Marília Gabriella Borges Machado Gramsci em movimento: Política, trabalho e revolução (1917-1926) Marília/SP 2025 Câmpus de Marília Marília Gabriella Borges Machado Gramsci em movimento: Política, trabalho e revolução (1917-1926) Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, como parte das exigências para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais, da Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, (UNESP), campus de Marília. Área de Concentração: Ciências Sociais Linha de Pesquisa: Determinações do Mundo do Trabalho Orientador: Prof. Dr. º Marcos Del Roio Marília/SP 2025 Marília Gabriella Borges Machado Gramsci em movimento: Política, trabalho e revolução (1917-1926) Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, como parte das exigências para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais, da Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, (UNESP), campus de Marília. Área de Concentração: Ciências Sociais Linha de Pesquisa: Determinações do Mundo do Trabalho Orientador: Prof. Dr.º Marcos Del Roio BANCA EXAMINADORA _______________________________ Prof. Dr. Marcos Del Roio Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília (UNESP/FFC) ________________________________ Prof. Dr. Leandro de Oliveira Galastri Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília (UNESP/FFC) _________________________________ Prof. Dr. Giovanni Semeraro Universidade Federal Fluminense (UFF) _________________________________ Prof. Dr. Alvaro Bianchi Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) _________________________________ Prof. Dr. Lincoln Secco Universidade Estadual de São Paulo (USP) _________________________________ Prof. Dr. Ana Elizabeth Lole dos Santos PUC-Rio _________________________________ Prof. Dr. Paulo Ribeiro Rodrigues da Cunha Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília (UNESP/FFC) _________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Lima Ribeiro Gomes Universidade Federal Fluminense (UFF) Marília, 31 de março de 2025. Às mulheres combatentes, que resistiram e viveram o século XX. Antifascismo sempre! AGRADECIMENTOS “Povoada. Quem falou que eu ando só? Nessa terra, nesse chão de meu Deus, sou uma, mas não sou só. Tenho em mim mais de muitos. Sou uma, mas não sou só.” A escrita desta Tese de Doutorado foi concomitante ao intenso e complexo período de transformações na minha vida. Várias mulheres dentro de mim existiram e resistiram: a pesquisadora e a professora, a mãe e a bailarina. Felizmente, pessoas incríveis cruzaram o meu caminho. Algumas foram embora, outras ficaram e muitas espero seguir compartilhando a vida. Deram-me força, enxugaram minhas lágrimas, empurraram-me, alegraram-me, abraçaram-me, disseram para eu parar, mudar de caminho, presentearam-me com livros, chocolates, músicas, mensagens, e-mails, risadas, conversas filosóficas e políticas, danças, acolhimentos... Pessoas que foram presentes e dançaram comigo partes essenciais desses quase cinco anos de vida… Aos meus pais, Cristina e Oswaldo, com quem aprendi ser teimosa, feminista, briguenta, amorosa, delicada, amar à coletividade, os livros e os animais. Foram eles quem me empurraram para esse lugar, com cuidados, carinhos, músicas, bordados, broncas, incentivos, olhares, paciência e conversas. Aos meus avós, vó Antônia e vô Zé, vô Arlindo e vó Cida (in memoriam), que me tornam menina, criança, especial, amada, mimada... Me ensinam a olhar o mundo com mais cor. Meu filho Gabriel, que é minha luz e minha bússola. Agradeço a paciência e empatia pelos meus estudos... E por sair do vídeo game para buscar água, café e meus livros nas estantes! Aos que são sempre presentes e preenchem cada parte minha em suas diferenças e trajetórias: Paola, minha melhor amiga, que sempre me lembra que tenho lindas asas e que percorreu comigo todos esses anos, com broncas, verdades e afetos. Vanusa, que se tornou minha irmã de Ciência Política, de figurinha, de reclamação, de realidade e de fantasia. Nathiely, minha amiga que veio da dança para a vida, para a macumba... Somos Oxum e Iemanjá... E isso é lindo! Agradeço tanto! Agradeço tudo! Cecílio, meu querido amigo, agradeço seu Axé, seus conselhos, sua amizade e suas orientações! Rodrigo Morente de Andrade, por todo apoio, livros, amizade, abraços, chocolates, músicas, conversas duras e sinceras cheias de realidade. Agradeço por ser minha segurança. Ana Laura Bonini, minha amiga de Doutorado, de dança, de bruxaria, de Axé. Todas essas nomenclaturas fortalecem nossa relação de troca. Ao meu amigo de Cagliari e de Doutorado Fernando Galine, que partilhou das minhas conversas gramscianas, históricas, geológicas e geográficas durante meses de solidão em terras sardas e piemontesas. Às mulheres da dança do ventre, da dança cigana e das escolas por onde trabalhei. Aos alunos que me tiraram da zona de conforto e me forçaram a ser Cientista Social para fora das minhas caixinhas. Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos Del Roio, que durante doze anos orientou minha jornada gramsciana, me emprestou o referencial teórico, me acompanhou em bons cafés e boas conversas. Aos professores da UNESP-FFC e funcionários que desde a graduação me auxiliaram no processo de me tornar Doutora. Ao Prof. Dr. Gianni Fresu (Università Degli Studi di Cagliari), que me recebeu na figura de coorientador durante quatro meses em Cagliari para aprofundamento da minha pesquisa. Ao Prof. Dr. Guido Liguori, grande gramsciano, agradeço as conversas orientadoras em Roma e em Torino. À Prof. Dra. Maria Luísa Righi, pela calorosa recepção, conversa, aprendizados e café na Fondazione Gramsci, em Roma. Ao Prof. Dr. Paulo Ribeiro Rodrigues da Cunha que se tornou meu amigo há alguns anos e demonstra sempre respeito e carinho pela nossa amizade. À amiga querida Prof. Dra. Ana Lole, que foi companhia, força e alegria em momentos complexos. Aos professores membros da Banca do Exame Geral de Qualificação e da Banca de Defesa, os titulares e os suplentes. Professores Giovanni Semeraro, Leandro Galastri, Alvaro Bianchi, Lincoln Secco, Ana Lole, Rodrigo Lima e Paulo Cunha, vocês são referências teóricas desta pesquisa e desta cientista social. Agradeço as aulas, conferências assistidas, conversas e trocas de e-mail. Agradeço também as orientações para este trabalho. Às professoras Dr.ª Anita Helena Schlesener e Dr.ª Michelle Fernandes Lima, que partilharam comigo dois anos de Coordenação Nacional na IGS-Br e me ensinaram novos significados para Gramsci. Assim como um agradecimento especial ao Doutor Helton Messini da Costa que levou junto comigo a Coordenação de Comunicação Nacional da IGS- Br durante 2022 e 2024. Uma tese não se escreve sozinha e, por isso, reflito, me emociono e agradeço. Em cada linha destas páginas coexistem teorias, hipóteses, problematizações, conceitos, categorias e método. Muita pesquisa foi realizada para que eu escrevesse a minha. Infelizmente, muitos homens e mulheres foram assassinados pelo fascismo e o leitor provavelmente sentirá a minha subjetividade. Uma pesquisa sobre Gramsci, fascismo, mulheres e homens antifascistas não poderia ser diferente. “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001”. “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – em Programa de Doutorado Sanduíche na Itália”. “Cântico Negro” “Vem por aqui” - dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: “vem por aqui”! Eu olho-os com olhos lassos (há, nos meus olhos, ironias e cansaços) e cruzo os braços, e nunca vou por ali… A minha glória é esta: criar desumanidade! Não acompanhar ninguém. Que eu vivo com o mesmo sem-vontade, com que rasguei o ventre da minha Mãe. Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos… Se ao que busco saber nenhum de vós responde, por que me repetis: “vem por aqui”? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos como farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por aí… Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem para eu derrubar os meus obstáculos?… Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, e vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos… Ide! tendes estradas, tendes jardins, tendes canteiros, tendes pátrias, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios. Eu tenho a minha Loucura! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios… Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém. Todos tiveram pai, todos tiveram mãe, mas eu, que nunca principio nem acabo, nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! Ninguém me peça definições! Ninguém me diga: “vem por aqui”! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou… Não sei para onde vou, Não sei para onde vou, só sei que não vou por aí! (José Régio, 1926). RESUMO A qual consciência se chegou durante o processo de desenvolvimento da tradição do movimento operário em relação a um Partido político com determinada visão histórica e econômica? Esta é a questão que problematiza e norteia esta investigação científica. Enquanto resposta e tese, chegou-se à conclusão de que a maior densidade teórica de Gramsci está nas vivências pessoais e políticas durante os anos de 1917-1926, na práxis. É nesse período, em cartas, artigos e documentos, no movimento cotidiano e dialético de transformações nacionais, internacionais e individuais, que culminou na ditadura fascista, que foi forjado um intelectual orgânico das classes subalternas que compreendeu a fábrica como o locus mais importante de articulação política e cultural do movimento operário. Elemento essencial para analisar o antifascismo e a revolução socialista gramsciana é o de formação de uma nova hegemonia produzida a partir da fábrica, assim como o desenvolvimento da consciência crítica. Para tanto, Gramsci se torna objeto de investigação, aparato teórico e metodológico. O método de estudo desta pesquisa é o da filologia vivente, compreendido em sentido vivo e utilizado para analisar a história e a política enquanto processos em contínuas transformações no campo das relações de força e da disputa hegemônica. Enquanto exposição, utiliza-se o método diacrônico. A relevância deste trabalho é presente nos diversos âmbitos da vida social, assim como no preenchimento da lacuna teórica sobre o período de produção de Gramsci entre os anos de 1917-1926. Palavras-Chave: Gramsci; Antifascismo; Fascismo; Comunismo; Itália. ABSTRACT What awareness was reached during the process of developing the tradition of the labor movement in relation to a political Party with a certain historical and economic vision? This is the question that problematizes and guides this scientific investigation. As a response and thesis, it was concluded that Gramsci's greatest theoretical density is in his personal and political experiences during the years 1917-1926, in praxis. It was during this period, in letters, articles and documents, in the daily and dialectical movement of national, international and individual transformations, which culminated in the fascist dictatorship, that an organic intellectual from the subaltern classes was forged who understood the factory as the most important locus of articulation political and cultural of the labor movement. An essential element for analyzing anti-fascism and the Gramscian socialist revolution is the formation of a new hegemony produced from the factory, as well as the development of critical consciousness. To this end, Gramsci becomes an object of investigation, a theoretical and methodological apparatus. The study method of this research is that of living philology, understood in a living sense and used to analyze history and politics as processes in continuous transformations in the field of power relations and hegemonic dispute. As an exposition, the diachronic method is used. The relevance of this work is present in the different areas of social life, as well as in filling the theoretical gap regarding the period