UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” PÓS-GRADUAÇÃO EM TELEVISÃO DIGITAL: INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO Licínia de Freitas Iossi TV DIGITAL SOB A PERSPECTIVA PUBLICITÁRIA: UMA ANÁLISE DO ADVERTAINMENT NA NARRATIVA AUDIOVISUAL Bauru – SP Abril 2011 Licínia de Freitas Iossi TV DIGITAL SOB A PERSPECTIVA PUBLICITÁRIA: UMA ANÁLISE DO ADVERTAINMENT NA NARRATIVA AUDIOVISUAL Trabalho de Conclusão de Mestrado apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Televisão Digital: Informação e Conhecimento, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do título de Mestre em TV Digital, na área de concentração Comunicação, Informação e Educação em Televisão Digital, sob a orientação da Profa. Dra. Letícia Passos Affini. Bauru – SP Abril 2011 Licínia de Freitas Iossi TV DIGITAL SOB A PERSPECTIVA PUBLICITÁRIA: UMA ANÁLISE DO ADVERTAINMENT NA NARRATIVA AUDIOVISUAL Área de Concentração: Comunicação, Informação e Educação em Televisão Digital Linha de Pesquisa: Gestão da Informação e Comunicação para Televisão Digital Banca Examinadora: Presidente/Orientadora: Profa. Dra. Letícia Passos Affini Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Prof. 1: Prof. Dr. Marcos Américo Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Prof. 2: Prof. Dr. Paulo César da Silva Teles Instituição: Universidade Estadual de Campinas Resultado: Bauru, ______/___________________________/_________ Dedico este trabalho a Deus por me dar vida e força em mais uma jornada. Dedico este trabalho a minha mãe querida por ser a maior incentivadora e referência na minha vida! AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a minha família de sangue, por me dar tantas alegrias e torcer pela minha felicidade e sucesso. Principalmente aos meus pais Maria Tereza e Ademir e ao meu irmão Murilo. Aos meus avós e avô, aos meus tios, tias, primos, primas que são pessoas preciosas e sempre presentes. Agradecer também aos meus amigos que sempre me apoiaram em momentos difíceis, e que por muitas vezes seguraram minha mão e ofereceram um sorriso amigo. Amigas como Fernanda Braghetto, Fernanda Fabrini, Vanessa Calixto e Katherine Scaliaris e que se tornaram minhas irmãs de coração ao longo desses anos! Aos amigos Rene Lopez, por estar sempre do meu lado, Joana Lemos, Fernando Geloneze, Juliana Ramos, Marcia Rebelato, Lígia Perassoli, Maíra Vitaliano, Fabíola Camilo, Lisandra Amaral, Fernanda Testa, Hélio Maziviero, Fábio Cardoso, Rodrigo Denubila por escutar tanto sobre monografia e mesmo assim continuar conversando comigo! Um agradecimento especial a amiga Stella Ribeiro Corrêa que apesar de não ver há tempos, me ajudou com o login e a senha da globo.com, em que eu puder assistir aos capítulos da novela Ti-ti-ti, corpus desta pesquisa. E muitos outros que de alguma maneira fizeram parte desta trajetória. Amigos esses que jamais poderei esquecer. Agradecer ao Programa de Pós-Graduação em TV Digital e à UNESP. E por fim, agradecer a minha orientadora Profa. Dra. Letícia Passos Affini pela contribuição na elaboração desta dissertação. Sem vocês nada disso seria possível! Obrigada a todos! IOSSI, L. F. TV Digital sob a perspectiva publicitária: uma análise do advertainment na narrativa audiovisual. 2011. Trabalho de Conclusão (Mestrado em Televisão Digital: Informação e Conhecimento) – FAAC – UNESP, sob a orientação da Profa. Dra. Letícia Passos Affini, Bauru, 2011. RESUMO As transformações na publicidade e na propaganda estão ocorrendo devido ao avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), proporcionando quebra de paradigmas e modificando o modo de como assistimos à televisão, e isso, consequentemente, afeta o modelo de negócio desse meio que será alterado, pois o conceito de grade televisiva não será prioridade, sendo assim, os blocos de intervalos comerciais perdem seu principal motivo, e a televisão a fim de manter os anunciantes como patrocinadores da TV está levando os comerciais para dentro do programa. Essas transformações no modelo de negócio analógico, que traz a publicidade nos intervalos comerciais e a pluralidade de novos caminhos que a televisão digital possibilita, levam-nos a pensar sobre as direções que a publicidade irá tomar, isso porque a partir do momento que o telespectador tem a possibilidade de escapar do comercial, a publicidade e a propaganda terão de pensar uma nova forma de chamar a atenção, atrair e conquistar o telespectador, porque o atual modelo de negócio não comportará as novas possibilidades da televisão digital, buscando nova forma de patrocínio e financiamento. A fim de explorar a relação, publicidade e público no novo modelo de negócio, encontramos o advertainment que, segundo palavras de Walter Longo, promove a “sinergia entre emoção e informação, integração de marcas e produtos no ambiente editorial dos veículos de comunicação” (LONGO). Isso se faz necessário, porque com a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T), os telespectadores serão participativos, definindo e assistindo ao que desejam, na hora e local em que desejam com a nova plataforma. É nessa conjuntura que surgem as preocupações das agências de publicidade e propaganda, ao perceberem que o telespectador pode simplesmente não assistir a um determinado comercial, ou mesmo ignorar todo o bloco de publicidade. Palavras-chave: Audiovisual. TV digital. Publicidade. Modelo de negócio. Advertainment. ABSTRACT The transformations are occurring due to advance of Information and Communication Technologies and providing breaking paradigms, modifying the way we watch television, and this therefore affects the business model of the media which will be changed, because the TV grid concept won’t be a priority, so the advertising spaces lose their main reason, and in order to keep advertisers as sponsors, the TV managers are bringing the commercials into the shows. These changes in the analog business model that brings advertisement in commercial breaks and a plurality of new ways that digital television provides, leads us to think about the directions that the advertisements will take. From that moment the viewer has the possibility to escape from the commercial, advertising and propaganda have to think a new way to draw attention, attract and capture the viewer, because the current business model does not contain the new possibilities of digital television, trying new form of sponsorship and funding. In order to explore the relation between advertisement and public in a new business model, we found the advertainment which in Walter Longo’s words the advertainment promotes “synergy between emotion and information, brands and products integration in the editorial environment of the media" (LONGO). It is necessary because with the implementation of the Brazilian System of Digital Terrestrial Television (SBTVD-T) viewers will be participatory, setting and watching what, when and where they want with the new platform. It appears at this conjuncture the concerns about advertisers and advertising, when it is realized that the viewer cannot simply watch a particular commercial, or even ignore the entire commercial break. Keywords: Audiovisual. Digital TV. Advertising. Business model. Advertainment. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1: Gráfico do faturamento do bolo publicitário de 2010 22 Ilustração 2: Comunicação por conteúdo 50 Ilustração 3: Fachada da FAAP 76 Ilustração 4: Mural da FAAP 77 Ilustração 5: Relação de equilíbrio e tensão 78 Ilustração 6: Mural da FAAP 79 Ilustração 7: Mural da FAAP 79 Ilustração 8: Mural da FAAP 80 Ilustração 9: Hall de entrada da FAAP 81 Ilustração 10: Exposição da FAAP 82 Ilustração 11: Exposição da FAAP 83 Ilustração 12: Exposição da FAAP 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 REVISÃO TEÓRICA: PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 19 2.1 O panorama da TV pelo viés publicitário 19 2.2 Aspectos gerais da publicidade 25 2.3 O novo consumidor na convergência midiática 39 2.4 Informação versus atenção 45 2.5 Modelo de negócio: Advertainment 52 2.6 Teledramaturgia 58 2.6.1 Telenovela Ti-ti-ti 2010 64 3 METODOLOGIA 67 3.1 Método 70 4 RESULTADOS 75 4.1 Análise: atenção 75 4.2 Análise: interesse e desejo 85 5 DISCUSSÃO 90 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 95 Referências 99 Glossário 108 Apêndice 113 1 INTRODUÇÃO De tempos em tempos, a sociedade passa por transformações em todos os âmbitos, sejam eles econômicos, estruturais, tecnológicos, sociais, culturais ou comportamentais. Nesse contexto a sociedade se reorganiza, se adapta e modifica suas instituições fundamentais. Nos últimos anos, observamos uma infinidade de tecnologias que aceleraram esse processo de mudança. Atualmente dividimos o tempo com os diferentes meios de comunicação. O cinema divide o espaço com a televisão, que por sua vez cede lugar à Internet, que está ao mesmo tempo em sintonia com rádio ou qualquer outra mídia recente. Diferentemente do que muitos apregoavam, todos os veículos de comunicação encontram seu lugar na sociedade e cada vez mais fazem parte do cotidiano e da vida de milhões de pessoas. Tudo isso ainda sem dar conta do quanto as mídias influenciam o comportamento humano, de como as informações são digeridas e processadas por cada indivíduo. Não só as mídias aumentaram, mas todo o seu conteúdo, como por exemplo a avalanche de informações que nos deparamos todos os dias, incluindo dezenas, centenas e milhares de publicidades espalhadas nos veículos de comunicação. Nesse contexto é necessário refletir sobre a relação entre as transformações tecnológicas e as mudanças comportamentais com o consumo da publicidade, foco de atuação desta pesquisa. O estudo propõe novos conceitos em publicidade como o advertainment1, visando à aplicação para a televisão digital, técnica que integra publicidade, informação e entretenimento na mesma peça ou campanha publicitária. Martínez Sáez (2005, p.1) descreve o advertainment como, “la contraccíon de los vocablos “advertaising” y “entertainment” que se unen para designar aquellos mensajes que resultan ser um híbrido entre publicidad y entretenimient”. Em outras palavras, o advertainment é a integração de um conteúdo relevante, seja um filme, uma novela, um programa de auditório, uma revista ou um jogo de computador em que a publicidade ou a marca de um anunciante esteja totalmente integrada com esse conteúdo e também podendo ser patrocinador do conteúdo. 1 Advertainment: junção das palavras em inglês advertising e entertainment, designando publicidade e entretenimento na mesma ação. Essa estratégia não é exclusiva da mídia televisiva, mas tem obtido destaque nesse meio. No Brasil encontram-se exemplos claros dessas ações, como o Estúdio Coca-Cola MTV, em que a própria marca resultou no nome do programa. O programa apresentava, ao mesmo tempo, um conteúdo de entretenimento para o telespectador e ao fundo a marca Coca-Cola sendo evidenciada. O advertainment significa de fato uma parceria entre o anunciante e um conteúdo editorial, em que ambos passam a integrar a proposta de entretenimento. Esse tipo de estratégia publicitária tem obtido destaque nas mídias devido às mudanças tecnológicas e comportamentais. O avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tem proporcionado a quebra de paradigmas e modificado o modo de como assistimos à televisão. Dentre as transformações podemos citar a grande quantidade de meios de comunicação que pulverizam os telespectadores em mídias como televisão, rádio, jornais, revistas e Internet. Outro aspecto se refere à introdução do controle remoto que permitiu aos telespectadores a escolha por novos conteúdos durantes os intervalos comerciais. Esse processo, denominado efeito zapping, tornou-se mais frequente com a difusão da televisão por assinatura, disponibilizando em diferentes canais uma programação mais diversificada e direcionada. Isso consequentemente afetará o atual modelo de negócio da TV, baseado na venda de espaços publicitários nos intervalos comerciais. E com a chegada da TV digital essa demanda de transformações se intensificará, já que ela possibilitará novas conexões com o conteúdo. Uma delas é o video-on-demand2 (VoD), com o qual o telespectador escolhe um produto audiovisual pago dentre vários disponibilizados pela emissora para assistir na hora que lhe for mais conveniente. Outro motivo que faz com que seja repensado o modelo publicitário é descrito por segundo Baradon (2006, p. 49). Para o autor, novas tecnologias anti- 2 Video on Demand: Vídeo sob demanda, abreviatura VoD de video on demand, em inglês, é uma solução de vídeo sobre xDSL, ou outra tecnologia banda larga. Por meio de uma página web na tela da TV, o assinante pode escolher diferentes tipos de filmes e programas de TV que estejam disponíveis em VoD. A solução consiste em enviar conteúdos em formato de vídeo, karaokê, jogos, etc. - sob demanda ou continuamente - utilizando redes de banda larga de operadoras de comunicação. Assim, o usuário receberá conteúdos com qualidade de imagem semelhante ao DVD, no momento que desejar e sem sair da sua casa. