I ‘ Juliana Cardoso Braga Doutor Fernando José Carneiro Moreira da Silva Professor Catedrático, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Doutor Luis Carlos Paschoarelli Professor Titular, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Doutora Maria Leonor Morgado Ferrão de Oliveira Professora Auxiliar com Agregação, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa 2019 Autora Orientadores PROJETO CACO: INSERÇÃO DE DESIGN ESTRATÉGICO SUSTENTÁVEL NAS MPEs MOVELEIRAS TESE ESPECIALMENTE ELABORADA PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR Doutoramento em regime de cotutela internacional entre a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (FA/ULisboa) e a Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FAAC/UNESP). Doutoramento em Design Área de concentração (FAAC/UNESP): Desenho de Produto II I Juliana Cardoso Braga Doutor Fernando José Carneiro Moreira da Silva Professor Catedrático, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Doutor Luis Carlos Paschoarelli Professor Titular, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Doutora Maria Leonor Morgado Ferrão de Oliveira Professora Auxiliar com Agregação, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa PRESIDENTE Doutora Rita Assoreira Almendra Professora Associada com Agregação, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa VOGAIS Doutor Fernando José Carneiro Moreira da Silva Professor Catedrático, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Doutor Juliano Aparecido Pereira Professor Associado, Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia Doutora Marizilda dos Santos Menezes Professora Adjunta, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Doutor João Eduardo Guarnetti dos Santos Professor Adjunto, Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Doutora Marina Alexandra Couto Carvalho Peres Professora Auxiliar, Universidade Europeia - IADE Doutor José Rui de Carvalho Mendes Marcelino Professor Auxiliar, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa 2019 Autora Orientadores Constituição do júri PROJETO CACO: INSERÇÃO DE DESIGN ESTRATÉGICO SUSTENTÁVEL NAS MPEs MOVELEIRAS TESE ESPECIALMENTE ELABORADA PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR Doutoramento em regime de cotutela internacional entre a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (FA/ULisboa) e a Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FAAC/UNESP). Doutoramento em Design Área de concentração (FAAC/UNESP): Desenho de Produto II Braga, Juliana Cardoso. Projeto Caco: inserção de design estratégico sustentável nas MPEs moveleiras / Juliana Cardoso Braga, Lisboa, 2019 373 f. : il. Orientador: Fernando José Carneiro Moreira da Silva Coorientadores: Luis Carlos Paschoarelli e Maria Leonor Morgado Ferrão de Oliveira Tese (Doutorado em design) – Cotutela internacional entre a Universidade de Lisboa (ULisboa), Faculdade de Arquitetura, Lisboa e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2019. 1. Design estratégico. 2. Sustentabilidade. 3. Inovação. 4. Gestão Integrada de resíduos sólidos. 5. MPEs de mobiliário. I. Universidade de Lisboa. II. Universidade Estadual Paulista. III. Título. III II II III AGRADECIMENTOS A investigação contou com a contribuição voluntária e com o incentivo de muitas pessoas, instituições e empresas do setor moveleiro a quem eu gostaria de manifestar a minha gratidão. Primeiramente, o reconhecimento pelo trabalho exemplar realizado pelos meus queridos orientadores e professores doutores Fernando Moreira da Silva, Luis Carlos Paschoarelli e Leonor Ferrão que foram fundamentais para o processo e para os resultados da investigação e coerentes na condução da orientação. Agradeço-lhes pela paciência, disponibilidade, atenção, pelo entusiasmo com a investigação, por partilharem comigo seus conhecimentos, mas, especialmente, pelo exemplo humano e pela amizade de vocês que, para mim, são uma das maiores conquistas desse processo de investigação. Tanto o nosso convívio como as orientações superaram as minhas melhores expectativas. Aos professores que participaram do Júri das minhas Provas de Doutoramento, do Seminário de Projeto de Tese e dos Laboratórios I, II e III, professores doutores Gianni Montagna, Pedro Oliveira, José Afonso, Maria João Durão, Paulo Diniz, Juliano Aparecido Pereira e Juscelino Machado Júnior, o reconhecimento pela generosidade e relevância de suas contribuições para a investigação e para o meu crescimento acadêmico. Aos especialistas que participaram do grupo de foco, Prof. Claudio Sampaio, Prof. Juliano Aparecido Pereira, Profa. Maria Luiza de Castro, Prof. Glaucinei Rodrigues Corrêa, Prof. Lucas Farinelli Pantaleão, Prof. Juscelino Machado Junior, Maria Eduarda Rodrigues da Cunha, Ricardo Pereira da Silva, Ronaldo Leite de Oliveira e Graça Kazan pela disponibilidade e generosidade em participar e pelas importantes contribuições para a melhoria do modelo de design estratégico sustentável. Às cinco MPEs brasileiras do setor moveleiro que prontamente se disponibilizaram a participar da etapa de diagnóstico e às empresas da região de Passos de Ferreira, Portugal. O meu agradecimento especial a todas as MPEs moveleiras e aos marceneiros participantes pela confiança, informações disponibilizadas, desprendimento e contribuições para a realização da investigação. Ao designer holandês Piet Hein Eek e ao designer e professor da UFMG Glaucinei Rodrigues Corrêa, pela confiança e disposição em colaborar, apresentando-me IV seus projetos, oferencendo-me material de apoio e transmitindo um pouco de suas experiências para a redução do desperdício. Às instituições IEL, PCIR SEBRAE, SENAI e FIEMG agradeço pelo apoio e colaboração para a implementação e disseminação do projeto junto ao setor moveleiro. Ao Sindicato das Indústrias de Marcenaria e Mobiliário do Vale do Paranaíba (Sindmob) e ao seu presidente Ruy Golveia Mendes pela confiança, envolvimento e apoio institucional continuado para o desenvolvimento da investigação e do setor da região. À Associação de designers do Triângulo Mineiro (ADET) pela divulgação de inquéritos aos designers. À Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Uberlândia pelo apoio institucional e pelas informações disponibilizadas. À Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design (FAUeD) e a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) pela autorização para realizar o doutorado em tempo integral. Ao Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (CIAUD/FA-ULisboa) pelo apoio para participar de congressos internacionais. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de estudos concedida. À minha família e aos meus amigos pelo incentivo e por compreenderem minha ausência nos momentos de dedicação à investigação. Agradeço especialmente ao meu esposo Guto pelo companheirismo, paciência e pelas surpresas que me proporcionou com suas visitas em Portugal. V RESUMO A maior parte das empresas moveleiras existentes no Brasil (97%) são constituídas por Micro e Pequenas Empresas (MPEs). A produção é essencialmente de móveis fabricados por encomenda e sob medida e empregam processos de fabricação semi-artesanais. Os processos de produção não são sustentáveis, o que se traduz em desperdícios e em um grande volume de resíduos. Os resíduos compostos, principalmente, por restos de madeira reconstituída (principalmente de MDF) muitas vezes são eliminados de modo irregular no espaço público, queimados a céu-aberto ou em fornos de padaria. O descarte irregular de resíduos constitui uma ameaça para a saúde pública e para o ambiente, degrada a imagem das periferias e acentua as assimetrias sociais. As ações de fiscalização e de penalização têm sido ineficazes, pelo que urge repensar o problema envolvendo a geração e a disposição de resíduos dessas empresas. A “pulverização” de MPEs do setor por um território muito vasto e a reduzida dimensão dessas estruturas produtivas têm dificultado as ações de sensibilização para uma mudança do paradigma produtivo, porque essas empresas estão, na sua maioria, demasiado preocupadas com a sua subsistência. Essa investigação objetivou identificar e minimizar os desperdícios e o descarte irregular de resíduos por parte das MPEs moveleiras, reduzindo os impactos ambientais, econômicos e sociais provenientes da produção de mobiliário personalizado por meio do design estratégico sustentável. Em termos metodológicos, foi utilizada a Investigação Ativa (Active Research), integrada com um processo participativo entre os stakeholders. O estudo de campo conduziu-se em um contexto local, na região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil. A partir do diagnóstico realizado em cinco MPEs de mobiliário personalizado da região foi desenvolvido um modelo de design estratégico sustentável, composto por um conjunto de estratégias, diretrizes e ferramentas, que propõe a melhoria progressiva de produtos, serviços e processos produtivos. O modelo foi avaliado por um painel de dez especialistas e um plano de ação foi determinado visando sua inserção em uma empresa piloto. O modelo designado Projeto Caco foi parcialmente implementado em uma MPE de mobiliário. Como resultado parcial da investigação verificou-se que em consequência da estratégia de negociação e articulação de interesses públicos e privados promovida pelo Projeto Caco, 60 marcenarias da região do Triângulo Mineiro passaram a destinar os resíduos de modo ambientalmente correto em um aterro industrial licenciado. Os resultados demonstraram que o modelo é um recurso para reduzir os desperdícios e os impactos sociais, ambientais e econômicos das MPEs moveleiras, para incentivar a destinação correta de resíduos, reduzir a degradação do espaço público, gerar economia aos cofres públicos municipais e reduzir os impactos para a sociedade afetada pelo descarte irregular de resíduos. Palavras-chave | Design estratégico; Sustentabilidade; Inovação; Gestão Integrada de Resíduos Sólidos; MPEs de mobiliário. VI ABSTRACT Most of the furniture companies in Brazil (97%) are Small and Medium-sized Enterprises (MSEs). The production is essentially made-to-order and custom-made furniture and applies semi-craft manufacturing processes. Production processes are not sustainable, resulting in waste and a large volume of waste. Residues composed mainly of reconstituted