of Gramsci's production between the years 1917-1926. Keywords: Gramsci; Antifascism; Fascism; Comunism; Italy. RIASSUNTO Quale consapevolezza è stata raggiunta durante il processo di sviluppo della tradizione del movimento operaio in relazione ad un partito politico con una certa visione storica ed economica? Questa è la domanda che problematizza e guida questa indagine scientifica. Come risposta e come tesi si è concluso che la maggiore densità teorica di Gramsci è nelle sue esperienze personali e politiche degli anni 1917-1926, nella prassi. Fu durante questo periodo, in lettere, articoli e documenti, nel movimento quotidiano e dialettico delle trasformazioni nazionali, internazionali e individuali, culminato nella dittatura fascista, che si forgiò un intellettuale organico delle classi subalterne che intendeva la fabbrica come il più importante luogo di articolazione politico e culturale del movimento operaio. Un elemento essenziale per analizzare l’antifascismo e la rivoluzione socialista Gramsciana è la formazione di una nuova egemonia prodotta dalla fabbrica, così come lo sviluppo della coscienza critica. A tal fine Gramsci diventa oggetto di indagine, apparato teorico e metodologico. Il metodo di studio di questa ricerca è quello della filologia vivente, intesa in senso vivo e utilizzata per analizzare la storia e la politica come processi in continua trasformazione nell'ambito dei rapporti di potere e del conflitto egemonico. Come esposizione viene utilizzato il metodo diacronico. La rilevanza di quest'opera è presente nei diversi ambiti della vita sociale, nonché nel colmare la lacuna teorica riguardante il periodo della produzione di Gramsci compreso tra gli anni 1917-1926. Parole Chiave: Gramsci. Antifascismo. Fascismo. Comunismo. Itália. LISTA DE TABELAS Tabela 1: I. Tesi sulla situazione internazionale ................................................. 210 Tabela 2: II. Tesi per il lavoro nazionale e coloniale .......................................... 213 Tabela 3: III. Tesi agrarie .................................................................................... 213 Tabela 4: IV. Progetto di tesi politiche................................................................ 216 Tabela 5: V. Progetto di tesi sindacali ................................................................. 223 LISTA DE NOMES Afonso Leonetti (1895-1984) nasceu na região de Bari. Filho de uma família muito pobre, aos doze anos começou a trabalhar e utilizou o salário para fazer a matrícula no Liceu Carlo Troja. Em 1913 ingressou na Juventude Socialista de Andria e em 1914 foi eleito secretário da Juventude Socialista apulo-lucana. Com o passar dos anos, tornou-se colaborador de inúmeros jornais, escreveu artigos para L’Ordine Nuovo, Puglia Rossa, Compagni. Esteve presente na Fundação do PCI e foi o primeiro diretor do jornal L’Unità. No ano de 1926 foi severamente espancado por um esquadrão fascista e escapou do hospital em que esteve internado. Após 1926 colaborou com Camilla Ravera, Silone e Presso a darem vida e continuidade ao PCI. Agostino Lanzillo (1886-1952) nascido em Reggio Calabria, se mudou para Roma com a finalidade de cursar Direito. Logo se envolveu com o movimento sindicalista e tornou- se um forte sorreliano do movimento sindical, editor da revista Il Divenire Sociale. A partir de 1910 se distanciou do sindicalismo revolucionário e passou a apoiar uma unidade entre sindicalismo e nacionalismo. Em 1914 esteve junto com os intervencionistas e se tornou um combatente dos fasci di combattimento de Milano. Em 1924 foi eleito deputado e se tornou parte da Comissão dos 15 e da espinha dorsal da ditadura fascista. Alexandra Kolontai (1872-1952), revolucionária russa, é uma importante teórica sobre marxismo, revolução e a questão feminina. Kolontai teve um papel crucial no desenvolvimento do marxismo na Rússia e na organização do movimento revolucionário, levando à luta muitas mulheres operárias. Foi atuante na Revolução Russa de 1905 e assistiu o massacre contra a classe operária no Domingo Sangrento. Em abril de 1917 retornou à Rússia junto com Lenin, sendo eleita para o Comitê Executivo do Soviet de Petrogrado. Durante a transição socialista, liderou importantes políticas para a emancipação das mulheres. Amadeo Bordiga (1889-1970) nasceu em Napoli e foi um dos mais importantes militantes comunistas da Itália. A aproximação de Bordiga com o socialismo ocorreu entre os anos de 1905 e 1907 devido à influência de um professor de filosofia que lhe sugeriu a leitura do Manifesto Comunista enquanto era estudante do Liceu Garibaldi. Sua militância política foi iniciada por volta de 1910, já filiado ao PSI, enquanto cursava engenharia na Universidade. Bordiga chamava atenção por seus discursos anticlericais e contra a maçonaria, ambos vistos como inimigos do socialismo. No ano de 1910, filiou-se à seção socialista de Portici, em Napoli, região de desenvolvimento das grandes áreas industriais. Com o passar dos anos, Bordiga se tornou um quadro político importante nas fileiras do PSI, em clara oposição ao positivismo do Partido. Em 1921 foi o fundador do PCI e dirigiu o Partido até 1923. Nos anos seguintes, fez oposição a Gramsci e a linha da IC. Preso pelo fascismo em 1926, articulou junto com Gramsci cursos e escolas nas prisões de Mussolini. Ambrogio Bolloni (1864-1950), nasceu em Alessandria, na região do Piemonte. Filiado ao PSI desde 1897, foi secretário da Liga Camponesa de Alessandria. Nas greves de 1917, advogou a favor dos presos políticos. Foi eleito pelo PCI nas eleições de 1921 e em 1924. No ano de 1926 foi preso e condenado a cinco anos de reclusão. Amerigo Dùmini (1894-1967) liderou o grupo de sequestro e assassinato do deputado Matteotti. O assassino fascista protagonizou inúmeros atos de violência. No dia 02 de junho de 1921 esteve envolvido junto com Dino Castellani no assassinato de Renato Lazzeri e Giselda, sua mãe. Angélica Balabanoff (1878-1965) nasceu em Chernigov, cidade pertencente ao Império Russo, na atual Ucrânia. A militante socialista cumpriu um papel de grande importância para o movimento operário internacional devido sua vivência em diversos países. Foi aluna de Antonio Labriola (1843-1904), militante do PSI, teve grande contato com Mussolini. Em 1917 PCUS e em 1919-1920 foi secretária da Terceira Internacional Comunista. Nos anos seguintes, teve conflitos internos com as lideranças do PCUS e se afastou gradativamente da Rússia, em 1921. Até 1965 morou em diversos países, retomou contato com Giacinto Menotti Serratti (1872-1926) e com o socialismo, publicando o Avanti! na Suíça. Angelo Oliviero Olivetti (1874-1931), nasceu em Ravena, na Emilia Romagna. Na Universidade de Bologna, se filiou ao PSI e em 1898 conheceu Mussolini na Suíça. Em 1906 passou a escrever o Pagine Libre, jornal dedicado ao sindicalismo revolucionário. Em 05 de outubro de 1914 publicou o manifesto do Fascio Rivoluzionario d’Azione Internazionalista, o qual Mussolini assumiu a liderança pouco tempo depois. Se tornou um dos principais aliados de Mussolini e palestrante dos Congressos da Cultura Fascista. Em 1931 se tornou professor de Ciência Política em Perugia. Angelo Tasca (1892-1960), grande amigo de Gramsci durante a juventude em Torino, fundador do L’Ordine Nuovo, esteve junto na fundação do PCI. Nos anos de 1921 e 1923 se envolveu em inúmeras polêmicas e conflitos com o novo grupo dirigente do Partido, pois lutava por formalizar a linha de direita no PCI e pela fusão com os socialistas. Foi perseguido pelo fascismo e se refugiou na França, escreveu o importante livro Nascita e avvento del fascismo (nascimento e advento do fascismo). Anna Kuliscioff (1857-1925) foi uma feminista russa que cresceu na Suíça e foi forçada a se mudar para a Itália com a finalidade de evitar a prisão. Foi uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina na Itália. Lutou pelos direitos das mulheres pobres e operárias: o sufrágio, licença maternidade, melhores salários e salários para o trabalho doméstico. No começo do século XX, Kuliscioff auxiliou a formular as primeiras leis italianas que protegiam as mulheres operárias. Em 1912 fundou o La Difesa della Lavoratrice e durante anos lutou para que o PSI levasse à frente a luta pelo sufrágio universal. Esposa de Fillipo Turati, foram várias as correspondências em que falavam sobre o fascismo. Faleceu em 1925 e sua morte provocou um respeito silêncio entre a multidão que se reunia embaixo da janela da casa que residia na Piazza del Duomo. O cortejo fúnebre foi interrompido pelos fascistas, assim como as coroas de flores. Anselmo Marabini (1865-1948) foi um dos fundadores do PSI e um dos militantes mais importantes do Partido. Em 1921, auxiliou na fundação do PCI. Foi reeleito em 1921. Em 02 de junho de 1922 os fascistas tentaram assassiná-lo em Ímola, sem sucesso, mas devido às ameaças recorrentes, exilou-se em Trieste em 1923 e apenas retornou a Itália em 1945. Durante o exílio, viveu na União Soviética e foi membro do Comitê Executivo da Red Rescue International. Antonio Gramsci (1891-1937) nasceu na Sardenha e migrou para Torino em 1911, com a finalidade de cursar a Universidade. O contato com o socialismo passou e com o movimento operário fizeram parte da formação teórico-política do jovem, assim como o movimento camponês. Neste trabalho o autor tem sua teoria política analisada, assim como vida, método e práxis. Armando Casalini (1883-1924), nasceu em Roma em uma família pobre. Mecânico, com ideias republicanas, se tornou Secretario do Partido Republicano Italiano (1916-1920). Em 1910 se tornou amigo próximo de Pietro Nenni. Em 1922 fundou com a Unione Mazziniana Nazionale. Se tornou conselheiro do Sindicato Nacional das Cooperativas e no pacto entre industrialistas e fascistas, foi nomeado secretário-geral adjunto das corporações sindicais. Em 1924 foi eleito deputado graças a lista fascista. Mas, logo em 12 de setembro foi assassinado em um trem em Roma, na frente de sua filha, pelo carpinteiro Giovanni Corvi. Arturo Rocco (1876-1942), nasceu em Napoli e atuou durante toda sua vida na área jurídica, como juiz e como professor. Asclépia Gandolfo (1864-1925), general do Exército Italiano, foi membro do Grande Conselho Fascista. Bruno Buozzi (1881-1944) socialista e sindicalista muito importante na história do movimento operário Italiano, Buozzi foi um dos quadros políticos mais importantes do PSI. Entre 1908 e 1925 foi secretário geral da FIOM (Federazione Impiegati Operai Metallurgici - Federação dos operários metalúrgicos). Em 1924 foi eleito nas eleições de abril pelo Partito Unitario Italiano (PSU). Durante o Aventino se colocou abertamente contrário ao governo, foi inúmeras vezes espancado e jurado de morte pelos fascistas, o que de fato ocorreu no ano de 1944, no massacre de La Storta, quando foi assassinado junto com outros presos políticos pelo oficial da SS Hans Kahrau. Bruno Fortichiari (1882-1981), socialista próximo de Bordiga desde 1910, responsável pela seção milanesa do PSI, foi o autor da ordem que expulsou Mussolini do Partido. Esteve presente na fundação do PCI e se elegeu deputado nas eleições de 1924. Camilla Ravera (1889-1988) nasceu em Acqui Terme, região do Piemonte. Militante do PSI, em 1918 foi enviada à Torino e conheceu o movimento operário da cidade. Iniciou seu contato com os jovens de L’Ordine Nuovo e contribuiu para o jornal, inclusive nos anos em que Gramsci esteve na Rússia. Ravera esteve presente na fundação do PCI, atuou ativamente nas fábricas e na reorganização do Partido em 1923. Após a prisão de Gramsci, em novembro de 1926, Ravera se tornou a primeira mulher a conduzir um partido político na Itália e o manteve vivo durante os primeiros anos difíceis da ditadura fascista. A comunista foi condenada a 15 anos de prisão e cumpriu cinco. Foi deputada durante os dois primeiros mandatos republicanos e em 1982 teve o cargo de Senadora Vitalícia. Carlo