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADdeo_sob_demanda >. Acesso em: 21 out. 2010. break estão surgindo, como o TiVo3, tipo de PVR (personal video recorder), aparelho semelhante ao videocassete que consegue distinguir o que é conteúdo comercial do conteúdo editorial, permitindo gravar em seu HD4 somente os programas de interesse do telespectador. Assim, o conceito de grade televisiva não será prioridade na televisão digital, e os blocos de intervalo comerciais irão perder seu principal motivo que é a veiculação de conteúdos publicitários. É nessa conjuntura que surgem as preocupações das agências de publicidade, uma vez que o telespectador não será mais “obrigado” a assistir a um determinado comercial. A pluralidade de novos caminhos que a televisão digital possibilita, leva-nos a pensar sobre as direções que a publicidade irá tomar. A publicidade terá de repensar em como chamar a atenção, atrair e conquistar o telespectador, já que o atual modelo de negócio não comportará as novas possibilidades da televisão digital. Nesse sentido, a saída será levar os comerciais para dentro dos programas televisivos, a fim de manter os anunciantes como financiadores das produções audiovisuais. A fim de explorar a relação, publicidade e telespectador em um novo modelo de negócio, encontramos o advertainment, que segundo Walter Longo promove a “sinergia entre emoção e informação, integração de marcas e produtos no ambiente editorial dos veículos de comunicação” (LONGO, 2003). Contudo, essa transição de formatos publicitários – do comercial tradicional já consolidado para um mercado em expansão como o advertainment – como aponta Walter Longo é um campo ainda nebuloso para as agências de publicidade. A partir de leituras sobre o assunto, verificamos que há certas divergências entre os publicitários. Alguns alegam que a publicidade na televisão, que sustenta o atual modelo de negócio, não irá mudar, porém outros já estão se preocupando com as transformações que os meios digitais estão proporcionando à sociedade. Desse modo, algumas agências estão transformando seu foco de atuação para as novas práticas de publicidade, como é o caso das agências de 3 Página da Internet do TiVo: http://www.tivo.com/ 4 HD: derivação do hard disk, ou em português disco rígido é a parte do computador onde são armazenados os dados. Wikipedia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Disco_r%C3%ADgido >. Acesso em: 14 jul. 2010. Comunicação de Conteúdo (Branded Content) Selulloid AG e Synapsys, na cidade de São Paulo. Apesar das diferentes nomenclaturas, verificamos a proximidade das propostas entre advertainment e comunicação por conteúdo: Es decir, en las que se busca integrar los valores de una marca em un contenido que pode ser de entretenimiento, información o educacación. (...) Evidentemente, para lograr que esta fusión sea efectiva, ha de realizarse um cuidadoso trabajo de branding o construcción de marca, que permita llevar el valor de la marca a otros soportes mediáticos. (GUADALUPE, 2008) Porém, outras agências ainda se concentram em formas clássicas, com pouca inovação e nem sempre atentas a possíveis mudanças que possam ocorrer na área. Novas publicidades já podem ser encontradas como as propagandas interativas, ainda que usando o computador e a Internet como plataformas. Exemplo disso é a propaganda do Tipp-Ex5, um corretivo de caneta que interage com o espectador, permitindo que o usuário escolha entre diversas opções possíveis de interatividade. Mesmo assim, é preciso pensar em novas abordagens, novos tipos de interações com os consumidores para uma nova plataforma que está se estruturando com a televisão digital que possibilita a criação de novas propostas publicitárias. Cabe ressaltar que o caminho de transição entre a plataforma analógica para a digital é gradativa e lenta, mas que publicidade tem de se adequar à nova plataforma e com isso propor novos métodos de conquistar o consumidor que está disperso em diversos meios de comunicação. Nesse sentido, como apresentar mensagens publicitárias para o meio televisivo se o avanço tecnológico fez com que muitas mídias concorressem simultaneamente, fragmentando a atenção do telespectador que busca por conteúdos a todo o momento. Ao mesmo tempo em que ao ser bombardeado por tantas formas de publicidades ele se torna resistente para se deixar seduzir pelas clássicas propagandas nos intervalos comerciais? Para compreender o atual cenário em que se encontra a televisão e sua ligação direta com a publicidade, é necessário recorrer ao modelo de negócio implantado na década de 1950 no Brasil. A estrutura na qual a televisão se consolidou no país é devido a uma ação conjunta de emissoras e de anunciantes, criando e adaptando-se com os avanços econômicos, sociais e tecnológicos que 5 A propaganda do Tipp-Ex pode ser encontrada na página da Internet. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=4ba1BqJ4S2M&feature=related >. Acesso em: 20. Set. 2010. surgiram com o tempo. Os anunciantes eram os grandes patrocinadores no início da televisão, porém isso mudou com o novo padrão de televisão implantado pela Rede Globo, baseado em grades horizontais e verticais, da antiga TV Excelsior. A grade de programação se consolidou no Brasil com a Rede Globo na década de 1970 e dispôs de espaços específicos para serem comercializados para a publicidade, surgindo, no entanto, os intervalos comerciais. Ou seja, a interrupção da programação para a entrada de propagandas. Assim, os anunciantes tiveram de se adequar ao novo cenário televisivo, tornando-se esse o modelo-padrão nas emissoras de TV. Porém, com o avanço tecnológico, as publicidades televisivas que detinham grandes prestígios no auge da TV, começaram a concorrer com outras mídias, incorporadas à sociedade. O aumento dos meios de comunicação permitiu a competitividade entre os intervalos comerciais da TV com outras mídias. Em decorrência, a publicidades nesses espaços vêm perdendo seu atrativo, principalmente pelo fato de interromper a narrativa assistida pelo telespectador. Além disso, no intervalo o telespectador pode sair de frente da TV, mudar de canal ou mesmo não prestar atenção à mensagem publicitária. Esses fatores, aliados a estudos sobre o comportamento do consumidor e a atenção desde as inserções comerciais, motivaram o mercado publicitário a questionar a eficácia do break. Dessa forma, os anunciantes passaram a reavaliar seus investimentos e utilizar novas alternativas de mídia. (BARADON, 2006, p. 48) Complementando essa ideia, Walter Longo, reforça que “a briga não é mais pela audiência e sim pela atenção”. O break pode estar com uma audiência satisfatória, mas isso não garante que o público esteja prestando atenção à mensagem (LONGO, 2003). Mas ao assistir a um programa, o telespectador está interessado e imerso no conteúdo, em um momento relaxado e descontraído. Ao perceber que a atenção do telespectador é voltada para o conteúdo, as inserções publicitárias passaram a integrar as narrativas, ainda que de forma principiante. As primeiras inserções aconteceram no final da década de 1960, mais precisamente em 1969 na novela Beto Rockfeller com o antiácido efervescente Alka Seltzer da Bayer, mas ganhou visibilidade na novela Dancing Day’s em 1979 onde a personagem Júlia, interpretada pela atriz Sônia Braga, usava calça jeans da marca Staroup. Porém, é na década de 1980 que esse tipo de publicidade, o merchandising editorial6 como é conhecido no Brasil, se consolida, e atualmente ganhando cada vez mais espaço na mídia televisiva (HAVRO, 2008). Contudo, as proporções que o merchandising editorial tomou e o uso desenfreado dessa técnica fizeram com que as publicidades não fossem integradas com as narrativas. No entanto, como sugere Walter Longo, ainda é uma estratégia eficaz para contornar a perda pelos clássicos comerciais, mas que precisa ser reformulada sua proposta de abordagem. A comunicação que envolve o relacionamento, a simbiose e a integração entre a publicidade o conteúdo é um caminho irreversível e com muito potencial de crescimento. Mas acho que no Brasil ainda somos especialistas em interrupção. Ainda não sabemos fazer esta chamada comunicação por conteúdo de forma que faça parte de um enredo. Ainda hoje fazemos merchandising que interrompe os programas para passar a nossa mensagem quando na verdade isso deveria estar integrado. Hollywood é um exemplo disso há anos porque coloca diversas marcas dentro do conteúdo que desce naturalmente. Ninguém precisa parar para ver uma marca porque ela faz parte do nosso dia-a-dia (LONGO, 2007). Um exemplo está no filme “Náufrago” do diretor Robert Zemeckis, lançado em 2000, em que há referências bem definidas sobre a marca FedEx e Wilson. Tanto uma como a outra fazem parte do contexto, caso contrário, muito da riqueza da narrativa teria se perdido. A publicidade se torna importante para o desenvolvimento da história. Nesse ponto é interessante observar que o cinema aproveita-se da publicidade e o faz de forma natural, sutil, integrada, sem agredir a percepção do espectador. Porém, quando se observa o mesmo formato na TV, as marcas parecem se apresentar quase sempre sem um contexto para serem inseridas. Isso se deve a um fator cultural, pois acostumamos a ver TV sem marcas ou rótulos, diferentemente do que aconteceu com o cinema, em que a publicidade desde o início se fez presente na integração com as narrativas. 