender
às exigências do mercado (Figueira et al. 2004).
Várias espécies medicinais e/ou aromáticas têm sido
alvo de estudo quanto à produção e composição de seus
princípios ativos. Devido ao seu efeito antimalárico a
Artemisia annua tem se tornado cada vez mais
importante, assim como a sua comercialização. Esta
espécie produz lactona sesquiterpênica, a artemisinina,
muito ativa no tratamento da malária falciparum.
O Relatório Mundial da Malária de 2012 resume os
dados recebidos de 104 países com paludismo endémico
e territórios para 2011. Noventa e nove desses países
tinham em curso a transmissão da malária. Segundo as
últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde -
OMS havia cerca de 219 milhões de casos de malária em
2010 e estima 660.000 mortes. A África é o continente
mais afetado: cerca de 90% de todas as mortes por
malária ocorrem lá (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2013).
Entre 2000 e 2010, as taxas de mortalidade por malária
caíram 26% em todo o mundo. Segundo a OMS, a região
africana apresentou uma queda de 33%. Durante este
período, cerca de 1,1 milhões de mortes de malária
foram evitadas globalmente, principalmente como
resultado de um aumento de escala das intervenções. No
entanto, a malária continua a tirar a vida de uma criança
africana a cada minuto de cada dia. A Nigéria tem uma
das maiores cargas de malária no mundo. Em 2010, 489
mil casos de malária grave foram relatados, resultando
em 200.000 mortes (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA
SAÚDE, 2011).
No Brasil, 40 milhões de pessoas estão em risco de
contrair a doença. Em 2010, o país teve 334.618 casos
confirmados de malária, dos quais 283.383 eram
de Plasmodium vivax e 47.406 de Plasmodium
falciparum (REDDY, 2013). Em 2011, registaram-se
270.000 casos confirmados e 2,6 milhões de casos
suspeitos de malária (LACERDA, 2013). A Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, criada em 1962, está
envolvida na luta contra doenças tropicais infecciosas e
parasitárias e é questão de fomentar a partilha de
conhecimento entre pesquisadores nacionais e
internacionais e parcerias público-privadas como
Medicines for Malaria Venture – MMV (REDDY,
2013). Pesquisas recentes sobre condições de
armazenamento estão sendo desenvolvidas para que o
material vegetal mantenha ao máximo suas propriedades
antimaláricas (FIGUEIRA, 1996).
A qualidade pode ser preservada através do estudo dos
parâmetros de secagem e condições de armazenamento.
Informações sobre a umidade de equilíbrio de drogas
vegetais tornam-se cada vez mais significantes, pois
definem as condições mais adequadas de armazenamento
deste material. Neste contexto, a secagem e o
armazenamento inadequado podem prejudicar as
características físico-químicas, biológicas e a qualidade
das plantas afetando principalmente o fitoterápico
(SILVA, 2005). Buscar técnicas que proporcionem a
preservação da qualidade da droga vegetal no período
pós-colheita, principalmente através de condições de
armazenamento foi o objetivo principal deste trabalho.
2 MATERIAL E MÉTODOS
F A espécie de A. annua em estudo foi cultivada no
campo experimental do Centro Pluridisciplinar de
Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA)
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
localizada em Paulínia, SP.
A matéria fresca (folhas e hastes) foi coletada no inicio
de março em 2012, antes do florescimento, período em
que a concentração de artemisinina é maior, sendo
posteriormente submetida ao processamento de limpeza,
secagem e armazenamento.
As folhas recém-colhidas passaram por processo de
limpeza retirando impurezas e galhos, sendo submetidas
à secagem em estufa com circulação de ar a temperatura
de ± 40º C, até que a massa de matéria seca se
mantivesse constante. Após a secagem, o material
vegetal foi submetido a armazenamento em sacos de
polietileno envoltos de papel Kraft, visando reproduzir a
mesma embalagem utilizada pela maioria dos produtores
de plantas medicinais e aromáticas.