Venegoni (1902-1983) é conhecido como um dos principais militantes antifascistas de Milano e da Lombardia. Operário desde os 12 anos de idade, logo se filiou ao PSI e em 1921 ingressou no PCI. Cesare Maria De Vecchi (1884-1959) auxiliou Mussolini a arquitetar a Marcha Sobre Roma, além de ter sido um dos líderes mais importantes das esquadras do Piemonte que inspirou as esquadras no Massacre de Torino (1922). Cesare Rossi (1887-1967) foi sindicalista e militante do PSI até 1907. Em 1919 se organizou nos Fasci di combattimento e se tornou muito próximo de Mussolini. Em 1924 foi acusado pelo assassinato do deputado socialista Matteotti. Clara Zetkin (1857-1933) nasceu em 1857 na Alemanha. Durante a faculdade de Direito começou a ter contato com o movimento operário e iniciou sua militância em partidos políticos. Zetkin foi de grande importância para a luta das mulheres e para formação e desenvolvimento de revistas, jornais e organizações políticas. No Partido Social-Democrata Alemão (SPD) atuou como líder das 10 mil mulheres filiadas em 1907, assim como na criação da Internacional Socialista das Mulheres (1907), na fundação do Partido Social- Democrata Independente Alemão (USPD) e no Partido Comunista da Alemanha (KPD). Morreu em 1933 durante o exílio na União Soviética. Corrado Graziadei (1893-1960) desde a juventude foi um importante militante socialista e sindicalista, muito interessado na luta agrária. Em Livorno, ao lado de Bordiga, participou da fundação do PCI. Durante a revolta camponesa em Teano, em 1924, apoiou o campesinato pobre e resistiu aos fascistas que violentavam a população. Costantino Lazzari (1857-1927), um dos fundadores do PSI, foi uma liderança de grande importância no Partido e no movimento operário. Dino Grandi (1895-1988) foi membro do alto escalão fascista e responsável por diversos massacres no campo. Em 1921 disputou a liderança dos fascistas, mas perdeu para Mussolini. Na ditadura fascista se tornou Ministro da Justiça. Anos mais tarde, foi de grande importância para a queda do seu líder. Dino Perrone Compagni (1879-1950) foi muito importante durante os primeiros anos do fascismo. Durante a Marcha Sobre Roma, comandou os esquadrões da Toscana. Dom Minzoni (Giovanni Minzoni) (1885-1923), nasceu em Ravena, na Emilia Romagna. Em 1916 foi convocado pelo Exército e solicitou servir como capelão militar. Após a Primeira Guerra, retornou a Itália e se filiou ao Partito Popolare Italiano. Se tornou próximo e amigo de líderes sindicais e de operários que foram assassinados pelos fascistas. Expostamente contrário ao fascismo, se opôs ao movimento juvenil fascista, pois acreditava que os jovens deveriam ser educados pelo catolicismo. No dia 23 de agosto de 1923, os fascistas Giorgio Molinari e Vittore Casoni (absolvidos em 1925), seguindo ordens de Italo Balbo, esmagaram a cabeça do padre com pauladas. Edmondo Rossoni (1884-1965), nascido em uma pequena província na região de Ferrara, iniciou a militância no sindicalismo revolucionário. Por volta de 1909 emigrou para o Brasil após um chamado de Alceste de Ambris, em que suas concepções sindicalistas foram reforçadas. Após a mudança para os Estados Unidos, a virada para o nacionalismo se tornou fato em sua vida, assim como o envolvimento com as milícias fascistas de Mussolini, em 1921, na Itália. Desenvolveu junto com Alfredo Rocco e Giuseppe Botai o programa corporativista do fascismo italiano. Em 1922 se tornou Secretário-Geral da Confederação dos Sindicatos Nacionais que ganhou o nome de Confederazione Generale delle Corporazioni Sindacali Fasciste. Egidio Gennari (1876-1942) foi um importante quadro político da linha massimalista do PSI. Na fundação do PCI, foi um dos socialistas a se juntar a cisão. Diversas vezes foi ameaçado e atacado pelos fascistas, em 1922 foi esfaqueado por um esquadrão em Trieste. Gennari se tornou apoiador de Gramsci durante 1923 e essencial para a formação do novo grupo dirigente do Partido. Durante seu exílio, visitou a América Latina com o codinome Maggi. Emanuele Greppi (1853-1931), foi um historiador, filiado ao Partido Liberal Italiano, foi eleito prefeito de Milano (1912-1913) e Senador do Reino da Itália (1913). Enrico Corradini (1865-1931) nasceu em Samminiatello e se tornou jornalista tendo sido redator de Germinal, Il Marzocco, Gazzetta di Venezia e Il Regno. Muito influenciado por Georges Sorel, Gabrielle Danunzio e pelo nacionalismo, fundou em 1910 a ANI. Em 1º de março de 1923 foi nomeado Senador pelo Rei Vittorio Emanuelle III. Entre 1925 e 1929 foi membro do Grande Conselho Fascista. Fabrizio Maffi (1868-1955) – codinome Barbi (após o Congresso de Lyon) foi médico, viveu a revolução na Rússia. Durante sua vida na Itália, dedicou-se a saúde, ao combate a tuberculose e assistência aos desfavorecidos. Filiado ao PSI, se envolveu nos debates contrários aos massimalistas e se aliou a tese da IC favorável a expulsão dos reformistas do PSI e fusão com o PCI. Em 20 de abril de 1921 foi gravemente espancado pelos fascistas, em Pavia. Maffi chegou a fazer parte do Comitê Central e foi chamado para integrar com Gramsci, Togliatti, Scoccimarro e Mersù, o Comitê Executivo. Junto com Gramsci, em 1924, articulou a ideia de Antiparlamento. Em 06 de março e 19 de novembro, sofreu mais dois espancamentos pelos fascistas enquanto se preparava para documentar as responsabilidades de Mussolini no crime Matteotti. Em 1926 foi preso e condenado a cinco anos de reclusão, mas passou a sua vida de prisão em prisão. Quando solto, em 1930, ficou proibido de exercer a profissão, em reclusão domiciliar e ficou em vigilância até a Segunda Guerra. Em 1943, com setenta e cinco anos, foi para a Suíça e passou a militar nos grupos antifascistas. Em 1945 foi membro do Conselho Nacional e deputado na Assembleia Constituinte. Fausto Gullo (1887-1974) desde a juventude foi filiado ao PSI e tornou-se muito próximo de Bordiga. Em 1924 foi eleito deputado pelo PCI, mas não assumiu, pois houve uma recontagem de votos. Filippo Turati (1857-1932) foi um socialista muito envolvido na Fundação do PSI, em 1892, junto com sua companheira Anna Kuliscioff (1857-1925). Ambos tiveram papel crucial para a organização do Partido Socialista Italiano no movimento operário. Desde o advento do fascismo Turatti e Anna Kuliscioff trocaram importante correspondência sobre o fascismo e os acontecimentos no país. Em 1922, na segunda cisão do PSI, Turati fundou o Partido Socialista Unitário (PSU). Opositor ao fascismo e ao comunismo, se exilou na França a partir de 1926. Francesco Ercole (1884-1945) foi professor em Urbino, em Sassari, em Cagliari, Palermo e Roma. Em 1925 assinou o Manifesto dos intelectuais fascistas e teve importante participação na história do fascismo. Francesco Saverio Nitti (1868-1953) foi Primeiro-Ministro da Itália entre 23 de junho de 1919 até 15 de junho de 1920. Fulvio Suvich (1887-1980) nasceu em Triste, se formou em Direito e se ofereceu como voluntário para a Primeira Guerra Mundial. Maçom, foi eleito deputado em 1921 pelas fileiras nacionalistas. Em 1926 se tornou subsecretário das Finanças, nomeado por Mussolini. Gabriele D’Annunzio (1863-1938), poeta e dramaturgo, foi considerado herói de guerra pelos conservadores e reacionários. Se aventurou em Fiume (1919-1920) com cerca de mil apoiadores, apoiou Mussolini durante a construção e desenvolvimento do fascismo. Giacinto Menotti Serrati (1872-1926) foi um dos mais importantes socialistas da Itália, citado inúmeras vezes em textos do Lenin e em artigos do Gramsci. A partir de 1917 liderou o PSI na adesão ao Comintern. Em 1924 foi a liderança mais importante da linha de esquerda do PSI na fusão com o PCI. Em 1926 morreu a caminho de uma reunião clandestina do PCI. Giacomo Matteotti (1885-1924), um dos socialistas mais conhecidos na Itália do século XX, nasceu na região do Veneto e se formou em Direito na Universidade de Bolonha. Na juventude se filiou ao PSI e foi deputado eleito nas eleições de 1919, 1921 e em 1924. Foi grande opositor do fascismo e em 1924 foi sequestrado e assassinado por um grupo de milicianos fascistas. Gioacchino Volpe (1876-1971) nasceu em Paganica e se formou na Università di Pisa. Professor em Milano e nacionalista, apoiou o fascismo e em 1924 foi eleito deputado pela lista fascista. Giovanni Boero (1878-1958), militante socialista intransigente, filiado ao PSI. Durante o Congresso de Bolonha (1919) apoiou as teses de Bordiga. Nas ocupações em 1920, apoiou o movimento conselhista e escreveu diversos artigos para o L’Ordine Nuovo. Giovanni Gentile (1875-1944) é um dos principais expoentes do neoidealismo italiano, se tornou uma figura essencial do fascismo. Foi Ministro da Educação durante a Ditadura Fascista e organizou inúmeras reformas educacionais. Giovanni Corvi (1898-1944) é um dos nomes que ficaram esquecidos pela história italiana. O jovem, aos 26, assassinou o deputado fascista Armando Casalini. Segundo depoimentos, no momento dos tiros, o carpinteiro gritou Vendetta per Matteotti! Giovanni Giolitti (1842-1928) foi um dos quadros políticos mais importantes da história Italiana. Presidente do Conselho de Ministros em cinco diferentes mandatos. Giovanni Marinelli (1879-1944) foi uma liderança fascista importante que detinha grande poder econômico. Foi um dos organizadores da Ceka, polícia fascista, um dos financiadores da Marcha Sobre Roma e do assassinato de Matteotti. Giovanni Papini (1881-1956) nasceu em Firenze. Professor e escritor, se converteu ao catolicismo e aderiu ao fascismo. Giovanni Parodi (1889-1962) nasceu em Acqui Terme, mesma cidade de Camilla Ravera. Desde 1905 passou a residir em Torino e logo ingressou no PSI e na FIOM. Participou das ocupações da FIAT, em 1920. Na fundação do PCI, esteve ao lado de Bordiga e integrou o Comitê Central do Partido. Giulia Schucht (1896-1980) foi uma musicista russa. Esposa de Gramsci, tiveram dois filhos. Giuseppe Berti (1901-1979) se aproximou de Bordiga e da Federal Juvenil Socialista em 1918, foi colaborar do jornal Il Soviete e do jornal L’Avanguardia. Em 1919 criou a Clarté: rivista mensile degli studenti comunisti. Na fundação do PCI, tornou-se o primeiro secretário nacional da Federação Juvenil e membro do Comitê Central do Partido. Sob o pseudônimo de Erik, em 1921 organizou conflitos armados contra os fascistas. Desde o IV Congresso da IC, assumiu posição ao lado de Angelo Tasca. Giuseppe Garibaldi (1807-1882), famoso general Italiano, atuou na América do Sul e na Europa. Se tornou uma das figuras mais importantes do Risorgimento. O Museo nazionale del Risorgimento italiano, em Torino, dedica grande parte do acervo para contar a história política e pessoal de Garibaldi – mencionando apenas suas filhas, mas sem mencionar a esposa, Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida como Anita Garibaldi, que atuou na Farroupilha e também no Risorgimento. Giuseppe Mazzini (1805-1872), político importante no período do Risorgimento. Grigory Zinoviev (1883-1935), importante liderança política na Revolução Russa. Entre 1919 e 1926 foi presidente da Internacional Comunista. Inessa Armand (1874-1920), revolucionária, atuou no Partido Operário Social- Democrata Russo (POSDR), escreveu para o jornal Rabotnitsa (Mulheres Operárias), atuou no Partido Comunista Russo e travou importantes lutas no movimento operário e no interior do Partido, principalmente como diretora do Zhenotdel, Departamento das Mulheres do Comitê Central do Partido Bolchevique. No ano de 1920 criou a Primeira Conferência Internacional das Mulheres Comunistas. Ler: Schlesener, A. H., & Masson, G (2020). Política e educação: observações acerca de Inessa Armand - feminista, revolucionária e educadora. Germinal: Marxismo e educação em debate, 12(1), 88–98. https://doi.org/10.9771/gmed.v12i1.36883 Ítalo Balbo (1896-1940), aviador Italiano que cumpriu papel decisivo para o desenvolvimento do fascismo e na Marcha Sobre Roma, em 1922. Em 1929 se tornou Ministro da Aviação na ditadura fascista e em 1934 tomou posse do cargo de Governador- Geral da Líbia. Ludovico Tarsia (1876-1970), muito próximo de Bordiga desde a juventude, seguiu a linha abstencionista do PSI. Presente na Fundação do PCI, foi eleito membro do Comitê Central. Luigi Repossi (1882-1957) quando filiado ao PSI, auxiliou Bordiga na fundação da Fração Comunista. Esteve presente em Livorno e em 1924 foi eleito deputado pelo PCI. Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón (1907-1954), é popularmente conhecida como Frida Kahlo e muitas vezes minimizada à figura de amante de Leon Trotsky (1879-1940), nasceu no México em 1907, mas em sua biografia afirma ter nascido em 1910, ano da Revolução Mexicana. Aos treze anos de idade ingressou na Juventude Comunista; em 1922 se tornou membro do coletivo socialista Los Cachuchas e, em 1928, recuperada do acidente que comprometeu sua saúde pelo restante da vida, filiou-se ao Partido Comunista Mexicano (PCM). Frida Khalo, pintora revolucionária e feminista, fez grande contribuição para a arte e até os dias atuais influencia mulheres em todo o mundo. O quadro “O marxismo dará saúde aos doentes” é uma das obras de arte da autora. Maria Giudice (1880-1953) foi professora, jornalista, sindicalista e militante do PSI. Dirigiu a Câmara do Trabalho de Voghera e a Câmara do Trabalho de Borgo San Donnino, na Emílio Romagna. Foi aprisionada inúmeras vezes por participação em greves, protestos e motins. Mauro Scoccimarro (1895-1972) foi um dos fundadores do PCI. No período de formação do novo grupo dirigente, trocou muitas correspondências com Gramsci. Nadejda Krupskaia (1869-1939), militante comunista e feminista foi uma das mais importantes teóricas da educação revolucionária russa. Desde muito jovem escreveu em jornais, em 1899 criou o panfleto The Woman Work (A mulher operária), ministrou aulas noturnas nas fábricas e impulsionou a organização das mulheres na revolução. Ficou conhecida como “estrela vermelha” por ter sua própria autonomia e brilho, mesmo sendo companheira de Lenin. Ver: Lodi-Corrêa, S (2019). Nadezhda Krupskaia: por uma Educação Revolucionária. Germinal: Marxismo e educação em debate, 10(3), 236–244. https://doi.org/10.9771/gmed.v10i3.27387 Onorato Damen (1893-1979) foi filiado ao PSI durante a juventude. Durante o Biennio Rosso trabalhou no Comitê Local de Bologna. Na cisão, apoiou Bordiga e aderiu ao PCI. Se tornou um dos principais alvos dos fascistas e em 10 de maio de 1921 foi espancado, obrigado a renunciar as ideias bolcheviques e preso pelos fascistas. Não o fez. Após a participação em uma greve geral, no retorno pela estrada encontrou um esquadrão fascista e o confronto resultou na morte de um fascista e outros dois feridos. Damen foi condenado a 3 anos de prisão. A direção do PCI decidiu enviá-lo para a França, mas em 1924 retornou clandestinamente a Itália e foi eleito para o Conselho Municipal de Firenze. O militante não aderiu a nova direção do PCI e seguiu em apoio ao camarada Bordiga, atuando também no Comitê de Entente. Em novembro de 1926 foi preso em Ustica e condenado a 12 anos. Palmiro Togliatti (1893-1964), nasceu em Genova e se mudou para Torino para cursar a Universidade. Foi membro fundador do L’Ordine Nuovo junto com Gramsci, Terracini e Angelo Tasca. Passou grande parte de sua vida na Rússia e desde 1927 se tornou dirigente do PCI. Pietro Tresso (1893-1943) foi um importante militante do PCI. Em 1923 assumiu a direção regional de Milano. https://doi.org/10.9771/gmed.v10i3.27387 Rita Montagnana (1895-1979) nasceu em Torino e foi importante militante da juventude socialista, filiada também ao PSI. Esteve presente em greves e manifestações de 1917, assim como foi muito atuante durante o Biennio Rosso e na militância no PCI, desde sua fundação. Em 1922 fundou o jornal La Compagna. Em seu retorno à Itália, em 1944, praticamente vinte anos após seu exílio com o companheiro Palmiro Togliatti, tornou-se diretora da seção feminina do PCI. Entre 1946 e 1953 atuou na vida política nacional do país, como membro eleita da Assembleia Constituinte e do Senado. Rosa Luxemburg (1871-1919), uma das revolucionárias mais conhecidas, nasceu na Polônia. Mulher forte, passou grande parte de sua vida aprisionada. Mulher comunista, amante, polonesa, judia, com uma deficiência na perna, aprisionada inúmeras vezes, e que nunca deixou de ser apaixonada pela vida e sonhar com a revolução. Luxemburg travou importantes e necessários debates no movimento operário e no SPD, além de ter realizado importante discurso na fundação do KPD. Uma das principais teóricas do socialismo, escreveu importantes livros, cartas, textos e discursos. Sua obra abrange a temática da economia, da greve de massas, da Revolução Russa, a questão do Partido, o Sindicato e os Soviets. Foi sequestrada no dia 15 de janeiro de 1919, em Berlim, junto com Karl Liebknecht e Wilhelm Pieck, pelos Freikorps, forças paramilitares da extrema-direita. Seu corpo foi encontrado no dia 31 de maio, jogado no canal Landwehr. A pesquisadora Isabel Maria Frederico Rodrigues Loureiro possui importantes estudos sobre Rosa Luxemburg. Ruggero Grieco (1893-1955) nasceu na Foggia, na Apúlia. Desde 1912 se filiou ao PSI e se mudou para Portici para estudar agronomia. Próximo de Amadeo Bordiga, participou da fundação do Círculo Carlo Marx. Em 1921 esteve ao lado de Bordiga para fundar o PCI. No cárcere, em 1923, trocou cartas com Gramsci e com os outros membros do novo grupo dirigente do Partido. O tema sobre o campo e a questão meridional foi presente na vida e militância de Grieco. Em 1924 conduziu a Associação para a Defesa dos Camponeses Pobres, fundada pelos comunistas. Com o pseudônimo de Garlandi, entre 1926 e 1944 ficou exilado na Suíça. Ao retornar à Itália assumiu importantes frentes do PCI e se tornou editor da revista A reforma agrária (La Riforma Agraria). Santi Romano (1875-1947) foi um jurista italiano que somente se filiou ao PNF em 1928, quando foi nomeado por Mussolini ao Conselho de Estado. Silvio Longhi (18965-1937) atuou na área do direito, amigo próximo de Alfredo Rocco, auxiliou na criação do conhecido Código Rocco. Teresa Recchia (1899-1935), nasceu em Torino e desde muito nova se tornou operária da FIAT. Foi membro do PCI e tornou-se essencial para sua continuidade a partir de 1926, quando foi a única mulher operária eleita para a direção do Partido no Congresso de Lyon. Tito Zaniboni (1883-1960), membro de PSI e maçom, veterano da Primeira Guerra Mundial, teve condecorações durante a Primeira Guerra, mas ficou mais conhecido pela tentativa de assassinato de Mussolini, em 4 de novembro de 1925. Umberto Terracini (1895-1983) nascido em Genova, mudou-se para Torino para cursar a Faculdade de Direito. Em 1913 filiou-se ao PSI. Foi membro fundador do semanário L’Ordine Nuovo (1919). Na fundação do PCI esteve ao lado de Amadeo Bordiga e discursou sobre a necessidade de criação de um novo partido da classe operária. No ano de 1926 foi preso pela ditadura fascista e condenado a 22 anos de prisão. Em 1943 foi libertado pela resistência e em 1946 se tornou deputado eleito pela Assembleia Constituinte. Venogoni Carlo (1902-1983) nasceu em Legnano, região de Milano. Aos doze anos de idade se tornou operário em uma das maiores empresas de algodão da Itália, Cantoni Cotonificio. Aos quinze começou a trabalhar na metalúrgica Franco Tosi e foi demitido em 1920 por ter participado da ocupação das fábricas. Desde a adolescência foi filiado ao PSI e em 1921 participou da fundação do PCI. Ao lado de Bordiga, vai para Moscou em 1924 e se posiciona favoravelmente aos discursos de Trotsky. Em 1926 foi eleito para o Comitê Central e ficou responsável pela questão sindical. Atuou na clandestinidade até 1927, quando foi preso e condenado a 10 anos de prisão. Após a soltura, retornou as atividades clandestinas e novamente foi preso e enviado para o campo de concentração fascista em Colfiorito. Novamente solto, em 1943, retornou às atividades da resistência e em agosto de 1944 novamente foi preso e enviado para um campo de concentração em Milano, enquanto aguardava transferência para Alemanha. Na viagem de ônibus de Milano para Bolzano, conheceu sua esposa, a antifascista Ada Buffulini – também deportada -. Carlo consegue escapar novamente e em 25 de abril de 1945 coordenou uma ação em Genova. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 12 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16 1.1 “De cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades!” .......... 16 1.2 Retorno à fábrica... ........................................................................................................ 17 1.3 Gramsci para a vida, companhia de vida ....................................................................... 18 2. GUERRA DE MOVIMENTO E HORIZONTE VERMELHO ...................................... 24 2.1 Guerra Imperialista e Revolução Bolchevique .............................................................. 24 2.2 Fábrica: vanguarda espiritual e material da classe operária .......................................... 35 2.3 Fascismo: contorno da crise orgânica e restauração burguesa ...................................... 46 2.4 Biennio Rosso: a Petrogrado italiana ............................................................................. 55 3. A REVOLUÇÃO FRACASSADA E A REVOLUÇÃO PASSIVA .............................. 68 3.1 Revolução em permanência e cisão do movimento operário ........................................ 68 3.2 Biennio nero: a ofensiva reacionária ............................................................................. 81 3.3 O partido de Mussolini e a fábrica................................................................................. 93 3.4 Crise e luta no movimento operário ............................................................................ 104 4. A FÁBRICA E O ANTIFASCISMO REVOLUCIONÁRIO EM GRAMSCI ............. 118 4.1 O biennio nero inacabado e o problema da fusão ....................................................... 118 4.2 A batalha em duas frentes: rumo à L’Unità ................................................................. 130 4.3 A formação do novo grupo dirigente do PCI .............................................................. 141 4.4 O dirigente comunista .................................................................................................. 152 5. ESTRATÉGIAS E TÁTICAS REVOLUCIONÁRIAS ................................................ 164 5.1 Entre o Sul e os sabonetes de Marsiglia: a organização do PCI .................................. 164 5.2 A bolchevização do PCI e as fábricas ........................................................................ 176 5.3 O fracionismo contra tudo e todos e as preparações para Lyon .................................. 190 6. ENTRE PROJETOS E O MUNDO GRANDE E TERRÍVEL ..................................... 208 6.1 O Congresso de Lyon: as teses I, II e III do grupo dirigente ....................................... 208 6.2 Congresso de Lyon: as teses IV e V ............................................................................ 216 6.3 A esquerda: a intervenção e as teses de Bordiga ......................................................... 227 6.4 A consolidação da ditadura fascista e a prisão de Gramsci ......................................... 235 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 246 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 255 OUTRAS FONTES ........................................................................................................... 273 12 APRESENTAÇÃO Essa calma que inventei, bem sei... Custou as contas que contei... Eu tenho mais de vinte anos e eu quero as cores e os colírios, meus delírios... Estou ligada num futuro blue. (Cantada por Elis Regina, 1972). Foi em uma noite de dezembro de 2012, aos dezessete anos, enquanto estudava Matemática para o vestibular da UNESP/FFC e amamentava meu filho de nove meses, que um pensamento maluco me ocorreu: “quero estudar História por toda a minha vida!”