6 Merchandising Editorial/Tie-In. Quando um produto, marca, empresa ou serviço aparece é citado, consumido ou utilizado em um filme de longa-metragem (para cinema ou TV), programa de televisão, revista, jornal, livro ou qualquer outro veículo de comunicação – em uma ação integrada ao desenvolvimento da trama editorial e pertinente a seu contexto – por encomenda e mediante pagamento feito pelo anunciante, estamos diante do merchandising editorial ou tie-in. Nos esportes, eventos artísticos, musicais e comunitários, a presença de marcas, slogans, símbolos ou cores no espaço cênico, material promocional, propaganda, decoração, objetos, veículos e roupas dos participantes desses acontecimentos também é uma ação de merchandising editorial ou tie-in. (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 231-232) Mas o mercado publicitário brasileiro está mudando e apresentando exemplos bem estruturados de advertainment, como é o caso da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) na novela Ti-ti-ti. Nela a publicidade da instituição entra como coadjuvante dos personagens que frequentam os ambientes da faculdade, divulgando os espaços, as exposições, palestras e os próprios cursos da FAAP que servirão como corpus de análise para esta dissertação. De acordo com as transformações que vêm acontecendo na sociedade, o objetivo geral desta pesquisa é apresentar as mudanças de paradigmas na área publicitária. Isto se deve ao fato das alterações tecnológicas e das novas possibilidades que o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre permitirá aos telespectadores, e assim estudar novos formatos de publicidade para o novo suporte. Sendo assim, o escopo do estudo pretende fazer um breve histórico descritivo da publicidade na televisão brasileira; apontar tendências da publicidade no contexto da mídia televisiva com destaque para o advertainment; e por fim apresentar um estudo de caso da novela Ti-ti-ti (2010) que integra entretenimento e publicidade no conteúdo, destacando a inovação do advertainment. Como metodologia aplicada ao projeto para atingir os objetivos, buscamos por meio de pesquisas bibliográficas em livros, revistas científicas, teses, como também pesquisas exploratórias encontradas em revistas, jornais, páginas de Internet e filmes para a construção da revisão de literatura. Estas pesquisas logo no princípio foram necessárias para identificar quais os estudos já abordados por outros pesquisadores na área e para ampliação do conhecimento, a fim de oferecer diretrizes para o trabalho a ser desenvolvido. Após a revisão da literatura, o projeto dispõe de uma análise do estudo de caso proposto por Robert K. Yin (2001) na telenovela Ti-ti-ti em que a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) apresenta uma ação de advertainment. Para a estruturação da análise, será utilizada a metodologia denominada IMRAD, acrônimo de Introduction, Methods, Results And Discussion. Este método visa a explorar de forma objetiva o tema, assim a introdução faz referência ao estudo da literatura e o porquê de o estudo ter sido realizado; o método ao material utilizado e como foi conduzido; os resultados resumem o que foi encontrado; e a discussão que explica e interpreta os resultados encontrados, comparando com a revisão de literatura. Esse tipo de metodologia é pertinente ao estudo em questão, pois o caráter profissionalizante do mestrado em TV digital exige uma postura mais direta e próxima das discussões acerca do assunto. Desse modo, a dissertação está demarcada em um primeiro momento pela revisão de literatura acerca dos temas pertinentes. São discutidos assuntos relativos à evolução da TV abordando seu lado comercial; as características da publicidade; a recente mudança no comportamento do consumidor; a relação entre informação e atenção; novas tendências no modelo de negócio para a TV digital; e a teledramaturgia como suporte para a publicidade. Após a revisão, estruturam-se a metodologia e o método para a análise do estudo de caso. Em seguida discorremos sobre os resultados da análise na novela Ti-ti-ti (2010). Finalizando a estrutura do IMRAD, elaboramos a discussão dos resultados com base no referencial teórico proposto no projeto. E por último, as considerações finais sobre a pesquisa, apontando novos temas para futuras pesquisas. 2 REVISÃO TEÓRICA: PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS 2.1 O panorama da TV pelo viés publicitário Desde a implantação da televisão no Brasil na década de 1950 com Assis Chateaubriand, a estrutura televisiva já nascia com uma visão norte-americana, baseada no modelo comercial. Sendo assim, desde o início, a publicidade e a propaganda sempre estiveram presentes na televisão brasileira. Apesar de ter sido pouco expressiva no começo, isso não impediu que a visão vanguardista de Assis Chateaubriand fizesse uma negociação antecipada com grandes empresas como Sul-América Seguros, Moinho Santista, Cervejaria Antártica e empresas Pignatari para gerar capital para a cobertura dos custos da implantação da televisão no Brasil (MATTOS, 2002, p. 69-70). Outro fator importante que levou ao modelo comercial no Brasil, é que não houve desde o início o interesse do governo nacional em instalar uma emissora pública ou estatal no país, administrada pela própria federação. Segundo Almeida (2003), o governo disponibilizou as concessões dos canais para as empresas privadas, reforçando o modelo dominante de TV comercial no país, porém não totalmente isenta de intervenções estatais (ALMEIDA, 2003, p. 24-25). O domínio das empresas particulares frente aos meios de comunicação pode ser verificado pelas principais emissoras instaladas no país com relação às emissoras públicas que, por sua vez, detêm pouca expressividade na vida da maioria dos telespectadores. A presença de emissoras públicas ou estatais, a representatividade e expressão não muito alta destes canais na televisão nacional, somada às experiências que, em geral apresentaram-se ao longo do tempo como fragmentadas e restritas a limites regionais, colaborou para que grande parcela do sucesso da televisão junto ao público recaísse sobre a TV comercial, nos moldes de um modelo alimentado pela iniciativa privada, que resultou em uma programação direcionada aos gostos da massa, com a finalidade de atrair cada vez mais audiência e agregar valor de mercado a uma estrutura de negócios prioritariamente comercial. (GALVÃO, 2008, p. 12-13) Isso permitiu que a televisão brasileira desde seu início fosse controlada por empresas privadas, construindo uma mídia inteiramente comercial. Essas empresas ligadas ao início da TV vinham de outros grupos de comunicação como rádio, jornais e revistas, como o já citado Diários Associados de Assis Chateaubriand. Apesar de a nova mídia ter começado de maneira bastante inexperiente, sem uma linguagem e características próprias, sofrendo adaptações do rádio, o mercado publicitário encontrou na televisão um campo promissor para a divulgação de produtos e serviços. Contudo, alguns fatores foram essenciais para que a publicidade se consolidasse na televisão. Com o florescente meio, as grandes agências de publicidade – em princípio agências estrangeiras com grande experiência – percebendo o seu potencial direcionam seus clientes para a nova mídia e lançaram- se como pioneiras das novas formas de veiculação comercial. A popularização do aparelho nos anos de 1960 também foi de suma importância para a intensificação da publicidade na TV. Pois com o aumento do número de aparelhos, a abrangência da nova mídia atingiu um maior volume de telespectadores que se encantava com os artistas e cantores favoritos por meio das imagens e sons fornecidos no conforto da sala de estar com a TV. O prazer de assistir à TV fez com que a televisão passasse de artigo de luxo para artigo de consumo, trazendo milhões de espectadores para o novo veículo. As agências de publicidade, ao perceberem que os custos de produção de uma campanha publicitária feita para a TV eram inferiores do que uma campanha feita para outros meios, fizeram com que o mercado publicitário obtivesse grandes êxitos. Essa relação era possível porque o alcance de telespectadores era muito maior se comparado com as outras mídias. Assim, a televisão passou a ser um valioso veículo de promoção e divulgação de produtos ou bens de consumo para a população. Devido à intensificação de um perfil mais urbano e um maior consumo na sociedade, as brigas pelas verbas publicitárias começam a se acirrar na década de 1960. A TV, por sua vez, assume cada vez mais seu caráter comercial em busca de novos rendimentos e a conquista de uma maior audiência (ÁVILA, p. 36). Com a formação da Rede Globo, ainda na década de 1960, um novo patamar de como se fazer televisão se instalava no país, fragilizando as outras emissoras. Para conseguir tal objetivo, a Globo contratou a empresa norte-americana Time-Life que a instruiu sobre a gestão comercial de uma emissora de televisão. As mudanças ocorreram em vários setores dentro da TV Globo, tanto na parte administrativa quanto na estrutura de programação da emissora, permitindo que alcançasse um nível de qualidade superior em comparação às outras emissoras da época. Uma das mudanças foi em relação aos anunciantes, que na década de 1950 eram os grandes patrocinadores e que, pelo menos em parte, detinham a autonomia sobre a produção dos programas televisivos. A Rede Globo como forma de reaver o controle sobre os programas herda da antiga TV Excelsior a programação baseada em grades horizontais e verticais. As grades horizontais, segundo Borelli e Priolli (2000), representam “a colocação de um programa ao longo da semana ou do mês, em um mesmo horário”; e a grade vertical “se traduz por uma seqüência ao longo do dia que vai sendo repetida semana a semana, mês a mês” (BORELLI; PRIOLLI, 2000 p. 81). Este conceito de grade se consolidou no Brasil na década de 1970 com a Globo dispondo de espaços específicos entre os programas para serem comercializados por empresas que queriam anunciar seus produtos. Segundo Ávila, esse sistema comercial “consiste na venda de tempo a diferentes preços, dependendo do tipo de programa e seu volume de audiência. Um mecanismo simples e efetivo: à maior audiência corresponde intervalo-padrão de tempo mais caro”. (ÁVILA, 1982, p. 41). Em outras palavras o mesmo autor ainda complementa que existe uma relação entre os espaços comerciais dos programas de maior ou menor audiência e o preço fixado pelas emissoras; à maior audiência do programa corresponde também maior preço de seu intervalo comercial, pois a audiência representa, em outras palavras, as oportunidades de comunicação e contato com um número de possíveis consumidores. (ÁVILA, p. 68) Essa forma de negociação entre o programa e/ou horário em que a publicidade é veiculada ainda está em vigor nos dias atuais, isto porque quanto maior for o alcance do anúncio sobre o número de telespectadores, maior será a audiência e consequentemente maior a probabilidade de vendas e lucros da empresa anunciadora. Como exemplo, temos o horário nobre, que recebeu esta denominação justamente por obter um elevado número de telespectadores na faixa em que vai ao ar. Ao conquistar forte notoriedade em relação aos outros meios da época, a televisão passou a adquirir volumosas verbas publicitárias, pois alcançava uma grande quantidade de telespectadores. Com a implantação da grade vertical e horizontal, as empresas deixaram de promover os programas como patrocinadores e passaram a anunciar nos intervalos comerciais, mantendo o caráter comercial da TV brasileira. Devido a isso, a construção da televisão brasileira, como a conhecemos hoje, corresponde a uma ação conjunta entre emissoras e anunciantes, criando e adaptando com os avanços econômicos, sociais e tecnológicos que surgiram com o tempo. Contudo, a estrutura comercial e o modelo de negócios atualmente ainda não foram alterados, pois os spots comerciais de trinta segundos ou seus derivados continuam atuando fortemente nos intervalos televisivos. Normalmente são as publicidades inseridas nos intervalos que garantem a arrecadação de capital para a produção de diversificados produtos audiovisuais para a TV. De acordo com Vitor Belotti (2010), uma análise comparativa do bolo publicitário, a TV aberta continua sendo o principal veículo para a publicidade, chegando a 63% do total, apesar do maior crescimento em investimento estar na Internet. O gráfico a seguir mostra a divisão em faturamento, demonstrando claramente o poder da televisão em relação às outras mídias. A divisão fica distribuída da seguinte forma: TV aberta com 63,2%; jornal com 13,2%; revista com 6,1%; rádio com 4,6%; Internet com 4,5%; mídia exterior com 3,7%; TV por assinatura com 3,3%; guias e listas com 1,2%; e cinema com 0,2%. (BELOTTE, 2010) Ilustração 1: Gráfico do faturamento do bolo publicitário de 2010 Fonte: www.vitorbellote.com.br Mesmo com o alto investimento em publicidade nos meios massivos de comunicação – principalmente na televisão –, as novas mídias têm adquirido parte do montante publicitário. Para que os veículos de comunicação convencionais não fiquem para trás, novas maneiras de se fazer propaganda precisam ser reinventadas a cada dia, buscando formas mais criativas e eficazes para divulgar e alcançar o target7. Nesse sentido, as agências precisaram entregar mais do que somente publicidade, precisam estar atentas ao mercado e ao comportamento do consumidor – seu principal alvo. Segundo Lopes (2009), como mostram muitos estudos sobre a sociedade da comunicação e a