wood residues (mainly MDF) are often disposed irregularly in the public space, burnt in open skies or in bakery ovens. Irregular waste disposal poses a threat to public health and the environment, degrades the image of the peripheries and accentuates social asymmetries. The inspection and penalty actions have been ineffective, so it is urgent to rethink the problem involving the generation and disposal of waste from these companies. The "spraying" of MSEs in the sector over a very wide territory and the small size of these productive structures have made it difficult to raise awareness of a change in the productive paradigm because these companies are, for the most part, too preoccupied with their subsistence. The objective of this investigation was to identify and minimize the waste and the irregular disposal of waste by furniture MSEs, reducing the environmental, economic and social impacts from the production of customized furniture through sustainable strategic design. In methodological terms, Active Research was used, integrated with a participatory process among stakeholders. The field study was conducted in a local context, in the region of Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brazil. Based on the diagnosis made in five MSEs of customized furniture in the region, a sustainable strategic design model was developed, consisting of a set of strategies, guidelines and tools, which proposes the progressive improvement of products, services and production processes. The model was evaluated by a panel of ten experts and a plan of action was determined aiming its insertion in a pilot company. The model named Project Caco was partially implemented in a furniture MSE. As a partial result of the investigation, it was verified that as a consequence of the strategy of negotiation and articulation of public and private interests promoted by the Caco Project, 60 woodworkers from the region of the Triângulo Mineiro began to direct the waste in an environmentally correct way in a licensed industrial landfill. The results demonstrated that the model is a resource to reduce the waste and social, environmental and economic impacts of the MSEs, to encourage the correct disposal of waste, reduce public space degradation, generate savings to municipal public coffers and reduce impacts to the society affected by the irregular waste disposal. Keywords | Strategic design; Sustainability; Innovation; Integrated Solid waste Management; Furniture MSEs. VII ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS III RESUMO V ABSTRACT VI ÍNDICE GERAL VII ÍNDICE DE FIGURAS XI ÍNDICE DE TABELA XIII GLOSSÁRIO XV 1. 21 INTRODUÇÃO 21 1.1 Âmbito da investigação 21 1.2 Título 21 1.3 Problematização 22 1.3.1 Questão de investigação 24 1.4 Objetivos 25 1.4.1 Objetivo Geral 25 1.4.2 Objetivos Específicos 25 1.5 Hipótese 25 1.6 Procedimentos metodológicos 26 1.6.1 Métodos e técnicas de investigação 29 1.6.2 Desenho de investigação 31 1.7 Estrutura da tese 32 1.8 Referências bibliográficas do capítulo 34 2. 39 PANORAMA DA INDÚSTRIA MOVELEIRA 39 2.1 Contexto global 39 2.2 Contexto brasileiro 40 2.2.1 Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba 45 2.2.2 Resíduos moveleiros: impactos ambientais, sociais e econômicos 50 2.3 Contexto de Portugal 56 2.3.1 Marcenarias portuguesas 58 2.4 Síntese do capítulo 65 2.5 Referências bibliográficas do capítulo 66 3. 73 O PENSAMENTO ESTRATÉGICO: DEFINIÇÕES 73 3.1 Formulação e inserção da estratégia 77 3.2 Inserção do design nas MPEs moveleiras: desafios e oportunidades 79 3.3 Estratégias para o desenvolvimento de produtos sustentáveis 82 3.3.1 Seleção de materiais de baixo impacto 86 3.3.2 Redução de materiais e de recursos 87 3.3.3 Otimização dos sistemas de produção 88 3.3.4 Otimização do sistema de transporte 88 3.3.5 Redução de impactos durante o uso 89 3.3.6 Extensão da vida útil dos produtos 90 3.3.7 Otimização do fim de vida dos materiais 91 3.3.7.1 Reúso 92 3.3.7.2 Reciclagem 93 3.4 Apontamentos sobre estratégias de design sustentáveis 94 3.5 Inovação por meio do Design 97 3.5.1 Tipos de inovação 99 VIII 3.5.2 Inovação e estratégias de design sustentáveis 102 3.6 Síntese do capítulo 103 3.7 Referências bibliográficas do capítulo 104 4. 111 CASOS DE ESTUDO 111 4.1 Piet Hein Eek: design com aparas de madeira 112 4.1.1 Descrição 112 4.1.2 Análise 116 4.2 Projeto Ligno: reciclagem de resíduos de mobiliário 117 4.2.1 Descrição 117 4.2.2 Análise 120 4.3 Síntese do capítulo 121 4.4 Referências bibliográficas do capítulo 121 5. 125 DIAGNÓSTICO DAS MPES MOVELEIRAS DO TRIÂNGULO MINEIRO 125 5.1 Método 125 5.1.1 Reuniões com stakeholders 126 5.1.2 Seleção de MPEs 126 5.1.3 Termos de parceria 127 5.1.4 Inquérito às MPEs 128 5.1.5 Observação empírica 128 5.1.6 Caracterização e quantificação de resíduos 129 5.2 Descrição e análise de dados coletados 135 5.2.1 Característica e estrutura das MPEs 135 5.2.2 Processo produtivo: descrição e identificação de desperdícios 138 5.3 Etapa de planejamento ou pré-produção 141 5.3.1 Concepção do projeto 141 5.3.1.1 Briefing 142 5.3.1.2 Medida preliminar 143 5.3.1.3 Apresentação do projeto 143 5.3.2 Orçamento 144 5.3.3 Contrato 145 5.3.4 Verificação de medidas 145 5.3.5 Análise do projeto 145 5.3.6 Seleção e compra de materiais 146 5.3.7 Plano de corte 148 5.4 Etapa de produção 150 5.4.1 Corte 152 5.4.2 Engrosso e tamponamento 154 5.4.3 Usinagem 155 5.4.4 Laminação de borda 156 5.4.5 Acabamento 157 5.4.6 Pré-montagem 158 5.5 Etapa de distribuição 159 5.5.1 Carregamento 159 5.5.2 Transporte 160 5.5.3 Montagem e inspeção 160 5.6 Caracterização e quantificação de resíduos 161 5.6.1 Reúso 162 5.6.2 Reciclagem 162 5.6.3 Eliminação 163 5.7 Sistematização de resultados 163 5.8 Síntese do capítulo 169 IX 5.9 Referências bibliográficas do capítulo 169 6. 173 PROJETO CACO: MODELO DE DESIGN ESTRATÉGICO SUSTENTÁVEL 173 6.1 Seleção de estratégias e diretrizes aplicáveis ao setor moveleiro 173 6.2 Instrumentos de suporte para a inserção do Projeto Caco 175 6.3 Projeto Caco: modelo de design estratégico sustentável preliminar 176 6.4 Avaliação do modelo por especialistas: grupo de foco 177 6.4.1 Método de avaliação 179 6.4.2 Resultados do grupo de foco 180 6.4.3 Interpretação dos resultados 182 6.5 Adaptações e modificações no modelo 183 6.6 Projeto Caco: modelo de design estratégico sustentável final 185 6.6.1 Diagnóstico 187 6.6.2 Estratégia 01: Selecionar materiais, equipamentos e recursos de menor impacto 191 6.6.3 Estratégia 02: Minimizar o consumo de materiais e de recursos 193 6.6.4 Estratégia 03: Otimizar o sistema de produção 195 6.6.5 Estratégia 04: Otimizar o sistema de transporte 196 6.6.6 Estratégia 05: Otimizar o fim da vida dos materiais e destinar adequadamente 197 6.6.7 Estratégia 06: Estender a vida útil do móvel 199 6.7 Ferramentas de suporte para inserção do Projeto Caco nas MPEs moveleiras 200 6.7.1.1 Informações sobre estratégias e diretrizes de design sustentáveis para MPEs moveleiras 202 6.7.1.2 Modelos de briefing, planilhas, checklists, cartilhas e projetos 204 briefing, planilhas, checklists, cartilhas e projetos 204 6.7.1.3 Fórum para troca, compra e venda de MDF entre marcenarias 212 6.7.1.4 Parceria Design 212 6.7.1.5 Parceria FIEMG 213 6.7.1.6 Parceria SENAI 214 6.7.1.7 Convênio com aterro industrial regulamentado 215 6.7.1.8 Cartilha com orientações aos usuários 216 6.8 Inserção parcial do Projeto Caco em uma MPE moveleira 216 6.8.1 Plano para inserção do modelo de design estratégico sustentável 217 6.9 Resultados parciais 226 6.10 Síntese do capítulo 229 6.11 Referências bibliográficas do capítulo 229 7. 233 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES 233 7.1 Contributos para o conhecimento 233 7.2 Recursos e limitações 237 7.3 Recomendações 238 7.4 Disseminação 240 REFERÊNCIAS 245 BIBLIOGRAFIA 256 ANEXOS 268 APÊNDICES 373 X XI ÍNDICE DE FIGURAS FIG. 1 Desenho de investigação 26 FIG. 2 Processo de Action Research denominado ciclo de ação-reflexão 27 FIG. 3 Organograma com o desenho de investigação 31 FIG. 4 Mapa da produção de móveis no ano de 2014 (em % de peças) 42 FIG. 5 Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (região oeste de Minas Gerais, Brasil) 45 FIG. 6 Resíduos gerados em cinco dias úteis em uma marcenaria localizada na cidade de Uberlândia 52 FIG. 7 Mapa com os pontos críticos de destinação irregular de resíduos em Uberlândia no ano de 2015. 52 FIG. 8 Locais da periferia da cidade de Uberlândia utilizados para disposição irregular de resíduos 53 FIG. 9 Marcenaria localizada em Rebordosa (concelho de Paços de Ferreira, distrito de Porto, Portugal) 59 FIG. 10 Resíduos acumulados pela marcenaria localizada em Rebordosa (concelho de Paços de Ferreira, distrito de Porto, Portugal) 60 FIG. 11 Centro de triagem e de transformação dos resíduos moveleiros localizado em Paredes (concelho de Paços de Ferreira, distrito de Porto, Portugal) 61 FIG. 12 Marcenaria localizada em Sintra, Portugal 62 FIG. 13 Seccionadora semiautomática de painéis de madeira - Sintra, Portugal 64 FIG. 14 Contentores para armazenagem preliminar de resíduos (pó de painéis de madeira, pedaços e vapores de tinta) de uma marcenaria localizada em Sintra, Portugal 65 FIG. 15 Estratégias segundo Mintzberg 75 FIG. 16 Evolução histórica das filosofias ambientais aplicadas ao design. 83 FIG. 17 Estratégias para o desenvolvimento de produtos sustentáveis 85 FIG. 18 Armário desenvolvido pelo designer Piet Hein Eek (trabalho de conclusão de curso de graduação) e que ainda faz parte da coleção de móveis. 113 FIG. 19 Coleção de móveis da linha Waste Waste 40x40 do designer Piet Hein Eek 114 FIG. 20 Luminárias e centros de mesa produzidos designer Piet Hein Eek com pequenos fragmentos de madeira. 115 FIG. 21 Processo de fabricação da mesa da linha Waste Waste 40x40 115 FIG. 22 Processo de fabricação de placas com o compósito Ligno 118 FIG. 23 Porta-copos (frente e verso) desenvolvido pelo Projeto Ligno com o compóstio de resíduos de MDF. 119 FIG. 24 Bowl produzido a partir de molde. 120 FIG. 25 Reuniões com stakeholders 126 FIG. 26 Levantamento sobre o volume de resíduos destinados para disposição final 130 FIG. 27 Toolkit de diagnóstico desenvolvido para registrar e analisar como usualmente planeja-se o corte de placas; e registrar e identificar a quantitativa de placas de MDF (novas e reutilizadas) utilizadas em cada projeto. 