283 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.72, n.3, p.283-288, jul./set, 2005 Detecção de anticorpos para Leptospira spp. em animais e funcionários do Zoológico Municipal de Uberaba, MG. DETECÇÃO DE ANTICORPOS PARA LEPTOSPIRA SPP. EM ANIMAIS E FUNCIONÁRIOS DO ZOOLÓGICO MUNICIPAL DE UBERABA, MG F.M. Esteves1, G. Guerra-Neto1, R.J. da S. Girio1, M.L. Silva-Vergara2, A.C.de F.B. Carvalho1 1Universidade Estadual Paulista, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n o, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil. E-mail: festeves@mednet.com.br RESUMO O presente estudo teve como objetivo detectar anticorpos contra Leptospira spp. pelo teste de soroaglutinação microscópica em animais e funcionários do Zoológico Municipal de Uberaba, MG. Foram colhidas amostras de sangue de 166 animais entre mamíferos, répteis, peixes e aves e dos 36 funcionários. Dos animais estudados, 17 (10,24%) foram reagentes para anticorpos contra Leptospira spp. Os sorovares encontrados nas diferentes espécies foram: Grippotyphosa em uma espécie Cerdocyon thous (Cachorro-do-mato); Canicola em uma espécie Chrysocyon brachiurus (Lobo-Guará); Andamana e Icterohaemorrhagiae em duas espécies Leopardus pardalis (Jaguatirica); Canicola e Icterohaemorrhagiae em duas espécies Puma concolor (Suçuarana); Icterohaemorrhagiae em duas espécies Tayassu tajacu (Cateto); Andamana em duas espécies Geochelone spp. (Jabuti); Patoc em uma espécie Trachemys scripta (Tigre d’água); Canicola em seis espécies Oreochromis niloticus (Tilápia); Icterohaemorrhagiae em uma espécie Rattus rattus (Rato de telhado). Os sorovares mais freqüentes foram Canicola 8 (47,05%); Icterohaemorrhagiae 5 (29,41%) e Andamana 2 (11,76%). O título 100 foi o mais prevalente com 35,3% entre as espécies reagentes. As aves os gatos domésticos errantes e os funcionários do zoológico foram negativos para os sorovares analisados. Dentre as espécies estudadas, os mamíferos e os peixes apresentaram maior sororeatividade. Destaca-se a importância de mais estudos em animais silvestres e em de cativeiro e sua relevância no contexto da epidemiologia da Leptospirose. PALAVRAS-CHAVE: Leptospira, sorovar, zoonose, animais silvestres, zoológico. ABSTRACT DETECTION OF ANTIBODIES AGAINST LEPTOSPIRA SPP. IN ANIMALS AND EMPLOYEES OF THE MUNICIPAL ZOO OF UBERABA, MG, BRAZIL. The objective of the present study was to detect antibodies against Leptospira spp. by the microscopical seroagglutination test in animals and employees of the municipal zoo of Uberaba, MG. Blood samples of 166 animals including mammals, reptiles, fish and poultry and of the 36 employees were collected. Of all studied animals, 17 (10.02%) were reactant to antibodies against Leptospira spp. The sorovars found in the different species were: Grippotyphosa in a Cerdocyon thous species; Canicola in a Chrysocyon brachiurus species; Andamana and Icterohaemorrhagiae in 2 species of Leopardus pardalis ; Canicola and Icterohaemorrhagiae in 2 species of Puma concolor ; Icterohaemorrhagiae in two species of Tayassu tajacu; Andamana in 2 species of Geochelone spp.; Patoc in a Trachemys scripta specie; Canicola in six species of Oreochromis niloticus; Icterohaemorrhagiae in a Rattus rattus specie. The most frequent sorovars were Canicola 8 (47.05%); Icterohaemorrhagiae 5 (29.41%) and Andamana 2 (11.76%). The titer 1/100 was the strongest with 35.3% in all reactant agents. The poultry, the stray domestic cats and the employees of the zoo were negative for the analyzed sorovars. In all studied species, the mammals and the fish presented the most seroactivity. The importance of more studies in both wild and captive animals and the relevance to Leptospira epidemiology can be seen. KEY WORDS: Leptospirosis, sorovars, zoonosis, wild animals, zoo. 2Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil. IdeaPad Caixa de texto DOI: 10.1590/1808-1657v72p2832005 284 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.72, n.3, p.283-288, jul./set., 2005 F.M. Esteves et al. INTRODUÇÃO Investigações sobre infecção por leptospiras em