Primeiramente, para cada tratamento, foram pesadas
cerca de 40g de folhas secas moídas e acondicionadas
nas embalagens de polietileno com quatro repetições. As
embalagens foram seladas em Seladora com sistema de
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vácuo e, posteriormente envolvidas em papel Kraft. As
folhas secas embaladas foram submetidas aos quatro
tipos de armazenamento:
• Condições de vácuo (0,1 atm) em temperatura
ambiente de 25º ± 3
• Condições sem vácuo em temperatura ambiente
de 25º ± 3;
• Condições de vácuo (0,1 atm) em temperatura
refrigerada de 4º ±2
• Condições sem vácuo em temperatura
refrigerada de 4º ±2;
As embalagens submetidas às condições ambientes
foram armazenadas em prateleiras dentro de armário de
madeira com portas, mantendo o ambiente livre de
contato externo e ao abrigo de luz. Embalagens em
condições refrigeradas foram armazenadas em geladeira
em prateleiras de vidro. Em ambas as condições, as
amostras não tiveram em contato com qualquer outro
produto ou amostras de diferentes espécies. Foi utilizado
termômetro digital para monitorar a temperatura dos
ambientes.
Ao completar os tempos de 30, 90, 120 e 180 dias de
armazenamento as amostras respectivas destes períodos
eram acondicionadas em freezer -20ºC, preservando o
estado microbiológico e químico. Ao final do
armazenamento as amostras foram retiradas do freezer e
descongeladas para as subsequentes análises.
O congelamento comum se baseia na conservação
adequada de agentes em temperaturas relativamente
baixas entre -4ºC e -20°C. O método de congelamento
oferece segurança para o material armazenado evitando o
desenvolvimento de diversos microrganismos por
períodos de 3 meses a 2 anos, devido a uma redução
significativa no metabolismo celular (SOLA et al.,
2012).
O material vegetal armazenado no tempo inicial (após a
secagem das folhas) e aos 30, 90 e 180 dias foi avaliado
quanto à atividade microbiológica, teor de umidade e
quantificação do principio ativo. As amostras
armazenadas por 120 dias foram submetidas somente
para a avaliação do teor de umidade e teor de
artemisinina devido à estabilidade e microbiológica nos
períodos de 90 e 180 dias.
O teor de umidade de um produto é a proporção entre a
quantidade de água (em massa) existente no material e a
massa seca (que não contém água, ou seja, sólidos totais
como proteínas, cinzas, etc.). A determinação do teor de
umidade é a quantidade de água que pode ser removida
do material sem alteração da estrutura molecular do
sólido (SILVA, 2005).
A determinação do teor de umidade das amostras foi
realizada no final do período de 180 dias de
armazenamento. As amostras foram retiradas do freezer
e descongeladas; cerca de +/- 1 g de todas as amostras
foram pesadas em balança digital analítica em triplicada
e colocadas em cadinhos de alumínio. A massa seca foi
determinada colocando os cadinhos em estufa com
circulação forçada a 105ºC por 24hrs. Após este período
os cadinhos foram retirados, pesados e quantificados
(FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988).
Após os tempos de 30, 90 e 180 dias (incluindo o tempo
zero), coletou-se 10 g do material vegetal que foi
congelado, para posterior análise microbiológica. As
análises microbiológicas foram feitas na Fundação
André Tosello, utilizando metodologias propostas pela
Farmacopeia Brasileira 5º - Edição – 2010. Os
parâmetros microbiológicos avaliados foram: Contagem
Padrão de Bactérias Heterotróficas, Contagem total de
Fungos (Bolores e Leveduras), Microrganismos viáveis
Totais (Fungos e Bactérias), Coliformes Totais e
Coliformes Termotolerantes/ Escherichia coli.
A avaliação cromatográfica foi realizada no
Departamento de Fitoquímica do CPQBA/ UNICAMP,
em Paulínia - SP. Realizou-se uma quantificação semi-
analítica comparativa do teor de artemisinina utilizando
a técnica de Cromatografia em Camada Delgada com
detecção por Densitometria (MARCHESE et al., 2001).