132 FIG. 28 Processo de separação e quantificação dos resíduos gerados durante o diagnóstico. 133 FIG. 29 Relação de máquinas e equipamentos que as MPEs investigadas possuem 137 FIG. 30 Exemplo de estrutura organizacional da empresa XII A e atividades exercidas 138 FIG. 31 Fluxograma do processo produtivo das MPEs investigadas 140 FIG. 32 Fluxograma da etapa de planejamento 141 FIG. 33 Anotações manuais realizadas pelo marceneiro em projeto com dimensões incompatíveis com as medidas checadas no local. 146 FIG. 34 Planejamento de corte realizado pelo marceneiro para a produção de uma cozinha. 148 FIG. 35 Esboço do corte de placa realizado e simulação de planejamento para maior reaproveitamento de sobras. 149 FIG. 36 Fluxograma da etapa de produção 150 FIG. 37 Layout demonstrando as movimentações de um único marceneiro para a produção de mobiliário. 151 FIG. 38 Disposição de MDF na marcenaria dificultando a diferenciação entre sobras e material em vias de produção. 153 FIG. 39 Resíduos gerados em razão de erros de produção identificados no diagnóstico. 153 FIG. 40 Pedaços de MDF cortados de placas novas 154 FIG. 41 Exemplos de aplicação de tamponamento e engrosso 155 FIG. 42 Sobras de fita de borda 157 FIG. 43 Módulos de gaveta pré- montados 158 FIG. 44 Fluxograma da etapa de produção 159 FIG. 45 Transporte de matéria-prima do corte para a bancada de trabalho. 159 FIG. 46 Geração de resíduos conforme as diferentes etapas do processo produtivo 161 FIG. 47 Disposição das sobras de MDF 162 FIG. 48 Projeto Caco: modelo de design estratégico sustentável preliminar 176 FIG. 49 Análise SWOT elaborada com base nas considerações principais do grupo de foco 182 FIG. 50 Projeto Caco: modelo de design estratégico sustentável final 186 FIG. 51 Estratégias e diretrizes para selecionar materiais, equipamentos e recurso de menor impacto 191 FIG. 52 Estratégias e diretrizes para minimizar o uso de materiais e de recursos 193 FIG. 53 Estratégias e diretrizes para otimizar os sistemas de produção 195 FIG. 54 Estratégias e diretrizes para otimizar o sistema de transporte 196 FIG. 55 Estratégias e diretrizes para otimizar o fim da vida dos materiais e destinar os resíduos adequadamente 197 FIG. 56 Estratégias e diretrizes para estender a vida útil do móvel 199 FIG. 57 Ferramentas de suporte para inserção do Projeto Caco nas MPEs moveleiras 201 FIG. 58 Simulação da plataforma digital que será desenvolvida futuramente para fomentar a inserção do Projeto Caco nas MPEs moveleiras 202 FIG. 59 Exemplo de estrutura organizacional que apresenta gargalos. 205 FIG. 60 Modelo de estrutura organizacional que será disponibilizado para download na plataforma digital 206 FIG. 61 Primeira e segunda páginas do modelo de briefing 207 FIG. 62 Página introdutória da planilha de orçamento para marcenarias 209 FIG. 63 Checklist de ferramentas 210 FIG. 64 Ferramenta para conferência de medidas e checklist de medidas 211 XIII ÍNDICE DE TABELA TABELA 1 Produção de empresas nacionais por seguimento 43 TABELA 2 Produção nacional de móveis por linha de produto (mil peças). 44 TABELA 3 Levantamento de dados sobre a quantidade de MDF utilizado no processo produtivo analisado na empresa A. 134 TABELA 4 Levantamento de dados sobre a quantidade de sobras de MDF geradas do processo produtivo analisado na empresa A. 134 TABELA 5 Análise quantitativa e financeira sobre o desperdício de MDF total referente ao processo produtivo analisado na empresa A. 135 TABELA 6 Dados de caracterização das MPEs moveleiras investigadas 136 TABELA 7 Matriz de avaliação do nível de desperdício identificado em cada processo da etapa de planejamento 164 TABELA 8 Matriz de avaliação do nível de desperdício identificado em cada processo da etapa de produção 165 TABELA 9 Matriz de avaliação do nível de desperdício identificado em cada processo da etapa de distribuição 165 TABELA 10 Matriz de avaliação qualitativa sobre o impacto socioambiental do descarte de resíduos moveleiros 167 TABELA 11 Matriz de avaliação quantitativa sobre o impacto econômico para as MPEs referente ao desperdício de MDF 168 TABELA 12 Especialistas participantes do grupo de foco 178 TABELA 13 Plano de inserção do modelo de design estratégico sustentável em uma MPE moveleira (empresa piloto) 218 XIV LISTA DE ACRÔNIMOS E ABREVIATURA ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ABS Acrionitrila Butadieno Estireno ACV Análise do ciclo de vida ADET Associação de Designers do Triângulo Mineiro CIMM Centro de Informação Metal Mecânica CNC Computer Numeric Control COVs Compostos Orgânicos Voláteis D4S Design for Sustainability DGAE Direção-Geral das Atividades Econômicas DFE Design for Environment DPD Design para desmontar FAUeD Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro GEEs Gases de efeito estufa HAB Habitantes IARC Índice de desenvolvimento humano IBÁ Indústria Brasileira de Árvores IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IEL Instituto Euvaldo Lodi IEMI Instituto de Estudos e Marketing Industrial Lamop Laboratório de Modelos e Protótipos MDF Medium Density Fiberboard MDP Medium Density Particleboard Movergs Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul MPEs Micro e Pequenas Empresas MUNA Museu Universitário de Arte NUDS Núcleo de Design para Sustentabilidade ONGs Organizações não governamentais OSB Oriented Strand Board PCIR Programa de Competitividade Industrial Regional PET Tereftalato de Polietileno PGIRS Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos PMEs Pequenas e Médias Empresas PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos PP Polipropileno PS Poliestireno PUC Pontifica Universidade Católica PVC Policloreto de Vinila SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Sindmob Sindicato das Indústrias de Marcenaria e Mobiliário do Vale do Paranaíba SEPLAN Secretaria Municipal de Planejamento Urbano T.L Tradução livre UEL Universidade Estadual de Londrina UFMG Universidade Federa de Minas Gerais UFU Universidade Federal de Uberlândia ULisboa Universidade de Lisboa UNESP Universidade Estadual Paul XV GLOSSÁRIO ANÁLISE DO CICLO DE VIDA DO PRODUTO “Técnica para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias- primas elementares que entram no sistema produtivo (berço) à disposição do produto (túmulo).” (Chehebe, 1997, p. 10). CACO Fragmento, pequena fração, pedaço, parte ou restante de algo (Michaelis, 2009). CAPACIDADE PRODUTIVA “Nível máximo de atividade de valor agregado que uma operação, processo ou instalação é capaz de atingir durante um período.” (Slack, Brandon, & Johnston, 2016 [1997], p. 672). DESIGN ESTRATÉGICO SUSTENTÁVEL Formulação de um plano estratégico para o desenvolvimento de produtos, processos ou serviços sustentáveis considerando de modo coexistente os aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais. DESIGN PARA A SUSTENTABILIDADE Busca soluções para a transformação de uma sociedade de consumo para uma sociedade de uso (produtos-serviços). DESIGN SUSTENTÁVEL Desenvolvimento de produtos considerando de modo integrado os aspectos ambientais, sociais e econômicos. DESIGN VERDE Design de produto com foco na seleção de materiais recicláveis e eficiência energética. DESPERDÍCIO DE COMBUSTÍVEL Transporte mal planejado ou realizado para corrigir erros que gerem consumo extra de combustível. DESPERDÍCIO DE ENERGIA Operações realizadas de maneira ineficiente ou mal planejada e que provoque consumo energético além do necessário. DESPERDÍCIO DE ESPAÇO Máquinas, operações, matérias-primas, produtos ou refugos fabris que não agregam valor e que ocupam espaço da marcenaria, reduzindo a capacidade de produção. DESPERDÍCIO DE MATÉRIA-PRIMA Perda de painéis derivados de madeira, tintas, vernizes, adesivos, fitas e outras matérias-primas ocorrida por processamento ou especificação inadequados, erros, retrabalho, ou por uso excessivo de material. DESPERDÍCIO DE TEMPO Tempo ocioso, atrasos, processos extra, operações dispensáveis ou ineficientes para a execução do mobiliário. DESPERDÍCIO Qualquer atividade ou perda que não agregue valor à operação ou ao cliente (Slack, 2016 [1997]). DESTINAÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA “Destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos” (Brasil, 2012) DISPOSIÇÃO FINAL AMBIENTALMENTE ADEQUADA “Distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”. (Brasil, 2012, p. 10) DUPLAGEM Técnica de colagem de duas placas de MDF de mesmo tamanho com o objetivo de aumentar a espessura da peça como um todo, reforçando o móvel ou melhorando a sua estética. ECODESIGN Abordagem sistêmica que visa reduzir a carga ambiental no design de produtos em todas as etapas do ciclo de vida. ENGROSSO Técnica utilizada para engrossar apenas a espessura das bordas (orlas) de um móvel. FITA DE BORDA OU FITA DE ORLA Fita fabricada em PVC, ABS ou PP com diversos tipos de acabamento em conformidade com os padrões de cores das placas de MDF. As fitas são aplicadas na lateral do MDF com cola com o objetivo de dar acabamento ao móvel evitando que o miolo do material fique aparente. Além disso, a fita protege o XVI MDF contra a humidade e aumenta a resistência dos cantos. GARGALO “Estágio que representa a restrição de capacidade em um projeto; limita a produção de todo o processo”. (Slack, Brandon, & Johnston, 2016 [1997], pg. 677) GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS “Conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos” (Brasil, 2012, p. 10). GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS “Conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável” (Brasil, 2012, p. 11) IMPACTO AMBIENTAL Impactos negativos ao meio ambiente causados pelas atividades humanas. MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA Trabalho que exige o cumprimento de funções específicas e repetitivas. MÃO DE OBRA QUALIFICADA Trabalho que exige conhecimento e prática para executar o produto como um todo (saber fazer). MÁQUINA ESTACIONÁRIA “Aquela que se mantém fixa em um posto de trabalho, ou transportável para uso em bancada ou em outra superfície estável em que possa ser fixada” (NR12, não paginado). MICROEMPRESA Empresa com até 19 funcionários e que aufira, em cada ano- calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) (SENAI, 2006). MINIMIZAR Reduzir a proporções mínimas. MUDANÇA