animais silvestres têm sido demonstradas em roedo- res, (BENGIS et al., 2005), edentatas, carnívoros e artiodáctilos os quais podem atuar como fonte de infecção (MICHNA et al., 1970). O melhor conhecimento da leptospirose na fauna silvestre é de grande importância para o controle e profilaxia da enfermidade nas espécies domésticas e também no homem (SOSA et al., 1988). Na fauna silves- tre, os sinais relatados são semelhantes aos apresen- tados por animais domésticos, havendo descrição de baixo índice de fertilidade, nascimento de crias fra- cas, abortamentos e transtornos oculares (ALVARES et al., 1996). Levantamentos sorológicos têm demonstrado o envolvimento de diferentes espécies sinantrópicas e silvestres das ordens Didelphimorfia e Rodentia, como potenciais disseminadores dos diferentes sorovares de Leptospira spp. (SANTA ROSA et al., 1975; HARTSKEERL & TERPSTRA, 1996). Poucos estudos evidenciam a presença da leptospirose acometendo populações cativas, rela- tando óbito em primatas (SHIVE et al., 1969; SÁ et al., 1999), guanaco (Esgyrn Guanaco) (HODGIN et al., 1984) e ariranhas (Pteronura brasiliensis) (FARIAS et al., 1999). No Brasil estudos epidemiológicos sobre infecção por Leptospira spp. em animais silvestres são escassos (GIRIO, 1999; LINS & LOPES, 1984). CORRÊA et al. (2004) realizaram um levantamento sorológico para leptospirose em animais silvestres mantidos em cativeiro na Fundação Parque Zoológi- co de São Paulo, no período de 1996 a 1999, em que das 302 amostras de soros analisadas, 59 (19,5%) foram reagentes para SAM. No estudo de GUERRA-NETO et al. (2004), realizado em felídeos neotropicais do Criadouro de animais silvestre da Itaipu Binacional e do Zoológico Munici- pal Bosque Guarani em Foz do Iguaçu no Estado do Paraná, no total de 61 animais analisados, 28 animais foram positivos, representando 45,9% dos animais analisados foram reagentes para a prova de SAM. Pela escassez de dados e a relevância dos animais silvestres no contexto epidemiológico da Leptospirose o objetivo do presente estudo foi avaliar a freqüência de infecção por Leptospira spp. em animais e funcioná- rios de um Zoológico. MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo foi realizado no Zoológico Municipal de Uberaba, MG, durante o ano de 2004/ 2005. Foram colhidas amostras de sangue de 166 animais entre mamíferos, répteis, peixes e aves (Tabe- la 1) além de amostras de sangue de 8 gatos domésti- cos (Felis cattus); 27 ratos de telhado (Rattus rattus) e de 36 funcionários da Instituição. A contenção química dos animais estudados foi realizada de acordo com protocolos anestésicos pre- viamente descrito (PACHALY & BRITO, 2000). A colheita foi realizada por meio de punção veno- sa, utilizando-se seringas de insulina para as aves e para os demais, seringas de 3 e 5 mL e agulhas estéreis de insulina tamanhos 25/7, 25/8 e 27,5. A veia de escolha para colheita, bem como a quantidade de sangue a ser colhido e tamanho da agulha variou de acordo com a espécie, idade e massa corporal do animal. As amostras de sangue dos animais foram separados por centrifugação durante cinco minutos por 700 G no Laboratório do hospital veterinário de Uberaba (HVU), o soro obtido foi colocado em tubos Eppendorf de 1 mL, devidamente identificados e mantidos em freezer à temperatura de -20º C até a realização da sorologia. As amostras de sangue dos funcionários foram colhidos e separados no Labora- tório Médico Especializado de Uberaba (LAMEL). Tabela 1 - Número de amostras estudas para cada espécie animal do Zoológico Municipal de Uberava, 2004/2005. Nº.de ordem Nome científico Nome vulgar Nº. de amostras 1 Alouatta caraya Bugio 2 2 Cerdocyon thous Cachorro do mato 2 3 Cebus apella Macaco-Prego 3 4 Chrysocyon brachyurus Lobo-Guará 1 5 Herpaillurus yagouaroundi Gato-Mourisco 2 6 Leopardus pardalis Jaguatirica 3 7 Licalopex vetutus Raposa-do-Campo 2 8 Procyon cancrivorus Mão-Pelada 1 9 Puma concolor Suçuarana/Onça-Parda 4 10 Tayassu tajacu Cateto 2 11 Amazona aestiva Papagaio-Verdadeiro 4 12 Amazona amazonica Papagaio-do-Mangue 1 285 