Para cada amostra, foram retirados, em triplicatas, 1g de
folhas finamente moídas, extraídas em 5mL de
diclorometano. Posteriormente, o extrato foi levado a
uma mesa agitadora por uma hora e meia, sendo
subsequentemente filtrado. Esse procedimento foi
repetido por 3 vezes, tendo o volume líquido total obtido
avolumado em balão de 10 mL.
Com auxílio de microseringa, 10 μL de cada extrato foi
aplicado sobre placa de sílica-gel. Cada placa recebeu
seis diferentes concentrações do padrão artemisinina
(2,0; 4,0; 6,0; 8,0; 10,0 e 12,0 μg) ao centro, mais 6
aplicações laterais, em triplicatas, das amostras. As
placas do ensaio foram eluídas em cuba de vidro
previamente saturada com uma mistura de diclorometano
: metanol (98,5 : 1,50). Para a revelação, utilizou-se uma
solução contendo 50 mL de ácido acético glacial, 0,5 mL
de anisaldeído e 1,0 mL ácido sulfúrico concentrado, a
qual foi borrifada sobre as placas.
Posteriormente, cada placa foi colocada em estufa a
110º C durante 5 minutos. Em seguida as placas foram
escaneadas para avaliação densitométrica sendo que a
área do composto foi avaliada por comparação com a
área dos picos dos padrões com os das amostras. Os
resultados obtidos foram submetidos ao programa SAEG
(Sistemas de Análises Estatísticas e Genéticas) em teste
de Tukey com nível de significância de 5 % de
probabilidade. O teor da artemisinina em relação ao
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tempo de armazenamento foi avaliado pela análise de
regressão (Figura 2).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos (Tabela 1) nos ensaios
microbiológicos indicam que não há contaminação
significante em relação aos parâmetros estabelecidos
pela Farmacopeia Brasileira 5º Edição – 2010.
Tabela 1: Avaliação microbiológica de bactérias
heterotróficas dos tratamentos em
relação aos dias de armazenamento.
Contagem Padrão de Bactérias
Heterotróficas
Tratamentos 0 dias 30 dias 90 dias 180
dias
CVA 780 700 800 290
SVA 780 450 800 500
CVR 780 460 850 400
SVR 780 855 480 700
*Valores expressos em Unidades Formadores de
Colônias (U.F.C./g); CVA=com vácuo/ ambiente;
SVA=sem vácuo/ ambiente; CVR=com
vácuo/refrigerado; SVR=sem vácuo refrigerado.
As amostras também foram avaliadas quanto à contagem
total de fungos (bolores e leveduras) e microrganismos
totais viáveis (fungos e bactérias), porém não foram
determinados valores expressivos. Os valores
encontrados foram inferiores ao da especificação a qual
estabelece como ideal <5700 U.F.C./g. As demais
análises comprovaram ausência de coliformes totais,
coliformes termotolerantes e Escherichia coli.
Alguns trabalhos da literatura avaliaram o
armazenamento de material vegetal em embalagens e
temperaturas variadas. Os resultados apresentados por
esses autores foram distintos aos comparados com esse
presente trabalho.
Fidelis et al. (2005) avaliaram o armazenamento de
Sphagneticola trilobata em embalagens de vidro,
polipropileno e papel metalizado por período de 12
meses, sob condição ambiente (20-25ºC) e refrigerado
(5ºC). Segundo os autores, a quantificação de fungos
filamentosos e leveduras apresentaram variações
significativas, constatando que, em condições
refrigeradas, independente da embalagem ou período de
armazenamento, apresentaram valores maiores de
microrganismo do que a condição ambiente. Também
houve presença de Staphylococcus spp. em todas as
condições de armazenamento, independente do tipo de
embalagem. Em média, o aumento destes
microrganismos foi de dez vezes no armazenamento em
condições ambientes e de cem vezes sob-refrigeração.