. Não imaginava a materialidade que isso teria, quem dirá as dificuldades e o quão profunda são as histórias que compõem a vida humana, seja de um país, de uma pessoa, de uma coletividade, de um Partido, de uma rua, de uma música. Logo tive a boa notícia que fui aprovada no vestibular e me parecia que cursar Ciências Sociais me livraria de Matemática por um bom tempo. Já no primeiro ano do curso, tive aula de Introdução à Economia Política com o querido professor José Marangoni. Deslumbrada por tudo, li todos os textos do primeiro ano. Mas, me apaixonei por Ciência Política e Maquiavel, autor que havia lido aos doze anos, quando meu pai me presenteou com o complicado O Príncipe. A Antropologia foi um deslumbre. O mundo parecia fazer sentido de verdade e tudo era desconstruído de formas radicais, mas doloridas. Fato é que o mundo não seria o mesmo... Muito menos eu... Com os dias, os textos, as aulas, os debates, as perguntas para os professores e professoras, os documentários e as músicas, formava-se a Cientista Social ao mesmo passo que uma mulher mãe solo lutava para se reafirmar entre colegas e departamentos. Logo no final de 2013 descobri meu objeto de estudos: Gramsci e a teoria política (1911-1921). Dez anos que não se estuda em cinco anos. Mas, na minha persistência e nas inúmeras reuniões com meu orientador, Marcos Del Roio, estudei. Muito ficou para trás, mas o essencial havia sido plantado: Gramsci é movimento e movimento é algo sublime, é dialética. Veio uma reprova no Mestrado ao mesmo tempo em que a vida me cobrava colocar em prática as Ciências Sociais. Não em um Instituto de Pesquisa com bom salário, mas nas escolas públicas do Estado de São Paulo. Foram 14 escolas e a Fundação Casa no período de sete anos de docência. De novo Marx, de novo Gramsci: a educação do educador. Com 13 certeza aprendi mais com meus alunos do que eles comigo. Ensinei História, Geografia, Filosofia, Projeto de Vida, Sociologia, mas aprendi vida. E vida é cotidiano, é diálogo, é problema, é superação, é amor, é afeto, é carinho, é solidão, é solitude, é música, é cor, é sabor, é cheiro, é movimento. Gramsci fazia sentido de uma forma diferente, mas ainda impossível de explicar... Aprovada no Mestrado em 2018, os Conselhos de Fábrica e a Democracia Operária se tornaram minha nova paixão. Ainda não sei responder se de fato os operários organizados possuíam a capacidade para fazer uma revolução socialista na Itália. Até porque a Itália é a Itália: o país da contradição e da Igreja Católica. Mas, lá no Mestrado eu me envolvi tanto com o objeto de estudos que quis acreditar que a revolução aconteceria. No Brasil, em pleno 2018-2019, parecia que o mundo estava prestes a acabar. A vitória eleitoral de Jair Bolsonaro e da extrema-direita, do irracionalismo, do terraplanismo e de inúmeras teorias da conspiração, somado à pandemia da Covid-19 que tirava vidas inocentes, de alunos, de amigos e de milhares de pessoas em todo o mundo, fez com que eu me encantasse com a Itália do século XX. Com alguma brevidade, de um ano, fui qualificada e indicada para o Doutorado- Direto por uma banca de peso, como se diz no mundo acadêmico. Estavam ali presencialmente meu orientador, Prof. Gianni Fresu (Unica), Prof. Leandro Galastri (UNESP-FFC) e o Prof. Giuseppe Cospito (Università di Pavia). Mas, as mulheres possuem um padrão de não se acharem boas o suficiente. Não é autoestima. É estrutural, é patriarcal. Não aceitei o convite para o Doutorado-Direto e segui no Mestrado. Tive um ano inteiro para estudar o Brasil, o olavismo, Hitler, Mussolini, o torturador Ustra, os discursos de Bolsonaro e tudo que é de repulsivo da nossa sociedade. Voltei ao Gramsci. Queria estudar a revolução porque ali via alguma esperança. Repetia para mim mesma: “no mundo grande e terrível, mas com o otimismo da vontade”. Filha de militante, meu forte nunca foi atuar em Partido político. Militante de menos, teórica demais, um tanto intransigente e contra tantas hierarquias, meu lugar realmente era nos livros. Em 2020, aprovada em primeiro lugar no Doutorado em Ciências Sociais da UNESP/FFC, teria muitos anos para desenvolver uma pesquisa sobre antifascismo. Mas, não me ocorreu o óbvio: para estudar o antifascismo, precisa ser estudado o fascismo. E, fui ler Mussolini e os fascistas. Chorei ao ler sobre os espancamentos, os assassinatos, as pauladas, os incêndios. O Durkheim e a neutralidade axiológica não encontraram lugar. Apenas a frase 14 da Professora Célia Tolentino, em 2012, “o materialismo histórico-dialético é como um lamaçal. Para estudar e entender, você precisa estar dentro da lama, se sujar da lama; ver o positivo dentro do negativo e o negativo dentro do positivo”. A frase somente fez sentido agora, no exato momento em que escrevo estas linhas nada apropriadas para uma Tese de Doutorado. Mas, é isso porque esta Tese de Doutorado foi isto: um aprofundamento teórico nas entranhas do fascismo italiano entre 1919-1926, no cotidiano da vida de Gramsci, na luta das mulheres e homens, e no assassinato de muito deles. Precisei dançar, morar na Itália, conhecer a Sardenha, percorrer algumas cidades italianas, utilizar da observação participante em uma manifestação fascista em Cagliari, passar dias em um país na África, falar mal de Portugal em Lisboa e Porto, e voltar ao Brasil bem brasileira – como diz Chico Buarque -, para entender que este trabalho precisaria ser encerrado com cinco capítulos – oito sessões, ainda que tudo não parecesse fazer mais sentido. Num misto de cientista, bailaria, professora e mãe, entendi que a fundamentalidade e a densidade teórica de Gramsci está em cada texto, artigo, documento e carta que ele escreveu. Não apenas no período que esta pesquisa aborda diacronicamente (1917-1926), mas desde o primeiro texto Oprimidos e Opressores. Gramsci é movimento e teoria, é trabalho, cultura, política. É revolução. Não é a Questão Meridional ou os Cadernos do Cárcere, é todo o processo histórico, o emaranhado profundo de vivências políticas e solitárias, batalhas de ideias, saudades da esposa, da mãe, da irmã, dos irmãos, do filho, da Itália, que esse pequeno-grande homem viveu. Assim formou-se Gramsci: no movimento da vida nacional, internacional e da sua própria vida. E, para tanto, esta tese de doutorado não tem a pretensão de transformar o mundo e nem mesmo de transformar as concepções e leituras gramscianas – ainda que não concorde com todas e não exponha livro a livro, artigo a artigo que foi lido, foi fichado e foi mentalmente criticado ou elogiado -. Mas, como todo trabalho acadêmico-científico brasileiro, escrito por uma mulher, ele surge de um lugar, se perde nas encruzilhadas teóricas e migra para outro lugar: os olhos do leitor. Sem buscar um convencimento e sem mesmo trazer toda a originalidade que possuem os escritos de Antonio Gramsci, o maior dirigente teórico e metodológico deste trabalho, a pretensão é simples: demonstrar que o processo revolucionário, em sua essência 15 e movimento antifascista e anticapitalista, é realizado por pessoas. Pessoas essas que são complexas em suas histórias, pessoalidades, vida e luta. Pois viver é lutar. Os nomes que aparecem neste trabalho, e aqueles que não estão nessas páginas, são homenageados. Muitos trabalhos ao longo do século XX fizeram isso: trataram de homenagear combatentes revolucionários, torturados, aprisionados e assassinados por governos de direita. Este trabalho, que é um estudo filológico, com exposição diacrônica dos escritos gramscianos, recorda os textos de Gramsci em movimentos diários, cotidianos, de luta contra o fascismo e de pretensão de construção de novas relações sociais. Ao mesmo tempo que se luta contra o fascismo, se constrói novas relações sociais, novas formas de vida, novos modos de pensar a vida individual e coletiva. Gramsci é revolução, é movimento. 16 1. INTRODUÇÃO Son la mondina, son la sfruttata. Son la proletaria che giammai tremò. Mi hanno uccisa e incatenata, carcere e violenza nulla mi fermò. Coi nostri corpi sulle rotaie, noi abbiam fermato il nostro sfruttator. C'è tanto fango nelle risaie, ma non porta macchia il simbol del lavor. (Letra do militante do PCI, Pietro Besate, lançada em 1950). 1.1 “De cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades!” Moscou, 08 de março de 1917. Mais de cem mil mulheres, mães, operárias, tias, avós, filhas, de todas as ideologias e religiões, revoltaram-se contra a miséria, a carestia, a guerra, as condições precárias de trabalho e o czarismo. Munidas de paus, pedras e bolas de neve organizaram-se espontaneamente e foram às fábricas em busca do apoio dos operários. O braço armado do Estado apoiou a classe operária e a revolução socialista teve seu início. O velho morreu e o novo pôde nascer. Com esperanças, as classes subalternas se organizaram e criaram seus próprios organismos revolucionários e autônomos. Assim como na Comuna de Paris, o poder da subjetividade e da organização proletária demonstrou que um novo mundo seria possível. Em Torino estava Nino, um jovem da Sardenha deficiente, socialista e pobre que se encantou com as notícias da revolução: “o fenômeno mais grandioso jamais produzido pela atividade humana”. O mundo grande e terrível seria destruído, a miséria e a fome acabariam, assim como as guerras e a exploração do trabalho humano: “a liberdade dos espíritos, a instauração de uma nova consciência moral que estas pequenas notícias nos revelam”. A luz do Oriente sobre o velho mundo ocidental trouxe a possibilidade de uma nova civilização “que coincide com tudo o que os nossos mestres nos tinham ensinado (Gramsci, 2004, pp.100-104)1. A Revolução socialista, no entanto, foi derrotada e a classe operária encara tempos difíceis. As contradições oriundas da exploração de classe estão cada vez mais acirradas e o proletariado tem uma nova formatação. A esperança de uma transformação radical da sociedade e de elaboração de uma nova hegemonia parece cada vez mais distante, à medida que necessária, no mundo grande e terrível que vivemos. Milhões de vida são ceifadas pelo capitalismo: as guerras e as matanças contra os povos nativos do Brasil, contra o povo palestino, a onda reacionária semelhante ao fascismo que o mundo presencia, a destruição 1O artigo Notas sobre a Revolução Russa foi publicado no jornal Il Grido del Popolo, em 29 de abril de 1917. 17 da natureza e da vida humana, assim como o sucateamento da saúde, da educação e da ciência. A lógica destrutiva do capital atualiza ainda mais a clareza revolucionária de Rosa Luxemburg: o socialismo é uma necessidade que vai além do proletariado viver nas condições materiais que são oferecidas pelo capitalismo, mas “também porque estamos todos ameaçados de desaparecer se o proletariado não cumprir seu dever de classe, realizando o socialismo (Calorosa aprovação) (Luxemburg, 1991, p.23) 2. 