sociedade globalizada, é necessário repensar a relação da televisão aberta com seu público, que vive um cotidiano marcado pela aceleração das mudanças no seu modo de vida e por fragmentação, enfraquecimento dos laços sociais e encurtamento de sua duração. Por conseguinte, é um erro esperar que o consumo da televisão pudesse ficar incólume a essas mudanças comportamentais.” (LOPES, 2009, p. 105-106) Sendo assim, a televisão precisa se reinventar para continuar como um dos principais meios de comunicação, e, além disso, prosseguir como veículo efetivo de propagação da publicidade, até porque são esses investimentos que garantem a produção e manutenção do veículo. Contudo, mesmo com as transformações ocorridas na sociedade, Lopes e Gómez (2009) acreditam que a queda no investimento de publicidade ainda é pequena, em termos absolutos, pela razão em que houve um aumento de opções de publicidade classificadas como indiretas, como o “brand/product placement, a ‘venda de cenários’ ou a ‘venda de diálogos’, nas quais são introduzidos produtos e serviços em volumes significativos em meio às diferentes narrativas de ficção” (LOPES; GÓMEZ, 2009, p. 58). Além desses, outros tipos também surgirão com a chegada da TV digital que possibilitará novas maneiras de anunciar na plataforma. Entre eles estão os comerciais interativos e o t-commerce. Esse último se apresenta como um 7 “Target é o espectador. A importância de conhecê-lo é a mesma de quando se cria para qualquer outro tipo de peça publicitária: fundamental. Você deve saber o que o target pensa, o que gosta e o que não gosta ver, o que espera do produto, que pontos de sua personalidade são tocados mais facilmente. Quanto mais você conhecer esse paciente-consumidor, mais fácil será entrar em sua mente e colocar lá dentro – na área de “produtos preferidos” – o seu produto.” (BARRETO, 2004, p. 35) desdobramento do e-commerce8, contudo aplicado na TV, e que oferece um novo canal de vendas para os anunciantes, através de “transações comerciais por meio da televisão digital interativa” (GALVÃO, 2008, p. 86). A publicidade na TV digital é um grande desafio, pois há grandes mudanças de paradigmas na economia da atenção, visto que o telespectador tem a possibilidade de escolher entre assistir ou não as publicidades por meio de tecnologias complementares. Essa autonomia e interação do telespectador com a plataforma digital terá profundo impacto para as agências publicitárias tradicionais que necessitaram de novas propostas comerciais que satisfaçam os telespectadores. Segundo Dirceu Lima Filho (2008), “é o marketing de permissão levado ao meio televisivo, em contra-senso ao modelo atual de marketing de interrupção” como afirma. Com essa proposta, o intuito é fazer com que a publicidade seja muito mais sedutora, emotiva e integrada aos hábitos e desejos das audiências, alimentando o consumo de nichos dos consumidores (LIMA FILHO, 2008, p. 9). Entender que a publicidade nasceu com o propósito de divulgação de produtos, serviços ou bens e que se intensificou de acordo com a demanda ofertada pela e/para a sociedade ao longo dos anos, é dar sentido que a publicidade foi se adaptando e sofrendo alterações em sua estrutura. É interessante observar que atualmente não é somente divulgar, mas agregar valor à marca, além de encantar e seduzir o telespectador através de seus valores e histórias. É nesse contexto de mudanças e de tecnologias que a publicidade terá de novamente sofrer transformações e se adaptar para condizer com o novo patamar tecnológico digital que se instaura no país. A publicidade, como parte da economia, tem se convertido em um mecanismo indispensável para o funcionamento e desenvolvimento econômico da sociedade, chegando a ser considerada parte importante dentro da comunicação social que movimenta uma série de fatores estruturantes, tais como os veículos de comunicação, os anunciantes e os próprios consumidores, todos parte de um mesmo processo e de uma mesma economia. 8 E-commerce ou comércio eletrônico é um tipo de transação comercial de compra ou venda feita principalmente através de um equipamento eletrônico, utilizando as tecnologias da informação como a Internet. 2.2 Aspectos gerais da publicidade No mundo contemporâneo, a vivência com a publicidade está espalhada por todos os lados, seja em casa, na rua, nas lojas ou nos meios de comunicação. Mais do que apenas meras publicidades, elas representam marcas, empresas e nossa própria realidade com os produtos com os quais convivemos e interagimos. Dificilmente pensamos em uma vida isenta de publicidade, pois os produtos, bens ou serviços fornecem a representatividade de gostos, atitudes e opiniões das próprias pessoas. Walter Longo (2003) revela que a publicidade é a imagem ou percepção que fazemos das marcas ou empresas. Desse modo, o mesmo autor complementa que no mundo real, somos naturalmente expostos a marcas ou produtos através dos comentários de amigos, visitas aos supermercados e até na mesa do café da manhã. A grife usada pelo artista favorito, o carro que atravessa a nossa frente, tudo são mensagens sub-liminares que fazem parte do nosso cotidiano e que influenciam enormemente nossa imagem ou visão a respeito de determinada marca, produto ou serviço. (LONGO, 2003) Em um primeiro momento, parece que a publicidade sempre está nos rodeando para vender-nos algum produto, bens ou serviços. Porém, hoje em dia, mais do que isso, a publicidade tem a intenção de criar simpatia e fortalecer relações duradouras com os clientes. Mas para compreender essas intenções é necessário conhecer as suas próprias características. Habitualmente nos deparamos com dois termos amplamente utilizados e que geralmente são empregados indistintamente, publicidade e propaganda, como exemplifica Sampaio (1997), em que os termos “texto publicitário”, “publicidade”, “propaganda” ou “anúncio” são expressões equivalentes ou sinônimas. (SAMPAIO, 1997, p. 179). Porém, outros autores atribuem conotações diferentes aos dois termos. Segundo Sant’anna et al. (2009, p. 59), publicidade e propaganda têm origens distintas e não significam a mesma coisa. Para ele, “publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa a qualidade do que é público. Significa o ato de vulgarizar, de tornar público um fato, uma idéia”. Para Gonzales (2003), o termo sofre algumas alterações ao longo do tempo, mas segue o mesmo princípio apontado por Sant’anna. A palavra “publicidade” tem origem no latim “publicus”, que designava, em princípio, o ato de divulgar, de tornar público. Em língua moderna, o termo tinha um uso jurídico, referindo-se à publicação ou leitura de leis, éditos, ordenações e julgamentos. No século XIX, perde o seu sentido jurídico e adquire um significado comercial. Publicidade passa a ser definida como qualquer forma de divulgação de produtos e serviços, por meio de anúncios pagos e veiculados por um anunciante identificado, com fins comerciais. (GONZALES, 2003, p. 25) Em contrapartida, para os mesmos autores propaganda tem outra conotação já na origem do termo. Para Sant’anna et al. (2009, p. 59), propaganda “é definida como a propagação de princípios e teorias”. Complementando, Gonzales (2003, p. 27) define que a “‘propaganda’ tem origem no latim ‘propagare’ que quer dizer propagar, multiplicar e difundir. Fazer propaganda é, portanto, difundir idéias, crenças, princípios e doutrinas”. Em virtude de propaganda estar vinculada com a origem eclesiástica da palavra, a expressão publicidade é mais utilizada, contudo os dois termos são empregados aleatoriamente no Brasil (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 59). Outras definições caracterizam essa ambivalência, pois segundo Vestergaard e Schroder, A propaganda comercial abrange, em primeiro lugar, a chamada publicidade de prestígio ou institucional, em que as empresas não anunciam mercadorias ou serviços, mas antes um nome ou imagem. O que se pretende, nesse caso, não é um incremento imediato das vendas, mas a criação de uma receptividade duradoura junto ao público. (VESTERGAARD, SCHRODER, 2004, p. 1-2) Já para Kotler como: qualquer forma paga de apresentação não pessoal e promocional de idéias, bens ou serviços por meio de um patrocinador identificado. Os anúncios são uma maneira lucrativa de disseminar mensagens, seja para desenvolver uma preferência de marca, seja para instruir as pessoas. (KOTLER, 2006, p. 566) Mesmo com diferentes definições, seu conceito gira em torno da apresentação de produtos, serviços, bens ou mesmo marcas destinados para um determinado público, por meio de uma negociação, seja para vender ou criar relações. Contudo, seguindo as origens dos termos, a preferência dada a esta pesquisa, será em torno do conceito de publicidade, que comercialmente visa à promoção de vendas, assim como convencer, criar e desenvolver uma ideia ou uma relação sobre determinados produtos. Dessa maneira destacam-se algumas características da publicidade: a publicidade é um meio de tornar conhecido um produto, um serviço ou uma marca; seu objetivo é despertar, nos consumidores, o desejo pela coisa anunciada, ou destacar aspectos que diferenciam o produto de seus concorrentes, ou o aumento de seu valor junto ao target; ela faz isso abertamente, sem encobrir o nome e as intenções do anunciante; os anúncios são matéria paga. (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 60) Sendo assim, a publicidade é um ramo da promoção de vendas dentro do marketing. Para Kotler (2006), o marketing se apresenta como “a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais. Para defini-lo de uma maneira bem mais simples, podemos dizer que ele ‘supre necessidades lucrativamente’” (KOTLER, 2006, p. 4). Ou seja, o marketing envolve uma série de outros fatores que influem tanto nas empresas como nos consumidores. E é justamente o que a publicidade dentro do marketing procura viabilizar de formas diversas, na intenção de promover produtos para os consumidores. Porém, segundo Vestegaard e Schroder (2004), essa intensificação na divulgação de produtos, bens, serviços ou ideias só conheceu uma verdadeira expansão, contudo, no final do século XIX. A tecnologia e as técnicas de produção em massa já tinham atingido um nível de desenvolvimento em que um maior número de empresas produzia mercadorias de qualidade mais ou menos igual a preços mais ou menos iguais. Com isso, veio a superprodução e a subdemanda (Turner, 1965:132- 4), tornando-se necessário estimular o mercado – de modo que a técnica publicitária mudou da proclamação para a persuasão. (VESTERGAARD; SCHRODER, 2004, p. 5) É nesse contexto que a publicidade ganha força, pois seu propósito é gerar o consumo de produtos, ainda mais quando existem muitas mercadorias similares. Isso equivale a dizer que, para um produto ser consumido, ele necessita de se destacar diante de outros. É neste cenário que a publicidade entra de maneira a agregar valores aos produtos. Mas ao longo do tempo através das mudanças sociais e tecnológicas que ocorreram na sociedade, a publicidade evoluiu e adaptou suas características a diferentes formas de apresentação para o consumidor. As mudanças sociais, comportamentais e mesmo as novas tecnologias foram essenciais para que a publicidade atingisse as proporções que possui hoje. A publicidade está presente em todos os lugares, e a maior parte delas está nos meios comunicacionais tradicionais como TV, rádio e meios impressos. Adler (2002, p. 20) ressalta que a renda da publicidade e da propaganda representa 100% do total obtido das emissoras de televisão e rádio, e mais de 50% da renda das revistas e jornais, desempenhando papel vital na economia desses veículos. A relação entre publicidade e televisão se prolonga quando Vestergaard e Schroder (2004, p. 6) afirmam que “a novidade mais importante do século XX, não há dúvida, foi o advento de um novo veículo publicitário, a televisão”. Férres (1998) compartilha do mesmo conceito, pois defende que a televisão é o fenômeno social e cultural mais impressionante da história da humanidade. É