Para o microrganismo Staphylococcus aureus, pode-se
estimar que o número encontrado nas amostras,
independente da condição e do período de
armazenamento, estava abaixo de 102 U.F.C./g. A
Tabela 1 descrita anteriormente demonstra ausência de
coliformes totais nas amostras armazenadas de
artemisinina, independe dos tratamentos. Já para Fidelis
et al. (2005) houve presença desse microrganismo em
todos os produtos de embalagens refrigeradas após o
período de incubação. Também foi detectada presença
para bactérias aeróbicas mesófilas em produtos de
condição ambiente, independente da embalagem, com
105 U.F.C./g e sob-refrigeração para embalagens de
vidro e papel metalizado, com valor máximo de 106
U.F.C./g.
Alguns autores ressaltam a possibilidade de que a
refrigeração e/ou congelamento de amostras vegetais
podem camuflar os resultados microbiológicos avaliados
ao longo do armazenamento. Silva et al. (2008)
propuseram avaliar a viabilidade de microrganismos
presentes em uma coleção de cultura, afim de validar
esse hipótese. Semearam um total de 328 leveduras dos
gêneros Candida, Cryptococcuss, Trichosporon,
Rodothorulla em caldo cérebrocoração contendo
glicerol, mantendo-as sob-refrigeração por sete dias e
posterior congelamento a -20°C, sob três diferentes
períodos de tempo. Após três anos de congelamento,
observaram recuperação de 99,0% das leveduras (72
viáveis/73 microrganismos congelados). No segundo
período (três anos e seis meses) observaram a viabilidade
de 100% das cepas congeladas (96 leveduras congeladas
e viáveis após o descongelamento). No último grupo,
após o congelamento de 159 leveduras por quatro anos,
notaram uma redução da viabilidade das culturas com
90,6% de recuperação (144 leveduras). Diante dos
resultados, observaram que o emprego de baixas
temperaturas foi vantajoso por seu baixo custo, fácil
execução, além de ter favorecido a conservação de quase
totalidade das leveduras por 48 meses (SOLA et al.,
2012).
Como dito anteriormente, o teor de umidade considerado
ideal para material biológico ser armazenado é entre as
faixas de 5% a 10%. Conforme esta indicação pode-se
dizer que as amostras, mesmo depois do congelamento,
se mantiveram dentro do parâmetro (Tabela 2).
Tabela 2: Valores médios do teor de umidade das
amostras ao final do processo de
armazenamento.
Tratamentos 30 dias 90 dias 120 dias 180 dias
CVA 8,8966 a 10,7572 a 10,6783 a 10,0688 ab
SVA 8,4666 a 9,2195 ab 10,6681 a 10,8876 a
CVR 8,1014 a 9,3656 ab 8,9950 a 9,4152 ab
SVR 8,8281 a 7,8457 b 8,8217 a 7,7725 b
CV% 4.26 8.18 9.22 12.41
As médias contendo letras distintas na coluna
demonstram haver diferença significativa entre si pelo
teste de Tukey de 5% de probabilidade. CVA= com
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vácuo/ambiente; SVA= sem vácuo/ambiente; CVR=
com vácuo/refrigerado; SVR =sem vácuo refrigerado.
Pela análise estatística (Tabela 2), percebe-se que aos 30
dias e 120 dias não houve diferença significativa entre os
tratamentos quanto aos teores de umidade. Somente
houve uma diferença expressiva nos tempos de 90 dias e
180 dias, correspondentes ao tratamento de SVR que, ao
contrário dos outros tratamentos, perdeu umidade.
Entre todos os tratamentos avaliados, os refrigerados
adquiriram menos umidade devido ao fato que a
geladeira possui uma pressão de água menor, sendo
assim, um produto armazenado em um ambiente com
baixa atividade de água sofre uma redução de umidade
na tentativa de entrar em equilíbrio com o ambiente
externo. Para comprovar essa afirmação, podem-se citar
vários trabalhos científicos que demonstram perda de
umidade em amostras armazenadas ao longo do tempo.