1.2 Retorno à fábrica... O caminho entre socialismo ou barbárie é de grande atualidade no complexo período de crise orgânica que novamente a humanidade atravessa. Não é possível mencionar os milhões de revolucionários e revolucionárias, das cidades e dos campos, do Oriente e do Ocidente, que batalharam por uma nova civilização. Esta pesquisa resgata com brevidade a militância de homens e mulheres que ousaram lutar, assim como observa a reflexão teórica de importantes sujeitos revolucionários, aspecto crucial para os tempos de decadência ideológica e reacionarismo que vivemos. Antonio Gramsci, intelectual orgânico das classes subalternas, é o prisma teórico, categorial e metodológico desta análise. Vivenciou problemas históricos do capitalismo sem ser aprisionado pelos esquemas pré-concebidos do socialismo reformista ou do sectarismo. Ao se defrontar com adversários e camaradas políticos, entrou em contato com as massas em suas lutas diárias, tornou-se parte do cotidiano do campesinato e da classe operária e desvendou o que poucos conseguiram: “de um lado, o proletariado no sentido estrito, isto é, os operários da indústria e da agricultura industrializada; de outro, os camponeses pobres – eis as duas alas do exército revolucionário (Gramsci, 1954, pp.61-67)3. A fábrica capitalista é a maior célula de exploração do trabalho humano que se apropria de homens e mulheres, jovens e adolescentes, independentemente da religião, cor ou etnia. “Ela confisca todo o tempo de vida do operário mediante ampliação desmedida da jornada de trabalho” e explora “a força de trabalho de modo cada vez mais intenso (Marx, 1985, pp.46-47). A luta entre o trabalhador e o capitalista é iniciada pela própria relação com o capital. Durante séculos a humanidade vivenciou revoltas dos trabalhadores com greves e 2Intervenções de Rosa Luxemburg no Congresso de fundação do Partido Comunista Alemão (30 de dezembro de 1918 a 1º de janeiro de 1919, Berlim. 3Gli avvenimenti del 2-3 dicembre foi publicado em L’Ordine Nuovo, ano I, n. 29, 6-13 de dezembro de 1919, p.227. 18 destruição de máquinas. No entanto, quando organismos como sindicatos e partidos reformistas se apropriaram das lutas por melhores salários, não lutaram, em grande medida, contra a existência do capitalismo. O Soviet surge como uma alternativa revolucionária de organização do trabalho e do trabalhador. Embrião de um Estado operário, o proletariado urbano se organiza, se auto educa e se autogoverna do Conselho, além de autogerir a produção de modo consciente e necessário. Ou seja, existe uma relação dialética na fábrica e no trabalho, em que a célula de exploração do trabalho, torna-se um “lugar onde a libertação deve começar, no centro de irradiação do movimento de rebeldia: portanto seu movimento é são, é forte e será vitorioso (Gramsci, 1954, pp.61-67). É responsabilidade de uma revolução socialista transformar todas as estruturas sociais hegemônicas do capitalismo, inclusive as relações na vida privada, no que diz respeito ao comportamento, sexualidade, amor. O novo tipo humano precisa estar organicamente ligado com as transformações psicológicas basilares do novo mundo e “a classe operária necessita, para a realização de sua missão social, de mulheres que não sejam escravas (...) que rompem com os dogmas que as escravizaram (Kolontai, 2011, pp.21-22). Para tanto, a organização revolucionária e antifascista deve ser oriunda da fábrica. No conjunto da vida social e da coletividade, para Gramsci, brotarão os melhores e mais perfeitos homens e mulheres que se elevam para além de uma categoria ou classe social. O Conselho e a atuação do Partido nas células, desenvolve o locus do trabalho como lugar primário de construção de luta e de democracia operária que desenvolve o espírito de cisão e constrói coletivamente uma sociedade de produtores. O nexo cultura-política-trabalho é o que fará sentido para uma nova vida, nova sociedade, com novo consenso, nova ética e nova moral. 1.3 Gramsci para a vida, companhia de vida Ser dirigente político e teórico que lutou contra o reformismo socialista e o sectarismo, é o que diferencia Gramsci de tantos intérpretes e militantes do século XX. Em Gramsci não há espaço para autoritarismos e ausência de democracia operária. A transformação ético-moral da sociedade implica justamente que uma nova sociabilidade seja produzida por quem está às margens. A subjetividade antagônica e a vontade coletiva ganham fôlego e organização independentemente das mazelas e misérias do capitalismo quando as massas entendem a necessidade do espírito de cisão e de uma nova civilização. O 19 otimismo da vontade ultrapassa o pessimismo da razão. Portanto, desdobra-se nesta pesquisa a própria luta de Gramsci e suas indagações sobre o fracasso da revolução socialista e a vitória sangrenta e violenta da revolução passiva, ao modo de fascismo. Na segunda seção, Guerra de movimento e horizonte vermelho, o contexto de guerra e revolução é essencial para compreender os desdobramentos na organização do proletariado na fábrica. A Guerra Imperialista, uma guerra de rapina, originou uma crise orgânica e uma crise da hegemonia liberal que assolou a Europa. A Itália foi atingida pela crise, também moral e de civilização. O proletariado e o campesinato russo foram capazes de se unirem para a derrubada do czarismo. Gramsci viveu e buscou traduzir para Torino, a “Petrogrado italiana” a experiência revolucionária. No entanto, o Partido Socialista Italiano (PSI) e o Sindicato não apoiaram o movimento dos Conselhos de Fábrica e nem as ocupações dos camponeses sem-terra que ocorria no Sul do país. O PSI perdeu a chance de dirigir o proletariado em 1915, em 1917 e durante 1919-1920. Na terceira seção, A revolução fracassada e a revolução passiva, a cisão do movimento operário e a fundação do Partido Comunista d’Itália marca o início da luta antifascista. O Partido revolucionário das massas Italianas surge em complexo período social, em meio à violência fascista e aos debates internos do PSI e da Internacional Comunista. O objetivo foi formar um Partido que dirigisse a revolução e as massas proletárias. No entanto, Amadeo Bordiga, fundador e dirigente do PCI durante seus primeiros três anos, não foi capaz de completar a complexa tarefa. A revolução tornou-se cada vez mais distante e a derrota do movimento operário internacional estava conformada. O mundo acompanhou os ataques violentos do capital. O fascismo tornava-se exemplo prático e ideológico para a Europa. A revolução passiva, revolução-restauração, iniciava sua segunda etapa em março de 1921 e abria espaço para rearticular o bloco histórico burguês com a Igreja, os pequeno-burgueses, latifundiários e as forças sociais mais reacionárias da Itália. Benito Mussolini organizava ex-combatentes, jovens iludidos com a guerra, ex-socialistas e ex-anarquistas. O interesse do Duce? Servir a si próprio e ter o poder do Estado. As milícias, por outro lado, lutavam contra o socialismo e o que sobrou da classe operária organizada. Mussolini apenas dirigiu a balbúrdia, a violência e o sangue de quais operários seria derramado. A ofensiva reacionária do capital encontrou estadia na Itália. Incêndios em jornais, sedes de partidos e sindicatos, assassinatos e espancamentos públicos, ocupações nas cidades e táticas repulsivas, como incendiar os campos, as cidades, atacar com bombas feiras livres, 20 assassinar padres a pauladas, dar laxante aos operários e aos líderes políticos, excretar necessidades humanas nas ruas, tornou-se o cotidiano do biennio nero que pareceu nunca terminar. A criação do Partido Nacional Fascista apenas legalizou a violência das esquadras fascistas e legitimou o poder da velha sociedade Italiana. Por mais que o PCI tenha organizado guardas revolucionárias para combater os ataques fascistas, a resistência do movimento operário foi insuficiente. Por outro lado, quando a Internacional Comunista colocou a questão da fusão com o PSI, o grupo de Bordiga foi contrário e os problemas com a IC tornaram-se frequentes, desintegrando também o núcleo do PCI. O Partido lutava em diversas frentes: contra as decisões da IC, nas ruas contra os fascistas, em Congressos e Convenções clandestinas. Os anos iniciais da vida do partido não foram fáceis. A militância ou era espancada, assassinada, fugia da polícia ou das milícias ou era aprisionada. Abriu-se espaço para mulheres revolucionárias atuarem no Partido e nos órgãos jornalistas. Gramsci, por sua vez, cumpriu importante papel na Rússia e, a partir de 04 de dezembro de 1923, em Viena. O período de bolchevismo de Gramsci e de contato com o movimento operário e a experiência socialista real. Encantou-se com a fábrica, as escolas e os círculos culturais. Questões como poder operário, organização e poder operário se tornam centrais, tanto no caso da URSS, da Itália e da transformação do Estado liberal italiano em ditadura fascista. A quarta seção, A Fábrica e o antifascismo revolucionário em Gramsci, indica caminhos importantes para compreender a formação do novo grupo dirigente do PCI e as complexas tarefas que Gramsci, deputado comunista, precisaria estar à frente. O objetivo de formar L’Unità e de publicar L’Ordine Nuovo diariamente, “o programa específico da revista, segundo penso, deveria ainda ser a fábrica e a organização da fábrica” (Gramsci, 1992, p.296-297), estava organicamente relacionado em não afastar Angelo Tasca e Bordiga do Partido. Foi preciso uma intensa e complexa batalha por meio de cartas e publicações diárias para que as massas pudessem compreender o fascismo e a necessidade de resistir ao movimento reacionário que se apossara do Estado. A saída somente poderia ser revolucionária. Para Gramsci, não faltou clareza da solução, mas compreendia ser necessário um longo processo de formação e organização possibilitado pela fábrica e pelos organismos autônomos do proletariado. Os anos que se seguiram, 1925 e 1926, possibilitaram a Gramsci atuar enquanto dirigente político do PCI, assim como desenvolver sua teoria de Partido e revolução. Decerto que sua obra seguiu uma linha de continuidade histórica e compreendê-lo em sua vida teórico-prática requereu um 21 olhar voltado para a construção de uma nova concepção de mundo e de um projeto ético- político que inaugura uma nova sociabilidade. A quinta seção, Estratégias e táticas revolucionárias, foi escrita na Itália, em grande medida em terras sardas, com documentos e livros encontrados no país de Gramsci. Com um tom mais encantado, mas sem perder a cientificidade, esta seção aborda Entre o Sul e os sabonetes de Marsiglia: a organização do PCI, A bolchevização do PCI e as fábricas e O fracionismo contra tudo e todos e as preparações para Lyon. A preocupação com uma tese, original e fundamenta teoricamente, se tornou manifesta e a questão problematizadora da pesquisa se tornou mais clara, principalmente em relação a importância dos acontecimentos internacionais e nacionais que afetaram a vida de Gramsci não apenas na atuação teórico- política, mas pessoal, em seus relacionamentos com amigos e família. A virada de 1924 e o decorrer de 1925, analisada nesta seção, tem como objetivo principal demonstrar as articulações, conflitos e superações políticas desse período. A maneira que Gramsci se torna dirigente do PCI e sua atuação em questões pontuais internacionais que atingem diretamente a organização do Partido e, consequentemente, a disputa e a correlação de forças. A figura de Amadeo Bordiga é trazida para o debate não apenas como antagônico de Gramsci, mas a partir do olhar científico, de análise e compreensão dos equívocos do fundador do Partido e de posicionamentos teórico-políticos. No movimento internacional, a questão da bolchevização e da aliança operário- camponesa, palavras de ordem do Congresso da Internacional de 1924 e do V Plenum, de 1925, encontrou resistências no grupo de Bordiga, além das dificuldades de consolidação nas fábricas já tomadas pelos sindicatos fascistas. Para a Itália, 1925 foi um ano muito difícil. Os ataques fascistas não diminuíram e a violência seguiu cotidianamente, assim como a expansão do fascismo para outros países, os acordos de Mussolini com industriais e a promulgação de leis que emaranhavam cada vez mais os fascistas no Estado. A sexta seção, Entre projetos e o mundo grande e terrível, trata-se de uma análise documental sobre as Teses do III Congresso do PCI, realizado em Lyon, em janeiro de 1926. O Congresso, realizado na clandestinidade, marcou o encerramento da disputa entre o grupo de Gramsci e Bordiga, mas, principalmente encerrou uma fase no Partido e abriu para outro ciclo. No Brasil, em grande medida se conhece e se estuda mais a Tese IV do Congresso de Lyon, mas para responder à questão problematizadora e norteadora deste texto, foi realizada uma análise aprofundada das cinco teses do III Congresso, com espaço para análise da intervenção e das teses do grupo à esquerda, de Amadeo Bordiga. 