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.72, n.3, p.283-288, jul./set, 2005 Detecção de anticorpos para Leptospira spp. em animais e funcionários do Zoológico Municipal de Uberaba, MG. Tabela 1 - Continuação. Nº.de ordem Nome científico Nome vulgar Nº. de amostras 13 Amazona xanthops Papagaio-Galego 1 14 Ara ararauna Arara-Canindé 4 15 Aramides cajanea Saracura-três-potes 1 16 Aratinga aurea Periquito-Rei 2 17 Aratinga jandaya Jandaia-Verdadeira 1 18 Aratinga leucophthalmus Araguaris/Maritaca/Maracanã 5 19 Aratinga solstitialis Jandaia-Sol 1 20 Bubo virginianus nacurutu Corujão-do-Mato 1 21 Buteo magnirostris Gavião-Carijó 2 22 Buteo albicaudatus Gavião-de-Rabo-Branco 2 23 Caracara plancus Carcará 1 24 Cariama cristata Seriema 2 25 Heterospizias meridionalis Gavião-Caboclo 1 26 Jabiru mycteria Tuiuiú/Jabiru 1 27 Boa constrictor Jibóia 3 28 Caiman latirostris Jacarés-do-Papo-Amarelo 1 29 Geochelone spp. Jabuti 16 30 Paleosuchus trigonatus Jacaré-Coroa 1 31 Phrynops geoftroanus Cágado-de-Barbicha 12 32 Trachemys scripta Tigre-D’água 20 33 Tupinambis teguixin Lagarto-Teiu 1 34 Othus choliba Corujinha-do-Mato 3 35 Phasianus colchicus Faisão-Coleira 2 36 Pavo cristatus Pavão-Azul 2 37 Ramphastos toco Tucano-Toco 3 38 Rhea americana Ema 3 39 Syrigma sibilatrix Maria-faceira 1 40 Theristicus caudatus Curicaca 1 41 Tyto alba Suindara/Coruja-das-torres 3 42 Oreochromis niloticus Tilápia-do-Nilo 6 43 Hoplias malabaricus Traíra 1 Os anticorpos para Leptospira spp. foram detecta- dos pela prova de Soroaglutinação Microscópica (SAM) utilizando-se culturas vivas de leptospiras em meio enriquecido (EMJH) (FAINE, 1999). Os soros reagentes na triagem inicial foram reexaminados com sete diluições seriadas de razão dois e foram selecio- nados apenas amostras com titulação mínima de 100 (Cutoff), o título do soro considerado positivo foi aquele que sua maior diluição apresentou pelo menos 50% de aglutinação, quando a amostra apresentou reação cruzada para dois ou mais sorovares, foi con- siderado o sorovar que apresentou maior título. As variantes sorológicas de Leptospira spp. empre- gadas como antígenos foram Australis, Bratislava, Autumnalis, Butembo, Castellonis, Bataviae, Canicola, Wwhitcombi, Grippotyphosa, Hebdomadis, Copenhageni, Icterohaemorrhagiae, Javanica, Panama, Pomona, Pyrogenes, Hardjo, Wolffi, Shermani, Andamana, Patoc e Sentot. O estudo sorológico foi realizado no Laboratório de Bacteriologia do Departamento de Medicina Vete- rinária Preventiva da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Jaboticabal). RESULTADOS Dos 166 animais testados 17 apresentaram anticorpos anti-leptospira pelo teste de Soroaglutinação Microscópica (SAM). Dentre os po- sitivos haviam 8 mamíferos, 2 répteis, 6 peixes e 1 roedor. A distribuição da reatividade para os soro- vares patogênicos foi: Canicola em 8 (47,05%); Icterohaemorrhagiae em 5 (29,41%) e Andamana 2 (11,76%). As aves e os gatos domésticos errantes mostraram- se negativos para os sorovares estudados. Em relação às amostras dos 36 funcionários nenhuma apresen- tou qualquer titulação de anticorpos anti-leptospira. Quanto às espécies estudadas os mamíferos e os peixes apresentaram maior sororeatividade com 47,06 e 35,3%, respectivamente. 286 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.72, n.3, p.283-288, jul./set., 2005 F.M. Esteves et al. A titulação para anticorpos anti-leptospiras teve ampla variabilidade, sendo de 100 a 800 onde o título 100 foi o mais prevalente entre as espécies reagentes. Conforme observado na Tabela 3. DISCUSSÃO Dados da literatura mostram uma quantidade maior de estudos da leptospirose em animais silves- tres de vida livre do que para animais mantidos em cativeiro (LUNA-ALVARES et al., 1996). No entanto, pou- cos estudos evidenciam a presença da leptospirose acometendo populações cativas, relatando óbito em primatas (SHIVE et al., 1969; SÁ et al., 1999), guanaco (HODGIN et al., 1984) e ariranhas (FARIAS et al., 1999). Na família Canidae, dos 5 animais analisados neste estudo, um cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) foi