Em comparação com a Tabela 2 acima, podem-se citar
Guedes et al. (2012) que propuseram armazenar
sementes de Myracrodruon urundeuva em intervalos pré-
determinados (0, 30, 60, 90, 120, 150, 180, 210 e 240
dias) em embalagens de papel Kraft, algodão, polietileno
transparente e folhas de papel alumínio, sob condições
ambiente (25 ± 2ºC), freezer (-20 ± 2ºC), câmara fria (8
± 2ºC) e geladeira (6 ± 2ºC). Os autores avaliaram a
porcentagem de emergência, índice de velocidade de
emergência, comprimento, massa seca de plântulas e teor
de água das sementes. Os resultados mostraram que a
geladeira ou freezer é a condição mais adequada para o
armazenamento das amostras, por um período de 240
dias, sob qualquer embalagem proposta pelo trabalho.
Quanto ao teor de umidade, observou-se que as sementes
obtiveram menor dosagem de água quando armazenados
em geladeira, apresentando os percentuais de 9-11% em
embalagens de plástico e alumínio e 9-7% para pano e
papel. Em condição ambiente, as amostras em
embalagem plástica mantiveram-se estáveis com 10% de
umidade durante os 240 dias, as demais sementes
apresentaram uma variação de 10-11% em alumínio e
10-13% em papel e pano. Em câmara fria, a embalagem
plástica e a de alumínio mantiveram os índices de 10-
12% de umidade e para a embalagem de pano e papel
apresentaram uma faixa de 11-20%. As amostras
acondicionadas em freezer apresentaram teores de 10-
16% em alumínio, 12-14% para plástico e 11-16% para o
pano e papel.
Outros autores avaliaram o armazenamento de
Sphagneticola trilobata em embalagens de vidro,
polipropileno e papel metalizado por período de 12
meses, sob condição ambiente (20-25ºC) e refrigerado
(5ºC). O teor de umidade sob-refrigeração e
acondicionadas em papel metalizado tiveram as menores
variações de umidade, com variação de 8,8-10,5%. As
amostras armazenadas sob-refrigeração em polipropileno
apresentaram variação de 10,1-12,2%. Em condição
ambiente, independente da embalagem, sempre esteve,
em média, acima de 10%, sendo os maiores valores 14,2
e 14,4 nas embalagens de vidro e papel metalizado,
respectivamente (FIDELIS, et al., 2005).
Para estudar o efeito dos tratamentos e do tempo de
armazenamento, foram realizadas análises de variância
(Tabela 3).
Tabela 3: Efeito dos tratamentos e do tempo de
armazenamento.
ANOVA
Fontes de
Variação
G.L. Quadrado Médio
30
dias
90
dias
120
dias
180
dias
Tratamento 3 4,06** 5,04** 4,28** 3,28**
Resíduo 12 0,24 0,34 0,14 0,17
Houve uma variação significativa no teor de artemisinina
tanto entre os tratamentos quanto ao decorrer do período
de armazenamento (Figura 1).
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem
entre si pelo teste de Tukey (5%); Tratamentos, com
vácuo ambiente; CVA, sem vácuo ambiente; SVA, com
vácuo refrigerado; CVR, sem vácuo refrigerado; SVR.
Figura 1: Teor de artemisinina em amostras de
A.annua em função dos tratamentos de
armazenamento durante o tempo.
Devido à variação do teor de água nas amostras
armazenadas, os resultados do teor de artemisinina foram
corrigidos conforme os seus valores correspondentes na
Tabela 2.
Durante os 30 primeiros dias houve uma diferença
expressiva entre os tratamentos de SVR em relação aos
demais. Essa característica se manteve contínua durante
quase todo o tempo de armazenamento. No período de
180 dias os tratamentos de SVR e CVR se assemelham,
não havendo diferença significativa entre os mesmos.