22 Para Mussolini, 1926 seria o Ano Napoleônico do Fascismo. No entanto, não foi bem assim... Começou com dois projetos em disputa para o PCI, entre o grupo de Gramsci e Bordiga; com atentados fracassados contra Mussolini e com o falecimento do grande Piero Gobetti em 15 de fevereiro. Em meio ao caos da vida nacional, os problemas internacionais transformavam o Partido Comunista Russo e a União Soviética enquanto o mundo assistiu a Itália se transformar em ditadura. Antes de ser aprisionado pelo fascismo, Gramsci escreveu Alguns temas da Questão Meridional, compreendido, em grande medida, como um dos textos de encerramento da juventude do sardo, de maior densidade teórica e passagem para temáticas que serão trabalhadas nos Cadernos do Cárcere. Mas, como demonstrado durante esta investigação científica, fundamentada em textos anteriores ao cárcere, a produção teórica de Gramsci é feita por artigos, cartas para irmã, para a mãe, para Giulia e amigos do Partido e da Internacional, textos publicados na imprensa nacional e internacional e documentos/relatórios, são essenciais para uma análise da conjuntura em que o autor/ator esteve inserido demonstrando, inclusive, como se apropriou da teoria e da práxis. Gramsci sempre esteve em processo de pleno movimento entre diferentes cidades da Itália, na Rússia e na Áustria, assim como em diferentes correntes teóricas neoidealistas, de tradição soreliana e marxista. Mas, o cotidiano e a atuação política do comunista sardo, o discurso ao Parlamento praticamente silenciados pelos fascistas, as participações ativas em Conferências do PCI, o dia a dia com operários e camponeses, as diversas e variadas fugas das perseguições fascistas, as cartas para Giulia, repletas de sinceridades, de medos, angústias, saudades e pessoalidades, traz à tona um Gramsci teórico-político-dirigente- amante organicamente ligado a política-trabalho-cultura que o tornam, portanto, não apenas um revolucionário antifascista e anticapitalista, mas um ser humano integral. Com a finalidade de trazer o universo teórico-político de Gramsci e de sujeitos importantes na luta pelo socialismo, esta investigação científica teve como proposta realizar um “trabalho minucioso e conduzido com o máximo de escrúpulo de exatidão e honestidade científica” (Gramsci, Q. 4, §1, 1977, p.419). Os estudos procederam segundo sugestão metodológica do próprio Gramsci, a filologia vivente: o conhecimento do fascismo ocorre na medida em que se luta contra o fascismo. O emaranhado de acontecimentos e documentos que envolveram o processo de desenvolvimento da consciência dos membros do PCI, das massas italianas, do campesinato e do próprio Gramsci, somente foi possível de ser exposto com o método diacrônico na medida em que se demonstrou como a apropriação da realidade 23 ocorre na medida em que nela se interfere e o fascismo, como qualquer outro objeto de análise nas ciências históricas e políticas, encontrou-se sempre em movimento durante esta análise. Foram investigados artigos, documentos, relatórios e cartas publicados entre 1917- 19264 para afirmar que a fábrica é tema central na obra de Gramsci, pois é o espaço em que operários organizam a luta antifascista e produzem uma nova hegemonia. A consciência que se chegou durante o processo de desenvolvimento da tradição do movimento operário encontra sua morada e resposta nas teses integrais do III Congresso do PCI, tanto da minoria, liderada por Bordiga, quanto da maioria de Gramsci. Ambas as teses são espelhos distintos das determinadas visões históricas, políticas e econômicas do mundo internacional, da Itália, da aliança operário-camponesa, do fascismo e do antifascismo. O fato de Gramsci não ter escrito sozinho as Teses da maioria do III Congresso, mas com auxílio de camaradas do Partido, Ruggero Grieco e Palmiro Togliatti, não torna esse material menos importante sobre as concepções do dirigente do PCI, até mesmo porque trata- se de um documento oriundo da análise do movimento espontâneo e concreto da realidade histórica, política, cultural e econômica da Itália, construído em coletividade. Conclui-se que Gramsci se forjou como intelectual orgânico das classes subalternas, em meio as classes subalternas, com olhar para elas – e não sobre elas -. Sem distanciamento, compreendeu a fábrica, antes e para além da bolchevização, como o locus mais importante de articulação política e cultural do movimento operário, com olhar voltado para a aliança operário- camponesa. 4No projeto de Doutorado, para acompanhar o desenvolvimento do projeto antifascista e revolucionário de Gramsci foram previamente selecionados 277 textos do autor (artigos nos periódicos socialistas e documentos do Partido) com a utilização do termo “fascismo”, além de 21 notas presentes nos Cadernos do Cárcere, bem como a leitura das cartas (no período entre 1908-1926). No entanto, durante a pesquisa, iniciada em março de 2020, outros artigos, correspondências e livros tornaram-se essenciais. A bibliografia indicada ao longo do texto e nas referências auxiliou a aprofundar historicamente no período histórico, bem como foi essencial para compreender que se trata de uma pesquisa fundamentada na teoria-política do próprio Antonio Gramsci. Toda responsabilidade desta pesquisa deve ser atribuída somente a autora. 24 2. GUERRA DE MOVIMENTO E HORIZONTE VERMELHO Avanti popolo, bandiera rossa. Alla riscossa, trionferà. Bandiera rossa la trionferà, evviva il comunismo e la libertà. Vogliamo fabbriche, vogliamo terra, ma senza guerra, ma senza guerra (Letra de Carlo Tuzzi, 1908). 2.1 Guerra Imperialista e Revolução Bolchevique A Guerra Imperialista (1914-1918) transformou radicalmente as relações de força da Europa e o desenvolvimento capitalista dos países envolvidos, centrais e periféricos. Com o desdobramento da crise dos Bálcãs (1908) para as guerras balcânicas - devido à complexidade da situação do Oriente europeu e dos interesses da Alemanha, da Áustria- Hungria, Rússia, Inglaterra e Turquia -, além da afirmação das diversas nacionalidades que buscavam se definir, tornou-se possível o cenário futuro do atentado de Sarajevo (1914) que demarcou o início da Primeira Guerra Mundial5 e da crise orgânica iminente que atingiu a Europa nos anos seguintes. No cenário internacional, as alianças entre países imperialistas eram pragmáticas com foco no estabelecimento da construção de Impérios e da consolidação de democracias liberais conforme desenvolvia o capitalismo monopolista. A guerra, ação violenta que submete o outro, é continuação política e consequência última por meios que envolvem diplomacias, deliberações, alianças, propagandas e a moralidade da população. No entanto, não se pode perder de vista o nexo entre guerra, comércio e política, que durante a Primeira Guerra foram essenciais para a divisão internacional do trabalho, a ponto de a Europa desenvolver direção e dominação em todo o mundo6. O capital financeiro, fase econômica anterior à Primeira Guerra, foi capaz de conquistar uma grande quantidade de territórios para que não ficasse para trás na conquista daqueles que ainda não estavam divididos. A consequência e a natureza do imperialismo é a 5 O livro de SECCO, L. As guerras mundiais. Marília: Lutas Anticapital, 2020 é uma importante síntese e contribuição das guerras do século XX. 6 Gianni Fresu (2017) possui importante trabalho sobre o fascismo. Em seu livro Nas trincheiras do ocidente: lições sobre Fascismo e Antifascismo, dedica uma parte específica de suas reflexões a respeito da Primeira Guerra Mundial. Compreende que no período “a Europa dava ares de um estado de potência sem limites, com possibilidade de ulterior desenvolvimento econômico e domínio mundial”. No momento que a Europa buscava consolidar sua hegemonia ao redor do mundo, bem como a expansão das instituições liberais, “a competição imperialista sempre mais violenta entre as potências ocidentais, particularmente entre a Alemanha e a Inglaterra, criou, entre 1905 e 1913, um estado permanente de tensão sempre próximo a transformar-se em conflito aberto e direto”. A guerra gerada em 1914 foi exatamente o processo máximo, a consequência última da tensão anteriormente desenvolvida. O resultado foi uma guerra de massa que determinou “o declínio das potências europeias, esmagadas pelas dívidas por causa da passagem do primado econômico mundial aos Estados Unidos” (Fresu, 2017, p.42). 25 guerra, pois “com a conclusão da divisão do planeta, uma nova divisão do mesmo é o único modo para sair da estagnação e da crise econômica” (Fresu, 2019, p.43). A Guerra Imperialista, oriunda da fase monopolista do capitalismo, foi uma guerra de rapina, de pilhagem, de conquista do mundo, de divisão das colônias e das esferas do capital financeiro. A ação militar foi direcionada enquanto precipitação e expressão do conflito armado entre as classes dirigentes, para a conquista de território e de subordinação do outro conforme determina uma cultura, política e economia, durante o maior acentuamento da crise social. Trata-se, portanto, de hegemonia e relação de força para a consolidação e equilíbrio de determinada ordem social a ser imposta, momento no qual a “classe dominante tentará manter o melhor equilíbrio para a sua permanência” nas “condições de prosperidade e, de fato, para aumentar essas condições (Gramsci, Q.9, §70, 2014, p.1.141). A crise italiana7, anterior aos anos de 1914-1918, surgiu das tentativas de ampliação do Estado liberal com as políticas para a classe operária encabeçadas por Giovanni Giolitti, desde 1901. O projeto político-econômico não foi suficiente para resistir a crise entre 1907- 1908, momento de acirramento das tensões sociais, de greves e rebeliões, bem como de expansão do Partido Socialista Italiano8 (PSI) e de fundação da Associação Nacionalista Italiana9 (1910), influenciada por Enrico Corradini e Giovanni Papini, organização que se fundiu com o Partido Nacional Fascista10(PNF) em 1923. Sem promover uma democratização completa, o projeto político da burguesia abriu espaço mínimo para a classe operária italiana e não permitiu que o poder operário, recém organizado no PSI e nos sindicatos, ocupasse o Estado liberal na construção das políticas nacionais. Manteve as massas excluídas da política e utilizou do transformismo e da pequena política para esvaziar o Parlamento. O problema não resultou em nenhuma mudança significativa: o bloco histórico burguês continuou intacto. As políticas de Giovanni Giolitti frearam o avanço e uma virada reacionária do governo, mas não garantiu a entrada dos estratos populares no Estado (Gramsci, Q.19, 2014). 77Este texto não possui o objetivo de aprofundar as questões anteriores ao ano de 1919, mas compreende a necessidade e a importância de inserir a gênese e o advento do fascismo a partir da crise orgânica causada pela Primeira Guerra Mundial. Para tanto, indica trabalhos contemporâneos com análises gramscianas sobre o acontecimento, bem como a respeito da Itália antes do fascismo. O livro MUSSI, Daniela. Socialismo e Liberalismo antes do Fascismo (2021) é uma ótima análise do cenário da crise que abalou a Itália após a Guerra Imperialista. 8O Partido Socialista Italiano (PSI) foi fundado por Filippo Turati no ano de 1892, em Gênova. 9Associação Nacionalista Italiana (ANI), fundada no ano de 1910 por Enrico Corradini. 10O Partido Nacional Fascista (PNF) foi fundado em Roma no ano de 1921 por Benito Mussolini. 