positivo para o sorovar Grippotyphosa (01/01; 100%) e o único lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) também foi reagente para o sorovar Canicola e os dois canídeos da espécie Lycalopex vetulus foram negati- vos. Ao comparar os resultados do presente estudo com o estudo de CORRÊA (2004) verifica-se que a mesma espécie monstrou a ocorrência dos sorovares Butembo e Cynopteri em Cerdocyon thous, no entanto, GUERRA- NETO et al. (2002) não encontrou nenhum espécime reagente nos sete cachorros-do-mato testados. A presença de anticorpos anti-Leptospira na espé- cie Chrysocyon brachyurus poderia ter relação com o óbito do mesmo espécime que habitava o mesmo recinto e veio a óbito quatro meses antes e os achados patológicos de nefrite intersticial e gastroenterite hemorrágica sugeriram leptospirose associada à salmonela. Em estudo retrospectivo de 30 anos reali- zado por DINIZ et al. (1999) com 100 animais desta espécie viventes em cativeiro no zoológico de São Paulo, puderam observar que dentre as principais enfermidades bacterianas prevalentes, a leptospirose estava incluída com 22,2% de ocorrência nos animais doentes, juntamente com a colibacilose e a salmonelose. Na família felidae, entre os 9 animais examinados, 4 foram positivos (44,45%). Os sorovares encontrados foram Canicola, Icterohaemorrhagiae e Andamana. A infecção por Leptospira spp. em felinos é relatada com mais freqüência em gatos domésticos. MASON et al. (1972) relata dois casos suspeitos em gatos domésti- cos, com óbito e reação positiva para sorovares Pomona em um dos animais. LARSSON (1981) e DICKESON & LOVE (1993) em estudos epidemiológicos relatam a presen- ça de diversos sorovares detectados em felinos do- mésticos. Em felinos silvestres dados sobre leptospirose são ainda mais escassos. Neste estudo dos quatro felinos silvestres (Puma concolor) 2 animais foram positivos para o sorovar Icterohaemorrhagiae, sendo ambos provenientes do mesmo lugar, vivendo em ambiente Tabela 2 - Distribuição das espécies sororreagentes para diversos sorovares de Leptospira spp. no Zoológico Municipal de Uberaba, MG, 2004/2005. Espécie Número de Número de animais Sorovares encontrados animais examinados positivos - % Cerdocyon thous 2 1 - 50% Grippotyphosa Chrysocyon brachyurus 1 1 - 100% Canicola Leopardus pardalis 3 2 - 66,6% Andamana Icterohaemorrhagiae Puma concolor 4 2 - 50% CanicolaIcterohaemorrhagiae Tayassu tajacu 2 2 - 100% Icterohaemorrhagiae Geochelone spp. 16 1 - 25% Andamana Trachemys scripta 20 1 - 5% Patoc Oreochromis niloticus 7 6 - 85,75% Canicola Rattus rattus 27 1 - 3,0% Icterohaemorrhagiae Tabela 3 - Distribuição das espécies com anticorpos anti- leptospira de acordo com a titulação no Zoológico Muni- cipal de Uberaba, MG, 2004/2005. Espécie Título* 100 200 400 800 Cerdocyon thous 0 1 0 0 Chrysocyon brachyurus 0 1 0 0 Geochelone spp. 1 0 0 0 Leopardus pardalis 2 0 0 0 Oreochromis niloticus 0 0 2 4 Puma concolor 0 1 1 0 Rattus rattus 0 0 1 0 Tayassu tajacu 2 0 0 0 Trachemys scripta 1 0 0 0 Total 6 3 4 4 % Reagentes 35,3 17,64 23,53 23,53 *recíproca da maior diluição do soro com 50% de aglutinação 287 Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.72, n.3, p.283-288, jul./set, 2005 Detecção de anticorpos para Leptospira spp. em animais e funcionários do Zoológico Municipal de Uberaba, MG. igual e inclusive se alimentando em condições idên- ticas, dividindo o cativeiro, sugerindo comum fonte de infecção. Para a espécie Jaguatirica (Leopardus pardalis) 2 das 3 (66,6%) espécies estudadas foram positivas sendo encontrado os sorovares Icterohaemorrhagiae e Canicola, conforme pode ser observado na (Tabela 2). No estudo das 7 Jaguatiricas (Leopardus pardalis) analisado por CORRÊA (2004), 7 delas foram reagentes para diferentes sorovares, havendo reação cruzada em todos os animais reagentes. Na família Procyonidae, do único espécime testado esse foi não reagente e coincide com a literatura que não há relatos de infecção por Leptospira spp. nesta espécie. Das espécies de répteis estudadas a Geochelone spp. com 16 animais examinados, apenas 