o maior instrumento de socialização que jamais existiu. Nenhum outro meio de comunicação na história havia ocupado tantas horas da vida cotidiana dos cidadãos, e nenhum havia demonstrado um poder de fascinação e de penetração tão grande. (FERRÉS, 1998, p. 13) Nessa relação, a publicidade e o próprio meio tomaram uma dimensão que alavancou ambas. A televisão é ideal para atingir um grande número de pessoas, devido ao seu alcance no território nacional, chegando a mais de 95% nos domicílios brasileiros com base nos dados de 2009 da Teleco. Para Almeida (2003), a televisão é a maior mídia no país e que ela funciona muito bem para vender uma ampla gama de produtos. Ao se espalhar pelo país em quase toda a sua extensão e pela sua penetração nos lares brasileiros, torna-se a mídia mais usada pela publicidade. (ALMEIDA, 2003, p. 27) Complementando o que Almeida sugere, a televisão se tornou tão importante, pois reúne uma série de opções para o telespectador, funcionando como fonte de difusão de informações, notícias, educação, lazer e entretenimento. Sua conquista, de fato, é proveniente de ser um meio com uma linguagem acessível e de fácil entendimento, além de ser o único meio capaz de utilizar a visão das imagens, o som, o movimento e a emoção para chamar a atenção do espectador, fazendo com que a publicidade televisiva tenha um efeito maior em um curto prazo do que outras formas de publicidade. De uma maneira geral e inclusive para a televisão, Martins (1997, p. 31) diz que “a publicidade é, hoje, uma atividade técnica e artística que se destina a criar anúncios para exercerem ação psicológica sobre o público-alvo”. O principal objetivo da publicidade é causar impacto suficiente para que o telespectador converta essa mensagem em ação de compra ou de reconhecimento do produto e/ou da empresa anunciante. Logo, a televisão oferece uma série de vantagens para a difusão da publicidade, tais como: Ofrece alternativas visuales, de sonido, movimiento, color y efectos especiales. Es un médio con un gran impacto visual. Los anunciantes consiguen llegar a casi todas las famílias a través de este médio, por lo que tiene una amplia cobertura y ningún outro médio permite que el anunciante repita el mensaje con la frecuencia de La televisión. El prestigio y glamour de la TV poden realzar el mensaje. La publicidad en TV puede ser muy efectiva en ayudar a crear una imagen para un producto o empresa, Los anuncios pueden apelar a las emociones y empatía de los televidentes. La televisión ofrece una forma efectiva en cuanto a custos para llegar hasta millones de integrantes de un público objetivo. (CARMONA; GODOY, 2006) Todos esses fatores aliados às próprias virtudes técnicas, artísticas, comerciais e sociais, e pela limitação dos outros meios de comunicação, colocam a TV em posição de proeminência diante dos veículos de comunicação. A televisão, mesmo tendo algumas restrições, tem a capacidade de influenciar os telespectadores, ditando novos parâmetros de comportamento, interferindo em escolhas pessoais, lançando modas e criando linguagens (DIAS, et al., 2009, p. 9). Isso é facilmente identificado por meio das tendências e ações que saem da ficção e se encontram na realidade como gírias, atitudes, roupas, estilos entre outros. Vestergaard e Schroder (2004) comentam que o trabalho dos publicitários ao produzir os anúncios [...] devem preencher a carência de identidade de cada leitor, a necessidade que cada pessoa tem de aderir a valores e estilos de vida que confirmem seus próprios valores e estilos de vida e lhe permitam compreender o mundo e seu lugar nele. Estamos aqui em processo de significação, no qual um certo produto se torna a expressão de determinado conteúdo (estilos de vida e valores). Evidentemente, o objetivo final desse processo de significação consiste em ligar a desejada identidade a um produto específico, de modo que a carência de uma identidade se transforme na carência do produto.” (VESTERGAARD, SCHRODER, 2004, p. 108-109) Os vários grupos sociais identificam-se por suas atitudes, maneiras, jeito de falar e hábitos de consumo – por exemplo, pelas roupas que vestem. Dessa forma, os objetos que usamos e consumimos deixam de ser meros objetos de uso para se transformar em veículos de informação sobre o tipo de pessoa que somos ou gostaríamos de ser. (VESTERGAARD; SCHRODER, 2004, p. 7-8) A TV digital permitirá que essa carência seja suprida sem sair de casa, através da interatividade, um diferencial da televisão digital. Ela permite que o telespectador compre produtos diretamente do aparelho, o que intensificará a relação entre TV, publicidade e telespectador, tornando essa significação de valores e estilos mais presente no cotidiano dos telespectadores. Almeida (2003, p. 163) afirma que “os espectadores reconhecem que a televisão tem ligação direta com o consumo”. Esse é apenas um dos pontos, porém o mercado de serviços digitais abre novas oportunidades. Chris Anderson (2006, p. 15) afirma que “os dados sobre vendas e as tendências desses serviços e de outros semelhantes revelam que a economia emergente do entretenimento digital será radicalmente diferente da que caracterizava o mercado de massa”. Mesmo conceituando isso para a Internet, esse conceito se prolonga para a televisão digital, pois o aparelho pode se tornar uma fonte de acessos às redes web. Além do mais, Anderson (2006) conceitua que os mercados serão formados por meio de nichos, isto é, serão mais específicos, atuando com profundidade nos interesses de seus target ou público-alvo. Trazendo isso para a publicidade, ao conhecer melhor seu público-alvo, a publicidade se torna mais eficaz a ponto de satisfazer primeiramente os desejos dos clientes, que hoje não basta somente satisfazer, é preciso cativar, pois a publicidade televisiva está enfrentando uma crise de formatos e conteúdos. Para Coma e Cavia (2005, p. 3), autores espanhóis sustentam que a crise publicitária é devido a alguns fatores dentre os quais estão a incorporação de novas tecnologias, a evolução e amadurecimento dos consumidores, a crescente capacidade de evolução das empresas publicitárias, anunciantes e meios de comunicação produzirem produtos para todos os tipos de mídias. A união desses fatores tem levado à saturação e fragmentação da audiência e será acelerada principalmente pela televisão digital. Ao fracionar a audiência nos diferentes veículos de comunicação, esses fatores influenciaram diretamente a publicidade no meio televisivo. De fato, se as principais vias de comunicação estão fragilizadas, e às vezes não oferecem resultados satisfatórios aos interesses dos anunciantes, o atual mercado publicitário necessita de alterações, da mesma forma como refletir novas propostas de conteúdo e publicidade, já que as mídias digitais vêm proporcionando mudanças, principalmente para a televisão que está em transição de analógica para digital. Isso não quer dizer que o mercado de massa irá acabar como conhecemos, mas, contudo, é essencial estar atento ao comportamento do consumidor e o que ele deseja nos veículos comerciais. Assim, há uma crescente necessidade de propor conteúdos e publicidades inovadores, oferecendo algo “extra” para que esses produtos superem as expectativas dos indivíduos. Newton Cannito (2010) afirma que dentro da nova plataforma de TV digital “temos que nos preocupar com os padrões na medida que a tecnologia acaba influindo nos modelos de negócio. Temos priorizar modelos de negócio que abram espaço ao empreendedorismo” (CANNITO, 2010). Nesse caso, o empreendedorismo está atrelado a propostas de modelos de negócios, que abram espaço para equipes multidisciplinares trabalharem em conjunto, integrando profissionais das áreas de televisão, agências de publicidade, rádio, Internet e meios impressos. A capacidade que os grupos multidisciplinares têm de oferecer novos conteúdos é inevitavelmente superior, propondo campanhas ou ações publicitárias mais ousadas, diferentes, que agradem os indivíduos e que não reproduzam o mesmo padrão da antiga publicidade tradicional, e sim modelos de negócio que chamem a atenção do telespectador. É o que Julian Gallo (2010) propõe quando fala que necesitamos cambios, nuevos lenguajes, nuevos horizontes [...].Se necesita una anatomía distinta hasta para escribir y las posibilidades están dadas [...]. La rutina no deja pensar, se deben introducir cambios para inquietar, ensamblar, sorprender. La tecnología de hoy permite hacerlo. (GALLO, 2010). Isso se traduz na busca por novos modelos de negócio, pois todos os meios estão a competir pelo olhar e pela atenção dos indivíduos. Dessa maneira os produtos audiovisuais têm incorporado uma série de formatos para produzir conteúdos que chamem a atenção do telespectador, em diversas temáticas e fazendo uso da publicidade como entretenimento. Assim, a ficção tem se aproximado muito dessas áreas, reunindo profissionais de diferentes setores para a elaboração de um conteúdo que ao mesmo tempo fornece ao telespectador entretenimento e uma vitrine comercial. Almeida (2003) aponta que essa vitrine não é somente de produtos, mas também de estilos de vida baseados nos bens de consumo. A novela tem muito mais tempo do que os anúncios e atenção mais garantida dos telespectadores para poder explorar esses diversos estilos, que mostram muitas vezes como os personagens vestem-se, portam-se, o que consomem em suas casas em termos de bens duráveis, e que tipo de serviços recorrem (bancos, médicos, psicólogos) (ALMEIDA, 2003, p. 169). O mesmo autor ainda incita que “o uso de personalidades da mídia pra vender produtos e construir a imagem de uma marca é uma das estratégias constantemente utilizadas pela publicidade”, e facilmente encontradas nos formatos de ficção (ALMEIDA, 2003, p. 165). Um exemplo atual é o advertainment que a FAAP está utilizando na novela Ti-ti-ti, que integra conteúdo, entretenimento e publicidade. O advertainment é a contração das palavras em inglês adversting e entertaiment, ou seja, publicidade e entretenimento. Esse tipo de publicidade visa a integrar de maneira bem estruturada no roteiro a publicidade, o entretenimento e a informação. O advertainment é considerado uma evolução de outros tipos de publicidade em narrativas comerciais como é o caso do product placement que Palazón e López o definem como el product placement consiste en la exhibicíon de un producto, marca o logotipo reconocible; mostrada o utilizada de forma natural o sutil, prévio pago por la empresa o instituciones responsables de la marca, com fines promocionales y/o comerciales, con una planificación determinada, em cualqueir meio y/o forma de comunicación de masa, cuya realización se haga de forma encubierta, de manera que el público no advierta em fin comercial. (PALAZÓN; LÓPEZ, 2005, p.2) Nesse processo de identificação da marca, Garcia Uceda (2008, p. 46) acrescenta que este formato é uma ação de comunicação interpessoal e controlada e que através dos meios de comunicação em massa oferece conhecimento de um produto, serviço, bens ou instituição, a fim de informar e/o influir na aceitação ou compra. Desse modo justifica que o product placement é mais uma forma de publicidade. É importante frisar que esse tipo de publicidade só tem razão de ser quando o produto apresentado possa ser uma marca reconhecida pelos possíveis consumidores. Ou seja, é dizer que a marca inserida em um imaginário coletivo e comum possa ser comparada e adquirir sentido para o telespectador. De maneira bem tênue, e com características muito próximas do product placement, o advertainement integra as narrativas por fazer uso de imagens e menções nos diálogos entre os personagens. Mas para que isso não soe de maneira superficial e falsa, a publicidade deve ser inserida em um real contexto da narrativa, em que ela tenha propósito de estar ali, dando sentido à cena e com isso transparecendo credibilidade à marca. Outras características que o advertainment assume é que a publicidade deve revelar-se como sutil, a fim de não agredir o telespectador. Com isso, esse