DE CULTURA Ato de alterar as regras, procedimentos, modos convencionais de pensamento ou comportamento. ORDEM DE SERVIÇO “Documento escrito específico e auditável, contendo, no mínimo, a descrição do serviço, a data, o local, nome e a função dos trabalhadores e dos responsáveis pelo serviço e pela sua emissão e os procedimentos de trabalho e segurança” (NR12, não paginado). PADRONIZAÇÃO “Grau em que os processos, produtos ou serviços são impedidos de variar ao longo do tempo.” (Slack, Brandon, & Johnston, 2016 [1997], pg. 681) PARTE INTERESSADA Indivíduo ou grupo interessado ou afetado pelos resultados da investigação. PEQUENA EMPRESA OU EMPRESA DE PEQUENO PORTE Empresa com 20 a 99 funcionários e que aufira, em cada ano- calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). PERSONALIZADO Variação de um produto ou serviço para ajustá-lo às necessidades específicas dos clientes. PAPAGAIO DE PAPEL Tipo de pipa de papel; brinquedo feito por uma armação de varetas de madeira encapadas por um papel fino que, preso por uma linha, é sustentado no ar pelo vento. POSTO DE TRABALHO “Qualquer local de máquinas e equipamentos onde é requerido a intervenção do trabalhador” (NR12, não paginado). RECICLAGEM “Processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes”. (Brasil, 2012, p. 11) REDUZIR Diminuir, tornar menor. REFILO Corte realizado nas bordas da placa de MDF para retirada de filetes contendo entre 5 e 20 mm, com o objetivo de eliminar imperfeições causadas durante o transporte e estocagem da chapa. REJEITOS “Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a XVII disposição final ambientalmente adequada”. (Brasil, 2012, p. 11) RESÍDUOS INDUSTRIAIS “Os gerados nos processos produtivos e instalações industriais.” (Brasil, 2012, p. 16) RESÍDUOS PERIGOSOS “Aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica”. (Brasil, 2012, p. 17) RESÍDUOS SÓLIDOS Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas, nos estados solido ou semisólido, gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas em face da melhor tecnologia disponível. RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA PELO CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS “Conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos” (Brasil, 2012, p. 11) RETRABALHO Ação para corrigir ou refazer um trabalho. “Repetições de atividades ocasionadas por problemas ligados a falhas de mão de obra, material, problemas de projeto ou problemas de operação. O acompanhamento dos retrabalhos pode permitir rastrear sua causa e corrigi-la”. (Dicionário CIMM – Centro de Informação Metal Mecânica). REUTILIZAÇÃO “Processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa”. Brasil, 2012, p. 12) SABER FAZER Se refere às aptidões, habilidades motoras, ao conhecimento técnico e experiência adquiridos por uma pessoa ou grupo, necessários para a realização do trabalho. SISTEMA DE MEDIÇÃO “Conjunto de elementos físicos (instrumentos de medir) necessários para se atingirem os objetivos de uma medição, por meio da aplicação de processos de medição, em dadas condições” (Dicionário CIMM) SOB ENCOMENDA Fabricar apenas quando há uma demanda de clientes específicos (Slack, Brandon, & Johnston, 2016 [1997]). SOB MEDIDA Móvel produzido de acordo com as dimensões do ambiente existente e visando o encaixe perfeito e o aproveitamento máximo do espaço. SOBRA Resto; o que fica depois que o necessário foi retirado. STAKEHOLDERS Pessoas e grupos de pessoas que têm participação e/ou interesse em determinado setor ou negócio; partes interessadas. TAMPONAMENTO O tamponamento é a técnica utilizada para revestir módulos ou peças com o objetivo de tampar parafusos ou junções entre módulos, dando melhor acabamento ao móvel; ou com o propósito de revestir módulos com as cores interna e externa diferentes. TRIÂNGULO MINEIRO E ALTO PARANAÍBA Mesorregião localizada na porção oeste do estado de Minas Gerais, Brasil, formada por sessenta e seis municípios e com população estimada de dois milhões de habitantes (IBGE, 2015). USINAGEM Processos de desbaste mecânico de materiais como a furação, fresagem (desbaste) e o torneamento. POLO MOVELEIRO Concentração geográfica de empresas de mobiliário unidas por diversos tipos de ligações, que vão desde a partilha de conhecimento à partilha do mesmo mercado laboral. CLUSTERS Concentração geográfica de empresas de mobiliário unidas por diversos tipos de ligações, que vão desde a partilha de conhecimento à partilha do mesmo mercado laboral. CAP. 01 INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO | 20 Nota introdutória O capítulo introdutório realiza uma contextualização inicial sobre o âmbito da investigação e apresenta um panorama geral sobre a problemática envolvendo o setor de mobiliário personalizado. Além disso, apresenta-se a questão de investigação, os objetivos, a hipótese, os procedimentos metodológicos, bem como os métodos e as técnicas utilizadas. No final é apresentado a estrutura da tese por meio de um resumo de cada capítulo. INTRODUÇÃO | 21 1. INTRODUÇÃO 1.1 Âmbito da investigação y A presente investigação insere-se no campo científico do design e aborda a temática do design estratégico sustentável aplicado às Micro e Pequenas Empresas (MPEs) que produzem mobiliário personalizado. Visa-se examinar como o design estratégico sustentável pode minimizar os desperdícios e promover a destinação correta de resíduos, reduzindo os impactos ambientais, econômicos e sociais das MPEs moveleiras. O estudo de campo conduziu-se em um contexto local, na região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil. 1.2 Título y Projeto Caco: Inserção de design estratégico sustentável nas MPEs moveleiras. A utilização do termo “Projeto” objetivou comunicar o sentido de planejamento organizacional e empregou-se a palavra “caco” em razão de seu significado de fragmento, pequena fração, pedaço, parte ou restante de algo (Michaelis, 2009), em INTRODUÇÃO | 22 uma referência aos resíduos de MDF - Medium Density Fiberboard. A combinação dessas palavras no título também buscou representar, simbolicamente, a necessidade de conectar as diversas áreas necessárias para o desenvolvimento da investigação e de integrar conhecimentos “fragmentados” em prol de ações sustentáveis para o setor moveleiro. Destaca-se que, a conjugação das palavras “Projeto Caco” facilitou a identificação e gerou empatia com os stakeholders durante o processo de investigação. 1.3 Problematização y O mercado de móveis no Brasil caracteriza-se pela predominância de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) 1 que produzem móveis sob medida e por encomenda, de origem familiar, que ainda empregam processos de fabricação semi-artesanais, com baixa tecnologia e que não costumam investir em design. O segmento de fabricação de móveis com predominância de madeira2 no Brasil é composto por aproximadamente 17.500 empresas de diversos portes, conforme dados de 2016. Desse total, estima-se que 98% das empresas moveleiras no Brasil sejam constituídas por Micro ou Pequenas Empresas (IEMI, 2016). Aproximadamente 5% dessas MPEs estão estabelecidas no Triângulo Mineiro, região localizada no oeste de Minas Gerais, Brasil, onde existe em torno de 800 MPEs cuja produção é influenciada pela cultura local de desenvolver móveis personalizados e sob medida. Essas empresas não possuem processos de fabricação sustentáveis e desconhecem como empregar as práticas de sustentabilidade em seus negócios, por isso, durante o processo de produção de móveis são desperdiçados recursos de diversos tipos (matéria-prima, tempo, combustível, energia, espaço). As MPEs moveleiras da região geram um grande volume de resíduos e têm realizado o descarte à superfície em zonas periféricas das cidades. Os resíduos 1 O setor industrial do Brasil considera Microempresas aquelas que possuem até 19 funcionários e Pequenas Empresas as possuem de 20 a 99 funcionários (SEBRAE, 2013). 2 Considera-se móveis de madeira todos os móveis produzidos com madeira maciça ou madeira reconstituída – painéis de MDF, MDP, etc. INTRODUÇÃO | 23 provenientes do setor de móveis são compostos, principalmente, por restos de madeira reconstituída - serragem e retalhos de placas de Medium Density Fiberboard (MDF). O levantamento realizado em um universo de 50 empresas, localizadas na região do Triângulo Mineiro, no ano de 2017, por esta investigação, constatou que cada MPE descarta, em média, 7,2 ton. de resíduo por ano. O que nos sugere que as 800 empresas tenham gerado, aproximadamente, 5.760 ton. de resíduos por ano. A grande quantidade de MPEs moveleiras “pulverizadas” por um território muito vasto e a reduzida dimensão dessas estruturas produtivas dificultam as ações de sensibilização e fiscalização. Estudos apontam que, para solucionar tal problema, destinar de maneira ambientalmente adequada os resíduos gerados pelas indústrias é insuficiente. Nesse sentido, “é fundamental a redução na fonte do consumo de recursos, visando, fundamentalmente, uma redução do desperdício e, consequentemente, a redução do impacto sobre o meio ambiente.” (Pereira; Carvalho; Pinto, 2010, não paginado). O despejo irregular de resíduos em terrenos da periferia das cidades e a prática comum de atear fogo para limpar lotes emite substâncias tóxicas na atmosfera (GEEs) e aumenta os riscos de incêndio descontrolado por causa da alta inflamabilidade do MDF. Esse é um fator significativo para o agravamento dos problemas sociais, pois prejudica, principalmente, as populações que vivem próximas dos locais de despejo irregular. Deve-se considerar, também os riscos à saúde da população quando esses materiais são queimados irregularmente em fornos de padaria e os riscos à saúde dos trabalhadores das marcenarias quando há a inalação de pequenas partículas de material durante o corte de placas, pois o MDF contém uma substância tóxica e cancerígena chamada formaldeído que é utilizada na produção desse tipo de placa. Os prejuízos aos cofres públicos dos municípios são evidentes, porque mensalmente são gastos recursos públicos para limpar lotes baldios e destinar entulhos de diversos tipos. A rentabilidade e a competitividade das próprias empresas também é prejudicada pelos desperdícios, principalmente, por causa da falta de planejamento para a otimização e para o reaproveitamento dos painéis de madeira