1 foi posi- tivo para o sorovar Andamana e também a espécie Trachemys scripta , 1 foi reagente para leptospira. Em répteis os estudos também são escassos, mas os traba- lhos indicam que o sorovar mais freqüente é o Pomona e atinge mais ofídios e quelônios, normalmente pela ingestão do agente presente em presas infectadas. A infecção pode permanecer incubada por até seis me- ses e meio, e parece não haver sinais clínicos ou lesões patológicas, embora algumas vezes se encontre nefrite intersticial (OLIVEIRA, 2003). Dos 7 peixes examinados 6 (85,75%) foram reagentes para Leptospira spp. sorovar Canicola. Estu- do sobre peixes é muito raro, porém DOUGLAS (1995) e LODAL & LUND (1989) relatam que as rações oferecidas aos peixes atraem roedores que contaminam os depó- sitos de ração com urina infectada, permitindo a transmissão da infecção para os peixes. Embora nada fosse realizado para elucidar a fonte de infecção destes animais, é provável que a via alimentar por contaminação da ração ou da água, no ambiente aquático onde eles vivem explique estes resultados. Dos 27 animais sinantrópicos analisados, captu- rados com armadilha própria para roedores (Rattus rattus), apenas 1 (3,0%) soropositivo, reagente para o sorovar Icterohaemorrhagiae. No estudo realizado por BEVILACQUA et al. (2004), dos 72 roedores de diver- sas espécies capturados no Hospital Veterinário Universitário na Zona da Mata, MG, não foram en- contrados animais positivos para leptospirose atra- vés do teste Sorológico da Microaglutinação e da pesquisa histopatológica. A mais importante fonte de infecção é o roedor, que pode exercer o papel de reservatório de leptospiras e, além de manter o agente, o dissemina por meio da urina no ambiente (FAINE, 1982; BENGIS et al., 2005). A leptospirose é considerada tradicionalmente uma doença ocupacional com maior ocorrência em criadores de animais (BRASIL, 1995; NATARAJASEENIVASAN et al., 2005). Alguns grupos profissionais correm grandes riscos de contrair a infecção devido ao freqüente contato com animais portadores, seus produtos e ainda ao próprio ambiente de trabalho. Dos 36 funci- onários que realizaram teste para anticorpos anti- leptospira, nenhum foi reagente o que sugere que os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), estejam adequados. Contudo, pode-se frisar que apesar de haver o sistema de rodízio entre os funcionários, eles não têm o mesmo grau de exposição ao risco. Ao comparar os resultados encontrados neste es- tudo com os resultados dos trabalhos realizados por LUNA-ALVAREZ et al. (1996), CORRÊA et al. (2004) e GUER- RA-NETO et al. (2002), parece evidente que os sorovares presentes, assim como a sua freqüência obedeçam mais aos sorovares de Leptospira prevalente em cati- veiro da localidade onde se encontram os Zoológicos, do que das espécies animais ali alojadas. A variedade de espécies animais soropositivas embora com poucos representantes por espécie, bem como os sorovares encontrados, indicam que a infec- ção por Leptospira spp. existe nos animais em cativeiro e pode se perpetuar neles sendo um potencial de disseminação da bactéria por meio da urina. CONCLUSÕES 1 - Dos 167 animais analisados, 17 foram positivos (9,82%) para leptospirose, pelo teste de Soroaglutinação Microscópica; 2 - os sorovares mais freqüentes para o conjunto total foram: Patoc (01/17; 5,88%), Andamana (02/17; 11,76%), Grippotyphosa (01/17; 5 88%), Canicola (08/17; 47,05%) e Icterohaemorrhagiae (05/17; 29,415); 3 - entre a ordem e família de animais silvestres examinados os sorovares mais encontrados foram: família Felidae e Canidae: Canicola e Icterohaemorrhagiae; ordem Reptilia: Andamana e Patoc; ordem Cephalochordata: Canicola; ordem Rodentia: Icterohaemorrhagiae; 4 - os sorovares de maior proporção encontrado nos animais do Zoológico Municipal de Uberaba Parque do Jacarandá foram Canicola 8 (47,05%) animais, Icterohaemorrhagiae 5 (29,41%) animais e Andamana 2 (11,76%). REFERÊNCIAS ALVARES, C.J.; VASCONCELLOS, S.A.; CAMARGO, C.R.A.; MORAIS, Z.A. 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