tipo de publicidade se torna mais agradável e eficaz, porque ele não interrompe a narrativa para a apresentação da publicidade, mas torna-se parte integrante do conteúdo. Nesse sentido, o advertainment se traduz como uma publicidade mais eficiente, porque a atenção do telespectador está voltada para o conteúdo, em um momento relaxado, de prazer, mais próximos das sensações emotivas. O fato de estar em contato com a publicidade, por meio do viés emotivo, faz com que ela seja facilmente assimilada pelo telespectador. Segundo Sant’anna et al. (2009), pesquisas realizadas constataram que os anúncios com apelos emocionais são mais lembrados, porque, além de mexer com nossos sonhos e fantasias, é como se nos colocassem dentro deles. Os personagens se parecem conosco, com nossa turma, sentem-se como nós, são, enfim, reais. (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 162) Mas para que a publicidade seja efetiva e se identifique com o telespectador, é preciso conhecer a natureza humana para atrair a atenção e despertar o interesse sobre o produto, e para isso é necessário entender quais são as reações do ser humano, seguindo seus instintos e sentimentos. Nesse ponto o publicitário precisa compreender os fatores psicológicos, ter uma base técnica sobre os efeitos da publicidade e conhecer os princípios da comunicação, assim como suas limitações nos diferentes veículos de comunicação com seu público-alvo (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 62). Para que a publicidade seja eficiente, ela precisa provocar uma série de reações psicológicas no comportamento humano, no qual Sant’anna et al. (2009) descrevem como: atrair a atenção (o anúncio deve ser visto); despertar o interesse (o anúncio deve ser lido); criar convicção (o anúncio deve ter credibilidade); provocar uma resposta (o anúncio deve levar à ação); fixar na memória (a coisa anunciada dever ser lembrada). (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 154-155) Assim, a publicidade deve, portanto, ser reconhecida pelo público, obter interesse, mas também despertar o desejo do produto anunciado e levar à compra do produto. Este esquema se baseia no pressuposto de que para convencer alguém a comprar determinado produto, é preciso incitar quatro estados da consciência: atenção, interesse, desejo e ação (AIDA9). Se a publicidade conseguir levar “o consumidor a esses estados mentais, terá, como conseqüência, a concretização da venda” (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 83). Entretanto, para conseguir esse objetivo, os publicitários precisam considerar a cultura e a linguagem do meio, verificando e respeitando suas características específicas. Ao colocar uma marca ou produto dentro do conteúdo, é necessário estar atento a alguns detalhes. Mostrar uma marca sutilmente não quer dizer que ela precisa ser mínima, mas que também não assuma proporções exageradas na tela do vídeo. Não é só porque o anunciante está pagando por um serviço – nesse caso publicitário – que ele deve aparecer em primeiro plano; se isto ocorrer, além de tirar a naturalidade da cena, essa ação publicitária pode ser prejudicial à marca. Por isso o tempo de exposição e a maneira de expor o produto se tornam tão importantes quanto o contexto da cena em que a peça publicitária aparece. Vestegaard e Schroder (2004, p. 99) afirmam ao dizer que “obviamente, é de vital importância para o homem da propaganda que ele não pareça estar impondo ao seu público, pois, se o leitor sentir que o anúncio está muito forçado, talvez reaja negativamente à mensagem ou simplesmente a ignore”. Assim como para Anderson (2006, 113) que “quando há excesso de ruído, as pessoas não compram”. Para que o telespectador não ignore a mensagem e crie simpatia por ela, é essencial que essas características estejam presentes na produção do advertainment. Isso porque acostumamos a ver televisão com a imagem limpa, ou seja, sem marcas, sem a publicidade dos produtos, deixando a ficção mais irreal ainda, sem verossimilhança, sendo possível somente no imaginário dos telespectadores. A ausência de marcas nas produções televisivas é um fator cultural, pois acostumamos a não ver marcas nas ficções de TV, todavia os produtos, serviços, bens e empresas sempre estiveram presentes no cinema. Porém, esse fator cultural vem aos poucos perdendo forças. Muitas narrativas já estão misturando publicidade e conteúdo na mesma produção televisiva. Ao colocar marcas reais dentro da 9 AIDA é um modelo clássico que descreve os efeitos que produz sequencialmente uma mensagem publicitária. A palavra é formada pelo acrônimo que se compõe das siglas dos conceitos em inglês de atenção (attention), interesse (interest), desejo (desire) e ação (action). São quatro degraus que o cliente deve <>, ordenada e progressivamente, para tomar a decisão de comprar um produto (bem ou serviço). AIDA foi anunciado por E. St. Elmo Lewis em 1896; primeiro, com só três degraus, e finalmente, incluiu a ação, como elemento fundamental. Disponível em: < http://pt.wikilingue.com/es/AIDA >. Acesso em: 01 jan. 2011 narrativa, a ficção se aproxima da realidade dos telespectadores dispondo-os de costumes, hábitos e produtos ou marcas. Isso faz com que o público esteja totalmente imersivo no conteúdo, inclusive na absorção da publicidade. O advertainment faz um papel fundamental na união de conteúdo, publicidade e telespectador. Para o conteúdo oferece uma ficção crível, verossímil, assim como para a publicidade uma nova maneira de apresentar produtos e dar credibilidade a eles. Por fim, para o telespectador uma narrativa mais próxima de sua realidade. Apesar de ser um termo recente no Brasil – o advertainment –, a prática de juntar conteúdo e publicidade, porém, costumamos chamar esse recurso como merchandising. A utilização do termo merchandising para representar a publicidade dentro de um conteúdo é pelo fato de o termo ter sido empregado erroneamente no Brasil. Sant’anna et al. (2009) descrevem de maneira sucinta o merchandising: Esforços de comunicação realizados no ponto-de-venda de produtos ou em locais de uso de serviços, diretamente sobre os consumidores, incluem-se nas ações de merchandising, que podem acontecer isoladamente ou em conjunto com campanhas de promoção, promoção de vendas ou propaganda. Como peça de comunicação básica, o merchandising utiliza qualquer tipo de material impresso (cartazes, displays, folhetos, bandeirolas, faixas de gôndolas etc.), de madeira, de plástico ou metal, contendo desenhos, frases e fotografias. Incluindo até mesmo, em alguns casos certos movimentos mecânicos. Ultimamente, com o grande avanço da eletrônica e da informática, começam a surgir outros formatos de merchandising, como terminais de vídeo (inclusive interativos) e diversos tipos de placas luminosas (com ou sem movimentação). (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 231) De acordo com Sant’anna et al. (2009), merchandising significa a melhor concepção e disposição de layouts, estruturas e divulgação dos produtos em gôndolas em mercados, devido a grandes transformações e com o posterior fortalecimento do autosserviço no varejo de produtos de consumo, a partir da década de 1930. Isso ocorreu porque a possibilidade de os consumidores poderem escolher os próprios produtos – sem a colaboração dos balconistas – criou a necessidade de destacar o produto e chamar a atenção dos compradores. Segundo Gilson Honorato (2004), conceitua o termo merchandising como o “conjunto de ações táticas no ponto-de-venda, envolvendo exposição e apresentação do produto para estimular o consumidor a comprar” (HONORATO, 2004, p. 289). Dentro das visões apresentadas, os conceitos de merchandising e de advertainment diferem pela natureza das ações, portanto, com base em leituras em ambas as áreas e do referencial teórico estudado com fins acadêmicos, o termo advertainment foi adotado nesta pesquisa, sendo mais condizente para o estudo e produção da dissertação. Nesse contexto Lopes e Gómes (2009, p. 50-51) citam que “a ficção vai se consolidando também como cenário privilegiado da publicidade [...] anunciadas dentro e ao redor dos seus conteúdos, mas, sobretudo, cada vez mais ‘naturalizadas’ nas suas próprias narrativas”. Exemplos podem ser encontrados na novela Ti-ti-ti com a publicidade da FAAP, como também em outras produções, como é o caso da novela Passione, da Rede Globo, que expos as marcas C&A, Bicicletas Houston e a Tetra Pak durante a narrativa. Um dado não oficial, mas servindo de parâmetro uma inserção dentro de Passione chegou a custar cerca de R$ 950,00 mil, enquanto um comercial de trinta segundos custa por volta de R$ 450,00 mil10. Esse motivo se deve ao fato de que durante as cenas da novela a audiência é maior do que as campanhas publicitárias nos intervalos comerciais devido a transformações da sociedade que serão mais bem discutidas em tópicos posteriores. Exemplos como esses mostram a capacidade de transformações do mercado publicitário com anúncios mais ousados e eficazes. É nesse contexto de modificações que se pode vislumbrar um futuro promissor da publicidade no Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, pois com esse tipo de publicidade será difícil para o telespectador evitar a publicidade, já que ela estará integrada dentro dos conteúdos dos programas. Cristina Del Pino (2007) descreve que essa realidade do mercado publicitário terá maior importância com a chegada da TV digital, pois a nova plataforma permitirá que os telespectadores pulem os anúncios por meio dos gravadores de vídeos digitais, ou que escolham seu próprio conteúdo. Exemplo disso é o TiVo, tipo de PVR, aparelho semelhante ao videocassete, que consegue distinguir o que é conteúdo comercial do conteúdo editorial, permitindo gravar em seu HD somente os programas de interesse; ou mesmo o video-on-demand (VoD), onde o usuário escolhe o que quer e na hora que lhe for mais conveniente assistir. Porém, mesmo 10 Dado retirado da página da Internet Na Telinha UOL. Disponível em: < http://natelinha.uol.com.br/2010/09/09/not_33945.php >. Acesso em: 17 nov. 2010. havendo uma alteração nos hábitos dos telespectadores, a necessidade de anunciar os produtos nos meios de comunicação sempre haverá, e novas maneiras de divulgação das mensagens serão apresentadas (DEL PINO, 2007, p. 301). Contudo, essas transformações podem ser intensificadas com a introdução de tecnologias recentes, as mudanças comportamentais da sociedade, assim como a escassez de atenção gerada pelo bombardeamento de informações diárias, e que influenciam diretamente a eficácia da publicidade e da propaganda na TV. Dessa forma, para Sant’anna et al. (2009), a publicidade revela-se como um símbolo de abundância de ofertas de produtos e serviços que servem à sociedade através do processo tecnológico, em que todas as classes sociais podem usufruir desses benefícios. A publicidade torna-se, então, parte fundamental do desenvolvimento econômico, estimulando novos consumidores a adquirir produtos que lhes suprem quaisquer necessidades, desde as mais básicas como as mais supérfluas (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 7). É uma relação intrínseca em que sociedade, tecnologia, informação, meios de comunicação, publicidade e o próprio espectador exercem influências recíprocas entre si, e saber como se dá essa interação é importante para se produzirem publicidades cada vez mais efetivas no novo contexto digital. 