e em razão da falta de organização e do armazenamento inadequado de sobras de material. INTRODUÇÃO | 24 A inserção do design estratégico sustentável é considerado por diversos autores como fundamental para minimizar os impactos ambientais em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos. Porém, a maior parte das ferramentas existentes são direcionadas para a concepção e produção em larga escala ou as estratégias empregadas sugerem a substituição da mão de obra qualificada dos marceneiros (marceneiros com conhecimento e prática para executar todo o móvel) por mão de obra especializada (operários contratados para cumprir funções específicas e repetitivas). Entretanto, no caso do setor moveleiro, deve-se considerar e valorizar também a cultura local, pois a substituição do marceneiro por operadores de máquinas e montadores de móveis visando exclusivamente a alta produtividade tornou a atividade de saber fazer o móvel cada vez mais rara. Compreende-se então que a grande quantidade de MPEs de mobiliário personalizado existentes, o grande volume de resíduos gerados, os desperdícios, a destinação inadequada de resíduos e a falta de instrumentos adequados para o contexto industrial de pequena escala têm gerado problemas de ordem ambiental, social, econômica e cultural. Portanto, os dados evidenciam a importância de estudos que considerem as diferenças geográficas, econômicas, sociais e culturais de cada região. Nesse sentido, a inserção do design estratégico sustentável em contextos locais e escala de produção não industrial é indispensável para minimizar os desperdícios, os danos socioambientais causados pela falta de gestão adequada dos resíduos, para aumentar a competitividade das empresas, valorizar as especificidades das marcenarias da região e preservar a cultura local e o saber fazer artesanal. 1.3.1 Questão de investigação y O levantamento de dados inicial indica que o desenvolvimento de um modelo de design estratégico sustentável voltado para o setor de mobiliário personalizado pode minimizar os desperdícios, reduzir os impactos ambientais, econômicos e sociais das MPEs e, consequentemente, gerar condições mais favoráveis de competitividade para as empresas. Simultaneamente, as ações, quando implementadas, poderão promover o compromisso compartilhado e a responsabilidade pela destinação adequada de resíduos. Portanto, com base na identificação das diversas variáveis estudadas para contextualizar e auxiliar na resolução do problema; na necessidade de envolvimento de diversos atores sociais INTRODUÇÃO | 25 (marceneiros, empresários, designers, organizações sociais e setoriais, universidades, poder local); e considerando a perspectiva de que devem ser selecionadas e desenvolvidas diversas estratégias para minimizar os impactos ambientais das marcenarias, delineou-se a seguinte questão de investigação: De que modo o design estratégico sustentável pode minimizar os desperdícios das MPEs moveleiras e incentivar a destinação correta de resíduos? 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo Geral Identificar os desperdícios e o descarte irregular de resíduos por parte das MPEs moveleiras e minimizar os impactos ambientais, econômicos e sociais provenientes da produção de mobiliário personalizado por meio do design estratégico sustentável. 1.4.2 Objetivos Específicos Estabelecer parceria com MPEs moveleiras para participarem da pesquisa; Realizar o diagnóstico das MPEs moveleiras selecionadas, identificando seus principais tipos de desperdício; Analisar os dados recolhidos nas empresas; Desenvolver um modelo de design estratégico sustentável visando minimizar os desperdícios das MPEs moveleiras e incentivar a destinação correta de resíduos; Avaliar o modelo desenvolvido; Aprimorar o modelo proposto a fim de finalizar a sua configuração; Desenvolver um plano de inserção do modelo de design estratégico sustentável em uma MPE moveleira. 1.5 Hipótese y Mediante a apresentação do âmbito da investigação e de seus objetivos, da questão de investigação formulada e de um esboço da contextualização teórica, formula-se a seguinte hipótese: INTRODUÇÃO | 26 A inserção de um modelo de design estratégico sustentável, especialmente orientado às MPEs moveleiras, incentiva a destinação correta de resíduos, minimiza os desperdícios e os impactos ambientais, econômicos e sociais provenientes da produção de mobiliário personalizado. 1.6 Procedimentos metodológicos y A investigação buscou a integração entre teoria e prática por meio de metodologia mista não intervencionista e intervencionista de base qualitativa. Na etapa não intervencionista, realizou-se pesquisa bibliográfica e documental e, consequentemente, a crítica literária. Respectivamente, realizaram-se entrevistas, questionários, observações e casos de estudo. Na etapa intervencionista, implementou-se a investigação ativa por meio da metodologia de Action Research decorrendo em um processo prático e participativo. O estudo de campo conduziu- se em um contexto local, na região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil. FIG. 1 Desenho de investigação Fonte: Autora, 2015 Conforme as abordagens de Coghlan e Brannick (2014 [2000]); Gill e Johnson (2010 [1991]) e McNiff (2013 [1988]) a Action Research é uma estratégia metodológica de pesquisa social, com base empírica que envolve intervenções, ações e avaliações do pesquisador com o objetivo de contribuir tanto para o conhecimento quanto para resolver problemas sociais ou organizacionais. Há uma ampla e explícita interação entre o pesquisador e as pessoas envolvidas na situação investigada de modo cooperativo, participativo e democrático. Para Gill e Johnson (2010 [1991]) a intervenção do pesquisador e a colaboração com pessoas e organizações para introduzir a modificação são uma parte intrínseca desse tipo de investigação. Isso INTRODUÇÃO | 27 porque são sintetizadas as contribuições que tanto o pesquisador como os stakeholders trazem para a solução de problemas. Coghlan e Brannick (2014) e McNiff (2013 [1988]) acrescentam que essa metodologia trabalha por meio de um processo cíclico e sistemático de: identificação de problema e diagnóstico (observar); pensar em um possível caminho a seguir, planejar (refletir); desenvolver e monitorar a ação através da recolha de dados para mostrar o que está acontecendo (agir, executar); avaliar os progressos, estabelecendo procedimentos para a tomada de decisões, testar a validade das ações (avaliar); e adaptar à luz da avaliação (modificar), conforme representado pela fig. 2. A Action Research surge da necessidade de investigar em um contexto real e intervir no fenômeno de estudo. Consequentemente, origi- nase de uma crítica sobre a ciência positivista que reduz a ação humana à respostas imediatas incitadas por estímulos externos, ignorando, essencialmente, as dimensões subjetivas de ação humana, isto é, a lógica interna e processos interpretativos pelos quais a ação se cria (Gill & Johnson, 2010 [1991]). Em contraposição a investigação positivista, Coghlan e Brannick citam uma metáfora feita por Winsbord na qual o autor compara a ciência positivista ao ato de fotografar e a Action Research com o ato de fazer filmes: No photograph takes in the whole of reality; it only takes in what is intended to be included in the frame. Photographers decide what is to be in the frame, and they manipulate the setting to include and exclude desirable and FIG. 2 Processo de Action Research denominado ciclo de ação-reflexão Fonte: McNiff (2013 [1988], p. 9) INTRODUÇÃO | 28 undesirable features. In contrast, making films is an engagement in patterns of activity and relationships by multiple actors who are moving and interacting over a period of time and across locations. It is increasingly common to find actors directing their own films. In these cases, actor- directors engage in their acting role in costume, and then return to behind the camera in order to study the take, critique it and make decisions about proceeding to the next take. We find this image of making films and the action researcher as an actor-director pertinent and useful for thinking about doing action research. (Winsbord, 1988 apud Coghlan & Brannick, 2014, p. 8)3. Diferentes métodos de design quando combinados com a Action Research, podem ser importantes instrumentos para inspirar soluções e ações. Os métodos empregados no âmbito dessa metodologia podem ser variados, tendem a ser flexíveis e de ordem qualitativa (Hanington & Martin, 2012). Empregou-se a metodologia de Action Research por causa de suas características estratégicas, onde o processo de tomada de decisão é dinâmico e pode ser influenciado tanto por insights (Mintzberg, Ahlstrand, & Lampel, 2010), como por estratégias emergentes - que surgem em razão de adaptações que ocorrem durante o percurso (Mintzberg, 2013). Portanto, o caráter dinâmico e cíclico da Action Research é particularmente coerente com o processo de formulação de estratégia. Ao mesmo tempo esse método demonstrou ser apropriado para estimular a relação de colaboração entre o pesquisador e os stakeholders permitindo aumentar o conhecimento e a consciência dos grupos envolvidos visando ações de melhoria ou mudança para a solução dos problemas detectados. 3 T.L.