26 De certa forma, o Primeiro-Ministro governava para os conservadores, reacionários e para a pequena burguesia por meio de alianças sociais, sem observar a possibilidade de as contradições determinadas por suas políticas explodirem em algum momento. No campo socialista, os reformistas se alinhavam ao governo em apoio a algumas políticas. O objetivo de Giolitti era o de criar no Norte um bloco urbano de industriais e operários como forma de reforço para o protecionismo e para a hegemonia setentrional. Por meio da tática do transformismo parlamentar fundamentava sua ação política e reprimia os camponeses enquanto a pequena burguesia proprietária de terras fazia parte do Estado (Gramsci, Q.19, 2014). No ano de 1911-191411 Giolitti retornava ao poder como Primeiro-Ministro, mas a hegemonia liberal na Itália já dava ares de declínio e, em 1913, com o sufrágio universal, o Partido Socialista já se tornava um partido de massas. O período, de ascensão dos movimentos sociais, também do sindicalismo revolucionário, acirrou as lutas de classes e os interesses da burguesia de se manter hegemônica e completar o ciclo de unificação com o resgate de territórios de língua italiana que ocupados pela Áustria - um dos elementos que definem a entrada da Itália na guerra em 1915 -. O Pacto Gentiloni12, em 1913, ocorreu durante a luta pelo sufrágio universal e atraiu a classe operária para o bloco industrial burguês em detrimento do Sul, de forma que contrapôs as massas católicas aos socialistas e criou um bloco entre industriais e forças do campo (Gramsci, Q.19, 2014). Ainda que o PSI e a Confederazione Generale del Lavoro13 (CGL) estivessem altamente burocratizados, greves e rebeliões tornavam-se vitoriosas na medida em que o proletariado desenvolvia a consciência sindical corporativa, com elementos da consciência revolucionária, se sindicalizava e se inscrevia no Partido. As políticas propagandistas da Primeira Guerra fizeram com que grupos dos países envolvidos na catástrofe se dividissem favoráveis ou contrários a carnificina humana que ocorria. O contexto internacional envolveu inúmeras ações contra o militarismo. Um dos expoentes da linha antimilitarista foi o jovem militante Amadeo Bordiga (1889-1970), oriundo de Napoli, assim como Antonio 11O ano de 1911 marcou dois episódios importantes: em setembro, a Itália foi à guerra contra o Império Otomano, pela conquista da Líbia; mesmo ano em que Mussolini foi preso por atividades contra a guerra. No ano seguinte, como um dos líderes do PSI, foi nomeado diretor do Avanti! e continuou até sua expulsão do Partido, em 1914. 12O Pacto Gentiloni foi um acordo no ano de 1913 entre o Primeiro-Ministro Giovanni Giolitti e o conde Ottorino Gentiloni, então Presidente da União Eleitoral Católica, para uma coalizão católica durante as eleições de 1913. 13A Confederação Generale del Lavoro - Confederação Geral do Trabalho (CGL) foi fundada em Milão, no ano de 1906, por iniciativa de militantes socialistas. 27 Gramsci (1891-1937)14, sardo, que residia em Torino desde 1911. Em Ancona (1914), a repressão policial deixou muitos mortos devido aos protestos que se transformavam em greve geral e demonstravam que o PSI não estava preparado para dirigir um processo revolucionário, o que não faria também no ano de 191515, momento em que a Itália adentrava na guerra ao deixar a política da neutralidade. A ausência de uma análise política real e de aproveitamento do contexto revolucionário causado pelas rebeliões, greves, saques e protestos que alavancavam a possibilidade de transformação da situação para uma guerra civil revolucionária, colocaram em foco as contradições internas do PSI e da CGL - que não direcionavam as classes subalternas para uma revolução. A guerra nacional e imperialista causou o declínio das potências europeias e a profunda crise orgânica tornou-se inevitável. A Itália, em meio ao cenário de transformação do capitalismo para o imperialismo, foi um dos países periféricos da Europa que encarou a crise orgânica determinada pela guerra. A burguesia e o Estado, frágeis e com projetos políticos nacionais limitados, sofreram as consequências com a origem de uma crise da hegemonia liberal que ocasionou intensa crise de direção política nos organismos contratualistas do proletariado: os partidos e os sindicatos. O ano de 1917, marcado por mais uma mudança no cenário internacional, abalou novamente as estruturas da Europa. A luta de classes na Itália, em campo aberto, mostrava claros sinais de ser o segundo momento de fazer a revolução - ainda que o PSI tivesse perdido a chance em 1915 -. A estratégia revolucionária de Lenin para os partidos social-democratas era clara: transformar a Guerra Imperialista em guerra civil, bem como foi possível de ser 14 O debate sobre a guerra foi muito acirrado entre os socialistas. Foram vários os artigos publicados no jornal Avanti! e no Il grido del popolo. Angelo Tasca, futuro fundador do Semanário L’Ordine Nuovo e amigo de Gramsci, foi um dos militantes do PSI que foi contra as posições de apoio à guerra de Benito Mussolini. Na ocasião, Gramsci escreveu o famoso artigo Neutralidade ativa e operante, o qual teve interpretação distorcida pela linha mais sectária do Partido, de forma que o acusaram de intervencionista. Após a publicação, o jovem jornalista se isolou politicamente e passou a dedicar-se apenas aos estudos universitários, afastando-se também de sua família, como é possível observar em suas cartas do período. O importante livro de FIORI, G. A vida de Antonio Gramsci (1974) contém um levantamento e análise sobre esse período. 15No dia 26 de abril de 1915, o Primeiro-Ministro Antonio Salandra assinou um tratado secreto com a Inglaterra e a França para entrar na guerra contra a Alemanha e a Áustria-Hungria, estabelecendo o fim da política de neutralidade de Giovanni Giolitti. A grande vantagem prometida foi a de conquista de territórios. Mussolini, intervencionista, fundou o jornal Il popolo d’Italia e passou a ser grande propagandista do massacre a nível internacional, assim como Gabriele D’Annunzio que defendia a ocupação de terras povoadas por italianos, mas com soberania austro-húngara. Contudo, a maioria do Parlamento (principalmente católicos e socialistas), se posicionava contra a guerra. No entanto, o Rei Vítor Emanuel III apoiou organizações nacionalistas e intervencionistas contra a frente de neutralidade, de forma que o apoio à guerra pelo Parlamento foi justificado pela intervenção do rei (Fresu, 2017). 28 realizado na Revolução Russa de fevereiro-março16 de 1917. O segundo passo seria o da “passagem do poder de Estado para o proletariado” com a finalidade de romper com os interesses do capital para o proletariado “libertar a humanidade dos horrores da guerra, dar- lhes os benefícios de uma paz duradoura” (Lenin, 1976, p.290). A estratégia de Lenin teve o objetivo de transformar a Guerra Imperialista em várias guerras civis nacionais para suscitar confrontos armados. Para essa tarefa seria necessário que o proletariado desenvolvesse consciência de classe e que a revolução e o socialismo se tornassem internacionalistas, de forma que quebrar com as frentes nacionalistas se mostrava fundamental para a destruição do imperialismo. A estratégia leniniana propunha o aproveitamento da situação do armamento do proletariado e do campesinato que estavam no front para a transformação da guerra imperialista em guerra revolucionária. A revolução socialista, em pleno desenvolvimento na Rússia, começou a se espalhar para todo o globo. Com certas particularidades, é possível afirmar que os Soviets se expandiram e passaram a inaugurar em diversas fábricas uma nova forma de poder e controle operário, disputando terreno com os partidos e os sindicatos. Em As tarefas do proletariado na nossa revolução: projeto de plataforma do Partido proletário, Lenin (1976) afirma que a construção do poder soviético deve confluir na criação de um Estado como a Comuna de Paris, formada por Soviets de operários, soldados e camponeses: Os Soviets reproduzem o tipo de Estado que estava formando a Comuna de Paris e que Marx17 qualificou como a “forma política finalmente descoberta para levar à cabo dentro dela a emancipação econômica do trabalho (Lenin, 1976, p.09)”. Com o desenrolar da revolução na Rússia, da consolidação do poder e do controle operário por meio dos Soviets, uma fase de transição socialista foi iniciada. Os operários de todo o mundo absorviam a destruição completa da velha sociedade russa e a construção de 16Quando eclodiu a revolução em fevereiro-março, Lenin estava exilado na Suíça, junto com outros importantes líderes bolcheviques, mencheviques e anarquistas. As ruas de Petrogrado conheceram a espontaneidade revolucionária de mais de 100 mil mulheres que iniciaram greves e foram às fábricas, com paus, bolas de neves e pedras, chamado o proletariado às ruas. Uma ótima leitura sobre o tema é o livro organizado por URSO, Graziela Schneider. A revolução das mulheres, emancipação feminina na Rússia soviética: artigos, atas panfletos, ensaios. São Paulo: Boitempo, 2017. 17Nas palavras de Marx, “Eis o seu verdadeiro segredo: a Comuna era, essencialmente, um governo da classe operária, fruto da luta da classe produtora contra a classe apropriadora, a forma política afinal descoberta para levar a cabo a emancipação econômica do trabalho. Sem essa última condição, o regime comunal teria sido uma impossibilidade e uma impostura. A dominação política dos produtores é incompatível com a perpetuação de sua escravidão social. A Comuna devia servir de alavanca para extirpar os fundamentos econômicos sobre os quais se apoia a existência das classes e, por conseguinte, a dominação de classe. Uma vez emancipado o trabalho, todo homem se converte em trabalhador, e o trabalho produtivo deixa de ser um atributo de classe” (Marx, 1979, pp.83-84). 29 um novo modo de vida. Em meio ao caos gerado pela guerra, o socialismo não apenas era a esperança, mas um futuro concreto para a classe operária e para o campesinato. O clima revolucionário espalhou-se pelo mundo inteiro. A reação da burguesia não falhou e acertou com duros golpes as classes subalternas. A ofensiva das burguesias nacionais e a reorganização do Estado liberal veio à tona da pior forma possível: os fascismos mascarados de nacionalismos. Países como a Alemanha, a Hungria e a Itália18, tiveram importantes períodos revolucionários com a forma de Conselhos e, anos mais tarde, foram palco do refluxo da revolução e da forte ofensiva burguesa. A revolução internacionalista espalhava notícias, em meio a Guerra Imperialista, por todo o mundo. Na Itália, as notícias chegavam com atraso e distorcidas. A burguesia Italiana claramente se preocupou com o poder operário russo e passou a repreender agressivamente o proletariado e o campesinato, que saíam às ruas nos protestos e rebeliões. Torino, a Petrogrado Italiana, representava o grande polo industrial e automobilístico da Itália, concentrando cerca de 50 mil operários no setor siderúrgico e 10 mil técnicos. Provavelmente a revolução eclodiria a partir da capital industrial que concentrava a vanguarda operária do país. Gramsci foi um entusiasta da revolução e o ano de 1917 teve importância crucial em sua vida pessoal e política, além de agir como importante instrumento reflexivo e de início da superação do neoidealismo, de aproximação com Rosa Luxemburg, George Sorel, e da prática socialista.19 No que confere a revolução, Gramsci define pela primeira vez, em 1919, que se trata de um processo de desenvolvimento dialético, no artigo Lo sviluppo della rivoluzione (1919) 11. Mas, nas publicações de 1917 é possível verificar um processo reflexivo e analítico 18A revolução em forma organizativa de Conselhos se espalhou por toda a Europa, mas os três países acima citados representaram grandes marcos da revolução para além da Rússia. Para maior aprofundamento da temática, importante ver as reflexões dos principais apoiadores, os intelectuais orgânicos, Rosa Luxemburg, Gyorg Lukács e Antonio Gramsci, respectivamente. Ver também o trabalho de MACHADO, Marília Gabriella. Conselhos de Fábrica e Democracia Operária em Gramsci (1919-1921) (2020). Na ocasião, defendi em minha dissertação de mestrado a tese de que os Conselhos de Fábrica, na Itália, desenvolveram um