O mesmo comportamento foi observado no tratamento
de CVR que manteve praticamente estável o teor de
artemisinina. No entanto, o teor de artemisinina não
diferiu entre os tratamentos, aos 30 e 120 dias, sem
diferença significativa em relação aos ambientes de
armazenamento, enquanto que aos 90 e 180 dias, se
assemelhou ao SVR. Os tratamentos em temperatura
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ambiente (CVA e SVA), estaticamente apresentaram
resultados inferiores aos de temperatura refrigerado
(CVR e SVR).
A manutenção e conservação de princípio ativo também
foi avaliado no armazenamento de Sphagneticola
trilobata em embalagens de vidro, polipropileno e papel
metalizado por período de 12 meses, sob condição
ambiente (20-25ºC) e refrigerado (5ºC). Os resultados
avaliados mostraram que, em condição refrigerada,
houve uma maior preservação de tanino do que em
condição ambiente. Sob-refrigeração, a concentração de
tanino nas embalagens e no período de armazenamento
ficou entre 1,10 e 1,64%, com média acima de 1%. A
embalagem de papel metalizado preservou melhor a
concentração de tanino durante todo o tempo de
armazenamento, sendo de 1,34% (3 meses), 1,13% (6
meses), 1,35% (9 meses) e 1,64% (12 meses). A maior
preservação da concentração de tanino (FIDELIS et al.,
2005).
3.1 Quantificação do teor da artemisinina em relação
ao tempo de armazenamento
Verificou-se efeito significativo com relação ao tempo
de armazenamento para o teor de artemisinina (Figura
2).
(A)
(B)
(C)
(D)
(A) Com vácuo ambiente, (B) Sem vácuo ambiente, (C)
Com vácuo refrigerado, (D) Sem vácuo refrigerado.
Figura 2: Variação do teor de artemisinina durante
o tempo de armazenamento.
O gráfico (A) mostra que houve um declínio no teor de
artemisinina nos primeiros 30 dias de armazenamento,
mantendo-se estável até os 90 dias, após este período
houve aumento do teor com posterior redução. O
tratamento sem vácuo ambiente (B) foi o que melhor
manteve uma tendência. Houve um declínio consideravel
no teor de artemisinina durante os primeiros 30 dias,
mantendo-se assim até o final dos 180 dias.
No tratamento, com vácuo refrigerado (C) o teor de
artemisinina nos 30 primeiros dias caiu
consideravelmente, voltando a subir entre 30 e 90 dias de
armazenamento, caindo novamente nos 120 dias e
mantendo constante até os 180 dias. Este tratamento foi
o menos estável. O tratamento sem vácuo refrigerado
(D) mesmo perdendo teor de artemisinina nos primeiros
30 dias manteve-se praticamente constante até 120 dias,
aos 150 dias de armazenamento houve um pequeno
declínio no teor de artemisinina até os 180 dias.
4 CONCLUSÃO
O tratamento mais eficiente para a conservação da droga
vegetal foi o sem vácuo refrigerado (SVR). Este
tratamento proporcionou a melhor manutenção do teor
de artemisinina durante o período de armazenamento,
comparado aos demais tratamentos. Houve diferença
significativa entre os tratamentos, sendo que aqueles
mantidos sob-refrigeração foram os que melhor
preservaram o principio ativo de A. annua. O fato das
amostras terem sido armazenadas em geladeira, fez com
que elas mantivessem o teor de água estáveis, ou até
mesmo reduzido, fazendo com que a artemisinina
sofresse uma degradação mais lenta durante todo o
período. Além disso, não se verificou alterações
significativas, em termos microbiológicos, entre os
tratamentos aplicados.
Cervezan et al. Avaliação Fitoquímica e Microbiológica da...
Energ. Agric., Botucatu, vol. 28, n.4, p. 270-276, outubro-dezembro, 2013. 276
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