- “[...] nenhuma fotografia mostra toda a realidade; só captura o que se destina a ser colocado na moldura. Os fotógrafos decidem o que deve estar no quadro, e manipulam o cenário para incluir e excluir características desejáveis e indesejáveis. Ao contrário, a produção de filmes é um envolvimento com uma atividade padrão e relações de múltiplos atores que se movem e interagem durante um período do tempo e através de posições. É cada vez mais comum encontrar atores que dirigem os seus próprios filmes. Nesses casos, os atores-diretores ocupam o papel de ator, e logo retornam para trás da câmera para estudá-lo, criticá-lo e tomar decisões sobre o processo seguinte. Percebemos a imagem de fazer filmes e o pesquisador de ação como um ator-diretor relevante e útil para pensar sobre a realização de investigação ativa.” INTRODUÇÃO | 29 1.6.1 Métodos e técnicas de investigação y Parte-se do princípio de que uma investigação no campo do design deve considerar de modo coexistente que: o problema pertence a área disciplinar do design; os procedimentos metodológicos apoiam-se em um modelo que possa ser replicado; a investigação seja relevante para a sociedade e que o processo envolva os utilizadores (Moreira da Silva, 2010). O processo de investigação ocorreu de modo iterativo, cíclico e não linear. Aplicaram-se diferentes procedimentos e métodos com o objetivo de confirmar ou refutar a hipótese apresentada. Primeiramente, uma investigação exploratória delineou o problema (identificar o problema) e coletou informações, dados e evidências por meio de um diagnóstico realizado em cinco MPEs moveleiras da região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil (observar). A seleção das MPEs participantes ocorreu por meio de um inquérito semiestruturado voltado para os designers da região. O inquérito identificou, dentre outras questões, as marcenarias mais atuantes no mercado da região para participarem da investigação como empresas de diagnóstico. A investigação exploratória utilizou diversas ferramentas de pesquisa descritas por Theóphilo (2009): pesquisa bibliográfica (livros, periódicos, revistas, jornais, sites, anais de congresso, etc.), pesquisa documental, levantamentos qualitativos e quantitativos (entrevistas semiestruturadas, inquéritos, coleta de dados e observação direta com apoio mecânico) visando um diagnóstico sobre as principais causas dos desperdícios nas marcenarias selecionadas; por Yin (2008 [1984]): casos de estudo sobre projetos que buscam minimizar o desperdício e que podem lançar luz sobre a solução do problema; e por Morgan (1996): grupo de foco realizado com a participação de empresários e profissionais do setor moveleiro para avaliar as estratégias iniciais propostas. Além disso, nessa fase inicial, procurou-se convocar os atores e parceiros interessados para participarem da investigação e buscar o apoio de instituições. Com base na análise de dados coletados planejou-se os possíveis caminhos a seguir (analisar e refletir) e para tanto, considerou-se as relações e processos decisórios fundamentais entre os objetivos da investigação, a realidade das empresas (diagnóstico) e o modelo a ser desenvolvido. As informações coletadas demonstraram a relevância do problema a ser investigado e permitiram identificar INTRODUÇÃO | 30 os principais tipos de desperdício envolvendo a produção de mobiliário personalizado. A sistematização de dados realizada por meio de uma matriz possibilitou proceder ao julgamento sobre a relevância ou irrelevância do desperdício em cada etapa do processo produtivo, direcionando corretamente as estratégias a serem adotadas e implementadas. A compilação de dados bibliográficos e empíricos permitiu desenvolver um modelo de design estratégico sustentável. O modelo, designado Projeto Caco, é compreendido por uma fase de diagnóstico que desenvolveu procedimentos para a coleta e tratamento de dados; seis estratégias de design sustentáveis aplicáveis ao setor moveleiro selecionadas a partir da abordagem dos autores Behrendt et al. (1997); Brezet and Hemel (1998); Fiksel (2009); Gertsakis et al. (2001); Manzini and Vezzoli (2008); and Tischner et al. (2002); um conjunto de 47 diretrizes propostas para alcançar as estratégias; e nove ferramentas de suporte desenvolvidas para a inserção do modelo nas MPEs. Um grupo de foco formado por um painel de dez especialistas avaliou o modelo de design estratégico sustentável (avaliar). Posteriormente, adaptou-se o modelo à luz da avaliação (modificar) e da implementação parcial do modelo em uma empresa piloto. Foram delineados os objetivos estratégicos e operacionais para implementação do modelo nas empresas (agir, executar). Na etapa final a triangulação de diferentes métodos analisou os resultados obtidos e permitiu chegar as conclusões apresentadas. Nesse sentido, as conclusões foram embasadas pela triangulação de dados envolvendo a revisão de literatura, o diagnóstico das MPEs, a avaliação de especialistas e a implementação parcial do modelo em uma empresa piloto. O cruzamento de informações recolhidas objetivou demonstrar o potencial do modelo de design estratégico sustentável proposto para identificar e minimizar os desperdícios e para incentivar a destinação correta de resíduos por parte das MPEs moveleiras. INTRODUÇÃO | 31 1.6.2 Desenho de investigação FIG. 3 Organograma com o desenho de investigação Fonte: Autora, 2018 INTRODUÇÃO | 32 1.7 Estrutura da tese y A partir da consideração dos objetivos propostos, a presente tese encontra-se estruturada em sete capítulos principais. O capítulo 1 realizou uma contextualização inicial sobre o âmbito da investigação e explicitou a problemática investigada envolvendo o setor de mobiliário personalizado. Além disso, apresentou-se a questão de investigação, os objetivos, a hipótese, os procedimentos metodológicos, bem como os métodos e as técnicas utilizadas. O capítulo 2 aborda questões teóricas consideradas pertinentes para contextualizar o problema envolvendo o setor moveleiro. Nesse sentido, buscou-se compreender os inter-relacionamentos entre os diferentes contextos nos cenários global, nacional (Brasil e Portugal) e regional (Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil). A revisão de literatura, a pesquisa documental e os dados complementaram-se por meio de pesquisa exploratória (entrevista e observação direta) realizada em MPEs do Brasil e de Portugal. O capítulo também faz uma reflexão sobre as principais consequências da falta de gestão de resíduos de móveis no âmbito local, destacando seus impactos socioambientais e econômicos. O capítulo 3 realizou uma revisão de literatura com o objetivo de compreender e sistematizar as teorias comumente reconhecidas como relevantes para o desenvolvimento estratégico e sustentável do setor moveleiro. Nesse sentido, buscou-se analisar as definições de estratégia, as principais estratégias existentes para o desenvolvimento de produtos sustentáveis e os diferentes contextos do design que podem gerar inovação. Além disso, buscou-se analisar os inter- relacionamentos entre as temáticas e suas possíveis contribuições para o desenvolvimento de um modelo de design estratégico sustentável. O capítulo 4 apresenta dois casos de estudo com características distintas entre si, mas que podem lançar luz sobre práticas, processos, estratégias e desafios referentes a redução do desperdício por parte do setor de mobiliário. O primeiro caso selecionado é do designer holandês Piet Hein Eek que tem se destacado no cenário internacional em razão de seus projetos que visam a reciclagem e o aproveitamento máximo da madeira. O segundo caso, apresenta o Projeto Ligno coordenado pelo designer e pesquisador brasileiro Glaucinei Rodrigues Corrêa que INTRODUÇÃO | 33 desenvolveu um novo material compósito a partir da reciclagem de resíduos moveleiros. Por meio desses casos de estudo procura-se compreender e analisar as estratégias de design estratégico sustentáveis utilizadas para minimizar os danos causados pelo descarte de resíduos e estender a vida útil dos materiais utilizados pelo setor moveleiro. O capítulo 5 discorre sobre o estudo de multicasos envolvendo cinco MPEs que produzem mobiliário personalizado e por encomenda na região do Triângulo Mineiro. O diagnóstico procurou caracterizar as empresas investigadas e os resíduos gerados; identificar o volume, as principais causas para o desperdício, e os modos de disposição final adotados. As informações foram coletadas por meio de revisão de literatura, documentos, inquéritos, reuniões com stakeholders e observação empírica. Os dados coletados foram sistematizados com o objetivo de proceder ao julgamento sobre os diversos tipos de desperdício em cada etapa do processo produtivo. O capítulo 6 apresenta o modelo de design estratégico preliminar desenvolvido a partir da revisão de literatura, da análise de dados recolhidos sobre as MPEs investigadas. Um grupo de 10 especialistas (grupo de foco) avaliou o modelo de design estratégico. O modelo preliminar foi modificado à luz das avaliações e a partir da implementação parcial do modelo em uma empresa piloto. Por fim, apresenta-se o modelo de design estratégico sustentável final e o planejamento para inserção do modelo. O modelo designado Projeto Caco é composto por uma etapa de diagnóstico e um conjunto de estratégias, diretrizes e ferramentas de suporte interdependentes que abordam diferentes aspectos do design estratégico sustentável com o objetivo de minimizar os desperdícios e o descarte irregular de resíduos provenientes da produção de mobiliário personalizado. O capítulo 7 apresenta os contributos da investigação para o conhecimento, os recursos e as limitações e as recomendações para estudos futuros. No final são demonstrados os diferentes meios de disseminação realizados ao longo do doutoramento por meio da apresentação e publicação de artigos científicos internacionais, da realização de exposições e organização de seminários. INTRODUÇÃO | 34 1.8 Referências bibliográficas do capítulo Behrendt, S., Jasch, C., Peneda, M. C., & Weenen, H. van. (1997). Life cycle design: a manual for small and medium sized companies. New York: Springer. Braga, J. C. (2012). Sociedade, indústria e design: percepções, atitudes e caminhos rumo a uma sociedade sustentável. Acta Scientiarum: Human and Social Sciences, 34(2), 169–178. Brezet, H., & Hemel, C. van. (1998). Ecodesign: a promising approach to sustainable production and consumption. Paris: UNEP. Coghlan, D., & Brannick, T. (2014). Doing action research in your own organization. London: Sage. FIEMG. (2002). Diagnóstico do pólo moveleiro de Ubá e região. Belo Horizonte: IEL/MG. Fiksel, J. R. (2009). Design for environment a guide to sustainable product development. New York: McGraw-Hill. Garcia, A. de A. (2005). Estudo de mercado e pesquisa de benchmarking para o setor moveleiro DF. Brasília- DF: SEBRAE. Gertsakis, J., Lewis, H., Sweatman, A., Grant, T., & Morelli, N. (2001). Design + Environment: A Global Guide to Designing Greener Goods. Sheffield: Greenleaf. Gill, J., & Johnson, P. (2010). Research methods for managers. Los Angeles: SAGE Publications Ltd. Hanington, B., & Martin, B. (2012). Universal methods of design: 100 ways to research complex problems, develop innovative ideas, and design effective solutions. United States: Rockport Publishers. IEMI. (2016). Brazilian Furniture - Sobre o Setor. Recuperado 1º de setembro de 2018, de