2.3 O novo consumidor na convergência midiática A quantidade de novas tecnologias cresce vertiginosamente, e por mais que os pessimistas aleguem que as velhas tecnologias irão acabar, ocorre sempre o mesmo fato em que todas elas continuam convivendo pacificamente, e muitas vezes tornando-se complementares. O que acontece é que as velhas e novas tecnologias vão se adaptando e coexistindo ao mesmo tempo e sendo parte indispensável para nossas vidas. A quantidade de aparelhos eletrônicos que carregamos e fazemos deles extensões de nosso corpo era até então impensável há algumas décadas e que hoje nos parece tão familiar que não saberíamos viver sem eles. Expandindo esse pensamento, Lopes (2009) descreve a mídia como um ecossistema, e não somente na simplicidade do velho modelo de emissor, mensagem e receptor. Segundo Lopes (2009), falar em “ecossistema midiático” significa construir um modelo de análise baseado numa metáfora que ajuda a compreender melhor o conjunto de inter-relações sociais, tecnológicas, culturais, econômicas etc, que caracterizam o universo da comunicação através de dispositivos técnicos. (LOPES et al., 2009, p. 398) É a ampliação dos meios tecnológicos que, para Vilches (2004), invadiram todos os espaços da sociedade, desde a economia até o território da guerra, a tecnologia, a vida social e as ciências. O mesmo autor complementa que hoje não encontramos espaço para a identidade cultural que não passe pelos meios. A natureza (a forma) da economia, o social e a cultura se manifestam na sustentação dos meios; eles estão hoje onipresentes no mundo porque deixaram de constituir um território de poder para passar a ser simplesmente poder. (VILCHES, 2004, p. 240) A expansão dos meios tecnológicos tradicionais e de novas plataformas digitais criou nova relação com os indivíduos e com a sociedade. Nesse sentido, Lopes (2009) complementa que “a migração nestes espaços não é completamente nova e não surge com os meios virtuais, é apenas acelerada por eles” (LOPES et al., 2009, p. 400). Mas afinal de contas, o que todas essas novas tecnologias nos proporcionaram, tanto em novas possibilidades quanto em nossas percepções e experiências vividas? A quantidade de aparelhos, meios eletrônicos e veículos comunicacionais que nos rodeiam hoje em dia é extremamente maior do que algum tempo atrás, e isso nos trouxe diversas consequências que permeiam desde a abundância de ofertas, a fragmentação da audiência, a concepção crítica até a falta de atenção, em que tudo está correlacionado com o desenvolvimento da sociedade. Dentro dessa visão, a fragmentação da audiência é uma consequência da ampliação do número de meios comunicacionais hoje existentes. Além dos meios tradicionais e já conhecidos por todos como rádio, televisão, jornal, revistas, houve, no final da década de 1980 nos Estados Unidos e mais precisamente no Brasil no fim da década de 1990, uma explosão de novas possibilidades com o computador. O advento da Internet ampliou ainda mais o ambiente computacional, que obteve grande expressividade no mundo inteiro, inclusive no Brasil no começo do ano de 2000 com a Internet de banda larga, que expandiu e aflorou novos mercados. Tudo isso contribuiu para que os indivíduos não se prendessem somente a um meio de comunicação, mas a vários, e muitas vezes ao mesmo tempo. A sociedade passou a conviver na era das multitelas. Convivemos ao mesmo tempo com a tela da TV, do computador, dos notebooks e agora mais recentemente com as telas de celulares e dispositivos móveis11. Atualmente esses aparelhos oferecem diversas funções aos usuários, e muitos com a possibilidade do uso da Internet, além de alguns possuírem a vantagem de serem portáveis, podendo ser carregados a outros lugares. Lopes (2009) aponta que as diversas telas “permitem o surgimento de uma nova ambiência, um ‘sensório envolvedor’, que está em todo lugar a todo tempo.” (LOPES et al., 2009, p. 400) 11 Dispositivo móvel, designado popularmente em inglês por handheld é um computador de bolso habitualmente equipado com um pequeno ecrã (output) e um teclado em miniatura (input). Os dispositivos móveis mais comuns são: smartphone; PDA; celular; console portátil; ultra mobile PC; televisão portátil. Cada vez mais os dispositivos móveis se tornam integrados e hoje já é muito comum vermos celulares que funcionam como PDA, GPS, TV portátil, consoles, navegador de Internet, WAP, leitores de áudio, vídeo e texto, entre outros. Tudo em um só aparelho. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Dispositivo_m%C3%B3vel >. Acesso em: 28 nov. 2010. De fato, as inúmeras telas contribuíram para que a audiência dos meios tradicionais se dissipasse para todos os tipos de veículos comunicacionais nos dias atuais. Com base nessa demanda de fragmentação da audiência, Cristina Del Pino (2007) afirma que la realidad hoy es distinta: cada vez más opciones pero cada opción tiene menos audiencia; los câmbios se suceden a um ritmo de vértigo, hasta el punto que, el tan cidiciado prime time televisivo, dará paso, em no mucho tiempo, al my time: yo veo lo quiero, cuando y donde quiero. La fragmentaçaión de la audiencia es cada vez mayor y diariamente tenemos nuevos soportes donde elegir. (DEL PINO, 2007, p. 64) Outros fatores que ocasionaram a fragmentação da audiência, ainda que não conclusivos, apontados pelo Ibope, são devidos “à popularização dos DVDs (inclusive por conta da pirataria, que barateou o acesso aos filmes), tempo perdido no trânsito ou aumento de permanência no trabalho e acesso à internet”, além da TV paga, o que leva a uma intensificação do nível de concorrência entre os meios de comunicação. (LOPES, 2009, p. 104) Verificamos que hoje não temos mais a grande audiência de que a televisão desfrutou na década de 1970 e 1980, em que as famílias se reuniam em frente à TV de forma fiel para assistir aos programas diários. Isso foi em uma época em que o consumo de mídia se restringia basicamente à televisão, ao rádio e aos meios impressos. Assim, as médias de audiência, que giravam em torno de 60 a 70 pontos, se fixaram como padrões em um patamar habitual em décadas passadas, entretanto esse número já não é mais alcançado devido à fragmentação da audiência nas diversas mídias comunicacionais (LOPES, 2009, p. 105). A confluência de diferentes veículos de comunicação na sociedade tem conduzido a um novo conceito que Jenkins (2008) chama de cultura da convergência. Para ele, convergência se refere ao fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2008, p. 27) O que notamos por meio dessas transformações, é que o comportamento da sociedade também é modificado, pois o indivíduo é parte fundamental de todo esse processo. Com forma de exemplificação, outros meios e a própria televisão concentram-se cada vez mais em entender e compreender o telespectador/consumidor que possui uma intrínseca relação com o conteúdo fornecido pela emissora, que por sua vez procura disponibilizar conteúdos que lhe atraem a atenção. Assim, em relação à publicidade, reconhece-se uma tendência na utilização no formato não tradicional, inserindo a publicidade dentro dos programas de TV, como séries e telenovelas, devido à fragmentação da audiência, à dispersão da atenção e também à expansão de tecnologias que permitem ao telespectador saltar os comerciais. Sendo que nesse último Jenkins (2008) sugere que os atuais usuários dos gravadores de vídeo digitais passam os comerciais para frente cerca de 59% do tempo. Isso não significa que 59% dos usuários pulem os comerciais; significa que o consumidor médio assiste a cerca de 41% dos anúncios veiculados. (JENKINS, 2008, p. 100) Por isso, os anunciantes precisam aprender e entender como agradar o público, fornecendo conteúdo publicitário que seja interessante e atraente para o consumidor. É interessante compreender que as mensagens publicitárias serão mais facilmente assimiladas se forem direcionadas com o intuito de atingir o lado emocional do público-alvo. Jenkins (2008) define a busca do estímulo emocional através da economia afetiva. Para ele a economia afetiva refere-se a uma nova configuração da teoria de marketing, ainda incipiente mas ganhando terreno dentro da indústria das mídias, que procura entender os fundamentos emocionais da tomada de decisão do consumidor como uma força motriz por trás das decisões de audiência e de compra. Em vários sentidos, a economia afetiva representa uma tentativa de atualizar-se com os estudos culturais feitos nas últimas décadas sobre comunidades de fãs e o envolvimento dos espectadores. Entretanto, há uma diferença crucial: o trabalho dos estudos culturais procura entender o consumo midiático do ponto de vista do fã, articulando desejos e fantasias malservidos pelas mídias atuais; o novo discurso de marketing procura moldar os desejos dos consumidores para direcionar as decisões de compra. Embora haja um crescente interesse pela qualidade da experiência do público, as empresas de mídia e de marcas ainda se debatem com o lado econômico da economia afetiva – a necessidade de quantificar o desejo, de mensurar as relações e de transformar o envolvimento em commodities – e, talvez o mais importante, a necessidade de transformar tudo o que foi mencionado acima em retorno financeiro. (JENKINS, 2008, p. 94-95) Nas perspectivas de Jenkins (2008), as empresas ou anunciantes estão procurando agregar conteúdo para suas marcas, seja por meio da ficção, ou como também patrocinar eventos diversos, estendendo a marca a novas dimensões e interações, aproximando o contato ente marca e consumidores. Neste sentido as extensões de marca se baseiam na inclinação do público em determinados conteúdos que remetem diretamente à lembrança da marca no programa, evento ou conteúdo. Seguindo essa lógica, a empresa Avon estende sua marca para além dos cosméticos, mas também como uma empresa preocupada com o bem-estar da mulher, por meio de projetos sociais como Avon Contra o Câncer de Mama e Avon: Fale sem Medo, Não à Violência Doméstica. Assim, a Avon, com a finalidade de expandir sua atuação e divulgação em outras áreas, também tem inserido a marca dentro das narrativas ficcionais como no remake da telenovela Ti-ti-ti, exibida no ano de 2010-2011 pela Rede Globo. Dessa maneira a ficção como produto de entretenimento atinge um público diversificado, permitindo uma gama variada de anunciantes que atuem dentro das narrativas. Lopes e Gomes (2009) apontam que a publicidade múltipla ensaiada na ficção televisiva, dentro e ao redor dela, em boa medida anuncia mudanças na forma de divulgar e de introduzir e naturalizar marcas, produtos e serviços por meio da televisão. Este é um foco de observação chave para entender o futuro da mesma e de programações particulares, tanto nos canais abertos como nos pagos. Junto com o marketing exacerbado que tem ocorrido e continua ocorrendo especificamente na ficção, não apenas se observam modos criativos e inovadores de fazer publicidade, mas também dinâmicas que delimitam e direcionam de formas diferentes os mesmo temas e conteúdos da ficção televisiva. (LOPES; GÓMEZ, 2009, p. 59-60) Nesse contexto de mudanças tecnológicas, esse processo se intensificará com a chegada da TV digital, pois o conteúdo editorial e comercial poderá ser visto em qualquer lugar, a qualquer momento em que o espectador desejar. Isto porque haverá uma maior variedade de receptores como celulares, televisão portátil, sintonizadores de TV para notebooks, etc. que poderão ser levados a qualquer lugar e/ou mesmo instalados dentro de veículos automotivos e aumentar ainda mais a interação do público com os conteúdos e com as mensagens publicitárias inseridas nos produtos audiovisuais. Conforme apresenta Lopes e Gomes (2009), as transformações na ficção televisiva, tanto na questão do marketing quanto nas estéticas visuais, através da construção de narrativas e formatos, estão demonstrando alterações importantes e “reforçando tendências na oferta e no consumo televisivo além deste gênero de programação” (LOPES, GOMES, 2009, p. 49). Assim, as inserções que já estão ocorrendo nas narrativas ficcionais é um bom indício do que possa ocorrer nos próximos anos e que devem ser pensados para outros programas da grade televisiva, como nos programas esportivos, programas de auditório, de entretenimento, informativo ou cultural. Independente do tipo de programa, os anúncios devem integrar de forma natural com os conteúdos, com mensagens relevantes para os telespectadores, característica que já vem ocorrendo com maior frequência na teledramaturgia nacional (LOPES, GOMES, 2009, p. 49). 