http://www.brazilianfurniture.org.br/sobresetor Manzini, E., & Vezzoli, C. (2008). Desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP. McNiff, J. (2013). Action research: principles and practice. New York: Routledge. Mintzberg, H. (2013). Rise and fall of strategic planning: reconceiving roles for planning, plans, planners. New York: Free Press. Mintzberg, H., Ahlstrand, B., & Lampel, J. (2010). Management? It’s not what you think! New York: Pearson. Moreira da Silva, F. J. C. (2010). Investigar em design versus investigar pela prática do design: um novo desafio científico. INGEPRO-Inovação, Gestão e Produção, 2(4), 082–091. Morgan, D. L. (1996). Focus Groups. Annual Review of Sociology, 22(1), 129–152. Pereira, A. F., Carvalho, L. de S. C., & Pinto, A. C. de O. (2010). Resíduo de madeira: limites e possibilidades de seu uso como matéria-prima alternativa. In 9o Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: Blucher. Prado, M. V., Bezado, A. P., & Grando, F. R. (2014). Relatório setorial 2014 polo moveleiro do INTRODUÇÃO | 35 Rio Grande do Sul. IEMI. SEBRAE (Org.). (2013). Anuário do Trabalho na micro e pequena empresa. Brasília- DF: DIEESE. Theóphilo, C. R. (2009). Metodologia da investigação científica para ciências sociais aplicadas. São Paulo: Atlas. Tischner, U., Schmincke, E., Rubik, F., Prosler, M., Dietz, B., Maßelter, S., & Hirschl, B. (2002). How to do ecodesign? A guide for environmentally and economically sound design. (G. F. E. Agency, Org.). Basel: Birkhauser. Yin, R. K. (2008). Case study research: design and methods (4o ed). Los Angeles: SAGE Publications. CAP. 02 PANORAMA DA INDÚSTRIA MOVELEIRA CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 38 Nota introdutória Ao longo deste capítulo são abordadas questões teóricas consideradas pertinentes para contextualizar o problema envolvendo o setor moveleiro. Nesse sentido, buscou-se compreender os inter-relacionamentos entre os diferentes contextos nos cenários global, nacional (Brasil e Portugal) e regional (Triângulo Mineiro, Minas Gerais, Brasil). A revisão de literatura, pesquisa documental e os dados complementaram-se por meio de pesquisa exploratória (entrevista e observação direta) realizada em MPEs do Brasil e de Portugal. O capítulo também faz uma reflexão sobre as principais consequências da falta de gestão de resíduos de móveis no âmbito local, destacando seus impactos socioambientais e econômicos. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 39 2. PANORAMA DA INDÚSTRIA MOVELEIRA 2.1 Contexto global y A indústria moveleira mundial caracteriza-se como um setor composto em sua maioria por pequenas e médias empresas, com alto grau de especialização e que demanda intensa mão de obra e, por isso pode impactar positivamente ou negativamente na taxa de emprego de uma economia (Crocco & Horácio, 2001; Gorini, 1998). O setor é formado por grandes cadeias produtivas, que são capazes de oferecer importantes ganhos de escala e agilidade nas etapas do processo produtivo. Geralmente as firmas menores fabricam e fornecem componentes e acessórios para as empresas maiores o que permite maior eficiência e flexibilização da produção com a horizontalidade e agilidade dos processos produtivos. A introdução de novos equipamentos automatizados, de técnicas de gestão empresariais e o aumento da horizontalização da produção contribuíram para a produtividade na indústria de móveis, flexibilizaram os processos com a produção de vários tipos de produtos em uma mesma linha de produção, e reduziram custos industriais. Todas essas transformações, somadas à introdução de uma grande CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 40 variedade de matérias-primas e acabamentos possibilitados pela introdução de MDF e outros, colaboraram para a massificação do consumo de móveis. Especialmente os móveis retilíneos padronizados que concorrem em um mercado determinado pelo menor preço. Esses móveis passaram a ser projetados para que a montagem pudesse ser realizada pelo próprio usuário, eliminando a necessidade do montador. Na outra extremidade, estão os móveis que procuram se distinguir por meio do design, perseguindo a estratégia da diferenciação e exclusividade, como no caso das empresas italianas (Gorini, 1998). Portanto, a competitividade das empresas de móveis deve-se ao alto grau de especialização e de tecnologia empregada, a aplicação de novos materiais, ao desenvolvimento de estratégias comerciais e de distribuição e, sobretudo, ao design (Gorini, 1998). A utilização de novos materiais, os novos tipos de acabamento e o design constituem as principais atividades inovadoras na indústria, ou seja, a mais importante fonte de dinamismo tecnológico origina-se da inovação dos produtos, uma vez que as tecnologias de processo estão consolidadas e difundidas e as mudanças tecnológicas são incrementais. (Gorini, 1998, p. 31). No período de 2016, a produção mundial de móveis contabilizou US$ 421 bilhões e expandiu 1,1% em relação a 2015. Nesse cenário, os grandes líderes no mercado mundial de móveis são a Ásia, capitaneada pela China com 44,1% da produção mundial, a União Europeia, com seus 28 países-membros, com 21,8%, e os Estados Unidos com 9,8% da produção mundial de móveis. O Brasil aparece no quinto lugar com 3,4% no ranking mundial de produção de móveis. Entretanto, a atuação no Brasil nas importações (0,5%) e exportações globais (0,4%) são pouco significativas. (IEMI, 2016). 2.2 Contexto brasileiro y Apesar da diversificação, a cadeia produtiva da indústria moveleira no Brasil é historicamente especializada na produção de artigos confeccionados com madeira, por causa da abundância de matérias-primas de origem florestal (Galinari, Júnior, Rodrigues, & Morgado, 2013). Todavia, em razão das restrições ambientais CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 41 e legais para a obtenção de madeira maciça, expandiu no Brasil a fabricação de painéis de madeira produzidos com pínus e eucalipto reflorestados. Segundo informações da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), em 2016 a produção de painéis de madeira reconstituída (MDF, MDP, etc.) no Brasil foi de 7,3 milhões de m³, dos quais 86% destinaram-se ao mercado interno. Existem 18 fábricas produtoras de painéis no Brasil e o país ocupa o 8º lugar no ranking mundial dos maiores produtores de painéis de madeira reconstituída. (IBÁ, 2017). No país há um predomínio no uso de MDF revestido com laminado. Os fabricantes de painéis disponibilizam os produtos com uma única dimensão, o que dificulta o aproveitamento das placas, e consequentemente, resulta em maiores perdas de material nas marcenarias. O segmento de móveis de madeira4 no Brasil , é composto por aproximadamente, 17.500 indústrias de diversos portes que geraram R$ 58,1 bilhões em 2016 (IEMI, 2016) e estão pulverizadas por todo o território nacional (Galinari et al., 2013; Leão, 2009). Entretanto, a maior parte dessas empresas estão concentradas principalmente nas regiões Sul (7.163 empresas) e Sudeste (6.566 empresas). (IEMI, 2016). Nestas regiões também estão localizados os principais polos moveleiros (clusters) que produziram um total de 282 milhões de peças em 2013: Bento Gonçalves -RS (17,7%), Região metropolitana de São Paulo (9,1%), Arapongas – PR (8,8%), Grande São Paulo – SP (6,6%), Ubá – Minas Gerais, MG (5,9%), Curitiba – Paraná, PR (3,8%), São Bento do Sul – Santa Catarina, SC (2,4%), Linhares - ES (2,4%), Belo Horizonte – Minas Gerais, MG (1,5%), Lagoa Vermelha – Rio Grande do Sul, RS (0,8%), Rio de Janeiro – RJ (0,2%). Esses dados se referem à porcentagem de peças produzidas sobre o total dos polos (IEMI apud Capistrano, 2014). 4 Considera-se móveis de madeira todos os móveis produzidos com madeira maciça ou madeira reconstituída – painéis de MDF, MDP, etc. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 42 Conforme o IEMI, em 2011, 76% das empresas moveleiras no Brasil fabricavam produtos padronizados (produzidos em série e sem a possibilidade de personalização por parte dos clientes). Entretanto, desde então houveram mudanças no mercado imobiliário brasileiro com a redução das áreas uteis dos imóveis, valorizando as soluções oferecidas pelos móveis sob medida que maximizam o aproveitamento de espaço (Galinari et al., 2013). Em razão da “pulverização” de empresas pelo território nacional e da grande quantidade de microempresas informais, estimativas de 2016 afirmam que existem mais de 17.500 indústrias de móveis constituídas predominantemente por micro e pequenas empresas com processos produtivos verticalizados e pouco especializados, muitas dessas são marcenarias que executam móveis customizados (Galinari et al., 2013; IEMI, 2016). O número de estabelecimentos de grande porte, com mais de 500 funcionários, seria quase irrelevante. Essas empresas têm introduzido gradativamente alta tecnologia, mas grande parte ainda utiliza equipamentos e sistemas produtivos ultrapassados (FIEMG, 2002). Mesmo as grandes empresas estão atendendo basicamente ao mercado interno, em parte, por causa dos altos preços dos painéis de madeira no mercado nacional (Leão, 2009); da baixa tecnologia empregada; e da falta de diferenciação dos produtos em razão do baixo investimento em design - com predominância da imitação de FIG. 4 Mapa da produção de móveis no ano de 2014 (em % de peças) Fonte: IEMI (2014) apud Fornari, Assis & Ahrens (2015, p. 13). CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 43 produtos (Castro; Cardoso, 2010; Crocco; Horácio, 2010; Galinari et al., 2013; IEL, 2002). Um dos principais obstáculos ao desenvolvimento das empresas brasileiras diz respeito à falta de inserção do design para apoiar a conquista de novos mercados e para a criação de um design brasileiro (SEBRAE, 2002, p. 43). A maior concentração de estudos e diagnósticos sobre o setor moveleiro no Brasil foram realizados para os polos moveleiros de Bento Gonçalves (RS), com o apoio da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e de Ubá (MG). No caso específico de Ubá, o polo possui o apoio de importantes centros de pesquisa, ligados a universidades de Viçosa, Belo Horizonte, Lavras e Juiz de Fora que proporcionam grandes ganhos em termos de construção do conhecimento nas várias áreas ligadas à produção de móveis, nomeadamente nas áreas de gestão, engenharia de produção, design, engenharia florestal, entre outros. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) também financia uma série de projetos que contribuem para o conhecimento científico na região (Castro & Cardoso, 2010). (Fornari, Assis, & Ahrens, 2015, p. 13) Entre 2009 e 2013, houve aumento de 23,3% na quantidade de empresas do seguimento de moveis de madeira em atividade no país e a produção cresceu 28,7%. Cabe destacar a quantidade de empresas do seguimento de móveis de madeira (15.778 empresas) é bem maior do que as empresas do seguimento de metal (1.645 empresas), outros móveis (825 empresas) e colchões (424 empresas) conforme pode ser verificado na tabela 1. (Prado et al., 2014). Tabela 1 Produção de empresas nacionais por seguimento Fonte: Prado et al. (2014, p. 14) Em 2017, o setor moveleiro apresentou aumento de 4,6% na quantidade de peças produzidas em comparação com 2015. (IEMI apud Movergs). No período de 2009 a 2013, a produção cresceu em média 6,5% ao ano (IEMI apud Capistrano, 2014). CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 44 Os móveis residenciais participam com 73% da produção total do setor, sendo o restante composto por móveis para escritórios (18%) e móveis institucionais, para piscinas, terraços, jardins, etc. (9%) conforme apresentado pela tabela 2. Tabela 2 Produção nacional de móveis por linha de produto (mil peças). Fonte: Prado et al. (2014, p. 19) Notas: (1) Inclui móveis para cozinha, copa, banheiro e lavanderia. (2) Inclui móveis institucionais, para piscinas, terraços, jardins, etc. Esse crescimento da produção de móveis no período entre 2019 e 2013 pode ser explicado pela estabilização da economia brasileira no período e pela expressiva migração de consumidores da classe D para C. Além disso houve uma redução temporária do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o crescimento da construção civil - principalmente com o aporte do programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal, alavancando o mercado imobiliário e o consumo de bens duráveis. Entretanto, com o cenário político e econômico adverso enfrentado pelo Brasil desde o início de 2015, houve uma desaceleração da produção nacional de móveis. Em relação ao mesmo período do ano anterior, janeiro de 2015 sofreu uma redução de 3,7% na produção de móveis em razão da queda no volume exportado (-13,8%) e a redução das vendas para o mercado interno (-11%). Como consequência, o emprego no setor da madeira também retraiu 2,6% (Moveleiros, 2015). Dados recentes apontam que em 2016 as vendas do setor moveleiro sofreram queda de 12,1% em volume (IBÁ, 2017) e a produção de móveis teve redução de R$ 1,3 bilhões no comparativo com o ano anterior. Os postos de trabalho também sofreram queda de 12,6% no intervalo entre 2012 e 2016. (E-mobile, 2017). CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 45 De modo similar ao cenário moveleiro internacional, o setor moveleiro no Brasil apresenta uma baixa participação no PIB nacional, em torno de 0,6%. De acordo com o Ministério do Trabalho, em 2015, houve queda de 8% na geração de empregos formais do setor de móveis (258 mil empregos) se comparado com o ano de 2014 (280 mil empregos). No entanto, mesmo com a queda na quantidade pessoal empregado, o setor moveleiro ainda continua relevante para a geração de empregos no país. Conforme Galinari et al. (2013), a expressiva participação da indústria moveleira nos níveis de emprego e a disseminação da cadeia produtiva de móveis pelo território nacional demonstram a importância do setor para a economia brasileira. 2.2.1 Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba y Uma quantidade expressiva de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) moveleiras está localizada em Minas Gerais, na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. A mesorregião é formada por sessenta e seis municípios sendo sete deles considerados microrregiões, em virtude de suas estruturas de produção, distribuição, troca e consumo diferenciadas. Somados seus 66 municípios, a região totaliza uma população estimada de dois milhões de habitantes, e possui uma área equivalente a 54 mil km² (IBGE, 2015). FIG. 5 Mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (região oeste de Minas Gerais, Brasil) Fonte: Adaptado de IBGE De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Uberlândia é o maior município da região (683 mil hab. – população estimada em 2018) e o segundo maior do estado de Minas Gerais, possui o terceiro maior IDH (0,789) do CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 46 estado e é a cidade de maior influência da região (IBGE, 2018), principalmente, por sua posição geográfica estratégica no contexto regional e nacional (SEPLAN, 2017), pelo seu desempenho econômico e social relevante no cenário nacional, estadual e regional. A diversidade de atividades econômicas torna o município capaz de atrair grande migração e investimentos e atua como forças centrípetas e centrífugas em sua região atraindo investimentos e fluxos de comércio (Guimarães, 2013). O Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba agrupam uma quantidade expressiva de MPEs moveleiras. O Sindicato das Indústrias de Marcenaria e Mobiliário do Vale do Paranaíba (Sindmob) estabelecido na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, possui 80 empresas associadas e busca promover, principalmente, palestras, exposições e viagens para as empresas do setor. Em 2006 o Sindmob em parceria com o SENAI e o SEBRAE realizaram um diagnóstico das indústrias moveleiras da região. De acordo com as estimativas do Sindmob existem, aproximadamente, 200 MPEs moveleiras formais. Entretanto, estima-se que o número de empresas moveleiras na região seja muito maior, em torno de 800 MPEs, em razão da informalidade de grande parte das indústrias (informação verbal)5. Na região predominam Micro e Pequenas Empresas, 96% são Micro Empresas (até 19 funcionários) e 4% são Pequenas Empresas (de 20 a 99 funcionários) que possuem uma pequena quantidade de funcionários: média de 6,2 funcionários por empresa (SENAI, 2006). A produção das empresas da região é essencialmente de mobiliário por encomenda e sob medida, 94% conforme diagnóstico realizado pelo SENAI (2006). Das demais empresas, 3% produzem em série por encomenda e outros 3% produzem móveis em série com sua própria linha de produtos. Os produtores de móveis sob medida são compostos maioritariamente por MPEs de origem familiar, com baixo grau de especialização, alto nível de qualificação técnica e flexibilidade 5 Informação fornecida por Ruy Gouveia Mendes (Presidente do Sindmob) em entrevista em Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, 11 ago. 2015. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 47 para atender a necessidade específica de cada cliente (Dal Piva, 2006; SENAI 2006 apud Oliveira, Paes, Rezende, Alvarenga, & Mendonça, 2012). O processo de produção das marcenarias é semi-artesanal, devido em parte a cultura local do saber fazer artesanal e a valorização dos usuários por produtos personalizados que se adequam a funções e a espaços definidos. Na maioria das empresas os móveis são executados por marceneiros que possuem o conhecimento e a prática para executar todo o móvel. Por isso, os processos produtivos necessitam de mão de obra qualificada. Geralmente os resultados são móveis de qualidade e que, consequentemente, apresentam alto custo, mas que ainda concorrem com as empresas de alta tecnologia que produzem móveis modulares (Dal Piva, 2006). É importante considerar que os sistemas de produção possuem baixo grau de especialização, produção de baixo nível tecnológico e ocorrem de modo verticalizado, isto é, diferentes processos de produção são realizados pela mesma empresa. Esse processo exige uma série de etapas que se inicia: com a análise do projeto, que é elaborado por um profissional (geralmente designer ou arquiteto) ou pela própria marcenaria; depois são realizados cálculos de custos; a negociação individual de cada móvel; visita na casa do cliente para levantamento de medidas; cálculo e compra de matéria-prima; acompanhamento de toda a produção até o transporte e a montagem - que muitas vezes é finalizada na residência do próprio cliente. Geralmente, todo esse processo é realizado pelo proprietário da marcenaria que participa de toda a cadeia produtiva. Dal Piva (2006, p. 17) aponta algumas vantagens do processo de fabricação sob medida: O cliente financia a fabricação realizando parte do pagamento antecipado; O móvel é personalizado; O móvel ocupa mais satisfatoriamente o espaço da residência; Há maior rentabilidade por unidade de produto fabricada; A estrutura administrativa da empresa é enxuta; Há polivalência do marceneiro. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA | 48 Entretanto, na visão de grande parte dos marceneiros, a exclusividade dos produtos e o baixo uso de tecnologia dificulta a padronização dos móveis (redução da variedade de peças de modo econômico) e a intercambialidade de partes (capacidade de aproveitamento de partes para a utilização em um mesmo produto ou em produtos diferentes). Por um lado, as vantagens da padronização incluem a redução de perdas, a racionalização da produção, a redução de custos e da quantidade de itens na produção. Por outro lado, os móveis totalmente padronizados impedem o atendimento a todos os desejos dos clientes, limitando a diversificação que é uma forte tendência no mercado atual (Dal Piva, 2006). A fabricação sob medida requer uma grande quantidade de operações e de mão de obra qualificada, o que aumenta o custo do produto e faz com que as pequenas marcenarias não consigam competir com os grandes fabricantes (Dal Piva, 2006). Nesse sentido, são destacadas as principais desvantagens do processo de fabricação do móvel sob medida (Dal Piva, 2006, p. 18): Há excesso de operações manuais; Falta de maquinário produtivo; A aquisição de matéria-prima e insumos é feita em pequenas quantidades adquiridas de intermediários, cujo preço é sempre mais alto; A mão de obra qualificada é rara; Há baixa produtividade; O produto apresenta excesso de matéria-prima, tornando-se inacessível para a maioria das pessoas; Há necessidade de profissionais para elaborar projetos especiais. Geralmente, para a produção de móveis sob medida utilizam-se