2.4 Informação versus atenção As tecnologias estão relacionadas com a maneira de agirmos, e outro ponto a se questionar nesse contexto é a relação entre a demanda de informações e a atenção proporcionada para tal assunto. Para Gallo (2010), en un mundo rico en información, la abundancia de información implica la escasez de alguna otra cosa la escasez de aquello que la información consume. Y lo que consume la información es muy obvio: la atención de sus destinatarios. Luego, la abundancia de información crea pobreza de atención (GALLO, 2010). Sant’anna (2009) complementa ao afirmar que o extraordinário volume de informações que cada pessoa recebe constantemente é maior do que nunca em toda a história da humanidade. A televisão, o rádio, a imprensa e todas as manifestações da indústria cultural – sem contar a própria propaganda – são fontes permanentes de alterações da percepção social, política e cultural de todas as pessoas (SANT’ANNA, et al., 2009, p. 214). Isso quer dizer que o novo envolvimento entre tecnologias e consumidores, transformou por consequência essa relação. Isso ocorre porque o número de informações com as quais nos deparamos é inevitavelmente superior a de décadas atrás. A capacidade humana de absorver todo o conteúdo é limitada para a quantidade de informações que continuará a crescer na sociedade. Apesar de todas as mensagens que nos chegam, não podemos absorver nem uma fração de tudo isso (ADLER, 2002, p. 19). Segundo Michael H. Golhaber (2006), esse processo tem se denominado economia da atenção. Para o autor, o principal motivo é não aumentar a oferta de bens materiais ou dinheiro em si, mas atrair um recurso intrinsecamente escasso na sociedade, a atenção do ser humano. Para ele, a economia diz respeitos aos padrões globais de esforços e motivações que modelam nossa vida, e que atualmente está em transição, implicando em um novo conjunto total de leis econômicas e uma nova maneira de se relacionar com a sociedade. By an economy I mean an all-encompassing system that structures human life to a very large extent around the distribution of certain scarce entities. An economy integrates the activities and wishes of huge numbers of people in one complex whole. By the Attention Economy, then, I mean a system that revolves primarily around paying, receiving, and seeking what is most intrinsically limited and not replaceable by anything else, namely the attention of other human beings (GOLHABER, 2006, p. 2-3)12. Como sugere Golhaber (1997), as economias são regidas pela escassez de algo, mas em um contexto em que há uma grande quantidade de informações, o termo economia possui uma analogia imperfeita, passando da escassez para o excesso de informações. Parte dessa relação vem com os novos tipos de conexões que o ciberespaço e a Internet proporcionaram ao se difundir nos variados meios de comunicação, aonde é possível criar e compartilhar por meio da web qualquer assunto com milhões de pessoas. Os dispositivos móveis, computadores pessoais portáteis, celulares, smatphones e recentemente a TV digital modificaram toda uma maneira de pensar e entender o que está acontecendo entre a demanda de informações e a organização da sociedade (GOLHABER, 1997). O excesso de informações disponíveis torna-se, então, prejudicial para a publicidade. Essa ação comunicacional só tem valor quando é percebida pelos consumidores, para qual a mensagem é direcionada. Especialista na área de marketing, Walter Longo propõe que “a briga não é mais pela audiência e sim pela atenção” (LONGO, 2001, p. 28). Para os meios em geral, e principalmente para a televisão, a audiência está se fragmentando em níveis cada vez mais consideráveis. Por isso, devemos procurar por soluções que proponham novas alternativas para atrair a atenção dos consumidores. 12 Por economia eu quero dizer um sistema abrangente que estrutura a vida humana a uma extensão muito grande em torno da distribuição de determinadas entidades escassas. Uma economia integra as atividades e desejos de um grande número de pessoas em uma organização complexa. Por Economia de Atenção, então, eu quero dizer um sistema que gira fundamentalmente em torno de pagamento, recebimento, e buscar o que é mais intrinsecamente limitado e insubstituível por qualquer outra coisa, que é a atenção de outros seres humanos. (GOLHABER, 2006, p. 2-3, tradução nossa). Em um mundo cada vez mais inserido em um processo de multimídia, a atenção é a matéria-prima mais escassa ou disputada. O sucesso ou o fracasso de um produto, serviço, mídia ou até de um executivo daqui pra frente será diretamente proporcional à sua capacidade de atrair e reter a atenção de seus consumidores (LONGO, 2007). A busca pela atenção está mais visível, generalizada e desinibida do que nunca, pois como insinua Walter Longo a relação entre o sucesso ou fracasso está proporcionalmente ligada a ela, seja pelo recebimento e/ou pela busca da atenção em uma sociedade que está cada vez mais ampla e dispersa. Partindo desse ponto de vista, a publicidade terá mais notoriedade e eficácia caso consiga atrair a atenção do consumidor. Porém, um agravante é o grau de saturação do mercado. Vivemos em um momento sem precedentes no que se refere à saturação publicitária (DEL PINO, 2007, p. 67). “’Saturar’ un medio significa que los lectores ya no ponen atención a la publicidad que se hace em ellos, y buscarán medios menos saturados”. (PEREIRA, 2006). E por isso, tem havido uma ansiedade cada vez maior nos últimos anos entre os anunciantes em relação ao impacto cada vez menor de qualquer anúncio à luz da “saturação” criada pelo aumento constante do número e da freqüência totais das mensagens publicitárias às quais os consumidores estão expostos (ADLER, 2002, p. 30-31). A saturação que Adler (2002) demonstra é devido à quantidade de publicidades que estão inseridas em diversos veículos de comunicação, como no rádio, nos meios impressos como jornais, revistas, panfletos, outdoors, e assiduamente na TV através da publicidade convencional exposta nos intervalos comerciais, como também dentro dos programas com as ações de merchandising editorial. Para que a “saturação” seja vencida, os anúncios precisam ser mais inteligentes, diferentes e ousados, capazes de chamar a atenção do público-alvo e mantê-los por tempo suficiente para a mensagem a ser transmitida. O advertainment, possuindo tais características, vem sendo amplamente explorado, chamando a atenção por ser uma publicidade não convencional e integrada com a narrativa, como é o caso de novelas e seriados. Nesse sentido, Vestergaard e Schroder (2004) apontam um lado interessante que para os meios francamente comerciais, como a propaganda, é de todo essencial estar em contato com a consciência do leitor, primeiro para captar sua atenção e, segundo, para predispô-lo a favor do produto anunciado. Por isso os anunciantes têm que agradar aos leitores e jamais perturbá-los ou ofendê-los – e, já que a publicidade tem essa obrigação de refletir atitudes, esperanças e sonhos dos leitores o mais fielmente possível, podemos de certo modo penetrar em sua consciência, em sua forma de pensar, em sua ideologia, analisando as estruturas de significado dos anúncios (VESTERGAARD; SCHRODER, 2004, p. 185). A partir disso, os profissionais da área publicitária precisam estar atentos às percepções e reações dos telespectadores para poder capturar sua atenção. Isto é, compreender o comportamento e a postura dos indivíduos. Segundo Golhaber, (1997) a atenção é desejável e valiosa em si e descreve o público muito atento como “encantado” na mensagem transmitida, e nesse momento ter sua atenção significa que é possível exercer um poder ou influência sobre a mente ou percepção do espectador, que para a publicidade pode ser um efeito extraordinário (GOLHABER, 1997). Por mais que a atenção possa ser efêmera, ela pode ser retida na memória. Uma pessoa pode ter esquecido boa parte dos assuntos apresentados ou vividos, mas ao deparar com uma pequena lembrança de momento marcante provavelmente a recordação será alcançada novamente. Essa retenção permite que se lembre de atores da televisão, personagens, líderes políticos, empresariais, personalidades ou qualquer outra pessoa que lhe chamou a atenção no passado. Esse fato, Golhaber (1997) descreve como riqueza da atenção que aparentemente pode diminuir, e somente reviver em outro momento, mas que raramente é totalmente perdida. (GOLHABER, 1997) Dessa maneira, os anúncios publicitários na televisão devem encantar o telespectador, porém não é tão simples de obter. Por isso os criadores de conteúdo têm de ser extremamente inovadores ao criar conteúdos que prendam o público na transmissão da mensagem, disponibilizando conteúdos de qualidade e de seu interesse. Golhaber (2006) cita que o ato de criar informações não deve ser comparado como um processo mecânico em uma única direção, mas intelectual e subjetivo que pode percorrer por diferentes caminhos. Abundância de conteúdos e informações não significa conteúdo relevante, ou seja, quantidade não se traduz em qualidade (GOLHABER, 2006, p. 16). Knowledge, ideas, inventions, art, expressions, or sports stars’ activities etc. are not simply consumed by masses of “consumers”, who are waiting around hungrily for “content.” The whole metaphor is a leftover improperly taken over from the industrial paradigm (GOLHABER, 2006, p. 16)13. Assim, Golhaber (2006) menciona que os consumidores não estão “famintos” por qualquer conteúdo. As agências publicitárias estão percebendo que o principal ponto é chamar a atenção do consumidor por meio de conteúdos interessantes, transformando seu foco de atuação para novas práticas de publicidade e propaganda, pois o consumidor quer conteúdo de qualidade, e se neste caso a publicidade estiver diluída em meio ao tema ou assunto, ela será facilmente aceita pelo público. Ao permitir estas novas experiências de entretenimento, as marcas ganham significativa fama e interesse. Ao criar mais valor para o consumidor, mais valor para as empresas é criado. Criando entretenimento de marca, baseado nas coisas que realmente importam, os consumidores prestarão atenção voluntariamente. É o movimento da interrupção para a atração. É uma grande mudança onde o break comercial perde valor e o entretenimento ganha (GALO, 2009). Esses tipos de propagandas já estão sendo realizados por diversas agências de publicidade e não somente para o veículo televisão. As agências de Conhecimento, ideias, invenções, arte, expressões (ou expressões artísticas) ou atividades de estrelas do esporte, etc., não são simplesmente consumidos pelas massas de “consumidores”, que aguardam famintos por “conteúdo”. A metáfora toda é uma sobra impropriamente tomada do paradigma industrial. (GOLHABER, 2006, p. 16, tradução nossa) Comunicação de Conteúdo (Branded Content) Selulloid AG e Synapsys, em São Paulo, já produzem campanhas publicitárias que integram na mesma ação informação, conteúdo e publicidade em outros veículos de comunicação como, por exemplo, revistas, Internet e ações promocionais. Exemplificando, esse tipo de comunicação, a Selulloid AG criou a “Revista Oi” que leva o mesmo nome do anunciante. A agência procura entender quais são as reais necessidades do cliente e propõe uma diferente maneira de como conquistar o público-alvo. No case, foi elaborada uma revista de entretenimento, mas com conteúdo de qualidade, levando informações consistentes ao público-alvo. Desafio Problema Solução Contribuir para a construção da marca Oi como uma empresa jovem, moderna e, acima de tudo, simples em suas atitudes. Levar essa construção da marca para além do campo de telefonia. O ano era 2002, e a Oi acabava de entrar em um mercado já consolidado, dominado por fortes concorrentes. Ela precisava se diferenciar de outras operadoras. Uma revista sobre tendências, moda, comportamento, cultura e tecnologia. Sobre gente e não telefones. Sobre comunicação e não telecomunicações. Uma revista que materializa todos os valores da marca Oi. Resultados A publicação, que contava com um time forte de colaboradores (entre repórteres, fotógr